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UNIP - UNIVERSIDADE PAULISTA CONTRATO DE NAMORO COMO FORMA DE IMPOSSIBILITAR A UNIÃO ESTÁVEL BRUNA SILVA DE SOUSA SÃO PAULO 2024 BRUNA SILVA DE SOUSA CONTRATO DE NAMORO COMO FORMA DE IMPOSSIBILITAR A UNIÃO ESTÁVEL Monografia apresentada à Unip- Universidade Paulista, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Direito, sob orientação do Professor: Dr: Aleksander Mendes Zakimi. SÃO PAULO 2024 CIP - Catalogação na Publicação Elaborada pelo Sistema de Geração Automática de Ficha Catalográfica da Universidade Paulista com os dados fornecidos pelo(a) autor(a). de Sousa, Bruna Silva CONTRATO DE NAMORO COMO FORMA DE IMPOSSIBILITAR A UNIÃO ESTÁVEL / Bruna Silva de Sousa. - 2024. 34 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) apresentado ao Instituto de Ciência Jurídicas da Universidade Paulista, Sao Paulo, 2024. Área de Concentração: Direito Civil. Orientador: Prof. Dr. Aleksander Mendes Zakimi. 1. Direito Civil . 2. Processo Civil . I. Zakimi , Aleksander Mendes (orientador). II. Título. BRUNA SILVA DE SOUSA CONTRATO DE NAMORO COMO FORMA DE IMPOSSIBILITAR A UNIÃO ESTÁVEL Monografia apresentada à Unip- Universidade Paulista, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Direito, sob orientação do Professor: Dr. Aleksander Mendes Zakimi. BANCA EXAMINADORA _________________________________/___/_____ Prof. Dr. Aleksander Mendes Zakimi (Orientador-Unip) Universidade Paulista -UNIP ___________________________________/___/____ Prof. Universidade Paulista – UNIP ___________________________________/___/____ Prof. Universidade Paulista – UNIP ‘Não basta que todos sejam iguais perante a lei. É preciso que a lei seja igual perante todos’. Salvador Allende RESUMO O presente Trabalho de Conclusão de Curso, trata-se do tema: 'Contrato de Namoro, como forma de impossibilitar a união estável, é de notório saber jurídico que para haver negócio jurídico é necessário a manifestação de vontade, a autonomia privada. Nos últimos anos o Contrato de Namoro vem se tornando um contrato muito utilizado, pois é um documento que comprova que um casal tem um relacionamento afetivo sem a intenção de constituir família, ele serve como uma forma de proteger o patrimônio. É abordado nesta monografia o conceito, a validade e a contratualização nas relações de família, sendo um fenômeno crescente na nossa sociedade nos últimos anos. Palavras-Chave: Patrimônio. Autonomia Privada. Contrato de Namoro. ABSTRACT This Final Course Work deals with the theme: 'Dating Contract, as a way of preventing a stable union, it is well-known legal knowledge that in order to have a legal transaction, the manifestation of will and private autonomy are necessary. In recent years, the Dating Contract has become a widely used contract, as it is a document that proves that a couple has an emotional relationship without the intention of forming a family, and it serves as a way of protecting assets. This monograph addresses the concept, validity and contractualization in family relationships, which has been a growing phenomenon in our society in recent years. Keywords: Assets. Private Autonomy. Dating Contract. SUMÁRIO INTRODUÇÃO..................................................................................................9 1.0 UNIÃO ESTÁVEL......................................................................................10 1.1 Conceito...........................................................................................10 1.2 Dos requisitos para a configuração da união estável......................13 2.0 CONTRATO DE NAMORO........................................................................16 2.1 Conceito...........................................................................................16 2.2 Requisitos do contrato de namoro...................................................19 2.3 Características do contrato de namoro............................................20 2.4 Validade do contrato de namoro......................................................22 3.0 A CONTRATUALIZAÇÃO NAS RELAÇÕES DE FAMÍLIA.....................24 4.0 MODELO DE CONTRATO DE NAMORO...............................................26 5.0 JURISPRUDÊNCIA.................................................................................30 6.0 CONCLUSÃO.........................................................................................32 7.0 BIBLIOGRAFIA......................................................................................33 INTRODUÇÃO No presente Trabalho de Conclusão de Curso – TCC, trata-se do tema: ‘CONTRATO DE NAMORO COMO FORMA DE IMPOSSIBILITAR A UNIÃO ESTÁVEL ‘, o contrato de namoro é uma espécie de contrato que cada vez mais vem se popularizando, pois o seu objetivo é proteger o patrimônio jurídico de ambos as partes, consequentemente o contrato de namoro impossiblita a união estável. No Capítulo 1, refere-se a União Estável, é abordado o conceito de união estável e quais os requisitos para a configuração da união estável. No Capítulo 2, trata-se Do Contrato de namoro, o conceito de Contrato de Namoro, quais os requisitos do contrato de namoro, as suas características e qual a sua validade. No Capítulo 3, aborda-se a contratualização nas relações de família, a diferença de antigamente para os dias atuais, o direito de família se modernizou e se contratualizou. No Capítulo 4, trata-se de um modelo de contrato de namoro, com as cláusulas e artigos. No Capítulo 5, nota-se Jurisprudências sobre Contratos de namoro. No Capítulo 6 e 7, é a Conclusão e a Bibliografia, é abordado todo o conhecimento internalizado e a bibliografia de todas as fontes utilizadas. A metodologia de pesquisa utilizada no Presente Trabalho de Conclusão de Curso – TCC, é de pesquisa bibliográfica com base em todo tipo de documentação indireta, comolivros, artigos e sites. 10 1.0 UNIÃO ESTÁVEL Neste Capítulo é abordado o Conceito de União estável e a sua validade. 1.1 Conceito Para Euclides de Oliveira, união estável, a que ele chama de concubinato, é: ’A união entre o homem e a mulher, com o intuito de vida em comum, sem as formalidades do casamento. Correspondendo à chamada “união livre” ou informal, porque sem as peias da celebração oficial e dos re gramentos estabelecidosna lei para pessoas casadas’. Segundo Rodrigo da Cunha Pereira: ‘Em síntese, união estável é a relação afetivo-amorosa, não incestuosa ou extraconjugal, entre duas pessoas, com estabilidade e durabilidade, seje os dois vivendo sob o mesmo teto ou não, constituindo família sem o vínculo do casamento civil. E concubinato é a relação conjugal que se estabelece simultaneamente a outra relação conjugal e que melhor se denominaria união estável simultânea ou família simultânea’, popularmente conhecida como: ‘Casos extraconjugais’’, ‘ Segunda família’, conforme julgado abaixo do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, em uma apelação cível: “A união estável assemelha-se a um casamento de fato e indica uma comunhão de vida e de interesses, reclamando não apenas publicidade e estabilidade, mas, so- bretudo, um nítido caráter familiar, evidenciado pela affectio maritalis. Segundo Maria Helena Diniz: A Constituição Federal (art. 226, § 3º), conforme abaixo, ‘in verbis’ Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. § 3º Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento. Com o objetivo de conservar a família, fundada no casamento, a atual Constituição Federal reconhece a convivência pública, contínua e duradoura de um homem com uma mulher, vivendo ou não sob o mesmo teto, sem vínculo matrimonial, estabelecida com o objetivo de constituir família, desde que tenha condições de ser convertida em casamento. 