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FACULDADE SÃO VICENTE DE PÃO DE AÇÚCAR – FASVIPA CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO JOSE ERLANIO SILVA ARAUJO A GUARDA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE SOCIAL PÃO DE AÇÚCAR – ALAGOAS 2024 JOSE ERLANIO SILVA ARAUJO A GUARDA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE SOCIAL Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Direito pela Faculdade São Vicente de Pão de Açúcar – FASVIPA. Orientador: Profa. Ma. Thalita Kelle Pires Beserra. PÃO DE AÇÚCAR – ALAGOAS 2024 Ficha elaborada pela biblioteca. [Sobrenone, nome]. Nº Cutter [Título : Subtítulo(se houver)] / [Nome e sobrenome]. — [ano]. [qtd. de folhas] f. Trabalho de Conclusão de Curso (tipo de curso) – [Instituição nome completo], [Local], [ano] 1. [primeira entrada de assunto]. 2. [segunda entrada de assunto]. 3. [terceira entrada de assunto]. I. Título. CDD [número da CDD]. JOSE ERLANIO SILVA ARAUJO A GUARDA DE CRIANÇAS E ADOLECENTES EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE SOCIAL. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Direito pela Faculdade São Vicente de Pão de Açúcar – FASVIPA. Aprovada em dd/mm/aaaa. BANCA EXAMINADORA: ________________________________________________ AVALIADOR: (Titulação e nome completo) ________________________________________________ AVALIADOR: (Titulação e nome completo) _________________________________________________ ORIENTADOR: (Titulação e nome completo) DEDICATÓRIA Dedico esse trabalho em primeiro lugar a Deus, dono e senhor de toda minha trajetória, por ter me permitido completar esse ciclo e por ser razão de vitória diante de toda adversidade. Dedico ademais a minha família, base fundamental que rege a minha vida e meus filhos que são força e fé para alcançar os objetivos. Dedico este trabalho, a todos que direta ou indiretamente, contribuíram de modo profícuo para sua concretização. AGRADECIMENTOS A realização de trabalho somente foi possível graças primeiramente a Deus, pela minha vida, pela minha fé e por ser a força e o caminho que me fez superar todas as dificuldades encontradas ao longo do caminho. A minha mãe, Luzia Rodrigues, e meus irmãos, por terem me dado força, apoio, incentivo. Sou e serei eternamente grato pelo amor, cuidado e paciência, sem a ajuda de vocês não teria chegado tão longe. Aos meus filhos que foram e são minha força para ser um ser humano melhor e dedicado ao outro, obrigado por serem minha fonte eterna de amor. Agradeço a minha avó Maria(in memoria) por ser minha maior motivação no dever de agir de forma reta e justa, por ser forte e gentil, e sem dúvidas por me fazer despertar a vontade de ser melhor para os que convivem e precisam de suporte. À Faculdade São Vicente que em função de sua estrutura organizacional, vem proporcionando para os alunos das diversas áreas do conhecimento, em diversos níveis, o contato com a conjuntura educacional da nossa Alagoas, quiçá do nosso país. Aos professores, em especial a minha orientadora a Professora Thalita Kelle Pires Beserra pela disponibilidade de sempre, pelo suporte e correções e por ter me ajudado a realizar esta monografia. No mais gostaria de deixar registrado meu carinho e gratidão pelos meus colegas de caminhada, que ao longo dos anos se tornaram parte integrante nessa trajetoria e a todos de que forma direta ou indiretamente auxiliaram na construção dessa jornada, sabendo que é a educação e o esforço que nos levam a alcançar nossas metas de vida. RESUMO Com base no conceito e o conteúdo do poder familiar, o presente estudo versa sobre a adoção de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social, com deficiência de suprimento básico de garantias legais e direitos individuais do ser humano, gerando a perda de guarda, a ser imposta pelo Judiciário. Embora o Estatuto da criança e adolescente corrobore demasiadamente para a filiação biológica, o conceito de socio afetividade está ganhando mais espaço para a convivência de elos consanguíneos, configurando elementos apostos para identificar uma filiação. No campo atual ainda são diversas tentativas para manter a família de origem, com tentativas para reinserção até que se esgote qualquer possibilidade de fato ou até mesmo a integração a família extensa, e o que deveria ser um trâmite que visasse a melhor garantia da criança e adolescente que acaba por perdurar por anos, trazendo com isso uma nova problemática do tempo demasiado no sistema de acolhimento e reintegração a uma nova família. A pesquisa teve caráter qualitativo e demostrou achados importantes no campo da adoção no Brasil, como os meios utilizados pela justiça para possibilitar que a criança ou adolescente possa sair do poder do estado, com finalidade que se passe menos tempo em sua guarda, o que possibilita diversos benefícios psicossociais, mas ainda temos no sistema de adoção grandes problemáticas, de modo se faz necessário que o poder público atual conjuntamente com o judiciário para propor ações de guarda ou acolhimento familiar para melhor atender as necessidades das demandas e obter um melhor quadro do sistema de acolhimento e reintegração da criança ao convívio familiar no sistema de adoção. Palavras-chave: Adoção, Vulnerabilidade Social; Socioafetividade. ABSTRACT Based on the concept and content of family power, this study deals with the adoption of children and adolescents in situations of social vulnerability, with a lack of basic provision of legal guarantees and individual rights of the human being, generating the loss of custody, the be imposed by the Judiciary. Although the Statute of children and adolescents strongly supports biological