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Gestão de Crises no Setor Público Liderança Enap, 2024 Fundação Escola Nacional de Administração Pública Diretoria de Desenvolvimento Profissional SAIS - Área 2-A - 70610-900 — Brasília, DF Fundação Escola Nacional de Administração Pública Diretoria de Desenvolvimento Profissional Conteudista/s Edson Rezende de Souza (Conteudista, 2024). Módulo 1: Conceitos de Gestão de Crises.............................................................. 6 Unidade 1: Conceitos iniciais e tipos de crises ..................................................... 6 1.1. Definições sobre Crise .............................................................................................. 6 1.2. Tipos de Crise (financeira, reputacional, tecnológica, etc.) .................................. 8 1.3. Níveis de gravidade das crises ............................................................................... 11 1.4. Análise de caso prático para o desenvolvimento da capacidade analítica ...... 13 Unidade 2: A importância de gerenciar os vários tipos de crises ....................16 2.1. Impactos das crises no setor público .................................................................... 16 2.2 Benefícios da gestão de crises ................................................................................ 17 2.3 Realizando a análise de exemplos reais de crises no setor público .................. 20 Unidade 3: Princípios aplicáveis à gestão de crises ...........................................26 3.1. Transparência .......................................................................................................... 26 3.2. Responsabilidade .................................................................................................... 29 3.3. Proatividade ............................................................................................................. 34 3.4. Comunicação eficaz ................................................................................................. 37 3.5. Aprendendo a transformar erros em oportunidades ....................................... 40 Unidade 4: Pressupostos e condições para implementar a gestão de crises ....44 4.1 Cultura organizacional favorável ............................................................................ 44 4.2 Liderança comprometida ........................................................................................ 46 4.3 Recursos humanos e financeiros adequados ....................................................... 49 4.4 Planos de contingência bem estruturados ........................................................... 52 4.5 Desenvolvendo a liderança inspiradora ................................................................ 55 Referências ............................................................................................................. 59 Módulo 2: Metodologias de Gestão de Crises no setor público ........................61 UNIDADE 1 - ANÁLISE DE CENÁRIS ....................................................................... 61 1.1 Contextos interno e externo à organização .......................................................... 61 1.2 Crises já existentes e crises em potencial ............................................................. 66 1.3 Níveis de criticidade ................................................................................................. 72 1.4 Desenvolvendo o pensamento estratégico diante de situações de crise na prática .............................................................................................................................. 77 Sumário 4Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública UNIDADE 2 - PLANEJAMENTO ............................................................................... 84 2.1. Ferramentas de gestão de crises .......................................................................... 84 2.2 Mapeamento de crises existentes e potenciais .................................................... 89 2.3 Como ser proativo em situações de crise ............................................................. 95 UNIDADE 3 - COMUNICAÇÃO .............................................................................. 100 3.1 O papel da comunicação no enfrentamento de crises ...................................... 100 3.2 Como comunicar para prevenir e administrar crises ....................................... 104 3.3 Praticando a comunicação com diversos públicos ............................................ 107 Referências ........................................................................................................... 112 Módulo 3: Gerenciando uma Crise ..................................................................... 115 Unidade 1 - Entendendo a crise: identificando causas e consequências ......115 1.1 Coleta de informações e análise da situação ...................................................... 115 1.2 Identificação das causas raízes da crise .............................................................. 122 1.3 Avaliação do impacto da crise na organização e em seus stakeholders .......... 125 1.4 Explorando a capacidade de análise crítica na identificação de causas e efeitos de crises no setor público ............................................................................................ 128 Unidade 2 - Enfrentando a crise ......................................................................... 134 2.1 Definindo ações de prevenção ou enfrentamento da crise .............................. 134 2.2 Definindo responsabilidades ................................................................................ 139 2.3 Elaborando um plano de contingência ................................................................ 142 2.4 Definindo protocolo da crise ................................................................................. 146 2.5 Como aplicar a liderança adaptativa em situações de crise na prática ........... 150 Unidade 3 - Monitoramento da execução do plano .........................................156 3.2 Identificação de desvios e ajustes no plano ........................................................ 156 3.3 Avaliação da efetividade das ações ...................................................................... 159 3.4 Explorando a habilidade de Atenção aos Detalhes ............................................ 167 Unidade 4 – Estudo de Casos .............................................................................. 173 4.1 Casos bem-sucedidos ............................................................................................ 173 4.2 Casos malsucedidos ............................................................................................... 178 4.3 Atividade prática através de estudos de caso ..................................................... 182 Referências ........................................................................................................... 189 Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 5 Módulo 4: Lições aprendidas em situações de gestão de crises ....................192 Unidade 1 - Aprendizagem pós-crise ................................................................. 192 1.1 Reflexão sobre as experiências vividas durante o curso ................................... 192 1.2 Identificação de pontos fortes e fracos ............................................................... 194 1.3 Definição de planos de desenvolvimento individual ......................................... 199 1.4 Explorando, na prática, lições aprendidas após uma crise ............................... 203 Unidade 2 - Crise como oportunidade ............................................................... 209 2.1 Transformação das crises em oportunidades de aprendizado e crescimento ... 209 2.2 Implementação de mudanças positivas na organização .................................. 213 2.3 Fortalecimento da cultura organizacional ...........................................................o status quo e a procurar novas maneiras de realizar nossas tarefas habituais. Os erros em crises podem variar de falhas de comunicação a erros de julgamento ou falhas técnicas. Como menciona Augustine (2009), o primeiro passo para Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 41 transformar esses erros em oportunidades é a aceitação e o reconhecimento do erro. Isso estabelece uma base de honestidade e transparência necessária para a aprendizagem e a recuperação eficaz. Talvez você se lembre de ter lido ou acompanhado a crise do óleo da empresa Exxon Valdez. Em 1989, o desastre da Exxon Valdez resultou em um dos maiores derramamentos de petróleo na história. A Exxon enfrentou críticas severas por sua resposta inicial ao desastre. No entanto, esse erro levou a uma revisão completa das políticas e práticas da indústria de petróleo, resultando em leis ambientais mais rigorosas e melhores práticas de segurança marítima (Bernstein, 2011). Vejamos, agora, algumas estratégias práticas para que você, como líder, possa implementar e transformar erros em oportunidades nas crises. A Mentalidade de Crescimento O primeiro passo para transformar erros em oportunidades é cultivar uma “mentalidade de crescimento” (Dweck, 2006). Isso significa acreditar que as habilidades e a inteligência não são fixas, mas podem ser desenvolvidas por meio do esforço e da aprendizagem. Com essa mentalidade, os erros deixam de ser vistos como fracassos e passam a ser encarados como parte natural do processo de aprendizagem. Cultura Organizacional que Apoia a Aprendizagem Criar uma cultura que não apenas aceita erros, mas também os incentiva como fonte de aprendizado é vital. Isso inclui ter sistemas que encorajem a transparência e a comunicação aberta. Forni (2019) sugere que uma cultura positiva em relação ao erro pode fortalecer a resiliência organizacional e acelerar a inovação. Análise e Revisão de Incidentes Após um erro, realizar uma análise detalhada para entender suas causas fundamentais é crucial. Esta análise deve ser objetiva e focada em melhorias, não em atribuição de culpa. Cardia (2015) destaca que as lições aprendidas devem ser documentadas e usadas para atualizar planos de treinamento e protocolos de crise. Comunicação Proativa Pós-Erro Após reconhecer um erro, a comunicação proativa com stakeholders é essencial. Informar o que deu errado, quais medidas estão sendo tomadas para corrigi-lo e como será evitado no futuro é crucial para restaurar a confiança. Duarte (2010) ressalta a importância de https://marsemfim.com.br/o-acidente-do-exxon-valdez-mais-de-30-anos-depois/ 42Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública uma comunicação eficaz para manter a reputação e a credibilidade organizacional. E quais seriam as etapas necessárias para transformar erros em oportunidades nas situações de crises? Vejamos a seguir: • Reconheça o erro: evite a tentação de negar ou minimizar o erro. Assuma a responsabilidade e reconheça o que aconteceu. • Analise as causas: investigue as razões que levaram ao erro. Isso pode envolver fatores internos, como falta de conhecimento ou planejamento inadequado, ou fatores externos, como mudanças no mercado ou ações da concorrência. • Aprenda com a experiência: identifique as lições aprendidas com o erro. O que você poderia ter feito diferente? Que mudanças são necessárias para evitar que a situação se repita? • Implemente as mudanças: coloque em prática as lições aprendidas. Isso pode envolver a melhoria de processos, o treinamento da equipe ou a adoção de novas tecnologias. • Monitore os resultados: acompanhe os resultados das mudanças implementadas para garantir que elas estão tendo o efeito desejado. Como você percebeu, transformar erros em oportunidades é uma habilidade que pode ser aprendida e aprimorada. Erros são inevitáveis, especialmente em situações de alta pressão como crises. No entanto, cada erro carrega consigo o potencial para melhorias significativas. Transformar erros em oportunidades exige uma abordagem sistemática que inclui aceitação, análise cuidadosa e implementação de mudanças baseadas nas lições aprendidas. Líderes que abraçam tal mentalidade aprendem com as experiências e têm a capacidade de desenvolver sua resiliência. Isso fortalece sua organização e ainda contribui para o seu avanço e o da sociedade como um todo. Lembre-se de que o caminho para o sucesso é pavimentado com erros transformados em oportunidades. Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 43 Fonte: freepik.com 1 2 3 4 Princípios Fundamentais para uma Gestão de Crises Eficiente no Setor Público 1. Transparência: a transparência é essencial para manter a confiança do público durante crises, comunicando de forma aberta, honesta e proativa. 1. Responsabilidade: a responsabilidade implica agir de forma ética, assumir a responsabilidade por decisões e ações e comunicar-se de maneira eficaz antes, durante e após a crise. 1. Proatividade: ser proativo significa antecipar problemas e implementar medidas preventivas, minimizando danos e controlando a situação antes que a crise domine. 1. Comunicação Eficaz: comunicação clara, rápida e transparente é crucial durante crises para informar, acalmar e mobilizar stakeholders, reduzindo a disseminação de rumores e fortalecendo a confiança. 44Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Unidade 4 - Pressupostos e condições para implementar a gestão de crises Ao final desta unidade, você será capaz de identificar os princípios e as condições necessários para implementar a gestão de crises e também os pressupostos e as condições cruciais para a gestão eficaz de crises. 4.1 Cultura organizacional favorável Olá, estudante! Vamos, agora, abordar um elemento de extrema importância dentro da gestão de crise, que é a cultura organizacional. Uma cultura organizacional robusta e adaptável é um pilar crucial para a gestão eficaz de crises. Vejamos como uma cultura organizacional bem desenvolvida pode servir como um forte alicerce para enfrentar crises, discutindo as condições cruciais que facilitam esse processo. PARE E PENSE Como a cultura da sua organização atualmente suporta ou dificulta a gestão eficaz de crises? As práticas existentes, os valores compartilhados e os comportamentos organizacionais promovem a resiliência, a comunicação aberta e a prontidão para enfrentar desafios inesperados? A cultura organizacional define as normas, os valores e as práticas compartilhados por membros de uma organização. Ela influencia diretamente como os funcionários respondem às crises, facilitando uma ação coordenada e eficiente. Segundo Bernstein (2011), uma cultura que promove a resiliência e a adaptabilidade é essencial para superar adversidades de maneira eficaz. Podemos usar como exemplo a Petrobrás, uma das maiores empresas petrolíferas do mundo, que enfrentou várias crises ambientais significativas. A cultura de Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 45 segurança e resposta rápida da empresa, intensificada após o vazamento de óleo na Bacia de Campos, em 2000, demonstra como uma cultura organizacional forte pode minimizar impactos ambientais e sociais (Barbeiro, 2010). Outro exemplo foi as ações do governo japonês no desastre natural de terremoto seguido por um tsunami ocorrido na cidade de Fukushima, em 2011. Esse país é reconhecido pela sua cultura de preparação para desastres naturais e, dessa forma, a resposta eficaz ao desastre de 2011 foi amplamente atribuída à cultura organizacional do país, que enfatiza a prontidão e a cooperação entre agências governamentais e comunidades (Forni, 2019). No Podcast a seguir, vamos entender a real definição de cultura organizacional e por que ela é tão crucial no sucesso de uma empresa, seja na esfera pública, seja naprivada. Podcast O que é cultura organizacional? https://www.youtube.com/watch?v=_O5UwvOannc&ab_ channel=LouisBurlamaqui Podcast- O que é cultura organizacional? Duração: 05:20 Condições Cruciais para uma Cultura Organizacional Favorável A liderança desempenha um papel vital na formação da cultura organizacional. Líderes que demonstram compromisso com a transparência, ética e comunicação aberta estabelecem um padrão para toda a organização. Como Neves (2002) salienta, líderes que praticam esses valores em tempos de calma e crise inspiram confiança e respeito, fundamentais para a gestão de crises. Outro elemento é a comunicação clara e aberta, pois é a espinha dorsal de uma cultura organizacional eficaz em tempos de crise. Uma comunicação eficaz não se limita a transmitir informações; ela também envolve ouvir e adaptar-se às preocupações dos funcionários e stakeholders (Duarte, 2010). Organizações que mantêm linhas de comunicação claras e bidirecionais estão melhor equipadas para responder rapidamente a crises. Também é importante implementar o treinamento e o desenvolvimento contínuo. O preparo para crises não é um evento, mas um processo contínuo. Investir em treinamento e desenvolvimento ajuda a criar uma cultura de prontidão e capacitação. Programas regulares de treinamento garantem que todos os níveis da organização compreendam seus papéis durante uma crise (Cardia, 2015). https://www.bbc.com/portuguese/internacional-55943220 https://www.youtube.com/watch?v=_O5UwvOannc&ab_channel=LouisBurlamaqui https://www.youtube.com/watch?v=_O5UwvOannc&ab_channel=LouisBurlamaqui 46Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública E, por fim, mas não menos importante, a flexibilidade e a inovação devem ser valoriza- das pelas organizações, pois incentivam os colaboradores a pensar criativamente em soluções durante crises. Isso é crucial para adaptar-se rapidamente a situações voláteis e imprevisíveis (Susskind & Field, 1997). A liderança como catalisadora Os líderes desempenham um papel crucial na construção e manutenção de uma cultura organizacional favorável. Vejamos, abaixo, algumas ações de líderes inspiradores que apoiam e são apoiados pela cultura organizacional nas questões de crises: • Liderança pelo exemplo: os líderes devem personificar os valores da organização e agir de acordo com eles, especialmente em momentos de crise. • Comunicação clara e consistente: os líderes devem comunicar a visão, os objetivos e as estratégias da organização de forma clara e consistente, garantindo que todos estejam alinhados. • Empoderamento da equipe: os líderes devem confiar em suas equipes e dar-lhes autonomia para tomar decisões, o que aumenta o senso de responsabilidade e engajamento. • Reconhecimento e recompensa: os líderes devem reconhecer e recompensar os comportamentos que exemplificam a cultura desejada, reforçando os valores da organização. Uma cultura organizacional favorável não é apenas um complemento; é uma necessidade estratégica para a gestão eficaz de crises. Organizações que cultivam uma cultura de liderança ética, comunicação aberta, treinamento contínuo e inovação não apenas sobrevivem a crises, mas também emergem mais fortes e mais coesas. Ao investir em confiança, transparência, responsabilidade, aprendizado contínuo e flexibilidade, as organizações tornam-se mais resilientes e preparadas para lidar com as incertezas do mundo atual. Lembrem-se de que a cultura organizacional não é algo estático, mas um processo em constante evolução. Cabe a cada um de nós, líderes e colaboradores, contribuir para a construção de uma cultura que nos ajude a transformar crises em oportunidades de crescimento. 4.2 Liderança comprometida Reforçando o aspecto da liderança, vemos que ela é um elemento fundamental na gestão de crises. Líderes eficazes não apenas conduzem suas equipes através de tempos turbulentos, mas também transformam desafios em oportunidades para Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 47 crescimento e aprendizado. Este capítulo explora as características de uma liderança comprometida e como ela é crucial para uma gestão de crises eficaz, apresentando exemplos notáveis tanto do Brasil quanto do cenário internacional. A liderança comprometida se distingue pela ação, pela presença e pela responsabilidade. Não se trata apenas de ocupar uma posição de autoridade, mas de estar genuinamente engajada em conduzir a organização através da crise, com foco na segurança, no bem-estar dos stakeholders e na recuperação da organização. Nas crises, uma liderança comprometida envolve mais do que tomar decisões rápidas: trata-se de inspirar confiança, comunicar-se efetivamente e manter uma visão clara. Como Bernstein (2011) destaca, líderes em crises devem ser capazes de gerenciar o estresse próprio e de suas equipes, mantendo todos focados e motivados. Um exemplo ocorrido em 2007 com a empresa aérea TAM, em queum Airbus A320 saiu da pista e colidiu com um prédio em São Paulo, é um exemplo de liderança eficaz em tempos de crise. A liderança da empresa agiu rapidamente para colaborar com as autoridades, apoiar as famílias das vítimas e comunicar-se abertamente com o público e a imprensa, demonstrando compaixão e responsabilidade durante todo o processo (Barbeiro, 2010). Em 2019, na Nova Zelândia, a primeira-ministra, Jacinda Ardern, exemplificou uma liderança excepcional após os ataques terroristas em Christchurch. Sua abordagem empática, inclusiva e transparente na comunicação reforçou a unidade nacional e a resiliência, destacando a importância de uma liderança compassiva e decidida em tempos de crise (Duarte, 2010). Leia mais detalhes neste artigo, disponível neste link. Vejamos, agora, quais seriam as condições cruciais para a liderança em situações de crises. A primeira trata de uma comunicação clara, vital em crises. Líderes devem assegurar que todas as partes interessadas recebam informações precisas e tempestivas para minimizar incertezas e especulações. Segundo Forni (2019), líderes eficazes são mestres em usar todos os canais disponíveis para transmitir suas mensagens, garantindo que sua visão e decisões sejam compreendidas. Outra condição ocorre em situações onde líderes em crises devem tomar decisões https://www.bbc.com/portuguese/internacional-47628043 48Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública rapidamente, mesmo sob pressão extrema. Isso requer uma mistura de intuição, experiência e análise crítica, como Augustine (2009) sugere, para avaliar rapidamente situações complexas e agir de maneira assertiva e ponderada. Líderes eficazes demonstram empatia e uma forte consciência social, essenciais para manter a moral interna e a confiança do público. A capacidade de relacionar- se com as preocupações e necessidades dos indivíduos afetados pela crise pode definir o tom para toda a resposta à crise (Rosa, 2001). Além disso, existem outras características essenciais da liderança em crises. São elas: • Visão estratégica: a capacidade de enxergar o panorama geral, definir objetivos claros e traçar um plano de ação para superar a crise. • Comunicação eficaz: a habilidade de comunicar de forma transparente, honesta e empática com os stakeholders, transmitindo informações precisas, acalmando os ânimos e gerenciando expectativas. • Tomada de decisões ágil: a capacidade de tomar decisões rápidas e eficazes sob pressão, mesmo com informações limitadas. • Resiliência e capacidade de adaptação: a habilidade de se manter firme diante da adversidade, aprender com os erros e adaptar as estratégias conforme necessário. • Compaixão e empatia: a capacidade de se conectar com os stakeholders em um nível humano, demonstrando compreensão pelas suas preocupações e necessidades. Líderes comprometidos são indispensáveis na gestão de crises. Eles não apenas guiam suas organizações através de desafios, mas também moldam as experiências de suas equipes e stakeholders de maneira positiva, transformando potenciais desastres em histórias de sucesso e aprendizado. A liderança em crises, portanto, deve ser cultivada,valorizada e continuamente desenvolvida. Diante de tudo o que vimos, podemos afirmar que a liderança comprometida é um farol que guia as organizações através das tempestades. Líderes com visão, comunicação eficaz, capacidade de tomar decisões, resiliência e empatia inspiram confiança, mobilizam esforços e conduzem a organização para águas mais calmas. Lembre-se de que, em momentos de crise, as ações falam mais alto que as palavras. Cabe aos líderes, com coragem e determinação, assumir o leme e conduzir a organização de volta à segurança. Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 49 4.3 Recursos humanos e financeiros adequados Em um mundo onde as crises podem surgir repentinamente e com impactos devastadores, a preparação adequada em termos de recursos humanos e financeiros não é apenas uma necessidade, mas uma obrigação para qualquer organização. Neste tópico, vamos explorar como a alocação apropriada desses recursos é fundamental para uma gestão de crises eficaz, com exemplos do Brasil e de outras partes do mundo. Para início de nosso estudo, falemos sobre a Importância dos Recursos Humanos na Gestão de Crises. A eficácia de uma resposta a crises depende significativamente da capacidade, treinamento e resiliência da equipe envolvida. Conforme Augustine (2009) aponta, equipes bem preparadas e lideradas são capazes de navegar pelas crises com maior competência e confiança. O treinamento regular em gestão de crises e simulações pode fortalecer as habilidades da equipe, preparando-as para agir de maneira rápida e eficaz quando o inesperado ocorre. Para termos uma ideia mais prática dessa questão, vamos revisitar o evento relacionado ao rompimento da barragem de Mariana, em 2015. De fato, foi um casotrágico que mostra a necessidade de se ter uma equipe bem treinada e preparada para esse tipo de eventualidade. A resposta inicial foi criticada pela falta de coordenação e eficácia, levando a uma revisão substancial nas políticas de segurança e emergência da empresa (Bernstein, 2011). A Importância dos Recursos Financeiros na Gestão de Crises Recursos financeiros adequados são cruciais para suportar as operações durante uma crise. Eles garantem que a organização possa cobrir custos imprevistos, como operações de emergência, comunicações e reparos. Como Neves(2002) observa, a falta de reservas financeiras pode limitar severamente a capacidade de uma organização pararesponder efetivamente a uma crise. Como exemplo prático, vamos recordar o plano de ação da Petrobrás depoisda crise do petróleo e do escândalo de corrupção. Logo após esses eventos de crise, a Petrobrás implementou um plano de resiliência financeira que incluía cortes de custos e reestruturação de dívidas. Essa preparação financeira e estratégica permitiu à empresa superar os períodos de crise e começar um processo de recuperação e fortalecimento (Forni, 2019). Já a empresa americana de aviação American Airlines, após os ataques de 11 de setembro de 2001, enfrentou uma crise sem precedentes com a drástica redução das viagens aéreas. A companhia teve que se reajustar financeiramente, incluindo a reestruturação de dívidas e a otimização de operações, para manter a solvência e proteger empregos (Susskind & Field, 1997). 50Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Recursos Financeiros: As Provisões para a Jornada A gestão de crises exige investimentos para a prevenção, preparação e resposta às situações adversas. Os principais elementos para isso são: Fo nt e: fr ee pi k. co m Reserva para Contingências: Recursos financeiros reservados especificamente para cobrir os custos relacionados a crises, como: • ações de comunicação e relações públicas; • contratação de especialistas e consultores externos; • custos legais e indenizações; • medidas de mitigação e recuperação. Organizações prudentes estabelecem fundos de reserva específicos para crises. Esses fundos são essenciais para cobrir despesas inesperadas e garantir que a operação possa continuar durante e após a crise (Rosa, 2001). Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 51 Investimento em Prevenção: Recursos destinados à prevenção de crises, como: • análise e gestão de riscos; • treinamento de pessoal; • implementação de sistemas de segurança; • monitoramento de stakeholders e detecção de potenciais crises. Tecnologia e Ferramentas de Suporte: Investimento em softwares, plataformas e ferramentas que auxiliem na gestão de crises, como sistemas de monitoramento de redes sociais, ferramentas de comunicação interna, softwares de análise de dados e plataformas de gestão de crise. Fo nt e: fr ee pi k. co m Fo nt e: fr ee pi k. co m 52Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Recursos Humanos: A Importância do Planejamento e da Preparação Falando agora sobre os recursos humanos, a gestão eficaz de crises exige planejamento e preparação. A falta de recursos adequados em momentos de crise pode agravar a situação, gerar caos e impactar negativamente a reputação da organização. • Plano de Gestão de Crises: um plano detalhado que define as responsabilidades, os procedimentos a serem seguidos, os recursos disponíveis e as estratégias de comunicação em diferentes cenários de crise. • Treinamento e Simulação: simulações regulares de crises permitem testar o plano, treinar a equipe, identificar falhas e aprimorar a capacidade de resposta. Investir em programas de treinamento e desenvolvimento contínuo para líderes e equipes garante que todos estejam preparados para agir decisivamente durante uma crise. Isso inclui treinamento em habilidades técnicas e de comunicação, bem como simulações de crise (Cardia, 2015). • Monitoramento e Análise de Riscos: a identificação e análise contínua de riscos permite a tomada de medidas preventivas para reduzir a probabilidade de crises e mitigar seus impactos. A gestão eficaz de crises exige mais do que apenas boas intenções; requer preparação estratégica, recursos humanos capacitados e fundos financeiros suficientes. Uma equipe qualificada, recursos financeiros reservados para contingências e investimentos em prevenção são elementos cruciais para a resposta eficaz às crises. A falta de recursos pode agravar a situação e comprometer a capacidade da organização de superar os desafios. Lembrem-se, caros leitores: assim como um navio bem equipado e uma tripulação experiente são essenciais para navegar em mares turbulentos, recursos humanos e financeiros adequados são a base para a gestão eficaz de crises. 4.4 Planos de contingência bem estruturados A elaboração de planos de contingência robustos é essencial para a gestão eficaz de crises. Tais planos não apenas preparam as organizações para responderem adequadamente em momentos críticos, mas também ajudam a minimizar os danos e acelerar a recuperação. Vejamos, a seguir, as condições cruciais para o desenvolvimento e a implementação de planos de contingência eficazes. PARE E PENSE Qual a importância dos planos de contingência na gestão de crises? Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 53 Planos de contingência são fundamentais para qualquer organização, seja ela do âmbito público, seja doprivado, pois oferecem um roteiro detalhado de ações a se- rem tomadas em resposta a crises potenciais. Conforme Augustine (2009) destaca, um plano de contingência eficaz não apenas reduz a incerteza durante uma crise, mas também proporciona uma sensação de segurança para os stakeholders, permi- tindo que a organização mantenha suas operações críticas sob controle. Um exemplo de um bom plano de contingência bem detalhado foi o que a Natura, uma grande empresa brasileira de cosméticos, desenvolveu para lidar com desastres naturais que poderiam afetar suas operações, especialmente em regiões suscetíveis a enchentes. Esses planos incluem estratégias de evacuação, salvaguarda de equipamentos e comunicação rápida com funcionários e clientes,garantindo que a empresa possa continuar suas operações com o mínimo de interrupção (Barbeiro, 2010). Para um aprofundamento sobre planos de contingência no setor público, você pode consultar um guia detalhado disponibilizado pelo governo brasileiro. Esse guia aborda a elaboração de planos de contingência e inclui instruções para a ativação de centros de operações de emergência em saúde, entre outros aspectos cruciais. Você pode encontrar este material no site oficial do governo brasileiro neste link. Vejamos, agora, quais seriam as condições cruciais para planos de contingência eficazes, começando por uma análise de risco detalhada, que é a base de qualquer plano de contingência eficaz. Identificar potenciais ameaças, avaliar sua probabilidade e impacto potencial são passos essenciais que orientam a preparação e a resposta adequadas. Ferramentas de análise de risco devem ser utilizadas para garantir que todos os cenários possíveis sejam considerados (Duarte, 2010). Mais uma vez, é importante destacar a importância de se realizar treinamento e simulações. Planos no papel não são suficientes. É crucial que as equipes sejam treinadas e realizem simulações regulares baseadas nos planos de contingência. Essas atividades não apenas familiarizam a equipe com os procedimentos, mas também ajudam a identificar falhas nos planos que podem ser corrigidas antes que uma crise real ocorra (Cardia, 2015). E, finalmente, a liderança precisa ter uma comunicação clara e canais de informação eficazes, pois são vitais em qualquer plano de contingência. Deve haver canais de comunicação bem definidos que garantam que todas as partes interessadas recebam informações atualizadas e precisas. A comunicação não deve https://www.gov.br/saude/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/svsa/emergencia-em-saude-publica/guia-para-elaboracao-de-planos-de-contingencia 54Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública apenas fluir de cima para baixo, mas também permitir feedback contínuo das partes interessadas (Forni, 2019). Elementos Essenciais de um Plano de Contingência: Vejamos, agora, quais seriam os principais elementos que podem apoiar o líder na construção de um plano de contingência para crises: Análise de Riscos: Identificação e análise dos principais riscos que a organização enfrenta, incluindo a probabilidade de ocorrência e o potencial impacto de cada risco. (Bernstein, 2011) Cenários de Crise: Descrição detalhada dos diferentes cenários de crise que a organização pode enfrentar, com base na análise de riscos. Equipe de Gestão de Crises: Definição da equipe responsável por gerenciar a crise, com a designação de funções, responsabilidades e contatos de cada membro. Procedimentos Operacionais: Descrição passo a passo dos procedimentos a serem seguidos em cada cenário de crise, incluindo: • acionamento da equipe de gestão de crises; • comunicação interna e externa; • medidas de mitigação e contenção da crise; • ativação de recursos de contingência. Canais de Comunicação: Definição dos canais de comunicação a serem utilizados para comunicar-se com os stakeholders, como: • coletiva de imprensa; • comunicados oficiais; • redes sociais; • website da organização. Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 55 Recursos de Contingência: especificação dos recursos humanos, financeiros, materiais e tecnológicos disponíveis para a equipe de gestão de crises. Fechando esse assunto, vimos que os planos de contingência são mais do que simples protocolos; eles são uma parte integral da estratégia organizacional para garantir resiliência e capacidade de resposta em tempos de crise. Desenvolver e manter esses planos requer um compromisso contínuo com a preparação, a avaliação e o treinamento. Os planos de contingência não apenas protegem a organização e seus stakeholders, mas também fortalecem a capacidade de resposta e recuperação em face de adversidades. Fica aqui o convite para gestores e líderes refletirem sobre como esses planos podem ser implementados e aprimorados em suas próprias organizações, transformando desafios em oportunidades de mostrar resiliência e liderança eficaz. 4.5 Desenvolvendo a liderança inspiradora Neste tópico, vamos entrar em detalhes sobre um tema muito importante na gestão de crises, que é o conceito de liderança inspiradora, fundamental para o sucesso em qualquer ambiente, especialmente em se tratando de situações de crise. A liderança inspiradora não apenas motiva as equipes a superar desafios, mas também incute uma visão que transcende as circunstâncias imediatas, transformando obstáculos em oportunidades de crescimento e inovação. PARE E PENSE Para você, o que significa a figura deum líder inspirador? Pensando em liderança inspiradora, qual líder vem à sua mente e por quê? Comecemos definindo o que éliderança inspiradora. Ela é caracterizada pela capacidade de influenciar positivamente, motivar e orientar os outros, não apenas pelo exemplo, mas também pelo encorajamento e pela visão estratégica. Líderes inspiradores são visionários, carismáticos e empáticos e possuem uma habilidade inata de ver além do horizonte. Tomemos como exemplo a empresária Luiza Helena Trajano, à frente do Magazine Luiza, que transformou uma pequena loja em uma das maiores varejistas do Brasil. Sua liderança é marcada por uma forte ênfase no bem-estar dos funcionários e 56Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública na inovação constante. Luiza Trajano é conhecida pela capacidade de inspirar sua equipe, adotando tecnologias de ponta e promovendo uma cultura organizacional inclusiva e motivadora (Duarte, 2010). Outro líder atual que vem à nossa mente é Elon Musk. Com sua visão para a SpaceX, exemplifica uma liderança inspiradora no cenário global. Seu objetivo declarado de fazer da humanidade uma espécie multiplanetária não apenas desafia os limites do possível, mas também motiva sua equipe a alcançar feitos tecnológicos extraordinários. Para se inspirar e conhecer mais a fundo a trajetória desse líder visionário e seus feitos, acertos e erros, recomendamos a leitura do livro “Elon Musk: Como o CEO bilionário da SpaceX e da Tesla está moldando o nosso futuro”, no qualo experiente jornalista de tecnologia Ashlee Vance apresenta um olhar inédito sobre a vida e as realizações inacreditáveis do homem mais audacioso do Vale do Silício, Elon Musk. Disponível na Amazon.com e outras livrarias. Vejamos, agora, quais seriam os elementos cruciais para desenvolver uma liderança inspiradora. Líderes inspiradores são mestres na arte de comunicar uma visão clara e envolvente. Eles articulam para onde querem que a organização vá de uma maneira que é compreensível e empolgante para todos os níveis da equipe. Esta visão não apenas orienta, mas também energiza e serve como um norte em tempos de incerteza (Forni, 2019). Outro elemento é a autenticidade, que é a pedra angular da liderança inspiradora. Líderes que são genuínos e transparentes em suas intenções e ações ganham a confiança duradoura de suas equipes. A integridade, especialmente em tempos de crise, reforça a confiança e o respeito, fundamentais para a coesão e eficácia da equipe (Rosa, 2001). Uma liderança verdadeiramente inspiradora empodera outros a crescer e liderar em suas próprias capacidades. Isso é alcançado através do encorajamento ativo, desenvolvimento de habilidades e fornecimento de oportunidades para que os membros da equipe assumam responsabilidades e se desafiem (Augustine, 2009). Em momentos de crise, a liderança inspiradora se torna ainda mais crucial e uma força de inspiração, pois uma equipe inspirada é mais propensa a: https://www.amazon.com.br/Elon-Musk-Ashlee-Vance/dp/8580578280/ref=asc_df_8580578280/?tag=googleshopp00-20&linkCode=df0&hvadid=379773632090&hvpos=&hvnetw=g&hvrand=13953355687909843295&hvpone=&hvptwo=&hvqmt=&hvdev=c&hvdvcmdl=&hvlocint=&hvlocphy=1001767&hvtargid=pla-334233030445&psc=1&mcid=768e335c2b083706906b75d6b72b34ffEnap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 57 Então, as organizações devem estar cientes e aptas a oferecer meios para desenvolver uma liderança inspiradora, pois nada mais é do que um investimento no seu próprio futuro. Líderes que inspiram não apenas dirigem equipes; eles cultivam novos líderes e promovem uma cultura de excelência e inovação. Essa jornada de desenvolvimento de liderança requer reflexão, dedicação e um compromisso com o crescimento pessoal e profissional. Concluindo, buscamos neste tópico inspirar e orientar aqueles que são ou aspiram a se tornarem líderes transformacionais, capazes de elevar suas equipes e organizações a novos patamares de sucesso e realização. O convite final é que você reflita sobre como poderá incorporar esses princípios de liderança inspiradora em suas práticas, moldando um futuro no quala liderança vai além do gerenciamento de tarefas e torna-se uma fonte de inspiração e transformação. Manter o foco e a positividade: Enfrentar os desafios com determinação e otimismo, buscando soluções inovadoras. Trabalhar em equipe e colaborar: Unir esforços, compartilhar conhecimentos e apoiar uns aos outros em momentos difíceis. Ser resiliente e perseverante: Superar os obstáculos, aprender com as experiências e fortalecer-se como equipe. Fonte: freepik.com Fonte: freepik.com Fonte: freepik.com 58Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Estratégias Essenciais para a Gestão Eficaz de Crises: Cultura Organizacional, Liderança, Recursos, Planos de Contingência e Comunicação 1. Cultura Organizacional Favorável: uma cultura organizacional robusta e adaptável, promovendo resiliência, comunicação aberta e prontidão, é essencial para uma gestão eficaz de crises. 1. Liderança Comprometida: líderes que exemplificam transparência, ética, comunicação clara e empatia inspiram confiança e mobilizam suas equipes para enfrentar crises de forma eficaz. 1. Recursos Humanos e Financeiros Adequados: a preparação adequada, com treinamento contínuo e recursos financeiros bem alocados, é fundamental para a resposta eficaz a crises e para a continuidade das operações. 1. Planos de Contingência Bem Estruturados: planos detalhados e continuamente aprimorados para responder a crises, incluindo análise de risco, treinamento regular e comunicação eficaz, são cruciais para minimizar danos e acelerar a recuperação. 1. Comunicação Clara e Aberta: a comunicação eficaz, que envolve a transmissão e a recepção de informações de forma transparente e empática, é vital para manter a confiança e a moral durante crises. 1 2 3 4 5 Fo nt e: fr ee pi k. co m Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 59 Referências AUGUSTINE, Norman R. Como lidar com as crises – Os segredos para prevenir e solucionar situações críticas. Rio de Janeiro, Elsevier, 2009. BARBEIRO, Heródoto. Crise e Comunicação Corporativa. São Paulo: Globo, 2010. BERNSTEIN, Jonathan. Managers’s Guide to Crisis Management. New York: McGraw- Hill, 2011. CARDIA. Wesley. Crise de Imagem – Os conceitos e os meios necessários para compreender os elementos que levam às crises e como administrá-las. Rio de Janeiro: Mauad X, 2015. DUARTE. Jorge. Assessoria de Imprensa e Relacionamento com a mídia. Teoria e Técnica. 4ª. Edição – São Paulo: Atlas, 2010. FORNI, João José. Gestão de Crises e Comunicação – O que Gestores e Profissionais de Comunicação precisam saber para enfrentar Crises Corporativas. SãoPaulo: Atlas, 2019, 3ª edição. FORNI, J.J. Comunicação em tempos de crise. Entrevista à revista Organicom – Revista Brasileira de Comunicação Organizacional e Relações Públicas – 2º semestre de 2007. São Paulo: ECA/USP, 2007. Pgs. 196 a 211 NEVES, Roberto de Castro. Crises Empresariais com a opinião pública. Rio de Janeiro: Mauad, 2002. ROSA, Mário. A Síndrome de Aquiles – Como lidar com as crises de imagem. São Paulo: Editora Gente, 2001. SUSSKIND, Lawerence & Field, Patrick. Em crise com a opinião pública. São Paulo: Futura, 1997. TEIXEIRA, Patrícia. Caiu na Rede. E agora? – Gestão e Gerenciamento de Crises nas redes Sociais. São Paulo: Évora, 2013. THOMPSON, J.B. O escândalo político – Poder e visibilidade na era da mídia. Petrópolis: Vozes, 2002. VIANA, Francisco e outros. A surdez das empresas – Como ouvir a sociedade e evitar crises. São Paulo: Lazuli Editora: Companhia Editora Nacional, 2008. 60Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Glossário Definição / significado:Termo:N°: Fintech é um tipo de empresa financeira que presta os seus serviços financeiros com o uso de tecnologias. O termo surgiu com a junção das Palavras financial e technology, ou “tecnologia financeira” em português (Fintechs: o que são e como funcionam? - Dicionário Financeiro (dicionariofinanceiro.com)) Fintech1 Stakeholder é um termo da língua inglesa definido como «grupo de interesse» ou «parte interessada». É a união das palavras «stake” (participação) e “holder” (detentor). O que são Stakeholders na gestão de projetos de uma empresa? - Dicionário Financeiro (dicionariofinanceiro.com) Stakeholders2 https://www.dicionariofinanceiro.com/fintech/ https://www.dicionariofinanceiro.com/fintech/ https://www.dicionariofinanceiro.com/fintech/ https://www.dicionariofinanceiro.com/stakeholders/ https://www.dicionariofinanceiro.com/stakeholders/ Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 61 Módulo Metodologias de Gestão de Crises no setor público2 UNIDADE 1 - ANÁLISE DE CENÁRIS Ao final desta unidade, você será capaz de analisar o cenário atual e potencial para identificar crises. 