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MANUAL DE TRONCO COMUM DOS 
CURSOS DE LICENCIATURA 
ANTROPOLOGIA GERAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2022 ENSINO ONLINE. ENSINO COM FUTURO 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MANUAL DE TRONCO COMUM DOS 
CURSOS DE LICENCIATURA 
ANTROPOLOGIA GERAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2º ANO: MANUAL DE TRONCO COMUM 
CÓDIGO 
TOTAL HORAS/ 1 SEMESTRE 100 
CRÉDITOS (SNATCA) 4 
NÚMERO DE TEMAS 8 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
3 
 
 
 
Direitos de autor (copyright) 
 
Este manual é propriedade da Universidade Aberta ISCED (UnISCED), e contém reservados 
todos os direitos. É proibida a duplicação ou reprodução parcial ou total deste manual, sob 
quaisquer formas ou por quaisquer meios (electrónicos, mecânico, gravação, fotocópia ou 
outros), sem permissão expressa de entidade editora (Universidade Aberta ISCED) UnISCED. 
 
A não observância do acima estipulado o infractor é passível a aplicação de processos judiciais 
em vigor no País. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Universidade Aberta ISCED 
Vice-reitoria Académica 
Rua Paiva Couceiro, Macuti 
Beira - Moçambique 
Telefone: +258 23 323501 
Cel: +258 82 3055839 
Fax: 23323501 
Email: suporte@unisced.edu.mz 
Website: www.isced.ac.mz 
 
 
 
 
 
 
i 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
4 
 
 
 
Agradecimentos 
 
A Universidade Aberta ISCED (UnISCED) e o autor do presente manual agradecem a 
colaboração dos seguintes indivíduos e instituições na elaboração deste manual: 
 
Pela Coordenação 
 
Pelo design 
 
Financiamento e Logística 
 
 
Pela Revisão 
 
Ano de publicação 
Ano de actualização 
Local de publicação 
 
 
Elaborado Por: Jone Januário Mirasse, 
Mestre em Desenvolvimento Rural 
 
 
Vice-reitoria Académica do ISCED (UnISCED) 
 
Direcção de Qualidade e Avaliação do ISCED 
 
 
Instituto Africano de Promoção da Educação 
a Distância (IAPED) 
 
2019 
2022 
ISCED-Beira
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
5 
 
Índice 
Visão geral............................................................................................................................................. 9 
Bem-vindo à Disciplina/Módulo de Antropologia ................................................................................ 9 
Objectivos do Módulo ........................................................................................................................... 9 
Quem deveria estudar este módulo ....................................................................................................... 9 
Como está estruturado este módulo ..................................................................................................... 10 
Ícones de actividade ............................................................................................................................ 11 
Habilidades de estudo .......................................................................................................................... 11 
Precisa de apoio? ................................................................................................................................. 12 
Tarefas (avaliação e auto-avaliação) ................................................................................................... 13 
Avaliação ............................................................................................................................................. 13 
TEMA 1: FUNDAMENTOS DAS CIENCIAS SOCIAIS ................................................................. 16 
UNIDADE 1.1. Introdução Geral........................................................................................................ 16 
Introdução............................................................................................................................................ 16 
Sumário ............................................................................................................................................... 17 
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO .................................................................................................. 17 
UNIDADE 1.2. Constituição e desenvolvimento das ciências sociais ................................................ 19 
Introdução............................................................................................................................................ 19 
Sumário ............................................................................................................................................... 23 
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO .................................................................................................. 23 
UNIDADE 1.3. Pluralidade, diversidade e interdisciplinaridade nas ................................................. 24 
Introdução............................................................................................................................................ 24 
Sumário ............................................................................................................................................... 27 
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO .................................................................................................. 27 
UNIDADE 1.4. Ruptura com senso comum ....................................................................................... 29 
Introdução............................................................................................................................................ 29 
Sumário ............................................................................................................................................... 30 
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO .................................................................................................. 31 
TEMA 2: HISTÓRIA DO PENSAMENTO ANTROPOLÓGICO .................................................... 32 
UNIDADE 2.1. Origem ...................................................................................................................... 32 
Introdução............................................................................................................................................ 32 
Sumário ............................................................................................................................................... 33 
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO .................................................................................................. 35 
UNIDADE 2.2. A curiosidade intelectual e o interesse pelo exótico .................................................. 36 
Introdução............................................................................................................................................ 36 
Sumário ............................................................................................................................................... 37 
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO .................................................................................................. 37 
UNIDADE 2.3. A universalização da antropologia ............................................................................ 39 
Introdução............................................................................................................................................ 39 
Sumário ............................................................................................................................................... 41 
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO .................................................................................................. 41 
UNIDADE 2.4. As diferentes “cores” e campos de ............................................................................da confluência de saberes oriundos de distintas ciências. 
Cada ciência humana é composta por visões interpretativas, por meio 
das quais os estudiosos observam, analisam e explicam o homem, a 
sociedade e a cultura, a partir de circunstâncias específicas. Ou seja, a 
 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
37 
 
 
 
diversidade sociocultural é investigada por modelos explicativos 
edificados a partir de circunstâncias históricas específicas, dos 
interesses e dos objectivos envolvidos no estudo e na reflexão dos 
temas analisados (ASSIS, 2008). 
 
Na opinião do Francelin (2004), podemos afirmar que a compreensão 
do homem, da sociedade, da cultura ou da diversidade humana - suas 
manifestações, implicações, enfim, os aspectos que lhe são inerentes - 
não resultou do esforço de um único pesquisador ou grupo de 
pesquisadores, observando a mesma realidade num único lugar e numa 
época demarcada. 
 
Na verdade, o entendimento do homem enquanto ser plural resultou 
de um esforço amplo e complexo, perpassado por diversos factores, 
dentre eles, o tempo, o espaço, as peculiaridades histórico-sociais e 
cognitivas inerentes aos sujeitos que se propuseram a tal estudo. No 
entanto, de acordo com Maía (2000) e Gusmão (2008) é necessário 
frisar que ao longo do processo de construção da explicação e 
compreensão do homem e do mundo, os paradigmas (modelos 
explicativos) tanto uniram quanto separaram os homens, pois em seu 
interior sempre se encontram presentes as concepções e os ideais de 
uma época. 
 
 
Sumário 
 
Nesta unidade temática 2.2 aprendemos as questões ligadas 
com interesse e curiosidade do homem em se conhecer e 
conhecer o outro, fomentando cada vez mais a competição no 
domínio do conhecimento que permite entre outras coisas 
▪ O aperfeiçoamento da explicação das dinâmicas sócias
 
 
▪ A interpretação das diferenças observadas entre os seres 
humanos
 
 
 
 
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO 
 
Grupo 1 (Com respostas) 
 
1.Qual é o critério mais relevante no esforço do homem em buscar 
explicações de aspectos observados? 
 
2.Quais são os factores que se tomam em consideração na busca da 
compreensão do Homem? 
 
Respostas 
1.Modo de vida 
2.Tempo, espaço, peculiaridades histórico-sociais e cognitivas 
 
 
Grupo 2 (respostas detalhadas) 
1.Diferenças seriam oriundas das formas encontradas pelos homens
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
38 
 
 na busca de satisfação e suas necessidades mínimas 
 2.Cada ciência humana é composta de por visões interpretativas 
 3.O entendimento do homem enquanto ser plural resultou de um 
 esforço amplo e complexo 
 Grupo 3 (exercícios de gabarito) 
 1.O que é curiosidade científica? 
 2.Quais são os critérios que o homem usa na busca de explicações 
 daquilo que observa? 
 3.Qual é a necessidade do ser humano conhecer-se e conhecer a 
 
outros? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
39 
 
 
 
 
UNIDADE 2.3. A universalização da antropologia 
 
 
Introdução 
 
Ao estudar esta unidade temática, pretende-se de uma forma inicial 
conhecer os grandes pensadores universais que constituíram a base 
para os desenvolvimentos da antropologia. Daí que ao completar 
esta unidade, o estudante deverá ser capaz de: 
 
▪ Compreender a etnologia e sua aplicação
 
 
▪ Conhecer os grandes precursores da universalização da antropologia
 
Objectivos 
específicos 
 
 
 
Desenvolvimento 
 
De acordo com Corrêa (2010) uma tentativa de universalização do 
significado dos termos pode ser encontrada na obra do antropólogo 
francês Claude Lévi-StrauusAntropologia Estrutural. Sua proposta é a 
seguinte: 
 
A etnografia - corresponde aos primeiros estágios da pesquisa: 
observação e descrição, trabalho de campo (field-work). Uma 
monografia, que tem por objecto um grupo suficientemente restrito 
para que o autor tenha podido reunir a maior parte de sua informação 
graças a uma experiência pessoal, constitui o próprio tipo do estudo 
etnográfico. Para Copans (1999) a etnologia - representa um primeiro 
passo em direcção à síntese. Corrêa (2010) afirma que sem excluir a 
observação directa, ela tende para conclusões suficientemente 
extensas e que seja difícil funda-las exclusivamente nem conhecimento 
de primeira mão. Esta síntese pode operar-se em três direcções:
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
40 
 
 
 
a) Geográfica, quando se quer integrar conhecimentos relativos a 
grupos vizinhos; 
 
b) Histórica, quando se visa reconstituir o passado de uma ou várias 
populações; 
 
c) Sistemática, enfim, quando se isola, para lhe dar uma atenção 
particular, determinado tipo de técnica, de costume ou de instituição. 
 
A etnologia compreende a etnografia como seu passo preliminar, e 
constitui seu prolongamento. É o que encontramos tanto no Bureau 
ofAmericanEthnology da Smithsonian Instituion, como na 
ZeitschritftfürEthnologie ou noInstitut d`ethnologie de L`Université de 
Paris (CORRÊA, 2010) 
 
Para Corrêa (2010) em toda parte onde encontramos os termos 
antropologia cultural ou social, eles estão ligados a uma segunda e 
última etapa da síntese, tomando por base as conclusões da etnografia 
e da etnologia. Nos países anglo-saxónicos, a antropologia visa um 
conhecimento global do homem, abrangendo seu objecto em toda sua 
extensão histórica e geográfica; aspirando a um conhecimento aplicável 
ao conjunto do desenvolvimento humano desde, digamos, os 
hominídeos até as raças modernas, e tendendo para conclusões, 
positivas ou negativas, mas válidas para todas as sociedades humanas, 
desde a grande cidade moderna até a menor tribo melanésia. Esta ideia 
de Corrêa (2010) é também corroborada com Maía (2000) e Assis (2008) 
pode-se, pois, dizer, neste sentido, que existe entre a antropologia e a 
etnologia a mesma relação que se definiu acima entre esta última e a 
etnografia. 
 
Por fim, Lévi-Strauss escreve: etnografia, etnologia e antropologia não 
constituem três disciplinas diferentes, ou três concepções diferentes 
dos mesmos estudos. Corrêa (2010) diz que são, de fato, três etapas ou 
três momentos de uma mesma pesquisa, e a preferência por este ou 
aquele destes termos exprime somente uma atenção predominante 
voltada para um tipo de pesquisa, que não poderia nunca ser exclusivo 
dos dois outros. 
 
i. A preferência por uma ou outra nomenclatura depende da tradição 
teórica do país. Por exemplo, o que se faz em nome da antropologia 
cultural nos EUA, na França se reconhece como Etnologia e na Grã-
Bretanha como Antropologia Social. 
 
ii. A Etnologia é definida como a ciência que estuda as heranças 
biológicas (ditas raciais), costumes e línguas da humanidade, isto é, suas 
características, suas origens, diferenças e distribuição espacial
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
41 
 
 
 
 
 
Sumário 
 
 
Nesta unidade 2.3 aprendemos as ideias dos grandes 
precursores da universalização da antropologia através 
da descrição sobre a: 
 
- Etnologia e etnografia e sua 
 
- Relação com a antropologia 
 
 
 
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO 
 
Grupo 1 (com respostas) 
1.O que é a etnografia? 
2.O que é a etnologia? 
3.Quais são as 3 direcções em que a síntese se opera? 
Respostas 
 
1.Corresponde aos primeiros passos -observação 
e descrição 
2.Representa o primeiro passo em direcção a síntese 
3.Geográfica, histórica e sistemática 
 
Grupo 2 (respostas detalhadas) 
 
1. O termos antropologia cultural ou social, eles estão 
ligados a uma segunda e ultima etapa de síntese, tomando 
por base as conclusões da etnografia e da etnologia. 
 
2.A etnologia é definida como ciência que estuda 
asheranças biológicas 
Grupo 3 (exercícios de gabarito) 
 
1.Diga as semelhanças e diferenças entre a etnografia e 
a etnologia? 
 
2. Explica a ideia de L’evi-Strauss sobre a etnografia, 
etnologia e antropologia 
3.O que são heranças biológicas? 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
42 
 
 
 
 
 
UNIDADE 2.4. As diferentes “cores” e campos de 
aplicação da antropologia 
 
 
 
Introdução 
 
 
 
A antropologia possui diversas “facetas em termos de características 
existenciais” e seus campos de aplicação. Contido ao completar esta 
unidade, o estudante pressupõe-se que deverá ser capaz de: 
 
▪ Conhecer os diferentes campos da antropologia
 
 
▪ Identificar as suas características
 
Objectivos 
específicos 
 
 
 
Desenvolvimento 
 
De acordo com Corrêa (2010) a ciência antropológica é comummente 
dividida em duas esferas principais: a antropologia biológica (ou física) 
e antropologia cultural (ou social). Cada uma delas actua em campos de 
estudo mais ou menos independentes, pois especialistas numa área 
frequentemente consultam e cooperam com especialistas na outra 
área. 
A antropologia biológica é geralmente classificada como uma ciência 
natural, enquanto a antropologia cultural é considerada uma ciência 
social. A antropologia biológica, como o nome já indica, dedica-se aos 
aspectos biológicos dos seres humanos. Busca conhecer as diferenças 
ditas raciais e étnicas, a origem e a evolução da humanidade. 
 
Os antropólogos desta área de conhecimento estudam fósseis e 
observam o comportamento de outros primatas. A antropologia 
cultural dedica-se primordialmente ao desenvolvimento das 
sociedades humanas no mundo. Estuda os comportamentos dos grupos 
humanos, as origens da religião, os costumes e convenções sociais, o 
desenvolvimento técnico e os relacionamentos familiares. 
 
Um campo muito importante da antropologia cultural é a linguística, 
que estuda a história e a estrutura da linguagem. A linguística é 
especialmente valorizada porque os antropólogos se apoiam nela para 
observar os sistemas de comunicação e apreender a visão do mundo 
das pessoas. Através desta ciência também é possível colectar 
histórias orais do grupo estudado. História oral é constituída na 
sociedade a partir da poesia, das
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
43 
 
 
 
canções, dos mitos, provérbios e lendas populares. 
 
Ainda Corrêa (2010) afirma que a antropologia cultural e biológica 
conectam-se com outros dois campos de estudo: a arqueologia e a 
antropologia aplicada. Nas escavações, os arqueólogos encontram 
vestígios de prédios antigos, utensílios, cerâmica e outros artefactos 
pelos quais o passado de uma cultura pode ser datado e descrito 
(pesquisar Arqueologia). 
 
A antropologia aplicada, com base nas pesquisas realizadas pelos 
antropólogos, assessora os governos e outras instituições na 
formulação e implementação de políticas para grupos específicos de 
populações. Ela pode, em certa medida, ajudar governos de países em 
desenvolvimento a superarem as dificuldades que as populações destes 
países enfrentam no embate com a complexidade dos fluxos 
civilizacionais do século 21. E pode também ser usada pelos governos 
na formulação de políticas sociais, educacionais e económicas para as 
minorias étnicas no interior de suas fronteiras. O trabalho da 
antropologia aplicada é frequentemente desenvolvido por especialistas 
nos campos da economia, da história social e da psicologia (CORRêA, 
2010). 
 
Pelo fato da antropologia explorar amplo conjunto de disciplinas, 
investigando diversos aspectos em todas as sociedades humanas, ela 
deve apoiar-se nas pesquisas feitas por estas outras disciplinas para 
poder formular suas conclusões. Dentre as disciplinas mais afins 
segundo Corrêa (2010) encontramos a História, Geografia, Geologia, 
Biologia, Anatomia, Genética, Economia, Psicologia e Sociologia, 
juntamente com as disciplinas altamente especializadas como a 
linguística e a arqueologia, anteriormente mencionadas. 
 
 
 
 
Sumário 
 
Nesta unidade temática 2.4. buscou-se o aprofundamento sobre os 
grandes grupos ou tipos e características específicas da antropologia, 
procurando aglutinar em dois. De salientar que não são somente estes 
campos, diferentes autores nos remeterão a diferentes classificações, 
mas para alguns autores que compõem a lista bibliográfica consultadas 
ditam: 
▪ Antropologia cultural
 
 
▪ Antropologia biológica
 
 
 
 
 
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO 
 
Grupo 1 (com respostas) 
1.O que é antropologia cultural? 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
44 
 
 
 
2.O que é a antropologia biológica? 
 
Respostas 
1. Estuda os comportamentos dos grupos humanos 
2.Estuda aspectos biológicos dos seres humanos 
 
 
Grupo 2 (respostas detalhadas) 
 
1.A antropologia deve apoiar-se nas pesquisas feitas por estas 
outras disciplinas para poder formular suas conclusões. 
 
Grupo 3 (exercícios de gabarito) 
1.Quais são as disciplinas afins exploradas pela antropologia? 
2.Em que momento a antropologia cultural e biológica se 
conectam? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
45 
 
 
 
 
TEMA 3: DESENVOLVIMENTO DA ANTROPOLOGIA 
 
UNIDADE 3.1. Antropologia como ciência 
 
UNIDADE 3.2. A antropologia interpretativa a antropologia 
pós-moderna 
UNIDADE 3.3.Diferentes ramos da antropologia 
 
 
 
UNIDADE 3.1. Antropologia como ciência 
 
 
Introdução 
 
Ao estudar esta unidade temática buscar-se-á ligar as questões 
que nortearam ao surgimento da antropologia e a consideração 
como ciência. Pretende-se que ao completar esta unidade, você 
deverá ser capaz de: 
 
▪ Dominar os marcos de surgimento da antropologia
 
 
▪ Descrever os processos que ditaram a transformação ou evolução da 
antropologia como ciência
 
Objectivos 
específicos 
 
 
Desenvolvimento 
 
Segundo Gusmão (2008) a antropologia, como ciência da 
modernidade, coloca seu aparato teórico construído no passado, com 
possibilidade de, no presente, explicar e compreender os intensos 
movimentos provocados pela globalização: de um lado, os processos 
homogeneizantes da ordem social mundial e, de outro, contrariando 
tal tendência, a reivindicação das singularidades, apontando para a 
constituição da humanidade como una e diversa. Contudo, essa 
tradição é hoje alvo de controvérsias, na medida em que os fatos 
decorrentes da intensa transformação da realidade parecem não 
estar contidos em seus princípios explicativos. 
 
Para Gusmão (2008) nesse campo de tensão, defende-se que ora a 
trajectória da antropologia tem sido a de avaliar as diferenças sociais, 
étnicas e outras com a finalidade de proporcionar alternativas de 
intervenção sobre a realidade social de modo a não negar as diferenças; 
ora não seria a tradição antropológica suficiente para dar conta do 
contexto político das diferenças e, como tal, estaria superada em seus 
propósitos. 
 
Decorrentes do questionamento que afecta as ciências humanas de 
modo geral ainda na segunda metade do século XX, e em particular a 
antropologia, emergem outras perspectivas teóricas, dentre as quais se 
destacam os chamados estudos culturais, cuja definição se dá no 
interior das correntes ditas pós-modernas. 
 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
46 
 
Jordão (2004) e Gusmão (2008) comungam a ideia de que no contexto 
dos debates, a análise das relações existentes entre antropologia, 
estudos culturais e educação apresenta-se como desafio teórico da 
modernidade e como uma necessidade diante dos princípios e das 
práticas presentes na articulação entre o campo científico e o processo 
educativo na sociedade moderna.Em jogo, a busca do diálogo inter e 
transdisciplinar capaz de recuperar da modernidade o pensamento 
crítico para compreender as propriedades da vida social e resgatar a 
noção de cultura como noção crítica e engajada, ou seja, que entende 
a cultura como questão política (GUSMÃO, 2008) 
 
Ainda Gusmão (2008) avança a ideia de que a análise do lugar variável 
da antropologia, como campo disciplinar no passado e no presente, 
coloca em questão a dimensão política própria de qualquer ciência e 
não ausente da história e da prática dessa ciência nascida nos estertores 
do século XIX e no início do século XX. Na divisão de trabalho entre as 
ciências sociais, a antropologia especializou-se na descrição e na 
classificação dos grupos sociais frequentemente tidos como primitivos, 
atrasados, marginais, tribais, subdesenvolvidos ou pré-modernos, 
definidos por sua exterioridade e alteridade em relação ao mundo dos 
antropólogos, ele próprio definido pela civilização, pela ciência e pela 
técnica. 
 
A antropologia como ciência pregava, então, a preservação, a 
protecção, a transformação e a repressão como objecto de políticas 
dirigidas ao mundo do outro. Nesse sentido, a participação dos 
antropólogos e a ciência que praticam acontecem na elaboração e na 
implementação das políticas, o que, mais tarde, já no início do século 
XX, seria conhecido como uma ciência da prática ou uma ciência de 
serviço. O que está em jogo nesse tipo de ciência são as relações entre
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
47 
 
 
 
ciência e prática, até hoje, fato de constantes discussões no mundo 
científico e social. Expressiva desse tipo de prática científica e, 
posteriormente, objecto de considerações morais e políticas, como 
toda ciência praticada naquele período, inscreve-se em um campo 
particular da antropologia – a chamada antropologia “da” educação 
(GUSMÃO, 2008). 
 
 
 
 
Sumário 
 
Nesta unidade temática, procurou-se problematizar sobre o 
surgimento da antropologia como ciência como forma de chamar 
a atenção sobre os marcos históricos desse processo. Daí que o 
aprofundamento remete sempre a 
▪ Compreensão dos factos históricos
 
 
▪ Localização no espaço e no tempo
 
 
 
 
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO 
 
Grupo 1 (com respostas) 
 
1.Qual é a ideia de Gusmão (2008) sobre a dimensão da análise e lugar 
da antropologia? 
2.O que a antropologia como ciência pregava? 
 
Respostas 
 
1.Como campo disciplinar no passado e no presente coloca em 
questão a dimensão política 
 
2.A preservação, a protecção, a transformação e a repressão como 
objecto de políticas dirigidas ao mundo do outro 
 
Grupo 2 (respostas detalhadas) 
 
1. Há necessidade diante dos princípios e das práticas presentes na 
articulação entre o campo científico e o processo educativo na 
sociedade moderna 
2. Na divisão de trabalho entre as ciências sociais, a antropologia 
especializou-se na descrição e na classificação dos grupos sociais 
frequentemente tidos como primitivos, atrasados, marginais, tribais, 
subdesenvolvidos 
 
Grupo 3 (exercícios de gabarito) 
1.Quando é que a antropologia foi considerada como ciência? 
2.Quais são os desafios teóricos da modernidade? 
3.O que é a alteridade? 
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48 
 
 
 
 
 
UNIDADE 3.2. A antropologia interpretativa a 
antropologia pós-moderna 
 
 
Introdução 
 
Nesta unidade temática iremos nos concentrar em outras perspectivas 
classificatórias de antropologia como forma de ampliar o horizonte 
holístico desta temática. Por isso que o estudante ao completar esta 
unidade, você deverá ser capaz de: 
 
▪ Diferenciar a antropologia interpretativa da pós moderna
 
 
▪ Conhecer os campos de aplicação dos princípios teóricos destas duas abordagens
 
 
Objectivos 
específicos 
 
 
 
Desenvolvimento 
 
De acordo com Jordão (2004) os primeiros sinais da abordagem 
interpretativa na antropologia datam da década de 1960, e têm a ver 
com a influência dos estudos literários e da crítica literária. Um dos 
primeiros antropólogos a popularizar a ideia de que as culturas são 
como textos literários à espera de interpretação antropológica foi 
Clifford Geertz (1973). Segundo ele, os antropólogos (ou melhor, os 
etnógrafos) são intérpretes selectivos que escolhem os aspectos que 
mais lhes interessam nas sociedades que estudam. São eles que tornam 
a cultura do “outro” acessível a um “público” ansioso por consumir a 
diferença, e a diferença é aquilo que esse público não encontra na sua 
própria cultura e que acha fascinante na cultura dos outros. O 
antropólogo funciona como um intérprete que torna inteligíveis as 
coisas estranhas após o exercício da sua capacidade interpretativa, uma 
espécie de tradutor intercultural que só traduz as partes que acha 
capazes de cativar a sua audiência (Geertz 1973,Marcus &Fischer 1986). 
Para muitos antropólogos a interpretação é o único objectivo que a 
antropologia pode prosseguir com sucesso. 
 
Aos defensores da “antropologia interpretativa” opõem-se os 
defensores de uma “antropologia científica”, baseada em critérios de 
observação e análise semelhantes aos das ciências naturais. Jordão 
(2004) citando William Haviland (1934) é um conhecido defensor da 
antropologia enquanto ciência, o que aliás se vê pela maneira como a 
antropologia é tratada no seu manual, sucessivamente re-editado ao 
longo das últimas três décadas. 
 
 
 
 
 
 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
49 
 
 
Enquanto o intérprete lida com sentimentos e emoções, o cientista lida 
com causas cujo entendimento escapa aos próprios participantes 
(Batalha, 1998). A interpretação e a explicação não se excluem 
mutuamente, podem antes ser abordagens complementares. Uma 
interpretação intuitiva descrita em termos causais e universais pode, 
quando cientificamente testada, gerar uma poderosa explicação. O 
problema é definir como se testam intuições de modo a transformá-las 
em generalizações científicas. Em certos âmbitos da antropologia 
interpretativa é inquestionável, por exemplo, a influência da teoria crítica 
da Escola de Frankfurt, da filosofia de Nietzsche, da semiótica de Charles 
SandersPeirce e do romantismo alemão, principalmente WillianDilthey e 
Max Weber, através de seus método compreensivo. 
 
Como vimos, e de um modo geral, as alternativas proposta pelo 
movimento pós-moderno são basicamente textuais, referindo-se como 
encontrar uma nova maneira de escrever sobre culturas, uma maneira 
que incorpore no texto um pensamento e uma consciência sobre a 
tradição da antropologia. 
 
A crítica feita pelos antropólogos pós-modernos, mostra que o 
rompimento com o modelo anterior é parcial, pois questiona-se o 
processo da interpretação, mas não rompe com a separação radical entre 
observador e observado e suas culturas no trabalho de campo. Isto 
significa que o objecto de estudo não é mais a cultura do outro, mas a 
etnografia, o género literário como texto e, enfatiza, as novas alternativas 
de escrita etnográfica. 
 
Clifford Geertz (1973) acredita que é possível conhecer e interpretar 
outras culturas, produzindo traduções de outros modos de vida para a 
nossa própria linguagem. O autor acredita também que estas condições 
se transformaram em consequência da influência da escrita pós-moderna. 
Ao contrário da separação entre a autoridade da ciência como 
conhecimento ocidental e a autoria do texto etnográfico, o que ele sugere 
é a necessidade do pesquisador assumir maior responsabilidade pôr seu 
texto e pelas interpretações que produz (JORDÃO, 2004) 
 
De acordo com o mesmo autor, a interpretação realizada pelos pós-
modernos, está baseada sobre uma outra cultura entendida como 
diferente e estranha a do antropólogo, mas com possibilidades de 
compreensão e tradução mútua através da conversação respeitosa e não 
etnocêntrica, do diálogoque se caracteriza como uma actividade, não 
somente científica, mas de confraternização e solidariedade 
 
humana. Para os antropólogos pós-modernos, em particular os autores 
do WritingCulture, a etnografia deve ser mais que uma interpretação 
sobre o outro. 
 
Deve ser uma negociação com diálogos, uma expressão das trocas entre 
uma multiplicidade de vozes, onde fique evidente o outro no texto 
etnográfico e seu relacionamento com o antropólogo, além da própria voz 
deste último. O importante nisto tudo é perceber que existe uma reflexão 
profunda no pensar e fazer antropológico, necessária no mundo 
contemporâneo, para uma reflexão da própria ciência como 
conhecimento absoluto da realidade. Um mundo globalizado que muitas 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
50 
 
vezes demonstra uma tendência a homogeneização, mas que ao mesmo 
tempo, nunca foi tão abundante quando se trata do surgimento de 
nacionalidades localizadas. 
 
 
 
 
Sumário 
 
Nesta unidade temática 3.2 complementamos o conhecimento sobre 
diferentes campos da antropologia e suas características diferenciais, ao 
abordarmos especificamente 
▪ A antropologia interpretativa e
 
 
▪ Antropologia pós-moderna
 
 
 
 
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO 
 
Grupo 1 (com respostas) 
 
1.Na opinião do Jordão (2004) quando é que se iniciaram os primeiros 
sinais da abordagem interpretativa da antropologia? 
2.Qual é a relação entre a interpretação e a explicação? 
 
Respostas 
1.Desde a década de 1960 
 
2. A interpretação e a explicação não se excluem mutuamente, podem 
antes ser abordagens complementares. 
 
 
Grupo 2 (respostas detalhadas) 
 
1.Os antropólogos tornam a cultura do outro acessível 
 
2.Os antropólogos são uma espécie de tradutor intercultural que só 
traduz as partes que acha capazes de cativar a sua audiência. 
 
 
Grupo 3 (exercícios de gabarito) 
 
1.Porque os defensores da antropologia interpretativa opõem-se aos 
defensores de uma antropologia científica? 
 
 
2.Quais são as diferenças entre a antropologia interpretativa da 
explicativa? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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UNIDADE 3.3. Diferentes ramos da antropologia 
 
 
Introdução 
 
 
 
Ao apresentarmos a esta unidade temática pretende-se mais uma vez 
dispor do estudante mais instrumentos de debate e análise sobre as 
várias ramificações da antropologia quer no campo de existência e 
quer no campo de aplicação e na interligação com outras ciências. Por 
isso que ao completar esta unidade, o estudante deverá ser capaz de: 
▪ Identificar os diferentes ramos de antropologia
 
 
▪ Conhecer os diferentes campos de aplicação
 
Objectivos 
específicos 
 
Desenvolvimento 
 
A investigação antropológica envolve a comparação entre sociedades, ou 
culturas, tendo em conta as mudanças culturais e biológicas que nelas 
ocorrem. O âmbito global da antropologia é demasiado amplo, pelo que 
a disciplina se foi organizando em subdisciplinas e especialidades. De 
acordo com Batalha (2004) apresenta: 
 
 
Antropologia biológica 
 
Este campo começou por ser o estudo da morfologia anatómica das 
“raças humanas” passando mais tarde ao estudo das suas 
características genéticas. Hoje interessa-se pela relação biológica entre 
os humanos e os primatas e pela evolução dos hominídeos 
antepassados da actual população humana. A ideia de evolução é 
fundamental para esta disciplina e um dos seus objectivos é estabelecer 
a origem da espécie humana pelo estudo de fósseis. A genética e a 
bioquímica estão muito ligadas ao trabalho dos antropólogos-biólogos. 
 
A antropologia biológica faz também estudos sobre a distribuição de 
características físicas que são relevantes para a indústria do vestuário e 
calçado (aos fabricantes interessa saber a frequência e distribuição dos 
tamanhos nos diferentes mercados, de modo a ajustar a sua produção 
 
 
 Arqueologia 
 
A arqueologia está para a antropologia como a paleontologia está para a 
biologia.Sem ela os antropólogos não seriam capazes de descrever e 
explicar a evolução cultural humana. Procura reconstruir o passado da 
cultura material das sociedades humanas, através do estudo dos 
materiais e artefactos usados pelas populações humanas no seu 
quotidiano. 
 
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52 
 
É uma aliada frequente da antropologia e da história. Estabelece a ligação 
entre os objectos culturais e o comportamento social humano. A cultura 
material dos povos desaparecidos traz-nos informação importante sobre 
a forma como viviam. Por exemplo, o estudo das formas de arquitectura 
e construção das habitações fornece informação importante sobre as 
características da vida social. As formas de vestuário encontradas na 
antiguidade ajudam a esclarecer a diferenciação e estratificação sociais 
existentes nas diferentes sociedades e nas diferentes épocas. 
 
A arqueologia é sobretudo importante para a antropologia cultural norte-
americana e para a etnologia europeia. A antropologia social recorre 
sobretudo a documentos históricos, estando portanto mais ligada à 
história, uma vez que a evolução cultural pré-histórica não faz parte da 
sua agenda de investigação. 
 
 
Antropologia cultural 
 
Envolve o estudo detalhado das diferentes sociedades humanas. Ou, 
como diz Bates, “o estudo detalhado de culturas tomadas 
individualmente, designado por etnografia, assim como a análise e 
interpretação dos dados recolhidos de modo a descobrir padrões 
culturais, designado por etnologia”. Esta definição é tipicamente norte-
americana e revela uma preocupação universalista ausente na 
antropologia social. Esta está mais preocupada com os casos particulares 
e menos com as regularidades culturais universais. 
 
É comum utilizar-se a simples designação antropologia, em vez de 
antropologia cultural ou antropologia social. Usualmente, e por defeito, 
antropologia é entendida no sentido cultural e social. 
 
De entre os muitos aspectos culturais que se lhe deparam, o(a) 
antropólogo (a) (na sua qualidade de etnógrafo(a)) tem sempre de fazer 
escolhas em função do que considera ser mais relevante para o tipo de 
pesquisa que se propõe fazer. Essas escolhas prendem-se com as 
diferentes esferas da vida socio--cultural humana: a economia, a 
tecnologia, a organização social, as representações mentais e ideologia, a 
religião, a magia, etc. 
 
Dentro da antropologia cultural uma das actividades mais relevantes é a 
etno-história, que se ocupa da história dos “povos nativos” e seus 
descendentes. A análise da história oral, dos relatos deixados por 
exploradores, missionários e comerciantes são as principais fontes da 
etno-história. No caso de sociedades já desaparecidas, as principais fontes 
são a análise dos títulos de propriedade das terras, dos registos de 
nascimento e morte, ou quaisquer outros documentos disponíveis. 
 
Contudo a perspectiva antropológica distingue-se da histórica. Convém 
no entanto dizer que as fronteiras da antropologia cultural e social com 
a história, assim como com outras disciplinas académicas, são cada vez 
mais difíceis de traçar. 
 
 
Antropologia social 
 
A antropologia social nasceu na Europa e distingue-se da cultural por não 
ser tão ambiciosa em termos de grandes teorias e princípios capazes de 
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53 
 
explicar globalmente os fenómenos culturais. Além disso, a antropologia 
social des-preza o estudo da evolução humana por considerá-lo um 
empreendimento demasiado especulativo e por encarar a teoria da 
evolução como uma construção cultural emanada da mentalidade 
“progressista” emergente com a Revolução Industrial. Prefere trabalhar 
com informação recolhida através de observação participante e 
documentação. A sua retrospecção históricaé pouco profunda e apenas 
na medida necessária para poder compreender os processos de 
transformação das relações sociais nas sociedades estudadas ou 
contextos estudados, geralmente de pequena dimensão. 
 