affiliation, the concept of socio-affectivity is gaining more space for the coexistence of blood ties, configuring adjacent elements to identify affiliation. In the current field, there are still several attempts to maintain the family of origin, with attempts to reintegrate until any real possibility or even integration into the extended family is exhausted, and what should be a process that aims to better guarantee the child and adolescent that ends up lasting for years, bringing with it a new problem of too much time in the reception system and reintegration into a new family. The research was qualitative in nature and demonstrated important findings in the field of adoption in Brazil, such as the means used by the courts to allow the child or adolescent to leave the state's power, with the aim of spending less time in their custody, which allows several psychosocial benefits, but we still have major problems in the adoption system, so it is necessary for the current public authorities, together with the judiciary, to propose custody or foster care actions to better meet the needs of the demands and obtain a better picture of the system. of reception and reintegration of the child into family life in the adoption system. Keywords: Adoption, Social Vulnerability; Socioaffectivity. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 – Violência sexual das crianças e jovens no Brasil......................................16 Figura 2 – Perfil das crianças que sofreram com a destituição de poder familiar......23 LISTA DE TABELA Tabela 1 – Quantidade de casos de estupro de crianças e adolescente em Alagoas registrados por ano e por sexo...................................................................................17 Tabela 2 – Série mensal do total de crianças destituídas por faixa etária.................22 Tabela 3 – Número de crianças/adolescentes acolhidos por região, e em acolhimento família/institucional.............................................................................24 Tabela 4 – Cenário de 04/24 do Sistema nacional de adoção e acolhimento...........28LISTA DE SIGLAS FEAC Fundação Estadual de Assistência Social ECA Estatuto da Criança e do Adolescente SNA Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento ADPF Ação de Destituição do Poder Familiar IBDFAM Instituto Brasileiro de Direito da Família TCC Trabalho de conclusão de Curso CNJ Conselho Nacional de Justiça SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................ 13 2 BRASIL E OS MEANDROS DA VULNERABILIDADES SOCIAL....................... 2.1. LEGISLAÇÃO DA CRIANÇA E ADOLESCENTE NO BRASIL.................... 2.1.1. DOUTRINA DA PROTEÇÃO INTEGRAL E O PRINCÍPIO DO MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA................................................................................. 15 18 19 2.2. PERFIL FAMILIAR E PERCA DA GUARDA DA FAMILIA NATURAL.......... 2.3. MECANISMOS DE SUPORTE PARA A ADOÇÃO DE CRAINÇAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE SOCIAL..................................................... 20 20 23 3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS........................................................ 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES...................................................................... 26 27 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 29 REFERÊNCIAS ................................................................................................... 30 1 INTRODUÇÃO De acordo com dados publicados em 2021 pelo Instituto Mobilidade e Desenvolvimento Social, com base em dados de 2019, cerca de 40% das crianças brasileiras com menos de nove anos vivem na pobreza, o que significa que mais de 25 milhões de pessoas nessa faixa etária moram em lares com renda média mensal menor que R$ 436. (FUNDAÇÃO FEAC, 2021). Todavia as crianças e adolescentes não necessitam apenas de condição financeira estável para o bom desenvolvimento físico e psicológico para sua evolução como pessoa e individuo no contexto familiar e social em que está inserido; a educação, saúde, lazer, promoção e proteção a cuidados básicos, vínculo afetivo presente estão presentes no convívio saudável e seguro para o bem-estar e segurança no convívio familiar. (FUNDAÇÃO FEAC, 2021). Segundo o Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária (2006) a Constituição Brasileira de 1988 fala no Art. 226, que entidade familiar é a comunidade formada por qualquer um dos pais e seus descendentes. Estas definições dão enfoque na existência de vínculos de filiação legal, de origem natural ou adotiva, independentemente do tipo de arranjo familiar onde esta relação de parentalidade e filiação estiver inserida. Em outras palavras, não importa se a família é do tipo “nuclear”, “monoparental”, “reconstituída” ou outras. Como exemplifica o Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária (2006), uma vez constatada a necessidade do afastamento, ainda que temporário, da criança ou do adolescente de sua família de origem, o caso deve ser levado imediatamente ao Ministério Público e à autoridade judiciária, o encaminhamento para adoção requer intervenções qualificadas e condizentes com os pressupostos legais e o superior interesse da criança e do adolescente para prevenir que crianças e adolescentes passem longos períodos privados da convivência familiar, visando às medidas necessárias para a reintegração familiar e, na sua impossibilidade, o encaminhamento para adoção. De forma que, com base o que foi apresentado o que se pretende alcançar com esse estudo é descrever os processos normativos que são necessários para