1.1 Contextos interno e externo à organização Olá, estudante! Vamos começar nossos estudos partindo da ideia de que a gestão de crises eficaz exige uma compreensão profunda dos contextos interno e externo das organizações. Então, vamos explorar aqui a importância da análise de cenários em ambos os contextos, internos e externos às organizações, sejam elas na esfera pública, seja naprivada. PARE E PENSE: Por que os contextos interno e externo de uma organização influenciam diretamente sua capacidade de gerenciar crises? O contexto interno inclui fatores como cultura organizacional, estrutura, recursos humanos e processos internos. Já o contexto externo abrange fatores econômicos, políticos, sociais, tecnológicos, legais e ambientais que afetam a organização de fora para dentro (Bernstein, 2011). Análise do Contexto Interno Vamos examinar o contexto interno da organização. Aqui, o foco reside em identificar os pontos fortes e fracos que podem influenciar a forma como uma crise se desenrola. Pensemos em alguns exemplos práticos: 62Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Cultura Organizacional e Estrutura A cultura organizacional desempenha um papel crucial na resposta a crises. Uma cultura que valoriza a transparência, a comunicação aberta e a inovação facilitam uma resposta mais eficaz. Como Augustine (2009) destaca, a estrutura organizacional também é crítica, pois define as linhas de comando e as responsabilidades durante uma crise. Se imaginarmos uma empresa com uma cultura rígida e hierarquizada, ela poderá ter dificuldades em reagir com a agilidade necessária a uma crise, enquanto uma cultura mais flexível e aberta à comunicação tende a adaptar-se melhor. Lembremos do caso da empresa americana Johnson & Johnson, que em 1982 enfrentou uma grave crise quando cápsulas de Tylenol foram adulteradas com cianeto, resultando em sete mortes. A empresa agiu com rapidez e transparência, recolhendo o produto do mercado e comunicando-se abertamente com o público, o que, aliado à sua cultura de responsabilidade e foco no cliente, ajudou a preservar sua reputação (Bernstein, 2011). Recursos Humanos e Processos Internos A preparação da equipe e os processos internos são fundamentais para uma resposta rápida e coordenada. Processos bem definidos garantem que todos saibam suas responsabilidadese como colaborar durante a crise. A existência de processos de comunicação interna eficientes e protocolos de gerenciamento de crises bem definidos são fatores cruciais para uma resposta rápida e coordenada. Em contraste, a burocracia excessiva e a falta de clareza nos procedimentos podem atrasar a tomada de decisão e agravar as consequências de uma crise. Também é importante dizer que uma equipe bem treinada e preparada para lidar com situações de crise é um ativo valioso. Investir em treinamentos e simulações ajuda a fortalecer a capacidade de resposta da organização (Cardia, 2015). Tecnologia e infraestrutura: A organização possui os recursos tecnológicos e a infraestrutura adequados para lidar com uma crise? Falhas em sistemas de comunicação, por exemplo, podem prejudicar a resposta a uma crise, como no caso da British Airways, em 2017, quando uma pane elétrica global causou o cancelamento de centenas de voos e gerou caos nos aeroportos, afetando milhares de passageiros. A falta de um sistema de backup eficiente amplificou o problema, prejudicando a comunicação com os clientes e manchando a imagem da companhia aérea (Forni, 2019). https://g1.globo.com/mundo/noticia/queda-do-sistema-da-british-airways-causa-atrasos-em-nivel-mundial.ghtml https://g1.globo.com/mundo/noticia/queda-do-sistema-da-british-airways-causa-atrasos-em-nivel-mundial.ghtml Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 63 Análise do Contexto Externo Agora, voltemos nossa atenção para o contexto externo. As organizações não existem em um vácuo; elas interagem constantemente com um ambiente complexo e em constante mutação. É fundamental analisar as forças externas que podem impactar a organização, tanto positiva quanto negativamente. Vejamos alguns deles: Fatores Econômicos, Políticos e Regulatórios O ambiente econômico e político pode criar ou exacerbar crises. Por exemplo, durante a crise econômica de 2008, muitas empresas enfrentaram dificuldades devido à recessão global e à instabilidade financeira (Neves, 2002). A compreensão dessas dinâmicas ajuda as organizações a antecipar e mitigar os impactos. Mudanças na legislação, políticas públicas, instabilidade política e decisões governamentais também podem gerar crises ou influenciar a forma como a organização precisa lidar com elas. Um exemplo emblemático é o caso da Petrobrás, que enfrentou uma grave crise em 2016, desencadeada por denúncias de corrupção e desvios de recursos. O cenário político turbulento e a forte pressão da mídia e da opinião pública agravaram a crise, que resultou em perdas financeiras significativas e danos à reputação da empresa. Fatores Sociais Mudanças sociais também influenciam a gestão de crises. As expectativas sociais em torno da responsabilidade corporativa e da comunicação transparente aumentaram, como observado na resposta ao surto de Covid-19, por exemplo. Mudanças nos valores, nos costumes, no comportamento do consumidor, movimentos sociais e crises humanitárias podem gerar impactos significativos nas organizações. Outro exemplo é a crescente preocupação com o meio ambiente, que tem pressionado empresas a adotar práticas mais sustentáveis, enquanto a popularização das redes sociais exige uma atenção redobrada à gestão da reputação online e à comunicação transparente, tanto na esfera pública quanto na privada. Fatores Tecnológicos A rápida evolução tecnológica, o surgimento de novas tecnologias e a crescente dependência de sistemas digitais criam novas oportunidades, mas também vulnerabilidades e novos riscos e desafios. Ataques cibernéticos, vazamentos de dados e disseminação de notícias falsas nas redes sociais são apenas alguns https://oglobo.globo.com/politica/escandalo-da-petrobras-eleito-2-maior-caso-de-corrupcao-no-mundo-1-18648504 64Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública exemplos de crises que podem surgir nesse contexto. Em 2017, a empresa de segurança cibernética Equifax sofreu um ataque hacker que expôs os dados pessoais de mais de 147 milhões de pessoas, gerando uma crise de grandes proporções, com impactos negativos na imagem da empresa e perdas financeiras significativas (Teixeira, 2013). Fatores Legais e Ambientais As regulamentações legais e as questões ambientais podem impactar significativamente a gestão de crises. A conformidade com leis e regulamentos, bem como a gestão de riscos ambientais, são componentes essenciais de um plano de crise. O desastre de Mariana, no Brasil, em 2015, onde a barragem de uma mina de ferro rompeu, destacou a importância de considerar os riscos ambientais e as implicações legais em uma gestão de crise eficaz (Barbeiro, 2010). Nesse caso, podemos citar dois exemplos no Brasil e no exterior sobre a questão ambiental. Exemplo Brasileiro: O Caso do Desastre da Vale em Brumadinho Em 2019, o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, Minas Gerais, resultou em uma tragédia humanitária e ambiental. A análise do contexto interno revelou falhas na cultura de segurança e na estrutura de gestão de riscos da empresa. Externamente, as pressões legais e sociais exigiram uma resposta rápida e abrangente, incluindo indenizações, ações de mitigação ambiental e medidas para evitar futuros desastres (Forni, 2019). Fo nt e: h tt ps :// w w w .e m .c om .b r/ https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2022/01/11/interna_gerais,1336807/governo-de-minas-multa-vallourec-em-r-288-milhoes-por-danos-ambientais.shtml Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 65 Concluindo, vimos que a análise dos contextos interno e externo é essencial para a gestão eficaz de crises. Compreender e antecipar os fatores que podem influenciar a resposta a crises permite que as organizações desenvolvam planos mais robustos e resilientes. Observar os contextos interno e externo isoladamente nos oferece apenas uma visão parcial do tabuleiro. A verdadeira arte da análise de cenários reside em conectar os pontos, integrando as informações sobre as forças internas da organização com as oportunidades e ameaças do ambiente externo. Ferramentas como a análise SWOT (Strengths, Weaknesses, Opportunities, Threats – Forças, Fraquezas, Oportunidades, Ameaças) e a matriz GUT (Gravidade, Urgência, Tendência) podem ser extremamente úteis nesse processo de análise de ambiente. A análise SWOT nos ajuda a identificar os pontos fortes e fracos da organização (contexto interno) e as oportunidades e ameaças Exemplo Internacional: O Caso da BP e o Derramamento de Óleo no Golfo do México Em 2010, a explosão da plataforma Deepwater Horizon da BP causou um dos maiores desastres ambientais da história. A análise do contexto interno da BP revelou deficiências na cultura de segurança e na supervisão operacional. Externamente, a pressão de reguladores, o impacto ambiental e a resposta pública moldaram a resposta da BP, que incluiu um fundo de compensação de 20 bilhões de dólares e uma revisão abrangente das práticas de segurança (Bernstein, 2011). Fo nt e: G re en pe ac e Br as il https://www.greenpeace.org/brasil/blog/desastre-no-golfo-do-mexico-completa-cinco-anos/ 66Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública do ambiente externo. Já a matriz GUT permite priorizar os riscos e definir estratégias para lidar com eles, considerando a gravidade do impacto, a urgência da ação e a tendência de agravamento do problema. Ao integrar as informações dos contextos interno e externo, a organização pode desenvolver uma visão panorâmica do cenário em que está inserida, identificando potenciais crises e as melhores estratégias para enfrentá-las. Essa visão integrada é a bússola que guiará as ações da organização, permitindo que ela navegue com mais segurança pelos mares turbulentos das crises. Esperamos que esta exploração dos contextos interno e externo inspire você, líder ou gestor, a refletir sobre sua própria organização e a implementar estratégias eficazes para enfrentar crises futuras. Convidovocê a considerar como essas análises podem ser aplicadas para melhorar a resiliência e a capacidade de resposta em sua repartição pública ou organização. 1.2 Crises já existentes e crises em potencial Vamos imaginar que estamos em uma sala de controle, monitorando diversos painéis que mostram indicadores vitais de sua organização. Alguns indicadores piscam em vermelho, alertando sobre crises em curso, enquanto outros emitem sinais amarelos, indicando potenciais problemas no horizonte. Essa analogia nos ajuda a entender que, saber reconhecer esses sinais e interpretá-los, é crucial para agir com rapidez e eficácia, evitando que pequenas fissuras se transformem em rachaduras irreparáveis. A capacidade de identificar e categorizar crises permite a você encontrar uma resposta mais eficaz e preparar sua organização para mitigar impactos futuros. Neste tópico, discutiremos como reconhecer essas crises para melhorar nosso entendimento sobre a identificação e o gerenciamento de crises. Compreendendo Crises Já Existentes Crises já existentes são aquelas que já se manifestaram e estão impactando a organização. Elas exigem uma resposta imediata para mitigar os danos e começar o processo de recuperação. Elas são como incêndios declarados: visíveis, urgentes e demandam ação imediata. Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 67 Elas se caracterizam por: Impacto imediato: As consequências da crise já estão sendo sentidas pela organização, seja na forma de danos à reputação, perdas financeiras, interrupção das operações, ou outros impactos negativos. Alta visibilidade: A crise já se tornou pública e está sendo noticiada pela mídia, comentada nas redes sociais e, possivelmente, gerou reações negativas por parte do público, de clientes, de investidores ou de outros stakeholders. Necessidade de resposta rápida: A organização precisa agir com rapidez para conter os danos, controlar a narrativa da crise e comunicar-se de forma transparente com os stakeholders. Como exemplos, podemos destacar algumas crises que ocorrem em indústrias, como o vazamento de óleo da plataforma Deepwater Horizon, da British Petroleum, em 2010, no Golfo do México. Esse é um exemplo trágico de crise já existente, em que a explosão da plataforma causou a morte de 11 trabalhadores e provocou um dos maiores desastres ambientais da história, com milhões de litros de petróleo despejados no mar, impactando a vida marinha, o turismo e a economia da região (Bernstein, 2011). Também podemos lembrar do escândalo do Mensalão, que eclodiu no Brasil em 2005 e revelou um esquema de compra de votos de parlamentares por membros do governo. A crise teve grande repercussão na mídia, provocou forte comoção social e resultou na investigação, condenação e prisão de diversos políticos e empresários E, mais recentemente, a crise de saúde pública devido à pandemia de Covid-19, que assolou o mundo a partir de 2020, é um exemplo de crise sanitária de grandes proporções, com impactos devastadores em diversos setores da sociedade. A rápida disseminação do vírus exigiu ações emergenciais por parte de governos e organizações, como o lockdown de cidades, o fechamento de escolas e empresas e a implementação de medidas de distanciamento social. 68Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública PARE E PENSE: Como a identificação precoce de crises em potencial pode ajudar sua organização a tomar medidas preventivas e evitar a concretização dessas crises? Identificando Crises em Potencial As crises em potencial, por sua vez, são como nuvens de tempestade se formando no horizonte: ainda não se manifestaram em sua plenitude, mas representam um risco real que precisa ser monitorado e gerenciado e que podem surgir de fatores internos ou externos. A identificação precoce permite que as organizações tomem medidas preventivas para evitar que essas crises se concretizem Para exemplificar, podemos destacar alguns tipos de crises consideradas como potenciais, que são: Cyberataques: Com o aumento da digitalização, os ataques cibernéticos se tornaram uma ameaça constante para empresas e governos. A vulnerabilidade dos sistemas digitais, a falta de investimento em segurança da informação e o aumento da sofisticação dos hackers criam um cenário propício para crises em potencial, como vazamentos de dados, interrupção de serviços online e danos à reputação da organização (Teixeira, 2013). Crises climáticas: As mudanças climáticas representam um dos maiores desafios da atualidade, com impactos potenciais em diversos setores da economia e da sociedade. Eventos climáticos extremos, como secas, inundações, tempestades e ondas de calor, podem causar danos materiais, interrupção de serviços, perdas agrícolas, deslocamento de populações e crises humanitárias (Forni, 2019). Crises de imagem: A crescente importância da reputação no mundo empresarial e a velocidade com que as informações circulam nas redes sociais tornam as organizações mais vulneráveis a crises de imagem. Comentários negativos de clientes, denúncias de práticas antiéticas, boatos e fake news podem rapidamente viralizar e causar danos significativos à imagem da organização, mesmo que as acusações sejam infundadas. Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 69 Como exemplo de prevenção, podemos mencionaras empresas brasileiras do setor energético, e em particular a Eletrobrás, que têm investido em análises de riscos climáticos para identificar crises em potencial. Essas análises permitem à empresa implementar medidas preventivas, como reforço de infraestrutura e planejamento de contingência, para mitigar os impactos de eventos climáticos extremos (Duarte, 2010). Para entender melhor e de forma prática as ações que a Eletrobrás vem implementando na gestão de riscos, veja em seu portal as medidas de prevenção em relação a impactos energéticos. Ferramentas de Identificação Podemos trazer aqui algumas ferramentas que irão ajudá-lo na identificação de crises que estão por vir. São elas: Análise de Risco: Avaliar regularmente os riscos potenciais que a organização enfrenta. Isso inclui riscos operacionais, financeiros, tecnológicos e reputacionais (Augustine, 2009). A realização de análises de risco periódicas, utilizando ferramentas como a matriz GUT, ajuda a identificar as áreas mais vulneráveis da organização e as potenciais crises que podem impactá-la. Monitoramento Contínuo: Utilizar tecnologias de monitoramento para detectar sinais de alerta antecipadamente. Isso pode incluir a análise de mídias sociais para identificar tendências negativas (Teixeira, 2013). Também estar atento ao que está sendo dito sobre a organização nas mídias tradicionais e nas redes sociais é fundamental para identificar potenciais focos de crise e agir preventivamente. Fonte: freepik.com Fonte: freepik.com https://eletrobras.com/pt/Paginas/Gestao-de-Riscos.aspx 70Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Prevenção: A Melhor Arma Contra as Crises Assim como um bom médico dedica-se a prevenir doenças, um gestor eficiente busca evitar crises. A prevenção é a melhor estratégia para proteger a organização das intempéries, pois permite: • Fortalecer a resiliência: implementar medidas preventivas, como a criação de planos de contingência, o treinamento de equipes, a revisão de processos internos e o investimento em segurança, fortalece a capacidade da organização de resistir e recuperar-se de crises. • Reduzir os impactos: agir preventivamente ajuda a minimizar os danos Simulações e Treinamentos: Realizar exercícios de simulação de crise para preparar a equipe e identificar possíveis fraquezas nos planos de resposta (Cardia, 2015). Outras fontes de apoio na identificação de crises: Reclamações de clientes, acidentes de trabalho recorrentes, falhas em processos internos, instabilidade política ou econômica, mudanças tecnológicas disruptivas, novas regulamentações e pressõesde grupos ativistas são exemplos de sinais que podem indicar a iminência de uma crise. Diálogo com stakeholders (1): Manter um diálogo constante e transparente com clientes, funcionários, investidores, comunidade e outros stakeholders é essencial para captar sinais de alerta e construir relações de confiança que podem ajudar a mitigar crises. Fonte: freepik.com Fonte: freepik.com Fonte: freepik.com Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 71 causados pelas crises, sejam financeiros, reputacionais, operacionais ou outros. • Preservar a confiança: demonstrar aos stakeholders que a organização se preocupa com a prevenção de crises e está preparada para lidar com os desafios reforça a confiança na marca e na gestão. Vigilância Constante: Monitorando o Radar Em um mundo VUCA ou BANI, que traz a complexidade e constante mutação, a vigilância constante é fundamental para garantir a saúde da organização. Assim como um radar que varre o céu em busca de ameaças, a gestão de crises precisa estar atenta aos sinais de alerta e pronta para agir com rapidez e precisão. Para entender o que é esse tal de mundo VUCA e agora se tornando BANI, assista a esse TED Talk apresentado por Mauricio Vianna, CEO de uma das maiores empresas de inovação do Brasil, que explora a questão “Como está sua capacidade de antecipar, se preparar e se adaptar para o que está por vir?”. Assim, você como líder ou gestor de sua organização deve ter a consciência de que, para implementar um sistema de monitoramento de crises, tal sistema deve permitir: 1. Acompanhar as mídias tradicionais e sociais: Estar atento ao que está sendo dito sobre a organização nas mídias, identificando potenciais focos de crise e reações negativas do público. 1. Monitorar indicadores-chave de performance: Observar indicadores relacionados à satisfação de clientes, segurança, qualidade, produtividade e outros aspectos relevantes para a operação da organização. 1. Analisar dados e tendências: Identificar padrões, tendências e anomalias que possam indicar a iminência de uma crise. E lembre-se: as crises são inevitáveis, mas podemos nos preparar para enfrentá-las com mais segurança e eficácia. Conhecer o https://www.youtube.com/watch?v=vUN65yyWGdA&ab_channel=TEDxTalks https://www.youtube.com/watch?v=vUN65yyWGdA&ab_channel=TEDxTalks 72Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública terreno, identificar os pontos vulneráveis, antecipar-se aos problemas e agir com rapidez e inteligência são os pilares de uma gestão de crises bem-sucedida. Esteja sempre vigilante e preparado para transformar as adversidades em oportunidades de aprendizado e crescimento! 1.3 Níveis de criticidade Imagine que as crises são como terremotos: alguns são tremores quase imperceptíveis, enquanto outros causam destruição em massa. Assim como na escala Richter, que mede a magnitude dos terremotos, na gestão de crises também precisamos avaliar a intensidade e o potencial de impacto de cada situação. Então, entender os níveis de criticidade é essencial para priorizar ações, alocar recursos de maneira eficaz e mitigar impactos de maneira apropriada. Vamos, agora, explorar os diferentes níveis de criticidade nas crises, pois uma crise menor pode ser contornada com medidas simples e rápidas, enquanto uma crise de grandes proporções exige uma resposta robusta e coordenada. Definir o nível de criticidade de uma crise é o primeiro passo para determinar a resposta Alocar recursos de forma eficiente: Crises de alta criticidade exigem mais atenção,recursos e tempo da equipe de gestão. Priorizar ações: em um cenário de múltiplas crises simultâneas, a classificação ajuda a definir quais crises demandam ação imediata e quais podem ser gerenciadas em um segundo momento. Fonte: freepik.com Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 73 adequada. Essa classificação nos permite: PARE E PENSE: Como a classificação correta do nível de criticidade de uma crise pode influenciar a eficácia da resposta e a alocação de recursos em uma organização? Vejamos em detalhes os níveis de crise a seguir. Definição de Níveis de Criticidade Os níveis de criticidade de uma crise referem-se à gravidade e à urgência da situação, que podem variar desde problemas menores que exigem pouca intervenção até desastres significativos que requerem respostas imediatas e abrangentes. Identificar corretamente o nível de criticidade permite uma resposta mais eficaz e direcionada (Bernstein, 2011). Embora não exista uma escala universal para classificar crises, podemos utilizar um modelo prático que leva em consideração o impacto da crise, ou seja, qual a extensão dos danos causados pela crise e se estamos falando de impactos financeiros, reputacionais, ambientais, sociais ou uma combinação desses fatores. Outro elemento é a urgência, ou seja, com que rapidez a crise está se desenvolvendo e qual o tempo disponível para reagir antes que a situação se agrave. E, por último, qual o alcance e quantas pessoas estão sendo afetadas pela crise. Adequar a comunicação: A forma como nos comunicamos durante uma crise varia de acordo com a gravidade da situação. Crises de baixa criticidade podem ser gerenciadas com comunicados internos e mensagens pontuais para stakeholders específicos, enquanto crises de alta criticidade exigem uma estratégia de comunicação mais ampla e transparente, com comunicados públicos, coletivas de imprensa e presença ativa nas mídias sociais (Barbeiro, 2010). Fonte: freepik.com 74Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Verificar se o problema está restrito a um pequeno grupo de stakeholders, ou tem potencial para impactar a sociedade como um todo. Com base nesses critérios, podemos, então, classificar as crises em três níveis: Nível 1: Baixa Criticidade Crises de baixa criticidade são aquelas que, embora possam causar desconforto ou perturbação, não representam uma ameaça significativa para a organização ou seus stakeholders. Essas crises podem ser gerenciadas com recursos internos e não exigem uma resposta imediata. Por exemplo, uma pequena falha técnica em um sistema de TI que afeta apenas uma parte da operação, sem impacto significativo na entrega de serviços ou na segurança dos dados (Cardia, 2015) ou, ainda, reclamação de um cliente nas redes sociais, falha técnica em um evento ou um boato infundado sobre a organização. A resposta, neste nível, é ter uma ação rápida e focada na resolução do problema, comunicação transparente com os stakeholders diretamente impactados, monitoramento da situação para garantir que a crise não se agrave. Nível 2: Média Criticidade Crises de média criticidade têm um impacto maior e podem afetar várias áreas da organização, exigindo uma resposta mais coordenada. Essas crises podem envolver questões legais, operacionais ou de reputação que, se não forem gerenciadas adequadamente, podem escalar para um nível mais crítico. Neste caso, podemos usar como exemplo uma greve de funcionários no setor público que paralisa temporariamente serviços essenciais, como a coleta de lixo em uma grande cidade. Embora gerenciável, a crise exige negociações e comunicação eficaz com o público para minimizar impactos (Barbeiro, 2010). Outros exemplos, como um acidente de trabalho com pequeno número de vítimas, recall de um produto com defeito, ataque hacker que compromete parte dos dados da empresa, protesto de um grupo de ativistas em frente à sede da organização, também podem ser considerados. A resposta de ação para esse nível é a ativação do comitê de crise, comunicação proativa e transparente com os stakeholders, ações para conter os danos e mitigar os riscos, monitoramento constante da evolução da crise (Forni, 2019). Nível 3: Alta Criticidade Crises de alta criticidade representam ameaças graves e imediatas à continuidade dos negócios, à segurança dos indivíduos ou à reputação da organização. Essas Enap Fundação EscolaNacional de Administração Pública 75 crises exigem uma resposta rápida e abrangente, com a mobilização de todos os recursos disponíveis. Talvez você se lembre do desastre na cidade de Fukushima, em 2011, no Japão, onde o terremoto e o subsequente tsunami causaram um desastre nuclear. A crise exigiu uma resposta imediata e massiva para evacuar áreas, controlar a radiação e fornecer suporte às populações afetadas (Forni, 2019). Também podemos considerar um escândalo de corrupção envolvendo políticos ou altos executivos de uma empresa, um ataque terrorista ou uma pandemia global. A resposta neste nível é o acionamento de todos os recursos disponíveis, comunicação estratégica e transparente com a sociedade, ações para proteger os stakeholders e garantir a continuidade das operações, cooperação com autoridades e outras organizações (Augustine, 2009). Reforçando a resposta neste nível, é importante considerarmos: Liderança Decisiva Em crises de alta criticidade, a liderança decisiva é crucial. Líderes devem ser capazes de tomar decisões rápidas e informadas, comunicando-se de maneira clara e eficaz com todos os stakeholders para coordenar a resposta (Rosa, 2001). Mobilização de Recursos A capacidade de mobilizar rapidamente recursos financeiros, humanos e tecnológicos é vital. Organizações devem ter planos de contingência robustos que detalhem como esses recursos serão alocados em diferentes níveis de crise (Susskind & Field, 1997). Comunicação Transparente A comunicação transparente é essencial para manter a confiança dos stakeholders durante uma crise de alta criticidade. Informar o público e os funcionários sobre as ações a serem tomadas e os passos futuros ajudam a mitigar o pânico e a desinformação (Teixeira, 2013). Lembre-se de que a escala de criticidade é apenas um guia, e cada crise possui suas particularidades. É fundamental ser flexível e adaptar as estratégias de acordo com a situação, utilizando o bom senso, a experiência e as informações disponíveis para tomar as melhores decisões. Ferramentas e Técnicas para Avaliar a Criticidade A avaliação da criticidade em crises é um passo fundamental para garantir que as organizações respondam de forma eficaz e adequada às ameaças. Ferramentas 76Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública e técnicas bem estruturadas permitem que gestores identifiquem rapidamente a gravidade e a urgência de uma crise, facilitando a alocação de recursos e a implementação de ações mitigadoras. Vejamos algumas delas: Análise de Impacto A análise de impacto envolve a identificação e a avaliação dos possíveis efeitos de uma crise sobre a organização. Essa técnica considera fatores como impactos financeiros, operacionais, de reputação e legais, permitindo que a organização priorize suas ações com base na gravidade desses efeitos. A análise de impacto é essencial para a preparação de respostas proporcionais e eficientes (Augustine, 2009). Para compreender melhor, de forma prática, o que é a análise de impacto, leia o artigo “Avaliação de Impacto: desvendando sua importância para as organizações”, disponível no site do IDIS – Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social, disponível neste link. Matriz de Criticidade Uma matriz de criticidade é uma ferramenta visual que classifica crises com base em dois eixos principais: a probabilidade de ocorrência e o impacto potencial. Essa matriz ajuda a organização a identificar quais crises representam as maiores ameaças e devem ser tratadas com prioridade. Utilizada amplamente em diversas https://www.idis.org.br/avaliacao-de-impacto-desvendando-sua-importancia-para-as-organizacoes/ Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 77 indústrias, a matriz de criticidade facilita a visualização das crises em potencial e a tomada de decisões estratégicas (Bernstein, 2011). Matriz de criticidade Fonte: adaptada de https://ferramentasdaqualidade.org Monitoramento Contínuo Ferramentas de monitoramento contínuo são cruciais para a detecção precoce de sinais de alerta de crises. Tecnologias de big data(2) e análise preditiva permitem que as organizações monitorem em tempo real os ambientes interno e externo, identificando tendências e anomalias que podem indicar uma crise iminente. O monitoramento contínuo aumenta a capacidade de resposta e permite que ações preventivas sejam implementadas antes que a crise se manifeste completamente (Teixeira, 2013). Essas ferramentas e técnicas são parte integrante de uma abordagem proativa à gestão de crises, permitindo que as organizações identifiquem, avaliem e respondam eficazmente às ameaças, garantindo resiliência e continuidade operacional. Para conhecer outras ferramentas que poderão apoiar na gestão de crise na sua organização, leia este artigo da HSM Management neste link. Finalizando nosso tópico, compreender os níveis de criticidade na gestão de crises é fundamental para uma resposta eficaz e proporcional. Ao classificar crises com base em sua gravidade e urgência, as organizações podem priorizar ações, alocar recursos de maneira apropriada e minimizar os impactos negativos. Fica, então, o convite para uma reflexão sobre esses princípios e como você pode incorporá-los em suas estratégias de gestão de crises para fortalecer a resiliência organizacional. 1.4 Desenvolvendo o pensamento estratégico diante de situações de crise na prática Desenvolver o pensamento estratégico é essencial para que você possa navegar efetivamente por situações de crise. Na gestão de crises, o pensamento estratégico é como a bússola que orienta o capitão, permitindo que ele enxergue além do caos imediato e trace um curso seguro para superar a crise. Neste capítulo, vamos explorar https://www.revistahsm.com.br/post/ferramentas-de-gestao-para-lidar-com-crises 78Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública como desenvolver esse pensamento estratégico na prática, equipando você com as ferramentas para manter a cabeça fria e tomar decisões eficazes mesmo sob pressão. O Que é Pensamento Estratégico? Pensamento estratégico refere-se à capacidade de antecipar, planejar e gerenciar situações complexas de maneira eficaz e eficiente. Envolve a análise cuidadosa de riscos e oportunidades, a definição de objetivos claros e a implementação de ações coordenadas para alcançar esses objetivos, mesmo sob pressão extrema (Bernstein, 2011). Em momentos de crise, é natural que o medo, a incerteza e a pressão por respostas imediatas levem à paralisia. Agimos impulsivamente, tomamos decisões precipitadas ou simplesmente nos escondemos, esperando que a tempestade passe. No entanto, a inação pode ser tão prejudicial quanto a ação impensada, agravando a crise e comprometendo a reputação da organização. Então, o pensamento estratégico nos permite romper esse ciclo de paralisia e agir com inteligência, transformando a crise em uma oportunidade de aprendizado e crescimento. Para isso, precisamos: • Manter a calma: em momentos de crise, as emoções tendem a tomar conta, nublando o julgamento e levando a decisões impulsivas. É fundamental manter a calma, respirar fundo e buscar uma perspectiva racional da situação (Forni, 2019). • Coletar informações: antes de agir, é crucial coletar o máximo de informações possível sobre a crise: qual a causa do problema? Qual a extensão dos danos? Quem são os stakeholders impactados? Que informações já foram divulgadas? (Susskind & Field, 1997). • Analisar o cenário: com base nas informações coletadas, é preciso analisar o cenário da crise: qual a gravidade da situação? Quais os principais riscos e oportunidades? Quais as possíveis consequências de cada ação? • Definir objetivos: o que queremos alcançar ao lidar com essa crise? Conter os danos? Proteger a reputação da organização? Reconquistar a confiança dos stakeholders? Definir objetivos claros nos ajuda a traçar um plano de ação eficaz (Augustine, 2009). Princípios do Pensamento Estratégico em Crises Vejamos,agora, os princípios necessários para colocar o pensamento estratégico em prática em momentos de crise e ter bons resultados. Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 79 Análise Situacional A análise situacional é o primeiro passo para o desenvolvimento de um pensamento estratégico. Envolve a compreensão completa do contexto interno e externo da crise, incluindo fatores econômicos, sociais, políticos e tecnológicos. Forni (2019) enfatiza a importância de mapear todos os atores envolvidos e seus interesses, bem como os recursos disponíveis e as restrições impostas pela crise. Definição de Objetivos Estabelecer objetivos claros e realistas é crucial. Esses objetivos devem ser mensuráveis e atingíveis, orientando todas as ações subsequentes. Cardia (2015) sugere que, em crises, os objetivos de curto prazo devem focar na contenção e mitigação dos danos, enquanto os de longo prazo devem visar à recuperação e à resiliência. Planejamento de Ações Um plano de ação detalhado deve ser elaborado, especificando as tarefas, responsáveis, prazos e recursos necessários. Augustine (2009) recomenda a criação de cenários alternativos para lidar com diferentes possíveis desenvolvimentos da crise, permitindo uma adaptação rápida e eficaz às mudanças. Exemplos Inspiradores: Casos de Sucesso Para trazer a teoria para a prática, veja a seguir exemplos de como o pensamento estratégico ajudou as organizações a superar suas crises: A Gestão da Crise de Reputação da Natura Em 2022, a Natura enfrentou uma crise de reputação após alegações de práticas comerciais injustas surgirem nas redes sociais. A empresa respondeu rapidamente, conduzindo uma análise situacional detalhada e identificando as preocupações dos stakeholders. Os objetivos incluíam restaurar a confiança dos consumidores e reforçar as práticas éticas. A Natura lançou campanhas de transparência e tomou medidas corretivas para resolver as questões levantadas, demonstrando um pensamento estratégico eficaz. A Resposta da Pfizer à Crise de Vacinação 80Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Em 2021, a Pfizer enfrentou desafios logísticos significativos na distribuição de suas vacinas contra a Covid-19. A análise situacional revelou problemas em cadeias de suprimentos e distribuição. Os objetivos definidos foram garantir a entrega eficiente das vacinas e minimizar atrasos. A Pfizer implementou um plano estratégico que incluía parcerias com empresas de logística, expansão de capacidades de produção e ajustes nas rotas de distribuição. Essa abordagem estratégica permitiu à Pfizer superar os desafios e atender à demanda global. Gestão da Crise de Privacidade do WhatsApp Em 2021, o WhatsApp enfrentou uma crise significativa de privacidade após anunciar mudanças em sua política de privacidade, gerando preocupação entre os usuários sobre a segurança de seus dados. A análise situacional identificou a necessidade de maior transparência e comunicação clara. Os objetivos incluíam esclarecer as mudanças e garantir aos usuários a proteção de seus dados. O WhatsApp lançou uma campanha de comunicação global para explicar as mudanças, respondeu às preocupações em tempo real e ajustou a política com base no feedback, demonstrando pensamento estratégico na gestão da crise. Crise Energética de 2021 Na esfera pública, tivemos a crise energética de 2021 no Brasil, que foi desencadeada pela pior seca em 91 anos, afetando drasticamente a geração de energia hidrelétrica. O governo federal, através do Ministério de Minas e Energia, implementou medidas emergenciais para evitar apagões e racionamento de energia. Essas medidas incluíram a ativação de usinas termelétricas, incentivos para a redução voluntária do consumo de energia e a importação de energia de países vizinhos. A Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) também ajustou tarifas para incentivar a economia de energia. A gestão dessa crise energética destacou a necessidade de diversificar as fontes de energia e melhorar a resiliência do sistema elétrico nacional. PARE E PENSE: Como você pode aplicar o pensamento estratégico para não apenas resolver crises imediatas, mas também fortalecer a resiliência e construir relações sólidas para garantir a sustentabilidade a longo prazo de uma organização? Pensando a Longo Prazo: Além da Resolução Imediata https://exame.com/ciencia/diplomacia-atrasos-e-lobby-a-batalha-da-pfizer-para-liderar-a-vacinacao/ https://www.cnnbrasil.com.br/economia/crise-energetica-deve-aliviar-em-2022-mas-espaco-para-queda-em-contas-e-pequeno/ Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 81 É importante que você saiba que o pensamento estratégico não se limita à resolução imediata da crise, mas também considera o impacto a longo prazo das decisões tomadas. Afinal, uma crise mal gerenciada pode deixar cicatrizes profundas na organização, comprometendo sua imagem, sua relação com os stakeholders e sua capacidade de operar no futuro. Então, de uma maneira prática, os recursos necessários para você desenvolver uma visão estratégica de longo prazo são: Aprender com a crise: As crises são oportunidades valiosas para aprender e aprimorar os processos da organização. Após a crise, é fundamental analisar o que aconteceu, identificar as falhas e implementar medidas para evitar que o problema se repita (Bernstein, 2011). Fortalecer a resiliência: As crises testam a capacidade da organização de resistir e se recuperar de situações adversas. Investir em prevenção, planos de contingência, treinamento de equipes e sistemas de monitoramento fortalece a resiliência da organização, preparando-a para enfrentar as inevitáveis turbulências do futuro. Construir relações sólidas: A confiança é um ativo fundamental em momentos de crise. Investir na construção de relações sólidas com os stakeholders, com base na transparência, no diálogo e no respeito, cria uma rede de apoio que pode ser acionada em momentos de dificuldade. Técnicas para Cultivar o Pensamento Estratégico Vejamos, agora, algumas técnicas que você pode usar para enfrentar com propriedade situações de crises: Simulações de Crise As simulações de crise são exercícios práticos que ajudam os gestores a desenvolver o pensamento estratégico. Estas simulações permitem que sua equipe pratique a tomada de decisão em ambientes controlados, melhorando suas habilidades de resposta e coordenação (Susskind & Field, 1997). 82Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Análise de Cenários A análise de cenários envolve a criação de diferentes situações hipotéticas para prever possíveis desenvolvimentos de uma crise. Esta técnica ajuda a identificar pontos fracos nos planos de resposta e a preparar estratégias alternativas para diferentes desdobramentos (Barbeiro, 2010). Revisão Pós-Crise Após a resolução de uma crise, é essencial conduzir uma revisão completa para avaliar o que funcionou bem e o que precisa ser melhorado. Essa análise retrospectiva permite que as organizações aprendam com a experiência e fortaleçam suas estratégias para futuras crises (Rosa, 2001). Para aprofundar seus conhecimentos, leia este artigo que explora a dinâmica do planejamento estratégico governamental (PEG) no Brasil, abordando a relação entre planejamento, orçamento e gestão pública. O autor, Jackson de Toni, discute como o PEG, apesar de avanços formais, sofre de limitações conceituais e práticas, em parte devido à influência do pensamento gerencialista e à falta de uma cultura estratégica consolidada na administração pública. Acesse pelo link: https://repositorio.enap. gov.br/bitstream/1/6334/1/Jackson%20de%20Toni.pdf. Enfim, desenvolver o pensamento estratégico diante de situações de crise é uma competência vital para gestores e líderes. Ao aplicar princípios de análise situacional, definição de objetivos claros e planejamento detalhado, as organizações podem responder de forma mais eficaz e eficiente às crises. Com o pensamento estratégico217 2.4 Criando um plano de ação de crises .................................................................... 220 Referências ........................................................................................................... 227 6Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Módulo Conceitos de Gestão de Crises1 Unidade 1 - Conceitos iniciais e tipos de crises Ao final desta unidade você será capaz de reconhecer os conceitos básicos sobre crises, os principais tipos de crises e os seus níveis de gravidade e como identificar e classificar as crises. 1.1. Definições sobre Crise Olá, estudante! Vamos começar nossa jornada neste universo da gestão de crises com uma parte mais conceitual, para que você possa situar-se no que virá adiante. Então, para iniciarmos as discussões sobre Gestão de Crises no setor público, vamos partir de algumas definições principais para facilitar o melhor entendimento do conteúdo. Sabemos que, especialmente no setor público, as crises podem surgir inesperadamente, e estar preparado é essencial para uma liderança eficaz. Vamos entender as definições de crise para uma gestão mais consciente e assertiva. Para o consagrado autor em gestão de crises Norman Augustine (2009), uma crise pode ser definida como uma situação que ameaça os objetivos, a reputação ou a sobrevivência de uma organização. Crises não acontecem apenas em cenários externos, como catástrofes naturais ou escândalos; podem surgir também internamente, devido a falhas de comunicação, problemas financeiros ou conduta inadequada. Fazendo uma analogia, podemos dizer que a gestão pública, por exemplo, enfrenta ondas turbulentas em um mar de responsabilidades, ou seja, as crises propriamente ditas. Vamos fazer uma analogia aqui, pensando em nosso trabalho como pensaria um comandante de um navio em alto mar. A gestão precisa estar preparada para enfrentar a incerteza e os desafios que ameaçam o curso normal das atividades cotidianas. Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 7 As crises, com seu impacto significativo, podem surgir de forma repentina, como um desastre natural, ou se desenvolver ao longo do tempo, como um escândalo de corrupção. Sua natureza complexa exige análise profunda para serem compreendidas e solucionadas. No setor público, as crises assumem diversas formas: prejudicam a imagem da administração, geram falhas na comunicação, comprometem a capacidade de investimento e a segurança da população. As crises podem ser superadas com liderança, planejamento e comunicação. (Barbeiro, 2010). As crises podem ser descritas em um ciclo de três fases: a. Pré-crise: o período de calma aparente. É quando as organizações devem investir em planejamento e preparação. b. Crise: a fase aguda, na qual a capacidade de reação rápida é vital. c. Pós-crise: momento de recuperação, revisão de processos e aprendizagem. Para que possamos entender melhor quais são as estratégias de prevenção e gestão de crises, Forni (2019) destaca a importância da comunicação eficaz e do planejamento estratégico nessa empreitada e sugere a criação de comitês de crise com representantes de diversos setores para garantir uma visão abrangente do problema. Também é possível usar algumas ferramentas úteis, principalmente dentro do setor público: • Plano de Comunicação de Crises: um guia que define as ações a serem tomadas em caso de crise, incluindo a comunicação com a imprensa e a população. • Comitê de Crises: um grupo de especialistas responsável por gerenciar a crise e tomar decisões estratégicas. • Monitoramento de Mídias Sociais: acompanhamento das conversas online sobre a crise para identificar problemas e oportunidades de comunicação. • Treinamento para Gestores e Líderes: capacitação para que os profissionais estejam preparados para lidar com situações de crise. 8Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública É importante termos em mente que uma gestão de crises eficiente minimiza os impactos negativos, restaura a confiança pública e aprimora a capacidade de resposta a futuras situações de emergência. Lembre-se: as crises são inevitáveis, mas com preparo, liderança e comunicação eficaz, podemos transformá-las em oportunidades de aprendizado e crescimento. 1.2. Tipos de Crise (financeira, reputacional, tecnológica, etc.) Relembrando, as crises são inevitáveis, mas compreendê-las é o primeiro passo para gerenciá-las eficazmente. Agora, convido você a explorar os diferentes tipos de crises para que possamos estar preparados para enfrentá-las. VAMOS REFLETIR: Quais os diferentes tipos de crise que você conhece ou já ouviu falar? Como você abordaria a gestão de uma crise financeira que, ao mesmo tempo, desencadeia uma crise reputacional devido à percepção pública negativa? Na posição de gestor e líder, você é frequentemente desafiado a navegar por águas turbulentas quando se trata de crises organizacionais. No setor público, essas crises podem ser especialmente complexas, envolvendo múltiplas partes interessadas e impactando uma gama ampla de serviços essenciais. Cada crise tem características únicas, exigindo abordagens específicas para a gestão eficaz. Vejamos, a seguir, os diferentes tipos de crises que gestores e líderes podem encontrar, desde crises financeiras até crises de comunicação e políticas. Ao entender as nuances de cada tipo, você estará melhor preparado para planejar, responder e recuperar-se de situações críticas, com estratégias que incorporam as melhores práticas nessa tarefa. Vejamos juntos quais são os principais tipos de crises: 1. Crises Financeiras Crises financeiras, segundo Norman Augustine (2009), podem surgir devido a má gestão, fraude ou condições econômicas adversas. Uma organização pública, por exemplo, pode sofrer cortes orçamentários significativos que resultam em redução de serviços. Como exemplo, retornemos à crise fiscal no Brasil que ocorreu em 2015. Na época, o País enfrentou um déficit inesperado no orçamento, que levou a Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 9 cortes em programas essenciais e nos gastos públicos, gerando, com isso, uma instabilidade social. 2. Crises Reputacionais As crises reputacionais, de acordo com Cardia (2015), são desencadeadas por eventos que afetam a imagem da organização, como escândalos, má conduta ou práticas antiéticas. Imagine que uma agência governamental sofreu críticas após ser acusada de corrupção. A abordagem inicial foi defensiva, mas, depois, ao reconhecer as falhas e tomar medidas corretivas, há condições de recuperar parcialmente a confiança do público. Como exemplo, podemos mencionar o escândalo da Petrobrás, em 2016, consideradoo segundo maior caso de corrupção do mundo, segundo a ONG Transparência Internacional. 3. Crises Tecnológicas Segundo Bernstein (2011), crises tecnológicas geralmente resultam de falhas em sistemas críticos ou ataques cibernéticos. Elas podem paralisar operações, expor dados sensíveis e prejudicar a reputação. Pense em uma cidade que foi alvo de um ataque muito elaborado de um hacker, que interrompeu os serviços municipais e expôs dados pessoais. O investimento prévio em segurança cibernética e planos de backup permitiu a recuperação dos serviços em tempo hábil, limitando os danos. Outro exemplo foi o ataque cibernético ao Tribunal Superior Eleitoral em 2018, que gerou apreensão sobre a segurança das eleições. 4. Crises de Comunicação De acordo com Jorge Duarte (2010), as crises de comunicação acontecem quando a comunicação com os públicos de interesse é mal gerenciada, levando a desinformação e confusão. Por exemplo, uma organização pública fictícia implementou novas diretrizes sem comunicação prévia eficaz, causando resistência entre funcionários e cidadãos. O gestor elaborou, então, um plano de comunicação revisado e campanhas educacionais que ajudaram a corrigir a percepção pública. 5. Crises de Saúde Pública Pandemias, epidemias oucomo bússola, você irá navegar com mais segurança pelos mares turbulentos do mundo moderno, construindo um futuro mais resiliente e preparado para os desafios que virão. Metodologias de Gestão de Crises no setor público 1. Contextos Interno e Externo: para gerir crises com sucesso, compreenda profundamente os pontos fortes e fracos da sua organização (interno) e as forças externas que podem impactá-la (externo). 1. Crises Existentes e em Potencial: diferencie as crises que já estão impactando a organização (existentes) daquelas que ainda podem 1 2 https://repositorio.enap.gov.br/bitstream/1/6334/1/Jackson%20de%20Toni.pdf https://repositorio.enap.gov.br/bitstream/1/6334/1/Jackson%20de%20Toni.pdf Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 83 Fonte: freepik.com acontecer (potenciais) para agir de forma preventiva e eficiente. 1. Níveis de Criticidade: classifique as crises em níveis de acordo com seu impacto e urgência (baixa, média e alta) para direcionar recursos e respostas adequadamente. 1. Pensamento Estratégico em Crises: mantenha a calma, colete informações, analise o cenário, defina objetivos e aja estrategicamente para transformar a crise em oportunidade de aprendizado. 3 4 84Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública UNIDADE 2 - PLANEJAMENTO Ao final desta unidade, você será capaz de desenvolver planos de gerenciamento de crises utilizando as ferramentas corretas. 2.1. Ferramentas de gestão de crises Olá, estudante! Vamos nos aprofundar no contexto da gestão de crises. A preparação adequada e o uso de ferramentas eficazes são fundamentais para minimizar os danos e garantir uma recuperação rápida. Vejamos sobre esse ponto a seguir. VAMOS REFLETIR: Quais seriam as ferramentas adequadas para um líder ou gestor utilizar em situações de crise? Para começar, vamos mergulhar no arsenal de ferramentas essenciais que nos auxiliarão a navegar pelas turbulentas águas de uma crise. Usando como analogia a figura de um bombeiro, que precisa de equipamentos adequados para combater incêndios, você, gestor de crise, necessita de ferramentas eficazes para conter as chamas da instabilidade às quais estamos todos sujeitos em ambientes VUCA (3). É crucial lembrar que crises são inerentemente imprevisíveis e desafiadoras, exigindo adaptabilidade e expertise na utilização dessas ferramentas. Então, vejamos quais as ferramentas que você deve ter em mãos para apagar os “incêndios” em crises de baixa até alta complexidade. Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 85 Princípios do Pensamento Estratégico em Crises O pensamento estratégico é uma competência essencial para a gestão eficaz de crises. Em momentos de crise, a capacidade de antecipar, planejar e responder de maneira coordenada pode determinar a sobrevivência e o sucesso de uma organização. Este tipo de pensamento envolve não apenas a resposta imediata, mas também a consideração dos impactos a longo prazo e a construção de resiliência para futuras adversidades. Para desenvolver um pensamento estratégico robusto, é fundamental começar com uma análise situacional detalhada. Ela é o primeiro passo para o desenvolvimento de um pensamento estratégico. Envolve a compreensão completa dos contextos interno e externo da crise, incluindo fatores econômicos, sociais, políticos e tecnológicos. Forni (2019) enfatiza a importância de mapear todos os atores envolvidos e seus interesses, bem como os recursos disponíveis e as restrições impostas pela crise. Com a análise situacional bem estabelecida, o próximo passo é definir objetivos claros e realistas. Esses objetivos devem ser mensuráveis e atingíveis, orientando todas as ações subsequentes. Cardia (2015) enfatiza que, em tempos de crise, os objetivos de curto prazo devem focar na contenção e mitigação dos danos, enquanto os de longo prazo devem visar à recuperação e à construção de resiliência. Por fim, um plano de ação detalhado deve ser elaborado, especificando tarefas, responsáveis, prazos e recursos necessários. Augustine (2009) recomenda a criação de cenários alternativos para lidar com diferentes desenvolvimentos possíveis da crise, permitindo uma adaptação rápida e eficaz às mudanças. O exemplo de gestão da crise de privacidade do WhatsApp Em maio de 2021, o WhatsApp enfrentou uma crise significativa de privacidade após anunciar mudanças em sua política de privacidade, gerando preocupação entre os usuários sobre a segurança de seus dados. A análise situacional identificou a necessidade de maior transparência e comunicação clara. Os objetivos incluíam esclarecer as mudanças e garantir aos usuários a proteção de seus dados. O WhatsApp lançou uma campanha de comunicação global para explicar as mudanças, respondeu às preocupações em tempo real e ajustou a política com base no feedback, demonstrando pensamento estratégico na gestão da crise. https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2021-05/comeca-valer-hoje-nova-politica-de-privacidade-do-whatsapp https://faq.whatsapp.com/595724415641642/ 86Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Técnicas para Cultivar o Pensamento Estratégico Vamos imaginar um time de futebol que nunca treina junto antes de entrar em campo. É muito provável que o time não tenha um bom desempenho, certo? Na gestão de crises, a lógica é semelhante: para respondermos com eficácia a uma situação crítica, precisamos nos preparar, treinar e aprender com as experiências passadas. Assim como o time de futebol aprimora suas jogadas através de treinos, as organizações podem fortalecer sua capacidade de resposta a crises utilizando ferramentas como simulações de crise, análise de cenários e revisão pós-crise. Vamos explorar cada uma delas a seguir. Simulações de Crise As simulações de crise são exercícios práticos que ajudam os gestores a desenvolver o pensamento estratégico. Estas simulações permitem que as equipes pratiquem a tomada de decisão em ambientes controlados, melhorando suas habilidades de resposta e coordenação (Susskind & Field, 1997). Imagine, por exemplo, uma empresa de aviação que simula um cenário de acidente aéreo para treinar seus funcionários a lidar com a imprensa, comunicar com as famílias das vítimas e gerenciar a logística da crise. Através das simulações, a equipe pode: Desenvolver o Pensamento Estratégico: A necessidade de tomar decisões rápidas e eficazes em um ambiente simulado estimula o pensamento estratégico e a capacidade de resolução de problemas. Aprimorar a Comunicação: As simulações permitem treinar a comunicação interna e externa durante a crise, garantindo a coesão das mensagens e a clareza na comunicação com o público. Identificar Falhas e Fortalecer Processos: A simulação expõe as fragilidades nos planos e processos da organização, permitindo ajustes e aprimoramentos para garantir uma resposta mais eficaz em uma crise real. Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 87 Outro exemplo da importância das simulações de crise é a preparação feita pelos hospitais para lidar com situações de múltiplas vítimas, como acidentes de grandes proporções ou desastres naturais. Através de simulações, os profissionais de saúde podem treinar a triagem de pacientes, a organização do atendimento médico, a comunicação com familiares e a gestão de recursos em situações de alta demanda (Susskind & Field, 1997). Análise de Cenários A análise de cenários envolve a criação de diferentes situações hipotéticas para prever possíveis desenvolvimentos de uma crise. Esta técnica ajuda a identificar pontos fracos nos planos de resposta e a preparar estratégias alternativas para diferentes desdobramentos (Barbeiro, 2010). É como se construíssemos um mapa das possibilidades, identificando os pontos críticos e preparando estratégias alternativas para cada desdobramento da crise. Imaginem, por exemplo, uma empresa que enfrenta uma crise de reputação devido a um problema em um de seus produtos. Atravésda análise de cenários, a empresa pode prever diferentes reações do público, da mídia e dos órgãos reguladores, elaborando estratégias de comunicação e ação para cada cenário. A análise de cenários nos permite: Identificar Pontos Fracos: Ao analisar diferentes cenários, a organização pode identificar os pontos mais vulneráveis de seus planos e processos, antecipando possíveis problemas e buscando soluções preventivas. Preparar Estratégias Alternativas: A análise de cenários possibilita a criação de um leque de opções estratégicas, permitindo que a organização adapte sua resposta de acordo com a evolução da crise. Fonte: freepik.com Fonte: freepik.com 88Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Se pensarmos, por exemplo, na preparação de um governo para lidar com crises climáticas, ao analisar diferentes cenários de desastres naturais, como enchentes, secas ou furacões, seus representantes podem elaborar planos de evacuação, preparar abrigos, estocar recursos e treinar equipes de resgate, garantindo uma resposta mais eficaz e minimizando os impactos da crise (Barbeiro, 2010). Revisão Pós-Crise Após a resolução de uma crise, é essencial conduzir uma revisão completa para avaliar o que funcionou bem e o que precisa ser melhorado. Essa análise retrospectiva permite que as organizações aprendam com a experiência e fortaleçam suas estratégias para futuras crises (Rosa, 2001). Essa é a hora de analisar os estragos e aprender com a experiência. Ainda segundo Rosa (2001), a revisão pós-crise é um exercício fundamental para avaliar a efetividade da resposta à crise, identificar pontos fortes e fracos e formular recomendações para aprimorar os planos e procedimentos. É como se a organização fizesse uma autópsia da crise, buscando entender as causas, os impactos, as decisões tomadas e os resultados obtidos. Com base nessa análise, a organização pode ajustar seus planos de contingência, fortalecer seus processos e preparar sua equipe para enfrentar futuras crises com mais expertise. Fazer uma revisão pós-crise irá ajudar a: • Avaliar a Efetividade da Resposta: A análise crítica da resposta à crise permite identificar o que funcionou bem e o que precisa ser melhorado, garantindo que a organização aprenda com seus erros e acertos. • Identificar Pontos Fortes e Fracos: A revisão pós-crise destaca as fortalezas e fragilidades da organização, orientando ações para fortalecer os pontos positivos e corrigir as deficiências. Agir de Forma Proativa: Ao antecipar diferentes cenários, a organização pode se preparar para agir de forma proativa, minimizando os impactos da crise e controlando a narrativa em torno do evento. Fonte: freepik.com Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 89 • Aprimorar Planos e Procedimentos: Com base nas lições aprendidas, a organização pode revisar e aprimorar seus planos de contingência, seus protocolos de comunicação e seus processos de gestão de crises, garantindo uma resposta mais robusta e eficaz no futuro. Um exemplo da importância da revisão pós-crise é a análise da resposta de empresas a crises de segurança de dados. Ao analisar as falhas que permitiram a ocorrência da crise, os impactos do vazamento de dados e a efetividade da resposta da empresa, a organização pode fortalecer seus sistemas de segurança, aprimorar seus protocolos de resposta a incidentes e treinar seus funcionários para prevenir e lidar com futuras crises de segurança (Rosa, 2001). Concluindo, desenvolver o pensamento estratégico diante de situações de crise é uma competência vital para gestores e líderes. Ao aplicar princípios de análise situacional, definição de objetivos claros e planejamento detalhado, é possível responder de forma mais eficaz e eficiente às crises. Os exemplos aplicadosque vimos ilustram como essas técnicas podem ser implementadas na prática, proporcionando insights valiosos para fortalecer a resiliência organizacional. Também aprendemos que as ferramentas que exploramos - simulações de crise, análise de cenários e revisão pós-crise – são como peças de um quebra-cabeças que, quando combinadas, formam uma imagem completa da gestão de crises. Ao utilizarmos essas ferramentas de forma integrada, fortalecemos a capacidade da organização de prever, responder e aprender com as crises, transformando situações potencialmente devastadoras em oportunidades de crescimento e aprimoramento. 2.2 Mapeamento de crises existentes e potenciais Como já visto anteriormente, a gestão de crises eficaz exige uma abordagem proativa. Não podemos esperar que as crises batam à nossa porta para então começarmos a nos preparar. Assim como um navio precisa de um radar para detectar tempestades e obstáculos no horizonte, as organizações necessitam de um sistema de alerta para identificar e analisar crises existentes e potenciais. PARE E PENSE: Sua organização está preparada para enfrentar uma crise? Você consegue identificar os pontos fracos da sua empresa que podem gerar uma crise? 90Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública E as ameaças externas? Sua empresa está atenta às mudanças no cenário político, econômico, social e tecnológico que podem impactá-la negativamente? O mapeamento de crises existentes e potenciais é uma etapa essencial no planejamento estratégico para a gestão de crises. Vejamos, então, como identificar e classificar crises de diferentes naturezas, quais as técnicas de mapeamento e como elas podem ser aplicadas para antecipar e mitigar crises. Importância do Mapeamento de Crises Identificar crises existentes e potenciais permite às organizações tomar medidas preventivas e desenvolver planos de contingência eficazes. O mapeamento envolve a análise de ameaças internas e externas, a avaliação de vulnerabilidades e a priorização de riscos com base na sua probabilidade e no seu impacto (Bernstein, 2011). Técnicas de Mapeamento de Crises O primeiro passo para a construção do nosso “radar” é a identificação das crises existentes. Esse processo exige uma análise profunda e honesta da organização, sem espaço para autoengano ou minimização de problemas. Devemos nos perguntar: Quais são os pontos fracos da nossa estrutura, dos nossos processos e da nossa cultura organizacional? Que falhas, erros ou desvios de conduta podem gerar uma crise? Para facilitar essa análise, podemos utilizar diversas ferramentas, mas aqui vamos trazer as mais práticas. Matriz SWOT A primeira delas é a Matriz SWOT, que nos ajuda a identificar as Forças, Fraquezas, Oportunidades e Ameaças da organização. Essa análise ajuda a organização a entender seu posicionamento interno e as influências externas que podem desencadear crises. As fraquezas e ameaças são elementos que podem se transformar em crises, demandando atenção especial. Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 91 Em 2022, o setor de turismo do Rio de Janeiro utilizou a análise SWOT para preparar-se para o aumento de visitantes pós-pandemia. As forças incluíam atrações turísticas mundialmente reconhecidas e infraestrutura hoteleira de qualidade. As fraquezas identificadas foram a segurança pública e a sazonalidade. As oportunidades envolveram a retomada de eventos internacionais, enquanto as ameaças incluíram a volatilidade econômica e possíveis novas ondas de Covid-19 (Junior et al, 2023). Matriz de Riscos A matriz de riscos classifica as ameaças com base na probabilidade de ocorrência e no impacto potencial. Essa ferramenta envolve a identificação de potenciais eventos negativos, a avaliação da probabilidade de sua ocorrência e o impacto que podem causar, ajudando a priorizar ações preventivas e de resposta. Essa análise deve abranger todas as áreas da organização, incluindo operações, finanças, recursos humanos, comunicação, tecnologia da informação e segurança. Vejamos exemplos de situações hipotéticas no uso da matriz de riscos: • uma empresa do setor alimentício, ao analisar seus processos,pode identificar que a falta de rigor no controle de qualidade de seus fornecedores representa uma crise em potencial. Uma matéria-prima contaminada pode gerar um escândalo sanitário, colocando em risco a saúde dos consumidores e a reputação da empresa, segundo Viana (2008); • uma instituição financeira, ao analisar seus sistemas de segurança, pode descobrir vulnerabilidades que a tornam suscetível a ataques cibernéticos. Um vazamento de dados de clientes pode gerar perdas financeiras significativas, além de sérios danos à imagem da instituição (Teixeira, 2013). É importante ressaltar que a identificação de crises existentes não se limita a problemas concretos. Devemos estar atentos também a questões subjetivas, como a percepção negativa do público em relação à empresa, a falta de confiança na liderança ou a insatisfação dos colaboradores. Rosa (2001) nos alerta sobre a importância da gestão da imagem em momentos de crise, enquanto Susskind & Field (1997) ressaltam a necessidade de se estar preparado para lidar com a opinião pública em momentos turbulentos. Ignorar esses sinais pode ser tão prejudicial quanto ignorar um problema operacional, como apontado por Augustine (2009). 92Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Olhando para Fora: Mapeando Crises Potenciais Como você notou, identificar crises existentes é fundamental, mas somente isso não é suficiente. O “radar” da gestão de crises precisa ser capaz de detectar também as crises potenciais, aquelas que ainda não se manifestaram, mas que representam uma ameaça real. Para isso, precisamos olhar para fora da organização, analisando o ambiente externo em busca de tendências, eventos e fatores que podem impactar negativamente a empresa. As crises potenciais podem ter diversas origens: Mudanças no cenário político e econômico: Crises políticas, recessões, instabilidade cambial, inflação, aumento de juros – todos esses fatores podem impactar negativamente as organizações (Bernstein,2011). Um exemplo é a crise econômica de 2008, que afetou empresas do mundo inteiro, levando muitas à falência. Desastres naturais: Terremotos, enchentes, furacões, incêndios florestais, pandemias – esses eventos podem causar danos materiais, interrupção de operações e colocar em risco a vida de colaboradores e da comunidade. A pandemia de Covid-19, por exemplo, impactou profundamente empresas de diversos setores, levando muitas a adaptarem seus modelos de negócio e a adotarem medidas emergenciais para garantir a saúde de seus colaboradores, como destacado por Forni (2019). Crises sociais: Movimentos de protesto, greves, conflitos sociais, mudanças de valores e comportamentos – esses eventos podem impactar a imagem da empresa, gerar boicotes e afetar a relação com a comunidade. Um exemplo é o movimento Black Lives Matter, que levou empresas a reavaliar suas práticas e políticas em relação à diversidade e inclusão, como analisado por Thompson (2002). Crises tecnológicas: Falhas em sistemas, ataques cibernéticos, obsolescência tecnológica, vazamento de dados – esses eventos podem causar prejuízos financeiros, interrupção de operações e comprometer a segurança de dados confidenciais. O ataque hacker à empresa de segurança digital Gemalto, em 2010, que resultou no roubo de dados de cartões SIM, é Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 93 um exemplo dos impactos de crises tecnológicas (Duarte, 2010). Crises de reputação: Ações de concorrentes, críticas de formadores de opinião, disseminação de notícias falsas – esses eventos podem manchar a imagem da empresa, afetar a confiança do público e prejudicar a relação com os stakeholders (Cardia, 2015). A crise de reputação da fabricante de aeronaves Boeing, após os acidentes com o modelo 737 MAX, é um exemplo de como a imagem de uma empresa pode ser severamente impactada por eventos negativos. Para mapear as crises potenciais, podemos utilizar diversas ferramentas, como a análise PESTEL (Político, Econômico, Social, Tecnológico, Ambiental e Legal), que nos permite analisar o ambiente externo de forma sistemática. Outra ferramenta útil é o monitoramento de mídias tradicionais e sociais, que nos permite identificar tendências, crises emergentes e percepções negativas sobre a empresa, como destacado por Barbeiro (2010). Entenda melhor o que é a análise PESTEL: 94Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Vejamos, agora, uma aplicação prática para mapear crises em três passos simples: Passo 1: Identificação das Ameaças O primeiro passo no mapeamento de crises é a identificação das ameaças. Isso pode ser feito através de análises de mercado, monitoramento de mídias sociais, e revisões de relatórios de incidentes anteriores. Passo 2: Avaliação das Vulnerabilidades Após identificar as ameaças, é necessário avaliar as vulnerabilidades internas da organização. Isso inclui revisar processos, infraestrutura e recursos humanos para identificar pontos fracos que possam ser explorados durante uma crise. Passo 3: Desenvolvimento de Planos de Contingência Com base na identificação de ameaças e vulnerabilidades, a organização deve desenvolver planos de contingência detalhados. Esses planos devem incluir protocolos de resposta, designação de responsabilidades e alocação de recursos. Construindo o “Radar”: Analisando e Classificando as Crises Após mapear as crises existentes e potenciais, o próximo passo é analisá-las e classificá- las de acordo com a probabilidade de ocorrência e o impacto que podem causar. Para essa tarefa, podemos utilizar uma matriz de riscos, como a apresentada abaixo: Observando a matriz, as crises com alta probabilidade de ocorrência e alto impacto exigem ação imediata, com a elaboração de planos de contingência detalhados Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 95 e a implementação de medidas preventivas. Já as crises com baixa probabilidade e baixo impacto podem ser apenas monitoradas, enquanto as demais exigem análise e planejamento. A classificação das crises deve ser revisada periodicamente, pois o cenário pode mudar rapidamente. Lembrando que a crise da Covid-19, por exemplo, transformou uma crise potencial de baixo impacto em uma crise real de alto impacto em questão de semanas. Como vimos, o mapeamento de crises existentes e potenciais é um processo contínuo e essencial para a gestão de crises eficaz para as organizações públicas ou privadas que desejam estar preparadas para enfrentar desafios. Para isso, elas devem estar em constante estado de alerta, monitorando os ambientes interno e externo, identificando ameaças, avaliando riscos e adaptando seus planos de contingência. Utilizando as técnicas vistas, como a análise SWOT, PESTEL e a matriz de riscos, as organizações podem identificar e mitigar ameaças antes que elas se transformem em crises. E lembre-se: a prevenção é sempre a melhor estratégia. Ao construir um “radar” eficiente, as organizações podem navegar com mais segurança em mares turbulentos, minimizando os impactos das crises e protegendo sua reputação, seus ativos e seus stakeholders. 2.3 Como ser proativo em situações de crise Para início de nosso estudo, vamos imaginar uma partida de xadrez. De um lado, temos a organização, buscando alcançar seus objetivos e construir um futuro próspero. Do outro, as crises, representadas por peças imprevisíveis que ameaçam desestabilizar o jogo e levar a um xeque-mate. PARE E PENSE: Como você pode assumir o controle do tabuleiro e ditar os movimentos, mesmo diante da imprevisibilidade das crises? A resposta que provavelmente você encontrou reside em uma palavra: proatividade! 96Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública O planejamento proativo em situações de crise é uma habilidade vital para qualquer organização. Ser proativo significa antecipar-se aos problemas antes que eles se tornem crises reais e estar preparado para agir rapidamente quando necessário. Mas,afinal, o que significa ser proativo? Ser proativo envolve tomar medidas preventivas e antecipar possíveis problemas antes que eles ocorram. Isso requer uma combinação de análise de riscos, planejamento estratégico, comunicação eficaz e uma cultura organizacional que valorize a prontidão e a adaptabilidade. É adotar uma postura estratégica, antecipando cenários, preparando-se para diferentes possibilidades e construindo uma base sólida para enfrentar as adversidades. Como, então, podemos traduzir essa proatividade em ações concretas? Vejamos. Construindo a Fortaleza: Planejamento Pré-Crise A primeira linha de defesa contra as crises é um plano de gestão de crises bem estruturado. Este documento, como já discutimos, deve funcionar como um guia detalhado, definindo papéis, responsabilidades, procedimentos e fluxos de comunicação para diferentes cenários de crise (Forni, 2019). Mas a proatividade vai além de ter um plano guardado na gaveta. É preciso garantir que ele seja vivo, atualizado e testado regularmente. Simulações, treinamentos e exercícios práticos são essenciais para garantir que a equipe esteja preparada para agir de forma rápida, coordenada e eficiente quando a crise se instalar, como enfatizado por Augustine (2009). Assim como um exército treina para a guerra em tempos de paz, as organizações devem se preparar para as crises antes que elas ocorram. Um exemplo inspirador de proatividade em planejamento pré-crise é o caso da companhia aérea americana Southwest Airlines. Após os atentados de 11 de setembro de 2001, a empresa, prevendo o impacto negativo no setor aéreo, agiu rapidamente. Reuniu sua equipe de gestão de crise, revisou seus planos de contingência e, em apenas 48 horas, implementou uma série de medidas para garantir a segurança de seus passageiros e a continuidade de suas operações. A empresa conseguiu se reerguer rapidamente, enquanto outras companhias aéreas enfrentavam dificuldades para lidar com o impacto da crise (Bernstein, 2011). Estabelecendo Canais de Comunicação Fluidos A proatividade em comunicação se manifesta na construção de canais de comunicação eficientes antes da crise. Isso significa identificar os stakeholders-chave, definir os canais de comunicação mais adequados para cada público (imprensa, redes sociais, Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 97 website, comunicados internos) e estabelecer protocolos de comunicação para diferentes cenários de crise (Duarte, 2010). A empresa Natura, reconhecida por sua comunicação transparente, oferece um exemplo notável de proatividade na gestão da comunicação em crises. Durante a pandemia de Covid-19, a empresa estabeleceu canais de comunicação diretos com seus colaboradores, consultores e consumidores, utilizando plataformas digitais para compartilhar informações relevantes, esclarecer dúvidas e oferecer suporte. Essa postura transparente e proativa contribuiu para fortalecer a confiança na marca e minimizar os impactos negativos da crise (Forni, 2019). Sistemas eficazes de alerta e comunicação são essenciais para informar rapidamente os stakeholders sobre uma crise e as ações que estão sendo tomadas. Em 2021, durante os incêndios florestais na Califórnia, os sistemas de alerta de emergência enviaram notificações via SMS para milhões de residentes, informando sobre evacuações e medidas de segurança. Isso ajudou a salvar vidas e a reduzir os danos materiais. Monitoramento Constante: Identificando os Sinais Precoces Assim como um médico monitora os sinais vitais de um paciente para detectar precocemente possíveis problemas de saúde, as organizações precisam monitorar constantemente os ambientes interno e externo em busca de sinais que possam indicar a iminência de uma crise. A proatividade, nesse contexto, traduz-se em um monitoramento constante e estratégico dos ambientes interno e externo da organização, o que permite a detecção precoce de sinais de alerta e tendências emergentes que podem levar a crises. Acompanhar as notícias, as redes sociais, as movimentações da concorrência, o humor dos stakeholders, as mudanças regulatórias – tudo isso contribui para construir um sistema de alerta eficaz, permitindo que a organização identifique e analise as ameaças antes que elas se concretizem (Teixeira, 2013). Após os ataques terroristas de 11 de setembro, os Estados Unidos estabeleceram o Departamento de Segurança Interna (DHS), que utiliza tecnologias avançadas https://netvistos.com.br/glossario/o-que-e-u-s-department-of-homeland-security-dhs/ 98Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública para monitorar ameaças potenciais em tempo real. Isso inclui vigilância cibernética, análise de inteligência e parcerias internacionais para prevenir futuros ataques. Cultivando a Cultura da Prevenção A proatividade em gestão de crises não se limita a ações pontuais, mas deve permear a cultura da organização. Isso significa promover a conscientização sobre a importância da gestão de crises em todos os níveis da empresa, incentivando os colaboradores a identificar riscos, relatar problemas e sugerir soluções. Nesse contexto, manifesta-se a criação de uma cultura de prevenção. Treinamentos, workshops, palestras, comunicação interna constante – todas essas ferramentas contribuem para criar um ambiente organizacional mais sensível aos riscos e mais preparado para enfrentá-los. Um exemplo inspirador de cultura de prevenção é o da Petrobrás. A companhia investe constantemente em treinamentos e simulações de crises, envolvendo colaboradores de diversas áreas. A empresa realiza exercícios práticos que simulam acidentes, vazamentos de óleo e outras situações de emergência, permitindo que os colaboradores testem seus conhecimentos, aperfeiçoem suas habilidades e se preparem para agir em cenários reais. A Proatividade como Vantagem Competitiva Estudante, você notou como a proatividade em gestão de crises não é um luxo, mas uma necessidade estratégica? Em um mundo cada vez mais complexo e imprevisível, as crises são inevitáveis. Mas a forma como as enfrentamos faz toda a diferença. A proatividade nos permite sair da defensiva, assumir o controle do tabuleiro, ditar os movimentos e transformar as crises em oportunidades de aprendizado e crescimento. Lembre-se: As crises podem nos pegar de surpresa, mas a forma como respondemos a elas é uma escolha. E a proatividade é a escolha estratégica para proteger a reputação, os ativos e o futuro da organização. Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 99 Planejamento 1. Pensamento Estratégico em Crises: analisar o contexto, definir objetivos claros e desenvolver um plano de ação detalhado para adaptação rápida. 1. Simulações de Crise proporcionar um ambiente controlado para aprimorar habilidades de resposta e identificar fragilidades. 1. Análise de Cenários: antecipar problemas e preparar estratégias alternativas para agir de forma proativa. 1. Revisão Pós-Crise: avaliar a resposta e melhorar planos e protocolos com base nas lições aprendidas. Metodologias de Gestão de Crises no setor público Fonte: https://www.vecteezy.com 1 2 3 4 https://www.vecteezy.com/photo/12533890-business-people-group-on-meeting-at-modern-bright-office 100Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública UNIDADE 3 - COMUNICAÇÃO Ao final desta unidade, você será capaz de comunicar-se efetivamente em situações de crise. 3.1 O papel da comunicação no enfrentamento de crises A comunicação eficaz é o alicerce da gestão de crises. Em momentos de turbulência, a informação precisa fluir de forma clara, rápida e transparente, tanto internamente, para alinhar a equipe e garantir a coesão, quanto externamente, para manter o público informado e preservar a confiança na organização (Barbeiro, 2010; Neves, 2002). Uma situação lamentável, mas que ocorre em alguns países, são os terremotos. Comparando essa situação de crise natural com uma empresa, a analogia é que ela sacode asestruturas, abre fendas profundas e deixa um rastro de incerteza e caos. Nesse cenário instável, a comunicação atua como uma ponte, reconectando a organização com seus stakeholders, reconstruindo a confiança e abrindo caminho para a recuperação. Neste capítulo, vamos explorar a importância estratégica da comunicação no enfrentamento de crises, desvendando como ela pode ser utilizada para minimizar danos, proteger a reputação e fortalecer a imagem da organização. VAMOS REFLETIR: Mas como a comunicação pode exercer um papel tão crucial em momentos de crise? Em situações de crise, a desinformação se espalha como um vírus, amplificando o medo, gerando boatos e prejudicando a capacidade da organização de lidar com a situação. A comunicação eficaz atua como um antídoto, combatendo a desinformação com informações precisas, transparentes e oportunas. Assumir o controle da narrativa, comunicando-se de forma proativa com os stakeholders, é essencial para evitar que a crise se agrave. A empresa precisa ser a principal fonte de informação sobre a crise, garantindo que sua versão dos fatos seja a que prevalece. Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 101 Para você entender o papel da comunicação no setor público, leia este artigo para aprofundar seu entendimento sobre esse assunto. https://blog.1doc.com.br/comunicacao-institucional/ Empatia e Humanização: Construindo Pontes Emocionais Crises não são apenas eventos racionais, mas também emocionais. Em momentos de incerteza e medo, as pessoas buscam segurança, compreensão e empatia. A comunicação eficaz, nesse contexto, precisa ir além da mera transmissão de informações. É preciso construir pontes emocionais com os stakeholders, demonstrando empatia, reconhecendo suas preocupações e oferecendo apoio. A humanização da comunicação, colocando rostos e histórias por trás de uma organização, é uma estratégia poderosa para fortalecer a conexão emocional com o público. Mensagens frias e impessoais, por outro lado, podem soar insensíveis e agravar a crise. Talvez você se lembre do caso ocorrido com a companhia aérea TAM, após o acidente com o voo JJ 3054, em 2007, em São Paulo. A empresa, reconhecendo a dor e o sofrimento dos familiares das vítimas, adotou uma postura comunicacional marcada pela empatia e pelo respeito. A TAM criou um website dedicado a fornecer informações sobre o acidente, ofereceu apoio psicológico e logístico aos familiares das vítimas e comprometeu-se a conduzir uma investigação transparente sobre as causas do acidente. Essa postura comunicacional humanizada, embora não pudesse apagar a tragédia, contribuiu para minimizar o impacto negativo da crise sobre a imagem da empresa (Barbeiro, 2010). Transparência e Autenticidade: A Verdade como Pilar Central Em tempos de crise, a confiança é um ativo precioso, facilmente perdido e difícil de recuperar. A comunicação transparente e autêntica é a base para a reconstrução da confiança. Esconder informações, manipular a verdade ou adotar um discurso evasivo pode ter consequências desastrosas, amplificando a crise e comprometendo a reputação da organização. A verdade, mesmo que dolorosa, é sempre a melhor estratégia. Admitir erros, assumir responsabilidades e apresentar soluções concretas demonstram que a organização está comprometida em solucionar a crise e recuperar a confiança do público. https://blog.1doc.com.br/comunicacao-institucional/ 102Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Um exemplo notável de comunicação transparente em crises da gestão pública ocorreu em fevereiro de 2022, na cidade de Petrópolis, no estado do Rio de Janeiro, que foi atingida por fortes chuvas que resultaram em graves enchentes e deslizamentos de terra. A Defesa Civil utilizou um sistema de alerta por SMS para avisar os moradores das áreas de risco sobre a necessidade de evacuação. Além disso, as autoridades locais realizaram coletivas de imprensa diárias para atualizar a situação e as medidas de socorro. A rápida e eficaz comunicação ajudou a salvar vidas e a organizar melhor os esforços de resgate e assistência. Adaptação e Flexibilidade: Navegando em um Mar de Mudanças Crises são imprevisíveis e dinâmicas. A comunicação eficaz precisa adaptar-se à evolução da crise, ajustando as mensagens, os canais de comunicação e as estratégias de acordo com as necessidades do momento. O monitoramento constante da mídia, das redes sociais e da opinião pública é essencial para garantir que a comunicação permaneça relevante e eficaz durante todo o ciclo da crise. A flexibilidade é fundamental para ajustar a estratégia comunicacional em tempo real, respondendo a novas informações, demandas do público e desafios inesperados. Um exemplo de adaptação e flexibilidade na comunicação em crises é o caso da empresa brasileira JBS, após a delação premiada dos irmãos Batista, em 2017, que envolveu a empresa em um escândalo de corrupção. A JBS, diante da repercussão negativa do caso, adotou uma postura comunicacional dinâmica, adaptando suas mensagens e estratégias de acordo com a evolução da crise. A empresa utilizou diferentes canais de comunicação, incluindo a imprensa, as redes sociais e os comunicados internos, para divulgar informações sobre a investigação, esclarecer dúvidas, pedir desculpas pelo ocorrido e apresentar medidas para fortalecer a ética e a governança corporativa. Essa postura comunicacional adaptativa, embora não tenha eliminado as críticas, contribuiu para mitigar os danos à reputação da empresa (Forni, 2019). Ferramentas e Técnicas de Comunicação em Crises Vejamos, agora, quais são as ferramentas e técnicas de comunicação que podem ser usadas com sucesso pelos gestores e líderes para lidarem com situações de crises: Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 103 Como vimos, a comunicação eficaz não é apenas um complemento, mas um pilar central da gestão de crises. Ela atua como uma ponte, conectando a organização com seus stakeholders, reconstruindo a confiança e abrindo caminho para a recuperação. Em momentos de crise, a comunicação precisa ser proativa, transparente, empática, autêntica e adaptativa. Transparência, rapidez e consistência são princípios fundamentais que devem guiar as ações de comunicação. Utilizando ferramentas adequadas e técnicas de monitoramento, as organizações podem gerenciar crises de maneira mais eficiente, minimizar impactos negativos e manter a confiança dos stakeholders. Lembre-se: em um mundo cada vez mais conectado e transparente, a comunicação eficaz pode ser a diferença entre o sucesso e o fracasso na gestão de crises. Comunicações Internas Manter os funcionários informados é crucial para garantir a continuidade das operações e a moral da equipe. Ferramentas como e-mails, reuniões virtuais e intranet corporativa são essenciais para disseminar informações internamente. Relações Públicas e Media Training Preparar os porta-vozes para lidar com a mídia é fundamental. O media training ensina a lidar com perguntas difíceis, manter a calma e transmitir as mensagens-chave de forma clara e convincente. Monitoramento de Mídias Sociais As mídias sociais são uma ferramenta poderosa para monitorar o sentimento público e responder rapidamente a boatos e desinformação. Plataformas como Twitter, Facebook e Instagram permitem uma comunicação direta e imediata com os stakeholders. Fonte: freepik.com Fonte: freepik.com Fonte: freepik.com 104Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 3.2 Como comunicar para prevenir e administrar crises Vamos, agora, explorar como a comunicação estratégica pode ser utilizada não apenas para administrar e comunicar as crises, mas também para preveni-las, construindo um alicerce sólido de confiança e transparência. PARE E PENSE: Como você utiliza a comunicação de forma proativa para prevenir uma crise iminente em sua organização ou setor de atuação? Se usarmos a analogia de um marinheiro experienteque está atento aos ventos e as correntes marítimas para que possam conduzir sua embarcação de forma segura, as organizações devem estar atentas ao que se fala sobre elas e ao seu redor. Monitorar ativamente a mídia, as redes sociais, as conversas online, as pesquisas de opinião e o humor dos stakeholders é fundamental para identificar potenciais focos de crise antes que eles se transformem em incêndios incontroláveis, ou seja, comunicar proativamente envolve fornecer informações antes que a crise ocorra. A comunicação, nesse contexto, atua como o radar de um navio, detectando sinais precoces de crise, como críticas, rumores, reclamações, insatisfações e mudanças na percepção do público. Ao identificar essas “brasas” antes que se transformem em “chamas”, a organização pode agir de forma preventiva, utilizando a comunicação para esclarecer dúvidas, corrigir rumos, desfazer mal entendidos e fortalecer a confiança dos stakeholders (Viana, 2008). Construindo Relações Fortes: Diálogo Aberto e Transparência A comunicação eficaz não se limita a momentos de crise, mas deve ser uma prática constante na relação da organização com seus stakeholders. Construir relações sólidas, baseadas no diálogo aberto, na transparência e na confiança mútua, cria um ambiente propício para a prevenção de crises. Ao comunicar-se de forma regular e transparente com seus stakeholders, a organização demonstra que está aberta ao diálogo, que se importa com suas opiniões e que está disposta a construir um relacionamento de longo prazo. Essa postura comunicacional, além de contribuir para a construção de uma imagem positiva da organização, também ajuda a prevenir crises, pois os stakeholders, sentindo-se ouvidos e respeitados, tendem a ser mais compreensivos e menos propensos a críticas e ataques em momentos de dificuldade (Susskind & Field, 1997). Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 105 Veja esta iniciativa do Governo do Pará na construção de uma comunicação e relação com sua comunidade em seu plano estratégico “Pará 2050”, no qual o governo adotou a chamada “escuta social”, que contará com a participação da população para definir as metas e estratégias para o desenvolvimento do estado nas próximas décadas. Para saber mais, acesse o site do Governo do Pará. Gestão de Expectativas: Comunicação Clara e Realista Provavelmente, você já se deparou com situações de crises que, muitas vezes, e originam-se de expectativas não atendidas. A comunicação eficaz, nesse contexto, deve ser utilizada para gerenciar as expectativas dos stakeholders, transmitindo informações claras, precisas e realistas sobre os planos, as ações e as limitações da organização. Prometer o que não se pode cumprir, gerar expectativas irreais ou tentar esconder informações relevantes podem ter consequências desastrosas, levando à frustração, à perda de confiança e, consequentemente, a crises de reputação. A comunicação transparente e honesta, mesmo que revele dificuldades e limitações, é sempre a melhor estratégia para construir uma base sólida de confiança com os stakeholders (Bernstein, 2011). Para citar um exemplo, temos a empresa Natura, que, segundo Forni (2019), tem sido notícia pela sua comunicação transparente e construção de relações sólidas com seus stakeholders. A empresa, reconhecida por sua postura ética e transparente, mantém canais de comunicação abertos com seus colaboradores, consultores, fornecedores e consumidores. Também realiza pesquisas de opinião, promove fóruns de debate, utiliza plataformas digitais para compartilhar informações relevantes e incentiva o feedback constante de seus stakeholders. Essa postura comunicacional transparente e dialógica contribui para fortalecer a confiança na marca, construir uma imagem positiva e sólida e ajuda a empresa a prevenir crises de reputação. Comunicação Interna: Fortalecendo as Bases da Organização Já vimos a importância da comunicação interna e, aqui, é importante ressaltar que ela é frequentemente negligenciada na gestão de crises, mas é fundamental para garantir que todos os colaboradores estejam informados, alinhados e preparados para lidar com a situação. Uma comunicação interna eficaz ajuda a prevenir boatos, reduzir o estresse, fortalecer a coesão da equipe e garantir que todos trabalhem em conjunto para superar a crise. 106Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Em momentos de crise, a organização precisa comunicar-se de forma rápida, clara e transparente com seus colaboradores, informando sobre a situação, as medidas que estão sendo tomadas, os impactos esperados e o papel de cada um na superação da crise. A comunicação interna eficaz ajuda a transformar os colaboradores em aliados na gestão da crise, contribuindo para minimizar os danos e acelerar o processo de recuperação (Augustine, 2009). Comunicação de Crise: Agindo com Rapidez, Precisão e Empatia Reforçando pontos importantes, quando a crise se instala, a comunicação eficaz torna-se ainda mais crucial. A organização precisa agir com rapidez, precisão e empatia, comunicando-se de forma transparente com seus stakeholders, assumindo responsabilidades, apresentando soluções e demonstrando que está empenhada em solucionar a crise. Em momentos de crise, a comunicação deve ser: • Rápida: É fundamental comunicar-se com os stakeholders o mais rápido possível, antes que boatos e desinformação se espalhem. • Precisa: As informações devem ser claras, concisas e fáceis de entender, evitando jargões técnicos e mensagens ambíguas. • Transparente: Esconder informações ou manipular a verdade pode ter consequências desastrosas, minando a confiança do público. • Empática: É importante demonstrar compreensão e compaixão pelos afetados pela crise, reconhecendo suas preocupações e oferecendo apoio. • Orientada para a solução: O foco da comunicação deve ser apresentar soluções para a crise, demonstrando que a organização está agindo para resolver o problema. Para ilustrar sobre uma comunicação de crise eficaz, vamos resgatar o caso da empresa japonesa Toyota. Em 2010, a empresa enfrentou uma crise global após o recall de milhões de veículos por problemas de aceleração involuntária. A Toyota, reconhecendo a gravidade da situação, agiu rapidamente para comunicar-se com seus stakeholders. A empresa emitiu comunicados à imprensa, publicou informações em seu website, criou um canal telefônico exclusivo para atender clientes e realizou uma série Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 107 de entrevistas e coletivas de imprensa para esclarecer dúvidas e apresentar soluções para o problema. A postura comunicacional da Toyota, embora não tenha evitado danos à sua reputação, contribuiu para minimizar o impacto da crise e recuperar a confiança do público (Bernstein, 2011). Encerrando esse tema, vimos que a comunicação estratégica é uma ferramenta poderosa na gestão de crises. Utilizada de forma preventiva, ela pode fortalecer a reputação, construir relações sólidas com stakeholders e evitar que crises ocorram. Em momentos de crise, a comunicação eficaz torna-se ainda mais crucial, ajudando a minimizar danos, recuperar a confiança e conduzir a organização em direção à recuperação. E lembre-se: a comunicação eficaz é um investimento estratégico que pode proteger a organização em momentos de calmaria e guiá-la em direção à segurança em meio à tempestade. 3.3 Praticando a comunicação com diversos públicos Olá, estudante! Aqui, vamos comparar uma crise com um palco de teatro, onde diversos atores, com diferentes interesses e expectativas, se reúnem. A comunicação eficaz, nesse cenário, atua como um diretor, conduzindo as falas nos momentos necessários e garantindo que cada ator seja ouvido, compreendido e engajado na busca por soluções. Então, vamos aqui explorar a importância de adaptar a comunicação a diferentes públicos em momentos de crise, compreendendo suas necessidades específicas e construindo mensagenspersonalizadas que ressoem emcada um deles. Mas antes de irmos adiante... VAMOS REFLETIR: Como você poderia garantir que a comunicação seja eficaz para todos os públicos envolvidos na crise? Iniciamos essa etapa, antes de elaborar qualquer tipo de mensagem, mapeando os stakeholders, ou seja, identificando os diferentes públicos que serão impactados pela crise e suas necessidades específicas. Clientes, funcionários, fornecedores, investidores, imprensa, comunidade, órgãos reguladores – cada grupo terá suas próprias preocupações, expectativas e formas de comunicar-se. 108Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Compreender o perfil de cada público, suas necessidades e canais de comunicação preferidos é essencial para construir mensagens eficazes que ressoem emcada um deles. Ignorar as particularidades de cada público pode levar a mensagens genéricas, ineficazes e até mesmo contraproducentes. Adaptando a Linguagem: Uma Mensagem para Cada Ouvido Agora, pensando em um maestro ajustando a melodia para cada instrumento da orquestra, a comunicação eficaz em crises exige a adaptação da linguagem e do tom da mensagem para cada público. O que funciona para a imprensa, por exemplo, pode não ser adequado para os funcionários, e vice-versa. A linguagem utilizada na comunicação com a imprensa deve ser objetiva, factual e baseada em dados e evidências. Já na comunicação com os funcionários, a linguagem pode ser mais informal, pessoal e focada em oferecer apoio e tranquilidade. Já na comunicação com a comunidade, é importante adotar uma linguagem acessível, transparente e que demonstre preocupação com os impactos da crise sobre a vida das pessoas. O autor Berstein (2011) trouxe um caso interessante de adaptação de linguagem na comunicação, ocorrido em 2007 com a Empresa Mattel, conhecida por fabricar a boneca Barbie e os carrinhos Hot Wheels. 7 Nesse ano, a empresa enfrentou uma crise após a detecção de altos níveis de chumbo na tinta utilizada em algumas bonecas fabricadas na China. A Mattel, reconhecendo a gravidade da situação, utilizou diferentes estratégias de comunicação para se dirigir aos seus diversos públicos. Para a imprensa, a empresa divulgou comunicados oficiais, informando sobre o recall das bonecas e as medidas tomadas para garantir a segurança dos seus produtos. Para os pais, a Mattel criou um website com informações detalhadas sobre o problema, dicas de segurança e instruções para a troca das bonecas afetadas. Essa estratégia de comunicação segmentada, com linguagem e canais de comunicação adaptados a cada público, contribuiu para minimizar os danos à reputação da empresa e restabelecer a confiança dos consumidores. Vejamos, de forma resumida em cinco tópicos, quais são as boas práticas para comunicar com diversos públicos: Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 109 1. Conheça seu Público: Entenda as necessidades, preocupações e níveis de conhecimento de cada grupo de stakeholders. 1. Adapte a Mensagem: Personalize a mensagem para tornar a comunicação relevante e compreensível para cada público. 1. Use Múltiplos Canais: Utilize diferentes canais de comunicação para alcançar todos os públicos de maneira eficaz. 1. Seja Transparente: Mantenha a transparência em todas as comunicações para construir confiança e credibilidade. 1. Monitore e Ajuste: Colete feedback dos stakeholders e ajuste a comunicação conforme necessário para atender às suas necessidades. Como escolher corretamente os canais de comunicação A escolha dos canais de comunicação também deve ser estratégica, considerando os diversos públicos, a urgência da mensagem e os recursos disponíveis. Em alguns casos, um comunicado oficial à imprensa pode ser suficiente. Em outros, pode ser necessário utilizar as redes sociais, realizar coletivas de imprensa, enviar comunicados internos, criar websites dedicados à crise ou estabelecer um canal de atendimento telefônico exclusivo. No atual momento histórico, vemos como a comunicação digital, com o uso de redes sociais, websites e e-mail, desempenha um papel cada vez mais importante na comunicação em crises, permitindo que a organização comunique-se de forma rápida, direta e transparente com seus stakeholders. No entanto, é preciso ter cuidado para não negligenciar ou abandonar os canais de comunicação tradicionais, como a imprensa e os contatos pessoais, que ainda são importantes para alcançar determinados públicos. Construindo narrativas consistentes com o seu público A comunicação eficaz em crises exige consistência na mensagem, independentemente do canal de comunicação utilizado. É fundamental que todos os porta-vozes da organização estejam alinhados, transmitindo a mesma mensagem, com o mesmo 1 2 3 4 5 110Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Comunicação 1. Comunicação Eficaz e Transparente: a comunicação precisa ser clara, rápida e transparente para alinhar a equipe e manter a confiança pública. 