 
Etnografia 
 
Significa literalmente “escrever sobre os povos” e designa a actividade 
antropológicade recolha de informação através da observação 
participante, prática que consiste em ficar durante meses num lugar 
estudando a vida de um grupo de pessoas ou de uma pequena sociedade. 
A permanência do etnógrafo (o antropólogo na sua função de recolha de 
informação) durante alguns meses no seio da sociedade ou grupo humano 
que pretende observar garante informação em primeira-mão, que de 
outro modo não poderia ser recolhida. 
 
O conhecimento etnográfico baseia-se na experiência de participação do 
próprio etnógrafo na vida social que pretende descrever e analisar. 
Durante o chamado trabalho de campo o etnógrafo recolhe informação, 
questionando, filmando, fotografando, sobre os diferentes aspectos da 
vida social do grupo ou comunidade. Tradicionalmente, a etnografia fazia-
se em pequenas comunidades, que raramente ultrapassavam algumas 
centenas de pessoas, e em muitos casos não iam além de uma centena. A 
informação etnográfica mais importante encontra-se nas esferas da 
economia (de que vive o grupo ou a comunidade), tecnologia 
(ferramentas e técnicas de uso), organização social (formas de parentesco 
e casamento), actividade política (grupos de interesse, formas de resolução 
dos conflitos, relações com o exterior, formas de decisão), religião, magia, 
ciência e outras estratégias usadas no controle o mundo envolvente. 
 
A essência da etnografia é a aprendizagem do modo de vida do “nativo” 
através da prática em conjunto e da partilha com o próprio e não a mera 
recolha de informação. O etnógrafo trata as pessoas como parceiros de 
interacção e não como “objectos” de estudo. 
 
Os objectivos do etnógrafo podem ser muito variados, desde obter uma 
visão geral da sociedade estudada até à compreensão de uma questão ou 
detalhe particular. 
 
Etnologia 
 
Consiste na interpretação e análise da informação etnográfica. A 
separação entre a etnologia e a etnografia não é fácil de estabelecer, pois 
não só frequentemente o etnólogo e o etnógrafo são a mesma pessoa 
como este é sempre guiado por alguma orientação teórica no seu 
trabalho de campo. Não existe recolha cega de informação, qualquer 
tarefa etnográfica é sempre orientada por escolhas determinadas pela 
teoria etnológica, seja ela qual for. 
 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
54 
 
A etnologia revela os padrões e regras gerais que governam o 
comportamento humano. Esta ideia revela uma preocupação 
universalista que actualmente não é partilhada pela maioria dos 
antropólogos/etnólogos (os nomes são sinónimos na maior parte das 
vezes). De qualquer maneira, a etnologia procura comparar a informação 
etnográfica recolhida em diferentes locais e sociedades, quanto mais não 
seja para tentar mostrar que não existem comportamentos ou elementos 
culturais universais e que cada sociedade humana é diferente de todas as 
outras. Esta é uma questão antiga na antropologia e sem solução à vista. 
Uns preferirão salientar a similitude e a universalidade dos fenómenos 
culturais, outros a diferença e especificidade de cada sociedade. O 
paradoxo da antropologia é ter de criar universalidades a partir de casos 
particulares no tempo e no espaço; por um lado estuda casos particulares, 
mas por outro tenta enquadrá-los universalmente. Trata-se de um círculo 
hermenêutico sem saída. 
 
 
Antropologia linguística 
 
Sendo a língua o principal meio de codificação e transmissão de cultura 
não é de estranhar que a antropologia linguística seja um ramo da 
antropologia geral. Trata-se de um desenvolvimento particular da 
linguística ao serviço da antropologia. A linguagem é o aspecto mais 
importante da cultura humana, uma chave para a compreensão dos 
outros aspectos. Os antropólogos linguistas estudam a língua na sua 
diversidade, origem e evolução. Mais recentemente desenvolveu-se um 
ramo, a sociolinguística, que explora as relações entre a língua e as 
relações sociais, assim como os usos sociais da língua em cada sociedade. 
O primeiro passo, e mais importante, de um antropólogo quando se 
propõe estudar “outra cultura” é aprender a língua. A ligação entre a 
linguística e a antropologia aconteceu sobretudo nos EUA. 
 
 
 
 
Sumário 
 
Nesta unidade temática 3.3 abordou-se com mais ampla apresentação os 
diferentes ramos de antropologia e suas características: 
▪ Biológica
 
 
▪ Arqueológica
 
 
▪ Cultural
 
 
▪ Social
 
 
▪ Etnográfico,
 
 
▪ Etnologia
 
 
▪ Linguístico
 
 
 
 
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO 
 
Grupo 1(com respostas) 
1.Quais são os ramos da antropologia? 
2.Qual é o primeiro passo mais importante, na opinião de Batalha 
(2004) quando o antropólogo se propõe a estudar outra cultura”? 
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55 
 
 
Respostas 
 
1.Biológica, arqueológica, cultural, social, etnografia, etnologia, 
linguística 
2.É a língua 
3.É o principal meio de codificação e transmissão da cultura 
 
Grupo 2 (respostas detalhadas) 
 
1.O etnógrafo trata as pessoas como parceiros de interacção e não como 
“objectos” de estudo 
 
2.A linguagem é o aspecto mais importante da cultura humana, uma 
chave para a compreensão dos outros aspectos 
 
 
Grupo 3 (exercícios de gabarito) 
 
1.Qual é o paradoxo de antropologia? 
 
2.Qual é a relação entre etnologia e etnografia? 
 
3.Porque a antropologia social des-preza o estudo de evolução? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
56 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TEMA 4:O CONCEITO DE ANTROPOLOGIA CULTURAL 
 
 
UNIDADE 4.1. Definições e abordagens sobre Antropologia Cultual 
UNIDADE 4.2. Origem e o desenvolvimento da cultura 
UNIDADE 4.3. Cultura e sociedade 
UNIDADE 4.4. A cultura material e a cultura imaterial 
 
 
 
 
 
UNIDADE 4.1. Definições e abordagens sobre 
Antropologia Cultual 
 
 
Introdução 
 
A antropologia é uma ciência na qual não se esgotam campos de 
actuação e aplicação do conhecimento. Nesta unidade temática 
pretende-se que o estudante ao completar esta unidade, seja 
capaz de: 
 
▪ Definir a antropologia
 
 
▪ Conhecer as abordagens da antropologia
 
 
▪ Caracterizar a antropologia cultural
 
Objectivos 
específicos 
 
 
 
Desenvolvimento 
 
A noção de cultura é das mais enganosas para o estudante de 
antropologia, devido ao facto de ter na antropologia, e nas ciências 
sociais em geral, um uso diferente da linguagem quotidiana. Este 
associa cultura a determinados aspectos da vida social, como saber ler, 
saber música, ser pessoa de grande saber, ser culto, etc. Na linguagem 
corrente ter cultura significa ser instruído em termos literários, 
científicos, musicais e artísticos (GUSMÃO, 2008) 
 
Refere-se ao modo de vida global em qualquer sociedade, e não 
simplesmente aos aspectos que cada sociedade considera superiores 
ou mais desejáveis. Assim, cultura, quando aplicada ao nosso próprio 
modo de vida, não tem nada a ver com tocar piano ou ler Browning. 
Para o cientista social, tais actividades são apenas elementos 
pertencentes ao todo cultural (JORDÃO, 2004) 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
57 
 
 
O qual inclui coisas tão mundanas como lavar pratos e guiar, as quais, 
em termos de estudo da cultura, valem o mesmo que as actividades 
“refinadas” da vida social. Daí que para os cientistas sociais não existam 
sociedades ou indivíduos incultos. Para Maía (2000) cada sociedade tem 
uma cultura, por mais 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo deAntropologia Cultural de Moçambique 
 
58 
 
simples que ela possa ser, e todo o ser humano é nesse sentido um 
ser culto. 
 
Para Spiro (1998) o paradigma da cultura é composto por um conjunto 
diversificado de escolas teóricas, orientações filosóficas ou 
pressupostos ideológicos. A razão desta multiplicidade encontrasse no 
fato de que conhecer o universo da cultura tornou-se uma forma de 
contribuir para o entendimento da natureza humana, sem contar que 
através da compreensão do universo cultural é possível propor ou 
encontrar alternativas e soluções para os problemas sociais, planejar 
formas de promover o convívio harmonioso entre os grupos humanos 
e o desenvolvimento. 
 
Na Antropologia segundo Gusmão (2008) e Jordão (2004) privilegiam-
se os aspectos culturais do comportamento de grupos e comunidades. 
Questões cruciais para o entendimento da vida em grupo, como 
alteridade, diversidade cultural, etnocentrismo, relativismo cultural são 
tratadas por essa ciência, que, em seus primórdios estudava povos e 
grupos geográfica e culturalmente distantes dos povos ocidentais. Ao 
longo de seu desenvolvimento, os antropólogos passaram a analisar 
grupos sociais relativamente próximos, buscando transformar o 
exótico, o distante, em familiar. 
 
Assim, Geertz (1973) afirma em sua história que, a Antropologia revelou 
estudos notáveis sobre sociedades indígenas e sociedades camponesas, 
identificando suas diferentes visões de mundo, sistemas de parentesco, 
formas de classificação, cosmologias, linguagens etc. Também 
desenvolveu uma série de estudos sobre grupos sociais urbanos, 
enfatizando a diferenciação entre seus indivíduos, com base em 
critérios de raça, cor, etnia, género, orientação sexual, nacionalidade, 
regionalidade, afiliação religiosa, ideologia política, sistemas de crenças 
e valores, estilos de vida etc. 
 
1. "Culturas são sistemas (de padrões de comportamento socialmente 
transmitidos) que servem para adaptar as comunidades humanas aos 
seus embasamentos biológicos. Esse modo de vida das comunidades 
inclui tecnologias e modos de organização económica, padrões de 
estabelecimento, de agrupamento social e organização política, crenças 
e práticas religiosas, e assim por diante." 
 
2. "Mudança cultural é primariamente um processo de adaptação 
equivalente à selecção natural." "O homem é um animal e, como todos 
animais, deve manter uma relação adaptativa com o meio circundante 
para sobreviver. Embora ele consiga esta adaptação através da cultura, 
o processo é dirigido pelas mesmas regras de 
selecção natural que governam a adaptação biológica." 
 
Para Jordão (2004) citando Geertz (1973) afirma que as teorias 
idealistas de cultura, que subdivide em três diferentes abordagens. A 
primeira delas é a dos que consideram cultura como sistema cognitivo, 
produto dos chamados "novos etnógrafos". Esta abordagem 
antropológica tem se distinguido pelo estudo dos sistemas de 
classificação de folk (Chamamos de sistemas de classificação de folk 
àqueles que são desenvolvidos pelos próprios membros da 
comunidade. Um exemplo disso entre nós é a classificação popular de 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
59 
 
alimentos fortes e fracos.), isto é, a análise dos modelos construídos 
pelos membros da comunidade a respeito de seu próprio universo. 
Assim, cultura é um sistema de conhecimento: "consiste em tudo aquilo 
que alguém tem de conhecer ou acreditar para operar de maneira 
aceitável dentro de sua sociedade." Keesing comenta que se cultura for 
assim concebida ela fica situada epistemologicamente no mesmo 
domínio da linguagem, como um evento observável. Daí o fato de que 
a antropologia cognitiva (a praticada pelos "novos etnógrafos") tem se 
apropriado dos métodos linguísticos, como por exemplo, a análise 
componencial. 
 
A segunda abordagem é aquela que considera cultura como sistemas 
estruturais, ou seja, a perspectiva desenvolvida por Claude Lévi-Strauss, 
"que define cultura como um sistema simbólico que é uma criação 
acumulativa da mente humana. O seu trabalho tem sido o de descobrir 
na estruturação dos domínios culturais — mito, arte, parentesco e 
linguagem — os princípios da mente que geram essas elaborações 
culturais." Assim, os paralelismos culturais são por ele explicados pelo 
fato de que o pensamento humano está submetido a regras 
inconscientes, ou seja, um conjunto de princípios — tais como a lógica 
de contrastes binários, de relações e transformações — que controlam 
as manifestações empíricas de um dado grupo. 
 
Jordão (2004) a última das três abordagens, entre as teorias idealistas, 
 
é a que considera cultura como sistemas simbólicos. Esta posição foi 
desenvolvida nos Estados Unidos principalmente por dois 
antropólogos: o já conhecido Clifford Geertz e David Schneider. 
 
O primeiro deles busca uma definição de homem baseada na definição 
de cultura. Para isto, refuta a ideia de uma forma ideal de homem, 
decorrente do iluminismo e da antropologia clássica, perto (a qual as 
demais eram distorções ou aproximações, e tenta resolver o paradoxo 
de uma imensa variedade cultural que contrasta com a unidade da 
espécie humana. Jordão (2004) adianta que para isto, a cultura deve ser 
considerada "não um complexo de comportamentos concretos, mas um 
conjunto de mecanismos de controle, planos, receitas, regras, 
instruções (que os técnicos de computadores chamam programa) para 
governar o comportamento". Assim, todos os homens são 
geneticamente aptos para receber um programa, e este programa é o 
que chamamos de cultura. 
 
 
 
Sumário 
 
Nesta unidade temática discutiu-se a definição e as diferentes 
abordagens da antropologia como forma de poder dominar 
▪ As abordagens teóricas
 
 
▪ Aplicação na vida social
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
60 
 
 
 
 
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO 
 
Grupo 1 (com respostas) 
 
1.Quais são as questões cruciais para o entendimento da vida em 
grupo? 
2. O que diz a segunda abordagem antropológica? 
 
Respostas 
1.Alteridade, diversidade cultural, etnocentrismo, relativismo cultural 
 
2. A segunda abordagem é aquela que considera cultura como 
sistemas estruturais 
 
Grupo 2 (respostas detalhadas) 
 
1. O paradigma da cultura é composto por um conjunto diversificado 
de escolas teóricas, orientações filosóficas ou pressupostos ideológicos 
2.Para os cientistas sociais não existam sociedades ou indivíduos 
incultos 
 
Grupo 3 (exercícios de gabarito) 
 
1.Anuncia as três abordagens da antropologia apresentadas no texto 
 
2. Qual é a diferença entre a primeira da terceira abordagem da 
antropologia? 
 
3.Porque os antropólogos passaram a analisar grupos sociais 
relativamente próximos, buscando transformar o exótico, o distante, 
em familiar? 
 
 
 
 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
61 
 
 
 
 
 
UNIDADE 4.2. Origem e o desenvolvimento da cultura 
 
 
Introdução 
 
Ao entrar mais ao fundo sobre a antropologia cultural precisamos 
de proporcionar metodologicamente o estudo separado das partes 
constituintes da frase. Vimos o que é antropologia na opinião de 
alguns autores e agora a intenção é olhar a cultura. Por isso que ao 
completar esta unidade, o estudante deverá ser capaz de: 
 
Conhecer a origem da cultura
 
 
▪ Descrever as fases do seu desenvolvimento
 
Objectivos 
específicos 
 
Desenvolvimento 
 
De acordo com Maía (2000) falando sobre origem, no século XIX, 
definiu-se como um empreendimento científico destinado a 
compreender as origens da humanidade e a natureza cultural e 
biológica dos povos “primitivos” ou “selvagens”. Mas à medida que o 
mundo “primitivo” foi desaparecendo, a antropologia virou-se para a 
própria sociedade onde nasceu: a sociedade industrial e pós-
industrial. Convém dizer que o pensamento antropológico é 
significativamentemais antigo do que a antropologia como disciplina 
académica. 
 
Para Gusmão (2008) a origem daquele pode situar-se com alguma 
precisão entre a publicação da obra de John Locke Na Essay 
Concerning Human Understanding (1690) e o rebentar da Revolução 
Francesa (Harris 1968). Isto se ignorarmos toda a actividade reflexiva 
de natureza antropológica ocorrida antes (e. g. Grécia Antiga, Mundo 
Árabe, China, etc.) de o “Ocidente” existir como categoria 
hegemónica. 
 
O conceito de cultura é uma preocupação intensa actualmente em 
diversas áreas do pensamento humano, no entanto a Antropologia é 
a área por excelência de debate sobre esta questão (BATALHA, 2004) 
 
De acordo com o mesmo autor, desde sempre os homens se 
preocuparam em entender por que outros homens possuíam hábitos 
alimentares, formas de se vestir, de formarem famílias, de acessarem 
o sagrado de maneiras diferentes das suas. A essa multiplicidade de 
formas de vida dá-se o nome de diversidade cultural. 
 
Contudo, segundo Jordão (2004) concordando com Gusmão (2008) e 
Assis (2008) foi a partir da descoberta do Novo Mundo, nos séculos 
XV e XVI, que os europeus se depararam com modos de vida 
completamente distintos dos seus, e passaram a elaborar mais 
intensamente interpretações sobre esses povos e seus costumes. É 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
62 
 
fundamental lembrarmos que o impacto e a estranheza se deram dos 
dois lados. Os grupos não europeus se espantavam com o ser 
diferente que chegava até eles desembarcando em suas praias e 
tomando posse de seu território. Existem relatos de povos que após 
a morte de um europeu em combate, colocavam seu corpo dentro de 
um rio e esperavam sua decomposição para ver se eram pessoas 
como eles. A diferença é que não temos contacto com esses relatos 
dos povos não europeus para conhecermos a visão que eles tinham 
dos brancos (MAÍA, 2000) 
 
O termo cultura, para alguns, significa comportamento aprendido, ou 
abstracção do comportamento, e também não é específico da área da 
antropologia, outras vertentes da ciência também empregam e valem-
se do mesmo. Na antropologia, o significado da cultura é a totalidade 
de padrões diversos, aprendidos e desenvolvidos pelo ser humano, 
incluindo conhecimento, crenças, arte, morais, leis, costumes e outras 
aptidões e hábitos. 
 
Batalha (2004) diz que o termo cultura tem associações diferentes 
conforme temos em mente o desenvolvimento de um indivíduo, de um 
grupo ou classe ou de toda uma sociedade. É parte da tese que a cultura 
do indivíduo está dependente da cultura de um grupo ou classe, e que 
a cultura do grupo ou classe está dependente da cultura de toda a 
sociedade a que esse grupo ou classe pertence. Por isso, é a cultura da 
sociedade que é fundamental, e é o significado do termo «cultura» em 
relação a toda a sociedade que se devia examinar primeiro. Para Batalha 
(2004) e Gusmão (2008) dizem que quando o termo «cultura» se aplica 
à manipulação de organismos inferiores - ao trabalho do bacteriologista 
ou do agricultor - o significado é bastante claro porque podemos obter 
unanimidade a respeito dos fins a serem atingidos, e podemos 
concordar quanto a tê-los atingido ou não. Quando se aplica ao 
aperfeiçoamento do intelecto e espíritos humanos, é menos provável 
que concordemos em relação ao que a cultura é. O termo em si, 
significando alguma coisa a que se deve conscientemente aspirar em 
assuntos humanos, não tem uma história longa. 
 
Como alguma coisa a ser alcançada com esforço deliberado, a «cultura» 
é relativamente inteligível quando nos preocupamos com o acto do 
indivíduo se Auto cultivar, indivíduo cuja cultura é vista contra o pano 
de fundo da cultura do grupo e da sociedade. A cultura do grupo tem 
igualmente um significado definido em contraste com a cultura menos 
desenvolvida da massa da sociedade. 
 
A diferença entre as três aplicações do termo segundo Assis (2008) e 
Gusmão (2008) pode apreender-se melhor perguntando em relação ao 
indivíduo, ao grupo e à sociedade como um todo, em que medida o 
objectivo consciente de alcançar cultura tem algum significado. Podia 
evitar-se muita confusão se nos abstivéssemos de pôr diante do grupo 
o que pode ser objectivo apenas do indivíduo; e diante da sociedade 
como um todo o que pode ser objectivo apenas de um grupo. 
 
 
 
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63 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Sumário 
 
Nesta unidade temática 4.2. abordou-se as questões relacionadas 
com a origem e desenvolvimento da cultura, sob proposta de que 
após a leitura se possa apropriar de forma sistemática os conceitos e 
conteúdos para: 
▪ Melhoramento da compreensão dos factos sociais
 
 
▪ Alargamento da base de discussão e reflexão crítica
 
 
 
 
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO 
 
Grupo 1 (com respostas) 
1.Qual é a diferença entre as três aplicações do termo cultura? 
2.Qual é o significado de cultura na antropologia? 
 
Respostas 
1.Cinge-se na relação entre indivíduo, grupo e sociedade 
 
2.É a totalidade de padrões diversos aprendidos e desenvolvidos pelo 
ser humano 
 
Grupo 2 (respostas detalhadas) 
 
1.Convém dizer que o pensamento antropológico é significativamente 
mais antigo do que a antropologia como disciplina académica. 
 
2. O termo cultura tem associações diferentes conforme temos em 
mente o desenvolvimento de um indivíduo, de um grupo ou classe ou 
de toda uma sociedade 
 
Grupo 3 (exercícios de gabarito) 
 
1.Porque a cultura de sociedade deve ser examinada primeiro antes a 
do indivíduo? 
2.Quais são os diferentes significados do termo “cultura”? 
 
3.Porque se afirma que a cultura do indivíduo está dependente da 
cultura de um grupo ou classe? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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64 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UNIDADE 4.3. Cultura e sociedade 
 
 
Introdução 
 
Como vimos nas unidades temáticas anteriores, falar de cultura 
significa a prior estabelecer relação entre o comportamento 
individual do colectivo ou social, isto é, o comportamento individual 
pode indicar a cultura do indivíduo e o comportamento da sociedade 
definir a cultura da sociedade. Ao completar esta unidade, o 
estudante deverá ser capaz de: 
 
Definir a cultura e sua aplicação na vida real
 
 
▪ Definir sociedade e suas características 
▪ Identificar a relação existente entre a cultura e sociedade 
Objectivos 
específicos 
 
Desenvolvimento 
 
De acordo com Batalha (2004) não existem sociedades sem 
indivíduos e os indivíduos só se tornam verdadeiramente humanos 
por meio da socialização, processo pelo qual um indivíduo se torna 
um membro activo da sociedade em que nasceu, isto é, comporta-se 
de acordo com determinados atributos pré-concebidos. O indivíduo, 
assim, desempenha na realidade um papel duplo em relação à 
cultura. 
 
Entretanto, as sociedades existem e funcionam num mundo em 
perpétua mudança. Como uma simples unidade no organismo social, 
o indivíduo perpetua o status quo. Como indivíduo, ajuda a 
transformá-lo quando há necessidade (GUSMÃO, 2008). Desde que 
nenhum ambiente se apresente completamente estacionário, 
nenhuma sociedade pode sobreviver sem o inventor ocasional e sem 
sua capacidade para encontrar soluções para novos problemas. 
 
Segundo Jordão (2004) citando Scaglion (1998) as pessoas são 
sujeitos activos no meio - tomam posições fazendo novas 
interpretações, recebendo e construindo criativamente um processo 
cultural em determinada época histórica. Cultura, indivíduo e 
actividade indivíduo e sociedade importância da filogénese dos 
processos psicológicos - no decorrer do desenvolvimento o ser 
humano é moldado pela actividade cultural de outros. 
 
De acordo com a mesma fonte, o individuo se constitui através da 
rede de inter-relações sociais - tendo "instintos" ou comportamentos 
pré-programados,passa através da vida social a adquirir a fala e 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
65 
 
planejar e controlar sua actividade e de outrem, através das 
representações mentais. Para Laraia (2001) e Jordão (2004) o 
individuo passa de uma relação interpessoal para um controle e 
planeamento intra-pessoal da sua própria actividade. 
 
 
Mesmo estando sozinho, o ser humano tem os hábitos de uma 
sociedade. Já está comprovado por estudos científicos, que existe uma 
organização social entre os animais, não apenas entre os mamíferos 
superiores, mas também entre os insectos como: formigas, cupins, 
abelhas, etc. Entre esses insectos existe algo que podemos chamar de 
“hierarquia social” ou “poder político”, “divisão de trabalho” etc. A 
questão é; Qual a diferença entre a “sociedade” desses animais e a 
sociedade do homem? 
 
As pessoas apresentam comportamentos diferentes de acordo com o 
lugar onde vivem (país estado, região) e também não se comportam 
mais hoje como se comportavam a cinco ou dez anos atrás. 
 
Laraia (2001) advoga que a diferença é que as formas de 
comportamento dos animais irracionais e insectos são transmitidas 
geneticamente, ou seja, decorrem da natureza, enquanto os padrões 
de comportamento do homem são artificiais, criados pelo próprio 
homem. 
 
Spiro (1998) afirma que apesar de a espécie humana ser dotada de 
certas características orgânicas que só ela possui, estas não são 
suficientes para o desenvolvimento da sua personalidade e do 
comportamento na sua forma social. A ecologia cultural considera a 
interacção entre as características do ecossistema e o apetrechamento 
tecnológico humano como sendo a principal condicionante da 
organização das sociedades humanas. Ember & Ember (1996) diz que a 
selecção natural se encarrega de seleccionar positiva ou negativamente 
os comportamentos que cada grupo humano adopta na exploração dos 
recursos naturais. Os grupos humanos que tiverem os comportamentos 
mais adequados à sobrevivência num determinado ecossistema terão 
maior sucesso reprodutivo e deixarão descendência, enquanto os que 
tiverem comportamentos menos adequados desaparecerão por falta 
de descendência. 
 
 
Sumário 
 
Nesta unidade temática 4.3 abordou-se questões relacionadas com 
o indivíduo e sua relação com a cultura e esta com a sociedade 
como forma de facilitar: 
▪ A compreensão desta relação tripartia
 
 
▪ Os mecanismos da sua interacção para o equilíbrio da relação
 
 
 
 
 
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO 
 
Grupo 1( com respostas) 
 
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UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
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1.Qual é a diferença entre as formas de comportamento do homem de 
outros animais irracionais? 
2.O que é a ecologia cultural? 
 
Respostas 
 
1.É que as formas de comportamento dos animais irracionais são 
transmitidas geneticamente enquanto que os padrões de 
comportamento do ser humano são artificiais, criadas pelo próprio 
homem. 
 
2.considera a interacção entre as características de ecossistema e o 
apetrechamento tecnológico humano como sendo a principal 
condicionante da organização das sociedades humanas 
 
Grupo 2( respostas detalhadas) 
 
1.As sociedades existem e funcionam num mundo em perpétua 
mudança 
 
2.Mesmo estando sozinho, o ser humano tem os hábitos de uma 
sociedade 
 
3.Não existem sociedades sem indivíduos e os indivíduos só se tornam 
verdadeiramente humanos por meio da socialização 
 
Grupo 3 (exercícios de gabarito) 
1.Qual é a relação entre indivíduos, cultura e sociedade? 
 
2.Porque se afirma que o indivíduo desempenha um papel duplo em 
relação a cultura? 
 
3.Comenta afirmação segundo a qual o ecologista cultural apenas pode 
testar o que observa e não aquilo que poderia estar no lugar do que 
observa 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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68 
 
 
 
UNIDADE 4.4.A cultura material e a cultura imaterial 
 
 
Introdução 
 
Nas unidades anteriores vimos de forma sequencial como as relações são 
construídas e constituídas. Para esta unidade temática queremos observas 
aspectos ligados a cultura material e imaterial para: 
 
 
 Conhecer a sua importância na socialização do indivíduo; 
Objectivos Identificar as diferenças entre a cultura material e cultura imaterial 
específicos 
 Desenvolvimento 
 O Património Cultural pode ser definido como um bem (ou bens) de 
 natureza material e imaterial considerado importante para a 
 identidade da sociedade. 
 O património material é formado por um conjunto de bens culturais 
 classificados segundo sua natureza: arqueológico, paisagístico e 
 etnográfico; histórico; belas artes; e das artes aplicadas (MAIA, 2000). 
 Eles estão divididos em bens imóveis – núcleos urbanos, sítios 
 arqueológicos e paisagísticos e bens individuais – e móveis – colecções 
 arqueológicas, acervos museológicos, documentais, bibliográficos, 
 arquivísticos, videográficos, fotográficos e cinematográficos. 
 Para Jordão (2004) património Imaterial é transmitido de geração em 
 geração e constantemente recriado pelas comunidades e grupos em 
 função de seu ambiente, interacção com a natureza e sua história, 
 gerando um sentimento de identidade e continuidade, contribuindo, 
 assim, para promover o respeito à diversidade cultural e à criatividade 
 humana. 
 
 
Muitos autores como Cuche (1999), Laraia (2001), Jordão (2001) e 
Gusmão (2008) advogam que os bens culturais imateriais estão 
relacionados aos saberes, habilidade, as crenças, as praticas, ao modo 
ser das pessoas. Desta forma podem ser considerados bens imateriais: 
conhecimentos enraizados no cotidiano das comunidades; 
manifestações literárias, musicais, plásticas, cênicas e lúdicas; rituais e 
festas que marcam a vivência coletiva da religiosidade, do 
entretenimento e de outras práticas da vida social; além de mercados, 
feiras, santuários, praças e demais espaços onde se concentram e se 
reproduzem práticas culturais. 
 
De acordo com estes autores, na lista de bens imateriais brasileiros 
estão a festa do Círio de Nossa Senhora de Nazaré, a Feira de Caruaru, 
o Frevo, a capoeira, o modo artesanal de fazer Queijo de Minas e as 
matrizes do Samba no Rio de Janeiro. 
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69 
 
 
Para Assis (2008) e Jordão (2004) o patrimônio material é formado por 
um conjunto de bens culturais classificados segundo sua natureza: 
arqueológico, paisagístico e etnográfico; histórico; belas artes; e das 
artes aplicadas. Eles estão divididos em bens imóveis – núcleos urbanos, 
sítios arqueológicos e paisagísticos e bens individuais – e móveis – 
coleções arqueológicas, acervos museológicos, documentais, 
bibliográficos, arquivísticos, videográficos, fotográficos e 
cinematográficos. 
 
 
 
 
Sumário 
 
Nesta unidade temática 4.4 abordamos questões ligadas a cultura 
material e cultura imaterial, dois conceitos que possibilitaram 
descobrir como os bens materiais e imateriais contribuem para: 
▪ A existência do homem como indivíduo
 
 
▪ A existência do homem como grupo.
 
 
 
 
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO 
 
Grupo 1 (com respostas) 
1.O que são bens imateriais? 
2.O que é património cultural? 
 
Respostas 
1.são conhecimentos enraizados no quotidiano das comunidades 
2.bem de natureza material e imaterial 
 
Grupo 2 (respostas detalhadas) 
 
1.Os bens culturais imateriais estão relacionados aos saberes, às 
habilidades, às crenças, às práticas, ao modo de ser das pessoas. 
2.Arqueologia faz parte do património imaterail. 
 
Grupo 3 (exercícios de gabarito) 
1.O que são bens materiais?2.O que é cultura material? 
3. O que é cultura imaterial? 
4.O que é património material? 
5. O que é património imaterial? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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70 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TEMA 5:TEORIAS, FACTOS E PROCESSOS NA ANTROPOLOGIA 
 
 
UNIDADE 5.1. As principais correntes Antropológicas 
 
UNIDADE 5.2. Desenvolvimento histórico e principais áreas de 
interesse contemporâneas 
 
UNIDADE 5.3. As correntes antropológicas e sua operacionalização 
em Moçambique 
 
 
UNIDADE 5.1. As principais correntes Antropológicas 
 
 
Introdução 
 
Nesta unidade temática vai aflorar duma forma geral as principais 
correntes antropológicas que directa ou indirectamente deram 
origem a diversas interpretações das manifestações daquilo que hoje 
constitui o objecto de estudo da antropologia. Por isso pretende-se 
que o estudante ao concluir, tenha capacidade de: 
 
▪ Conhecer as principais correntes antropológicas
 
 
▪ Caracterizar cada corrente antropológica estudada
 
 
▪ O papel delas na interpretação das diferentes manifestações sociais
 
Objectivos 
específicos 
 
 
 
Desenvolvimento 
 
Ao longo dos seus pouco mais de cem anos de existência como 
disciplina académica, a antropologia produziu um conjunto de teorias 
muitas vezes em oposição entre si (ERIKSEN E NIELSEN, 2007). 
Basicamente, essas teorias distribuem-se por dois paradigmas 
alternativos: um, o paradigma “científico”, inspirado nas ciências 
naturais, outro, a que podemos chamar “interpretativo”, o que 
considera a antropologia como a arte da interpretação e não como 
uma ciência (BATALHA, 2004). 
 
Os adeptos do primeiro paradigma defendem que a actividade 
antropológica pode ter um carácter científico, enquanto os segundos 
dizem que a objectividade, tão apregoada pelo discurso científico, é 
 
impossível de alcançar em antropologia e que o lugar desta é entre as 
humanidades (literatura, história, estudos culturais, etc.). Para os 
interpretativistas, cada sociedade e cada cultura são casos únicos e não 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
71 
 
é possível extrair generalizações válidas através da comparação de 
sociedades ou culturas. Segundo Caldeira (1988) o antropólogo deve 
preocupar-se mais em “deixar falar” cada cultura através daquilo que 
as pessoas fazem e dizem, do que estabelecer generalizações com 
pretensão universalista. 
 
O relativismo cultural absoluto transforma-se numa forma de 
determinismo cultural, em que tudo é determinado pela especificidade 
de cada cultura, tornando-se esta na causa e fim de sim mesma. 
 
As teorias antropológicas, tal como a teoria sociológica em geral, de 
acordo com Eriksen e Nielsen (2007) podem emanar de dois princípios 
metodológicos opostos: o individualismo metodológico e o colectivismo 
metodológico. Resumidamente, os individualistas metodológicos 
defendem que entidades colectivas como sociedade, grupo, família, 
etc., são ficções criadas pela teoria sociológica; para eles apenas 
existem indivíduos, sendo a história o resultado de acções individuais. 
 
 
O evolucionismo 
 
A época em que a antropologia emergiu como ciência, segunda metade 
do século XIX, foi marcada pelo triunfo das ideias evolucionistas. 
 
Como afirma Lelatine (2003) na antropologia, as teorias evolucionistas 
estão associadas a nomes pioneiros, como o britânico Edward 
BurnettTylor (1832-1917) e o americano Lewis Henry Morgan (1818-
1889). O evolucionismo era também a doutrina que melhor servia os 
interesses do colonialismo e a ideologia dos administradores coloniais, 
uma vez que continha uma escala hierarquizada de instituições e 
valores culturais, no topo da qual se encontravam os valores da 
“civilização” europeia (Kuper 1996), legitimando assim a colonização 
“civilizadora”. 
 