que ocorra a guarda de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social, seguido por análise de documental, revisão bibliográfica e método qualitativo. De forma que as etapas do estudo afim de atingir a problemática proposta são de identificar qual o perfil de família onde essas crianças e adolescentes estão inseridas no contexto de risco social; descrever os processos da guarda no poder do estado e o processo para a adoção, conjuntamente com exemplos de jurisprudências adotadas em casos reais de adoção por vulnerabilidade social. Diante disso, é necessário salientar que existe poucos estudos sobre o tema, como também a falta de conhecimento e aperfeiçoamento sobre a problemática de qual o processo para que a adoção ocorra em casos de vulnerabilidade social e suas demandas a serem atendidas no contexto do direito de família para que este seja assertivo e traga a convivência harmônica entre ambas as partes envolvidas. O estudo trouxe cinco capítulos, sendo o primeiro Brasil e os meandros da vulnerabilidade social que traz o contexto em que as crianças estão expostas e quais são as situações de retirada daquele domicilio; o segundo capitulo é sobre a Legislação da criança e adolescente no Brasil, o terceiro trazendo as doutrinas da proteção integral e o princípio do melhor interesse; o quarto capitulo apresenta qual é o perfil familiar atingido e os procedimentos para a perca da guarda da família natural para o estado; e, por fim, o quinto capítulo explorando acerca dos mecanismos que dão suporte para a adoção de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social. 2. BRASIL E OS MEANDROS DA VULNERABILIDADES SOCIAL Um dos desafios mais enfrentados por aqueles que buscam promover a transformação social é sem dúvida, a quebra dos ciclos de vulnerabilidade, ciclos esses que tendem a se perpetuar ao longo de gerações, tornando-se uma armadilha difícil de escapar; fatores como negligência, maus tratos, abuso sexual, psicológicos, educacionais, cuidado de higiene e direitos básicos devem ser obtidos por qualquer ser humano, ainda mais a crianças e adolescente que seguem prioridade em qualquer campo, como dispõe o artigo 227, da Constituição Federal de 1988 estabelece a prerrogativa de prioridade à criança e ao adolescente. Desde seu início, em 13 de julho de 1990, quando foi aprovada a Lei nº 8.069, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), estabelece as diretrizes de proteção integral à criança e ao adolescente e dispõe sobre os direitos fundamentais que devem ser assegurados pela família, sociedade e Estado. (Gesuas, 2024). Devendo o estado intervir a atender a necessidade do menor, como disposto no art. 98, do ECA, que em situação de risco, é utilizado para colaborar com a criança ou adolescente que está com seus direitos fundamentais violados ou ameaçados de lesão. Dentre as situações mais comuns está o cenário da violência sexual, que para melhor entendimento sobre a importância de enfrentar a violência sexual contra crianças e adolescentes, é essencial conhecer o contexto e a dimensão dessa questão. O Brasil carece de dados sobre violência sexual de crianças e adolescentes. Mas sabemos que existem fatores de vulnerabilidade que incidem diretamente sobre o problema, aumentando os casos de violação de direitos. (Childhood, 2020). De modo que quando algum dos fatores que regem o convívio familiar de forma estável entram em conflito, esse “lar” poderá se tornar um abrigo para violência, para qualquer morador, em especial as crianças e adolescentes que se encontram à mercê da situação, de modo que esta fica imersa em situação de vulnerabilidade social, um modus que vai em contramão do que deve ser posto em prática, como disposto no ECA; artº4 e artº5: Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldadee opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais. Figura 1- Violência sexual das crianças e jovens no Brasil, segundo o Ministério da Saúde: Fonte: Childhood Segundo a Visão Mundial; (2017) dentre os principais fatores de violência estão pobreza, exclusão, desigualdade social, questões ligadas à raça, gênero e etnia. A falta de conhecimento sobre os direitos da infância e adolescência também contribui para o aumento das violações, o Estatuto da Criança e do Adolescente prevê direitos básicos para crianças e adolescentes, tais como dignidade, respeito e convivência familiar. Em Alagoas, de 2017 a 2021, foram registrados 2.308 casos de violência sexual contra crianças de 0 a 14 anos, o que representa 65,4% do total de notificações de abusos sexuais em Alagoas neste período (3.527). De acordo com dados coletados pela Agência Tatu junto à Secretaria de Estado da Saúde de Alagoas (Sesau), do total de casos registrados, 2.021 (87,5%) vitimaram meninas, enquanto 287 foram cometidos contra meninos (12,5%). Tabela 1. Quantidade de casos de estupro de crianças e adolescente em Alagoas registrados por ano e por sexo. De acordo com Torres (2023) o abuso sexual infantil, representado aqui pelo estupro, é considerado importante fator de risco para uma série de problemas na infância e vida adulta, gerando impactos físicos, emocionais e sobrecargas dos sistemas e serviços de saúde. Os danos, lesões, maus tratos e transtornos causados pela violência na infância afetam o desenvolvimento, segurança e bem estar, de modo que tendem a se repetir em sua grande parte, tendo em vista que a maioria acontece em suas próprias casas. Segundo Azevedo e Guerra “a negligência se configura quando os pais (ou responsáveis) falham em termos de atendimento às necessidades dos seus filhos (alimentação, vestir, etc.) e quando tal falha não é o resultado das condições de vida além do seu controle”. A negligência assume formas diversas, que podem compreender descasos: com a saúde da criança, por exemplo ao deixar de vaciná-la; com a sua higiene; com a sua educação, descumprindo o dever de encaminhá-la ao ensino obrigatório; com a sua supervisão, deixando-a sozinha e sujeita a riscos; com a sua alimentação; com o vestuário; dentre outras. Pode-se dizer que o abandono, deixando a criança à própria sorte, e por conseguinte, em situação de extrema vulnerabilidade, seria a forma mais grave de negligência. (PLANO DE DEFESA DA CRIANÇA E ADOLESCENTE; 2006). 