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Linguagem e língua: conceitos Você vai estudar a distinção entre linguagem verbal e linguagem não verbal, além das principais concepções de linguagem e as implicações desses conceitos no uso da língua. Prof. Luís Cláudio Dallier Saldanha 1. Itens iniciais Propósito Ao compreender os conceitos de linguagem e de língua, com suas implicações nas situações de comunicação e interação, você ampliará suas habilidades relacionadas com a leitura e a escrita da língua portuguesa. Objetivos Distinguir linguagem verbal e linguagem não verbal. Reconhecer as três principais concepções de linguagem e suas implicações no uso do português. Introdução Se você acha que língua e linguagem são a mesma coisa, você agora vai aprender que a língua é uma das diversas linguagens que o ser humano utiliza para se expressar, comunicar e interagir. Claro que todas as linguagens têm seu valor, mas vamos enfatizar a linguagem verbal, ou seja, a língua. Vamos relembrar as principais características das linguagens verbal e não verbal, conhecer algumas concepções de linguagem e identificar algumas implicações do que estamos estudando no uso cotidiano da língua. • • 1. Linguagens verbal e não verbal A língua não precisa ser um mistério Neste vídeo, reflita sobre a aprendizagem da língua a partir da leitura do poema Aula de português, destacando a espontaneidade da linguagem mais informal e os desafios da linguagem mais formal. Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. O português que você aprendeu na escola ainda é um mistério, algo distante? Ao estudarmos sobre conceitos e usos relacionados com a língua portuguesa e outros tipos de linguagem, devemos fazer uma primeira observação bastante importante: antes de irmos à escola para sermos alfabetizados, já falamos o português, além de nos expressarmos por meio de outras linguagens, como a gestual. A língua que aprendemos na escola, e continuamos estudando aqui, tem algumas características que podemos identificar lendo o poema Aula de português, de Carlos Drummond de Andrade. Aula de Português A linguagem na ponta da língua, tão fácil de falar e de entender A linguagem na superfície estrelada de letras, sabe lá o que ela quer dizer? Professor Carlos Góis, ele é quem sabe, e vai desmatando o amazonas de minha ignorância. Figuras de gramática, esquipáticas, atropelam-me, aturdem-me, sequestram-me. Já esqueci a língua em que comia, em que pedia para ir lá fora, em que levava e dava pontapé, a língua, breve língua entrecortada do namoro com a prima. O português são dois; o outro, mistério. O poema apresenta dois tipos de linguagem: Estudante fazendo uma apresentação oral em sala de aula. Linguagem informal É a linguagem do cotidiano, que não precisa ser aprendida na escola para começarmos a usar, sendo espontânea, oral e fácil de ser usada no dia a dia. Linguagem formal É a linguagem da escola, do professor e dos livros, aprendida na sala de aula, sendo mais formal e relacionada com a leitura e a escrita. Embora a linguagem formal esteja mais relacionada com a escrita e a informalidade seja mais associada com a fala ou a oralidade, a experiência de aprendizado da língua na escola acaba abrangendo tanto uma quanto outra modalidade da língua. Mesmo privilegiando muitas vezes a modalidade escrita, na escola também aprendemos a modalidade oral porque somos levados a desenvolver a fala em algumas situações formais, como apresentação de seminários, participação em debates regrados e outras situações em que a fala pode ser menos informal. De qualquer modo, o último verso do poema resume a experiência com a língua portuguesa afirmando que “O português são dois”. No caso, o português da escola, da leitura e da escrita, é vivenciado como um mistério, algo difícil na experiência de quem começa a estudá-lo. Mas isso não precisa ser assim, ainda mais quando estamos muito distantes daqueles momentos iniciais do aprendizado da língua portuguesa. Além da língua do dia a dia, mais informal, devemos conhecer e dominar a língua que usamos na faculdade ou no ambiente profissional. Por isso, vamos desvendar alguns conceitos e aspectos da língua que podem nos ajudar a usá-la melhor e com mais eficácia. A língua e as diferentes linguagens Neste vídeo, conheça os conceitos e os exemplos de linguagem verbal e não verbal, além da linguagem hipermidiática. Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Os diversos tipos de signos Vamos nos lembrar de que a linguagem é uma capacidade que todo ser humano tem de se comunicar ou interagir. Não há como pensar em uma sociedade sem algum tipo de linguagem, pois tudo que ela produz e vivencia é a partir da linguagem. Podemos dizer que a linguagem constitui todo sistema de sinais ou signos convencionais que nos permite a comunicação. Mas, o que são signos? Os signos são os sinais que os seres humanos produzem quando se comunicam. Veja! Signo linguístico Quando falamos ou escrevemos. Signo imagético Quando desenhamos um objeto. Obra A traição das imagens, de René Magritte. Assim, “ao produzir signos, os seres humanos estão produzindo a própria vida, com eles representam seus pensamentos, exercem seu poder, elaboram sua cultura e sua identidade etc.” (Orlandi, 2009). Vejamos a seguir a definição para signo apresentada pela pesquisadora Lucia Santaella. Signo é uma coisa que representa uma outra coisa: seu objeto. Ele só pode funcionar como signo se carregar esse poder de representar, substituir uma outra coisa diferente dele. (Santaella, 1983, p. 58) O signo representa algo que não está presente. A palavra mesa ou a imagem de uma mesa não são propriamente o objeto que designamos como “mesa”. Os signos são usados para designar ou significar alguma coisa. O pintor belga René Magritte (1898-1967) tem um famoso quadro, parte da série A traição das imagens, em que sugere o caráter representativo dos signos. O quadro apresenta a imagem de um cachimbo com a seguinte legenda em francês: Ceci n'est pas une pipe (Isto não é um cachimbo). De forma irônica, o quadro nos ajuda a compreender que a linguagem representa o que percebemos da realidade, ou seja, a imagem de um cachimbo não é o próprio cachimbo. Por razões óbvias, não dá para usar o cachimbo que foi pintado. A distinção entre verbal e não verbal Assim como os signos podem ser de diversas naturezas ou tipos, há diferentes tipos de linguagem. A linguagem humana, por exemplo, pode ser: Linguagem verbal É aquela que utiliza a palavra, seja escrita ou falada, como ocorre com um texto de um livro ou em um bate-papo. Linguagem não verbal É aquela que utiliza um tipo de código diferente da palavra. Gestos, imagens e sons são exemplos de linguagem não verbal. O semáforo é outro exemplo de linguagem não verbal. Vejamos mais detalhes sobre a relação das linguagens verbais e não verbais! Língua e linguagem verbal são termos correspondentes A partir da caracterização da linguagem verbal como uma linguagem humana que utiliza a palavra, perceba que a língua é um tipo de linguagem, mas ela não é a única linguagem de que dispomos. Ou seja, a língua é uma linguagem humana específica, baseada na palavra. Diversidade de linguagens A música, a pintura, a dança, o teatro e o cinema usam signos que pertencem a outro tipo de linguagem humana, já denominada aqui como linguagem não verbal. Por isso, são comumente usadas expressões como linguagem musical, linguagem corporal, linguagem pictórica etc. Integração entre as linguagens verbal e não verbal Quando você conversa com outra pessoa, por exemplo, faz uso da linguagem verbal (a fala) e da linguagem não verbal (gestual, postura corporal, tom da voz etc.). A história em quadrinhos é outro exemplo de integração das linguagens verbal e não verbal. A distinção entre as linguagens verbal e não verbal não deve levar você a concluir que a comunicação acontece sempre e apenas por meio de um único tipo de linguagem. Quando falamos usando também nosso gestual, podemos dar mais expressividadeà nossa mensagem e até mesmo tornar nossa fala mais espontânea ou dinâmica. Do mesmo modo, quando escrevemos usando recursos visuais, como imagens ou emojis, conferimos nova expressividade ao nosso conteúdo. Esse hibridismo é chamado de linguagem mista. Devemos, no entanto, compreender que as