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1 DIREITO AMBIENTAL DIREITO AMBIENTAL Graduação DIREITO AMBIENTAL 55 U N ID A D E 4 LEIS ESPECIAIS DA POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE Para a execução da Política Nacional do Meio Ambiente há leis especiais que regulam matérias de relevante interesse ecológico. Essas leis correspondem às diretrizes, objetivos e finalidades dessa Política. São várias, como as relativas ao uso da água como bem econômico cujo uso, mediante cobrança, é objeto de outorga; às funções sociais da cidade e à lei de biossegurança. Para esta unidade, escolhemos estas três, mas é preciso ficar claro que as destacamos em caráter exemplificativo, porque representam, cada qual na sua esfera de regulação jurídica, importantes avanços da política ambiental. E são avanços que atendem a diferentes interesses da sociedade nas suas exigências de meio ambiente ecologicamente equilibrado: a questão da água, cujo uso racional, para fins econômicos, se torna fundamental, ante a perspectiva de escassez; a necessidade de ordenamento, inclusive com propósitos ambientais, das cidades e a outra questão fundamental referente à pesquisa e manipulação de material genético. OBJETIVOS DA UNIDADE • Identificar, leis especiais, relativas à execução da Política Nacio-nal do Meio Ambiente e o modo como essa política se concre-tiza através de legislação que contempla matérias de relevante interesse ecológico. • Interpretar os subsídios oferecidos à prática do futuro operador do Direito Ambiental consistente em resumo de documento expedido pela Federação das Indústrias do Rio de Janei-ro sobre como se obter outorga do uso da água por meio permissão, autorização ou concessão. PLANO DA UNIDADE • A problemática da água e a Lei N. 9.433/97 • A Lei N. 9433/97 – Lei das Águas • Outorga do uso da água • Estatuto da cidade • Lei de Biossegurança. UNIDADE 4 - LEIS ESPECIAIS DA POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE 56 A PROBLEMÁTICA DA ÁGUA E A LEI N. 9.433/97 A água pode ser considerada na perspectiva da Política Nacional do Meio Ambiente, atraindo regras de Direito Ambiental, ou como bem especificamente protegido pela legislação aplicada ao meio ambiente. Nesta unidade, focalizaremos a água no contexto da Política Nacional do Meio Ambiente. E, em relação com este tema, começaremos por focalizar a problemática da água com base em reportagem assinada por LIMA, J. G. de. Veja, Rio de Janeiro, edição 1926, n. 41, p. 89-91, 2005. O paradoxo do planeta que é 70% água: só 1% serve para uso humano. O desafio é evitar a poluição, o desperdício e distribuir melhor esses recursos hídricos. A preocupação é a de que a água, tão abundante, se torne paradoxalmente cada vez mais escassa para uso humano. Em março de 2005, o (então) Secretário Geral da Organização das Nações Unidas, Kofi Annan, decretou os anos que vão de 2005 a 2015 como a Década da Água. O objetivo é que, nesse prazo, se reduza, à metade, o número de pessoas sem acesso à água encanada, cifra que ultrapassa 2 bilhões de pessoas. Eis os dados oferecidos pela reportagem: Mantidos os atuais níveis de consumo, estima-se que em 2050 dois quartos da humanidade viverão em regiões premidas pela falta crônica de recursos hídricos. É um dado gravíssimo considerando que 60% das doenças conhecidas estão relacionadas de alguma forma com a escassez de água. O problema pode ser equacionado em dois termos: má distribuição e má administração. O primeiro se deve à própria natureza. O segundo se deve ao homem. A água é, realmente, a substância mais comum na terra. No entanto, 97% dela estão nos mares, sendo assim, imprópria para uso agrícola e industrial e para o consumo. Outros 2% estão nas calotas polares, em forma de gelo ou neve. Resta, assim, apenas 1% de água doce, aquela disponível nos rios, lagos e lençóis freáticos. Essa água é extremamente mal distribuída. Países como o Canadá e a Finlândia têm muito mais do que precisam, enquanto o Oriente Médio nada tem. O Brasil, dono da maior reserva hídrica do mundo – 13,7% da disponibilidade de água doce