Prévia do material em texto
jusbrasil.com.br 1 de Novembro de 2024 Sociedade Anônima do Futebol: Função Social, Análise Legislativa e Inovação para o Desenvolvimento do Futebol Profissional Publicado por Brunno Craveiro há 2 anos UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FACULDADE DE DIREITO DEPARTAMENTO DE DIREITO PRIVADO BRUNNO PEREIRA ARAGÃO CRAVEIRO SOCIEDADE ANÔNIMA DO FUTEBOL: FUN- ÇÃO SOCIAL, ANÁLISE LEGISLATIVA E INOVAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO 01/11/2024, 20:00 Página 1 de 139 DO FUTEBOL PROFISSIONAL FORTALEZA 2022 BRUNNO PEREIRA ARAGÃO CRAVEIRO SOCIEDADE ANÔNIMA DO FUTEBOL: FUNÇÃO SOCIAL, ANÁLISE LEGISLATIVA E INOVAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO DO FUTEBOL PRO- FISSIONAL Monografia submetida ao Curso de Direito da Uni- versidade Federal do Ceará, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Direito. Área de concentração: Direito Desportivo Orientadora: Profa. Dra. Uinie Caminha FORTALEZA 2022 01/11/2024, 20:00 Página 2 de 139 BRUNNO PEREIRA ARAGÃO CRAVEIRO SOCIEDADE ANÔNIMA DO FUTEBOL: FUNÇÃO SOCIAL, ANÁLISE LEGISLATIVA E INOVAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO DO FUTEBOL PRO- FISSIONAL Monografia submetida ao Curso de Direito da Uni- versidade Federal do Ceará, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Direito. Área de concentração: Direito Desportivo Aprovada em: __/__/____ BANCA EXAMINADORA ____________________________________ ____ Profa. Dra. Uinie Caminha (Orientador) 01/11/2024, 20:00 Página 3 de 139 Universidade Federal do Ceará (UFC) ____________________________________ _____ Prof. Dr. Alex Santiago Universidade Federal do Ceará (UFC) ____________________________________ _____ Prof. Dr. Sidney Guerra Reginaldo Universidade Federal do Ceará (UFC) A Deus. À minha irmã. Aos meus pais, meus avós. Ao jornalismo e ao meu time do coração. AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus, pelo dom da vida e pela força dada nos momentos mais difíceis. 01/11/2024, 20:00 Página 4 de 139 À minha mãe, pelo amor, carinho e suporte em to- dos os dias, por me acompanhar, aconselhar e incen- tivar em todos os caminhos que eu trilhasse. Ao meu pai pelos ensinamentos, por apresentar as rotas certas, sendo um verdadeiro guia por e para toda a minha vida. À minha irmã, por todas as conversas madrugada à dentro que tanto aliviavam minha mente, e princi- palmente, por jamais ter desistido. Á minha avó Anna Mary, por sempre incentivar à leitura, ensinar a ser justo e integro a todo instante. Ao meu avô Audy, por me ensinar a simplicidade e a enxergar beleza nas pequenas coisas. Ao meu tio Carlos, pelos diálogos descompromissadas, mas que tanto me direcionaram para o bem. A minha tia Gladys, por todo o carinho e suporte que sempre me permitiu o melhor dos estudos. E a todos os familia- res que, de alguma forma, contribuíram para as me- tas que alcanço hoje. À minha namorada Débora, por toda a força e incen- tivo, por me acompanhar nas intermináveis noites de escrita. 01/11/2024, 20:00 Página 5 de 139 Aos meus colegas de curso que foram parte funda- mental em todo o percurso da faculdade, tanto nas risadas e divertidas experiências, quanto nas refle- xões e discussões que engrandeceram o curso. Cito em especial a Lívia, por toda a ajuda na minha inte- gração à universidade e o suporte aos estudos, tam- bém à Joyce Mara, que acompanhou toda a batalha que minha família travou e sempre se preocupou com meu bem-estar, pelo indispensável amparo que me forneceu em várias disciplinas até o fim do curso para que eu jamais caísse. Aos professores que me formaram como aluno, como pessoa, e futuro profissional, por todas as li- ções, escritas nos livros ou não, e por todo o apoio para enfrentar a faculdade. Em especial à professora Uinie Caminha, que aceitou me orientar em um pro- jeto tão difícil. Aos demais membros da banca exa- minadora, que com suas considerações ao presente trabalho, certamente irão contribuir para a minha formação acadêmica, aos quais agradeço muito pela atenção e disponibilidade. A todos os estágios que trabalhei durante o curso, que me ensinaram como funciona o direito na práti- ca. Aos meus amigos que me alegraram durante toda a caminhada e comemoraram cada vitória comigo. 01/11/2024, 20:00 Página 6 de 139 Ao projeto CriseCast, nas pessoas de Junior, Saulo e Antônio, pelas incontáveis horas a se divertir e dis- cutir futebol. Ao projeto Vozãocast, pelo palco que me deu para falar sobre o esporte que tanto amo, pela oportunidade de conhecer e entrevistas tantas personalidades que colaboraram com esse trabalho, e principalmente, pela chance de exercer o jornalis- mo. E por fim, agradeço ao Ceará Sporting Clube, meu time de coração, por me ensinar o verdadeiro valor da paixão e do esporte. “Tudo quanto sei com maior certeza sobre a moral e as obrigações dos homens, devo-o ao futebol.” (Al- bert Camus) RESUMO O presente trabalho foi escrito com o objetivo de analisar as inovações que a Sociedade Anônima do Futebol trouxe em seu texto legislativo, aprofundan- do-se nas possibilidades de impactos que o novo modelo societário poderá ter dentro do direito des- portivo e no cenário profissional do futebol no Bra- sil. Para tanto, utilizou-se de pesquisa qualitativa, tendo como base a Lei nº 14.193, de 6 de agosto de 2021 como matriz para a interpretação, além de ou- tras referências bibliográficas, depoimentos e repor- tagens que mostram a realidade atual das entidades 01/11/2024, 20:00 Página 7 de 139 de prática desportiva. Dentro da análise, foi consta- tado que o novo modelo societário foi cunhado sob a égide das atuais adversidades aos quais as institui- ções do esporte enfrentam na situação atual, de modo que a SAF se demonstrou eficaz e prática em seus dispositivos para factualmente oferecer a opor- tunidade de mudar o patamar do futebol profissio- nal no Brasil. Como resultado, até o encerramento da pesquisa, os primeiros movimentos sobre a ado- ção do novo formato empresário renderam fruto po- sitivos, ao qual o mostrou-se um interessante atrati- vo financeiro que já rendeu elevadas propostas para investimento das entidades esportivas que adotaram o molde, começando um processo de saneamento, reestruturação e desenvolvimento que está condu- zindo ao sucesso da Sociedade Anônima do Futebol. Palavras-chave: Sociedade Anônima do Futebol; Entidades de Prática Desportiva; Direito Desportivo Empresarial ABSTRACT The work written in order to study how innovations that the Soccer Corporation brought in its legislatu- re, delving into the possibilities of impacts that the new corporate model may have on sports law and on the professional football scenario in Brazil. For this, qualitative research was used, based on Law No. 14,193, of August 6, 2021, as a