Conteúdos da Educação Física Escolar

Prévia do material em texto

Introdução 
A educação configura-se como um processo 
formativo que pode ocorrer tanto em instituições 
sociais (família, igreja, associações, entre outras) 
quanto em instituições formais (escolas), devendo 
ambas estar imersas na cultura de cada povo e 
não apenas vinculada à ciência, sendo atribuído a 
elas, em cada época, um significado. Nesse 
sentido, na Educação Física, dois períodos são 
bastante demarcados: o tradicional e o 
renovador, cada qual apresentando uma 
concepção de aluno, ensino e aprendizagem, 
assim como conteúdos a serem trabalhados. 
O período tradicional foi fortemente marcado 
pelo entendimento da Educação Física sob a 
ótica higienista, militarista e esportivista, quando 
as principais preocupações eram, 
respectivamente, a melhora da higiene – e, 
consequentemente, da saúde -; a preparação da 
nação para a defesa da pátria e a formação de 
Motriz, Rio Claro, v.15 n.3 p.592-599, jul./set. 2009 
Artigo Original 
Educação Física e conteúdos trabalhados nas séries iniciais do Ensino 
Fundamental 
 
Junior Vagner Pereira da Silva 1 2 3 
Kelly Umbelina Deus Dagostin 4 
Paulo Ricardo Martins Nunez 1 2 
 
1 Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal, Campo 
Grande, MS, Brasil 
2 Laboratório de Pesquisas em Educação Física, Rendimento Humano e Saúde da 
Anhanguera Educacional, Campo Grande, MS, Brasil 
3 Núcleo de Estudos e Pesquisas em Pedagogia do Movimento da UNIMEP, Piracicaba, 
SP, Brasil 
4 Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo Grande, MS, Brasil 
 
Resumo: A Educação Física nas últimas décadas tem passado por diversas mudanças, sobretudo após a 
década de 80 com a ampliação das discussões e a elaboração de novas propostas a respeito de seus 
objetivos, abordagens e conteúdos. Contudo, estudos têm evidenciado que pouco tem se efetivado na 
prática pedagógica dos professores em algumas localidades do país. Sendo assim, a presente 
investigação buscou analisar os conteúdos trabalhados nas aulas de Educação Física nas séries iniciais 
do Ensino Fundamental em 6 escolas públicas de Campo Grande – MS. O estudo foi do tipo exploratório, 
adotando a observação sistematizada como técnica de pesquisa. Os resultados indicam que embora exista 
uma diversificação nos conteúdos ministrados, os esportes coletivos tradicionais (futsal, voleibol, handebol 
e basquetebol) foram predominantes na maioria das escolas e aulas. Os jogos tradicionais também 
mostraram ser bem explorados. Conclui-se que, mesmo havendo uma diversificação das possibilidades de 
vivencia corporal nas aulas de Educação Física, os esportes coletivos são priorizados até mesmo nos anos 
iniciais do Ensino Fundamental. 
Palavras-chave: Escola. 1ª a 4ª séries. Prática Pedagógica. 
Physical Education and the contents worked on the first series of the “Ensino 
Fundamental” 
Abstract: During the last decades, Physical Education has been passing through many changes, especially 
after the 80’s, with the increasing of the discussions and the elaboration of new proposals related to its 
objectives, approaches and contents. However, studies have been showing that little has been done on the 
teaching practice in some places of this country. So, this research tried to analyse the contents dealt on the 
Physical Education’s classes, on the first series of the Ensino Fundamental, on 6 public schools in Campo 
Grande-MS. It was an exploratory study, adopting the sistematized observation as research technique. The 
results show that, although there is a diversification of the teaching contents, the traditional coletive sports 
(futsal, volleyball, handball and basketball) were predominant on the majority of te schools and classes. The 
traditional games also appeared as very well approached. It could be concluded that, having a 
diversification of possibilities of body experience on the Physical Education classes, the group sports have 
priority, even on the first series of the Ensino Fundamental. 
Key Words: School. Teaching/Learning. Teaching Practi. 
Educação Física e conteúdos 
 