2.1. LEGISLAÇÃO DA CRIANÇA E ADOLESCENTE NO BRASIL A legislação brasileira demostra clara primazia no que se refere aos direitos e garantias fundamentais das crianças e adolescentes, tendo uma lei própria afim de atender as suas necessidades, dispondo do ECA (Estatuto da Criança e adolescente) para permear todos os possíveis campos de resguardo, conforme disposto abaixo: “Art. 3º A criança e ao adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade” Quando a família não garante o direito básico das crianças o estado tem o dever de ingressar com medidas que assim o façam, conforme previsto no Estatuto da criança e do adolescente (ECA): Art. 18-B. Os pais, os integrantes da família ampliada, os responsáveis, os agentes públicos executores de medidas socioeducativas ou qualquer pessoa encarregada de cuidar de crianças e de adolescentes, tratá-los, educá-los ou protegê-los que utilizarem castigo físico ou tratamento cruel ou degradante como formas de correção, disciplina, educação ou qualquer outro pretexto estarão sujeitos, sem prejuízo de outras sanções cabíveis, às seguintes medidas, que serão aplicadas de acordo com a gravidade do caso: (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014) I - encaminhamento a programa oficial ou comunitário d e proteção à família; (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014) II - encaminhamento a tratamento psicológico ou psiquiátrico; (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014) III - encaminhamento a cursos ou programas de orientação; (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014) IV - obrigação de encaminhar a criança a tratamento especializado; (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014) V - advertência. (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014) VI - garantia de tratamento de saúde especializado à vítima. (Incluído pela Lei nº 14.344, de 2022) Vigência Parágrafo único. As medidas previstas neste artigo serão aplicadas pelo Conselho Tutelar, sem prejuízo de outras providências legais. (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014) 2.1.1. DOUTRINA DA PROTEÇÃO INTEGRAL E O PRINCÍPIO DO MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA O princípio do melhor interesse da criança aparece desde a Constituição Federal de 1988, no art.227, até o artigo 3º e 4º do ECA (Estatuto da Criança e adolescente) mencionados nesse estudo, esse princípio anda conjuntamente com a doutrina da proteção integral imposta no art. 1º, do ECA, estabelecendo assim proteção integral à criança e ao adolescente, a quem são assegurados todos os direitos fundamentais da pessoa humana (art. 3º), independentemente da sua situação familiar. Em verdade, o art. 227 representa o metaprincípio da prioridade absoluta dos direitos da criança e do adolescente, tendo como destinatários da norma a família, a sociedade e o Estado. Pretende, pois, que a família se responsabilize pela manutenção da integridade física e psíquica, a sociedade pela convivência coletiva harmônica, e o Estado pelo constante incentivo à criação de políticas públicas. Trata-se de uma responsabilidade que, para ser realizada, necessita de uma integração, de um conjunto devidamente articulado de políticas públicas. Essa competência difusa, que responsabiliza uma diversidade de agentes pela promoção da política de atendimento. (Rossato;2024) Rossato (2024) versa que , segundo o § 7.º do art. 227 da CF, no atendimento dos direitos da criança e do adolescente deve-se levar em consideração o disposto no art. 204 do mesmo diploma, que trata da assistência social. Não se pode perder de vista que o ponto de referência é uma estrutura maior chamada ordem social, em que está inserida a seguridade social, que compreende um conjunto de ações de iniciativas dos poderes públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social. Nesse contexto, destaca-se que a assistência social deve ser prestada independentemente de contribuição à seguridade social, e é justamente essa parte da estrutura da ordem social que tem como um de seus objetivos a proteção e o amparo à criança e ao adolescente com absoluta prioridade. Diante o exposto, Rossato (2024) demostra que a importância da aplicação deste princípio se dá diante do princípio da intervenção precoce, pois as autoridades são constituídas agir tão logo seja a situação conhecida. Desse modo, sendo de conhecimento dos conselheiros tutelares a existência de uma situação de risco, deverão adotar as providências necessárias, a fim de evitar que o dano se consuma. A título de exemplo, apesar de ser o encaminhamento a acolhimento institucional tão somente possível através de determinação do juiz da Vara da Infância e da Juventude, a lei permite que a acolhida se dê, em caráter excepcional e de urgência, mesmo sem prévia determinação judicial (art. 93 do Estatuto). De fato, o atendimento atemporal poderá importar em situação irreversível. De forma que os tribunais tem apresentado decisões fundamentadas no princípio do melhor interesse dos filhos, como no julgado do Tribunal de Justiça