1. Empatia e Humanização: demonstrar empatia e construir pontes emocionais são essenciais para fortalecer a conexão com os stakeholders. Fonte: https://www.vecteezy.com tom e a mesma linguagem, para evitar ruídos na comunicação e comprometer a credibilidade da organização. Uma narrativa inconsistente, com informações desencontradas, pode gerar confusão, desconfiança e aumentar a ansiedade do público. A organização precisa comunicar-se como “uma só voz”, transmitindo uma mensagem clara, transparente e coerente para todos os seus stakeholders. Concluindo o assunto, comunicar efetivamente em crises exige a sensibilidade para compreender as necessidades, os anseios e as expectativas dos diversos públicos impactados pela situação. Adaptar a linguagem, os canais de comunicação e a mensagem a cada público é fundamental para construir pontes, fortalecer a confiança, minimizar danos e conduzir a organização em direção à recuperação. Lembre-se: a comunicação eficaz em crises é uma sinfonia de vozes, na qual cada instrumento, cada melodia e cada compasso contribuem para a harmonia do conjunto. 1 2 https://www.vecteezy.com/photo/10758117-doctor-holding-wood-cube-block-sos-icon-health-care-business-concept-on-desk Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 111 1. Adaptação e Flexibilidade: ajustar mensagens e estratégias de comunicação conforme a crise evolui é crucial para manter a relevância e a eficácia. 1. Gerenciamento de Expectativas: transmitir informações claras e realistas é fundamental para evitar frustrações e construir uma base sólida de confiança. 1. Ferramentas e Técnicas de Comunicação: utilizar canais de comunicação adequados e preparar porta-vozes são práticas essenciais para gerenciar crises de forma eficiente. 3 4 5 112Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Referências AUGUSTINE, Norman R. Como lidar com as crises – Os segredos para prevenir e solucionar situações críticas. Rio de Janeiro, Elsevier, 2009. BARBEIRO, Heródoto. Crise e Comunicação Corporativa. São Paulo: Globo, 2010. BERNSTEIN, Jonathan. Managers’s Guide to Crisis Management. New York: McGraw- Hill, 2011. CARDIA. Wesley. Crise de Imagem – Os conceitos e os meios necessários para compreender os elementos que levam às crises e como administrá-las. Rio de Janeiro: Mauad X, 2015. DUARTE. Jorge. Assessoria de Imprensa e Relacionamento com a mídia. Teoria e Técnica. 4ª edição – São Paulo: Atlas, 2010. FORNI, João José. Gestão de Crises e Comunicação – O que Gestores e Profissionais de Comunicação precisam saber para enfrentar Crises Corporativas. São Paulo: Atlas, 2019, 3ª edição. FORNI, J.J. Comunicação em tempos de crise. Entrevista à revista Organicom – Revista Brasileira de Comunicação Organizacional e Relações Públicas – 2º semestre de 2007. São Paulo: ECA/USP, 2007. p. 196 a 211. JUNIOR, Enderson Luiz & COUTINHO, JOSÉ & Gomes, Carlos Francisco & Santos, Marcos. (2023). Potencial turístico da cidade do rio de janeiropós-pandemia do covid-19: estruturação e análise com o método momentum. 10.14488/enegep2023_ tn_wpg_401_1971_45691. Disponível em: (PDF) POTENCIAL TURÍSTICO DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO PÓS-PANDEMIA DO COVID-19: ESTRUTURAÇÃO E ANÁLISE COM O MÉTODO MOMENTUM (researchgate.net) Acesso em 17 maio 2024. NEVES, Roberto de Castro. Crises Empresariais com a opinião pública. Rio de Janeiro: Mauad, 2002. ROSA, Mário. A Síndrome de Aquiles – Como lidar com as crises de imagem. São Paulo: Editora Gente, 2001. SUSSKIND, Lawerence & Field, Patrick. Em crise com a opinião pública. São Paulo: Futura, 1997. TEIXEIRA, Patrícia. Caiu na Rede. E agora? – Gestão e Gerenciamento de Crises nas redes Sociais. São Paulo: Évora, 2013. https://www.researchgate.net/publication/375057285_POTENCIAL_TURISTICO_DA_CIDADE_DO_RIO_DE_JANEIRO_POS-PANDEMIA_DO_COVID-19_ESTRUTURACAO_E_ANALISE_COM_O_METODO_MOMENTUM https://www.researchgate.net/publication/375057285_POTENCIAL_TURISTICO_DA_CIDADE_DO_RIO_DE_JANEIRO_POS-PANDEMIA_DO_COVID-19_ESTRUTURACAO_E_ANALISE_COM_O_METODO_MOMENTUM https://www.researchgate.net/publication/375057285_POTENCIAL_TURISTICO_DA_CIDADE_DO_RIO_DE_JANEIRO_POS-PANDEMIA_DO_COVID-19_ESTRUTURACAO_E_ANALISE_COM_O_METODO_MOMENTUM Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 113 THOMPSON, J.B. O escândalo político – Poder e visibilidade na era da mídia. Petrópolis: Vozes, 2002. VIANA, Francisco e outros. A surdez das empresas – Como ouvir a sociedade e evitar crises. São Paulo: Lazuli Editora: Companhia Editora Nacional, 2008. 114Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Glossário Definição / significado:Termo:N°: Público estratégico; descreve todas as pessoas ou “grupo de interesse” que são impactados pelas ações de um empreendimento, projeto, empresa ou negócio. Em inglês stake significa interesse, participação, risco. Holder significa aquele que possui. Assim, stakeholder também significa parte interessada ou interveniente. Fonte: https://www.significados.com.br/stakeholder/ Stakeholder1 São dados que contêm maior variedade, chegando em volumes crescentes e com mais velocidade. Isso também é conhecido como os três Vs. Simplificando, big data é um conjunto de dados maior e mais complexo, especialmente de novas fontes de dados. Fonte: O que é Big Data? | Oracle Brasil Big Data2 O termo VUCA é um acrônimo em inglês para Volatility, Uncertainty, Complexity and Ambiguity. Quando traduzido para o português, o acrônimo se torna VICA - Volatilidade, Incerteza, Complexidade e Ambiguidade: Fonte: Mundo VUCA: O que é, Conceito e Definição - G4 Educação (g4educacao.com) Ambiente VUCA3 https://www.significados.com.br/stakeholder/ https://g4educacao.com/glossario/significado-mundo-vuca https://g4educacao.com/glossario/significado-mundo-vuca Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 115 Módulo Gerenciando uma Crise3 Unidade 1 - Entendendo a crise: identificando causas e consequências Ao final desta unidade, você será capaz de identificar as causas e consequências das crises. 1.1 Coleta de informações e análise da situação Olá, estudante! Nesta primeira unidade de nosso aprendizado, vamos aprender as melhores estratégias para gerenciarmos crises, sejam elas na esfera pública, sejam elas naprivada. Como líder ou gestor, você deve equipar-se das melhores práticas para confrontar e ter sucesso na gestão de crises em sua organização. Então, vamos adiante! PARE E PENSE: Em um cenário de crise, como um líder pode equipar-se com as informações necessárias para tomar decisões assertivas e navegar por um terreno tão desafiador? Para um líder de sucesso, “conhecer o terreno que vai adentrar é fundamental para vencer qualquer batalha”, já dizia Sun Tzu, o lendário estrategista militar chinês. Essa máxima, embora milenar, reveste-se de especial importância quando o campo de batalha é o terreno acidentado e imprevisível da gestão de crises. Vamos explorar, então, a primeira e crucial etapa no enfrentamento de crises: a coleta de informações e a análise da situação. 116Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Reconhecendo os Sinais Vitais da Crise Imagine um médico diante de um paciente em estado crítico. Antes de qualquer intervenção, o primeiro passo é aferir os sinais vitais: pulso, pressão arterial, temperatura, saturação de oxigênio. Esses indicadores fornecem um retrato imediato da gravidade da situação e orientam as ações subsequentes. Na gestão de crises, a coleta de informações desempenha um papel análogo, permitindo que diagnostiquemos a natureza, a escala e a urgência da crise. Ou seja, antes de qualquer ação efetiva em uma crise, é essencial ter uma compreensão clara do que está acontecendo. A coleta de informações é o primeiro passo para isso. Como Augustine (2009) aponta, a primeira tarefa em qualquer crise é obter o máximo de informações possível, o mais rápido possível, para poder tomar decisões informadas. Fontes de Informação: Desvendando a Crise por Múltiplos Ângulos Assim como um detetive busca pistas em diferentes cenas de um crime, a gestão de crises requer a coleta de informações de múltiplas fontes. Cada fonte oferece uma perspectiva única sobre a situação, permitindo que construamos uma compreensão mais completa e acurada da crise. Podemos classificar as fontes de dados da seguinte forma: Fontes Primárias: São informações originais, não interpretadas ou analisadas, que fornecem dados brutos e informações de primeira mão sobre um determinado tópico ou evento. São consideradas a fonte mais confiável e autêntica de informação e podem ser obtidas de documentos históricos, artigos científicos, entrevistas, diários, relatórios, pesquisas de campo, etc. Fontes Secundárias: São interpretações e análises de informações primárias, que podem ser obtidas pela análise de mídia, relatórios de terceiros, pesquisas acadêmicas e bases de dados públicas. Estas fontes organizam, sintetizam e avaliam as informações primárias e servem para contextualizar, explicar e discutir os dados originais. Tecnologia e Big Data: Utilização de ferramentas de análise de dados, como monitoramento de redes sociais, análise de tendências de busca e sistemas de inteligência artificial para identificar padrões emergentes. São Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 117 conjuntos de dados extremamente grandes e complexos, que não podem ser processados usando software e hardware tradicionais. O Big Data, por exemplo, permite analisar padrões, tendências e correlações em grandes volumes de informações, o que pode levar a insights valiosos e tomadas de decisão mais embasadas. Um exemplo emblemático de uso eficiente de coleta de informações ocorreu durante o rompimento da barragem de Mariana, em 2015. As autoridades do governo e as empresas envolvidas utilizaram drones e satélites para monitorar a área afetada, coletando dados em tempo real que foram cruciais para a coordenação das operações de resgate e mitigação (FORNI, 2019). Outras fontes de informações podem ser obtidas de: Fontes Internas Fontes Externas Relatórios de funcionários e departamentos: Funcionários na linha de frente são frequentemente os primeiros a detectar sinais de crise. Seus relatos fornecem informações valiosas sobre a natureza do problema, o seu impacto inicial e as possíveis causas. Cobertura da mídia: A forma como a mídia aborda a crise influencia a percepção pública. É fundamental monitorar as notícias, identificar os principais veículos e jornalistas envolvidos e avaliar o tom da cobertura. Dados operacionais e financeiros: Mudanças bruscas em indicadores de desempenho, reclamações de clientes e flutuações financeiras podem sinalizar crises emergentes. Opinião pública: Pesquisas de opinião e o monitoramento de redes sociais fornecem insights valiosos sobre as percepções, as preocupações e as expectativas do público. Sistemas de monitoramento de mídias sociais: Redessociais são termômetros sensíveis da opinião pública. O monitoramento dessas plataformas permite identificar focos de insatisfação, rumores e potenciais ameaças à reputação da organização. Relatórios de órgãos reguladores e outras instituições: Informações de órgãos governamentais, associações de classe e outras instituições podem ser cruciais para compreender os contextos legal, social e econômico da crise. 118Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Para ilustrar o que você viu até aqui, vamos relembrar o caso da Deepwater Horizon, plataforma de petróleo da British Petroleum (BP), que, em 2010, explodiu no Golfo do México, provocando o maior desastre ambiental da história dos Estados Unidos. A BP, além de lidar com os impactos ambientais e econômicos da tragédia, enfrentou uma crise de imagem sem precedentes. A empresa foi acusada de negligência, de falta de transparência e de priorizar lucros em detrimento da segurança. Nesse caso, a coleta de informações foi crucial para que a BP compreendesse a magnitude da crise e as diferentes dimensões do problema (ambiental, social, econômica e reputacional). A empresa monitorou atentamente a cobertura da mídia, a opinião pública, os relatórios de órgãos ambientais e as ações de outras partes interessadas, como políticos e grupos ambientalistas. Análise da Situação: Traçando um Mapa Detalhado da Crise Após a coleta de informações, é necessário analisá-las cuidadosamente para entender a magnitude da crise e suas possíveis implicações. Segundo Bernstein (2011), a análise precisa da situação é vital para determinar o curso de ação mais adequado. Diversas ferramentas podem ser utilizadas para analisar as informações coletadas e identificar padrões e tendências relevantes. Veja, abaixo, as que são usadas com maior frequência nesse tipo de análise: Análise SWOT A análise de forças (Strengths), fraquezas (Weaknesses), oportunidades (Opportunities) e ameaças (Threats) permite avaliar a posição da organização em relação à crise, identificando pontos fortes a serem explorados, fraquezas a serem corrigidas, oportunidades a serem aproveitadas e ameaças a serem mitigadas. Fo nt e: r oc kc on te nt .c om https://rockcontent.com/br/blog/como-fazer-uma-analise-swot/ Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 119 Matriz de impacto e probabilidade Essa matriz permite priorizar os riscos associados à crise com base na sua probabilidade de ocorrência e no seu potencial impacto. Análise de cenários A construção de cenários alternativos sobre a evolução da crise auxilia na preparação para diferentes possibilidades e no desenvolvimento de planos de contingência mais robustos. Fonte: ferramentasdaqualidade.org Fonte: freepik.com https://ferramentasdaqualidade.org/matriz-de-riscos-matriz-de-probabilidade-e-impacto/ freepik.com 120Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Modelos de Decisão Utilização de árvores de decisão e outros modelos matemáticos para avaliar as opções disponíveis e suas possíveis consequências. Fonte: ebaconline.com.br Estudo de Caso Para ilustrar e facilitar seu entendimento de forma prática, vejamos dois casos ocorridos dentro do contexto queestamos estudando. CONTINUE Caso 1: Crise da Petrobrás Em 2014, a Petrobrás enfrentou uma grave crise de corrupção que abalou a confiança dos investidores e do público. A empresa precisou coletar rapidamente uma vasta quantidade de informações internas e externas para entender a extensão do problema. A análise dessas informações revelou um esquema https://ebaconline.com.br/blog/arvore-de-decisao-seo Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 121 complexo de corrupção que envolvia executivos de alto nível e empreiteiras. A partir dessa análise, a Petrobrás implementou uma série de reformas de governança e transparência para mitigar os danos e recuperar sua credibilidade (CARDIA, 2015). Caso 2: Fukushima e a Gestão de Crises no Japão O desastre nuclear de Fukushima, em 2011, foi outro exemplo de como a coleta e análise de informações são cruciais em uma crise. O governo japonês, junto com a Tokyo Electric Power Company (TEPCO), enfrentou desafios significativos para obter dados precisos sobre os níveis de radiação e o estado dos reatores. A análise desses dados permitiu a evacuação de áreas afetadas e a implementação de medidas de contenção para minimizar os riscos à saúde pública (DANIELS, 2016). Desafios na Coleta e Análise de Informações Embora a importância da coleta e análise de informações seja clara, existem vários desafios associados a essas atividades. Vejamos quais são eles: • Velocidade e Precisão: durante uma crise, a necessidade de agir rapidamente pode comprometer a precisão das informações coletadas. É crucial equilibrar a rapidez com a necessidade de dados precisos. • Fontes Confiáveis: nem todas as fontes de informação são igualmente confiáveis. Diferenciar entre fontes confiáveis e não confiáveis é essencial para evitar decisões baseadas em dados incorretos. • Interpretação dos Dados: a análise de dados pode ser complexa, especialmente quando se lida com grandes volumes de informações. Ferramentas analíticas avançadas e profissionais experientes são necessários para interpretar os dados corretamente. Para concluirmos este tópico, vimos que a coleta de informações e a análise da situação são os pilares que sustentam a gestão eficaz de crises. Assim como um general estuda o campo de batalha antes de enviar suas tropas, os gestores devem reunir dados, analisar as circunstâncias e compreender a natureza da crise antes de agir. Informação é poder e, na gestão de crises, a informação precisa e oportuna é a arma mais poderosa que temos à disposição. 122Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Lembre-se: a fase de coleta de informações e análise da situação não é um evento isolado, mas sim um processo contínuo que deve ser revisitado e aprimorado à medida que a crise evolui. A informação é dinâmica, assim como as crises que enfrentamos. Portanto, manter os canais de informação abertos e atualizados é essencial para a tomada de decisões estratégicas e eficazes em todos os estágios da crise. (Bernstein, 2011). Nesta entrevista à CBN, o autor e professor João José Forni fala sobre a gestão de crises e quais os cuidados a serem tomados para não desonrar a reputação de uma organização. 1.2 Identificação das causas raízes da crise Você já deve ter notado em algum momento de sua jornada profissional que “tratar os sintomas sem investigar as causas é como podar as folhas de uma árvore doente, sem cuidar das raízes”, como já nos alertava o filósofo grego Sócrates. Na gestão de crises, essa analogia aplica-se perfeitamente. Identificar as causas raízes da crise, e não apenas seus sintomas superficiais, é crucial para a formulação de soluções eficazes e para a prevenção de crises futuras. Mergulhando Abaixo da Superfície Imagine um vazamento em um navio. Se apenas taparmos o buraco visível, a água continuará entrando por outras fissuras ocultas. Da mesma forma, focar apenas nos sintomas da crise, sem investigar suas causas profundas, gera soluções superficiais e temporárias. Para solucionar a crise de forma definitiva e evitar que ela se repita, é preciso mergulhar abaixo da superfície e identificar as causas raízes. Fatores que contribuem para as Crises: Desvendando a Teia Causal As crises raramente são causadas por um único fator isolado. Geralmente, trata- se de uma confluência de elementos interligados, que criam as condições para a eclosão da crise. Ao investigar as causas raízes, é essencial considerar diferentes níveis de análise: https://www.youtube.com/watch?v=yYGAm1Ak4NE https://www.youtube.com/watch?v=yYGAm1Ak4NE https://www.youtube.com/watch?v=yYGAm1Ak4NE https://www.youtube.com/watch?v=yYGAm1Ak4NE Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 123 Um exemplo do que estamos falando ocorreu coma empresa alemã Volkswagen, que se envolveu em um escândalo de fraude em testes de emissões de poluentes, em 2015. A investigação revelou que engenheiros da empresa haviam instalado softwares que fraudavam os testes, fazendo com que os carros parecessem menos poluentes do que realmente eram. A crise teve impactos devastadores para a reputação da empresa, resultando em multas bilionárias e na queda nas vendas. As causas raízes da crise incluíram falhas éticas de indivíduos, uma cultura organizacional que priorizava resultados a qualquer custo e falhas nos sistemas de controle e governança da empresa. VAMOS REFLETIR: Diante de uma crise, como podemos desvendar as pistas e chegar às raízes que a causaram, superando obstáculos como resistência organizacional, complexidade do sistema e dados incompletos? Nível Individual: Falhas humanas, erros de julgamento, falta de treinamento ou comportamentos negligentes podem contribuir para crises. Nível Organizacional: Deficiências em processos, estruturas organizacionais inadequadas, falta de planejamento e investimentos insuficientes em prevenção criam vulnerabilidades que podem levar a crises. Nível Externo: Fatores econômicos, políticos, sociais e ambientais podem gerar crises, como recessões, desastres naturais, mudanças na legislação e crises reputacionais de outras organizações. Fonte: freepik.com Fonte: freepik.com Fonte: freepik.com 124Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Ferramentas para a Identificação das Causas Raízes: Desvendando as Pistas Diversas ferramentas e técnicas podem ser utilizadas para identificar as causas raízes da crise, mas vejamos três delas que são simples de aplicar, porém, muito úteis e que você poderá usar com facilidade: 1. Análise dos 5 Porquês Esta técnica simples, porém poderosa, envolve perguntar “por quê?” repetidamente (cinco vezes é uma regra geral) para aprofundar-se nas causas de um problema até chegar à raiz do problema. 1. Diagrama de Ishikawa Também conhecido como “diagrama de causa e efeito” ou “diagrama espinha de peixe”, essa ferramenta permite visualizar as possíveis causas da crise, categorizando-as em diferentes grupos, como métodos, máquinas, mão de obra, materiais, medição e meio ambiente. 1. Análise de causa raiz (RCA) É um processo estruturado para identificar as causas raízes de problemas e desenvolver soluções eficazes. A RCA envolve a coleta de dados, a análise de evidências, a identificação de causas e subcausas e a implementação de medidas corretivas. Ainda sobre identificar as causas raízes de uma crise, isso pode ser considerado como um processo desafiador e complexo, pois pode envolver estes obstáculos: • Resistência Organizacional: muitas vezes, pode haver resistência interna para aceitar as causas raízes, especialmente se elasimplicarem falhas nos níveis superiores da gestão. • Complexidade dos Sistemas: em sistemas complexos, as causas raízes podem ser difíceis de se identificar, devido à interdependência de múltiplos fatores. • Dados Incompletos: a falta de dados completos e precisos pode dificultar a identificação precisa das causas raízes. Um bom exemplo sobre o que estamos estudando até aqui ocorreu com a JBS, uma das maiores empresas de processamento de carne do mundo. Ela enfrentou uma grave crise na sua imagem, em 2017, devido ao seu envolvimento em escândalos de corrupção e de segurança alimentar. A operação Carne Fraca, da Polícia Federal, revelou práticas inadequadas de higiene e subornos a fiscais sanitários para liberar produtos adulterados. A análise das causas raízes mostrou uma cultura organizacional deficiente em ética e conformidade, além de falhas nos controles internos. Como resultado, a JBS precisou revisar seus processos de conformidade, 1 2 3 Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 125 implementar políticas rigorosas de governança corporativa e investir em campanhas de comunicação para reconquistar a confiança do público (FORNI, 2019). Fechando o assunto, você percebeu que identificar as causas raízes da crise é fundamental para solucionar o problema de forma eficaz e prevenir crises futuras. É essencial ir além dos sintomas, investigando os fatores que criaram as condições para a crise. A utilização de ferramentas e técnicas de análise auxilia na identificação das causas raízes e na formulação de soluções mais eficazes e duradouras (Forni, 2019). Lembre-se: a identificação das causas raízes não deve ser vista como uma “caça às bruxas”, mas sim como uma oportunidade para aprender com os erros, fortalecer a organização e construir um futuro mais resiliente. Uma cultura organizacional que incentiva a transparência, a responsabilidade e a aprendizagem contínua é essencial para transformar crises em oportunidades de crescimento. 1.3 Avaliação do impacto da crise na organização e em seus stakeholders Mensurando as Ondas de Choque Após você ter compreendido como identificar as causas raízes de uma crise, vamos avançar para a avaliação dos impactos dessa crise na organização e em seus stakeholders (2). Vejamos a importância de entender as repercussões de uma crise para gerenciar adequadamente suas consequências e mitigar os danos. Segundo o especialista em crise Bernstein(2011), uma crise não é um evento isolado, mas um terremoto que gera ondas de choque que se propagam por toda a organização e além. É importante nos aprofundarmos na avaliação dos impactos da crise, mapeando como as ondas de choque afetam a organização e seus stakeholders, criando um mapa abrangente dos danos e identificando as áreas que exigem atenção imediata. PARE E PENSE: Como você poderia avaliar, diante de uma crise iminente, os impactos na sua organização, desde os aspectos operacionais, financeiros, reputacionais e humanos, traçando um panorama completo dos desafios e necessidades que surgem? 126Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Impactos Multidimensionais: Atingindo o Coração da Organização: As crises raramente limitam-se a um único aspecto da organização. Seus impactos reverberam por múltiplas dimensões, gerando uma cascata de consequências que afetam a operação, a reputação, a saúde financeira e o moral dos colaboradores. Por isso, é essencial essa avaliação, para entendermos a extensão dos danos causados e para que você possa desenvolver estratégias de recuperação eficazes. Segundo Forni (2019), avaliar os impactos de uma crise permite às organizações priorizar ações e alocar recursos de maneira mais eficiente. E quais seriam os impactos na organização? Podemos classificar os impactos nas seguintes esferas da organização: • Operacionais: interrupção de atividades, perda de produtividade, danos à infraestrutura, escassez de recursos e dificuldades logísticas. • Financeiros: perdas de receita, aumento de custos, queda no valor das ações, redução de investimentos e dificuldades de acesso ao crédito. • Reputacionais: danos à imagem, perda de confiança do público, ataques da mídia e de grupos de interesse. • Humanos: queda no moral dos colaboradores, aumento do estresse e da ansiedade, perda de talentos e dificuldades na atração de novos profissionais. E, para que você possa avaliar os impactos de uma crise, o uso dessas abordagens e ferramentas podem lhe ser muito úteis: Análise de Impacto nos Negócios (BIA) Ferramenta que ajuda a identificar as funções críticas de negócios e a avaliar o impacto potencial da interrupção dessas funções. Análise de Stakeholders Avaliação de como a crise afeta diferentes grupos de interesse, sendo eles: • Clientes: insatisfação, perda de confiança, migração para a concorrência, ações legais e danos à reputação. Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 127 • Fornecedores: interrupção da cadeia de suprimentos, perdas financeiras, danos à reputação e dificuldades de acesso ao crédito. • Investidores: queda no valor das ações, perdas financeiras, perda de confiançaoutras emergências sanitárias exigem medidas rápidas e eficazes para proteger a saúde da população. A pandemia de Covid-19, por exemplo, exigiu medidas de isolamento social e restrição de atividades, gerando impactos sociais e econômicos. https://oglobo.globo.com/politica/escandalo-da-petrobras-eleito-2-maior-caso-de-corrupcao-no-mundo-1-18648504 https://www.reuters.com/article/idUSL1N2Z61ON/ 10Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 6. Crises Políticas Segundo os estudos de J.B. Thompson (2002), observou-se que crises políticas poderiam surgir devido a escândalos, divergências políticas ou decisões impopulares, gerando instabilidade institucional. Se, por exemplo, um líder político toma uma decisão impopular sem consulta pública e, por consequência, enfrenta uma crise após tal ação, como solução para atenuar tal crise, poderia aplicar um plano de ação transparente e criar canais de diálogo para envolver a sociedade em determinados problemas e, com isso, se aproximar dos seus eleitores de forma proativa. 7. Crises Ambientais Desastres naturais, como enchentes, terremotos ou incêndios florestais, exigem ações coordenadas para minimizar os impactos e garantir a segurança da população. Uma crise ambiental de impacto foi relacionada às queimadas na Amazônia, em 2019, que geraram repercussão internacional e críticas à política ambiental do governo brasileiro. Estruturando a Resposta às Crises Para cada tipo de crise, Forni (2019) recomenda que seja desenvolvido um plano de resposta específico. Tal plano deve incluir: • Comitê de Crise, composto por uma equipe multidisciplinar que deve ser ativada em caso de crise. • Plano de Comunicação, com estratégias claras para lidar com a mídia e o público. • Estratégias de Contingência, que crie planos alternativos para manter a continuidade das operações. Finalizando, compreender os tipos de crises é fundamental para gestores e líderes. Saber que cada crise exige uma resposta adaptada permite que as organizações se preparem e minimizem os danos potenciais. Como podemos lidar com uma crise? Em palestra no TEDx, Walter Kohl descreve 5 passos para superar crises e explica as oportunidades que surgem delas. Acesse aqui o vídeo! https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/politica/2019/08/23/interna_politica,778671/queimadas-sem-controle-na-amazonia-provocam-crise-internacional.shtml https://www.youtube.com/watch?v=d-q2D4PtPdg&list=RDLV1evSfmArTRQ&index=9 Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 11 1.3. Níveis de gravidade das crises Para os tempos atuais, vemos o quanto a compreensão dos diferentes níveis de gravidade das crises é fundamental para a gestão eficaz e a minimização de impactos adversos. Vamos, a seguir, explorar uma estrutura clara para identificar e categorizar a gravidade das crises, permitindo uma resposta mais adequada e planejada. VAMOS REFLETIR: Como você acredita que a gravidade de uma crise influencia as decisões tomadas pelos gestores e líderes de uma organização pública? Que exemplos de sua própria experiência ou observações podem ilustrar essa influência? Considere tais questões enquanto lê o conteúdo a seguir e pense em como os diferentes níveis de gravidade exigem abordagens distintas para a gestão eficaz de crises. Uma crise pode variar consideravelmente em gravidade, dependendo de vários fatores, incluindo seu impacto imediato e potencial a longo prazo nas operações, na reputação e na viabilidade financeira de uma organização. Conforme Bernstein (2011) sugere, é crucial estabelecer um sistema de classificação que permita às organizações identificar prontamente a gravidade da crise para acionar o nível apropriado de resposta. As crises no setor público exigem uma avaliação precisa de sua gravidade para que a resposta seja eficaz e proporcional ao desafio. Veja, a seguir, quais são os três níveis de crises: Nível Baixo: Crises de ameaça mínima Crises de nível baixo geralmente envolvem situações que afetam subgrupos limitados da organização ou seu público. São geralmente internas e podem ser resolvidas com mudanças mínimas nas operações ou estratégias atuais. Cardia (2015) observa que, embora essas crises requeiram atenção, elas oferecem uma excelente oportunidade para melhorias operacionais sem pressão pública significativa. Para ilustrar, vamos imaginar a existência de uma falha de software que afeta uma pequena parte das operações internas de uma organização, que pode ser resolvida rapidamente com atualizações técnicas sem atrair atenção externa significativa. Nível Moderado: Crises Visíveis, mas gerenciáveis Essas crises são mais visíveis e podem afetar uma proporção maior da 12Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública organização ou seu público externo. Elas exigem uma comunicação eficaz para evitar danos à reputação. Forni (2019) destaca a importância de uma estratégia de comunicação proativa para gerenciar a percepção pública e manter a confiança. Pense sobre uma reclamação de consumidores sobre um serviço público que ganha atenção na mídia local. A resposta inclui comunicação transparente com o público e medidas rápidas para resolver o problema e melhorar os processos de serviço. Nível Alto: Crises com impacto extensivo e duradouro Crises de alto nível afetam toda a organização, podendo ter repercussões nacionais ou mesmo globais. Estas crises exigem uma resposta coordenada em vários níveis da organização e, muitas vezes, a cooperação com entidades externas. Neves (2002) sugere que a preparação e a resposta a estas crises devem ser meticulosamente planejadas para evitar danos irreparáveis. Uma crise financeira que ameaça a solvência de uma instituição pública, por exemplo, pode exigir intervenções do governo e uma reestruturação financeira completa. Estratégias de Resposta Para cada nível de crise, é possível que usemos uma estratégia de resposta diferenciada e que deve ser implementada, como, por exemplo: • Baixo: monitoramento contínuo e ajustes internos. • Moderado: comunicação ativa com todas as partes interessadas e medidas corretivas. • Alto: mobilização de um comitê de crise, comunicação constante com o público e stakeholders (2) e ações intensivas de recuperação. Compreender os diferentes níveis de gravidade das crises permite que gestores e líderes desenvolvam respostas mais eficazes e apropriadas. Ao adaptar as estratégias de gestão de crises ao nível de gravidade, podemos não apenas responder mais efetivamente, mas também aproveitar as crises como oportunidades de fortalecer nossas organizações e melhorar nossos serviços. Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 13 1.4. Análise de caso prático para o desenvolvimento da capacidade analítica Gestão da Crise da Saúde Pública Durante a Pandemia de Covid-19 no Brasil Olá, estudante! Bem-vindo(a) a este estudo de caso prático e instrutivo sobre a gestão de crises no contexto do setor público brasileiro. Em março de 2020, o Brasil e o mundo foram desafiados por uma pandemia global sem precedentes, a Covid-19, que exigiu respostas rápidas e eficazes de todas as esferas de governo e instituições de saúde. Esse cenário complexo apresenta uma oportunidade única para você aprimorar seu entendimento sobre a gestão de crises em um ambiente dinâmico e sob pressão extrema. Você irá notar que há perguntas cujas respostas estarão ocultas. A sugestão é que você reflita sobre a resposta e somente, depois, revele o conteúdo oculto. Contexto Em março de 2020, o Brasil enfrentou a pandemia global de Covid-19, que rapidamente se espalhou por todo o país. O sistema de saúde público foi pressionado a níveis sem precedentes, com desafios operacionais, financeiros e de reputação simultâneos. Este estudo de caso explora a gestão dessa crise multifacetada pelo governo brasileiro e suas entidades públicas. Definição de Crise Uma crise é uma situação que ameaça os objetivos essenciais de uma organizaçãona gestão da empresa e pressão para a venda de ativos. • Comunidade: impactos ambientais, sociais e econômicos, perda de empregos, danos à saúde pública e erosão da confiança nas instituições. Matriz de Impacto e Probabilidade Utilizada para avaliar a probabilidade de diferentes cenários de impacto e a gravidade de cada um deles. Um caso interessante, ocorrido em 2018 com o Facebook (atual Meta), foi a revelação de que a consultoria Cambridge Analytica acessouilegalmente dados de milhões de usuários dessa empresa para influenciar eleições, o que gerou uma crise de proporções globais. A avaliação do impacto mostrou uma perda significativa de confiança dos usuários, investigações governamentais e uma queda no valor das ações. A análise de stakeholders revelou que usuários, anunciantes, reguladores e investidores foram profundamente impactados. O Facebook precisou reforçar suas políticas de privacidade e investir em campanhas de transparência para tentar mitigar os danos (Teixeira, 2013). Ferramentas para Avaliar os Impactos: Vejamos, agora, algumas ferramentas úteis para a avaliação dos impactos de crises na organização e com os stakeholders: • Mapeamento de stakeholders: identificar os principais públicos afetados pela crise e seus interesses. • Análise de impacto: avaliar as consequências da crise em cada grupo de stakeholders, considerando os aspectos financeiros, operacionais, reputacionais e humanos. • Pesquisa de opinião: mensurar a percepção do público sobre a crise e a forma como a organização está lidando com a situação. • Análise de mídias sociais: monitorar as conversas online sobre a crise para identificar tendências, preocupações e o tom da cobertura. 128Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública A avaliação dos impactos de uma crise pode ser complexa e desafiadora. Entre os principais desafios, podemos mencionar a mensuração dos impactos, pois nem todos os impactos são facilmente quantificáveis, especialmente os relacionados à reputação e à confiança dos stakeholders. Também há uma perspectiva de longo prazo, sendo que algumas consequências de uma crise podem-se manifestar apenas a longo prazo, dificultando a avaliação imediata. E, ainda, há a interdependência de impactos, pois as crises frequentemente têm impactos interdependentes, em que um problema pode desencadear outros, complicando a análise. Então, para superar esses desafios, é essencial adotar uma abordagem abrangente e integrada na avaliação dos impactos. Envolver múltiplas áreas da organização, utilizar ferramentas analíticas robustas e manter uma comunicação transparente com os stakeholders são práticas recomendadas. Encerrando este assunto, vimos que a avaliação do impacto da crise é essencial para a tomada de decisões estratégicas. Compreender as consequências da crise para a organização e seus stakeholders permite priorizar ações, alocar recursos de forma eficaz e desenvolver estratégias de recuperação (Bernstein, 2011). Lembre-se: a avaliação de impactos não se resume a um exercício numérico, mas envolve a compreensão dos aspectos humanos da crise. A empatia, a escuta ativa e a comunicação transparente são essenciais para construir pontes com os stakeholders afetados e reconstruir a confiança perdida. As crises, embora desafiadoras, podem ser oportunidades para fortalecer relacionamentos, demonstrar responsabilidade e construir uma organização mais resiliente. 1.4 Explorando a capacidade de análise crítica na identificação de causas e efeitos de crises no setor público Neste momento, vamos direcionar o nosso foco na capacidade de análise crítica necessária para identificar as causas e efeitos de crises, em particular, no setor público. Vamos explorar métodos e abordagens que auxiliam na compreensão profunda das crises em entidades públicas, usando exemplos reais para ilustrar esses conceitos. PARE E PENSE: Diante de uma crise no setor público, como a análise crítica pode auxiliar você a transcender a resposta imediatista, aprofundar Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 129 a compreensão das causas e consequências e contribuir para a construção de uma governança mais resiliente? Para o autor Augustine (2009), uma crise no setor público não é apenas um desafio de gestão, mas um teste da capacidade de uma sociedade de autoavaliar-se, aprender com seus erros e fortalecer suas instituições. Vejamos, a seguir, a importância da análise crítica na identificação das causas e consequências de crises no setor público, destacando como essa capacidade pode fortalecer a resposta do governo a situações de crise e contribuir para a construção de uma governança mais resiliente. Indo Além da Superficialidade: Análise Crítica como Pilar da Gestão de Crises A análise crítica não se trata apenas de identificar o problema, mas de questionar pressupostos, desafiar o status quo, examinar diferentes perspectivas e buscar explicações mais profundas para a crise. Em outras palavras, é preciso ir além da superfície, descascando as camadas da cebola para revelar as causas raízes da crise e seus impactos multifacetados. E por que a Análise Crítica é Essencial no Setor Público? A análise crítica é fundamental para a gestão de crises no setor público. As organizações públicas, devido à sua natureza e à amplitude de seus impactos, enfrentam desafios únicos quando se trata de crises. Segundo Barbeiro (2010), a capacidade de analisar criticamente uma crise é essencial para desenvolver respostas efetivas e prevenir recorrências. As crises no setor público afetam não apenas a imagem do governo, mas também a vida de cidadãos, a confiança nas instituições e o próprio funcionamento da sociedade. A análise crítica proporciona: Compreensão da complexidade das crises Crises no setor público raramente têm causas simples ou soluções fáceis. A análise crítica permite identificar a interação de fatores políticos, econômicos, sociais e institucionais que contribuem para a crise. Identificação de falhas sistêmicas Crises podem revelar falhas nas estruturas e processos do governo, como falta de transparência, burocracia excessiva, falta de coordenação entre agências e investimentos insuficientes em prevenção. 130Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Desenvolvimento de soluções mais eficazes Ao compreender as causas raízes da crise e seus impactos, o governo pode formular soluções mais direcionadas, eficazes e duradouras. Prevenção de crises futuras A análise crítica permite identificar vulnerabilidades e riscos potenciais, implementando medidas preventivas para evitar que crises se repitam. Para que você possa realizar uma análise crítica eficaz, é possível adotar algumas abordagens como por exemplo, realizar um estudo de eventos passados para identificar padrões e tendências que possam esclarecer a crise atual, comparar crises similares em diferentes contextos ou regiões para entender variáveis comuns e divergentes ou ainda, avaliar as interdependências dentro do sistema público e como elas contribuem para a crise. Um incêndio de grandes proporções em 2018, destruiu grande parte do acervo do Museu Nacional do Rio de Janeiro, uma das mais importantes instituições culturais do Brasil. A análise crítica do evento apontou para várias causas, como a falta de manutenção adequada, insuficiência de recursos financeiros e falhas na infraestrutura de prevenção a incêndios. Comparando com incêndios em outros museus ao redor do mundo, como o do Museu de História Natural de Nova Iorque, ficou evidente a importância de investimentos contínuos em preservação e segurança. Desafios na Análise Crítica no Setor Público A análise crítica de crises no setor público enfrenta vários desafios, onde podemos destacar os seguintes: • Complexidade das Interações: O setor público lida com múltiplos stakeholders, cada um com interesses e influências diversas. • Transparência e Accountability: Muitas vezes, a falta detransparência dificulta a obtenção de informações precisas necessárias para uma análise crítica. Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 131 • Recursos Limitados: As limitações orçamentárias e de pessoal podem restringir a capacidade de conduzir análises detalhadas e abrangentes. Para superar esses desafios, é fundamental adotar uma abordagem colaborativa e multidisciplinar. Envolver especialistas de diferentes áreas, utilizar tecnologias de análise de dados e promover uma cultura de transparência são passos cruciais para aprimorar a capacidade de análise crítica no setor público. Ferramentas para a Análise Crítica: No atual ambiente social e econômico, podemos entender que as crises no setor público se tornam cada vez mais frequentes e complexas. Por isso, é fundamental ir além da resposta imediatista e aprofundar-se nas raízes dos problemas. Algumas ferramentas são aliadas essenciais para o líder na gestão de crises. Podemos destacar as seguintes: • Análise SWOT Identificar as forças, fraquezas, oportunidades e ameaças relacionadas à crise no contexto do setor público. • Análise de stakeholders - Mapear os atores envolvidos na crise e seus interesses, compreendendo suas perspectivas e demandas. • Pesquisa e coleta de dados - Reunir informações de fontes diversas, como dados estatísticos, relatórios de órgãos governamentais, estudos acadêmicos e reportagens da mídia. • Diálogo e debate - Promover a troca de ideias e perspectivas entre especialistas, gestores públicos e representantes da sociedade civil. Para ilustrar, vamos recordar a financeira global de 2008, que teve impactos significativos em diversos países, exigindo uma análise crítica das causas da crise e das medidas a serem adotadas. Governos e instituições financeiras tiveram que avaliar os fatores que contribuíram para a crise, como a desregulamentação do mercado financeiro, a concessão de crédito de forma irresponsável e a criação de ativos financeiros complexos e de alto risco. A análise crítica da crise permitiu a implementação de medidas como a intervenção em instituições financeiras, o aumento da regulação do mercado e a injeção de recursos na economia. Para concluir, a capacidade de análise crítica é vital para entender as causas e efeitos de crises no setor público. Ao aplicar métodos analíticos robustos e aprender com crises passadas, as organizações públicas podem desenvolver estratégias mais eficazes de prevenção e resposta, permitindo a identificação das causas raízes, a 132Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Fonte: freepik.com avaliação dos impactos e a formulação de soluções mais eficazes e duradouras. Lembre-se: a análise crítica não é um evento pontual, mas um processo contínuo que deve ser cultivado na cultura organizacional do setor público. Incentivar o questionamento, o debate e a busca por diferentes perspectivas contribuem para a construção de um governo mais resiliente e preparado para enfrentar os desafios do mundo contemporâneo. Gerenciando uma Crise 1. Importância da Coleta de Informações: a coleta de informações é essencial para entender a natureza, a escala e a urgência de uma crise. É comparada à aferição de sinais vitais por um médico antes de qualquer intervenção. 1. Fontes de Informação Diversificadas: utilização de fontes primárias (dados brutos e originais), secundárias (interpretação de dados primários) e tecnologia/big data para obter uma visão abrangente da crise. 1 2 freepik.com Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 133 1. Fontes Internas e Externas: informações de relatórios de funcionários, dados operacionais, monitoramento de mídias sociais, cobertura da mídia, opinião pública e relatórios de órgãos reguladores são cruciais para compreender a crise. 1. Ferramentas de Análise da Situação: uso de análise SWOT, matriz de impacto e probabilidade, análise de cenários e modelos de decisão para avaliar as informações coletadas e determinar ações adequadas. 1. Desafios na Coleta e Análise de Informações: desafios incluem equilibrar velocidade e precisão, diferenciar fontes confiáveis e não confiáveis, e a complexidade na interpretação de grandes volumes de dados. 3 4 5 134Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Unidade 2 - Enfrentando a crise Ao final desta unidade, você será capaz de indicar estratégias para prevenir e enfrentar crises. 2.1 Definindo ações de prevenção ou enfrentamento da crise Agora que você já entendeu como identificar as causas e os impactos de uma crise, vamos explorar como definir ações de prevenção e enfrentamento e discutir estratégias e táticas que podem ser adotadas para mitigar os efeitos de uma crise ou, preferencialmente, prevenir sua ocorrência. PARE E PENSE: Como podemos construir uma cultura de prevenção de crises no setor público utilizando-a como ferramenta fundamental para a construção de um futuro mais resiliente e sustentável? Vejamos, agora, como definir ações eficazes, seja para prevenir o surgimento de crises, seja para enfrentá-las com maestria quando forem inevitáveis. Abordaremos, a seguir, as estratégias e ferramentas que, como um timão firme de um navio, nos guiarão em meio à tempestade das crises. Prevenção e ações em situações de crise A prevenção de crises envolve a identificação de potenciais riscos e a implementação de medidas para mitigar esses riscos antes que se tornem problemas graves. Vejamos, resumidamente, algumas estratégias práticas para a prevenção: Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 135 A prevenção, como bem definiu Augustine (2009), é a melhor blindagem contra as crises. Mas como construir essa fortaleza? Vejamos três pilares essenciais para essa finalidade: 1. Cultura de Gestão de Riscos: a cultura organizacional é o solo fértil onde a prevenção se enraíza. É preciso cultivar a consciência sobre a importância de identificar, analisar e monitorar constantemente os riscos potenciais. A Petrobrás, por exemplo, aprendeu da maneira mais difícil a importância da gestão de riscos após o escândalo da Lava Jato, que revelou um esquema de corrupção generalizado na companhia. A partir de então, a empresa implementou um robusto sistema de compliance e gestão de riscos, com o objetivo de evitar que situações semelhantes voltem a acontecer (Forni, 2019). 