regras e as estratégias para o uso de cada tipo de linguagem podem ser diferentes. Ao escrevermos Seguimos normas gramaticais e princípios de organização do texto que devem mantê-lo coeso e coerente. Ao desenharmos Os elementos da linguagem visual, como pontos, linhas, planos e cores, são bem diferentes das letras ou dos sons das palavras. Ao gesticularmos Não estamos preocupados com normas gramaticais ou regras de composição típicas do texto escrito, pois os gestos e os elementos da linguagem visual tendem a ser mais espontâneos. É verdade que a linguagem verbal, falada ou escrita, predomina nos atos de comunicação. Mas você deve reconhecer que a linguagem não verbal está associada intimamente a nossas atividades e possui também sua relevância. Nossos gestos ao falar ou uma imagem ilustrativa em um texto escrito também dizem muito e, às vezes, até contradizem o que falamos ou escrevemos. Exemplo Imagine alguém dizendo que está calmo e tranquilo, mas, ao mesmo tempo, pisca os olhos em um ritmo acelerado, tem as mãos trêmulas ou balança pernas e pés em um movimento frenético. Dificilmente essa pessoa vai convencer o outro de que está calma. Linguagem hipermidiática Conjunto de emojis em destaque. Com as tecnologias digitais e a internet, essa integração entre as linguagens verbal e não verbal fica muito evidente e interessante, pois usamos palavras, imagens, sons e outros recursos para interagir nas redes sociais. É cada vez mais comum trocarmos mensagens em que a escrita se mistura com emojis ou emoticons. Este material didático é um exemplo de integração entre diferentes tipos de linguagem, articulando texto escrito com vídeo, podcast, imagens e símbolos. Tudo isso é possível por causa de outra integração: convergência entre diferentes mídias formando o que tem sido chamado de hipermídia. É como se o livro impresso, o rádio, a televisão e o computador estivessem todos reunidos com suas diferentes linguagens. Assim, hoje em dia, fala-se de uma linguagem hipermidiática, um bom exemplo dessa integração de linguagens verbal e não verbal. Verificando o aprendizado Questão 1 O poema Aula de português, de Carlos Drummond de Andrade, apresenta uma experiência de aprendizado da língua que contrapõe duas modalidades de uso da língua. A dificuldade no aprendizado da língua portuguesa está associada no poema a um tipo de português que é descrito como “mistério”. Esse mistério está relacionado com A a modalidade oral da língua. B a modalidade escrita da língua. C as modalidades oral e escrita da língua. D a linguagem hipermidiática. E a linguagem informal. A alternativa B está correta. No poema, temos uma referência a duas modalidades da mesma língua: a escrita, que tende a ser mais formal, e a oralidade, que tende a ser mais informal. A formalidade da língua, experiência relacionada com o aprendizado da escrita e da leitura na escola, apresenta-se como um mistério porque tem a ver com um uso do português desconhecido ou pouco familiar do ambiente das brincadeiras e vivências fora da escola. Questão 2 A linguagem não é algo homogêneo, mas apresenta uma diversidade de signos ou formas de se manifestar. No entanto, no ambiente escolar ou da faculdade, estamos mais habituados a aprender e a trabalhar com a escrita. Assim, podemos dizer que nos livros impressos e nas anotações na lousa durante as aulas predomina(m) A a linguagem verbal. B a linguagem não verbal. C a linguagem hipermidiática. D os signos sonoros. E os signos pictóricos. A alternativa A está correta. A linguagem verbal se caracteriza pela centralidade da palavra escrita ou falada. Tradicionalmente, os materiais didáticos impressos e as anotações durante uma aula se dão principalmente por meio da escrita, muito valorizada no contexto escolar ou acadêmico. No entanto, quando um professor está falando ou mesmo anotando algo na lousa, pode se valer do gestual ou mesmo de alguma linguagem visual, mas elas não são predominantes, pois atuam ilustrando, complementando ou enfatizando a mensagem que se produz por meio da escrita ou da fala. 2. Concepções de linguagem Três diferentes abordagens da linguagem Linguagem como expressão