Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
5 DAVID RICARDO DavidRicardo(1772-1823)erafUhodeumricocapitalistainglês,quetinhafeitofor- tunanabolsadevalores,apóstermigradodaHolandaparaaInglaterra.OjovemRicardo tevemaisêxitoaindanabolsadevaloresdoqueseupai,tendo-setransformadonumho- memmuitoricoantesdos30 anosdeidade.Em 1799,leuA RiquezadasNações,de AdamSmith,e,desdeentão,atésuamorte,passouo tempoestudandoeescrevendosobre questõesdeEconomiaPolíticaeaumentandosuafortuna.~deaceitaçãogeralconsiderá. ]0 o teóricomaisrigorosoentreoseconomistasclássicos.Suacapacidadedeconstruirum modeloabstratodecomofuncionavao capitalismoedelededuzirtodasassuasimplica- çõeslógicasfoi insuperável,emsuaépoca.Alémdisso,suateoriaeconômicaestabeleceu umestilodemodeloseconômieosabstratosededutivosquevêmdominandoateoriaeco. nômicaatéhoje.ComoAdamSmith,eledeveriaexercerumapoderosainfluênciatanto sobreo marxismoradicalquantosobreastradiçõesneoclássicasconservadorasdateoria econômicaemtodoo restantedoséculoXIX e noséculoXX. Ele foi, inquestionave]. mente,umdoscincoouseiseconomistasquemaisinfluenciaramaépocaatual. ViveunamesmaépocaturbulentaqueMa]thuse,comoeste,foi influenciadopela Revo]uçãoFrancesa,pelaRevoluçãoIndustrial,pelacrescenteinquietaçãodaclasseope- ráriae a lutaentreoscapitalistaseosproprietáriosdeterrasingleses.Suaopiniãosobrea classeoperárianãoeraessencialmentediferentedadeMalthus.Ricardoaceitoua teoria dapopulaçãodeMalthusesuasconclusõesquantoànaturezaeàscausasdapobrezados trabalhadores.Escreveuoseguinte: Ficosatisfeitoporter,agora,aoportunidadedeexpressarminhaadmiraçãopeloEnsaiosobrea População,doSr.Malthus.Osataquesdosoponentesdestagrandeobrasóserviramparaprovar suagrandeforça,eestouconvencidodequesuafamasedifundirácomo cultivodaCiência,por elatãovalorizada.I Ricardofoi,porém,uminimigointelectualdeMalthusavidatoda,emborafosseseu amigopessoal.A principalquestãosocialemquesuasopiniõesdiferiamerao conflitoen- tre os capitalistase osproprietáriosdeterras.Ricardosempredefendiaosinteressesda classecapitalista.Asprincipaisquestõesteóricasemquesuasidé~asdiferiameramateoria dovaloreateoriadasuperproduçãodeMalthus. A TEORIA DARENDAE DOLUCRO .Em suaintroduçãoà obraPrincipies01PoliticaiEconomyandTaxation,Ricardode. fmiuo queeleviacomooproblemacentraldaEconomiaPolítica:. RICARDO,David.ThePrincipieso[PoliticalEconomyandTaxation.Londres,Dent,1962.p. 272.Estaéa principalobradeRicardosobreteoriaeconômica.Foi publicada,pelaplllllclravez,em 1817;apareceuumasegundaedição,em1819,eumaterceira,em1821.A ediçA'opublll'ldnpolaDcnt, aquicitada,é umareimpressãodaterceiraedição. 110 . O produtodaterra- tudoo queé retiradodesuasuperfíciepeloempregoconjuntodo trabalho, dasmáquinase docapital- é divididoentretrêsclassesdacomunidade,a saber:oproprietário daterra,o donodo capitalnecessárioparao seucultivoe ostrabalhadoresqueentramcomo trabalhoparao cultivodaterra.. OprincipalproblemadaEconomiaPolíticaédeterminarasleisqueregemestadistribuição.2. MalthuspublicousuaobraAn Inquiry into theNature andCauses01Rent em 1815 I' I~jcardoa leu,logoapóssuapublicação.Reconheceuqueateoriadarendadaterra,de ~lllhhus,complementavaumateoriado lucro em queelevinhatrabalhandohaviaalgum Il'illlpO.3Ele já tinhachegadoà conclusãodequeo preçodoscereais,emrelaçãoaopreço II~_mercadoriasindustrializadas,era reguladopela tendênciado trabalhoe do capital, '1lIUlldoempregadosem terrascadavezmenosférteis,aproduzircadavezmenoscereais. IlIlIIbémtinhachegadoà conclusãodequea taxa de lucro eragovernadapelaprodutiví- dlltlrdecrescentedo trabalhoagrícola.A teoriada rendadaterra,deMalthus,apresenta- \11,explicitamente,portanto, as idéiasque já estavamimplícitasna teoriado lucro, de Hlcurdo.Três semanasapósa publicaçãodo panfletode Malthus,Ricardopublicouum III,w1io sobrea Influênciade umPreçoBaixodosCereaissobreos Lucrosdo Capital, I/lImandoa InutilidadedasRestriçõesàImportação.Nele,formuloupelaprimeiravez I" .,Iementosessenciaisdesuateoriadadistribuição..A teoriadarendadaterra,deRicardo,emseusPrindpios,eraumaelaboraçãocoe- 11'111.,daidéiapresenteemseuEnsaio,de1815.Defmiarendadaterracomo"apartedo 1111111\110daterraqueépagaaoseuproprietáriopelousodospoderesoriginaiseindestru- IIVt'lsdosoI0".4Suateoriadadeterminaçãodarendabaseava-seemduashipóteses:apri- 1111'1111eraa dequea terraeradiferente,emsuafertilidade,e quetodasasterraspodram ~I'Iordenadasapartirdamaisfértilparaa menosfértil;asegundaeraadequeaconcor- /i1llrlasempreigualavaa taxadelucrodosfazendeiroscapitalistasquearrendassemterra dll1proprietários,Suateoriadarendadaterranãopodeserresumidamelhordoqueele 1111'''1110o fez.Suadiscussãodadeterminaçãodarendadaterraserá,portanto,citadaem 111111111suaextensão.Mas,antesdelerestetrecho,o leitordeveentenderadefiniçãoque UI\'oIrdodeuparaprodutolI'quido"produtolíquidoeraaquantidadetotalproduzida,me- IIII~1\)(lososcustosdeproduçãonecessários,inclusiveasubstituiçãodocapitalusadona 1lllIdllç:ioe os saláriosdosoperários.Produtolíquidoera,portanto,todoo valorexce. ,h'l1ll1criadopelotrabalho,quepoderiaserdestinadoaoslucrosou à rendadaterra.A '1'111ludarendadaterra,deRicardo,éaseguinte,segundosuasprópriaspalavras:. ..r apenas...porquea terranãoéilimitadaemsuaquantidadenemuniforme~msuaqualidade I' porque,como aumentodapopulação,éprecisousarterradequalidadeinferior,quesepaga Il1ld,. p. 1. VI'! \)01113,Maurice.Theories01 Va/ueandDistributionsinceAdamSmith.Cambridge,Cambrld- MIlJlllvl'fsityI'ress,1973,p. 67-69.Grandepartedestecapítulodevemuitoaesteexcelentelivro.SI' 11'11"1qUisercompreenderasquestõesconceituaiseanalíticas,bemcomoasquestõesideológieus1'111 1"~III1IJdebutequeprossegueentreosproponentesdateoriado valor-trabalhoc dateoriadautilidIHI". IHIIlIlachuquI'o livrodeOobbé,delonge,amelhorfonte. · ItICA I«)(), J'rillcljJ/m, 1'.33. III .emlapclo seuuso.Quando,como progressoda sociedade,secultivamterrasdo segundogtau dl' lerlilldade,a terradeprimeiraqualidadecomeçaimediatamenteadarrenda,eo volumedesta lelldadependerádadiferençadeqúalidadedasduasterras. (.)Ulllldosecomeçaa cultivara terradeterceiracategoria,a~terradesegundacategoriacomeçaIo- ga a darrenda,queé determinada,comoantes,peladiferençade suacapacidadeprodutiva.<Ao mesmotempo,a rendada terradeprimeiracategoriaaumentará,poisterásemprequeestaraci- madarendadasegunda,porcausadadiferençaentreseusprodutoscomdeterminadaquantidade de capitale trabalho.Toda vezquea populaçãoaumenta,o paísé obrigadoarecorrerà terrade pior qualidadeparapoderaumentara ofertade alimentos,e a rendade todaa terramaisfértil aumenta.,. Suponhamos,então,queasterras- nO~1,2 e 3 - produzam,comomesmoempregodecapital e trabalho,um produtolíquido de 100,90e 80quartosdecereal...Logoquea populaçãotives- seaumentado,tornandonecessáriocultivara terra-n\?2 '" a terran\?1começariaa receberren- da;isto porque ou precisariahaverduastaxasdelucrosobreo capitalagrícolaoudezquartos... teriamqueserretiradosdo produto-daterran!?1paraoutrocultivo. Paraquemquerquecultivassea terran\?1 - seuproprietárioou qualqueroutrapessoa- estes dezquartosconstituiriam,damesmaforma,rendadaterra;istoporquequemestivessecultivando a terran\?2 conseguiriao mesmoresultadocomseucapitalquercultivassea terran\?1,pagando dezquartosderenda,quercontinuassecultivandoa terran9 2, sempagarrendaalguma.Damesma forma,poder-se-iamostrarque,quandoa terran\?3 começassea sercultivada,a rendada terra n\?2 teriaqueserdedezquartos'" enquantoadaterran\?1subiriaparavintequartos;istopor- quequemestivessecultivandoa terran\?3 teriao mesmolucro sepagassevintequartospelaren- da da terran\?I, dezquartospelarendada terran!?2 oucultivassea terran\?3sempagarrenda alguma.S . Eraaconcorrênciaentreosfazendeiroscapitalistasquegarantiaesteaumentodaren- da.Suponhamosqueo fazendeirodaterran<?I, noexemplodeRicardo,pagassesomente 15quartosderendaapósaterran<?3tercomeçadoasercultivada.Nessecaso,eleestaria tendo85quartosdelucro(100quartosdeprodutolíquidomenos15quartosderendà paga)sobreo mesmocapitalcomo qualosoutrosdoisfazendeiroscapitalistasestariam ganhandosomente80quartosdelucro.Osoutrosdoisfazendeiroscapitalistaspoderiam aumentarseuslucrosdispondo-seapagarmaisrendaaodonodaterran<?I- digamos, 18quartos- parapoderemcultivarsuaterra.Mas,enquantoarendadaterran<?I estives- seabaixode20quartos,oscapitalistascontinuariamtendoumincentivoparafazersubir a rendadaterra.Sóquandoa rendaatingisse20quartosequeelesnãoteriammaiseste incentivo.Nesteponto,a taxadelucroseriaigualparatodo~osfazendeiroscapitalistas. Ricardoachavaque,emgeral,aconcorrênciatenderiaa igualara taxadelucrodetodos os capitalistas.."A vontadeconstantedetodosos empregadosdo capital"- escre~u ele- "desairdeumnegóciomenoslucrativoparaentrarnumnegóciomaislucrativotem umagrandetendênciaaigualarataxadelucrodetodos".6 A teoriadarenda,deRicardo,eratãoimportanteparaasconclusõesdeseumodelo econômicoquedaremosmaisexemplosdela.J'la Fig.5.1,asáreasgeométricasdecada umadastrêsbarrasrepresentamo'produtolíquido,noexemplodeRicardo.O produto Ibid., p. 35-36. IlJid., p.48. I I' Ifquidoé formadopelolucromaisa reridadaterra,querdizer,é igual.aoprodutototal IIwnosossaláriosea reposiçãodocapitalusadonaprodução.Seapenasaterran<?I for .tlllivada,o fazendeirocapitalistateráumlucrode100quartos.Sea terran<?2passara 1111usada,a concorrênciasubiráa rendadaterran9 I para10quartose cadacapitalista I!lIlIhará90quartosdelucro.Seaterran<?3for usada,aconcorrênciafarácomquearen- dlldaterran<?2 subapara10quartose adan<?I, para20quartos,ecadacapitalistaga- ,,!lurá80quartosdelucro.d . Figura5.1 ProdutoLÍquidoeRendadeTrêsLotesdeTerra 10 1i t ------- ------- 80 10----------- 80 ------- 80 Produto líquido=100 Número1 Produto líquido=90 Produto líquido=8(1 Número2 Número3 I À medidaquemaisterrasforemsendocultivadas,a quantidadedeterraquechama- 1\105deloteé arbitrária.f>ortanto,comoestamossupondoqueaterraváficandocadavez 1IIl!110Sfértil,podemossubdividi-Iaemlotescadavezmenores,cadaumdosquaisapresen- 11I1!l10umprodutolíquidocadavezmenordoqueo loteanterior.Representando-seas hnrrasnumquadrantecujoseixosindiquemo númerodelotesqueestãosendocultivados . o produtolíquidoporlote,poderíamosterumgráficocomoo daFig.5.2.