1 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. Uniaõ estável: do concubinato ao casamento: antes e depois do novo Código Civil. 6. ed. atual. e ampl. São Paulo: Método, 2003. 2 PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Concubinato e União Estável. 9 Ed. Saraiva. São Paulo. 2016. 3 TJRS, Ap. Civ́. 70035315902, 7a Câm. Civ́., Rel. Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves, j. em 27-7-2011. 4 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: Direito de Família. 38 Ed. Saraiva Jur. São Paulo. 2024. 11 por não haver impedimento legal para sua convolação (CC, art. 1.723, §§ 1º e 2º), descritos abaixo: Art. 1.723. É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família. § 1 o A união estável não se constituirá se ocorrerem os impedimentos do art. 1.521; não se aplicando a incidência do inciso VI no caso de a pessoa casada se achar separada de fato ou judicialmente. § 2 o As causas suspensivas do art. 1.523 não impedirão a caracterização da união estável. Segundo Flávio Tartuce: A união estável ou união livre sempre foi considerada um direito, seja no Direito Comparado, seja entre nós. É certo que, atualmente, a união estável tem um papel significativo como entidade familiar na sociedade brasileira, e muitas pessoas, especialmente as mais novas, têm preferido essa forma de união em detrimento do casamento. Na verdade, em um passado não tão distante, a união estável era uma alternativa para casais que estavam separados de verdade e não poderiam se casar. No entanto, não se admitia o divórcio como forma de dissolução definitiva do vínculo matrimonial no Brasil. Atualmente, essa situação tem sido substituída de forma progressiva pela escolha dessa família por muitos casais na atualidade. Segundo Rolf Madaleno: ‘A denominação mais recente de união estável ou de mútua convivência outrora era identificada como concubinato, instituto legalmente marginalizado, até ser elevado à condição de entidade familiar com a Constituição Federal de 1988. Entretanto, a união estável sempre esteve presente na realidade social mundial, encontrando na atualidade, por sua informalidade e pela ausência de custo na sua constituição, condições bastante propícias para o seu crescimento como forma de constituir família’. Não há uma simetria entre o casamento e a união estável, mesmo sendo institutos semelhantes, não são iguais, e suas reais diferenças não podem passar das idiossincrasias próprias de sua formação, onde pelo casamento, por sua absoluta formalidade para a sua constituição, que se faz mais presente por meio da jurisprudência que a tem identificado cada vez mais com o casamento e os Provimentos do Conselho Nacional de Justiça que busca a uniformização das normas e procedimentos para a formalização de termo declaratório de reconhecimento e de dissolução de união estável perante os oficiais de registro civil das pessoas naturais, bem como do respectivo registro desses atos no Livro7. 5 TARTUCE, Flávio. Direito Civil – Vol. 5. 19 Ed. Forense. São Paulo. 2023. 6 MADALENO, Rolf. Direito de Família. 14 Ed. Forense. Rio de Janeiro. 2024. 7 Provimento CNJ n. 141/202. Disponível em: https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/4996. Acesso em: 01 nov 2024. https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/4996 12 Conforme Pablo Stolze Gagliano e rodolfo Mario Veiga Filho: Para chegarmos ao moderno conceito de união estável, é necessário, antes, traçarmos uma importante diagnose diferencial. No passado, a união não oficializada entre homem e mulher denominava-se simplesmente “concubinato”. A palavra ‘concubinato’, derivada da expressão latina ‘concubere’, significava “dividir o leito”, “dormir com”, ou, conforme jargão popular, caracterizaria a situação da mulher “teúda e manteúda”: “tida e mantida” por um homem (sua amante, amásia, amigada). A grande carga de preconceito refletia, sem sombra de dúvidas, a mentalidade de uma época8. O último século apontou, mormente em sua segunda metade, uma nítida mudança de mentalidade, a partir de uma necessária abertura cultural e da justa conquista de um necessário espaço social pela mulher. Todo esse processo reconstrutivo por que passou a família concubinária resultou, paulatinamente, na ascensão da concubina do árido vácuo da indiferença e do preconceito ao justo patamar de integrante de uma entidade familiar constitucionalmente reconhecida. E, neste contexto, com alta carga de simbolismo etimológico, o Direito Brasileiro preferiu consagrar as expressões companheirismo e união estável — para caracterizar a união informal entre homem e mulher com o objetivo de constituição de família, em lugar da vetusta e desgastada noção de concubinato. Conforme Flávio Tartuce: O Supremo Tribunal Federal decidiu, por maioria e em maio 2017, que deve haver uma equiparação sucessória entre o casamento e a união estável, foi reconhecida a inconstitucionalidade do art. 1.790 do Código Civil conforme o Recurso Extraordinário 878.694/MG, Rel. Min. Luís Roberto Barroso, publicado no seu Informativo n. 8649. Conforme o voto do relator, “não é legítimo desequiparar, para fins sucessórios, os cônjuges e os companheiros, isto é, a família formada pelo casamento e a formada por união estável’. 8 GAGLIANO, Pablo Stolze Gagliano; FILHO, Rodolfo Mario Veiga. Manual de Direito Civil. Volume único. 7 Ed. Saraiva Jur. São Paulo.2023. 9 STJ. Tema 809 - Validade de dispositivos do Código Civil que atribuem direitos sucessórios distintos ao cônjuge e ao companheiro.Disponível em: https://portal.stf.jus.br/jurisprudenciaRepercussao/verAndamentoProcesso.asp?incidente=4744004 &numeroProcesso=878694&classeProcesso=RE&numeroTema=809. Acesso em:03 out de 2024. https://portal.stf.jus.br/jurisprudenciaRepercussao/verAndamentoProcesso.asp?incidente=4744004&numeroProcesso=878694&classeProcesso=RE&numeroTema=809 https://portal.stf.jus.br/jurisprudenciaRepercussao/verAndamentoProcesso.asp?incidente=4744004&numeroProcesso=878694&classeProcesso=RE&numeroTema=809 13 Tal hierarquização entre entidades familiares é incompatível com a Constituição”. A tese firmada foi a seguinte: “no sistema constitucional vigente, é inconstitucional a distinção de regimes sucessórios entre cônjuges e companheiros, devendo ser aplicado, em ambos os casos, o regime estabelecido no art. 1.829 do CC/2002”. Desse modo, para a prática familiarista, supostamente, passa a ser firme a premissa da equiparação da união estável ao casamento, igualdade também adotada pelo CPC/2015, como se verá a seguir. Conforme Rolf Madaleno: Antigamente, as pessoas tinham relacionamentos amorosos que começaram com namoros e casamentos antes da Constituição de 1988. Para aqueles que não queriam assumir compromissos afetivos formais e jurídicos, existia o concubinato antigo, que não era reconhecido e vivia à margem da lei, vulgarmente conhecido como ‘amantes’. Ele se dividia em concubinato puro ou impuro, dependendo da ausência ou presença de impedimentos matrimoniais dos ‘concubinos’. Com a promulgação da Carta Política em 1988, a união estável foi retirada da sua vida marginal, e, pioneiramente, na ausência de legislação ordinária, os tribunais cuidaram de conferir aos conviventes os efeitos jurídicos das dissoluções oficiais de suas uniões informais. Foi o Estado interferindo gradativamente nas relações afetivas, que deixaram de ser ilegais, com a edição de leis regulamentando a união estável, até a edição do vigente Código Civil, cujo artigo 1.723 estabeleceu os pressupostos de identificação da união estável entre um homem e uma mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida visando constituição de família10. 