de Alagoas: DIREITO CONSTITUCIONAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO EM AUTOS DE APLICAÇÃO DE MEDIDA DE PROTEÇÃO. GUARDA DE MENOR. DECISÃO DE PRIMEIRO GRAU QUE DETERMINOU A MANUTENÇÃO DO ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL DA MENOR DE IDADE NO LAR DE AMPARO À CRIANÇA PARA ADOÇÃOLACA. RECURSO INTERPOSTO PELA AVÓ DA INFANTE. PEDIDO DE DETERMINAÇÃO DO DESACOLHIMENTO DA MENOR, PARA REINSERIR A CRIANÇA SOB A SUA GUARDA. NÃO ACOLHIDO. CONTEX TO FAMILIAR DISFUNCIONAL. EVIDÊNCIAS DE PRÁTICA DE NEGLIGÊNCIA PELA PARTE RECORRENTE NO TRATAMENTO COM OS FILHOS. EM RAZÃO DA GRAVIDADE DOS COMPORTAMENTOS IMPUTADOS À AVÓ MATERNA, ORA AGRAVANTE, E AOS POSSÍVEIS RISCOS DE PREJUÍZOS FÍSICOS E PSICOSSOCIAIS DA INFANTE, A MANUTENÇÃO PROVISÓRIA DO ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL FIXADO EM PRIMEIRO GRAU É A MEDIDA QUE SE IMPÕE, A FIM DE ASSEGURAR, DE FORMA IDÔNEA, O MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA E A ASSEGURAÇÃO INTEGRAL DE SEU BEM ESTAR. INTELIGÊNCIA DO ART. 19, DO ECA, E DO ART. 227, DA CF/88. MANUTENÇÃO DA DECISÃO RECORRIDA. CONFIRMAÇÃO, NO MÉRITO, DA DECISÃO QUE INDEFERIU O PEDIDO DE EFEITO SUSPENSIVO. RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO. UNANIMIDADE. (Número do Processo: 0801141-24.2022.8.02.0000; Relator (a): Juiz Conv. Hélio Pinheiro Pinto; Comarca: Foro Unificado; Órgão julgador: 2ª Câmara Cível; Data do julgamento: 04/08/2022; Data de registro: 05/08/2022) De modo que Rossato (2024) destaca que a proteção integral assegura um mínimo às crianças e aos adolescentes sem o qual eles não poderiam sobreviver, garantindo-lhes os mesmos direitos fundamentais dos adultos, e um plus, conforme, aliás, encontra-se previsto no art. 3.º do Estatuto. Outro ponto que evidencia o metaprincípio da proteção integral é o art. 98 do Estatuto. Trata-se de dispositivo que determina a tutela de crianças e adolescentes em situação de risco de violação ou privação de seus direitos. Regulam-se medidas de proteção sempre que direitos reconhecidos no Estatuto forem ameaçados ou violados por: a) ação ou omissão da sociedade ou do Estado (como, por exemplo, na oferta deficiente de vagas na rede ensino); b) falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável (como, por exemplo, em situações de abandono material ou intelectual); e c) razão da conduta da criança ou do adolescente (como, por exemplo, pela prática de atos infracionais). 2.2. PERFIL FAMILIAR E PERCA DA GUARDA DA FAMILIA NATURAL. O poder familiar é concedido aos pais na presunção de que estes o desempenharão a contento, visando ao melhor interesse dos filhos. Entre os seus erros e acertos, os pais usualmente intentam proteger os filhos menores, zelando pelos seus direitos fundamentais. Mas a prática revela que alguns genitores são incapazes de garantir os cuidados básicos para o desenvolvimento de suas crianças e adolescentes. Por vezes, estes detentores do poder familiar são justamente os grandes algozes dos filhos menores, violando direitos fundamentais e expondo a prole a risco. Segundo Diniz;(2023) configura delito de abuso de incapazes valer-se, em proveito próprio ou alheio, de necessidade, paixão ou inexperiência de menor, ou de alienação ou debilidade mental de outrem, induzindo qualquer deles à prática de ato suscetível de produzir efeito jurídico, em prejuízo próprio ou de terceiros (CP, art. 173); a perda ou suspensão do poder familiar, e consequente colocação do menor em família substituta ou tutela, comprovada uma das causas previstas nos arts. 1.637 e 1.638 do Código Civil e no art. 24 da Lei n. 8.069/90 (Lei n. 8.069/90, arts. 161, § 1º, 166, §§ 1º a 7º, e CC, art. 1.734), decretada por sentença, que deverá ser averbada à margem do registro de nascimento da criança e do adolescente (Lei n. 8.069/90, art. 163 e parágrafo único, acrescentado pela Lei n. 12.010/2009) Tanto o Código Civil quanto o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) preveem, para tais hipóteses, a destituição do poder familiar, elencando as condutas dos genitores que podem resultar na extinção da autoridade parental por decisão judicial, existem os princípios gerais que aplicam a todos os ramos de direito, exemplos: o princípio da dignidade da pessoa humana e o princípio da igualdade, bem como há princípios especiais que são próprios das relações familiares e devem servir de norte para apreciar qualquer relação que envolva direito de família, tais como: princípio da afetividade e o princípio do melhor interesse da criança. (Dias, 2009). Segundo Dias (2009), os laços de afeto derivam da convivência familiar e não do sangue. Por esta razão, a posse do estado de um filho nada mais é que o reconhecimento jurídico do afeto, com o claro objetivo de garantir a felicidade, como um direito a ser alcançado. Gagliano e Filho também afirmam que: [...] interpretar o Direito de Família, nesse panorama de observância do princípio da afetividade, significa, em especial [...], compreender as partes envolvidas no cenário posto sob o crivo judicial, respeitando as diferenças e valorizando, acima de tudo, os laços de afeto que unem os seus membros. (2017, p. 1128). Seja qual foi o motivo que ensejou a intervenção estatal no âmbito familiar é priorizada a manutenção dos filhos junto a eles. Os filhos aguardam abrigados para que os pais tenham a chance de receberem a devida orientação por intermédio de equipe técnica interprofissional a serviço da Justiça da Infância e da Juventude. Porém são mais do que precários os serviços e programas oficiais de proteção, apoio e promoção para que os filhos fiquem em suas famílias de origem. Inclusive é atribuído ao