do planeta – expressa internamente esse paradoxo: – Dois terços da água estão concentrados na região com menor densidade populacional, a Amazônia. Isso significa que um brasileiro de Roraima tem DIREITO AMBIENTAL 57 1000 vezes mais água à disposição do que um conterrâneo que vive no interior de Pernambuco. A água é pesada e difícil de transportar. Levá-la de um lugar para outro tem sido o grande desafio dos seres humanos desde os tempos dos romanos, que construíram aquedutos por toda parte. O segundo problema relativo à água é a má gestão e, nessa área, há outro paradoxo. Mesmo sendo escassa para a economia, a água sempre foi dada de graça... – Até recentemente, nem os industriais nem os agricultores, para não falar dos consumidores domésticos, pagavam pela água, apenas pelo serviço de distribuição... No fundo, toda a sociedade paga quando o governo subsidia empresas estatais para que tratem a água que um empresário vai usar em sua fábrica, ou quando constrói uma barragem para que um rio seja colocado à disposição dos agricultores para irrigação. Quando não se paga pelo que se consome o resultado é o desperdício. Por isto, quando se fala em solucionar os problemas da água no mundo, uma palavra surge como um mantra: precificação. Significa que o governo, que é dono em última análise dos mananciais naturais de um país, deve cobrar pelos recursos hídricos consumidos por seus cidadãos, revertendo o dinheiro para a cobertura dos custos de tratamento da água e preservação dos ecossistemas ligados a ela. A solução brasileira para problemas dessa natureza encontra-se na Lei n. 9.433/97 - Lei das Águas. A LEI N. 9433/97 – LEI DAS ÁGUAS A Lei n. 9.433/97 fixa as linhas gerais para a implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos que é, sem dúvida, conseqüente e parte essencial à Política Nacional do Meio Ambiente. A Lei n. 9.984, de 17 de julho de 2000, dispõe sobre a criação da Agência Nacional das Águas (ANA), entidade federal destinada a implementar a Política Nacional de Recursos Hídricos do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos como autarquia sob regime especial dotada de autonomia administrativa e financeira, vinculada ao Ministério do Meio Ambiente (artigo 3º). O artigo 2º, da lei n. 9.984/2000, estabelece que: “compete ao Conselho Nacional de Recursos Hídricos promover a articulação dos planejamentos nacionais, regionais, estaduais e dos setores usuários elaborados pelas unidades que integram UNIDADE 4 - LEIS ESPECIAIS DA POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE 58 o Sistema Nacional de Recursos Hídricos e formular a Política Nacional de Recursos Hídricos...” Compete à Agência Nacional da Águas (ANA), de acordo com a Lei n.9.984/2000: Artigo 4º - A atuação da ANA obedecerá aos fundamentos, objetivos, diretrizes e instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos, e será desenvolvida em articulação com órgãos e entidades públicas e privadas integrantes do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídrico, cabendo-lhe: I - supervisionar, controlar e avaliar as ações e atividades decorrentes do cumprimento da legislação federal pertinente aos recursos hídricos; II - disciplinar, em caráter normativo, a implementação, a operacionalização, o controle e a avaliação dos instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos; III - (vetado) IV - outorgar, por intermédio de autorização, o direito de uso de recursos hídricos em corpos de água de domínio da União observando o disposto nos art. 5º, 6º, 7º e 8º; V - fiscalizar os usos de recursos hídricos nos corpos de água de domínio da União; VI - elaborar estudos técnicos para subsidiar a definição, pelo Conselho Nacional de Recursos Hídricos, dos valores a serem cobrados pelo uso de recursos hídricos de domínio da União, com base nos mecanismos e quantitativos fixados pelos Comitês de Bacias Hidrográficas, na forma do inc. VI, do art. 38, da Lei n. 9.433, de 1997;VII - estimular e apoiar as iniciativas voltadas para a criação de Comitê de Bacia Hidrográfica; VIII - implementar, em articulação com os Comitês de