Buscar

Cap. 1_Cardim_A moeda e o sistema monetário

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 15 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 6, do total de 15 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 9, do total de 15 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

A MOEDA 
E O SISTEMA 
MONETÁRIO
I n t r o d u ç ã o
O primeiro objetivo deste capítulo é definir o que é moe­
da, identificar as suas funções e características essen­
ciais. A moeda deve desempenhar as funções de meio de 
troca, unidade de conta e reserva de valor. Para tanto, 
deve possuir algumas características físicas e econômi­
cas que possibilitam o desempenho de tais funções. Pos­
teriormente, mostra-se que não somente o Banco Central, 
mas também os bancos comerciais podem criar moeda. 
Define-se, então, que o conjunto de instituições criadoras 
de meios de pagamento constitui o sistema bancário ou 
monetário de uma economia.
Importantes questões são ainda tratadas no capítu­
lo, entre elas o significado do termo liquidez, que é o atri­
buto que qualquer ativo possui, em maior ou menor grau, 
de conservar valor ao longo do tempo e de poder ser con­
vertido em moeda. Por último, apresentam-se algumas 
definições cujo entendimento é essencial para o bom de­
sempenho em um curso de economia monetária e finan­
ceira. São apresentados os conceitos de base monetária, 
encaixes bancários e operações de redesconto. Todas es­
sas definições são estudadas através de argumentos eco­
nômicos e através do uso de balanços estilizados dos 
bancos comerciais.
1. A MOEDA E SUAS FUNÇÕES
A moeda é um objeto que responde a uma necessidade social decorrente da divisão do 
trabalho. A divisão do trabalho característica da economia capitalista moderna espe­
cializou unidades de produção e indivíduos. Os agentes econômicos se tomaram, as­
sim, extremamente interdependentes. Necessitam fazer inúmeras compras e vendas 
em períodos, às vezes, bastante curtos. Uma sociedade sem moeda teria uma vida 
econômica pouco ágil. O tempo para se concretizar uma transação comercial aumen­
taria demasiadamente, e o desgaste físico e mental para se realizar tal operação seria, 
talvez, insuportável. Por exemplo, diante de uma chuva inesperada, um indivíduo de­
sejoso de adquirir um guarda-chuva e que tivesse um excedente em laranjas teria que 
encontrar alguém que tivesse um excedente de guarda-chuvas e que desejasse trocar, 
naquele momento, uma parcela desse excedente por laranjas. Esse tipo de coincidên­
cias é chamado de coincidência mútua e complementar de necessidades. Elas podem 
ocorrer, mas certamente são raras e sua busca desgasta física e mentalmente os inte­
ressados em transações tão específicas.
As trocas diretas somente seriam eficazes em sociedades com economias primiti­
vas, onde os indivíduos e/ou grupos familiares fossem basicamente auto-suficientes; 
isto é, onde a divisão do trabalho praticamente inexistisse: uma sociedade em que cada 
indivíduo produzisse o que necessita e transacionasse somente quando houvesse um 
excedente, eventual, não-planejado da sua produção. Nessa sociedade, um indivíduo 
não necessita realizar transações para se proteger do frio, para comer, para acender o 
fogo. Quando (e se) a transação do seu excedente produtivo ocorrer, ele pode obter uma 
satisfação extra, além das suas necessidades básicas. O agente não depende da realiza­
ção de uma transação para atender as suas necessidades. A produção individual ou fa­
miliar garante a satisfação de necessidades. As transações, quando realizadas, gerariam 
satisfação extra. Assim, no regime de trocas diretas, uma transação é, ao mesmo tempo, 
venda de uma mercadoria e compra de uma outra.
Em uma economia monetária, os agentes recebem suas remunerações em moe­
da e podem, portanto, fazer planos mais flexíveis. Adquirem liberdade para comprar 
o que desejarem e quando desejarem, em geral, sem qualquer perda de tempo ou o 
desgaste físico e mental com as dificuldades em realizar transações que requerem co­
incidências muito específicas. Quando desejam comprar guarda-chuvas, utilizam 
moeda, que possui aceitação geral a qualquer tempo. A troca com intermediação mo­
netária separa as transações comerciais em operações de compra e operações de ven­
da, permitindo um sistema de trocas indiretas. É muito mais fácil vender mercadorias 
e/ou serviços por moeda e, posteriormente, comprar outras mercadorias e/ou serviços 
pagando em moeda do que trocar coisas diretamente por coisas diferentes. A função 
de intermediário de trocas é uma função básica da moeda. Ao permitir que vendas e 
compras sejam feitas em datas diferentes, a moeda exerce a função de meio de paga­
mento. A moeda possui além desta função, mais duas: unidade de conta e reserva de 
valor. A importância da função meio de troca/meio de pagamento já foi destacada: é a 
função que elimina as fricções das transações comerciais que seriam marcantes em 
sociedades rudimentares.