A principal ideia do evolucionismo consistia em defender que a cultura 
e as sociedades evoluem, tal como as espécies e os organismos, a partir 
de formas mais simples até chegarem a outras mais complexas. Tanto 
Tylor como Morgan afirmavam que as sociedades passam por estádios 
de evolução até chegarem às formas mais complexas da vida social. 
Acreditavam também que era possível encontrar ainda no século XIX 
sociedades em diferentes estádios e graus de evolução. 
 
Para Eriksen e Nielsen (2007) as teorias evolucionistas não explicam 
satisfatoriamente toda a diversidade cultural. Porque é que umas 
sociedades “evoluíram” para a “civilização” enquanto outras se 
mantiveram na “selvajaria”? Se existe uma unidade química da 
humanidade, então como se explica toda a diversidade cultural 
existente? Mais, existe hoje evidência etnográfica e histórica de que 
nem todas as sociedades passaram pelas mesmas fases na sua marcha 
evolutiva para a “civilização”. 
 
O particularismo histórico 
 
Os primórdios do século XX trouxeram a crítica ao evolucionismo por 
parte da antropologia cultural norte-americana. 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
72 
 
 
A defesa que os evolucionistas faziam da existência de leis universais de 
evolução era prematura e não sustentada pela pesquisa etnográfica. De 
acordo com Eriksen e Nielsen (2007) citando Boas(…) os dados 
etnográficos e arqueológicos recolhidos até à data não eram suficientes 
para estabelecer generalizações universais. A sua orientação teórica era 
a de que apenas se podiam recolher dados de situações particulares e 
explicá-las de acordo com esses dados, mas não se podia generalizar 
essas explicações a situações até então não estudadas 
etnograficamente. Ao enfatizar a variabilidade histórica, Boas tomou 
claramente partido contra os esquemas evolucionistas que procuravam 
colocar toda a humanidade numa fórmula evolutiva única 
 
Para Moutinho (1980) diz que a complexidade de formas culturais e 
sociais não se compadecia com generalizações e o estabelecimento de 
“leis universais” da cultura. Cada cultura e sociedade tinham de ser 
analisadas no seu contexto próprio e qualquer extrapolação para 
contextos diferentes era vista como abusiva. Os antropólogos deviam 
gastar menos tempo com especulações infundamentadas e usá-lo antes 
para recolher material etnográfico. 
 
A falácia desta estratégia está em pensar que se pode recolher dados 
sem um enquadramento teórico prévio. Os factos não falam por si, mas 
sim pelas ideias de quem os recolhe. Para Boas, o antropólogo era uma 
espécie de ceifeira – debulhadora que recolhe tudo a eito. A verdade é 
que os antropólogos, como qualquer outra pessoa, são selectivos na 
escolha dos “factos”, não ceifam à toa, apenas apanham aquilo que o 
seu interesse prévio definiu como importante. 
 
 
O difusionismo 
 
Eriksen e Nielsen (2007) diz que o difusionismo tornou-se popular, nos finais 
do século XIX, quando o evolucionismo era ainda uma teoria influente, e 
constituiu um domínio das teorias evolucionistas. Existiram duas escolas 
principais: uma na Alemanha-Áustria e outra na Grã-Bretanha. A sua ideia 
central era a de que as civilizações mais “avançadas”, das quais a Europa 
representava o expoente máximo, tinham a sua origem no velho Egipto, 
considerado uma civilização avançada devido ao facto de nela se ter 
desenvolvido a prática da agricultura muito cedo e de esta ter levado ao 
desenvolvimento de formas de religião, arquitectura e arte muito 
“avançadas”. Para os difusionistas britânicos, a evolução independente 
e paralela parecia de menor importância, senão mesmo uma concepção 
errada. Para eles, a difusão a partir do Egipto explicava o 
desenvolvimento de todas as outras civilizações. 
 
De acordo com Eriksen e Nielsen (2007) a espécie humana não era 
particularmente inventiva, pelo que não fazia sentido que soluções 
extremamente engenhosas e requerendo grandes capacidades 
tivessem sido inventadas várias vezes em sítios diferentes. A 
humanidadeera sobretudo imitadora e não inventora. Nenhuma destas 
“teorias” difusionistas apresentava o suporte histórico e arqueológico 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
73 
 
necessário para ser minimamente credível à luz de padrões científicos 
actuais. 
 
Segundo os difusionistas a semelhança de características culturais 
numa determinada área era explicada pela difusão a partir de um 
centro. Quanto mais nos afastássemos desse centro menor seria a 
relação entre os elementos culturais originais existentes nesse centro e 
os elementos encontrados na sua periferia. Para Leplatine (2003) o 
conceito de área cultural teve a sua origem nas exigências práticas da 
pesquisa etnográfica norte-americana, tendo sido usado como artifício 
heurístico no mapeamento e classificação dos grupos tribais das 
Américas do Norte e do Sul. O difusionismo contribuiu para que as 
colecções dos museus passassem a ser organizadas com base em 
categorias geográficas em vez de dispostas segundo um modelo 
evolucionista. 
 
 
Para Gonçalves (2002) o princípio da difusão não está errado em si 
mesmo. De facto, as sociedades trocam entre si elementos das suas 
culturas. Mas o que o difusionismo não explica é porque é que uns 
elementos se difundem enquanto outros não. Por exemplo, porque é 
que a “cultura” da Coca-Cola se difunde tão facilmente, tornando-se 
praticamente universal, enquanto a monogamia não? E a mesma 
questão se pode colocar em relação a muitas outras coisas. 
 
 
O funcionalismo e o estrutural-funcionalismo 
 
Para Eriksen e Nielsen (2007) estes dois paradigmas, que fazem hoje 
parte do museu da teoria antropológica, marcaram a antropologia 
social europeia, sobretudo britânica, até pelo menos ao início da década 
de 1950. O funcionalismo interpreta a sociedade como se ela fosse um 
organismo; cada parte do sistema desempenha uma determinada 
função. O trabalho do antropólogo seria explicar as funções das 
diferentes partes do sistema social. 
 
Nesse sentido, e apesar do seu esquema conceptual simples, tanto o 
funcionalismo como o estrutural- funcionalismo representavam uma 
certa revolução teórica face ao carácter meramente particularístico e 
descritivo da abordagem tradicional (BATALHA, 2004). 
 
De acordo com a teoria funcionalista os elementos culturais serviam 
para satisfazer as necessidades dos indivíduos em sociedade, estas, por 
sua vez, eram determinadas pela própria biologia humana. Um 
elemento ou traço cultural tinha como função satisfazer uma qualquer 
necessidade básica resultante da natureza biológica dos indivíduos. 
Jordão (2004) diz que a nossa espécie não era, nesse aspecto, diferente 
das outras. Essas necessidades básicas eram a nutrição, reprodução, 
conforto corporal, segurança, relaxamento (e outras do mesmo 
género). 
 
Para Leplatine (2003) a cultura estava ao serviço da satisfação dessas 
necessidades. Por outro lado, a satisfação das necessidades básicas 
daria origem a outro tipo de necessidades, e, assim, as coisas ter-se-iam 
tornado mais complexas em termos de organização social. 
 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
74 
 
Apara Batalha (2004) a questão não era tanto a de saber se a cultura se 
colocava ao serviço das necessidades individuais mas sim a de descobrir 
de que modo ela contribuía para a manutenção de uma estrutura social 
equilibrada. Entendendo por estrutura social a rede total de relações 
sociais existentes numa sociedade. A ênfase colocada na estrutura em 
vez de nos indivíduos fez com que a sua escola de designasse por 
estrutural-funcionalista em vez de funcionalista. 
 
 
Tal como o funcionalismo, nos falares de eriksen e Nielsen (2007) 
também o estrutural-funcionalismo não explicava porque razão as 
sociedades satisfazem as suas necessidades funcionais de maneiras tão 
diferentes. Por exemplo, porque é que numas sociedades o pai 
desempenha o papel de “irmão mais velho” com quem se pode ter uma 
relação de brincadeira, enquanto noutras é uma figura autoritária que 
se teme e respeita? O principal mérito do funcionalismo e do estrutural-
funcionalismo foi a sua preocupação central com o trabalho de campo 
e a recolha etnográfica. 
 
 
 
O culturalismo norte-americano 
 
Por volta da década de 1920 segundo afirma Gonçalves (2002) alguns 
antropólogos americanos interessaram-se pela relação entre a cultura 
e a personalidade. A teoria psicanalítica de Sigmund Freud (1856-1939) 
foi uma das influências fundamentais nesse movimento da antropologia 
cultural norte-americana, que ficou para a história da antropologia 
como culturalismo ou, movimento de cultura-personalidade 
(LEPLATINE, 2003) 
 
Desta forma de acordo com Eriksen e Nielsen (2007) as diferenças de 
comportamento entre homens e mulheres existentes em qualquer sociedade 
são um produto do treino social e da enculturação, e não das diferenças 
biológicas entre géneros. A personalidade base resultaria sobretudo do 
treino e educação sociais recebidos na infância, da maneira como os adultos 
educam as crianças. O conjunto de práticas culturais que davam forma 
personalidade base era designado por instituições primárias. Santos 
(1969) afirma que uma vez formada a personalidade base, esta faria 
depois emergir um conjunto de instituições secundárias destinadas a 
satisfazer as necessidades e solucionar os conflitos originados pela 
estrutura da própria personalidade base. 
 
Ainda de acordo com Santos (1969) a religião e o ritual eram exemplos 
de instituições secundárias decorrentes da personalidade base. As 
instituições primárias e as secundárias influenciavam-se assim 
mutuamente de forma circular, através da personalidade base. O 
problema deste tipo de teorias é criarem explicações circulares das 
quais não se consegue sair, pois uma coisa explica a outra e vice-versa, 
e assim sucessivamente (BATALHA, 2004). 
 
Assim, nas sociedades onde se pratica a agricultura o treino social 
enfatiza a obediência e a responsabilidade, enquanto nos caçadores-
recolectores e pescadores enfatiza a independência e a confiança 
individual (LEPLATINE, 2003). Mas este tipo de generalização também 
não pode ser levado demasiado longe. Por exemplo, a punição do 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
75 
 
comportamento agressivo infantil poderia levar ao desenvolvimento de 
adultos preocupados com a agressão, o que por sua vez poderia levar 
esses adultos a atribuírem à agressividade os estados de doença. O 
maior problema com este tipo de teorias é o facto de elas muitas vezes 
procurarem generalizações demasiado amplas e para as quais não 
existe prova etnográfica suficiente (BATALHA, 2004). 
 
 
O neo-evolucionismo 
 
Na década de 1930, diz Eriksen e Nielsen (2007) e depois do domínio 
completo de Franz Boas na antropologia norte-americana, Leslie A. 
White (1900-1975) posicionou-se contra o particularismo boasiano 
defendendo a abordagem evolucionista, embora com uma nova 
roupagem. Acusado de neo-evolucionista, White defendeu-se dizendo 
que as suas teorias pouco tinham que ver com o evolucionismo do 
século XIX. Segundo ele, a cultura estava ao serviço da domesticação e 
captura de energia. Para exprimir isso, avançou com a sua lei básica de 
evolução cultural, a qual afirmava que mantendo todos os outros 
factores constantes uma sociedade evoluiria de acordo como o 
aumento da quantidade anual de energia per capita, ou então de 
acordo com os melhoramentos tecnológicos que permitissem 
aproveitar melhor a quantidade de energia já existente (White 1949). 
 
A teoria de White (1949) segundo Eriksen e Nielsen (2007) foi criticada por 
dar ênfase quase absoluta aos factores tecnológicos e aos elementos materiais 
dos sistemas culturais. Um dos principais problemas da sua teoria é que ela 
não explica porque é que umas sociedades foram capazes de domesticar e 
aproveitar mais energia do42 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
6 
 
aplicação da antropologia .................................................................................................................... 42 
 ............................................................................................................................................................. 42 
Sumário ............................................................................................................................................... 43 
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO .................................................................................................. 43 
TEMA 3: DESENVOLVIMENTO DA ANTROPOLOGIA .............................................................. 45 
UNIDADE 3.1. Antropologia como ciência ....................................................................................... 45 
Introdução............................................................................................................................................ 45 
Sumário ............................................................................................................................................... 47 
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO .................................................................................................. 47 
UNIDADE 3.2. A antropologia interpretativa a .................................................................................. 48 
antropologia pós-moderna ................................................................................................................... 48 
Introdução............................................................................................................................................ 48 
Sumário ............................................................................................................................................... 50 
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO .................................................................................................. 50 
UNIDADE 3.3. Diferentes ramos da antropologia ............................................................................. 51 
Sumário ............................................................................................................................................... 54 
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO .................................................................................................. 54 
TEMA 4:O CONCEITO DE ANTROPOLOGIA CULTURAL ......................................................... 56 
UNIDADE 4.1. Definições e abordagens sobre .................................................................................. 56 
Antropologia Cultual ........................................................................................................................... 56 
Introdução............................................................................................................................................ 56 
Sumário ............................................................................................................................................... 59 
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO .................................................................................................. 60 
UNIDADE 4.2. Origem e o desenvolvimento da cultura .................................................................... 61 
Introdução............................................................................................................................................ 61 
Sumário ............................................................................................................................................... 63 
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO .................................................................................................. 63 
UNIDADE 4.3. Cultura e sociedade ................................................................................................... 64 
Introdução............................................................................................................................................ 64 
Sumário ............................................................................................................................................... 65 
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO .................................................................................................. 65 
UNIDADE 4.4.A cultura material e a cultura imaterial ...................................................................... 68 
Introdução............................................................................................................................................ 68 
Sumário ............................................................................................................................................... 69 
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO .................................................................................................. 69 
TEMA 5:TEORIAS, FACTOS E PROCESSOS NA ANTROPOLOGIA.......................................... 70 
UNIDADE 5.1. As principais correntes Antropológicas .................................................................... 70 
Introdução............................................................................................................................................ 70 
Sumário ............................................................................................................................................... 79 
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO .................................................................................................. 79 
UNIDADE 5.2.Desenvolvimento histórico e principais áreas de interesse contemporâneas ............. 80 
Introdução............................................................................................................................................ 80 
Sumário ............................................................................................................................................... 82 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
7 
 
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO .................................................................................................. 82 
UNIDADE 5.3. As correntes antropológicas e sua ............................................................................. 83 
operacionalização em Moçambique .................................................................................................... 84 
Introdução............................................................................................................................................ 84 
Sumário ............................................................................................................................................... 86 
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO .................................................................................................. 86 
TEMA 6:TRADIÇÃO E IDENTIDADE CULTURAL ...................................................................... 87 
UNIDADE 6.1.A génese da multiplicidade cultural na ...................................................................... 87 
Introdução............................................................................................................................................ 87 
Sumário ............................................................................................................................................... 88 
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO .................................................................................................. 88 
UNIDADE 6.2.O processo de construção do império colonial e a pluralidade cultural ..................... 90 
Introdução............................................................................................................................................que outras, nem explica porque é que determinadas 
sociedades tendo sido capazes de aproveitar quantidades enormes de 
energia vieram posteriormente a ruir e desaparecer, como no caso das 
sociedades clássicas do Médio Oriente e da América Central e do Sul. 
 
Diz Gonçalves (2002) que portanto tentou conciliar as teorias dos seus 
antecessores desenvolvendo as ideias de evolução específica, a qual se 
refere ao processo de evolução cultural característico de cada 
sociedade no seu ecossistema particular, e de evolução geral, que se 
refere à maneira como a humanidade evolui na generalidade, isto é, 
passando de formas de aproveitamento de energia menos complexas 
para outras mais complexas. 
 
Para Peirano (1995), Caldeira (1998) e Gonçalves (2002) a grande 
diferença entre evolucionismo clássico e o neo-evolucionismo é que 
este procura relacionar mudança evolutiva com a emergência de 
formas de adaptação ecológica mais eficientes. De acordo com Eriksen 
e Nielsen (2007) a evolução depende assim essencialmente da 
tecnologia de aproveitamento e manuseamento da energia. Enquanto 
para os evolucionistas do século XIX o “progresso” das “civilizações” 
dependia essencialmente do desenvolvimento da mente humana, 
sendo sobretudo uma questão cultural e não técnica ou natural. 
 
 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
76 
 
O estruturalismo 
 
O responsável pela adaptação do modelo estruturalista à antropologia 
foi o antropólogo francês Claude Lévi-Strauss (1908), inspirado pelo 
trabalho de alguns dos linguistas do chamado Círculo de Praga, como 
Nicolai S. Trubetzkoy (1890-1938) e RomanJacobson (1896-1982). À 
influência do Círculo de Praga Lévi-Strauss juntou as ideias de Émile 
Durkheim e Marcel Mauss (1872-1950), introduzindo na antropologia o 
modelo linguístico da oposição binária ou das categorias contrastantes, 
como também é por vezes designado (ERIKSEN E NIELSEN, 2003). 
 
Para Eriksen e Nielsen (2007) enquanto o estrutural-funcionalismo se 
preocupava acima detudo com o funcionamento do sistema social, o 
estruturalismo de Lévi-Strauss procurava descobrir a origem desse 
mesmo sistema, assim como provar a universalidade dessa origem, a 
qual segundo ele se ancorava na estrutura profunda da mente humana. 
Segundo Lévi-Strauss, a cultura, expressa através dos rituais, da arte e 
do quotidiano, não é mais do que a manifestação de uma estrutura 
mental profunda inerente à espécie humana. Por exemplo, o facto de 
as populações “primitivas” organizarem os casamentos através de um 
sistema que trocam entre si os indivíduos para fugir à endogamia, é um 
exemplo de organização binária. A estrutura binária da mente humana 
reflectir-se-ia assim na linguagem e nas instituições culturais humanas. 
 
De acordo com mesma fonte, dando exemplo do caso das metades 
(moieties, como são designadas na literatura antropológica de língua 
inglesa) e do sistema de casamentos nas estruturas de parentesco é um 
exemplo de organização e estrutura binárias. Corroborando a ideia de 
Santos (1969) Jordão (2004) a sociedade estabelece regras de troca que 
obrigam os indivíduos a circular entre metades através do sistema de 
casamento. O mundo à nossa volta é organizado em categorias que se 
opõem umas às outras; por exemplo, alto-baixo, cozido-cru, norte-sul, 
mau-bom, terra-ar, cá-lá, cultura-natureza, etc. De acordo com a teoria 
estruturalista, toda a construção cultural do mundo se faz com base 
num sistema de oposições. Gonçalves (2002) e Eriksen & Nielsen (2007) 
dizem que segundo Lévi-Strauss, esta organização do mundo em 
categorias opostas não decorre somente de uma necessidade prática, 
mas essencialmente de uma necessidade intrínseca da mente humana. 
A cultura é uma manifestação da nossa estrutura mental. A natureza 
profunda da mente força-nos a organizar o mundo à nossa volta através 
de um sistema de contrastes binários que obedece aos mesmos 
princípios que a linguagem falada humana, o produto cultural por 
excelência. 
 
Para Eriksen e Nielsen (2007) as interpretações de Lévi-Strauss são, 
nalguns casos, completamente arbitrárias, não havendo a possibilidade 
de as testar por serem consideradas à partida fora de qualquer 
possibilidade de teste. Mas a sua maior falha é não explicar porque é 
que havendo uma só estrutura universal existe uma diversidade tão 
grande de padrões e sistemas culturais à escala mundial. Ou, por que 
razão a mesma estrutura mental se exprime de formas tão diversas? 
 
 
A nova etnografia ou etnociência 
 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
77 
 
Existe segundo Assis e Nepomuceno (2008) algo de comum entre o 
estruturalismo e a etnociência: ambos derivam os seus princípios da 
linguística estrutural. Para os estruturalistas trata-se de descobrir as 
regras que emanam da estrutura mental que governa a linguagem e o 
pensamento humanos. Para os etnocientistas trata-se de descobrir o 
quadro mental, definido culturalmente, que orienta o comportamento 
humano numa dada sociedade. 
 
Mas ara Eriksen e Nielsen (2007) enquanto o estruturalista define ele 
próprio as categorias binárias de oposição com que vai interpretar a 
cultura que é objecto do seu estudo, o etnocientista procura entender 
e usar as categorias dos próprios actores, tentando não contaminá-las 
com as suas próprias categorias. O seu objectivo é descobrir o mapa 
cognitivo que governa os comportamentos e, a partir dele, explicá-los. 
 
Segundo afirmam Santos (1969) e Eriksen & Nielsen (2007) usando uma 
metáfora podemos dizer que os indivíduos são como que comandados 
por um sistema operativo, arquivado no seu cérebro, e que se 
conseguíssemos aceder a esse sistema estaríamos em condições de 
entender o comportamento humano e o sentido dos sistemas culturais. 
Cada cultura possui o seu sistema operativo próprio. O etnocientista 
procura não misturar as categorias do seu próprio sistema operativo 
com as do sistema que estuda. 
 
 
 
 
O que a etnociência não explica de acordo com Santos (1969) é porque 
é que diferentes sociedades desenvolvem diferentes sistemas 
operativos (basicamente o mesmo problema do estruturalismo com a 
sua noção de estrutura profunda). Outro problema desta abordagem é 
aquilo a que se pode chamar “o perigo do informante bem informado”, 
ou seja, como o número de potenciais informantes é ilimitado, os 
etnógrafos, por razões práticas de capacidade, têm de trabalhar com 
um pequeno número apenas, acabando frequentemente por ficarem 
limitados a apenas um informante. Este, muitas vezes, é escolhido 
devido a uma aparente maior competência para descodificar o sistema 
operativo da sua cultura, ou, simplesmente, por ser de contacto fácil. 
 
 
Existencialismo 
 
Para Eriksen e Nielsen (2007) em Filosofia será preferível a expressão 
"filosofia da existência", por ser mais específica e menos controvertida. 
A "existência" que aqui está implicada é o Homem, que se torna o 
centro de atenção, encarado como ser concreto - nas suas 
circunstâncias, no seu viver, nas suas aspirações totais. Centrado nos 
problemas do Homem, o Existencialismo penetra nos seus sentimentos 
concretos, nas suas angústias e preocupações, nas suas emoções 
interiores, nas suas ânsias e preocupações, nas suas emoções 
interiores, nas suas ânsias e satisfações - temas particularmente aptos 
para um desenvolvimento literário. 
 
Para Eriksen e Nielsen (2007) o Kierkegaard defende que "O 
existencialismo nunca poderá ser uma teoria como outra qualquer, 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
78 
 
porque a existência não é, em si, susceptível de teoria. O 
existencialismo, para Kierkegaard, é apenas a expressão da sua própria 
vida e a única coisa de geral ou de universal que contém é a exortação 
que a todos nos dirige para que nos tornemos cristãos. A natureza deste 
existencialismo só poderá, portanto, serdefinida em função das 
condições que são requeridas por um existir autêntico - existir que se 
deverá iniciar e intensificar seguidamente, por meio de uma reflexão 
capaz de fazer, de uma existência vivida, uma existência desejada e 
pensada. Essas condições podem reduzir-se a três: a necessidade do 
compromisso e do risco, o primado da subjectividade e a prova da 
angústia e do desespero." 
 
O que o Karl Marx critica, segundo Leplatine (2003) é a questão de 
como compreender o que é o homem. Não é o ter consciência (ser 
racional), nem tampouco ser um animal político, que confere ao 
homem sua singularidade, mas ser capaz de produzir suas condições de 
existência, tanto material quanto ideal, que diferencia o homem. "A 
essência do homem é não ter essência, a essência do homem é algo 
que ele próprio constrói, ou seja, a História. "A existência precede a 
essência"; nenhum ser humano nasce pronto, mas o homem é, em sua 
essência, produto do meio em que vive, que é construído a partir de 
suas relações sociais em que cada pessoa se encontra. Assim como o 
homem produz o seu próprio ambiente, por outro lado, esta produção 
da condição de existência não é livremente escolhida, mas sim, 
previamente determinada. 
 
 
 O homem pode fazer a sua História mas não pode fazer nas condições 
por ele escolhidas. O homem é historicamente determinado pelas 
condições, logo é responsável por todos os seus actos, pois ele é livre 
para escolher. Logo todas as teorias de Marx estão fundamentadas 
naquilo que é o homem, ou seja, o que é a sua existência. 
O Homem é condenado a ser livre (JORDÃO, 2004). 
 
Eriksen e Nielsen (2007) afirmam que as relações sociais do homem são 
tidas pelas relações que o homem mantém com a natureza, onde 
desenvolve suas práticas, ou seja, o homem se constitui a partir de seu 
próprio trabalho, e sua sociedade se constitui a partir de suas condições 
materiais de produção, que dependem de factores naturais (clima, 
biologia, geografia...) ou seja, relação homem-Natureza, assim como da 
divisão social do trabalho, sua cultura. Logo, também há a relação 
homem-Natureza-Cultura. 
 
De acordo com a mesma fonte, o Jean Paul Sartre defende que a 
distinção entre essência e existência corresponde a distinção entre 
conhecimento intelectual e conhecimento sensível. Os sentidos põem 
em contacto com os seres particulares e contingentes, únicos que 
realmente existem, ao passo que a inteligência permite aprender as 
ideias ou essências, géneros e espécies universais, meras possibilidades 
de ser, em si mesmas inexistentes. Sabe-se, no entanto, desde Sócrates, 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
79 
 
que o objecto da ciência é o universal e não o particular, quer dizer a 
essência e não a existência. Platão tenta resolver essa contradição 
hipostasiando as ideias, atribuindo-lhes a realidade, no mundo supra-
sensível ou topos ouranoú (lugar do céu). Poder-se-ia dizer que é em 
nome da existência que Aristóteles critica a teoria platónica das ideias, 
sustentando que as ideias, ou essências, não estão fora mas dentro das 
próprias coisas, as quais, feitas de matéria e de forma, contem, em si 
mesmas, o universal e o particular, a essência e a existência. 
 
Leplatine (2003) e Eriksen & Nielsen (2007) dizem que o Vergílio 
Ferreira (…) admite que o "O existencialismo ergue o seu protesto, 
afirmando que o Homem é pessoalmente, individualmente, um valor; 
que a sua liberdade (em todas as suas dimensões e não apenas em 
algumas) é uma riqueza, uma necessidade estrutural de que não deve 
perder-se entre a trituração do dia-a-dia; e finalmente que, fixando o 
homem nos seus estritos limites, só por distracção ou imbecilidade ou 
por crime se não vê ou não deixa ver que ao mesmo homem impende a 
tarefa ingente e grandiosa de se restabelecer em harmonia no mundo, 
para que em harmonia a sua 
 
vida lucidamente se realize desde o nascer ao morrer. 
 
 
Sumário 
 
Nesta unidade temática 5.1 procuramos apresentar várias 
correntes antropológicas para ajudar a fazer interpretação das 
diferentes manifestações observadas, entre elas: 
▪ Evolucionismo
 
 
▪ Difusionismo
 
 
▪ Pluralismo
 
 
▪ Funcionalismo
 
 
 
 
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO 
 
Grupo 1(com respostas) 
1.indique algumas correntes antropológicas estudadas neste texto? 
2.Porque as pessoas dão informações erradas? 
3. Por que a teoria de White foi criticada? 
 
Respostas 
1.evolucionismo, funcionalismo, difusionismo, pluralismo, etc. 
 
2.Por varias razões como medo, prudência, ignorância, esperança de 
receber ou ganhar algo, etc. 
 
3.por dar ênfase quase absoluta aos factores tecnológicos e aos 
elementos materiais dos sistemas culturais 
 
Grupo 2 (respostas detalhadas) 
 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
80 
 
1.Ao longo dos seus pouco mais de cem anos de existência como 
disciplina académica, a antropologia produziu um conjunto de teorias 
muitas vezes em oposição entre si. 
 
2.O homem pode fazer a sua História mas não pode fazer nas condições 
por ele escolhidas. 
 
3. A estrutura binária da mente humana reflectir-se-ia assim na 
linguagem e nas instituições culturais humanas. 
 
 
Grupo 3 (exercícios de gabarito) 
1.Qual é a fronteira entre a actividade científica e não científica? 
2.Qual é a importância de inter-ajuda e das relações de troca? 
3.Explica a relação entre homem-natureza-cultura? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UNIDADE 5.2.Desenvolvimento histórico e principais áreas de interesse contemporâneas 
 
 
Introdução 
 
 
 
Nesta unidade temática procuraremos nos concentrar em aspectos 
ligados ao desenvolvimento histórico e das principais áreas de 
interesse contemporâneas. Nesse sentido, pretende-se que ao 
completar esta unidade, o estudante deverá ser capaz de: 
 
▪ Conhecer o desenvolvimento histórico
 
 
▪ Identificar as áreas de interesse contemporâneas
 
 
▪ Estabelecer mecanismos de aplicação prática
 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
81 
 
Objectivos 
específicos 
 
 
Desenvolvimento 
 
De acordo com Maia (2000) diz que no texto clássico que marcou a 
etnografia moderna, a questão era sobre a imensa distância entre a 
apresentação final dos resultados da pesquisa e o material bruto das 
informações colectadas pelo pesquisador, através de suas próprias 
observações das asserções dos nativos, do caleidoscópio da vida 
tribal. Nesse sentido, há uma transformação do antropólogo para 
entrar em outra cultura, a necessidade de "aprender a comportar-se 
como eles", desenvolvendo o sentimento de "empatia". De outro 
modo, o antropólogo deveria reinterpretar os "dados brutos", 
dependendo da inspiração oferecida pelos estudos teóricos, por uma 
teoria da cultura. 
 
Maia (2000) adianta que a produção do conhecimento antropológico 
fez-se através do estudo dos povos coloniais numa perspectiva 
"interstícia -o olhar desde dentro". O enfoque do tipo "colocá-lo todo 
dentro" para a etnografia e "deixá-lo todo fora para prosa" marcou a 
forma da passagem do campo para o texto etnográfico deste primeiro 
momento. Para Peirano (1995) o princípio "eu estive lá" e, assim, 
"posso falar do outro" demonstra que a experiência tem servido 
como eficaz garantia de autoridade etnográfica. Deste modo, evoca 
tanto uma presença participativa, uma certeza de percepção, uma 
relação de afinidade emocional, como sugere um conhecimento 
cumulativo (sobre uma realidade). E esse mundo "o meu povo", 
concebido como criação da experiência, é subjectivo e não dialógico 
(MAIA, 2000). 
 
O antropólogo não se encontra mais numa situação de exclusividade 
quantoà produção do conhecimento em relação ao outro. Perdendo 
o lugar de sujeito absoluto do conhecimento, ele "agora se depara 
com objectos falantes, com um ponto de vista próprio", que aceitam 
ou se contrapõem às interpretações etnológicas, assumem, recusam 
ou corrigem as imagens de si que dividem os académicos em tomo 
na natureza da explicação antropológica (JORDÃO, 2004). 
 
 As inovações contemporâneas no texto etnográfico são reveladoras 
da direcção da antropologia a uma sensibilidade histórica e política 
de um constante refinamento, que está transformando a maneira 
como a diversidade cultural é retratada. 
 
Para Caldeira (1988) as mudanças actuais, das convenções do passado, 
na passagem para o texto sobre outras culturas, constituem o "locus de 
operação" para a função estratégica contemporânea da antropologia. 
As regras definidoras da relação autor, objecto, leitor, que permitem a 
produção, a legibilidade e a legitimidade do texto etnográfico, estão 
tomando um rumo diverso, em função do processo de autocrítica pelo 
qual passa a antropologia, na medida em que os mais variados aspectos 
de sua prática vêm sendo questionados e desconstruído. Para Maia 
(2000) as experiências vivenciadas colocam, lado a lado, antropólogo e 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
82 
 
nativo e, ao mesmo tempo, são reveladoras da "diversidade 
irredutível". 
 
Ao contrário dos parâmetros da antropologia moderna, que reconstruía 
uma totalidade para dar sentido à diversidade, o que se pretende é o 
ponto de vista do nativo e a diversidade de experiências, cabendo ao 
antropólogo representar esta diversidade na forma textual (MAIA, 
2000). 
 
Nesse sentido, modos de vida trocam influências, imitam-se entre si, 
pretendem dominar-se uns aos outros, pretendem traduzir-se 
reciprocamente, subverter-se entre si. A análise cultural se acha imersa 
em todo movimento de contestação ao poder. 
 
 
Sumário 
 
Nesta unidade temática 5.2 abordamos as questões relacionadas com 
desenvolvimento histórico e áreas de interesse contemporâneas para: 
▪ Ampliação do leque de estudos
 
 
▪ Definição clara de aspectos a considerar nos estudos desta 
natureza
 
 
 
 
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO 
 
Grupo 1 (com respostas) 
1.O que revelam as inovações contemporâneas no texto etnográfico? 
2.Qual é o princípio que procura garantir a autoridade etnográfica? 
3. De que se suporta este princípio? 
 
 
Respostas 
 
 
1.As inovações contemporâneas no texto etnográfico são 
reveladoras da direcção da antropologia a uma sensibilidade 
histórica e política de um constante refinamento, que está 
transformando a maneira como a diversidade cultural é retratada. 
 
2. O princípio "eu estive lá" 
3. das experiencias vivenciadas daí o sentido de segurança de que 
assim, "posso falar do outro". 
 
 
 
Grupo 2 (respostas detalhadas) 
 
1.As experiências vivenciadas colocam, lado a lado, antropólogo e 
nativo e, ao mesmo tempo, são reveladoras da "diversidade 
irredutível". 
 
2.O antropólogo não se encontra mais numa situação de 
exclusividade quanto à produção do conhecimento em relação ao 
outro 
 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
83 
 
a produção do conhecimento antropológico fez-se através do estudo 
dos povos coloniais numa perspectiva "interstícia -o olhar desde 
dentro" 
 
Grupo 3 (exercícios de gabarito) 
 
1.Quais são as mudanças actuais, das convenções do passado, na 
passagem para o texto sobre outras culturas? 
2.Quais são as regras definidoras da relação autor, objecto, leitor? 
 
3. Porque é que a análise cultural se acha imersa em todo 
movimento de contestação ao poder? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UNIDADE 5.3. As correntes antropológicas e sua 
 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
84 
 
operacionalização em Moçambique 
 
 
Introdução 
 
 
 
Neta unidade temática, procura consolidar as lições aprendidas nas 
unidades anteriores, fazendo sua aplicação prática à realidade 
Moçambicana. Daí que ao completar esta unidade, o estudante 
deverá ser capaz de: 
 
 
 
 ▪ Interpretar as manifestações observadas em Moçambique 
 
Objectivos ▪ Estabelecer paralelismo prático entre os aspectos comuns e diferentes 
 
específicos 
das correntes apresentadas 
 
 
 
 
 
 
 
Desenvolvimento 
 
Tomando como base a escola funcionalista, WLSA ((2013) diz que em 
toda a sua diversidade, se constituiu como determinante na 
operacionalização do conceito de cultura, ao procurar uma 
generalização caracterizada pela busca de leis gerais através de 
fenómenos culturais que desempenham uma função, contribuindo para 
a coesão interna de um sistema de valores e crenças manifesto no 
comportamento das pessoas. 
 