1. Comunicação Transparente e Constante: assim como um navio utiliza faróis para sinalizar sua posição e evitar colisões, a comunicação Análise de Riscos: Avaliação contínua dos riscos potenciais e suas possíveis consequências. Treinamento e Capacitação Treinamento regular de funcionários para lidar com situações de crise e a implementação de simulações de crise. Planos de Contingência Desenvolvimento de planos de resposta a emergências detalhados que cobrem uma ampla gama de possíveis crises. Fonte: freepik.com Fonte: freepik.com Fonte: freepik.com 1 2 136Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública transparente é crucial para evitar crises. Manter um diálogo aberto com os stakeholders – colaboradores, clientes, fornecedores, comunidade, governo e mídia – construindo relações sólidas e de confiança, é fundamental. Um exemplo inspirador nesse sentido é a atuação da Johnson & Johnson durante a crise do Tylenol, em 1982. A empresa agiu com rapidez e transparência, recolhendo o produto das prateleiras e comunicando abertamente com o público sobre os riscos, o que, a longo prazo, contribuiu para a recuperação da confiança na marca (Bernstein, 2011). 1. Treinamento e Simulação: de nada adianta ter um plano de contingência impecável se a tripulação não souber como agir em caso de emergência. Da mesma forma, empresas devem investir em treinamentos periódicos para preparar seus colaboradores para lidar com diferentes cenários de crise. Simulações realistas são ferramentas poderosas nesse processo, permitindo identificar falhas, aprimorar protocolos e fortalecer acapacidade de resposta da equipe. Um exemplo de simulações constantes ocorre nas companhias aéreas, e uma que se destaca, segundo Cardoso (2015), é a Southwest Airlines, reconhecida por sua excelência em atendimento ao cliente. A empresa realiza simulações regulares de crises, incluindo desde atrasos e cancelamentos de voos até situações de emergência médica a bordo, garantindo que seus funcionários estejam preparados para agir de forma rápida e eficiente em qualquer situação. Um caso interessante sobre a prevenção de crise por parte do governo ocorreu em 2012, na cidade de Nova Délhi, capital da Índia, que, até os dias atuais, enfrenta crises de poluição do ar, especialmente durante os meses de inverno. Devido a níveis críticos de poluição, o governo indiano tomou a iniciativa de implementar diversas ações de enfrentamento, como restrições ao uso de veículos, fechamento temporário de fábricas e promoção do uso de transporte público, as quais vêm sendo aplicadas até hoje. Para a prevenção, foram introduzidas políticas de longo prazo, incluindo a promoção de energia limpa e o plantio de árvores. A comunicação eficaz com a população sobre os riscos à saúde e as medidas preventivas também foram cruciais (TEIXEIRA, 2013). Em 2021, novas ações de emergência foram tomadas para conter os altos índices de poluição, segundo reportagem feita pela CNN. 3 https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/nova-delhi-prepara-medidas-de-emergencia-para-conter-poluicao-toxica/ Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 137 Enfrentamento: Navegando em Meio à Tempestade Apesar de todos os esforços preventivos, as crises, infelizmente, podem surgir de forma inesperada e repentina. Nesses momentos, manter a calma, agir com rapidez e seguir um plano bem estruturado é crucial para minimizar os impactos e garantir a segurança da organização. E, para isso, adotar uma estratégia de enfrentamento bem definida é a melhor saída. Quais seriam as melhores estratégias a serem implementadas no enfrentamento de uma crise inesperada? Vejamos: Reconhecimento e Avaliação da Crise O primeiro passo é reconhecer a existência da crise e avaliar a sua gravidade. Ignorar ou minimizar o problema, como um capitão que se recusa a ver o iceberg à frente, pode levar a consequências desastrosas. É preciso reunir informações, identificar as causas e os possíveis impactos, e determinar a natureza e a extensão da crise. A empresa Nike, por exemplo, demorou a reconhecer a crise gerada pelas denúncias de trabalho escravo em suas fábricas na Ásia, na década de 1990. Essa demora em assumir a responsabilidade e agir para solucionar o problema gerou grande desgaste para a imagem da marca (Rosa, 2001). Comunicação Efetiva Manter uma comunicação clara e transparente e proativa com todos os stakeholders é fundamental. Segundo Barbeiro (2010), a comunicação corporativa eficaz durante uma crise é essencial para manter a confiança e a credibilidade. Em momentos de crise, o silêncio é um abismo que pode ser mal interpretado. A comunicação transparente ajuda a evitar boatos, especulações e a disseminação de informações falsas. Apoio Psicossocial Também é importante que a organização forneça apoio psicológico e social para os funcionários e outras partes afetadas em situações de crise. Ativação da Equipe de Gerenciamento de Crises Com o plano de gerenciamento de crises em mãos e a equipe treinada, é hora de agir com base nos protocolos estabelecidos. A equipe de gerenciamento de crises atua liderando os esforços, tomando decisões estratégicas e coordenando as ações de comunicação e resposta. Essa estratégia demanda o estabelecimento de um centro de comando de crise para coordenar todas as ações de resposta. 138Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Monitoramento Constante Por último, mas não menos importante, é estabelecer um monitoramento constante da crise para medir a eficácia das ações implementadas. Essa análise permite identificar a necessidade de ajustes no plano, corrigir rotas e garantir que os objetivos estejam sendo alcançados. Desafios na Definição de Ações de Prevenção e Enfrentamento Definir ações de prevenção e enfrentamento de crises apresenta vários desafios, os quais podemos destacar a identificação precisa de riscos, que, para antecipar todas as possíveis crises, pode ser uma tarefa difícil, porque muitas vezes riscos inesperados podem surgir. Outro elemento a considerar é a cultura organizacional, que pode oferecer certa resistência a mudanças e à adoção de novas práticas, podendo, com isso, dificultar a implementação de ações preventivas. A falta de recursos é outro desafio, pois nem todas as organizações possuem os recursos financeiros e humanos necessários para implementar estratégias abrangentes de prevenção e enfrentamento. E como superar esses desafios? Para superar esses desafios, é essencial promover uma cultura de prevenção e resiliência dentro da organização. Isso inclui: Engajamento da Liderança: O apoio e envolvimento da alta liderança são cruciais para a implementação eficaz de ações preventivas. Treinamento Contínuo: Investir em treinamento contínuo e simulações de crise para todos os níveis da organização. Alocação de Recursos: Priorizar a alocação de recursos para áreas críticas de prevenção e resposta a crises. Concluindo esse assunto, podemos dizer que enfrentar uma crise é como atravessar uma tempestade em alto mar, pois exige coragem, estratégia e a capacidade de se adaptar às condições adversas. As organizações, estejam elas na esfera pública ou Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 139 privada, que se preparam para as crises, construindo uma cultura de prevenção e desenvolvendo planos sólidos de gerenciamento, estarão mais preparadas para enfrentar os desafios e sair fortalecidas da tempestade. Mas lembre-se: toda crise, por mais desafiadora que seja, é também uma oportunidade de aprendizado. Ao analisarmos as causas da crise, os erros cometidos e os acertos que nos levaram a superar os desafios, emergimos mais fortes e resilientes. A prevenção, embora muitas vezes custosa e exigente, é um investimento que pode salvar a organização de danos significativos a longo prazo. 2.2 Definindo responsabilidades A definição clara de quem faz o quê durante uma crise pode determinar a eficácia da resposta e minimizar os impactos negativos. Vamos ilustrar esse assunto imaginando o seu time de futebol do coração em campo, nos minutos finais de uma partida decisiva. Cada jogador conhece sua posição, seus companheiros e a estratégia traçada pelo técnico. A torcida vibra a cada jogada, a tensão é sentida, mas reina a confiança na equipe escalada para a conquista da vitória. Em uma crise empresarial, a dinâmica não é tão diferente. PARE E PENSE: Em um cenário de crise, como a definição clara de responsabilidades e a formação de uma equipe multidisciplinar de especialistas podem garantir uma resposta eficaz e proteger a reputação da empresa? Definir responsabilidades, caro estudante, é como escalar os jogadores certos para cada posição em campo, com funções claras e bem definidas. É construir um organograma estratégico, garantindo que cada membro da equipe saiba exatamente o que fazer quando a crise apita o início do jogo. Os craques da gestão de crises: quem veste a camisa da sua organização? Ainda pensando em nosso time do coração que precisa de um camisa 10 para organizar o jogo, a equipe de gestão de crises também precisa de líderes e 140Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública especialistas para conduzir as ações e garantir que a reputação da empresa saia ilesa. Essa equipe, multidisciplinar e previamente treinada, atua em sincronia, cada um com responsabilidades claras, para evitar um placar desfavorável. Vejamos, então, quem são essas pessoas tão importantes na gestão da crise: O Capitão - Porta-Voz É a voz da empresa durante a crise, o jogadorexperiente responsável por transmitir informações precisas, transparentes e empáticas para a imprensa e o público. Sua habilidade de comunicação e credibilidade são essenciais para manter a torcida - os stakeholders - confiantes. O Técnico - Gestor de Comunicação Assim como um técnico elabora a estratégia de jogo, o gestor de comunicação é o responsável por desenvolver e executar o plano de comunicação durante a crise, definindo os canais, a linguagem e as mensagens-chave. Ele acompanha de perto o “desempenho” da comunicação, monitorando as redes sociais, combatendo boatos e ajustando as estratégias de acordo com as reações do público. Líder da Torcida - Coordenador de Ações Internas Enquanto o porta-voz e o gestor de comunicação lidam com a pressão da mídia e do público externo, o coordenador de ações internas atua como um líder inspirador para os colaboradores, mantendo-os informados, motivados e engajados na resolução da crise. Ele precisa ser um comunicador eficaz e empático, minimizando o estresse e evitando a “rádio-peão”, como bem define Teixeira (2013). O Olheiro - Analista de Cenários Como um olheiro que estuda o time adversário e identifica suas fraquezas, o analista de cenários monitora a crise em tempo real, avalia os seus desdobramentos, prevê as possíveis consequências e identifica os riscos e as oportunidades. Ele fornece à equipe de gestão de crises informações estratégicas que auxiliam na tomada de decisões. A Comissão Técnica - Equipe Técnica Assim como um time de futebol conta com uma comissão técnica completa, com médicos, fisioterapeutas e preparadores físicos, a equipe de gestão de crises pode Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 141 precisar de profissionais com expertise específica, dependendo da natureza da crise, como advogados, especialistas em segurança da informação, profissionais de relações públicas, entre outros. A pandemia da Covid-19, por exemplo, exigiu a formação de “comissões técnicas” com especialistas em saúde pública, comunicação de risco e logística por parte de empresas e governos do mundo todo (Forni, 2019). Traçando a Estratégia: A Importância da Clareza na Definição de Papéis e Responsabilidades No futebol, cada jogador em campo precisa saber exatamente o que fazer, a quem passar a bola e como movimentar-se para que o time avance junto em direção ao gol. Da mesma forma, a falta de um organograma bem definido na gestão de crises, com papéis e responsabilidades claros, pode resultar em "pênaltis" para a reputação da empresa. Ações descoordenadas, a falta de um comando claro e a comunicação confusa podem levar a empresa a um placar desastroso. Um exemplo emblemático da importância da clareza na gestão de crises é o caso da British Petroleum (BP), durante o vazamento de petróleo no Golfo do México, em 2010. A falta de um porta-voz definido e a comunicação confusa e pouco transparente agravaram a crise e geraram grande desgaste à imagem da empresa (Bernstein, 2011). Treinamento: A Importância do Time Entrosado De nada adianta ter os melhores jogadores do mundo se o time não treina junto. A equipe de gestão de crises precisa estar preparada para entrar em campo a qualquer momento, agir em sintonia, sob pressão e em situações adversas. Simulações, treinamentos de comunicação, jogos de crise e workshops são ferramentas essenciais para fortalecer o trabalho em equipe e preparar cada membro para lidar com os desafios de uma crise real (Augustine, 2009). Comunicação: A Tática Essencial para a Vitória Assim como a comunicação entre os jogadores em campo é essencial para o sucesso do time, a comunicação fluida e transparente entre os membros da equipe de gestão de crises é crucial. Reuniões periódicas, ferramentas de comunicação interna eficazes e a construção de um clima de confiança e colaboração são essenciais para garantir que todos estejam "falando a mesma língua" e trabalhando em prol de um objetivo comum: vencer a crise e fortalecer a reputação da empresa. 142Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Enfim, definir responsabilidades, portanto, é apenas o pontapé inicial na construção de uma gestão de crise eficaz. É preciso ir além, treinando o time, incentivando a comunicação, cultivando a união entre os membros da equipe e construindo uma cultura de responsabilidade compartilhada. Lembre-se: em um jogo de equipe, a vitória só é possível quando todos os jogadores estão unidos, motivados e focados no mesmo objetivo. 2.3 Elaborando um plano de contingência Agora que discutimos a importância de definir responsabilidades, vamos explorar como elaborar um plano de contingência eficaz. Esse plano é essencial para preparar a organização para enfrentar crises inesperadas de maneira organizada e eficiente. Se você se deparasse com um kit de primeiros socorros, provavelmente o guardaria em um local seguro e de fácil acesso, certo? Afinal, nunca sabemos quando precisaremos de uma bandagem, de um antisséptico ou analgésico. No universo corporativo, o plano de contingência funciona como esse kit essencial: um guia estratégico que precisa estar pronto para ser posto em prática no momento em que a crise surge. Elaborar um plano de contingência, caro leitor, é como desenhar um mapa detalhado para navegar por um território desconhecido. Ele não prevê o futuro, mas oferece as ferramentas e os direcionamentos para que a organização responda de forma rápida, organizada e eficaz aos desafios inesperados. PARE E PENSE: Se você estiver enfrentando um cenário de crise, o que não pode faltar no seu plano de contingência? A Importância do Plano de Contingência Um plano de contingência é um documento estratégico que descreve as ações a serem tomadas durante uma crise para minimizar impactos negativos. Segundo Augustine (2009), “um plano de contingência bem elaborado é a espinha dorsal de uma resposta eficaz a crises. Ele garante que todos saibam exatamente o que fazer, quando e como agir em situações de emergência. Assim como um kit de primeiros socorros precisa conter itens essenciais para tratar diferentes tipos de ferimentos, o plano de contingência deve contemplar diferentes aspectos da crise, com instruções Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 143 claras, fluxos de comunicação, responsabilidades definidas e ferramentas de monitoramento. Vejamos, agora, quais os elementos-chave que não podem faltar nesse guia estratégico: Identificação de Riscos O primeiro passo é mapear os riscos potenciais que a organização pode enfrentar, sejam eles financeiros, operacionais, de segurança, de imagem ou reputação. Esses riscos podem incluir desastres naturais, crises econômicas, ciberataques, entre outros. A avaliação de riscos deve considerar a probabilidade de ocorrência e o impacto potencial em diferentes áreas da organização. Lembrando mais uma vez a pandemia da Covid-19, por exemplo, tal crise evidenciou a importância de todas as organizações se prepararem para crises sanitárias, com planos de contingência para lidar com a interrupção das operações, trabalho remoto e comunicação em situações de emergência (Forni, 2019). Acionando o Alarme: Definição dos Níveis de Crise Nem toda crise é um tsunami. Algumas podem ser como ondas mais brandas, enquanto outras podem transformar-se em tempestades devastadoras. Definir os níveis de crise (baixo, médio, alto), com base em critérios objetivos, como impacto potencial, urgência e abrangência, permite dimensionar a resposta e acionar os recursos adequados para cada situação. Níveis de Crise No contexto da gestão de crises, compreender e categorizar o nível de gravidade de uma crise é essencial para determinar a resposta adequada e os recursos necessários. As crises podem variar significativamente em termos de impacto e complexidade, e classificá-las em níveis de gravidade ajuda as organizações a se prepararem e responderem a ela de maneira eficaz. A seguir, apresentamos uma descriçãoobjetiva e resumida dos diferentes níveis de crise: baixo, médio e alto. 1. Baixo: incidentes menores, facilmente contornáveis com procedimento padrão. O impacto causado pode ser pouco ou nulona operação e reputação. 144Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 2. Médio: problemas que requerem atenção mais focada e mobilização interna significativa e cujo impacto é moderado nas operações, mas potencial para atrair atenção pública. 3. Alto: crises graves que ameaçam a sobrevivência da organização, exigindo resposta imediata e coordenação extensa. É de alto impacto operacional e reputacional, com implicações legais e financeiras severas. E quem faz o quê? Papéis e responsabilidades Agora é o momento de você, líder, definir os papéis e as responsabilidades de cada membro da equipe de gestão de crises com clareza. Isso é crucial para evitar ruídos na comunicação, atritos e perda de tempo com burocracias em um momento em que a agilidade é fundamental. O plano de contingência deve conter o organograma da equipe, com os contatos atualizados de cada membro e suas respectivas funções, as quais destacamos a seguir: Comunicação Transparente: Em momentos de crise, a comunicação transparente e eficaz é crucial para evitar a disseminação de boatos, manter a confiança dos stakeholders e proteger a reputação da organização. O plano de contingência deve prever os canais de comunicação a serem utilizados (imprensa, redes sociais, website, comunicados internos, etc.), a linguagem a ser adotada, os públicos-alvo e as mensagens-chave a serem transmitidas. Podemos mencionar,como exemplo, a crise de imagem enfrentada pela Empresa Shein, em 2022, após denúncias de condições precárias de trabalho em suas fábricas, que evidenciou a importância da comunicação transparente e da construção de um relacionamento sólido com o público, especialmente em um contexto de crise. Fonte: freepik.com Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 145 Plano de Ação Detalhado: É a alma do plano de contingência, no qual as ações a serem tomadas para cada tipo de crise e nível de gravidade são detalhadas passo a passo. Quem faz o quê, quando, como e com quais recursos? Essas são algumas perguntas que o plano de ação deve responder. Monitoramento Constante e Avaliação de Resultados: A crise é um processo dinâmico que exige constante monitoramento e avaliação. O plano de contingência deve prever mecanismos para acompanhar a evolução da crise, medir a eficácia das ações implementadas, identificar a necessidade de ajustes e aprender com os erros e acertos. Treinamento e Simulação: De nada adianta ter um plano de contingência impecável se a equipe não estiver preparada para colocá-lo em prática. Simulações de crise, treinamentos periódicos, workshops e exercícios práticos são essenciais para familiarizar a equipe com o plano, testar os fluxos de comunicação, identificar falhas e garantir que todos estejam prontos para agir com rapidez e eficiência quando a crise se instalar (Cardoso, 2015). Fonte: freepik.com Fonte: freepik.com Fonte: freepik.com 146Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública O caso do Ataque Cibernético ao Colonial Pipeline Em maio de 2021, a Colonial Pipeline, uma das maiores operadoras de oleodutos dos Estados Unidos, sofreu um ataque cibernético que interrompeu suas operações. A resposta rápida foi possível graças a um plano de contingência cibernético que incluía procedimentos detalhados para isolar sistemas afetados, comunicação com autoridades governamentais e público e restauração de operações críticas. A empresa conseguiu minimizar o impacto do ataque e restabelecer o fornecimento de combustível em poucos dias O incidente gerou uma reação imediata do departamento de segurança interna dos Estados Unidos, grupo responsável pela Cyber Security do governo norte- americano, com a liberação de uma ordem executiva que contém sérias “recomendações” a serem seguidas pelas empresas públicas ou privadas que atuem ou não no segmento industrial ou estejam envolvidas com infraestruturas críticas. Essa ação mostra que o tema exige, sim, uma estratégia público-privada, um exemplo a ser visto por outros governos no mundo, inclusive no Brasil (Security Leaders, 2023). Lembre-se: a crise, por mais desafiadora que seja, pode ser uma oportunidade para a organização demonstrar seus valores, fortalecer a confiança dos stakeholders e sair mais forte do que nunca. Ter um plano de contingência bem elaborado e uma equipe preparada para colocá- lo em prática é o primeiro passo para transformar a adversidade em oportunidade de crescimento. A identificação de riscos, a definição de uma estrutura de comando clara, procedimentos de resposta detalhados, planos de comunicação eficazes, logística bem planejada e treinamento contínuo são os pilares de um plano de contingência eficaz. 2.4 Definindo protocolo da crise Agindo com Precisão Sob Pressão Neste tópico, abordaremos como definir o protocolo de crise, um elemento vital para garantir uma resposta organizada e eficaz quando a crise se instaura. Vamos imaginar Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 147 aqui um médico em uma sala de emergência. Um paciente chega em estado crítico, cada segundo é crucial. Não há tempo para hesitações, dúvidas ou improvisações. O médico precisa agir com base em protocolos médicos rigorosos, que ditam o passo a passo para cada procedimento, otimizando o tempo de resposta e aumentando as chances de sucesso. No gerenciamento de crises, a lógica é a mesma: cada minuto conta, e a precisão das ações pode determinar o destino da organização. Definir um protocolo de crise é como elaborar um guia de procedimentos para lidar com situações críticas. Ele funciona como um manual de instruções detalhado, que descreve, passo a passo, as ações a serem tomadas em cada etapa da crise, por quem, como e quando. Ter um protocolo claro e objetivo evita improvisos, agiliza a tomada de decisões e garante uma resposta mais eficaz e coesa por parte da organização. PARE E PENSE: Em um mundo dinâmico e incerto, como a construção de um guia de ação eficaz, com base em um protocolo de crise robusto e flexível, pode ser a chave para a resiliência e o sucesso das organizações diante de desafios inesperados? A Importância de um Protocolo de Crise Um protocolo de crise é um conjunto de diretrizes e procedimentos que uma organização deve seguir quando enfrenta uma situação de emergência. Segundo Bernstein (2011), um protocolo bem definido é essencial para garantir uma resposta coordenada e eficaz durante uma crise. Ele ajuda a minimizar a confusão, acelerar a tomada de decisões e manter a comunicação clara e consistente. Assim como um protocolo médico precisa ser preciso, objetivo e de fácil compreensão, o protocolo de crise também deve seguir esses princípios. Ele precisa ser um guia prático, acessível a todos os membros da equipe de gestão de crises e constantemente atualizado para refletir as características específicas de cada organização e os aprendizados com crises anteriores. Vejamos os elementos essenciais que não podem faltar nesse manual de ação: • Classificação da Crise: Assim como um médico precisa identificar a gravidade da condição do paciente para determinar a urgência do atendimento, o protocolo de crise deve iniciar com a classificação da crise em níveis de gravidade (baixo, médio ou alto), como vimos no capítulo anterior. Essa classificação inicial, baseada em critérios predefinidos, como o impacto potencial da crise, a urgência da resposta e os públicos afetados, determinará o fluxo de ações subsequentes. 148Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública • Ativação do Protocolo e da Equipe de Crise: O protocolo precisa definir claramente quem tem a autoridade para ativar o plano de contingência e a equipe de gestão de crises, bem como os critérios para a ativação (Bernstein, 2011).A demora na tomada de decisão pode ser fatal em uma crise, como bem ilustra o caso da empresa aérea Lion Air, em 2018. A demora em reconhecer a gravidade dos problemas técnicos em uma de suas aeronaves, que acabaram resultando em um acidente fatal, evidenciou a importância de protocolos claros e objetivos para a tomada de decisão em momentos de crise. • Fluxograma de Comunicação: A comunicação é o fio condutor de uma gestão de crise eficaz. O protocolo deve detalhar os fluxos de comunicação interna e externa, definindo quem se comunica com quem, em quais situações, por meio de quais canais (telefone, e-mail, comunicados oficiais, redes sociais, etc.) e com qual mensagem (Teixeira, 2013). • Gerenciamento da Informação: Em tempos de crise, a informação é uma arma poderosa. O protocolo deve prever mecanismos para coletar, analisar, validar e compartilhar informações relevantes com a equipe de gestão de crises de forma rápida e segura, permitindo a tomada de decisão com base em dados concretos e evitando a propagação de informações falsas ou imprecisas. Ações de Contenção e Mitigação: Assim como um médico precisa agir rapidamente para estabilizar um paciente em estado crítico, o protocolo de crise deve prever as primeiras ações a serem tomadas para conter a crise, minimizar os impactos negativos e evitar que a situação se agrave (Forni, 2019). Um protocolo de crise eficaz deve incluir as seguintes ações: Identificação da Crise: Critérios claros para identificar quando uma situação deve ser considerada uma crise. Definir o que constitui uma crise pode variar de acordo com a natureza da organização, mas geralmente inclui eventos que ameaçam a segurança dos funcionários, a continuidade das operações ou a reputação da organização. Estrutura de Comando: Definição das responsabilidades e hierarquias dentro da organização. https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/mundo/2019/10/25/interna_mundo,800883/acidente-com-boeing-da-lion-air-em-2018-esta-ligado-a-falhas-de-conce.shtml https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/mundo/2019/10/25/interna_mundo,800883/acidente-com-boeing-da-lion-air-em-2018-esta-ligado-a-falhas-de-conce.shtml https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/mundo/2019/10/25/interna_mundo,800883/acidente-com-boeing-da-lion-air-em-2018-esta-ligado-a-falhas-de-conce.shtml Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 149 Estabelecer uma estrutura de comando clara é essencial. Isso inclui a designação de um líder de crise, um comitê de crise e funções específicas para cada membro da equipe. Esta estrutura deve ser bem comunicada a todos os funcionários para garantir que todos saibam a quem reportar e quem é responsável por cada área de resposta. Procedimentos de Resposta: Ações específicas a serem tomadas durante diferentes tipos de crises. Definir procedimentos específicos para diferentes tipos de crises é crucial. Estes procedimentos devem incluir ações imediatas, como evacuações ou contenções, e ações subsequentes, como investigações e comunicações. Procedimentos detalhados ajudam a garantir que a resposta seja rápida e eficaz (Forni, 2019). Plano de Comunicação: Estratégias para comunicação interna e externa. Um plano de comunicação eficaz é vital para manter a confiança dos stakeholders e do público. Isso inclui a preparação de mensagens-chave, a identificação de porta-vozes e a utilização de múltiplos canais de comunicação. Barbeiro (2010) afirma que a comunicação clara e transparente é fundamental para mitigar os danos à reputação. Avaliação e Melhoria Contínua: Mecanismos para avaliar a eficácia da resposta e incorporar melhorias contínuas. Após a crise, é essencial avaliar a eficácia da resposta e identificar áreas de melhoria. Isso pode incluir revisões pós-crise, pesquisas com funcionários e stakeholders e ajustes nos procedimentos e protocolos existentes. Monitoramento da Crise e Reavaliação do Protocolo As crises são dinâmicas e imprevisíveis. O protocolo deve ser um documento vivo, em constante atualização, com base no monitoramento da crise, no feedback da equipe e nos aprendizados com cada nova situação. É fundamental analisar a eficácia das ações, identificar as áreas de aprimoramento e ajustar o protocolo para garantir que ele continue sendo uma ferramenta relevante e eficaz no gerenciamento de futuras crises. 150Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Treinamento e Simulação: Colocando o Protocolo à Prova De nada adianta ter o melhor protocolo de crise do mundo se a equipe não souber como utilizá-lo. O treinamento periódico e a realização de simulações de crise são essenciais para que a equipe se familiarize com os procedimentos. Teste os fluxos de comunicação, identifique falhas e esteja preparado para agir com rapidez, precisão e coesão em um momento de pressão (Augustine, 2009). Lembre-se: o protocolo de crise não é um documento estático a ser guardado em uma gaveta. O protocolo de crise é uma ferramenta viva, em constante aprimoramento, que precisa ser integrada à cultura da organização, disseminada para todos os colaboradores e testada periodicamente para garantir que a empresa esteja preparada para enfrentar os desafios de um mundo cada vez mais complexo e imprevisível. Definir um protocolo de crise é essencial para garantir uma resposta organizada e eficaz durante emergências. Em tempos nos quaisempresas precisam lidar com mudanças e planejar sobre o futuro, a criação de um comitê de crise pode ser um diferencial. Neste vídeo, o professor Romenio Santos explica o que é comitê de crise, sua importância e principais objetivos para seu sucesso. 2.5 Como aplicar a liderança adaptativa em situações de crise na prática Neste momento de nossos estudos, vamos explorar a aplicação prática da liderança adaptativa em situações de crise. Agora, imagine um maestro regendo uma orquestra em meio a um concerto. Ele estudou a partitura, ensaiou com os músicos, mas, de repente, um dos instrumentos desafina no meio de uma frase musical complexa. O que ele faz? Segue rigidamente o planejado, ignorando a dissonância, ou se adapta à situação, conduzindo a orquestra com maestria por entre as notas inesperadas? Em tempos de crise, a liderança assemelha-se a essa sinfonia desafiadora, exigindo dos líderes a capacidade de improvisar, adaptar e inspirar, sem perder de vista a harmonia do conjunto. https://www.youtube.com/watch?v=NvHl9wg39O0 https://www.youtube.com/watch?v=NvHl9wg39O0 Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 151 A liderança adaptativa, caro estudante, é como um maestro que conduz a orquestra com maestria em um concerto desafiador. Em situações de crise, os líderes precisam ir além do script, adaptando-se às mudanças repentinas, tomando decisões complexas com informações limitadas e motivando suas equipes em meio à incerteza e ao medo. PARE E PENSE: Quais as habilidades e a mentalidade necessárias para navegar por crises de forma eficaz, inspirando e guiando equipes em meio à turbulência, transformando desafios em oportunidades de crescimento e fortalecimento? A Importância da Liderança Adaptativa A liderança adaptativa é um estilo de liderança que enfatiza a capacidade de liderar através da incerteza, utilizando a flexibilidade e a resiliência para navegar por desafios inesperados. Augustine (2009) destaca que, em tempos de crise, a capacidade de adaptar-se rapidamente às mudanças é crucial para a sobrevivência e o sucesso. Princípios da Liderança Adaptativa: • Diagnóstico Constante Avaliar continuamente o ambiente e identificar os desafios emergentes. • Flexibilidade Estar disposto a mudar planos e estratégias conforme necessário. • Engajamento Incluir todos os níveis da organização no processo de resposta à crise. • Resiliência Manter a capacidade de recuperar-se rapidamente de adversidades. Desvendando a Partitura da Crise: Pilares da Liderança Adaptativa na Prática Dominar a arte da liderançaadaptativa em situações de crise exige dos líderes uma combinação única de habilidades, que vão além do conhecimento técnico e da capacidade de planejamento. É preciso ter sensibilidade para reconhecer as nuances da crise, flexibilidade para mudar de estratégia quando necessário e resiliência para enfrentar os desafios com coragem e determinação. Vejamos, na prática, como colocar em ação os pilares da liderança adaptativa em meio à tempestade: 152Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Comunicação Transparente e Empática Em momentos de crise, o silêncio é um vácuo que rapidamente se preenche com boatos, especulações e desinformação. Líderes adaptativos entendem a importância de comunicar de forma clara, honesta e frequente com seus stakeholders, mesmo quando não têm todas as respostas. A comunicação transparente e empática reduz a ansiedade, fortalece a confiança e demonstra que o líder está no comando da situação (Duarte, 2010).. Um exemplo inspirador é a postura adotada por Jacinda Ardern, primeira-ministra da Nova Zelândia, durante a pandemia de Covid-19. Sua comunicação clara, empática e baseada em informações científicas foi fundamental para unir a população e controlar a disseminação do vírus no país. Agilidade na Tomada de Decisões Em um cenário de crise, a velocidade de reação pode ser a diferença entre o sucesso e o fracasso. Líderes adaptativos não se paralisam diante da incerteza ou da pressão. Eles buscam informações relevantes, analisam as opções disponíveis e tomam decisões rápidas e estratégicas, mesmo com informações limitadas. (Bernstein, 2011). A crise enfrentada pela Zoom, em 2020, com o aumento exponencial de usuários durante a pandemia e a exposição de falhas de segurança na plataforma, exigiu uma resposta rápida e decisiva. O CEO Eric Yuan assumiu a responsabilidade pelos erros, comunicou abertamente as ações para fortalecer a segurança e implementou atualizações em tempo recorde, recuperando a confiança dos usuários. Flexibilidade e Adaptabilidade Crises são, por natureza, imprevisíveis e dinâmicas. O que funciona hoje pode não ser a melhor solução amanhã. Líderes adaptativos reconhecem que o plano inicial pode precisar ser ajustado ao longo do caminho e estão dispostos a mudar de rota, reavaliar as estratégias e experimentar novas soluções, demonstrando flexibilidade e capacidade de adaptação (Rosa, 2001). A Samsung, após o recall do Galaxy Note 7, em 2016, demonstrou grande capacidade de adaptação ao reestruturar sua cadeia de produção, fortalecer seus processos de controle de qualidade e lançar campanhas de marketing eficazes, recuperando a confiança do mercado e mantendo sua posição de destaque no mercado de smartphones. Construção de Resiliência e Moral da Equipe Crises geram medo, insegurança e desmotivação. Líderes adaptativos reconhecem a importância de cuidar do bem-estar emocional de suas equipes, oferecendo suporte, reconhecimento e inspiração para que os colaboradores mantenham-se engajados e Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 153 produtivos em meio à adversidade (Augustine, 2009). A General Motors, durante a crise da indústria automobilística, em 2020, demonstrou preocupação com seus funcionários, implementando programas de apoio à saúde mental, mantendo a transparência nas comunicações internas e reconhecendo o esforço da equipe para superar os desafios, o que contribuiu para manter a coesão e a motivação dos colaboradores. Desafios na Implementação da Liderança Adaptativa Implementar a liderança adaptativa em situações de crise apresenta diversos desafios para os líderes e suas equipes. Vejamos os principais: 1. Resistência à Mudança: aspessoas podem resistir a mudanças rápidas, especialmente em tempos de crise. 1. Comunicação Eficaz: manteruma comunicação clara e consistente pode ser difícil quando as informações estão mudando rapidamente. 1. Tomada de Decisão Sob Pressão: tomardecisões rápidas com informações incompletas pode ser desafiador. Superando os Desafios E para que você, líder ou aspirante a liderança, possa superar esses desafios, é fundamental: 1. Promover uma Cultura de Mudança: incentivara aceitação da mudança como parte integrante da cultura organizacional. 1. Melhorar a Comunicação: implementarestratégias de comunicação eficazes que mantenham todos os envolvidos informados e alinhados. 1. Tomada de Decisão Informada: utilizarferramentas analíticas e de feedback para apoiar a tomada de decisão rápida e informada. Fechando o assunto, vimos que a liderança adaptativa é como reger uma orquestra em meio à improvisação, encontrando a harmonia em meio às notas inesperadas da crise. É ter a sensibilidade para ouvir os diferentes instrumentos, a flexibilidade para adaptar a partitura e a maestria para conduzir a equipe em direção a um final vitorioso. Trata-se de uma abordagem essencial para enfrentar crises de maneira eficaz. O diagnóstico constante, flexibilidade, engajamento de todos os níveis da organização e resiliência são os pilares dessa abordagem. 1 2 3 1 2 3 154Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Lembre-se: crises testam a essência da liderança. E são nos momentos mais desafiadores que líderes verdadeiramente adaptativos se revelam, transformando adversidades em oportunidades de crescimento e inspiração. Este vídeo fala sobre a liderança no setor público e explica a importância da liderança no dia a dia do servidor, sobretudo, para aqueles que têm a tarefa de comandar uma equipe, além de dar diversas dicas de como desenvolvê-la. Implementar infográfico interativo, com as bolinhas de cada item posicionando cada bolinha em uma peça. Diagramador deverá editar a imagem para que a palavra seja CRISES. Cada bolinha do Rise deverá ficar posicionada dentro de uma peça, então a edição da imagem deve considerar isso. Enfrentando a crise 1. A prevenção e enfrentamento de crises no setor público envolvem avaliação contínua de riscos, capacitação regular, comunicação transparente e planos de resposta detalhados, com liderança ativa e monitoramento constante. Analisar causas e acertos após crises fortalece a resiliência organizacional. 1. Definir responsabilidades claras e formar uma equipe multidisciplinar bem treinada é essencial para garantir uma resposta eficaz e proteger a reputação durante crises. 1. Um plano de contingência bem elaborado, com identificação de riscos, definição de papéis, comunicação clara e treinamento contínuo, é essencial para uma resposta organizada e eficaz a crises inesperadas. 1. Um protocolo de crise bem definido, que inclui a classificação da crise, ativação da equipe de crise, fluxograma de comunicação, gerenciamento de informação, ações de contenção e mitigação, estrutura de comando e procedimentos de resposta, é essencial para garantir uma resposta organizada e eficaz durante emergências. 1 2 3 4 https://www.youtube.com/watch?v=Nz5CX6H5vJ8&ab_channel=FolhaDirigidaporQconcursos Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 155 Fonte: freepik.com 1. A liderança adaptativa em crises requer comunicação transparente, decisões ágeis, flexibilidade e resiliência para engajar e inspirar equipes, transformando adversidades em oportunidades de crescimento. 5 freepik.com 156Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Unidade 3 - Monitoramento da execução do plano Ao final desta unidade, você será capaz de elaborar planos de contingência. 3.2 Identificação de desvios e ajustes no plano Vejamos, agora, como identificar desvios durante a execução do plano de crise e como ajustar as ações para garantir uma resposta eficaz. O monitoramento contínuo é fundamental para detectar rapidamente qualquer desvio do plano e fazer os ajustes necessários. Pensado em um mapa que foi cuidadosamente traçado para indicar o caminho mais eficiente para atingir um destino específico, é possível que, ao longo da jornada, surjam obstáculosinesperados, desvios na rota e novas informações que exigem uma reavaliação do trajeto inicial. Essa é a realidade da gestão de crises: um plano de ação, por mais bem elaborado que seja, precisa ser flexível para lidar com os imprevistos e adaptar-se às mudanças do cenário. Identificar esses desvios rapidamente é essencial para ajustar o plano e manter a eficácia da resposta. Como afirma Bernstein (2011), “a capacidade de identificar e corrigir desvios é crucial para manter a trajetória do plano de crise”. PARE E PENSE: Diante da dinâmica das crises e dos desafios à adaptação, como garantir a efetividade e a agilidade na identificação e correção de desvios no plano de crise? Reconhecendo os Sinais: Identificando os Desvios Pense por um momento em uma construção em andamento. O arquiteto elaborou um projeto detalhado, definindo cada etapa da obra. No entanto, durante a construção, podem surgir problemas inesperados, como um terreno com solo instável, materiais com defeitos ou mudanças nas necessidades do cliente. Nesses casos, o engenheiro responsável precisa identificar os desvios do projeto original e realizar os ajustes necessários para garantir que a obra seja concluída com segurança e qualidade. Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 157 Da mesma forma, na gestão de crises, é essencial estar atento aos sinais que indicam desvios no plano de ação. Esses sinais podem ser detectados através de diversas fontes, das quaispodemos destacar as mais práticas, que são: Monitoramento da mídia: Uma análise criteriosa do que está sendo publicado sobre a crise em jornais, revistas, sites de notícias e redes sociais, identificando a percepção pública, o tom da cobertura, os principais temas abordados e a presença de informações negativas. Análise de dados: Uma queda nas vendas, um aumento no número de reclamações, uma diminuição no tráfego do site, um aumento no volume de ligações para o call center, todos esses indicadores podem apontar para desvios no plano de ação e a necessidade de ajustes. Feedback dos stakeholders: A interação com clientes, fornecedores, funcionários, influenciadores e outros stakeholders, através de pesquisas, fóruns online, eventos e outros canais de comunicação, fornece insights valiosos sobre a percepção da crise, a eficácia das ações implementadas e as expectativas do público. Relatórios internos: A análise dos relatórios de desempenho das equipes, dos indicadores- chave de performance (KPIs), dos resultados das ações, das pesquisas internas e dos relatórios de mídia podem revelar desvios no plano e a necessidade de ajustes. Ajustando o Rumo: Adaptando o Plano de Ação Identificar os desvios e entender suas causas são etapas essenciais, mas o passo crucial é a realização de ajustes estratégicos no plano de ação. Essa etapa exige análise crítica, criatividade e capacidade de adaptação. Tal ação significa ajustar as ações do plano de acordo com a gravidade dos desvios, a percepção pública e as necessidades dos stakeholders, bem como rever o tempo de resposta, reduzindo esse tempo para ações urgentes, intensificar as ações de comunicação e engajamento e buscar soluções rápidas e eficazes. 158Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Também é necessário reavaliar as estratégias de comunicação, adaptando a linguagem e os canais de comunicação de acordo com a percepção pública, o tom da cobertura da mídia e as necessidades dos stakeholders e incluir novas ações no plano para lidar com os desafios identificados, como ações de reparação, medidas de prevenção, programas de treinamento, ações de responsabilidade social, entre outras. Por último, é importante utilizar ferramentas de monitoramento e análise de mídia, análise de dados, pesquisas de opinião pública e outros recursos para acompanhar os resultados das ações e realizar novos ajustes conforme necessário. Um caso fictício: Enchente na cidade de Santa Lúcia Para ilustrar as ações de adaptação mencionadas anteriormente, vamos imaginar que uma prefeitura fictícia, a Prefeitura de Santa Lúcia, enfrenta uma crise após uma enchente devastadora que afetou grande parte da cidade. Durante a execução do plano de resposta, identificam-se desvios como a lentidão na distribuição de suprimentos e a confusão nas informações passadas à população. Quais seriam as possíveis ações para mitigar essa crise? A prefeitura ajusta suas ações, mobilizando mais equipes de emergência e reduzindo o tempo de resposta para as áreas mais críticas. Intensifica as ações de comunicação, utilizando redes sociais e rádio para fornecer atualizações frequentes e claras, adaptando a linguagem para ser mais empática e compreensível. Incluinovas ações no plano, como reparação de infraestruturas danificadas, programas de prevenção de enchentes e campanhas de responsabilidade social para ajudar os desabrigados. Utiliza ferramentas de monitoramento de mídia, análise de dados e pesquisas de opinião pública para avaliar a eficácia das ações e ajustar as estratégias conforme necessário, garantindo que a resposta à crise seja eficaz e reconquiste a confiança dos cidadãos. Desafios na Identificação de Desvios A execução de um plano de crise exige agilidade e precisão, especialmente em um ambiente dinâmico e incerto. No entanto, diversos desafios podem surgir durante o processo, dificultando a identificação e correção de desvios que ameaçam o sucesso da resposta à crise, sendo eles: • Ambiente Dinâmico: As crises são frequentemente caracterizadas por mudanças rápidas e inesperadas. Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 159 • Resistência a Mudanças: A resistência interna à mudança pode dificultar a adaptação rápida às novas circunstâncias. • Comunicação Ineficaz: Problemas de comunicação podem impedir que os desvios sejam identificados rapidamente. Então, para você superar esses desafios, é essencial adotar algumas estratégias: • Flexibilidade: Desenvolver planos flexíveis que possam ser ajustados rapidamente conforme necessário. • Cultura de Comunicação: Promover uma cultura de comunicação aberta e transparente dentro da organização. • Treinamento Contínuo: Realizar treinamentos regulares para preparar a equipe para identificar e responder rapidamente a desvios. Para encerrar estesse assunto, vimos que identificar e corrigir desvios é um componente crucial da gestão de crises. O monitoramento contínuo, a utilização de indicadores de desempenho, a manutenção de uma comunicação aberta e as revisões periódicas do plano são práticas essenciais para garantir que a resposta à crise permaneça eficaz. Superar os desafios associados à identificação de desvios exige flexibilidade, comunicação assertivae um compromisso com a melhoria contínua. Lembre-se: compreender as causas dos desvios e realizar os ajustes de forma estratégica, com base em dados, informações e feedback, garante que a organização mantenha o controle da crise e minimize os impactos negativos. 3.3 Avaliação da efetividade das ações Agora, vamos conhecer os métodos para avaliar a efetividade das ações, os Indicadores-Chave De Desempenho (KPIs) mais relevantes e como interpretar os resultados para tomar decisões estratégicas que minimizem os impactos da crise e que restaurem a confiança da organização. Avaliar a eficácia das medidas adotadas é essencial para garantir que os objetivos sejam atingidos e para identificar áreas que necessitam de ajustes. 160Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública PARE E PENSE: Como podemos garantir que a avaliação da efetividade das ações durante uma crise seja abrangente, precisa e contribua para a adaptação contínua da resposta e a construção da resiliência organizacional? Olhos do Observador: Monitorando o Impacto das Ações Avaliar a efetividade das ações durante uma crise é um processo contínuo que permite à organização entender se as estratégias adotadas estão alcançando os resultados desejados. SegundoBernstein (2011), a avaliação contínua é crucial para adaptar as respostas e melhorar a resiliência da organização. Sem uma avaliação rigorosa, é difícil saber se as ações estão realmente mitigando a crise ou se precisam de ajustes significativos. Por exemplo, vamos imaginar um engenheiro que constrói uma ponte. Ele não apenas utiliza os materiais certos, mas também realiza testes de resistência para garantir que a estrutura esteja segura. Da mesma forma, na gestão de crises, precisamos realizar testes para avaliar se as ações implementadas estão gerando o impacto desejado. Existem diversas ferramentas para monitorar o impacto das ações e avaliar sua efetividade, destacando-se: Monitoramento de mídia e redes sociais: Analisar o volume e o tom das notícias, comentários e posts relacionados à crise nas redes sociais, sites de notícias, fóruns e blogs. Identificar a presença de hashtags negativas, o número de compartilhamentos e a percepção pública sobre a crise e as ações implementadas. Fonte: freepik.com Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 161 KPIs Estratégicos: Medindo o Sucesso das Ações Para avaliar a efetividade das ações, é crucial definir indicadores-chave de desempenho (KPIs) que reflitam os objetivos da gestão da crise. Os KPIs são métricas que permitem medir o desempenho das ações e identificar se a estratégia está no caminho certo. Vejamos, a seguir, alguns KPIs relevantes para avaliar a efetividade das ações em uma crise na esfera pública: Análise de dados: Coletar dados sobre as ações implementadas, como o número de ligações para o call center, o número de acessos ao site, o número de compartilhamentos nas redes sociais, o número de reclamações, a queda nas vendas, o impacto na reputação online e outros indicadores relevantes. Pesquisa de opinião: Realizar pesquisas com stakeholders e público em geral para entender a percepção da crise, a reputação da empresa, o nível de confiança na organização e a efetividade das ações implementadas. Feedback dos stakeholders: Coletar feedback de clientes, fornecedores, funcionários, influenciadores e outros stakeholders, através de pesquisas, fóruns online, eventos, redes sociais e outros canais de comunicação, para entender a percepção das ações e identificar áreas de melhoria. Fonte: freepik.com Fonte: freepik.com Fonte: freepik.com 162Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 1. Impacto na população • Nível de satisfação da população: pesquisas de opinião pública para avaliar o grau de satisfação da população com as ações da gestão pública durante a crise. • Redução de danos à população: monitorar os impactos negativos da crise na saúde, na segurança, na educação, nos serviços essenciais e no bem-estar da população. • Acessibilidade à informação: avaliar a qualidade, clareza e acessibilidade das informações sobre a crise disponibilizadas para a população através de diferentes canais de comunicação. • Atendimento e suporte à população: monitorar a qualidade e a eficiência dos serviços de atendimento à população durante a crise, incluindo canais de comunicação, tempo de resposta e resolução de problemas. 1. Eficácia das ações • Tempo de resposta: monitorar o tempo de resposta da gestão pública para tomar medidas e ações frente à crise, desde a identificação do problema até a implementação das soluções. • Eficiência na alocação de recursos: avaliar a otimização dos recursos humanos, financeiros e materiais para a gestão da crise, garantindo o uso eficiente dos recursos públicos. • Progresso na resolução do problema: monitorar o avanço na resolução do problema que gerou a crise, através de indicadores específicos, como o número de pessoas atendidas, a recuperação de serviços essenciais, a redução de danos e a implementação de medidas preventivas. 1. Impacto na reputação e na confiança • Percepção pública sobre a gestão da crise: monitorar a percepção pública sobre a resposta da gestão pública à crise através de pesquisas de opinião e análise de mídia. • Nível de confiança da população: avaliar o impacto da crise na 1 2 3 Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 163 confiança da população na gestão pública, através de pesquisas de opinião e análise de dados. • Reputação da instituição: monitorar a reputação da instituição pública através de pesquisas de opinião, análise de mídia, indicadores de imagem e outros parâmetros relevantes. 1. Impacto na eficiência dos serviços públicos • Nível de funcionamento dos serviços públicos: monitorar o nível de funcionamento dos serviços públicos essenciais durante a crise, como saúde, educação, segurança, transporte e infraestrutura, garantindo a qualidade e a continuidade dos serviços. • Tempo de espera para serviços públicos: monitorar o tempo de espera para acessar serviços públicos durante a crise, garantindo que a população não seja prejudicada por longos períodos de espera. • Custos e impactos financeiros: monitorar os custos e os impactos financeiros da crise na gestão pública, avaliando os recursos utilizados para lidar com a crise e os impactos nas finanças públicas. 1. Impacto no cumprimento de metas e objetivos • Impacto nas metas e nos objetivos da gestão pública: avaliar o impacto da crise no cumprimento das metas e dos objetivos estabelecidos para a gestão pública, como índices de desenvolvimento social, metas de saúde, educação e outros indicadores relevantes. • Capacidade de resposta e adaptação: monitorar a capacidade da gestão pública de responder e adaptar-se às mudanças e aos desafios apresentados pela crise, garantindo a resiliência da gestão pública. A escolha dos KPIs mais relevantes para avaliar a efetividade das ações em uma crise na gestão pública dependerá do tipo de crise, do contexto específico, das necessidades da população e dos objetivos da gestão pública. O monitoramento constante dos KPIs e a análise crítica dos resultados são essenciais para garantir que as ações implementadas estejam no caminho certo e que a gestão pública esteja respondendo de forma eficiente e eficaz à crise. 4 5 164Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública A Evolução Contínua: Adaptando o Plano de Ação A avaliação da efetividade das ações é um processo contínuo que exige acompanhamento constante e adaptação do plano de ação conforme necessário. Vejamos, a seguir, os passos necessários para avaliar a efetividade das ações implementadas em determinadas situações de crises: 1. Definição de Indicadores de Sucesso O primeiro passo para avaliar a efetividade das ações é definir indicadores de sucesso claros e mensuráveis. Esses indicadores devem estar alinhados com os objetivos da resposta à crise e permitir uma avaliação objetiva do progresso. Por exemplo, imaginando uma situação de crise ambiental, como uma enchente, as autoridades podem usar indicadores de sucesso como o número de pessoas resgatadas, a velocidade de resposta das equipes de emergência e a qualidade da água nas áreas afetadas. Esses indicadores permitiriam ao órgão público medir a eficácia das suas ações de resposta e ajustar as estratégias conforme necessário. 1. Coleta e Análise de Dados Coletar e analisar dados é fundamental para entender a efetividade das ações implementadas. Isso inclui tanto dados quantitativos quanto qualitativos, que podem fornecer uma visão abrangente do desempenho. Por exemplo, em um ciberataque como o que paralisou o sistema de saúde do Reino Unido, em 2017, o governo local poderia coletar dados sobre o tempo de recuperação dos sistemas, o impacto no atendimento aos pacientes e o número de ataques bloqueados após a implementação de novas medidas de segurança. Tal análise desses dados seria essencial para ajustar as ações de segurança cibernética e melhorar a resiliência do sistema. Saiba mais sobre esse ataque nessa reportagem da BBC. 1 2 https://www.bbc.com/news/health-39899646 Enap FundaçãoEscola Nacional de Administração Pública 165 1. Feedback dos Stakeholders Obter feedback dos stakeholders, como funcionários, clientes e a comunidade afetada, é crucial para entender suas percepções sobre a resposta à crise e identificar áreas de melhoria. Para exemplificar, segundo relatos de colaboradores da Amazon, durante a pandemia de Covid-19, a empresa solicitou feedback contínuo de seus funcionários sobre as medidas de segurança implementadas nos centros de distribuição. Esse feedback ajudou a empresa a ajustar rapidamente suas políticas de segurança e a melhorar as condições de trabalho para seus empregados. 1. Relatórios de Avaliação Elaborar relatórios de avaliação que documentem os resultados das ações e comuniquem as descobertas aos stakeholders é uma prática essencial. Esses relatórios devem incluir recomendações para ajustes e melhorias contínuas. Desafios na Avaliação da Efetividade A avaliação da efetividade das ações durante uma crise é uma etapa crucial, mas que apresenta diversos desafios. Um ambiente de crise é caracterizado pela incerteza e pela rápida evolução dos acontecimentos, o que pode dificultar a coleta e análise de dados necessários para uma avaliação precisa e oportuna. Veja os principais desafios e as estratégias específicas para superá-los, assegurando uma resposta eficaz e adaptativa: Dados Incompletos ou Imprecisos A obtenção de dados precisos pode ser difícil em um ambiente de crise, no qualas circunstâncias mudam rapidamente e as informações podem ser escassas ou não confiáveis. A precisão dos dados é fundamental para avaliar se as ações estão tendo os resultados desejados, mas a coleta dessas informações pode ser prejudicada pela desordem e pela falta de infraestrutura adequada. Resistência a Avaliações Algumas partes interessadas, como funcionários, gerentes ou outras entidades envolvidas na crise, podem resistir à ideia de serem avaliadas. Isso pode ocorrer devido ao medo de críticas, à insegurança em relação ao desempenho ou à percepção de que a avaliação não é uma prioridade imediata durante a crise. 3 4 166Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Mudanças Rápidas As crises podem evoluir de forma rápida e inesperada, tornando a avaliação contínua um desafio significativo. A velocidade com que as condições podem mudar pode dificultar a implementação de métodos de avaliação tradicionais e exigir ajustes constantes nas estratégias de resposta. Superando os Desafios Para superar esses desafios, é essencial adotar estratégias específicas que permitam a coleta de dados precisos, a promoção de uma cultura de avaliação contínua e a adaptação das estratégias de acordo com a evolução da crise. Vejamos quais são elas: 1. Sistemas de Coleta de Dados Implementar sistemas robustos para coletar dados precisos e em tempo real é fundamental. Esses sistemas devem ser capazes de captar informações relevantes de maneira rápida e eficiente, permitindo a análise imediata e a tomada de decisões informadas. Ferramentas digitais, sensores e plataformas de monitoramento podem ser extremamente úteis nesse contexto. 1. Cultura de Avaliação Promover uma cultura organizacional que valorize a avaliação e a melhoria contínua é crucial. Isso envolve incentivar a transparência, a abertura ao feedback e a disposição para ajustar estratégias conforme necessário. Treinamentos regulares e a comunicação clara sobre a importância da avaliação podem ajudar a reduzir a resistência e a aumentar a aceitação entre as partes interessadas. 1. Flexibilidade Adaptar as estratégias de avaliação conforme a crise evolui é essencial para garantir que elas permaneçam relevantes e eficazes. Isso significa estar preparado para ajustar indicadores de desempenho, métodos de coleta de dados e planos de resposta com base nas mudanças nas circunstâncias e nas novas informações que surgirem. A flexibilidade permite que a organização responda de maneira ágil e eficaz às novas realidades da crise. Concluindo estetópico, vimos que a avaliação da efetividade das ações é um componente crítico da gestão de crises. Definir indicadores de sucesso, coletar e analisar dados, obter feedback dos stakeholders e elaborar relatórios de avaliação 1 2 3 Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 167 são passos essenciais para garantir que as ações tomadas estejam alcançando os objetivos desejados. Superar os desafios associados à avaliação da efetividade exige um compromisso com a coleta de dados precisos, a promoção de uma cultura de avaliação e a flexibilidade para adaptar as estratégias conforme necessário. Lembre-se: a gestão de crises é um processo dinâmico e complexo que exige constante aprendizado e adaptação. 3.4 Explorando a habilidade de Atenção aos Detalhes Finalizando estaunidade, vamos explorar a habilidade de atenção aos detalhes durante a gestão de crises. Essa habilidade é crucial para identificar pequenos sinais que podem indicar problemas maiores e para garantir que todas as ações e estratégias sejam executadas de maneira precisa. Veremos, também, como essa habilidade pode transformar a forma como lidamos com situações desafiadoras e como ela pode ser aprimorada para garantir o sucesso das ações. A Montanha de Detalhes: Observando o Todo e Cada Parte Durante uma crise, a habilidade de prestar atenção aos detalhes pode ser a diferença entre uma resposta eficaz e uma série de falhas catastróficas. Imagine um detetive investigando um crime. Ele precisa analisar cada pista, cada detalhe, cada evidência para desvendar o mistério e encontrar o culpado. Da mesma forma, na gestão de crises, a atenção aos detalhes é crucial para desvendar a complexidade da situação, identificar as causas, entender as nuances e tomar decisões estratégicas. A atenção meticulosa aos detalhes previne a escalada de problemas durante uma crise (Bernstein, 2011). Detalhes negligenciados podem levar a consequências inesperadas, enquanto a observação cuidadosa pode revelar oportunidades para intervenção e correção. A atenção aos detalhes exige: 168Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Vamos imaginar, como exemplo, que uma empresa de tecnologia foi acusada de utilizar dados de seus clientes sem autorização. Provavelmente, a empresa, em resposta a essa acusação, poderia divulgar um comunicado oficial negando as acusações, mas a resposta pode vir a ser considerada evasiva e superficial por parte do público, gerando desconfiança e intensificando a crise. Então, diante disso, a empresa atenta à gestão de crises, perceberá a necessidade de realizar ajustes no plano de ação, contratando uma empresa independente para realizar uma auditoria de seus sistemas e comunicando de forma transparente os resultados aos consumidores. Observação atenta Observar cuidadosamente todas as informações relevantes, desde o tom de voz das pessoas envolvidas, os detalhes da comunicação, as reações nas redes sociais, os comentários dos stakeholders, as notícias veiculadas na mídia, as informações internas, os indicadores-chave de performance (KPIs) e outros elementos relevantes para a crise. Fonte: freepik.com Análise crítica Analisar criticamente cada informação, buscando entender o significado por trás dos detalhes, as nuances da situação e os impactos potenciais das ações. Reconhecimento de padrões Identificar padrões e tendências nas informações coletadas, como a repetição de temas, as reações recorrentes do público, a presença de influenciadores-chave, a intensificação de críticas em determinados canais de comunicação e outros elementos que podem indicar a evolução da crise. Fonte: freepik.com Fonte: freepik.com Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 169 PARE E PENSE: Como a atenção aos detalhes aliada à busca pela prevenção de erros de comunicação, estratégia e gestão, podem contribuir para o desenvolvimento da habilidade de atenção aos detalhes na gestão de crises e fortalecerou comunidade, exigindo respostas rápidas e eficazes para evitar danos extensos. No contexto da pandemia, a crise afetou a saúde, a economia e a confiança pública nas instituições. Agora, vamos a um desafio para você refletir sobre as ações a serem tomadas: Como gestor público, o que você precisa fazer nesta situação é: 1. Identificar e Classificar as Crises: com base no que estudamos neste capítulo, pense qual tipo de crise cada situação representa e qual seu nível de gravidade. 1 14Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 1. Desenvolver Respostas Efetivas: • para a crise de saúde pública, pense quais seriam as estratégias para aumentar a capacidade hospitalar e garantir o fornecimento de EPIs; • para a crise financeira, reflita sobre quais propostas poderiam ser utilizadas para otimizar o uso de recursos e aumentar o suporte financeiro a cidadãos e empresas; • para a crise de reputação, pense em uma estratégia de comunicação que poderia ser usada de forma eficaz para melhorar a transparência e a consistência das informações. Antes de exibir as informações a seguir, faça a reflexão proposta e depois verifique seu desempenho. CONTINUE Principais Tipos de Crise Identificados: 1. Crise de Saúde Pública (Operacional): sobrecarga dos hospitais, falta de equipamentos de proteção individual (EPIs) e necessidade de aumento rápido de capacidade hospitalar. 2. Crise Financeira: necessidade de recursos financeiros adicionais para apoiar o sistema de saúde, auxílio emergencial à população e suporte a empresas afetadas pela quarentena. 3. Crise de Reputação: desafios relacionados à comunicação inconsistente das autoridades e desacordo entre os níveis federal, estadual e municipal sobre medidas de contenção. Níveis de Gravidade das Crises: • Baixa: discrepâncias menores nas estatísticas de saúde divulgadas. • Moderada: crises financeiras afetando a implementação de programas de ajuda emergencial. • Alta: a crise operacional em hospitais e a crise de reputação devido à gestão da comunicação. 2 Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 15 Reflexão e Análise Crítica: • Avalie como diferentes estratégias de resposta poderiam alterar os resultados da crise. • Considere como medidas preventivas poderiam ter sido implementadas antes do surgimento da crise para mitigar seus impactos. Este exercício, que apoia o desenvolvimento de sua capacidade analítica, não só permite a você explorar a gestão de crises em uma situação real e complexa, como, também, fornece um contexto para refletir sobre a importância da preparação, liderança e comunicação eficaz em tempos de crise. Gestão de Crises no Setor Público: Definições, Fases, Comunicação e Tipologias 1 Definição e Natureza das Crises: crises ameaçam os objetivos, a reputação ou a sobrevivência de uma organização e podem surgir de diversas fontes, internas ou externas. Fases da Crise e Estratégias de Resposta: crises têm fases de pré-crise, crise e pós-crise, exigindo planejamento, reação rápida e recuperação, com respostas adaptadas ao nível de gravidade. Importância da Comunicação e Comitês de Crise: comunicação eficaz e comitês de crise multidisciplinares são cruciais para gerenciar crises e tomar decisões estratégicas. Tipos de Crise no Setor Público: crises podem ser financeiras, reputacionais, tecnológicas, de comunicação, saúde pública, políticas e ambientais, cada uma exigindo abordagens específicas. Exemplo de crise - Covid-19: a pandemia de Covid-19, no Brasil, exemplifica a gestão de crises multifacetadas, destacando a importância de planejamento, comunicação e resposta coordenada. Fo nt e: h tt ps :// w w w .v ec te ez y. co m 1 2 3 4 5 https://www.vecteezy.com/photo/15397824-father-blocked-the-wooden-block-with-his-hand-to-show-protection-for-the-family-and-support-and-help-with-advice-the-concept-of-family-relationships-that-will-connect-to-safety-love-and-compassion 16Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Unidade 2 - A importância de gerenciar os vários tipos de crises Ao final desta unidade, você será capaz de reconhecer a importância da gestão de crises, principalmente dentro do setor público, e entender que crises bem gerenciadas podem minimizar danos e transformar desafios em oportunidades de melhoria. 2.1. Impactos das crises no setor público Olá novamente, estudante e líder! Neste momento, você deve estar ciente de que, ao explorarmos o fenômeno das crises, é crucial reconhecer que elas se manifestam de maneiras variadas, afetando tanto o setor privado quanto o público. Cada crise traz consigo desafios únicos que exigem respostas estratégicas e bem fundamentadas. Crises podem surgir de inúmeras fontes — desastres naturais, erros humanos, falhas tecnológicas e tensões políticas. Para o autor e especialista em crise Norman Augustine, é importante para o líder ou gestor entender a origem das crises para melhor preparar as instituições a responderem a elas de forma eficaz. No setor público principalmente, isso significa estabelecer sistemas de alerta e respostas que sejam ágeis e adaptáveis às circunstâncias em mudança. PARE E PENSE Como suas instituições podem melhor se preparar para enfrentar crises futuras? Você já deve ter notado em sua carreira que o setor público é particularmente suscetível aos efeitos das crises devido à sua vasta responsabilidade perante a sociedade. Uma crise pode afetar a entrega de serviços essenciais, como saúde e segurança. Por exemplo, a pandemia de Covid-19 destacou a importância crítica da resposta governamental rápida e eficaz para conter a propagação do vírus e minimizar os impactos sociais e econômicos (Bernstein, 2011). A comunicação é um pilar essencial na gestão de crises. Segundo constatações feitas pelo jornalista Heródoto Barbeiro sobre o tema, uma estratégia de comunicação eficiente deve ser transparente, proporcionando informações claras e precisas Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 17 para evitar desinformação e pânico. Um bom exemplo, que foi estudado pelo especialista em crise João José Forni, foi a forma de comunicação usada pelas autoridades durante a crise de H1N1. Apesar do medo inicial, as comunicações claras e consistentes ajudaram a acalmar o público e facilitaram a implementação de medidas de saúde pública. A preparação para crises no setor público não é apenas sobre resposta, mas também sobre prevenção. O desenvolvimento de um plano de gestão de crises robusto, que inclua treinamento regular e simulações de crise, pode diminuir significativamente os impactos negativos quando uma crise ocorre. A implementação de tais planos foi fundamental, por exemplo, para a gestão de crises durante grandes desastres naturais, em que a evacuação precoce e a comunicação efetiva salvaram inúmeras vidas. Toda crise oferece uma oportunidade de aprendizado. Analisar como uma crise foi gerenciada, identificando erros e sucessos, é crucial para melhorar as estratégias futuras. Nos estudos feitos pelo autor Mario Rosa, observou-se que o período pós- crise deve ser utilizado para revisar e ajustar políticas e procedimentos, garantindo que as lições aprendidas sejam aplicadas para prevenir futuras crises. Os gestores e líderes do setor público devem abordar a gestão de crises com a seriedade que ela requer, integrando planejamento, comunicação, resposta e revisão contínua em suas práticas administrativas. Como discutimos através de exemplos e teorias apresentados por autores como Augustine (2009), Barbeiro (2010) e Bernstein (2011), a capacidade de gerenciar eficazmente uma crise é fundamental para a resiliência e a estabilidade de qualquer nação. 2.2 Benefícios da gestão de crises Vejamos agora, caro líder, a importância de explorarmos o fenômeno das crises. Muitas vezes, em nossa posição de liderança, focamos nos desafios e adversidades que tais situações impõem. Contudo, é essencial reconhecera capacidade de resposta da organização? Passos para Implementar a Atenção aos Detalhes A habilidade de atenção aos detalhes é fundamental para a gestão eficaz de crises, pois permite que as organizações identifiquem rapidamente problemas emergentes e implementem soluções precisas. A seguir, discutiremos os passos essenciais para implementar essa habilidade, ilustrando cada passo com exemplos reais que destacam a importância de um monitoramento minucioso, documentação rigorosa, análise detalhada e comunicação precisa. 1. Monitoramento Contínuo O monitoramento contínuo é crucial para manter uma visão detalhada da crise e suas evoluções. Essa prática envolve a observação constante de todas as operações e a identificação de quaisquer irregularidades ou desvios que possam surgir. A capacidade de monitorar a situação em tempo real permite uma resposta mais rápida e eficaz às mudanças. Em 2019, o Sistema de Saúde da Nova Zelândia enfrentou um grande surto de sarampo. O monitoramento contínuo dos casos permitiu identificar rapidamente as áreas com maiores surtos e direcionar recursos de vacinação de forma precisa, ajudando a controlar a crise de maneira eficaz (Geof, 2024). A vigilância constante foi essencial para conter a disseminação do vírus e proteger a saúde pública. 1. Documentação Rigorosa A documentação rigorosa das ações e decisões tomadas durante a crise é fundamental para garantir que todas as etapas sejam registradas e possam ser revisadas posteriormente. Essa prática não apenas facilita a análise e a melhoria contínua, mas também assegura a transparência e a accountability. Exemplo: A resposta da Starbucks à crise de discriminação racial, em 2018, incluiu a documentação detalhada das sessões de treinamento em diversidade para todos os funcionários. Essa documentação ajudou a empresa a monitorar o progresso e ajustar os programas conforme necessário para garantir eficácia (Forbes, 2018). A abordagem meticulosa permitiu à Starbucks responder de maneira mais adequada e efetiva às preocupações dos stakeholders. 1 2 170Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 1. Análise Minuciosa A análise minuciosa de todas as informações coletadas durante a crise é essencial para identificar padrões ou anomalias que possam indicar problemas subjacentes ou novas ameaças. Uma análise detalhada permite que a organização ajuste suas estratégias de maneira informada e precisa. Durante a crise de Covid-19, a análise detalhada dos dados de infecção e hospitalização pela equipe do Imperial College London permitiu prever ondas futuras do vírus e ajustar as medidas de saúde pública. Essa análise detalhada foi fundamental para desenvolver respostas eficazes e adaptativas em um cenário de rápida evolução (Imperial College London, 2020). 1. Comunicação Precisa A comunicação precisa e detalhada é essencial para garantir que todas as partes envolvidas na resposta à crise estejam informadas e alinhadas. Mensagens claras e detalhadas ajudam a prevenir mal-entendidos e garantem que todos os stakeholders recebam as informações necessárias para tomar decisões informadas. Um exemplo disso ocorreu com a comunicação da Apple durante a falha de segurança do Facetime, em 2019. A empresa emitiu comunicados detalhados explicando o problema, as medidas tomadas para corrigi-lo e os passos adicionais que os usuários deveriam seguir para garantir sua segurança (Verge, 2019). A transparência e a precisão na comunicação ajudaram a restaurar a confiança dos usuários e a gerenciar a crise de maneira eficaz. A Busca pela Precisão: Evitando Erros Críticos A falta de atenção aos detalhes pode gerar erros críticos que podem agravar a crise e comprometer a reputação da empresa. Vejamos, a seguir, alguns exemplos de erros que podem ser evitados com a atenção aos detalhes: Erros de comunicação: Erros gramaticais, informações imprecisas, linguagem inadequada, omissão de informações importantes, falta de clareza na comunicação, escolha inadequada do canal de comunicação e outros erros que podem gerar desconfiança e percepção negativapor parte do público. Erros de estratégia: Tomar decisões precipitadas, implementar ações ineficazes, não considerar os impactos das ações, não adaptar o plano de ação às mudanças do cenário e outros errosque podem prejudicar o gerenciamento da crise. 3 Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 171 Erros de gestão: Falta de organização, falhas na gestão de tempo, falta de coordenação entre as equipes, falhas na comunicação interna e outros erros que podem comprometer a eficácia das ações implementadas. Cultivando a Habilidade: Aprimorando a Atenção aos Detalhes A atenção aos detalhes é uma habilidade que pode ser aprimorada com treinamento, prática e desenvolvimento de hábitos que auxiliam na concentração e na análise crítica das informações. Veja algumas dicas para você aprimorar sua habilidade em ter maior atenção aos detalhes: Desenvolva o hábito de ler atentamente: preste atenção a cada palavra, cada frase, cada parágrafo, buscando entender o significado por trás das informações. Treine sua memória: faça exercícios para melhorar sua capacidade de memorizar informações, nomes, datas, detalhes de eventos e outros elementos importantes para a gestão de crises. Exercite sua concentração: pratique técnicas de meditação, yoga, mindfulness, exercícios de respiração e outras atividades que auxiliam na concentração e na capacidade de foco. Utilize ferramentas de apoio: utilize checklists, mapas mentais, agendas, lembretes, aplicativos de organização e outras ferramentas que auxiliam na organização das informações e na identificação de detalhes importantes. Busque feedback: Peça feedback de outras pessoas sobre seus trabalhos, suas decisões e suas ações para identificar falhas, erros e pontos de melhoria. Crie um ambiente de trabalho organizado: mantenha seu ambiente de trabalho organizado, com materiais e ferramentas à mão, para facilitar a concentração e a organização das informações. 172Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Promova a comunicação clara e transparente: comunique- se de forma clara e precisa com as equipes, os stakeholders e o público em geral para garantir que todos estejam alinhados e entendam os detalhes da crise e das ações implementadas. Vimos que a atenção aos detalhes é uma habilidade fundamental para lidar com crises de forma eficaz. Observar cada detalhe, analisar criticamente as informações, identificar padrões e evitar erros críticos podem fazer a diferença entre o sucesso e o fracasso na gestão de crises. Lembre-se: a atenção aos detalhes é um processo contínuo que exige constante aprendizado, prática e desenvolvimento de hábitos que auxiliam na concentração e na análise crítica das informações. Fonte: freepik.com Monitoramento da execução do plano freepik.com Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 173 Unidade 4 – Estudo de Casos Ao final desta unidade, você será capaz de examinar oportunidades de aprimoramento da compreensão na gestão de crises em casos de sucesso e insucesso. 4.1 Casos bem-sucedidos Olá, estudantes! Quando falamos sobre gestão de crises, a teoria, por si só, não garante o sucesso na hora da crise. Para transformar conhecimento em ação, é crucial analisar como outros lidaram com situações desafiadoras. E é o que veremos a seguir, analisando casos de sucesso na gestão de crises. CASO 1 – O acidente no Centro de Lançamento de Alcântara (CLA) Em 22 de agosto de 2003, ocorreu um grave acidente no Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), no estado do Maranhão, durante a preparação do terceiro voo de qualificação do Veículo Lançador de Satélites (VLS-1 V03). O acidente resultou na ignição inesperada de um dos propulsores do foguete, o que levou a uma explosão que destruiu a Torre Móvel de Integração e causou a morte de 21 técnicos e engenheiros. Esse evento foi classificadocomo uma crise devido à sua imprevisibilidade e ao seu alto impacto negativo, tanto em termos de vidas perdidas quanto de atrasos no Programa Espacial Brasileiro (Moreira & Fremder, 2023). Quais foram as ações dos responsáveis após o acidente? 1. Investigação do Acidente • O Coordenador Geral da Operação (CGO) instituiu, imediatamente, uma comissão técnica de investigação para documentar a cena do acidente, coletar evidências e resgatar as vítimas. • O Diretor Geral do Departamento de Pesquisas e Desenvolvimento (DEPED) também instaurou um Inquérito Policial Militar e designou uma Comissão Técnica de Investigação. 1 174Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 1. Apoio às Famílias das Vítimas • Foi providenciado suporte adequado aos familiares das vítimas, embora tenha havido atrasos na assistência médico-psicológica aos servidores que retornaram ao trabalho. 1. Identificação das Causas do Acidente • A investigação apontou fatores como instabilidade de recursos, contingenciamentos orçamentários, falta de investimentos, carência de pessoal capacitado e problemas na estrutura organizacional do Programa Espacial Brasileiro. 1. Recomendações e Medidas de Prevenção • Recomendações foram feitas para melhorias operacionais e de segurança, incluindo a criação de um Plano de Gerenciamento de Crise e Apoio à Emergência (PGCAE), que foi formalizado em 19 de maio de 2022. • Outras ações incluíram a construção de infraestrutura adicional de segurança, implantação de sistemas de proteção contra incêndios, melhorias no controle de acesso e treinamento de evacuação aeromédica. 1. Implementação do PGCAE • O plano visa a apresentar a configuração dos meios disponíveis, atribuir responsabilidades e delinear linhas de ação para gerenciar crises e minimizar impactos em caso de acidentes. • Inclui referências a normas da ABNT, instruções do Comando da Aeronáutica e metodologias de preparação para minimizar riscos durante campanhas de lançamento. Conclusão • Ao analisar a situação ocorrida e as medidas que foram tomadas pelas autoridades, mostrou-se que o aprendizado com essa crise trouxe a necessidade de desenvolver um plano robusto de gerenciamento de crises para prevenir e responder eficazmente a eventos similares no futuro. A adoção das recomendações e a criação do PGCAE foram passos cruciais para fortalecer a resiliência do Programa Espacial Brasileiro contra crises intratáveis e melhorar a segurança operacional no CLA. 5 4 3 2 Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 175 CASO 2 – Crise de imagem da Coca-Cola no Brasil, em 2013 Em setembro de 2013, a Coca-Cola enfrentou uma grave crise de imagem quando um consumidor, Wilson Batista de Rezende, alegou ter encontrado uma cabeça de rato dentro de uma garrafa de Coca-Cola. A denúncia foi amplamente divulgada pela mídia, especialmente através de uma reportagem exibida pela emissora Record, que viralizou nas redes sociais, gerando uma repercussão negativa significativa para a empresa (Assano, 2013). Ações Implementadas pela Coca-Cola Vejamos quais foram as ações implementadas pela empresa para enfrentar essa crise em sua imagem: 1. Resposta Imediata e Comunicação Transparente: A Coca-Cola respondeu rapidamente com a publicação de um vídeo em sua página oficial no Facebook, intitulado “Conheça a Verdade sobre a Coca-Cola”. O vídeo explicava o rigoroso processo de controle de qualidade da empresa, destacando as etapas de produção e inspeção das garrafas, e convidava os consumidores a visitarem suas fábricas para verificar a segurança e a qualidade do processo. 1. Uso de Redes Sociais: A empresa utilizou suas plataformas de redes sociais para disseminar informações corretas e combater rumores. A postagem no Facebook foi indexada a um vídeo no YouTube que detalhou o processo de fabricação e controle de qualidade da Coca-Cola, visando a desmentir as acusações e tranquilizar os consumidores. 1. Contraponto às Acusações: O vídeo divulgado pela Coca-Cola mostrou como seria inviável que uma cabeça de rato entrasse em uma garrafa lacrada, demonstrando o Referências adicionais e detalhes podem ser consultados no documento original do artigo, disponível aqui. 2 3 1 https://www.aereo.jor.br/downloads/VLS-1_V03_Relatorio_Final.pdf 176Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública processo de enchimento das garrafas e o uso de sensores de alta precisão para garantir a qualidade e segurança do produto. Esta abordagem técnica e visual ajudou a esclarecer as dúvidas e diminuir o impacto negativo das acusações. Vejamos elementos importantes usados pela empresa na gestão da crise em sua imagem perante seus stakeholders: Rapidez na Resposta A resposta imediata da Coca-Cola foi crucial para controlar a narrativa e mostrar que a empresa estava ativa e preocupada com a situação. Isso ajudou a conter a disseminação de informações falsas e a acalmar os consumidores. Transparência e Convite à Verificação A decisão de convidar os consumidores a visitarem as fábricas foi uma demonstração de transparência, reforçando a confiança no processo de produção da empresa. Isso mostrou um comprometimento com a qualidade e segurança dos produtos. Uso Eficiente das Redes Sociais A utilização de plataformas como Facebook e YouTube para disseminar a mensagem da empresa foi eficaz para alcançar um grande número de pessoas rapidamente e fornecer informações corretas e detalhadas sobre o processo de produção da Coca-Cola. Mas, mesmo com essas ações, segundo Asano (2015), há pontos de melhoria na ges- tão de crise de imagem da empresa. São eles: Menção Direta ao Problema: Embora a estratégia de comunicação tenha sido robusta, a Coca- Cola poderia ter abordado diretamente a acusação específica em sua resposta oficial. Isso teria mostrado uma postura mais proativa e menos defensiva, ajudando a esclarecer diretamente as dúvidas dos consumidores. Engajamento com a Comunidade: A empresa poderia ter intensificado o engajamento com a comunidade afetada, realizando eventos locais ou campanhas educativas sobre Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 177 segurança alimentar e controle de qualidade, fortalecendo ainda mais a confiança dos consumidores. Conclusões sobre Gestão de Crises Vejamos, então, quais as lições que podemos tirar dessecaso da Crise da Coca-Cola em situações de crise de imagem, seja na esfera privada, seja na pública: Importância da Comunicação Imediata A rapidez e a clareza na comunicação são essenciais para controlar a narrativa durante uma crise. A Coca-Cola mostrou que uma resposta imediata pode ajudar a mitigar os danos à imagem da empresa. Transparência e Abertura Ser transparente e convidar os consumidores a verificarem pessoalmente os processos de produção pode ajudar a reconstruir a confiança. A Coca-Cola utilizou essa abordagem de forma eficaz, mostrando a importância de ser aberto e honesto com o público. Utilização das Redes Sociais As redes sociais são ferramentas poderosas para disseminar informações e controlar crises. A Coca-Cola utilizou essas plataformas de forma eficiente para alcançar um amplo público e fornecer esclarecimentos detalhados. Engajamento Contínuo Continuar a engajar-se com a comunidade e manter uma comunicação aberta é vital para recuperar e manter a confiança dos consumidores a longo prazo. As empresas devem estar preparadas para manter esse diálogo constante. Essas lições destacam a importância de uma gestão de crises bem planejada e executada, que pode transformar uma situação negativa em uma oportunidade para reforçar a imagem e a confiança na marca ou na organização. 178Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 4.2 Casos malsucedidos É importante que você saiba que aprender com os erros é um dos pilares do desenvolvimento pessoal e profissional. Na gestão de crises, essa máxima torna- se ainda mais crucial, pois as consequências de decisões equivocadas podemser devastadoras para indivíduos, empresas e até mesmo para a sociedade. Veremos, a seguir, os bastidores de casos malsucedidos em gestão de crises, analisando situações nas quaisa falta de planejamento, comunicação falha ou a tomada de decisões erradas agravaram a situação, resultando em danos irreparáveis. CASO 1 – Rompimento da Barragem de Fundão e Crise de Imagem da Samarco Em 5 de novembro de 2015, no distrito de Bento Rodrigues, em Mariana (MG), ocorreu um desastre ambiental sem precedentes devido ao rompimento da barragem de Fundão, administrada pela Samarco Mineração S.A. Esse desastre resultou em 17 mortes, destruiu propriedades, contaminou o Rio Doce e afetou profundamente a vida de milhares de pessoas, atingindo35 cidades em Minas Gerais e sendo considerado o maior desastre socioambiental da história brasileira com repercussões sociais, econômicas e ambientais profundas (Belasco, 2017). Segundo os estudos de Belasco (2017) e Martins (2017), a empresa adotou diversas ações para tentar mitigar os impactos do desastre e recuperar sua imagem perante a opinião pública, sendo elas: 1. Resposta Imediata e Assistência Humanitária A Samarco ativou seu plano de emergência e iniciou esforços para conter a lama, resgatar pessoas e animais e fornecer suporte às comunidades afetadas. 2. Criação da Fundação Renova Foi criada a Fundação Renova para gerenciar os programas de reparação social, econômica e ambiental. Esta fundação visava a centralizar os esforços de recuperação e promover a transparência e a colaboração com a comunidade e autoridades. 3. Comunicação e Transparência A empresa estabeleceu canais de comunicação, incluindo um site dedicado com atualizações sobre as ações de remediação e uma sala de imprensa com boletins oficiais e comunicados. 1 2 3 Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 179 4. Planos de Recuperação Ambiental e Compensações Implementação de projetos de recuperação ambiental, monitoramento contínuo da qualidade da água, reflorestamento e compensações financeiras às famílias afetadas. Razões de Insucesso na Gestão da Crise Mesmo implementando ações corretivas para mitigação do desastre, sua imagem ficou comprometida devido a: 1. Comunicação Inadequada Apesar dos esforços de comunicação, a Samarco foi criticada pela falta de empatia e clareza em suas declarações iniciais. A demora em admitir a extensão do problema e em fornecer informações precisas comprometeu a confiança do público. 2. Lentidão na Resposta Houve uma percepção de que as ações da empresa foram lentas e insuficientes para lidar com a magnitude do desastre. A demora em fornecer suporte adequado às vítimas e em iniciar a recuperação ambiental aumentou a frustração e a desconfiança da comunidade. 3. Falta de Transparência Inicial A Samarco demorou para admitir sua responsabilidade pelo desastre, o que foi visto como uma tentativa de minimizar a gravidade da situação. Essa falta de transparência inicial comprometeu a imagem da empresa e dificultou a recuperação da confiança pública. 4. Desorganização na Implementação de Planos A coordenação e implementação das ações de recuperação foram consideradas desorganizadas, com falta de clareza nos papéis e responsabilidades, o que levou a atrasos e ineficiências nos esforços de remediação. 5. Impacto Ambiental e Social Prolongado A extensão dos danos ambientais e sociais foi tão grande que as ações de mitigação e recuperação implementadas não foram suficientes para 4 1 2 3 4 5 180Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública restaurar as condições anteriores ao desastre, exacerbando a percepção negativa sobre a efetividade das medidas tomadas. Concluindo, o caso mostra que, embora a Samarco tenha adotado várias ações para lidar com a crise, a eficácia dessas medidas foi comprometida por problemas de comunicação, lentidão na resposta, falta de transparência e desorganização na implementação dos planos de recuperação. Para organizações, em particular as da esfera pública que enfrentam crises semelhantes, é crucial, como já vimos, desenvolver e implementar um plano de gerenciamento de crises robusto, que inclua comunicação transparente e empática, resposta rápida e coordenada e envolvimento contínuo com a comunidade e stakeholders para restaurar a confiança e minimizar os impactos negativos. CASO 2 - A Crise dos Pedais da Toyota, 2010 Em 2010, a Toyota, uma das maiores montadoras de veículos do mundo, enfrentou um caso que marca até hoje sua história: a crise dos pedais, ocorrida nos EUA (FORNI, 2017, p. 53). Após diversas denúncias ao longo de 2009 relacionadas com falhas mecânicas nos pedais de freio e aceleração dos carros da empresa, em 2010 uma família de 4 pessoas morreu devido a um problema semelhante. A partir daí a empresa passou a ser sabatinada pelo público e pelo governo, que buscavam explicações para o fato. Quando precisou atuar diante da situação, a empresa mostrou despreparo e acabou desgastando sua marca frente ao público e gastando grandes montantes financeiros na sua recuperação (FORNI, 2017, p. 54). Vejamos, abaixo, quais foram os aspectos que, segundo Forni (2017, p. 53), representaram posturas indevidas por parte da organização: • falta de ação quando as reclamações iniciais foram recebidas, antes mesmo do acidente da família que morreu; • demora em se pronunciar e em formar um comitê para gestão da crise; • negação constante quanto à existência de algum problema mecânico; • omissão e até mesmo desaparecimento de alguns dos principais executivos da empresa; • demora na tomada de medidas para correção do fato, que ocorreu apenas quando foi obrigada pelo Governo norte-americano a fazê-lo. Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 181 Apesar da recuperação da empresa, que foi causada principalmente pelo fato de a crise ter ficado restrita aos EUA e por ela ter uma reputação sólida no mercado, suas vendas caíram 16% no país e ela ainda gastou mais de 2 bilhões com o processo de recall exigido. Analisando esse caso, vejamos quais foram os erros identificados e as lições que podemos tirar dessa gestão de crise malsucedida: Ação Proativa e Vigilância Contínua • Erro Identificado: a Toyota falhou em agir prontamente diante das reclamações iniciais sobre os problemas nos pedais. • Lição: é crucial para qualquer organização manter um sistema eficaz de monitoramento e resposta às reclamações dos clientes. A ação proativa não só pode evitar tragédias como a relatada, mas também demonstra ao público um compromisso com a segurança e a qualidade. Comunicação Transparente e Imediata • Erro Identificado: houve uma demora significativa para a Toyota se pronunciar e formar um comitê de gestão de crise. • Lição: a comunicação rápida e transparente é essencial em uma crise. Formar imediatamente um comitê de crise e comunicar-se claramente com todas as partes interessadas ajuda a controlar a narrativa e a manter a confiança do público. Reconhecimento do Problema • Erro Identificado: a Toyota negou constantemente a existência de problemas mecânicos, agravando a percepção pública negativa. • Lição: reconhecer os problemas de forma honesta e transparente é fundamental. Negar ou minimizar a gravidade de uma situação pode levar a uma perda irreparável de confiança e aumentar o escrutínio público e governamental. 182Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Visibilidade e Liderança • Erro Identificado: a omissão e o desaparecimento de executivos-chave da Toyota durante a crise. • Lição: em momentos de crise, a presença visível da liderança é crucial. Executivos devem estar à frente, demonstrando responsabilidade e empenho em resolver a situação. Isso ajuda a fortalecer a confiança interna e externa. Resposta Ágil e Adequada • Erro Identificado: a demora na tomada de medidas corretivas, que só ocorreu após pressão governamental. • Lição: implementar medidas corretivas rapidamentee de maneira eficaz pode mitigar os impactos negativos da crise. A agilidade na resposta demonstra competência e compromisso com a resolução do problema. Ao analisar esse caso, podemos concluir que a crise dos pedais da Toyota sublinha a importância de uma gestão de crise bem estruturada e ágil. A falta de ação proativa, a comunicação deficiente, a negação dos problemas, a ausência de liderança visível e a demora nas medidas corretivas, que já estudamos, são erros que qualquer organização pública ou privada devem evitar. Aprender com esses erros e implementar estratégias eficazes de gestão de crise pode ajudar a proteger a reputação da empresa, minimizar danos financeiros e, principalmente, garantir a segurança e a confiança do público. 4.3 Atividade prática através de estudos de caso Introdução Agora que você pode acompanhar casos de sucesso e insucesso na gestão de crises, chegou o momento de praticar e aprimorar sua capacidade analítica e pensamento crítico na resolução de problemas e crises. Nesta atividade prática, você analisará um estudo de caso fictício relacionado à gestão de crises em uma unidade da Receita Federal. O objetivo desse estudo é que você possa desenvolver competências para realizar a prevenção e o gerenciamento de crises organizacionais, causadas por fatores internos ou externos, construindo Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 183 soluções tempestivas, ágeis e adequadas ao contexto de modo confiante e proativo. Você poderá verificar o próprio desempenho, comparando o padrão de resposta esperado com as suas reflexões durante a atividade. Estudo de Caso: Crise na Receita Federal Contexto: Recentemente, a Receita Federal (uma organização fictícia para fins didáticos) está passando por uma crise de imagem pública. Um vazamento de dados de contribuintes, aparentemente oriundo de um ataque cibernético, resultou em um grande escândalo, expondo informações sensíveis de milhares de cidadãos. A mídia e as redes sociais amplificaram a crise, gerando um clima de desconfiança e insegurança na população em relação à instituição. A falha foi atribuída a uma vulnerabilidade não corrigida nos sistemas de segurança da informação. Sua Tarefa: Imagine que você é responsável pela gestão de crises da Receita Federal. Com base no caso apresentado, responda às seguintes questões, utilizando os conhecimentos que você adquiriu sobre gestão de crise no setor público. Antes de abrir as informações a seguir, faça a reflexão proposta e depois verifique seu desempenho. 