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AULA 6 GESTÃO DA MUDANÇA E TRANSFORMAÇÃO ORGANIZACIONAL Profª Oriana Gaio 2 INTRODUÇÃO A inovação é importante não apenas no empreendimento individual; ela é cada vez mais a fonte principal do crescimento econômico em proporções nacionais. “É importante destacar que a inovação e o sucesso competitivo não dizem respeito apenas a empresas que fazem uso da alta tecnologia” (Bessant; Tidd, 2015, p. 6). Dessa forma, a inovação é inerente a qualquer processo de mudança e pode ser uma grande aliada das organizações para enfrentar os desafios impostos pelo contexto organizacional. “Inovação tem a ver, essencialmente, com aprendizagem e mudança e, em geral, é disruptiva, cara e envolve risco” (Bessant; Tidd, 2015, p. 103). TEMA 1 – INOVAÇÃO E COMO PROMOVER NAS ORGANIZAÇÕES O conceito de inovação teve início com as pesquisas de Schumpeter (1912), válida até hoje. Sobre o termo inovação, em uma rápida busca você verá que a palavra está relacionada, principalmente, à área empresarial, e que muitas vezes é definida como a criação de um novo produto ou serviço. Contudo, Mattos e Guimarães (2012, p. 35) acrescentam que a inovação poderia ser “a substituição de um material por outro mais barato em um produto existente, ou uma maneira melhor de comercializar, distribuir ou apoiar um produto ou serviço”. Para Bessant e Tidd (2015), a inovação é voltada a relações que visem a oportunidades, as quais podem estar relacionadas a novos avanços tecnológicos. Mattos e Guimarães (2012, p. 38) complementam, afirmando que o surgimento da inovação é decorrente de algumas fontes de oportunidade, como: 1. O sucesso inesperado, que é recebido com gratidão, mas raramente dissecado para se perceber como ele ocorreu. 2. A incongruência entre o que realmente acontece e o que deveria ter acontecido. 3. A inadequação de um processo básico que é considerado natural. 4. As mudanças na estrutura do setor ou do mercado que pegam todos de surpresa. 5. As mudanças demográficas causadas por guerras, melhorias na medicina e até mesmo superstição. 6. As mudanças na percepção, no humor e na moda, provocadas pelos altos e baixos da economia. 7. As mudanças no nível de consciência causadas por novos conhecimentos. O Manual de Oslo, criado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) em 1990, indicou diretrizes sobre inovação 3 e tecnologia; seu objetivo é direcionar e apresentar conceitos e metodologias. Dessa forma, o motivo para a produção do manual foi compreender as atividades voltadas à inovação e sua relação com o crescimento econômico, além de propiciar uma relação de indicadores que sirvam de base ao apresentar as melhores práticas existentes. Em vista disso, a OCDE (2019, p. 21) define a inovação como: um produto ou processo novo ou melhorado (ou combinação deles) que difere significativamente dos produtos ou processos anteriores da unidade e que foi disponibilizado para usuários potenciais (produto) ou posto em uso pela unidade (processo). Com base nessa informação, o Manual de Oslo apresenta os principais tipos de inovação (Quadro 1): Quadro 1 – Principais tipos de inovação, de acordo com o Manual de Oslo TIPO DE INOVAÇÃO CARACTERÍSTICA PRINCIPAL EXEMPLO Inovação de produto É a introdução de um bem ou serviço novo ou significativamente melhorado no que concerne a suas características ou usos previstos. Incluem-se melhoramentos significativos em especificações técnicas, componentes e materiais, softwares incorporados, facilidade de uso ou outras características funcionais. Os primeiros microprocessadores e câmeras digitais foram exemplos de novos produtos usando novas tecnologias. O primeiro tocador de MP3 portátil, que combinou padrões de softwares existentes com a tecnologia de disco rígido miniaturizado, foi uma nova combinação de tecnologias existentes. Inovação de processo É a