Tomando a cultura como um subsistema de símbolos significativo para 
os agentes, mediado por instituições que visam a cooperação e a 
integração. Nesse sentido, para WLSA (2013) a cultura é vista como um 
subsistema do sistema geral de acção social, constituído por valores e 
padrões comuns aos actores que, deste modo, orientam os seus 
comportamentos. Isto significa que as disposições de cada indivíduo e 
a sua acção têm sempre como função uma partilha de valores, 
condicionando a autonomia dos sujeitos a um padrão cultural comum. 
Destacando a função normativa das instituições secundariza os factores 
de mudança e acção dos actores que alteram/influenciam as práticas 
institucionais. É o caso, por exemplo em Moçambique, da acomodação 
das instituições, como a educação e a saúde, que realizam “arranjos” no 
sentido de conciliar práticas culturais excludentes no quadro de 
políticas públicas que se pretendem globais. 
 
 
 
 
 
 
Esta posição defende a necessidade metodológica de tomar em conta 
as lutas, os conflitos e as negociações pelos agentes que, actuando em 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
85 
 
contextos específicos, produzem adaptação/reestruturação da ordem 
social e da cultura enquanto dimensão dessa mesma ordem social. 
 
Significa assim para Maia (2000) e Santos (1969) que, para 
compreender realidades culturais, é tão importante reconhecer quais 
os sistemas de valores e crenças que condicionam as práticas dos 
sujeitos, como os atributos que organizam as suas representações 
relativamente a si e aos outros. Nesta perspectiva, é importante 
identificar como se constituem os elementos reconhecíveis de pertença 
ao grupo, através de processos intersubjectivos e por meio da 
linguagem reveladora de sentidos (WLSA, 2013). 
 
Nesta ordem de ideias, a compreensão da cultura remete-nos para a 
análise do discurso referente aos ritos e aos significados que assumem 
para os sujeitos, às escolhas referentes ao que é mais ou menos 
importante exprimir, tendo em conta os interlocutores e os espaços em 
que os discursos são produzidos. 
 
Neste sentido, foi interessante constatar, e contrariamente ao discurso 
masculino, a desvalorização que é transmitida pelas jovens sobre a 
aprendizagem da sexualidade no contexto ritual e também escolar), 
contudo profundamente presente nas respostas às questões sobre o 
corpo, em que o discurso da higiene sexual se apresentava construído 
em função de atributos que caracterizam o exercício da sexualidade 
tendo em conta a expectativa masculina (WLSA, 2013). 
 
 Recusando a abordagem redutora da cultura tal como é proposta pelos 
funcionalistas e pelos estruturalistas a um epifenómeno quando 
consideramos a duração e o tempo escolhidos para a realização dos 
ritos como mecanismos aparentemente formais, referimo-nos à 
necessidade de atender à importância que estes aspectos podem 
assumir, principalmente quando essas alterações correspondem à 
introdução de valores produzidos noutros espaços, como a escola. Se, 
para os funcionalistas, cadaelemento contribui para a coesão da 
estrutura, já para os estruturalistas a análise deve ter como foco a 
estrutura e a forma, incidindo sobre acção, permitindo a existência de 
regularidades. 
 
Para WLSA (2013) as representações e as práticas informadas (e 
comunicando com outras esferas do campo político) permitem 
entender como se regulam as relações entre os sujeitos e como o poder, 
estruturando essas relações, classifica, categoriza, selecciona e prediz o 
dominante. 
 
De acordo com a mesma fonte, por exemplo, no caso das matronas e 
dos mestres que orientam os ritos, é interessante compreender os 
factores, como o controlo/contacto com/das instâncias formais do 
Estado e/ou o maior acesso das e dos jovens às escolas têm produzido 
alterações ao longo do tempo nas suas fontes de legitimação, 
recorrendo tanto ao discurso da afirmação identitária étnica, como 
estabelecendo alianças, embora informais, com a dispensam a 
articulação e a comunicação entre as várias esferas sociais, políticas e 
económicas. 
 
 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
86 
 
 
 
 
 
 
Sumário 
 
Nesta unidade temática 5.3 aprofundamos questões relacionadas com 
aplicação das correntes antropológicas para a realidade Moçambicana, 
como forma de auxiliar : 
▪ Na orientação dos estudos e
 
 
▪ Interpretações de objectos observados em Moçambique
 
 
 
 
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO 
 
Grupo 1 (com respostas) 
1.Qual é o papel das matronas e mestres dos ritos? 
2. O que é cultura segundo WLSA 2013? 
 
Respostas 
1.Orientar os ritos eu contacto com instituições legais do Estado 
 
2. A cultura é vista como um subsistema do sistema geral de acção 
social, constituído por valores e padrões comuns aos actores que, deste 
modo, orientam os seus comportamentos 
 
Grupo 2 (respostas detalhadas) 
 
1.A compreensão da cultura remete-nos para a análise do discurso 
referente aos ritos e aos significados que assumem 
 
2.As matronas e dos mestres que orientam os ritos, é interessante 
compreender os factores, como o controlo/contacto com/das 
instâncias formais do Estado 
 
3 (exercícios de gabarito) 
1.O que é epifenómeno? 
2.Anuncia a abordagem redutora da cultura? 
 
3. O que deve ser feito na tua opinião para conciliar práticas culturais 
excludentes no quadro de políticas públicas? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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87 
 
 
 
 
 
TEMA 6:TRADIÇÃO E IDENTIDADE CULTURAL 
 
 
UNIDADE 6. 1. A génese da multiplicidade cultural na metade 
Oriental da África Austral 
 
UNIDADE 6.2. O processo de construção do império colonial e 
a pluralidade cultural 
 
UNIDADE 6.3. A antropologia na África colonial e pós-colonial 
UNIDADE 6.4. A antropologia em Moçambique colonial e pós 
colonial UNIDADE 6.5. Dinâmica aculturacional e permanência de 
modelos societais endógenos; 
 
 
UNIDADE 6.1.A génese da multiplicidade cultural 
na metade Oriental da África Austral 
 
 
Introdução 
 
Após intensas abordagens sobre a génese e desenvolvimento da 
antropologia, temos nesta unidade temática uma proposta de debate 
sobre a multiplicidade cultural que se pretenda estudar na metade 
oriental da África Austral. Ao completar esta unidade, o estudante 
deverá ser capaz de: 
 
 
 
Conhecer a génese da multiplicidade cultural
 
 
▪ Descrever as suas características na metade Oriental da África Austral
 
 
▪ Identificar os pontos fortes e fracos desta parte da África
 
 
Desenvolvimento 
 
Segundo Costa (2013) todas as missões de investigação científica, 
temporárias ou permanentes, levadas a cabo pelas diferentes 
instituições da metrópole aos territórios ultramarinos, contribuindo 
para a empresa da ocupação científica do ultramar, para lá do mero 
interesse e motivações dos investigadores de investigar e conhecer 
(numa lógica de ciência pela ciência), estes foram norteadas por uma 
finalidade e estratégia política. 
 
Conhecer é Poder e é na relação das Universidades com os 
organismos de investigação ultramarina que esse conhecimento 
colonial é produzido, aprofundado e reproduzido, de modo a 
autoridade colonial melhor poder orientar e explorar os diversos 
recursos existentes e poder afirmar-se politicamente no plano 
nacional e internacional (COSTA, 2013). 
 
Ainda de acordo com Costa (2013) a ocupação científica das colónias 
(através do seu estudo nas mais diversas vertentes) emerge como 
Objectivos 
específicos 
 
 
 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
88 
 
fundamento político, como via para a exploração económica das 
colónias, ao mesmo tempo que permite o desenvolvimento e 
progressos das próprias ciências. Partilhando a ideia de Geffray 
(1991) este desenvolvimento científico implica o desenvolvimento de 
instituições na metrópole, responsáveis pela organização e realização 
de investigação científica colonial, assim como nas próprias colónias 
são criados organismos de estudo científico. 
 
Levar a civilização aos territórios tropicais que se pretendiam 
dominar, era levar a fé, a moral, os bons costumes, a higiene, os 
cuidados de saúde, a cultura ocidental mas também fomentar a 
exploração económica dos bens naturais aí existentes. De acordo com 
Costa (2013) para lá das glórias e conquistas passadas, fruto directo 
das descobertas e expansão de quinhentos, a Conferência de Berlim 
(1885) vem impor um novo paradigma de afirmação dos títulos de 
posse desses espaços ultramarinos. Dominar essas possessões, como 
termo de afirmação de política internacional, importa observar a 
fórmula: conhecer para possuir e dominar, o que só é alcançado pela 
plena e empenhada Ocupação Científica dos territórios de além-mar. 
 
 
 
 
 
 
Sumário 
 
Nesta unidade temática 6.1 debruçamos sobre a génese da 
multiplicidade cultural na metade Oriental da África Austral, 
com o propósito de: 
▪ Ilustração do papel da conferência de Berlim
 
 
▪ A ocupação cientifica que foi desencadeada logo após a 
conferência
 
 
 
 
 
 
 
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO 
 
Grupo 1 (com respostas) 
1.A metrópole sempre fez investigação no território ultramarino? 
2.Em que se baseava essas investigações? 
 
3.Qual era a lógica das investigações da metrópole aos territórios 
ultramarinos? 
 
Respostas 
1.Sim 
 
2. As missões de investigação da metrópole aos territórios 
ultramarinos estavam norteados por uma finalidade e estratégia 
política. 
3.A lógica de investigação era conhecer para possuir e dominar. 
 
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89 
 
Grupo 2 (respostas detalhadas) 
 
1.A Conferência de Berlim (1885) vem impor um novo paradigma de 
afirmação dos títulos de posse desses espaços ultramarinos 
 
2.Importa observar a fórmula: conhecer para possuir e dominar, o que 
só é alcançado pela plena e empenhada Ocupação Científica dos 
territórios de além-mar 
 
3.O conhecimento colonial era produzido para melhor poder orientar e 
explorar os diversos recursos existentes e poder afirmar-se 
politicamente no plano nacional e internacional 
 
Grupo 3( exercícios de gabarito) 
1.O que é a multiplicidade cultural? 
 
2.Como surge a multiplicidade cultural na metade Oriental da África 
Austral 
3.Como se caracteriza a multiplicidade no contexto moçambicano 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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90 
 
 
 
UNIDADE 6.2.O processo de construção do império colonial e a pluralidade cultural 
 
 
Introdução 
 
Nesta unidade temática, pretende-se aflorar com mais profundidade o 
processo de construção do império colonial e pluralidade cultural. Daí 
que ao completar esta unidade, o estudante deverá ser capaz de: 
 
▪ Descrever o processo de construção do império colonial
 
 
▪ Identificar as características da pluralidade culturalDesenvolvimento 
 
Para Costa (2013) a dominação e um vector do imperialismo ocidental. 
Conhecer para poder intervir, vigiar para disciplinar e regulamentar o 
Outro. Os interesses, as motivações e as produções da ciência 
reconfiguram-se no tempo. Ainda de acordo com Costa (2013) as 
Missões de estudo científico no espaço colonial estão embutidas de 
uma função ideológica, exterior à própria ciência embora tenham sido 
criadas dentro de uma perspectiva e lógica científicas, como 
instrumento de excelência para a abertura e conhecimento de África. 
 
A partir das ciências da metrópole mobilizam-se conhecimentos que 
fundam novas subespecialidades (história e geografia coloniais, direito 
e economia coloniais, psicologia indígena, medicina colonial…), 
conduzindo à criação de novas instituições de ensino e de investigação 
coloniais. Para tornar eficiente a ocupação científica do espaço colonial, 
de acordo com Conceição (2006) e Costa (2013) criam-se na metrópole 
instituições de ensino que visam difundir as ciências coloniais e formar 
agentes coloniais dotando-os de um saber localizado. 
 
Para Costa (2013) a institucionalização dos saberes coloniais permite 
analisar conjuntamente dois processos fundamentais: a 
profissionalização dos agentes da colonização e o movimento da 
construção disciplinar. A maioria dos saberes coloniais são produzidos, 
ou pelo menos “traduzidos” dentro do quadro do ensino superior da 
metrópole. Daí que o ensino superior colonial de acordo com Geffray 
(1991) constitui um espaço de encontro e de troca entre universitários 
e administradores, entre políticos e homens de propaganda política. 
Neste sentido, a ciência afigura-se como um elemento orgânico para a 
colonização, assumindo-se aquela, como uma “missão civilizadora” 
 
Objectivos 
específicos 
 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
91 
 
 
 
(COSTA, 2013). 
 
A par de objectivos económicos, a “missão civilizadora” (tendo a ciência 
como essência) torna-se, não apenas como um potente argumento para 
a ideologia da colonização e imperialismo, mas também como uma 
forma radicalmente nova de olhar o mundo e de (re)organizar a 
sociedade. Costa (2013) afirma que o facto de se identificar a ciência 
com o progresso, permite o estabelecer e o partilhar duma rede social, 
dos valores coloniais pela comunidade de cientistas. A ciência, como 
“missão civilizadora” mobiliza o altruísmo individual e colectivo como 
base moral da colonização, tornando-se esta perspectiva mais 
acentuada especialmente após a I Guerra Mundial. 
 
A ciência é por natureza, altruísta, diz Costa (2013) tornando-se a 
colonização um imperativo moral das nações civilizadas, para benefício 
dos povos “atrasados” das colónias (a ciência traria as virtudes do 
progresso aos povos colonizados) e como importante instrumento para 
explorar os recursos naturais que os indígenas não eram capazes de 
explorar. A ciência surge como veículo de civilização e progresso. 
Contudo, muitos cientistas como diz Geffray (1991), Conceição (2006) e 
Costa (2013) não se cingem simplesmente aos ditames e propósitos das 
autoridades coloniais, mas desenvolvem também a sua própria 
estratégia orientada pelos imperativos e restrições científicas e 
institucionais. 
 
Para Costa (2013) temos que a política colonial seguida na I República, 
tendente para a descentralização administrativa, para a autonomia 
financeira e aposta na economia das colónias é em grande medida 
herdada da Monarquia. Assim, a ciência emerge como um precioso 
instrumento para melhor conhecer, para melhor possuir, para melhor 
explorar. Este perfil da ciência, enquanto instrumento económico e de 
administração, transparece na análise das teses apresentadas no II 
Congresso Colonial (DEMARTIS, 2002). O interesse científico pelas 
colónias renova-se e intensifica-se ao longo do tempo, desenvolvendo-
se diversos estudos nas mais diversas áreas do saber: Destas 
transcrições, ressalta a questão da nacionalidade da ciência, deixando 
transparecer o entendimento que as missões científicas estrangeiras 
nos territórios portugueses eram vanguardas de penetração política. 
Importava conhecer o império pela mão dos cientistas portugueses e 
dá-lo a conhecer aos outros. 
 
 
Sumário 
 
Nesta unidade temática 6.2 debruçou-se sobre o processo de 
construção do império colonial e a pluralidade colonial para 
permitir fazer inferências sobe a história da ocupação colonial, 
baseada na análise de : 
▪ Factos históricos observados
 
 
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92 
 
 
▪ Análise antropológica dos factos observados
 
 
 
 
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO 
 
Grupo 1 (com respostas) 
1.Qual era a tendência da política na I República 
2.O que caracteriza a economia das colónias? 
 
Respostas 
 
1.Era tendente para a descentralização administrativa, para 
autonomia financeira 
 
2. A aposta na economia das colónias é em grande medida herdada da 
Monarquia 
 
Grupo 2 (respostas detalhadas) 
1.A ciência é por natureza, altruísta 
 
2. A ciência, como “missão civilizadora” mobiliza o altruísmo individual 
e colectivo como base moral da colonização 
 
Grupo 3 (exercícios de gabarito) 
 
1.Como emerge o instrumento para melhor conhecer, para melhor 
possuir, para melhor explorar? 
2.Quais são as teses apresentadas no II Congresso Colonial? 
 
3.Porque importava conhecer o império pela mão dos cientistas 
portugueses e dá-lo a conhecer aos outros? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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93 
 
 
 
 
 
UNIDADE 6.3.A antropologia na África colonial e pós-colonial 
 
 
Introdução 
 
 
 
A unidade temática se propõe a fazer uma abordagem mais holística 
sobre a perspectiva antropológica na África colonial e pós-colonial. Por 
isso mesmo que ao completar esta unidade, o estudante deverá ser 
capaz de: 
 
▪ Conhecer a perspectiva antropológica na África
 
▪ Descreveras características entre a antropologia na África colonial 
e pós-colonial
 
▪ Identificar as diferenças entre elas
 
 
Desenvolvimento 
Geffray (1991) avança que o contacto com novos espaços e novas 
gentes conduz inevitavelmente a uma re-configuração efectiva (e 
afectiva) da conquista, da posse, do querer colonizar. Os 
conhecimentos produzidos sobre a natureza dos novos espaços, sobre 
os nos povos, numa linha naturalista (por tradição masculina, 
eurocêntrica), permitem estabelecer a posse intelectual e abstracta de 
um saber e da natureza, com traços sugestivos da idealização do 
viajante/ colonizador expressando o seu desejo de posse. Para 
Conceição (2006) o marco divisório através do qual o europeu julga e 
classifica a sociedade nativa é a escravatura. Esta estabelece a divisão 
básica entre o Eu e o Outro, sendo o Outro percebido como brutal e 
inferior. 
 
Nesta lógica, com as ciências coloniais emerge uma nova cultura. A 
colonização enquanto fenómeno cultural, faz a destrinça entre o 
colonizador com conhecimento e o colonizado ignorante. A ciência nas 
colónias é antes de mais, um instrumento de controlo (COSTA, 2013). 
 
 
A antropologia na África pós-colonial 
 
Os caminhos começaram se abrir a partir do momento que o 
nacionalismo criou os movimentos de revolução que conduziram os 
países africanos a independência dos seus países. Essa era a porta que 
precisava para que o processo de autoconhecimento fosse exposto em 
documentos e em ambientes adequados para sua estruturação 
cientifica. 
 
 
 
Objectivos 
específicos 
 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
94 
 
 
 
 
Os estudos sobre o colonialismo e o pós-colonialismo actuais de acordo 
com Costa (2013) prendem-se, em parte, comum a necessidade mais ou 
menos recente de pôr em causa a produção antropológica sobre povos 
e culturasnão ocidentais, que não levem em contacto debate sobre o 
pós-colonialismo. Porque o tempo pós-colonial deu lugar a uma série 
de redefinições dos espaços ex-coloniais, da relação entre globalização 
e localização. A globalização sua utilização vai no sentido de percebê-la 
como uma rápida celebração dos acontecimentos no mundo 
contemporâneo. Em contrapartida, a localização fornece-nos a via para 
pensar a resposta à própria globalização. 
 
A relação entre globalização e localização leva-nos, necessariamente, à 
reflexão sobre outro binómio conceptual como o de poder e resistência, 
particularmente importante para entender como do colonialismo pode 
nascer o nacionalismo. 
 
Para Geffray (1991) conquistada a independência, os novos cidadãos 
reclamam o fim da ideologia europeia, que “instruíram” os não-
europeus, visto que as elites nacionalistas ficaram com os lugares do 
poder outrora ocupados pelo poder colonial. Então, tal como o 
colonialismo tinha sido um sistema, também a resistência começou a 
ser sistemática. Conceição (2006) e Costa (2013) à luz dos estudos pós-
coloniais, o conceito de resistência ganhou novo fôlego. Já não se pensa 
apenas nos processos de resistência visíveis, com vista à obtenção de 
frutos imediatos; tende-se antes a privilegiar processos mais ou menos 
informais de resistência. 
 
 
 
Sumário 
 
Na unidade temática 6.3 foi abordada as questões relacionadas com a 
antropologia na África colonial e pós colonial como forma de Ajudar a 
localizar: 
▪ Os acontecimentos no tempo e no espaço 
▪ E consolidação do conhecimento de antropologia em África 
. 
 
 
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO 
 
Grupo 1( com respostas) 
 
1.Que lição aprendemos da relação entre a globalização e a 
localização? 
2. Porque é importante poder e resistência? 
 
Respostas 
 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
95 
 
1. Leva-nos, necessariamente, à reflexão sobre outro binómio 
conceptual como o de poder e resistência 
 
2. Particularmente importante para entender como do colonialismo 
pode nascer o nacionalismo. 
 
 
Grupo 2 (respostas detalhadas) 
 
1.O tempo pós-colonial deu lugar a uma série de redefinições dos 
espaços ex-coloniais, da relação entre globalização e localização. 
 
2. A localização fornece-nos a via para pensar a resposta à própria 
globalização 
 
Grupo 3 (exercícios de gabarito) 
1.Qual é a relação entre globalização e localização? 
 
2. Comente a afirmação segundo a qual para colonizar importa 
conhecer o espaço e realidade do “Outro” 
3. Quais são as semelhanças e diferenças da antropologia na África 
colonial e pós-colonial? 
 
 
 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
96 
 
 
 
UNIDADE 6.4.A antropologia em Moçambique colonial e pós colonial 
 
 
Introdução 
 
 
Como é sempre o perfil dos textos apresentados na sequência de tema 
e unidades temáticas, é de tal forma que um assunto leva em outro 
assunto. Uma vez discutida a antropologia na África colonial e pós 
colonial duma forma geral, agora é a vez de fazer a mesma abordagem 
para Moçambique. Ao completar esta unidade, o estudante deverá ser 
capaz de: 
 
▪ Caracterizar a antropologia no Moçambique colonial
 
 
▪ Caracterizar a antropologia no Moçambique pós colonial
 
 
Objectivos 
específicos 
 
 
 
Desenvolvimento 
 
Cabral (2005) afirma que os dois períodos colonial e pós-colonial, as 
linhas políticas preferenciais ditaram o percurso e desenvolvimento do 
conhecimento antropológico em Moçambique colonial e pós colonial. 
Somente na actualidade, existe uma fraca tendência de se abrir e se 
apropriar do conhecimento endógeno, procurando lavar a embalagem 
política que sempre definiu o percurso das manifestações sociais. 
 
 
A antropologia no Moçambique colonial 
 
Para Osório e Macuacua (2013) nesse período, a antropologia 
portuguesa ganhou maior impulso do Estado. Ela apresentava-se, no 
conjunto da acção colonial, como «ciência global» do homem africano. 
Encarregou-se da universalização da ideologia colonial no espaço 
português, apresentando, as suas ideias como as mais racionais e 
universalmente válidas e, portanto, como de interesse comunitário de 
todos os membros da sociedade. 
 
Nesta dimensão para Costa (2013) também «fornecia aos missionários 
uma vasta panóplia de preconceitos racistas e etnocentristas e às 
diversas organizações coloniais do governo uma argumentação e 
conhecimentos que lhe facilitavam a sua acção destruidora das 
estruturas sociais e económicas indígenas», prestando relevantes 
serviços ao Estado Novo.
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
97 
 
 
 
Para responder melhor aos objectivos da colonização e sob o impulso do 
próprio Estado Novo, Geffray (1991) foram sendo criadas instituições 
especializadas. Orientado pelos mesmos objectivos, destacava-se o 
«Acordo Missionário», de 7 de Maio de 1940, assinado entre a Santa Fé e 
a República Portuguesa, no qual as missões eram consideradas 
«corporações missionárias» ou «religiosas». 
 
Esta filosofia etnológica fundamentava e alimentava ideologicamente 
todo o discurso político e religioso, tranquilizava as consciências da 
dominação e exploração económicas e, sobretudo, «ocultava» - usando a 
expressão de Mário Moutinho - o carácter etnocida da política colonial 
(CABRAL, 2005). 
 
Por vezes, diz Conceição (2006) o sistema de ensino colonial foi sofrendo 
reformas, mas adequadas às circunstâncias histórico-económicas e à 
conjuntura política internacional. E Redondo (1994) a formação do 
indígena e a criação da figura jurídico-política de «assimilado» impunham-
se como necessidade de força de trabalho qualificada para a maior 
exploração capitalista. 
 
Para Redondo (1994) e Cabral (2005) o sistema de educação colonial 
organizou-se em dois subsistemas de ensino distintos: um «oficial», 
destinado aos filhos dos colonos ou assimilados, e outro «indígena», 
engenhosamente articulado à estrutura do sistema de dominação em 
todos os seus aspectos. 
 
Para Lopes (2011), consolidando a ideia de Redondo (1994) a antropologia 
foi, pelo menos até às independências dos povos africanos colonizados, 
um «discurso do Ocidente (e somente do Ocidente) sobre o outro». A 
ciência antropológica permitia ao pesquisador conhecer o universo 
cultural dos povos colonizados, para apenas recolher dados que 
facilitassem a penetração e exploração coloniais. Reconhecendo embora 
a outra cultura, esta continuou a ser pensada e avaliada a partir da cultura 
europeia. 
 
A negação da cultura ao colonizado constituía uma justificativa ideológica 
para a acção civilizadora junto dos «indígenas», mantendo-os submissos 
à exploração da sua força de trabalho barata (CABRAL, 2005). 
 
 
A antropologia no Moçambique pós-colonial 
 
Nguenha (1998) a Independência, portanto, foi vivida universalmente com um 
enorme sentimento de esperança e o país estava inicialmente em paz. Aliás, 
durante as duas décadas precedentes à Independência, Moçambique tinha 
experimentado um processo acelerado de crescimento económico e 
modernização. Infelizmente, diz Geffray (1991) coadjuvado com Cabral (2005) 
que por um lado, os jovens líderes do movimento militar não estavam 
preparados para tomar em mãos um Estado moderno e, por outro, o êxodo 
da população branca e mulata durante o período de transição, que ninguém 
soube ou quis impedir, retirou os principais recursos humanos ao país. 
 
Dado que o mundo colonial Cabral (2005) diz que foi pensado como um 
mundo dividido em dois, que funcionava segundo uma dialéctica de 
exclusão recíproca das identidades nele simetricamente colocadas, 
 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
98 
 
o mundo pós-colonial define-se pelo desaparecimento dessa dialéctica. 
Ele não está mais dividido em dois, mas mostra-se, antes, em termosde 
diferenças, de misturas, de hibridismo e de ambivalência. 
 
Para Costa (2013), Cabral (2005) e Conceição (2006) no actual contexto o 
“atrelamento” à ocidentalização fez emergir o conceito de “pós-
colonialidade” que, em alguma medida, procura mostrar como é ínfima a 
margem de manobra dos povos saídos recentemente do quadro colonial, 
como é o caso de Moçambique, em direcção a uma modernidade mais 
assente em seus substratos culturais. 
 
Cabral (2005) diz que a fase de “pós-colonialidade” emerge com novos 
problemas mais ou menos insolúveis com os quais se choca um 
anticolonialismo desprovido de suas ilusões – mas que parece ser a única 
via possível - que é tomada como constitutiva de um momento particular 
da história social e intelectual (GEFFRAY, 1991). A expressão parece ser a 
que dá melhor conta da problemática do mundo em desenvolvimento, na 
medida em que a característica principal do período actual é o fracasso de 
todas as “hipóteses felizes”, quer elas venham do interior ou do exterior, 
e o desaparecimento de qualquer outra solução que não seja o 
ocidentalismo. 
 
Ainda de acordo com Geffray (1991) com efeito, chegou-se a pensar que 
a independência política, possibilitaria o controlo das rédeas económicas, 
o que não ocorreu. Foi mais fácil realizar a independência política que a 
independência económica. Por definição, é sabido que, a economia de 
uma sociedade colonizada é essencialmente dependente de economias 
mais avançadas. 
 
 
 
 
Sumário 
 
Nesta unidade temática 6.4 debruçou-se sobre a antropologia em 
Moçambique colonial e pós colonial, dois momentos e dois factos que 
poderão auxiliar na: 
▪ Interpretação dos factos observados em Moçambique
 
 
▪ E no estabelecimento de paralelismo com fora de Moçambique
 
 
 
 
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO 
 
Grupo 1 (com respostas) 
1.O que permitia a ciência Antropologia no Moçambique colonial? 
 
2.Como estava organizado o sistema de educação no Moçambique 
colonial? 
 
Respostas 
 
1.A ciência antropológica permitia ao pesquisador conhecer o 
universo cultural dos povos colonizados 
 
2. O sistema de educação colonial organizou-se em dois subsistemas de 
ensino distintos: um «oficial», destinado aos filhos dos colonos ou 
assimilados, e outro «indígena». 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
99 
 
 
Grupo 2 (respostas detalhadas) 
 
1.O mundo pós-colonial define-se pelo desaparecimento dessa 
dialéctica 
 
2.Durante as duas décadas precedentes à Independência, Moçambique 
tinha experimentado um processo acelerado de crescimento 
económico e modernização 
 
3. A negação da cultura ao colonizado constituía uma justificativa 
ideológica para a acção civilizadora 
 
Grupo 3 (exercícios de gabarito) 
 
1.Estabeleça as diferenças entre a antropologia no Moçambique 
colonial e pós colonial 
 
2. Estabeleça as diferenças do sistema de educação entre o sistema de 
educação colonial e pós colonial 
3.O que preconizava o “Acordo Missionário” de 7 de Maio de 1940? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
100 
 
 
 
UNIDADE 6.5. Dinâmica aculturacional e permanência de modelos societais endógenos 
 
 
Introdução 
 
Esta unidade temática propõe estudar as dinâmicas aculturacionais e a 
permanência de modelos societais endógenos. A ideia ’e perceber 
como são dadas as dinâmicas sociais em contextos de modelos 
endógenos. Por isso que ao completar esta unidade, o estudante 
deverá ser capaz de: 
 
▪ Perceber a mudança de paradigmas culturais
 
 
▪ Interpretar as tendências aculturacionais na sociedade onde vive 
 
Objectivos 
Específicos Desenvolvimento 
 
Conforme estudado no capítulo anterior, em todas as sociedades humana 
percebemos a existência de diversos hábitos, costumes, linguagem, 
estilos de vida. Essa multiplicidade de formas de ver, sentir e se inserir no 
mundo denomina-se diversidade cultural. 
 
Como consequência das grandes transformações verificadas com a 
expansão do processo de globalização nas últimas décadas, o mundo 
tornou-se, cada vez mais, marcado pela diversidade cultural e a 
convivência de diferentes formas de agir, de padrões culturais, de estilos 
de vida. 
 
Esse processo, de acordo com Costa (2013) definido por Anthony Giddens 
com a intensificação de relações sociais mundiais que unem localidades 
distantes de tal modo que os acontecimentos locais são condicionados 
por eventos que acontecem a muitas milhas de distância e vice-versa, 
colocou em contacto, principalmente através das tecnologias de mídia, 
povos e culturas distintas. 
 
Conceição (2006) diz que contudo, devemos notar que esse processo foi 
liderado pelos Estados Unidos da América, que impôs seu modelo de vida 
como o padrão a ser seguido pelos outros países, provocando 
movimentos contestatórios a esse domínio, denominados movimentos 
antiglobalização. Demartis (2002) afirma que esses movimentos que 
buscam não apenas combaterem o domínio económico e cultural norte-
americano, mas também propor novas formas de organização do mundo, 
com base na valorização das diferenças étnicas e culturais entre os povos 
do planeta. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
101 
 
Multiculturalismo 
 
Segundo Wiviorka (1999) é no quadro acima descrito que se impõe a ideia 
de multiculturalismo, que preconiza a interacção entre as diferentes 
culturas, sem hierarquização de saberes e modos de vida. Desta forma, o 
multiculturalismo pressupõe uma visão positiva da diversidade cultural, 
privilegiando o reconhecimento, valorização e incorporação de 
identidades múltiplas nas formulações de políticas públicas e nas práticas 
quotidianas. 
 
A despeito dos desafios impostos pelo mundo globalizado, é preciso que 
reconheçamos a necessidade do convívio em uma sociedade cuja 
realidade é multicultural. Para tanto, devemos, mais do que respeitar, 
valorizar as diferenças próprias de cada indivíduo. Para Wiviorka (1999). 
"O movimento antiglobalização apresenta-se, na virada deste novo 
milénio, como uma das principais novidades na arena política e no cenário 
da sociedade civil, dada a sua forma de articulação/actuação em redes 
com extensão global. Ele tem elaborado uma nova gramática no 
repertório das demandas e dos conflitos sociais, trazendo novamente as 
lutas sociais para o palco da cena pública, e a política para a dimensão, 
tanto na forma de operar, nas ruas, como no conteúdo do debate que 
trouxe à tona: o modo de vida capitalista ocidental moderno e seus efeitos 
destrutivos sobre a natureza (humana, animal e vegetal)" 
 
Costa (2013) diz que "É fato social toda maneira de agir, fixa ou não, 
susceptível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior; ou então 
ainda, que é geral na extensão de uma sociedade dada, apresentando 
uma existência própria, independente das manifestações individuais que 
possa ter." 
 
A segunda teoria é a idealista, que se subdivide em três, sendo elas: 
 
- Sistema cognitivo: Desenvolvido por W. Googdenough, que acreditava 
que cultura era um sistema de conhecimento. Keesing comenta que se 
cultura for assim concebida fica no mesmo patamar da linguagem. O 
sistema cognitivo aprimora os métodos linguísticos. 
 
- Sistemas estruturais: Desenvolvido por Claude Lévi-Strauss, a cultura é 
um sistema simbólico, ou seja, uma criação cumulativa da mente humana. 
Ele tenta descobrir na estruturação dos domínios culturais como: mito, 
arte, linguagem, etc. os paralelismos culturais são por ele explicados pelo 
fato de que o homem está submetido as regras. 
 
 
 
- Sistemas simbólicos: Desenvolvida nos Estados Unidos principalmente 
por dois antropólogos: Clifford Geertz e David Schneider. Geertz define 
homem baseado na definição de cultura, ou seja, para ele a cultura dever 
ser considerada um conjuntode mecanismos de controle, planejar, 
regras, receitas, etc., para se poder governar. Ele afirma que "um dos mais 
significativos fatos sobre nós pode ser finalmente a constatação de que 
todos nós nascemos com um equipamento para viver mil vidas, mas 
terminamos no fim tendo vivido uma só!", ou seja, podemos nos adaptar 
a qualquer ambiente, basta procurarmos respeitar as regras de 
convivência desse lugar. Estudar cultura é em síntese estudar um sistema 
de símbolos. 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
102 
 
 
O conceito de cultura é essencialmente semiótico, que vem de encontro 
com o pensamento de Max Weber "que o homem é um animal amarrado 
a teias de significados que ele mesmo teceu". Geertz (2007) concebe a 
cultura como uma "teia de significados" que o homem tece ao seu redor 
e que o amarra. Busca-se apreender os seus significados (sua densidade 
simbólica). 
 
Para Costa(2013) apontando Schneider cultura também é um sistema de 
símbolos e significados, porém a cultura não depende da observação, mas 
do status epistemológico das unidades, mesmos fantasmas e pessoas 
mortas podem influenciar na cultura. Ex: nós brasileiros todo dia dois de 
novembro vamos ao cemitério para “celebrar” o ‘Dia de finados’, já os 
americanos celebram o ‘Dia de todos os santos’, ou como é mais 
conhecido ‘Halloween’. 
 
