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Hunt - Malthus

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, 1111I1I11I1h-natural",noqualo Governosótivessetrêsdeveresea"mãoinvisível"diri-
",'" IlIdos os atosegoístase gananciososparaum todo harmoniusoe mutuamentebe-'11111
II'vllndo.seem contaestasdificuldadese as inúmerasan.ílisesprofundase esclarece-
IIH dI' ;/ RiquezadasNações,nãoé de admirarquea innu~nciainlelectualde Smith
I',111SI'"percebidaem duastradiçõesrivaisdo pensamentoeconumicodosséculosXIX
\ X, umadelasenfatizandoa teoriado valor-trabalhoe o conflito,declassese aoutra
/.!lI/,andoa teoriado valor-utilidade,aharmoniasocialea "m:ioinvisível".
4 1
THOMAS ROBERT MALTHUS
ThomasRobertMalthus(1766-1834)erafilhodeumafammainglesadeposses.Foi
educadona UniversidadedeCambridgee,em1805,foi nomeadoparao corpodocente
dafaculdadedaCompanhiadas!ndiasOrientais,emHarleybury.Ocupouaprimeiracáte-
drainglesadeEconomiaPolítÜ:a,ondepennaneceuatésuamorte,em1834.
. Malthusviveunumaépocatumultuada,deintensosconflitosdeclasses,esuasobras
rcnetemsuaposiçãocomrelaçãoaessesconflitos.Haviadoisconflitosprincipais.Discu-
tiremoscadaum delesseparadamente.Primeiro,a RevoluçãoIndustrialsófoi possível
comimensossacrifíciosegrandesofrimentodaclasseoperáriaemgeral.Ostrabalhadores
ncmsempreaceitavamhumildementeestessacrifíciose,conseqüentemente,sofriamnão
socomasangústiassociaiseeconômicas,comotambémcomaopressãolegislativaepolí.
IIca..Emsegundolugar,emfmsdoséculoXVIII e iníciodoséculoXIX, a antigaclasse
proprietáriadeterrasaindatinhao controleefetivodoParlamentoinglêsetravou-seúm
Intensoconflitoentreestaclassee a novaclassecapitalistaindustrial.Esteconflitofoi.
IravadocomvistasaocontroledoParlamento,masa razãoúltimaeradecidirsea Ingla-
terradeveriacontinuarcomumaeconomiaagrícolarelativamenteauto-suficienteou
Il'IJnsfonnar-senumailhadedicadabasicamenteàproduçãoindustrial..
CONFLITOSDE CLASSESNOTEMPODEMALTHUS
A RevoluçãoIndustrialtrouxeaumentosdaprodutividadehumanasemprecedentes
1111História.A construçãogeneralizadadefábricasconstituiuabasemecânicadesseau-
mClnlo.Mas,paracanalizara capacidadeprodutivadaeconomiaparaacriaçãodebensde
'1II'Ital,eraprecisodestinarumaparterelativamentemuitomenordestacapacidadeàfa-
hlllllçãodebensdeconsumo.Osbensdecapitaltinhamquesercompradosa umcusto
11111'1111que implicavaprivaçõesemmassa.Emboraasmudançastecnológicastenham
flll/lll'ntadoaprodutividade,diminuindo,comisso,umpoucoestecustosocial,seusefei-
1mnaoforam,demodoalgum,suficientesemrelaçãoaovolumecrescentedecapitalque
I,.IIIVIIsendoacumulado.
llistoricamente,emtodososcas easociedadefoiobriadaasu órtarumní-
\!W..c merasu slstênciaparaalgunsdeseusmembros,.Q.S~r.rifíciossempreforamfeitos
pliliu. e tinhammenospodereconômicoepolítico.'OmesmoaconteceucomaKevolU-
\ nll Industrial,na ng erra. casseoperriaVIviapertodoníveldesubsistência,em
1150,e seupadrãodevida(medidoemtermosdopoderaquisitivodossalários)deterio-
11111'\('nasegundametadedoséculoXVIII. Estatendênciadospadrõesdevidadaclasse
IlpnllrlllnasprimeirasdécadasdoséculoXIX éumtemacontrovertidoentreoshistoria-
.IIIII'S.O fatodemuitosestudiososeminentesencontraremevidênciabastanteparaargu-
IIIC'IIIII:queo padrãodevidadeixoudeaumentarouatémesmobaixounoslevaàconclu-
110dt,quequalqueraumento,naquelaépoca,devetersido,quandomuito,diminuto.
PmtodaaépocadaRevoluçãoIndustrial,nãohádúvidadeaueopadrãodevidados
1"llut'l'W sensivelmenteemrelaçãQ.aospadrõesdasclassesmédiaesuperior.Umaan
II~Idl'llIlhadamostraque .'. -
111
o, ".llIllvllll1cnlepobresficarammaispobressimplesmenteporqueo paíse suaclassericae média
111'1111111I,obviamente,maisricos.Noexatomomentoemqueospobresestavamnaspioresconlli-
\'0'" IHI~~lveis...a classemédiaestavacomsobradecapital,queinvestiaquasequeintegralmente
,'nl \',ll'óIdasde ferroe gastavaemmolibiárioe artigosdomésticosapresentadosnaGrandeMostra
\1\'11151eemconstruçõesopulentasnascidades...nasescurascidadesdonorte.'
"NI[o podehaverdúvidaquantoàclassequearcavacomoscustossociais,emtermos
doconsumosacrificadonecessárioparaaindustrialização..
Noentanto,oscustos,emtermosdemenorconsumo,nãoeram,demodoalgum,a
únicae talveznemapiordificuldadequeaRevoluçãoIndustrialobrigouaclasseoperá-
riaasuportar.O novosistema,fabrildestruiucompletamenteomododevidatradicional
dostrabalhadores,lançando-osnummundodepesadelosparao qualestavamcompleta-
mentedesprepara~os.Elesperderamo orgulhodahabilidadepessoalnotrabalhoeapro-
ximidadedasrelaçõespessoaisqueexistianasindústriasartesanais.Pelonovosistema,sua
únicarelaçãocomseuempregadoreraatravésdomercadoimpessoal,ouoelododinhei-
ro.,Elesperderamo acessodiretoaosmeiosdeprodução,tendosidoreduzidosameros
vendedoresdeforçadetrabalho,totalmentedependentesdascondiçõesdemercadQpara
suasobrevivência..
Talvezpiordoquequalquerdestasdificuldadesfossearegularidademonótonaeme-
cânicaimpostaao operáriopelosistemafabril.NaEuropapré-industrial,astarefasdo
operárionãoeramtãoespecializadas.Elepassavadeumatarefaparaoutra,eseutrabalho
erainterrompidopelavariaçãodasestaçõesdoanoou dotempo.Quandoqueriadescan-
sar,divertir-seoumudaro ritmodesuarotinadetrabalho,tinhacertaliberdadeparafazê-
10.O empregonafábricatrouxeconsigoatiraniadorelógio.A produçãoeramecanizada
eeraprecisoumaregularidadeabsolutaparacoordenaracomplexainteraçãodosproces-
sosemaximizarousodanovaecaramaquinaria.Oritmodetrabalhonãoeramaisde~i-
dopeloindivíduo,maspelamáquina.
A máquina,que,antes,eraumapêndicedohomem,era,agora,ocentrodasatenções
do processodeprodução.O homempassouaserumsimplesapêndicedamáquinafria,
implacávele ditadoradoritmodetrabalho.EmfinsdoséculoXVIII ecomeçodoséculo
XIX, umarevoltaespontâneacontrao novosistemafabrilfezcomquegruposdetraba-
lhadoresdestruíssemmáquinase fábricasque,paraeles,eramresponsáveispelasuamá
situação.Estasrevoltas,chamadasrevoltasdeLuddite,terminaramem 1813,quando
muitostrabalhadoresforamenforcadosoudeportadosporsuasatividades.
OA extensadivisãodo trabalhonafábric.atornougrandepartedo trabalhotãoroti-
nciroquemulheresecriançassemtreinamentoalgumpodiamtrabalhartãobemquanto
oshomens.oComoasmulherese criançaspodiamserempregadascomsaláriosmuitomais
baixosdoqueosdoshomensecomo,emmuitoscasos,famíliasinteirastinhamquetra-
balharparaganharo suficienteparacomer,asmulhereseascriançaserammuitorequisi-
tadas.Muitosdonosdefábricapreferiamasmulhereseascrianças,porqueelaspodiam
scrreuuzidasa umestadodeobediênciapassivamaisfacilmentedoqueoshomens.A
IIOIISIIi\WM, E. J. 1",llIslr)' al/(I Hlllflir,,: 111/l:'col/vlllic ltislor\' vf /lr/III/II ,\'11/,'1'1'10 I undl'c\,
W'!hklll,'ld & Nicolsoll, 1968, P 72, V;ír\:l~Idéiasde Iloh\lwWII1 aplll'l!\'CII1II\'~I,'',1111111111
h.lcologiadifundidanaquelaépoca~ dequeaboamulhereraamulhersubmissa- erade
Ill'Undevaliaparaseusempregadores.
JAs criançaseramligadasàsfábricasporcontratosdeaprendizad~comaduraçãode
jL'teanosou atéatingirem21anosdeidade.;lAscriançasnãorecebiamquasenadaemtro-
(,Udasmuitashorasdetrabalho,naspiorescondiçõespossiveis.:;7Asautoridauesquecon-
Ilolavama Lei daPobrezapodiamcontratarosfilhosdospobres,eistolevavaa"negocia-
ÇL)CShabituais...(emque)ascrianças...eramtratadascomomerasmercadorias...en-
1Il'asmáquinasdefiardeumladoeasautoridadesquecontrolavamaLei daPobrezado
"litro. Gruposdecinqüenta,oitentaou mesmocemcriançaserammandadosparaas fá-
hricascomogado,ondeficavampresasmuitosanos".2
As criançasviviamna maiscruelservidão.Permaneciamtotalmenteisoladasdequem
qllerquepudesseter penadelas,ficando,assim,à mercêdoscapitalistasou deseusgeren-
1\'\contr~tados,cuja principal preocupaçãoera o desafiodas fábricasconcorrentes.A
JLlllladadetrabalhodascriançasduravade14a 18horasou atéelascairemcompletamen-
11'l'xaustas.Oscapatazeserampagosdeacordocomovolumedeproduçãodascriançase,
PUI isso,forçavam-nassempiedade.Em quasetodasas fábricas,ascriançasquasenunca
Ilnhammaisde20minutospordiaparasuaprincipal(emuitasvezesúnica)refeição."Os
IIL~ldcnteserammuito comuns,principalmenteno lim do' intermináveldia de trabalho,
'IIIIIIIUOascrianças,exaustas,quasedormiamduranteo trabalho.Nuncaacabavamos
IIINUSde dedoscortadose membrosesmagadospelasrodas.,,3 As criançaseramdiscipli.
IIIIIIIISde maneiratão brutal e selvagem,queumanarrativadosmétodosempregauos
1'.lIl'ceriainteiramenteinacreditávelparaoleitordehoje.
oAsmulhereseramquasetãomaltratadasquantoascrianças.O trabalho nafábrica
I'I~longo,árduoe monótono.A disciplinaerarígidaJ Muitasvezes,o preçodo emprego
n\1I1I1Ifábricaera a submissãoaoassédiosexualdosempregadoresecapatazes.4As mu-
Ihl'/C'sempregadasnasminastrabalhavamde 14a 16horaspordia,despidasatéa cintura,
li" Illdodehomense executandotrabalhodehomem.Casoshaviademulheresquesaíam
.1110minasparater filho e paralá voltavamdiasdepoisdeteremdadoà luz. Existemmui.
1_I',descriçõesdascondiçõesde trabalhoincrivelmentecruéise desumanasdasmulheres
1I11'IuC'laépoca",Éclaroqueoshomensquetrabalhavamnãoestavamemcondiçõesmuito
11I1,llioresdoqueasmulhereseascrianças., ..Outra consideraçãoimportanteparaa avaliaçãodopadrãodevidadaclasseoperária
1111L'III)cade industrializaçãocapitalistaera o rápido ritmo da industrializaçãodaquela
"1"1111Em1750,sóduascidadesdaInglaterratinhammaisde50000habitantes.Em
I h'.0,'haviavintee nove.Nestadata,quasea terçapartedapopulaçãovivia emcidades
"lIlIllI\als de 50000 habitantes.