pilar for interpretati- 01/11/2024, 20:00 Página 8 de 139 on, in addition to other bibliographic references, tes- timonials and reports that show the current reality of sports entities. Within the analysis, it was found that the new corporate model was created under the aegis of the current adversities that sport instituti- ons face in the current situation, in this way, the S.C proved to be effective and practical in its devices to actually offer the opportunity to change the level of professional football in Brazil. With the data until the end of the research, the first moves towards the adoption of the new business format yielded positive results, beginning a process of sanitation, restructu- ring and development that is leading to the success of the Soccer Corporation. Keywords: Soccer Corporation; Sports Practice En- tities; Corporate Sports Law LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas COVID CSLL CVM 01/11/2024, 20:00 Página 9 de 139 FGTS FIFA GN Corona Virus Disease Contribuição Social sobre o Lucro Líquido Comissão de Valores Mobiliários Fundo de Garantia do Tempo de Serviço Federação Internacional de Futebol Grifo Nosso NBR Norma Brasileira Regulamentar ICMS IOF IPI IPVA 01/11/2024, 20:00 Página 10 de 139 IRPJ IRRFnecessário que seja. Ao citar-se que modelos não empresariais que sustentam negócios milionários, como as entidades ligadas ao futebol, são frágeis, refere-se majoritaria- mente ao potencial organizacional e as regras que precisam ser impostas àqueles que dirigem a entida- de. Isto pois os atuais modelos, em sua maioria de associações civis, acabam por ser moldados de acor- do com a vontade do conselho atuante, cita-se como exemplos as oligarquias presidências que são com- postas pelas mesmas figuras dentro de cada clube, impondo reeleições mesmo quando o estatuto social não permitiria que isso ocorresse, gerando uma in- tensa concentração de poder nas mãos de dirigentes que, por diversas vezes, não tem a qualificação ne- cessária para o trabalho, alcançando o cargo por in- fluência ou mesmo pela família que tradicionalmen- te governa o clube. Desse modo, com uma mescla de incompetência por falta de estrutura, corrupção pela massiva concentração de poder, e não cumprimento do estabelecido no estatuto social, não é surpresa a 01/11/2024, 20:00 Página 62 de 139 decadência e iminente bancarrota que grandes enti- dades esportivas vem experimentando nos últimos anos. Por esse cenário, a mudança brusca que a transição para Sociedade Anônima do Futebol fornece, poderá ser encarada como algo positivo, não que esses fato- res prejudicais também não possam ocorrer em um modelo empresarial, mas a estrutura organizacional e a obrigatoriedade dos órgãos que a SAF positiva em sua norma, conseguem estabelecer pilares que constroem um potencial muito mais frutífero a res- peito da diretoria de cada entidade. Ressalta-se, a SAF oferece diversos instrumentos em sua lei que poderão recuperar os entes insolventes e alavancar os clubes saneados, mas para que esses processos sejam executados com eficácia, é preciso que a dire- toria responsável atue de acordo com o planejamen- to estabelecido, da mesma forma que o clube pôde ser prejudicado anteriormente como associação ci- vil, isto poderá tornar a acontecer como empresa a depender da governança que for aplicada. Assim, a SAF não poderá ser vista como a resolução automá- tica de todos os problemas do futebol brasileiro, e sim como uma grande oportunidade para alavancar o desempenho e a estrutura de cada uma das insti- tuições, mas precisará contar uma administração séria e regrada a partir do estabelecido em Lei, para que o projeto empresarial funcione com perfeição, 01/11/2024, 20:00 Página 63 de 139 por isso a importância do regramento especial e pe- culiar que a norma estruturou e será abordado neste texto. 4.1 A atual realidade da administração dos entes esportivos no Brasil Atualmente a administração de clubes futebol brasi- leiros ainda passa por um vagaroso processo de pro- fissionalização, apesar da idade centenária de diver- sas instituições, as diretorias nacionais ainda são marcadas pela herança oligárquica do “governo de poucos” dentro da enorme comunidade que cada uma das entidades conserva ao seu redor, mais espe- cificamente, é correto taxar como o “governo dos mesmos”, visto que cada uma das equipes enxerga um ciclo contínuo dos mesmos dirigentes ocupam a cadeira da presidência do clube, cargo esse que, den- tro do escopo das associações civis, possui um acú- mulo descomunal de decisões que poderão ser toma- das solitariamente. Quando se destaca a presidência como cargo de um país, refere-se á um chefe representativo de Estado, que possui poder em suas mãos, mas o divide em diversas esferas menores em cada área que seja de- mandada uma decisão, sendo o presidente uma figu- ra que deverá servir com condutora de uma nação, a representação do que o Governo prega e o futuro ao qual o país pretende alcançar. Contudo, ao mencio- 01/11/2024, 20:00 Página 64 de 139 nar o líder presidencial no contexto de um clube de futebol, está tocando em uma posição longe de ser meramente representativa. Os presidentes de enti- dades de prática de futebol acumulam basicamente todas as decisões que serão tomadas dentro do clu- be, desde o jogador que será contratado, o plano de vendas para as lojas, até qual a camisa que o time usará no jogo daquela noite, por mais que existam departamentos divisórios dentro da instituição, to- das as decisões passarão obrigatoriamente pelo ful- cro do eleito presidente. Isto poderia ser encarado como algo positivo, uma ideologia de trabalho contí- nuo que poderia preservar a idoneidade e entendi- mento dentro da entidade desportiva, contudo, a história do esporte brasileiro ensinou que esse acú- mulo excessivo de poder sobre um único cargo gera cicatrizes profundas, pois um erro de administração, seja intencional ou não, irá reverberar em todos os pilares da instituição, considerando ainda que o fu- tebol como negócio, apesar de ter um alto potencial econômico, é muito instável e depende muito do re- sultado de campo, especialmente quando não existe uma estrutura segura e bem fundamentada, um equívoco gera resultados catastróficos. À título de exemplificação, pode-se usar o ocorrido com o Cruzeiro Esporte Clube, que foi considerado um dos maiores clubes do futebol brasileiro e atual- mente passa por uma imensa derrocada com um real risco de falir caso não consiga concretizar sua transi- 01/11/2024, 20:00 Página 65 de 139 ção para SAF. A queda do clube mineiro inicia-se com o acúmulo de dívidas em processos administra- tivos com a FIFA (Fédération Internationale de Fo- otball Association (Federação Internacional de Fu- tebol)) por conta de taxas não pagas em transferên- cias