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ÉTICA - apostila

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Fundamentos de Ética Filosófica
“Esta investigação diz respeito ao que há de mais importante: viver para o bem, ou viver para o mal.”.
Platão, A República, 578 c.
1 Noções preliminares.�
	1.1-Definição: “A Ética Filosófica ou Filosofia Moral é a parte da Filosofia que estuda a vida moral do homem, seu comportamento livre”.
	A Ética é uma disciplina filosófica, ou seja, uma investigação racional e sistemática que estuda o seu objeto próprio (a vida moral) a partir de uma perspectiva de totalidade, e com o propósito de clarificar seus aspectos mais profundos e universais, o que implica uma distinção com relação ao conhecimento moral espontâneo, às disciplinas teológicas e às ciências positivas.
Distinções: 
relativas ao conhecimento moral espontâneo: o conhecimento moral espontâneo é parte integrante da vida moral, e como tal, é antes de tudo uma realidade vivida, uma dimensão essencial da existência humana. Todo homem tendo estudado ou não Ética, protagoniza cotidianamente uma existência moral, e possui um conjunto de idéias e critérios de acordo com os quais toma determinadas decisões relativas ao seu comportamento concreto e à direção de sua vida (p. ex.: Que tipo de pessoa quero ser?), e de acordo com os quais julga também o comportamento e a vida dos demais. A Ética Filosófica é, ao contrário, uma reflexão sistemática e criticamente elaborada, que nem todo homem realiza. A Ética pretende esclarecer filosoficamente a essência da vida moral e as relações fundamentais nelas implicadas, com o propósito de formular normas e critérios de juízo que possam constituir uma orientação válida para o exercício responsável da liberdade pessoal. Obviamente, a vida moral e o conhecimento ético espontâneo constituem o ponto de partida e a fonte principal da reflexão ético-filosófica.
Apesar de ambos saberes possuírem o mesmo objeto, a distinção subsiste, pois a verdade acerca da vida moral cada um deles alcança de maneira diversa, como acontece em outras áreas do conhecimento. Por exemplo, um camponês e um especialista em metereologia alcançam de forma bastante distinta o conhecimento das chuvas e outros fatores climáticos, como poderão de formas diversas justificar suas previsões climáticas.
relativas à Teologia Moral: a Teologia Moral além de incluir tudo o que a razão nos ensina acerca da vida moral, contém também o que ensina a Fé, luz intelectual superior à razão, fundamentada na Revelação divina. 
relativas às ciências positivas (Psicologia e Sociologia): a distinção se dá pela perspectiva de totalidade e pelo grau de profundidade que é próprio da ética Filosófica. “Filosofar significa refletir sobre o significado último e profundo da totalidade do que no vem ao encontro” ·. A pergunta filosófica não exclui nenhuma dimensão da realidade. Não se pode responder a essa pergunta sem falar de algum modo da totalidade do real: do mundo, do homem e de Deus. Isto não quer dizer que a Filosofia seja uma enciclopédia de todas as ciências, nem tão pouco que esteja condenada a permanecer no vago e abstrato. Significa, no entanto, que deseja levar o ideal de inteligibilidade à sua mais plena realização. A um médico é lícito falar da morte sob um ponto de vista muito particular, com relação exclusiva aos parâmetros proporcionados por um eletroencefalograma, por exemplo. A morte de um ser humano propõe a um filósofo questões mais profundas e universais, porém não mais vagas, nem menos interessantes para o homem comum. A perspectiva de totalidade não é, pois, conseqüência da abstração, senão do grau de profundidade e da compreensão filosófica.
1.2-Etimologia:
	O termo “ética” procede do vocábulo grego “” (êthos) que significa caráter, modo de ser. Aristóteles adverte que ethos procede de “” (ethos), que se traduz por “hábito” ou “costume”�. Isso nos permite precisar que o caráter ou modo de ser do qual aqui falamos não é o temperamento ou a constituição psicobiológica inata, senão a forma de ser que a pessoa adquire para si mesma ao longo de sua vida, através do hábito, que é bom (virtude) ou mau (vício). Aristóteles, na Metafísica e em outros tratados filosóficos, diz que a Ética é um tratado “não teórico como os outros (pois não investigamos para saber o que é a virtude, senão para sermos bons, já que em outro caso seria totalmente inútil), e por isso temos que considerar aquilo que é relativo às ações, e o modo de realizá-las: são elas, com efeito, que determinam a qualidade dos hábitos”�. 
	A etimologia do vocábulo “Ética” nos permite completar a noção de Ética com dois novos aspectos. Por um lado, a Ética é um tratado prático, porque se refere às ações humanas e a vida moral não só para conhecê-las, mas principalmente para dirigi-las. Por outro lado, a Ética considera as ações humanas em sua relação com o modo de ser (ethos) que a pessoa adquire através delas. Podemos dizer então que o âmbito da realidade estudado pela Ética está constituído pela pessoa humana, considerada diretamente não em seu ser físico ou psicológico, mas no seu ser e na configuração boa (virtuosa) ou má (viciosa) que se dá a si mesma mediante suas ações.
2 O objeto da Ética.
	2.1 Objeto material: - Chama-se de objeto material de uma disciplina científica a realidade ou o conjunto de realidades que constituem seu objeto de estudo. Vimos que a Ética se ocupa das ações humanas enquanto relacionadas com a forma de ser da pessoa, donde, as ações humanas são, pois, o objeto material da Ética. Porém, é preciso determinar melhor quais são estas ações, porque nem tudo o que o homem faz nem tudo o que ocorre no homem modifica sua forma de ser, seu “ethos”. Para esclarecer esta questão a Filosofia utiliza a distinção entre atos humanos e atos do homem.
	Atos humanos são aqueles que o homem é senhor para fazer e omitir, de fazê-los de um modo ou de outro. São as ações livres, isto é, as que procedem da deliberação racional e da vontade, como amor, desejo, ódio, que chamamos de atos elícitos da vontade. Aos atos realizados através de outras potências como, falar, trabalhar e andar denominamos atos imperados pela vontade. 
	Atos do homem são os que não são livres, ou porque no momento em que se realizam falta o necessário conhecimento e voluntariedade, ou porque se trata de processos sobre os quais o homem não possui um domínio direto (funções digestivas ou circulatórias, etc.).
	A distinção entre os atos humanos e os atos do homem pode fazer-se mediante os conceitos de agir e ocorrer. Quando o homem realiza um ato humano, tem a consciência, mais ou menos refletida, de ser ele mesmo o autor, a causa desse acontecimento pessoal: a ação humana está unida a vivência de ser eu o agente ativo e responsável, a verdadeira causa do que faço. Quando se dá um ato do homem, o sujeito humano tem, ao contrário, a consciência de que algo ocorre nele, com se seu ser fosse um cenário no qual acontece algo sem sua ativa participação pessoal: ao ato do homem está ligada a vivência de ser simples sujeito de uma mudança.
	2.2 Objeto formal: - O objeto formal de um saber é o aspecto ou a propriedade do objeto material que diretamente lhe interessa. Caberia dizer também que é o ponto de vista sob o qual uma disciplina científica estuda seu objeto material, com tanto que se advirta que o objeto formal é um aspecto real das coisas mesmas, e não um modo de considerá-las. A moralidade é uma dimensão real e essencial da ação humana, e não um simples modo de considerá-la. O objeto formal da Ética é aquele segundo o qual os atos humanos, considerados formalmente enquanto tais (e não a partir do ponto de vista particular ou com uma finalidade restrita, como os atos de um artista ou de um desportista por exemplo) são qualificados como bons ou maus. A bondade ou a maldade das ações humanas enquanto tais se chama genericamente moralidade. Dizemos, portanto, que o objeto formal da Ética é a moralidade dos atos humanos.
	A moralidade – bondade ou maldade – das ações humanas não se identifica formalmente com as qualidades naturais (inteligência,habilidade, etc.) que a pessoa coloca em jogo ao agir. Os dotes naturais do homem (inteligência, habilidade e força física, firmeza de caráter, etc.) são moralmente ambíguas, pois podem ser utilizadas tanto para o bem como para o mal. A astúcia intelectual se manifesta tanto na forma de planejar um roubo como no modo convincente de propor a verdade; o mesmo pode dizer-se da frieza, da constância. Somente mediante uma decisão livre pode um homem ser bom ou mau moralmente. 
	Santo Agostinho caracteriza a virtude moral dizendo que por ela se vive retamente e que ninguém pode usá-la para o mal�, o que equivale afirmar que a virtude moral consiste no bom uso da liberdade�. Santo Tomás de Aquino sustenta num sentido parecido que só quem tem uma vontade boa é bom em sentido absoluto, pois graças a ela utilizará para o bem todos os seus recursos�. E Kant afirma que nada há no mundo que sem limitação possa ser tido como bom, senão a boa vontade, alegando como prova a razão antes indicada. Por isso, os qualificativos morais se reservam para julgar os atos da vontade deliberada, pelos quais a pessoa se autodetermina em direção ao bem ou ao mal.
	A bondade ou malícia morais tampouco se confundem com a que podem ter as ações humanas com relação a uma finalidade restrita, como é a perfeição técnica na consecução de objetivos particulares ou na realização de determinadas obras. Trata-se de dois pontos de vista, o moral e o técnico, formalmente diferentes. Basta observar que o sentido comum distingue sem dificuldades entre o uso técnico e o uso ético de qualificativos como “bom” roubo e de um atentado “perfeito”. Quando se fala de bem e de mal com relação às qualidades naturais ou técnicas da ação humana, se alude a um bem ou a um mal relativos; nesse contexto, bom e mal significam algo assim como “bom ou mal sob um determinado aspecto ou em um certo sentido”. O roubo de que falamos antes é uma ação má em sentido absoluto, enquanto que a inteligência ou a perfeição técnica com que foi realizado faz o roubo “bom” ou “perfeito” sob uma ótica muito restrita e sob ela, e fazem bom o seu autor só sob um aspecto particular: o fazem “bom” como ladrão (no sentido de esperto, hábil, etc., outras perfeições relativas poderiam fazê-lo bom como músico, como artesão, como militar, etc.) porém não como pessoa. 
	Ao contrário, quando se utilizam em sua acepção ética, bem e mal têm um sentido absoluto. O bem e o mal morais e o bem e o mal que as ações possuem enquanto que humanas, e por isso afetam a pessoa humana enquanto tal, em sua totalidade: fazem ao homem bom ou mal absolutamente e sem restrições, como pessoa humana.
3 A ética como uma disciplina especulativa-prática de caráter normativo.
	