. ,\~condiçõesdevidanascidadesdaquelaépocaeramterríveis:.
M,.\NTOUX. ('Hul.TireIlIduslrial Revolll/ioll ill IlreEiglrleellllrCell/llry.Nova lorque,Ihtr\'uurl
111''''.IlIvllllovlch.1.927,p.410.411.
Il>hl,p.41.1.
11>1.1,p, 41C>
I' qUl'cllladl:slNão I:raapenaso fato deestaremsempreenfumuçadase cheiasde sujeira,deos
,,'rVI\'USpÚblicosmaisbanais- abastecimentode água,saneamento,IimpelUdasruas,espaçosIi-
VIl'Setc. - nãoconseguiremacompanhara migraçãoemmassaparaascidades,provocando,com
1"0, depoisde uno, epidemiasdecólera,tifo e um índiceI:spantosodosdoisgrandescausadores
de mortesnascidadesdo séculoXIX: a poluiçãodo aredaáguae asdoençusrespiratóriase intes-
tinais... As novaspopuluçõesduscidudes...lenun)comprimidusem cusushorrorosase chcíssi-
mas,cujo simpll:saspectodeixuvaimpressionadíssimoquempuraelasolhasse."A civilizaçãofaz
seusmilagres"- escreveuo grandeliberalfrancêsde TocqueviUesobreManchester- "e o ho.
memcivilizadovoll<la serquaseumselvagem.'"
ExemplosdessashabitaçõeshorrorosashaviaemwndistritodeGlasgow,que,segun-
doo relatóriodewnfuncionáriodoGoverno,tinha
umapopulaçãoIlutuante de 15000 a 30000 pessoas.Estedistritoeraformadopormuitasruas
estreitase pátiosquadrados,no meiodosquaishaviaimundície.Emboraa aparênciaexternades-
tes lugaresfosserevoltunte,eu estavabastantedesprepuradoparaverusujeirae amisériaqueha.
via lá dentro.Em algunsquartosquevisitamosti noite,encontramosumagrandemassadegente
deitadano chão.Havia,muitasvezes,de 15a 20homense mulher';samontoados,algunsvestidos'
e outrosdl:spidos.Quusenãohaviamobiliárioe a únicacoisaqUI:davaàqul:lastocasaaparência
de habitaçãoI:rao fogoqUl:imandonalareira.O rouboI:a prostituiçãoeramasprincipaisfontes
dewndadaqudaspl:ssoas.6
A destruiçãototaldaformadevidatradicionaldostrabalhadoreseadisciplinasevera
do novosistemafabril,associadasàscondiçõesdevidadeploráveisnascidades,geravam
inquietaçãosocial,econômicaepolítica.Houvereaçõesemcadeiadesublevação,tumulto
e rebelião,nosanosde 1811-1813,1815-1817,1819,1826,1829-1835,1838-1842,
1843-1844e 1846-1848.Emmuitoslugares,esteslevanteserampuramenteespontâ.neos
e denaturezabasicamenteeconômica,Em 1816,conta-sequeumsublevadogritou:"Es-
touaqui,entreo céuea Terra.Ajude-me,meuDeus!Prefiroperderavidaavoltarpara
casacomoestou.Queropãoevouconseguirpão.,,7Em 1845,umamericanochamado
ColmancontouqueostrabalhadoresdeManchestereram"criaturashumansmiseráveis,
cnganadas,oprimidase esmagadas- verdadeirosrebotalhoshumanos,diantedetodaa
sociedade".~
..Nãopodehaverdúvidadequeo capitalismoindustrialfoi construídocombaseno
sofrimentovil daclasseoperária,à qualeravedadoo acessoaosfrutosdaeconomiaem
rápidaexpansãoequeerasujeitaaosexcessosmaisdegradantesparaaumentaroslucros
doscapitalistas,A causabásicadosgrandesmalesdaépocaera
o podl:rabsolutoe sl:mcontroledo capitalista.Isto erareconhecido,admitidoe atéproclamado
com umabrutalsinceridadepelaheróicaeradosgrandl:sempreendimentos.Eraumproblemado
empregador.Ele faziao que bementendiae nãoachavanecessárioqualquerjustificativadI: sua
IIOBSBAWM.Jndllslry andEmpire,p. 67-68.
b Citadopor ENGELS, F. 17/eCondirionof rhe WorkingClassin Englandin 1844.Nova lorque,
Macmillan,1958,p.46.
7
(,itudo por IIOBS BA WM. lndllsrry anelEmpire, p. 74,
Ihid.,p.75.
I
conduta.Deviaaosempregadossaláriose, umavezpagosestessalários,elesnãopodiamreclamar
maisnada!
Desdea introduçãoinicialdaproduçãofabrilnasindústriastêxteis,osoperáriospro-
I'tlraramreunir-separa,coletivamente,protegerseusinteresses.Em 1787,numaépoca'de
uhundânciadeempregos,os fabricantesdemusselinadeGlasgowprocurarambaixarossa-
hlríosqueestavampagandopor peça.Osoperáriosresistiramcoletivamente,recusaram-se
11trabalharpor menosde um certosaláriomínimo e organizaramum boicoteaosfabri.
\Ulltesquenãopagassemo saláriomínimo.A lutasetransformouemtumultodeclaradoe
1'11Itiroteio,masosoperáriosconseguiramprovarqueeramumgrupofortee bemdiscipli-
IllIdo e formaramwn sindicatoforte. Em 1792,um sindicatodetecelõesobrigoua /Jul-
10/1tI/lUMaI1lrfactllrersa assfnarumacordocoletivO':
As organizaçõesti'ábalhistasdifundiram-serapidamentena décadade 1790.Porcau-
111dissoe do crescimentoparalelodo descontentamentosociale econômico,asclasses
1IIIIIsaltasseinquietaramb<tstanteJAIembrança'ü:r1te'\1btlIÇãõFi-ancesaestavabemfresca
"In suamemóriae temiambpoderdosoperários.ID.1.ii.<:,!lizados.1O resultadofoi aLei do.~. -- ~ .'. ,._-~~.., ',\~-...
('PI/lllio,de1799,quetori1ãvililegalqualq)Jercombinaçãoentreoperários,comat1nali-
,Imll-deconseguirsaláriosmaisaltos,horáriodetrabalhomaisreduzidoouaintrodução
,li'qualquerregulamentaçãoquerestringissealiberdadedeaçãodeseusempregadores.Os
IIJoponentesdestaleibaseavamseusargumentosemtermosdanecessidadcdelivrecon-
I'II!renciaedosmalesdomonopólio- princípioscardeaisdoliberalismoclássico-, mas
111111mencionavamcombinaçõesdeempregadoresne'msuaspráticasmonopolistas.Osefei-
1111desta-legislaçãoforamresumidosdaseguintemaneira: .
As leiscontrao conluiodosempregadoseramconsideradasumanecessidadeabsolutaparaimpe-
dir extorsõesruinosasdosoperários,que,senãofossemcoibidas,destruiriamtodoo comédio,
os fabricantese a agriculturada na~'ão...1'ãQarraigadaestavaestafalsanoção,que,sempreque
os uperárioseramprocessadose condenadospor terementraduemconluiopararegularsellSsalá-
rlUSou seuhoráriode trabalho,por maisduraquefo&sesuasentençaI:pormaisseveraquefosse
lUa execução"ninguémmanifestavao menorsentimentode compaix:ioparacom os infelizes
",fredores.A justiçaestavacompletamentefora dequest:io:raramenteelesconsegui:llnumaau-
dll'nl'iacomummagistrado,e estaerasempreconduzidacomimp:lci~nciae insultus...Sesepu-
dnsemrelataros processos,asaudi~nciasdiantedosmagistrados.osjulgamentusnostrihunalse
na('orteReal,algunsanosdepois,ficariamevidenciadasagr:mdeinjusti\':I,asinjúriasinfameseas
,,,rnveispuniçõesimpostas.lo
Outracausaquefoialvode intensacampanhadosproponentesdocapitalismo laissez-
','111'loi a aboliçãodo sistemaspee/lhamlanudeajudaàpobreza,quetinhasidoestabele.
111111em 1795.Estesistemaera(dandocontinuidadeà tradiçãodoEstatlltodosArllj/ces
l.ll'.jlhl'lano)fruto da éticapaternalista cristã.Sustentavaqueosinfelizesteriamdireitoa
11111p:ldr:iodevidamínimo,querestivessemempregados,quernão.Nãohádúvidadeque
I' 11~11'1\1atinhadcfcitosgraves:naverdade,faziacomqueossalárioscaíssemabaixodo
111111,1di'subsistênciaemmuitoscasos(comosimpostosdaparóquiacobrindoadiferen-
~I'\N I'()UX, l"tll/.VlrialRel'ull/rion,p.417.
IIlId ,11 -1-1<)
,I,
\ III " limitavamdemasiadamenteamobilidadedostrabalhador~s,numaépocaemqueera
1'11'1ho a maiormobilidadepossível.Quasetodososargumentos,porém,nãoselimita-
\ 1111111t'~lnscaracterísticasdosistemaspeenham/and.Elesseopunhamaqualquerajuda
do('OVl'l'IlOaospobres,emuitosdosseusargumentosbaseavam.senasidéiasdeMalthus.
Na décadade 1790,asituaçãodosoperáriosdeteriorou-serapidamente.Asguerras
qUl'I."stavamsendotravadaspelaInglaterratinhamdiminuídoquasetodasassuasimporta-
\'()('Sdealimentose o preçodoscereaissubiumuito.O trigo,porexemplo,custava31
shillingspor quartodetonelada,em1750.Em 1775,o preçotinhaaumentadopara46shillingse,nos25anosqueseseguiram,chegouaatingir128shillings.Emboraossalários
nominaistenhamsubido,naqueleperíodo,a quantidadedealimentosqueumoperário
podiacomprarcomseusaláriodiminuíra.
Igualmenteimportanteerao fatodequeospreçosdosprodutosindustrializados,ge-
ralmente,nãosubiramtãodepressaquantoossalários(algunsatébaixaram,noperíodo)
e menosdepressaaindaqueospreçosdosprodutosagrícolas.~m1815,como término
dalongasériedeguerras,umdosproblemaspolíticosmaiscríticosdoParlamentoinglês
relacionava-secomasleisdomilho.A classedosproprietáriosdeterrasusavatodaasua
influênciasocial,intelectuale políticaparaconseguirnovospreçosparaosprodutosagrí-
colas.Queriaestabelecertarifastãoaltas,queoscereaisestrangeiros,quepodiamserim-
portadosa preçosmuitomaisbaixosqueosvigentesna Inglaterra,nãoconseguiriamen-
trarnomercadodopaís.Istomanteriaaltosospreçosdosprodutosagrícolasinglesese
assegurariaa continuidadedasaltasrendasrecebidaspelosproprietáriosdeterras.durante
todososanosdeguerra.