Bacia Hidrográfica, a cobrança pelo uso de recursos hídricos de domínio da União, na forma do disposto no art. 22, da Lei 9.433, de 1997. DIREITO AMBIENTAL 59 Entre as diretrizes da Política Nacional de Recursos Hídricos destacam- se a gestão ambiental; dentre os objetivos, a prevenção e a defesa de recursos hídricos, a preservação das águas e a utilização racional e integrada dos recursos hídricos, inclusive com o transporte aquaviário. São fundamentos da Política Nacional de Recursos Hídricos: água, bem de uso comum do povo; recurso natural limitado, de valor econômico; prioridade para o consumo humano e dessedentação de animais; gestão, deve proporcionar uso múltiplo; bacia hidrográfica, como unidade territorial; gestão descentralizada: poder público, usuários e consumidores. Prevêem-se cobrança de usos sujeitos à outorga (pela derivação ou captação; extração do aqüífero subterrâneo; lançamento de esgotos e resíduos; por aproveitamento hidrelétrico; por outros usos que alterem o regime, a qualidade e a quantidade disponível) e cobrança pelo uso de recursos hídricos (incentivos à racionalização do uso; obtenção de recursos para aproveitamento racional da água com fins econômicos em relação com a gestão ambiental). Definem-se como componentes à execução da Política Nacional de Recursos Hídricos: diagnóstico da situação atual; consideração do uso à luz de análise alternativa devido ao crescimento demográfico: projeção da relação entre disponibilidade e demandas futuras; fixação de prioridades à outorga do direito de uso; estabelecimento de critérios para cobrança. OUTORGA DO USO DA ÁGUA Documento elaborado e expedido pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (FIRJAN), por iniciativa de sua Diretoria do Meio Ambiente, tendo como destinatários os sindicatos filiados, orienta sobre como obter a outorga do uso da água. Na apresentação, refere-se à importância da gestão dos recursos hídricos, à criação da Agência Nacional das Águas e à evolução das legislações estaduais, levando os segmentos da sociedade a se mobilizarem no sentido de conhecer e participar das decisões e dos rumos desta questão, hoje, percebida como fundamental para o desenvolvimento econômico e social das nações do planeta. Seguem-se indicações básicas relativas ao pedido e à concessão de outorga: COMO OBTER OUTORGA DO USO DA ÁGUA A utilização das águas de superfície, assim como da água subterrânea, requer uma autorização emitida por um órgão credenciado, federal ou estadual - a OUTORGA que é ferramenta que o poder público possui para UNIDADE 4 - LEIS ESPECIAIS DA POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE 60 garantir que as prioridades de uso planejadas deverão estar definidas em um Plano de Bacia e sejam efetivamente respeitadas pelos usuários. O que é outorga? É o documento que assegura ao usuário o direito de uso da água especificando o local, a fonte e a vazão no período determinado e para que finalidade. Tipos de outorga Permissão – quando a utilização da água não for de utilidade pública, ou seja, for de uso particular e a derivação for de vazão insignificante. Autorização – quando a utilização da água não for de utilidade pública, mas com vazão significante. Concessão – quando a utilização da água não for de utilidade pública. Características da outorga De captação – águas superficiais e águas subterrâneas. De lançamento – lançamento de efluentes. Como solicitar a outorga? Através de formulário próprio que contém as informações mínimas necessárias à avaliação técnica, devendo ser protocolado no órgão competente. Quem deve pedir a outorga e suas condições? - usuários de águas dominiais do estado e da federação; - captações de água superficial ou subterrânea; - lançamentos de esgotos líquidos ou gasosos com o fim de sua utilização em qualquer fonte de água; - qualquer outro tipo de uso que altere o regime, a qualidade e a quantidade da água. DIREITO AMBIENTAL 61 A quem solicitar a outorga? Águas estaduais – são águas de domínio estadual os cursos d’água que têm nascente e foz em um único Estado e as águas subterrâneas. Águas