3.1- A ética como uma ciência prática: a moralidade dos atos humanos, objetos da Ética, não é uma realidade meramente especulável, como são as realidades independentes (os astros e seu movimento, p. ex.). É, ao contrário, uma realidade operável, e realmente efetiva enquanto que operada pelo homem. A moralidade é objeto de realização, e não simplesmente de contemplação. A moralidade é um objeto prático, relativo a ação humana. O objeto da Ética não é unicamente compreender a moralidade das ações, senão ajudar o homem para que realize a moralidade em suas ações. 
	Santo Tomás de Aquino comentando Aristóteles afirmará que a Ética “pretende dirigir os atos livres para o bem perfeito ou fim último da pessoa”� ou, o que significa dizer, “dirigir as ações humanas a partir do ponto de vista do bem em sentido absoluto”.
	A Ética é um saber diretivo das ações, o que determinará o interesse primordial da Ética, que não é a faticidade psicológica ou sociológica das ações morais. A Ética vai mais além do que uma descrição dos costumes mediante o método empírico, que algumas ciências positivas realizam com o objetivo de conhecer o que em uma determinada sociedade e época histórica se considera bom ou mau. A Ética formula e fundamenta filosoficamente juízos de valor e normas de comportamento de validez absoluta, com a intenção de orientar o exercício da liberdade pessoal para bem da pessoa humana enquanto tal. 
3.2- A ética como uma ciência especulativa-prática: se os juízos e normas éticas são racionais e filosoficamente fundamentados, e não arbitrariamente decididos ou impostos, devem apoiar-se na verdade acerca do bem e do mal, da pessoa humana e suas exigências essenciais. Isto pressupõe da finalidade prática da ética um momento especulativo, isto é, um momento em que se busca o conhecimento da natureza e sentido da moral, da virtude, da justiça, etc. A determinação do valor das ações humanas enquanto tais, se fundamenta filosoficamente no conhecimento do que constitui a plenitude de sentido da condição humana.
3.3- A ética como uma ciência normativa: existem outros saberes, como a Medicina, a Lógica ou o Direito Fiscal, que também estabelecem regras de conduta. São, portanto, saberes práticos, porém o são de modo distinto como o é a Ética. O valor das regras médicas, lógicas, fiscais, etc. é condicionado: são válidas na esta medida em que é válido o fim que visam essas ciências (saúde, correção de raciocínio, justiça tributária, etc.), porém excede à competência de cada uma dessas disciplinas práticas fundamentar o valor de seu próprio fim. A Lógica ensina o que deve fazer que deseja raciocinar sempre de forma correta, porém não pode determinar se existe a obrigação de raciocinar sempre corretamente, ou só em algumas ocasiões, ou nunca. A Medicina determina quais são os meios necessários para quem deseja manter a saúde ou para recuperá-la, porém nada pode dizer a quem se mostre disposto a colocar em perigo sua saúde por determinados motivos, disposição esta cuja licitude ou ilicitude a Medicina não pode julgar. De modo semelhante o Direito Fiscal pressupõe que justo que existam impostos e que os impostos legalmente estabelecidos devem ser justos. Os juízos e a normas éticas possuem, ao contrário, um valor absoluto, incondicionado, e que está na raiz do valor das demais ciências práticas. À Ética compete estabelecer qual deve ser a atitude da pessoa humana ante a verdade lógica, ante a saúde, ante a justiça fiscal. Dizemos por isso que a Ética não é simplesmente um saber prático, um saber capaz de estabelecer regras de conduta. A Ética é, propriamente, um saber normativo, capaz de estabelecer virtudes e normas de valor absoluto e incondicionado, cujo valor não depende de normas estabelecidas por outra ciência prática. 
4 A questão do relativismo ético.
	
	O conceito de Ética que acabamos de delinear suscitou muitas objeções ao longo da história. Os filósofos que aceitam os pressupostos do positivismo rejeitam a legitimidade do conceito de ciência normativa: a ciência é conhecimento daquilo que há no mundo, não do que deveria haver. Outra objeção se faz com relação à Ética querer possuir o estatuto de ciência propondo um conjunto ordenado de proposições universais acerca de realidades tão contingentes e singulares como são as ações humanas. 
	O positivismo não é uma doutrina especificamente ética. É uma concepção geral da Filosofia e das ciências, porém tem importantes repercussões na Ética, nas ciências jurídico-políticas e na Estética. O termo “positivismo” deriva do latim “positum”, que significa “o dado”, “o fato”. Segundo o positivismo, o saber tem que limitar-se a registrar e ordenar os fatos verificáveis por meio da experiência sensível, sem que seja possível em nenhum caso transcender ao plano por ela determinado. A única fonte legítima de conhecimento certo está constituída pelo que chamamos ciências positivas, e o único método científico é o método empírico. Com isso fica excluída a possibilidade de obter um conhecimento certo e sistemático de valores e normas morais vinculantes. Esses objetos não são suscetíveis de conhecimento científico.
	As mais importantes formulações históricas do positivismo estão ligadas à Sociologia e ao empirismo lógico.
	4.1- O positivismo sociológico: o fundador do positivismo sociológico foiAugusto Comte (1797-1858). Porém, no caminho por ele aberto, alguns outros percorreram: E. Durkheim (1858-1917), L. Lévy-Bruhl (1857-1939) e E. Westermark (1862-1939). 
	Bruhl sustenta a tese de que falar de uma ciência normativa é um absurdo. A ciência, por definição, conhece o que é, não o que deve ser. A ciência é uma aplicação metódica do espírito humano a uma parcela da realidade dada, para descobrir as leis que governam os fenômenos. A moral não pode ser outra coisa que uma ciência dos costumes, cuja tarefa consiste em descrever os usos e as valorações morais próprias de cada sociedade, assim como em conhecer as leis que determinam sua gênese, desenvolvimento e desaparecimento. De nenhum modo a Ética poderia arrogar-se a função de prescrever leis aos homens e aos grupos sociais.
	O positivismo sociológico considera os fenômenos morais como fenômenos de origem social, que se fazem interiorizados por causa da pressão exercida sobre o indivíduo pela sociedade. Se a moral dependesse verdadeiramente de princípios estabelecidos pela Ética, a diversidade de princípios deveria seguir sempre uma diversidade de comportamentos éticos concretos. Acontece o contrário, continua Bruhl, que éticas bem diversas do ponto de vista filosófico terminam por coincidir no plano das determinações práticas. Para esse autor, o comportamento moral depende na realidade da estrutura social, e por isso onde existem configurações sociais análogas se encontram morais semelhantes, por mais diversos que sejam os princípios filosóficos que se invoquem como fundamento.
	Ao acentuar a incidência da pressão social na formação moral da pessoa, o positivismo sociológico chama a atenção sobre um importante fator que a Ética não deveria esquecer. Porém, a absolutização desse ponto de vista implica a negação da moralidade mesma, porque dissolve o bem no sentido absoluto em um bem relativo, consistente na conformidade com os modelos sociais. É fácil advertir que uma coisa é o valor de um comportamento e outra bem distinta é sua efetividade ou aceitação social. Se as convicções morais fossem exclusivamente um efeito da estrutura social, seria impensável a crítica social, a idéia de regime social ou político injusto, a dissociação e a objeção da consciência com relação a pautas legislativas vigentes e inclusive impostas pelo Estado, realidades cuja existência e legitimidade não podem ser negadas racionalmente.
	A conseqüência mais negativa do sociologismo positivista está no relativismo ético, paralelo à negação da Metafísica. Da mesma maneira que o positivismo nega a existência de um conhecimento metafísico, reduzindo ao âmbito do saber humano somente aos fenômenos, assim também tenta suprimir toda noção de um bem absoluto das ações humanas. Isso é o resultado lógico de não admitir no homem uma natureza ou essência subjacente a suas históricas manifestações fenomênicas. 
	