1.2 Dos requisitos para a configuração da união estável Segundo Tiago Negri: ‘ A união estável é uma situação de fato que acabou ganhando proteção jurídica no Brasil, mas ela ainda gera muitas incer-tezas para aqueles que pretendem comprová-la, já que, por ser uma situação fática, ela precisa ser demonstrada para, só aí, produzir seus efeitos – apenas as circunstâncias do caso concreto é que indicarão se existe, efetivamente, uma união estável11’. Conforme Tiago Nigri leciona: ‘A lei civil brasileira lista todos os requisitos para que uma relação possa ser considerada como união estável, é imprescindivel que ela seja pública, contínua e duradoura, e também deve ter sido estabelecida com o objetivo de constituição de família. No Brasil, a jurisprudência e a doutrina vêm, ao longo de sua história, esclarecendo melhor o instituto do concubinato. 10 MADALENO, Rolf. Direito de Família. 14 Ed. Forense. Rio de Janeiro. 2024. 11 NIGRI, Tânia. União Estável. Edição única.Blucher. São Paulo. 2020. 14 “A jurisprudência tem esclarecido, ao longo dos anos, o que vem a ser o concubinato, fornecendo os elementos caracterizadores desta espécie de relação que, se presentes, acarretam o reconhecimento de sua existência, com os direitos da mesma decorrentes. O fato de ser o ‘de cujus’ casado não tem o condão de afastar os direitos da companheira, devidamente comprovada como tal”12. Para que se configure a união estável, é mister a presença dos seguintes elementos essenciais: 1)Diversidade de sexo: As pessoas do mesmo sexo haverá tão somente uma sociedade de fato, conforme a (ADI 4.277 e ADPF 132) mas o STF, e o Conselho da Justiça Federal, na V Jornada de Direito Civil, entendeu, no Enunciado n. 524, que: “As demandas envolvendo união estável entre pessoas do mesmo sexo constituem matéria de direito de família”, exigindo-se, além disso, convivência duradoura e continuidade das relações sexuais, que a distingue de simples união transitória (RT, 470:203). O casamento é diferente da união estável, que começa com uma cerimônia nupcial, produzindo efeitos a partir daí e extinguindo-se pela invalidação, divórcio ou morte. A união estável não se estabelece por um ato único, mas sim com o decorrer do tempo, o que explica a alcunha de "usucapião do direito de família" de Fernando Malheiros; e, além disso, pode ser interrompida com a morte de um dos membros, abandono ou simples separação do convívio. As relações sexuais acidentais e precárias, mesmo repetidas por um longo período, não demonstram companheirismo, o que requer estabilidade e conexão permanente entre o homem e a mulher para fins essenciais na vida social, como a aparência de casamento perante terceiros ou, como alguns autores afirmam, a aparência de estado de casado. 2) Ausência de matrimônio civil válido e de impedimento matrimonial entre os conviventes (CC, art. 1.723, § 1º) não se aplicando o art. 1.521, VI, no caso de a pessoa casada encontrar-se separada de fato (STJ, REsp 931.155/RS, rel. Min. Nancy Andrighi, j. 7-8-2007; Lei n. 14.382/2022, que altera o art. 94-A, § 1º, da Lei n. 6.015/73), extrajudicial ou judicialmente13. E pode ser reconhecida a união estável de separado extrajudicial ou judicialmente, pois a separação judicial ou extrajudicial impõe deveres de coabitação e fidelidade recíproca e regime de bens 12 MADALENO, Rolf. Direito de Família. 14 Ed. Forense. Rio de Janeiro. 2024. 13 TJMG, Ap. Civ́. 000.247.769-3/00, Rel. Bady Cury, publ. 17-9-2002. 15 Vale lembrar que conforme o Código Civil, arts. 1.723, § 1º, e 1.576. “As causas suspensivas do art. 1.523 do Código Civil não impedirão a caracterização da união estável” , e também conforme o art.1723, § 2º do Código Civil. 3) Notoriedade de afeições recíprocas, que não significa publicidade. Ou seja, a união estável deve ser de saber social dos amigos, e das pessoas de íntima relação de ambos, aos vizinhos do companheiro, que poderão atestar as visitas frequentes do outro, suas entradas e saídas. 4) Honorabilidade: Deve haver uma união respeitável entre homem e mulher (RT, 328:740; BAASP, 2982:11; RTJ, 7:24 e CC, art. 1.724 — ou entre pessoas do mesmo sexo: Res. CNJ n. 175/2013), pautada na affectio maritalis e no animus de constituir uma família. É necessário para sua configuração o elemento subjetivo: o compromisso pessoal e mútuo de formar uma família. Ambos os conviventes não poderão planejar para o futuro o propósito de constituir entidade familiar, pois, para que haja união estável, a formação do núcleo familiar, em que se tem compartilhamento de vidas, deve ser concretizada no presente, e não apenas planejada. Assim sendo, convivência com mera expectativa de constituir família futuramente não caracteriza união estável. 5) Fidelidade ou lealdade: Conforme o art.1.724 do Código Civil, é necessário a fidelidade ou lealdades entre os companheiros, ou seja, a intenção de vida em comum, a aparência de “posse do estado de casado” atributo de casal unido pelo casamento, cuja comprovação tornou-se difícil pela perda do registro civil, estando falecidos os consortes ou impossibilitados de prestar esclarecimentos, e o indício de que o filho é do casal14. 6) Coabitação, uma vez que a união estável deve ter aparência de casamento. Perante a circunstância de que no próprio casamento pode haver uma separação material dos consortes por motivo de doença, de viagem ou deprofissão, a união estável pode existir mesmo que os companheiros não residam sob o mesmo teto, desde que seja notório que sua vida se equipara à dos casados civilmente (Súmula 382 do STF; STJ, REsp 474962/SP, rel. Min. Sálvio de F. Teixeira, j. 29- 9-2003) 14 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: Direito de Família. 38 Ed. Saraiva Jur. São Paulo. 2024. 16 2.0 CONTRATO DE NAMORO Neste Capítulo é abordado o Conceito de Contrato de Namoro. 2.1 Conceito Tânia Negri leciona que ‘ Apesar de o contrato de namoro ter ficado conhecido com esse nome, na verdade, o que os namorados fazem não é propriamente um contrato, mas uma declaração, já que contrato representa um acordo de vontades entre duas ou mais pessoas com a intenção de criar, modificar ou extinguir direitos e obrigações15’. Tânia Negri explana que o verdadeiro objetivo do contrato de namoro , é definir, de forma absolutamente clara, que a relação do casal é apenas de namoro e que não há a intenção de os namorados constituírem família, com o fim de proteção patrimonial. Em geral, a união estável só é reconhecida judicialmente quando o relacionamento termina, consequentemente o regime de bens a reger aquela relação será o da comunhão parcial, por serem meros namorados, o casal não terá escolhido regime diverso. Visando prevenir esse tipo de situação, muitos advogados têm incluído nos contratos de namoro a previsão de que, caso fique configurada a união estável, o regime de bens adotado pelo casal será o da separação total, quando, na hipótese de dissolução do relacionamento, cada um sairá, exclusivamente, com seu patrimônio particular, sem nenhum prejuízo para ambas as partes. Franciele Barbosa Santos ‘ A partir do momento em que os requisitos para a configuração da união estável não são mais claros, as inseguranças quanto ao seu reconhecimento começam a surgir, deixando muitos enamorados com receio sobre como manter o namoro que possuem, haja vista a iminente incidência de um casamento forçado, tal como é o reconhecimento da união estável em muitos casos16’. Entretanto o que é previsto pela Constituição da República Federativa de 1988 se destinava a atender os relacionamentos tidos até então, uma vez que o Direito consiste em regulador social, o qual é impulsionado pela realidade latente. Assim, não há como o Direito regular situações inexistentes. É como se afirmassemos que o Direito sempre estará “atrasado” quando comparado com a realidade vigente. A procura por esses contratos é absolutamente compreensível, já que os namoros contemporâneos, são bastante complexos, podendo vir a ser confundidos com uniões estáveis, com consequentes e reflexos jurídicos do reconhecimento, como a partilha do patrimônio entre tantos outros detalhes. 