Anomia 
 
Caracteriza-se pela ausência ou desintegração das normas sociais. O estado de 
anomia gera conflitos e desordens. Seu aparecimento ocorreria quando diversas 
funções sociais se tornassem muito ténues ou intermitentes. 
 
Para Conceição (2006) como as sociedades mais complexas são baseadas 
na diferenciação, é necessário que as tarefas individuais correspondam a 
seus desejos e aptidões; como isso nem sempre acontece, os valores ficam 
enfraquecidos e a sociedade é ameaçada pela desintegração resultante 
da divisão social do trabalho, é solucionada com formas cooperativistas 
de produção económicas, com grupos profissionais, associações de 
grupos que socializam o individuo e despertam valores comunitários e 
disciplina moral) 
 
As forças litigantes se desenvolvem sem limites e acabam se chocando 
umas contra as outras para se recalcarem e se reduzirem mutuamente. 
 
As paixões humanas só cessam diante de uma potência moral que 
respeitem (COSTA, 2013). Não são sancionadas senão pela opinião, não 
pela lei, e sabe-se quanto a opinião se mostra indulgente com a maneira 
pela qual essas vagas obrigações são realizadas. Os actos mais censuráveis 
são frequentemente absolvidos pelo sucesso, que o limite entre o que é 
proibido e o que é permitido, o que é justo e o que não é, não tem mais 
nada fixo. 
 
 
 
Sumário 
 
Nesta unidade temática 6.5. debruçou-se sobre as questões 
relacionadas com Dinâmica aculturacional e permanência de modelos 
societais endógenos para; 
 
▪ Obtenção do conhecimento mais amplo sobre o ser humanos e seus 
sistemas sociais
 
▪ Aplicação na vida real
 
 
 
 
 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
103 
 
 
 
 
 
 
 
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO 
 
Grupo 1 (com respostas) 
1.Como são tratados os actos mais censuráveis? 
 
2. O que é Anomia? 
 
3.O que é um fato social? 
 
 
Respostas 
1. São frequentemente absolvidos pelo sucesso 
2.Caracteriza-se pela ausência ou desintegração das normas sociais 
 
3. É fato social toda maneira de agir, fixa ou não, susceptível de exercer 
sobre o indivíduo uma coerção exterior 
Grupo 2( respostas detalhadas) 
1.Cultura também é um sistema de símbolos e significados, 
 
2.A cultura não depende da observação, mas do status epistemológico 
das unidades, mesmos fantasmas e pessoas mortas podem influenciar na 
cultura 
 
3. O movimento antiglobalização apresenta-se, na virada deste novo 
milénio, como uma das principais novidades na arena política e no cenário 
da sociedade civil, dada a sua forma de articulação/actuação em redes 
com extensão global 
 
Grupo 3 (exercícios de gabarito) 
 
1.Debruce-se sobre o limite entre o que é proibido e o que é permitido? 
2. Debruce-se também sobre o limite entre o que e justo e o que não 
é? 
3. O que são sistemas simbólicos? 
4. O que são sistemas cognitivos? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
104 
 
 
 
 
 
 
TEMA 7:CULTURA E EDUCAÇÃO EM MOÇAMBIQUE 
 
UNIDADE 7.1. Saberes e Contextos contemporâneos de Aprendizagem 
em Moçambique 
 
UNIDADE 7.2. O paradigma da diversidade cultural em Moçambique 
UNIDADE 7.3. Os discursos da identidade nacional moçambicana: da 
ideologia á prática 
 
UNIDADE 7.4. A construção do outro e a etnicização/tribalização em 
Moçambique 
 
 
UNIDADE7.1.Saberes e Contextos contemporâneos de Aprendizagem em Moçambique 
 
 
Introdução 
 
 
 
Nesta unidade temática vai debruçar sobre aspectos relacionados 
com saberes e contextos contemporâneos de aprendizagem em 
Moçambique. Trata-se de um assunto de interesse particular por 
constituir uma via para autoconhecimento nacionalista. Daí que ao 
completar esta unidade, o estudante deverá ser capaz de: 
 
▪ Identificar saberes contemporâneos de aprendizagem
 
 
▪ Fazer análise crítica da construção da identidade 
 
Objectivos 
específicos 
 
Desenvolvimento 
 
Nos últimos anos tem-se constatado em Moçambique a existência de 
um desfasamento entre o sector produtivo e o sector educativo que se 
traduz na falta de enquadramento de muitos graduados no mercado de 
emprego. Daí a necessidade de reformas generalizadas do ensino 
técnico, disciplinas profissionalizantes, educação bilingue, educação 
inclusiva, Alfabetização e Educação de Adultos, etc. 
 
Verifica-se igualmente em Moçambique que o saber fazer não é 
devidamente enquadrada nos mais variados contextos do país devido 
ao não reconhecimento das aprendizagens adquiridas. Além disso, no 
subsistema de educação técnico-profissional vigente no país os 
certificados atribuídos aos graduados não indicam exactamente as 
competências (saber fazer) destes novos profissionais. São estes 
ingredientes que se afiguram necessários na configuração do Quadro 
Nacional de Qualificações. Aliás, a reforma da educação profissional 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
105 
 
encetada em 2006 prevê a participação activa dos empregadores na 
formulação dos curricula através da indicação exacta do que os 
candidatos devem saber fazer, ou seja, como devem estar qualificados, 
no final da sua formação. Grosso modo, embora o processo de reforma 
enfatize o ensino técnico-profissional o mesmo pode ser enquadrado 
nas mudanças globais vigentes com vista a elevar a qualidade de ensino 
em todos os subsistemas começando pelo nível primário até ao nível 
superior. 
 
No ensino primário, por exemplo, a introdução da provinha pode 
entender-se como um elemento crucial no reconhecimento das 
qualificações em termos de conhecimentos, habilidades e 
competências adquiridas. Apesar de todo este esforço, o 
reconhecimento das aprendizagens adquiridas na educação informal e 
não formal ainda não iniciado. No âmbito do Plano Estratégico de 
Educação 2012-2016, um dos pilares é o reforço da capacidade 
institucional que assegure uma gestão eficiente e eficaz da acção 
educativa, que passa necessariamente pela concepção de padrões de 
qualidade, com o desiderato de preparar os alunos para a vida laboral 
através: i) do aumento dos graduados do ensino secundário geral com 
competências gerais e profissionalizantes; ii) da expansão de Ensino 
Técnico-Profissional, baseado em competências necessárias e 
requeridas pelo mercado de trabalho e com enfoque nos sectores 
prioritários e indústrias emergentes; e iii) da criação de oportunidades 
de formação e capacitação profissionais de curta duração, respondendo 
de forma célere e específicaàs necessidades de mão-de-obra 
qualificada. 
 
O que é um processo de RVCC profissional e a quem se destina? O 
Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências Profissionais, 
nas suas vertentes profissional e ou dual tem em vista a melhoria dos 
níveis de certificação dos adultos com 18 ou mais anos de idade que não 
possuem certificação na sua área profissional, numa perspectiva de 
aprendizagem ao longo da vida. Sempre que o adulto não possua o 
correspondente nível de escolaridade, deverá desenvolver um processo 
dual (profissional e escolar): 
 
O Reconhecimento, Validação e Certificação de Saberes e de 
Competências bem como a educação e formação de adultos 
desempenham um papel essencial e específico, dado que, por um lado, 
proporcionam, a homens e mulheres, os meios que lhes permitem 
responder, de modo construtivo, a um mundo em constante mudança e, 
por outro, facultam processos que reconhecem os direitos e as 
responsabilidades dos adultos e das comunidades. 
 
A necessidade de construir uma resposta assente em princípios estritos 
de rigor técnico, a par da exigência do manuseamento de um processo tão 
complexo, como o que estamos em presença, determina o 
desenvolvimento de uma intervenção cuidada, e que possibilite aos 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
106 
 
adultos uma visão clara do que se pretende, garantindo que a validação 
de competências não seja um processo administrativo e que caia em 
facilitismos contraproducentes. 
 
Os Sistemas Educativos e de Formação actuais devem garantir a cada 
indivíduo as competências básicas para a sociedade do conhecimento, e 
em consequência dos diversos modos de aprender, as pessoas adquirem 
competências, que constituem o seu património pessoal. 
 
Actualmente reconhece-se que os indivíduos não devem ser analisados 
unicamente sob o ponto de vista das qualificações que possuem. A aprendizagem 
formal adquirida pelo indivíduo ao longo do seu percurso educativo, 
começa a ser perspectivada como uma parte de um todo, isto é, uma das 
partes do todo que constitui a aprendizagem ao longo da vida 
concretizada pelo sujeito. 
 
Consequentemente, torna-se necessário identificar e reconhecer estas 
competências para que possam ser valoradas, quer do ponto de vista 
profissional, quer do ponto de vista pessoal e social. 
 
A grande novidade trazida por este processo prende-se com a valoração 
das aprendizagens informais e não formais dos adultos, maiores de 18 
anos. Pretende-se demonstrar que embora formalmente os adultos não 
possuam certificação escolar, as aprendizagens decorrentes das suas 
experiências pessoais, sociais e profissionais permitam que estes 
adquiram competências, transferíveis para diferentes situações e 
contextos equivalentes a um percurso escolar. 
 
Esta valoração das aprendizagens operacionaliza-se sob a forma de 
reconhecimento das competências do indivíduo, tendo como base 
metodologias e instrumentos específicos as Histórias de Vida, o Balanço 
de Competências, o Referencial de Competências-Chave e a Carteira 
Pessoal de Competências, que permitirão, à posteriori uma validação e 
certificação formais dessas competências do indivíduo. 
 
Assim, a aprendizagem ao longo da vida não pode ser entendida como 
educação de adultos apenas. Cobre o leque de aprendizagens formais, 
não formais e informais e tem por objectivos a cidadania activa, o 
desenvolvimento individual, a inclusão social e os aspectos ligados com o 
emprego. Com este propósito o governo de Moçambique através do 
Ministério de Educação cria os Centros de RVCC. 
 
 
 
Sumário 
 
Nesta unidade temática 7.1 debruçou-se sobre as questões ligadas com 
Saberes e Contextos contemporâneos de Aprendizagem em Moçambique, 
como forma de poder auxiliar na: 
▪ Obtenção de conhecimento moçambicano e
 
 
▪ Criação de plataformas de comparação com outras realidades
 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
107 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO 
 
Grupo 1 (com respostas) 
 
1.Como se operacionaliza a valorização das aprendizagens do indivíduo? 
2.O que é RVCC? 
 
Respostas 
 
1.Operacionaliza-se sob a forma de reconhecimento das competências 
do indivíduo 
 
2. Reconhecimento, Validação e Certificação de Saberes e de 
Competências 
 
Grupo 2 (respostas detalhadas) 
 
1.A aprendizagem ao longo da vida não pode ser entendida como 
educação de adultos apenas 
 
2.Actualmente reconhece-se que os indivíduos não devem ser analisados 
unicamente sob o ponto de vista das qualificações que possuem 
 
Grupo 3 (exercícios de gabarito) 
 
1.Qual é a grande novidade trazida pelo processo de reformas de ensino 
em Moçambique? 
2.Qual é a diferença entre a educação formal e não formal? 
 
3. Qual é a diferença entre a educação não formal da educação 
informal? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
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UNIDADE 7.2.O paradigma da diversidade cultural em Moçambique 
 
 
Introdução 
 
 
 
Na presente unidade temática pretende-se debruçar sobre o paradigma 
da diversidade cultural em Moçambique, como forma de poder 
contribuir no acervo infinito de conhecimentos moçambicanos sobre 
esta temática. Sendo assim, ao completar esta unidade, o estudante 
deverá ser capaz de: 
 
▪ Definir o que é diversidade cultural
 
 
▪ Conhecer os diferentes paradigmas para a realidade moçambicana
 
 
Objectivos 
específicos 
 
 
Desenvolvimento 
 
Para Medeiros (2006) durante a dominação colonial em Moçambique, 
a cultura assumiu a dimensão essencial para permitir a sua 
sobrevivência. Mas além de um acto de sobrevivência, foi um fenómeno 
de afirmação da dignidade do escravo, do colonizado, cuja história lhe 
era negada pelo sistema colonial. Na luta de libertação nacional, nas 
zonas libertadas do colonialismo, a partir de um novo tipo de relações 
sociais de trabalho, se começaram a construir as bases de 
moçambicanidade, dando assim à luta de libertação uma dimensão 
cultural. 
 
Ainda de acordo com Medeiros (2006) e coadjuvado com ideia de Lopes 
(2011) as zonas libertadas deixavam de ser um espaço restrito a um 
grupo, a uma categoria social, a uma comunidade linhageira ou aldeã, 
para tornar-se espaço nacional mais aberto, não sem contradições, 
caminhando para relações sociais trans-étnicas e intra-raciais. Neste 
novo espaço começavam a cruzar-se todos os agrupamentos e camadas 
sociais para a construção de uma real identidade cultural. Sob o ponto 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
109 
 
de vista cultural, a luta de libertação tornava as zonas libertadas, ao 
mesmo tempo, um espaço de destruição da maneira de viver colonial e 
da mentalidade aldeã, em si fechada a afinidades étnicas e regionais, e 
espaço de construção de uma nova mentalidade. 
 
 
 
Para Cabaço (2007) esse efeito, o Partido afirmava que iria criar as 
condições para que se realizassem diversas acções, entre as quais se 
podiam salientar as de estudo e preservação de todos os elementos do 
património histórico e cultural do povo moçambicano (monumentos, 
museus, tradição oral e estudo sociedade tradicional. Afirmou-se ainda 
que o Partido atribuía uma grande importância à constante troca de 
experiências no domínio da cultura, quer no plano nacional, quer no 
internacional. 
 
Osório e Macuacua (2013) afirmam que é fato, é que a problemática da 
diversidade cultural em Moçambique continua envolta num manto no 
qual se abrigam, e ao mesmo tempo se subestimam, estas duas posições. 
A cultura e as identidades individuais ou colectivas continuam a 
representar- depois da independência, como no período de ocupação 
colonial – o derradeiro refúgio, o locus onde,alimentando-se das 
“condições desconstrutivas que ameaçam desintegrá-las”, mulheres e 
homens buscam novas formas de harmonia com o espaço e o tempo de 
que se vão descobrindo interlocutores, estabelecendo outras redes de 
solidariedade, apropriando-se de experiências diferentes, reinventando 
tradições, reorganizando, por meios simbólicos, a própria acção. 
 
 
Quando se presta atenção às origens étnicas, códigos linguísticos, às 
referências confessionais, às correntes políticas, aos estilos de vida...uma 
rica diversidade cultural se manifesta em Moçambique (MEDEIROS, 2006). 
A abertura ao outro, mas também o respeito daquilo que para nós é 
diferente são duas atitudes essenciais para viver esta confrontação 
cultural. Concordando com a ideia de Medeiros, Lopes (2011) e Osório & 
Macuacua (2013) são unânimes ao afirmarem que esta diversidade não 
pode, entretanto, ser mosaica, simples justaposição de grupos que 
caracterizam comportamentos sociais particulares. Quer rejeitemos ou 
aceitemos a diferença, quer pretendamos incorporá-la à cultura 
hegemónica, quer defendamos a preservação de seus aspectos originais, 
quer procuremos desafiar as relações de poder que a organizam, não 
podemos, na verdade, negá-la. Se as fronteiras não são naturais, elas 
tornam-se aquilo que os homens fazem delas. 
 
Importa ainda frisar que o multiculturalismo é, antes de tudo, um projecto 
político e é o que lhe proporciona a ocupação de um lugar central e 
controverso nas “políticas identitárias” e nas “guerras culturais”. 
 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
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Cabaço 82007) e Junod (1996) possuem afirmações que indicam que o 
multiculturalismo, em tanto que movimento geral, espera talvez poder 
utilizar a cultura como meio de resistência, numa luta que parte da base 
contra as estruturas dominantes em expansão. As concepções de 
fronteira cultura/cultura tornam-se então um instrumento de exclusão e 
de demonização, um sucedâneo do racismo, ou no melhor dos casos, um 
jargão administrativo desajeitado que os aparelhos de Estado utilizam 
para definir as populações minoritárias, alvos que devem ser objecto de 
medidas especiais. De acordo com Cabaço (2007) mesmo quando, neste 
último caso, as intenções são boas, as consequências nem sempre são 
plenamente vantajosas para aqueles que são etiquetados como 
“diferentes”. Na Europa ocidental, como Stolcke (1993) chamou a 
atenção, o discurso cultural vai doravante frequentemente a par com um 
“fundamentalismo cultural”, hostil aos 
 
imigrados e tornando natural a xenofobia, considerada como uma 
característica humana. 
 
Osório e Macuacua (2013) afirmam que no conjunto das identificações 
que constituem o ser social na actualidade, o conflito inevitável entre o 
global e o local parece reafirmar a via de identificação nacional baseada 
na concepção de que o diferente é igual, embora não idêntico. A 
emergência reivindicatória das minorias – sexuais, étnicas, religiosas – 
torna visível tal concepção no âmbito do cotidiano, dando ao aludido 
plebiscito diário uma complexidade antes insuspeitada. Se a fronteira é o 
que diferencia uma nação do que está fora dela – o território do Outro, o 
discurso minoritário assinala a existência de fronteiras internas, que 
demarcam o espaço heterogéneo da identidade a ser compartilhada. 
 
Medeiros (2006) e Lopes (2011) comungam a ideia de que a identificação 
resulta, pois, num movimento dual de estreitamento e 
 
alargamento de fronteiras culturais, tendo em vista os “territórios” a 
 
serem cedidos ou conquistados nos interstícios das diferenças sociais e 
das lutas políticas. Nesse sentido, a integração nacional passa a depender 
mais da agonística dos valores em jogo na cena social do que das 
estratégias postas em funcionamento pelo aparato ideológico do Estado. 
 
 
 
Sumário 
 
Nesta unidade temática 7.2. apresentou-se paradigma da diversidade 
cultural em Moçambique, como forma de buscar a história e fazer a 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
111 
 
interface com os factos actuais. Neste sentido, a percepção do 
percurso histórico permitiu o: 
 
▪ O processo de organização de conhecimentos sobre os 
diferentes paradigmas e
 
▪ Proporcionou uma análise crítica sobre o mesmo
 
 
 
 
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO 
 
 
Grupo 1 (com respostas) 
 
1.Qual foi o papel da cultura durante a ocupação colonial em 
Moçambique? 
 
2. Quais foram as transformações ocorridas em termos de cultura após o 
colonialismo? 
 
Respostas 
 
1.Durante a dominação colonial em Moçambique, a cultura assumiu a 
dimensão essencial para permitir a sua sobrevivência 
 
2. Novas formas de harmonia com o espaço e o tempo de que se vão 
descobrindo interlocutores, estabelecendo outras redes de solidariedade, 
apropriando-se de experiências diferentes, reinventando tradições, 
reorganizando, por meios simbólicos, a própria acção. 
 
Grupo 2 (respostas detalhadas) 
 
1.A emergência reivindicatória das minorias – sexuais, étnicas, religiosas 
– torna visível tal concepção no âmbito do cotidiano, dando ao aludido 
plebiscito diário uma complexidade antes insuspeitada 
 
2.Se a fronteira é o que diferencia uma nação do que está fora dela – o 
território do Outro, o discurso minoritário assinala a existência de 
fronteiras internas, que demarcam o espaço heterogéneo da identidade a 
ser compartilhada 
 
Grupo 3 (exercícios de gabarito) 
1.O que é fundamentalismo cultural? 
 
2. Quais são os elementos do património histórico e cultural do povo 
moçambicano? 
 
3. O que são zonas libertadas? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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112 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UNIDADE 7.3.Os discursos da identidade nacional moçambicana: da ideologia á prática 
 
 
Introdução 
 
 
 
Nesta unidade temática pretende-se discutir questões ligadas aos 
discursos da identidade nacional moçambicana ligando a ideologia á 
prática. Este assunto propõe que se apresente os factos de forma clara 
academicamente e proporcione a compressão cientifica que se pretende. 
Daí que ao completar esta unidade, o estudante deverá ser capaz de: 
 
▪ Conhecer as motivações do discurso nacionalista
 
 
▪ Fazer enquadramento científico no tempo e espaço
 
 
Objectivos 
específicos 
Desenvolvimento 
 
Paredes (2014) afirma sobre discursos nacionalistas, há que realçar 
elementos como sensos, danças culturais, jogos escolares, -unidade 
nacional, figuras “desprezadas” como régulos e agora readmitidos com 
nova roupagem ou rótulo para assegurar o alcance e garantia de 
manutenção de objectivos igualmente nacionais. 
 
Em seu Discurso na tomada de posse como Presidente da República 
Popular de Moçambique, de acordo com Paredes (2014) o Presidente 
da FRELIMO Samora Moisés Machel afirmava que a luta de libertação 
nacional de Moçambique teria sido contra o carácter imperialista do 
colonialismo português. De maneira clara e contundente, afirmava que 
“ o racismo, o regionalismo e o tribalismo como inimigos que deveriam 
ser combatidos ao mesmo título que o colonialismo”. 
 
Este posicionamento de Samora Machel marca a singularidade das 
decisões tomadas em Moçambique no que tange ao relacionamento 
entre identidades étnicas pré-coloniais, migrações e valores coloniais e 
o projecto de construção da identidade moderna moçambicana. 
 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
113 
 
Vale dizer que, em cada etapa, naturalmente, foram re-significados os 
termos nos quais a própria construção identitária foi pensada ou 
proposta, independentemente da escala referida: regional, étnica ou 
nacional. 
 
 
 
 
 
O que é natural, visto serem as condições contextuais e o ideário 
mobilizado. É muito difícil, a não ser por90 
Sumário ............................................................................................................................................... 91 
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO .................................................................................................. 92 
UNIDADE 6.3.A antropologia na África colonial e pós-colonial ...................................................... 93 
Introdução............................................................................................................................................ 93 
Sumário ............................................................................................................................................... 94 
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO .................................................................................................. 94 
UNIDADE 6.4.A antropologia em Moçambique colonial e pós colonial ........................................... 96 
Introdução............................................................................................................................................ 96 
Sumário ............................................................................................................................................... 98 
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO .................................................................................................. 98 
UNIDADE 6.5. Dinâmica aculturacional e permanência de modelos societais endógenos ............. 100 
Introdução.......................................................................................................................................... 100 
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ................................................................................................ 103 
TEMA 7:CULTURA E EDUCAÇÃO EM MOÇAMBIQUE .......................................................... 104 
UNIDADE7.1.Saberes e Contextos contemporâneos de Aprendizagem em Moçambique .............. 104 
Introdução.......................................................................................................................................... 104 
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ................................................................................................ 107 
UNIDADE 7.2.O paradigma da diversidade cultural em Moçambique ............................................ 108 
Introdução.......................................................................................................................................... 108 
Sumário ............................................................................................................................................. 110 
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ................................................................................................ 111 
UNIDADE 7.3.Os discursos da identidade nacional moçambicana: da ideologia á prática ............. 112 
Introdução.......................................................................................................................................... 112 
Sumário ............................................................................................................................................. 113 
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ................................................................................................ 113 
UNIDADE 7.4.A construção do Outro e a ........................................................................................ 114 
etnicização/tribalização em Moçambique ......................................................................................... 114 
Introdução.......................................................................................................................................... 114 
Sumário ............................................................................................................................................. 115 
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ................................................................................................ 115 
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8 
 
TEMA 8: PARENTESCO, FAMILIA E CASAMENTO EM MOÇAMBIUE ................................ 116 
UNIDADE 8.1.Introdução ao estudo das relações de parentesco ..................................................... 116 
Introdução.......................................................................................................................................... 116 
Sumário ............................................................................................................................................. 119 
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ................................................................................................ 119 
UNIDADE 8.2.Nomenclatura, Simbologia e Características do parentesco (filiação, aliança e 
residência) ......................................................................................................................................... 120 
Introdução.......................................................................................................................................... 120 
Sumário ............................................................................................................................................. 123 
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ................................................................................................ 124 
TEMA 9:FAMILIA EM CONTEXTO DE MUDANÇA EM MOÇAMBIQUE .............................. 125 
UNIDADE 9.1. Origem e evolução histórica do conceito de família ............................................... 125 
Introdução.......................................................................................................................................... 125 
Sumario ............................................................................................................................................. 127 
UNIDADE 9.2. Família como fenómeno cultural............................................................................. 128 
Introdução.......................................................................................................................................... 128 
UNIDADE 10.4. A emergência de sincretismos religiosos e de igrejas messiânicas em Moçambique
 ........................................................................................................................................................... 148 
Sumário ............................................................................................................................................. 150 
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ................................................................................................ 150 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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9 
 
 
 
 
Visão geral 
 
 
Bem-vindo à Disciplina/Módulo de 
Antropologia Cultural de Moçambique 
 
Objectivos do Módulo 
 
Ao terminar o estudo do módulo de Antropologia Cultural de 
Moçambique, deverá ser capaz de: identificar e interpretar 
diferentes manifestações do ser humano e fenómenos emanados da 
acção da sociedade imbuída no seu meio endógeno e também os 
sinais emitidos pelo meio exógeno. Identificar as trajectórias do 
pensamento antropológico desde a emergência da disciplina à 
actualidade; Conhecer o saber e o fazer antropológicos actuais; 
Familiarizar-se com as abordagens da noção de cultura do clássico 
ao pós-moderno; Reconhecer as linhas de homogeneidades e 
heterogeneidades do território etnográfico nacional; Apresentar 
algumas das novas questões e paradigmas da antropologia, com 
reflexos em Moçambique. 
 
 
 
 
 
▪ Conhecer a históriaarroubos românticos e/ou 
historicistas, estabelecer indelevelmente um fio condutor único ligando 
gerações, ideias, projectos políticos e contextos distintos (PAREDES, 
2014) 
 
 
 
Sumário 
 
Nesta unidade temática 7.3 apresentou-se as linhas críticas sobre o 
discurso da identidade nacional como forma de contribuir no 
debate sobre a construção do nacionalismo. Assim o 
desenvolvimento permitiu um: 
▪ Aprofundamento crítico do processo
 
 
▪ Endossamento sobre a mudança de paradigma
 
 
 
 
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO 
 
Grupo 1 (com respostas) 
1.O que foi feito a cada etapa deste processo? 
 
2.Qual foi a escala ou dimensão cultural definida durante o período em 
questão? 
 
Respostas 
 
1.Foram re-significados os termos nos quais a própria construção 
identitária foi pensada ou proposta. 
2.A escala referida: regional, étnica ou nacional 
 
Grupo 2 (respostas detalhadas) 
 
1.Samora Moisés Machel afirmava que a luta de libertação nacional de 
Moçambique teria sido contra o carácter imperialista do colonialismo 
português. 
 
2.Sobre o racismo afirmava de maneira clara e contundente, que “ o 
racismo, o regionalismo e o tribalismo como inimigos que deveriam ser 
combatidos ao mesmo título que o colonialismo 
 
Grupo 3 (exercícios de gabarito) 
1.Quem foi Samora Machel? 
 
2. Quais papéis foram desempenhados durante o processo de 
construção da identidade nacional? 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
114 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UNIDADE 7.4.A construção do Outro e a 
 
etnicização/tribalização em Moçambique 
 
 
Introdução 
 
 
 
Nesta unidade temática propõe-se a debateras questões ligadas a 
construção do Outro e a etnicização/tribalização em Moçambique. 
Mais uma vez e a semelhança da unidade anterior, ao completar 
esta unidade, o estudante deverá ser capaz de: 
 
 
 
 ▪ Perceber os contornos da construção do Outro 
 
Objectivos ▪ Perceber as questões envolvidas com etnia ou tribo para o caso 
 
específicos 
Moçambicano 
 
 
 
 
 
Desenvolvimento 
 
De acordo cm Toledo (2008) a ideia de região resulta do ato de autoridade 
política, consistindo em circunscrever um território, definindo-lhe as 
fronteiras. Portanto o espaço resultante não é natural. É resultante de 
uma imposição, de uma convenção no âmbito do poder que lhe deu 
origem e o confirmou por actos jurídicos. 
 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
115 
 
Assim, o espaço se apresenta como um lugar não natural, produto de uma 
construção social a partir de práticas de representação, nem sempre 
coerentes, muitas vezes até contraditórias, que se confrontam nas 
experiências vivenciadas ao longo do processo histórico. Este modelo do 
“regional” acabou gerando preconceitos, transformando-o em unidades 
fechadas e isoladas das demais comunidades, circunscritas por fronteiras, 
reduzidas a uma unidade simples, apreendida de forma unidimensional, 
tendendo para uma homogeneização, segundo os preceitos dos modelos 
externos. De acordo com Toledo (2008) a sua representação social era 
determinada pela relação tempo-espaço. O tempo percebido como a 
expressão de uma divisão mecânica, à semelhança de um universo regido 
por leis, orientado de forma linear. Um lugar visto como a 
complementaridade da evolução da humanidade, ou como queria os 
sociólogos, visto como um espaço social bem delimitado, constituído por 
um conjunto de relacionamentos sociais estreitos, marcado pela 
influência da família, da comunidade, na dimensão do tempo marcada 
pela continuidade de residência num mesmo local / habitat. 
 
 
 
A partir deste enfoque, a questão do regional pressupunha uma dada 
continuidade cultural, uma identidade social homogénea, integrada e, 
portanto, estável. Em outras palavras, uma comunidade distinta, um lugar 
social peculiar, onde os relacionamentos e as regras de convivência 
fossem simples e directas, capazes de instituir e sedimentar uma união 
duradoura e autêntica. A visão era de uma comunidade específica, 
integrada, relativamente isolada, baseada em relacionamentos estáveis 
que eram alimentados por laços afectivos e emocionais estreitos, 
pressupondo uma continuidade temporal. 
 
intuito de manter o poder sobre os colonizados, pois previam que para 
manter o controlo tinham que usar a força. 
 
 
Sumário 
 
Nesta unidade temática 7.4 foi discutido aspectos relacionados com a 
construção do Outro e a etnicização/tribalização em Moçambique. Como 
a semelhança das outras unidades anteriores, pretendeu-se ajudar na 
▪ Obtenção dos conhecimentos sobre a temática e no
 
 
▪ Estabelecimento de pontes de análise crítica comparativa
 
 
 
 
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO 
 
 
Grupo 1 (com respostas) 
1.Como foi orquestrado o espirito discriminatório em África no geral? 
 
2.Como os dominados buscavam ou ascendia a categoria de assimilação? 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
116 
 
 
Respostas 
 
1.O pensamento discriminatório para com os africanos é remetido como 
uma raça inferior, incapaz de terem um grau de intelectualidade igual ao 
do branco 
 
2. A busca pela assimilação ocorreria por meio da imposição da língua 
estrangeira 
 
Grupo 2 (respostas detalhadas) 
 
1.A questão da identidade e diversidade cultural voltam a compor um 
quadro actual de preocupações, representativo da complexidade dos 
resultados das interacções sociais que se operam ao nível da sociedade 
actual 
 
2.A questão do regional pressupunha uma dada continuidade cultural, 
uma identidade social homogénea, integrada e, portanto, estável 
 
Grupo 3 (exercícios d gabarito) 
1.Descreve o processo de construção do Outro 
 
2.O que é etnicização/tribalização? 
 
3. Diga em que circunstâncias o espaço se apresenta como um lugar não 
natural? 
 
 
TEMA 8: PARENTESCO, FAMILIA E CASAMENTO EM MOÇAMBIUE 
 
UNIDADE 8.1. Introdução ao estudo das relações de 
parentesco UNIDADE 8.2. Nomenclatura, Simbologia e 
Características do parentesco (filiação, aliança e residência) 
UNIDADE 8.3. Crítica do parentesco: O caso Macua; Lobolo em 
Moçambique: “Um velho idioma para novas vivências conjugais” 
 
 
 
 
 
UNIDADE 8.1.Introdução ao estudo das relações de parentesco 
 
 
Introdução 
 
Nets unidade temática vai apresentar em forma de descrição as 
relações de parentesco. Pretende-se que com esta unidade se inicie 
o processo de convergência epistemológica sobre o parentesco e 
com ela as ramificações ou laços constituintes. Daí que ao completar 
esta unidade, o estudante deverá ser capaz de: 
 
▪
 Definir o parentesco 
 
 
▪
 Conhecer as suas relações no contexto de construção da sociedade 
 
Objectivos 
▪
 Classificar os diferentes graus de parentesco 
 
 
 
específicos 
 
 Desenvolvimento 
 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
117 
 
 De acordo com Augé (2003) o parentesco é o vínculo por 
 
 consanguinidade, adopção, aliança (através do casamento), afinidade 
 
 ou qualquer relação estável de afectividade. Trata-se, portanto, de 
 
 vínculos podendo ser ou não biológicos e que se organizam de acordo 
 
 com linhas que permitem medir/qualificar diversos graus de 
 
 parentesco. 
 
 Duas pessoas podem estar emparentadas de três formas básicas: por 
 
 consanguinidade, por afinidade ou por adopção. O parentesco por 
 
 consanguinidade estabelece-se através de um vínculo de sangue, 
 
 quando existe pelo menos um ascendente em comum. A proximidade 
 
 deste parentesco mede-se de acordo com o número de gerações que 
 
 separam ambos os pais (AUGÉ, 2003). 
 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
118 
 
A linha directa de parentesco consanguíneo pode ser ascendente (cada 
uma das pessoas relativamentea quem descendem de forma directa: 
bisavô-avô-pai) ou descendente (vincula o antepassado com quem 
descendem de forma directa e sucessiva: tetraneto-bisneto-neto). 
 
Augè (2003) também define os tipos de parentesco, sendo que para ela, 
existe o parentesco por afinidade e por adopção. Por afinidade é aquele 
que tem lugar entre o cônjuge e os parentes consanguíneos do outro 
ou entre uma pessoa e os cônjuges dos seus parentes consanguíneos. 
O parentesco por adopção ou parentesco civil é aquele que existe entre 
o adoptante e o adoptado e entre o adoptado e a família do adoptante. 
 
Outra particularidade apresentada por Augé (2003) e partilhada com 
Granjo (2005) a união ou o elo que existe entre as coisas também se 
pode considerar parentesco: “O futebol e o rugby têm um certo 
parentesco”. Dessa perspectiva, surge como definição do Parentesco: 
 
é a relação que vincula entre si as pessoas que descendem do mesmo 
tronco ancestral. Assim sendo, pode caracterizar de várias e muitas 
maneiras : 
 
Parentesco biológico ou consanguíneo. 
 
Temos em linha recta e em linha colateral. 
 
Linha recta: é infinito, contado por graus. 
 
1º Grau: pai e filho 
 
2º Grau: avô e neto 
 
3º Grau: bisavô e bisneto 
 
Ascendentes: pais, avós, bisavós 
 
Descendentes: filhos, netos, bisnetos 
 
Linha paterna: parentesco como genitor e com os ascendentes deles, 
como avôs e bisavós paternos. 
 