A função unidade de conta é extremamente importante. Nas sociedades capita­
listas modernas, a divisão do trabalho transformou a produção de mercadorias e ser­
viços em um processo complexo. Por vezes, inúmeras firmas participam da produção 
de uma única mercadoria (automóveis, por exemplo). Assim sendo, é necessário que 
existam instrumentos que coordenem as decisões de produção desses diversos agen­
tes econômicos. São os contratos estabelecidos entre tais agentes que possibilitam a 
refinada coordenação que é necessária entre os participantes desse complexo proces­
so produtivo. Os contratos entre os trabalhadores e as firmas fixam as tarefas que se­
rão desempenhadas, o número de horas da jornada de trabalho, o salário-monetário a 
ser recebido, entre outros quesitos. Os contratos entre as firmas estabelecem as datas 
de entregas de insumos, as suas especificações técnicas, o valor-monetário dos paga­
mentos a serem feitos pelo comprador etc. Os contratos entre as firmas e os bancos fi­
xam o limite de crédito entre as partes, a taxa de juros, os pagamentos mínimos que 
podem ser efetuados pela empresa e muito mais. Percebe-se, assim, que há algo que é 
comum a todos os contratos: a unidade de medida monetária da economia.
Os contratos estabelecem fluxos de mercadorias e/ou serviços contra o paga­
mento em moeda (em uma determinada data). Os contratos não poderiam existir sem 
uma unidade de conta que possibilitasse a determinação da quantidade de unidades 
monetárias que liquidariam as suas obrigações. Conseqüentemente, a divisão acen­
tuada do trabalho e o aumento da produtividade não teriam ocorrido sem um apurado 
sistema de coordenação, que é executado pelo conjunto de contratos de uma econo­
mia. Este, por sua vez, depende da função unidade de conta da moeda para existir. Tal 
função também é essencial para as transações à vista. Elas envolvem um contrato in­
formal de recebimento de um produto e/ou serviço e um pagamento em unidades mo­
netárias. As transações à vista ocorrem, por exemplo, em um restaurante, em um su­
permercado ou, ainda, em um salão de cabeleireiro. O fato de não existir algum docu­
mento assinado não isenta as partes de suas obrigações; o dever da parte que está ob­
tendo a mercardoria e/ou serviço é fazer o pagamento de acordo com a unidade de 
conta estabelecida a priori.
A forma de liquidar uma obrigação contratual (que se refere ao pagamento de 
um número determinado de unidades monetárias) é através do uso da moeda corrente. 
A moeda-de-conta, ou unidade de conta contratual, é a representação intangível da 
moeda; a moeda como meio de troca ou meio de pagamento é sua representação con­
creta. A função moeda-de-troca deriva da função moeda-de-conta. A existência da 
moeda-de-troca é requerida porque se atribuem a todas as mercadorias, serviços e ati­
vos de uma economia valores na forma da moeda-de-conta. A moeda-de-conta que 
aparece no conjunto de contratos estabelece qual será a moeda corrente de uma eco­
nomia. Assim, a moeda é aceita, em geral, por todos em todas as transações. Caso 
existam substitutos perfeitos para a moeda, tal como os depósitos à vista nos bancos 
comerciais (que permitem pagamentos com cheques), tais substitutos também terão a 
propriedade de liquidar dívidas contratuais, e também serão considerados moeda.
A função unidade de conta da moeda,que aparece em todos os contratos de uma 
economia, expressa a idéia de que o valor da quantidade de moeda que é capaz de li­
A MOEDA E 0 SISTEM A MONETÁRIO 3
quidar a dívida estabelecida no contrato, em uma determinada data futura, possuirá 
aproximadamente a mesma capacidade de compra do presente (no momento da assi­
natura do contrato). Portanto, a unidade de conta, enquanto representação de valor 
aos olhos do público, deve ser estável. Conseqüentemente, a moeda pode se tomar 
também reserva de valor. A função reserva de valor decorre da existência de amplos 
mercados futuros e à vista na economia. No momento em que um agente econômico 
recebe recursos na forma monetária, ele ganha o direito de reter poder de compra, em 
tese, indefinidamente sem temer perdas. A função reserva de valor dá ao detentor de 
moeda a possibilidade, de reter recursos por períodos longos sem que tal atitude lhe 
imponha qualquer custo (de carregamento). Contrariamente, em uma economia em 
estado hiperinflacionário, a moeda perde esta função de reserva de valor. Reter moe­
da nessa economia seria uma atitude custosa ao agente detentor, pois a moeda perde­
ria poder de compra ao longo do tempo. Em uma economia hiperinflacionária, rique­
za em forma monetária perde poder de compra na mesma proporção da variação dos 
preços.
1.1. A S CARACTERÍSTICAS FÍSICAS 
E ECONÔMICAS DA MOEDA
Para desempenhar suas três funções, a moeda deve possuir algumas características 
que são essenciais. Características físicas e econômicas são necessárias ao desempe­
nho das funções meio de troca, unidade de conta e reserva de valor. Como foi dito, a 
unidade de conta que aparece nos contratos se toma moeda corrente, mas para isso é 
necessário que este “objeto” que será moeda corrente possua os seguintes atributos 
econômicos: custo de estocagem e custo de transação negligenciáveis (aproximada­
mente nulo). O trigo, por exemplo, tem reduzidas chances de se tomar moeda em uma 
economia desenvolvida porque o seu custo de estocagem não é desprezível e seu cus­
to de transporte ao mercado (custo de transação) pode ser elevado. O trigo, o sal, a 
soja, dentre outros, se eleitos socialmente como moeda, onerariam em demasia seus 
possuidores.