. Oscapitalistasindustriaisinglesesseopunhamàsleisdomilhoporduasrazõesfunda-
mentais.Primeiramente,porqueoscereaise osprodutosfeitosà basedecereaisconsti-
tuíama maiorpartedanecessáriasubsistênciadostrabaUladores,eo altopreçodosce-
reaisobrigavaoscapitalistasapagarsaláriosmaisaltosaosoperários,paraqueestesesuas
fanuliaspudessemsubsistir.Estesalárionominalmaisaltoreduziaoslucrosdoscapitalis-
tas.Assim,osaltospreçosdosprodutosagrícolastinhamoefeitodetransferirgrandepar-
tedamais-valia,criadapelosoperários,doslucrosdoscapitalistasparaasrendasdospro-
prietáriosdeterras.Emsegundolugar,no iníciodoséculoXIX, aindústriainglesajá era
muitomaiseficientedoquesuasconcorrentesdocontinenteeuropeue,porisso,ospre-
çosdosprodutosmanufaturadosingleseserammuitomaisbaixosqueosdosoutrospaíses
daEuropa.Istosignificavaque,setodasastarifaspudessemserabolidasesesepudesse
estabelecera liberdadedecomérciointernacional,osprodutoresinglesesvenceriamseus
concorrenteseuropeusnadisputapelasvendas.Paraa.Inglaterra,porém,podervenderpro-
dutosmanufaturadosparaa Europacontinentalteriàquedelá compraralgumasmer-
cadorias.Sea InglaterraimportassecereaisdaEuropacontinental,oseuropeusreceberiam
librasinglesasepoderiamcomprarprodutosindustrializadosingleses.'G
oO queestava,afinal,emjogoeradeenormeimportância.Osproprietáriosdeterras
queriamquea Inglaterracontinuassecomumaeconomiapredominantementeagrícola,a
fim deperpetuarsuaposição,suarendae seupoder.Oscapitalistasindustriaisqueriam
quea lnglaterraseespecializassenaindústria,a fim deaumentarsuarendaeseupoder-;\)
alémdediminuira parceladamais.valiaqueiaparaosproprietáriosdetl'HIISO()queesta.
va,defatu,ocorrendoeraaÚltimabatalhaentreoselementusantll~ÚlIll'mdadnssedo-
lI!)
minanteinglesa.Osproprietáriosdeterrasconstituíamo últimovestígiodaclassedomi-
nantefeudale,comoa nobrezafeudal,seupoderseoriginavadocontroledaterra.Opo-
derdoscapitalistasoriginava-sedeseucontrolesobreo trabalhoeo processodeprodu-
çãoúAmais-valiageradapelostrabalhadoreseradivididaentrecapitalistaseproprietários
deterras,cadaumadestasclasseslutandoparatornar-sea facçãodominantedaclasse
dirigentedocapitalismo.
. Em 1815,osproprietáriosdeterrasganharamumabatallia.Foi aprovada'umaleidos
cereais,queproibiatodasasimportaçõesdecereaisatéo preçointernoteratingidoum
nívelrelativamenteelevado.O trigo,porexemplo,sópoderiaserimportadoquandoo
preçoinglêsatingisse80shillingsporquarto..oscapitalistasindustriaistinhamo domínio
econômico,masosproprietáriosdeterrasaindacontrolavamoParlamento.Estasituação
nlÍopoderia,porém,sermantidaindefinidamente.A classeeconômicadominantesempre
ilcabaestendendoseudomínioeconômicoaodomíniopolítico.Então,alutacontinuou
0,finalmente,em1846,o Parlamentovotoufavoravelmenteàaboliçãototaldasleisdos
cereais.Estefatoassinalouo domíniopolíticofinaldoscapitalistasindustriais.J
A TEORIA DA POPULAÇÃd
Malthusescreveumuitoslivros,panfletose ensaios,durantesuavida.Seusescritos
. . "dosemdois eríodos,cadaumcaracterizadoporsua reoc~çãos~al
.tl()minantee por suaabordagemteórica, a décadade 1790eno iníciodadécadade
1800,suaprincipalpreocupaçãoeracomIainquietaçãodostrabalhadoresecomosesque-
11I115queestavamsendodefendidosporintelectuaisradicais,comrelaçãoàreestruturação
dasociedade,afundepromovero bem-estareafelicidadedostrabalhadores.Estesesque-
lIIaS- conformeMalthuspercebeucorretamente- sópoderiamtentarpromoveracausa
dostraballiadoresemdetrimentodariquezae do poderdasduasClassesdeproprietá-
Ilo~ os capitalistase os proprietáriosdeterras.Malthuseraporta-vozdeclaradodos
IlI:oS,esuateoriadapopulaçãoserviudeestruturaparadefendê-los"Em1798,publicou
~1I1IobraintituladaAn Essayon thePrincipieof Populationas1tAffectstheFuture1m-
/J/tll'('II/Clltof Society,witllRemarks011tlleSpeculationsofMr. Godwin,AI.COlldorcet,
fllltlOtherWriters,geralmenteconhecidacomoEnsaiosobreoPrillc/íJiodaPopula('üo.
1'111 IH03publicouumaediçãorevistaemqueasemendaseramtantasquesetratava,
Ih.lato,deoutrolivro.Estelivroégeralmenteconhecidocomoo segúndoEnsaiosobre
ti l'ril/C'líJiodaPopulação.Maistarde,publicouA SummaryViewof tllePrillcipleofPo-
1'/IIt/tICI/I.11
, Porvoltade1814emdiante,aprincipalpreocupaçãodeMalthuspassouasercomre-
III~00:\slcisdoscereaiseàlutaentreosproprietáriosdeterraseoscapitalistas.Nestepe-
IIOdo,elesempredefendeuosilÚeressesdaclassedosproprietáriosdeterras.Osfunda-.
II () primeiro/;'lIsaioe o Resumoforampublicadosjuntos,emumsóvolume.MAL TIIUS, T. R. Ali
, ""/1'01/Iht' I'rillcipleof Populaliollanela SummaryViewof lhePrincipiesof Populalioll.Uallimore,
1'1'111111111,Ino, I{evislopor A. 1:lew.() segulldoFI/saiofoi publicadoemdoisvolumes.MAL.'1'11USoT
II 1/1Fn(/y tll/ /h('l'rillcip/t'of l'opula/irJ//.Novalorque,!JUllolI, 1960,
IIHmtosIlItelectuaisdestadefesaestãocontidosemsuaobraintituladaPrincipIesai Polit;-
('(/1Feof/of/lYConsideredwitha Viewto TheirPracticalApplication,publicadapelapri-
IIll'lmvezem 1820.12NosPrincipias,abaseteóricamaisimportantedesuadefesados
proprietáriosdeterraserasuateoriada"abundância"oudasdepressõeseconômicas.
As condiçõesabjetasdaclasseoperáriae a inquietaçãodostrabalhadoresdefinsdo
séculoXVIII tinhamfeitosurgirmuitosdefensoresdaclasseoperária.Deespecialinfluên-
ciaentreeles,podemoscitaro francêsMarieJeanAntoineNicholasdeCaritat,Marquês
deCondorcet(1743-1794),eo inglêsWilliamGodwin(1756-1836)..Eraprincipalmente
cont~asidéiasdestesdoishomensquesedestinouo primeiwEnsaiodeMalthu~
Condorce1tiveraumaimportanteinfluêncianasprimeirasfasesdaRevoluçãoFrance-
sa,mas,depãisdeosjacobinosdominaremaConvenção,eleargumentouqueaRepública
deveriaabolira penademorte,protestoucontraa execuçãodoreiea prisãodosgiron-
dinose disseà ConvençãoqueRobespierreerapobre,nãosódeidéias,comotambémde
sentimentoshumanos.Por isso,Condorcetfoi condenadoàmorte.Escondido,escreveu
Esquissed'unTableauHistoriquedesProgresdeL 'éspritHumain,suaobramaisfamosa.
OEmseulivro,argumentavaquehaviaumaordemnaturaldoprogressohumano,quedeve-
riaatingirseuestágiomaisaltodepoisdaRevoluçãoFrancesa.Nesteestágio,oshomens
poderiamdesenvolver-semoral,espirituale intelectualmentemuitoalémdo nívelque
tinhasidopossívelatéentão..
. Os pré-requisitosmais importantesparaestedesenvolvimentoeram,porém,maior
igualdadeesegurançaeconômica.Condorcetadvogavaduasreformasbásicasparaseatin-
giremessesobjetivos.Primeiramente,emboraaceitassea divisãodeclasses'existentena
sociedade,argumentavaquea reduzidarendadaclassepobree trabalhadorapoderiaser
me~oradaseo Governocriasseumfundoparao bem-estardaspessoasidosasedasmu-
lheresecrianç'ãsquet!vessem-perd1doseusmàr,iãosepais.'emsegunáorügar,achavaque
o podere a riquezadoscapitalistaspoderiamserdiminuídosseo Governoregulasseo
crédito.Limitandoo créditooferecidoaospoderososcapitalistaseampliandoo crédito
oferecidoaostrabalhadorescomuns,achavaelequeostrabalhadorespoderiamficar,aos
poucos,maisindependentesdoscapitalistas,daíresultandoumaigualdadesocialeeconô-
micamuitomaior".
WilliamGodwineramuitomaisradicalqueCondorcet.Enquantoquasetodososcon-
servadoresinglesese muitosreformadoresliberaisclássicosdeploravamapreguiçaeade-
pravação"natural"daclasseoperária.eleargumentavaqueosdefeitosdaclasseoperáriapodiamseratribuídosa instituiçõessociaiscorruptaseinjustas.NaopiniãodeGodwin,a
sociedadecapitalistatornavainevitáveisa fraudee o roubo:"Se todohomempudesse
conseguir,comperfeitafacilidade,atenderàsnecessidadesdavida ... atentaçãoseria
maisfraca.,,13Oshomensnemsemprepodiamconseguirsatisfazersuasnecessidades,por-
queasleisdapropriedadeprivadacriavamgrandesdesigualdadesnasociedade.A justiça.
12 A segundaediçãodePrincípios foi publicadaem 1836.Todasasreferênciasdestecapítuloserão
(I est(lsegundaedição:MAL THUS, T. R. Principiesof PoliticalEconomy.Nova lorqUl',AugllstusM.
Kclley, 1964.
1.1
Cit(ldo porGRAY, Alcx:mder.17/1'Soc/alist Traditioll. (.ofl(Jn,s,l.oIlKIIIIIIII, 11)(,'1li 119,
exigiaqueasrelaçõesdepropriedadecapitalistasfossemabolidasequeapropriedadefos-
sedeq.~emelamaisbeneficiasse:, -
A quempertence,comjustiça,qU(llquerpropriedade,digamos,umpedaçodepão?A quemmais
precisadela,ou a quemelamaisbeneficie?Digamosqueexistamseishomensfamintos,cujafome
possasersatisfeitapelopão.Qual deles.temo direitode beneficiar-sedaspropriedadesdo pão~
Todos elestalvezsejamirmãos,e a lei daprimogenituradáo pãoexclusivamenteaomaisvelho.
Masajustiçaconfirmaestadecisão?As leisde diferentespaísesdispõemsobreapropriedadede
váriasformasdiferentes;massópodehaverumamaneiraquesejaa maisraciona!."
Esta maneiratem, obviamente,que se basearna igualdadede todosos homens..A
quem o pobre poderia recorrerpara corrigir as injustiçasdo sistema?Na opinião de
Godwin,é quasecertoquenãoseriaao Governo.Com o podereconômico,vinhao poder
político.Os ricossão,"diretaou indiretamente,os legisladoresdoestado;por isso,estão
sempretransformandoa opressãoem sistema".ISA lei é,então,o meioatravésdo qualo
ricooprimeo pobre,pois "a legislação,emquasetodosospaíses,é,demodogeral,favo-
rávelaorico econtrao pobre".16
,.EstasduasidéiasdeGodwin viriama sermuitasvezesrepetidaspelossocialistasdo
séculoXIX: (1) asinstituiçõessociaise econômicascapitalistas,particularmenteasrela-
çõesde propriedadeprivada,eramascausasdosmalese do sofrimentono sistemae(2) o
Governode um sistemacapitalistanuncareparariaestesmales,poiseracontroladopela
classecapitalista..Godwin,porém,tinha umarespostaparaestasituação,aparentemente
Impossível.Acreditavaquea razãohumanasalvariaa sociedade.Quandoos homensfos-
semeducadoscom relaçãoaosmalesdestasituaçãoraciocinariamjuntos e chegariamà
\Ínicasoluçãoracional.Estasolução- tal comovistaporGodwin - implicavaaabolição
doGoverno,a aboliçãodasleis,aaboliçãodapropriedadeprivadae dasclassessociaiseo
('stabelecimentodaigualdadeeconômica,sociale política. -
'O primeiroEnsaio, de Malthus,destinou-sea combaterasidéiasdestesdoishomens..
Malthusachavaqueumhomemquedefendesseessasidéias
estariaigualmentecontraacausadaverdade.Comosolhosvoltadosparaumamelhorcondição
dasociedade,cujasbênçãossãoporelepintadasnascoresmaisvivas,incorrenoerrodeacusarda
piormaneirapossíveltodasasinstituiçõesexistentes,semusarseutalentoparapensarnosmeios
maissegurose melhoresdeacabarcomosabusosesemparecerterconsciênciadosenormesobs-
táculosqueameaçam,mesmoteoricamente,o progressodohomemrumoàperfeição."