Linha materna: diz respeito aos pais e avós da mãe, como avós e 
bisavós maternas.
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119 
 
 
 
 
Sumário 
 
Nesta unidade temática 8.1 falou-se sobre o parentesco, sua 
classificação e estruturação familiar. Assim permitiu o: 
▪ Conhecimento sobre o parentesco
 
 
▪ Aplicação na vida real
 
 
 
 
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO 
 
Grupo 1 (com respostas) 
1.O que é parentesco? 
2.Como se comporta a linha directa de parentesco consanguíneo? 
3.Aponte dois tipos de parentesco que conhece? 
 
Respostas 
 
1.O parentesco é o vínculo por consanguinidade, adopção, aliança 
(através do casamento), afinidade ou qualquer relação estável de 
afectividade. 
 
2. Pode ser ascendente (cada uma das pessoas relativamente a quem 
descendem de forma directa: bisavô-avô-pai) ou descendente (vincula o 
antepassado com quem descendem de forma directa e sucessiva: 
tetraneto-bisneto-neto). 
 
3. Parentesco por afinidade e por adopção 
 
 
Grupo 2 (respostas detalhadas) 
 
1.Os vínculos de parentesco que igualmente se estabelecem entre 
duas pessoas devido a existência de um ancestral comum 
 
2. O parentesco por consanguinidade estabelece-se através de um 
vínculo de sangue, quando existe pelo menos um ascendente em 
comum. 
 
 
 
Grupo 3 (exercícios de gabarito) 
 
1.Quais são as diferenças entre os parentescos de afinidade e por 
adopção? 
 
2.Comente a afirmação segundo a qual “a união ou o elo que existe 
entre as coisas também se pode considerar parentesco” 
 
 
 
 
 
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120 
 
 
 
 
 
 
UNIDADE 8.2.Nomenclatura, Simbologia e Características do parentesco (filiação, aliança e 
residência) 
 
 
Introdução 
 
Nesta unidade temática será apresentada as questões relacionadas 
com Nomenclatura, Simbologia e Características do parentesco como 
forma de conciliar os conhecimentos adquiridos no âmbito do estudo 
sobre o parentesco na unidade temática anterior. Por isso mesmo que 
ao completar esta unidade, o estudante deverá ser capaz de: 
 
 
 
▪
 Conhecer a nomenclatura usada 
 
 
▪
 Saber os símbolos usados 
 
Objectivos 
▪
 Caracterizar as diferentes formas de parentesco no contexto de filiação, 
 
 
 
específicos aliança e residência. 
 
 Desenvolvimento 
 
 
Para Augè (2003) e Toledo (2008) começam por reconhecer assinalável 
conceito de linhagem para Evans-Pritchard (1978) inserido na obra Os 
Nuer. Esta obra clássica da antropologia britânica tem como campo 
etnográfico uma região africana mais precisamente O Sudão, país 
atravessado pelo Rio Nilo onde as tribos Nuer habitam foi o campo 
empírico desta tão bem executada pesquisa. Então, definiu o autor que 
um clã é um sistema de linhagens, 
 
e uma linhagem é um segmento genealógico de um clã. Por tanto, uma 
linhagem se define como um grupo de agnatos vivos, que descendem do 
fundador dessa linhagem determinada. 
 
Ainda de acordo com estes autores, acrescentam que com relação ao 
sistema de linhagem, Evans-Pritichard se diferencia do Radicliffe-Brown 
(1973), uma vez que o primeiro é mais abstrato, estruturalista. Para Lévi-
Strauss, a proibição do incesto é a regra (condição de possibilidade da 
reciprocidade social – a exogamia – isto é, a troca. Para Toledo (2008) a 
teoria da aliança é a sincronia enquanto que a descendência representa a 
diacronia, ou seja a aliança versus a filiação. E esta envolve a descendência 
social (reprodução biológica). Lévi-Strauss ainda mostra que a 
conjugalidade na estrutura elementar do parentesco gera a afinidade (o 
cunhado). Daí a proibição do incesto que numa linguagem mais coloquial 
seria o sistema de troca, exemplificando: o caso de você casar com a 
minha irmã e eu casar com a sua. 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
121 
 
 
 
O método comparativo como um dos mais completos. Ele exemplifica a 
importância de se fazer esse tipo de estudo comparativo falando da 
semelhança nas formas de representação de divisões sociais, para as quais 
vários povos de lugares distintos do globo usam pássaros. Esses mesmos 
pássaros são por vezes usados para explicar o mundo e as relações 
existentes. Este mesmo autor, para não perdermos o foco de análise deste 
trabalho, volta a questão que mais nos interessa. A relação de parentesco 
a qual pretendemos relacionar com a obra da Eunice Durhan (1978) que 
trata a família e a reprodução humana. 
 
Para resumir a temática, Radicliffe-Brown (1973) na obra " O irmão da 
mãe na África do Sul" conclui-se que o padrão de conduta para com a mãe, 
que é revelado na família em razão da natureza do grupo familiar e sua 
vida social, é estendido com modificações apropriadas à irmã da mãe e ao 
irmão da mãe, portanto ao grupo de parentes maternos, ancestrais do 
grupo da mãe. 
 
No tocante ao sistema de parentesco, Levi-Strauss trata do problema da 
relação entre os tipos de sistema matrimonial. Começa afirmando que 
não há uma seqüência evolutiva ou hierárquica: um sistema com classes 
não é superior a um sem classes, e a passagem de um tipo de divisão em 
classes para outro não só é logicamente possível, como se trata de um 
dado empírico. Toma, então, o caso dos Murimbata como exemplo de 
difusão dos sistemas matrimoniais, mostrando que existe um problema 
de adaptação entre o "sistema tradicional" e o "sistema tomado 
emprestado", e que os nativos, para consertar eventuais distorções, se 
valem de artifícios como utilizar o antigo tratamento patrilinear da 
filiação dentro de um sistema que é agora matrilinear. Lopes (2011) 
avança assim, que Levi-Strauss conclui que os sistemas não devem ser 
tratados como objetos isolados... 
Por trás dos sistemas concretos... há relações mais simples que permitem 
todas as transições e adaptações, quais sejam, as "relações 
elementares".Levi-Strauss conclui resumindo "o estado da questão das 
relações entre classes matrimoniais e sistemas de parentesco". Esses 
últimos teriam papel preponderante na determinação positiva da 
prescrição do cônjuge, enquanto as primeiras agiriam no sentido negativo 
de dissuadir a violação da exogamia de classe(TOLEDO, 2008). 
 
Em suma, entendeu-se que todo casamento é um encontro dramático 
entre a natureza e a cultura, a aliança e o parentesco. Este, portanto, é 
uma questão sociológica e não biológica. 
 
 
 
 
 
 
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122 
 
 
 
 
 
 
 
 
Sumário 
 
Nesta unidade temática 8.2 abordou-se a questão relacionada com a 
nomenclatura e simbologias envolvidas no parentesco no contexto de 
filiação, aliança e residência, o que permitiu de forma sucinta fazer 
▪ Análise criticada constituição do parentesco
 
 
▪ Autodescobrimento
 
 
 
 
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO 
 
 
Grupo 1 (com respostas) 
1.Qual método se presume o mais completo? 
2.O que gera na estrutura elementar, de acordo com Levi-Strauss? 
 
Respostas 
1.O método comparativo como um dos mais completos 
 
2. A conjugalidade na estrutura elementar do parentesco gera a 
afinidade (o cunhado) 
 
Grupo 2 (respostas detalhadas) 
 
1.Levi-Strauss conclui que os sistemas não devem ser tratados como 
objetos isolados 
 
2.Um sistema com classes não é superior a um sem classes, e a passagem 
de um tipo de divisão em classes para outro não só é logicamente 
possível, como se trata de um dado empírico 
 
Grupo 3 (exercícios de gabarito) 
 
1.Qual é a relação entre aliança versus a filiação? 
 
2. Qual foi a contribuição de Radicliffe-Brown (1973) nos estudos 
sobre o parentesco? 
 
3. Diferencie as ideias de Durhan (1978) das do Evan-Pritchard(1978)? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
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UNIDADE 8.3.Crítica do parentesco: O caso Macua; Lobolo 
 
em Moçambique: “Um velho idioma para novas 
vivências conjugais” 
 
 
Introdução 
 
 
 
Nesta unidade temática será debruçado sobre a crítica do parentesco: 
O caso Macua; Lobolo em Moçambique, em contexto de novas 
vivências conjugais. Por isso ao completar esta unidade, o estudante 
deverá ser capaz de: 
▪ Identificar nas diferentes vivências a caracterização do parentesco
 
 
▪ Elaborar uma opinião própria sobre os factos observados
 
 
Objectivos 
específicos 
 
Desenvolvimento 
 
É este um tema clássico em antropologia, o parentesco é de grande 
importância na vida quotidiana. Questões como os divórcios, que nos 
parecem tão modernos, são muito antiga noutras culturas (concedido a 
petição dos dois), ou também o aborto, que noutras culturas é admitido 
como algo normal. 
 
Também o tema das relações sexuais fora do matrimónio, que apenas 
são proibidas num 5% das culturas, e noutras é permitido mas com 
certas condições. O parentesco é o sentido sociocultural dos laços de 
sangue, tem uma base biológica mas precisa de uma interpretação e 
reconhecimento social (ex.: o caso dos pais adoptivos). 
 
O parentesco é um tipo de relação social pautada. As funções que 
satisfazem o parentesco são: económicas (subsistência e controlo do 
sistema de reprodução), psicológicas (seguridade emocional), sociais e 
económicas (regulamentar as formas de intercâmbio, organizar os 
casamentos), etc. 
 
 
Sumário 
 
Nesta unidade temática 8.3 falou-se sobre as questões de parentesco, 
sob forma expositiva e sucinta sobre o parentesco nas diferentes 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
124 
 
regiões de Moçambique. O estudante após esta pequena apresentação, 
possibilitará a: 
 
▪ Obtenção de ferramentas para busca de conhecimento de forma 
orientada
 
 
▪ Agregar valor do conteúdo em função da sua capacidade 
interpretativa
 
 
 
 
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO 
 
 
Grupo 1 (com respostas) 
 
1.O parentesco pode ser considerada como um tipo de relação social 
pautada? 
2.Quais são as funções que satisfazem o parentesco? 
 
Respostas 
1.Sim 
2.Económicas, psicológicas, sociais e económicas 
 
Grupo 2 (respostas detalhadas) 
 
Grupo 3 (exercícios de gabarito) 
1.Diferencie a função psicológica da social económica? 
 
2.O que é o divórcio? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
125 
 
 
 
 
 
 
 
TEMA 9:FAMILIA EM CONTEXTO DE MUDANÇA EM MOÇAMBIQUE 
 
UNIDADE 9.1. Origem e evolução histórica do conceito de família 
UNIDADE 9.2. Família como fenómeno cultural 
 
UNIDADE 9.3. Novas abordagens teóricas e metodológicas no estudo 
da família 
 
UNIDADE 9.4. Estudo de caso (famílias em contexto de mudança em 
Moçambique 
 
 
 
 
UNIDADE 9.1. Origem e evolução histórica do conceito de família 
 
 
Introdução 
 
 
 
Nesta unidade temática, pretende-se falar sobre a origem e evolução 
histórica do conceito de família. Como vimos nas unidades anteriores, ao 
completar esta unidade, o estudante deverá ser capaz de: 
▪ Descrever os processos que deram origem ao conceito de família
 
 
▪ Fazer a ponte de ligação entre o parentesco e família
 
 
Objectivos 
específicos 
 
Desenvolvimento 
 
Para Lévi Strauss a família é um grupo social que tem origem no 
casamento, é uma união legal com direitos e obrigações económicas, 
religiosas, sexuais e de outro tipo. Mas também está associada a 
sentimentos como o amor, o afecto, o respeito ou o temor. Afirma que 
a família é necessária para a reprodução social de um grupo humano, 
pois garante a sobrevivência e a continuidade biológica e social do 
próprio grupo. 
 
Neste ponto cabe relembrar o que o antropólogo português João Pina-
Cabral (1989) sublinha para o caso português que o termo “família” é 
burguês, mas o conceito de “casa” é rural. A “casa” afirma Pina-Cabral 
(1989) são “os que comem juntos”, isto é, é através da comensalidade 
que os camponeses, que ele estudou no Minho, reconstroem a 
identidade da sua unidade familiar. 
 
A família em questão pode ser considerada como uma unidade que 
envolve as economias individuais e que pratica uma economia moral ou 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
126 
 
cultural colectiva com base nas relações de parentesco. É o que Jack 
Goody (1986) denomina economia oculta do parentesco. 
 
Mas a unidade familiar não está isenta de tensões, rivalidades internas 
e externas, negociações e conflitos. O mesmo matrimónio pode ser 
considerado como uma ameaça do património entre os quais vai existir 
uma tensão estrutural (O´Neill, 1984). Portanto, as tensões e 
articulações entre os condicionamentos sociais e os projectos pessoais 
 
 
 
 
que possam existir são ingredientes da existência humana em sociedade. 
 
A família, diz Robert Rowland (1997) é consequência das relações de 
parentesco, é um grupo doméstico co-residente e com limites variáveis 
segundo os contextos culturais. Alguns tipos de família são: 
 
1. Família nuclear: grupo de parentes formado pelos pais e os filhos, 
que residem juntos, e os filhos tendem a herdar dos pais. 
 
2. Família extensa ou “souche” (alargada). 
 
3. Família de orientação: aquela onde um nasce e aprende a ser 
criança. 
 
4. Família de procriação: aquela que formamos no momento do nosso 
casamento, quando um se casa e tem filhos. 
 
Neste ponto também devemos pensar a linhagem ou clã, algo mais 
permanente que a família nuclear. A pertença ao mesmo é por adscrição 
de nascimento. Leva associada uma relação genealógica dos 
descendentes de um antepassado comum. 
 
Após a fixação do grupo etno-linguistico bantu na região onde hoje é 
Moçambique, desde cerca de 1700 anos, a base fundamental da 
economia consistia na agricultura de cereais, principalmente de mapira e 
mexoeira. A produção agrícola, que determinava relações de produção 
permanentes, era feita pelas mulheres da aldeia, que produziam para a 
família alargada (clã). Sendo assim, como produtoras, as mulheres 
detinham uma certa autoridade e controle sobre os celeiros, mas não 
controlavam bens mais valiosos e duradouros, como o gado, por exemplo. 
A caça e a pesca, por sua vez, eram praticadas pelos homens e tinham 
como finalidade complementar a dieta alimentar. Não configuravam, no 
entanto,relações de produção tão duráveis quanto na agricultura. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
127 
 
 
 
 
Sumario 
 
Nesta unidade temática 9.1 foi apresentado a origem e evolução 
histórica do conceito de família. Assim permitiu estabelecer as pontes 
de ligação para um 
▪ Aprofundamento do conceito
 
 
▪ Estabelecimento de mecanismos para autodescobrimento
 
 
 
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO 
 
Grupo 1 (com respostas) 
1.Que tipos de família foram apresentadas? 
2. Justifique porque a família é necessária para o ser humano? 
 
Respostas 
 
1.Familia nuclear, família extensa, família de orientação e família de 
procriação. 
 
2. Família é necessária para a reprodução social de um grupo humano, 
pois garante a sobrevivência e a continuidade biológica e social do 
próprio grupo 
 
 
Grupo 2 (respostas detalhadas) 
 
1.A produção agrícola é que determinava relações de produção 
permanentes, era feita pelas mulheres da aldeia, que produziam para a 
família alargada 
 
2.O matrimónio pode ser considerado como uma ameaça do 
património entre os quais vai existir uma tensão estrutural 
 
Grupo 3 (exercícios de gabarito) 
1.Apresente o conceito de família? 
2.O que é economia moral? 
3.Define economia cultural colectiva? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
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UNIDADE 9.2. Família como fenómeno cultural 
 
 
Introdução 
 
 
 
Nesta unidade temática pretende-se apresentar e discutir família 
como um fenómeno cultural. Assim sendo, ao completar esta 
unidade, o estudante deverá ser capaz de: 
▪ Compreender a relação família e cultura
 
 
▪ Diferenciar os laços familiares em função da cultura
 
 
Objectivos 
específicos 
 
Desenvolvimento 
 
De acordo com Garcia (2001), em Moçambique assim como noutras 
 
114 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
129 
 
 
 
sociedades africanas, a unidade fundamental das sociedades é a família 
extensa, que funciona como elemento mítico -espiritual, social e até 
juridicamente solidário. Aquelas estruturas possuem um carácter 
intensamente comunitário; desempenhando o indivíduo funções com 
importância colectiva; o seu interesse é subordinado ao geral. O 
comunitarismo faz ainda parte da religião, das formas de vida 
económica e da existência de inúmeras sociedades especiais (no espaço 
entre família e a tribo). Visto que as famílias moçambicanas são no geral 
colectivistas, onde o papel de cada um dos membros está bem definido 
e, um possível erro de um dos membros pode ser analisado como sendo 
um erro de toda família no geral. 
 
De acordo com Aghassianetall (2003), as famílias podem ser 
classificadas em: 
 
Filiação unilinear ou unilateral: quando o parentesco só é transmitido 
aos filhos de um casal legítimo por um dos pais, com exclusão do outro. 
Quando o pai transmite o parentesco, a filiação é patrilinear; quando é 
a mãe que o transmite, a filiação é matrilinear. 
 
A filiação unilateral ou unilinear segundo o autor subdivide-se em: 
 
• Filiação patrilinear ou Agnática 
 
A WILSA Moçambique (1998), sustenta que a patrilinearidade é 
frequente no sul e centro de Moçambique. 
 
De acordo com Aghassian, etall (2003), os filhos fazem parte do grupo 
de parentesco do pai, o que significa que os pais transmitem o 
parentesco. 
 
Nas sociedades patrilineares a linha de perpetuação de grupos de 
parentesco passa exclusivamente através dos homens. Tal como se 
verifica em nas regiões centro e norte do pais como a WLSA já havia 
identificado como sendo regiões que apresentam o sistema Patrilinear 
e como e o caso das regiões sul e centro os homens tem tido mais valor 
em relação ao homem. a defende que nas sociedades patrilineares a 
importância social dos homens é maior do que das mulheres. 
 
A patrilinearidade é mais frequente nas sociedades onde as actividades 
económicas masculinas são decisivas e o seu papel social é 
sobrevalorizado. 
 
A filiação patrilinear é a forma mais comum da filiação unilinear. Neste sistema 
de filiação e organização patrilinear, os membros de um grupo de 
parentesco unem-se pela ligação a um antepassado comum masculino 
através de uma linha de ascendência - descendência que cruza as 
diferentes gerações somente através de parentes masculinos. 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
130 
 
 
Para Pereiro (2012) numa dada geração, os irmãos e irmãs, entre si, 
pertencem a patrilinhagem do seu pai e do seu avó paterno, assim como 
a dos irmãos e irmãs tanto do pai como do avô paterno. Tantos filhos 
como as filhas de um homem traçam a sua ascendência a um 
antepassado comum através de uma linha masculina. Nestes grupos a 
responsabilidade social em relação as crianças cabe ao pai ou irmão mas 
velho e dentro desta linhagem os homens prestam atenção aos 
descendentes masculinos. 
▪ Filiação matrilinear ou uterina
 
 
Quando os filhos fazem parte do grupo de parentesco da mãe, o que 
significa que só as mães transmitem o parentesco. Matrilinearidade em 
Moçambique é mais frequente na região norte do país e uma parte do 
centro (Tete). 
 
Nas sociedades matrilineares, o parentesco passa exclusivamente 
através da mulher, nesta a matrilinhagem ocorre nas sociedades onde 
a horticultura é uma actividade importante, pois aí as mulheres têm o 
papel económico mais importante. 
 
▪ A filiação matrilinear é diferente na forma como traça a 
matrilinhagem assim como na forma de realizar o poder 
autoridades e estruturam a nível da família. Nela as mulheres 
têm por vezes bastante poder, mas nunca absoluto sobre o seu 
grupo de filiação, pois este é partilhado com os irmãos que tem 
maior interesse em exercer o maior poder controlo possível 
sobre a descendência das suas irmãs.
 
 
Na matrilinhagem, os irmãos e irmãs pertencem a linhagem da mãe e 
da avó materna, que é também a dos irmãos da mãe e dos filhos da irmã 
desta. 
 
▪ Filiação cognática: diferente da filiação unilinear, ou filiação 
diferenciada, a filiação cognática é uma filiação indiferenciada, 
pois o parentesco é transmitido tanto pelo pai como pela mãe. 
A filiação cognática reconhece o parentesco de ambos os lados. 
Todos os descendentes têm direitos e obrigações, deveres e 
privilégios idênticos para com os seus parentes paternos e 
maternos.
 
 
 Dupla filiação unilinear: quando duas filiações unilaterais se 
 justapõem, cada uma regendo, com exclusão da outra, a transmissão 
 de determinados direitos Por exemplo, entre os Yako da Nigéria, o 
 grupo paterno, Kepun, está localizado; pais e filhos habitam com as 
 suas mulheres num mesmo aglomerado, o grupo materno, Lejima, 
 está disperso: tios e sobrinhos uterinos vivem, cada um, junto do seu 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
131 
 
 grupo paterno. 
 O pai transmite ao filho as suas terras cultiváveis, mas o gado e o 
 dinheiro vão para o filho da sua irmã: come-se no lado paterno e 
 herda-se no lado materno 
 
Sumário 
 Nesta unidade temática 9.1 falou-se de família como um fenómeno 
 cultural. Isto serviu para: 
 
▪
 Aprofundar as questões de família e parentesco e 
 
▪
 Contribuiu na consolidação sobre aspectos de cultura 
 
 
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO 
 
Grupo 1 (com respostas) 
1.Onde é frequente a patrilinearidade? 
2.Explica como se procede o parentesco nas sociedades matrilineares? 
 
Resposta 
 
1.A patrilinearidade é mais frequente nas sociedades onde as 
actividades económicas masculinas são decisivas e o seu papel social é 
sobrevalorizado. 
 
2.Nas sociedades matrilineares, o parentesco passa exclusivamente 
através da mulher 
 
 
Grupo 2 (respostasdetalhadas) 
 
1.Na matrilinhagem, os irmãos e irmãs pertencem a linhagem da mãe e 
da avó materna, que é também a dos irmãos da mãe e dos filhos da 
irmã desta. 
2.A filiação patrilinear é a forma mais comum da filiação unilinear 
 
Grupo 3 (exercícios de gabarito) 
1.Diferencie a filiação cognática da linear? 
2. Explique a dupla filiação unilinear 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
132 
 
 
 
 
 
UNIDADE 9.3.Novas abordagens teóricas e 
metodológicas no estudo da família 
 
 
Introdução 
 
 
 
Nesta unidade temática serão discutidas as novas abordagens 
teóricas e metodológicas no estudo sobre a família. Daí que ao 
completar esta unidade, o estudante deverá ser capaz de: 
▪ Saber as novas abordagens sobre o estudo de família
 
 
▪ Aplicar na interpretação dos factos observados
 
 
Objectivos 
específicos 
 
Desenvolvimento 
 
Para Pereiro (2012) aponta para Joseph Campbell, no seu O Poder do 
Mito, nos ensina sobre os arquétipos e mitologias que orientavam as 
sociedades antigas. Nas sociedades agrícolas a figura da mulher é de 
fundamental importância, pois a personificação da energia que dá 
origem às formas e as alimenta é essencialmente feminina. A Deusa 
é a figura mítica dominante no mundo agrário dos primitivos sistemas 
de cultura do plantio. A mulher dá à luz, assim como da terra se 
originam as plantas. A mãe alimenta, como o fazem as plantas. Assim, 
a magia da mãe e a magia da terra relacionam-se. São povos, 
também, fixos na terra que lhes alimenta. Povos pastores, por outro 
lado, estão sempre em movimento, são nómadas e entram em 
conflitos com outros povos, conquistando as áreas para onde se 
movem. 
 
Na cultura bantu, Pereiro (2012) afirma que à frente de cada linhagem 
ou da família alargada (clã) estava um chefe, com poderes políticos e 
religiosos, e um conselho de anciãos. Ao norte do rio, no entanto, não 
obstante o poder pertencer ao homem, a comunidade aldeã 
constituía-se em torno de parentes consanguíneos (antepassado 
comum) definidos por via materna. Essa linhagem matrilinear 
determinava inclusive a transferência de poder, na medida em que 
este passava do tio materno para o sobrinho. Ao sul do Zambeze, por 
outro lado, o poder passava do pai para o filho ou do irmão mais velho 
para o mais novo. 
 
 
 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
133 
 
 
 
 
 
Povos pastores são sempre conquistadores, assassinos, nômades e 
patriarcais. Não possuem a ligação com a terra dos povos agricultores, 
pacatos, estáveis e matriarcais. Surge, então, nessas comunidades 
patriarcais ao sul do Zambeze, um poder político que se estruturava 
diferentemente do poder meramente linhageiro (MEDEIROS, 2006). Era 
originado da conquista militar, onde o clã vencedor passava a exercer 
uma supremacia política sobre as outras, as quais deveriam pagar um 
tributo ao chefe da linhagem vencedora. 
 
Surge, então, uma nova divisão social do trabalho. Os produtores 
deveriam produzir um sobre-produto para o pagamento do tributo. A 
linhagem do chefe e dos anciãos passa a constituir a aristocracia da 
sociedade. Abaixo desta aristocracia estavam os membros das outras 
linhagens que habitavam a área dominada. Estrangeiros pagavam 
impostos mais altos. A classe dominante começa a possuir escravos 
domésticos. 
 
 
Ainda de acordo com Pereiro (2012) são destes grupos que sairão, logo 
depois, as tribos que formaram, pelas sucessivas conquistas dos outros 
clãs, os reinos e impérios da região. São estes, principalmente, o povo 
Chona, Nguni e Tsonga. Darão origem ao reino do Grande Zimbabwe, 
ao império Monomotapa e ao império de Gaza. 
 
Para Cabaço (2007) os pacíficos povos ao norte do rio, por sua vez, 
recebe a influência do contacto mercantil com os árabes e aspectos 
culturais dessas etnias vão pouco a pouco mudando, com muitos deles 
vindo a se estruturarem em xecados e sultanatos. São os povos do norte 
também as principais vítimas do tráfico de escravos feito, 
posteriormente, pelos portugueses. Um outro conceito associado ao de 
família de acordo com Pereiro (2012) é o de “grupo doméstico”, isto é 
um grupo de parentes que coabitam e co-residem no mesmo espaço. 
Portanto há uma diferença com o conceito de família. 
 
Para Cabaço (2007) património entende-se como um conjunto de 
recursos do qual as pessoas podem dispor para enfrentar as suas 
necessidades e as de seus familiares. Tais recursos compõem-se de 
trabalho, saúde, moradia, habilidades pessoais e de relacionamento, 
tais como os de vizinhança, de amizade, familiares, comunitários e 
institucionais. 
 
Pereira (2012) diz que estruturar uma intervenção a partir do 
património da pessoa, da família e da comunidade significa considerar 
as potencialidades e os nexos que estas pessoas e comunidades 
estabeleceram na sua história de vida. Compreender o trabalho em 
saúde a partir do património, implica uma abertura a uma realidade 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
134 
 
mais ampla, que transcende a dificuldade em si, não se restringindo à 
aplicação de soluções previamente concebidas. Tal compreensão 
permite o incremento gradativo do património da pessoa em situação 
de pobreza. Em outras palavras, a acção nasce do que existe e este é o 
princípio que estimula a participação da família nesse processo. 
 
Partir da falta, da doença ou da ausência de condições de vida, implica 
ficar, de algum modo, esperando que a solução ocorra no futuro, o que 
na maioria das vezes conduz a um imobilismo. Quantas vezes, diante de 
uma criança desnutrida, da sua mãe, que parece tão "desinteressada" 
da sua situação económica de carência extrema, nos sentimos 
impotentes, uma vez que se trata de algo que não pode ser resolvido, 
partir do património permite olhar para essa situação buscando 
encontrar os recursos que já existem, identificar um caminho e não ficar 
parado (PEREIRA, 2012). Essa atitude do profissional de saúde instiga a 
mãe a assumir os próprios problemas, tendo em conta o seu património. 
 
 
 
Sumário 
 
Nesta unidade temática 9.3 apresentou-se e se discutiu questões 
relacionadas com Novas abordagens teóricas e metodológicas no 
estudo da família, para 
 
▪ Compreensão metodológica para análise teórica do estudo 
sobre família
 
▪ Apropriação do conhecimento integral
 
 
 
 
 
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO 
 
Grupo 1 (com respostas) 
1.O que é um grupo doméstico? 
 
2. Como era passado o poder de geração em geração no sul do 
Zambeze? 
 
Respostas 
 
1.Grupo doméstico”, isto é um grupo de parentes que coabitam e co-
residem no mesmo espaço 
 
2. No sul do Zambeze, por outro lado, o poder passava do pai para o 
filho ou do irmão mais velho para o mais novo. 
 
Grupo 2 (respostas detalhadas) 
1.A Deusa é a figura mítica dominante no mundo agrário dos 
primitivos sistemas de cultura do plantio 
 
2. Nas sociedades agrícolas a figura da mulher é de fundamental 
importância, pois a personificação da energia que dá origem às 
formas e as alimenta é essencialmente feminina 
 
Grupo 3 (exercícios de gabarito) 
 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
135 
 
1.Explique como uma mãe pode parecer “desinteressada” para a 
saúde do seu filho? 
2. Diferencie tribo de clã 
 
3.Aponte as similaridades entre o reino e império 
 
 
UNIDADE 9.4.Estudo de caso (famílias em contexto 
de mudança em Moçambique) 
 
 
Introdução 
 
 
 
Nesta unidade temáticas será apresentado um estudo de caso 
(famílias em contexto de mudança em Moçambique) de forma 
explicativa, isto é aquilo que acontece no caso observado. Portanto 
 
ao completar esta unidade, o estudante deverá ser capaz de: 
▪ Agregar seus os conhecimentos sobre um estudo de caso
 
 
▪ Relativizaros acontecimentos narrados
 
 
Objectivos 
específicos 
 
Desenvolvimento 
 
Em Moçambique, nota-se uma diferença no que concerne à 
produção. As tribos ao sul do Rio Zambeze centralizaram a sua 
produção na agro-pecuária, enquanto os povos do norte do rio eram 
essencialmente agricultores. Com a cultura orientada para os animais 
e o pastoreio, houve uma alteração na psicologia colectiva das etnias 
do sul, o que marca uma diferença ainda hoje notada no país 
(MEDEIROS, 2006). 
 
Para Osório e Macuacua (2013) na hora de organizar a descendência 
e a herança há dois tipos de sistemas: 
 
1. Com uma linha: linear. 
 
- Matrilinear (uterina): Todos os filhos e filhas pertencem à mesma 
linhagem mas são elas quem transmitem a descendência, eles não. 
Os filhos delas serão da linhagem mas os deles não. A herança e a 
residência é por via feminina. 
 
- Patrilinear (agnática): A descendência transmite-se por via masculina 
ainda que todos os filhos pertençam á linhagem. A residência neste caso 
é virilocal e neolocal. Este sistema está mais estendido que o 
matrilinear, (ex. Império Romano, Muçulmano, e Chino). Um caso 
extremo é o caso do sudeste da China, onde a mulher é entendida como 
algo de pouca importância para a linhagem; as filhas casam e vão morar 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
136 
 
para casa do homem, não voltando á casa dos pais, só em caso de 
falecimento dos seus pais é que volta. Os pais evitam o afecto pelas 
filhas quando estas são crianças, pois irremediavelmente separam-se 
delas. O significado estrutural delas é a mudança por mulheres de outra 
linhagem. 
 
2. Com duas linhas: bilinear, ainda que a autoridade oficial possa ser 
só a do homem. 
 
Se queremos estudar os sistemas de descendência, de acordo com 
Medeiros (2006) citando Segalen (1999) através dos quais se transmite 
a herança, também devemos ter em conta a noção de “ciclo da vida 
familiar”, que serve para conceitualizar a evolução da família e as suas 
mudanças em tamanho e estrutura, desde a sua constituição até a sua 
dissolução. 
 
Para Osório e Macuacua (2013) o mais é importante diferenciar entre 
as noções de herança, residência pós-casamento e domínio inter-
géneros. Um exemplo é a usual confusão entre matriarcado, mater-
localidade e mater-linearidade. Para esclarecer isto construímos a 
 
seguinte tabela: 
 
Matriarcado Mater-localidade Mater-Linearidade 
 
Domínio da mulher Também Define a 
sobre o homem, algo denominada uxori descendência ou 
que existe em muito localidade, para herança por via 
poucas sociedades definir que a feminina 
 resistência pós- 
 casamento é na casa 
 ou localidade da 
 esposa 
 
 
Osório e Macuacua (2013) hoje, a influência das linhagens matrilineares 
e patrilineares se fazem presentes também no direito civil. Nas 
províncias acima do rio Zambeze, o sobrenome (apelido, no 
 
 
português moçambicano) que o filho recebe é o da mãe, enquanto nas 
províncias abaixo do rio, as pessoas carregam o sobrenome do pai. Se 
uma mulher da região norte casa-se com um homem da região sul, ela 
adquire o sobrenome do pai do noivo. O mesmo ocorre com o homem 
sulista que se casa com uma mulher do norte: ele recebe o sobrenome 
da sogra. 
 
 
 
Sumário 
 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
137 
 
Nesta unidade temática 9.4 falou-se do estudo de caso sobre famílias 
em contexto de mudança em Moçambique. Isto permitiu a: 
▪ Organização dos factos no tempo e no espaço 
 
▪ Consolidação dos conteúdos das unidades temáticas anteriores 
 
 
 
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO 
 
Grupo 1 (com respostas) 
1.De quem é o apelido que a criança recebe no norte do Zambeze? 
2.De quem é o apelido que a criança recebe no sul do Zambeze? 
 
Respostas 
1.Recebe o apelido da mãe 
2.recebe o apelido do pai 
 
Grupo 2 (respostas detalhadas) 
 
1.Com a cultura orientada para os animais e o pastoreio, houve uma 
alteração na psicologia colectiva das etnias do sul 
 
2. Os pais evitam o afecto pelas filhas quando estas são crianças, pois 
irremediavelmente separam-se delas. 
 
Grupo 3 (exercícios de gabarito) 
1.O que significa domínio inter-géneros? 
2.Diferencie a residência neste caso é virilocal e neolocal? 
3. O que está envolvido no ciclo de vida familiar? 
 