implementação de um método de produção ou distribuição novo, ou significativamente melhorado. Incluem-se mudanças significativas em técnicas, equipamentos e/ou softwares. São exemplos de novos métodos de produção a introdução de novos equipamentos de automação em uma linha de produção e a implementação de design auxiliado por computador para o desenvolvimento de produto. A introdução de dispositivos de rastreamento para serviços de transporte, a implementação de um novo sistema de reservas em agências de viagens e o desenvolvimento de novas técnicas para gerenciar projetos em uma empresa de consultoria também podem ser considerados exemplos. (continua) 4 (continuação do Quadro 1) Inovação organizacional É a implementação de um novo método organizacional nas práticas de negócios da empresa, na organização do seu local de trabalho ou em suas relações externas. A implementação de novas práticas para melhorar o compartilhamento do aprendizado e do conhecimento no interior da empresa. Um exemplo é a primeira implementação de práticas para a codificação do conhecimento, pelo estabelecimento de bancos de dados com as melhores práticas, lições e outros conhecimentos, de modo que se tornem mais acessíveis a outros. Inovação incremental O consumidor percebe poucos avanços, não alterando a forma de consumo do produto, é aquela em que o novo produto incorpora alguns novos elementos em relação ao anterior, sem que, no entanto, sejam alteradas as funções básicas do produto. No desenvolvimento de novas escovas de dentes, seja pela introdução de designs mais ergonômicos, seja pela utilização de novos materiais, a generalidade das inovações não se traduzem em qualquer alteração das funções básicas do produto. Inovação radical É aquela que causa um impacto significativo em um mercado e na atividade econômica das empresas nesse mercado. Esse conceito é centrado no impacto das inovações, em oposição a sua novidade. Mudar a estrutura do mercado, criar novos mercados ou tornar produtos existentes obsoletos. Fonte: elaborado com base em OCDE, 1997, p. 57-63. Estudamos, em conteúdos anteriores, a respeito da cultura de aprendizado nas organizações – e a inovação está intimamente ligada ao tema. Facilitar a inovação nas organizações permite que as equipes criem, errem e se desenvolvam no ambiente profissional, garantindo, assim, maior produtividade e eficácia dos processos. No entanto, você pode estar se perguntando como promover a inovação na empresa. Podemos tomar medidas simples para impulsionar a inovação em nossa organização e incentivar os funcionários a criarem novas maneiras de melhorar a empresa, produtos ou processos, como os pontos listados a seguir: 1. Tenha processos e eventos para capturar ideias. Por exemplo, a empresa pode criar caixas de sugestões no local de trabalho ou realizar workshops regulares para debater ideias. 2. Crie uma atmosfera de apoio na qual as pessoas se sintam livres para expressar suas ideias sem o risco de críticas ou ridicularizações. 3. Incentive a tomada de riscos e a experimentação – não penalize as pessoas que tentam novas ideias que falham. 5 4. Promova a abertura entre indivíduos e equipes. Boas ideias e conhecimento em uma parte de seu negócio devem ser compartilhados com os outros. Trabalho em equipe, boletins informativos e intranet podem ajudar seu pessoal a compartilhar informações e incentivar a inovação. 5. Enfatize que as pessoas em todos os níveis da empresa compartilham a responsabilidade pela inovação, para que todos se sintam envolvidos em levar o negócio adiante. Quanto menos camadas de gerenciamento ou tomada de decisão em sua organização, mais as pessoas sentem que suas ideias são importantes. 6. Recompense a inovação e celebre o sucesso. Incentivos apropriados podem desempenhar um papel significativo em incentivara equipe a pensar criativamente. 