. EmtodooseuprimeiroEnsaio,haviadoistemasdominantes,quesempreeramventi-
ludos.O primeiroerao argumentodeque,independentementedoêxitoconseguidopelos
l('lonnadores,emsuastentativasdemodificaro capitalismo,aatualestruturadeproprie-
IIItlosricose trabalhadorespobresreapareceriainevitavelmente.Estadivisãodeclasses
1111,segundoMalthus,umaconseqüênciainevitáveldale~t!:!!al. Q . ,J"
I'
Il1ld.,p. 131.
Ihi<l.,p. 119,
Il>ld.
Mi\II'IIUS.l'rill1l'iro fo.'lISalo,p.68.69.
I'
II
lI!
I 1('IIpresentouargumentoscomplicadosparamostrarque,mesmoqueGodwineseus
tll~1'pulospudessemreconstruirasociedadesegundoseusideais,esta
,O('j",dade- constituídadeacordocoma formamaisbonitaquepudesseserconcebidapelaima-
~I/lação,coma benevolênciacomoseuprincípionorteador,emvezdoamor-próprio,e comtoda
11Inclinaçãoparao mal de seusmembros,corrigidapelarazãoe nãopelaforça- logosedegene-
raria,pelasleisinevitáveisda naturezae nãopor qualquerdepravaçãoinerenteaohomem,trans-
formando-senumasociedadeconstruídacombasenumplanoquenãoseriaessencialmentedife-
rentedoqueprevaleceemtodoestadoentãoconhecido;querdizer,ulllasociedadedivididanuma
classedeproprietáriose numaclassedetrabalhadorese como amor-própriocomomolapropulso-
radagrandemáquina."
-!J
6'O segundotemaqueestavasemprepresenteemsuateoriadapopulaçãoeraqueapo-
brezae o sofrimentoabjetoeramo destinoinevitáveldamaioriadaspessoas,emtodaso-
ciedade.Além do mais,as tentativasde minorara pobrezae o sofrimento,pormaisbem
intencionadasquepudessemser,tornariamasituaçãopior,enãoml':Jhor:1"
Pareciaque,pelasleisinevitáveisdanatureza,algunssereshumanosteriamquepassarnecessida-
de.Estassãoaspessoasinfelizesque,nagrandeloteriadavida,tinhamtiradoumbilheteem
branco.'.
Nenhumpossívelsacrifíciodosricos,particularmenteemtermosmonetários,poderiaevitaravol-
tadamisériadosmembrosdenívelmaisbaixodasociedade,quemquerqueelesfossem.'o
"Devemosreprovarremédiosespecíficosparaosofrimentohumano"- argumentava
Malthus- "e tambémdevemosreprovaroshomensbemintencionados,masmuitoenga-
nados,quepensamqueestãoprestandoumserviçoàhumanidade,projetandoesquemas
paraaeliminaçãototaldeerrosparticulares...21
. A teoriadapopulaçãoemqueMalthusbaseavaestasconclusõeserarelativamente
simples.Acreditavaelequequasetodasaspessoaseramimpelidasporumdesejoquase
queinsaciáveldeprazersexualeque,porisso,astaxasdereprodução,quandoincontidas,
levariama aumentosemprogressãogeométricadapopulaçãOfespecificamente,apopu-
laçãoduplicariaacadageração."Todososanimais"- argumentavaele- "têmumaca-
pacidadedesereproduziremprogressãogeométrica.'>22Quantoaesteaspecto,osseres
humanosnãoeramdiferentesdosoutrosanimais:
Apesardeo homemestaracimadetodososoutrosanimais,porsuacapacidadeintelectual,nãose
devesuporqueasleisfísicasàsquaisestásujeitosejamessencialmentediferentesdasqueseapli-
camemoutrossegmentosdanaturezaanimada.23
Portanto,pode-seafirmarcomsegurançaquea população,quandoincontida,aumentaempro-
gressãogeométrica,demodoa duplicar-sea cadavintee cincoanos."
18
lbid., p. 144.
lbid., p. 143.
MAL THUS. SegundoEnsaio.2: 39.
lbid., 2 :179.
MALTIIUS. SummaryView,p. 226.
Ibid., p. 225.
Il>ld.. p. 2311.
19
20
21
22
2:1
.~
'/4
Er ' Malthus,queemnenhumasociedadeapopulaãotinhacrescidoneste
[lImodurantemuitotempo,porque,emmuitopoucotempo,cadametroquadrao da
('erraestariahabitado.~ntão,aquestãocentralqueeleprocurouresponderprendia-seàs
forçasquetinhamatuadoparacontero crescimentodapopulaçãonopassadoequaisas
forçasque,provavelmente,atuariamnofuturo.I'
IA respostamaisimediataeóbviaeraqueapopulaçãodequalquerterritórioeralimi-
tlldapelaquantidadedealimentos.EmboraMalthusestivesseconscientedeque,commais
trabalhoemelhoresmétodosdeproduçãodealimentos,ossereshumanospoderiamau-
lIIentaro níveldeproduçãodealimentos,afinnavaqueeraquasecertoqueosaumentos
dealimentoconseguidosemcadageraçãoseriamcadavezmenores,emdetenninadoterri-
\orio.,Namelhordashipóteses,achavaqueaproduçãodealimentospoderiaaumentarem
progressãoaritmética,querdizer,cadageraçãosópoderiaaumentaraproduçãoemquan-
tlllademaisoumenosequivalenteaoaumentoconseguidopelageraçãoanterior:
Pelasleisda naturezarelativasà capacidadedeum territóriolimitado,osacréscimosquepodem
serconseguidosna produçãode alimentos,emperíodosiguais,têmqueser,acurtoprazo,cons-
tantementedecrescentes- o querealmenteocorreria- ou,namelhordashipóteses,podemper-
manecerestacionários,de modoa aumentarosmeiosde subsistênciaapenasem progressãoarit-
mética." .
,Então,senãohouvessequalqueroutrocontrole,a fomeacabarialimitandoo cresci-
IIIl'ntopopulacionalà taxamáximasegundoaqualpudesseseraumentadaaproduçãode
lllilllcntos.Havia,porém,muitosoutroscontroles.Às vezes,Malthusclassificavaestes
l'ontrolesemduascategorias:preventivosepositivos.Oscontrolespreventivosreduziam
u taxadenatalidade;incluíamaesterili~ade,aabstinênciasexuale o controledenasci-
IIIl'ntos.Oscontrolespositivosaumentavama taxademortalidade;incluíama fome,a
11I1~éria,aspragas,aguerraeocontrolefinaleinevitáveldamortepelafome.,.Apopulação11111semprecontroladaporumacombinaçãodestescontroles,paraficardentrodoslimi-
11I"daofertadisponíveldealimentos.Seoscontrolespreventivosfosseminadequados,os
IOlltrolespositivosseriaminevitáveise, sehouvesseumainsuficiênciadedoenças,guerras
I' l;ll\ástrofesnaturais,amortepelafomesemprecontrolariaocrescimentodapopulação.
.Malthustambémtinhaumsegundoesquemadeclassificaçãoquemaisnosaproxima
1111possibilidadede entendero ladonormativode suateoria,Os "controles"positivose
pl~vel1tivos,"quereprimemo podersuperiordapopulaçãoemantêmseusefeitoscompa-
!lv('lscomo níveldesubsistência,seresumememrestriçãomoral,emvícioemiséria".26
tll'Kllndoesteesquemadeclassificação,Malthuspôdeargumentarque,seáriquezaea ren-
1111dequalquermembrodasociedadeaumentasse,agrandemaioriareagiria,tendotantos
"lhosquclogovoltariaao níveldesimplessubsistência;só Q homemmoralmentevir-
IIIOMOpoderiaescapara estedestino."A contençãomoral"eradefinida,demodobas-
1IIIIIcsimples,como"evitaro casamentoenãoosubstituirporsatisfaçõesirregulares".27
I, l'ntrelanto,óbvio,emtodaa obradeMalthus,queeleacreditavaqueestacontenção
Ihld., p. 242.
Mi\ I TlllJS. SegundoEllsaio. I :19.
Ihld'. I 14.
I)
111111.11~o pod~ria serencontradaempessoasquetivessemtodasasoutrasvirtudesqueele
,lflll'IIIIVII rambémé óbvioqueMalthusachavaquea faltadecontençãosexualseriauma
l.ill'IIII:/ {stlcadosqueesbanjariamtodoo dinheiroquerecebessemacimadeseunívelde
Ulh~lstl'lIdaem"bebida,jogoe farras".28.
. Âssirn,pelateoriade Malthus,a diferençafinalentreo ricoeo pobreerao altonível
111111aidaqueleeobaixonívelmoraldeste.Achavaocontroledanatalidadeumvício,que
11I1111seriamencionadopor um bom cristãoe, muitomenos,defendido.Alémdisso,asso-
I Illva.oexclusivamentea relaçõessexuaisantesdo casamentoou foradele:
Umarelaçãopromíscua,a pontodeimpediro nascimentodefilhos,parecerebaixar,demodo
marcante,a dignidadedanaturezahumana.Nãopodedeixardeterseusefeitossobreoshomens,
e nadapodesermaisóbviodoquesuatendênciaadegradaranaturezafemininaeadestruirto-
dasassuascaracterísticasmaisbelaseinconfundíveis."
A conclusãopareciaóbviaa Malthusquandoeleobservou"queafaltadecuidadoe
defrugalidade...(predomina)entreospobres"..Dbservouque,"mesmoquandoelestêm
oportunidadedeeconomizar,raramenteo fazem;pelocontrário,tudooqueganhamalém
desuasnecessidadesdomomentoégasto,demodogeral,nosbares".3oQualquercava-
lheirocristão,comoMalthus,teriaqueconcluirque,ondenãohouvessecontençãomoral,
a populaçãoseriacontidapelovíciooupelamiséria.Portanto,umbomcristãoteriaque
renegar,vigorosamente,o vícioeaceitar,realisticamente,amisériainevitável,necess;}ria
paramanterapopulaçãoapenasnosníveisdesubsistência.
.4Ma1thusrejeitava,portanto,todososesquemasqueredistribuíssemrendaouriqueza.
Estasredistribuições,simplesmente,aumentariamo númerodeoperáriospobresefariam
comqueelesvoltassemaoníveldesubsistência.Às vezes,Malthusargumentavaatéque
essaredistribuiçãonemmesmoaumentariao bem-estardosoperáriosduranteocurtope-
ríodoemqueoelesaindanãotivessemtidofilhos:
Suponhamosque, por \lma concessãodos ricos,os dezoito penceque um homemganhahoje
fossemaumentadosparacinco shillings.Poder-se-iaimaginar,talvez,queeles,então,poderiam
vivercomco'nfortoe comercarnetodosos dias,no jantar.Masestaseriaumaconclusãointeira-
mentefalsa... O saláriode cincoshillingspor dia,emvezde dezoitopence,fariacomque to-
dossejulgassemrelativamentericose capazesde passarmuitashorasou diassemtrabalhar.{sto
se refletiriade modo ime~iatoe sensívelna produçãoindustriale, empoucotempo,nãosó a
naçãoestariamaispobre,comotambémasclassesmaisbaixasestariamsofrendomuitomaisdo
quequandorecebiamaplmasdezoitopencepordia!'
..Malthustarp.bémseopunhavirtualmentea todasastentativasdeaprovaçãodeleis,
quediminuíssemosofrimentodospobres.Ct
.k As "leisdospobres"da Inglaterratendema piorarascondiçõesgeraisdospobresdeduasmanei-
-?, - rasoA primeiradelasé a tendênciaóbvia11aumentara população,semaumentaraquantidadede
alimentosdequeelaprecisa...A segundaé queaquantidadedealimentosconsumidosnosasilos
kl
Ibid.,2 :13.
Ibid., I: 13.
MAL THUS. PrimeiroEnsaio,p. 98.
Ihid., p.94-95.