 
Motriz, Rio Claro, v.15, n.3, p.592-599, jul./set. 2009 593
uma nação campeã olímpica para sustentação e 
promoção do país através do esporte. Dentre os 
conteúdos trabalhados destacaram-se a ginástica 
sueca, a alemã e posteriormente a francesa na 
higienista e militarista, e os esportes, em suas 
diversas manifestações, na esportivista (DARIDO; 
SANCHES, 2005). 
Devido a não efetivação do Brasil como 
potência no esporte e da competição de elite não 
ter elevado o número de praticantes de atividades 
físicas, no final da década de 70 e início da 
década de 80, essas propostas começam a ser 
questionadas e criticadas. Aliado a isso, o 
retorno de professores/pesquisadores que se 
encontravam estudando no exterior e o aumento 
do número de encontros e periódicos na área da 
Educação Física fez com que se iniciasse um 
movimento de discussão de novos horizontes 
para as aulas de Educação Física no âmbito 
escolar. Esse período ficou conhecido como 
Movimento Renovador e a partir dele novas 
propostas para a Educação Física passaram a 
ser discutidas – Abordagem Psicomotora (LE 
BOUCH, 1983), Desenvolvimentista (TANI et al., 
1980), Construtivista (FREIRE, 1989), Saúde 
Renovadora (NAHAS, 2001), Crítico-Superadora 
(COLETIVO DE AUTORES, 1992), Crítico-
Emancipatória (KUNZ, 1994), Sistêmica (BETTI, 
1991), Cultural (DAÓLIO, 1995) e Jogos 
Cooperativos (BROTTO, 1995). 
Com o surgimento dessas abordagens, novos 
conteúdos foram propostos conforme indica o 
quadro 1. 
Quadro 1. Abordagens pedagógicas e seus conteúdos 
Abordagens Conteúdos 
Psicomotricidade Conceitos funcionais 
Conceitos relacionais 
Desenvolvimentista 
Habilidades motoras fundamentais 
Habilidades motoras especializadas 
Jogo 
Esporte 
Dança 
Construtivista 
Jogos e brincadeiras tradicionais 
Jogos simbólicos 
Jogos de regras 
Jogos de construção 
Saúde Renovada 
Exercícios físicos 
Esportes 
Aptidão Física 
Crítico-Superadora 
Jogo 
Esporte 
Dança 
Ginástica 
Crítico-Emancipatória Esportes coletivos e individuais 
Sistêmica 
Jogo 
Esporte 
Dança 
Ginástica 
Jogos cooperativos Jogos cooperativos 
 
Contudo, foi com a publicação dos Parâmetros 
Curriculares Nacional (BRASIL, 1997), fruto do 
trabalho de vários estudiosos da área, que 
ocorreu uma maior ampliação das possibilidades 
de manifestação da cultura corporal do 
movimento nas propostas para as aulas de 
Educação Física Escolar. Esse referencial trouxe 
como sugestão a organização dos conteúdos em 
três blocos: Esportes, Jogos, Lutas e Ginástica; 
Atividades Rítmicas e Expressivas; 
Conhecimento sobre o Corpo, estando o último 
ligado a todos os conteúdos dos blocos 
anteriores. 
Embora várias discussões e propostas 
existam no plano acadêmico sobre novas 
possibilidades de exploração da manifestação da 
cultura corporal do movimento nas aulas de 
Educação Física, muitas vezes elas não têm 
alcançando os professores nas escolas e, 
consequentemente, não se concretizado 
(ULASOWICZ; PEIXOTO, 2004). 
A não efetivação das propostas mais recentes, 
tais como a ampliação das possibilidades de 
vivência da cultura corporal do movimento nas 
aulas de Educação Física, tem sido constatada 
em diversos estudos. No entanto, a maioria deles 
J. V. P. Silva, K. U. D. Dagostin & P. R. M. Nunez 
 