internacionais de jogadores até 2017. Posterior- mente, Wagner Pires assume a presidência da insti- tuição, gestor que já contava com 32 anos permutan- do-se em diferentes cargos na diretoria da entidade. Durante sua gestão como presidente, os jornalistas Rodrigo Capello e Gabriela Moreira em parceria com a Polícia Civil, denunciaram um escândalo em que o diretor autorizou o uso de crianças da base do Cru- zeiro como moeda de troca para a negociação de dí- vidas, o que é estritamente proibido pela Lei Pelé e o Estatuto da Criança e do Adolescente, que só permi- te negociações de atletas aos 16 anos. O dossiê tam- bém apresentava diversos rombos financeira pela transferência de recursos a empresas de fachada, desvio esse que, segundo investigação da Polícia Ci- vil, chega a 10 Milhões de Reais. Impreterivelmente, todo esse escândalo comprometeu o desempenho desportivo do clube que enfrenta a pior crise de toda a sua história, derivado da falta de transparência, concentração de poder e corrupção de dirigentes que permeiam a medula óssea da instituição há diversos anos. 13/51 01/11/2024, 20:00 Página 66 de 139 Apesar do caso Cruzeiro demonstrar peculiaridades únicas por seus acontecimentos, essas irregularida- des escondidas estão longe de ser uma exceção no futebol brasileiro, especialmente quando se trata de um corpo diretor que preenche as instituições por décadas, como é o caso do Clube de Regatas Vasco da Gama, outro clube glorioso no cenário nacional que vive situação periclitante em real eminência de deixar de existir por conta de gestões desastrosas e excessivamente longas. Cita-se o nome mais folclóri- co do clube, ao qual a própria torcida credita pela decorada da equipe, Eurico Miranda fez parte da di- retoria do Vasco por 51 anos, sendo 13 deles como presidente, considerando que 8 anos foram segui- dos, o que por si só é ilegal perante o estatuto social do clube, e apenas foram interrompidos pelo Minis- tério Público, visto que as eleições do clube foram consideradas inválidas por compra de votos e adul- teração do resultado. Em 2001, o MP chegou a abrir uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar irregulares nas administrações dos clubes de futebol brasileiro, sendo Eurico Miranda um dos acusados no relatório final, que resultou na abertura do processo de cassação do seu mandado como de- putado, cargo ao qual preenchia simultaneamente com a presidência do clube carioca. Esses dois casos, são apenas aperitivos da infinidadede situações de abuso e concentração exacerbada de poder em entidades de prática desportiva, mas que 01/11/2024, 20:00 Página 67 de 139 ilustram bem a realidade de muitas gestões pelo país e que potencialmente irão comprometer os clubes, se já não o fizeram. Por isso, a SAF como promotora de novo modelo de gestão, apresenta instrumentos que forçarão a desconcentração do poder de decisão, evitando a sobreposição de informações importantes da gestão para que sempre prevaleça a transparên- cia, e os clubes brasileiros tenham de fato perspecti- va de gestões mais comprometidas e estruturadas. 4.2 Os órgãos da SAF como instrumentos li- mitadores da concentração de poder Inicialmente, implica-se esclarecer a respeito dos órgãos obrigatórios na administração da Sociedade Anônima do Futebol, visto que serão eles os condu- tores dessa renovação que o novo modelo societário irá impor em detrimento do antigo formato. A nor- ma estabelece que a SAF terá o conselho de adminis- tração e o conselho fiscal como órgãos de funciona- mento obrigatório e permanente, diferenciando da Sociedade Anônima tradicional na qual essas estru- turas poderiam ser facultativas e temporárias a de- pender do modelo de SA. Entenda-se que a função do conselho de administra- ção ronda a tomada de decisões e a condução da vi- são estratégica da empresa, levando em considera- ção os interesses da instituição e o patrimônio que deverá ser protegido, além de eleger e destituir os 01/11/2024, 20:00 Página 68 de 139 diretores da companhia e fixar-lhes as atribuições, assim como a fiscalizar atos da gestão da diretoria, denunciando-os se necessário. Já em relação ao con- selho fiscal, tem a incumbência de analisar e avaliar os demonstrativos financeiros da companhia, fiscali- zando os atos dos gestores e denunciando-os caso haja alguma irregularidade ou ilicitude. Evidente- mente, esses dois órgãos se juntam a diretoria e a assembleia geral, que já eram previstos como obri- gatórios e contínuos na Lei 6.404/1976, que regula- menta a SA. A Lei 14.193/2021 que regulamenta a SAF, traz em seu dispositivo restrições a respeito da composição do conselho de administração, conselho fiscal e dire- toria. Inicialmente restringe a participação de mem- bro de qualquer órgão, seja ele de deliberação, fisca- lização, administração ou executivo, pertencente a outra Sociedade Anônima do Futebol. Nos mesmos termos, é vedada a atuação de membros de qualquer órgão de clube ou pessoa jurídica original, com a ób- via exceção sobre a instituição que deu origem àque- la SAF em específico, assim como não poderão com- por os conselhos e diretoria, membros de órgãos, nas mesmas qualificações, provenientes de entidade de administração, como ligas, federações e confede- rações que regulamentam a participação do clube no cenário do futebol nacional. 01/11/2024, 20:00 Página 69 de 139 A norma determina ainda que não poderão atuar nos órgãos supracitados os atletas profissionais com relação trabalhista desportiva ativo, assim como treinadores de futebol com contrato celebrado com o a intuição original ou com a própria SAF, por fim, também é vedada a participação nos órgãos de árbi- tros de futebol em atividade. Ressalta-se que, se- guindo a natureza modeladora do estatuto social da empresa, este poderá estabelecer outros requisitos necessários para a admissão no conselho de admi- nistração. Em relação a acumulação de cargos entre os órgãos do clube ou pessoa jurídica original e a nova SAF, a lei estabelece que não poderão ser eleitos para o conselho fiscal e para a diretoria o empregado ou membro de órgão do ente desportivo originário, en- quanto esse for diretamente acionista da Sociedade Anônima do Futebol em questão. Nos mesmos ter- mos, poderá ser eleito para o conselho de adminis- tração membro de qualquer órgão do clube ou pes- soa jurídica original, contudo, durante o momento que esse for acionista da SAF, será vedada a cumula- ção de remuneração, não recebendo qualquer divi- dendo especial por ser participante de órgão da em- presa, restringindo-se somente ao recebimento pela atuação no ente desportivo original. 