À medida <Itll'!o tamanhodoslotesvaidiminuindo,apartesuperiordasbarrasvaitendendoauma _llI1plcsretadescendente.Podemossuporquecadaunidadedeterrasejatãopequena,que ". possausarumalinharetaparamostrara fertilidadedecrescentedaterra.NaFig.5.2, Figura5.2 ProdutividadeDecrescentenaAgricultura Produtolíquido porlote A PL Níllnorodeloles PI. é estaIinha.Jv1ostraqueo produtolíquidoporpequenaunidadedeterradiminuià mcdidaqueaumentaaquantidadedeterracultivada.Sesupusermosqueossaláriossejam ()únicocustodeprodução,ossaláriospagosporunidadedeterracultivadapoderãoser somadosàlinhaPL daFig. 5.2,paramostraro produtototal.O resultado,naFig.5.3,é umalinhaP, quemostrao produtototalparaqualquerquantidadedeterraàmedidaque a terracultivadavaiaumentando.EnquantoPL mostraapenaso produtolíquido(lucro menosrendadaterra),a linhaP mostrao produtototal(lucromaisrendadaterramais salários).Seestiveremsendousadasx unidadesdeterra,oprodutototaldaúltimaunida- depequena(quenãopagarenda)deterraemusoseráy.A áreadotriânguloaseráo valor totaldarendarecebidapelaclassedosproprietáriosdeterras;aáreadoretângulobseráo lucrototale ossaláriosrecebidospeloscapitalistasepeloslavradores.Estediagramaserá usadoaseguirparailustrarumadasconclusõesmaisimportantesdomodelodeRicardo. Figura5.3 SeparaçãodaRendadaTerradosLucrosedosSalários y Produtoadicional totalparacada unidadesucessiva deterra x Quantidadedeterra o A teoriadoslucros,deRicardo,talvezfosseoelementomaiscrucialebásicodetoda asuateoria.Emsuaprimeiraabordagemdateoriadolucro,elesupôsqueexistissewna economiasimples,ondehouvesseproprietáriosdeterras,capitalistasetrabalhadoresque sóproduzissemcereais.Ricardoviao lucrocomoumexcedente.Já vimosqueaconcor. rênciaigualavaoslucrosdetodososfazendeiroscapitalistasquecultivassemasterrasde qualidadesuperioraoslucrosauferidospelocapitalistaquecultivassea terramarginal, quenãopagasserendaalguma.Portanto,os lucrosseriamespecificadospelosdetermi. nantesdolucrodocapitalistaquecultivasseaterraquenãopagasserendaalguma... \) Ricardoaceitoua teoriadapopulaçãodeMalthuseseucoroláriomaisimportante: o crescimentopopulacionaltenderiaaobrigarossaláriosdostrabalhadoresabaixarpara o níveldesubsistência.Portanto,o níveldelucrodaterraquenãopagassefl'lHlaseriao produtototaldestaterramenosa subsistênciadoslavradoresqueIluhulham'mnesta mcsmaterra.Emoutraspalavras,o lucroscriasimplcsmente()quc!r,IIIIM',ilP()~()paga. 1I1 IIlrntodossalários.Nestemodelodeumasómercadoria,o capitalconsistia,simplesmen- I', nocerealqueo capitalista"adiantava"aoslavradorescomosalário.Damesmaforma, \I IlIxa delucroeraa razãoentreo produtolíquidonaterraquenãopagavarendaeossa. I"dol,ambosexpressosemcereal.Seguia.se,então,que,enquantoo produtolíquido Im.I'decrescente,àmedidaqueoslotesdeterramenosférteisfossemsendocultivadose "1\l111I1ntoOsalário,emtermosdecereal,semantivesseinalterado,ataxadelucro(opro. ,11110líquidoalémdosalário,emtermosdecereal)teriaquediminuir.- Estavisãodosluc~ temsidochamadadeTeoriadoLucrocomoCereal,deRicar- '\11'I Eleachavaqueo modelopoderiaserfacilmenteampliado,demodoaincluirmerca- ,1'llIusindustrÜilizadas,porque,seosaumentosdapopulaçãodiminuíssemataxadelucro II~IIKricultura,sea taxadelucrofossedeterminadasomentepelaprodutividadedotraba- Ihlledocapitalnaterraquenãopagasserendae seaconcorrênciaigualassetodasasta- ~11.delucro,a taxadelucro,nosetorindustrialenaagricultura,dependeriasomenteda ,undlltividadedaterraquenãopagasserenda. BASEECONÔMICADOCONFLITOENTRE CAPITALISTAS E PROPRlETMIOS DETERRAS I'odemos,agora,usaro gráficodaFig.5.3 parademonstraraafirmativadeRicardo, 11111~~uEnsaio,deque"ointeressedoproprietáriodeterrassempreseopunhaaointeres. ." dI'todasasoutrasclassesdacomunidade".&Ricardoidentificavaaprosperidadeeconô- 11I11.11comaacumulaçãodecapitalecomocrescimentoeaprosperidadeeconômicapro- ltIovldospor estaacumulação(comotodososeconomistasclássicos).Quandooscapitalis- I,,~lIuferiamlucros,acumulavamcapital,o queresultariaem maiorprocurade mão-de- 1111111O aumentodestaprocuraprovocavaumaumentodosaláriodemercado,queultra- Itll',.uvao salárionatural(desubsistência),e istolevavaaumaumentodapopulação.En- 'I"lInto os capitalistascontinuassemtendolucro, estaseqüênciapoderiarepetir-seindefi. IIldlll11Cnte.Enquantoelase repetisse,a economiaestariacrescendo,haveriaprosperidade ,1"1011c os saláriosdos trabalhadoresficariamacimado nível desubsistência.Masaecono- 111111tinha dificuldadespor causada produtividadedecrescentedaagricultura,que fazia "1111qucarendadaterradiminuísseoslucros. () raciocínio deRicardo é exemplificadopelaFig. 5.4. Esta figuraé idênticaà Fig. " \ !\ Únicadiferençaéquefoi introduzidaa linhaw, paramostraro saláriodesubsis- ICllclU queprecisaserpagoaoslavradoresquetrabalhamnumaunidadedeterra,ealinha ,\+,paramostraro salárioumpoucomaiselevado,queprevaleceráenquantoestiverha- ~1\1\llllacumulaçãodecapital.Associamosletrasa váriospontosdo gráfico,parailustrar 1111'110ruciocínio. SuponhamosqueaeconomiasejaobservadanumpontoemqueXI unidadesdeterra , .11'jillllsendocultivadas.Suponhamos,também,quetenhahavidoacumulaçãonopassa. D()BB.'I11/'orl(lsof Vali/eafld Distriblllion,p.70. 1"11\, p. '12. I1 " Figura5.4 VariaçõesdaDistribuiçãod:iRendacomaAmpliaçãodaMargemdeCultivo P =produtoadicionalporunidadedeterrasucessiva w=saláriodesubsistênciaporunidadedeterra Produtoadicional totalparacada unidadesucessiva deterra I I j I--t----------- I I d I e w* =salário com acumulação w' --~ ~-------------- f Ig I 'h 1m p o x, x, Quantidadedeterra do e queo salárioestejaemw *.Ora,emXI, a quantidadetotal de produtodestinadaà rendadaterraseriaaáreadotriânguloabc.Ossaláriosseriama áreadoretânguloOhed (como retângulofgedrepresentandoo excessodossaláriossobreovalornecessárioàsub- sistência).O lucroseriao resíduoou aáreadoretângulodebc.Comossaláriosemw*, acimadoníveldesubsistência,apopulaçãocresceria.Istoexigiriaquemaisterrasfossem cultivadas. Agora,suponhamosqueapopulaçãotivesseatingidoopontoemqueX2fosseaárea deterracultivada.Nesteponto,ossaláriossãodeterminadospelaáreadoretânguloOm/d, a rendadaterraéaáreadotriânguloakjeoslucrossãoaáreadoretângulod/jk.Observe-seque,emborao saláriosetenhamantidoinalterado,o lucrototal,comoparceladopro- dutototal,bemcomoataxadelucrodeclinaramsubstancialmente. :f fácilver,naFig.5.4,queexisteumlimiteparaestecrescimentoeconômico.Quan- doaeconomia'tivercultivadoumaáreadeterraequivalenteaX3,ossaláriosterãovoltado aoníveldesubsistência(w);a rendadaterraseráaáreadotriânguloanfeossaláriosse- rãoa áreadoretânguloOqnf.Nãohaverálucroe,porisso,ossaláriosvoltarãoaonívelde subsistência. Istoexplicaporque,nalutadosproprietáriosdeterraedoscapitalistaspeloexce- denteouprodutolíquido,Ricardoachavaquea diminuiçãodaprodutividadenaagricul- turafariacomqueoslucrosfossemgradativamentesendocomprimidospelarendacada vezmaisaltadaterra.Assim,emseuEnsaio,Ricardoafirmouquea rendadaterraera, "em todosos casos,umaparceladoslucrospreviamenteconseguidossobrea terra... Nuncaerafrutodareceita,sendose'mpreumapartedeumareceitaquejá tinhasidoaufe- rida".9 No modelode,Ricardo,a rendadaterranãoeradiretamenterespolls;lvelpelacom- Ibitl.;p. 71. 11() IIIUSd'odolucro.Representava,istosim,osaumentosdocustodotrabalho,provocaqos I"'hluumentodocustodoscereais- o principalprodutoparaasubsistênciadostrabalha- .11I10s.Ricardotevequemostrarcomoo aumentodossaláriosredistribuíaumaparcela 111dllvezmaiordoprodutolíquidodo.lucroparaarendadaterra.Paraisso,supôsumní- ~.Iconstantedepreçosmédios(ouumpoderaquisitivoconstantedamoeda).Acreditan- dll queaconcorrênciaigualavatodasastaxasdelucro,seguia-seque,quandoospreços 11111cereaise dotrabalhoaumentavam,ospreçosteriamqueseajustar,paraigualarataxa dI'lucrodosdiferentessetoresdaeconomia.O trabalhoincorporadoà produçãodosce- unlstinhaaumentado,porquetinhaficadomenosprodutivo;àmedidaqueamargemde IUlllvoiasendoaumentada.Istobaixavaoslucrosdosetoragrícola.Masaprodutividade 1.lutrabalhopermaneciaa mesma,na indústria,e, porisso,o trabalhoincorporadoaos IIludutosindustrializadosnãosealterava.Paraaconcorrênciaigualarastaxasdelucro,se- 11/1,portanto,necessárioqueospreçosdequasetodososprodutosindustrializadosdimi- IlIlIsscrnemrelaçãoaopreçodoscereais.ComahipótesedeRicardodehaverumnível .\ll1stantedepreçosmédios,o aumentodospreçosdosprodutosagrícolasteria.Q.ueser HllIlpensadoporumabaixadospreçosde,pelomenos,algunsprodutosi.ndustrializados. II rfcitodestasvariaçõesdepreçoseriao restabelecimentodeumataxadelucrounifor- mil,emambosossetores,emboramaisbaixa.Cadaaumentodamargemdecultivoresul- Inrlu,então,emmaiordeclíniodo nívelgeraldepreçosdosprodutosindustrializados (11~'ul1dotodosos preços,inclusiveos preçosdosprodutosagrícolas,umavezmaisno 11"-51110nívelmédio)enumabaixadataxageraldelucro.A baixadoslucrossignificava UIUUbaixadataxadeacumulaçãoe,comisso,umatrasodocrescimentoeconômicoe UIUIIdiminuiçãodobem-estarsocialgeral. Combasenestesargumentos,Ricardoseopunhaàsleisdoscereais.Proibindoaim- 11\1/laçãodecereais,o Governoinglêsestavafazendocomqueo setoragrícolausasseter- I". cadavezmenosférteis.Esteprocessoestavadiminuindooslucroseacabariainterrom- 11111100oprogressoeconômico,sefossemantidopormuitotempo.Emseudebatesobreas Idl,doscereais,o argumentodeRicardoera,semdúvida,maiscoerenteelógicoqueo de Multhus,muitoemboraeletenhasido,demodogeral,incapazdeimpressionaramaioria d\).membrosdoParlamento,querepresentavamosinteressesdosproprietáriosdeterras. Malthus,porém,encontroumuitosfundamentos.paraatacaro argumentodeRicardo. IJI1111desuasobjeçõ~sfoi levadamuitoasériopor Ricardo.Malthusescreveuque o~lucrosdependemdospreçosdasmercadoriasedacausadeterminantedestespreços,istoé,a oferta,emcomparaçãocoma procura...(enquanto)a teoriado lucro(deRicardo)dependein- teiramentedacircunstânciadeamaioriadasmercadoriascontinuarcomo mesmopreçoedeodi- nheirocontinuarcomo mesmovalor,qualquerquesejaavariaçãodopreçodotrabalho...Nada podcmosinferiracercadataxadelucro,nocasodesubiremossaláriosnominais,seasmercado- rias,cmvczdecontinuaremcomo mesmopreço,foremafetadasdemododesigual,algumas ~lIblndo,outrasdescendo,e umnúmeromuitopequenodelaspermanecendocompreçoinaltera- tio.'