 
Motriz, Rio Claro, v.15, n.3, p.592-599, jul./set. 2009 594
revela dados obtidos apenas com professores 
das últimas quatro séries (5ª, 6ª, 7ª e 8ª) do 
Ensino Fundamental (GUEDES; GUEDES, 1997; 
SANTOS; MATOS, 2004; ROSÁRIO; DARIDO, 
2005; COSTA; NASCIMENTO, 2006; SILVEIRA, 
2007). 
Assim, pouco se conhece sobre a conjuntura 
da prática pedagógica docente em Educação 
Física nas séries iniciais, haja vista que as 
informações disponíveis na literatura sobre essa 
fase da Educação Básica e disciplina são poucas 
(FILGUEIRAS et al., 2007). 
Diante do exposto, este estudo teve como 
objetivo analisar os conteúdos aplicados nas 
aulas de Educação Físicanas séries iniciais do 
Ensino Fundamental em Campo Grande - MS. 
Metodologia 
Este trabalho consiste em uma pesquisa 
exploratória/descritiva que, de acordo com 
Marconi; Lakatos (1999), objetiva descrever 
completamente um fenômeno ainda pouco 
explorado, buscando informações que originem 
novas propostas. 
A coleta de dados consistiu na observação 
das aulas nas séries iniciais do Ensino 
Fundamental (1ª a 4ª), ministradas por 6 
professores de Educação Física, de 6 escolas da 
Rede Municipal de Ensino de Campo Grande - 
MS. 
A técnica de investigação utilizada foi a 
observação sistemática (MARCONI; LAKATOS, 
1999). Foram observadas as aulas ministradas 
por cada professor em quatro turmas por três dias 
de semanas diferentes, totalizando uma análise 
de 12 aulas por professor. 
Como instrumento, utilizou-se um “Diário de 
campo”, criado por Silva (2005), para 
acompanhamento da prática pedagógica no 
âmbito escolar. 
No tratamento dos dados recorreu-se à 
análise estatística-descritiva (freqüência). 
Resultados e Discussão 
Os resultados indicam que vários conteúdos 
foram trabalhados nas aulas observadas. Dentre 
eles, conforme pode ser visualizado no quadro 2, 
predominaram os esportes tradicionais de 
quadra. 
Quadro 2. Conteúdos trabalhados nas aulas de Educação Física, por categoria 
 Escolas 
 1 2 3 4 5 6 
Esportes tradicionais 12 3 12 12 6 3 
Pré-desportivos 2 10 3 
Jogos 9 3 8 1 5 
Ginástica escolar 1 2 
Danças 
Rodas cantadas 5 
Conhecimento sobre o corpo 2 
Atividades em sala 1 3 
Jogos de Salão 12 10 
 
A predominância dos esportes tradicionais de 
quadra nas aulas de Educação Física também foi 
observada em investigações realizadas com 
professores das séries iniciais (3ª e 4ª séries) em 
Osasco – SP (FILGUEIRAS et al., 2007) e finais 
do Ensino Fundamental (5ª à 8ª séries) em 
Londrina – PR (GUEDES; GUEDES, 1997), 
Barueri – SP (SANTOS; MATOS, 2004), São 
Paulo – SP (ROSÁRIO; DARIDO, 2005), Maringá 
– PR (COSTA; NASCIMENTO, 2006), Campinas 
– SP (OLIVEIRA, 2006) e em Palhoça – SP 
(SILVEIRA, 2007). 
Embora o esporte tenha ocupado um posto de 
destaque na sociedade moderna - posição em 
que ainda permanece na sociedade 
contemporânea - esse não deve limitar as 
possibilidades existentes da manifestação da 
cultura corporal nas aulas de Educação Física 
(BETTI, 1991), principalmente nas séries iniciais, 
uma vez que nessa fase do Ensino Fundamental 
é preciso considerar a atividade corporal como 
elemento fundamental da vida infantil, sendo a 
estimulação adequada e diversificada essenciais 
para isso. Para tanto, deve-se privilegiar o 
desenvolvimento das habilidades motoras 
básicas, jogos e brincadeiras variadas, 
Educação Física e conteúdos 
 