4.2- O emotivismo: dentro do empirismo existem posições éticas diferenciadas: o hedonismo de Schilick, o intuicionismo de Moore, Prichard e Ross, o emotivismo ético de Ayer e Stevenson que é o que mais nos interessa agora.
Os emotivistas pensam que as proposições éticas são não significativas: não correspondem a nenhum fato empírico, não nos dizem nada acerca do mundo, e portanto, não podem ser nem falsas nem verdadeiras; manifestam, simplesmente, uma reação emotiva pessoal de aprovação ou desaprovação. Dizer que “o roubo é mal” – explica Ayer – não difere em conteúdo da proposição “foi realizado um roubo”, simplesmente expressa lingüisticamente minha desaprovação, que poderia manifestar-se também de outros modos, por exemplo: “Foi realizado um roubo!”, sinais que carecem de valor veritativo. O significado factual que pode encontrar-se na linguagem moral não é, em todo caso, originariamente ético, senão que deve reconduzir-se à Psicologia ou à Sociologia, que darão conta do processo psíquico ou social que origina as valorações.
5 O Ato Humano
5. 1 Definição.
	Aquele sobre o qual o homem tem domínio, supõe conhecimento de causa e vontade deliberada por pare de quem age. Quando falta a intervenção do intelecto ou da vontade, não há ato humano.
5. 2 Elementos constitutivos do ato humano:
Conhecimento intelectual – a vontade não pode ser levada ao objeto sem antes conhecê-lo, ainda que não seja um conhecimento perfeito e completo. Esse conhecimento intelectual implica advertência ou em deliberação, o querer ou não a ação. 
Vontade – escolha livre e querida de um ato.
	À essência do ato voluntário são necessários o intelecto e a vontade. Se falta conhecimento intelectual, não temos ato voluntário, mas movimento natural. Se falta a vontade e somos obrigados a agir por força de um agente externo, temos o ato violento. 
	Chama-se de ato voluntário direto quando se pretende diretamente o efeito próprio desse ato, e chama-se voluntário indireto quando o efeito de um ato não foi diretamente desejado ou querido. Existem alguns atos que produzem dois efeitos, um bom e outro mal, no entanto, para que seja lícito agir assim, deve-se obedecer às seguintes condições:
que a ação seja boa em si ou indiferente. Ex: não é lícito mentir, mesmo que resulte em efeitos bons;
que o efeito primeiro e imediato seja bom e não mau. Ex: não é lícito roubar para dar esmolas.
que o fim de quem age seja honesto, que pretenda unicamente o efeito bom e apenas suporte o efeito mau.
4) que haja uma causa proporcionada à gravidade que do efeito mau vai produzir.
Não são atos humanos.
a)atos da vida vegetativa;
b)atos de pessoas destituídas de razão, embriagadas, hipnotizadas e crianças;
c)atos repentinos que antecedem qualquer deliberação.
5. 3 Fatores que influenciam na realização de um ato humano�
	5. 3. 1 a violência – se alguém nos força, com violência, a realizar atos que são imorais, não somos culpáveis e responsáveis desses atos. Não é um ato imoral do coagido, mas de quem coage.
	5. 3. 2 as paixões – são movimentos do chamado apetite sensitivo, que nascem ao captar-se o bem ou o mal sensível, com comoção espontânea, mais ou menos intensa, no organismo. A vontade livre pode dominar as paixões que não sejam suficientemente fortes para suprimir o conhecimento e a vontade livre. As paixões podem acompanhar as ações, desde que sejam ações moralmente boas.
	5. 3. 3 a ignorância – é a ausência de conhecimento. Distingue-se do erro, que é um conhecimento falso. A ignorância completa chama-se ignorância invencível, porque não pode ser vencida, superada. Esta ignorância precede a ação e, como impede o conhecimento, o que resulta da ação com ignorância não é moralmente imputável à pessoa.
 Há a ignorância que acompanha a ação. Ex: achar e apanhar a carteira de alguém a quem já se estava disposto a roubar. 
 A ignorância vencível é aquela da qual poderíamos sair, mas não queremos. Ex: não querer saber de quem é o objeto achado para poder se apropriar dele.
Ainda que a ignorância, em alguns casos, exima de culpa, o dever de conhecer a lei moral é a primeira exigência ética. Esse conhecimento é limitado à infância e a juventude, mas deve desenvolver-se ao longo da vida e com referência ao trabalho que cada um desempenha na sociedade.
	5. 3. 4 os condicionamentos sociológicos – são os fatores advindos do meio social que influenciam a ação humana (família, escola, trabalho, publicidade e meios de comunicação, comportamentos generalizados, etc.). Ainda que estes condicionamentos sejam reais e exerçam um influxo importante em condutas individuais, é necessário afirmar que os condicionamentos não anulam, por si mesmos, o ato humano. “É muito importante assinalar que os homens pensam e agem a maior parte das vezes de acordo com os preconceitos dominantes na sua condição social. Isto não significa que agem como autômatos, senão que uma pluralidade de solicitações se exercem fortemente sobre a sua liberdade” (Fichter). Por outro lado, é preciso ajudar a que a liberdade possa desenvolver-se normalmente, sem restrições. Este é talvez o sentido de uma antiga afirmaçãode Aristóteles, segundo a qual se requer um mínimo de bem-estar para a prática da virtude. Deste modo se pode ver como a realização da justiça social é também um serviço à liberdade e ao desenvolvimento de ações éticas, morais.
5. 4 Critérios de moralidade dos atos humanos.
a) O objeto do ato humano: é a matéria sobre a qual versa o ato. Há atos que são bons ou maus, por seu objeto mesmo (respeito ao outro, matar, roubar, etc.), há outros que são indiferentes (comer, dormir, passear).
b) A finalidade: aquilo que move alguém a praticar determinado at; é o bem ou mal que a pessoa tem em vista ao agir; a finalidade do sujeito influi na moralidade dos seus atos.
c) As circunstâncias: são os fatores que contornam o ato humano; dizem respeito ou ao objeto do ato ou ao sujeito que age, ou ao desenrolar do ato (quem; o quê; onde; com que meios; por que; como; quando).
d) A intenção: para que um ato seja moralmente bom, requer-se que o seja tanto por parte do objeto como por parte do fim e das circunstâncias. Se algum destes elementos é mau, o ato há de ser 
tido como moralmente mau. Em consequência, entende-se que o fim não justifica os meios; ainda que a pessoa tencione atingir uma meta boa, não lhe é lícito recorrer a qualquer meio.
6 O Fundamento da Ética
Na linguagem filosófica, o termo fundamento designa o que serve de base ao ser, ao conhecer, ou ao decidir. Fundamento é a causa ou razão de algo (ratio, essendi, ratio cognoscendi, ratio decidendi). Para Aristóteles, a substância é a razão do ser específico de determinado ente. Para Descartes, o cogito é o critério da certeza do ato do conhecimento. Para Kant, o imperativo hipotético é a razão de toda decisão técnica e o imperativo categórico, o supremo princípio da moralidade.
Em matéria de ética, o fundamento é um critério ou modelo de vida. Na língua grega, de onde nos veio o vocábulo, critério é um substantivo ligado ao verbo krinô (, empregado em três acepções principais: 1ª) julgar, decidir, condenar; 2ª) estimar, crer; e 3ª) separar, escolher, comparar. Em latim, usava-se o verbo cerno, de onde proveio o nosso discernir. ((critério) designa a medida ou padrão de julgamento e, secundariamente, o julgador (juiz ou tribunal).
Logo, não se pode servir de critério para o juízo do bem e do mal a opinião deste ou daquele indivíduo. Aqui, tal como no campo das ciências da natureza, a famosa fórmula de Protágoras, “o homem”, isto é, cada indivíduo humano, “é a medida de todas as coisas”, conduz logicamente, como bem ressaltou Sócrates, à negação de todo saber racional. Em matéria de Ética, o critério ou o modelo de vida deve valer, no essencial, para todos os homens e todas as civilizações. É necessário frisar que isso no essencial, pois há valores secundários que variam enormemente, entre as diferentes culturas e civilizações. É preciso não confundir desigualdades com diferenças: as primeiras representam a negação da dignidade intrínseca de todos os seres humanos, sem exceção alguma, ao passo que as diferenças fundadas na realidade biológica ou na capacidade de criação natural constituem valores a serem sempre respeitados, sob pena, de negação da dignidade humana.
6. 1 A noção filosófica de princípio 
	A dignidade da pessoa humana é o fundamento da ética, desse fundamento ou raiz mais profunda decorrem, logicamente, normas universais de comportamento, as quais representam a expressão dessa dignidade em todos os tempos e lugares, e têm por objetivo preservá-la. Elas atuam como o espírito que vivifica o corpo social e dá legitimidade a todas as estruturas de poder.
	Aristóteles, na Metafísica, desdobra a noção de arqué (princípio):
ponto de partida do movimento de algo;
ponto de partida de uma ciência
o primeiro elemento na construção de uma coisa, ou no desenvolvimento de um organismo vivo;
aquilo de que se origina algo,como os pais em relação ao filho, ou a contenda após o insulto;
os chefes ou príncipes (() nas cidades, assim como os diferentes regimes políticos;
as artes ou técnicas, sobretudo as que se superpõem às outras, recebendo, por isso, a qualificação de arquitetônicas;
o ponto de partida do conhecimento de algo, como as premissas ou hipóteses, em relação à conclusão do raciocínio ou da pesquisa.
No entanto, um elemento comum a todos os significados é o de princípio ou começo de onde algo provém ou é gerado, ou de onde emana todo o conhecimento.
	
6. 1. 1 Estrutura e função dos princípios éticos:
	Princípios éticos são normas de comportamento social, e não simples idéias de vida, ou premissas doutrinárias. Como normas de comportamento humano, os princípios éticos distinguem-se não só de regras do raciocínio matemático, mas também das leis naturais e biológicas. As normas éticas não podem ser reduzidas a enunciados científicos, fundados na observação e na experimentação, como se tratasse de leis zoológicas.
	O homem é o único ser que combina, em sua vida social, a necessidade física e biológica com os deveres éticos, a sujeição aos fatos naturais com a autonomia de ação.
	Na Grécia, no tocante ao comportamento individual, o padrão ético era a arete (virtude), um vocábulo relacionado com “o melhor” e “a harmonia”. Significa o desenvolvimento das possibilidades espirituais, mentais e físicas de uma pessoa.
	Para os gregos o padrão de vida ético era a lei, entendida não como qualquer regra imposta pelo poder político, mas como princípio regulador do comportamento humano, desde sempre vigente na coletividade, a lei eterna.
Pode-se concluir que cada sistema ético obedece a uma finalidade determinada, que lhe dá sentido e coerência. Convém, portanto, examinar os princípios éticos numa perspectiva finalista, já que toda ação humana visa a uma finalidade, considerada um bem ou algo de bom, isto é, algo que apresenta um valor, para uns, alguns ou todos os membros de uma coletividade.
	Ora, os bens ou valores específicos, visados em cada ação, subordinam-se, todos, à finalidade última de nossas vidas, finalidade que representa, o bem humano por excelência, aquele que, em todos os tempos e lugares tem sido expresso pela palavra felicidade. Ninguém jamais sustentou que o seu objetivo na vida é ser infeliz. A felicidade é o bem supremo.
	Os princípios éticos são normas que nos obrigam a agir em função do valor do bem visado pela nossa ação, ou do objetivo final que dá sentido à vida humana; e não de um interesse puramente subjetivo, que não compartilhamos com a comunidade. Esse valor objetivo deve ser considerado em todas as suas dimensões: no indivíduo, no grupo social ou classe social, no povo, ou na própria humanidade, já que a vida de cada um insere-se no conjunto da espécie humana.
	No ambiente ético, o agente deve agir em vista de determinadas finalidades consideradas obrigatórias para todos, e o seu modus agendi há de se adaptar ao valor ético dos fins visados. o agente não pode sacrificar bens mais valiosos para salvar outros de menor valor. 
	Não existe ética neutra, cega de valores. Em matéria de ética estamos sempre envolvidos com valores, e estes não se aprendem apenas pela razão, mas também pelos sentimentos (vergonha, indignação, ternura e compaixão), e se realizam por uma decisão da vontade, o que não significa dizer que a ética está no campo do puro subjetivismo.
	