A moeda deve também possuir determinadas características físicas. Deve ser 
divisível, durável, difícil de falsificar, manuSeável e transportável. A divisibilidade é 
necessária porque a moeda deve poder ser fracionada em múltiplos e submúltiplos, 
para que as transações que exigem valor fracionado ou transações que movimentem 
grandes valores sejam realizadas sem custos adicionais. A moeda deve ser durável, 
isto é, deve manter suas características físicas, para que a sua condição de ser aceita 
de forma generalizada seja mantida e não prejudique o seu último detentor. A moeda 
deve ser, na medida do possível, difícil de falsificar - já que tal característica aumenta 
a confiança do público de que não há reprodução indevida - auxiliando conseqüente­
mente a sua aceitação generalizada. A moeda deve ser manuseável e transportável, 
para que a função meio de troca não seja prejudicada, impondo ao seu detentor custos 
de transação.
Quando uma moeda possui as características físicas que são essenciais, po- 
de-se dizer que está habilitada a desempenhar as suas três funções típicas: meio de
4 CAPÍTULO 1
troca, unidade de conta e reserva de valor. Contudo, possuir tais características 
não garante necessariamente o desempenho das funções. Por exemplo, no Brasil, 
durante o período de inflação alta e crônica, a moeda oficial não era utilizada 
como unidade de conta do sistema de contratos. Ademais, somente para períodos 
bastante curtos (três dias ou, no máximo, uma semana) a moeda desempenhava a 
função de reserva de valor. A moeda oficial era somente meio de troca. Com a ins­
tituição do Real, em 1994, e o fim do processo inflacionário, a moeda oficial recu­
perou todas as suas funções.
Por último, cabe ressaltar que, com o agudo desenvolvimento tecnológico, par­
ticularmente nos campos da informática e telecomunicações, as características neces­
sárias ao bom desempenho das funções típicas da moeda podem existir em objetos de 
diferentes formas, especialmente em cartões magnéticos e microchips. Assim, esses 
objetos podem ser transformados no chamado dinheiro eletrônico. O cartão de débito 
automático em conta corrente é hoje a forma mais comum de dinheiro eletrônico. Há 
uma tendência mundial de redução de operações com recursos monetários físicos em 
favor de operações eletrônicas. Os pedágios em estradas e as compras em supermer­
cados, entre muitos outros, podem ser facilmente pagos com a utilização de dinheiro 
eletrônico.
2. A CRIAÇÃO DE MEIOS DE PAGAMENTO 
E O SISTEMA MONETÁRIO
A moeda de uma economia, ou seja, o conjunto de meios de pagamento, consiste na 
totalidade de ativos possuídos pelo público que pode ser utilizada a qualquer momen­
to para a liquidação de qualquer compromisso futuro ou à vista. Sendo assim, os mei­
os de pagamento (MP) somam mais do que o papel-moeda (e a moeda metálica) em 
poder do público (PMPP)\ englobam também os depósitos à vista nos bancos comer­
ciais (DVbc). Então:
MP = PMPP + DVbc.
O papel-moeda (e a moeda metálica) em poder do público {PMPP) também é 
chamado de moeda manual. Os depósitos à vista nos bancos comerciais (DVBC) são 
# chamados de moeda escriturai Logo, pode-se dizer que a soma da moeda manual com 
a moeda escriturai de uma economia é igual aos seus meios de pagamento, isto é:
MP = Moeda Manual + Moeda Escriturai.
Os saldos de cartões de crédito não são considerados meios de pagamento por­
que são tidos apenas como um meio de se obter crédito, que deverá ser honrado em
A MOEDA E 0 SISTEM A MONETÁRIO 5
moeda escriturai ou manual em uma data futura. Como será visto, ainda neste capítu­
lo, nem toda criação de crédito significa criação de moeda e o pagamento feito através 
do uso de um cartão de crédito significa tão-somente a obtenção de crédito sem qual­
quer criação de moeda.
O Banco Central tem o poder instituído legalmente para emitir papel-moeda. 
Entretanto, nem todo o papel-moeda emitido (PME) transforma-se em PMPP. O 
PME menos a caixa do Banco Central (CBC) é igual ao montante de papel-moeda em 
circulação (PMC), ou meio circulante. Os bancos comerciais retêm parte do PMC, 
para fazer seu caixa. Assim, o PMC menos o encaixe total dos bancos comerciais (E,) 
é que é igual ao PMPP. Então:
P M E -C bc = PMC
P M C -E , = PMPP 
PME = CBC + E t + PMPP.