 
Motriz, Rio Claro, v.15, n.3, p.592-599, jul./set. 2009 595
possibilitando ao aluno a oportunidade de 
desenvolvimento da cultura corporal de 
movimento (BETTI; ZULLIANI, 2002). 
Além de limitar as possibilidades de 
experiências de vivências corporais 
diferenciadas, há de considerar também que, em 
alguns casos, dependendo da forma como é 
trabalhado, o esporte encontra-se carregado de 
valores oriundos do sistema capitalista, 
apresentando os mesmos princípios de 
rendimento discriminatório (melhores x piores), 
privilegiando, assim, o ter em detrimento do ser. 
Sobre essa temática, Bracht (1986) corrobora 
salientando que, muitas vezes, o que se enfatiza 
nessas atividades é o respeito incondicional e 
irrefletido às regras do esporte institucionalizado, 
contribuindo, dessa forma, com a reprodução das 
desigualdades sociais, atuando como uma forma 
de controle, uma vez que o sujeito deve se 
adaptar ao esporte respeitando as regras 
previamente expostas. 
Atitudes negativas como comentários 
desagradáveis, gozações, humilhações e/ou 
agressões decorrentes de um padrão 
estereotipado da prática esportiva, são citadas 
por escolares (que não tinham por costume 
participar das aulas de Educação Física da 6ª 
série do Ensino Fundamental ao Colegial em 
Barueri– SP) como o principal responsável por 
não participaram dessas aulas (PAIANO, 2006). 
Frente a esses problemas, a classe docente, 
além de estar atenta à necessidade de ampliação 
das vivências corporais, deve refletir também 
sobre os valores que estão sendo trabalhados. 
Analisando de forma mais específica os 
conteúdos ministrados, os dados indicam que o 
futsal predominou em relação aos demais 
conteúdos e, ainda, figurou como o aplicado no 
maior número de aulas, conforme quadro 3. 
Quadro 3. Conteúdos trabalhados nas aulas de Educação Física 
 Escolas 
 1 2 3 4 5 6 
Voleibol 1 9 7 
Handebol 
Basquetebol 1 
Atletismo 
Futsal 12 2 9 12 5 
Pré- desportivos 2 10 3 
Jogos de construção 
Jogos simbólicos 2 1 
Jogos tradicionais 7 3 8 5 
Ginástica escolar 1 2 
Ginástica artística 
Ginástica rítmica 
Ginástica localizada 
Danças 
Rodas cantadas 5 
Lutas 
Conhecimento sobre o corpo 2 
Atividades em sala 1 3 
Jogos de Salão 12 10 
 
Possivelmente o fato de o futsal ser a 
modalidade mais utilizada nas aulas de Educação 
Física decorre da relação existente entre o futebol 
e a cultura brasileira, afinal, essa modalidade é 
uma das mais populares em nosso país. Há de 
considerar também a evolução e conquistas 
dessa modalidade nos últimos tempos e sua 
popularização diante da mídia, que passou a 
valorizar e a transmitir esse esporte com maior 
freqüência. Segundo Costa; Nascimento (2006), a 
priorização da mídia na divulgação de apenas 
alguns conteúdos acaba gerando uma pressão 
na sociedade para adesão de modalidades 
esportivas como o futebol, futsal e voleibol em 
relação aos demais. 
Contudo, e como a presente investigação foi 
de corte transversal, não se descarta a hipótese 
de que a referência a pouca utilização dos outros 
esportes também possa ter sofrido influência da 
forma com que os professores sistematizam seus 
conteúdos, uma vez que, conforme constatado 
por Oliveira (2006) e Silveira (2007), existe uma 
tendência dos conteúdos da Educação Física 
J. V. P. Silva, K. U. D. Dagostin & P. R. M. Nunez 
 