7. Procure imaginação e criatividade ao recrutar novos funcionários. Lembre- se de que os pensadores inovadores nem sempre são aqueles com a lista de qualificações mais impressionante. TEMA 2 – PROCESSOS DE INOVAÇÃO: ESTRATÉGIAS E CARACTERÍSTICAS Como vimos, promover a inovação internamente, além de gerar mudança organizacional, possibilita a combinação de recursos para melhores resultados e gerarão valor. Mudança e inovação são próximas, razão pela qual podem ser consideradas “parceiras” (Moreira; Guimarães; Philippe, 2016). Para Tidd e Bessant (2015, p. 55), a “inovação é uma atividade genérica, associada à sobrevivência e ao crescimento e, nesse nível de abstração, podemos observar um processo subjacente comum a todas as empresas”. Os autores propõem um modelo de processo de inovação para que as empresas identifiquem se há uma estratégia clara para a inovação. 6 Figura 1 – Modelo de processo de inovação É importante notar que o processo de inovação requer cuidados e uma série de práticas até que possa gerar valor, pois a inovação é primordial para a empresa que deseja estar à frente dos concorrentes e consiga obter vantagem competitiva. Precisamos ressaltar que as organizações nem sempre estão prontas para se tornarem empresas inovadoras; dentro de um cenário de incertezas, reflexo da herança deixada pela pandemia de Covid-19, além da instabilidade econômica, guerras etc., o processo de inovação deve ser estimulado. Para Trott (2012, citado por Silva, p. 40, 2018) dada a complexidade da natureza da inovação, existem dez características organizacionais que facilitam o processo de inovação. 7 Figura 2 – Dez características que facilitam a inovação Apesar de estas as características serem facilitadoras do processo de inovação, elas, por si só, não garantem que a empresa seja inovadora. É a cultura inovadora que “faz com que formas de inovar sejam buscadas constantemente. E, para que isso ocorra, a gestão deve estar focada em instalar rotinas inovadoras dentro da empresa” (Silva, 2018, p. 42). Ressaltamos que uma cultura de inovação bem estruturada requer que a gestão esteja intimamente envolvida no processo. Chiavenato (2021) ressalta que, além da estrutura e cultura, os recursos humanos são fontes de inovação. Dessa forma, a liderança é a responsável por toda a estratégia da organização, tanto no fornecimento de recursos, quanto no estabelecimento das regras competitivas e de crescimento. Quando não há envolvimento da liderança com a inovação, esta não será vista por toda a empresa como prioridade. Mas o envolvimento não se resume apenas ao da alta gestão, mas também dos líderes dos níveis médios, uma vez que todos têm um papel fundamental no desenvolvimento de uma cultura que valoriza a geração e execução de ideias inovadoras. Nesse contexto, líderes devem assumir um papel de facilitadores do fluxo de ideias e do conhecimento e transformadores da realidade da empresa. Se não houver o envolvimento das lideranças com a estratégia de inovação da empresa, obstáculos serão antepostos, dificuldades serão trazidas e o status quo será mantido. (Scherer; Carlomagno, 2016, p. 38) De acordo com Audrey Smith e Ellie Hall (citadas por Scherer e Carlomagno, 2016), há quatro barreiras para o desenvolvimento da inovação nas 8 organizações. No Quadro 2 é possível conhecer que barreiras são essas, como ocorrem, e o que os líderes precisam fazer para superá-las. Quadro 2 – Barreiras à inovação Barreira O que ocorre O que os líderes precisam fazer Dificuldade de entender os stakeholders Ao identificar um problema ou oportunidade, tende-se a buscar soluções antes que as verdadeiras necessidades, desejos, comportamentos e experiências dos stakeholders sejam compreendidas. • Inspirar curiosidade: as pessoas precisam ser encorajadas a serem curiosas e questionadoras. • Pensar fora do seu ambiente normal e explorar. • Facilitar e promover a curiosidade. • Criar