01/11/2024, 20:00 Página 70 de 139 Ressalta-se ainda que os membros da diretoria deve- rão ter dedicação exclusiva à Sociedade Anônima do Futebol ao qual estão afiliados, podendo o estatuto social da empresa estabelecer instrumentos que ga- rantam essa devoção especial que deverá ser atendi- da pela diretoria. Visto que o modelo da SAF é ex- pressamente subsidiário ao tradicional formato de Sociedade Anônima, ressalta-se importante instru- mento que veda a acumulação de cargos de presi- dente do conselho de administração e do cargo de diretor-presidente/principal executivo da compa- nhia, algo que também deverá ser cumprido dentro da organização da nova empresa. Após perpassar os dispositivos, entende-se que a SAF se apresenta cautelosa em relação a esse acu- mulo de poder que se tornou tradicional na adminis- tração de entes de prática desportiva. A determina- ção da obrigatoriedade e continuidade do conselho fiscal e do conselho administrativo cativa uma pos- tura de fiscalização mútua que impedirá que um úni- co gestor possa concentrar diversas funções em um único cargo, além de essencialmente ter um outro dispositivo de estará fiscalizando os seus atos e de- verá ter a responsabilidade civil de denunciá-los caso encontre alguma irregularidade ou ilegalidade. Ressalta-se que nas atuais administrações dos clu- bes brasileiros, raramente se apresenta uma estrutu- ra estratificada de poder que revela dispositivos de fiscalização da própria administração, o que permi- 01/11/2024, 20:00 Página 71 de 139 tia que os diretores tivessem uma liberdade acima do razoável para a condução da instituição, aumen- tando a potencialidade de erros cruciais e permitin- do maior espaço para a prática de atos de corrupção, algo que a SAF veementemente procura afastar com o novo modelo apresentado. Implica-se ainda que a norma apresenta instrumen- tos que dificultam a cumulação de cargos entre o clube ou pessoa jurídica original e a empresa que está sendo formada, especialmente no aspecto do gestor que também é um acionista particular da SAF. Isto dá-se pelo módulo de gestão da Sociedade Anônima do Futebol que, reconhece a sua formação embrionária ao ente desportivo original, mas pre- tende criar e manter sua administração de formas unitárias, para que os interesses não entrem em con- flito, visto que a nova empresa não poderá buscar uma renovação se atendo à uma administração “sia- mesa” com a instituição originária, principalmente quando o próprio interesse do gestor poderá gerar distúrbio pelo fato de ele próprio ser um acionista. Percebe-se também a preocupação em relação à in- fluência externas ao conjunto SAF e ente original, visto que a norma estabelece restrições para impedir que administradores de outras Sociedades Anôni- mas do Futebol ou de clubes/PJ original, com res- salva do ente que originou a companhia, assumam cargos nos órgãos de gestão da empresa, o que reve- 01/11/2024, 20:00 Página 72 de 139 la-se um cuidado essencial, primeiramente com o fulcro de evitar que haja coligação entre os clubes, ressaltando-se que parcerias entre as equipes pode- rão ser um fator positivo, mas é importante que cada empresa mantenha sua individualidade, assim difi- cultando a concentração de poder de um único acio- nista que poderia vir a se tornar administrador em diversos entes desportivos distintos. Destaca-se que a Lei expõe um dispositivo que de- termina que o acionista controlador da SAF, indivi- dual ou integrante de acordo de controle, não pode- rá ter participação em outra Sociedade Anônima do Futebol, mesmo que indireta. A norma destaca ain- da que o acionista que detiver sozinho pelo menos 10% do capital votante ou total da empresa, sem a controlar, caso participe de outra SAF, não terá di- reito de voto nas assembleias gerais da companhia, assim como não poderá compor qualquer órgão ad- ministrativo, mesmo que indiretamente por meiode indicado. Encare-se esse dispositivo como uma clara manobra para evitar que haja um “controle geral do futebol nacional” por único acionista, visto que isso poderia ser extremamente prejudicial, colocando em risco a integridade do ente esportivo que poderia ser usado para beneficiar uma outra empresa, ou mes- mo para dissuadir a possibilidade de concentração do poder nos clubes, visto que um único acionista que possuísse controle sobre várias entidades des- portivas influentes, poderia basicamente ditar todo 01/11/2024, 20:00 Página 73 de 139 o rumo do futebol profissional nacional, e a SAF não apresenta um modelo que esteja disposto a percor- rer esse risco. Sobre a restrição em relação a gestores das entida- des esportivas tendo poder dentro das sociedades anônimas do futebol, é uma via que congraça com a reserva de controle por atletas, técnicos e árbitros de futebol em atividade, todos com o fulcro de evitar que haja algum favorecimento sobre a equipe ou mesmo sobre os profissionais. De modo que um ente administrativo atuando como gestor de um único clube poderia gerar um desconforto no sistema orga- nizacional do futebol nacional, visto que pelo apelo à pretensão financeira tende a fornecer um injusto favorecimento sobre a instituição ao qual a entidade tem controle, o que congrega-se com a lógica da proibição da gestão por árbitros em atividade, justa- mente para dissuadir qualquer possibilidade de fa- vorecimento do mérito desportivo, especialmente tratando-se da modalidade profissional competitiva ao qual a SAF é conferida. Em relação aos atletas e aos treinadores em contratos vigentes, se estabelece essa restrição com o fulcro apartar a administração da empresa com o comando técnico exercido dentro da equipe, visto que tendo um desses agentes como administradores da companhia aumentaria a proba- bilidade de um favorecimento à despeito do real mé- rito desportivo, o que poderia vir a prejudicar o de- sempenho do time dentro de campo. 01/11/2024, 20:00 Página 74 de 139 Como já citado anteriormente, o modelo criado para a Sociedade Anônima do Futebol foi estruturado di- retamente sobre os déficits que as entidades de prá- tica desportiva apresentavam, sendo a administra- ção falha um deles e a concentração descabida de poder sobre um gestor uma das essenciais motivação para que ocorressem essas avarias. Assim, as estru- turas de divisão obrigatória de poder, o cuidado so- bre quem poderá exercer o controle da empresa, cul- minados com a burocracia positiva que o modelo tradicional de Sociedade Anônima já oferecia, o que fornecerá um cumprimento mais seguro e bem esta- belecido do estatuto social da companhia, especial- mente no que diz a respeito das eleições e delimita- ções de poder de cada um dos órgãos de administra- ção, gerarão um modelo de gestão inovador dentro do cenário do futebol brasileiro, que poderá fornecer uma estruturação mais confiável e protegida que factualmente poderá elevar o esporte nacional à um novo estágio de desenvolvimento. 