2.1. A CRIAÇÃO DE MOEDA ESCRITURAL
Os bancos comerciais são instituições autorizadas pelo Banco Central a receber 
depósitos à vista. Se uma instituição está autorizada a receber depósitos à vista, 
que são geralmente aceitos para liquidação de pagamentos, verdadeiramente ela 
está autorizada a criar moeda escriturai. Quando um indivíduo toma um emprés­
timo junto a um banco, essa instituição realiza uma operação contábil de criação 
de depósitos à vista. Para conceder um crédito no valor de 5.000 unidades mone­
tárias (u.m.), o banco lança no lado do ativo do seu balancete “empréstimo no 
valor de 5.000 u.m.”. No lado do passivo, lança “depósito à vista no valor de
5.000 u.m.”. O banco simplesmente abre uma conta corrente com saldo no valor 
do empréstimo concedido e emite um talão de cheques para uso do devedor. O 
banco, ao conceder o crédito, criou meios de pagamento. O talão de cheques em 
posse do devedor, em si, não é moeda, mas lhe dá o direito de usar o valor de
5.000 u.m. para fazer pagamentos, exatamente como poderia fazer se tivesse em 
mãos moeda manual. O banco pode criar depósitos à vista com uma simples ope­
ração contábil porque nem todos aqueles que possuem direito de saque irão 
exercer esse direito simultaneamente. Este mecanismo será estudado, em deta­
lhes, no Capítulo 20. Por ora, basta apontar que há um índice estatisticamente 
considerado seguro da relação entre reservas em moeda que um banco deve pos­
suir para atender as operações de saque e os depósitosà vista existentes. Logo, o 
montante de depósitos à vista pode ser muito maior que o montante de reservas 
bancárias em moeda. Essa é a explicação de como um banco pode criar depósitos 
à vista, ou seja, como pode criar moeda. O Quadro 1.1 mostra como esta opera­
ção é contabilmente realizada.
6 CAPÍTULO 1
QUADRO 1.1
Uma Operação Contabil-Bancaria de Concessão de Crédito 
e de Criação de Meios de Pagamento
B a l a nc e t e Es t i l i z ad o do B an c o C ome r c i a l
Ativo Passivo
(1) Empréstimos novo 5.000 u. m.
(2) Saldo das demais contas
Depósitos à vista novo 5.000 u. m. (3) 
Saldo das demais contas (4)
Total do Ativo = (1) + (2) Total do Passivo = (3) + (4)
O sistema formado pelas instituições que podem criar moeda é chamado de sis­
tema monetário. Então, o sistema monetário (ou sistema bancário) de uma economia 
é formado pelos seus bancos comerciais e pelo seu Banco Central. Os primeiros 
criam moeda escriturai, o último cria moeda manual. As demais instituições financei­
ras não-autorizadas a receber depósitos à vista, tais como bancos de desenvolvimen­
to, bancos de investimento, sociedades de poupança (cadernetas de poupança), for­
mam o sistema financeiro não-monetário.
3 . O S AGREGADOS MONETÁRIOS 
E O CONCEITO DE LIQUIDEZ
As autoridades monetárias (o Banco Central) emitem papel-moeda. Contudo, somente 
parte da quantidade dos recursos emitidos se encontra em poder do público; uma parce­
la se encontra no interior do próprio Banco Central e outra parcela está no interior dos 
bancos comerciais. A rigor, dentre o total emitido pelo Banco Central, apenas o valor 
que vai para o caixa dos bancos e para as mãos do público não-bancário é que se consti­
tui em emissão monetária. O que permanece no caixa do Banco Central não é, legal­
mente, moeda. As emissões de moeda são um item do passivo do Banco Central em 
favor dos bancos ou do público não-bancário. Nenhuma instituição emite passivos a 
seu próprio favor, por isso, papel pronto a ser lançado como moeda, mas que ainda não 
tenha sido, é apenas papel, não moeda. Assim, a quantidade de moeda manual é menor 
do que a quantidade de papel-moeda criada pelo Banco Central. É importante notar que 
somente se considera moeda manual a quantidade de recursos emitidos que não está no 
interior do sistema monetário, ou seja, a quantidade que efetivamente está em poder do 
público não-bancário.1 Cabe ressaltar ainda que, a estatística da quantidade de PMPP 
engloba os recursos que estão em posse dos governos (central, regional e local), assim 
como das instituições financeiras não-monetárias, dentre outras.
1. Estas relações já foram apresentadas nas equações: P M E - C BC = P M C e P M C - E t - P M P P .
A MOEDA E 0 SISTEM A MONETÁRIO 7
A capacidade de demanda de produtos e serviços de uma sociedade é, a princí­
pio, representada pela soma da quantidade de moeda manual com a de moeda escritu­
rai presente na economia. Entretanto, tem se tomado díficil precisar com exatidão a 
capacidade potencial de demanda do público, porque existem ativos financeiros que 
podem ser convertidos em moeda com um custo de transação desprezível e em tempo 
bastante curto. Tais ativos são, por exemplo, os depósitos a prazo que possuem for­
mas, regras de aplicação e remunerações diversas. Em princípio, um depósito a prazo 
não poderia ser resgatado a qualquer data. Contudo, como estão lastreados em ativos 
financeiros que possuem um mercado secundário (de revenda) organizado, tais ativos 
podem ser revendidos e o detentor do depósito a prazo pode transformá-lo em depósi­
to à vista (em tempo bastante curto e com algum custo, em geral, inferior à remunera­
ção auferida).
Os meios de pagamento (PMPP + DVBC) são ativos com plena liquidez, isto é, 
desempenham em sua plenitude a função reserva de valor e podem, em qualquer mo­
mento, liquidar dívidas estabelecidas em contratos formais ou obrigações advindas 
de transações realizadas em mercados à vista. Todo ativo que possui essas caracte­
rísticas especiais é considerado moeda. A liquidez, portanto, é o atributo que qual­
quer ativo possui, em maior ou menor grau, de (i) conservar valor ao longo tempo e 
(i'i) ser capaz de liquidar dívidas.