Conselho Tutelar o dever de se esvair todas as possibilidades de manutenção da criança ou do adolescente junto à família natural, para só então representar ao Ministério Público para que promova a ação de perda ou suspensão do poder familiar (ECA, 136, XI). Todavia segundo Dias (2019), o fato é que, não há como delegar a conselheiros tutelares a tarefa de tentar manter os filhos, em situação de vulnerabilidade, junto à família. O encargo cabe ser assumido por equipes técnicas mediante a realização de estudos psicossociais, com a apresentação de laudos e relatório. E, sem estes subsídios, certamente o Ministério Público não terá como promover a ação de perda ou suspensão do poder familiar, pela só representação encaminhada pelo Conselho Tutelar, quando o ministério público assume o poder de proteção, o mesmo deve se respaldar por equipes técnicas mediante a realização de estudos psicossociais, juntamente com apresentação de laudos e relatório. De acordo com o ECA: Art. 28. A colocação em família substituta far-se-á mediante guarda, tutela ou adoção, independentemente da situação jurídica da criança ou adolescente, nos termos desta Lei. (BRASIL, 2017-C). § 2 o Tratando-se de maior de 12 (doze) anos de idade, será necessário seu consentimento, colhido em audiência. § 3 o Na apreciação do pedido levar-se-á em conta o grau de parentesco e a relação de afinidade ou de afetividade, a fim de evitar ou minorar as consequências decorrentes da medida. § 4 o Os grupos de irmãos serão colocados sob adoção, tutela ou guarda da mesma família substituta, ressalvada a comprovada existência de risco de abuso ou outra situação que justifique plenamente a excepcionalidade de solução diversa, procurando-se, em qualquer caso, evitar o rompimento definitivo dos vínculos fraternais. De acordo com Souza; (2019) Constatando-se que a família não exerce a sua função social de proteção dos filhos menores, é imperioso resguardar em primeiro lugar o interesse da criança e do adolescente. A família não pode ser protegida por si mesma, já que se trata de um instrumento para a promoção das dignidades individuais dos seus membros. Quando esta função não é atendida, o Estado tem o dever de proteger as crianças e adolescentes. O que não se pode é tratar a criança como objeto, aguardando que os pais possam e queiram exercer adequadamente o poder familiar sobre ela, como se a certidão de nascimento representasse uma certidão de propriedade. Importante trazer à baila as informações geradas pelo Sistema Nacional de Adoção - SNA (2021), onde foram encontrados um universo de 27.456 crianças com processos de destituição, finalizados ou não, registrados no SNA. Tabela 2 - Série mensal do total de crianças destituídas por faixa etária. Fonte: Conselho Nacional de Justiça. SNA, 2021O Conselho Nacional de Justiça (2021) indica que pertencer às faixas etárias mais novas; possuir cor branca; não apresentar deficiência física e estar na faixa etária de 6 a 12 anos; ter reiteração no acolhimento; pertencer à região Sul; e ter sido acolhido pelos motivos de abandono dos pais ou responsáveis, pais ou responsáveis dependentes químicos/ alcoolistas, abuso físico ou psicológico ou por motivo não especificado associam-se a uma maior celeridade e a uma maior chance de ocorrência de processos de destituição do poder familiar. 2.3. MECANISMOS DE SUPORTE PARA A ADOÇÃO DE CRIANÇAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE SOCIAL. Como descreve o Plano de defesa da criança e adolescente, (2006); as situações de apenas inseguridade financeira não são levadas em conta como fator de perca do pátrio poder da família, estes devem ser inseridos em programas de assistência a família e seguridade social, mas quando as garantias que regem a seguridade da criança naquele núcleo familiar se encontra ameaçado ou nulo, é dever da sociedade e do estado intervir para que a mesma possa reestabelecer seus direitos fundamentais, essas situações que envolvem risco estão relacionadas a negligência, falta de efetividade, abandono e violência doméstica em sua maioria. Figura 2 - Percentuais de crianças com situação de destituição de poder redução entre março e julho de 2020. Fonte: Conselho Nacional de Justiça. SNA, 2021. A Ação de Destituição do Poder Familiar (ADPF), que deveria se encerrar em 120 dias (art. 163, ECA), acaba se arrastando por anos (IBDFAM, 2017, p.8), resultando num prolongamento da instabilidade jurídica e fática da criança e do adolescente. Mesmo após proferida a sentença, a celeuma se estende aos Tribunais, justamente para discutir se está configurada alguma das hipóteses legais para a destituição e se foram esgotados os meios para a manutenção do menor com os pais biológicos. “Segundo o Cadastro Nacional de Crianças Acolhidas, do Conselho Nacional de Justiça, existem hoje 47.925 crianças, adolescentes e jovens em regime de acolhimento, sendo mais de quarenta mil indivíduos menores”. (Souza; 2019). Segundo versa a temática, os tribunais tendem a decidir pela prioridade da criança, até mesmo em detrimento dos pais, como mostra a súmula a seguir: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE DESTITUIÇÃO DO PODER FAMILIAR C/C PEDIDO DE ADOAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE DE REINSERÇÃO DA MENOR NA FAMÍLIA NATURAL. INCAPACIDADE DA GENITORA. INAPTIDÃO PARA O EXERCÍCIO DA FUNÇÃO PARENTAL DE FORMA RESPONSÁVEL. REITERADAS SITUAÇÕES DE ABANDONO. AVÓ MATERNA QUE TAMBÉM NÃO POSSUI CONDIÇÕES DE EXERCER PODER FAMILIAR. COLOCAÇÃO EM FAMÍLIA SUBSTITUTA EM OBEDIÊNCIA AO PRINCÍPIO DO MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA. INTERESSADOS PELA ADOÇÃO QUE TAMBÉM SÃO PARENTES. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO CONHECIDO. PROVIMENTO NEGADO. (Número do Processo: 0700251-40.2018.8.02.0090; Relator (a): Desa. Elisabeth Carvalho Nascimento; Comarca: 28ª Vara Infância e Juventude da Capital; Órgão julgador: 2ª Câmara Cível; Data do julgamento: 29/11/2023; Data de registro: 29/11/2023) Cerca de 32.791 (96%) crianças e adolescentes estão em acolhimento institucional e 1.366 (4%) em acolhimento familiar, o acolhimento familiar continua desconhecido por magistrados, assistentes sociais e psicólogos e a sociedade em geral, embora seja preferencial por lei há 10 anos, em relação ao acolhimento institucional. A maior parte desses acolhimentos ocorreram em estados da região Sudeste do país, concentrando 49% das crianças e adolescentes em acolhimento institucional e 35,5% das crianças e adolescentes em acolhimento familiar. (Instituto geração amanhã, 2020). A tabela 3 - Número de crianças/adolescentes acolhidos por região, e em acolhimento família/institucional. O tempo é prejudicial às crianças acolhidas porque, a medida que significa uma infância sem convivência no seio familiar, também lhes retira gradativamente a chance de serem adotadas, as crianças perdem significativamente as chances de serem adotadas a partir dos sete anos de idade. Exemplificativamente, aos três anos estima-se que uma criança se enquadre no perfil de mais de 70% dos pretendentes cadastrados. Atingidos os 11 anos de idade, a criança passa a se enquadrar no perfil de apenas 2,75% dos pretendentes à adoção, podendo resultar num acolhimento prolongado, em flagrante violação ao direito fundamental à convivência familiar. (Souza, 2019). A Lei n. 12.010/2009 instituiu atividades de estímulo a adoções “tardias”, inter-raciais, de grupos de irmãos e de outras chamadas de “necessárias”, enquanto a prioridade de tramitação de algumas adoções foi garantida pela Lei n. 12.955/2014. Outro exemplo são as campanhas de esclarecimento sobre a entrega voluntária de crianças em adoção. Mais recentemente, a Lei n. 13.509/2017 instituiu novos prazos para a destituição do poder familiar e legitimou os programas de apadrinhamento afetivo. (Nakamura, 2018). Nesse sentido, o acolhimento de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade é um campo em plena transformação e reordenamento. Transformações que se encontram tanto no campo das políticas macrossociais, como das práticas cotidianas desenvolvidas pelas equipes multiprofissionais de técnicos de secretarias municipais, de instituições de acolhimento ou do Poder Judiciário, ao atuarem dentro do Sistema de Garantia de Direitos de seus municípios. Por isso mesmo, faz-se necessária uma ampla discussão do tema, o que estimula a produção de conhecimento em diferentes áreas de estudo (Serviço Social, Psicologia, Direito, dentre outras) sobre os diversos aspectos envolvidos no acolhimento familiar. (Ministério Público do Paraná, 2018). 3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Trata-se de trabalho de conclusão de curso, na qual se caracteriza por ser um estudo que tem como finalidade sintetizar resultados obtidos em pesquisas sobre o tema e problemática a ser trabalhada de maneira sistemática e ordenada. Sendo elaborado por uma série de etapas, iniciando com a elaboração da questão norteadora, busca da amostragem na literatura, coleta de dados, análise crítica dos artigos, discussão e síntese do conhecimento com objetivo de identificar qual o perfil de família onde essas crianças e jovens estão inseridas no contexto de risco social e descrever os processos integrantes no direito de família a adoção assertiva. Os critérios de inclusão avaliados foram artigos com lapso temporal entre os anos de 2013 a 2023, publicados online nos últimos 10 anos, artigos na integra em revistas cientificas na área, nos idiomas português, espanhol e inglês e que retratassem a temática proposta, sites do Governo Federal, Justiça Federal e Fundações, como também a Jurisprudência adotada. Já como critérios de exclusão se tem, artigos que não atendam o lapso temporal previamente estabelecido, artigos que apresentam duplicidade na base de dados, que não respondam a questão norteadora da pesquisa, como também os trabalhos de conclusão de curso (TCC), revisões integrativas, dissertações de mestrado, doutorado e monografia. Os artigos e material colhidos através de pesquisa bibliográfica que para Gil (2002, p. 44), a pesquisa bibliográfica “[...] é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos”, de maneira que ela consiste em um conjunto de informações e dados contidos em documentos impressos, artigos, dissertações, livros publicados; os textos e as informações são fontes para a base teórica da pesquisa e na investigação dos estudos dos textos que possam colaborar no desenvolvimento da pesquisa, tendo seu método de pesquisa qualitativa, afim de organizar e analisar os dados obtidos sobre a problemática estabelecida no contexto do direito de família para a confecção da redação final da pesquisa, sendo abordados com suas citações na fundamentação teórica, juntamente com sua base de discussões nos resultados obtidos. 