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Aula 11 Trabalho, calor e temperatura. Os conceitos primitivos da termodinâmica são os de trabalho, calor, temperatura e processos. Assim, trata-se de desenvolver uma teoria que, tendo como conceitos iniciais aqueles acima citados, e baseado em algumas princípios fundamentais, embasados na experiência, desenvolva suas conseqüências. Trabalho é um conceito baseado na idéia de trabalho mecânico, mas, por não ser restrito a este tipo de trabalho, precisa ser tomada como conceito primitivo. Temperatura talvez possa ser inicialmente definida por aquilo que ela não é. Temperatura não é medida de calor, nem de energia, nem mesmo de energia cinética. De fato, para os gases ideais pode-se mostrar que a energia cinética média das partículas é proporcional à temperatura do sistema. Porém, a água fervendo com contínuo acréscimo de calor, à temperatura fixa de 100 ºC, talvez sirva como contra-exemplo suficiente para esta associação. Da mesma forma, calor não é agitação térmica, sendo o calor trocado por radiação no vácuo exemplo bastante para desfazer o equívoco. Com isto, deve ficar claro que, apesar das diversas possíveis e importantes conexões entre estes três conceitos e a experiência cotidiana, eles serão tomados pela termodinâmica como conceitos primitivos, tal como ponto, reta e plano na geometria. Na termodinâmica, estamos interessados em descrever processos, termo este que completa sua lista de quatro conceitos primitivos. Moto-contínuo Em um dos trabalhos de Escher (1898-1972) vemos o exemplo do que seria um moto-contínuo. Este desenho, claramente absurdo, apresenta situação que, no fundo, está por trás de diversas concepções de motos-contínuos como esta de Da Vinci (1452-1529). Motos-contínuos de 1ª espécie Os motos-contínuos desta categoria são aqueles que, no fundo, criam energia do nada. As primeiras propostas nesta direção aparecem já no ano 700 com a invenção da “roda mágica”, baseada em magetos. Diversos inventores têm desde então, e ainda hoje em dia, procurado mecanismos que gerem energia e trabalho sem necessidade de fonte externa. Mais motos-contínuos Os departamentos de patente do mundo inteiro continuam recebendo projetos de motos-contínuos. Uma das linhas é baseada na incompreensão dos princípios do sifão. O aparente paradoxo deste tipo de proposta está na falata do uso do princípio de Pascal, segundo o qual a pressão em um fluido depende da altura da coluna. O magnetismo também tem inspirado diversas tentativas. Propostas modernas A física moderna também motiva os inúmeros aficcionados pela idéia. Calor e trabalho 1ª Lei da Termodinâmica Todas estas propostas falham por violar o que se tornou um princípio da física, a 1ª lei da termodinâmica: Dada uma condição inicial fixa, é impossível construir um sistema capaz de produzir uma quantidade arbitrariamente grande de trabalho produzindo também uma quantidade arbitrariamente grande de calor. Com este axioma, podemos demosntrar a existência de um potencial termodinâmico, dito energia interna do sistema, denotado em geral pela letra U, para a qual vale: ∆U = Q - W onde Q é o calor absorvido pelo sistema no processo e W o trabalho realizado pelo sistema no processo. Motos-contínuos de 2ª espécie Igualmente fantástica e impossível é a idéia de converter completamente calor em trabalho, sem nenhuma alteração nos sistemas. O oposto é possível: Levante um peso e solte-o. Todo o trabalho pode ser convertido, tanto quanto se queira, em calor. Se fosse possível converter calor integralmente para trabalho, sem nenhuma outra alteração nos sistemas, seria possível transferir calor de um corpo a uma temperatura mais baixa para outro a uma temperatura mais alta. Deve ser resaltada a idéia de alteração no sistema, pois sem levar isto em consideração é, de fato, viável transformar calor em trabalho e transferir calor de um corpo mais frio para outro mais quente. Motos-contínuos de 2ª espécie Aliás, tranferir calor de corpo mais frio para outro mais quente é exatamente o que fazem os aparelhos de ar condicionado. Porém, para isto, usam energia elétrica, ou seja, alteram um sistema. Se fosse possível transferir calor de um corpo mais frio a um mais quente sem nenhuma outra alteração, seria possível também fazer este processo deixando uma parte do trabalho como trabalho “útil”. Teríamos assim um “ar condicionado ideal”, o qual além de não precisar de energia para funcionar, na verdade ainda gera uma energia excedente para outros usos. Como comparação, lembremos que é possível a um corpo a uma pressão menor realizar trabalho sobre outro a uma pressão maior, mostrando assim mais uma diferença fundamental entre calor e trabalho 2ª Lei da Termodinâmica A 2ª lei da termodinâmica estabelece a impossibilidade de transferências de calor de uma forma ainda mais geral, impedindo que em processos cíclicos haja apenas absorção de calor. A formulação completa envolve a definição de uma função, dita função de acumulação de calor. Em termos mais simples, podemos ficar com a formulação de Kelvin alterada por Planck: É impossível construir uma máquina operando em ciclos cujo único resultado seja realizar trabalho absorvendo calor de um reservatório a uma temperatura constante. A segunda lei da termodinâmica permite definir uma grandeza chamada de entropia, denotada em geral pela letra S. Esta grandeza, sobre a qual também reina uma grande confusão, inclusive na literatura científica, é definida a partir da função de acumulação. ∆S ≥ ∫ C/T2 dT onde C é a função acumulação de calor. Um caso simples, onde não há calor trocado, os ditos processos adiabático, têm C ≡ 0. Para estes processos, temos ∆S ≥ 0. Como os sistemas isolados, por definição, só têm processos adiabáticos, para eles também vale ∆S ≥ 0. Esta equação tem sido fonte de confusão, pois não se diz que a entropia só pode aumentar para todos os processos, mas sim para os todos os processos adiabáticos e, consequentemente, para os sistemas isolados.
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