Nos Estados Unidos, os títulos emitidos pelo Tesouro são ativos considerados 
líquidos porque conservam valor e podem ser facilmente convertidos em dólares com 
o intuito de liquidar dívidas. Em contraste, um bem de capital é geralmente considera­
do um ativo ilíquido porque seu valor de revenda pode estar muito abaixo do valor 
original de aquisição e dificilmente será convertido em moeda, com o objetivo de sal­
dar compromissos, dada a dificuldade de haver potenciais demandantes. Uma ques­
tão importante deve ser observada. Há uma tendência recente dos mercados financei­
ros de criação de ativos com alta liquidez, o que toma quase equivalente possuir um 
depósito a prazo lastreado nesses ativos ou um depósito à vista, com a vantagem de 
que o primeiro paga juros ao seu detentor. O Box 1.1 apresenta uma taxonomia de ati­
vos segundo graus de liquidez.
As estatísticas de diversos agregados monetários e financeiros são, dessa for­
ma, necessárias. São úteis, por exemplo, para se avaliar qual a força dos agentes 
econômicos para gerar inflação devido a sua capacidade de demanda. Com essas es­
tatísticas, pode-se saber qual é o portfólio (carteira de ativos) do público em cada 
momento. Podem ser definidas inúmeras estatísticas dessa natureza. Em geral, defi­
ne-se como meios de pagamento a soma do papel-moeda em poder do público com 
o total de depósitos à vista. Tal estatística é chamada de M l. A soma de M l com o 
total de depósitos a prazo, mais os títulos públicos, é denominada M2. A soma de 
M2 com o total dos depósitos de poupança é a estatística M3. A soma de M3 com-os 
títulos privados em poder do público é chamada de M4. O Box 1.2 resume essas es­
tatísticas, segundo o Banco Central do Brasil.
8 CAPÍTULO 1
O economista inglês John R. 
Hicks, em seu livro Criticai Essays 
in M onetary Theory, publicado 
pela editora da Universidade de 
Oxford em 1967, classificou os 
ativos da economia, segundo os 
seus graus de liquidez, em três 
categorias:
At/Vos plenamente líquidos. 
Incluem a moeda e quaisquer 
outros ativos que possam, even­
tualmente, ser convertidos em 
moeda sem perda de tempo e a 
uma taxa de conversão fixa e co­
nhecida. Assim, ativos plena­
mente líquidos são todos aqueles 
objetos que são reserva de valor 
e que podem ser utilizados para 
cumprir obrigações contratuais e 
realizar transações à vista. Por 
exemplo, os depósitos à vista 
(que podem ser transferidos em 
pagamento através de cheques 
ou com cartões de débito).
Ativos líquidos. Incluem, en­
tre outros, títulos públicos, ouro e 
obras de arte. Estes objetos são 
transacionados em mercados bem 
organizados, isto é, mercados cu­
jos local e horário de funciona­
mento são conhecidos e possuem 
uma quantidade bastante ampla 
de potenciais demandantes. Quan­
do um indivíduo adquire um ativo 
líquido, é porque possui planos 
de revenda. Sabe que incorrerá 
em algum custo de manutenção 
e/ou carregamento do ativo, mas 
espera obter ganhos na venda do 
ativo que sejam superiores a es­
ses custos.
Ativos ilíquidos. Os mais im ­
portantes são as máquinas (ativos 
de capital) adquiridas pelas em­
presas e os bens duráveis deman­
dados por consumidores. As em­
presas demandam tais objetos 
porque esperam obter lucros com­
pensadores com a venda das mer­
cadorias que suas máquinas pro­
duzem. Os consumidores adqui­
rem bens duráveis porque objeti­
vam aumentar a sua satisfação 
com o fluxo de serviços que tais 
objetos podem gerar durante pe­
ríodos mais longos. Quando um 
ativo ilíquido é adquirido, seu pos­
suidor não possui planos de re­
venda. Tais ativos são transacio­
nados em mercados pobremente 
organizados. Em geral, quando se 
consegue revendê-los, seus pre­
ços estão muito aquém dos pre­
ços de aquisição.
Paul Davidson, em seu livro 
Money and the Real World, publi­cado pela Macmillan em 1972, 
ressaltou que certamente as fron­
teiras entre essas classes de ativos 
não são claras, absolutas e im utá­
veis ao longo do tempo. O grau 
de liquidez de um ativo depende 
do grau de organização do mer­
cado onde é transacionado, o que, 
por sua vez, depende das caracte­
rísticas do mercado. As práticas 
sociais e a existência de institui­
ções determinam, em última ins­
tância, o grau de liquidez de um 
ativo. A própria moeda pode dei­
xar de ser considerada um ativo 
plenamente líquido. Em economi­
as com hiperinflações agudas, tal 
como a alemã no início da déca­
da de 1920, a moeda nacional, o 
marco, deixou de ser aceita como 
intermediária de trocas, reserva 
de valor e unidade de conta. A 
moeda perdia liquidez na mesma 
velocidade em que a inflação au­
mentava. A inflação alemã, ape­
nas no mês de outubro de 1923, 
foi de aproximadamente 29.500%.