do pensamento Já sabemos que a linguagem pode ser formal ou informal e dividida em duas classificações principais: verbal e não verbal. Agora, precisamos avançar um pouco mais para entender três diferentes abordagens acerca da linguagem, começando com a concepção que entende a linguagem como expressão do pensamento. De acordo com essa concepção, a linguagem corresponde a uma expressão que se constrói no interior da mente e tem, na exteriorização, apenas uma tradução. A linguagem é entendida como uma forma de expressar pensamentos, sentimentos, intenções, vontades, ordens, pedidos etc. Nessa forma de entender a linguagem, a intenção de expressar alguma coisa é um ato monológico. Isso quer dizer que a enunciação ou o ato de fala (o modo como nos expressamos) está centrado na pessoa que se expressa por meio da linguagem, sem dar tanta importância ao outro e às circunstâncias sociais nas quais a enunciação acontece. Monológico O uso do termo monológico (mono = um, único; logos = discurso racional) não se apresenta como a fundamentação de um tipo de teoria da comunicação, que defende o discurso como ato centrado apenas no emissor da fala. Apenas quer mostrar que, nesta concepção da linguagem, tal ato ainda está centrado na necessidade individual de se comunicar. O uso da língua é visto como algo que se limita a quem fala ou escreve. Não há preocupação sobre como o outro vai ler ou ouvir nossa mensagem. Assim, a exteriorização do “pensamento por meio de uma linguagem articulada e organizada” depende da capacidade de organizar, de maneira lógica, esse mesmo pensamento (TRAVAGLIA, 2003, p. 21). Nessa concepção de linguagem, a correção no uso da língua (falar e escrever bem conforme a gramática normativa) depende das regras às quais o pensamento lógico deve estar sujeito. Dessa forma, se as pessoas não se expressam bem ou não usam a língua corretamente, isso acontece porque elas não estão pensando corretamente. A solução, então, para expressar adequadamente o que se está pensando é a internalização das regras gramaticais e de seu adequado uso. Atenção Mas há um problema: essa concepção acaba sendo uma forma parcial de entender como a linguagem funciona, pois há outros aspectos envolvidos além da intenção de exteriorizar o que pensamos. Não é o caso de afirmar que a concepção está errada. Precisamos avançar e verificar outras formas complementares de compreender a linguagem. Linguagem como instrumento de comunicação A linguagem deve ser compreendida além de sua função de expressar o que pensamos ou sentimos, pois, ao nos expressarmos, nos dirigimos a alguém, ou seja, comunicamos algum tipo de mensagem para uma ou mais pessoas. Por isso, há outra concepção de linguagem que compreende a língua, por exemplo, como um código por meio do qual elaboramos nossas mensagens para serem comunicadas. Código O código é entendido como “um conjunto de regras que permite a construção e a compreensão de mensagens. É, portanto, um sistema de signos. A linguagem é, por conseguinte, um dentre outros códigos (código marítimo, código rodoviário)”. Dentre todos os outros códigos, a linguagem verbal, seja escrita ou oral, é o único código que “pode falar dos próprios signos que os constituem ou de outros signos” (VANOYE, 1981, p. 30). A língua é tomada predominantemente como um código, que deve ser utilizado com eficiência, ou seja, deve tornar inteligível a mensagem que se quer comunicar, levando o receptor a responder adequadamente ao objetivo da comunicação. Para que haja a comunicação, o códigoque utilizamos, seja ele a língua ou outro sistema de signos, precisa ser conhecido ou dominado pelo nosso interlocutor para que a comunicação se realize. O uso do código, no caso, a própria língua, “é um ato social, envolvendo consequentemente pelo menos duas pessoas”. Por isso, “é necessário que o código seja utilizado de maneira semelhante, preestabelecida, convencionada para que a comunicação se efetive” (TRAVAGLIA, 2003, p. 22). Atenção A concepção da linguagem como instrumento de comunicação tem, porém, uma limitação. É uma concepção centrada no código, ou seja, voltada principalmente para o funcionamento