. Rlcllrdo percebeuque, para defenderseu modelo destacrítica, precisavaelaborar 1111111teuriadospreçosmaisadequada.Fezexatamerrteisso emseusPrinc(pios. 111 Ihld.,p.74. II1 A nWRIA DOVALOR-TRABALHO ,J{lcllrdocomeçouseusPrincípiosafirmandoque,emboratodasasmercadoriasque 11111111111valortivessemqueterutilidade- casocontrárionãopoderiamsercolocadasno lIIorcado- autilidadenãoestabeleciaovalor.Disseeleoseguinte:"Possuindoutilidade, 118mercadoriasrecebemseuvalordetrocadeduasfontes:desuaescassezedaquantidade detrabalhonecessáriaparasuaobtenção."uNapáginaseguinte,afirmavaqueaescassez eraimportante,apenas,paraasmercadoriasquenãopudessemserreproduzidaslivremen- te.Algumasmercadorias,como"estátuasequadrosraros,livrosemoedasrarasevinhos dedeterminadaqualidade",tinhamumvalor"totalmenteindependentedaquantidadede trabalhoinicialmentenecessárioparasuaprodução,quevariavadeacordocomariqueza easinclinaçõesdaquelesquetivessemvontadedepossuí-Ias".12.. Masestasmercadoriasnãotinhamqualquerimportância,naopiniãodeRicardo.As mercadorias,emsuagrandemaioria- insistiaele- "podemsermultiplicadas...quase quesemlimite,seestivermosdispostosaempregaro trabalhonecessárioparasuaobten- ção".13"Suateoriadovalorsóseinteressavapelasmercadoriasquepodiamserreproduzi- daslivremente., Um dosargumentosqueseriamapresentadosporposterioresproponentesdateoria dovalor-utilidadeerao dequesuasteoriaserammaisgeraisqueadeRicardo.Osteóricos dautilidadediriamquetodosospreçosdependem,emúltimaanálise,"dograuderiqueza e dasinclinaçõesdosquetêmvontadedepossuirasmercadorias".A vantagemdesta maiorgeneralidadedateoriadautilidadenãoteria,porém,impressionadoRicardo.Ele nãoacreditavaqueestespoucosprodutosde luxonãoreprodutíveistivessemqualquer importânciaparaadeterminaçãodasleisqueafetamadistribuiçãodo "produtodater- ra... entreastrêsclassesdacomunidade",14 sendo,portanto,semimportânciaemseu efeitosobreaacumulaçãodecapital,esta,sim,oprincipaldeterminantedobem-estarde umpaís."À medidaqueo capitaldeumpaísdiminui"- escreveuRicardo- "seuprodu- to, necessariamente,diminui ... com uma reproduçãoconstantementedecrescente,os recursosdo povoe do estadobaixarãocomumarapidezcadavezmaior,seguindo-seo sofrimentoearuína."IS ..A teoriado valor-trabalhopermitiuqueRicardoseconcentrassenasforçasquein- fluenciavama acumulaçãodecapital.Ateoriadautilidadenuncacontribuiuparaquee~- tasforçasfossementendidas(porrazõesqueserãodiscutidasemoutroscapítulos).Por isso,Ricardonãoficouimpressionadocomo fatodeateoriadautilidadepoderexplicar ospoucospreçosdosprodutosdeluxoquenãopodiamserreproduzidos,aopassoquea teoriado valor-trabalhosópodiaexplicarospreçosdasmercadoriasquepodiamserre- produzidaslivremente.Em outroscapítulos,argumentaremosquea teoriadovalor-tra. 11 RICARDO.Princípios,p.5. Ibid.,p.6. Ibid. Ibld.,p. I. Ibid..p.95. 12 \J 14 , I li 11111110 seconcentranosaspectossociaisdaproduçãoe datrocadasmercaaorias,ao passo qut'a teoriadovalor-utilidadesóseconcentranosaspectosindividuaisdatroca.A maior 1'1'lll1ralidadedestateoriatemumpreçomuitoalto. ,"Seaquantidadedetrabalhoincorporadaàsmercadoriasestabelecerseuvalordetro- lU" escreveuRicardo- "todoaumentodaquantidadedetrabalhoteráqueaumentaro vulurdamercadoriaemqueelefor empregado,e todadiminuiçãoteráquebaixareste "lIor."18Elenãotinhadúvidaalgumadaimportânciadisso:"O fatodeserrealmenteeste Ij fundamentodovalordetrocadetodasascoisas,excetoasquenãopodemseraumenta- du.pelotrabalhohumano,é umadoutrinadamáximaimportância,emEconomiaPolí- Ih.U,..17 , Ricardoformulouateoria,apresentando-a,primeiro,comoahipótesesimplificadade quI'ospreçosdasmercadoriaseramestritamenteproporcionaisaotrabalhonelasemprega- 110,duranteoprocessoprodutivo.Depois,descreveucomalgumdetalhecomoesteprincí- piosimplesteriaquesermodificado,devidoaumavariedadedecircunstânciasespeciais. ~lreditavaqueestasmodificaçõesfosseminteiramenteexplicáveisdemodosistemático I' wurenteeque,portanto,nãoconstituíamargumentoscontraateoriadovalor-trabalho, 111111quemostravam,istosim,acomplexidadeeo realismodateoria., I ComeçoucitandocomaprovaçãoaafirmativajámencionadadeAdamSmith:. ~I:,numanaçãodecaçadores,porexemplo,otrabalhodematarumcastor,habitualmente,custar .~ o dobro dó trabalhode matarum veado,um castordeverá,naturabnente,ser trocadopor dois vl:ados.f naturalqueo produtohabitualdedoisdiasou deduashorasdetrabalhovalhao dobro doprodutohabitualdeumdiaoudeumahoradetrabalho.IR DiversamentedeSmith,Ricardoachavaquesuaafirmativaeratãoválidaparauma ..)\Iodadecapitalistaquantoparao estado"inicialerude"dasociedade.Nasociedadeca- plllll15ta,porém,eramnecessáriasváriasqualificaçõesemodificaçõesdaafirmaçãodasim- pk~proporcionalidadeentreo trabalhoincorporadoeospreços.Antesdefazerestasmo- dlllcuções,I3,icardodiscutiue,depois,refutouduasobjeçõesà teoriadovalor-trabalho. . 'ram, rimeiramentea de uenãoerapossívelcombinartiposdiferentesdetraôã- .JJ.Wcomhabilidadesdiferentese saláriosdiferentes;.!-segunaeraa e quea eona o villol'trabalhonãoex r m ior rodutividadepossibilitadapelosrecursosnaturaise I'rrQ'~!.l2!!a. Estasobjeçõestêmsidorepetidasdevezemquando,desdequandoforam II'IIIISasprimeiraskJrmulaçõesdateoriadovalor-trabalho,atéhoje.Portanto,asrespos- 11..deRicardoaelassãodeconsiderávelinteresse. Considerandoo problemadasdiferenteshabilidadesedosdiferentessaláriosdostra- hllllHldores,Ricardoseinteressou,principalmente,pelasvariaçõesdospreçosrelativosno 11'1111'0,istoé, interessou-seemsaberporqueospreçosdosprodutosagrícolasaumenta- VIIIIIcomo tempo,emrelaçãoaospreçosdosprodutosindustrializados.Apenascomeste IJhll~tivo,estavamuitocerto,quandoafirmouqueaestruturageraldasváriashabilidades 11 lbid..p.7. 1h111. lbid.,p.67. 11'1 do Irllhlllhoedosváriossalários,"umavezestabelecida,erapoucovariável".19Daítirou 1111111conclusão válida: Portanto,comparando-seo valor'damesmamercadoriaemdiferentesocasiões,quasenãoé preci- so levaremcontaaqualificaçãoc a intensidaderelativasdotrabalhonecessárioparaaprodução damercadoriaemquestão,já queelastêma mesmainfluênciaemambasasocasiões.20 Quando,porém,ateoriadovalor-trabalhoéusadaparaexplicaraestruturaexatados preçosrelativosemdeterminadomomento,estasoluçãoparao problemaé insuficiente. Numafrase,Ricardomencionou,poralto,à idéiacrucialqueviriaaserabasedassolu- çõesadequadasposterioresparaesteproblema:"qualquerquesejao temponecessáriopa- raadquirirumaespéciedehabilidademanualmaisdoqueoutra,elecontinuamaisoume- nosinalteradodeumageraçãoparaoutra".21Outrasformulaçõesdateoriadovalor-tra- balhousaramestanoçãodequeasdiferençasdehabilidadepoderiamserreduzidasao tempogastonaaquisiçãodestashabilidadesparamostrarqueo trabalhoqualificadoera criadocomtrabalho.O trabalhoqualificadopoderia,então,serreduzidoaummúltiplo do simplestrabalhonão-qualificado,no cálculodetodoo trabalhoincorporadoa uma mercadoria.A principalrazãopelaqualRicardonãochegouaestasolução- aqueMarx, maistarde,chegaria'- foi o fatodeelenãoacharqueaprópriaforçadetrabalhofosse umamercadoriacujovaloreradeterminadodamesmaformaqueo dasoutrasmercado- rias.O reconhecimentodeMarxdo fatodequea forçadetrabalhoeraumamercadoria cujopreçopodiaserexplicadodamesmamaneiraqueospreçosdeoutrasmercadoriai foi umdosprincipaispontosemqueelefoi alémdeRicardonaelaboraçãodateoriado valor-trabalho. A respostadeRicardoà acusaçãodequea teoriadovalor-trabalhonãolevavaem contaosaumentosdaprodutividadepossibilitadospelaterrae pelocapitalfoi,contudo, maisadequada,e continuaatéhojesendoparteintegrantedateoriadovalor-trabalho. Argumentavaelequeasferramentaseasmáquinaseramprodutosintermediáriosdotra- balho,quesóeramcriadosporquecontribuíamparao fimúltimodeproduçãodeuma mercadoriaparaconsumo.A produçãoeraumasériedetrabalhosqueintroduziauma transformaçãonosrecursosnaturais,quepassavamdeformasemquenãopodiamser usadas,sobaqualexistiamantesdaaçãohumana,aformasquetinhamvalordeuso.Sem umambientea-sertransformado,nãopoderiahaverprodução,querdizer,ossereshuma. nosnemmeSmOpoderiamexistir.Considerar,porém,oambienteprodutivoporsimesmo eraatribuiratividadehumanaàmatériainerte.A produção,edaía criaçãodevalorde troca,eraumesforçoestritamentehumanoqueenvolviaapenastrabalho.Ricardoinsis- tiuqueosrecursosencontradosnanatureza nossãoúteis,aumentandoasquantidadesproduzidas,tornandooshomensmaisricos,criandova- lor deuso,mas,comoelesfazemseutrabalhogratuitamente- poisnadasepagapelousodoar, do calorou daágua- aassistênciaqueelesnosprestamnadaacrescentaaovalornatroca.22 19 Ibid., p. 12. Ibid. Ibid. Ibid., p. 191. '20 21 1'1 1'0 Ricardotinha,comcerteza,conhecimentodequesepagavarendaaosproprietários ,Iusrecursosnaturais;naverdade,comovimos,grandepartedeseusPrincipiaseradedica- ,lu1\análisedarendadaterra.A produçãocontinuavasendoapenasumaatividadedese- 11'1humanos.Em termosdecustoshumanos,eleestavacertoaoafirmarqueosrecursos lIuturaisfazem"seutrabalhogratuitamente".Citou,comcompletoacordoe aprovação, ~,seguintesfrasesdeAdamSmith:"O preçorealdetudo...éo trabalhodeadquiri-Io... (J Irabalhoerao primeiropreço- o dinheirodacomprainicialqueerapagoportodasas I'olsas."23 Os recursosnaturaiseram,então,os objetosqueo trabalhotransformavaemprodu- ,Au,masexistiamsimplesmentedegraçae nãoeramumcustosocialdeprodução.O capi- 1"1era,meramente,umdeterminadonúmerodeprodutosdo trabalhohumano,querepre- ,,'lIlavarecursosquesóeramparcialmentetransformadosemsuasformasutilitáriasfinais. Um lear,por exemplo,eraproduzidopelo trabalho,como únicofito deajudaraprodu- ~IIIIdetecido.Portanto,um tearincorporavapartedo trabalhoqueacabavasendoincor- IU)ladoao tecido.Diantedisso,um tearpodia servistomeramentecomopartedo tecido pluduzido.Produzir era umaatividadehumana.Em vezde dizerqueo tecelãoe o tear IIlIhulI1,ambos,contribuídoparaa produçãode tecido,Ricardo diziaque o tecelãoe o 11111!1'árioquetinha produzidoo teartinhamcontribuídoparaa produçãodo tecido.Veja- 11101ostermosdo próprioRicardo quantoaestaquestão: Nocálculodovalordetrocade.meias,porexemplo,verificaremosqueseuvalor,emrelaçãoao valordeoutrascoisas,dependedaquantidadetotaldetrabalhonecessário.parafabricá-Iasetrazê- Iasparao mercado.Primeiro,existeo trabalhonecessárioparacultivaraterraemqueseplantará o algodão;segundo,o trabalhodelevaroalgodãoparao paísondeasmeiasserãofabricadas,que Incluipartedotrabalhocomaconstruçãodonavioemqueeleserátransportado,cobradonofre- h~dasmercadorias;terceiro,o trabalhodofiandeiroedotecelão;quarto,umaparceladotraba- lhodoengenheiro,doferreiroe docarpinteiroqueconstruíramosedifícioseproduziramasmá- 'Iuinasqueajudama produzirasmeias;o trabalhodocomerciantevarejistae demuitosoutros, quenãoé precisoparticularizar.A somaagregadadestesváriostiposdetrabalhodeterminaa qUlmtidadedeoutrascoisaspelasquaisestasmeiasserãotrocadas,easváriasquantidadesdetra. halhoempregadasnestasoutrascoisasdeterminarão,damesmaforma,aquantidadedessascoisas queteráqueserdadaemtrocadasmeias"" Ao reconhecero fatodequea contribuiçãodasmáquinasparaaproduçãoera,real- "'"lIll" apenasa I,:ontribuiçãodo trabalhopassado,RicardoestavarepetindooqueSmith h.vlll ueduzidoe quesempreserviucomopontodepartidadateoriadovalor-trabalho. 