 
 
 
 
 
 
 
TEMA 10:O DOMÍNIO SIMBÓLICO 
 
UNIDADE 10.1. O estudo dos rituais em Antropologia- Os ritos de passagem 
UNIDADE 10.2. Rituais como mecanismo de reprodução social - Feitiçaria 
UNIDADE 10.3. Ciência e Racionalidade-Cultura, tradição e religiosidade no 
contexto sociocultural do Modelos religiosos endógenos & modelos religiosos 
exógenos 
UNIDADE 10.4. A emergência de sincretismos religiosos e de igrejas messiânicas 
em Moçambique 
 
 
 
UNIDADE 10.1.O estudo dos rituais em Antropologia- 
Os ritos de passagem 
 
 
Introdução 
 
 
 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
138 
 
Nesta unidade temática propõe-se a estudar os rituais em 
Antropologia- Os ritos de passagem. Ao completar esta unidade, o 
estudante deverá ser capaz de: 
▪ Definir o rito de passagem
 
 
▪ Enquadrar o conceito de ritos de passagem em antropologia
 
 
Objectivos 
Específicos 
 
 
Desenvolvimento 
 
Para Osório e Macuacua (2013) o Ritual é o conjunto de práticas 
consagradas por tradições, costumes ou normas, que devem ser 
observadas de forma invariável em determinadas cerimónias. Ritual 
é uma cerimónia através da qual se atribuem virtudes ou poderes 
inerentes à maneira de agir, aos gestos, às fórmulas e aos símbolos 
 
usados, susceptíveis de produzirem determinados efeitos ou 
resultados. Portanto o Ritual é um processo continuado de 
actividades organizadas cuja prática está relacionada a ritos, que 
envolvem cultos, doutrinas e seitas, encontrados não só na vida 
religiosa, mas em todas as esferas culturais. 
 
No sentido figurado ritual é uma rotina, aquilo que habitualmente se 
pratica, é uma etiqueta, uma regra, um estilo usado no trato entre as 
pessoas. O ritual está associado às práticas religiosas ou místicas, 
criadas em torno da ideia de se estabelecer uma "relação entre os 
seres humanos e um ou vários seres sobrenaturais"(OSÓRIO e 
MACUACUA, 2013). 
 
Segundo Agadjanian (1999) uma série de doutrinas sobre os deveres 
e obrigações recíprocas entre a divindade e a humanidade, uma série 
de normas e rituais fazem parte das inúmeras religiões com 
objectivo de buscar uma interação dinâmica entre os seus seguidores. 
 Para Langa (1992) a Igreja Cristã possui dois rituais, ou sacramentos, 
 foram instituídos pelo próprio Jesus: o baptismo e a eucaristia. O 
 baptismo consiste em borrifar com água benta a cabeça da pessoa que 
 será iniciada na religião. Esse sacramento lembra o baptismo de Jesus 
 por João Batista. Em outras tradições, o ritual do baptismo é feito por 
 imersão total. A eucaristia (ou Sagrada Comunhão) é um dos principais 
 ritos de devoção, na qual o pão e o vinho são consagrados e oferecidos 
 aos fiéis, representando o gesto de Jesus na Última Ceia. Outros 
 rituais, celebrados em períodos de graça ou bênção, incluem a crisma, 
 o casamento, a ordenação para o sacerdócio, a confissão e a extrema- 
 unção. 
 As religiões afro-brasileiras como afirma Langa (1992) confirmada com 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
139 
 
 Honwana (2002) seguem rituais de várias origens, como o uso de 
 roupa branca, imagem de santos católicos, pretos velhos, caboclos e 
 índios. A vela é usada para iluminar os caminhos. Dependendo das 
 cores, é oferecida aos orixás ou até mesmo a exus. Os defumadores 
 são usados para purificar o ambiente, o cachimbo é usado pelo preto 
 velho nas consultas etc. 
 Douglas (1991) referindo-se aos rituaiscomo momentos de afirmação 
 identitária em que o racional aparece articulado ao sagrado. Neste 
 sentido, os ritos de iniciação, desdobrados na separação das famílias, 
 na circuncisão e na reintegração, constituem uma ruptura simbólica 
 (uma espécie de renascimento) com as experiências anteriores. 
 Organizando-se através da acção sobre o corpo (que pode sofrer 
 inúmeras provações), os ritos determinam um padrão de 
 comportamento que permite a integração dos jovens na comunidade, 
 ocupando os lugares e desempenhando os papéis sociais que lhe estão 
 reservados na hierarquia social. 
 Para Osório e Macuacua (2013) fica claro que, pesem outras funções 
 dos ritos, na sua análise tem que se ter em conta, em primeiro lugar, a 
 sua utilidade social, no sentido em que transgride e restaura a ordem 
 e, em segundo lugar, que “os ritos são sistemas de sinalização a partir 
 de códigos definidos do ponto de vista cultural”. Pelos ritos, pelas 
 mensagens que aí são transmitidas e pelo sentido que lhes é 
 conferido, pela implicação emotiva que é colocada e pelos processos 
 de negociação e manipulação aí vivenciados e, ainda, pelos elementos 
 de adesão (reais ou/e simbólicos) constantemente accionados, os e as 
 jovens iniciadas/os integram-se pela 
 125 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
140 
 
 
 
diferenciação sexual na ordem social, ou seja, os dispositivos neles 
desenvolvidos são marcadores de papéis e funções que exprimem os 
valores e comportamentos socialmente expectáveis. 
 
 
 
Sumário 
 
Nesta unidade temática 10.1 estudou-se os rituais para permitir que 
os membros pertencentes numa determinada família, se possam 
identificar em função da sociedade onde residem. Daí que este 
estudo: 
▪ Aflora nas entre linhas os laços constituintes 
 
▪ A dinâmica de maturação e rompimento com experiências 
anteriores 
 
 
 
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO 
 
Grupo 1 (com respostas) 
1.Para que servem os defumadores? 
2.Como é feito o baptismo? 
 
Respostas 
 
1.Os defumadores são usados para purificar o ambiente, o cachimbo é 
usado pelo preto velho nas consultas 
2. O ritual do baptismo é feito por imersão total na água 
 
Grupo 2 (respostas detalhadas) 
 
1.Os ritos de passagem, circuncisão constituem uma ruptura simbólica 
(uma espécie de renascimento) com as experiências anteriores 
 
2. Os ritos são sistemas de sinalização a partir de códigos definidos do 
ponto de vista cultural 
 
Grupo 3 (exercícios de gabarito) 
1.O que são orixá? 
2.Explica como os ritos determinam os padrões de completamento? 
3.Define eucaristia? 
 
 
UNIDADE 10.2.Rituais como mecanismo de reprodução 
social - Feitiçaria 
 
 
Introdução 
 
 
 
Nesta unidade temática serão expostos conteúdos mais aprofundados 
sobre Rituais como mecanismo de reprodução social , num contexto de 
feitiçaria. Ao completar esta unidade, o estudante deverá ser capaz 
 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
141 
 
 
 
de: 
▪ Explicar como os rituais são mecanismos de reprodução social
 
 
▪ Saber interpretar diferentes manifestações culturais, como são os casos
 
 
Objectivos 
de feitiçaria 
 
 
 
específicos 
 
 Desenvolvimento 
 
 De acordo com CF (2008) em tempos marcados por subjetivismos, 
 
 relativismos e fundamentalismos nas mais variadas áreas do 
 
 conhecimento e nos mais diversos âmbitos da experiência humana, 
 
 todas as antropologias orientadas para o transcendente definem o ser 
 
 humano e o meio moral em que vive em termos de algum ser ou 
 
 “força” para além de si próprio. Esse além pode ser o Deus pessoal dos 
 
 judeus, muçulmanos e cristãos, alguma força indefinível, mas real no 
 
 universo, como concebem os panteístas e os agnósticos, ou alguma 
 
 divindade criada no mundo. Osório e Macuacua (2013)As 
 
 antropologias transcendentais incluem as principais religiões tanto do 
 
 Ocidente quanto do Oriente, bem como formas modernas de 
 
 maniqueísmo, gnosticismo e paganismo, frequentemente latentes na 
 
 multiplicidade de formas da espiritualidade do movimento da Nova 
 
 Era. Nesses casos, o moralmente certo e o errado derivam da 
 
 autoridade de uma fonte que está além, acima e superior ao próprio 
 
 ser humano, seja como mandamento direto, seja como inferência de 
 
 textos ou de interpretações de mensagens e sinais variados. 
 
 Fazendo um questionamento,o CF (2008) coloca que até que ponto 
 
 essas visões transcendentais influenciam a bioética contemporânea é 
 
 algo difícil de estimar, porque a mentalidade da bioética acadêmica, 
 
 ao menos nos Estados Unidos, mostra-se predominantemente secular. 
 
 A teologia católica romana representa algo de certa forma excepcional 
 
 nesse contexto, porque tem longa história de estudo formal, que 
 
 antecede em séculos a bioética contemporânea — iniciando-se no 
 
 século XV, já conta meio milênio de história. É também a posição 
 
 contrária mais citada em relação às antropologias seculares 
 
 antropocêntricas, atualmente dominantes nos ambientes acadêmicos 
 
 e científicos. 
 
 A teologia católica, na optica de CF (2008) assim como a ortodoxa, 
 
 constitui um paradigma para uma ética baseada na ideia do homem 
 
 como ser criado por Deus, a quem este deu a vida e uma natureza 
 
 única e de quem espera obediência a certas leis específicas. Na visão 
 
 católica, a existência humana é 
 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
142 
 
 
 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
143 
 
 
 
interpretada segundo a doutrina da imago dei, ou seja, do ser humano 
como imagem e semelhança de Deus (Gn 1,27). A fonte dessa dignidade 
é Deus, ela é inerente a todo e qualquer ser humano e não pode ser 
tirada, independentemente de sexo, idade, saúde ou doença. A vida 
humana é um dom de Deus que deve ser cuidado e respeitado. 
 
Nas antropologias antropocêntricas, diz CF (2008) e ideia partilhada por 
Meneses (2000) a dignidade consiste num atributo socialmente 
conferido pelos indivíduos a si próprios ou pelos outros. É definida com 
base em certos atributos de personalidade que podem ser perdidos 
com a doença, a deficiência mental, o estado de consciência e assim por 
diante. Um exemplo de dissonância em relação a esse ponto é a 
atribuição, por parte dos católicos, de dignidade pessoal para o embrião 
desde a concepção e sua negação categórica pelos outros. 
 
Para Meneses (2000) alguns defendem o “respeito” pelo embrião, mas 
não como pessoa. Paradoxalmente, sustentam que o embrião pode ser 
sacrificado pelo bem dos outros, como no caso de obter células-tronco 
para pesquisa com o objetivo de curar determinadas doenças de cunho 
genético que infernizam a vida de muita gente. 
 
 
 
Sumário 
 
Nesta unidade temática 10.2 aprendemos os Rituais como mecanismo 
de reprodução social, incorporando nele a manifestação cultural a 
 
Feitiçaria. Isto permitiu fazer. 
▪ Leitura das diferentes faces do ritual
 
 
▪ Estabelecer limites epistemológicos sobre manifestações socias
 
 
 
 
 
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO 
 
Grupo 1 (com respostas) 
1.Em que consiste a dignidade? 
2.O que é a vida humana? 
 
Respostas 
 
1.A dignidade consiste num atributo socialmente conferido pelos 
indivíduos a si próprios ou pelos outros 
 
2.A vida humana é um dom de Deus que deve ser cuidado e 
respeitado. 
 
 
 
 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
144 
 
 
 
Grupo 2 (respostas detalhadas) 
 
1.A teologia católica romana representa algo de certa forma 
excepcional nesse contexto, porque tem longa história de estudo 
formal, que antecede em séculos a bioética contemporânea 
 
2.o moralmente certo e o errado derivam da autoridadede uma fonte 
que está além, acima e superior ao próprio ser humano, seja como 
mandamento direto, seja como inferência de textos ou de 
interpretações de mensagens e sinais variados 
 
Grupo 3 (exercícios de gabarito) 
1.Define a teologia? 
2.Porque a vida humana precisa ser cuidada e respeitada? 
 
3.Como é que as antropologias orientadas para o transcendente 
definem o ser humano? 
 
 
 
 
UNIDADE 10.3. Ciência e Racionalidade- Cultura, 
tradição e religiosidade no contexto sociocultural do 
Modelos religiosos endógenos & modelos religiosos 
exógenos 
 
 
 
Introdução 
 
 
 
Nesta unidade temática, debruçar-se-á sobre a Ciência e 
Racionalidade- Cultura, tradição e religiosidade no contexto 
sociocultural do Modelos religiosos endógenos & modelos religiosos 
exógenos. Ao completar esta unidade, o estudante deverá ser capaz 
de: 
▪ Caracterizar a ciência e a racionalidade
 
 
▪ Diferenciar cultura da tradição e religião
 
 
Objectivos 
específicos 
 
Desenvolvimento 
 
Segundo Agadjanian (1999) "Antigamente, o governante era um 
escolhido de Deus porque sua legitimidade era dada pela descendência 
divina. As antigas realezas haviam nascido no outro mundo e os reis 
eram um dos mediadores mais importantes entre deuses e homens. 
Hoje, essa legitimidade é feita pela soma de escolhas individuais dos 
cidadãos que votam individualmente e, supomos, autonomamente, e 
não em grupo ou família". Para Medeiros (2007) em sociedades 
tradicionais ela se estabelece pela pertença a um grupo (geralmente 
familiar) e pela posse de uma postura individual que permite evocar 
estes valores tradicionais perante os demais. Já a dominação 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
145 
 
carismática tem sua origem no que se convenciona chamar de prestígio, 
ou seja, um tipo de valorização simbólica do detentor de alguns tipos 
de títulos que legitimam seu destaque. Ex: um sacerdote de um culto 
iniciante e seus seguidores. 
 
A Dominação carismática geralmente se associa aos líderes 
revolucionários neste sentido. E por último a dominação de natureza 
burocrática (ou racional) se apoia na competência técnica com a qual o 
indivíduo maneja as estruturas sociais do aparato burocrático, esteja 
ele no âmbito social em que estiver (mas geralmente referido à 
burocracia do Estado ou a uma grande empresa). 
 
A dominação racional-legal ou burocrática é exercida dentro de um 
quadro administrativo composto de regras e leis escritas que devem ser 
seguidas por todos, não havendo privilégios pessoais. Ela é apoiada na 
crença de uma legitimidade de ordens estatuídas e nos direitos de 
mando dos chamados a exercer autoridade legal. Esta é baseada em 
relações impessoais e os funcionários são incorporados ao quadro 
administrativo, através de um contrato, não por suas características 
pessoais mas por sua competência técnica. 
 
Como diz Gusmão (2008) eles são livres, sendo que suas obrigações se 
limitam aos deveres e objectivos de seus cargos que estão dispostos 
dentro de uma hierarquia administrativa e suas competências são 
rigorosamente fixadas. Realizam seu trabalho e em troca recebem um 
salário fixo e regular que varia conforme a responsabilidade do cargo, 
que é exercido em forma exclusiva ou como principal ocupação. Há 
possibilidade de fazer carreira, podendo subir na hierarquia da 
profissão, através do tempo de serviço ou por competência ou ambos. 
Importante ressaltar que os funcionários trabalham em seus cargos sem 
a apropriação dos mesmos. A dominação burocrática é puramente 
técnica, com o objectivo de atingir o mais alto grau de eficiência e nesse 
sentido é, formalmente, o mais racional conhecido meio de exercer a 
dominação sobre os seres humanos. 
 
Langa (1992) defende que a dominação tradicional repousa na crença das 
tradições, costumes que existem desde de outros tempos. É a legitimidade na 
crença dos indivíduos nas ordens e poderes senhoriais tradicionais. A 
autoridade é exercida e legitimada pela tradição e por normas escritas. 
O quadro administrativo, neste caso, pode ser recrutado não pela 
competência técnica mas por vínculos pessoais e laços de fidelidade. 
Honwana (2002) afirma que as tarefas não estão claramente definidas, 
como na dominação racional, e os privilégios e deveres encontram-se 
sujeitos a modificações de acordo com a vontade do governante. Há 
outros tipos de dominação tradicional que são o: patriarcalismo onde o 
poder é exercido segundo regras fixas de sucessão; e o patrimonialismo 
ou gerontocracia que é autoridade exercida pelos mais velhos, em 
idade, sendo os melhores conhecedores da tradição sagrada. 
 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
146 
 
 
Em um corpo administrativo encontramos o patrimonialismo quando os 
funcionários ligam-se ao chefe por laços de fidelidade pessoais. 
 
A dominação carismática pode ser caracterizada pelo seu carácter de 
tipo extraordinário e irracional. Weber define carisma como uma 
qualidade pessoal considerada extraordinária, atribuída a um indivíduo 
 
que possui poderes ou qualidades sobrenaturais. Esses indivíduos são 
enviados por Deus para o cumprimento de uma missão. Portanto, este 
indivíduo é reconhecido como um líder por seus seguidores e assim a 
autoridade carismática é legitimada. Langa(1992) admite que os 
carismáticos, geralmente são profetas religiosos, políticos, demagogos, 
apresentam, na maioria das vezes, provas de seu poder, fazendo 
milagres ou revelações divinas. Entretanto Weber aponta para 
possibilidade de uma existência permanente de um líder carismático, 
tal fenómeno foi chamado de rotinização do carisma. Para que isso 
ocorra são necessárias mudanças profundas, pois implicam a 
transformação da autoridade carismática em tradicional ou legal. Para 
Honwana (2002) sendo assim as actividades do corpo administrativo 
passam a ser exercidas de forma regular seja através da constituição de 
normas tradicionais seja por promulgação de regras legais. Haverá um 
problema a ser resolvido que é o da sucessão que não será eleito, 
geralmente o líder carismático escolhe entre aqueles de sua confiança 
ou então por hereditariedade, 
 
 
 
Sumário 
 
Nesta unidade temática 10.3 abordou-se as questões relacionadas com 
a Ciência e Racionalidade- Cultura, tradição e religiosidade no contexto 
sociocultural do Modelos religiosos endógenos & modelos religiosos 
exógenos. Isto permitiu fazer: 
 
 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
147 
 
 
Uma elaboração teórico cientifica e
 
 
▪ Construção de realidades a partir de fontes trazidas no texto 
 
 
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO 
 
Grupo 1( com respostas) 
1.O que é patrimonialismo? 
2.O eu é a dominação burocrática? 
 
Respostas 
 
1.O patrimonialismo ou gerontocracia que é autoridade exercida 
pelos mais velhos, em idade, sendo os melhores conhecedores da 
tradição sagrada. 
 
2.A dominação burocrática é puramente técnica, com o objectivo de 
atingir o mais alto grau de eficiência 
 
Grupo 2 (respostas detalhadas) 
 
1.Os carismáticos, geralmente são profetas religiosos, políticos, 
demagogos, apresentam, na maioria das vezes, provas de seu poder, 
fazendo milagres ou revelações divinas 
 
2. Hoje, essa legitimidade é feita pela soma de escolhas individuais 
dos cidadãos que votam individualmente e, supomos, 
autonomamente, e não em grupo ou família 
 
Grupo 3 (exercícios d gabarito) 
 
1.Que tipo de dominação apresenta as sociedades em que o poder é 
passado hereditariamente? 
2. Diferencie a dominação burocrática da carismática 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
148 
 
 
 
 
 
 
 
UNIDADE 10.4. A emergência de sincretismos religiosos e de igrejasmessiânicas em 
Moçambique 
 
 
Introdução 
 
Nesta unidade temática, serão abordados questões relacionadas com 
a emergência de sincretismos religiosos e de igrejas messiânicas em 
Moçambique. Por isso ao completar esta unidade, o estudante 
deverá ser capaz de: 
▪ Saber o que é o sincretismo religioso
 
▪ Descrever os fenómenos sociais
 
 
Objectivos 
específicos 
 
 
 
Desenvolvimento 
 
Para langa (1992) o Sincretismo é a fusão de diferentes doutrinas para 
a formação de uma nova, seja de caráter filosófico, cultural ou religioso. 
O sincretismo mantém características típicas de todas as suas 
doutrinas-base, sejam rituais, superstições, processos, ideologias e etc. 
Esta ideia é também partilhada com Agadjanian (1999) ao afirmar 
também que o processo de sincretismo está intrinsecamente ligado às 
relações de comunicação entre grupos sociais heterogêneos, ou seja, 
com diferentes culturas, costumes e tradições. Quando ocorre o 
contato e se desenvolve um convívio entre estes grupos distintos, 
surgem "adaptações" nos vários aspectos culturais, fazendo com que 
um grupo "absorva" o sistema de crenças do outro. 
 
Para Agadjanian (1999) os, messiânicos, crem em Deus, Criador do 
Universo. Crem que, desde o início da Criação, Deus objetivou 
estabelecer o Céu na Terra e tem atuado continuamente para a 
concretização desse objetivo. Com tal propósito, fez do ser humano o 
 
Seu instrumento para servir ao bem-estar da humanidade, 
condicionando a ele todas as demais criaturas e coisas. 
 
Contudo, Honwana (2002) afirma que crem, portanto, que a história 
humana do passado constitui estágios preparatórios, degraus para se 
alcançar o Céu na Terra. Para cada época, Deus envia o Seu mensageiro 
e as religiões necessárias, cada qual com sua missão. Cremos que, no 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
149 
 
presente, quando o mundo vagueia em tão caótica situação, Deus 
enviou o Mestre Meishu-Sama, fundador da Igreja Messiânica Mundial, 
com a suprema missão de realizar o Seu sagrado objetivo de salvar toda 
a humanidade. Por conseguinte, visando à concretização do Mundo 
Ideal, de eterna paz, perfeitamente consubstanciado na Verdade-Bem-
Belo, empenhamo-nos em fazer sempre o melhor, erradicando a 
doença, a pobreza e o conflito, as três grandes desgraças que assolam 
este mundo.” 
 
Gusmão (2008) vinca que materialismo cultural, desenvolvido por 
Harris mostra que a tecnologia, a economia e a organização social 
constituem o domínio mais adaptativo da cultura, prova disto é que 
estamos em constantes mudanças nesses sectores, nossa tecnologia a 
cada dia está mais avançada, devemos procurar aprender várias línguas 
para conseguir bons empregos e a estratificação social está em 
constante mutação. Vemos a cada dia que passa que a ideologia dos 
sistemas culturais pode ter consequências na adaptação, no controle 
populacional, na manutenção do meio ambiente. 
 
 
 
 
133 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
150 
 
 
 
 
Sumário 
Nesta unidade temática 10.4 falamos sobre a emergência de 
sincretismos religiosos e de igrejas messiânicas em Moçambique, 
como forma de ajudar o estudante a perceber as 
 
▪ Características das igrejas duma forma geral e messiânica 
s em particular
 
 
▪ Absorver através de autocrítica e autodescobrimento os 
conhecimentos adaptáveis a realidade moçambicana
 
 
 
 
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO 
 
Grupo 1 (com respostas) 
1.O que é sincretismo? 
 
2.O que acontece quando ocorre contacto entre os grupos que 
constituem sincretismo? 
 
Respostas 
 
1.O Sincretismo é a fusão de diferentes doutrinas para a formação 
de uma nova, seja de caráter filosófico, cultural ou religioso 
 
2. Quando ocorre o contato e se desenvolve um convívio entre 
estes grupos distintos, surgem "adaptações" nos vários aspectos 
culturais, fazendo com que um grupo "absorva" o sistema de 
crenças do outro 
 
Grupo 2 (respostas detalhadas) 
 
1.Crem que, desde o início da Criação, Deus objetivou estabelecer 
o Céu na Terra e tem atuado continuamente para a concretização 
desse objetivo 
 
2.O processo de sincretismo está intrinsecamente ligado às 
relações de comunicação entre grupos sociais heterogêneos, ou 
seja, com diferentes culturas, costumes e tradições 
 
Grupo 3 (exercícios de gabaritos) 
1.Quem é DEUS? 
2. Em que acreditam os messiânicos? 
 
3. Quais são as três desgraças que assolam o mundo?da Antropologia e sua importância na vida 
humana. 
▪ Definir Antropologia Cultural. 
 Objectivos 
Específicos ▪ Aplicar os conhecimentos da Antropologia Cultural 
para identificar e aplicar as diferentes teorias na resolução prática 
de fenómenos observados. 
 
▪ Reconhecer e interpretar tendências e novas abordagens no 
contexto das dinâmicas sociais. 
 
 
 
 
Quem deveria estudar este módulo 
 
Este Módulo foi concebido para estudantes do 1º ano do curso de 
licenciatura da UnISCED. Poderá ocorrer que, havendo leitores que 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
10 
 
queiram se actualizar e consolidar seus conhecimentos nesta 
disciplina, serão bem-vindos, não sendo necessário para tal se 
inscrever. Mas poderá adquirir o manual de acordo com os 
procedimentos estabelecidos pela UnISCED. 
 
 
 
 
 
 
 
Como está estruturado este módulo 
 
Este módulo de Antropologia Cultural, é para estudantes do 1º ano 
do curso de licenciatura e à semelhança dos restantes módulos do 
UnISCED, está estruturado como se segue: 
Páginas introdutórias 
▪ Um índice completo.
 
 
Uma visão geral detalhada dos conteúdos do módulo, resumindo 
os aspectos-chave que você precisa conhecer para melhor 
estudar. Recomendamos vivamente que leia esta secção com 
atenção antes de começar o seu estudo, como componente de 
habilidades de estudos.
 
 
Conteúdo desta Disciplina / módulo 
 
Este módulo está estruturado em Temas. Cada tema, por sua vez 
comporta certo número de unidades temáticas ou simplesmente 
unidades. Cada unidade temática se caracteriza por conter uma 
introdução, objectivos, conteúdos. 
 
No final de cada unidade temática ou do próprio tema, são 
incorporados antes o sumário, exercícios de auto-avaliação, só 
depois é que aparecem os exercícios de avaliação. 
 
Os exercícios de avaliação têm as seguintes características: Puros 
exercícios teóricos/Práticos, Problemas não resolvidos e actividades 
práticas, algumas incluindo estudo de caso. 
 
 
 
 
 
Outros recursos 
 
A equipa dos académicos e pedagogos da UnISCED, pensando em si, 
num cantinho, recôndito deste nosso vasto Moçambique e cheio de 
dúvidas e limitações no seu processo de aprendizagem, apresenta 
uma lista de recursos didácticos adicionais ao seu módulo para você 
explorar. Para tal a UnISCED disponibiliza na biblioteca do seu centro 
de recursos mais materiais de estudos relacionados com o seu curso 
como: Livros e/ou módulos, CD, CD-ROOM, DVD. Para além deste 
material físico ou electrónico disponível na biblioteca, pode ter 
acesso a Plataforma digital moodle para alargar mais ainda as 
possibilidades dos seus estudos. 
 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
11 
 
 
Auto-avaliação e Tarefas de avaliação 
 
Tarefas de auto-avaliação para este módulo encontram-se no final 
de cada unidade temática e de cada tema. As tarefas dos exercícios 
de auto-avaliação apresentam duas características: primeiro 
apresentam exercícios resolvidos com detalhes. Segundo, exercícios 
que mostram apenas respostas. 
 
Tarefas de avaliação devem ser semelhantes às de auto-avaliação 
mas sem mostrar os passos e devem obedecer o grau crescente de 
dificuldades do processo de aprendizagem, umas a seguir a outras. 
Parte das tarefas de avaliação será objecto dos trabalhos de campo 
a serem entregues aos tutores/docentes para efeitos de correcção e 
subsequentemente nota. Também constará do exame do fim do 
módulo. Pelo que, caro estudante, fazer todos os exercícios de 
avaliação é uma grande vantagem. 
 
Comentários e sugestões 
 
Use este espaço para dar sugestões valiosas, sobre determinados 
aspectos, quer de natureza científica, quer de natureza didáctico-
Pedagógica, etc., sobre como deveriam ser ou estar apresentadas. 
Pode ser que graças as suas observações que, em gozo de confiança, 
classificamo-las de úteis, e no próximo módulo venham a ser 
melhoradas. 
 
 
Ícones de actividade 
 
Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones nas 
margens das folhas. Estes ícones servem para identificar diferentes 
partes do processo de aprendizagem. Podem indicar uma parcela 
específica de texto, uma nova actividade ou tarefa, uma mudança 
de actividade, etc. 
 
 
 
 
Habilidades de estudo 
 
O principal objectivo deste campo é o de ensinar aprender a 
aprender. Aprender aprende-se. 
 
Durante a formação e desenvolvimento de competências, para 
facilitar a aprendizagem e alcançar melhores resultados, implicará 
empenho, dedicação e disciplina no estudo. Isto é, os bons 
resultados apenas se conseguem com estratégias eficientes e 
eficazes. Por isso é importante saber como, onde e quando estudar. 
Apresentamos algumas sugestões com as quais esperamos que caro 
estudante possa rentabilizar o tempo dedicado aos estudos, 
procedendo como se segue: 
 
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12 
 
1º Praticar a leitura. Aprender a Distância exige alto domínio de 
leitura. 
 
2º Fazer leitura diagonal aos conteúdos (leitura corrida). 
 
3º Voltar a fazer leitura, desta vez para a compreensão e assimilação 
crítica dos conteúdos (ESTUDAR). 
 
 
 
 
 
 
4º Fazer seminário (debate em grupos), para comprovar se a sua 
aprendizagem confere ou não com a dos colegas e com o padrão. 
 
5º Fazer TC (Trabalho de Campo), algumas actividades práticas ou as 
de estudo de caso se existirem. 
 
IMPORTANTE: Em observância ao triângulo modo-espaço-tempo, 
respectivamente como, onde e quando...estudar como foi referido 
no início deste item, antes de organizar os seus momentos de estudo 
reflicta sobre o ambiente de estudo que seria ideal para si: Estudo 
melhor em casa/biblioteca/café/outro lugar? Estudo melhor à 
noite/de manhã/de tarde/fins-de-semana/ao longo da semana? 
Estudo melhor com música/num sítio sossegado/num sítio 
barulhento!? Preciso de intervalo em cada 30 minutos, em cada 
hora, etc. 
 
É impossível estudar numa noite tudo o que devia ter sido 
estudado durante um determinado período de tempo; Deve estudar 
cada ponto da matéria em profundidade e passar só ao seguinte 
quando achar que já domina bem o anterior. 
 
 
Precisa de apoio? 
 
Caro estudante, temos a certeza que por uma ou por outra razão, o 
material de estudos impresso, lhe pode suscitar algumas dúvidas 
como falta de clareza, alguns erros de concordância, prováveis erros 
ortográficos, falta de clareza, fraca visibilidade, páginas trocadas ou 
invertidas, etc.). Nestes casos, contacte os serviços de atendimento 
e apoio ao estudante do seu Centro de Recursos (CR), via telefone, 
sms, E-mail, se tiver tempo, escreva mesmo uma carta participando 
a preocupação. 
 
Uma das atribuições dos Gestores dos CR e seus assistentes 
(Pedagógico e Administrativo), é de monitorar e garantir a sua 
aprendizagem com qualidade e sucesso. Dai a relevância da 
comunicação no Ensino a Distância (EAD), onde o recurso as TIC´s se 
tornam incontornáveis: entre estudantes, estudante – Tutor, 
estudante – CR, etc. 
 
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13 
 
As sessões presenciais são um momento em que você caro 
estudante, tem a oportunidade de interagir fisicamente com staff do 
seu CR, com tutores ou com parte da equipa central da UnISCED 
indigitada para acompanhar as sua sessões presenciais. Neste 
período pode apresentar dúvidas, tratar assuntos de natureza 
pedagógica e/ou administrativa. 
 
O estudo em grupo, que está estimado para ocupar cerca de 30% 
do tempo de estudos a distância, é de extrema importância, na 
medida em que permite lhe situar, em termos do grau de 
aprendizagem com relação aos outros colegas. 
 
 
 
 Desta maneira ficará a saber se precisa de apoio ou precisa de 
apoiar aos colegas. Desenvolver hábito de debater assuntos 
relacionados com os conteúdos programáticos,constantes nos 
diferentes temas e unidade temática, no módulo. 
 
 
Tarefas (avaliação e auto-avaliação) 
 
O estudante deve realizar todas as tarefas (exercícios, actividades e 
auto−avaliação), contudo nem todas deverão ser entregues, mas é 
importante que sejam realizadas. As tarefas devem ser entregues 
duas semanas antes das sessões presenciais seguintes. 
 
Para cada tarefa serão estabelecidos prazos de entrega, e o não 
cumprimento dos prazos de entrega, implica a não classificação do 
estudante. Tenha sempre presente que a nota dos trabalhos de 
campo conta e é decisiva para ser admitido ao exame final da 
disciplina/módulo. 
 
Os trabalhos devem ser entregues ao Centro de Recursos (CR) e os 
mesmos devem ser dirigidos ao tutor/docente. 
 
 
Podem ser utilizadas diferentes fontes e materiais de pesquisa, 
contudo os mesmos devem ser devidamente referenciados, 
respeitando os direitos do autor. 
 
O plágio1é uma violação do direito intelectual do(s) autor(es).Uma 
transcrição à letra de mais de 8 (oito) palavras do texto de um autor, 
sem o citar é considerada plágio. A honestidade, humildade 
científica e o respeito pelos direitos autorais devem caracterizar a 
realização dos trabalhos e seu autor (estudante da UnISCED). 
 
 
Avaliação 
 
Muitos perguntam: Com é possível avaliar estudantes à distância, 
estando eles fisicamente separados e muito distantes do 
docente/tutor!? Nós dissemos: Sim é muito possível, talvez seja uma 
avaliação mais fiável e consistente. 
 
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14 
 
Você será avaliado durante os estudos à distância que contam com 
um mínimo de 90% do total de tempo que precisa de estudar os 
conteúdos do seu módulo. Quando o tempo de contacto presencial 
conta com um máximo de 10%) do total de tempo do módulo. A 
avaliação do estudante consta de forma detalhada do regulamento 
de avaliação. 
 
Os trabalhos de campo por si realizados, durante estudos e 
aprendizagem no campo, pesam 25% e servem para a nota de 
frequência para ir aos exames. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Os exames são realizados no final da cadeira, disciplina ou módulo e 
decorrem durante as sessões presenciais. Os exames pesam no 
mínimo 75%, o que adicionado aos 25% da média de frequência, 
determinam a nota final com a qual o estudante conclui a cadeira. 
 
A nota de 10 (dez) valores é a nota mínima de conclusão da cadeira. 
Nesta cadeira o estudante deverá realizar pelo menos 2 (dois) 
trabalhos e 1 (um) (exame). 
 
Algumas actividades práticas, relatórios e reflexões serão utilizados 
como ferramentas de avaliação formativa. 
 
Durante a realização das avaliações, os estudantes devem ter em 
consideração a apresentação, a coerência textual, o grau de 
cientificidade, a forma de conclusão dos assuntos, as 
recomendações, a identificação das referências bibliográficas 
utilizadas, o respeito pelos direitos do autor, entre outros. 
 
Os objectivos e critérios de avaliação constam do Regulamento 
de Avaliação. 
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15 
 
 
 
 
 
 
1
Plágio - copiar ou assinar parcial ou totalmente uma obra literária, 
propriedade intelectual de outras pessoas, sem prévia autorização.
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16 
 
 
TEMA 1: FUNDAMENTOS DAS CIENCIAS SOCIAIS 
 
UNIDADE 1.1. Introdução Geral 
 
UNIDADE 1.2. Constituição e desenvolvimento das ciências 
sociais UNIDADE 1.3.Pluralidade, diversidade e 
interdisciplinaridade nas ciências sociais 
UNIDADE 1.4. Ruptura com senso comum 
 
 
 
UNIDADE 1.1. Introdução Geral 
 
 
Introdução 
 
 
 
As ciências sociais são um ramo da ciência que diferentemente de 
outros, se ocupa a estudar os fenómenos sociais que compenetram a 
essência do Homem. 
 