 
Motriz, Rio Claro, v.15, n.3, p.592-599, jul./set. 2009 596
Escolar serem distribuídos nas quatro 
modalidades esportivas por bimestre. 
Embora os esportes tenham predominado, 
vale ressaltar a quantidade de escolas e aulas 
nas quais os jogos tradicionais foram trabalhados. 
A utilização de uma variedade maior de 
conteúdos nas séries iniciais do Ensino 
Fundamental também foi constatada nos estudos 
de Fiorante; Simões (2005) com professores de 
Serra Negra – SP. 
A relevância da exploração das diferentes 
possibilidades de manifestação da cultura 
corporal é relatada por Betti; Zulliani (2002). 
Segundo os autores é importante que o educador 
físico, respeitando os limites individuais, 
proporcione aos alunos oportunidades para a 
realização dos jogos, esportes, atividades 
rítmicas/expressivas, lutas e artes marciais, 
ginástica e prática da atividade física, assim como 
a exploração das variações desses conteúdos. 
A dança e as lutas mostraram-se inexistentes 
na ação pedagógica dos professores avaliados. 
Um dos principais motivos alegados pelos 
professores para a pouca exploração da dança 
em estudos realizados por Peres et al. (2001) e 
Rocha; Rodrigues (2007) e das lutas em 
pesquisas desenvolvidas por Ferreira (2005) e 
Rosário; Darido (2005), foi a falta de domínio 
desses conteúdos. Ainda sobre a dança recai o 
preconceito cultural que se tem em relação a sua 
prática, muitas vezes sendo rotulada como 
“atividade de meninas” (MARQUES, 1997; 
EHRENBERG, 2003), fazendo com que, nas 
poucas ocasiões em que são trabalhadas, limite-
se à composição de coreografias com fins em si 
mesmas, a serem apresentadas em datas 
comemorativas e eventos (PERES et al., 2001; 
EHRENBERG; GALLARDO, 2005; ROCHA; 
RODRIGUES, 2007). 
Contudo é preciso considerar que a atuação 
docente não é uma açãoindividual, pois ela está 
sujeita à interferência de fatores externos - tais 
como as condições de trabalho e apoio recebido 
da equipe administrativa (VEGA, 2002). Nesse 
sentido, observa-se que o modelo educacional da 
sociedade contemporânea apresenta diversas 
mudanças no que concerne às condições de 
trabalho, atribuições docentes e administrativas, 
influenciando assim a prática docente. 
Dentre os aspectos relacionados as condições 
de trabalho, a estrutura física tem sido uma das 
mais citadas em investigações científicas sobre 
essa temática. Estudos desenvolvidos por Peres 
et al. (2001) e Ferreira (2005) apontaram a 
carência de instalações e equipamentos 
adequados como limitadores das possibilidades 
de trabalho. Considerando que a Educação Física 
tem como pressuposto o desenvolvimento da 
cultura corporal de forma variada, Peres (2001) 
expõe que se torna necessário a disposição de 
espaços adequados e diferenciados à sua 
prática. 
A falta de tempo para elaboração de aulas 
diferenciadas (diversificação dos conteúdos, 
aplicação das atividades com base nas três 
dimensões do conhecimento – procedimental, 
atitudinal e conceitual, entre outros) também tem 
sido apontada como um dos problemas 
administrativos influenciadores na prática 
pedagógica. Estudos realizados por Peres et al. 
(2001) constataram que os professores 
trabalhavam pouco com a dança devido as 
mesmas exigirem um tempo maior para serem 
elaboradas e aplicadas. 
Dados similares foram encontrados por 
Rodrigues; Darido (2006) ao analisarem a 
aplicação dos conteúdos nas três dimensões 
(procedimental, conceitual e atitudinal). Embora 
os autores tenham identificado a possibilidade de 
aplicação dos conteúdos nas três dimensões, a 
falta de tempo gasto com o planejamento foi 
indicada pelos professores como o principal fator 
limitador. 
Além desses problemas, observa-se que na 
atualidade exige-se que o professor seja 
pedagogo eficaz, organizador do trabalho em 
grupo, além de ter que cuidar do equilíbrio 
psicológico e afetivo dos alunos (NOVOA, 1999), 
muitas vezes a ele delegando funções como a de 
amigo, confidente, pai e mãe, necessitando, com 
isso, adequar-se e conhecer individualmente 
cada aluno (TRICOLLI, 1997), ultrapassando 
assim, suas funções de educador. 
Diante desse contexto conflituoso em que o 
professor se encontra inserido, se faz necessário 
que o mesmo obtenha respaldo institucional, pois 
as dificuldades relacionadas à falta de tempo 
decorrente do número de turmas e sobrecarga de 
atividades, entre outros, são apontadas entre 
professores como um dificultador na troca de 
experiências e avaliação de suas práticas 
(WITTIZORECKI; MOLINA NETO, 2005). 
Educação Física e conteúdos 
 