4.3 A transparência como fator determinante Com os recentes escândalos envolvendo as diretorias dos clubes brasileiros, percebeu-se o risco tomado ao não exigir exigência sobre a transparência das instituições, de modo em que ocorriam diversas ope- rações “secretas” que não eram identificadas dentro do balanço final e dificultavam qualquer espécie de fiscalização sobre as ações do ente. 01/11/2024, 20:00 Página 75 de 139 Com a transformação para o modelo empresarial, naturalmente haveria uma maior dificuldade em promover ocultação de ações financeiras, visto que o conselho fiscal, no modelo proposto pela SAF, é um órgão obrigatório e contínuo, e deverá promover uma análise minuciosa das operações exercidas pela diretoria. Contudo, o congresso entendeu que deve- ria ser promovido um caráter ainda mais aberto em relação à determinados procedimentos executados dentro da Sociedade Anônima do Futebol, assim, a Lei 14.193/2021 trouxe instrumentos que forçaram uma estrutura ainda mais transparente, reduzindo a possibilidade de transações ocultas que viriam a pre- judicar a empresa. Inicialmente, a norma determina que qualquer pes- soa jurídica que detiver ao menos 5% do capital soci- al da SAF, deverá informar à empresa, assim como à entidade nacional de administração do desporto, espaço preenchido atualmente pela CBF, o nome, a qualificação, o endereço e os dados de contato da pessoa natural que, direta ou indiretamente, exerça o seu controle ou que seja a beneficiária final, isto sob pena de suspensão dos direitos políticos dentro da companhia e retenção dos dividendos devidos pela sua porcentagem, assim como reserva dos juros sobre o capital próprio ou de outra forma de remu- neração declarados, até que as informações sejam devidamente fornecidas aos entes necessários. Essa é uma forma de impedir que empresas falsas, popu- 01/11/2024, 20:00 Página 76 de 139 larmente conhecidas como “fantasmas” ou “laran- jas”, venham à integralizar o capital social da com- panhia. Considerando que a SAF apresenta diversas restrições sobre aqueles que poderão controlar a em- presa, é evidente que se faz necessário mecanismos que evitem um “disfarce” sobre um ente que origi- nalmente seria restrito de ter controle sobre a com- panhia, assim, a medida busca diminuir esses casos e regulamentar, dentro e fora da Sociedade Anônima do Futebol, aqueles que detém poder sobre a insti- tuição. Destaca-se ainda que a norma determina obrigações em relação ao sítio eletrônico da SAF, que servirá para manter informações importantes da companhia sempre públicas e atualizadas. Dentre esses dados, a lei menciona que a empresa manterá disponíveis: o estatuto social e as atas da assembleia geral; a com- posição e a biografia dos membros do conselho de administração, do conselho fiscal e da diretoria; e o relatório da administração sobre os negócios sociais, incluído o Programa de Desenvolvimento Educacio- nal e Social, e os principais fatos administrativos. Neste escopo, é importante ressaltar que a SAF, den- tro de um perfil de sociedade aberta, ela busca sem- pre atrair investimentos, por isso, manter essas in- formações disponíveis ao público em geral, é extre- mamente relevante para que o investidor entenda a estrutura da empresa ao qual ela detém interesse, 01/11/2024, 20:00 Página 77 de 139 assim como ter conhecimento sobre àquelas que a comandam, o que é muito mais complicado em rela- ção aos atuais perfis sigilosos que os clubes brasilei- ros detêm. Ademais, como já destacado nesse traba- lho anteriormente, a SAF possui um viés social mui- to relevante e consegue materializar esse pensamen- to na estrutura do Programa de Desenvolvimento Educacional e Social (PDE), contudo, é importante que a instituição comprove que está factualmente realizando o que foi determinado em lei à respeito da atuação social, além de promover a divulgação do programa para que seja mais adotado pela comuni- dade ao qual o PDE atende, assim, é relevante tam- bém que o sítio eletrônico exponha publicamente esse projeto comunitário que a empresa desenvolve. Ressalta-se que a lei estabelece que a SAF que que tiver receita bruta anual de até R$ 78.000.000,00, terá autorização para realizar todas suas publicações obrigatórias por força de lei de forma eletrônica em seu próprio sítio eletrônico, incluindo todas as con- vocações, atas e demonstrativos financeiros, man- tendo-os pelo prazo de 10 anos. Sobre esse rol que deverá ser mantido no sítio eletrônico, a norma de- termina ainda que esses dados deverão ser atualiza- dos obrigatoriamente de forma mensal, e que caso haja alguma inobservância sobre as determinações de transparência, os administradores da Sociedade Anônima do Futebol responderão pessoalmente. Destaca-se por fim que, na possibilidade do clube ou 01/11/2024, 20:00 Página 78 de 139 pessoa jurídica original estar sob processo de recu- peração judicial, extrajudicial ou Regime Centraliza- do de Execuções (RCE), ao qual será explanado e analisado posteriormenteno presente trabalho, a entidade desportiva originária deverá manter no seu próprio sítio eletrônico uma relação ordenada de seus credores, também atualizado mensalmente, e caso não seja cumprida a manutenção de tal lista, os administradores do clube ou pessoa jurídica original responderão de forma pessoal. Por fim, conclui-se que o congresso entendeu os pro- blemas das atuais gestões e procurou minar as estru- turar que permitem que essas falhas se proliferem. A transparência sempre será essencial em todo negó- cio jurídico, especialmente aos que se equiparam aos objetivos da SAF que detém uma visibilidade mun- dial em seus projetos. Assim, a obrigação da publica- ção dos dados, a conveniência sobre a divulgação pública no sítio eletrônico e a regulamentação do registro de pessoa jurídica que obtiverem ao menos 5% do capital social da empresa, gerará uma maior segurança sobre o perfil da empresa, diminuindo a possibilidade da ação de empresas de fachada assim como a ocorrência de operações ocultas que potenci- almente poderiam prejudicar a Sociedade Anônima do Futebol em questão. 