federais – são cursos d’água de domínio da União aqueles que banham dois ou mais Estados, servem de divisa entre esses Estados ou se estendem a territórios estrangeiros. Nesses casos, o pedido de outorga deverá ser feito à Agência Nacional das Águas (ANA). ESTATUTO DA CIDADE O artigo 182 da Constituição brasileira de 1988 refere-se a funções sociais da cidade, compreendendo o exercício de função social inclusive em matéria ambiental no complexo urbano. Este é um dos aspectos da função social ambiental. Função social significa que são exercidas funções no interesse da sociedade. Inúmeros institutos jurídicos e políticos, no Estatuto da Cidade, estão alinhados à Política Nacional do Meio Ambiente, sendo o Estatuto da Cidade instrumental à sua execução. Segue-se síntese do Estatuto da Cidade com vistas aos aspectos ambientais nele contidos. Artigo 182 CF/88 – A política de desenvolvimento urbano executada pelo poder público municipal, conforme diretrizes fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes. A implementação dessa política, inclusive nos seus aspectos ambientais, encontra, agora, fecundo campo de aplicação graças à Lei n. 10.257, de 10 de julho de 2001, que regulamentou os artigos 182 e 183 da Constituição brasileira de 1988. No artigo 1º, em seu parágrafo único, estabelecem-se normas de ordem pública e interesse social que regulam o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança e do bem-estar dos cidadãos bem como do equilíbrio ambiental. UNIDADE 4 - LEIS ESPECIAIS DA POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE 62 No tocante à política urbana e ao objetivo de ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana o artigo 2º especifica, entre outras, as seguintes diretrizes gerais: I – garantia do direito a cidades sustentáveis, entendido como o direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infra-estrutura urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer para as presentes e futuras gerações; II – gestão democrática por meio da participação da população e de associações representativas dos vários segmentos da comunidade na formulação, execução e acompanhamento de planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano. O inciso VI, do artigo 2º, determina que a ordenação e controle do uso do solo “visam a evitar: g) a poluição e a degradação ambiental.” O inciso XII refere-se à “proteção, preservação e recuperação do meio ambiente natural e construído do patrimônio cultural, histórico, artístico, paisagístico e arqueológico”. O inciso XIII prevê “audiência do Poder Público municipal e da população interessada nos processo de implantação de empreendimentos ou atividades com efeitos potencialmente negativos sobre o meio ambiente natural e construído”. O artigo 4º, por sua vez, define, entre outros, como instrumentos da política urbana: “III – planejamento municipal em especial; a) Zoneamento ambiental (.............) IV – institutos jurídicos e políticos: d) tombamento de imóveis ou de mobiliário urbano; e) instituição de unidades de conservação. Ainda no artigo 4º, destaca-se: “VI – estudo prévio de impacto ambiental (EIA) e estudo prévio de impacto de vizinhança (EIV).” O artigo 3º estatui que “Lei municipal definirá os empreendimentos e atividades privados ou públicos na área urbana que dependerão de elaboração de estudo prévio de impacto de vizinhança (EIV) para obter as DIREITO AMBIENTAL 63 licenças ou autorizações de construção, ampliação ou funcionamento a cargo do Pode Público municipal.” O artigo 37 estipula que“o EIV será executado de forma a contemplar os efeitos positivos e negativos do empreendimento ou atividade quanto à qualidade de vida da população residente na área e suas proximidades, incluindo a análise, no mínimo, das seguintes questões: (...): “VI – ventilação e iluminação; VII – paisagem urbana e patrimônio natural e cultural.” A elaboração do EIV não substitui a elaboração e a aprovação de estudo prévio de impacto ambiental (EIA), requeridas nos termos da legislação ambiental. (artigo 38). O Estatuto da Cidade consagra o