 
Motriz, Rio Claro, v.15, n.3, p.592-599, jul./set. 2009 597
Conclusão 
Os resultados nos conduzem a conclusão de 
que os conteúdos mais trabalhados nas aulas de 
Educação Física pelos professores avaliados são 
os esportes tradicionais de quadra, 
predominando, entre eles, o futsal; sendo os 
jogos tradicionais também bem explorados. 
Embora haja indícios de que a falta de 
domínio dos conteúdos, a deficiência da estrutura 
física das escolas e o tempo de planejamento 
influenciem negativamente sobre a prática 
pedagógica, uma vez que investigações 
realizadas em outras cidades e estados do Brasil 
tenham verificado que para os professores esses 
são os principais fatores limitadores, nenhuma 
relação causa/efeito pôde ser estabelecida entre 
essas variáveis na presente investigação, haja 
vista que os docentes avaliados não foram 
questionados sobre os motivos que os levam a tal 
prática. 
Assim, torna-se importante que novas 
investigações sejam realizadas a fim de melhor 
conhecer a prática pedagógica do professor de 
Educação Física nas séries inicias do Ensino 
Fundamental em Campo Grande – MS e sua 
relação com as questões políticas, 
administrativas e pedagógicas. 
Referências 
BETTI, M. Educação Física e sociedade. São 
Paulo: Movimento, 1991. 
BETTI, M.; ZULLIANE, L. R. Educação Física 
escolar: uma proposta de diretrizes pedagógicas. 
Revista Mackenzie de Educação Física e 
Esporte, São Paulo, v. 1, n. 1, 2002. Disponível 
em: 
http://www.mackenzie.br/fileadmin/Graduacao/CC
BS/Cursos/Educacao_Fisica/REMEFE-1-1-
2002/art6_edfis1n1.pdf. Acesso em: 21 dez. 
2008. 
BRACHT, V. A criança que pratica esporte 
respeita as regras do jogo ... capitalista. Revista 
Brasileira de Ciências do Esporte, Campinas, 
v. 7, n. 3, p. 62-68, 1986. 
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da 
Educação Fundamental. Parâmetros 
Curriculares Nacional: Educação Física. 
Brasília: MEC/SEF, 1997. Disponível em: 
http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro07.p
df. Acesso em: 10 jan. 2009. 
BROTTO, F.O. Jogos cooperativos: se o 
importante é competir, o fundamental é 
compartilhar. São Paulo: Cepeusp, 1995. 
COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do 
ensino da Educação Física. São Paulo: Cortez, 
1992. 
COSTA, L. C. A.; NASCIMENTO, J. V. Prática 
pedagógica de professores de Educação Física: 
conteúdos e abordagens. R. da Educação 
Física/UEM, Maringá, v. 17, n. 2, p. 161-167, 
2006. Disponível em: 
http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/RevE
ducFis/article/view/3336/2409. Acesso em: 15 
nov. 2008. 
DAÓLIO, J. Da cultura do corpo. Campinas: 
Papirus, 1995. 
DARIDO, S. C.; SANCHES, L. O. Contexto da 
Educação Física na escola. In: DARIDO, S. C.; 
RANGEL, I. C. A. (Org.). Educação Física na 
escola: implicações para a prática pedagógica. 
Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005, p. 2-
24. 
EHRENBERG, M. C. A dança como 
conhecimento a ser tratado pela Educação 
Física Escolar: aproximações entre formação e 
atuação profissional. 2003. 86 f. Dissertação 
(Mestrado em Educação Física) - Faculdade de 
Educação Física, Universidade Estadual de 
Campinas, Campinas, 2003. Disponível em: 
http://libdigi.unicamp.br/document/?code=vtls000
307217. Acesso em: 16 dez. 2009. 
______; GALLARDO, J. S. P. Dança: 
conhecimento a ser tratado nas aulas de 
Educação Física Escolar. Motriz, Rio Claro, v. 11, 
n. 2, p. 121-126, 2005. Disponível em: 
http://www.rc.unesp.br/ib/efisica/motriz/11n2/11M
CE.pdf. Acesso em: 10 nov. 2008. 
FERREIRA, H. S. As lutas na educação física 
escolar - parte do bloco de conteúdos... na prática 
ou apenas no papel? In: ENCONTRO DE PÓS-
GRADUAÇÃO E PESQUISA DA UNIVERSIDADE 
DE FORTALEZA, 5., 2005, Ceará. Anais... 
Ceará: Universidade de Fortaleza, 2005. 
FILGUEIRAS, I. P.; OLIVEIRA, G. K.; PAIANO, 
R.; RODRIGUES, L. H. Concepções e 
preferências sobre as aulas de Educação Física 
Escolar: uma análise da perspectiva discente. 
Revista Mackenzie de Educação Física e 
Esporte, São Paulo, v. 6, n. 3, p. 23-31, 2007. 
Disponível: 
http://www.mackenzie.br/fileadmin/Editora/REME
F/Remef_6.3/Artigo_02.pdf. Acesso em: 15 jan. 
2009. 
J. V. P. Silva, K. U. D. Dagostin & P. R. M. Nunez 
 