1. Entendendo a crise Pense sobre as causas e as consequências da crise para a Receita Federal. Se necessário, faça anotações à parte. • Quais os fatores internos e externos que contribuíram para a crise? • Quais os impactos da crise em termos de reputação, imagem pública, relações com o público e operações da instituição? • Quais os principais stakeholders envolvidos na crise? (Ex: contribuintes, mídia, governo, funcionários, etc.). • Como a crise afetou a confiança do público na Receita Federal? CONTINUE 184Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Feedback A crise na Receita Federal foi causada por uma vulnerabilidade não corrigida nos sistemas de segurança da informação, resultando na exposição de dados sensíveis de milhares de contribuintes. Fatores internos, como falhas nos processos de atualização e monitoramento de TI, e fatores externos, como possíveis ataques cibernéticos, contribuíram para a crise. As consequências foram severas, incluindo uma perda significativa de confiança pública, danos à reputação e imagem pública, além de complicações nas relações com o público e interrupções nas operações da instituição. Os principais stakeholders envolvidos na crise foram os contribuintes, que tiveram seus dados expostos, a mídia, que amplificou a cobertura negativa, o governo, que precisou responder à falha, e os funcionários da Receita Federal, que enfrentaram a pressão de resolver a crise rapidamente. A confiança do público na Receita Federal foi profundamente abalada, exigindo esforços substanciais de comunicação e melhorias na segurança para restaurar a credibilidade da instituição. 2. Enfrentando a crise • Quais as primeiras ações a serem tomadas para minimizar os danos da crise? • Como comunicar a crise para os stakeholders? • Que tipo de mensagem a Receita Federal deve transmitir à sociedade? • Quais medidas devem ser tomadas para recuperar a confiança do público? CONTINUE Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 185 Feedback Uma possível resposta: A Receita Federal deve imediatamente identificar e corrigir a vulnerabilidade, iniciar uma investigação interna para entender a extensão do problema e fornecer suporte às vítimas da exposição de dados. A comunicação deve ser transparente, informando o público sobre as ações tomadas para resolver a crise e prevenir futuras ocorrências, e deve ser realizada por meio de comunicados de imprensa, redes sociais e entrevistas com a mídia. 3. Aplicando liderança adaptativa em situações de crise • Como o líder da Receita Federal deve se comportar durante a crise? • Que tipo de comunicação e ações o líder deve implementar para mobilizar a equipe e inspirar confiança? • Quais as características essenciais de um líder adaptativo em situações de crise? Feedback Durante a crise, o líder da Receita Federal deve se comportar com calma, transparência e determinação, demonstrando liderança firme e responsabilidade. O líder deve implementar uma comunicação clara, honesta e frequente, tanto interna quanto externamente, para manter todos os stakeholders informados. Para mobilizar a equipe e inspirar confiança, o líder deve envolver todos os níveis da organização, fornecer diretrizes claras e apoiar a equipe com recursos necessários, reconhecendo seus esforços e incentivando a colaboração. As características essenciais de um líder adaptativo em situações de crise incluem flexibilidade, resiliência, capacidade de tomar decisões rápidas e informadas, empatia e a habilidade de comunicar de forma eficaz e motivar a equipe sob pressão. Além disso, um líder adaptativo deve estar aberto a feedback e ser capaz de ajustar as estratégias conforme a situação evolui, garantindo que a organização se adapte rapidamente às mudanças e desafios apresentados pela crise. CONTINUE 186Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 4. Elaborando um plano de contingência • Quais medidas preventivas a Receita Federal poderia ter implementado para evitar ou minimizar a crise? • Reflita sobrequal seria o melhor plano de contingência para lidar com futuras crises de segurança de dados. Pense sobre os principais protocolos, responsabilidades, recursos e ações a serem tomadas em caso de um novo ataque cibernético. Feedback Para evitar ou minimizar a crise, a Receita Federal poderia ter implementado auditorias regulares dos sistemas de TI, políticas de atualização constante de software, treinamento contínuo de funcionários em segurança cibernética e uma equipe dedicada ao monitoramento e à resposta a incidentes. Um plano de contingência eficaz deve incluir protocolos claros para detecção e resposta a ameaças, atribuição de responsabilidades a uma equipe de resposta a incidentes, alocação de recursos adequados e ações coordenadas para minimizar o impacto nos stakeholders. Deve, também, prever comunicação transparente com o público, testes regulares e simulações de crise e um sistema de backup seguro. Em caso de um novo ataque cibernético, as ações imediatas devem incluir contenção do incidente, investigação da origem e extensão do ataque, implementação de medidas de recuperação e comunicação constante com os stakeholders sobre o progresso e as medidas de prevenção futuras. 5. Monitoramento da execução do plano • Como monitorar a efetividade do plano de contingência? • Quais os indicadores-chave de performance (KPIs) a serem utilizadospara avaliar o desempenho da equipe durante a crise? CONTINUE CONTINUE Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 187 Feedback Para monitorar a efetividade do plano de contingência, a Receita Federal deve realizar auditorias regulares, testes de penetração e revisões periódicas do plano, além de analisar dados sobre incidentes de segurança e feedback dos stakeholders. Os KPIs para avaliar o desempenho da equipe incluem tempo de resposta, tempo de recuperação, número de incidentes resolvidos, taxa de sucesso de mitigação, satisfação dos stakeholders e cumprimento dos protocolos estabelecidos. PARE E PENSE: Considerando o caso da Receita Federal, como uma situação de crise pode ser oportunidades de aprendizado e crescimento para sua organização? Pense sobre um caso real em sua organização, onde a gestão de crise foi fundamental para manter o controle da situação. Quais foram os fatores críticos que determinaram o sucesso ou fracasso na resposta à crise? E, para encerrar a atividade após ter refletido sobre o caso, veja algumas considerações importantes relacionadas à gestão de crise vistas neste módulo: • A identificação precisa das causas e a comunicação clara das consequências são fundamentais para a compreensão e gestão eficaz da crise. • Enfrentar a crise requer ações imediatas e bem coordenadas, com uma comunicação transparente e eficaz para manter a confiança dos stakeholders. • A liderança adaptativa é crucial em situações de crise, pois permite ajustes rápidos e eficientes nas estratégias e operações. • Um plano de contingência robusto deve ser bem elaborado, testado regularmente e revisado com base nos resultados dos testes e no feedback. • Monitorar a execução do plano é essencial para garantir que as ações planejadas estejam sendo implementadas corretamente e para permitir ajustes conforme necessário. 188Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública • A gestão eficaz de crises é um processo contínuo que exige atenção aos detalhes, flexibilidade e uma comunicação clara e constante. Ao considerar esses fatores, você poderá compreender melhor como as organizações públicas podem enfrentar e superar crises com sucesso. Fonte: freepik.com Estudo de Casos freepik.com Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 189 Referências AUGUSTINE, Norman R. Como lidar com as crises – Os segredos para prevenir e so- lucionar situações críticas. Rio de Janeiro, Elsevier, 2009. ASANO, Erica Regina dos Santos. Crises de imagem das empresas Coca-Cola, Arezzo e Spoleto mediadas por mídias sociais (Facebook e Youtube), 2015. BERNSTEIN, Jonathan. Managers’s Guide to Crisis Management. New York: Mc- Graw-Hill, 2011. BELASCO, Priscila. Gerenciamento de crise de imagem da Samarco após desastre em Bento Rodrigues, Mariana (MG). 2017. CARDIA, Wesley. Crise de Imagem – Os conceitos e os meios necessaries para com- preender os elementos que levam às crises e como administrá-las. Rio de Janei- ro: Mauad X, 2015. DANIELS, Richard J. Fukushima Daiichi nuclear disaster: Lessons learned. 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Colonial Pipeline: 5 razões para entrar na história. 2023. DISPO- NÍVEL EM: https://securityleaders.com.br/colonial-pipeline-5-razoes-para-entrar-na- -historia/. ACESSO EM: 23 maio 2024. VERGE The. (2019). Apple’s FaceTime bug response. Disponível em: https://www.theverge.com/2019/1/29/18202398/apple-facetime-bug-warned-ea- vesdropping. Acesso em 21 mai 2024. TEIXEIRA, Patrícia. Caiu na Rede. E agora? – Gestão e Gerenciamento de Crises nas redes Sociais. São Paulo: Évora, 2013. https://teara.govt.nz/en/epidemics/print https://www.theverge.com/2019/1/29/18202398/apple-facetime-bug-warned-eavesdropping https://www.theverge.com/2019/1/29/18202398/apple-facetime-bug-warned-eavesdropping Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 191 Glossário Definição / significado:Termo:N°: Accountability é um conjunto de mecanismos que permitem que os gestores de uma organização prestem contas e sejam responsabilizados pelo resultado de suas ações. O termo accountability não tem uma tradução específica para o português, mas pode ser relacionado com responsabilização, fiscalização e controle social. Fonte: https://www.significados.com.br/accountability/ Accountability1 Público estratégico e descreve todas as pessoas ou “grupo de interesse” que são impactados pelas ações de um empreendimento, projeto, empresa ou negócio. Em inglês stake significa interesse, participação, risco. Holder significa aquele que possui. Assim, stakeholder também significa parte interessada ou interveniente. Fonte: https://www.significados.com.br/stakeholder/ Stakeholder2 https://www.significados.com.br/accountability/ https://www.significados.com.br/stakeholder/ 192Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Módulo Lições aprendidas em situações de gestão de crises4 Unidade 1 - Aprendizagem pós-crise Ao final desta unidade, você será capaz de avaliar as experiências vindas de crises diversas por meio das lições aprendidas nelas. 1.1 Reflexão sobre as experiências vividas durante o curso Olá, estudante! Na jornada de estudos sobre a gestão de crises, fomos confrontados com diversos cenários e desafios Vamos, juntos, refletir sobre as experiências na gestão de crises, como um meio de aprendizado contínuo e aprimoramento de nossas habilidades de liderança em gestão de crises. A reflexão nos permite analisar e entender nossas ações passadas, aprender com elas e aplicar essas lições em situações futuras. Refletir sobre as experiências vividas é uma prática essencial para qualquer gestor de crises. Através da reflexão, podemos identificar o que funcionou bem e o que poderia ter sido melhorado, permitindo um desenvolvimento contínuo e a criação de estratégias mais eficazes para o futuro. A reflexão nos ajuda a reconhecer padrões, evitar erros repetitivos e melhorar nossa capacidade de resposta em situações críticas. Transformando erros em aprendizado e acertos em expertiseVocê já deve ter percebido que, em meio ao turbilhão de uma crise, é natural que a prioridade seja contê-la o mais rápido possível. No entanto, tão importante quanto solucionar o problema imediato é reservar um tempo para a análise crítica do processo como um todo, uma vez que a poeira da crise tenha baixado. É nesse momento de respiro que podemos, com mais clareza, identificar os pontos fortes e fracos da nossa atuação, bem como as oportunidades de aprimoramento. Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 193 Lembrem-se: a experiência, por si só, não garante a sabedoria. É a reflexão crítica sobre as experiências vividas que nos permite transformar os erros em aprendizado e os acertos em expertise. São vários os tipos de crises que uma organização pode enfrentar, seja ela pública, seja ela privada. Podem ser desde desastres naturais até crises de imagem e de comunicação. Cada uma dessas situações exige uma abordagem única e proporciona lições valiosas. Ao refletir sobre essas experiências vividas em sua organização, você tem a oportunidade de aprofundar o seu entendimento sobre os conceitos básicos e os tipos de crises, bem como sobre a importância da gestão de crises. Implementando Lições Aprendidas A aplicação das lições aprendidas durante situações de crise é fundamental para o desenvolvimento contínuo de nossas habilidades de gestão de crises. PARE E PENSE: Em situações de crises, como você pode usar essas experiências para melhorar seu plano de contingência? Quais estratégias poderiam ser adotadaspara prevenir crises semelhantes no futuro? Como garantir que suas respostas sejam rápidas, eficazes e bem coordenadas? Ferramentas e Técnicas de Gestão de Crises Uma das ferramentas mais eficazes que podemos usar é a análise SWOT (Forças, Fraquezas, Oportunidades e Ameaças), que nos permite avaliar a situação atual e potencial de sua organização. Utilizando essa análise, é possível identificar vulnerabilidades e desenvolver estratégias para mitigar riscos, conforme proposto por Bernstein (2011). Além disso, o desenvolvimento de planos de contingência detalhados, que incluam cenários variados e estratégias de resposta, é crucial. Esses planos devem ser revisados e atualizados regularmente, garantindo que estejam sempre prontos para serem implementados em caso de necessidade. 194Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Comunicação e Transparência A comunicação é outro aspecto crítico que aprendemos a valorizar. Em uma crise, a transparência e a clareza na comunicação com todos os stakeholders são essenciais para manter a confiança e controlar a narrativa. Como destacado por Teixeira (2013), as redes sociais desempenham um papel cada vez mais importante na gestão de crises, exigindo uma abordagem proativa e bem planejada. Em resumo, refletir sobre as experiências vividas em uma situação de crise é uma prática enriquecedora que nos permite consolidar nosso aprendizado e melhorar continuamente nossas habilidades de gestão de crises. Cada caso estudado ou cada debate contribuem para nossa compreensão das crises e da melhor forma de gerenciá- las. Ao cultivar a habilidade de reflexão, estamos mais preparados para enfrentar desafios futuros e transformar crises em oportunidades de crescimento e melhoria. Nesta jornada de aprendizado, você não precisa, e nem deve, estar sozinho. Ter a oportunidade de interagir com outros colegas de outras repartições ou setores de sua organização, cada um com suas próprias experiências, perspectivas e vivências, pode trazer insights(1) valiosos. Trocar experiências com outros profissionais é uma forma enriquecedora de ampliar horizontes, conhecer diferentes perspectivas e construir uma rede de apoio para enfrentar os desafios que a área de gestão de crises inevitavelmente apresenta. Então, aproveite essas oportunidades para compartilhar suas reflexões, dúvidas e troca de aprendizados. E lembre-se: a gestão de crises é um campo dinâmico e desafiador, mas, com as ferramentas e estratégias adequadas, podemos navegar por essas águas turbulentas com confiança e eficácia. 1.2 Identificação de pontos fortes e fracos Dando sequência aos nossos estudos, vamos, agora, explorar as estratégias de gestão de crises no setor público, avaliando os pontos fortes e fracos com base em experiências vividas. Imagine um quebra-cabeça. Cada crise, com seus desafios únicos, representa uma peça. Para montar o quebra-cabeça completo da gestão de crises eficaz, precisamos identificar as peças que se encaixam bem, revelando as estratégias eficazes, e as que precisam ser ajustadas, sinalizando as fragilidades do sistema. Essa análise crítica nos permite, então, construir um modelo robusto de gestão, capaz de enfrentar as adversidades com mais solidez e assertividade. A gestão de crises no setor público apresenta desafios únicos devido à sua natureza complexa e à diversidade de stakeholders envolvidos. Refletir sobre essas experiências Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 195 é essencial para aprimorar nossas habilidades e desenvolver abordagens mais eficazes para futuras crises. A Complexidade das Crises Como você já deve ter visto em sua organização, as crises podem variar amplamente, desde desastres naturais e emergências de saúde pública até crises econômicas e sociais. Cada uma dessas situações exige uma resposta coordenada e eficiente, que envolve múltiplas agências e níveis de governo, quando falamos de crise no setor público. A complexidade dessas crises destaca a importância de identificar e analisar os pontos fortes e fracos nas estratégias de gestão adotadas, o que veremos a seguir. PARE E PENSE: Ao analisarmos os pontos fortes e fracos da gestão de crises, quais aspectos destacam-se como mais relevantes para a construção de uma capacidade robusta de resposta a eventos críticos? De que forma podemos otimizar esses pontos fortes e mitigar os pontos fracos para alcançar uma gestão de crises mais eficaz, transparente e resiliente? Para responder a essas perguntas, vejamos quais seriam os pontos fortes e fracos em situações de crises e o que se pode aprender com elas. Pontos Fortes nas Estratégias de Gestão de Crises 1. Coordenação e Colaboração Um dos pontos fortes mais evidentes nas estratégias de gestão de crises no setor público é a capacidade de coordenação e colaboração entre diferentes entidades governamentais. Em muitas crises, a resposta bem- sucedida depende de uma ação conjunta entre agências federais, estaduais e municipais, além da colaboração com organizações não governamentais e o setor privado. Por exemplo, durante a crise de saúde pública provocada pelo surto de Zika vírus, no Brasil, a coordenação entre o Ministério da Saúde, os governos estaduais e municipais e as organizações internacionais, como a Organização Mundial da Saúde (OMS), foi crucial para o controle da doença. Essa colaboração permitiu uma resposta rápida e eficaz, destacando a 1 196Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública importância da comunicação e do trabalho em equipe (Forni, 2019). 1. Planejamento e Preparação Outro ponto forte é o planejamento e a preparação. Muitos governos têm desenvolvido planos de contingência abrangentes que são revisados e atualizados regularmente. Esses planos incluem a identificação de riscos potenciais, estratégias de mitigação e protocolos de resposta. A existência desses planos permite uma resposta mais organizada e eficiente quando uma crise ocorre. Como exemplificado no caso dos furacões nos Estados Unidos, os planos de evacuação e os exercícios de simulação realizados anualmente ajudaram a reduzir significativamente as perdas humanas e materiais (Bernstein, 2011). A preparação prévia é um elemento-chave para uma gestão eficaz de crises. 1. Transparência e Comunicação A transparência e a comunicação eficaz são fundamentais para manter a confiança do público durante uma crise. Governos queconseguem comunicar claramente as ações que estão sendo tomadas, bem como as medidas que a população deve adotar tendem a obter melhores resultados na gestão de crises. A comunicação transparente ajuda a evitar rumores e desinformação, que podem agravar a situação. Durante a pandemia de Covid-19, a comunicação transparente das autoridades de saúde pública sobre as medidas de prevenção e os dados epidemiológicos foi crucial para a adesão da população às recomendações de saúde (Teixeira, 2013). Essa experiência demonstrou a importância da transparência e da comunicação clara e consistente. Pontos fracos nas estratégias de gestão de crises 1. Falta de recursos Um dos principais pontos fracos na gestão de crises no setor público é a falta de recursos. Muitas vezes, os governos enfrentam limitações orçamentárias e de pessoal que dificultam a implementação eficaz das estratégias de gestão de crises. A escassez de recursos pode levar a respostas inadequadas e insuficientes, aumentando os danos causados pela crise. 2 1 3 Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 197 Durante a crise econômica de 2008, muitos governos enfrentaram desafios significativos devido à falta de recursos financeiros para implementar medidas de estímulo econômico e apoiar setores vulneráveis da população (Augustine, 2009). A crise revelou a necessidade de uma melhor alocação de recursos e de planejamento financeiro de longo prazo. 1. Burocracia e lentidão na resposta Outro ponto fraco é a burocracia e a lentidão na resposta. A complexidade dos processos administrativos e a necessidade de seguir protocolos rígidos podem atrasar a tomada de decisões e a implementação de ações durante uma crise. Essa lentidão pode agravar a situação e reduzir a eficácia das medidas adotadas. Por exemplo, durante o desastre ambiental causado pelo rompimento da barragem em Mariana, em Minas Gerais, a resposta inicial foi criticada pela demora e pela falta de coordenação entre as agências envolvidas. A burocracia excessiva e a falta de clareza nos procedimentos de resposta contribuíram para uma gestão ineficaz da crise (Cardia, 2015). 1. Falta de treinamento e capacitação A falta de treinamento e capacitação dos profissionais envolvidos na gestão de crises é outro ponto fraco significativo. Sem o treinamento adequado, os profissionais podem não estar preparados para lidar com a pressão e a complexidade das situações de crise, resultando em respostas inadequadas e ineficazes. A formação contínua e a realização de exercícios de simulação são essenciais para garantir que os profissionais estejam prontos para atuar de maneira eficaz em situações de crise. Investir em treinamento e capacitação é fundamental para fortalecer as estratégias de gestão de crises (Duarte, 2010). 2 3 198Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Neste vídeo, veja um exemplo de simulação de um possível acidente aéreo, promovido pela Universidade Católica de Pelotas, e realizado no Aeroporto Internacional de Pelotas (RS), que envolveu cerca de 150 profissionais de vários setores da administração pública da região. Refletir sobre as experiências de gestão de crises nos permite identificar lições valiosas e oportunidades de melhoria. A análise dos pontos fortes e fracos das estratégias adotadas nos ajuda a desenvolver abordagens mais eficazes e a estar melhor preparados para enfrentar futuras crises. Lições aprendidas em situações de crises Uma das principais lições aprendidas em situações de crise é a importância da flexibilidade e da capacidade de adaptação. As crises são, por definição, imprevisíveis e dinâmicas, exigindo respostas que possam ajustar-se rapidamente às mudanças nas circunstâncias. A capacidade de adaptar planos e estratégias em tempo real é crucial para uma gestão eficaz de crises. Outra lição importante é a necessidade de envolver a comunidade e os stakeholders no processo de gestão de crises. A participação ativa da comunidade pode melhorar a eficácia das respostas e aumentar a resiliência da sociedade como um todo. Engajar os cidadãos e os diferentes grupos de interesse é fundamental para uma gestão de crises mais inclusiva e eficiente (Viana et al., 2008). Em suma, a avaliação das estratégias de gestão de crises no setor público revela tanto pontos fortes quanto fracos que devem ser considerados para aprimorar nossas abordagens futuras. A coordenação e a colaboração, o planejamento e a preparação e a comunicação transparente são elementos fundamentais que fortalecem a gestão de crises. Por outro lado, a falta de recursos, a burocracia e a falta de treinamento são desafios que precisam ser enfrentados e superados. Refletir sobre essas experiências permite-nos aprender e crescer, desenvolvendo estratégias mais robustas e eficazes para enfrentar as crises que ainda virão. A gestão de crises no setor público é uma tarefa complexa e desafiadora, mas com as lições certas podemos transformar essas experiências em oportunidades de melhoria contínua e resiliência. https://www.youtube.com/watch?v=X5KaxNZvc6s&ab_channel=UniversidadeCat%C3%B3licadePelotas-UCPel Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 199 1.3 Definição de planos de desenvolvimento individual Vamos, agora, explorar como a definição de planos de desenvolvimento individual pode nos ajudar a aprimorar nossas habilidades e nos preparar melhor para futuras crises. A aprendizagem pós-crise é um processo contínuo que não apenas melhora a resposta a crises, mas também fortalece a resiliência e a adaptabilidade dos gestores e líderes. Assim como um médico que diagnostica e trata as doenças, nós, gestores de crises, precisamos entender as causas profundas dos problemas e, a partir daí, prescrever tratamentos eficazes para evitar que as mesmas doenças retornem. No âmbito da gestão de crises, essa “medicina preventiva” manifesta-se na forma de planos de desenvolvimento individual, ferramentas que capacitam os profissionais a enfrentar os desafios futuros com mais segurança e expertise. Então, vamos analisar as melhores práticas para desenvolver esses planos, apoiando-nos nas lições aprendidas de crises passadas. PARE E PENSE: Pensando sobre o seu desenvolvimento individual na gestão de crises, como você pode identificar seus próprios pontos fortes, fracos e metas de desenvolvimento para criar um plano personalizado que aprimore suas habilidades de gestão de crises e contribua para um futuro mais seguro? A Importância de Investir no Desenvolvimento Individual Pense em um time de futebol. Cada jogador possui suas habilidades e características únicas. Para que o time funcione de forma harmoniosa, é preciso investir no desenvolvimento individual de cada atleta, aprimorando suas habilidades e preparando-os para os desafios da competição. A mesma lógica e aplica-se à gestão de crises. É crucial investir no desenvolvimento individual de cada membro da equipe, garantindo que todos estejam preparados para lidar com os desafios e as pressões inerentes a esses momentos. A construção de planos de desenvolvimento individual é fundamental para o aprimoramento da gestão de crises, pois permite que cada profissional: Identifique seus pontos fortes e fracos: A autoanálise, com o auxílio de seus superiores, permite que o profissional tenha clareza sobre suas áreas de excelência e sobre os aspectos que precisam ser aprimorados. 200Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Defina metas e objetivos específicos: A partir do autoconhecimento, é possível traçar metas e objetivos específicos para o desenvolvimento profissional, focando em áreas cruciais para a gestão de crises. Desenvolve habilidades e competências essenciais: O plano de desenvolvimento individual deve incluir ações específicas para o desenvolvimento de habilidades e competências essenciais para a gestão de crises, como comunicação eficaz, tomada de decisão sob pressão, negociação e gestãode conflitos. Adquira conhecimento técnico e prático: A participação em treinamentos, cursos, workshops e a leitura de livros e artigos especializados são essenciais para adquirir conhecimento técnico e prático, ampliando o repertório de ferramentas e estratégias para lidar com as crises. Construa uma rede de apoio e colaboração: O plano deve estimular a construção de uma rede de apoio e colaboração, com a participação de colegas, mentores e especialistas, para trocar experiências, receber feedback e fortalecer as habilidades de trabalho em equipe. Planos de Desenvolvimento Individual: Um Guia para a Excelência A construção de planos de desenvolvimento individual exige um olhar atento para os objetivos, as necessidades e as características de cada profissional. Para que o plano seja eficaz, é fundamental que ele seja: Personalizado: O plano deve ser elaborado de forma personalizada, levando em consideração as necessidades, as habilidades e os objetivos de cada profissional. Realista e alcançável: As metas e os objetivos devem ser realistas e alcançáveis, com prazos e ações definidas, evitando frustrações e desânimo. Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 201 Flexível e adaptável: O plano de desenvolvimento deve ser flexível e adaptável às mudanças e às novas necessidades que surgem ao longo do tempo. Monitorado e avaliado periodicamente: É importante monitorar o progresso do desenvolvimento individual de forma periódica, avaliando o alcance das metas e ajustando as estratégias para garantir a eficácia do plano. Para ilustrar a construção de planos de desenvolvimento individual, vejamos, a seguir, alguns exemplos de ações concretas que podem ser implementadas em diferentes áreas: Comunicação: • participar de cursos de comunicação estratégica, redação e oratória; • participar de workshops sobre gerenciamento de crise nas redes sociais; • desenvolver habilidades de storytelling e argumentação;aprender técnicas de comunicação assertiva e gestão de conflitos. Tomada de Decisão: • participar de treinamentos sobre tomada de decisão em situações de crise; • desenvolver habilidades de análise crítica e resolução de problemas; • implementar simulações de cenários de crise para praticar a tomada de decisão; • buscar mentoria de profissionais experientes em tomada de decisão. Gestão de Riscos: • participar de cursos sobre gerenciamento de riscos e análise de cenários; • aprimorar habilidades de planejamento estratégico e identificação de ameaças; • implementar ferramentas de monitoramento de riscos e análise de impactos; • participar de grupos de estudo e debates sobre gestão de riscos. 202Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Tecnologia e Inovação: • participar de cursos sobre ferramentas digitais para gerenciamento de crises; • aprender sobre tecnologias de comunicação e plataformas digitais para a gestão de crises; • desenvolver habilidades de análise de dados e inteligência artificial para a tomada de decisão em crises; • participar de workshops sobre inovação e disrupção na gestão de crises. Liderança e Trabalho em Equipe: • participar de treinamentos sobre liderança e gestão de equipes; • desenvolver habilidades de comunicação e motivação de equipes; • implementar práticas de trabalho em equipe e colaboração; • participar de workshops sobre resolução de conflitos e gestão de equipes em situações de crise. Para apoiar na criação ou em melhorias de seu plano de desenvolvimento individual ou de membros de sua equipe, seguem algumas ferramentas e técnicas que você pode utilizar com sucesso: Simulações de Crises As simulações são uma ferramenta poderosa para o desenvolvimento de habilidades em um ambiente controlado. Elas permitem que os profissionais pratiquem a resposta a cenários de crise realistas, identifiquem áreas de melhoria e reforcem suas capacidades de resposta. Coaching e Mentoria O coaching e a mentoria podem proporcionar um desenvolvimento mais personalizado e focado. Um mentor experiente pode oferecer insights valiosos, ajudar na definição de metas de desenvolvimento e fornecer feedback construtivo. Revisão e Feedback Contínuos Estabelecer um sistema de revisão e feedback contínuos é essencial para monitorar o progresso e ajustar os planos de Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 203 desenvolvimento conforme necessário. Reuniões regulares com supervisores ou mentores podem garantir que os objetivos estejam sendo alcançados e que os profissionais estejam evoluindo conforme esperado. Casos de Sucesso e Insucesso Analisar casos de sucesso e insucesso na gestão de crises pode fornecer lições valiosas. Um exemplo é a resposta ao furacão Katrina, nos Estados Unidos, onde a falta de coordenação inicial resultou em graves consequências. Em contrapartida, a gestão eficaz do furacão Sandy destacou a importância de uma preparação adequada e de uma resposta coordenada (Bernstein, 2011). Reflexão e Adaptação A reflexão sobre as experiências passadas permite que os gestores identifiquem o que funcionou bem e o que precisa ser melhorado. Essa prática de reflexão contínua é fundamental para o desenvolvimento individual e para a preparação para futuras crises. Construindo um Futuro Mais Seguro A jornada da gestão de crises é contínua e exige aprimoramento constante. Investir no desenvolvimento individual dos profissionais é fundamental para construir um futuro mais seguro, capaz de lidar com os desafios com mais expertise e resiliência. Criar planos de desenvolvimento individual é uma estratégia essencial para aprimorar as habilidades de gestão de crises e preparar os profissionais para enfrentar futuros desafios. Identificar as habilidades cruciais, estabelecer metas claras e utilizar ferramentas eficazes de desenvolvimento são passos fundamentais nesse processo. A aprendizagem pós-crise é um caminho contínuo de crescimento e melhoria, que fortalece não apenas os indivíduos, mas também as organizações e a sociedade como um todo. 1.4 Explorando, na prática, lições aprendidas após uma crise Como você já entendeu, as crises são momentos de grande desafio, mas também oferecem oportunidades valiosas para aprendizado e crescimento. Por isso, vamos explorar como as lições aprendidas após uma crise podem ser aplicadas na prática para melhorar a gestão de crises, principalmente no setor público. A aprendizagem pós-crise é um processo essencial que permite aos gestores não apenas evitar erros passados, mas também implementar estratégias mais eficazes e resilientes. 204Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública PARE E PENSE: Como podemos analisar criticamente a resposta da organização a uma crise recente e identificar ações específicas para aprimorar nossas capacidades gerais de gerenciamento de crises? A Importância da Aprendizagem Pós-Crise A gestão de crises envolve não apenas a resposta imediata a situações emergenciais, mas também a reflexão e a análise das ações tomadas. A aprendizagem pós-crise é um elemento crucial para o desenvolvimento contínuo de políticas e práticas de gestão. Conforme destacou Bernstein (2011), a capacidade de uma organização de aprender com as crises anteriores é um indicador chave de sua resiliência e adaptabilidade. Vejamos então, quais são as principais etapas relacionadas à aprendizagem pós-crise. Etapa 1: Reflexão e Avaliação A avaliação das ações realizadas inclui uma análise detalhada das estratégias utilizadas, dos resultados alcançados e das áreas que necessitam de melhorias. A reflexão nos permite identificar não apenas o que funcionou, mas também os pontos fracos que precisam ser abordados. Por exemplo, a crise da água com chumbo na cidade americana de Flint (Michigan) ocorrida em 2014 revelou, após análises minuciosas, falhas significativas na comunicação e na gestão de recursos, o que levou à implementação de novas políticas de controle de qualidade e à melhoria dos canais decomunicação com a população (Forni, 2019). O governo tomou medidas drásticas para proteger a população, que pode ser visto no site oficial do governo em Mi Lead Safe (michigan.gov) Etapa 2: Implementação de Melhorias Uma vez identificadas as lições aprendidas, o próximo passo é implementar melhorias nas práticas e políticas de gestão de crises. Isso pode incluir a atualização de planos de contingência, a realização de treinamentos adicionais para a equipe e a introdução de novas tecnologias para monitoramento e resposta a crises. Recordando a pandemia de COVID-19, muitos governos perceberam a necessidade de melhorar seus sistemas de saúde e de resposta a emergências. Investimentos em infraestrutura hospitalar, treinamento de profissionais de saúde e a criação de sistemas de rastreamento e comunicação eficiente foram algumas das medidas adotadas para melhorar a preparação para futuras crises de saúde pública. https://www.michigan.gov/mileadsafe?utm_source=google&utm_medium=cpc&utm_campaign=ale_winter&gad_source=1&gclid=CjwKCAjwgdayBhBQEiwAXhMxtiDU6Sj9Eex-L9Bopa2FwRv8_fOfzZCICzs9IegEPg5UpT5zbxcU4RoCCsgQAvD_BwE Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 205 Leia nesse artigo da Fiocruz, as transformações urbanas duradouras provocadas pela pandemia de COVID-19 e a necessidade de novas políticas públicas para lidar com as mudanças e desigualdades resultantes. Guia prático para aplicar as lições aprendidas em situações de crise Desenvolvendo um Plano de Ação Após uma crise, a capacidade de aprender e implementar melhorias é crucial para fortalecer a resiliência e a eficiência das organizações públicas. A elaboração de um plano de ação detalhado permite que as lições aprendidas sejam transformadas em práticas concretas, melhorando a resposta a futuras crises. Este plano deve ser estruturado de forma meticulosa, contemplando desde a revisão das experiências passadas até a implementação de estratégias de monitoramento e avaliação contínuas. 1.Identificação de Lições Aprendidas Realize uma revisão completa da crise, identificando o que funcionou bem e o que precisa ser melhorado. 2. Definição de Objetivos Estabeleça objetivos claros e mensuráveis para implementar as melhorias necessárias. Fonte: freepik.com Fonte: freepik.com Fonte: freepik.com 206Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 3. Desenvolvimento de Estratégias Crie estratégias específicas para alcançar os objetivos definidos, incluindo a alocação de recursos, o treinamento de pessoal e a atualização de políticas e procedimentos. 4. Monitoramento e Avaliação Implemente um sistema de monitoramento contínuo para avaliar o progresso e fazer ajustes conforme necessário. Fonte: freepik.com A seguir, veja as etapas essenciais para desenvolver um plano de ação eficaz, assegurando que cada lição aprendida seja traduzida em ações práticas e melhorias sustentáveis. Ferramentas e Técnicas de Implementação Para que possamos implementar efetivamente as lições aprendidas após uma crise, é essencial utilizarmos ferramentas e técnicas que garantam a preparação contínua e a capacidade de resposta da equipe. Vejamos algumas delas: Simulações e Exercícios Práticos Realizar simulações e exercícios práticos regularmente é uma maneira eficaz de testar as novas estratégias e garantir que a equipe esteja preparada para responder a futuras crises. Esses exercícios ajudam a identificar possíveis falhas e a ajustar as estratégias em um ambiente controlado. Formação e Capacitação Contínua Investir na formação e capacitação contínua dos profissionais envolvidos na gestão de crises é fundamental. Cursos, workshops e treinamentos especializados garantem que a equipe esteja sempre atualizada e pronta para enfrentar novos desafios. Parcerias e Colaboração Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 207 Fonte: freepik.com Estabelecer parcerias com outras organizações, tanto públicas quanto privadas, pode fortalecer a capacidade de resposta e proporcionar acesso a recursos adicionais. A colaboração interinstitucional é uma componente chave para uma gestão de crises eficaz (Susskind & Field, 1997). Vimos que explorar as lições aprendidas após uma crise é um processo contínuo que requer reflexão, análise e ação. As experiências vividas no setor público oferecem uma base rica para desenvolver estratégias mais eficazes e resilientes. Ao aplicar essas lições na prática, os gestores podem não apenas melhorar a resposta a crises futuras, mas também fortalecer a confiança e a resiliência das comunidades que servem. Lembre-se: A aprendizagem pós-crise é um pilar essencial para a construção de um setor público mais preparado e eficiente. Lições aprendidas em situações de gestão de crises 1. Refletir sobre experiências em gestão de crises permite transformar erros em aprendizado, acertos em conhecimento e desenvolver estratégias eficazes para enfrentar futuras crises. 1 208Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 1. Identificar pontos fortes, como coordenação, planejamento e comunicação, e abordar pontos fracos, como falta de recursos, burocracia e treinamento, são essenciais para aprimorar a gestão de crises no setor público. 1. Definir planos de desenvolvimento individual, personalizados, realistas e monitorados é essencial para aprimorar habilidades, resiliência e capacidade de resposta a crises futuras no setor público. 1. A aprendizagem pós-crise, incluindo reflexão, avaliação e implementação de melhorias, é essencial para fortalecer a resiliência e eficiência na gestão de crises no setor público. 2 3 4 Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 209 Unidade 2 - Crise como oportunidade Ao final desta unidade, você será capaz de reconhecer oportunidades que surgem a partir das crises. 2.1 Transformação das crises em oportunidades de aprendizado e crescimento Neste momento, vamos desvendar os meandros da transformação de crises em oportunidades de aprendizado e crescimento. As crises, embora desafiadoras e muitas vezes devastadoras, podem ser catalisadores de profundas transformações e crescimento. Veremos, então, como transformar crises em oportunidades de aprendizado e crescimento, reconhecendo as potencialidades que surgem a partir dessas situações. Abordaremos práticas e estratégias que permitem transformar adversidades em oportunidades concretas. A Busca por Lições Valiosas Após uma crise, a primeira etapa crucial é a análise profunda da situação. É o momento de realizar uma “autópsia” da crise, buscando entender suas causas, seus impactos e as falhas que permitiram que ela acontecesse. Essa análise precisa ser honesta, imparcial e abrangente, buscando identificar os pontos fracos que precisam ser corrigidos e os pontos fortes que podem ser aprimorados. Tradicionalmente, as crises são vistas como momentos de caos e perda. No entanto, uma abordagem proativa e positiva pode transformar essas situações em momentos de aprendizado e inovação. Como apontado por Forni (2019), crises revelam vulnerabilidades que, quando identificadas e compreendidas, oferecem uma oportunidade única para a reestruturação e o fortalecimento organizacional. Transformação em Ação: O Poder do Aprendizado Com as lições aprendidas, podemos dar início à fase de transformação. É nesse momento que as sementes do aprendizado germinam e transformam-se em ações 210Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Aprimoramento de Processos: A crise pode revelar falhas em processos internos, como a comunicação, a tomada de decisões ou a gestão de riscos. A partir da análise, podemos reestruturar esses processos, tornando-os mais eficientes e resilientes. Reforço da Cultura Organizacional: A crise pode testar a cultura organizacional, revelando se os valores e princípios da empresa estão enraizados na prática. É o momento de reforçar a cultura de transparência, ética e responsabilidade, garantindo quea organização esteja preparada para lidar com situações complexas com integridade. Fortalecimento da Comunicação Interna e Externa: A crise pode evidenciar a necessidade de aprimorar a comunicação interna e externa. É crucial garantir a transparência nas informações, manter os stakeholders informados e estabelecer canais de comunicação eficientes. Em tempos de crise, a comunicação clara e transparente é fundamental para manter a confiança e a credibilidade (Forni, 2019). Desenvolvimento de Novos Produtos e Serviços: A crise pode abrir portas para a criação de novos produtos e serviços que atendam às novas necessidades e demandas do mercado. Segundo Teixeira (2013), a crise pode ser uma oportunidade para inovar e reinventar-se. Investimentos em Capacitação: A crise pode sinalizar a necessidade de investir em capacitação para os colaboradores, garantindo que a equipe esteja preparada para lidar com situações complexas e adaptar-se às novas demandas do mercado. concretas que fortalecem a organização e preparam-na para enfrentar novos desafios. Vejamos alguns exemplos práticos: Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 211 A Inovação como Resposta à Crise Muitas organizações descobrem novas maneiras de operar e inovar em resposta às crises. A crise financeira global de 2008, por exemplo, levou muitas instituições financeiras a desenvolverem práticas mais robustas de gerenciamento de riscos e a adotar tecnologias mais avançadas para prever e mitigar futuros riscos (Bernstein, 2011). Assim, a inovação surge não apenas como uma resposta imediata, mas como uma transformação duradoura. Princípios para Transformar Crises em Oportunidades As crises, apesar de suas dificuldades inerentes, oferecem uma oportunidade única para a transformação e o crescimento organizacional. Para que uma crise seja convertida em uma oportunidade, é essencial que as organizações adotem práticas eficazes e desenvolvam uma mentalidade voltada para o aprendizado e a adaptação. Nesse contexto, três princípios fundamentais emergem como pilares para essa transformação: o aprendizado contínuo e a adaptação, a comunicação aberta e transparente e o engajamento dos stakeholders. A seguir, discutiremos como cada um desses princípios pode ser aplicado na prática para garantir que as lições aprendidas durante as crises sejam plenamente aproveitadas, fortalecendo a resiliência e a capacidade de inovação das organizações. Aprendizado Contínuo e Adaptação Para transformar crises em oportunidades, é crucial adotar uma mentalidade de aprendizado contínuo. Segundo Duarte (2010), organizações que documentam suas experiências durante crises e revisam regularmente seus planos de contingência são mais bem-sucedidas em adaptar-se e prosperar em situações adversas. Comunicação Aberta e Transparente A comunicação eficaz é fundamental durante e após uma crise. Barbeiro (2010) enfatiza que a transparência e a clareza na comunicação ajudam a construir confiança e a manter a moral alta entre os funcionários e o público. Empresas que comunicam suas ações e intenções de maneira clara são mais capazes de manter a lealdade de seus stakeholders e reconstruir sua reputação. Engajamento dos Stakeholders Incluir os stakeholders no processo de recuperação pode gerar insights valiosos e 212Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública fortalecer o suporte comunitário. A crise de água em São Paulo destacou a importância de envolver a comunidade na criação de soluções, como campanhas de uso consciente da água, que se mostraram eficazes na mitigação do problema (Forni, 2019). Neste vídeo, a presidente da Fundação João Goulart (FJG), Ana Cláudia Lesçaut, foi entrevistada por Antônio Batista no programa Servidor +, abordando o tema “Em tempos de crise, formar líderes é uma necessidade do setor público”. Ferramentas e Metodologias de Avaliação Pós-Crise Para transformar crises em oportunidades, é fundamental que as organizações adotem ferramentas e metodologias eficazes de avaliação pós-crise. Vejamos, a seguir, duas abordagens principais: a Análise SWOT e as Revisões Pós-Ação (RPA). Essas metodologias permitem que as organizações identifiquem pontos fortes e fracos em suas respostas às crises, além de oportunidades e ameaças futuras, facilitando a implementação de melhorias contínuas e estratégias mais robustas. Análise SWOT Aplicada a Crises A análise SWOT é uma ferramenta prática que ajuda as organizações a identificarem Forças, Fraquezas, Oportunidades e Ameaças. Aplicada a crises, essa metodologia permite uma avaliação estruturada das respostas e facilita a identificação de áreas para melhoria e inovação (Cardia, 2015). Revisões Pós-Ação (RPA) As Revisões Pós-Ação são sessões estruturadas de briefing que ajudam as organizações a refletirem sobre suas respostas a crises. Duarte (2010) sugere que essas revisões envolvamtodos os níveis da organização e resultemem recomendações práticas que possamser implementadas imediatamente para fortalecer a resiliência organizacional. Fonte: freepik.com Fonte: freepik.com https://www.youtube.com/watch?v=OpworMtDGXI&ab_channel=FolhaDirigidaporQconcursos Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 213 Como vimos, transformar crises em oportunidades requer uma mudança de perspectiva e a implementação de estratégias eficazes de aprendizado e adaptação. Ao adotar uma abordagem proativa e aberta para a gestão de crises, as organizações podem não apenas sobreviver, mas também prosperar em face de adversidades. O setor público, em particular, pode beneficiar-se significativamente dessa abordagem, utilizando as crises como trampolins para a inovação e o fortalecimento institucional. Lembre-se: ao transformar a crise em aprendizado, estamos construindo um futuro mais robusto, capaz de enfrentar os desafios com mais segurança e sucesso. 