111\IIruo,porém,tinhaumavisãonão-históricadocapitalismo,segundoaqualasrelações ti111111'docapitalismoeramconsideradascomonaturaisoueternas.Portanto,viatodaa 1t1~1()llaanterior,simplesmente,comoodesenvolvimentodasinstituiçõesdocapitalismo. 1.'111m>,cometeuumerrofundamentalaoafirmarqueo capitalera,emtodaapartee u"'PIl', idênticoàsferramentase máquinas,bemcomoaosoutrosmeiosdeprodução. 'I) Illpllal" escreveu ele - "é a parteda riquezade um paisempregadana produção I \ IIIIShll' l'm alimentos, roupas, ferramentas, matérias-primas,máquinasetc., necess,írios ., 111111,p.6. 111111,\1,14 15 I 'I IIU Il'IIblllho."25Assim,Ricardoafirmouque,"mesmono estágioiniciala queAdam Smlt11serefere,serianecessárioalgumcapital- muitoemboratalvezproduzidoeacwnu- ludopeloprópriocaçador- paraelepodermatarsuacaça".26Ricardoachavaque,seos trabalhadoresfizesseme possuíssemseuprópriocapital,estenãoresultarianumsistema depreçosdiferentedoqueexistiriaquando"todososimplementosnecessários... (àpro- dução)pertencessemaumaclassedehomenseo trabalhoempregado...ficasseporconta deoutraclasse".27 Tendochegadoa estaconclusão,Ricardoraciocinouque,quandoostrabalhadores possuíssemseuprópriocapital,umapartedesuasrendasconsistiriaemlucroseaoutraemsalários.O sistemadefixaçãodepreçosfuncionariaexatamentedamesmamaneira, mascadapessoaseria,aomesmotempo,umtrabalhadoreumcapitalista.OerrodeRicar. dofoi nãoterpercebidoque,emborasempretivessemsidousadasferramentasnaprodu- ção,nuncatinhamsidoauferidoslucroscomasimplespossedasferramentasequeas pessoasnuncasçquertinhamimaginadoouconcebidomentalmenteaexistênciadelucros pelasimplespropriedadedocapital,atéwnaclasseconseguirwnmonopóliodaproprieda. dedosmeiosdeproduçãoe tersurgidooutraclasse,quesópodiaexistirvendendowna mercadoria- suaforçadetrabalho- nomercado.Então,o capitalsópassouaexistir quandosurgiuestarelaçãodeclasse,massempreexistiramferramentas,desdequeosho. menspassaramaproduzir.CoubeaThomasHodgskin,queserádiscutidonoCapo7,reco. nhecerqueacaracterísticaverdadeiramenteessencialdocapitaleraqueelerefletiawna determinadarelaçãosocial. Tendoafastadoasduasobjeçóespreviamentemencionadasàteoriadovalor-trabalho, Ricardoconsiderou,emseguida,aobjeçãoquetinhafeitoAdamSmithabandonarateo. ria.ComoRicardosó consideroua produçãoagrícolacomumamargemdecultivoda terraquenãopagavarenda,juntamentecoma indústria,todosospreçospodiamsertra- duzidosemsalárioselucros.A rendadaterra- conformeserálembrado- eraumarendai residualdeterminadapelopreçodosprodutosagrícolas(que,porsuavez,dependiamda áreatotalcultivada).A rendanãoera,portanto,umapartecomponentedoscustosque determinavamospreços,masumresíduodeterminadopelospreços.Porisso,naanálise doscustosdeproduçãoquedeterminariamo preçonaturaldeumamercadoria,Ricardo só considerouos lucrose os salários.Suasdefiniçõesdepreçosnaturaise depreçosde mercadoeramidênticasàsdeSmith,comexceçãodequea rendadaterranãoeraum componentedoscustosnecessáriosdeprodução.Suadiscussãodecomoaofertaeapro. cura,igualandotodasastaxasdelucro,tendiamafazercomqueo preçodemercadoigua- lasseo preçonaturaltambémeramuitoparecidacomadeSmith.O problemadateoria! dovalor.trabalhoeramostrarcomoospreçosnaturais,cadaumsendoasornadoscustosI dossaláriosedoscustosdoslucros,eramdeterminadospelotrabalhoincorporadoàpro,I duçãodasmercadorias. 25 Ibid.,p.53. Ibid.,p.13. Ibid"p.13-14. 26 17 1', DETERMINAÇÃODEPREÇOSCOMDIFERENTESCOMPOSIÇÕESDECAPITAL Smith- comojá dissemos- tinhapercebidoque,paraospreçosseremproporcionais n'lquantidadesdetrabalhoincorporadasàsmercadorias,eranecessárioquearazãoentre m lucroseossaláriosfosseigualparatodasasmercadorias.Como,porém,aconcorrência IIIudiaa igualara taxadelucrossobrediferentescapitais,umarazãoigualentrelucrose \lllllriosimplicava,necessariamente,umarazãoigualentrecapitale trabalhonapro. illlçtiodecadamercadoria.Ele tinhapercebidoqueaquantidadedecapitalportrabalha. 11mdiferiabastantedeumaindústriaparaoutrae queeraprovávelquetaisdiferenças ~"lI1preexistissem.Portanto,abandonouanoçãodequeaquantidadedetrabalhoincor- pnmdoàmercadoriadeterminavao seuvalor.Usou,então,umateoriasimplesdospreços, lillftcadanocustodeprodução. TantoRicardoquantoMarxacreditavamqueaconcorrênciatendiaaigualarastaxas liI'lucrodediferentescapitais.Tambémachavamqueo preçonatural(oupreçodeequi. jlhl'lo)eraigualaocustodeprodução,quandoo trabalhoeocapitalrecebessemastaxas ~I)ctalmentemédiasdesalárioselucros.Ambosperceberam,porém,que,comoossalários I ()~lucrossãopreçosouderivadosdeoutrospreços,nãoseriapossívelexplicarospreços 1'111geralsemseencontrarumacausaouumdeterminantequenãofossetambémum plL1~~U.EmnossadiscussãodateoriadeAdamSmith,noCapo3, explicamosporquesua IIIOI'ladospreçosemgeraleracircular,nãosendo,portanto,adequada.ParaRicardoe Mllrx,o trabalhoincorporadoàsmercadoriasserviacomofatorcausaloudeterminante- .' "lIl' nãoeraumpreço.A teoriadovalor.trabalhoea teoriadovalor-utilidade(queserão IJI~I'utidasemoutroscapítulos)sãoasúnicasteoriascoerentesquechegarama soluções 11""1estesproblemas. Ricardotinha,então,quemostrarque,mesmocomdiferentesrazõesentrecapitale IllIhalho,a teoriado valor-trabalhopoderiasermodificadaparamostrarumarelação .I.h!lnáticaentreo trabalhoincorporadoaumamercadoriaeseuvalordetroca.O proble. /111Ipodeserpercebidofacilmenteseseimaginaremduasfirmascapitalistas.Naprimeira, " [llpitaldoproprietárioconsistequasequeinteiramenteemumfundoparapagarossalá- 11mdosoperários,duranteo períododeprodução,paraqueamercadoriaqueestásendo l'/tIduzidapossaservendida.Nasegunda,o capitaldoproprietárioconsistebasicamente "11Im.íquinascaras,eapenasumapequenaparcelaconsisteemumfundoparao pagamen- 111dl'salários.Se'noprimeiroperíododeproduçãocadafirmaempregar100operários, 11pll'ÇOdamercadoriada primeirafirmaterá,então,queserigualaossaláriosdos100 111,,'r:\rios,maisoslucrosde- digamos- 10%do fundocomo qualo capitalistapagou 11' .lIllIrios.O preçodamercadoriadasegundafirmaserámaior.A segundamercadoria IlIlItl'mo trabalhodos100operários,maispartedo trabalhodosoperáriosqueproduzi- 1_11Iasmáquinascaras.O segundopreçoincluirá,então,ossaláriosdos100operários, 1IIIIIsos 10%delucrosobreo fundodossaláriosdocapitalista,maisocustodasmáquinas \IIIulasIIUprodução,maiso lucrode10%sobreo dinheiroinvestidopelocapitalistanas 1111lqlllllas.Suponhamosque,quandoestescustosforemsomados,o preçodasegunda 1III'lllIlIoriasejao dobrodopreçodaprimeira. SlIpollhamos,agora,que,no próximoperíododeprodução,porqualquerrazão,os 1IIIIIIIosaumcntem.Dadoo mesmoníveldeprodutoeomesmoníveldeempregodetra. j"IIIIII, l" uSlllldoas mesmasl«cnícasdeproduçfio,éóbvioqueossaláriosmaisaltosroml -------- 1'1 1111'110numdecréscimodoslucros;mas,seo trabalhoincorporadoàsmercadoriasfor o I\nlcodetenninantedeseuspreços,ospreçosrelativosdeverãomanter-seinalterados,pois (J Irnbalhoincorporadonãomudou. Consideremos,agora,osnovospreços.Ossaláriosconstituíamaproximadamente90% do custodaprimeiramercadoria,eoslucrosconstituíam10%.O aumentodossalários teráumefeitomuitograndesobreonovopreço,eodecréscimodataxadelucroteráum efeitorelativamentepequeno.Nãohádúvidadequeo preçodaprimeiramercadoriasubi. rásubstancialmente.Ossaláriosconstituíamumapercentagemrelativamentepequenado custodasegundamercadoria,demodoqueo impactodoaumentodossaláriossobreseus custostotaisserárelativamentepequeno.Oscustosdamaquinariausadanapro'duçãoda mercadoriapodemsubiroudescer,dependendodoimpactodoaumentosalarialsobrea finnaqueproduzaessasmáquinas;masincluídosnoscustosdasegundamercadoriaes- tãooslucros,nãosósobreo fundodossalários,comotambémsobreamaquinariacara usadaemsuaprodução.Portanto,o efeitodanovataxamaisbaixadeI~croserámuito maiorsobreoscustosdasegundamercadoriadoquesobreosdaprimeira. Surgemtrêspossibilidadesrelativasà variaçãodopreçodasegundamercadoria.Pri. meiramente,o menoraumentodoscustossalariaispodemaisdoquecompensaro declí- niodeseuscustos,causadopelamenortaxadelucro.Nessecaso,seupreçosubirá,masa umapercentagemmuitomenordoqueo aumentodopreçodaprimeiramercadoria.Em segundolugar,seuscustossalariaismaiselevadospodemserexatamenteiguaisaosseus custosdo lucromaisbaixoe, nestecaso,o preçopennaneceráinalterado.Emterceiro lugar,adiminuiçãodoscustosdolucropodesermaiordoqueoaumentodoscustossala- riaise,nes~ecaso,o preçobaixará.