oportunidades para seus funcionários coletarem informação. • Adotar uma perspectiva pela qual possam entender as necessidades dos clientes e de outros stakeholders-chave. Falta de ideias brilhantes Para permanecerem competitivas, as organizações precisam de um pacote completo de soluções que lhes permitam inovar de forma disruptiva. As empresas não possuem um “engenho de ideias” alimentado por perspectivas diferentes e colaboração para soluções inovadoras. • Desafiar as perspectivas atuais: líderes que fazem isso mantêm uma mente aberta e resistem aos desejos de reforçar o status quo ao dispensar ideias amplas. • Fornecer treinamento e oportunidades de networking. • Facilitar interações com outras partes da organização. • Dar tarefas que tiram os indivíduos do ambiente comum de trabalho. Aversão das pessoas a correr riscos Um dos principais inimigos da inovação é o medo do fracasso. É comum que as pessoas se esquivem do novo e desconhecido, permanecendo no caminho mais seguro. Isso ocorre quando as pessoas não possuem liberdade de experimentar e têm medo das consequências dos erros que podem custar caro. • Identificar oportunidades de “risco aceitável” – projetos ou desafios em que o fracasso terá um menor impacto negativo na organização. • Entender que o fracasso é sinônimo de aprendizagem e, portanto, um pré- requisito para o sucesso. • Manter o desejo de perfeição sob controle. Falhas na execução Soluções ou ideias que não passaram além do estágio da ideia são uma oportunidade perdida porque não agregam valor para a organização. • Instigar a disciplina da execução. • Cobrar prazos, metas e orçamentos nas fases finais do processo de inovação. • Facilitar a estrutura e responsabilidade que assegurem que os objetivos da inovação sejam cumpridos. Fonte: Scherer; Carlomagno, 2016, p. 139. 9 TEMA 3 – FERRAMENTAS DE GESTÃO DA INOVAÇÃO: PARTE 1 Após entendermos o processo de inovação, podemos compreender que a gestão da inovação é complexa e composta de muitas partes. Utilizar ferramentas provavelmente auxiliará em todo o processo, podendo aumentar o acerto no diagnóstico e, principalmente, orientar a tomada de decisões dos gestores. De acordo com Scherer e Carlomagno (2016), “no campo da gestão, há teorias descritivas que auxiliam a compreender o fenômeno e teorias prescritivas que possibilitam prever comportamentos futuros”. Apresentaremos, a seguir, algumas ferramentas de gestão da inovação, com base no estudo de Scherer e Carlomagno (2016), cujo objetivo é compreender os estágios da gestão da inovação e a geração de resultados. Quadro 3 – Ferramentas de gestão da inovação Ferramenta Foco Descrição Octógono da inovação Gestão da inovação – Diagnóstico e planejamento Apresenta as 8 dimensões da gestão da inovação Radar da inovação Tipos de inovação – Benchmark, diagnóstico e planejamento Apresenta os 12 tipos existentes de inovação Cadeia de inovação Processo de inovação – Diagnóstico e planejamento Apresenta os 4 estágios do processo de inovação Matriz de portfólio Gestão da inovação – Novos projetos e balanceamento de iniciativas Apresenta a distribuição dos projetos de inovação em função de timing, risco e mercado Innovation scorecard Gestão da inovação – Indicadores e metas Apresenta o mapa de indicadores para gestão da inovação Fonte: Scherer; Carlomagno, 2016, p. 120. 3.1 Octógono da inovação O octógono da inovação é uma ferramenta que visa ao diagnóstico de desempenho da gestão da inovação. Apresenta oito dimensões que abrangem desde a estratégia até a liderança para inovação, conforme a Figura 3. 