15 NIGRI, Tânia. Contrato de Namoro. Edição única. São Paulo. 2021. 16 SANTOS, Franciele Barbosa. Contrato de Namoro. Edição Única. Almedina. São Paulo. 2024. 17 Percebe-se, portanto, que o conceito de namoro, o qual era essencial para a sua diferenciação da união estável, se transmutou demasiadamente, ou seja, alterou muito ao decorrer dos anos, tornando tais relacionamentos excessivamente parecidos, o que gerou as incongruências e inseguranças jurídicas previstas atualmente, as quais têm levado os enamorados à contratualização das suas relações, ou seja, à realização de um contrato de namoro. Franciele Barbosa Santos explana que: ‘Nota-se a difícil diferenciação entre ambos os relacionamentos, os quais ocasionam uma série de consequências fáticas, uma vez que a realidade pode gerar certa confusão e nebulosidade acerca do relacionamento tido entre as partes. A diferenciação, atualmente, do namoro para a união estável reside, tão somente, no objetivo de constituir família, o qual está presente da união estável e ausente no namoro. Contudo, vislumbra-se que tal requisito é de difícil aferição, uma vez que diz respeito à intenção das partes, ou seja, é um aspecto subjetivo que o julgador, dificilmente, conseguirá aferir’17. Tânia Negri explana que: Há muitos doutrinadores que consideram o contrato de namoro, ser mera declaração de existência de uma relação afetiva, um indiferente jurídico, sendo esse contrato inexistente e incapaz de produzir qualquer efeito. O desembargador Luiz Felipe Brasil Santos, ao julgar a Apelação Cível n. 70006235287x, alertou para o fato de a Justiça “casar de ofício” quem não o fez por vontade própria e criticou os contratos de namoro18: ‘Esses abortos jurídicos que andam surgindo por aí, que são nada mais que o receio de que um namoro espontâneo, simples e singelo, resultante de um afeto puro, acaba se transformando em uma união com todos os efeitos patrimoniais indesejados ao início’. O doutrinador Sílvio de Salvo Venosa, também não é favorável a eles, afirmando que esses contratos seriam uma tentativa de invalidar a previsão legal acerca da união estável, regulando o amor e protegendo o patrimônio do partícipe que o tem em detrimento daquele que não o tem, ofendendo aos princípios da dignidade humana e do direito de família19. Helder Martinez Dal Col, por sua vez, defende a validade relativa desses contratos, dizendo que a vontade manifestada pelas partes deve ser respeitada se ambos os contratantes insistirem na ausência de qualquer vínculo, senão o de simples namoro, conforme pactuaram. 17 SANTOS, Franciele Barbosa. Contrato de Namoro. Edição Única. Almedina. São Paulo. 2024. 18 NIGRI, Tânia. Contrato de Namoro. Edição única. São Paulo. 2021. 19 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RIO GRANDE DO SUL (TJRS). 8ª Câmara Cível. Apelação Cível n. 70006235287. Julgamento em 6 ago. 2015. 18 O jurista Zeno Veloso, ao falar sobre os contratos de namoro, avença é uma declaração bilateral em que pessoas maiores, capazes, de boa-fé, com liberdade, sem pressões, coações ou induzimento, confessam que estão envolvidas num relacionamento amoroso, e que se limita unicamente a isto, sem nenhuma intenção de constituir família, sem o objetivo de estabelecer uma comunhão de vida, sem a finalidade de criar uma entidade familiar, e esse namoro, por si só, não tem qualquer efeito de ordem patrimonial20. Para Maria Helena Diniz: No namoro a ‘intentio’ é a construção de uma futura família, havendo compromisso, ao passo que na união estável já se tem uma entidade familiar. Já há até mesmo a efetivação de “contrato de namoro”, para evitar que da relação amorosa advenha o reconhecimento da união estável21. Demonstra-se que os enamorados anseiam por uma maior autonomia na vivência dos seus relacionamentos, motivo pelo qual têm optado por contratualizar a relação que vivenciam, seja para obterem resguardo patrimonial ou extrapatrimonial. Ressalta-se que a contratualização das relações amorosas e familiares tem se demonstrado como um mecanismo em razão da dinâmica social. 20 SANTOS, Franciele Barbosa. Contrato de Namoro. Edição Única. Almedina. São Paulo. 2024. 21 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: Direito de Família. 38 Ed. Saraiva Jur. São Paulo. 2024. 19 2.2 Requisitos do contrato de namoro Marcos Bernardes de Mello ensina que: ‘No plano da existência, ou seja, para que o negócio jurídico seja existente no mundo jurídico, se faz necessário que ele apresente,além do suporte fático, os seguintes elementos: agente, vontade, objeto e forma. Dessa forma, é necessário que haja uma pessoa, que exista uma vontade, que essa vontade verse sobre algo, bem como que tal vontade do agente, que versa sobre algo, se exteriorize de alguma forma’. Marcos Bernardes de Mello: ‘Apesar de o namoro ser um fato que, em regra, não gera consequências jurídicas, atualmente, em razão da proximidade com a união estável, muitos namoros têm ocasionado consequências, seja ante o reconhecimento de uma união estável em um relacionamento de namoro, seja em razão do desgaste processual causado por eventuais pedidos de reconhecimento22’. Salienta-se que da mesma forma que uma união estável firmada perante o Tabelionato não se sobrepõe a realidade fática, no caso de ter sido uma falsa declaração, o contrato de namoro não irá se sobrepor a uma situação fática, ou seja, a declaração por meio desse instrumento deverá ser genuína e condizente com o relacionamento mantido entre as partes. Tânia Nigri leciona que: Os contratos de namoro devem, preferencialmente, ser elaborados por um advogado e celebrados mediante escritura pública, podendo optar o casal pela escritura pública de declaração e renúncia, em que os namorados declaram que, apesar de estarem namorando há determinado número de anos, não têm intenção de constituir família, nem compartilhar patrimônio, muito menos criar vínculo familiar ou sucessório23. O casal pode inserir uma cláusula informando que na hipótese de o relacionamento vir a evoluir para uma união estável, a relação será regida pelo regime da separação total de bens (ou qualquer outro regime de preferência dos namorados). Há casais que estipulam um período de vigência limitado a doze meses, o qual deve ser revisado a cada ano, para evidenciar que, apesar do tempo, a relação permanece sendo de namoro. Alguns namorados incluem uma cláusula no cotrato de namoro dizendo que os namorados residem separadamente, mas isso não impede que fiquem na residência um do outro. Notamos que um elemento essencial da configuração da união estável está ausente, ou seja, a fidelidade ou lealdade, pois não há intenção de constituir família ou viver em união estável. 22 MELLO, Marcos Bernardes de. Teoria do fato jurídico: plano da existência. 15. ed. rev. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 55-56. 23 NIGRI, Tânia. Contrato de Namoro. Edição única. São Paulo. 2021. 