2.2 Implementação de mudanças positivas na organização É natural que, ao final de uma crise, a primeira necessidade seja a de simplesmente voltar ao normal, recuperar o fôlego e seguir em frente. Contudo, as crises, em sua natureza disruptiva, carregam em si a oportunidade de fazer mais do que apenas retornar ao status quo. Elas nos convidam a repensar nossas práticas, fortalecer nossas estruturas e construir organizações mais resilientes, éticas e preparadas para o futuro. Vamos explorar juntos como transformar os aprendizados da crise em mudanças positivas e duradouras, impulsionando a organização a um novo patamar de excelência. Realização de Auditorias Internas Uma das primeiras etapas na implementação de mudanças positivas é a realização de auditorias internas detalhadas. Essas auditorias devem abranger todos os aspectos da operação, incluindo processos, políticas, comunicação e gestão de riscos. Através dessas auditorias, é possível identificar falhas e ineficiências que podem ser corrigidas. Bernstein (2011) ressalta que uma auditoria bem conduzida não apenas revela problemas, mas também aponta para oportunidades de inovação e melhoria. Desenvolvimento de uma Cultura de Aprendizado Contínuo Crises devem ser vistas como lições valiosas. Desenvolver uma cultura de aprendizado contínuo dentro da organização é fundamental para garantir que as lições aprendidas durante a crise não sejam esquecidas. Isso inclui a criação de programas de treinamento e desenvolvimento profissional que enfatizem a importância da adaptabilidade e da inovação. Duarte (2010) aponta que uma cultura organizacional que valoriza o aprendizado contínuo é mais capaz de se adaptar e prosperar em meio a desafios. Por exemplo, após uma crise de reputação 214Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública devido a uma campanha publicitária mal recebida, uma organização pode instituir treinamentos regulares em comunicação e marketing ético para evitar erros futuros e melhorar suas práticas. Adaptação e Flexibilidade nos Planos de Contingência Os planos de contingência devemos benefícios significativos que uma gestão eficaz de crises pode trazer para organizações e sociedades. PARE E PENSE Como é possível um governo se beneficiar com situações de crise? Crises podem surgir de diversas fontes e testam a robustez das estruturas organizacionais, mas também oferecem oportunidades únicas de fortalecimento, aprendizado e inovação. 18Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Um dos principais benefícios de uma gestão de crises eficaz é o fortalecimento da resiliência organizacional. Augustine (2009) destaca que a capacidade de uma organização se recuperar rapidamente, adaptar-se e continuar operando durante uma crise não apenas salva recursos valiosos, mas também reforça a confiança dos stakeholders. Que após o forte terremoto ocorrido em 2011, no Japão, as empresas que possuíam planos de contingência robustos conseguiram restaurar suas operações mais rapidamente, minimizando os impactos econômicos e mantendo a confiança de seus clientes e parceiros? A crise muitas vezes força as organizações a melhorarem suas comunicações internas e externas. Barbeiro (2010) e Forni (2019) destacam que uma crise exige comunicação clara, transparente e oportuna com todos os stakeholders. Durante a crise financeira que ocorreu em 2008, instituições financeiras que adotaram uma comunicação transparente com seus clientes sobre suas condições e estratégias de recuperação conseguiram manter uma relação de confiança e minimizar a fuga de clientes. Além disso, as crises são poderosos catalisadoros para o aprendizado e a inovação. Bernstein (2011) argumenta que, ao enfrentar desafios críticos, organizações são compelidas a pensar fora da caixa e encontrar soluções inovadoras. A crise elétrica que afetou a Califórnia nos anos 2000, por exemplo, impulsionou inovações e investimentos em fontes de energia alternativas e tecnologias de economia de energia, transformando o mercado de energia da região. A gestão de crises também oferece uma arena única para o desenvolvimento de lideranças. Cardia (2015) e Rosa (2001) observam que as situações de crise exigem liderança decisiva, responsiva e empática. Durante o apagão no Nordeste dos Estados Unidos, em 2003, líderes que demonstraram capacidade de gestão efetiva e comunicação clara emergiram como figuras centrais em suas organizações, desenvolvendo habilidades essenciais que moldaram suas carreiras futuras. Em tempos tão incertos, olhamos para os nossos líderes, mas como gerir uma organização durante crises na área da saúde como a que ocorreu com a Covid-19 – uma crise diferente de todas as que alguma vez experimentamos? O professor Dutch Leonard e o CMCO Brian Kenny usam o Zoom para discutir a gestão de crises e quais ações os líderes podem tomar agora. Clique aqui e assista ao vídeo. https://www.politize.com.br/crise-financeira-de-2008/?https://www.politize.com.br/&gad_source=1&gclid=Cj0KCQjwxeyxBhC7ARIsAC7dS3_KuI9-ajrWAz1YCp0mLfiUq2wgIKhS8d2ZbxgkS4i5EQzpHGygA9saAg4fEALw_wcB https://www.youtube.com/watch?v=1evSfmArTRQ&t=651s&ab_channel=HarvardBusinessSchool Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 19 NOTA DO CONTEUDISTA: O vídeo originalmente está no idioma inglês sem legendas em português. Instruir o aluno ao acessar o Youtube, clicar na engrenagem e em legendas, selecionar traduzir automaticamente e buscar o idioma Português, que as legendas serão convertidas para o nosso idioma. Além disso, uma gestão de crises eficiente pode significativamente reforçar a confiança e a credibilidade de uma organização perante seus stakeholders. Neves (2002) e Susskind & Field (1997) apontam que organizações que gerenciam crises de forma competente demonstram responsabilidade e transparência, elementos cruciais para construir e manter a confiança pública. Pensemos sobre as empresas de tecnologia e Fintechs (1) que enfrentaram crises de segurança de dados e responderam com medidas robustas e transparentes de melhoria da segurança; elas não apenas recuperaram a confiança do consumidor, como muitas vezes a aumentaram. Concluindo, a gestão eficaz de crises não é apenas sobre mitigar perdas; é, também, uma oportunidade de fortalecer a organização, melhorar a comunicação, promover inovação, desenvolver líderes e reforçar a confiança. Como gestor, você tem a responsabilidade e a oportunidade de transformar potenciais desastres em poderosos momentos de crescimento e aprendizado. É importante refletirmos sobre como nossas organizações podem não apenas sobreviver a crises, mas prosperar através delas. 20Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 2.3 Realizando a análise de exemplos reais de crises no setor público Vejamos, a seguir, exemplos concretos de crises no setor público, tanto no Brasil quanto em âmbito internacional, com o objetivo de extrair lições valiosas e compreender como diferentes estratégias de gestão de crises foram aplicadas em situações reais. PARE E PENSE Como líder ou gestor no setor público, você já considerou quais seriam as consequências, imediatas e de longo prazo, de uma crise mal gerenciada em sua esfera de influência? Que estratégias proativas você usaria para identificar, prevenir e responder a crises potenciais de forma eficaz? Para ajudar a responder essas questões, podemos nos aprofundar em estudar e analisar casos que ocorreram em esfera global e quais as ações tomadas para solucioná-los. A análise de cada um dos casos a seguir nos oferece uma visão prática e profunda sobre as dinâmicas de crises no setor público, destacando a importância da comunicação eficaz, do planejamento estratégico e da liderança resiliente. Caso 1: A Crise Hídrica em São Paulo (2014-2015) No Brasil, um dos exemplos mais significativos de crise no setor público foi a crise hídrica que afetou o estado de São Paulo entre 2014 e 2015, sendo ela considerada a pior crise até então. Essa crise foi exacerbada por uma combinação de falta de chuvas, seca severa e gestão inadequada dos recursos hídricos, levando a um cenário de racionamento de água e risco de colapso no abastecimento. As autoridades demoraram a comunicar a gravidade da situação ao público, resultando em críticas severas e desconfiança da população (Barbeiro, 2010). Analisando mais profundamente a situação, é possível listar os seguintes pontos críticos da situação: Falhas na Gestão de Riscos: A crise expôs a falta de planejamento e investimento em infraestrutura hídrica, bem como a ausência de um plano de contingência para lidar com a escassez de água. (Augustine, 2009) Fonte: freepik.com Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 21 A lição aprendida aqui, como sugere Forni (2019), é a necessidade de uma comunicação transparente e proativa com o público, especialmente em situações que afetam diretamente a vida diária das pessoas. Além disso, a crise destacou a importância de planos de contingência robustos e de investimentos a longo prazo em infraestrutura sustentável. Caso 2: Furacão Katrina nos Estados Unidos (2005) Internacionalmente, o Furacão Katrina serve como um estudo clássico sobre falhas de gestão de crise no setor público. A tempestade devastou grandes áreas da Costa do Golfo, especialmente Nova Orleans, onde falhas nos diques levaram a inundações catastróficas. A resposta inicial do governo foi amplamente criticada por sua lentidão e desorganização, exacerbando o sofrimento dos afetados (Bernstein, 2011). Aqui temos os pontos mais críticos dessa crise: • Falhas na Preparação e Resposta a Desastres: a resposta do governo ao furacão Katrina foi amplamente criticada por ser lenta, descoordenada e ineficaz, evidenciando a falta de preparação para lidar com desastres naturais de grande escala (Augustine, 2009). • Impacto nas Comunidades Vulneráveis: a crise expôs as desigualdades sociais e a vulnerabilidade das comunidades Comunicação Deficiente: A população não foi devidamente informada sobre a gravidade da situação e asser dinâmicos e flexíveis, adaptando-se às lições aprendidas durante a crise. Isso pode envolver a revisão de procedimentos de emergência, a atualização de tecnologias e a reavaliação de parcerias estratégicas. Neves (2002) argumenta que planos de contingência eficazes são aqueles que evoluem com a organização e com os desafios que ela enfrenta. Por exemplo, uma instituição pública que enfrentou uma crise devido a uma fraude interna pode revisar e fortalecer seus controles internos, implementar novas tecnologias de monitoramento de transações e reforçar as políticas de conformidade. Implementação de Protocolos de Comunicação Eficaz A comunicação eficaz é vital tanto durante quanto após uma crise. As organizações devem estabelecer protocolos claros para a comunicação interna e externa. Isso inclui a formação de uma equipe de comunicação de crise que seja treinada para lidar com a mídia, os stakeholders e o público de maneira transparente e proativa. Barbeiro (2010) afirma que a clareza e a transparência na comunicação podem mitigar muitos dos efeitos negativos de uma crise. Para ilustrar, pense em uma empresa que enfrentou uma crise devido a um produto defeituoso. Ela pode criar um protocolo de comunicação que inclua atualizações regulares para clientes, sessões informativas para funcionários e comunicados à imprensa para manter o público informado sobre as medidas corretivas em andamento. Engajamento e Inclusão dos Stakeholders O envolvimento dos stakeholders é crucial para a implementação de mudanças positivas. Isso inclui funcionários, clientes, fornecedores, comunidade local e outras partes interessadas. As organizações devem buscar feedback e incorporar as perspectivas dos stakeholders em seus planos de recuperação e melhoria. Susskind e Field (1997) defendem que o envolvimento ativo dos stakeholders não só fortalece as relações, mas também melhora a qualidade das decisões tomadas. Imagine a situação de uma cidade que está enfrentando uma crise ambiental. Seus dirigentes podem engajar a comunidade local em esforços de recuperação, buscando parcerias com ONGs ou com os governos estadual ou federal para desenvolver soluções sustentáveis e restaurar a confiança pública. Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 215 Da Avaliação à Ação: Construindo um Plano de Melhorias A implementação de mudanças eficazes requer, antes de tudo, uma análise crítica e abrangente do que a crise revelou sobre a organização. A autoavaliação honesta e transparente é o ponto de partida para identificar falhas, vulnerabilidades e, também, para reconhecer os pontos fortes que auxiliaram na superação da crise. Com base no que vimos anteriormente, podemos resumir as estratégias para traçar um plano de melhorias estruturado em torno de três eixos principais: 1. Fortalecendo as bases: Revisando a Cultura Organizacional: Uma cultura organizacional forte, baseada em valores sólidos como ética, transparência e responsabilidade, é fundamental para prevenir crises e garantir uma resposta rápida e eficaz quando elas ocorrem (Forni, 2019). Aperfeiçoando a Comunicação: A crise demonstrou a importância de uma comunicação interna e externa eficiente, transparente e empática. É hora de rever os fluxos de comunicação, capacitar porta-vozes e estabelecer protocolos claros para lidar com situações críticas (Barbeiro, 2010). Aprimorando a Gestão de Riscos: A crise evidenciou a necessidade de aprimorar os mecanismos de identificação, análise e gestão de riscos. Investir em ferramentas e metodologias que possibilitem uma análise preditiva e uma gestão proativa de riscos é crucial (Augustine, 2009). 2. Investindo em Resiliência: Diversificação: A crise pode ter exposto a dependência excessiva de um único produto, serviço, mercado ou fornecedor. É hora de avaliar a necessidade de diversificar as operações, buscando novas oportunidades e reduzindo a vulnerabilidade a crises futuras. Flexibilidade e Adaptabilidade: A capacidade de adaptação a cenários complexos e em constante mutação é crucial para navegar em um mundo cada vez mais incerto. Desenvolver estruturas organizacionais mais 216Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública flexíveis, processos ágeis e uma cultura aberta à mudança são pilares da resiliência organizacional. Capacitação da Equipe: Uma equipe preparada e engajada é o maior ativo de uma organização, especialmente, em momentos de crise. Investir em treinamentos, desenvolvimento de habilidades de gestão de crise e comunicação, além de oferecer suporte e reconhecimento aos colaboradores, fortalece a resiliência da equipe e da organização como um todo. 3. Transformando Desafios em Oportunidades: Inovação e Criatividade: As crises, por vezes, forçam a quebra de paradigmas e abrem espaço para soluções inovadoras. É o momento de questionar modelos de negócios, explorar novas tecnologias, produtos e serviços e incentivar uma cultura de experimentação e aprendizado. Fortalecimento das Relações: A crise pode ter afetado a relação com clientes, fornecedores, colaboradores e outras partes interessadas. É hora de reconstruir a confiança, reforçar os laços e fortalecer os canais de comunicação, construindo relações mais sólidas e transparentes. Fortalecimento da Reputação: Uma crise mal gerenciada pode comprometer a reputação da organização. Após a superação da crise, é fundamental trabalhar ativamente a recuperação e o fortalecimento da imagem da organização, por meio de ações concretas, comunicação transparente e uma postura ética e responsável. Implementando a Mudança: Um Processo Contínuo É importante ressaltar que a implementação de mudanças não é um evento isolado, mas sim um processo contínuo que exige monitoramento constante, avaliação de resultados e adaptação a novos desafios e oportunidades. Resumindo, transformar crises em oportunidades de aprendizado e crescimento requer uma abordagem proativa e estratégica. Implementar mudanças positivas Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 217 na organização envolve realizar auditorias internas, desenvolver uma cultura de aprendizado contínuo, estabelecer protocolos de comunicação eficaz, adaptar planos de contingência e engajar stakeholders. Ao seguir essas estratégias, as organizações podem não apenas sobreviver a crises, mas também emergir mais fortes e resilientes. Lembre-se: as crises podem ser encaradas como oportunidades de aprendizado, crescimento e transformação. A forma como respondemos às crises define quem somos como organização e como seremos lembrados no futuro. 2.3 Fortalecimento da cultura organizacional Falamos anteriormente sobre a importância de transformar os aprendizados da crise em ações concretas para fortalecer a organização. Vimos que a revisão da cultura organizacional é um dos pilares dessa reconstrução. Agora, vamos nos aprofundar nesse tema crucial, explorando como a cultura organizacional pode ser tanto um escudo protetor quanto um motor de transformação em momentos de crise. A cultura organizacional, muitas vezes negligenciada em momentos de bonança, revela sua verdadeira importância quando a tempestade chega. Ela é o conjunto de valores, crenças, comportamentos e práticas que permeiam o dia a dia da organização, influenciando desde a tomada de decisões estratégicas até a forma como os colaboradores relacionam-se entre si e com o público externo. Uma cultura organizacional forte e coesa funciona como um sistema imunológico, preparando a organização para resistir e recuperar-se de forma mais rápida e eficaz diante de crises e adversidades. Por outro lado, uma cultura frágil, desalinhada com os valores éticos e desprovida de mecanismos de comunicação eficientes, torna a organização vulnerável, aumentando o risco de crises e comprometendo sua capacidade de resposta. Reforçando esse argumento, Augustine (2009) comenta que a resiliência de uma organização em tempos de crise é, em grande parte,medidas que estavam sendo tomadas, gerando desconfiança e insegurança (Duarte, 2010). Impacto na População e na Economia: A crise hídrica impactou negativamente a qualidade de vida da população, prejudicou a atividade econômica e afetou a imagem do estado (Neves, 2002). Fonte: freepik.com Fonte: freepik.com 22Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública de baixa renda, que foram desproporcionalmente afetadas pelo desastre (Viana et al., 2008). • • Importância da Resiliência e da Reconstrução: a recuperação do furacão Katrina destacou a importância da resiliência e da reconstrução de longo prazo para as comunidades afetadas por desastres naturais (Barbeiro, 2010). Este caso ressalta a importância do preparo e da resposta rápida em crises naturais, bem como a coordenação entre as diversas agências governamentais. Augustine (2009) destaca que a eficácia na gestão de crises naturais depende crucialmente da capacidade de previsão e preparação prévia. Caso 3: Crise Econômica na Grécia (2009-2018) A crise econômica que assolou a Grécia é um exemplo de como desequilíbrios fiscais e dívidas podem levar a uma crise prolongada com implicações profundas para o setor público e a população. A crise resultou em severas medidas de austeridade, levando a protestos generalizados e instabilidade social (Thompson, 2002). Os pontos críticos nesta crise foram os seguintes: Desconsideração dos Sinais de Alerta: A Grécia apresentou déficits fiscais persistentes e uma crescente dívida pública por anos, mas as autoridades não tomaram medidas suficientes para corrigir esses desequilíbrios. (Augustine, 2009). Falta de Transparência Fiscal: A falta de transparência nas contas públicas gregas contribuiu para a desconfiança dos mercados financeiros e dificultou a tomada de medidas corretivas. Fonte: freepik.com Fonte: freepik.com Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 23 A gestão desta crise ilustra a complexidade de crises econômicas e a necessidade de soluções negociadas que considerem as repercussões sociais das medidas econômicas. A comunicação, neste contexto, deve ser cuidadosamente planejada para evitar o aumento do pânico e da resistência pública (Neves, 2002). Caso 4: Pandemia de H1N1 no México (2009) O surto de H1N1 no México deixou clara a importância da agilidade e transparência na resposta a crises de saúde pública. O governo mexicano foi inicialmente elogiado por sua rápida resposta e transparência ao alertar a comunidade internacional sobre o surto (Duarte, 2010). Os desafios enfrentados pelo governo mexicano foram os seguintes: • Impacto Econômico: o fechamento de empresas e a redução do turismo tiveram um impacto significativo na economia mexicana. • Estigma e Discriminação: houve casos de estigma e discriminação contra pessoas do México e de origem mexicana, devido à associação do vírus com o país. • Desinformação e Pânico: a rápida disseminação de informações falsas e rumores sobre a pandemia contribuiu para o pânico e a ansiedade entre a população. Este caso sublinha a relevância de uma comunicação eficaz e de uma coordenação internacional na gestão de crises de saúde, especialmente em um mundo globalizado, onde doenças podem espalhar-se rapidamente além das fronteiras nacionais (Cardia, 2015). Esses exemplos, entre muitos outros, ilustram as diferentes facetas da gestão de crises no setor público, destacando a importância crítica da preparação, comunicação, Dependência Excessiva de Empréstimos Externos: A Grécia recorreu a empréstimos externos para financiar seus déficits, o que aumentou sua vulnerabilidade a choques externos e a perda de autonomia na gestão econômica. Fonte: freepik.com 24Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública liderança e cooperação interinstitucional. A diversidade e complexidade das crises que o setor público enfrenta exigem um aprendizado contínuo, tanto com os sucessos quanto com os fracassos, para aprimorar nossa capacidade de lidar com essas situações de forma eficaz. As lições extraídas dessas experiências são fundamentais para qualquer gestor público que deseja aprimorar sua capacidade de resposta a crises. Ao analisar as crises do passado, podemos aprender não apenas a mitigar os efeitos de crises futuras, mas também a preveni-las e gerenciá-las de forma mais eficiente. A gestão de crises não é uma ciência exata, mas sim um processo contínuo de aprendizado e adaptação. Ao estudar as crises e aplicar as lições aprendidas, podemos construir um setor público mais resiliente e preparado para enfrentar os desafios do futuro. Estratégias Essenciais para a Gestão de Crises no Setor Público: Preparação, Comunicação, Análise, Liderança e Resiliência • Origem e Preparação para Crises: crises podem surgir de várias fontes, e a preparação inclui sistemas de alerta, respostas ágeis e planos de gestão robustos. Fonte: Adaptado de https://www.vecteezy.com https://www.vecteezy.com/photo/3057349-flipping-wooden-blocks-with-risk-change-to-rise Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 25 • Importância da Comunicação: a comunicação eficiente, clara e transparente é crucial para evitar desinformação e pânico durante crises. • Análise e Aprendizado de Crises Passadas: analisar a gestão de crises passadas é essencial para melhorar estratégias futuras e fortalecer a resiliência organizacional. • Desenvolvimento de Liderança: situações de crise oferecem oportunidades únicas para o desenvolvimento de lideranças decisivas e empáticas. • Fortalecimento da Resiliência e Confiança: a gestão eficaz de crises não só mitiga perdas, mas também fortalece a resiliência e a confiança das organizações. 26Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Unidade 3 - Princípios aplicáveis à gestão de crises Ao final desta unidade, você será capaz de identificar os princípios e as condições necessários para implementar a gestão de crises e como aplicá-los para gerenciar crises de forma eficiente, minimizando impactos e capitalizando lições aprendidas para o futuro. 3.1. Transparência Olá,estudante! Vamos, agora, mergulhar em um tema crucial para a gestão de crises, tanto no setor público como no privado: a transparência. Em tempos de informação instantânea e compartilhamento em massa, a confiança do público é um ativo precioso e frágil. A forma como lidamos com as crises, especialmente a comunicação durante esses períodos turbulentos, define o sucesso ou o fracasso na manutenção dessa confiança. Imagine o seguinte cenário: uma empresa descobre uma falha grave em um de seus produtos, com potencial para causar danos aos consumidores. Ou, no setor público, um órgão governamental se vê envolvido em um escândalo de corrupção. PARE E PENSE Qual o primeiro passo nas situações mencionadas acima? Qual a melhor estratégia: negar, minimizar ou tentar esconder a situação ou falar a verdade? A resposta, cada vez mais clara nos dias de hoje, é a transparência. Por que a Transparência é Essencial? A transparência na gestão de crises significa comunicar abertamente, honestamente e prontamente sobre a situação, assumindo a responsabilidade e demonstrando empatia com os afetados. Parece simples, mas a prática pode ser desafiadora. Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 27 Neves (2002) destaca como as crises empresariais com a opinião pública exigem uma comunicação clara e transparente para mitigar danos à imagem da organização. Afinal, em um mundo conectado, a verdade sempre vem à tona. Tentar escondê-la apenas agrava a crise, gerando desconfiança e alimentando especulações. Augustine (2009) corrobora essa ideia, enfatizando que a falta de transparência pode ser fatal para a organização em crise. Afinal, a percepção do público é a realidade. Se a percepção é de que a organização está escondendo algo, a confiança se esvai e, com ela, a reputação da instituição. Transparência na Prática: Exemplos e EstratégiasMas como colocar a transparência em prática? Aqui estão alguns pontos-chave: Comunicação Proativa Não espere que a mídia ou o público descubram a crise. Seja o primeiro a comunicar a situação, demonstrando controle e liderança. Canais Abertos Utilize todos os canais de comunicação disponíveis para divulgar informações, desde comunicados oficiais até redes sociais. Forni (2019) destaca a importância da comunicação integrada em tempos de crise. Linguagem Clara e Acessível Evite jargões técnicos e termos complexos. A mensagem deve ser compreensível para todos os públicos. Empatia e Responsabilidade Reconheça os erros, demonstre empatia com os afetados e assuma a responsabilidade pela situação. Atualizações Constantes Mantenha o público informado sobre o desenvolvimento da crise e as medidas tomadas para resolvê-la. Um exemplo clássico de transparência na gestão de crises é o caso da Johnson & 28Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Johnson com o Tylenol, em 1982. Ao descobrir que algumas cápsulas do medicamento haviam sido contaminadas, a empresa agiu rapidamente, retirando o produto do mercado e comunicando a situação de forma transparente ao público. Essa ação, embora custosa no curto prazo, consolidou a confiança na marca a longo prazo. Desafios da Transparência Implementar a transparência na gestão de crises não é isento de desafios, especialmente no setor público. A burocracia, a cultura de sigilo e a preocupação com a imagem política podem criar barreiras à comunicação aberta e honesta. Contudo, como afirma Thompson (2002), o escândalo político é potencializado pela falta de transparência, reforçando a necessidade de uma comunicação aberta com a sociedade. Duarte (2010) argumenta que, em muitos casos, organizações hesitam em ser transparentes por medo de litígios ou danos à reputação. Além disso, a transparência pode ser tecnicamente difícil durante uma crise, quando informações são incertas ou mudam rapidamente. Um exemplo emblemático da importância da transparência no setor público pode ser visto na gestão da crise de água em Flint, Michigan, entre 2014 e 2019. A crise começou quando a cidade mudou sua fonte de água do Lago Huron para o Rio Flint, em uma tentativa de economizar dinheiro. No entanto, o rio não foi tratado adequadamente, e a água continha altos níveis de chumbo e outras substâncias tóxicas. A falta de transparência sobre a qualidade da água e os riscos à saúde resultou em uma crise de confiança pública massiva. A lição aqui, conforme Bernstein (2011) destaca, é que a transparência não apenas ajuda a evitar a escalada de uma crise, mas também é vital para recuperar a confiança pública após a crise. No setor privado, a pressão por resultados e a preocupação com a imagem da marca podem levar a tentativas de minimizar ou esconder a crise. Entretanto, como alertam Viana et al. (2008), a “surdez” das empresas aos sinais da sociedade pode ser um caminho para crises ainda maiores. Um exemplo clássico ocorrido com a empresa Toyota, em 2010, envolvendo o recall de milhões de veículos por problemas de segurança, destaca a importância da transparência. Inicialmente, a empresa não foi completamente transparente sobre a extensão dos problemas ou sobre como eles estavam sendo abordados, o que prejudicou sua reputação. No entanto, quando a Toyota adotou uma abordagem mais transparente, comunicando abertamente as falhas e as medidas corretivas, a confiança do consumidor começou a se restabelecer (Rosa, 2001). https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/deutschewelle/2016/01/22/o-escandalo-que-levou-cidade-dos-eua-a-beber-agua-com-chumbo.htm Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 29 Transparência: Um Investimento Caro(a) líder, é importante saber que a transparência na gestão de crises não é apenas uma questão ética, mas também estratégica. Em um mundo cada vez mais conectado e exigente, a confiança do público é um ativo fundamental para a sobrevivência e o sucesso de qualquer organização. Investir em uma comunicação aberta, honesta e proativa durante as crises é investir no futuro da organização. Lembre-se, caro leitor, a transparência não é uma fraqueza, mas sim uma demonstração de força, responsabilidade e compromisso com a verdade. E, em tempos de crise, a verdade é o caminho para a reconstrução da confiança. 3.2. Responsabilidade A responsabilidade é um princípio fundamental na gestão de crises, tanto no setor público quanto no privado. Vamos, então, explorar como a responsabilidade pode influenciar a eficácia da resposta a crises, melhorar a comunicação com stakeholders e restaurar a confiança após eventos adversos. Também veremos a centralidade da responsabilidade na gestão de crises, encorajando líderes e gestores a adotarem práticas que fortalecem a confiança, a ética e a eficácia em suas respostas a crises. Ao fazer isso, as organizações não só protegem seus interesses, mas também contribuem para o bem-estar de suas comunidades e da sociedade em geral. PARE E PENSE Como você percebe o papel da responsabilidade na gestão de crises? Quais são as consequências de uma gestão de crise quando a responsabilidade não é priorizada nem por líderes do setor público nem do privado? Antes de continuarmos, que tal pensarmos sobre a definição de responsabilidade aplicável ao contexto dos nossos estudos aqui? Pense um pouco e clique a seguir para verificar que olhar adotaremos para o termo. Responsabilidade, no contexto de gestão de crises, refere-se à obrigação de agir e comunicar-se de maneira ética, transparente e eficaz. Ela implica a assunção de 30Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública responsabilidades pelas decisões e ações tomadas antes, durante e após a crise. Como destacado por Augustine (2009), a responsabilidade é crucial para manter a confiança do público e dos stakeholders, essencial para a gestão eficaz de qualquer crise. A Dicotomia da Responsabilidade: Setor Público vs. Privado Embora o princípio da responsabilidade seja universal, sua aplicação apresenta nuances dependendo do setor em que a organização opera. No setor público, a responsabilidade assume um caráter ainda mais amplo, abrangendo o bem-estar da sociedade como um todo. Afinal, as ações do governo afetam diretamente a vida dos cidadãos. Um exemplo clássico é a gestão de crises em situações de desastres naturais. A população espera que o governo assuma a liderança, coordene os esforços de resgate e reconstrução e preste contas de suas ações. Um exemplo notável no setor público é a crise de energia na Califórnia no início dos anos 2000. Falhas na regulação e na supervisão do mercado de energia levaram a apagões massivos e aumentos de preços. A falta de responsabilidade dos reguladores e das empresas de energia exacerbou a crise. A responsabilidade neste contexto não só teria evitado algumas das piores consequências, mas também teria mantido a confiança pública na capacidade do governo de proteger seus cidadãos. Fonte: freepik.com Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 31 No setor privado, a responsabilidade se concentra principalmente na relação com os stakeholders: clientes, funcionários, investidores e a comunidade local. Uma empresa que produz um produto defeituoso, por exemplo, tem a responsabilidade de retirá-lo do mercado, comunicar o problema de forma transparente e oferecer soluções aos consumidores afetados. No setor privado, a explosão da plataforma Deepwater Horizon, em 2010, e o subsequente vazamento de óleo no Golfo do México ilustram as consequências da falta de responsabilidade corporativa. Fonte: Greenpeace Brasil Este artigo, publicado pela Época Negócios, traz maiores detalhes sobre o caso da Plataforma Deepwater Horizon. Clique aqui para ler o artigo. Um dos principais desafios da responsabilidade em tempos de crise é a incerteza e a pressão rápida por decisões. Os estudos de João José Forni mostraram que aresponsabilidade requer não apenas a capacidade de tomar decisões difíceis, mas também de comunicar essas decisões de maneira que seja compreendida e aceita pelo público. Isso pode ser particularmente desafiador quando as informações são incompletas ou a situação está evoluindo rapidamente. https://www.greenpeace.org/brasil/blog/desastre-no-golfo-do-mexico-completa-cinco-anos/ https://epocanegocios.globo.com/Mundo/noticia/2019/02/meio-ambiente-o-que-aconteceu-com-os-responsaveis-por-um-dos-maiores-desastres-dos-eua.html 32Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública A Assunção da Responsabilidade na Prática: Assumir a responsabilidade não se trata apenas de admitir culpa. É um processo multifacetado que envolve os seguintes pontos-chave: Reconhecer o problema A negação é uma reação comum em situações de crise, mas é fundamental reconhecer a existência do problema para poder enfrentá-lo de forma eficaz. Comunicar de forma transparente Manter os stakeholders informados sobre a situação é essencial para construir confiança e minimizar a especulação. A comunicação deve ser clara, precisa e oportuna (Duarte, 2010). Investigar as causas Compreender as causas da crise é fundamental para prevenir sua recorrência. A organização deve realizar uma investigação completa e imparcial para identificar os fatores que contribuíram para o problema (Bernstein, 2011). Implementar soluções A organização deve tomar medidas para solucionar a crise e mitigar seus impactos. Isso pode incluir a implementação de novas políticas, a melhoria de processos internos ou a oferta de compensação aos afetados (Forni, 2019). Aprender com os erros A crise deve ser vista como uma oportunidade de aprendizado. A organização deve analisar o que deu errado e implementar medidas para evitar que a situação se repita (Cardia, 2015). Na era digital, a responsabilidade também se estende à maneira como as informações são compartilhadas nas plataformas digitais. Incidentes como o escândalo de dados do Facebook, em 2018, mostram como a gestão e a proteção de dados e tornaram-se componentes críticos da responsabilidade corporativa. A rápida disseminação de informações pelas redes sociais pode tanto ajudar como prejudicar a gestão de crises, dependendo de como as organizações respondem (Teixeira, 2013). Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 33 A comunicação desempenha um papel central na gestão da responsabilidade durante uma crise. É por meio da comunicação que a organização demonstra sua preocupação com os stakeholders, transmite informações importantes e constrói confiança. Em tempos de crise, a comunicação deve ser transparente, para evitar esconder informações ou minimizar a gravidade da situação. Deve ser empática, para demonstrar compreensão pelos impactos da crise sobre os stakeholders, oportuna em comunicar as informações de forma rápida e eficaz. Também deve ser acessível, utilizando-se de canais de comunicação adequados ao público-alvo e, por último, consistente, para manter uma mensagem coerente em todos os canais de comunicação (Forni, 2007). Embora assumir a responsabilidade durante uma crise possa parecer um desafio, os benefícios a longo prazo são inegáveis. Podemos destacar os seguintes: Fortalecimento da confiança: Ao assumir a responsabilidade, a organização demonstra que é confiável e que se preocupa com os seus stakeholders. Preservação da reputação: A gestão responsável da crise pode minimizar os danos à reputação da organização e até mesmo fortalecê-la. Aprendizado e crescimento: A crise pode ser uma oportunidade para a organização aprender com os erros e melhorar seus processos. Fonte: freepik.com Fonte: freepik.com Fonte: freepik.com 34Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Enfim, adotar uma abordagem responsável na gestão de crises significa preparar- se adequadamente, tomar decisões informadas e éticas e comunicar-se de forma transparente e eficaz. No setor público, isso pode significar a diferença entre preservar a confiança pública e enfrentar uma crise de confiança. No setor privado, pode determinar a rapidez com que uma empresa se recupera de uma crise financeira ou reputacional. Portanto, a responsabilidade deve ser vista não apenas como um dever ético, mas como uma estratégia essencial para a sustentabilidade e o sucesso a longo prazo de qualquer organização. 3.3. Proatividade Agora vamos entender o conceito de proatividade na gestão de crises, uma abordagem fundamental que transcende a simples reação a eventos inesperados. Ser proativo na gestão de crises significa antecipar potenciais problemas e implementar medidas preventivas para mitigar impactos antes que eles ocorram. PARE E PENSE Qual a importância de um líder ou gestor ser proativo nos momentos de crise? A proatividade é crucial porque permite às organizações controlar a situação antes que a crise domine, reduzindo danos e custos associados. Como Augustine (2009) aponta, a antecipação e a preparação podem transformar uma crise devastadora em um mero contratempo gerenciável. No setor público, a proatividade pode ser exemplificada pela preparação e resposta a desastres naturais. Um exemplo notável foi a abordagem proativa de Cuba aos furacões, ao implementar evacuações antecipadas, educação pública e construção de Prevenção de crises futuras: Ao identificar e corrigir as causas da crise, a organização reduz o risco de que situações semelhantes ocorram no futuro (Rosa, 2001). Fonte: freepik.com Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 35 infraestrutura resistente. Não somente no setor público mas também no setor privado, a proatividade é igualmente crítica. Lembremos aqui o caso da Johnson & Johnson durante a crise do Tylenol, em 1982, quando a empresa enfrentou uma situação de contaminação de produtos. A resposta rápida e a decisão de retirar todos os produtos das prateleiras, um movimento custoso, mas ético, salvaguardaram a confiança do público e restauraram rapidamente a reputação da empresa (Barbeiro, 2010). Exemplos de Proatividade em Ação: • empresas de tecnologia que investem em segurança cibernética para prevenir ataques hackers; • governos que desenvolvem planos de contingência para lidar com desastres naturais; • hospitais que realizam simulações de surtos epidêmicos para se preparar para crises de saúde pública; • organizações que monitoram as redes sociais para identificar potenciais crises de imagem e tomar medidas preventivas. Construir uma cultura de proatividade na gestão de crises envolve desenvolver estratégias. E quais seriam as melhores estratégias para desenvolver uma cultura de proatividade? Vejamos a seguir: Identificação de Riscos Identificar os riscos potenciais que a organização enfrenta. Isso pode ser feito por meio de análises de cenários, avaliações de vulnerabilidade, monitoramento de tendências e benchmarking com outras organizações (Bernstein, 2011). Planejamento de Crises Com os riscos identificados, é hora de elaborar um plano de ação para lidar com cada cenário possível. O plano deve definir claramente as responsabilidades, os procedimentos de comunicação, as medidas de mitigação e os recursos necessários para responder à crise (Forni, 2019). Monitoramento Contínuo Acompanhar tendências e sinais de alerta pode ajudar a prever e prevenir crises. Ferramentas tecnológicas modernas, como a análise de big data, podem identificar padrões que antecedem eventos adversos (Teixeira, 2013). 36Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Planos de Contingência Ter planos bem desenvolvidos para diferentes cenários de crise é essencial. Estes planos devem incluir procedimentos claros, responsabilidades designadas e recursos alocados (Forni, 2019). Treinamento e Simulações: realizar exercícios regulares e simulações de crises pode preparar a equipe para agir eficientemente sob pressão, garantindo que os planos de contingência sejam efetivosna prática (Cardia, 2015). Vejamos, agora, quais os principais desafios da proatividade na gestão de crises. A implementação de uma gestão proativa de crises não está isenta de desafios. Muitas vezes, a falta de recursos, a resistência à mudança e a dificuldades em justificar investimentos em preparação para eventos que podem nunca ocorrer são barreiras significativas (Neves, 2002). Além disso, a proatividade exige uma liderança que valorize a transparência e a ética, comprometendo-se a agir antes que a crise force a mão da organização (Rosa, 2001). A abordagem proativa na gestão de crises oferece inúmeros benefícios, entre os quais podemos destacar: • Possibilidade de minimizar danos: ao se antecipar aos problemas, as organizações podem reduzir o impacto negativo das crises. • Resposta mais rápida e eficaz: com um plano de ação em vigor, a organização pode responder à crise de forma mais ágil e eficiente. • Preservação da reputação: a proatividade demonstra responsabilidade e comprometimento com a segurança e o bem-estar dos stakeholders, fortalecendo a imagem da organização. • Vantagem competitiva: organizações proativas estão mais bem preparadas para enfrentar os desafios do mercado e adaptar-se às mudanças. Podemos concluir que a proatividade na gestão de crises é uma abordagem que não apenas salva vidas e protege recursos, mas também reforça a reputação e a estabilidade a longo prazo de uma organização. Ao investir em prevenção e preparação, líderes e gestores podem transformar potenciais desastres em histórias de eficiência e responsabilidade exemplar. Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 37 3.4. Comunicação eficaz Vimos anteriormente como a comunicação pode ser aplicada em conjunto com outros princípios e, agora, vamos nos aprofundar em sua importância na gestão de crises. A comunicação efetiva durante uma crise é o fio condutor que não apenas informa, como também tem o poder de acalmar, persuadir e mobilizar. Uma comunicação eficaz pode significar a diferença entre uma recuperação bem-sucedida e uma crise prolongada. PARE E PENSE Como você avalia a importância da comunicação durante uma crise? Você pode pensar em um momento em que uma comunicação eficaz durante uma crise fez uma diferença significativa no resultado? Como você aplicaria esses princípios de comunicação eficaz na gestão de uma crise em sua própria área de trabalho ou vida pessoal? Para começarmos nosso estudo, é importante saber que se comunicar eficazmente em uma crise envolve clareza, rapidez e transparência. Segundo Barbeiro (2010), a capacidade de transmitir mensagens claras e concisas durante uma crise ajuda a estabelecer uma fonte confiável de informação e reduz a disseminação de rumores. Augustine (2009) também enfatiza a importância de ser proativo na comunicação, antecipando perguntas e preocupações que podem surgir entre os stakeholders. Princípios da Comunicação Eficaz em Crises: Para que a comunicação seja eficaz em momentos de crise, é preciso seguir alguns princípios-chave: 1. Rapidez e Proatividade: a informação deve ser divulgada o mais rápido possível, antes que boatos e especulações tomem conta da narrativa. 1. Transparência e Honestidade: a organização deve ser honesta sobre a situação, mesmo que seja difícil. Esconder informações ou minimizar a gravidade da crise só piora a situação. 1. Empatia e Compaixão: é fundamental demonstrar compreensão pelos 1 2 3 38Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública impactos da crise sobre os stakeholders e expressar preocupação com o seu bem-estar. 1. Clareza e Concisão: a mensagem deve ser fácil de entender, evitando jargões técnicos ou informações complexas. 1. Consistência: a mensagem deve ser a mesma em todos os canais de comunicação, evitando contradições e confusões. 1. Acessibilidade: a informação deve ser disponibilizada em diferentes formatos e canais para alcançar todos os públicos. Continuando, vejamos outras estratégias de comunicação para usar em situações de crise. Podemos começar com a escolha de um bom plano de comunicação de crise já pré-estabelecido. Este plano deve incluir protocolos específicos para diferentes tipos de crises, identificar porta-vozes autorizados e definir canais de comunicação a serem utilizados (Duarte, 2010). Outra forma é realizar treinamentos regulares e simulações de crises para preparar os porta-vozes e a equipe de comunicação para agir de maneira eficiente e confiante sob pressão. Essas atividades ajudam a identificar pontos fracos no plano de comunicação que podem ser melhorados antes que uma crise real ocorra (Cardia, 2015). Por último, monitorar a eficácia da comunicação durante uma crise é essencial. Isso inclui acompanhar como as mensagens são recebidas e percebidas pelo público e ajustar a estratégia conforme necessário. Utilizar as mídias sociais e outras ferramentas de análise em tempo real pode fornecer feedback imediato (Teixeira, 2013). Mídias tradicionais: Jornais, rádio e televisão ainda são importantes para atingir um público amplo. 4 5 6 Fonte: freepik.com Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 39 Redes sociais: Permitem uma comunicação direta e imediata com os stakeholders, mas exigem monitoramento constante e resposta rápida. Website da organização: Serve como um repositório central de informações sobre a crise. Comunicados de imprensa: Fornecem informações oficiais à mídia. Reuniões presenciais Podem ser necessárias para lidar com situações complexas ou para comunicar-se com grupos específicos de stakeholders. Neste vídeo, a professora e Gerente de Comunicação e Relacionamento da Funpresp, Patrícia Mesquita, convidou o professor e vice-presidente da ABCPública, Jorge Duarte , para um diálogo sobre os principais desafios da comunicação no setor público brasileiro. Clique aqui e veja o vídeo. Fonte: freepik.com Fonte: freepik.com Fonte: freepik.com Fonte: freepik.com https://www.youtube.com/watch?v=kljgZx30hJc&ab_channel=Enap 40Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Outro elemento importante que o gestor ou líder precisa saber é como escolher os canais de comunicação mais adequados, que dependem do público-alvo e da natureza da crise. Podemos listar os seguintes: Concluindo, vimos que a comunicação durante uma crise é uma arte que requer preparação, prática e presença de espírito. Em um mundo onde a informação se propaga rapidamente e a opinião pública é volátil, ser capaz de comunicar-se de forma efetiva é mais crucial do que nunca. Nesse sentido, é importante que todos os gestores e líderes invistam nela para o fortalecimento de suas capacidades de comunicação em crises, pois isso não apenas minimiza danos, mas também constrói uma base de confiança duradoura com os stakeholders. 3.5. Aprendendo a transformar erros em oportunidades Agora, vamos explorar como os erros, apesar de indesejados, podem ser transformados em verdadeiras oportunidades. As crises cometidas por determinados tipos de erros, muitas vezes vistos como falhas catastróficas, podem ser transformadas em oportunidades significativas de aprendizado e inovação. Vejamos, então, como líderes e organizações podem usar os erros como um trampolim para o desenvolvimento e aprimoramento contínuo, aplicando princípios de resiliência e adaptabilidade e entender que, no contexto de uma crise, as falhas não são apenas obstáculos, mas também pontos de partida para inovação e crescimento. Como você verá, a habilidade de converter adversidades em vantagens é essencial para qualquer gestor ou líder. Pensando sobre a natureza de uma crise, geralmente ela é percebida como um estado de desordem que requer respostas rápidas e eficazes. Conforme Bernstein (2011) nos lembra, uma crise pode ser uma oportunidade disfarçada, exigindo de nós uma habilidade aguçada para a reavaliação contínua de nossas estratégias e abordagens. A crise nos obriga a questionar