A MOEDA E 0 SISTEMA MONETÁRIO
Em regimes de alta inflação, tal como ocorreu no Brasil até 1994, M l tende a ser 
bastante reduzido em relação a M2, M3 e M4, porque o público tendeu a abandonar os 
depósitos à vista em favor de aplicações em fundos lastreados em títulos, públicos e 
privados, incluídos nos agregados M2 a M4. Com a estabilização, por outro lado, M2, 
por exemplo, se reduziu e M l aumentou. A análise da relação M1/M2 foi necessária 
para auxiliar o cálculo do processo de remonetização da economia brasileira no inicio 
do Plano Real. Monetizar significa elevar o estoque de meios de pagamento de uma 
economia. O Box 1.3 informa onde podem ser encontradas as estatísticas de agrega­
dos monetários e financeiros da economia brasileira; e o Box 1.4 mostra a evolução 
de M l e M2 durante o ano de 1994, o ano de implementação do Plano Real.
A S E S T A T ÍS T IC A S m o n e t a r i a s
M l = PMPP + DVbc
M2 = M l + depósitos à prazo + títulos públicos 
M3 = M2 + depósitos de poupança 
M 4 = M3 + títulos privados 
Fonte: Banco Central do Brasil
AS e s t a t í s t i c a s m o n e t a r i a s
DA E C O N O M IA B R A S I L E I R A
O Banco Central do Brasil divulga 
diversas estatísticas de agregados 
monetários. São divulgadas pelo 
Boletim do Banco Central, que é 
publicado mensalmente, e po­
dem ser acessadas, também, via
Internet (o endereço é h ttp :// 
www.bcb.gov.br). São divulgados 
mensalmente o total de meios de 
pagamento, as estatísticas de M2, 
M 3 e M 4, entre muitas outras.
4. A BASE MONETÁRIA, OS ENCAIXES 
E O REDESCONTO
A base monetária (B) é a soma do papel-moeda em poder do público (PMPP) com o 
total de reservas dos bancos comerciais (Et). A base monetária é, então, igual ao total 
de moeda colocada em circulação pelo Banco Central. É, por vezes, chamada de esta­
tística MO (eme zero). Então:
B = PMPP + E,= PMC.
10 CAPÍTULO 1
A E V O LU Ç Ã O DE M l E M 2 EM 1994
Antes do Plano Real Após o Plano Real
Distribuição dos Agregados Jan/94 Distribuição dos Agregados Dez/94
É importante lembrar que:
PMC = PME - CBC 
P M C -E ,= PMPP.
Os bancos comerciais mantêm reservas (ou realizam encaixes) para poderem 
honrar seus compromissos com o público e, conseqüentemente, gerar confiança na 
conversibilidade dos seus depósitos. Os bancos realizam dois tipos de encaixes. 
Aqueles que são impostos externamente, ou encaixes compulsórios; e aqueles que 
são decididos internamente, ou encaixes de negócios.
A MOEDA E 0 SISTEMA MONETÁRIO 11
As reservas compulsórias (Ec) são determinadas pelas autoridades monetárias, 
que estabelecem um percentual dos depósitos à vista a ser recolhido ao Banco Central 
na forma de moeda. Historicamente, essa obrigação tem sido exigida por regulamen­
tação das autoridades monetárias, objetivando mostrar ao público que os bancos são 
capazes de saldar seus compromissos com os clientes e, assim, evitar pânicos e corri­
das de saques contra os mesmos. As reservas de negócios (En) são de outra natureza. 
São decididas pelos próprios bancos para que possam operar diariamente. Em verda­
de, os bancos buscam manter a razão encaixes de negócios/depósitos à vista em um 
determinado intervalo que consideram seguro, que garante a manutenção das suas 
operações de saques quotidianamente. Então as reservas totais (Et) dos bancos são re­
presentadas pela seguinte adição:
e , = e c + e .
Os encaixes de negócios podem ainda ser divididos em dois montantes. Uma 
parte desses recursos é mantida no interior das agências bancárias para cobrir diferen­
ças entre saques e depósitos que, porventura, possam ocorrer. A outra parte é enviada 
para a câmara de compensação de cheques e visa a cobrir eventuais diferenças entre 
cheques emitidos a favor e contra o banco. Assim como, em uma parte do dia, podem 
ocorrer mais saques do que depósitos nas agências de um determinado banco, em um 
determinado dia, podem ocorrer mais cheques emitidos contra esse banco (saques) do 
que cheques emitidos a favor (depósitos).