(A títulodesimplificação,ignoramosquaisquermu- dançasdospreçosqueasegundafirmateriaquepagarporsuamaquinaria,emdecorrên- ciadavariaçãodossalários.) Em cadaumdestestrêscasossurgeumfatoclaro:queropreçodasegundamercado. riasubaou baixe,o preçodaprimeiraaumentarámuitomaisdoqueopreçodasegunda. Portanto,a razãoentreospreçosnãomaisserádedoisparaum;aprimeiramercadoriate. rá umpreçorelativamentemaisalto.A razãopodedescerpara1,5por I, porexemplo. Tudoo quepodemosdeduzirdesteexemploé quea segundamercadoriaaindateráque terumvalormaisalto(poistemosmesmoscustossalariais,mastambémtemcustosde maquinaria),enquantoquea diferençaentreosdoispreçostemquebaixar(poisopreço dapIimeiramercadoriaaumenta~mrelação'aodasegunda).Opontomaisimportantea serobservadoéquea razãoentreospreçosvariou,aopassoqueasquantidadesdetraba- lho incorporadoàsduasmercadoriaspermaneceraminalteradas.Foi issoquemotivou AdamSmithaabandonarateoriadovalor-trabalho. A tarefadeRicardoeraexplicarsobquecondiçõesumavariaçãodossalárioslevaria aumavariaçãodospreçosrelativos,muitoemboraasquantidadesdetrabalhoincorpora- doàsmercadoriaspermanecesseminalteradas.IstoeraparticularmenteimportanteparaRicardo,porqueeletinhaargumentadoqueo aumentodamargemdecultivoagrícola aumentariaos preçosdoscereais;queospreçosmaisaltosdoscereaisnecessitariamde saláriosmaisaltosparamanterosoperáriosaníveldesubsistênciaequcsaláriosmaisai. tossemprediminui'riamataxageraldelucroeo nívelmédiodeIHl'~~()~do~pwdlltosindus. Irializados.Eletevequeusara teoriadovalortrabalhoparadt'nloll~11111IIIllIlIlollosestes 11.1 ~I..ltoseramfrutodeumaumentodamargemdecultivo.Afirmouelequehaviatrêssitua- \II~Inasquaisumavariaçãodossaláriosalterariaospreçosrelativos,istoé,trêssituações ~IIIqueospreçosnãoseriamproporcionaisaotrabalhoincorporado. Primeiramente,as"proporções...nasquaiso capitaldestinadoapagarb trabalhoe II Illpltalinvestidoemferramentas,maquinariaeprédiospodemsercombinadas".28Foi ~,I('o casodenossoexemploanterior,emquearazãoentreosfundossalariaisdoscapita- II~II\Seovalordesuamaquinariadiferia.Ricardodividiaocapitalemcapitalfixoecapi- I,lll'irculante.Neste,incluíao dinheiroparao pagamentodesalários,asmatérias-primas I',~IIIgeral,todocapitalquefosseusadoimediatamentenumperíododeprodução.O Illpllalfixoeratodocapitalquetivessemaiordurabilidade.Seambosestivessemempro- I',IIÇ()CSdiferentes,emdoisprocessosprodutivos,ospreçosnãoseriamproporcionaisao I1~hlllhoincorporadoàprodução.Emsegundolugar,"asferramentas,osimplementos,os 1',,'dloSeamaquinariaempregadaemdiferentesindústriaspoderiamterdiferentesgraus lI, durabilidade".29Nestecaso,mesmoqueamão-de-obradiretausadanaproduçãoeo 11I~lodamaquinariarealmenteusadanaproduçãofossemiguais,ocapitalistaquetivesse 11111110maismáquinasduráveisteriamaisdinheiroinvestidoemmaquinaria.Umataxa 'IIUIIIdelucrosignificariaqueestecapitalistareceberialucrosmaiores,emrelaçãoaotra- 1IIIIIIuincorporadoà produção,do queos recebidospelocapitalistaquetivessemenos IUllqulnariadurável.Portanto,osdoispreçosnãoseriamproporcionaisaotrabalhoincor- 1"lIlIduàprodução.A terceirasituaçãoeraaquelaemque(ocapitaldediferentescapita- II,IUI)"voltavaparao seuempregadoremprazosdiferentes".3oUmcapitalistaqueimobi- h,*,scseucapitalporumprazomaislongoreceberiaumlucromaisdoqueproporcional- IUI'lItcmaiordoqueumcapitalistaqueusasseo fatortrabalhoaprazomaiscurto. Naverdade,ostrêscasosespeciaisdeRicardosão,tão-somente,maneirasdiferentes .11'I/Incararo mesmofenômeno.Comoestefenômenoémuitoimportanteemtodasas ~,II.Oesda teoriado valor-trabalho,desdeRicardoatéhoje,discuti-Ib-emosdemodo IIUtllpleto. ('adaumdostrêscasosapresentadosporRicardopodesercaracterizadodeduasma- I'.IIIIS.Primeiro,seconsiderarmoscomocapitalmerasmercadoriaspreviamenteproduzi- ~III~,usadascomoinsumosparaaprodução,emtodososcasos,arazãoentreasmercado- 111111.'o trabalhoempregadonaproduçãoserádiferente.Lembrando-nosdequeRicardo vi.o capitalcomo.asimplesincorporaçãodetrabalhopassadoaosinsumoscomomerca- .IIIIIIISusadasnomomentonapwdução,poderíamosdizerissodaseguintemaneira:em \ ",til 11111dostrêscasos,arazãoentreo trabalhopassado(incorporadoàsmercadorias)eo II.hlllllopresenteé diferente.Segundo,tãologointroduzimosaspalavraspassadoepre- 11'/I/e, IIItroduzimosumadimensãotemporalnaprodução.Nostrêscasoscitadospor 1111:11110,tambéméverdadeque,sea produçãoévistacomoumaseqüênciadeinsumos ,li 111I\)alhonotempo,existemdiferentesseqüênciasdetempodeinsumosdetrabalho " Il1lll.,p, lI!. 1!lld, IhIJ., p. .l4. ,lli Figura5.5 Reduçãodo CapitalaTraballioPassado em cadaumdeles.Ambasasmaneirasdesemostraroelementocomum,emcadaumdo trêscasoscitadosporRicardo,sãoequivalentes. , Ilustraremos,agora,o efeito de diferentesrazõesentrecapitale trabalho(trabalh passado/trabalhopresente).Primeiramente,na Fig. 5.5,vemoscomoo capitalpodeser reduzidoaumasériedeinsumosdetrabalhoordenadonotempo.Asbarras.dafileirad , t' I ~~~~~~~~~_-:_~~l {' r 1 I ! ('I I--~--T I 1.. I c,. I- . - I-.,-, t,,!C"I_J cimarepresentamos insumosprodutivosdo trabalho(Q)easmercadoriaspreviamentCll1 produzidas(c).As mercadoriasforamproduzidasnoperíodoanteriorpelotrabalho(QI e pelasmercadorias(CI)' Estasmercadoriasforam,porsuavez,produzidas,noperíodo I anterior,pelotrabalho(Q2),pelasmercadorias(C2)eassimpordiante.Emcadacaso,I[ barraquerepresentaasmercadoriaséconstruídacomlinhasinterrompidasparamostrar queestasmercadoriaspodemsersubstituídasportrabalhoemercadoriasusadasnoperíoJ doanterior. II NaFig. 5.6,simplesmentetiramososretânguloscomlinhasinterrompidasquerepre~ sentamasmercadorias.Estaretiradarefleteo fatodecadaumadasbarrasreferentesàs mercadoriastersidoreduzidaa trabalhoemercadoriasanteriores.Emalgumponto,a mercadoriasrestantesficarãosuficientementereduzidas,podendoserignoradas.Sobra." apenas,no processoprodutivo,umasériedetrabalhoordenadono tempo.NaFig.5.6,1 o trabalhopresenteéchamadodeQ;o trabalhopassadotemumíndicequeindicaquan. tosperíodospassadoselerepresenta. II Chegamosàraizdadificuldade,quandopercebemosqueo lucroérecebidosobre01 capitaldetodoo períododuranteo qualo capitalistaéobrigadoaimobilizarseusrecur- sos noprocessoprodutivo.No processosimbolizadonaFig.5.6,porexemplo,ocapita.1 listacontratoutrabalho,representadoporQ3,trêsanosantes(admitindo-sequecadape~ ríodosejadeumano).O trabalhoincorporadoàsmercadoriasproduzidasporQ3sódard frutoscomomercadoriaacabadadeconsumono fim doperíodoatual.Hátrêsanoso capitalistapagousaláriosdeQ3.No fimdaqueleano,ovalordosprodutosintermediários produzidospor Q3foi o custodotrabalhomaisoslucrosauferidospelocapitalistapor ter imobilizadoseu'dinheironesteprocessoprodutivo.Noflmdoanoseguinte(doisano.', antes),o capitalistacalculoude1'l0voseuslucros,destavezsobreoscustosiniciaisde. salárioe os lucrosdo períodoanteriorqueaindaestavamimobilizadosnaproduçtto. Repete-seo mesmoprocessotodososanos,demodoqueoscustosiniciais,hátrêsano~, aumentemaumataxacompostatodoano. Porexemplo,seoscustosdossaláriosdeQ3forem$I00~'a 1:1XIId. lu~lOsfor de 10%,emtodoo período,o capitalistateráduasopçàrs'paut'1I1Vl'\llr~rII~' Inonocomc f'/) / ~II ,tI'umasériedeprocessosdeproduçãodeumanoe,depois,reinvestirtodaaquantia 1111111Iosanos,inclusiveseuslucrosauferidosno períodoanterior;pode,também,investir "'1projetodequatroanos,ilustradonaFig. 5.6.Seescolheraprimeiraalternativa,recebe- I~" 110no fim do primeiroano.Reinvestindotodaa quantia,receberá$ 121no fim do 1"~lIndoano e $ 133,10no f1mdo terceiro.Portanto,seo projetode quatroanosdero /11'111I0lucro, asmercadoriasquerepresentamaparcelado capitalqueincorporao traba- 111..V,Iterãoquetero valorde $ 133,10no início do último,ano,e os lucrosdaprodução 11,.ultimoano terãoqueser de $13,31 sobreestaparcelado capital.Então, o trabalho \ I quecustainicialmente$ 100aocapitalista,acabagerando$ 146,41,quesãosomados 'I" l"l'ÇOda mercadoria.Destes$ 146,41,retomamao capitalistasuasdespesasiniciais 11" 100comsaláriose $46,41sãoseulucro,porterimobilizado$100decapitaldurante Figura5.6 SeqüênciadeTraballioOrdenadonoTempo tl'ldllOanos.Eleacabarácomamesmaquantiaseinvestiremquatroempreendimentos 11'\1111adosporumperíododeumano,emquerecebaumlucrode10%,desdequereinvis- I.. tudoano,seus$100iniciais,maistodososlucrosquetenhaauferidoatéaqueladata. I' porissoque- segundoaspalavrasdeRicardo- tantoummaiorvolumedecapital 11411uperárioquantoumprazodeproduçãomaislongodariamomesmoresultado.Seo Illplllllistativesseimobilizado$ 100apenasdurantedoisanos,o valordeseucapital,no IIlll~lodo últimoano,seria$ 110($ 100mais$10delucrodoanoanterior),aopasso 'I"', ~l'tivesseimobilizadoseus$100duranteosquatroanos,o valordeseucapital,no IIlhluuoúltimoano,seria$ 133,10($ 100,maisos$10delucrodoprimeiroano,mais m '11 de lucrodosegundoanoemaisos $ 12,10delucrodoterceiroano).Assim,o v410rdocapitalémaiornoprocessodequatroanosdoquenoprocessodedoisanos,ape- 1111dl'oscustosiniciaisdesalário(e,portanto,o trabalhoinicialincorporadoaocapital) lI'IC'II1sidoosmesmos,emambososcasos. UMEXEMPLONUMÉRICODE DETERMINAÇÃODEPREÇO 1'lI1boraos exemplosnuméricosdedeterminaçãodepreçosejambastantemonóto- 1111'quasetodososleitoresentenderãoo princípiocommaisfacilidade,seforemdados , q'lIlplos,emvezdeconfiarmossomenteemfórmulasmatemáticasabstratas.Portanto, ""'C'IIIOSumexemplonuméricode:(1) comodiferentesrazõescapital/trabalhoresultam"111I'Il~ÇOSn:loproporcionaisaotrabalhoincorporadoe (2) comovariaçõesdossalários .11"111111cstespreços.NaFig.5.7sãoilustradosdoisprocessosdeprodução.Napartea, 1IIIIIIIIhladesdr trabalhoincorporadoproduzem100uniuadesdamercadoriax e,napar I /o,"nn unidlldl\sdt,trabalhoIIICOI poradoproduzem100unidadesdamercadoria1'.S:10 I' , Figura5.7 DoisProcessosdeProduçãocomaMesmaQuantidadedeTrabalho,mascomDiferentes ComposiçõesdeCapital 100( , I I I I I 300e I I I 100e300(" --------------------- 75t, 50(,' I 75t, 50(, 75(, (b)Unidadesdetrabalhoparaa produção de 100unidadesdamercadoriay (400 unidadesdetrabalhonumperíodo detrêsanos). 75t, (a)Unidadesdetrabalhonecessárias paraa produçãode100unidadesda mercadoriax (400unidadesde trabalhonumperíododecincoanos). I necessárias100unidadesdetrabalhopresente(chamadodeQ)e 300unidadesdetrabalhoi passado(chamadodec),empregadasuniformemente,à taxade75unidadesporanonos: quatroanosanteriores,paraseproduzirx. Sãonecessárias300unidadesdetrabalhoatualI' .e 100unidadesdetrabalhopassado,aplicadosà taxade50unidadesporano,nosdoisI anosanteriores,paraproduziry. Obviamente,seospreçosfossemproporcionaisaotraba.1 lho incorporado,ambosseriamiguais.Todavia,amercadoriax temnãosómaistrabalho passado,comotambémumprazomaiordeprodução;tem,portanto,umarazãomaisele.! vadaentreo capitaleo trabalhopresente.SupomosquetodasasmercadoriasutilizadasI comoinsumostenhamsidousadasporcompletonofimdecadaprocessoprodutivo. I Faremosdoiscálculossimples,usandoasfórmulasdeproduçãodaFig.5.7.Nopri.1 meiro,supomosqueossaláriossejamde$1,00porunidadedetrabalhoequeataxade; lucrosejade50%.No segundo,supomosqueossaláriossejamde$2,00porunidadede: trabalhoequea taxadelucrobaixepara10%.