10 Figura 3 – Octógono da inovação Crédito: Ttetiana12.art/Shutterstock. As oito dimensões da inovação do octógono da inovação são: • Estratégia de inovação– Como a empresa articula o direcionamento das iniciativas de inovação? • Liderança para inovação – Quão claro é o entendimento das lideranças quanto à necessidade e relevância da inovação? De que forma as lideranças apoiam o ambiente de inovação? • Cultura de inovação – O que a alta gestão diz e faz para criar um ambiente que estimule a inovação? • Relacionamentos para inovação – De que forma a organização utiliza parceiros, clientes e concorrentes na geração e refinamento de ideias? • Estrutura para inovação – Onde está localizada a atividade de inovação e como ela é organizada? • Pessoas para inovação – Como é o apoio à inovação, seus incentivos e reconhecimentos? 11 • Processo de inovação – Como as oportunidades de inovação são geradas, desenvolvidas e avaliadas? • Funding para inovação – Como as iniciativas de inovação são financiadas? 3.2 Radar da inovação O radar da inovação envolve os tipos de inovação com base na identificação, comparação e planejamento. Apresenta doze tipos existentes de inovação e três níveis de intensidade. Na Figura 4, podemos observar os diferentes tipos de inovação quanto a sua dimensão, intensidade e dependência representados em uma única ferramenta. Quanto mais próximo do centro do radar, menos inovadora é a empresa, ao passo que, quanto mais próximo do nível externo, mais inovadora é a empresa. Figura 4 – Radar da inovação Crédito: AlexVector/Shutterstock. 12 A seguir, são descritas cada uma das dimensões do radar da inovação; há quatro pilares principais: oferta, cliente, processo e presença. Quadro 4 – Dimensões da inovação Fonte: Scherer; Carlomagno, 2016, p. 122. 3.3 Cadeia de valor da inovação Essa ferramenta objetiva o diagnóstico e planejamento do processo de inovação. Seu foco é “melhorar o desempenho das diferentes etapas do processo de transformação de ideias em inovações” (Scherer; Carlomagno, 2016, p.126). Na cadeia de valor da inovação, a produtividade da inovação na empresa passa por quatro fases. Figura 5 – Fases da produtividade da inovação Fonte: Scherer; Carlomagno, 2016, p. 126. 1. Idealização – Nesta primeira etapa do processo de inovação, o foco é a obtenção de ideias, sejam internas, sejam externas à organização. A fase de idealização está relacionada à criatividade, informação e conhecimento. 13 2. Conceituação – Após a geração das ideias, será preciso aprofundar os conceitos provenientes da etapa de idealização, que precisará ser desenvolvida para, então, tornar-se uma inovação. 3. Experimentação – Após o aperfeiçoamento do conceito de um possível novo produto, serviço ou experiência de consumo, é na fase de experimentação, que ocorre o feedback sobre o desempenho da nova ideia, anteriormente à sua implementação. Para tal, é realizado um projeto piloto para termos uma redução das incertezas e de possíveis falhas. De acordo com Scherer e Carlomagno (2016, p. 126), “quando gerenciamos inovações, as experiências sugerem que a estratégia vencedora venha a emergir com a tentativa e erro. Quanto mais cedo ela emergir, melhor”. 4. Implementação – Esta é a última etapa, cujo objetivo é transformar as ideias em inovações. É na implementação que a inovação é tratada em larga escola e colocada em prática. A ferramenta de cadeia de valor da inovação fornece tanto o diagnóstico como a forma dos fluxos de atividades, responsabilidades e incentivos para estimular a inovação na organização. TEMA 4 – FERRAMENTAS DE GESTÃO DA INOVAÇÃO: PARTE 2 4.1 Matriz de portfólio de inovação Dando sequência ao estudo das ferramentas de gestão da inovação, agora falaremos sobre a matriz de portfólio de inovação. Ela será utilizada quando uma empresa desejar incluir uma nova ideia no processo, e recomendamos que sejam analisadas em conjunto todas as ideias já existentes no portfólio. Isso permite o “equilíbrio entre projetos de curto e longo prazos, baixo e alto riscos. Um portfólio de inovação é um conjunto de ideias com potencial inovador que uma empresa administra concomitantemente” (Scherer; Carlomagno, 2016, p. 127). Segundo esses autores, um portfólio permite visibilidade dos projetos, gestão do risco, definição de sinergias e timing para novas iniciativas. A Figura 6 mostra um portfólio de projetos de inovação de uma organização que atende a três mercados: calçadista, automotivo e segurança. Além disso, a matriz foi criada considerando risco de tecnologia, estimativa de duração do projeto completo e valor de investimento. 