11
parapobres,por umapartedasociedadequenãopode,emgeral,serconsideradaa partemais
útil,diminuio quedeoutraformairiaparaosmembrosmaisprodutivose maisúteis.32
,Os membrosmaisúteis da sociedadeeram,obviamente,a classerica dosproprietá-
!'IOS,cujo valoreranãosóeconômico,comotambémculturalt.Parailustraro valoreconô-
IlIlco dos ricos,Malthusargumentavaque,em qualquersociedade,a únicafugapossível
duanarquiae da total insegurançaerao estabelecimentodosdireitosdepropriedadee o
l:nSllmento.Umavezestabelecidasestasinstituições,aspessoascomaltocarátermoralco.
IIwçariama acumularpropriedades,enquantoa maioriadoscidadãosesbanjariasuaspro-
fllicdadesnumavidadesregrada.
Nesseponto,asclassesmaisbaixasnãoteriammeiosdecontinuarexistindo,seaelite
IlIorale rica não dividissecomelasseusrecursosacumulados,mashaveriatantagentepo-
hll~queaelitericateriaqueescolhercomquemdividiriaseusrecursos. .
E parecenãosónatural,comotambémjusto ...quesuaescolhadevarecairsobreosquepudes-
semesforçar-se- e quedemonstrassemestardispostosaseesforçar- paraconseguirmaisexce-
dentedeprodução,beneficiando,comisso,acomunidadeepermitindoqueosproprietáriospres-
tassemassistênciaamaispessoas... .
A felicidadeou o graude misériadasclassesmaisbaixasde todoestadoconhecidoatualmente
depende,principalmente,do volumedessesrecursos(dosproprietários)."
Estaafirmativaé acompanhadadaafirmativajá citadade queas "leis inevitáveisda
IIlItureza"decretamque todasas sociedadessejam"divididasnumaclassede proprietá-
dOIc numaclassedetrabalhadores".
I O valor sociale cultural da classede proprietáriosricosera maior ainda.Malthus
'lI'havaque o sistemade propriedadeprivadae a desigualdadedeclassespor elecriada
"111111responsáveispôr todasasgrandesrealizaçõesculturaisdahumanidade:·
I~à administraçãoestabelecidadapropried~dee aoprincípioaparentementeestreitodoamor-
próprioquedevemostodasasmanifestaçõesmaisnobresdotalentohumano,todasasemoções
,'t..maisrequintadase delicadasdaalma,tudo,realmente,quediferenciaoestadocivilizadodoesta-
du selvagem;e aindanãohouveumamudançasuficientenanaturezadohomemcivilizadoque
nuspermitadizerqueelesejaouvenhaasercapazdeatingirumestágioemquepossa,segura-
mente,jogarforaaescadaquelhepermitiuchegaraestaaltura...
Deve-seobservarqueo principalargumentodesteEnsaiosóprovaanecessidadedeumaclassede
proprietáriosedeumaclassedetrabalhadores.3'
Asvezes,Ma1thusiaalémdomerocombateà redistribuiçãoder~nda(!triquezaeàs
1"lIllIlivasdemitigarapobrezacruel:
I~l'Videntcque,qualquerquesejaa taxadeaumentodosmeiosdesubsistência,o aumentodapo-
puluçãotemqueserpor elalimitado,pelomenosdepoisdeosalimentos,teremsidodivididosaté
allrll1lrasquantidadesmínimasnecessáriasparaa vida.Todasascriançasquenascessemalémdo
IIUII1CrOexigidoparamantera populaçãonestenível teriamquemorrer,a nãoserquehouvesse
IU~arpuraelascoma mortedeadultos... Portanto,paraagirmoscoerentemente,devemosfacili-
\
Ihltl, p, 97.
IlIhl., p. 143.144.
IIII!!, p. 17{).177/
t:II, \'111VI'!.de,tolamenteeemvão,nosesforçarmosparaimpedira açãodanatureza,provocando
~,Iumortalidade;setemermosa visitamuito freqüentedafometerrível,devemos,diligentemen-
11',l'slimularasoutrasformasdedestruiçãoqueobrigamosa naturezaa usar.Emvezderecomen-
tlnr limpezaparaospobres,devemosestimularhábitoscontrários.Emnossascidades,devemos
estreitarasruas,enchermai$ascasasdegentee pediravoltadaspragas.No país,devemoscons-
truirnossasaldeiaspertodeáguasestagnadase incentivar,especialmente,a ocupaçãodosoloem
lugarespantanosose insalubres.Mas,acimadetudo,devemosreprovarremédiosespecíficospara
doençasdevastadoras,bem como os homensbem intencionados,masmuito enganados,que
achamqueestãoprestandoum serviçoà humanidade,projetandoesquemasparaaeliminaçãoto-
tal de certoserros.Se,porestese poroutrosmeiossemelhantes,a mortalidadeanualaumentasse,
... talveztodosnósnospudéssemoscasarna puberdade,embora,apesardisso,algunsmorreriam
defome."
, TalvezMalthustivessepercebidoqueatéo maisteimosoconservadorpudesseachar
suassugestõesdepolíticademasiadamenteseveras.Porisso,terminouseuprimeiroEnsaiocomumapelosantarrãoà religiãoe àvontadedeDeus.Ao concluiro últimocapítulo,
reafirmouaosseusleitores:,
A vidaé,emtermosgerais,umabênção...Portanto,a dor parcialqueé infligidapelosupremo
Criador,enquantoestáformandomuitossereshumanosparaosprazeressuperiores,é apenaso pó
na balança,emcomparaçãocoma felicidadequeelesterão,e temostodasasrazõesparaachar
que não existemmaismalesno mundodo queos quesãoabsolutamentenécessárioscomo
!
m
dos ingredientesdo processode sua vontade.3.
A teoriadapopulaçãodeMalthusteriaumaenormeinfluênciaintelectual.Inspiru
CharlesDarwinaformularsuateoriadaevolução;algumasvariaçõesdestateoriadapopu-
laçãosãoamplamenteaceitashojeemdia- principalmenteemteoriasquetratamdos
paísesmenosdesenvolvidos.A orientaãonormativadateoriacontinuaexistindo- como
thus- araconvencer-nosde uea obrezaéinevI , equepoucoou
!!i!dapodeserfeitoaseurespeitoedequeelaé,emtermosgerais,eVI raque-
zaouàinferioridademoraldospObre:.
ECONOMIADETROCAE CONFLITODE CLASSES
DuranteeapósasegundadécadadoséculoXIX, apreocupaçãodeMalthusdeslocou-
sedo conflitodeclassesentreos proprietáriose trabalhadoresparao conflitoentreas
duasclasses~tagônicasdeproprietários- a doscapitalistaseadosproprietáriosdeter-
ras.Quasetodososseusescritosteóricos,nesteperíodo,foramincorporadosemseus
PrindpiosdeEconomiaPof(tica,eo restantedestecapítuloserádedicadoaumadiscus-
sãodasidéiascontidasnaquelaobra.
MalthusnãotinhaamesmavisãodaHistóriaqueSmith.Emsuavisãobastantecondi-
cionadapelaculturaegocêntrica,haviaapenasdoisestadosdasociedade:o estadorude,
nãocivilizado,e o estadocivilizado.Ele tinhaido muitolongeemseuEnsaiosobreo
PrindpiodaPopulação,"paraprovaranecessidadedeumaclassedeproprietárioseuma
35
Ibid., p. 176-177.
MALTIIUS. Primeiro Ensaio, p. 215-216.
16
rllIssedetrabalhadores",emtodasociedadecivilizada.Masestadivisãodeclas~es,pressu-
punhanãosó umasociedadedetrocasmonetáriase queproduzissemercadorias,como
IllInbémumasociedadeemquea forçadetrabalhosetivessetransformadoemmercado-
1111.Comestavisãohistórica,nãoédeadmirarque,diversamentedeSmith,Malthustenha
Nhloincapazdecompararos métodosdeapropriaçãodo excedenteeconômicoqueti-
IIllIImsidoempregadosnassociedadespré-capitalistascomosempregadosnocapitalismo.
~ livessefeitoestacomparação.teria~ercebido.comoSmithqueoexcedenteécriado
110>rocessoprodutivoe'que,paraentenderacriaçãodesteexcedente,épreciioexaminar
IL HocessoprodutIvoe naoo processodecirculaçãodamoedaedasmercadorias;...9,1Wr
11I1.('r,o rocesso.e troca,oua r ae aprocurao mer nuna o e escarecera
~lIrezaeasorigensdamais-valia.
CIQuandoSmithexaminouo capitalismodopontodevistadaprodução,foi levadoa
IIdolarumavisãodaeconomiabaseadaemconflitosdeclasses;quandoa examinoudo
1'111110devistada.troca,foi levadoaadotarumavisãodeharmoniasocial.Malthus",embo-
I,I l'stivesse,decerto,conscientedosconflitosdeclassesquecaracterizavamasociedade.
11Iv.lcsa,adotouo pontodevistadatrocaoudaofertaeprQCJ1I.g...Conseqüentemente,a
I'\rpareceuqueosconflitosexistenteserambaseadosnaignorânciadecomofuncionava
~pronomiacapitalista.Quandosechegasseaumentendimentoadeql!ado,eleachavaque
h!llasasclassesperc~beriamseusinteres~escomunseharmoniosos...A razãopelaqualo pontodevistadatrocageralmentedefendeumavisãodeharmo-
tlllIsocialé que,por essepontodevista,aceitam-secomocoisanaturalasleisdaproprieda-
.Ir vIgentese a distribuiçãodos direitosdepropriedade.Pelopontodevistadaprodução
(lIlI 11Icoria do valor-trabalho),pelo contrário,consideram-seesteselementosda econo-
IIIlu explicáveispela teoria, vistos como a manifestaçãolegal dasdivisõesde classe.Quan- r )
,t.'I' aceitamcomo coisanatural as leis da propriedadee suadistribuição,toda troca I
111111('1servistacomomutuamentebenéficaparaambasaspartesenvolvidas.O trabalhador I
'1'11nadatemavender,anãosersuaforçadetrabalho,ficaráemmelhorsituação,sepu-
\111encontrarumcomprador- independentementedequãobaixosejaosalário- doque
~I IlIorrerdefome.Portanto,todatrocaébenéficaparaocapitalistaeparao trabalhador,
1"11t1l'lIlarmenteseseaceitara inevitabilidadedeumaclassedeproprietáriose deuma
_Iu',jl'detrabalhadores.,
bA utilidadeuniversaldatroca,que,comoveremosemoutroscapítulos,deveriatrans-
1111nwr.seno centronormativodaeconomianeoclássica,foi definidasuci~tamentepor
Mitlthll~:O
I (Idatrocaocorridanumpaísgeraumadistribuiçãodesuaproduçãomaisadaptadaaosdesejos
.\;I stll'kdade.f, paraambasas partesinteressadas,umatrocadaquiloquesequermenospor
,1<111110quesequermaise,portanto,temqueaumentaro valordeambososprodutos."
ht(. L.o fundamentodasteoriasqueressaltamaharmoniasocial.portanto,Malthus
I 'I '111('mostrarqueos conflitosdeclassesaparentesemsuasociedadeeram,defato,
I ,1' IV('jS deumasoluçãoharmoniosa.Fezissoapresentandoumargumentonoqual,apl"
'11da~IIparcl1ciassuperficiaisem contrário,os interessesúltimose a longo prazo,tunlo
M"I IlItJS 1~'II/('({lIosdI' FI'OIwlllla I'of(tlca, p, 282,28'3.
'l' I
do~CIII)ltlllistas,quantodostrabalhadores,seriammelhorpromovidosatendendo-seos
Int('r<,~~('simcdiatosea curtoprazodosproprietáriosdeterras..,"Pode-seafirmarsegura-
11I('nll'quencnhuminteressedcoutraclassedoestadoestáligadonccessariamenteetão
dI'pl'ftoàsua,riqueza,prosperidadeepoder(doestadooudasociedadeemgeral)doque
o interesscdoproprietáriodeterras.,,38
() pontodevistadastrocasfoi incorporadoàanálisedeMalthus,logodeinício.En-
quantoSmithdefinirariquezacomoumprodutodotrabalho,Jylalthusescreveu:"Devo
dcfinira riquezacomosendoosobjetosmateriais,necessários,út8isouagradáveisparao
homem,dequeseapossamvoluntariamenteosindivíduosouasnações.,,39Numanotade
rodapédestadefinição,Malthusafirmouque"umobjetopoderiaserconsideradoumari-
queza,semqualquertrabalhoaeleincorporado".40Definiatrabalhoprodutivocomoo
trabalhoqueproduziariquezamaterial.Masfaziaobjeçãoaotermotrabalhoimprodutivo,
porqueachavaqueeletinhaaconotaçãodetrabalhosocialmentesemimportância.Prefe-
ria"substituirtrabalhoimprodutivopelaexpressãoserviçospessoais",41.