20 O casal pode declarar, de forma expressa e retroativa, desde o início do namoro, que renuncia a todos os direitos sobre bens móveis ou imóveis adquiridos. Em caso de término do relacionamento, declaram ser independentes financeiramente, não necessitando de assistência material para a subsistência própria a título de alimentos, nem de qualquer outra natureza. No que se refere ao direito a sucessão, os namorados assinalam que concordam que os bens adquiridos por cada um dos signatários constituem patrimônio exclusivamente pessoal e que, em caso de falecimento, esses bens deverão ser distribuídos aos seus respectivos herdeiros, à época da sucessão. Por fim, os namorados podem reiterar que não pretendem formar núcleo familiar um com o outro, declarando, por exemplo, que sua família é composta apenas por cada um deles e seus respectivos filhos. Feitas essas declarações, os signatários informam a veracidade das afirmações e declaram que as avenças visam preservar a autonomia da vontade de ambos de não constituir família. O casal se responsabiliza civil e criminalmente pela veracidade das informações e assina o contrato. Desta feita, considerando o paradigma contemporâneo de negócio jurídico, a demanda atual de proteção pelos enamorados, bem como perpassado os requisitos de existência, validade e eficácia do negócio jurídico, o contrato de namoro consiste em um instrumento hábil à produção de efeitos e necessário para os dias atuais, a fim de regulamentar aspectos existenciais e patrimoniais queridos pelos enamorados e não proibidos pelo ordenamento24. Assim, analisados os planos de existência, validade e eficácia, conclui-se que o contrato de namoro, firmado por pessoa capaz, cuja vontade é livre e genuína e cuja manifestação condiz com a realidade, possui plenos efeitos e consiste em um instrumento relevante para que os casais possam vivenciar o namoro de forma livre e intensa, de acordo com aquilo que acreditam e que condiz com a sua realidade. 2.1 Características do contrato de namoro Para ter um contrato de namoro é necessário ter um plano de existência, que vai traçar o que é necessário para que o negócio jurídico possa existir e, dentre os seus elementos , dispõe sobre o primordial, ou seja, os agentes do contrato 24 NIGRI, Tânia. Contrato de Namoro. Edição única. São Paulo. 2021. 21 Os agentes são as pessoas ou a pessoa que realiza o negócio jurídico. Nesse primeiro momento, basta que existam as pessoas, uma vez que sem o indivíduo que deseja manifestar a sua vontade, tal negócio é inexistente. Por ser um negócio jurídico bilateral, ou seja, que envolve duas pessoas e a vontade de ambas, é necessário que a existência de dois agentes, pois não é possível contratualizar acerca de um relacionamento sem que se tenha com quem se relacionar. Assim, imprescindível que se tenha, ao menos, duas partes para contratualizar, não sendo possível realizar um contrato de namoro de uma pessoa só. Além das pessoas solteiras e capazes, o contrato de namoro poderá ser realizado por aqueles que mantêm uma entidade familiar, ou seja, pessoas casadas ou em união estável, poderão figurar como parte nesse negócio jurídico. Apesar de parecer um contrassenso que pessoas que já mantenham uma entidade familiar realizem um contrato de namoro, tem-se que não é crime relações adulterinas O objeto do contrato de namoro, quando realizado , será dispor sobre aspectos patrimoniais e/ou existenciais, assim como é recomendado que se insira, logo após a cláusula do objeto, um dispositivo trazendo o que as partes entendem como namoro e a afirmativa de que vivenciam um namoro. Vislumbra-se, portanto, que não basta a mera afirmativa de que o relacionamento consiste em um namoro, não havendo a intenção presente de constituição familiar, mas é necessário trazer concretude a essa afirmação25. 25 SANTOS, Franciele Barbosa. Contrato de Namoro. Edição Única. Almedina. São Paulo. 2024. 22 2.2 Validade do contrato de namoro Sendo uma exteriorização do negócio jurídico, é necessário que o contrato de namoro perfaça todos os elementos e requisitos da Escada Ponteana para a realização de seus efeitos plenos. Assim, o contrato de namoro deve perpassar pelos planos da existência, validade e eficácia para que os seus efeitos ocorram de forma plena. O contrato de namoro, por sua vez, consiste em um negócio jurídico pelo qual as partes acordam sobre a situação fática existente, afirmando que mantêm um relacionamento de namoro e que não há, ao menos não no momento, a intenção de constituição familiar. Portanto, não há quaisquer efeitos decorrentes do fim desse relacionamento, uma vez que o namoro não acarreta – ao menos não deveria – consequências jurídicas. No plano da existência, ou seja, para que o negócio jurídico seja existente no mundo jurídico, se faz necessário que ele apresente, além do suporte fático, os seguintes elementos: agente, vontade, objeto e forma.441 Dessa forma, é necessário que haja umapessoa, que exista uma vontade, que essa vontade verse sobre algo, bem como que tal vontade do agente, que versa sobre algo, se exteriorize de alguma forma. Conforme leciona Franciele Barbosa Santos: No que se refere ao objeto lícito, possível e determinado, tem-se que sob esse requisito permeiam discordâncias pelos doutrinadores pátrios. O objeto do contrato do namoro consiste, justamente, na regulamentação do relacionamento que vivenciam, acordando as partes sobre qual espécie de relacionamento que vivem, eventuais regramentos que acordam e até questões atinentes ao cotidiano dos enamorados26. A Constituição Federal de 1988 reconheceu a importância da família e estabeleceu que esta possui especial proteção pelo Estado (art. 226, caput), isso porque reconhece a família como seio de desenvolvimento da pessoa. Da mesma forma, ainda, assegurou o direito ao livre planejamento familiar (art. 227, §7º) o qual tem como objetivo a mínima intervenção estatal em assuntos personalíssimos e privados, sendo que a sua proteção diz respeito tanto para o modo de configuração familiar, quanto a sua não configuração. A decisão de pertencer ou formar uma família cabe, tão somente, à pessoa. 26 SANTOS, Franciele Barbosa. Contrato de Namoro. Edição Única. Almedina. São Paulo. 2024. 23 Não há quaisquer vantagens de uma imposição ao indivíduo quanto ao pertencimento de uma entidade familiar. Assim, se a própria pessoa não reconhece como pertencente a uma família, não se deve forçar tal vínculo, uma vez que a família serve ao desenvolvimento do indivíduo e não o oposto, visto que a centralidade é a realização do ser humano e da sua dignidade. E, por assim ser, é que a Constituição oferece especial proteção para essas entidades familiares. Sabemos que para que ocorra a validade do negócio jurídico é necessário, os elementos do art. 104 do Código Civil,. “Para que receba do ordenamento jurídico conhecimento pleno, e produza todos os efeitos, é de mister que o negócio jurídico revista certos requisitos que dizem respeito à pessoa do agente, ao objeto da relação e à forma da emissão de vontade.” Nesse sentido, os requisitos da validade do negócio jurídico são elencados no art. 104, I, II, III do Código Civil, sendo os requisitos de caráter geral: agente capaz; objeto lícito, possível, determinado ou determinável; e forma prescrita e não defesa em lei27. Art. 104. A validade do negócio jurídico requer: I - agente capaz; II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável; III - forma prescrita ou não defesa em lei. 27 SANTOS, Franciele Barbosa. Contrato de Namoro. Edição Única. Almedina. São Paulo. 2024. 