01/11/2024, 20:00 Página 79 de 139 5 REPERCURSSÃO FINANCEIRA DO ENTE ORIGINAL, TRIBUTAÇÃO E FINANCIAMEN- TO DA SAF A Sociedade Anônima da Futebol é um modelo novo de fato, mas a essência que estrutura a sua criação é alvo de discussão há décadas, especialmente desde o crescimento das entidades esportivas europeias que remodelaram o futebol de uma atividade lúdica para um empreendimento financeiramente muito atrati- vo, assim, percebeu-se a necessidade da profissiona- lização e reestruturação do modelo de negócio, po- rém diversos quesitos internos como a politicagem que sempre rodeou a administração dos clubes e a dificuldade de elaborar uma tributação específica, visto que a taxação em associação civil é muito mais convidativa, foram fatores que seguraram o avanço e concepção de um formato específico para a institui- ções do esporte. Apesar dessa morosidade, nada mobiliza mais a ino- vação do que a urgência, e isto também serve para entender o porquê o projeto da SAF finalmente foi erguido. As graves crises estabelecidas dentro do cenário do futebol brasileiro, em sua imensa maioria causadas por erros de administração no qual inclui- se a corrupção de muitos diretores de instituição, depararam-se com o cenário pandêmico causado pela propagação do vírus da COVID-19, no qual as corretas medidas sanitárias afastaram o público dos 01/11/2024, 20:00 Página 80 de 139 estádios, o que comprometeu uma importante renda que todos os clubes recebiam, além de cortes de pa- trocínios, diminuição na venda de produtos oficiais e diversas outras fontes de receita que mantinham a saúde das equipes. Com esse combinado, impreteri- velmente, muitos entes desportivos não foram aptos em controlar suas dívidas, além de não conseguir captar rendimentos suficientes para evitar uma emi- nente falência. Diante desse cenário catastrófico a SAF foi moldada, observando diversas questões que envolvem o cená- rio do futebol nacional e inovando em solução, mas inevitavelmente, tinha como missão crucial elaborar um planejamento para fornecer possíveis métodos que dessem a chance dessas instituições insolventes de sobreviverem e perdurarem sua importante his- tória, não apenas como entes esportivo, mas como fator cultural. Assim, o maior desafio da Sociedade Anônima do Futebol é estar apto para apresentar caminhos ao ser aplicado em uma organização em crise financeira, estruturas essas que precisarão atender a necessidade de respiração que o clube pre- cisa para que continue exercendo a prática do fute- bol, e arrecadando fundos com isso, e simultanea- mente não ignorar os credores aos quais o dinheiro é devido e são de fato vítimas da insolvência da insti- tuição. 01/11/2024, 20:00 Página 81 de 139 5.1 Como as dívidas do clube repercutem na SAF Como já mencionado, para contornar possíveis cri- ses financeiras, a SAF precisa conseguir lidar com as dívidas que residem no clube ou pessoa jurídica ori- ginal, ao mesmo tempo que promove a continuação da prática do futebol, até para que a empresa gere a renda que necessita para contornar as dívidas. Para isso, a Lei 14.193/2021 constitui em suas entrelinhas que a Sociedade Anônima do Futebol nasce como uma companhia “limpa”, uma empresa originalmen- te sem obrigações financeiras, assim como o molde tradicional da Sociedade Anônima dita. Por mais que o ente que originou a nova sociedade esteja re- pleta de passivos, a SAF será concebida como insur- gente. Dessa forma, explica-se que a nova empresa não res- ponderá pelas obrigações do clube ou pessoa jurídi- ca que a derivou, sejam os passivos anteriores ou posteriores à data da constituição da companhia, deixando que o montante da dívida permanece sob responsabilidade do ente desportivo original, pois como já explicado, a SAF precisa desse saneamento originário para poder impulsionar a prática do fute- bol profissionalmente, que é o seu objetivo social de fato. De acordo com a norma, a Sociedade Anônima do Futebol responderá diretamente apenas por: Obrigações geradas a partir de artigos que lhe forem 01/11/2024, 20:00 Página 82 de 139 transferidos durante o processo de integralização; obrigações geradas pela própria atividade da empre- sa de forma posterior à sua constituição, como é na- tural; e pelo pagamento das obrigações cíveis e tra- balhistas do clube ou pessoa jurídica original que a formou, adquiridas de forma anterior a constituição da SAF, que relacionem-se diretamente com as ativi- dades específicas do seu objeto social, e que não te- nham sido quitadas pelo ente desportivo anterior após os 6 anos, prorrogáveis por mais 4, nos termos da Lei da SAF e nos moldes do planejamento do Re- gime Centralizado de Execuções (RCE), ao qual será abordado mais adiante neste texto. Percebe-se que a SAF é protegida pela sua norma de criação, blindada de um fracasso monetário antes mesmo de sua concepção, inicialmente deixando-a livre do peso dos passivos da instituição original, para que a companhia possa ter a liberdade de estru- turar sua operação, além de fornecer tempo e plane- jamento suficientes para apresentar resultados em relação à possível insolvência do clube ou pessoal que a constituiu. Contudo, apesar dessa isenção ori- ginal, a norma admite que a situação vivenciada pe- los credores precisa ser combatida, e retira essa blin- dagem da empresa em caso de fracasso do planeja- mento de saneamento, expondo a Sociedade Anôni- ma do Futebol a responder, mesmo que subsidiaria- mente, pela satisfação dos débitos cíveis e trabalhis- tas alçados pelo ente originário antes da constituição 01/11/2024, 20:00 Página 83 de 139 da SAF, buscando um ponto de equilíbrio entre a promoção e integridade do novo formato societário, com o interesse executório dos credores que é justo, válido, e precisa ser atendido da mesma forma. Ainda em relação as dívidas, cita-se a particularida- de das dívidas trabalhistas, que por todo o ordena- mento jurídico brasileiro, são atendidas de forma prioritária, algo que seguirá sendo regra na SAF. En- tende-se que as questões trabalhistas são quase como um sinônimo para crise em instituições des- portivas dentro da realidade brasileira, visto que os jogadores e profissionais da comissão técnica, por terem um salário elevado, especialmente em clubes de maior expressão, são os primeiros a terem suas remunerações atrasadas ou reduzidas. Tornou-se quase como um padrão das equipes nacionais terem problemas salariais e dívidas de direito de imagem com seus funcionários, sendo raros as instituições que cumpre com os compromissos trabalhistas em sua integralidade. Com isso, a Lei 14.193/2021 regu- lamenta um rol taxativo de quem serão os credores sobre as dívidas trabalhistas em relação aos passivos do clube original que serão tutelados pela SAF, sen- do eles: Os atletas; membros da comissão técnica; e funcionários do clube cuja a atividade principal este- ja relacionada diretamente ao departamento de fute- bol. Apesardessa lista parecer óbvia, é relevante que estejam determinados os agentes, visto que existem outros denominadores que constantemente tentam 01/11/2024, 20:00 Página 84 de 139 participar da remuneração de dívidas trabalhistas, como intermediários, empresários e agentes de atle- tas, assim, o rol funciona de forma restritiva para direcionar o pagamento há quem de fato exerceu o trabalho. Por fim, a norma garante expressamente, que as moras trabalhistas serão priorizadas em rela- ção às cíveis na ordem de pagamento dentro de pla- no de saneamento. 