 
Motriz, Rio Claro, v.15, n.3, p.592-599, jul./set. 2009 598
FIORANTE, F. B.; SIMÕES, R. (Re) lendo a 
prática pedagógica dos professores de Educação 
Física. Arquivos em Movimento, Rio de Janeiro, 
v. 1, n. 2, p. 19-29, 2005. Disponível em: 
http://b200.nce.ufrj.br/~revista/artigos/v1n2/artigo
02_v1n2.pdf. Acesso em: 15 jan. 2009. 
FREIRE, J. B. Educação de corpo inteiro. 
Teoria e prática da Educação Física. 
Campinas: Scipione, 1989. 
GUEDES, J. E. R. P.; GUEDES, D. P. 
Características dos programas de Educação 
Física Escolar. Revista Paulista de Educação 
Física, São Paulo, v. 11. n. 1, p. 49-62, 1997. 
Disponível em: 
http://www.usp.br/eef/rpef/v11n1/v11n1p49.pdf. 
Acesso em: 15 out. 2008. 
KUNZ, E. Transformação didático-pedagógica 
do esporte. Ijuí: Unijuí, 1994. 
LE BOUCH, J. A. Educação pelo movimento. 
Porto Alegre: Artes Médicas, 1983. 
MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Técnicas de 
pesquisa: planejamento e execução de 
pesquisas, amostragens e técnicas de pesquisas, 
elaboração, análise e interpretação de dados. 4 
ed. São Paulo: Atlas, 1999. 
MARQUES, Isabel. Dançando na escola. Motriz, 
RioClaro, v. 3, n. 1, p. 20-28, 1997. Disponível 
em: 
http://www.rc.unesp.br/ib/efisica/motriz/03n1/artig
o3.pdf. Acesso em: 19 out. 2008. 
NAHAS, M. V. Atividade física, saúde e 
qualidade de vida: conceitos e sugestões para 
um estilo de vida ativo. Londrina: Midiograaf, 
2001. 
NÓVOA, A. . Os professores na virada do milênio: 
do excesso dos discursos à pobreza. Educação 
e Pesquisa, São Paulo, v. 25, n. 1, p. 11-20, 
1999. Disponível em: 
http://www.scielo.br/pdf/ep/v25n1/v25n1a02.pdf. 
Acesso em: 16 nov. 2008. 
OLIVEIRA, R. C. O futebol nas aulas de 
Educação Física: entre “dribles”, preconceitos e 
desigualdades. Motriz, Rio Claro, v. 12, n. 3, p. 
301-306, 2006. Disponível em: 
http://cecemca.rc.unesp.br/ojs/index.php/motriz/ar
ticle/viewFile/70/361.pdf. Acesso em: 07 jan. 
2009. 
PAIANO, R. Possibilidades de orientação da 
prática pedagógica do professor de Educação 
Física: situações de desprazer na opinião dos 
alunos. Revista Mackenzie de Educação Física 
e Esporte, São Paulo, v. 5, n. 1, p. 47-58, 2006. 
PERES, G. As implicações da educação física no 
âmbito escolar. Revista On line Biblioteca Prof. 
Joel Martins, Campinas, v. 2, n. 2, p. 231-243, 
2001. Disponível em: 
http://www.fae.unicamp.br/etd/viewarticle.php?id=
351&layout=abstract.pdf. Acesso em: 15 jan. 
2009. 
PERES, A. T.; RIBEIRO, D. M. D. B.; MARTINS 
JUNIOR, J. A dança escolar de 1ª a 4ª série na 
visão dos professores de Educação Física das 
escolas estaduais de Maringá. R. da Educação 
Física/UEM, Maringá, v. 12, n. 1, p. 19-26, 2001. 
Disponível em: 
http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/RevE
ducFis/article/view/3760/2590. Acesso em: 21 
nov. 2008. 
ROCHA, D.; RODRIGUES, G. M. A dança na 
escola. Revista Mackenzie de Educação Física 
e Esporte, São Paulo, v. 6, n. 3, p. 15-21, 2007. 
Disponível em: 
http://www.mackenzie.br/fileadmin/Editora/REME
F/Remef_6.3/Artigo_01.pdf. Acesso em: 06 jan. 
2009. 
RODRIGUES, H. A.; DARIDO, S. C. Conteúdos 
na Educação Física escolar: possibilidades e 
dificuldades na aplicação de jogos nas três 
dimensões. Revista Digital, Buenos Aires, ano 
11, n. 96, mayo de 2006. Disponível em: 
http://www.efdeportes.com/efd96/jogos.htm. 
Acesso em: 09 out. 2008. 
ROSÁRIO, L. F. R.; DARIDO, S. C. A 
sistematização dos conteúdos da educação física 
na escola: a perspectiva dos professores 
experientes. Motriz Rio Claro, v. 11, n. 3, p. 167-
178, 2005. Disponível em: 
http://www.rc.unesp.br/ib/efisica/motriz/11n3/10L
RF.pdf. Acesso em: 15 jan. 2009. 
SANTOS, R. S.; MATOS, T. C. S. A relação entre 
tendência e prática pedagógica dos professores 
de Educação Física de 3º e 4º ciclos do Ensino 
Fundamental. Revista Mackenzie de Educação 
Física e Esportes, São Paulo, v. 3, n. 3, p. 45-53, 
2004. Disponível em: 
http://www.mackenzie.br/fileadmin/Graduacao/CC
BS/Cursos/Educacao_Fisica/REMEFE-3-3-
2004/art3_edfis3n3.pdf. Acesso em: 15 fev. 2009. 
SILVA, J. V. P. Diário de campo para análise 
da prática docente em Educação Física. 
Disciplina Projetos em educação física aplicados 
ao Ensino Fundamental. Curso de Educação 
Física. Universidade para o Desenvolvimento do 
Estado e da Região do Pantanal – UNIDERP, 
2005. Campo Grande. – MS, 2005. Disponível 
em: 
http://www.info.uniderp.br/academicos/projetosem
educacaofisica/diariodecampo/observacao.pdf. 
Acesso em: 15 nov. 2008. 
Educação Física e conteúdos 
 