6. 2 A pessoa humana.
Nossa cultura foi descobrindo paulatinamente a importância da pessoa humana. Por exemplo, no campo jurídico: o Direito apóia nesse conceito a legislação positiva acerca dos direitos fundamentais, os direitos humanos etc. A fonte última da dignidade do homem é sua condição de pessoa.
Na ética, a dignidade da pessoa humana é o supremo modelo, é o critério de moralidade.
Historicamente, a excelência do homem no mundo foi justificada a partir de três perspectivas, complementares e não excludentes: a religiosa, a filosófica e a científica.
Na perspectiva religiosa, principalmente na tradição monoteísta, a dignidade do homem se dá primeiramente, pelo fato de ser sido criado à imagem e semelhança de Deus.Na antropologia filosófica, a dignidade humana está ligada à sua condição de animal racional, nas diferentes manifestações da razão – especulativa, técnica, artística e ética – e, à consciência, individual e coletiva, dessa sua singularidade no mundo.
Na perspectiva científica, o que se pôs em realce é que a espécie humana representa, sem contestação, o ápice do processo evolutivo. Como hoje se reconhece, unanimemente, o aparecimento dos hominídeos primitivos, na cadeia evolutiva dos primatas, e a sua posterior transformação na espécie homo sapiens, é um processo único e insuscetível de reprodução. A partir do surgimento do homem, o sentido da evolução, passa a sofrer a influência decisiva da espécie humana. a criatura transforma-se em criador.
6. 2. 1 Marcas características de pessoa:
A imanência é uma das características mais importantes dos seres vivos. Imanente é o que se guarda e permanece no interior (conhecer, viver, dormir, ler). As pedras não têm um dentro, os seres vivos sim. Há vários graus de vida, cuja hierarquia vem estabelecida pelo diferente grau de imanência. Os animais realizam operações mais imanentes do que as plantas, e o homem realiza operações mais imanentes do que os animais.
Autonomia quanto ao ser: Romano Guardini elaborou um conceito de pessoa que diz o seguinte: “Pessoa significa que eu, no meu ser, em definitivo não posso ser possuído por nenhuma outra instância, mas que me pertenço” “... eu não posso ser habitado por nenhum outro, mas que, em relação a mim, estou só comigo mesmo; não posso se representado por nenhum outro, mas eu respondo por mim; não posso ser substituído por nenhum outro, mas sou único – isto permanece parado também se a esfera de reserva é fortemente gasta por intrusões e exteriorizações’. A interioridade da vida, o saber, o querer, o agir, o criar do espírito, etc. “tudo isso não é ainda pessoa; pessoa significa que em tudo isso o homem está em si mesmo”. Pessoa significa “ o fato de poder e de dever subsistir em si mesmo”.
Autoconsciência: “É um ser que pensa a si mesmo”. (Descartes).
Comunicação: Segundo Martin Buber, a originalidade da pessoa está na distinção que há na sua relação com as coisas e com os outros. Enquanto na primeira assume o caráter de monopólio, na segunda tem essencialmente o caráter de diálogo. 
Autotranscendência: é a capacidade de saltar para além dos confins do espaço, do tempo e da matéria, da natureza e da história. É um salto em direção ao horizonte do eterno, do inextenso, do infinito, do imaterial e do espírito.
Entre todos os seres que vivem na Terra, só o homem é pessoa. Uma das notas que carateriza um ser pessoal é a liberdade.
7 A Liberdade
	Definição: ausência de constrangimento.
	O homem, porque é livre, escapa ao reino da necessidade em que estão inseridos, sem possibilidade de o transcender, os vegetais e os animais. A existência da liberdade – poder escolher ou não escolher, poder escolher isto ou aquilo – é já uma demonstração da existência da inteligência e da liberdade como exigência da inteligência, isto é, da superação do instinto. 
7. 1 Várias acepções.
a)no seu valor real – designa o estado de quem pode agir segundo a sua vontade.
b)liberdade social e política – ausência de coerção provinda do poder público. Supõe um uso responsável dos direitos e o exercício consciente dos deveres.
	Liberdade teórica: permissão legal para agir
	Liberdade real: exige a criação de estruturas sociais, que dêem a todos a possibilidade de agir, no sentido de usufruir de seus direitos de homens e de cidadãos.
c)no sentido psicológico – é a capacidade do ser racional e consciente de autodeterminar-se ante a multiplicidade de alternativas de opção que se lhe oferecem em cada situação concreta. É enfim, o que chamamos livre arbítrio, ou seja, a faculdade de tomarmos posição espontânea diante do bem e do mal, sem sermos arrastados por um ou por outro. Define-se como a capacidade que o homem possui de fazer ou não uma determinada coisa, de cumprir ou não determinada ação, quando já subsistem todas as condições requeridas para agir. É o controle soberano sobre a situação.
d) no sentido moral: é a condição de um ser imune de qualquer coerção que o impeça de tender, através dos seus atos à realização cada vez mais perfeita de sua natureza.
	7. 2 Diminuição e impedimento da liberdade:
	Violência, medo , cobiça, ignorância, costume, hipnose, drogas, sugestão, distúrbios psíquicos.
	7. 3 Provas do livre-arbítrio:
		7. 3. 1 Pelo testemunho da consciência.
		a) a deliberação – temos consciência, antes de agir, de não sermos expectadores das tendências e motivos que nos impulsionaram. Além de dominá-los, aplicar nossa atenção, sobre a tal alternativa com exclusão das outras.
		b) a decisão – no momento em que tomamos a decisão, nossa consciência testemunha que nós poderíamos tomar o partido contrário ao que escolhemos.
		c) a execução – durante a execução, tenho consciência de poder a meu gosto voltar atrás.
		
7. 3. 2 Prova moral.
		a) a obrigação – nós nos sentimos obrigados a cumprir certos atos e nos abster de certos outros.
		b) o sentimento de responsabilidade – decorre do sentimento da obrigação moral. Nós não podemos ter que responder pelos nossos atos a não ser que eles sejam obra de nossa liberdade.
 
		7. 3. 3 Prova pela consciência social:
		A sociedade pune ou recompensa os atos humanos.
		
		7. 3. 4 Prova metafísica: a liberdade é conseqüência necessária da razão. A vontade enquanto “apetite” ou “o tender a” da potência intelectiva tem que ser indeterminada para aderir livremente àquilo que é conhecido pelo intelecto como bem.
	7. 4 Algumas considerações sobre a importância da liberdade e sobre as exigências éticas, que são próprias da pessoa.
	A liberdade e a responsabilidade pessoal são realidades reconhecidas por todos. Há uma coincidência em conceber a dignidade da pessoa com o seu caráter livre, ou seja, o homem deve tender para o bem por si mesmo e não forçado por alguma necessidade.
	A exigência ética ou o dever moral é uma necessidade estritamente humana, graças à inteligência e à liberdade, que se apresenta em um duplo aspecto: são devidas à pessoa, ou seja, não é moral privar a pessoa do uso e do desenvolvimento da sua inteligência e do desenvolvimento da sua liberdade e, o homem deve cumpri-las, satisfazê-las.
	Os direitos humanos ou naturais são manifestações da liberdade radical da pessoa. São algo de que se necessita para que o homem tenha toda dignidade que lhe corresponde por natureza e como algo que devemos reconhecer aos outros.
		