5.1.1 Quitação das dívidas por meio de paga- mento conjunto Como já explanado, a SAF não responderá pelas obrigações do clube ou pessoa jurídica original de forma inicial, contudo, apesar da responsabilidade persistir com o ente original, a Sociedade Anônima do Futebol irá integralizar o pagamento desses pas- sivos de forma conjunta a instituição ascendente, afinal, em situações mais densas ao qual certamente serão endereçadas ao novo modelo societário, a “perda” do departamento de futebol agravará ainda mais o auferimento de lucro na entidade primária, assim as dívidas jamais serão saneadas de forma in- dependente. Considerando que a SAF terá um po- tencial maior de alcance de renda, pelo seu nasci- mento “limpo” e seu perfil empresarial de recebi- mento de investimento, a norma instituiu uma es- trutura de pagamento conjunto, que factualmente 01/11/2024, 20:00 Página 85 de 139 poderá permitir um impulso financeiro fundamental para o devedor original, propulsionando o sanea- mento procedural das dívidas. Em termo exatos, a Lei positiva duas transferências de receita obrigatórias que terão que ser feitas pela Sociedade Anônima do Futebol com destino às dívi- das do clube ou pessoa jurídica original, rememo- rando-se que esses passivos que receberão uma par- te da renda da SAF deverão ser obrigatoriamente ligados à prática do futebol, que é o motivador basi- lar da empresa, receitas essas que aliadas aos rendi- mentos próprios da instituição primária deverão ser o suficiente para o pagamento das dívidas, seguindo plano de saneamento traçado e aprovado pelos cre- dores. As transferências determinadas por lei se da- rão da seguinte forma: Destinando-se 20% das re- ceitas correntes mensais auferidas pela SAF; e desti- nando-se 50% dos dividendos, juros sobre capital próprio ou de outra remuneração recebida pelo clu- be ou pessoa jurídica original na condição de acio- nista da empresa, o que retorna a reforçar a essenci- alidade da organização progenitora manter-se sócia da sua própria Sociedade Anônima do Futebol. Por meio desta medida, entende-se que a relação embrionária entre o clube ou pessoa jurídica original e a SAF se mantém, e que o pagamento das dívidas é um objetivo junto, e que será combatido em conjun- to, pois, apesar de serem sociedades distintas, a saú- 01/11/2024, 20:00 Página 86 de 139 de financeira da instituição original poderá atingir a empresa caso o planejamento não seja cumprido. Esclarece-se que o plano para saneamento das dívi- das desenvolvido dentro da instituição do RCE deve- rá ser baseado em um total de 10 anos, aonde ao fi- nal dos 6 primeiros, os passivos já deverão ter sido quitados em pelo menos 60%, caso isso ocorra, o planejamento de quite poderá ser prorrogado por mais 4 anos. Caso haja esse prolongamento, o juízo centralizados das execuções, a pedido do interessa- do, poderá reduzir a porcentagem de 20% das recei- tas mensais da SAF destinadas ao pagamentos de passivos para 15%, funcionando quase como uma premiação pelo sucesso ao qual o “método SAF” po- derá alcançar, além de premeditar e preparar o fim da reformulação financeira do clube original, sanea- mento esse que irá estabilizar e impulsionar ainda mais a Sociedade Anônima do Futebol no seu desen- volvimento próprio assim como do seu objeto social. Conclui-se, o desenvolvimento do Futebol como es- porte, depende essencialmente da saúde financeira daqueles que o promovem, e a SAF oferece métodos consistentes e detalhados para que haja essa recupe- ração sem que a prática do esporte de forma simul- tânea seja prejudicada, o que atualmente, é o sonho de todas as entidades de prática desportiva quem enfrentam imbróglios financeiros. 01/11/2024, 20:00 Página 87 de 139 Como uma forma de garantir a eficácia desse paga- mento conjunto e sustentar que o devido repasse será efetuado, a norma optou por quebrar a limita- ção de responsabilidade, determinando que os admi- nistradores da Sociedade Anônima do Futebol res- pondam de forma pessoal e solidária pelas obriga- ções relativas aos repasses financeiros, da mesma forma que, responderão o presidente do clube ou os sócios administradores da pessoa jurídica original, pelo pagamento aos credores dos valores que forem transferidos pela SAF. Este dispositivo incide direta- mente sobre as questões de ineficácia ou desvirtua- mento por parte da diretoria em relação aos repas- ses financeiros, visto que, os administradores sen- tem-se blindados pela responsabilidade que normal- mente recai sobre a organização como um todo, ja- mais atingindo de forma pessoal a pessoa do gestor. Contudo, o perfil apresentado pela SAF, que se equi- para ao que é estabelecido pelo modelo de Sociedade Anônima tradicional, é de aplicação frontal da res- ponsabilidade sobre os encarregados, preocupando- se em alcançar diretamente os agentes causadores do desvio de conduta em detrimento da culpabilida- de coletiva que recai sobre a instituição. Assim, com essa postura penetrante adotada perante os gesto- res, a SAF formula um molde de maior responsabili- dade sobre os administradores, o que promete criar um cenário mais cauteloso e ameaçador para aque- les que prejudicarem a entidade de forma proposital. 01/11/2024, 20:00 Página 88 de 139 Por fim, como uma forma de defesa, a Lei estabelece que enquanto a SAF cumprir os pagamentos previs- tos, será proibida qualquer forma de retraimento ao patrimônio ou às receitas da empresa provindo de restrições sobre a obrigações anteriores à constitui- ção da empresa. Dessa forma, entende-se que o re- passe dos valores é o suficiente para que o plano de recuperação do ente original seja continuado da for- ma correta, então a SAF será devidamente blindada enquanto efetuar essas transferências, o que mais uma vez garante o prosseguimento do trabalho e do desenvolvimento do futebol profissional dentro da estrutura da nova empresa, sem comprometer a companhia por conta das dívidas anteriores à sua constituição, visto que estas estarão sendo devida- mente quitadas. 5.2 Os modos de quitação das Obrigações an- teriores à constituição da empresa Como o fulcro de sanear todas as dívidas provindas da entidade desportiva e anteriores ao nascimento da SAF, a Lei 14.193/2021 institucionalizou dois ca- minhos que poderão ser escolhidos pelo clube ou pessoa jurídica original, ao seu exclusivo critério. São eles: a já tradicional recuperação, em sua moda- lidade judicial ou extrajudicial, agora tornando o ente desportivo original como um agente genuina- mente capaz de compor tal processo que é exclusivo de sociedades empresariais; e o Regime Centralizado 01/11/2024, 20:00 Página 89 de 139 de Execuções, uma estrutura criada especialmente para a instituição que deu origem à uma Sociedade Anônima do Futebol, na qual irá estabelecer um pla- no de pagamento aos credores ao passo que centrali- za todas as execuções desse passivo em um único juízo. 