Plano Diretor como “o instrumento básico da política de desenvolvimento e expansão urbana”. O Plano Diretor, conforme o artigo 41, é obrigatório para as cidades: (...); “IV – integrantes de áreas de especial interesse turístico.” Visando à preventividade e à defensividade do meio ambiente, o artigo 54, do Estatuto da Cidade, trata de matéria processual relevante: Artigo 54 – O artigo 40 da Lei n. 7.347 de 1985 passa a vigorar com a seguinte redação; Artigo 40 – Poderá ser ajuizada ação cautelar para os fins desta lei, objetivando, inclusive, o dano ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem urbanística ou aos bens e direitos de valor artístico, estético, turístico e paisagístico. (VETADO). UNIDADE 4 - LEIS ESPECIAIS DA POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE 64 LEI DE BIOSSEGURANÇA Um dos mais recentes e importantes diplomas legais relacionados à Política Nacional do Meio Ambiente, a Lei de Biossegurança – Lei n. 11.105, de 24 de março de 2005 – mereceu, de Fiorillo1, breves comentários que a seguir reproduzimos em parte: A Lei n. 11.105, de 24 de março de 2005, ao regulamentar os incisos II, IV e V do § 1º, do art. 225 da Constituição Federal, entendeu por bem estabelecer normas de segurança e mecanismos de fiscalização às atividades vinculadas aos denominados organismos geneticamente modificados – OGM – e seus derivados, dispondo sobre a denominada Política Nacional de Biossegurança – PNB.” “Assim, a nova Política Nacional de Biossegurança visa a preservar a diversidade, bem como a integridade do patrimônio genético do Brasil. A Lei de Biossegurança, segundo Fiorillo: Lei de Biossegurança - define critérios normativos destinados a estabelecer a incumbência constitucional do Poder Público no sentido de fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético; - fixa as regras jurídicas destinadas a controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida e o meio ambiente (art. 225, § 1º, II e V, da Constituição Federal); - dispõe sobre a preservação da diversidade e da integridade do patrimônio genético com base em critérios de adaptação aos direitos dos destinatários da norma constitucional por força do que estabelece o art. 1º, III, da CF/88 (brasileiros e estrangeiros residentes no país); - observa o uso do patrimônio genético como bem ambiental em face da ordem econômica do capitalismo (art. 1º, IV, c/c o art. 170, VI, da CF). Fiorillo indica, como um dos pontos mais importantes da Lei n. 11.105/2005, o de: DIREITO AMBIENTAL 65 (...) viabilizar no plano infraconstitucional o apoio e estímulo às empresas que invistam em pesquisa e criação de tecnologias adequadas ao Brasil (art. 218, § 4º, da CF/88) dentro da orientação constitucional voltada preponderantemente para a solução de problemas brasileiros, assim como para o desenvolvimento do sistema produtivo nacional e regional. (art. 3º e 318, da CF/88). Diretrizes da Política Nacional de Biossegurança (destacadas por Fiorillo) 1. O estímulo ao avanço científico nas áreas de Biossegurança e Biotecnologia, merecendo destaque a denominada manipulação genética ou tecnologia de ADN, que nada mais é do que a alteração de genes ou de material genético para produzir novos traços desejáveis ou para eliminar os indesejáveis, em termos de transferência artificial de genes de um organismo para outro semelhante ou inteiramente diferente; 2. A proteção à vida e à saúde humana, animal e vegetal. Daí, resta, evidente, que esta diretriz é destinada a comandar as normas de segurança e os mecanismos de fiscalização sobre a construção, o cultivo, a produção, a manipulação, o transporte, a transferência, a importação, a exportação, o armazenamento, a pesquisa, a comercialização, o consumo, a liberação no meio ambiente e o descarte de OGMs (Organismos Geneticamente Modificados) e seus derivados. 