Quando os bancos encontram-se em dificuldades, por exemplo, quando a razão 
reservas de negócios/depósitos à vista está muito baixa, podem pedir auxílio ao 
Banco Central. Genericamente, tem-se chamado tal auxílio de operação de redes­
conto. Contudo, é necessário distinguir uma operação propriamente dita de redes­
conto de uma operação de concessão de crédito. O resdesconto ocorre quando o 
Banco Central compra títulos de um banco. Esta é uma operação de crédito, colate- 
ralizada por um ativo financeiro. O Banco Central empresta ao banco tomador um 
valor inferior ao do ativo dado em garantia. Quando o banco for saldar o empréstimo, 
recomprará o ativo pelo seu valor pleno. A diferença entre os dois valores exprime a 
taxa de redesconto, isto é, o custo para o tomador do empréstimo feito pelo Banco 
Central. A aquisição de títulos por parte do Banco Central expande, a princípio, os en­
caixes de negócios do banco que necessitou ser socorrido. O processo alternativo é, 
simplesmente, um empréstimo direto do Banco Central ao banco que se encontra em 
dificuldade. A função do Banco Central conhecida como emprestador de última ins­
tância é exercida através dessas operações. Tal função será apresentada no Capítulo 6 
e detalhada no Capítulo 7.
Um ponto crucial dessas operações é a determinação da taxa (de juros) de redes­
conto que pode ser fixada em um patamar punitivo. Uma taxa punitiva é aquela que é 
maior do que a taxa de juros que remunera os ativos que o banco socorrido possui. A 
compra por parte do Banco Central de títulos (ou a concessão de um empréstimo) 
com taxas punitivas desestimula o banco que recebeu o auxílio a manter a posse dos
12 CAPÍTULO 1
ativos cuja compra reduziu as suas reservas. Assim, haveria um incentivo à venda 
desses ativos e, conseqüentemente, a recomposição de reservas para um patamar 
mais seguro. A manutenção desses ativos em carteira transformaria tal estratégia em 
uma posição que geraria perdas cumulativas por parte do banco que estaria pagando 
taxas de juros punitivas ao Banco Central.
5 . O BALANCETE DOS BANCOS COMERCIAIS 
E A CRIAÇÃO DE CRÉDITO E MOEDA
Os bancos possuem as seguintes fontes de recursos: os recursos próprios ou patrimônio 
líquido, os depósitos à vista e a prazo, os empréstimos tomados no exterior, os auxílios 
do Banco Central (redescontos e empréstimos) e outras fontes menos importantes. Esse 
é o passivo bancário. O ativo dos bancos (suas aplicações) é constituído principalmente 
por: empréstimos ao setor privado, encaixes, títulos públicos e privados, imobilizado 
bancário (ou seja, suas instalações físicas) e outras aplicações de menor relevância. O 
Quadro 1.2 mostra de forma estilizada o balancete dos bancos comerciais.
QUADRO 1.2
Balancete Estilizado de um Banco Comercial
Ativo Passivo
(1) Empréstimos
(2) Reservas bancárias
(3) Títulos públicos e 
privados
(4) Imobilizado
(5) Outras aplicações
Passivo Monetário 
Depósitos à vista (6)
Passivo Não-monetário 
Depósitos a prazo (7) 
Empréstimos do exterior (8) 
Redescontos e empréstimos (9) 
Outras fontes (11)
Total doAtivo Total do Passivo
O mecanismo de criação de moeda por parte dos bancos comerciais já foi apre­
sentado anteriormente. Entretanto, devido a sua importância, repete-se tal explicação 
com novos detalhes. Agora, pode-se refletir sobre tal operação já tendo conhecimento 
das principais aplicações e fontes dos bancos comerciais. Quando um banco concede 
um empréstimo a um cliente, realiza uma operação meramente contábil no seu balan­
ço. O banco abre uma conta corrente em nome do seu cliente-tomador do empréstimo 
e realiza todos os procedimentos regulares, tais como a emissão do talão de cheques e 
do cartão de pagamento (ou cartão de débito). Faz um lançamento na conta depósitos 
à vista no valor do empréstimo (do lado do passivo) e faz um lançamento de mesmo
A MOEDA E 0 SISTEMA MONETÁRIO 13
valor na conta empréstimos (do lado do ativo). A conversibilidade dos depósitos à 
vista em meio circulante, se desejada, é suposta pelos demais agentes econômicos, 
sem qualquer dúvida. Por isso, estes aceitam liquidar dívidas e vender mercadorias 
e/ou serviços recebendo em contrapartida a titularidade sobre um depósito.
Um banco, portanto, ao conceder crédito, criou depósitos à vista, criou moeda 
escriturai. É importante destacar que não é necessário que um banco receba depósitos 
anteriormente à operação de empréstimo para que possa realizar tal operação: basta 
que seja autorizado pelo Banco Central a receber (criar) depósitos à vista e os certifi­
cados desses depósitos (seus cheques e seu cartão de débito) gozem de credibilidade 
perante os demais agentes. É importante ressaltar, ainda, que toda vez que um banco 
concede crédito está criando moeda. Contudo, crédito pode ser concedido por qual­
quer agente econômico. Um estabelecimento comercial que aceita parcelar suas ven­
das com cheques pré-datados concede crédito. Uma mercearia que aceita que seus 
clientes paguem seus gastos ao final de cada mês concede crédito. Entretanto, somen­
te a concessão de crédito bancário é criação de moeda.
R e s u m o
1. Em condições ideais, a moeda oficial de uma economia deve possuir três funções. A fun­
ção meio de troca é decorrente da acentuda divisão do trabalho que é uma das mais impor­
tantes características das economias capitalistas modernas. O sistema de contratos é 
necessário para coordenar a produção realizada sob tais condições. A função unidade de conta 
é necessária para que contratos sejam firmados entre as partes. A função reserva de valor 
concede ao agente detentor de moeda a liberdade para adiar gastos e/ou reniciá-los.