7. 4. 1 Alguns dos mais importantes direitos humanos:
	- o direito à vida;
	- à inviolabilidade do domicílio;
	- à integridade pessoal, quer dizer, a não sofrer mutilação física ou psíquica;
	- ao bom nome e à fama;
	- a não ser maltratado nem torturado;
	- à escolha de estado: solteiro, casado, etc.;
	- a não ser condenado sem processo prévio;
	- à livre expressão de pensamento;
	- à intimidade da vida privada;
	- à informação;
	- ao segredo da correspondência;
	- a escolher residência e a deslocar-se de um lugar para outro;
	- a praticar a religião que em consciência se escolha;
	- à assistência médica;
	- à educação;
	- a uma casa digna;
	- ao trabalho e à justa retribuição pelo trabalho;
	- a associar-se para conseguir, juntamente com outros, fins lícitos: econômicos, políticos, culturais, religiosos, etc.;
	- à propriedade privada do fruto do seu trabalho;
	- à segurança na velhice e na doença;
	- ao descanso;
	A utilizar o próprio idioma e viver segundo a própria cultura.
8. O Bem
	O bem é a perfeição correspondente a uma natureza. Por isso é necessário compreender a idéia de natureza para saber o que é bom e o que é mau: cada natureza específica tem sua própria perfeição, pertencem-lhe como próprias diversas coisas. O que é um bem para um animal, não o é talvez para o homem. À naturezas diferentes correspondem também diferentes bens. Daí a necessidade de conhecer a natureza humana para poder precisar o queé bom ou mau para o homem.
	A natureza é a mesma essência constitutiva de um ente enquanto que é também o princípio
 de suas operações específicas. A natureza humana configura o homem como um ser corporal e espiritual ao mesmo tempo e é também uma constituição operativa, possui um modo de agir próprio e característico, exclusivamente humano e, modos de agir comuns a outros seres (comer, creccer, etc.).
	A filosofia grega entendeu a natureza (physis) como sinônimo de processo, crescimento. Cada ente tem sua própria natureza e, portanto, seu desenvolvimento peculiar específico. Também se entende natureza como termo final desse processo, e por isso é chamada de fim. Aristóteles considera que a natureza não está inicialmente no homem de maneira definitiva, mas como princípio ou possibilidade que deve atualizar-se mediante o agir. A atividade humana é a passagem do estado potencial à plena realização ou aperfeiçoamento da natureza, e esta é por isso o objetivo ou fim de tal processo.
	O bem do homem está principalmente na retidão do seu agir, está no fato de que sua conduta se encaminhe para a verdadeira perfeição do sujeito. 
	A natureza é também lei e norma da atividade humana, ou seja, oferece tendências aos diversos bens a fim de alcançar a sua plena realização. Por ser corporal tende a uma série de bens materiais e vitais, por ser social favorece a convivência ordenada com os demais, por ser espiritual traz consigo uma sede de verdade e de bem. O conhecimento das inclinações ou tendências naturais, e da subordinação que existe entre elas, nos proporciona a ordem hierárquica de fins naturais que devemos respeitar e promover com nossos atos: a vida, a sociedade, a cultura, o conhecimento da Suma Verdade, etc. Consequentemente, as ações que lesam os fins essenciais da natureza humana, são intrinsecamente más; as que favorecem, são boas.
	
8. 1 Bem e finalidade.
	O fim é aquilo cuja consecução o agente se move a agir: a meta ou objetivo para o qual se dirige o movimento. A finalidade está presente na atividade de todos os entes, sejam eles livres ou não. Por exemplo, entramos em um ônibus pra chegar a um lugar da cidade, desejamos ir a esse lugar para comprar uns livros, que queremos para poder trabalhar bem, etc.
	A noção de fim está intimamente unida à de bem, porque o bem tem por si mesmo razão de fim. Tudo o que é bom pode constituir-se como fim para o desejo de alguém, provocando um movimento do apetite que não cessa até ter alcançado esse bem. O bem enquanto tal, é fim. Aquilo que é bom nos atrai para consegui-lo, e só tendemos a perseguir aquelas coisas que são ou nos parecem boas.
	8. 2 O Bem Moral.
	O bem adquire no homem caráter moral porque o homem é livre, de modo que conseguir o seu bem depende e é causado por sua livre autodeterminação. Diferentemente dos animais, o homem governa-se a si mesmo mediante a inteligência e a vontade, de acordo com uma lei moral. A pessoa não é levada aos seus fins, mas os conhece como bens morais que deve conseguir, e segundo os quais deve autodirigir sua vida, embora possa não fazê-lo. A ordem natural lhe é apresentada como algo que deve respeitar; se faz assim, a pessoa humana é moralmente boa, tem boa vontade; do contrário, é má, tem má vontade. A bondade moral é a bondade própria das ações livres, a retidão da vontade livre do homem, que depende de sua obediência à ordem ou lei natural.
	A vontade é boa quando quer livremente o bem proporcionado à natureza humana segundo o juízo da reta razão, que costuma chamar-se de bem honesto; e é má quando quer livremente o mal. Pode-se dizer também que é boa se obedece à lei moral, e má se a desobedece, pois a lei moral ordena a fazer o bem e evitar o mal.
	Estes princípios requerem admitir a existência de bens objetivos para o ser humano, que são indicados universalmente pela lei moral. E supõe também aceitar q imutabilidade essencial da natureza humana, pois com referência a ela é como se fala de bens e males para o homem. Se não se reconhece esta ordem de bens e males, a boa vontade fica sem critério objetivo, sem regra universal de conduta, convertendo-se numa mera intenção subjetiva ou num relativismo historicista (a moralidade dos atos dependeria da intenção que move cada sujeito singular, ou das mudanças históricas de mentalidade quanto ao considerar o que é bom e o que é mau). A ordem moral se fundamenta metafisicamente na ordem da natureza com relação aos seus fins.
9. O Mal.
	9. 1 A noção de mal.
	O mal é a privação de um bem devido�, ausência de algo que se deveria possuir. 
O mal é real, porém não é nada positivo, porque a privação é só negação de algo numa substância, num sujeito que por outros aspectos é bom. Por exemplo, a escuridão é a falta de luz.
	O que é conforme a essência não é mal, como não é mal o fato do homem não voar; só é má a privação de um bem que lhe é devido. 
	O mal absoluto não existe, nem pode existir, porque o mal não se sustenta por si mesmo: não pode encontrar-se um ente que seja absolutamente mau ou que seja mau por natureza. O mal só é real no sentido de que existem entes que carecem da perfeição que deveriam ter.
		