3. Observar o princípio da precaução para a proteção do meio ambiente2. A organização de normas de segurança, assim como os mecanismos de fiscalização, aplicam-se às seguintes atividades ou obras descritas no art. 1º: 1) Construção de Organismos Geneticamente Modificados e seus derivados; 2) Cultivo de Organismos Geneticamente Modificados e seus derivados; 3) Produção de Organismos Geneticamente Modificados e seus derivados; 4) Manipulação de Organismos Geneticamente Modificados e seus derivados; 5) Transporte de Organismos Geneticamente Modificados e seus derivados; 6) Transferência de Organismos Geneticamente Modificados e seus derivados; 7) Importação de Organismos Geneticamente Modificados e seus derivados; UNIDADE 4 - LEIS ESPECIAIS DA POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE 66 8) Exportação de Organismos Geneticamente Modificados e seus derivados; 9) Armazenamento de Organismos Geneticamente Modificados e seus derivados; 10) Pesquisa de Organismos Geneticamente Modificados e seus derivados; 11) Comercialização de Organismos Geneticamente Modificados e seus derivados; 12) Consumo de Organismos Geneticamente Modificados e seus derivados; 13) Liberação no Meio Ambiente de Organismos Geneticamente Modificados e seus derivados; 14) Descarte de Organismos Geneticamente Modificados e seus derivados. Pondera Fiorillo (2006, p. 210-219): “As 14 obras/atividades mencionadas no art. 1º poderão se desenvolver, desde que obedecendo às imposições constitucionais já mencionadas e às diretrizes apontadas no referido artigo (...)”. VAMOS REFLETIR No que se refere à chamada Lei das Águas, a reportagem da Revista VEJA coloca o tema da precificação (subitem 4.4). Consiste no seguinte: o mau uso ou o desperdício da água decorre, sobretudo, do que não se paga pela água, apenas pelo serviço de distribuição (...). Afirma-se, na refe-rida reportagem que quando não se paga pelo que é consumido, o resultado é o desperdício. A Lei 9.433/97 (item 4.4) ao prever a cobrança de uso sujeito à outorga e a cobrança pelo uso de recursos hídricos estaria na linha de solu-ções de problemas como os levantados pela reportagem da VEJA. Há, porém, questão que deve ser refletida e debatida: A solução estaria apenas ou fundamentalmente na precificação, como sustenta a reportagem da Veja? Ou respostas ao problema do uso racional da água teriam sua solução na dependência, sobretudo, da educação e da conscientização ambiental, sendo a precificação tão somente um dos aspectos a considerar secundariamente como importante, mas não decisivo? CONCLUINDO Recorde-se que a legislação de Direito Ambiental é composta por leis que estabelecem a Política Nacional do Meio Ambiente e os órgãos do Sistema Nacional do Meio Ambiente, com seus poderes e competências. DIREITO AMBIENTAL 67 Há instrumentos e mecanismos de e-xecução referentes a várias “linhas” dessa política e mui-tos dos seus objetivos e finalidades requerem leis especiais como as que são descritas nesta unidade. Todo esse conjunto de leis compõe a legislação de Direito Ambiental, visando à tutela geral do meio ambiente como “bem de uso comum do povo”. Na lei que regula a Política Nacional do Meio Ambiente, prevêem-se recursos ambientais que são os bens de que se compõe o “meio ambiente” e que são objeto de tutela específica – como se verá a partir da unidade seguinte. LEITURA COMPLEMENTAR FIORILLO, C. A. P. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. 7ª edição. SP: Saraiva, 2000. 510p. NAZARETH, A. B. de. Direito AmbientalBásico. 1ª edição. Rio de Janeiro: UNIVERSO, 2002. 95p. (para os temas relativos à Lei das Águas e ao Estatuto da Cidade) É HORA DE SE AVALIAR! Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de estudo, presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá- lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija as respostas no caderno e depois as envie através do nosso ambiente virtual de aprendizagem (AVA).Interaja conosco! Terminamos nossa quarta unidade de estudo. Na unidade que segue, estudaremos a natureza protetiva do Direito Ambiental. Então, vamos em frente. NOTAS 1 FIORILLO,C. A.P. Curso de direito ambiental brasileiro. 7ª edição. S.P.: Saraiva, 2000.510p. 2 Quanto ao Princípio da Precaução. (ver unidade 5 – subtítulo: Princípio da prevenção).
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