Em toda sua existência o ser humano é um ser social, no sentido de 
que ele próprio assegura a criação de laços sociais e que de forma 
recíproca depende desses laços para se constituir e completar-se 
 
 
 
▪ Conhecer os fundamentos da antropologia duma forma geral 
e cultural em particular;
 
▪ Acompanhar as dinâmicas sociais seus efeitos na essência do 
Homem;
 
 
▪ Identificar a importância das ciências sociais para o Homem 
como indivíduo e como grupo.
 
 
Desenvolvimento 
 
Muitos estudiosos Assis (2008), Batalha (2004), Nunes (2005) quando 
falam sobre o conceito de ciência, convergem na sua maioria na 
palavra conhecimento, no sentido de que, ciência é conhecimento no 
seu sentido lato, isto é, um conhecimento organizado. De acordo com 
Peirano (1986) o caracteriza a ciência não é só o modo como são os 
conteúdos dos mesmos conhecimentos ou organização dos discursos, 
proferidos na oralidade, como uma das formas de exteriorização do 
conhecimento, mas o próprio discurso científico é que possui 
características próprias. 
 
A ideia de Peirano (1986) é corroborada com Maía (2000) quando 
falam de que não se faz ciência sobre o geral, mas faz-se sim, ciência 
Objectivos 
específicos 
 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
17 
 
quando se delimita aquilo que se quer estudar, o objecto de que se 
pretende estudar. 
 
 O objecto de estudo não é apenas delimitado, pode ser construído, 
pois trata-se de algo ideal, de uma representação. Esta delimitação é 
da ordem do discurso e não da experiência. 
 
Como se pode depreender no exemplo demonstrado acima, a 
delimitação é resultado da experiência humana na sua relação com os 
diferentes elementos que compõem e constituem a natureza. E 
também, os resultados das sistematizações dos discursos podem ser 
verificados em condições experimentais, como é o caso dos 
laboratórios. O que se procura verificar na essência é se o discurso que 
se fez é verdadeiro, ou seja, se o que se disse é condizente com a 
realidade. 
 
Para tal emprega-se o termo hipótese, que significa entre outras 
palavras, se é um discurso que está, assente em alguma base verdadeira 
na vida real, e esta só existe ou se confirma depois da verificação pela 
experiência -Método (NUNES 2005; ITURRA, 1987) 
 
As Ciências Sociais fazem parte do grupo de saberes intitulado Ciências 
Humanas, que apresentam métodos próprios de investigação dos 
fenómenos observados. As Ciências Sociais nos ajudam a "limpar a 
lente" para enxergarmos melhor as diferentes realidades com que o 
homem enquanto individuo e ser social convive (PEIRANO, 1986). 
 
Portanto, a ciência não é simplesmente o conhecimento organizado ou 
sistematizado das relações objectivas da natureza ou dos homens, ela 
 
é uma interpretação da realidade, que supõe uma certa bagagem 
conceitual e teórica sem a qual tudo permaneceria mudo. 
 
 
 
Sumário 
 
Nesta Unidade temática 1.1 estudamos e discutimos fundamentos 
das ciências sociais como forma de assegurar aos principiantes em 
particular e dos interessados em geral, um bom “mergulho” na área 
ou temática da antropologia cultural: 
 
1. Os contornos sobre definição da ciência 
 
2. Objecto de estudo 
 
3. Diferentes mecanismos investigativos nas ciências sociais 
 
 
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO 
 
Grupo 1 (com respostas) 
1. O que é ciência? 
2. Como se faz a ciência? 
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18 
 
3. Porquê se usam experimentos nas ciências? 
 
Respostas 
 
 
1. Conhecimento 
2. Através da delimitação do discurso/objecto de estudo 
3. Para provar os factos. 
 
Grupo 2 (Respostas detalhadas) 
1. No seusentido lato é conhecimento organizado 
2. A ciência não se faz sobre o geral, mas sim delimitando 
os discursos, aquilo que se pretende estudar 
3. Para verificar se o discurso que se fez é verdadeiro 
 
Grupo 3 (Exercícios de gabarito) 
1. O que é um objecto de estudo? 
2. Qual é a razão de envolver o termo “ hipótese” nas ciências? 
3. O que significa afirmar: … As Ciências Sociais nos ajudam a "limpar 
a lente" para enxergarmos melhor as diferentes realidades com que o 
homem enquanto individuo e ser social convive… 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
19 
 
 
 
UNIDADE 1.2. Constituição e desenvolvimento das ciências sociais 
 
 
Introdução 
 
As ciências sociais se revestem de grande importância para o ser 
humano, como único animal pensante capaz de obter o 
pensamento científico para elaboração de uma visão crítico e 
reflexiva sobre a sociedade. 
 
 
 
 
Objectivos 
▪
 Caracterizar a neutralidade nas ciências: 
 
 
 
específicos 
▪
 Conhecer as diferentes fontes de conhecimento 
 
 
 
 Desenvolvimento 
 
 Batalha (2004) afirma que a prática da ciência está ligada a um 
 
 projecto que nunca é neutro e desinteressado, mas que se insere na 
 
 história e nos conflitos dos homens. Para ele a, o objectivo das ciências 
 
 sociais perpassaria em reconhecer o conhecimento como 
 
 característica do ser humano, identificar as características do senso 
 
 comum, distinguir o conhecimento científico do senso comum bem 
 
 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
20 
 
 
 
pensamento científico para a elaboração de uma visão crítico-reflexiva 
da sociedade. 
 
De acordo com Gusmão (2008) e Marconi (2006) o homem é o único 
animal que vive no mundo e pensa sobre o mundo em que vive. Ao 
pensar, ele formula explicações acerca da realidade e dos fenómenos 
que o cerca. Portanto, é no ato de pensar que o homem conhece a si e 
o mundo, manifestando isso através da linguagem. 
 
Existem várias formas do homem buscar ou obter conhecimento, 
 
nomeadamente: 
 
a)O mito 
 
• O mito é uma narrativa, uma fala, que contém em si diversas 
ideias. É uma mensagem cifrada, que não é entendida 
facilmente por quem não está dentro da cultura de que o mito 
faz parte; 
 
• O mito não é objectivo, assim como não se situa no tempo, fala 
das origens, sem, no entanto, referir-se ao contexto histórico. 
Trata de tempos fabulosos; 
 
• Os mitos dão forma e aparência explícita a uma realidade que 
as pessoas sentem intuitivamente; 
 
• O mito pode também transmitir, de geração a geração, uma 
espécie de conhecimento, muitas vezes sobre a origem do 
mundo, algumas sobre processos de cura, outras sobre 
interpretações de fenómenos da natureza e, ainda, sobre a 
sociedade e a relação entre os homens, através de histórias 
mitológicas. Quem não ouviu falar do mito do Cupido, que fala 
 
do enamoramento? 
 
b)Conhecimento religioso 
 
• Esse tipo de conhecimento do mundo se dá a partir da 
separação entre a esfera do sagrado e do profano; 
 
• As religiões também apresentam, de forma geral, uma narrativa 
sobrenatural para o mundo, porém, para aderir a 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
21 
 
 
 
uma religião, é condição fundamental crer ou ter fé nessa 
narrativa; 
 
• Além disso, é uma parte essencial da crença religiosa a fé no fato 
de que essa narrativa sobrenatural pode proporcionar ao 
homem uma garantia de salvação, bem como prescrever 
maneiras ou técnicas de obter e conservar essa garantia, que 
são os ritos, os sacramentos e as orações. 
 
 
c)Conhecimento filosófico 
 
• De modo geral, o conhecimento filosófico pode ser traduzido 
como amor à sabedoria, à busca do conhecimento. 
 
• A filósofa Lizie Cristine da Cunha definiu o saber filosófico como 
aquele que trata de compreender a realidade, os problemas 
mais gerais do homem e sua presença no universo. 
 
• Segundo a autora, a Filosofia interroga o próprio saber e 
transforma-o em problema. Por isso, é, sobretudo, especulativa, 
no sentido de que suas conclusões carecem de prova material 
da realidade. 
 
• Mas, embora a concepção filosófica não ofereça soluções 
definitivas para numerosas questões formuladas pela mente, 
ela é traduzida em ideologia. 
 
• E como tal influi directamente na vida concreta do ser 
humano, orientando sua actividade prática e intelectual. 
 
 
d)Senso comum 
 
• Retomando a ideia de que as coisas por si só não têm sentido, 
sendo este atribuído a elas pelos homens, tratemos agora do 
senso comum, que é algum sentido dado colectivamente às 
coisas vividas; 
 
• Para se orientar no mundo, o ser humano assume como certas 
 
e seguras diversas coisas, situações e relações entre fatos, 
coisas e situações.
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
22 
 
 
 
• Estabelece, assim, sistemas de discursos sobre o que tem 
vivido, isto é, sistemas de conhecimento; 
 
• Nem sempre o senso comum representa a realidade. Às vezes, 
 
conceitos erróneos são formulados e adoptados por 
colectividades. 
 
Peirano (1996) citando o pensador escocês David Hume (1711-1776), 
diz que propôs um cuidado especial ao se tratar da causalidade, isto é, 
das relações de causa e efeito entre os eventos vivenciados. Adverte ele 
que o fato de um evento acontecer depois do outro não significa 
necessariamente que haja relação de causa e efeito entre eles. 
 
É o caso do cidadão fumante que, respeitoso pelas regras de convívio, 
não fuma em ambientes em que haja outras pessoas, como um ônibus. 
Ele costuma esperar seu ônibus sem acender um cigarro, pois logo o 
ônibus chegará, deixando, assim, o prazer de fumar para depois da 
viagem. Dando contribuição sobre a temática, Assis (2008) traz 
experiências começando por afirmar que se o ônibus, porém, demora a 
chegar, a falta de nicotina em seu organismo o deixará em estado de 
ansiedade que o levará a acender um cigarro. Como já se terá passado 
algum tempo de espera, o ônibus provavelmente já estará próximo e, 
assim, nosso amigo será surpreendido antes de acabar o cigarro. 
 
Como em sua experiência diária, pouco depois de acender o cigarro, é 
surpreendido com a aparição do ônibus, poderia supor que o fato de 
acender o cigarro causa a chegada do ônibus. O fenómeno observado 
por várias pessoas poderia estabelecer uma crença comum na 
causalidade entre o ato de acender o cigarro e o ônibus chegar. Aí está 
um caso de armadilha que o senso comum pode conter. 
 
Algo simples como observar coisas como esta contribuiu muito para que 
a humanidade estabelecesse mais uma diferença fundamental entre 
formas de pensamento humano, entre o senso comum e a ciência. 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
23 
 
 
 
 
 
Sumário 
 
Nesta Unidade temática 1.2 estudamos de uma forma geral as 
fontes de conhecimento e sua contribuição para o pensamento 
científico, focalizados em dois aspectos principais: 
 
 
1. Da prática a teoria 
 
2. As diferentes fontes de conhecimento 
 
 
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO 
 
Grupo 1 (com respostas) 
1. Qual é a importância do pensamento para o ser humano? 
2. Quais são os diferentes tipos de conhecimento que conhece? 
3. Porquê o mito não é objectivo? 
 
 
Respostas 
 
1.para obtenção do conhecimento científico 
 
2. Mito, religioso, filosófico, senso comum, etc. 
 
3. Porque ele não é objectivo na apresentação e localização no 
espaço e tempo dos factos 
 
 
Grupo 2 (Respostas detalhadas) 
 
1.Formular explicações acerca da realidade e dos fenómenos que o 
 
cerca 
 
2. mito, religioso, filosófico, senso comum, etc. 
 
3.Dá forma e aparência explicativa a uma realidadeque as pessoas 
 
sentem intuitivamente. 
 
 
Grupo 3 (exercícios de gabarito) 
 
1. Caracteriza o mito como fonte de conhecimento 
 
2. Quais são as diferenças entre o mito e conhecimento religioso? 
 
3. O filme é uma fonte de conhecimento?
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24 
 
 
 
 
 
UNIDADE 1.3. Pluralidade, diversidade e interdisciplinaridade nas 
ciências sociais 
 
 
Introdução 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Objectivos 
 
específicos 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
As ciências sociais concentram-se no ser humano como objecto de 
estudo. Daí surgem especificidades emanadas pela sua característica 
base de ser um ser social. Nesta unidade temática pretende-se que 
os estudantes demonstrem alguma flexibilidade sobre o pensamento 
e respeito pela pluralidade, diversidade e interdisciplinaridade nas 
ciências sociais. 
 
▪ Caracterizar a pluralidade, diversidade e multidisciplinaridade 
nas ciências sociais
 
 
▪ Saber interpretar os diferentes fenómenos observados no âmbito 
da pluralidade, diversidade e interdisciplinaridade nas ciências
 
 
sociais
 
 
 
 
Desenvolvimento 
 
Marconi (2006) advoga que ao contrário das Ciências Naturais, as 
Ciências Sociais lidam não apenas com o que se chama de realidade, 
com fatos exteriores aos homens, mas igualmente com as 
interpretações que são feitas sobre a realidade. 
 
Neste sentido, no que se refere ao objecto de estudo e, consequentemente 
ao método de investigação, as ciências sociais diferem bastante das 
ciências naturais. Peirano (1986) diz que tal diferença, aliás, suscita 
intensos debates quanto à validade e o rigor científico do conhecimento 
produzido pelas ciências sociais. Os argumentos utilizados têm como 
princípio epistemológico a dificuldade de reconhecê-las como verdadeiras 
ciências, à medida que elas tratam com eventos complexos, de difícil 
determinação, uma vez que envolvem valores e significados socialmente 
dados. Outra questão reside no fato de estar o pesquisador social, de 
alguma forma, envolvido com os fenómenos que pretende investigar 
dificultando a objectividade e a neutralidade científica (Marconi, 2006: 
Peirano 1986) 
 
De acordo com os mesmos autores, afirmam que é possível, 
percebermos, portanto, que as ciências sociais não podem ser 
enquadradas em modelos de cientificidade de outras ciências, pois 
possuem uma racionalidade e especificidades próprias, relativas ao seu 
objecto de estudo. 
 
Nessa perspectiva, tal campo de saber não comporta métodos ou 
técnicas rígidas e rigorosas, nem 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
25 
 
 
fórmulas de aplicação imediata que garantam a obtenção de resultados 
objectivos e exactos. Assim, o que mais importa é a interpretação dos 
fenómenos, ou seja, não apenas os fatos por si só, mas a forma como 
se constituem esses fatos. O sujeito (o pesquisador) deve ser 
considerado no contexto no qual estes fatos ou fenómenos se 
apresentam, pois ele também faz parte do objecto que investiga. 
 
Assim, para que se possa interpretar, analisar, investigar nessa área do 
conhecimento, é necessário um suporte teórico que fundamente 
determinadas opções metodológicas, não podendo ser considerada 
apenas a aplicação de determinada técnica, pois isto não garante por si 
só a obtenção de resultados válidos. 
 
As áreas constitutivas das ciências sociais: Sociologia, Antropologia e 
Ciência Política. 
 
Marconi (2006) aponta que a Sociologia estuda o homem e o universo 
sociocultural, analisando as inter-relações entre os diversos fenómenos 
sociais. Neste campo de conhecimento, a vida social é analisada a partir 
de diferentes perspectivas teóricas, notadamente as que têm como 
base conceitual os estudos desenvolvidos por Émile Durkheim, Max 
Weber e Karl Marx. Gusmão (2008) diz que a partir dessas matrizes 
teóricas, estudam-se os fatos sociais, as acções sociais, as classes 
sociais, as relações sociais, as relações de trabalho, as relações 
económicas, as instituições religiosas, os movimentos sociais etc. 
 
Assis (2008) e Gusmão (2008) afirmam que na Antropologia privilegiam-
se os aspectos culturais do comportamento de grupos e comunidades. 
Questões cruciais para o entendimento da vida em grupo, como 
alteridade, diversidade cultural, etnocentrismo, relativismo cultural são 
tratadas por essa ciência, que, em seus primórdios estudava povos e 
grupos geográfica e culturalmente distantes dos povos ocidentais. Ao 
longo de seu desenvolvimento, os antropólogos passaram a analisar 
grupos sociais relativamente próximos, buscando transformar o 
exótico, o distante, em familiar. 
 
Assim, diz Maía (2000), em sua história, a Antropologia revelou estudos 
notáveis sobre sociedades indígenas e sociedades camponesas, 
identificando suas diferentes visões de mundo, sistemas de parentesco, 
formas de classificação, cosmologias, linguagens etc. Também 
desenvolveu uma série de estudos sobre grupos sociais urbanos, 
enfatizando a diferenciação entre seus indivíduos, com base em 
critérios de raça, cor, etnia, género, orientação sexual, nacionalidade, 
regionalidade, afiliação religiosa, ideologia política, sistemas de crenças 
e valores, estilos de vida etc. 
 
De acordo com o mesmo autor, na Ciência Política analisam-se as 
questões ligadas às instituições políticas. Conceitos de poder, 
autoridade, dominação, autoridade são estudados por essa ciência. 
Analisam-se também as diferenças entre povo, nação e governo, bem 
como o papel do Estado com instituição legitimamente reconhecia 
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26 
 
como a detentora do monopólio da dominação e do controle de 
determinado território. 
 
O conhecimento científico da vida social não se baseia apenas no fato, 
mas na concepção do fato e na relação entre a concepção e o fato. Por 
estudar a acção dos homens em sociedade, de seus símbolos, sua 
linguagem, seus valores e cultura, das aspirações que os animam e das 
alterações que sofrem, as Ciências Sociais constituem ferramenta 
importante para o desenvolvimento de compreensão crítico-reflexivo 
da realidade (PEIRANO, 1986, Maía 2000) 
 
Por essa razão, cada vez mais as Ciências Sociais são utilizadas em 
diversos campos da actividade humana. Campanhas publicitárias, 
campanhas eleitorais, elaboração de políticas públicas, até mesmo a 
programação de redes de rádio e televisão levam cada vez mais em 
conta resultados de investigações sócia antropológicas, à medida que 
estas buscam entender as pessoas envolvidas em cada uma dessas 
actividades, suas crenças, valores e ideias. 
 
Com as mudanças cada vez mais rápidas e profundas dos padrões 
morais e culturais das sociedades contemporâneas, mais relevantes se 
tornam as análises que visam compreendê-las. Deslocamentos de 
pessoas e grupos motivados pelo processo de globalização da 
economia, que intensificou os fluxos migratórios em todo planeta, 
trocas culturais proporcionadas pelo estabelecimento de uma? 
sociedade em rede, novos modelos de família e conjugalidade, novas 
configurações no campo religioso, entre outros, constituem temas de 
trabalhos de cientistas sociais contemporâneos. Segundo Maía (2000) 
esses trabalhos são utilizados frequentemente como fonte de reflexão 
por governos, sociedade civil e indivíduos que buscam desenvolver sua 
capacidade de compreensão dos acontecimentos e planeamento de 
acções com vistas à actuação na vida social. 
 
Sabemos que vários problemas que nos afectam individualmente são 
compartilhados por outros tantos indivíduos, constituindo-se, por assim 
dizer, problemas sociais. Entretanto, existe uma diferença entre 
problemas sociais e problemas sociológicos. 
 
O problema social designa comummente algo que atinge um grupo, ou 
uma categoria de indivíduos, as drogas, porexemplo. Iturra (1987) diz 
que embora a classificação de um problema social possa ser subjectiva, 
afinal de contas, o que é um problema para nossa cultura pode não ser 
em outra. Em outras palavras, o problema social é uma situação que 
afecta um número significativo de pessoas e é julgada por estas ou por 
um número significativo de outras pessoas como uma fonte de 
dificuldade ou infelicidade e considerada susceptível de melhoria. 
 
Já os problemas sociológicos são o objecto de estudo da Sociologia 
enquanto ciência, a qual se debruça sobre esses para compreender suas 
características gerais. Como vimos anteriormente, a Sociologia estuda 
os fenómenos sociais, sendo eles percebidos como problemas sociais 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
27 
 
ou não, lançando mão de uma observação sistemática e pormenorizada 
das organizações e relações sociais (BATALHA, 2004). 
 
Maía (2000) diz que o problema sociológico é uma questão de 
conhecimento científico que se suscita e resolve no âmbito da 
sociologia. Ao contrário do que parece formular correctamente um 
problema destes constitui tarefa muito difícil, em regra só acessível a 
quem é especialista da ciência em causa e que seja dotado de uma 
imaginação viva e treinado na pesquisa. 
 
Em outras palavras, de acordo com Maía (2000) nem todas as questões 
suscitadas acerca das matérias de que se ocupam as ciências sociais 
constituem problemas científicos, mas podem ser problemas sociais. Só 
são problemas científicos as questões formuladas de tal modo que as 
respostas a elas confirmem, ampliem ou modifiquem o que se tinha por 
conhecido anteriormente. Isto significa dizer que apenas os cientistas 
estão em condições de enunciá-las e resolvê-las; que a sua formulação 
como a sua solução pressupõem um esforço metódico de pesquisa. 
 
Podemos concluir, portanto, que todo problema social pode ser um 
problema sociológico, mas nem todo problema sociológico é um 
problema social. 
 
 
 
 
Sumário 
 
Nesta Unidade temática 1.3 estudamos de uma forma aprofundada 
as questões ligadas a compreensão de uma das características básicas 
sobre as ciências sociais: 
▪ Pluralidade
 
 
▪ Diversidade
 
 
▪ Interdisciplinaridade
 
 
 
 
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO 
 
Grupo 1 (com respostas) 
 
1. O que é um problema científico? 
 
2. Quando é que um problema individual se transforma em 
social? 
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28 
 
 
 
Respostas 
 
1. Quando a formulação obedece os procedimentos científicos 
 
2. Quando o problema é sentido também pela sociedade 
 
 
Grupo 2 (Respostas detalhadas) 
 
1.um problema é científico quando as questões são formuladas de tal 
modo que as respostas a elas confirmam, ampliam ou modificam o que se 
tinha por conhecido anteriormente. 
 
2. Se são compartilhados por outros indivíduos constituem-se assim de 
problemas sociais 
 
 
Grupo 3 (Exercícios de gabarito) 
 
1.Qual é a diferença entre um pesquisador social e o das ciências 
naturais? 
 
2. Em que se baseia o conhecimento científico da vida social? 
 
3.As ciências sociais podem ser usadas/utilizadas nas campanhas 
eleitorais? 
 
4.Qual é a diferença entre problemas sociológicas e problemas sociais? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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UNIDADE 1.4. Ruptura com senso comum 
 
 
Introdução 
 
 
 
Nesta unidade temática pretende-se que os estudantes tenham um 
grande aprofundamento sobre o senso comum e seus contornos 
evolucionistas do termo em função das dinâmicas sociais. 
 
▪
 Aprofundar o senso comum 
 
 
▪
 Conhecer a evolução do conceito 
 
Objectivos 
▪
 Identificar mecanismos de aplicação na vida social 
 
 
 
específicos 
 
 
 
 
Desenvolvimento 
 
É interessante observar que linguagem e pensamento são coisas 
indissociáveis, não se pode conceber uma sem a outra. Os conceitos 
nascem nos quotidianos (senso comum) são apropriados pelo meio 
científico e tornam-se científicos ao romperem com esse quotidiano, com 
esse senso comum. O vasto conjunto de concepções geralmente aceitas 
como verdadeiras em determinado meio social recebe o nome de senso 
comum. 
 
Retomando a ideia de Francelin (2004) que as coisas por si só não têm 
sentido, sendo este atribuído a elas pelos homens, tratemos agora do 
senso comum, que é algum sentido dado colectivamente às coisas vividas. 
Para se orientar no mundo, o ser humano assume como certas e seguras 
diversas coisas, situações e relações entre factos, coisas e situações. 
Estabelece, assim, sistemas de discursos sobre o que tem vivido, isto é, 
sistemas de conhecimento. 
 
Nem sempre o senso comum representa a realidade. Às vezes, conceitos 
erróneos são formulados e adoptados por colectividades. É o caso do 
cidadão fumante que, respeitoso pelas regras de convívio, não fuma em 
ambientes em que haja outras pessoas, como um ônibus. Algo simples 
como observar coisas como esta contribuiu muito para que a humanidade 
estabelecesse mais uma diferença fundamental entre formas de 
pensamento humano, entre o senso comum e a ciência. 
 
Nesse sentido, a ciência moderna "construiu-se contra o senso comum", 
considerando-o "superficial, ilusório e falso" e a ciência pós-moderna vem 
para reconhecer os valores ("virtualidades") do senso comum que 
enriquecem a "nossa relação com o mundo", ou seja, o senso comum 
também produz conhecimento, mesmo que ele seja um "conhecimento 
mistificado e mistificador". Mas, apesar disso e apesar de ser conservador, 
UnISCED, Curso de Licenciatura: 2° Ano Modulo de Antropologia Cultural de Moçambique 
 
30 
 
tem uma dimensão utópica e libertadora que pode ser ampliada através 
do diálogo com o conhecimento científico" (FRANCELIN , 2004) 
 
A aproximação do conhecimento do senso comum ao conhecimento 
científico com a da descrição de algumas características do próprio senso 
comum, tais como causa e intenção; prática e pragmática; transparência 
e evidência; superficialidade e abrangência; espontaneidade; 
flexibilidade; persuasão. 
 
Como boa parte dos pensadores pós-modernos, Santos (2000) não deixa 
de mencionar a influência exercida em sua obra pelo pensamento 
bachelardiano e, seguindo o pensamento deste último, diz que o 
conhecimento científico somente é possível mediante o rompimento com 
o conhecimento vulgar, com o senso comum. A ciência ", a ciência 
constrói-se, pois, contra o senso comum, e para isso dispõe de três actos 
epistemológicos fundamentais: a ruptura, a construção e a constatação" 
(Santos, 2000, p.31). 
 
De acordo com Francelin (2004) a caracterização do senso comum não 
passa, necessariamente, por critérios de verdade ou falsidade, mas sim 
pela "falta de fundamentação sistemática", ou seja, recebem e emitem 
opiniões sem saber por que e o que significam. São processos acríticos nos 
quais um indivíduo concebe um conjunto de informações como 
conhecimentos, sem saber realmente o que significam, e os utiliza na 
prática quotidiana como se fossem verdadeiros e definitivos, sendo estes 
últimos apenas "conhecimentos provisórios e parciais" (Francelin, 2004 
citando Cotrim, 2002). No meio científico, os conhecimentos também 
podem ser provisórios e parciais, podem dar lugar a novos conhecimentos 
que surgem ao longo do tempo através de novas pesquisas. 
 
Francelin (2004) afirma que a grande diferença é que no meio científico 
deve haver plena consciência de que uma pesquisa que leva a um novo 
conhecimento não é definitiva. O senso comum, portanto, descarta essa 
premissa, pois as opiniões obtidas podem ser emitidas como verdadeiras 
e definitivas. A ciência, aparentemente, busca por meio de seu rigor na 
pesquisa, no debate e crítica de opiniões, afastar-se do senso comum.Sumário 
 
Nesta Unidade temática 1.4 estudamos de uma forma aprofundada as 
questões sobre a génese do senso comum, como um tipo de 
conhecimento popular. Ademais debruçamos as questões ligadas a 
ruptura do senso comum: 
▪ A génese do senso comum
 
 
▪ Características diferenciais entre senso comum e ciência
 
 
▪ Interpretação prática do senso comum
 
 
 
 
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Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO 
 
Grupo 1 (com respostas) 
 
1.Qual é a posição da ciência moderna sobre o senso comum? 
 
2.De acordo com o conceito de senso comum, para Santos (2000) em 
que situação é possível o conhecimento científico? 
 
3.Diga uma das diferenças entre o meio científico e senso comum? 
 
 
Respostas 
 
1.A ciência moderna constitui-se contra o senso comum, 
considerando-o superficial, ilusório e falso. 
 
2.É possível mediante o rompimento com o conhecimento vulgar, com senso 
comum, e para isso dispõe de três actos epistemológicos fundamentais: a 
ruptura, a construção e a constatação. 
 
3.Pesquisa leva a um novo conhecimento e não é definitivo. Senso 
comum descarta essa premissa. 
 
 
Grupo 2 (respostas detalhadas) 
 
1.Os conceitos nascem nos quotidianos 
 
2.Para se orientar no mundo, o ser humano assume como certas e 
seguras diversas coisas, situações e relações entre factos, coisas e 
situações. 
 
 
Grupo 3 (exercícios de gabarito) 
 
1.O que é senso comum? 
 
2. Olhando pela sua génese, porque se verifica a ruptura do senso 
comum? 
 
3.O que é um sistema de conhecimento? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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TEMA 2: HISTÓRIA DO PENSAMENTO ANTROPOLÓGICO 
 
UUNIDADE 2.1. Origem 
UNIDADE 2.2. A curiosidade intelectual e o interesse pelo exótico 
UNIDADE 2.3. A universalização da antropologia 
 
UNIDADE2. 4. As diferentes “cores” e campos de aplicação da 
antropologia 
 
 
 
UNIDADE 2.1. Origem 
 
 
Introdução 
 
 
 
A antropologia faz parte das ciências sociais e como qualquer ciência, 
possui as suas características existenciais que o diferem de outras. Nesse 
sentido, serão abordados para esta unidade inicial as questões ligadas 
com a sua origem para: 
 
 
 
 
 
▪ 
 
 
 
 
Conhecer a história do surgimento 
 
 
Objectivos 
específicos 
 
▪ 
 
▪ 
 
Dominar as características que diferem de outras 
ciências Identificação da finalidade da antropologia
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33 
 
Desenvolvimento 
 
O surgimento da Antropologia aconteceu devido a curiosidade 
do respeito de si mesmo, independentemente do seu nível de 
desenvolvimento cultural. De acordo com autores como 
Francelin (2004), Batalha (2004), Assis (2008), Casal (1996) e 
Gusmão (2008) falam do surgimento da antropologia, apontando 
que surgiu na idade clássica, no século V ac. com a figura de 
Herótodo que é considerado o pai da antropologia, que 
caracterizou minuciosamente as culturas circulantes. Os gregos 
foram os que mais reuniram informações sobre povos diferentes. 
 
De acordo com estes autores, até o século XVIII a antropologia 
pouco se desenvolveu. Os estudos antropológicos iniciaram-se 
efectivamente a partir de meados do século XVIII quando a 
antropologia passa a adquirir sua categoria de ciência, quando 
Linneu classificou os animais, relaciona o homem entre os 
primatas. 
 
Copans (1999) e Maía (2000) dizem que a Antropologia 
sistematizou-se como ciência depois que Darwin trouxe a teoria 
evolucionista. O progresso da antropologia no século X é 
resultado das descobertas anteriores relativas ao homem Franz 
Boas é considerado o pai da Antropologia Moderna, pois foi 
quem incentivou as pesquisas de campo em carácter científico 
(ASSIS, 2008). 
 
A antropologia vem adquirindo importância cada vez maior no 
mundo moderno, onde o isolamento cultural é quase impossível 
e onde os contactos são inevitáveis e se multiplicam, levando 
muitas vezes a situações conflituantes. Gusmão (2008) diz que a 
antropologia empenha-se na solução dessas situações, 
procurando minimizar os desequilíbrios e tensões culturais e 
tentando fazer com que as culturas atingidas sejam menos 
molestadas e seus valores e padrões respeitados. Aplica 
conhecimentos antropológicos, físicos e culturais na busca de 
soluções para os modernos problemas sociais, políticos e 
económicos, dos grupos simples e das sociedades civilizadas 
(MAÍA, 2000). 
 
Por isso mesmo que Casal (1996) corroborando com Peirano 
(1995) afirma que a finalidade da antropologia é o fornecimento 
do maior número possível de estudos sobre grupos humanos, 
uma vez que cada um deles é o produto de uma experiência 
cultural particular. 
 
 
 
Sumário 
 
Nesta unidade 2.1. debruçamos de forma sintética a origem 
da antropologia para melhor compreender 
▪ Os passos dados para a sua evolução
 
 
▪ Alguns dos pensadores envolvidos
 
 
▪ E sua finalidade
 
 
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Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO 
 
Grupo 1 (com respostas) 
 
1.Quando surgiu a antropologia? 
 
2.Em que século ela se tornou como ciência? 
 
3.Em que século a antropologia foi estanque? 
 
Respostas 
 
1.Idade clássica, século V ac 
 
2.Meados do século XVIII 
 
3. até o século XVIII 
 
 
 
 
Grupo 2 (respostas detalhadas) 
 
1.Procura minimizar os desequilíbrios culturais 
 
2.Maior número de estudos de grupos humanos 
 
3.É considerado pai da antropologia moderna 
 
 
 
Grupo 3 (exercícios de gabarito) 
 
1.Qual é a importância da antropologia? 
 
2.Fala sobre o progresso da antropologia. 
 
3. Diga quem foi o precursor da sistematização? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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UNIDADE 2.2. A curiosidade intelectual e o interesse pelo exótico 
 
 
Introdução 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Objectivos 
específicos 
 
 
A ciência se desenvolveu porque sempre o ser humano teve 
curiosidades, vontade de saber, descobrir e interpretar os fenómenos. 
A antropologia é uma dessas ciências que pela sua curiosidade 
intelectual e o interesse pelo exótico auxilia o processo de 
conhecimento para: 
 
 
▪ Explicar o porque de tantas diferenças entre grupos humanos
 
 
▪ Explicar o homem, a sociedade e a cultura a partir de circunstâncias específicas
 
 
▪ Definir os paradigmas de explicação e compreensão do homem e do mundo
 
 
 
 
 
Desenvolvimento 
 
Ao longo da nossa disciplina, aprendemos que os homens sempre 
tiveram uma grande curiosidade acerca do porquê das diferenças 
humanas e sociais. De acordo com Francelin (2004) a busca por essa 
explicação a princípio tomou como base a aparência física: cor de pele, 
cabelo e olhos, formato dos olhos, textura dos cabelos, altura etc. 
Gradativamente, os estudiosos perceberam que o parâmetro da 
aparência física não servia para explicar a diversidade. 
 
De acordo com o mesmo autor, o critério mais relevante está no modo 
de vida, particular ou próprio de cada grupo humano. Ou seja, as 
diferenças seriam oriundas das formas encontradas pelo homem na 
busca da satisfação de suas necessidades mínimas (fisiológicas e 
psicológicas), a partir das condições dadas para a sua sobrevivência: a 
natureza, o conhecimento e o domínio do conhecimento. 
 
Consubstanciado a ideia trazida pelo Francelin (2004), Copans (1999) 
afirma que a necessidade premente de conhecer-se e conhecer os 
outros, entender e explicar o porquê de tantas diferenças entre os 
grupos humanos, ao longo dos tempos, consubstanciou os modelos 
explicativos. 
 
No quadro das ciências humanas, a maioria dos paradigmas se 
constituiu

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