. ComoSmith,Malthusachavaqueaquantidadedetrabalhocontidanumprodutoera
amelhormedidadovalor.Tambémaceitavaateoriadovalorbaseadanocustodaprodu-
ção.O preçonaturaleraasomadossalários,aluguéiselucros,quandocadaumdestescus-
tospermitiaqueseusbeneficiáriosrecebessemataxaderetorno"normal"sobreseutra-
balho,suaterrae seu'capital.Suadiscussãodateoriadovalorbaseadanocustodaprodu-
çãodiferia,porém,dadeSmith,deduasmaneirasmuitoimportantes.Emprimeirolugar,
diversamentedeSmith,queviao trabalhocomooúnicocustoabsolutamentenecessário
daprodução,Malthusargumentavaqueossalários,osaluguéiseoslucroseram,todos,
igualmentenecessários.Emsegundolugar,nãoachavaqueasforçasdemercadodaoferta
e procuradeslocariamobrigatoriamenteopreçodemercadoemdireçãoaopreçonaturaJ.
Estasduasdiferençaseramsignificativase serãodiscutidasseparadamente,commais
detalhes.
Do pontodevistadaprodução,pode-seabstrair,dasinstituiçõessociaisespecíficas,
pormeiodequeoexcedenteeconômicoéapropriado,querdizer,asformasderelaçãode
propriedadedominantesemdeterminadaeconomia.Quandosefazisso,aproduçã~vis-
tacomoumaconseqüência,llQtempo,~tarefasvoltadasparaatransformacãodf'_rf'~-
",-5..Q.Snaturaisemprodutos'úteis.istoaconteceemqualquermodo\leprodução.f9i partin-
do deste o vista ue . afirmou ueo trabalhoe . ic custoae r dução
sQ.Cialmentenecessário ue,antesdaa ro riaãoprivadadaterraedoca ital,o traba-
Jbo recebiatudooqueproduzia.
~ . Dopontodevistadatroca,expostoporMalthus,apropriedadeeraconsiderada"na-
tural"e inevitável.A produçãoeravistacomoumatrocadeinsumosprodutivos.Cada
classetinhauminsumodiferente,masigualmentenecessári09NosPrincipias,assimcomo
"11\~cuEnsaio,Malthusgostavadereferir-seauma"loteria",emqueaalgunssócabia,
1'01IIcaso,apropriedadedeseuprópriotrabalho,aopassoqueaoutroscabiaaproprieda-
1\1docapitaledaterra..oprincípiofundamentaldapropriedadeera- segundoMalthus-
" lI\('smonostrêscasos(qucrdizer,porqueostrabalhadoresnãoerampropricdadcdos
IIlItroSnemeramescravos,tinhamamesmaposiçãosócio-econômicaoujurídicaque.os
"unosdosmeiosdeprodução).Diziaeleque"nãosepodededuzirqueo trabalhadorou
I"vladorque,naloteriadavidahumana,nãotenhatiradoumprêmiodaterra,sejaalvode
'IlInlqucrinjustiça,porserobrigadoa daralgoemtrocadousodealgoquepertencea
1111110".42,
.rodaclassesópossuíaumtipodemercadoria,ecadaumasdelastinhaqueserremu-
11I11\l11lparadarpermissãoparao usodesuamercadorianaprodução."Portanto,nãoé
I II/Irlo" - insistiaMalthus- "identificar,comofezAdamSmith,oslucrosdocapital
11111I0limadeduçãodoprodutodotrabalho".43Alémdomais,"referindo-seaosproprie-
hlt1o,dcterras,alinguagemdeAdamSmithé,maisumavez,censurável.Pinta-os,bastan-
I, h'lstilmente,comopessoasquegostamdecolhero quenãosemearam".44Todosos
""\ I'OlI1ponentesdopreçonaturaltinhamamesmabasenapropriedade:.
(I~ donosda terra... secomportam,no quediz respeitoà suapropriedade,exatamentedamesma
~ lormaqueos donosdo trabalhoe do capital,e alugamou trocamo quetêmpelovalorque'quem
I 1'11:1procurandoo queelestêmestádispostoa pagar.
" ,remuneraçãoque... formao preçonormalde qualquermercadoriatrocáve1podeserconsi-
11~r:\(lacomoresultantede trêspartes;a quepagaos saláriosdos trabalhadoresempreg:ldosem
!\IIIprodução;aquepagaoslucrosdo capital,inclusiveosadiantamentosfeitosaostrabalhadores,
;. I'UIIIos quaisa produçãofoi facilitada;a quepagao arrendamentoda terra ou a remuneração
1',.111capacidadeprodutivavinculadaà terrapossuídapeloproprietário;opreçodecadaumades-
I~',pnrtescomponentesé determinadoexatarnentepelasmesmascausasquedeterminamo preço
(111IHlum todo."
(omoaproduçãonãopoderiaocorrersemrecursosnaturais,osprodutosdotrabalho
1'.'llldot'do trabalhopresente,e comoosdonosdecadaumdestesfatores,simplesmen-
111I,',,,humconseguidoseutipodepropriedade"naloteriadavidahumana",cadaclasse
11111111fi mcsmodireitoa umaremuneraçãoquerepresentassesuacontribuiçãoparao pro-
~I~.I'IdeIprodução.Destepontodevistadatroca,quemaistardeviriaa dominaraecono-
IIU. IIlIndássica,a contribuiçãodistintamentehumanaparaaproduçãoeraterproprieda-
11.. "no limaatividadeprodutiva,masumarelaçãolegal.Além domais,sópossuira pró-
rllll força
~
I trabalhonãoera,emprincípio,diferentedepossuirosmeiosdeprodução.
." jl1stI'cativadeMalthusdoslucroscomoumretornosobreumacontribuiçãopro-
11,,11"11doscapitalistaserasimples.Os operáriospodiamproduzirmaisquandotinham
1I"'IIIIII<'IltoSemáquinasdoquequandonãoostinham.Istoaumentavaaprodutividade
~'"' 111111porqueos capitalistaspermitiamqueseusinstrumentose suasmáquinasfossem
:11I
Ibid., p. 206.
ti IlIltI .1',76 77.
;JQ
Ibid., p. 33.
I
11'111.1" 76,
40
(hid., p. 34.
01
111111
1
Ihid.,p.35.
,
l"hl , (1,77
IDO 1111
1I"ll\tll~,Portanto,Smithestavaerrado,e os capitalistas,realmente,contribuíamparaa
IIIOduç((o,Malthusdesconsiderouinteiramenteo argumentodeSmithdequeosinstru-
1III!IIItoseasmáquinaseram,simplesmente,arepresentação,nopresente,detrabalhopas-
,udo,O
I ~EmsuadefesadoalugueldosproprietáriosdeterrascomoalgoQuet
luíaremuneraãopelasuacontribuiçãoparaaprodução,Malthusreocuo -se
lfIr a noção -..,pastantedifundida,na época- e Queo aluguelerao retornodeummo-
10pólioou umaformaderendaauferid emsetertrabalhao. Já em1815,eletinha
publicao umpanfletointituaGoAn InquiryintatheNatureandCausesaIRent,andthe
Principiesby WhichIt Is Regulated.Nestepanfleto,Malthuselaborouumateoriadaren-
damuitoparecidacomumateoriaqueestavasendo,ao mesmotempo,elaboradapor
DavidRicardo(eoutros),e quedepoispassouaserassociadabasicamenteaRicardo.As
idéiasdeMalthussobrearendaserãoresumidasaquie,nopróximocapítulo,apresentare-
mosumadiscussãocompletadoquepassouaserconhecidopor"rendaricardiana".
Malthusigualavaa rendadeummonopólioàrendaderestriçõesartificialmentecria-
daspelaoferta..lnsistiaque"arendaéo resultadonaturaldeumaqualidadeinteiramente
inestimáveldosoloqueDeusconcedeuaoHomem- aqualidadedepodermantermais
pessoasdo queasquesãonecessáriasparaneletrabalhar".46Masnemtodosossolosofe-
reciama mesmadádiva."Tinhaquehaverumadiversidadedesolosedesituaçõesemto-
dos os países..." "Nem todaterra" - argumentavaele - "podia sera maisfértil".47A
~ existiaQ.Or~usa.dasdiferençasdefertilidadedosolo..Quandoa populaçãodeum paíserapequena,suanecessidadedealimentospodiaser
satisfeitapelocultivoapenasdasterrasmaisférteis.Mas,comaacumulaçãodecapitaleo
crescimentodapopulação,seriaprecisocultivarterrascadavezmenosférteis.Comterras
inferiores,o lucroeoscustosdossaláriosparaaproduçãodedeterminadaquantidadede
produtosagrícolasaumentariam.Portanto,paratornarlucrativaaagriculturanasterras
inferiores,ospreçosagrícolas,teriamquesubiro suficienteparacobrirestescustosmais
elevados.Masos custosdeproduçãodeumadadaquantidadedeprodutosagrícolasna
terramaisfértilcontinuariammaisbaixos.Seguia-sequeo aumentodospreçosdosprodu-
tosagrícolasdariaummaiorexcedentedepreçosobreoscustosdeproduçãoparaospro-
dutoscultivadosemterramaisfértil.Esteexcedente,criadopelasdiferençasdefertilidade
daterra,é queeraabasedarenda.Assim,arendanãoerao retornodeumalimitaçãoar-
tificialdaoferta;eradevidaàsdiferençasdasdádivasdanaturezaaoHomem.Maisuma
vez,Malthusnãoquestionavaosdireitosdepropriedade,masachavabastante.corretoion-
siderarumdomdanaturezaascontribuiçõespessoaisqueosproprietáriosdeterradavam
àprodução.Q
Alémdarendabaseadaemdiferençasdefertilidadenaturaldosolo,Malthusargu-
mentavaquealgumasdiferençasdefertilidadeeramdevidasàsmelhoriasdosolofeitas
peloproprietário.A rendatambémtinhaumvalorsocialespeciaL-o quenãoacontecia
comoslucros.A maiorproduçãodealimentospermitiaqueumapopulaçãomaiorsubsis-
46
Ibid., p. 148.
Ibid., p. 149.
47
IO~
II~se,criando,assim,suaprópriaprocura,poisestasoutraspessoasteriamquecomer.A
IIllliorproduçãoindustrialnãocriavaqualquerprocuraadicional.Segundosuateoriada
IlIperproduçãoou dasdepressões- conformeveremos-, estaprocuracriadaera um
hUllcfíciosocialimportantedaagricultura.
Discutindoascausaseconômicasdasrendaselevadas,Malthusconcluiuqueoslucros
Io1llJvados,aprosperidadeeconômicaeocrescimentopopulacionaleram,demodogeral,as
forçasquelevavamàmaiorproduçãoagrícola.Estateria,obrigatoriamente,queexigiro
i'lIltivodeterrascadavezmenosférteis,aumentando,comisso,asrendas.Portanto,as
11'lItlaselevadaseramtantoumaconseqüência,quantoomelhorindicadordeprosperida-
\k econômicaesocialgeral.
As rendassãoa recompensada bravurae dasabedoriapresentes,bemcomodaforçae dacapaci-
dadepassadas.Todo diasecompramterrascomo fruto dacapacidadederealizaçãoe do talento.
Elaspermitemo grandeprêmio,o otiumcumdignitote,aqualquertipodeesforçolouvável,e,no
progressoda sociedade,existemótimasrazõesparaseacreditarque,à medidaqueasterrasvão
licandomaisvaliosascomo aumentodo capitale dapopulaçãoe como aperfeiçoamentodaagri-
cultura,os benefíciosporelasoferecidospoderãoserdivididospor um númeromuitomaiorde
pessoas.