interno da língua ou de outra linguagem utilizada, deixando de lado aspectos como a relação entre a linguagem e o contexto social e histórico. Por isso, você precisa conhecer outra concepção de linguagem que permita avançar na compreensão da linguagem e seus usos. Linguagem como experiência de interação humana Nessa concepção, a língua é mais do que tradução e exteriorização do pensamento e, também, vai além da transmissão de informação ou da comunicação. Ao usar a língua, o indivíduo realiza ações, age, atua sobre o interlocutor. A linguagem, aqui, é um “lugar de interação humana, de interação comunicativa pela produção de efeitos de sentido entre interlocutores, em uma dada situação de comunicação e em um contexto sócio- histórico e ideológico” (TRAVAGLIA, 2003, p. 23). Quem utiliza a língua não expressa apenas o pensamento, não comunica somente alguma coisa, na verdade, ao usar a língua, o indivíduo ou os interlocutores “interagem enquanto sujeitos que ocupam lugares sociais e ‘falam’ e ‘ouvem’ desses lugares de acordo com as formações imaginárias (imagens) que a sociedade estabeleceu para tais lugares sociais” (TRAVAGLIA, 2003, p. 23). Para ilustrar, veja um exemplo: A Interação inicia Todos já observaram uma situação em que a identificação apenas da linguagem oral entre dois sujeitos corresponderia a um ato comunicativo direto. No entanto, notamos que a interação social faz com que aquilo que é dito seja muito maior. Ordem e reação Isso ocorre, por exemplo, quando estamos em um espaço e observamos mãe e filha interagindo, em que a primeira faz referência ao comportamento da segunda, com uma ordem direta. O Impacto observado A reação da filha cria em nós, observadores, uma série de julgamentos, leituras, valores e interações que nos remetem à própria relação familiar. Tudo que falamos e ouvimos tem o poder de provocar reações, produzir mudanças, despertar sentimentos e paixões, desencadear processos e ações. O Poder da autoridade Se um agente da lei, dirigindo-se a uma pessoa, dá voz de prisão e diz “esteja preso!”, ele não está simplesmente exteriorizando seu pensamento ou comunicando uma novidade, não é mesmo? A Palavra que transforma Quando consideramos as palavras de um juiz ao proferir a célebre frase clássica “Eu vos declaro marido e mulher!”, temos um exemplo de que o uso da língua pode ser mais do que expressão do pensamento ou comunicação de uma informação. Nesse caso, a fala da autoridade faz surgir ou realiza um ato social e jurídico. O diálogo também caracteriza a concepção de linguagem como interação social, constituindo-se numa dimensão privilegiada do uso da língua. Diálogo Considerando sua origem latina (dia = separação, confronto; logos = discurso racional), apresenta-se como a exigência de, pelo menos, dois interlocutores no ato da fala, que é diferente da concepção monológica vista anteriormente. Trata-se, sem dúvida, de apresentar uma intencionalidade por parte daquele que fala. Atenção Para estar inserido na vida em sociedade, é preciso que a língua seja utilizada para favorecer a abertura ao diálogo, a interação entre as pessoas. Além disso, a própria língua é dialógica, ou seja, o que falamos e escrevemos se relaciona com aquilo que lemos e ouvimos ao longo da vida. Como você viu até aqui, é preciso avançar na compreensão da linguagem para além da sua finalidade de comunicação e da divisão entre linguagens verbal e não verbal. A linguagem pode ser concebida como expressão do pensamento, como instrumento de comunicação e, mais adequadamente, como lugar de interação humana. As três concepções da linguagem podem ser resumidas da seguinte forma: Expressão do pensamento A expressão se constrói no interior da mente. Ato monológico, individual. Regras para a organização lógica do pensamento: gramática normativa. Para quem se fala, em que situação e para que se fala não são preocupações no uso da língua. Comunicação Meio objetivo para a comunicação. A expressão nasce da necessidade de se comunicar. Troca de mensagens entre emissor e receptor. Existência de códigos para a eficiência da comunicação. Preocupação com o meio, o destinatário, a mensagem e a utilização eficiente do código. • • • • • • • • • Interação humana Experiência de interação humana. A expressão é também ação. Privilegia o diálogo e a interatividade. Valorização do contexto dos usuários da língua e adequação no uso da língua. Preocupação com as dimensões afetivas e sociais. Três diferentes abordagens da linguage Neste vídeo, entenda as concepções de linguagem como expressão do pensamento, instrumento de comunicação e experiência de interação. Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Linguagem e interação Neste vídeo, compreenda as implicações do conceito de linguagem como experiência de interação no uso da língua em diferentes situações. Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Se a linguagem é interação, então, o que ouvimos pode afetar muito nossa vida e nosso humor. O que falamos também provoca efeitos e reações no outro. As implicações no uso do português Quando entendemos que a linguagem é mais do que expressão ou espelho do pensamento, que vai além de ser veículo de comunicação, devemos considerar nossas intenções na produção dos textos e o impacto naqueles que vão ouvir ou ler nossas palavras. Também devemos dar atenção ao contexto em que a mensagem é produzida e às possíveis situações em que será recebida. Se a linguagem é interação, pois produz reações e resultados, alguns elementos podem ser desejáveis no seu uso: Clareza e precisão no que queremos comunicar Cortesia, polidez e tom cordial Abertura ao diálogo Sustentação de um posicionamento sem desmerecer a opinião do outro • • • • • Uso de recursos persuasivos Se queremos manter o diálogo e construir pontes, devemos cuidar da maneira como falamos, escolhendo as palavras e o tom mais apropriado. Exemplo Em uma reunião de trabalho, ao precisar discordar de um colega, mantendo abertura ao diálogo e interagindo sem desmerecer a opinião do outro, não é apropriado dizer “Sua opinião está completamente errada e vai prejudicar totalmente o projeto”. O apropriado seria: “Talvez você tenha se equivocado, pois não consigo identificar de que modo sua proposta contribui para o projeto”. Uma alternativa adequada também seria: “É possível que sua opinião precise ser revista, pois sua proposta pode causar algum prejuízo ao projeto”. Ao estudar a linguagem, é preciso compreender que não basta escrever e falar com correção gramatical, coerência, coesão e clareza. Além dessas qualidades importantes, nosso texto escrito ou oral deve promover o diálogo, a interação e as condições para mantermos relações civilizadas. É interessante lembrar, por exemplo, que há concursos ou exames em que o candidato pode ser desclassificado ao escrever de forma desrespeitosa aos direitos humanos ou usando linguagem antissocial e inadequada. Verificando o aprendizado Questão 1 Uma concepção de linguagem bastante abrangente entende que a língua é interação. Indique a alternativa que corretamente se associa à concepção de linguagem como experiência de interação humana. A O uso da língua serve apenas para expressar o pensamento. B O diálogo e a atuação sobre o outro são características importantes da linguagem. C Falamos ouescrevemos corretamente somente quando pensamos corretamente. D A internalização das regras gramaticais serve para adestrar ou organizar o pensamento. E A expressão se constrói no interior da mente. A alternativa B está correta. O diálogo e a interação são privilegiados na concepção de linguagem como lugar de interação. As demais opções estão incorretas porque se referem à concepção de linguagem como expressão do pensamento. Questão 2 Compreender o conceito de linguagem como experiência de interação humana e social implica alguns cuidados no uso da língua portuguesa. Indique a alternativa que aborda corretamente um ou mais cuidados necessários. A Aplicar regras gramaticais para deixar os textos muito formais. B Dizer sempre o que pensamos sem nos preocupar com a forma como o outro vai nos ouvir. C Deixar de lado nossas intenções e o contexto histórico-social na produção dos textos. D Falar ou escrever buscando abertura ao diálogo e se posicionando sem desmerecer a opinião do outro. E Focar a mensagem, deixando de lado preocupações com o modo como falamos ou escrevemos. A alternativa D está correta. Compreender a linguagem como interação é ter cuidado com efeitos e reações provocados no outro diante do que dizemos e da forma como dizemos. 