	9. 2 O mal físico.
	É a privação de um bem devido à natureza corpórea individual, como a doença, a dor, os defeitos corporais ou psíquicos, etc.
	9. 3 O mal moral.
	É a privação de bem nas ações morais. É a livre transgressão da parte do homem das exigências essenciais da natureza humana que constituem a ordem ao fim último.
	9. 4 A causa do mal.
	O mal, enquanto mal, é sempre efeito inintencionado (acidental) ou deficiente. O mal pode proceder de duas maneiras: a) como efeito acidental e, b) como efeito defeituoso de uma causa eficiente.
Causalidade do mal moral: é exclusivamente a vontade da criatura. É um defeito da escolha livre (liberdade), porque a liberdade não busca o mal enquanto tal, mas se dirige ao aspecto bom que todo
objeto tem. É um efeito deficiente porque a liberdade erra ao agir, já que entende como bem o que na realidade não é senão um bem aparente.
 10. O Fim Último do homem.
	Todos os atos humanos têm um fim. A inteligência não age ao acaso. As faculdades do homem têm um objeto determinado, que é seu fim particular (a verdade é o fim da inteligência, a beleza é o fim do sentimento estético, etc.) e elas são ordenadas ao bem total do homem, que é objeto da vontade.
	O homem conscientemente, pela inteligência possui a noção de fim ou de bem, noções que coincidem porque a vontade não pode querer a não ser o bem. O fim ou bem, também, são princípio e o termo dos atos humanos; princípio, enquanto é o fim conhecido e o bem almejado que determinam o cumprimento dos atos, e termo, enquanto é para a obtenção do bem que tendem todas as atividades do homem.
	Todos os atos humanos têm um fim último que designa o que é desejado por si e subordina todo o resto como meio. O homem só pode ter um único fim último. E é o fim último que especifica os atos sob o ponto de vista moral, ou seja, é o que dá ao ato sua qualidade objetiva, boa ou má.
	Este fim supremo é a felicidade, tão ampla quanto possível para cada indivíduo. Não há quem não tenda, em última instância, para a felicidade, pois esta corresponde a uma inclinação natural. 
	10. 1 A natureza do Fim Último.
	O homem busca necessariamente a felicidade, quer dizer, o bem em geral, enquanto ele é oposto do mal e atrai toda vontade. A felicidade é o bem supremo, porém, é possível distinguir duas espécies de fins últimos:
a) Fim último subjetivo – consiste na busca da felicidade em geral, isto é, ao que a natureza tende como ao termo último de sua perfeição, ao seu bem total e absoluto. Esta perfeição se traduz para nós pela felicidade completa. A felicidade é o fim último subjetivo, que o homem o quer com uma tendência instintiva e fatal.
b) Fim último objetivo – é o verdadeiro bem, fonte da verdadeira felicidade, um bem absoluto, excluído de todo mal, estável e ao alcance de todos que participam da mesma natureza. Portanto, o fim último objetivo obedece a algumas condições:
		1.Nenhum dos bens criados deste mundo pode ser o supremo bem. Ciência, virtude, honrarias, saúde, riquezas, mesmo sendo bens, são instáveis, implicam labor e dificuldade e não são comuns a todo;
		2. O conjunto dos bens criados não pode constituir o bem supremo, nem podem satisfazer o desejo profundo do homem, porque estes bens tomados em bloco participam da fragilidade e da relatividade dos bens particulares que eles totalizam.
		3. Deus é nosso bem supremo, somente Ele nos pode tornar felizes, porque somente Ele realiza o Bem Perfeito, que a inteligência concebe e ao qual aspira como a verdade. Considerando as idéias que a Metafísica nos oferece, podemos dizer: a) Deus é o Ser Subsistente, infinitamente perfeito e b) o fim, genericamente considerado, é o bem que move o agente em vista de sua aquisição. Daí concluímos que o fim da ação criadora é o próprio Deus, pois Deus não pode buscar nada que esteja fora d’Ele mesmo.
	10. 3 A Obtenção do Fim Último.
	É possível para todos – não é possível que um desejo não possa atingir seu fim.
	É obrigatória para todos – o homem não pode renunciar a seu fim, sem violar a ordem natural, segundo a qual tudo deve estar subordinado ao primeiro princípio do ser.
	Começa nesta vida, contudo não se esgota aqui.
	A vida presente é uma preparação para a beatitude – conformar-se à ordem moral é condição necessária e suficiente da beatitude.
	10. 4 Algumas concepções
10. 4. 1 Nietzsche e a transvalorização dos valores.
	Nietzsche (1844-1900) quer recuperar as forças vitais, inconscientes, instintivas, subjugadas pela razão por muitos séculos. Faz ainda uma crítica a Sócrates por ter encaminhado a reflexão moral em direção ao controle racional das paixões. Segundo Nietzsche, a desconfiança nos instintos culmina com o cristianismo, que acelera a domesticação do ser humano.
	Nietzsche denuncia a incompatibilidade entre e moral e vida, ou seja, sob o domínio da moral, o ser humano se enfraquece, tornando-se doentio e culpado.
	Relembrando a Grécia homérica, do tempo das epopéias e das tragédias, quando prevaleciam os verdadeiros valores aristocráticos, quando a virtude reside na força e na potência do guerreiro bom e belo, amado dos deuses, Nietzsche vai concluir que nessa perspectiva que o inimigo não é mau: “Em Homero, tanto o grego quanto o troiano são bons. Não passa por mau aquele que nos inflige algum dano, mas aquele que é desprezível”.
	Nietzsche denuncia a falsa moral, “decadente”, “de rebanho”, “de escravos”, cujos valores seriam a bondade, a humildade, a piedade e o amor ao próximo. Contrapõe a ela a moral “de senhores”, moral positiva que visa à conservação da vida e dos seus instintos fundamentais. A moral de senhores é positiva, porque baseada no sim à vida, e se configura sob o signo da plenitude, do acréscimo. Funda-se na capacidade de criação, de invenção, cujo resultado é a alegria, conseqüência da afirmação da potência. O indivíduo que consegue superar-se é o Super-homem.
	A moral plebéia estabelece um sistema de juízos que considera o bem e o mal valores metafísicos transcendentes, isto é, independentes da situação concreta vivida.
	A moral de escravos nega os valores vitais e resulta na passividade, na passividade, na procurada paz e do repouso. O indivíduo se torna enfraquecido e diminuído em sua potência. A alegria é transformada em ódio à vida, o ódio dos impotentes. A conduta humana, orientada pelo ideal ascético, torna-se marcada pelo ressentimento e pela má consciência.
O ressentimento nasce da fraqueza e é nocivo ao fraco. O indivíduo ressentido, incapaz de esquecer, é como o dispéptico: fica “envenenado” pela sua inveja e impotência de vingança, ao contrário, o indivíduo nobre sabe digerir suas experiências, e esquecer é uma das condições de manter-se saudável. A má consciência ou sentimento de culpa é o ressentimento voltado contra si mesmo, daí fazendo nascer a noção de pecado, que inibe a ação. O ideal ascético nega a alegria da vida e coloca a mortificação como meio para alcançar a outra vida num mundo superior, do além. Assim, as práticas de altruísmo destroem o amor de si, domesticando os instintos e produzindo gerações de fracos.
“É por isso que contra o enfraquecimento do homem, contra a transformação de fortes em fracos é necessário assumir uma perspectiva além de bem e mal, isto é, além da moral. Mas, por outro lado, para além de bem e mal não significa para além de bom e mau. A dimensão das forças, dos instintos, da vontade de potência, permanece fundamental. O que é bom? Tudo que intensifica no homem o sentimento de potência, a vontade de potência, a própria potência. O que é mau? Tudo provém da fraqueza”.�
10. 4. 2 O existencialismo sartreano.
Jean-Paul Sartre (1905-1980) escreveu O ser e o nada, sua principal obra filosófica. Seu pensamento gerou uma “moda existencialista”. Para entender melhora essa concepção analisemos uma frase fundamental do existencialismo sartreano: “a existência precede a essência”. Segundo as concepções tradicionais, o ser humano possui uma essência, uma natureza humana universal, da mesma forma que todas as coisas têm essência. Por exemplo, a essência de uma messa é o ser mesmo da mesa, aquilo que faz com que ela seja mesa e não cadeira. Não importa que a mesa seja de madeira, fórmica ou vidro, que seja grande ou pequena, mas que tenha as características que nos permitam usá-la como mesa.
Para Sartre, ao contrário dos animais e das coisas, no ser humano a existência precede a essência, e isso “significa que o homem primeiramente existe, se descobre, surge no mundo; e que só depois se define. O homem, tal como o concebe o existencialista, se não é definível, é porque primeiramente não é nada. Só depois será alguma coisa e tal como a si próprio se fizer. Assim, não há natureza humana, visto que não há Deus para a conceber. O homem é, não apenas como ele se concebe depois da existência, como ele se deseja após este impulso para a existência; o homem não é mais que o que ele faz. Tal é o primeiro princípio do existencialismo”�.
A diferença entre o ser humano e as coisas é que o ser humano é livre, porque ele nada mais é que o seu projeto (lançado adiante). Só o ser humano existe (ex = fora), porque sendo consciente, é um “ser-para-si”, já que a consciência é auto-reflexiva, pensa sobre si mesma, é capaz de pôr-se “fora de si”. Os animais e as coisas são “em-si”, não capazes de se colocar “do lado de fora” para se auto-examinarem.
Quando o indivíduo se percebe “para-si”, aberto à possibilidade de construir ele próprio a sua existência, descobre que não há essência ou modelo para lhe orientar o caminho e que seu futuro se encontra aberto. Portanto, está irremediavelmente “condenado a ser livre”. Citando a frase de Dostoiévski em Os irmãos Karamazov, Se Deus não existe, então tudo é permitido”, lembra que os valores não são dados nem por Deus nem pela tradição, só ao indivíduo cabe inventá-los.
Ao experimentar essa liberdade, e ao sentir-se como um vazio, o indivíduo vive a angústia da escolha. Muitos não suportam essa angústia e aninham-se na má-fé, ou seja, na atitude de quem finge escolher.imaginando que seu destino está traçado, aceitando as verdades exteriores, mentindo para si mesmo e simulando ele próprio ser o autor de seus atos, já que aceitou sem críticas os valores dados. O indivíduo dissimula para si mesmo evitando fazer uma escolha da qual possa se responsabilizar. O indivíduo torna-se então um “em-si”, semelhante às coisas e aos animais.
Para defender-se da acusação de propor um individualismo, Sartre adverte: “Mas se verdadeiramente a existência precede a essência, o homem é responsável por aquilo que é. Assim, o primeiro esforço do existencialismo é o de pôr todo o homem no domínio do que ele é e de lhe atribuir a total responsabilidade da sua existência. E, quando dizemos que o homem é responsável por si próprio, não queremos dizer que o homem é responsável pela sua restrita individualidade, mas que é responsável por todos os homens. [...] Com efeito, não há dos nossos atos um sequerque, ao criar o homem que desejamos ser, não crie ao mesmo tempo uma imagem do homem como julgamos que deve ser. Escolher ser isto ou aquilo �afirmar ao mesmo tempo o valor do que escolhemos, porque nunca podemos escolher o mal, o que escolhemos é sempre o bem, e nada pode ser bom para nós sem que o seja para todos. Se a existência, por outro lado, precede a essência e se quisermos existir, ao mesmo tempo que construímos a nossa imagem, esta imagem é válida para todos e para toda a nossa época. Assim, a nossa responsabilidade é muito maior do que poderíamos supor, porque ela envolve toda a humanidade”.
Surgem do pensamento sartreano vários problemas, desencadeados pela consciência capaz de criar valores e, ao mesmo tempo, de se responsabilizar por toda a humanidade, o que parece gerar uma contradição indissolúvel. Sartre se coloca nos limites da ambigüidade, pois, se a moral é impossível porque o rigor de um princípio leva à sua destruição, por outro lado a realização da pessoa humana e da sua liberdade exige o comportamento moral. 
	10. 4. 3 Concepções utilitaristas.
	O princípio das concepções hedonistas é situar o soberano bem do homem no prazer ou no gozo, e fazer, por conseguinte, do prazer, o critério do bem e do mal.
a) Hedonismo – é necessário aproveitar o prazer toda vez que ele se nos oferece;
b) Epicurismo – é necessário escolher os prazeres, tomando aqueles que não são acompanhados de nenhuma do, os que não ameaçam privar-nos de um prazer maior, preferindo prazeres calmos, eliminando a procura de prazeres artificiais. Epicuro visa alcançar um estado de tranquilidade (ataraxia).
c) Utilitarismo – o fim é a obtenção da maior quantidade possível de prazer. Convém escolher, entre os prazeres, aqueles que são superiores por sua intensidade, usa certeza, sua proximidade, sua duração, sua pureza, seu alcance e sua fecundidade.
	10. 4. 4 Concepções racionais.
	O princípio das teorias racionais é que o soberano bem consiste na perfeição de nossa natureza racional, a razão é a regra da moralidade.
a) Eudaimonismo racional – Aristóteles insiste na felicidade que traz a atividade especulativa da razão. A felicidade deve resultar do progresso e da perfeição da atividade mais nobre de nossa natureza, do exercício da inteligência, na sua foram mais alta, a contemplação da verdade e do objeto mais inteligível, que é deus.
b) Estoicismo – devemos seguir a natureza, a razão, pois é a razão que distingue o homem do animal. A razão nos mostra que há somente uma sabedoria, que consiste em aceitar a ordem natural universal, que não depende de nós, e renunciar aos desejos, que geram a inquietação e a discórdia. Somente assim o homem poderá eximir-se das paixões, identificando-se com a Razão Universal (Deus ou Destino). A apatia ou serenidade perfeita é o ideal do sábio e o nome mesmo da beatitude.
 