(Oscálculosdosexemplosforamfeitos comvariaçõesmuitograndesnastaxasdelucrosenossaláriosparailustrardemodocla. roo quequeremosdizer.) I Podemosver,no Quadro5.1,que,comestastaxasdelucroecomestessalários,o I preçodex émaisdodobrodopreçodey, mesmoqueambostenhamincorporado400 unidadesdetrabalhoàs100unidadesdemercadoria.A diferençaestá,inteiramente,nos maioreslucrosqueentraramno cálculodo custodex, emcadaetapadoprocessodc produção. . Agora,vamossuporqueo saláriomédiosubapara$2,00por\llIidlld(~dl'trabalho, Comamcsmaquantidadedeproduçãodivididaentrecapitllhsta~I'11:lhllllil,d()I(!~,seguc.se 1)1'1 qUI.11taxadelucrotemquecair.Suponhamosqueataxadelucrocaíssepara10%.Quando l'll'ordodissequesaláriosmaisaltossempreimplicamlucrosmaisbaixos,estavacom. I'ClI'IIIIdoduassituações,emqueastécnicasdeproduçãoeasquantidadesproduzidaseram n mcsmas.O Quadro5.2mostraoscálculosdonovosalárioedonovolucro. Podem-sefazertrêsobservaçõesimportantesna comparaçãodos resultadosdos t)lIodros5.1e 5.2.Primeiramente,amudançadossaláriosalterasubstancialmenteospre. ~IIIrelativosdex e dey; enquantoo preçodex é maisdo dobrodopreçodey, no 1)IIIIIIro5.1,é apenasumpoucomaiselevadonoQuadro5.2.Istoilustrao fatodequeé II diferençadoslucrosquefaz comqueospreçosnãosejamproporcionaisaotrabalho Incorporado.No Quadro5.2,oslucrossãomuitomenorese,porisso,o desviodarazão ,I,.,preços,emrelaçãoà razãodotrabalho,tambémémuitomenor.Seossaláriossubis. "'11Ia pontodenãohavermaislucros,ospreçosdex e dey seriamiguais,refletindoo IIAbolliototaligualaelesincorporado. O segundopontoaserobservadoéqueosquadrosilustramporqueRicardorejeitou IlIllrmativadeAdamSmithdequeumaumentodossaláriossempreaumentaospreços ,1,'todasasmercadoriasproduzidaspelotrabalho.No Quadro5.2,o preçodamercadoria Quadro5.1 CustosePreçosquandoosSaláriossãodeSI ,00eaTaxadeLucroéde50% Mr-r Quadro5.2 CustosePreçosquandoosSaláriossãode$2,00eaTaxadeLucroéde10% Murcl' I ,.., B. Custodama- quinaria(cus. A. Custodo todotraba- C.Custodo E.Preçopor trabalho lhopassado lucro(taxa unidade(D (númerode compostoanual. delucro divididopor unidades mentepela vezessoma D. Custototal 100) vezessalá. taxade deA eB) (A +B +C) rio) lucro) adoriax $100,00 $914,08 $507,04 $1521,12 $15,21 cadoriay $300,00 $187,50 $243,75 $ 731,25 $ 7,31 B. Custodama. quinaria(cus- A. Custodo todotrabo. C.Custodo E. Preçopor trabalho lhopassado lucro(taxa unidade(D (númerode compostoanual- delucro divididopor unidades mentepela vezessoma D.Custototal 100) vezessalá- taxade deA eB) (A T B +C) rio) lucro) dorillx $200,00 $765,78 $96,58 $1062,36 S10,62 lIorlu)' $600,00 $231,00 $83,10 S 914,10 $ 9,14- - \ 1t1l1~1I1Ide$15,21para$10,62emdecorrênciadaduplicaçãodossalários.O errode ',1111111rolsuaincapacidadedeconsiderarofatodeque,emqualquerníveldeprodução, m cnplllllistase ostrabalhadores.estãoconcorrendo,antagonicamente,peloprodutodo IlIIh,tlho.Quandoa técnicadeproduçãopermaneceinalteradaeaquantidadeproduzida li! IIIllntémconstante,umaumentodossaláriossópodeserconseguidocomumdecrésci- modataxadelucro.EstefatoeracentralnoargumentodeRicardo.Seossaláriosaumen- (urem,a quedaconseqüentedataxadelucrodiminuiráos preçosdasmercadoriasnas quaisocomponentereferenteaolucroforgrande,emcustos. O terceiropontoimportanteiJustradonosdoisquadroséoseguinte:enquantoataxa delucrofor positiva,amercadoriax tambémteráumarazãocapital/trabalhomaÍsalta queamercadoriay. Istofoi usadoporRicardocomoduasregrassistemáticasparaapre- visãododesviodasrazõesdepreçoemrelaçãoàsrazõesdetrabalho:primeiro,enquanto a taxadelucrofor positiva,asrazõesdospreçosserãodiferentesdasrazõesdotrabalho, nomesmosentidodasdiferençasentreasrazõesdecapitalporoperário.Emoutraspala- vras,dedoisprocessosprodutivosqueincorporema mesmaquantidadedetrabalho,o processoquetivermaiscapitalporoperárioatualsempreteráumpreçomaisalto.Mais capitalporoperárioatualquerdizeramesmacoisaqueRicardoestavadizendo,quando caracterizouumprocessoprodutivocomotendoumarazãomaisaltaentrecapitaldurá. velecapitalcirculante,maiordurabilidadedamaquinariaouumprazomaislongodere- tornodocapitalempregadopelocapitalista.3!Segundo,quantomaiorforataxadelucro, maiorseráo desviodasrazõesdospreçosemrelaçãoàsrazõesdotrabalho. DISTRIBUIÇÃODERENDAE A TEORIA DOVALOR-TRABALHO Podemos,agora,voltarà discussãodateoriado valor,deRicardo,evercomosua teoriadovalorestavaligadaàsconclusõesporeletiradasemseumodeloanteriordateoria simplesdoslucros,baseadanoscereais.Nomodelomaissimples,sóseproduziamcereais, ea taxadelucroeradadapelarazãoentreoprodutolíquidoporlavradornaterramargi. nalequenãopagavarenda(ouoprodutolíquidomenosasrendasporlavradoremtodas asterras)eaquantidadedeprodutoporlavrador,necessáriaparaasobrevivênciadosla- vradores,tudoissoexpressoemtermosdecereais.OlugardateoriadotrabalhodeRicar- do,emsuateoriageraldadistribuição,foi sucintamentedefinidoporMauriceDobb,um grandeestudiosodasidéiasdeRicardo: Usandoa teoriado valor-trabalho,Ricardoestava,na verdade,substituindocereaispor trabalho comoa quantidadequeexpressava,comoumacoisasó, o produto,os saláriose o excedcntc.O 31 A questão,porém,é maiscomplicadado quesugerenossadiscussão.Em umlivromuitoimpor' tnnte,publicadoem1960,umdiscípuloat,ualdeRicardomostrouque,quandosecomparamdoispro. ccssosde produção,é possívelqueseuspadrõesde tempodeinsumode trabalhoscjumdctalordcm quc, cm ccrto intervalodesalários(ou de taxasde lucro),um processotcnhaumvulurmaisalto de cupitalpor operário,aopassoque,emoutrointervalodesalários(ou taxasdc hwro),u outroprocessu tcnhuum valormaisaltodecapitalporopcrário.SRAFFA, Picro.77wl'rodl/('r/v/IvI (imllllOditiesby M(~a/lsor Commodiries.Cambridge,CambridgeUnivcrsityPrcss,196U,11I,\I~ 11I.,utilplll0SalgulU rcsultudosimport;mteslia livrodeSraffunoCap,17, 1'0 lucroera,agora,concebidocomoo excedenteou a diferençaresidualentreaquantidadedetra- balhonecessárioparapermitirasubsistênciadaforçadetrabalhoetodaestaforçadetrabalho.32 NaspalavrasdopróprioRicardo,dovalortotalproduzidopelotrabalho, partedo quesobradaquelevalor,apóso pagamentodarenda,é consumidapelosprodutores,eé isto - eapenasisto- queregulaoslucros.. . Assim,chegamosnovamenteà mesmaconclusãoaquetentamoschegaranteriormente:emtodos os paísese em todasasépocas,os lucrosdependemdaquantidadedetrabalhonecessáriaparasu- prir asnecessidadesdos trabalhadoresda terraou que trabalhamcomcapitalquenãogerarenda alguma.33 Eram,então,ovalortotaldoqueeraproduzidoesuadivisãoentreastrêsprincipais I'\ussesdasociedadequeinteressavamaRicardo.Ovalordependiadotrabalhoincorporado A.mercadorias,masdiferençasdevalordo capitalporoperáriocausariamvariaçõesde pwço."Ao estimar...ascausasdasvariaçõesdovalordasmercadorias"- escreveuele- "l1J1\borafosseerradoomitirinteiramenteaconsideraçãodoefeitoprovocadoporumau- IIIl!'lItOouporwnabaixado(saláriodo)trabalho,seriaigualmenteincorretoatribuirmui- 111Importância a ele".34 Estasvariaçõeseramrelativamentesemimportância,porduasrazões.Primeiramente, Itlcllrdoacreditavaqueelasseriammuitopequenas.35Emsegundolugar,quandoseleva- vllmemcontaasquantidadesagregadas- de quetratavamsuasteoriasdadistribuiçãoe '\11ucumulação- asvariaçõesdasrazõesdepreço,emrelaçãoàsrazõesdetrabalho,se- ,111meliminadas.Eraóbvioque,setodososprocessosdeproduçãotivessemamesmacom- Jlu~içii'odecapital,estasrazõesseriamiguais.Pelomesmoraciocínio,quaisquermercado- ,1111 quefossemproduzidaspor processoscomacomposiçãodecapitalsocialmentemédia "'llIpreteriampreçosproporcionaisaotrabalhonelasincorporado.Asmercadoriasprodu- tltlllscommaiscapitaldoqueamédiasocialteriamseuspreços"diminuídoscomoau- 1II,IIItOdossalárioseaumentadoscomaquedadossalários",aopassoqueasquefossem IlIotlllzidascommenoscapitaldoqueamédiasocial"aumentariamcomoaumentodos ,111111'105ediminuiriamcoma quedadossalários".36Seguia-se,destadefiniçãodemédia, '1"1'os desviosparacimadamédiacompensavamexatamenteosdesviosparabaixoda 1111'11111.Tambémse poderiadeduzirquequalquermercadoria"produzidaexatame'nte 1111111asmesmascombinaçõesdecapitalfixo ecapitalcirculantequetodasasoutras",ou I' 111111mesmacOlpbinaçãoque a médiasocial,"seriawna medidaperfeitadevalor",37 11111'1110seupreçodependeriasomentedotrabalhonelaincorporado. OuandoRicardolevouemcontaumaeconomiacomplexa,osagregadosdeproduto Ilqllldoe saláriossecompunhamdemuitasmercadorias.Paramedirestesagregadose, " I)()BB.77/eorieso[ ValueandDistribution,p. 74. I(((,ARDO. Princípios,p. 75-76. Ihld.,p. 22-23. Ihld., p. 23,26. Ihld" p. 27. Ihll!" p. 1M, ... 1II 1I1If,1:111114"1'li umataxadelucro,Ricardoteriaqueencontrarumamercadoriacujopreço IInoVIII'IIIN~C quandoossalário'seoslucrosvariassem.Asoutrasmercadoriaspoderiam, 1'111ntl,S(,I'mcdidasemtermosdestamercadoria,eo valordosagregadosseriainvariável \'11Ir~~laç![oavariaçõesdesaláriose lucros.Seelenãoconseguisseencontrarestamerca. dorla,seusagregadosrefletiriamnãosóasquantidadesdemercadoriasrealmenteproduzi- daspelotrabalho,comotambéma distribuiçãoderenda.Alémdomais,comovimosem nossoexemplonuméricoanterior,o conhecimentodeatéquepontoo preçodeuma mcrcadoriaseafastariadaproporcionalidade,emrelaçãoaotrabalhonelaincorporado, quandosuaproduçãoenvolvesseumacomposiçãodecapitalquesedesviassedamédia social,dependiadeumconhecimentopréviodataxadelucro.Emoutraspalavras,ateoria dospreços,deRicardo,exigiaquea taxadelucrofossedeterminadaantesdesecalcular o desviodasrazõesdospreçosemrelaçãoàsrazõesdetrabalhoincorporado. Porestasrazões,eramuitoimportanteparaRicardoencontrarumamercadoriaque fosseproduzidaemcondiçõessocialmentemédias,queservissede"medidainvariávelde valor".38EmboratantoSmithquantoMalthustenhambuscadoestamedida,foiRicardo quemprimeirocompreendeutodaa importânciadeelaserencontrada.Estamedidaé, até.hoje,umaimportantepreecupaçãodosteóricosquedefendemumateoriadovalor. trabalho.Infelizmente,Ricardonãoconseguiuencontrarqualquermercadoriaquepudes. sedefendercomomedidainvariáveldevalor.Limitou-seaaceitaremcaráterprovisório oourocomosendoestamedida,sabendoqueele,emrealidade,nãooera. Combaseemsuateoriadovalor-trabalho,Ricardoconseguiudarumabaseteórica muitomaissofisticadaaosimplesmodelodistributivoilustradonaFig.5.4.A essência de suateoriapodeserpercebida,deacordocomsuasprópriaspalavras,nasseguintes citações: A tendêncianaturaldoslucrosé, então,o declínio;isto porque,como progressodasociedade e como aumentodariqueza,a quantidadeadicionaldealimentosnecessáriosé obtidacomo sa' crifício decadavezmaistrabalho.3. Mas,suponhamosqueos cereaissubamdepreçoporsernecessáriomaistrabalhoparasuaprodu. ção;isto nãoaumentaráo preçodosprodutosindustrializadosemcujaproduçãonãosejapreciso qualqueracréscimode trabalho... Masse - comoé absolutamentecerto- ossaláriosdevemsuo bir como aumentodoscereais,os lucrosdevem,obrigatoriamente,diminuir.'