24 3.0 A CONTRATUALIZAÇÃO NAS RELAÇÕES DE FAMÍLIA Neste Capítulo é abordado a contratualização nas relações de família Conforme Dimitre Braga Soares de Carvalho: O Direito de Família tem enfrentado diversas transformações simultaneamente às modificações na sociedade. Por vezes, o direito positivado se torna insuficiente para regular a singularidade da realidade. Segundo Dimitre Braga Soares de Carvalho:“As novas gerações demandam a construção de regras específicas de Direito de Família para cada uma delas, respeitando as opções e as peculiaridades de cada indivíduo, bem como de cada agrupamento familiar”. Este autor entende que as regras de convivência precisam ser definidas pelo próprio casal ou grupo familiar, ao invés de serem impostas pelo Estado. O caleidoscópio da família contemporânea é constituído por relações menos duradouras, baseadas sobretudo no afeto e no amor envolvido, valorizando as individualidades e os reais desejos enredados. O caminho trilhado por Jean Carbonier, no sentido de que ‘a cada família é dado o seu próprio Direito de Família’, faz pensar, mais uma vez, sobre o papel do Estado Moderno na organização e preservação da estrutura familiar. Assim, observa-se a suplementação do Direito de Família Mínimo, oportunizando manifestações de liberdade jurídica e de plena autonomia dos indivíduos participantes do seio familiar. Como bem demonstra Dimitre Braga Soares de Carvalho, “a família se desinstitucionaliza, ao passo em que se instrumentaliza”. Há uma crescente contratualização do Direito de Família, a fim de valorizar e concretizar as convicções das relações jurídicas existentes no âmbito familiar. Cumpre destacar os princípios norteadores dos contratos no âmbito do Direito de Família, haja vista que o Contrato de Namoro, também é analisado sob sua luz; e os principais contratos existentes nessa seara. Ao reunir esses elementos em ebulição, gera consequências específicas para o estudo do Direito de Família, tais como: reconhecer a privatização do Estado, por meio da redução de seu espaço de atuação na privacidade familiar; reconhecer a desisntitucionalização da família; reconhecer a existência de um fenômeno de judicialização das relações familiares; não aplicar normas deliberadas (como a desobediência civil); discutir a existência de um "Direito de Família mínimo" e reconhecer os espaços do "não-direito" no âmbito do Direito de Família brasileiro28. Conforme Frederik Swennen: Atualmente, o Direito de Família deve ser considerado a expressão mais significativa da liberdade jurídica. Estamos em uma fase em que a concepção de família e o próprio Direito de Família ganham um viés mais subjetivo. 28 CARVALHO, Dimitre Braga Soares de. Contratos familiares: cada família pode criar seu próprio Direito de Família. IBDFAM. Publicado em: 01/07/2020. Disponível em: https://ibdfam.org.br/artigos/1498/Contratos+familiares:+cada+fam%C3%ADli. Acesso em: 04 nov 2024. https://ibdfam.org.br/artigos/1498/Contratos+familiares:+cada+fam%C3%ADli 25 Isso implica que cada indivíduo tem a liberdade de escolher e determinar o significado de família em sua existência, especialmente por meio de acordos que não envolvem patrimônio29. Desse modo, na diminuição dos espaços de regulação estatal no âmbito das famílias e na plena autonomia de vontade das partes nas relações privadas. Eis o questionamento, Cada família pode criar seu próprio Direito de Família? Por que não?? Entretanto, cumpre lembrar: nenhum contrato afetivo ou de família pode desrespeitar a dignidade humana dos envolvidos, tratar homens e mulheres de forma diferente, viabilizar distorções por questões de gênero, tolerar qualquer tipo de violência física, psicológica ou patrimonial, ou deixar de observar os direitos e garantias constitucionais de crianças, adolescentes, idosos, portadores de deficiência ou qualquer outro grupo em situação de vulnerabilidade. Entende-se, portanto, que as regras de convivência devem ser determinadas pelo próprio casal ou grupo familiar e não impostas pelo Estado. O caleidoscópio familiar de hoje consiste em relacionamentos menos duradouros, baseados principalmente no amor e no afeto, na valorização da individualidade e no puro desejo que os acompanha. O percurso de Jean Carbonnier no sentido de que “cada família está sujeita ao seu próprio direito de família” faz-nos pensar novamente sobre o papel do Estado moderno na organização e manutenção das estruturas familiares30. 29 SWENNEN, Frederik (coord). Contractualisation of Family Law – Global Perspectives. Suíça: Stranger International Publishing, 2015. 30 CARBONIER, Jean. Derecho Flexible: para una sociología no rigurosa del derecho. Madrid, Editorial Tecnos, 1974, p. 18.26 4.0 MODELO DE CONTRATO DE NAMORO ESCRITURA PÚBLICA DE DECLARAÇÃO OUTORGANTES: S A I B A M quantos esta pública escritura de declaração bastante virem, que aos dezenove dias do mês de agosto do ano de dois mil e vinte e um (19/08/2021);, neste Município e Comarca de Londrina, Estado do Paraná, Brasil, em Cartório, ______, Tabelião do 10º Tabelionato de Notas de Londrina, Paraná, comparece a parte entre si justa e contratada, a saber, como outorgante declarante, ___________, brasileiro, divorciado, profissão, nascido aos ______, filho de ___________, portador da Cédula de Identidade/RG, sob nº ___________, inscrito no CPF/MF sob nº ___________ residente e domiciliado á ___________, nº ______ – apartamento ___________, na Cidade Londrina/PR; ___________, brasileira, solteira, maior e capaz, profissão, nascida ___________, filha de ___________, portadora da Cédula de Identidade/RG, sob nº ______, inscrita no CPF/MF sob nº ___________ residente e domiciliada á ______, nº ______, apartamento ______, na Cidade de Londrina/PR; reconhecidos como os próprios de mim Notário do que dou fé. E, perante esta e pelos outorgantes declarantes, me foi dito de sua livre e espontânea vontade, sob pena de responsabilidade civil e penal e repetirá em Juízo se necessário for, o seguinte: tem entre si, justo e acertado, firmar este contrato de namoro pelas seguintes cláusulas e condições. O outorgante ___________ doravante apenas como NAMORADO e a outorgante ___________ doravante apenas como NAMORADA, e quando em conjunto, apenas PARTES. Cláusula 1ª – OBJETO §1º. As PARTES declaram que estão em um relacionamento baseado no mútuo afeto, respeito, lealdade e carinho, popularmente conhecido como namoro, definindo-o desde já como uma relação amorosa em que as PARTES se comprometem socialmente, mas sem estabelecer qualquer intenção matrimonial perante a legislação brasileira ou instituições religiosas para constituição de família, mesmo que coabitem. §2º. As PARTES declaram que o relacionamento também não se configura como união estável e nem que possuem a vontade de constituí-la e caso esta intenção mude, será ela objeto de novo contrato e/ou escritura pública, com anuência forma e expressa de ambas as partes. 27 Cláusula 2ª – VIGÊNCIA §1º. As PARTES declaram que o relacionamento teve início em vinte e três de abril de dois mil e dezenove (23/04/2019) e que as condições aqui estabelecidas retroagem à data do início do relacionamento, permanecendo vigente enquanto não dissolvida a relação ou convertida em união estável ou matrimônio, ambas por expressa vontade das partes. Cláusula 3ª – COABITAÇÃO §1º. As PARTES declaram que, apesar de não ter finalidade de constituir família ou firmar união estável, coabitam desde nove de maio de dois mil e vinte um (09/05/2021), com a finalidade exclusiva de redução de custos e despesas inerentes à moradia, alimentação, dentre outras despesas do casal na proporção de suas respectivas capacidades. §2º. Cabe a cada um atender financeiramente suas próprias despesas, não excluindo a possibilidade de eventual auxílio prestado de forma mútua. Cláusula 4ª – FILHOS §1º. A NAMORADA declara conhecer a filha ___________ do NAMORADO oriunda de anterior relação conjugal. §2º. As PARTES reconhecem que atualmente a NAMORADA mantém boa relação com a filha do NAMORADO e assim se manterá, bem como reconhecem que a obrigação pela educação desta filha, inclusive suporte financeiro, é de total e exclusiva responsabilidade do NAMORADO. §3º. A NAMORADA declara não se opor às viagens do NAMORADO para visitação de sua filha ___________, nem que esta venha visitá-los na residência comum do casal em qualquer momento, data e sem limitação de tempo. §4º. As PARTES declaram que eventual oposição para que a filha ___________ resida com eles na residência comum, poderá ser considerado justo motivo para a dissolução da relação. Cláusula 5ª – INDEPENDÊNCIA ECONÔMICA §1º. As PARTES declaram ser plenamente independentes economicamente, não necessitando de qualquer assistência por qualquer das partes para subsistência própria. §2º. Ante a independência econômica declarada, as PARTES renunciam de forma irretratável e irrevogável, a qualquer ajuda material pela contraparte, a título de alimentos ou não, especialmente em caso de extinção da relação ou deste contrato. 