2. E considerado moeda em uma economia todo ativo capaz de liquidar quaisquer dívidas 
contratuais futuras ou à vista. Portanto, todo ativo com plena liquidez é considerado moe­
da, isto é, meio de pagamento. A liquidez é o atributo que qualquer ativo possui, em maior 
ou menor grau, de conservar valor ao longo do tempo e de ser capaz de liquidar dívidas.
3. O conceito de base monetária é equivalente ao conceito de papel-moeda posto em circula­
ção pelo Banco Central. A base monetária é, portanto, o somatório do papel-moeda em po­
der do público com o total de reservas dos bancos comerciais. Os bancos mantêm reservas 
compulsórias e de negócios. Quando um banco está em dificuldade em virtude da falta de 
reservas, o Banco Central pode socorrê-lo através de operações de redesconto de títulos 
e/ou empréstimos diretos.
4. Quando um banco concede um empréstimo, realiza uma operação meramente contábil no 
seu balancete. Faz um lançamento na conta “depósitos à vista” no valor do empréstimo 
(do lado do passivo) e faz um lançamento de mesmo valor na conta “empréstimos” (do 
lado do ativo). Assim, os agentes econômicos aceitam liquidar dívidas recebendo em con­
trapartida a titularidade sobre um depósito à vista. Um banco, portanto, ao conceder crédi­
to, criou meios de pagamento, criou moeda escriturai.
5. Os bancos comerciais e as autoridades monetárias podem, portanto, criar meios de pa­
gamento. O Banco Central cria a chamada moeda manual. Os bancos comerciais criam a 
moeda escriturai. Sendo assim, o sistema financeiro pode ser dividido em dois grandes 
blocos: (a) sistema monetário, que é formado pelas instituições que criam meios de paga­
mento e (b) sistema não-monetário, que é formado pelas instituições financeiras que não 
estão autorizadas a receber depósitos à vista (isto é, que não podem criar moeda).
14 CAPÍTULO 1
TERMOS-CHAVE
■ Moeda ■ Meio de Troca ■ Unidade de Conta
■ Reserva de Valor ■ Contratos Futuros ■ Meios de Pagamento
■ Depósitos à Vista ■ Moeda Manual ■ Moeda Escriturai
■ Reservas Bancárias ■ Crédito ■ Liquidez
■ Base Monetária ■ Redesconto/Empréstimos ■ Agregados Monetários
■ Sistema Financeiro ■ Sistema Monetário ■ Sistema Não-monetário
Q u e s t õ e s p a r a d is c u s s ã o
1. Discuta o que pode acontecer com o sistema de contratos de uma economia capitalista mo­
derna se: (a) a sua unidade de conta oficial passa a ter valor instável em virtude da emer­
gência de um processo inflacionário crônico; e (b) se, sob as condições do item a, o 
governo proíbe a assinatura de contratos indexados ou que utilizem unidades de conta 
não-oficiais.
2. Discuta o grau de liquidez dos seguintes ativos: (a) o dólar americano em um país com re­
gime de câmbio flutuante e instável; (b) títulos públicos em uma economia com inflação 
alta, crônica e indexada; e (c) um quilo de feijão em uma economia onde predomina o co­
mércio paralelo desse produto em virtude de um tabelamento oficial de preços.
3. Se um banco comercial pode criar meios de pagamento por intermédio de uma mera opera­
ção contábil, então, um banco pode realizar empréstimos sem ter recebido anteriormente 
quaisquer depósitos à vista. Sendo assim, discuta a possibilidade teórica de um banco ser 
aberto sem qualquer capital inicial. Será isto teoricamente possível?
B ib l i o g r a f ia c o m e n t a d a
Galbraith, J.K. (1997). Moeda: de onde veio, para onde foi. São Paulo: Editora Pioneira.
Keynes, J.M. (1971 a 1989). Treatise on Money. In: The Collected Writings o f John 
Maynard Keynes, coleção em 30 volumes, volume V. Moggridge, D. (editor). London: Mac­
millan.
No primeiro capítulo, Keynes mostra que a moeda e o sistema de contratos de uma econo­
mia estão intimamente e inevitavelmente relacionados. Ressalta a importância da função unida­
de de conta para o entendimento do que deve ser considerado como moeda em uma economia. 
Tal abordagem é bastante distinta das visões que explicam a existência da moeda como decor­
rência exclusiva da necessidade de um intermediário de trocas na economia capitalista.
Tobin, J. (1992). Money. In: The New Palgrave Dictionary o f Money and Finance. 
Newman, P., Milgate, M. & Eatwell (editors). London: Macmillan.
Em um verbete, criativo e que confronta idéias divergentes, vários aspectos sobre o 
tema moeda são abordados. Alguns estão relacionados diretamente com o conteúdo deste ca­
pítulo, tais como a moeda como uma convenção social e as funções da moeda. Outros vão 
além do seu escopo, entre eles a teoria quantitativa da moeda e a sua neutralidade (que serão 
abordados nos capítulos posteriores deste livro).
A MOEDA E 0 SISTEMA MONETÁRIO 15

Outros materiais