. Todo aumentodesalário...diminuiriao valorrelativodasmercadoriasquetivessemsidoproduzi. dascomumcapitaldenaturezadurávele aumentariao valordasmercadoriasproduzidascomca. pitalmaisperecível." Na estimativa...dascausasdasvariaçõesdo valordasmercadorias...seria... incorretoatribuir muitaimportânciaa (variaçõescausadaspeloaumentodossalários)...Todasasgrandesvariaçõcs ocorridasno valorrelativodasmercadorias... (são)provocadaspelamaiorou menorquantidade detrabalhoquepodesernecessária...parasuaprodução.42 38 Ibid.,p.27-30. Ibid.,p.71. Ibid.,p.64. Ihid.,p.25. Ihld.,p.2223. 39 40 41 1'1' \ As mercadorias...estarãosUjeitasa... umapequenavariação...emfunçãodo aumentoou dadi. mlnuiçãodossaláriose dos lucros,... masesteslucrosseriamdiferentesseospreçosdasmerca- doriasnãovariassemcomumaumentoou umaquedadataxadelucro." Seum fabricantevendersempreseusprodutospelomesmopreço,seuslucrosdependerãodo pre- ~~odo trabalhonecessárioparasuafabricação...Então,os lucrosdiminuiriamproporcionalmente 110aumentodossalários;mas,seo preçodo produtobrutoaumentar,pode-seindagarseo fazen- dt:iro,pelomenos,não teriaa mesmataxade lucro,emboradevessepagarmaissalários.eclaro Ijuenão,poiselenão só teráquepagar,juntamentecom o fabricante,umaumentodesaláriosa cadaum de seustrabalhadores,comotambémseráobrigadoapagarrendadaterraou a empregar ummaiornúmerode trabalhadoresparaconseguiro mesmoproduto,e o aumentodo preçodo produtobrutosó seráproporcionalàrendaou aoacréscimodetrabalhadores,e nãoo compensa- rlipeloaumentodossalários." Ouandoos lucros,afinal, caíssem,não haveriamotivoalgumparaacumulação,pois ninguém IIcumulasema intençãode tornarestaacumulaçãoprodutiva,e sóquandoé produtivaé queela Inl1uinoslucros.Semmotivo,nãopoderiahaveracumulaçãoalguma.H o resultadodestafaltadeacumulaçãoseriaumainterrupçãodoprogressoeconômi- \11,umaquedadosaláriodemercadoaoníveldesubsistência,o sofrimentoeapobreza "II:lulgeneralizada.Esteerao estadoestacionáriodeRicardo.Algunshistoriadoresafir- 11111111queateoriadeRicardoerapessimistaesombria,porqueseumodelopareciaimpli- 11111lIIevitabilidadedoestadoestacionário.Outrosafirmamquesuateoriaestavaerra- .111.porquenãopreviaasmudançastecnológicasquedeveriamocorrernaproduçãoagríco- I. fiOSséculosXIX e XX, mudançasestasquedeveriamresultarnumaumentomaisou 1I1I1f10Scontínuoda produtividadedaagricultura.Ambasestasavaliaçõesdateoriade I."urdobaseiam-seemmal-entendidos. Ricardoviaa sociedadedeacordocomaperspectivadateoriadotrabalhooudapro- 111I~!nO.Concentrou-senitidamentenosdoisprincipaisconflitosdeclassedesuaépocae, ~mS\lUteoria,osinteressesdosoperáriose doscapitalistaseramopostos."Seossalários .lIhll('lI1"- repetiaele- "oslucrosterão,necessariamente,quecair".46Damesmafor- 11111,osinteressesdoscapitalistasedosproprietáriosdeterraseramsempreopostos.Sua 141111111nãoeraumatentativadeprevero que,defato,iriaacontecernoséculoseguinte. h ~limatentativadeinfluenciaroParlamentoemquestõesepolíticasqueestavamsendo .11!hutldasnaépoca.Ricardoqueria,particularmente,verabolidasasleisdoscereais. Quantoàstrêsclassesantagônicas,Ricardoargumentou,comoMalthus,que,devido. . .1111tcndênciaaaumentarotamanhodesuasfamílias,quandosuarendaaumentasse,os "1"'llII'lossempreestariampróximosdoníveldesubsistência.No conflitoentreproprie- '~IIIISdeterrasecapitalistas,elequeriamostrarqueosinteressesdosproprietáriosdeter- 111.KI'l\1prCseopunhamaobem-estargeraldasociedade,aopassoqueosdoscapitalistas ntaVlI1I1sempredeacordocomobem-estargeraldasociedade. Â InglaterrasónãoenfrentouumacrisedeproduçãodealimentosnosséculosXIX e " Ihld., p. 26.27. IlIld., p. 64.65. Ihld., p. 7273. Ihlll., p.64, lU 47 XX porqueabandonouasleisdoscereais,tendopennitidoalivreimportaçãodealime los 'cporqueaprodutividadeagrícolaaumentoudurantetodoaqueleperíodo.Considrando-seasduascitaçõesseguintesdosPrincipios,deRicardo,éóbvioqueeletinhacon ciênciadessesremédios: ' Estatendência'" (à quedadoslucros)é,felizmente,interrompidadetemposemtempospcl aperfeiçoamentosda maquinarialigadaà produçãodasmercadoriasnecessárias,bemcomopel descobertasdaciênciaagrícola." Um país pequeno porém fértil - principahnente sepermitir livremente a importação de alimen! tos - podeacumularmuito capital semumagrandediminuiçãoda taxade lucroou umgrand aumentodarendadaterra.'8 Eleestava,simplesmente,tentandopersuadiroslegisladoresaaceitaro fatodequeo interessesdosproprietáriosdeterrasseopunhamaambasasfontesdemelhoriadobem estarsociale econômicodaInglaterra.A oposiçãodoslegisladoresà livreimportaçãod alimentoseraóbvia.Ele tambémargumentouqueosaperfeiçoamentosdatecnologi agrícolateriamo efeitoimediatodediminuiro trabalhoincorporadoaoscereaisebaixa os preçosagrícolas.O efeitoimediatoseriaumareduçãodarendadaterra,mesmoqu outrosaumentosdaáreacultivadapudessemacabarrecuperandoousuperandoestarenda: Osproprietáriosdeterras,demodogeral,seopunhamaqualquercoisaquebaixasseimel diatamentearenda.Ricardoconcluiuque I I o interessedo proprietáriodeterrasé sempreopostoaodo consumidoredo fabricante...As rela çõesentreo proprietáriode terrase o públiconãoeramcomoasdo comércio,emquesepodl dizerque tantoo vendedorquantoo compradorganhavam;naqueletipo derelação,a perdaer somentedeumdosladose o ganhoficavatodoparao outro.'o ' A IMPOSSIBILIDADEDA SUPERPRODUÇÃO A teoriadeMalthus,segundoaqualademandaagregadainsuficienteeraacausad superproduçãoou dasdepressõesperiódicas,eraa basedesuarecomendaçãodequeO proprietáriosdeterrasdeveriamreceberumaparticipaçãomaiordaproduçãonacional Damesmaforma,Ricardoseopôsa estateoria.Primeiramente,confonnevimosnoúJtt. mocapítulo,eleargumentouqueo fatodeo capitalistasubsidiaroconsumoimprodutiv doproprietáriodeterrasdar-lhe-iatantolucroquantoumincêndioemseudepósito,qu destruíssepartedesuasmercadorias.Em segundolugar,Ricardoargumentouqueasfor, çasdaofertae daprocuraajustariamautomaticamenteospreçoseacomposiçãodoprol duto agregado,demodoqueumasuperproduçãogeralfosseimpossível.Nesteúltim.. argumentopropôsumaanálisequeera,emseuselementosessenciais,idênticaà proposJ tapeloeconomistafrancês1.B. Say.A análiseé,emgeral,associadaaSay(naverdade. chamadaLeideSay) eseráexplicadacommaisalgunsdetalhesnocapítuloseguinte.ESlo. temsidoumadoutrinainfluentecommuitosseguidoresatéhoje. 48 Ibid" p. 71. Ibid., p,76. 11>1<1.,p. 225. 49 1II1 () argumentoé relativamentesimples.Ele afirmaqueos capitalistassó produzem .'I"!ludequeelesmesmosnãonecessitam,porquepretendemtrocá-Ioporalgodeque t~IIIIIIQntenecessitam.A moedafaza intennediaçãonatroca,masnãoé desejadaporsi UlnIllU.Umapessoaproduzumamercadoriaapenasparapoderobterumamercadoria ,IIIII,llIIte.Quandotrocasuamercadoriapormoeda,temaintençãodetrocaramoedapor "'"'11mercadoria.Comoaprópriamoedanãotemqualquerpropriedadeútil,quenãoo 1111.)depodercompraroutramercadoria,ninguémquerentesourá-Ia.Portanto,aprodu- ~.III riasuaprópriaprocura.Paracadadólardemercadoriasproduzidasporumcapita- thld,estemesmocapitalistatemum dólardeprocuradeoutrasmercadorias.Ricardo MllIllKontouesteargumentodemodobastantesucinto: Nmguémproduz,anãoserparaconsumirouvender,e sósevendecomaintençãodecomprar limaoutramercadoria,quepossaserimediatamenteútilouquepossacontribuirparaaprodução lutura.Produzindo,então,passaasernecessariamenteo consumidordesuasprópriasmercado- rlusou o compradore o consumidordasmercadoriasproduzidasporoutrem.50 Produtossãosemprecompradospor produtosou por serviços;a moedaé apenaso meioatravés lIo qual se faz a troca. Pode ser produzidoum excessodedeterminadamercadoria,quepode Nobrartanto no mercado,que nem conseguerecuperaro capitalnelaempregado;isto, porém, ruio podeacontecerparatodasasmercadoriasaomesmotempo.51 Ricardosabiaquea décadaanterioraoaparecimentodaterceiraediçãodeseusPrin- _,,,I!lI linha testemunhadocondiçõeseconômicasde depressãogerale de desemprego ."nl'llllizado.A explicaçãoqueele deufoi parecidacom a queseriadadanos 150anos 1,111'Il' seguiramporteóricosquequeriamacreditarqueocapitalismocriavaautomatica- 11I11110o plenoemprego,apesardapersistênciadascrisese dasdepressõescíclicas: Umgrandepaísindustrialestáparticularmenteexpostoa revesese contingênciastemporárias, 1)I'ovocadaspelodeslocamentodo capitaldeumempregoparaoutro...A procuradequalquer mcrcadoriaestásujeitanãosóaosdesejos,mastambémaosgostoseaocaprichodascompras... OUóludoa procuradeumamercadoriadiminui,osquesededicamàsuafabricaçãoenfrentam IIllIitasafliçõese,semdúvida.algumprejuI'zo;istosefazsentirnãosóporocasiãodamudança masdurantetodoo intervaloemqueelesestejamdeslocandoseuscapitaiseo trabalhoquepos- !IUII empregarde um para outro emprego.52 Fxplicou,então.asdepressõesdesuaépocasimplesmentecomoo ajustenecessário ."1pudrõesanonnaisdeofertaeprocuraduranteosanosdeguerraqueaprecederam. MAQUINARIACOMOCAUSADEDESEMPREGOINVOLUNTÁRIO I)uranteseudebatecomMaIthus,porém,Ricardofezumagrandeconcessão,nater- .'1'1111ediçãodeseusPrindpios.Acrescentouo Capo3I, intituladoSobreaMaquinaria. ~jl.,tc'capítulo,elediscutiuapossibilidadedeanovamaquinariaquedeslocavao traba- Ihlldoprocessodeproduçãopoderserprejudicialaostrabalhadores.Noprimeirocapítu- IlIld.,p. 192-193. IlIld.,p. 194. 1/1111.p. 175, S3 111,.,h-dllullira osefeitosdaintroduçãodenovostiposdemaquinariaquepoderiamdin1i. IIull01custosdeproduçãodocapitalista.SupuseraqueistolevariaamaiorproduçãoeaI 1111'111111'8preçosdasmercadoriasprÇ>duzidasporestamaquinaria.Portanto,concluíraque tollll ti sociedadesebeneficiariacomamaquinaria. () fabricante... que...puderrecorreràmáquina...