Qualquerqueseja,então,o pontode vistaadotado,a qualidadedaterraque,pelasleisnaturais,
lem que gerarrendapareceumabênçãode grandeimportânciaparaa felicidadeda humani-
dade.'o
A TEORIA DA SUPERPRODUÇÃO
...Asegundaobservaçãode MalthussobreateoriadospreçosdeSmithfoi suainsistên-
1'111emqueasforçasdaofertae daprocuradomercadonãofazem,automaticamente,
CIIII1queo preçodemercadoseigualeaopreçonatural."O valordeumamercadoriano
IUl(uremqueéestimado"- escreveuMalthus- "éopreçodemercadoe nãoseupreço
1IIIIIIral".49.Quandoos preçosdemercadodiferiamdospreçosnaturais,aqueleseram
"~ktcrminadospelasrelaçõesextraordináriasouacidentaisdaofertaedaprocura".soFoi
"111suaanálisedestasrelaçõesextraordináriase acidentaisdaofertae daprocuraque
Mlllthusdeusuacontribuiçãomaisimportantee duradouraà teoriaeconômica- sua
ilWf'llItiasuperproduçãooudasdepressões..
Emborao pontodevistadaproduçãotenhapermitidoaSmitheRicardochegarema
UIIIUcompreensãomuitomaissofisticadadanaturezadamais-valiadoqueadeMalthus,
Iltlvl'l.otntodevistadatroca,deMalthus,tenhasidoumfatorqueo levouainvestigardI'modo aiscompletoesofisticadoo processodecirculaçãodamoedaedasmercado-I'lilN,tMalt1USsabiaque,paraqueovalornaturaldetodasasmercado'riasproduzidasfosse
1'I'1I1I7.<ldoatravésdatrocamonetária,teriaquehaverumaprocuramonetária"efetiva"to-
1111 destasmercadorias,igual,emvalor,aovalornaturaldasmercadorias.Comooscustos
'"
l!tld.,p.216-217.
l!tld.,p.78.
1111ti~I
101
<I'Wl~olllpunhama valar naturalde tadasasmercadariastambémrepresentavamasren-
UIIN dllsIresclassesdasaciedade,seguia-seque,emqualquerperíada,ascustastataisqueIOIJIIIIVUma vaiar natural agregadade tadasas mercadariasproduzidasteriamqueser
tKIUtlSà rendaagregadarecebidapelastrêsclasses,na mesmaperíada.PartantO',a cO'ndi-
ÇflonecessáriaparaaprocuraefetivaserigualaO'valO'rdetO'dasasmercadO'riaspraduzidas
cra queastrêsclassesemcanjuntaestivessemdispO'stasagastar.,e pudessemgastartO'daa
suarendacO'letivanasmercadariasproduzidasemcadaperíadO'.I
O ExistemduasmaneiraspelasquaissepO'deriagastararenda.A primeiraeracamprar
mercadO'riasparaO'cO'nsumO'.A segundaeracamprarmercadO'riasqueseriamacumuladas
camO'capital.(}OsecO'namistasclássicO's(e quasetO'dO'sasecanamistas,atéhO'je)definiam
paupançacO'maa rendaquesO'braapósa deduçãO'dO'sgastO'sparaO'cO'nsumO'.Seguia-se,
entãO',que,paratO'daa rendasergasta,O'sgastO'scammercadO'riasa seremacumuladasca-
mO'capital teriamque ser iguaisà rendapO'upada.(Os ecanO'mistasmadernasdefinem
cO'mO'investimentO'a camprade mercadO'riasprO'duzidasna períadO',cama fitO'deacu~
mulaçãO'de capital.PO'rissO',a candiçãO'necessáriaparaa O'fertaagregadaserigualàpra-
curaagregadaéquea investimentO'sejaigualà pO'upança.)
Adam Smith tinha cO'nhecimentadestacO'ndiçãanecessáriaparaacirculaçãO'regular
ecO'ntínuadamaedae dasmercadO'rias,massupunhaqueninguémpO'uparia,anãO'serque
quisesseguardarparaO'futuro. CO'mestapO'upança,umapessO'aacumulariacapitalque
lhe renderiaa pO'upançainicialmaisumlucro O'UO'emprestariaa umcapitalistaemtrO'ca
de uma parcelade seuslucras,pagacO'mO'juros. Em ambasas casO's,a pessO'areceberia
mais, na futuro, da quesetivessedeixadO'a dinheirO'paradO'.Smith cancluiu,entãO',a
seguinte: .
Tudo o queumapessoapoupade suarendasomaao seucapital,empregando-opor contapró-
pria, contratandomaisoperários.produtivosou permitindoqueoutrapessoao faça,emprestando-
lhedinheiroajuros,querdizer,emtrocadeumaparticipaçãoemseuslucros...
O queé poupado,por ano,é tão consumidoquantoo queégastoporanoe, tambéP1,quaseque
aomesmotempo,masé consumidoporoutraspessoas.SI
Par issO',Smithe quasetadO'sasautrasecanO'mistasclássicO'sargumentavamquea
capitalismO'nuncapassariapeládificuldadedeumaprocuraagregadainsuficientedetO'das
asmercadO'riasprO'duzidase destinadasà vepda.O sistemacapitalistarealmentetevee
cO'ntinuatendO'estesprablemas.
Desdea iníciO',semprequeasfarçasdeafertaeprocuradamercadO'sãO'asrespO'nsá-
veispeladeterminaçãO'daproduçãO'dasmercadO'riasedaalO'caçãaderecursas,istO'resulta
emcrisesecanômicasqueserepetemauemdepressões.Nasdepressões,?Sempresárias
têmsempreproblemadeacharcampradaresparasuasmercadO'rias,acapacidadede~pra-
duçãaficaO'ciasa,O'desempregaémuitapiO'rdO'queO'habitualeO'aumentO'dapO'brezae
dasO'frimentO'sO'cialéa resultadainevitável.
Na Inglaterra,emfinsde1818,hauveumaquedaacentuadadaspreçasdasprO'dutas
agrícO'las,acO'mpanhadadeumadepressãO'geralem1819.A depressãO'provacaramuita
51 SMITH, Adam.An Inquiry into theNatureand Causesof the WeallhaI Nallull.f Novalorque,
Modern Library, 1937, p. 321.
104
dtlsemprega,O'ressurgimentO'damilitânciatraballústae a inquietaçãO'sacialgeneralizada.
EmagastO'daqueleanO',milharesde trabalhadaresfaziampasseatasnasruasdeManches-
Il'r. O GavernainglêspediuO'auxIliO'dasFarçasArmadase as:manifestantesfO'rambru-
lulmentereprimidO's.Dez manifestantesfarammO'rtosecentenasdelesficaramgravemen.
1(1feridas,nO'que veiO'a ficar cO'nhecidacO'maO'MassacredePeterloo. IstO'acO'nteceu
upenasum anO'antesd~publicaçãada primeiraediçãO'dasPrinclpios, deMalthus.Mal-
IhustinhaagudacO'nsciênciade queasdepressõesnãO'sópadiamacantecer,cama,defa-
lu, acO'nteciam,numaecanO'miacapitalista;tambémestavabastantecienteda perigO'revO'-
luclO'náriapO'tencialdessassublevaçõesdas trabalhadO'res~e,
~ocscreverO'SPrinclpios, fai promavera entendimentO'destascrisesO'Usu er roduçõese
proparpO'l1ticasparaminará-as. clarO'queesaspO'íticaseramsemprecaerentescO'm
_uuCCeí1çade que "O'interesseaenenhumaautraclasse,na estada,estavatãO'íntimae
tlltccssariamenteligadO'à suariqueza,prosperidadee paderda queO'interessedO'proprie-
IIh'IO'de terras". 52
,Para Malthus,pareciaóbviO'quea causade umasuperpraduçãageraldemercadarias
NU a insuficiênciaperiódicadapracuraefétiva.Paraentendera fantee O'remédiO'desta
IlIltudeprocura,eleanalisaua padrãO'degastasdecad'aumadastrêsclasses.Ostraba-
IhudO'resgastavamtada a suarendaemsuasubsistência.Oscapitalistaseramlevadaspela
IlIlIxtraa acumularcapitale nãO'tinhamtempO'O'UinclinaçãO'paragastargrandepartede
~C'IISlucrasemcO'nsumO'au emserviçaspessaais.CO'ncluiueleque
esteconsumonãoé compatívelcomoshábitosreaisdoscapitalistasemgeral.Ograndeobjetivo
desuavidaéfazerfortuna,tantoporqueéseudeverguardarumpoucoparaafam1lia,comopor-
queelesnãopodemgastarumarendacomtantoconfortoparasipróprios,porquesãoobrigados
uficarno trabalhoseteouoito horaspor dia.53
.Os praprietáriasdeterras,parém,eramc;avalheirosdaóciO'.CO'mO'tinhamagarantia
dl.lumarendacO'ntínuadesuasterras,gastavamtadaelaemambientescanfartáveis,cO'm
Ilrlndas,e promO'vendaa arte,asuniversidadeseautrasinstituiçõesculturais.Gastavam
'1lmpretadasuarendaembensdecO'nsumO'auem"serviçO'spessaais"e,nestepracessO',
promaviam"tO'dasasmanifestaçõesmaisnO'bresdagêniO'humana,tadasasemaçõesmais
1111115e delicadasda alma". 54 . .
· CadaumadastrêsclassesprO'curavagastartO'daasuarenda,masO'ScapitalistasprO'cu-
'UVIIIIIgastartadasasseuslucrosnacampradenavO'capital.Malthusachavaqueapro-
hlt.,nacra que,'camO'progressO'da capitalismO',haviaumatendênciaparaO'Scapitalistas
,,,cl~bercmmuitarenda.ElesnãO'pO'diaminvestiremcapital,camlucro,tadaO'dinheirO'
qll«'poupavam,"QuasetadasO'Smercadareseindustriaispaupamnasépacasdeprosperi-
dudl." escreveuMalthus- "muitamaisdepressadaqueseriapO'ssívelaumentaracapi-
InlnucianalparaacampanharavaiardO'produta".55
'.
MALTIIUS. Princfpios,p. 206.
Ihld., (J.400.
MALTIIUS. PrimeiroEnsaio,p. 176-177.
MALTIIUS.I'rincfpios, p.400.
1111
.. f\ IH'llo(lIlItaimportanteaqueMa1thustinhaqueresponderera:porqueoscapitalistas
11I1111I0dllllll conformesugeriraSmith- empregarsempremaisoperárioseauferirmais
1111/II~.1imedidaquefossemaumentandoseucapitalno ritmoquepudessem?Ma1thus
.h'lIdllll$respostasa estapergunta.Ou o novocapitalincorporariaamesmatecnologia
qllco alltigoou incorporariainovaçõestécnicasquetornariamosoperáriosmaisprodu-
,Ivos,Emambososcasos,eleachavaquesurgiriamproblemas..
Numaépocadeprosperidade,seoslucrosfosseminvestidosemnovocapitalquein-
l'mporasseames,matecnologiaqueo capitalantigo,qualquerquantidadedecapitalnovo
clllpregariao mesmonúmer<>tdeoperáriosqueamesmaquantidadedecapitalantigo.Isto
l'xigiria- parahaverumnúmerosuficientedeoperários- queamão-de-obraaumentasse
110mesmoritmoqueo capital.O problemaeraque,tom o adventodaprosperidade,o
capitalcomeçariaacrescerimediatamente.Ma1thus,porém,insistiaemqueera"óbvio...
que,pelapróprianaturezadapopulaçãoepelotemponecessárioparatrabalhadoresadul-
tosentraremnomercado,umsúbitoaumentodecapitaledeprodutonãopoderiaconse-
guirumaofertaproporcionaldetrabalhoemmenosdedezesseisoudezoitoanos".S6Por
isso,quandoestenovocapitalultrapassavaaofertadetrabalho,duascoisaspodiamacon-
tecer.Primeira:algumcapitalnãoencontrariatrabalhoparaempregare,por isso,ficaria
ocioso.Segunda:haveriaumaescasseztemporáriadetrabalho."Seomercadofosserelati-
vamentecarentedetrabalho"- escreveuMalthus- "osproprietáriosdeterraseoscapi-
talistasseriamobrigadosa darmáiorq\:lantidadedoprodutoacadaoperário".s7Nesse
caso,"os salários...continuariamsempreaumentando...enquantoo capitalcontinuasse
aumentando".s8Em ambososcasos,oscapitalistasprefeririamguardarsuarendasoba
formademoedaimprodutivaa continuarreduzindooslucrossobreocapitaljá emprega-
do coma acumulaçãodemaiscapital.Assim,oscapitalistasdeixariamdegastartodaa
suarendaehaveriaumainsuficiênciadeprocuraefetiva. .