10. 4. 5 O finalismo objetivo de Santo Tomás.
Santo Tomás corrige e completa Aristóteles, substituindo ao simples eudaimonismo o finalismo objetivo e mostra que o bem moral é obrigatório, desejado por Deus, criador e legislador de nossa natureza, que a perfeição consiste, pela prática das leis virtudes morais, em aproximar-se de Deus, fim e bem objetivos do homem.
Esta doutrina dá satisfação a tudo o que existe de justo nas exigências das outras teorias morais. Reconhece à razão o direito e a obrigação de determinar o dever, mas se exime de condenar o sentimento; ao contrário, exige que os sentimentos, pelos quais se manifestam as nossas tendências mais profundas, colaborem na vida moral e que devidamente hierarquizados pela razão, recebem as satisfações que lhes são devidas. Da mesma forma, se esta doutrina exclui toda possibilidade de tomar o prazer como fim da atividade humana, ela professa que a felicidade é verdadeiramente o aspecto subjetivo de nossa perfeição realizada e que ela deve estar realmente sob este aspecto, quer dizer, na dependência do bem objetivo que é Deus, o fim último universal, o fruto de nossa atividade moral. O prazer entra como elemento integrante na felicidade moral: ele não é mau por si mesmo; simplesmente, sendo meio, e não fim, deve subordinar-se aos últimos fins da vida moral.
11. A Consciência Moral.
A consciência é uma realidade de experiência. Todos os homens julgam, quando agem, se estão agindo bem ou mal. A consciência é, pois, uma forma de conhecimento tipicamente humana: conhecimento intelectual.
A voz da consciência é a capacidade natural de perceber em cada caso e concretamente qual o dever e qual o bem que é necessário atender em primeiro lugar.
A consciência não consiste em decidir com a vontade, mas em perceber com a inteligência e não julga o que é que mais gostamos de fazer, mas o que é que devemos fazer. Fala-se de voz precisamente indicando que não é algo que nós inventamos, mas que nos vem da própria situação.
A inteligência humana tem um conhecimento prático de alguma coisa que pode chamar-se de primeiros princípio de agir: fazer o bem e evitar o mal, não podemos fazer aos outros o que não queremos que nos façam a nós. À luz desses princípios, a consciência julga sobre os atos concretos. Por isso pode dizer-se que a consciência moral é um juízo em que se aplicam esses primeiros princípios aos atos concretos. Sabemos que é preciso praticar o bem; apresenta-se-me a possibilidade de ficar com algo que pertence a outro; e a consciência dita, julga, fala interiormente: isso é mau.
Os primeiros princípios morais são evidentes e a aplicação concreta dos princípios a cada ato pode apresentar-se também com um caráter evidente. Mas a consciência também pode equivocar-se, quer dizer, pode considerar que é bom um ato mau; ou, ao contrário, que é mau um ato bom.
A consciência que julga a bondade ou a malícia de um ato em conformidade com estes princípios chama-se consciência verdadeira e obriga sempre. Agir contrariamente ao que dita consciência verdadeira é, na realidade agir contrário a si mesmo.
Quando se está na ignorância, age-se com consciência errônea. Sempre que se trate de uma ignorância que não se pode superar, porque nem sequer se sabe estar na ignorância. Normalmente a consciência errônea está baseada num erro que se pode superar e, nesse caso, a mesma consciência obriga a sair do erro. A consciência vencível é culpável, porque se permanece nela voluntariamente.
A consciência certa, que é a que emite o seu juízo de forma categórica e firme, sem temor de enganar-se; e a consciência duvidosa, é a que vacila sobre a liceidade de uma ação.
A consciência ainda pode encontrar-se em outras situações:
a) em razão do ato: antecedente ou conseqüente;
b) em razão do hábito: escrupulosa, atenta, perplexa, lassa, farisaica ou cauterizada.
Todo homem tem obrigação de formar a consciência, cujos meios são:
a) boa educação;
b) sinceridade;
c) estudo dos deveres;
d) pedido de ajuda e conselho;
e) prática de virtudes;
f) eliminação dos vícios;
g) procura de Deus.
12. A Lei Moral
	O que vimos até agora poderia ser válido em qualquer código de moralidade. Mas evidente que só pode existir um código de moralidade objetivo. Pó quê? Porque se cada pessoa pudesse decidir, a seu gosto, o que é bom ou o que é mau, nada seria bom nem mau; qualquer pessoa poderia impunemente fazer qualquer coisa. De isto acontecesse, não só a vida social seria impossível, mas não poderiam existir nem amor, nem amizade, nem companheirismo, nem solidariedade. Cada homem seria para os outros um pequeno tirano que dita sua própria lei.
	Além disso, como saber quando o objeto, o fim e as circunstâncias são bons ou maus? A consciência não poderia julgar em casos concretos. Se não houvesse uma lei geral moral, não teria sentido falar de consciência verdadeira ou errônea. Uma vez que encontraríamos como simples capricho.
	Também, a lei moral não pode ser mutável, variável com os tempos. Há ações que sempre e em todos os tempos foram consideradas más pela maior parte das pessoas de todos os tempos (matar, roubar, não pagar o salário devido, etc.).
	A origem e o fundamento dos princípiosda lei moral, não pode ser uma cultura, porque as normas éticas fundamentais se registram em todas as culturas ao longo da história.
	O ético não pode ser ditado pelos condicionamentos sociais, pois isto tornaria impossível de conceber a ação dos eu se opõem a esses condicionamentos, no caso de que sejam injustos, em nome de algo incondicional: a justiça.
	Conclui-se que o homem pode descobrir com a sua razão, analisando precisamente o que é ser homem, a norma natural de moralidade, a lei moral natural, a lei natural.
	A lei moral não se vê no mundo físico e nem no mundo dos animais irracionais. A lei moral natural só pode ser descoberta pelo homem analisando o homem, vendo que está dotado de inteligência e de vontade livre. Pela lei moral sabe-se que nem tudo o que se pode fazer fisicamente se deve fazer.
13. As Virtudes e os Vícios.
	A vida moral não consiste em uma sucessão de atos descontínuos, mas é a expressão de hábitos que dão continuidade e certa unidade ao comportamento humano; se esses hábitos arraigados no íntimo do sujeito, por conaturalidade, isto, é criando uma nova disposição para o bem, são chamados, virtudes; se inclinam para o mal, são chamados vícios.
	A virtude proporciona uma execução rápida, sem hesitação, e deleitosa do seu ato. Introduz unidade no ser humano. É vitória sobre a condição volúvel e de inconstância. Isto não quer dizer que a pessoa virtuosa já não encontre dificuldades na prática do bem ou se torne um autômato moral; na verdade, a natureza humana, por mais unificada que seja, trará sempre em si as consequências de sua fragilidade, que poderão perturbar seus hábitos bons; além disto, a prática das virtudes encontrará sempre obstáculos provenientes de fora do sujeito; quanto mais nobre é um ato, tanto mais difícil ele se torna mesmo para quem é virtuoso.
	As criaturas inferiores ao homem, geralmente, tem uniformidade no agir. O homem não possui essa uniformidade porque é livre. Compete à razão procurar o rumo certo e fazer que a vontade se volte para ela; assim a existência inteira é penetrada pela racionalidade. A natureza se espiritualiza.
	As virtudes podem ser adquiridas, ou seja, podem ser decorrência de sucessivos atos bons; estes vão predispondo o sujeito a novos atos bons, originando assim o hábito ou a virtude respectiva.
	