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES De acordo com dados do Childhood (2019) 70% das pessoas estupradas no Brasil são crianças e adolescentes,sendo 51% com idade entre 1 a 5 anos em grande parte do sexo feminino com 84,9% e masculino 15,1%. As agressões ocorrem 62% das vezes nas suas casas, em vista que 64,8% são conhecidos ou familiares das vítimas, o que torna tudo ainda mais doloroso e difícil de ser reportado a autoridades, como demostra o quadro abaixo. É cristalino que o responsável que se omite propositalmente quando em situações em que podia e deveria agir para impedir lesão aos direitos fundamentais do filho, seja ele dano físico ou moral, comete crime de omissão ou não execução, como também responde pelo delito imposto pelo corresponsável. De modo que não se deve diminuir ou menosprezar o comportamento de omissão por parte do pai ou mãe que seja conivente com dolo ao filho, devendo este ser o primeiro a coibir ações que vão de encontro com os direitos fundamentais do seu filho, mesmo quando isso significa se opor e denunciar as atitudes ao companheiro ou cônjuge. Atitudes como essa são vistas como predominantes para uma retirada de guarda, para que dessa forma, possa-se ter uma investigação mais detalhada afim de garantir que o bem estar da criança ou adolescente esteja em primeiro plano, até menos dos próprios pais. A retirada da criança e adolescente do convívio familiar só é dada quando se esgota todas as possibilidades de reinserção daquela família em um ambiente que propicie um desenvolvimento físico e mental apropriado, crianças com situação de vulnerabilidade social devem ser acompanhados pelo serviço social afim de que se possa garantir direito a educação, moradia, lazer, fator socioafetivo e psicológico naquele lugar, quando não há mais chances de convivência familiar favorável, o poder público precisa intervir, junto com o judiciário para antepor em face do menor em situação de desfavorecimento. Com isso o quadro abaixo aponta dados do CNJ a respeito do cenário nacional acerca do sistema nacional de adoção e acolhimento: Tabela 4. Cenário de abril de 2024 do Sistema nacional de adoção e acolhimento. Fonte: CNJ 4. 2 Discussão: De acordo com o que fora apresentado anteriormente, percebe-se que o cenário atual abrange paralelos claros em vista da primazia do sistema de adoção. Se por um lado temos um grande número de pessoas com intenção de adotar, por outro lado, o quantitativo de crianças que ainda permanecem sob a guarda do estado ainda é demasiadamente grande. O sistema passa por diversas problemáticas que acabam deixando mais tempo que o devido, em vista da longa permanência nas instituições de acolhimento, sendo que essa situação ainda tem por agravante que em 97% dos casos elas estão em instituições de acolhimento, contra a taxa irrisória de 3% que aguardam em acolhimento familiar, o que torna ainda mais desgastante esse tempo, estabelecendo assim uma perca de identidade, memória familiar, autoestima, distúrbios sociais e psicológicos ao longo de toda a vida. Fato também a ser considerado é que na medida que o tempo avança, e não e realizado o avanço no processo de adoção, diminuem as chances de conseguir ser adotado por outra família, sabendo que quanto menor e a idade da criança, maior probabilidade de que ele venha a ser aceito por outra família, o tempo sempre está a desfavorecer a criança acolhida, e sistema precisa encontrar formas que garantam que o melhor está sendo feito com principio de proteger os direitos e garantias fundamentais para aqueles que ainda não tem poder para sua própria segurança. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente estudo teve por base de pesquisa a adoção de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social, estabelecendo os fatores e processos de destituição do poder natural do direito de família para a criança, em vista do melhor suprimento de garantias fundamentais em razão da seguridade da criança. Face essa que é colocada em primazia até em detrimento dos pais, como dever do estado de zelar pelo bem estar daqueles com maior vulnerabilidade, enquanto de fato as crianças em caráter especial, pois, para que ocorra a guarda de crianças e adolescentes que estão em guarda da família natural e necessário que haja alguma situação de vulnerabilidade social, sendo este um cenário problemático até mesmo na atualidade; pois se de um lado temos um grande número de crianças e adolescentes aguardando serem adotados, temos na outra ponta uma grande quantidade de pessoas aptas na fila para a adoção, perdurando esse tramite por anos, sendo institucionalizadas sem o direito de crescer com uma família. De modo que o estudo teve como escopo os dados e estudos bibliográficos afim de trazer para o debate um tema conhecido, mas pouco discutido, o que se torna ainda mais importante, pois deve se levar em conta que as pessoas acolhidas nesse sistema já sofreram destituição da sua família, não devendo o estado promover e ademais perdurar mais sofrimento psicológico e afetivo. O sistema precisa sofrer alterações em sua estrutura afim de garantir uma melhor dinâmica no procedimento de adoção, para que se consiga mitigar impactos na vida dessas crianças e adolescentes. Conclui-se que havendo um sistema integrado e uma melhor participação do poder público, com incentivos ao acolhimento familiar em prioridade, maior velocidade nos trâmites legais pode-se diminuir o tempo de espera na fila de adoção, de modo a atender as necessidades das crianças e adolescentes como também das famílias pretendentes disponíveis, mantendo todos os vieses legais e de segurança, com o intuito de que a criança tenha uma vida com vínculos familiares profundos, podendo estabelecer uma nova rotina dentro da atual família, conseguindo de fato estabelecer laços afetivos e sociais duradouros. REFERÊNCIAS AGÊNCIA TATU. Alagoas registra 2.308 casos de abuso sexual infantil em cinco anos. Alagoas. Junho. 2022. Disponível em: Alagoas registra 2.308 casos de abuso sexual infantil em cinco anos | Agência Tatu de Jornalismo de Dados (agenciatatu.com.br). Acesso em 30 mai. 2024. BIAVA. P.F; MARCOMIM. I. 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