Estesdesequilíbriosdacirculaçãodamoedae dasmercadorias,semdúvidaalguma,
ocorrem,e Malthusdeuumaimportantecontribuiçãoparaseentenderaeconomia,ao
analisarseusefeitos.A análise,porém,parececontradizersuateoriadapopulação,embo-
ra sejaverdadeque,sea taxadeacumulaçãodecapital"aumentassesubitamente",a
quantidadedetrabalhadoresadultosnãopoderiaaumentariIlerepente.O quenãoestácla-
ro- diantedesuateoriadapopulação- éporquesempredeveriahaverumaumentore-
pcntinodecapitalqueexigisseumsúbitoaumentodapopulação.Independentementeda
taxadelucroe daconseqüentetaxadeacumulação,umavezqueelaseramhistoricamen-
teestabelecidas,seriadeseesperarqueataxadecrescimentodapopulaçãoseajustasseà
taxadeacumulação.Assim,seocapitalfosseacumuladoaumataxaanualde10%,o cres.
cimentode10%dapopulação,emumano,ofereceriaostrabalhadoresnecessáriosparaos
10'!r,decrescimentodecapitalqueocorreriaem16anos.Analogamente,seaquelataxa
semantivesseduranteumcertotempo,oaumentodapopulaçãoocorridohá16anosteria
~1
Ibid., p.2110.
Ibid.,p.279.
Ihid,p. 277.
IUh
sIdosuficienteparasatisfazeraprocuraatualdetrabalho.A dificuldade,emnossaopi-
11I50,nãoestánateoriadasuperproduçãodeMalthus,masemsuateoriadapopulação.
,O segundotipo de acumulaçãopossívelenvolviamudançastecnológicasqueaumen-
IlIssemaprodutividadedotrabalho.Estenovocapitalpoupadordemão-de-obraatuaria
comosubstitutodo trabalho.Poder-se-iaobtera mesmaquantidadedeprodutoscom
IIIlIiscapitale menostrabalho.Maso deslocamentodosoperáriosdiminuiriaaprocura.
Ilortanto,
sea substituiçãode trabalhopor capitalfixo fossefeitamuitomaisdepressado queo tempone-
cessárioparase encontrarum mercadosuficienteparaa ofertamaisabundante,propiciadapor
estecapitalfixo, e paraos novosprodutosdos trabalhadoresque tivessemperdidoo emprego,
haveria,emtodaparte,umaquedadaprocurade trabalhoe afliçõesparaasclassesoperáriasda
sociedade.,.
, Então,em ambosos casos,a causafinal da superproduçãodevia-seaoslucrosexces-
.Ivos,que levavama umataxa insustentávelde acumulaçãode capital.A únicaresposta
Iluraesteproblema,naopiniãodeMalthus,eraadotarpolíticasquealterassemadistribui-
~nodarenda,deixandoos capitalistascommenoslucrose algumaoutraclassecommais
wndaparasergastaemconsumo,-A relaçãoentrea teoriadasuperproduçãodeMalthus
r 11controvérsiaquecercavaasleis doscereaistorna-se,agora,evidente.Segundoaspró-
1IIIIIspalavrasdeMalthus,
nãosedeveriacontinuarproduzindocomlucroalémdoqueseriaconsumido.Nestecaso,nãohá
dúvidadequeosproprietáriosdeterrastêmumaposiçãodedestaque.'.
" Osproprietáriosdeterrasnãoconsumiriamtodoo excessodeprodução.Malthus
1I'IIIIVaqueelescontratariammuitoscriadoseoutrostrabalhadoresimprodutivosoupres-
IlIdorcsde"serviçospessoais",quegastariamsuasrendascomprandoasmercadoriaspro-
,1I1/.lIlasno setorindustrial.Assim,a soluçãoapontadaporMalthusimplicavaa criação
,11.'11mexércitodetrabalhadoresimprodutivoscomocriadosdosproprietáriosdeterras.
11.,.consumiriamariquezamaterialsemproduzi-Iae,comisso,eliminariamoproblema
,111Insuficiênciadaprocuraagregada._
I A únicamaneiradegarantirumaprocuraefetivasuficienteera,então,atravésdeal-
I ~IIIIImccanismoderedistribuição,comoasle~sdoscereais,quepermitisseaosproprietá-
\ 11111deterrasreceberemmaisrendae,comisso- pormeiodeseusprópriosgastosedos
I .lt'ltll9 deseuscriados- contribuíremmaisparaa procuraagregada,semcontribuirpara
IIlIlIInnlarmaisaindaaprodução.Umavezmaisobem-estareconômicodetodaasocieda-
.I.. dl'pendiadapromoçãodosinteressesdosproprietáriosdeterras~Paradarumabase
1111111.lolidaaindaaoseuargumento- depoisdetermostradoqueosproprietáriosdeter-
liI" 111'11111econômicae culturalmenteindispensáveisparaa Inglaterra- Malthusargumen-
11111qllcseupoderpolíticonoParlamentotambémfavoreciatodaasociedade:
,: ulI\avcrdadchistórica,quenãopodeserdiscutidaemocasiãoalguma,queaorigcmeasubse-
qlhmtcprcscrvaçãoeaperfeiçoamentodenossaatualconstituição,bemcomodasliberdadcsepri-
'1
Ihhl.,p.2311.
Ihhl, p.400.
111,
vll.'III\I!d~quevêmhátanto tempogozandoosingleses,devem-se,principalmente,a umaaristo-
11'"lUdaterra."
1(118111umaúltimapergunta:"comoéqueMalthuscombatiaumaredistribuiçãoque
1111111l!lllilSSCossaláriosa fundeaumentaraprocuraagregada?LendoseuEnsaiosobreo
/'/'1//(°'1'10daPopulação,poderíamossuporqueeleteriaargumentadoqueistonãotraria
()(llIl-f(CjOsocialalgum,poisosaumentosdaquantidadedetrabalhadores,simplesmente,
1/1111111Icomqueelesvoltassemaoníveldesubsistência.Mas,comovimos,emsuateoria
dllsuperprodução,Malthusab.an.donousuateoria.dapopulação,pelomenos~urtopra.
w. Ou, hovamentecom basenoEnsaio,poderíamossuporqueeleargumentassequeo
numentodossalários"fariacomquetodossejulgassemrelativamentericos",levando,
comisso,a "umagrandee imediatalimitaçãoà indústriaprodutiva".62EmboraosPrin-
dpios tivessemalgunsindíciosdesteúltimoargumento,o ataqueprincipaldeMalthusao
aumentodossaláriosestavanoseguintetrecho:' ,. .- - .............--
1::, naverdade,importantíssimoobservarquenenhumpoderaquisitivodasclassestrabalhadoras
pode ...por si só estimularo empregode capital.Ninguémempregarácapitalmeramentepara
atenderà procura-dosque trabalhamparaele.A menosqueostrabalhadoresproduzamumexce-
denteemrelaçãoaoqueconsomem...é óbvioqueseuçapitalnãoseriaempregadoemsuama-
nutenção...Aumentandomuito o custode produção,umgrandeaumentodeconsumodasclas-
sesoperáriasdiminuirá,semdúvid,aalguma,os lucrose enfraqueceráou destruiráo motivode
acumulação..3
Estetrechoé interessanteporqueilustraumaquestãoabordadanumcapítuloante-
dor destelivro:quandoumpensadorimportantee poderosocometeumerroaparente-
menteóbviodelógica,istoquasesempreé umexemplodeatéquepontosuaorientação
socialou sualealdadede classe- e nãoa lógicapura- determinasuasconclusões.Como
ascategoriasderendadeclasseeramidênticasparaostrêscomponentesdocustodepro-
dução,qualquermedidapolítica,como,porexemplo,asleisdoscereais,queresultasse
numaumentodarendadaterraoudossalários,teriao efeitodediminuiroslucros.As
objeçõesqueMalthussupunha- corretamente- queoscapitalistasfariamaqualquerre-
formaquereduzisseoslucros,aumentandoossalários,eramidênticasàsobjeçõesqueeles
tcriamcontraasreformasquereduzissemoslucros,aumentandoarendadaterra. I
DavidRjcardo,o principalporta-vozintelectualdaclassecapitalistadaquelaépoca,
entendeuimediataeclaramenteo errodaconclusãodeMalthus.Escreveuo seguinte:
Um grupode trabalhadoresimprodutivosé tãonecessárioe útil paraa produçãofuturaquanto
um incêndioquedestrua,nosdepósitosdo fabricante,asmercadoriasque teriamsido,deoutra
forma, consumid~por aquelestr~balhadoresimprodutivos...Quevantagemteriaeu seoutro
homemquenadamedáemtrocaconsumisseminhasmercadorias?Comoé queesteconsumome
permiteauferirlucros?...Oscapitalistas,parapoderemcontinuarcomseushábitosdepoupança,
diz o Se. Malthus,"têm queconsumirmaisou produzirmenos"...As mercadoriasconsumidas
por trabalhadoresimprodutivoslhessãodadas,e nãovendidasemtrocadealgo...Retirar100pe-
çasde roupade umafábricae comelasvestirsoldadose marinheirosaumentaráos lucrosdo [a-
(o.
Ibid.op. 380.
MAl TlIUS. PrimeiroEnsaio,p. 95.
MAl.TIIUS./'rfllcfpios, p. 404-405.
10101
bricante?Estimulá-lo-áa produzir?Sim, damesmaformaque umincêndio...Se a doutrinado
Se.Malthusfosseverdadeira,o queseriamaisaconselháveldoqueaumentaro exércitoe duplicar
osordenadosdosfuncionáriospúblicos'!"
QuemestavacertonodebateentreMalthuse Rjcardo?Naopiniãodoautor,ambos
...tnvam,emparte,certos,masambosseesqueceramdaverdadeparcialdoargumentodo
l)utrorO capitalismorealmentetendeaprovocardesequilíbriosnacirculaçãodamoedae
dll~mercadorias~Estesdesequilíbriosmanifestam-se,quasesempre,comocrisesemquea
I'l'l)CUraagregadaé insuficienteparacomprartodasasmercadoriasqueforamproduzidas.
NI,stasituação,é dointeressedoscapitalistas- consideradoscoletivamentecomoclas-
10 acharalgumafontedeaumentodaprocura.Todavia,cadacapitalista,considerado
IlIdlvidualmente,percebequeseuspróprioscustosdeproduçãonãoafetamdiretamente,
de'modosignificativo,aprocuradoseuproduto.Masseuscustosafetamsignificativamen-
,.,seuslucros.Portanto,eletemuma.fortemotivaçãoparamanterseuscustosdeprodu-
\,"'0o maisbaixopossível.Masoscustosdeproduçãodoscapitalistas,consideradoscole-
HVllmente,geramasrendasquesãousadasparacomprarseusprodutos.Portanto,seria
Id~ulquecadacapitalista,consideradoindividualmente,mantivesseseuscustoso mais
hlllxopossível,enquantoos outroscapitalistasestivessempagandosaláriose rendasda
letrfllelevados,gerando,assim,umagrandeprocuradosprodutosdaquelecapitalista.~
Existe,emsuma,umacontradiçãoentreasnecessidadesdequalquercapitalista,con-~ldl.Hadoindividualmente,easnecessidadesdetodososcapitalistas,consideradoscoleti-
Vilmente.Malthuse Ricardotinhamconsciênciaclaradeumdosladosdessedilema,mas
IlIdllumdelesprocurouresolvero problemaignorandoounegandoo outrolado.Não
\11'Bnemépossívelumasoluçãocomoesta.Discutiremosestedilemademodomaiscom-
IlIl!lonocapítulosobreJohnMaynardKeynes,ondeavaliaremoso impactodesuasidéias
~ubl'easeconomiascapitalistasposterjoresàSegundaGuerraMundial.
'" ('lllIdo I>orCOONZ, SydneyH.ProductiveLabouralldEffectiveDemand.NovaIorque,Augusllu
M K~II\'y.1966,p.45-46.
11)IJ

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