(diminuiráoscustos)deproduçãodesuamero cadoriae terávantagenspeculiaressepudercontinuarcobrandoo mesmopreçopelasmercado-, rias;mas ... ficaráobrigadoa diminuiro preçodesuasmercadorias,casocontrárioo capitalserá: atraídoparao seuramo,atéseuslucrosterembaixadoaonívelgeral.Dessemodo,o públicofica beneficiadocomamaquinaria.53 Suacrençadequeo públicosempresebeneficiariacomaintroduçãodemaquinaria baseava.senopressupostodequeospreçosdemercadodiminuiriamsemproblemasera. pidamenteequeo trabalhoseriarealocadosemproblemaserapidamenteparaaumentar o volumedaprodução.SeusdebatescomMalthusconvenceram-nodequeistonãoocor- reria necessariamente.Em suaterceiraediçãodosPrincipios,Ricardocomeçouo novo' Cap.31dizendooseguinte: DesdequevolteipelaprimeiravezminhaatençãoparaasquestõesdeEconomiaPolítica,tenho' sidodeopiniãoque...umaaplicaçãodemaquinariaaqualquerramodeprodução,demodoa poupartrabalho,seria de modogeralboa e sótrariaaquelesinconvenientesque,namaioriadosI casos,sefazempresentesnaretiradadecapitale de trabalhode um empregoe emseudesloca.i mentoparaoutro emprego.Parecia-meque... os proprietáriosde terras...sebeneficiariamcom a quedadospreçosdealgumasmercadoriasemque(suas)rendaseramgastas...Achavaeuqueo capitalistase acabariabeneficiandoprecisamenteda mesmamaneira.Na verdade,quemtevea idélâ"de introduzir a máquina ... teria uma vantagemadicional, sob a forma de grandes lucros, durantealgumtempo;mas,à medidaquea máquinaentrasseemusogeneralizado,o preçoda mercadoriaproduzidabaixaria,por causado efeitoda concorrência,atéchegarao seucustode produção,quandoo capitalistateriaos mesmoslucrosque antes,... (masele)poderia,comli mesma receita nominal, ter mais conforto e prazer. A classedos trabalhadores também - em mio nhaopinião- sebeneficiariadamesmaforma...já que teriacomocomprarmaismercadorias como mesmosalárionominal.54 . Ricardoafirmou,depois,queaindaachavaqueoscapitalistaseosproprietáriosde terrassebeneficiariamcomestamudançanatecnologiadeprodução,mas"queasubsti. tuiçãodetrabalhohumanopormaquinariaé,muitasvezes,muitoprejudicialaosinteres. sesdaclasseoperária".ssIstoocorriaporqueostrabalhadoresseriam,inicialmente,des.1 viadosdaproduçãodemercadoriasquepagavamsaláriosparaaproduçãodebensdecapl. tal.No períodoseguinte,haveriamenosmercadoriasquepagavamsaláriose,conseqüen. temente,menorprocuradetrabalho,porquea procuradetrabalhoeralimitadapeladis. ponibilidadedemercadoriasquepagavamsalários.Quandoanovamaquinariafossepostllemuso,exigiriaalgunsoperários,masnãovoltariamaotrabalhotantosoperáriosquanto! tivessemsidodespedidosanteriormente,porqueamaquinariatinhasidofeitaapenasparnI[ reduziro númerodeoperáriosnecessáriosparaproduzirdeterminadaquantidadee,por. Ibid.,p.26. lbid.,p.263-264. Ibid.,p.264. Ilh IdllIO,reduziroscustosdesaláriosdocapitalistae aumentarseuslucros.Assim,arenda liquidadasociedade(lucrose rendadaterra)poderiaseraumentada,enquantoa renda !!lUla(lucros,rendadaterraesalários)estariasendodiminuída.Nessecaso,muitostraba- Ihlldoresseriam"despedidosdoemprego",e umagrandepartedaclasseoperária"ficaria "1111I0excedente,emcomparaçãocomosrecursosfinanceirosparaempregá-la".s6 Ricardoconcluiu"queaopiniãodaclassetrabalhadoradequeoempregodemáquinas "111,muitasvezes,prejudicialaosseusinteresses,nãosebaseavaempreconceitoouerro, 11I111estavadeacordocomosprincípioscorretosdeEconomiaPolítica".s7Estaconclusão _Ijl.nlficavaqueeleconcordavacomMalthus,aoafirmarqueo mercadopoderianãoser 11111110eficazna realocaçãodosrecursos,quandohouvesseumamudançanascondições .\0produção,e queo resultadopoderiaserumadepressãocrônicanomercadodetraba- 11111,quereduziriaa produçãototaldaeconomia.TambémsignificavaqueafédeRicardo 1111acumulaçãodecapital,comoaprincipalforçaqueaumentariaobem-estareconômico .Ir lodaasociedade,erainfundada.Elesimpatizava,claramente,maiscomaclassecapita- IIltlldoquecomasociedadecomoumtodo.Concluiuo capítuloafirmandoo'seguinte: I I'pcroqueasafirmativasquefiz nãosejaminterpretadascomosugestãodequenãose .1,"vlIIncentivaro usodemáquinas."saEstaesperançanãosebaseavanumplanodeme- 11101'111'ascondiçõesdosoperários.Istoporqueeleaindaachavaque,como"todososou- I!1)1contratos,ossaláriosdevemficarporcontadalivreejustaconcorrêncianomercado, IIIllIcadevendosercontroladospelainterferênciadoLegislativo".s9 A TEORIA DASVANTAGENSCOMPARATIVASE O COMÉRCIO INTERNACIONAL Ricardofoi o primeiroeconomistaaargumentarcoerentementequeo livrecomércio 111IMIHLcionalpoderiabeneficiardoispaíses,mesmoqueum delesproduzissetodasas 1IIIIIclluoriascomerciadasmaiseficientementedoqueo outro.Tambémfoi umdospri- 1111111'05economistasa argumentarque,comoo,capitalerarelativamenteimóvelentreas lIiI\'O~S,eraprecisoelaborarumateoriaseparadadocomérciointernacional,diferencÜido 1111l:ol11érciointerno do país. 1{lcardoargumentavaqueumpaísnãoprecisaterumavantagemabsolutanaprodu- ~IIIIu~'qualquern1ercadoria,paraqueo comérciointernacionalentreelee outropaís -"Idmutuamentebenéfico.Vantagemabsolutasignificavamaioreficiênciadeprodução 1111li \ISOde menostrabalhona produção.Dois paísespoderiambeneficiar.secomo eo- !I\I'ldo,secadaumtivesseumavantagemrelativanaprodução.Vantagemrelativasignifi- III~II,simplesmente,quea razãoentreo trabalhoincorporadoàsduasmercadoriasdiferia 1111111'osdoispaíses,demodoquecadaumdelespoderiater,pelomenos,umamercadoria 111111,.p. 266. 111111"p.267. 111111, p. 269, 111111,P 61 11'7 Quadro5.3 NúmerodeHorasNecessáriasparaa ProduçãodeumaUnidadedeTecidoedeVinho, na Inglaterrae emPortugal lia qU1I1aquantidaderelativadetrabalhoincorporadosetiamenordo queado outropaís.: O QUlluro 5.3 é wna reproduçãodo exemplode Ricardopara ilustraro princípio da valllagenscomparativas. Nestequadro,Portugaltemumavantagemabsolutanaproduçãodevinhoedeteci. do,querdizer,sãonecessáriasmenoshorasdetrabalhoparaproduzirambasasmercado. riasemPortugaldoqueo númerodehorasnecessáriasparasuaprodução.naInglIDerra.. Sesupusennosqueospreçosdovinhoedotecidosãoproporcionaisaotrabalhoincorpo radoa eles,tantonaInglaterracomoemPortugalasrazõesdeambosospreços,emcada: país,serãoidênticasà razãodehorasdetrabalhonecessáriasparaaproduçãodasmerca, dorias,emcadapaís. Em Portugal,sãonecessárias90horasparaa produçãodewnaunidadedetecidoe 80horasparaaproduçãodeumaunidadedevinho.Istoquerdizerqueo vinhoprecisa. apenasde88%dotrabalhoexigidopelotecidoequeopreçodovinhoequivaleaapenas 88%dopreçodotecido.NaInglaterra,o trabalhoincorporadoaovinhoeseupreçoequi'l'valema 120%dotrabalhoedopreçodotecido.Então,Portugalusarelativamentemeno~ trabalhonaproduçãodevinho,e o preçoé relativamentemaisbaixo.Poroutrolado. Portugalusa112%dotrabalhoincorporadoàproduçãodevinhoparaproduzirtecidoell, wnavezmais,o preçodo tecidoequivalea apenas83%do preçodo vinho.Assim,ai Inglaterrausarelativamentemenostrabalhoparaproduzirtecido,muitoemboraUSG! maistrabalho,emtermosabsolutos;portanto,a-Inglaterratemwnavantagemrelativana, produçãodetecido. ' I Agora,suponhamosqueosportuguesessóestejamproduzindovinho(amercadoriu emquetêmumavantagemcomparativa)e resolvamcomprartecido.TêmduasmaneiraS deconseguirtecido- desviandoalgumtrabalhodaproduçãodevinhoparaaprodução detecidooutrocandovinhoportecidocoma Inglaterra.Suponhamosque,havendoco. mércio,elesejafeitocombasenarazãodepreçosdaInglaterra.Páraproduzirumaunida. i dedetecidos,serãonecessárias90horas-homem.Istoquerdizerqueosportuguesestéllli queinterromperaprodução'de1.,12unidadédevinho,paracadaunidadedetccidoque produzirem,massetrocaremcoma'Inglaterra,à razãodospreçosvigcntesliaInglaterra,; só precisarãoabrirmãode0,83unidadedevinhoparacadaullidmll'dt'lt'cido.I~óbviu queo comérciodeixariaosportuguesescomumaquantidade101ai 11111101dl'vinhoe de tecidodoquescclesproduzissemambasasmercéldorlas IHI ---<" Analogamente,sea Inglaterrasóestiverproduzindotecido,maspudertrocaràrazão 111,preçosdePortugal,nãodeveráproduzirvinho.Paraproduzirvinho,teriaquedesistir 1\1,I ,}unidadedetecidoparacadaunidadedevinhoproduzida,enquantopoderiaabrir 111.0deapenas0,88unidadedetecidoemtrocadeumaunidadedevinho,secomerciasse "11111Portugal. F óbvioqueambosospaísessepoderiambeneficiar,se.cadaumdelespudessecomer- 'lill 1\razãodepreçosdooutropaís.Ambosos'paísesse~oderiamtambémbeneficiar, .1'I!O/lIerciassema wnarazãodepreçosquefosseintennediáriaentreasrazõesdepreços Ih I'Ildapaís.A razãoentreo preçodovinhoe opreçod"otecidoéde1,2,naInglaterra, ~dI'0,88,emPortugal.Seambosospaísescomerciassemnabasedewnporum,umauni-. 11.,111detecidoporumaunidadedevinho,ambospoderiamconswnirwn totalconjunto 111.111Idevinhoe.tecidodoquesecadaumdelesproduzisseambasasmercadorias. Istoexplica,então,a teoriadasvantagenscomparativas,deRicardo.Comestabase, .11'lugumentouqueo livrecomércioseriabenéficoparaambosospaíses.Todaampliação Ilul:omércio"contribuiriabastantedecididamenteparaawnentaramassademercadorias ~111benefíciostotais".6oTodarestriçãoaocomércio,portanto,reduziriaa"somadosbe- Iwl/,'Ios".Esteprincípioera,então,outroelonoataquegeneralizadodeRicardoàs"leis 1!IIII'crcais". IIARMONIASOCIALE CONFLITODECLASSES A escolhadaspalavrasdeRicardoilustrawndosprincipaistemasdestelivro:ateoria 1111vnlor-utilidadeou qualquerabordagemdaeconomiaquetendaaigualarpreçoseutili- IIIHII',demGdogeral,defendea idéiadequeexisteumahannoniasocialengendradapela "mauinvisível"domercadolivre.QuandoRicardoafinnouqueo livrecomércioaumen- I.,IUO "totaldebenefícios"decadapaís,estavameramenterepetindoo princípiode AdlllllSmith,segundoo qualo livrecomércioawnentaautilidadeouos"benefícios"de .lIIhllSaspartes,na troca.Quandoesteprincípiopassaasero pontocentraldaanálise " IIlIomica,o remédioparaquasetodosos problemasdeprivaçãomaterialhumanase IIQllllormaemwn problemadeampliaçãodomercadooudetornarmaislivreatrocaeo ,'ulIIl!rcio.Seestapolíticafosseadotada,todospareceriambeneficiar-see,portanto,todos 11_Interessesestariamemharmonia. PllraaconclusãodeRicardopodersertiradaapartirdesuaspremissas,eletinhaque '''PUIque,sea Inglaterraimportasseamercadoriarelativamentemaiscara,o preçomais IIII\)dl'slamercadoriaseriaum índicerazoáveldo aumentodo "totaldosbenefícios". 111I outraspalavras,suponhamosquesóosproprietáriosdeterraseoscapitalistasbebes- ."11Ivlllhoe queostrabalhadoresnãotivessemtecidosuficienteparaaquecer-se.A pers- 1'1'111VIIdatcoriadovalor-trabalhotenderiaaconcentrar-senascircunstânciasquetives- ..111It'vndoàexpropriaçãodetantoprodutodotrabalhosobafonnaderendadaterrae '.III'IOM,masa teoriadautilidadepressupõe,emgeral,queasleisdapropriedadeea dis- 1"""\(;[\0dariquezasejamfixasou"naturais"e,conseqüentemente,tenderiaaconcen- / IIIllI .)1. 71 1III Razãoentreo
Compartilhar