28 §3º. Considerando o caráter exclusivamente afetivo, prevalece entre as PARTES total e inquestionável separação total dos bens que cada um possui ou vier a possuir no decorrer do namoro. Cláusula 6ª – DISSOLUÇÃO §1º. Este contrato pode ser resolvido unilateralmente por qualquer uma das PARTES, em qualquer momento, pela simples declaração de vontade de um ao outro, independentemente de notificação prévia. §2º. Também restará o relacionamento dissolvido e o contrato rescindido ante o inadimplemento das obrigações de lealdade, fidelidade ou mesmo se as PARTES separadas de fato, não mais se apresentarem como namorados. §3º. Em caso de dissolução do relacionamento, todas as obrigações assumidas em conjunto durante a vigência deste contrato deverão ser imediatamente resolvidas por iniciativa da parte responsável ou titular da obrigação. Qualquer perfil social ou plano de assinatura de serviço assumido em conjunto durante a vigência do contrato deverá ser resolvido. O uso em conjunto de plataformas por assinatura assumidas por apenas um dos contratantes, implicará na imediata remoção do acesso à outra parte. §4º. Eventuais pertences em posse da parte contrária deverão ser devolvidos. Qualquer bem dado como presente à outra parte não poderá ter sua devolução exigida. Entende-se como presente qualquer objeto dado de maneira gratuita ao outro com o intuito de proporcionar felicidade, independente da ocasião, seja ela comemorativa ou não, de forma que não caracteriza em formação de patrimônio conjunto. §5º. A guarda de eventuais animais de estimação adquiridos durante a vigência deste contrato deverá ser decidida em comum acordo no momento da dissolução do relacionamento, sendo resguardada a visita da outra parte ou ainda a guarda compartilhada do animal. §6º. Os bens que guarnecerem a residência comum ficarão para a parte que adquiriu ou introduziu na residência. §7º. Considerando a natureza deste contrato e de seu objeto, ou seja, como namoro e não união estável, desde já as PARTES renunciam qualquer direito 29 de alimentos eventualmente devido um ao outro. Cláusula 7ª – AUSÊNCIA DE DIREITO À SUCESSÃO §1º. Dado a forma da relação estabelecida neste contrato, as PARTES declaram ciência que não farão parte dos direitos sucessórios um do outro e expressamente renunciam qualquer forma de herança, meação ou demais direitos de sucessão. §2º. Considerando que as partes não adquirem direitos sucessórios pela relação de namoro assumida, a NAMORADA declara ter ciência que não possui direito à pensão especial eventualmente concedida por força do artigo 260, da Lei Estadual do Paraná nº 6.174/70 (Estatuto do Servidor, que estabelece o regime jurídico dos servidores civis do Executivo do Estado do Paraná), sendo que em caso de falecimento do NAMORADO o valor desta pensão especial será paga integralmente aos filhos varões do NAMORADO, até atingirem a maioridade e sem limite de idadedesde que sofram de moléstia que os impossibilite de trabalhar, e às filhas solteiras do NAMORADO, ainda que maiores. Cláusula 8ª – DISPOSIÇÕES GERAIS §1º. As PARTES declaram que tem ciência e integral conhecimento que este instrumento particular não goza de validade e eficácia perante terceiros, senão apenas entre as PARTES e que para que a validade, eficácia e amplitude das cláusulas aqui estabelecidas, necessário a outorga de escritura pública, momento que ambos deverão obrigatória e pessoalmente comparecer ao serviço de notas de sua preferência, inclusive para qualquer alteração, modificação e acréscimo, ficando a partir de então sem valor qualquer outro escrito, documento ou declaração particular que disponha de forma diversa, seja com data anterior ou posterior à escritura pública. §2º. As PARTES elegem o foro central da comarca da região metropolitana de Londrina para serem dirimidas eventuais pendências ou controvérsias oriundas deste contrato. Por ser expressão da verdade e para que surta os devidos fins de direito, foi-me dito que aceitam esta escritura, em seus expressos termos, tal como está redigida, com tudo o que nela se contém e com a qual estão de pleno acordo. Assim o disseram e dou fé. Por pedido das partes lavrei esta que lhe sendo lida, em voz alta, aceitam e assinam dispensando as testemunhas instrumentarias, conforme dispõe Art. 684, do Código de Normas nº 249/2013 da Egrégia Corregedoria Geral da Justiça do Estado do Paraná. 30 5.0 JURISPRUDÊNCIA Neste Capítulo é abordado jurisprudencias de Contrato de namoro. “No caso em apreço, restou incontroversa – o próprio réu/embargado não nega – a existência do relacionamento amoroso público, contínuo e duradouro mantido entre as partes. Contudo, faltou um requisito essencial para caracterizá-lo como união estável: inexistiu o objetivo de constituir família. Com efeito, durante os longos anos de namoro mantido entre os litigantes, eles sempre mantiveram vidas próprias e independentes. Realizaram várias viagens juntos, comemoraram datas festivas e familiares, participavam de festas sociais e entre amigos, a autora realizava compras para a residência do réu – pagas por ele –, às vezes ela levava o carro dele para lavar, e consta que ela gozou licença-prêmio para auxiliar o namorado num momento de doença. Contudo, ainda que o relacionamento amoroso tenha ocorrido nesses moldes, nunca tiveram objetivo de constituir família. Isso porque, ainda que ambos fossem livres e desimpedidos – ela solteira e ele separado – permaneceram administrando separadamente suas vidas. Embora a embargante auxiliasse o embargado realizando, às vezes, tarefas que o ajudavam na administração da casa dele, como, por exemplo, fazer compras no supermercado, até tais compras eram pagas separadamente: ela pagava as dela, e as dele eram por ele pagas31” Em outro julgado proferido pelo TJSP (Apelação Cível n. 9103963- 90.2008.8.26.0000), as partes também haviam celebrado um contrato de namoro, e, considerando outras provas dos autos, foi possível afastar a aplicação do regime de comunhão parcial, nos seguintes termos: Verifica-se que os litigantes convencionaram um verdadeiro contrato de namoro, celebrado em janeiro de 2005, cujo objeto e cláusulas não revelam ânimo de constituir família […] A defesa da autora alegou em seu recurso que a relação, de quatro anos, acabou por causa do temperamento agressivo do ex- namorado. Argumentou que eles têm um filho, além de citar as provas, como fotos do casal e do relacionamento ser de conhecimento público. Logo, a autora teria direito à partilha de bens e fixação de alimentos […] Pesou na decisão do desembargador o fato deles só terem vivido juntos durante 6 meses. No mais, viviam em casas separadas, como ficou provado, só vivendo juntos durante os finais de semana. O desembargador também entendeu que a autora não dependia economicamente do ex-namorado, pois já trabalhou anteriormente, mostrando ser apta ao trabalho e por fim, utilizou-se do contrato de namoro como meio de prova […]32. O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo já se manifestou sobre o Contrato de Namoro na seguinte decisão: Ementa: AÇÃO DE RECONHECIMENTO E DISSOLUÇÃO DE CONTRATO DE NAMORO CONSENSUAL. Falta de interesse de agir e impossibilidade jurídica do pedido. Inicial Indeferida. Processo Julgado Extinto. Sentença mantida. RECURSO DESPROVIDO33. 