 
Motriz, Rio Claro, v.15, n.3, p.592-599, jul./set. 2009 599
SILVEIRA, J. A Educação Física escolar nas 
escolas públicas e os seus conteúdos: uma 
análise sobre a postura dos educadores acerca 
de seu campo de trabalho. Revista CONFEF. 
Disponível em: 
http://www.confef.org.br/arquivos/artigo. Acesso 
em: 04 out. 2008. 
TANI, G.; KOKUBUN, E.; MANOEL, E. J.; 
PROENÇA, J. E. Educação Física escolar: 
fundamentos de uma abordagem 
desenvolvimentista. São Paulo: EPU-EDUSP, 
1988. 
TRICOLLI, V. A. C. Sintomas de Stress em 
escolares de 1ª a 4ª série. 1997. 123 f. 
Dissertação (Mestrado em Psicologia) - 
Departamento de Pós-Graduação em Psicologia 
Cliníca, Pontifícia Universidade Católica, 
Campinas, 1997. 
ULASOWICZ, C.; PEIXOTO, J. R. P. 
Conhecimentos conceituais e procedimentais na 
Educação Física Escolar: a importância atribuída 
pelo aluno. Revista Mackenzie de Educação 
Física e Esporte, São Paulo, v. 3, n. 3, p. 63-76, 
2004. Disponível em: 
http://www.mackenzie.br/fileadmin/Graduacao/CC
BS/Cursos/Educacao_Fisica/REMEFE-3-3-
2004/art5_edfis3n3.pdf. Acesso em: 10 jan. 2009. 
VEGA, E. H. T. As competências do professor de 
Educação Física na pós-modernidade. 
Movimento, Porto Alegre, v. 8, n. 3, p. 19-31, 
2002. Disponível em: 
http://www.seer.ufrgs.br/index.php/Movimento/arti
cle/view/2647/1273.pdf. Acesso em: 02 fev. 2009. 
WITTIZORECKI, E. S.; MOLINA NETO, V. O 
trabalho docente dos professores de Educação 
Física na Rede Municipal de ensino de Porto 
Alegre. Movimento, Porto Alegre, v. 11, n. 1, p. 
47-70, 2005. Disponível em: 
http://www.seer.ufrgs.br/index.php/Movimento/arti
cle/view/2861/1475.pdf. Acesso em: 20 fev. 2009. 
 
 
 
Esse artigo foi apresentado no VI Congresso 
Internacional de Educação Física e Motricidade 
Humana e XII Simpósio Paulista de Educação 
Física, realizado pelo Departamento de Educação 
Física do IB/UNESP Rio Claro, SP de 30/4 a 03/5 
de 2009. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Endereço: 
Junior Vagner Pereira da Silva 
Av. Afonso Pena, 1980 – Apto 31 
Campo Grande MS Brasil 
79002-071 
Telefone: (67) 8126 6001 
e-mail: jr_lazer@yahoo.com.br 
 
 
 
Recebido em: 10 de fevereiro de 2009. 
Aceito em: 03 de abril de 2009. 
 
 
 
 
Motriz. Revista de Educação Física. UNESP, Rio Claro, 
SP, Brasil - eISSN: 1980-6574 - está licenciada sob 
Licença Creative Commons 
 
http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/2.5/br/
http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/2.5/br/