	13. 1 As virtudes morais.
	São as que dizem respeito diretamente às criaturas; guiam a conduta do homem em relação aos bons deste mundo. São chamadas de virtudes cardeais, porque constituem os cardines (gonzos) ou as dobradiças e os eixos em torno dos quais gira toda moral. Desde Platão enumeram-se as quatro seguintes:
- prudência: estuda os meios oportunos para chegar a determinado fim; tem sede na razão;
- justiça: observa a justa convivência com todos os homens; tem sede na vontade;
- fortaleza ou coragem: volta-se para as coisas árduas e difíceis; tem por sujeito o apetite irascível;
- temperança: volta-se para os bens desejáveis; tem por sujeito o apetite concupiscente.
	Aristóteles dizia que as virtudes morais estão no meio. Isto quer dizer que se situam entre um excesso ou exagero, de um lado, e a insuficiência do outro lado; assim a fortaleza se coloca entre a temeridade e a covardia; a temperança entre a gula e o descaso com a saúde. Isto não quer dizer que as virtudes morais impliquem mediocridade; estão no meio, da parte do objeto; mas da parte do sujeito estão arraigadas.
	13. 2 Os Vícios.
	Os vícios são inatos enquanto encontramos em nós, os germes mais ou menos fortes e todos os vícios, e adquiridos, no sentido de que não é mais do que pela nossa lassidão (prostação de forças) que os germes dos vícios se desenvolvem e adquirem raízes profundas.
14. Ética Social
	O homem, por sua natureza, é tanto um ser social como um ser individual.
	Por sua constituição física, o homem, depende da família incomparavelmente mais do que os animais, que se acham mais preparados para se manterem e se desenvolverem por si mesmos desde os primeiros momentos da vida.
Muito mais ainda por sua natureza espiritual é o indivíduo carece de uma complementação. O despertar e a formação de suas forças e disposições espirituais depende totalmente dos vínculos com outros homens, sobretudo com a comunidade familiar, os parente, a nação e o Estado. A evolução da ida do espírito está ligada sempre e sem exceção à sociedade: tanto no que se refere ao pleno desenvolvimento da razão do indivíduo em geral como no que concerne ao âmbito moral e religioso, tanto no âmbito das ciências e das artes.
Hegel soube revelar que o desenvolvimento do espírito do indivíduo está sob todos os aspectos condicionado pelo seu enraizamento no espírito da sociedade, contrariando a concepção de racionalismo iluminista, que propunha que o homem se bastaria a si mesmo individualmente apoiado na razão.
A linguagem é o instrumento de permuta do espírito e que por si só, é o bastante para colocar o homem acima de qualquer animal, permitindo-lhe desenvolver suas faculdades.
O homem só se realiza plenamente como homem na sociedade; só através de uma integração na sociedade é que atinge o perfeito desenvolvimento do seu ser de natureza racional. O ser humano pede uma complementação, por isso tende à sociabilidade.
O instinto de vinculação é um dos instintos mais fortes, senão o mais forte de todos, aparecendo no fundo de todas as manifestações da natureza humana. É através deste instinto que a razão do homem chega a uma ordem de ser social que preenche a finalidade dessa complementação. 
Finalidade que consiste em tornar possível a todos uma existência humanamente perfeita, conforme as exigências expressas nos fins existenciais. A natureza do homem é, assim, uma natureza social, além de individual; e, portanto, o fim social em si é um dos fins existenciais fundamentais. Ambos os aspectos da natureza humana são, como vemos inseparáveis: a natureza individual do homem não se poderia desenvolver sem a vinculação social; e a vinculação social não poderia conduzir o homem a uma situação cultural se o homem não fosse um ser individual dotado de uma natureza simultaneamente corporal e espiritual, com respectivas necessidades, isto é, com a sua tendência para valores.
14. A Justiça
	É a vontade firme e constante de dar a cada um o que lhe é devido.
	Condições necessárias:
a) a distinção de pessoas em que existe correlativamente um direito e um dever de justiça;
b) a especificação de um objeto, que pertence a uma delas e que deve ser respeitado, devolvido ou restabelecido em sua integridade pela outra.
	A justiça divide-se em:
a) comutativa – regula a igualdade das transações entre os indivíduos. Obriga a dar ao outro o que lhe pertence. Ex: o salário, o justo preço, a quantidade e a qualidade da mercadoria;
b) distributiva – é a justiça que fundamenta o direito que tem a sociedade de exigir de seus membros o que é necessário para seu fim, e tratar cada um segundo seus méritos e suas necessidades.
15. A Caridade
Consiste no amor ao próximo. Vai além da justiça, ela é dom de si e daquilo que nos pertence, como conseqüência de um amor de benevolência impulsionando-nos a querer e fazer bem ao próximo.
Funda-se na fraternidade entre os homens, enquanto que o dever de justiça funda-se apenas sobre os direitos estritos da pessoa humana.
Características:
a) relativamente indeterminadas, ou seja, posso escolher as pessoas a quem farei a caridade, o momento, as circunstâncias e a medida em que a farei.
b) não exigíveis pela força.
16. A Justiça e a Caridade
	A caridade contribui para realizar maior justiça, por exemplo, pela mitigação e supressão da escravidão, depois pela eliminação da servidão e melhoria das condições de trabalho. A caridade auxilia numa correção de certos erros de apreciação moral.
Relações entre a caridade e a justiça:
A caridade implica respeito da justiça – quem ama o seu próximo começa primeiramente por respeitar seus direitos.
A justiça deve sr temperada pela caridade – há uma distinção entre legalidade e equidade. Aquilo que a leicivil permite pode não ser coerente como direito natural. Nesses casos, a caridade deve intervir para que haja paz e concórdia.
A justiça é auxiliar da caridade – enquanto contribui para tornar sua prática racional e eficaz. A caridade desliza facilmente para a fraqueza. Ex: na educação doso filhos, na esmola. A justiça deve acompanhar o exercício da caridade. Se a justiça deve ser caridosa, também a caridade deve ser justa.
A caridade é auxiliar da justiça – a caridade trabalha para fazer admitir e praticar os deveres de justiça desconhecidos ou violados pelos indivíduos e pela sociedade. Abre caminho para uma justiça mais exata.
A caridade tem ainda um imenso papel a desempenhar, para aliviar as misérias morais, para fazer reinar nas relações humanas, constantemente conturbadas pelas desigualdades sociais, este espírito de doçura e amizade fraterna sem o qual não há verdadeira sociedade humana.
15. O Trabalho.
	É toda atividade material e espiritual que procura um resultado útil. Para a explicação do trabalho concorrem alguns elementos subjetivos (pensamento, vontade, ação, habilidade) e alguns objetivos (matéria e instrumentos). O trabalho humano é a resultante de muitas condições internas (comportamentais, intelectuais, temperamentais, caracteriológicas) e externas (físicas, técnicas, econômicas, sociais).
Elementos que distinguem o trabalho de outras atividades:
- ação transitória, que visa a um resultado concreto (intencionalidade do trabalho);
- uso do corpo para transmitir energia;
- esforço;
- perseverança.
Função do trabalho - com o trabalho o homem humaniza o mundo e isso em dois sentidos:
faz do mundo uma moradia mais habitável, hospitaleira, confortável;
graças ao trabalho, o mundo torna-se o reino do homem.
Além de cósmico o trabalho possui um valor personalista e antropológico, ou seja, o homem aperfeiçoa-se, tempera-se, afina-se, enriquece-se através do seu trabalho. O trabalho qualifica , caracteriza o homem.
	O trabalho em sua natureza de não ser nunca uma criação total, mas somente uma transformação, evidencia o poder criativo do ser humano. O homem possui um ser que não está em condições de produzir do nada o ser de nenhuma coisa. Ele pode somente modelar, transformar, mesmo que seja de maneira genial e profunda, como nas obras de arte e nos produtos da técnica.
	Mesmo não possuindo um caráter alienante, o produto do trabalho é sempre alienado. O trabalho faz parte do possuir e não do ser. É ilusório e errado fazer do progresso técnico o critério de civilização do homem e da sociedade. O verdadeiro progresso civil é o que melhora o homem interiormente.
O trabalho coloca os homens em contato mútuo, seja no momento da produção como no consumo. 
O trabalho demonstra outro aspecto muito significativo do ser humano: seu contínuo transcender-se. O homem nunca está satisfeito com seu trabalho, nem com suas técnicas, nem com seus equipamentos. Procura superar os limites do tempo e da matéria, produzindo máquinas e obras que não se consomem e não se quebram. Ele tende incessantemente ao duradouro, ao perfeito, ao eterno.
16. A Vida Econômica.
	A economia política é a ciência que estabelece as leis da atividade humana no domínio da produção e da distribuição das riquezas materiais. Sendo uma atividade humana e dos atos humanos, a economia política depende das leis morais, que podem e devem ser dirigidas para o bem comum da sociedade.
Divisão do trabalho:
a racionalização e padronização: a vida moderna tende a especializar de forma cada vez mais restrita as diferentes funções econômicas, a fim de obter uma produção mais rápida e menos dispendiosa. Os métodos de racionalização e padronização são um acréscimo de rendimento do trabalho, simplificando as tarefas humanas, diminuindo a mão de obra e aumentando o ritmo da produção;
o homem e a máquina: a especialização excessiva tende a atrofiar as faculdades intelectuais do operário e a suprimir todo espírito de iniciativa, pela execução de uma repetição mecânica dos mesmos gestos, sendo agravado pelo trabalho em série. O maquinismo tende a provocar a superprodução das mercadorias industriais e agrícolas, e precipitar o desemprego generalizado e permanente.
A máquina deve tornar-se auxiliar do homem e contribuir para o bem geral da sociedade. Para isto é necessário que a ordem econômica não transforme em uma anarquia, como se ela pudesse encontrar por si mesma a base para seu equilíbrio e estabilidade, mas se regule de uma forma racional, tanto numa nação como na sociedade internacional.
O conjunto de problemas que dizem respeito às desigualdades sociais, ao regime do trabalho e, em particular, às relações do capital e do trabalho se chama “questão social”.
O capital e o trabalho:
a) capital – é o bem econômico real, de qualquer natureza, que a produção visa alcançar (uma pedreira, um terreno para plantação de soja, etc.) ou qualquer riqueza acumulada, que corresponde a um rendimento (aluguel, juros, etc.).
Algumas teorias:
Socialismo – pretende que o lucro devido ao capital (ou aos que fornecem o material ou os meios de produção) é um roubo feito ao operário.
Capitalismo – resultado da economia ou do acúmulo de frutos do trabalho, por economia, lucro legítimo ou herança, O capitalismo, todavia, tende a monopolizar a maior parte dos lucros, em detrimento dos direitos do trabalho, o que o torna moralmente reprovável.
Liberalismo – liberdade ilimitada do trabalho, da produção e da concorrência, do comércio e das transações.
Sobre a propriedade: os abusos do regime capitalista conduziram teóricos socialistas, como Marx e outros, a considerar a propriedade privada como sendo a causa das doenças que sofrem as sociedades modernas.
O coletivismo socialista – condena toda espécie de propriedade privada e quer que todos os bens se tornem comuns.
O socialismo de Estado – atribui ao Estado a propriedade ou o controle direto das grandes empresas de interesse público (correio, estradas de ferro, estradas, armamentos, etc.), das grandes indústrias e dos organismos de crédito e de seguro, de forma a impedir, inicialmente, a constituição de fortunas muito grandes, depois, de forma a estender a todos os benefícios da propriedade privada, fundada unicamente no trabalho.
A propriedade privada é um direito natural: o direito da propriedade privada natural resulta da própria natureza do homem e se manifesta pela inclinação inata a se apropriar das coisas. A propriedade privada é necessária ao indivíduo, para assegurar sua subsistência de uma forma regular e estável, ao homem como pessoa, como indivíduo racional e livre, para assegurar sua independência em relação ao outro, enfim, ao cidadão, que só se encoraja ao trabalho de maneira ativa e perseverante, na medida em que se pode beneficiar pessoalmente dos frutos de seu trabalho.
O papel do Estado: o Estado não pode suprimir a propriedade individual, mas deve ao contrário favorecer o acesso do maior número possível de cidadãos à propriedade privada, garantia de segurança, de liberdade e de dignidade, contando que, venha regular as modalidades de acesso à propriedade, fixar-lhes as condições de posse e prevenir e reprimir os abusos.
	O comunismo e o coletivismo vão contra às exigências do direito natural, contra as tendências mais profundas da natureza humana e contra o bem do indivíduo e da sociedade.
	O socialismo de Estado mesmo não sendo tão nocivo, traz, entretanto graves inconvenientes. Primeiramente, inspira-se em idéias materialistas, e professa que a sociedade para ser perfeita exige apenas transformações de ordem econômica. Como se a desordem social não fosse o egoísmo. Por outro lado, despreza os frutos economizados e acumulados do trabalho. Além disso, encarregaria o Estado de tarefas de extrema complexidade, e suprimiria um dos fatores mais eficazes da produção, que é o interesse pessoal do trabalhador. Enfim, o Estado se exporia, no caso de conflito com a enorme massa de assalariados que emprega, com o perigo de ver gravemente comprometida a marcha regular

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