31 TJRS, Processo 70008361990, 4.º Grupo Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, decisão de 13.08.2004. 32 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO (TJSP). 9ª Câmara de Direito Privado. Apelação Cível n. 9103963-90.2008.8.26.0000. Julgamento em 12 ago. 2008. 31 No caso em questão, houve uma ação de reconhecimento e dissolução de um contrato de namoro consensual (extinto), com os requerentes alegando que a homologação do contrato e sua dissolução, bem como a doação de um imóvel para a requerente, impediam que o magistrado extinguisse o processo sem resolução do mérito. O que é relevante para a análise aqui realizada é que o juiz do caso reconheceu a impossibilidade jurídica do pedido, decorrente da ausência de previsão legal sobre o contrato de namoro, com uma hipótese que não se assemelha ao reconhecimento de dissolução de sociedade de fato (para que os autos fossem encaminhados para uma das Varas de Família) já que se tratava de um "contrato", apenas verbal. Em outro caso, também julgado pelo TJSP, as partes apresentaram o contrato de namoro firmado: Ementa: APELAÇÃO. FAMÍLIA. AÇÃO DE DIVÓRCIO LITIGIOSO, ALIMENTOS E PARTILHA DE BENS. SENTENÇA QUE DECRETA O DIVÓRCIO E A PARTILHA, NA PROPORÇÃO DE 50% PARA CADA UM, OS VALORES PAGOS PELO IMÓVEL DURANTE O CASAMENTO. RECURSO DE AMBAS AS PARTES. PARTES QUE FIRMARAM CONTRATO DE NAMORO, QUE EXCLUI A EXISTÊNCIA DE UNIÃO ESTÁVEL ANTERIOR AO CASAMENTO. CONTRATO FIRMADO QUE 45 NÃO CONSTITUI PACTO ANTENUPCIAL. OBRIGAÇÕES LÁ ASSUMIDAS QUE NÃO PODEM SER DISCUTIDAS NA AÇÃO DE DIVÓRCIO. BENS ADQUIRIDOS ANTES DO CASAMENTO QUE NÃO DEVEM SER PARTILHADOS. PRESTAÇÕES DO IMÓVEL DE PROPRIEDADE EXCLUSIVA DO RÉU PAGAS DURANTE O CASAMENTO QUE DEVEM SER PARTILHADAS NA PROPORÇÃO DE 50% DE CADA UM. ALIMENTOS QUE NÃO SÃO DEVIDOS DE MORA. REQUERENTE PESSOA JOVEM E APTA A TRABALHAR, AINDA QUE MOMENTANEAMENTE DESEMPREGADA. SENTENÇA MANTIDA. RECURSOS DESPROVIDOS34. 33 TJSP; AC 1025481-13.2015.8.26.0554; Relatoria: Barreta da Silva; Data de julgamento: 28/06/2016 34 TJSP; AC Nº 1007161-38.2019.8.26.0597; Relatoria: Cristina Medina Mogioni; 02/06/2021 32 6.0 CONCLUSÃO Concluo que não só a família mudou, mas também as relações afetivas como um todo. O namoro, hoje em dia, denominada como “líquida” por Zygmunt Bauman, parou de ser necessariamente atrelado ao casamento, passando a ter uma certa autonomia, sendo um instituto próprio. O relacionamento amoroso passou a ser uma alternativa para inúmeras pessoas, principalmente as mais maduras, por quererem viver uma relação de forma mais descompromissada. O denominado "namoro qualificado" é alinhado com os princípios da atual "sociedade líquida". Devido às suas semelhanças com a união estável, cada vez mais casais de namorados têm estabelecido um acordo jurídico conhecido como "contrato de namoro". O principal propósito é declarar que os contratantes não têm a intenção de formar uma família no momento, descartando a possibilidade de uma união estável e permitindo a salvaguardado patrimônio dos envolvidos. Também observamos que, mesmo com a crescente aceitação deste negócio, uma parcela significativa da doutrina e dos juízes o considerou inválido, por presumir má-fé do principal interessado e por ver o objeto como ilícito. No entanto, hoje em dia, de acordo com as normas atuais, em conformidade com a legislação. Concluo que o Contrato de namoro é mais uma forma de contratualização do direito de família, e uma forma de afastar a união estável e proteger o patrimônio, principalmente daqueles que deseja não obter uma ‘família’. Não um entendimento pacífico doutrinariamente e jurisprudencialmente sobre o contrato de namoro, mas podemos afirmar que é uma prática crescente nos dias de hoje. 33 7.0 BIBLIOGRAFIA CARVALHO, Dimitre Braga Soares de. Contratos familiares: cada família pode criar seu próprio Direito de Família. IBDFAM. Publicado em: 01/07/2020. Disponível em: https://ibdfam.org.br/artigos/1498/Contratos+familiares:+cada+fam%C3%ADli. Acesso em: 04 nov 2024. DA LUZ, Valdemar P. Manual de Direito de Família. Ed 1. Manole. São Paulo.2008. DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: Direito de Família. 38 Ed. Saraiva Jur. São Paulo. 2024. GAGLIANO, Pablo Stolze Gagliano; FILHO, Rodolfo Mario Veiga. Manual de Direito Civil. Volume único. 7 Ed. Saraiva Jur. São Paulo.2023. MADALENO, Rolf. Direito de Família. 14 Ed. Forense. Rio de Janeiro. 2024. MELLO, Marcos Bernardes de. Teoria do fato jurídico: plano da existência. 15. ed. rev. São Paulo: Saraiva, 2008. NIGRI, Tânia. União Estável. Edição única.Blucher. São Paulo. 2020. NIGRI, Tânia. Contrato de Namoro. Edição única. São Paulo. 2021. OLIVEIRA, Euclides Benedito de. União estável: do concubinato ao casamento: antes e depois do novo Código Civil. 6. ed. atual. e ampl. São Paulo: Método, 2003. PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Concubinato e União Estável. 9 Ed. Saraiva. São Paulo. 2016. STJ. Tema 809 - Validade de dispositivos do Código Civil que atribuem direitos sucessórios distintos ao cônjuge e ao companheiro.Disponível em: https://portal.stf.jus.br/jurisprudenciaRepercussao/verAndamentoProcesso.asp?in cidente=4744004&numeroProcesso=878694&classeProcesso=RE&numeroTema =809. Acesso em: 03 out de 2024. https://ibdfam.org.br/artigos/1498/Contratos+familiares:+cada+fam%C3%ADli https://portal.stf.jus.br/jurisprudenciaRepercussao/verAndamentoProcesso.asp?incidente=4744004&numeroProcesso=878694&classeProcesso=RE&numeroTema=809 https://portal.stf.jus.br/jurisprudenciaRepercussao/verAndamentoProcesso.asp?incidente=4744004&numeroProcesso=878694&classeProcesso=RE&numeroTema=809 https://portal.stf.jus.br/jurisprudenciaRepercussao/verAndamentoProcesso.asp?incidente=4744004&numeroProcesso=878694&classeProcesso=RE&numeroTema=809 34 SANTOS, Franciele Barbosa Santos. Contrato de Namoro. Edição Única. Almedina. São Paulo. 2024. SWENNEN, Frederik (coord). Contractualisation of Family Law – Global Perspectives. Suíça: Stranger International Publishing, 2015. Provimento CNJ n. 141/202. Disponível em: https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/4996. Acesso em: 01 nov 2024. TARTUCE, Flávio. Direito Civil – Vol. 5. 19 Ed. Forense. São Paulo. 2023. TJRS, Ap. Cív. 70035315902, 7a Câm. Cív., Rel. Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves, j. em 27-7-2011. TJRS, Processo 70008361990, 4.º Grupo Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, decisão de 13.08.2004. TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO (TJSP). 9ª Câmara de Direito Privado. Apelação Cível n. 9103963-90.2008.8.26.0000. Julgamento em 12 ago. 2008. TJSP; AC 1025481-13.2015.8.26.0554; Relatoria: Barreta da Silva; Data de julgamento: 28/06/2016. TJSP; AC Nº 1007161-38.2019.8.26.0597; Relatoria: Cristina Medina Mogioni; 02/06/2021. https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/4996 683c4b8ade62a98732a64961d3d71714b11b9166032ab11dc9aa3e3f30d70072.pdf ad6b49d09a0240350c5db7d2157df939568d3eb5c68d088c64f5bb9d101328c9.pdf 683c4b8ade62a98732a64961d3d71714b11b9166032ab11dc9aa3e3f30d70072.pdf BANCA EXAMINADORA