3. Conclusão Considerações finais Como vimos, a linguagem é constituída de sinais ou signos, que permitem a comunicação entre os seres humanos. Quando o signo é centrado na palavra escrita ou oral, ele é identificado como linguagem verbal. Os demais tipos de signos formam outro conjunto de linguagens denominado linguagem não verbal, como é o caso da pintura e dos gestos. A integração entre diferentes tipos de linguagem é algo muito antigo, mas que se intensificou com as tecnologias digitais ou a chamada linguagem hipermidiática. Verificamos também que há diversas concepções de linguagem, algumas valorizam a exteriorização do que pensamos, outras são voltadas para a importância da comunicação entre as pessoas, enquanto alguns entendimentos mais recentes apontam para a linguagem também como interação, permitindo que, por meio dela, ações e reações aconteçam. Para que tenhamos uma experiência enriquecedora e proveitosa com a língua portuguesa na expressão do nosso pensamento, nas situações de comunicação e nas interações com as pessoas, precisamos conhecer a língua e aproveitar os recursos que ela nos oferece. Aqui, foi possível observar parte desse conhecimento. Use o que você aprendeu para vivenciar novas experiências com a língua portuguesa. Podcast Acompanhe um bate-papo com os professores Luís Cláudio Dallier, Antônio Soares Abreu e Maria Franco de Moura sobre os conceitos de língua e linguagem. Conteúdo interativo Acesse a versão digital para ouvir o áudio. Explore + Confira as indicações que separamos especialmente para você! Assista ao documentário As origens da linguagem, produzido pela Crescendo Films – NHK em 2008, que está disponível no YouTube. Veja também o vídeo Comunicação animal, no canal da Khan Academy, no YouTube, para uma breve e interessante abordagem da Biologia Comportamental. Para aprimorar seus estudos sobre as diferentes linguagens, a partir de exemplos práticos, leia o texto Tipos de linguagem: verbal, não verbal e mista, disponível no site da Enciclopédia Significados. Vale conferir! Referências SILVA, J. C. da. Filosofia da linguagem: da Torre de Babel a Chomsky. Pedagogia & Comunicação, 2009. KOCH, I. V. A interação pela linguagem. 8. ed. São Paulo: Contexto, 2003. • • MARCHEZINI-CUNHA, V.; TOURINHO, E. Z. Assertividade e autocontrole: interpretação analítico- comportamental. Psicologia: Teoria e Pesquisa, v. 26 n. 2, p. 295–304, abr. –jun. 2010. ORLANDI, E. P. O que é Linguística. 2. ed. 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Linguagens verbal e não verbal A língua não precisa ser um mistério Conteúdo interativo Linguagem informal Linguagem formal A língua e as diferentes linguagens Conteúdo interativo Os diversos tipos de signos Signo linguístico Signo imagético A distinção entre verbal e não verbal Linguagem verbal Linguagem não verbal Língua e linguagem verbal são termos correspondentes Diversidade de linguagens Integração entre as linguagens verbal e não verbal Ao escrevermos Ao desenharmos Ao gesticularmos Exemplo Linguagem hipermidiática Verificando o aprendizado 2. Concepções de linguagem Três diferentes abordagens da linguagem Linguagem como expressão do pensamento Atenção Linguagem como instrumento de comunicação Atenção Linguagem como experiência de interação humana A Interação inicia Ordem e reação O Impacto observado O Poder da autoridade A Palavra que transforma Atenção Expressão do pensamento Comunicação Interação humana Três diferentes abordagens da linguage Conteúdo interativo Linguagem e interação Conteúdo interativo As implicações no uso do português Clareza e precisão no que queremos comunicar Cortesia, polidez e tom cordial Abertura ao diálogo Sustentação de um posicionamento sem desmerecer a opinião do outro Uso de recursos persuasivos Exemplo Verificando o aprendizado 3. Conclusão Considerações finais Podcast Conteúdo interativo Explore + Referências