14 Figura 6 – Fases da produtividade da inovação Fonte: Scherer; Carlomagno, 2016, p. 128. 4.2 Innovation scorecard A matriz de portfólio apresentada anteriormente pode ser combinada com o innovation scorecard como instrumento de gestão da inovação. Esta ferramenta foi desenvolvida para ser a conexão entre as estratégias corporativas e de inovação, além de permitir o gerenciamento de todas as etapas do processo de inovação (Scherer; Carlomagno, 2016, p.129) Podemos dizer que ele se assemelha ao balanced scorecard (BSC), que vimos brevemente em conteúdos anteriores. Porém, no innovation scorecard as perspectivas trabalhadas são contexto, processo, tipos e resultados. Cada uma das perspectivas possui seu indicador e meta para acompanhamento, como pode vemos na Figura 7. 15 Figura 7 – Innovation scorecard Scherer e Carlomagno (2016, p.131) explicam cada uma das estratégias: • Contexto – Relacionada à infraestrutura organizacional disponível para a inovação e simbolizada nas oito dimensões da inovação: estratégia, cultura, estrutura, pessoas, processo, funding, liderança e relacionamentos. • Processo – Trata de indicadores relacionados à geração, conceituação, experimentação e implementação de ideias inovadoras. • Tipos – Aborda a estratégia de inovação articulando as prioridades de inovação da empresa. • Resultados – Explicita a intenção que a empresa tem com a inovação: Qual a contribuição da inovação para a estratégia da empresa? Crescimento, consolidação do negócio central (core business) ou ampliação de mercados? São alternativas distintas que exigirão diferentes tipos de inovação, processo e contexto. 16 Considerando as quatro perspectivas apresentadas, é possível mensurar os resultados finais e ter compreensão acerca do desempenho da empresa, ou seja, conseguimos continuar a gerar excelentes resultados. De acordo com Scherer e Carlomagno (2016, p.131), os objetivos do innovation scorecard “não são estáticos, pelo contrário, da mesma forma que a estratégia da empresa é um fluxo em constante transformação, o direcionamento da inovação também deve ter essa dinamicidade”. TEMA 5 – OS FATORES CRÍTICOS PARA O SUCESSO DAS MUDANÇAS NAS ORGANIZAÇÕES Estudamos, ao longo do curso, que o papel da liderança é essencial para qualquer mudança e transformação organizacional. Entretanto, também precisamos entender que a liderança para uma mudança bem-sucedida não é uma tarefa fácil. Trabalhar em empresas que implementam otimização de processos, melhorias operacionais e implantação de estratégias demonstra que a mudança não é apenas uma alteração de cultura; a maneira como a cultura é deslocada em direção ao propósito pessoal e alinhada aos valores faz a diferença fundamental. Ao implementar uma grande mudança transformacional, muitas empresas dizem que precisam de “gerenciamento de mudanças”, sem de fato saber exatamente o que isso significa (Chiavenato, 2021). Na realidade, gerenciar a mudança de um projeto transformacional é um componente em constante evolução para manter o crescimento e a vantagem competitiva de uma empresa. O que a empresa deve buscar é atingir as metas e objetivos, e procurar entender quais são os fatores críticos para o sucesso. Listamos sete fatores críticos para o sucesso da mudança e quais as questõespara avaliar e realizá-la de forma eficaz (Chiavenato, 2021, p. 327): 1. Comando da mudança (os responsáveis para que a mudança ocorra) – A esse respeito, devemos avaliar se há um líder que promove a mudança com comprometimento e autoridade, e se consegue recursos e tempo necessários para a promoção da mudança. 2. Elaboração de uma necessidade comum (por que estamos realizando a mudança) – Os colaboradores devem entender a razão para a mudança 17 ocorrer no âmbito organizacional, compreenderem sua importância e como ela beneficiará a todos. 3. Representação de uma visão do futuro (como será a mudança quanto estiver implementada) – Os colaboradores conseguem perceber os resultados da mudança no contexto organizacional e estão motivados com as implementações e os benefícios gerados. 4. Envolvimento organizacional (quais atores devem estar envolvidos para que a mudança ocorra) – Neste quesito, devemos identificar os patrocinadores da mudança, envolvendo as pessoas chave para termos suporte e dividirmos responsabilidades para que tudo aconteça. 5. Transformação de sistemas e estruturas da empresa (como a mudança será internalizada) – Os patrocinadores da mudança devem entender e incorporar sistemas e estruturas à mudança, como avaliações, recompensas, entre outros. 6. Acompanhamento da melhoria (como a mudança será avaliada) – Os patrocinadores devem possuir formas de medir o sucesso da mudança. 7. Continuidade da mudança (como a mudança será mantida na organização) – Os patrocinadores da mudança devem ter um planejamento de curto e longo prazo para manter as transformações, como também para a adaptação à mudança com o tempo e eventuais necessidades. É importante notar, considerando os fatores listados, que o envolvimento das pessoas é essencial para que o processo da mudança aconteça. Desse modo, cada um dos executivos que fazem parte da empresa, desde o presidente, até o líder de equipe, precisam ser ativos quanto ao aprendizado da mudança e da inovação dentro da organização e, principalmente, agentes multiplicadores de esforços de melhoria contínua. A mudança está ao nosso redor e ocorre cada vez mais rápido. Ter um olhar para o futuro pode auxiliar a minimizar os problemas que as empresas enfrentarão no caminho. Estejamos todos preparados! Saiba mais Para mais informações, leia o artigo “Monitoramento revela tendências que vão transformar o mundo nas próximas décadas”1. 1 Disponível em: <https://www.ciesp.com.br/noticias/monitoramento-da-fiesp-revela-tendencias- que-vao-transformar-o-mundo-nas-proximas-decadas/>. Acesso em: 8 nov. 2022. 18 REFERÊNCIAS BESSANT, J.; TIDD, J. Gestão da inovação. Porto Alegre: Bookman, 2015. CHIAVENATO, I. Comportamento organizacional: a dinâmica do sucesso das organizações. 4. ed. Barueri: Grupo GEN, 2021. MATTOS, J. R. L.; GUIMARÃES, L. dos S. Gestão da tecnologia e inovação: uma abordagem prática. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. MOREIRA, M. F.; GUIMARÃES, T. de A.; PHILIPPE, J. Change and innovation: an observable relationship in services? RAI: Revista de Administração e Inovação, v. 13, n. 2, p. 135-144, 2016. OCDE – Organização para Cooperação Econômica e Desenvolvimento; FINEP – Financiadora de Estudos e Projetos. Manual de Oslo: proposta de diretrizes para coleta e interpretação de dados sobre inovação tecnológica. 1997. Disponível em: <http://www.finep.gov.br/images/a-finep/biblioteca/manual_de_oslo.pdf>. Acesso em: 8 nov. 2022. SCHERER, F. O.; CARLOMAGNO, M. S. Gestão da inovação na prática. Barueri: Grupo GEN, 2016. SILVA, F. P. D. et al. Gestão da inovação. Barueri: Grupo A, 2018. INTRODUÇÃO TEMA 1 – INOVAÇÃO E COMO PROMOVER NAS ORGANIZAÇÕES TEMA 2 – PROCESSOS DE INOVAÇÃO: ESTRATÉGIAS E CARACTERÍSTICAS TEMA 3 – FERRAMENTAS DE GESTÃO DA INOVAÇÃO: PARTE 1 3.1 Octógono da inovação 3.2 Radar da inovação 3.3 Cadeia de valor da inovação TEMA 4 – FERRAMENTAS DE GESTÃO DA INOVAÇÃO: PARTE 2 4.1 Matriz de portfólio de inovação 4.2 Innovation scorecard TEMA 5 – OS FATORES CRÍTICOS PARA O SUCESSO DAS MUDANÇAS NAS ORGANIZAÇÕES REFERÊNCIAS