5.2.1 Recuperação judicial e extrajudicial no ente desportivo original Inicialmente, assevera-se compreender que o insti- tuto da Recuperação Judicial ou Extrajudicial são estruturas propostas pelo regimento brasileiro com o fim de regenerar e estabilizar empresas que se en- contram em grave insolvência. O processo de recu- peração consiste em avaliar a viabilidade para a companhia continuar a exercer suas atividades, caso a resposta seja positiva, irá ser elaborado um plano para sanear as dívidas da instituição para que essa possa retomar suas atividades, como pleno e solven- te funcionamento. Desse modo mantendo emprego dos trabalhadores dependentes da empresa, preser- vando a função social, a circulação de bens e servi- ços, o devido recolhimento de impostos além das demais benesses socioeconômicas que a decida ope- ração da empresa tem a oferecer. É determinante salientar que a Recuperação Judicial ou Extrajudicial possuem uma veia muito mais soci- al do que punitiva, de modo que a Lei de Recupera- 01/11/2024, 20:00 Página 90 de 139 coes e Falencias busca conciliar os mútuos interes- ses que foram afetados no desenvolvimento do pro- cesso, ao passo que os credores pleiteantes deverão ter seus interesses devidamente atendidos, mas tam- bém deve-se observar o trabalho da empresa como fonte geradora de bem-estar, que promove a concor- rência entre agentes econômicos, gera ofertas de tra- balho e contribui para o desenvolvimento nacional. Concretizando dessa forma que o processo vai muito além de apenas solver as dívidas para com os credo- res, e sim, auxiliando a economia do país a direcio- nar-se à um desenvolvimento saudável por meio da condução de empresas em momento de crise finan- ceira. Naturalmente, tendo em vista este instituto que pre- za pela retomada das atividades de empresas insol- ventes, muitos clubes ou ligas em grave crise finan- ceira poderiam pleitear pelo processo de recupera- ção, contudo, o formato majoritário das entidades de práticas desportivas no Brasil é de associação civil, ou mesmo outros modelos que não possuem perfil empresarial, o que dificulta o acesso ao processo de recuperação, visto força da Lei 11.101/2005: Art. 1º Esta Lei disciplina a recuperação judicial, a recuperação extrajudicial e a falência do empresá- rio e da sociedade empresária, doravante refe- ridos simplesmente como devedor. 01/11/2024, 20:00 Página 91 de 139 Art. 2º Esta Lei não se aplica a: I – Empresa pública e sociedade de economia mista; II – Instituição financeira pública ou privada, coope- rativa de crédito, consórcio, entidade de previdência complementar, sociedade operadora de plano de as- sistência à saúde, sociedade seguradora, sociedade de capitalização e outras entidades legalmente equi- paradas às anteriores. (GN) A norma referente aos processos de recuperação e falências deixa claro sobre os moldes ao qual esse instituto se encaixa, inclusive apresentando um rol taxativo ao qual excluí qualquer equiparação à uma sociedade não empresarial, assim, impedindo que o tradicional modelo de Associação Civil sem fins lu- crativos, adotado pela maioria das entidades de prá- ticas desportivas, possa ser alvo desses procedimen- tos. Esse dispositivo tem sido alvo de discussões dentro do direito brasileiro, visto que, apesar de tecnica- mente os entes desportivos não possuírem modelo empresarial, a atividade exercida dentro das organi- zações equipara-se ao funcionamento de uma em- presa devidamente formata, tanto em mentalidade que visa o lucro, como em cifras pelos montantes milionários que são propulsores das operações dos clubes e ligas de futebol. 01/11/2024, 20:00 Página 92 de 139 Segundo Fábio Ulhoa Coelho, entende-se a atividade empresarial da seguinte forma: “A atividade dos empresários pode ser vista como a de articular os fatores de produção, que no sistema capitalista são quatro: capital, mão de obra, insumo e tecnologia. As organizações em que se produzem os bens e serviços necessários ou úteis à vida huma- na são resultado da ação dos empresários, ou seja, nascem do aporte de capital — próprio ou alheio —, compra de insumos, contratação de mão de obra e desenvolvimento ou aquisição de tecnologia que rea- lizam. Quando alguém com vocação para essa ativi- dade identifica a chance de lucrar, atendendo à de- manda de quantidade considerável de pessoas — quer dizer, uma necessidade, utilidade ou simples desejo de vários homens e mulheres —, na tentativa de aproveitar tal oportunidade, ele deve estruturar uma organização que produza a mercadoria ou ser- viço correspondente, ou que os traga aos consumi- dores. Estruturar a produção ou circulação de bens ou serviços significa reunir os recursos financeiros (capital), humanos (mão de obra), materiais (insu- mo) e tecnológicos que viabilizem oferecê-los ao mercado consumidor com preços e qualidade com- petitivos” 01/11/2024, 20:00 Página 93 de 139 Ao prestar a análise da atividade exercida dentro de um clube ou liga de futebol profissional, é possível identificar todos os elementos propostos dentro da conceituação proposta no dispositivo e na doutrina. O capital, os insumos, a mão de obra assalariada e os instrumentos tecnológicos são, sem nenhuma con- testação, quatro pilares da atividade empresarial, e no contexto do funcionamento de uma instituição esportiva se identifica tais bases através do capital nos cofres, dos jogadores e funcionários, que são in- dispensáveis para o exercício da atividade desportiva como mão de obra, os insumos são as horas de tra- balho pré-estabelecidas, o “material humano”, e pôr fim a tecnologia citada se identifica através dos equi- pamentos utilizados para potencializar rendimento dentre diversos outros fatores. Tais pontos são ape- nas exemplos dentro do enorme escopo que permite a caracterização da operação de um clube de futebol dentro da atividade empresarial. Entende-se que o registro fornece um modelo diferente de “empresa” para as instituições, muito por uma questão históri- ca e complicações burocráticas dentro dos parâme- tros da atividade funcional, que estão sendo mina- das com a propulsão da SAF, mas considerando a construção prática, a operação atual dos clubes e ligas do futebol brasileiro se aproximam muito mais do aspecto empresarial do que da associação civil propriamente dita. 01/11/2024, 20:00 Página 94 de 139 Diante dessa tese, é possível até vislumbrar como a criação da SAF era urgente, visto que as entidades de prática desportiva já exerciam atividade empresa- rial de fato, mas não conseguiam ser reconhecidas e receber as benesses necessárias para exercer a ope- ração como deve ser feito por direito. Cita-se inclusi- ve o caso Figueirense Futebol Clube, um tradicional clube de futebol catarinense que vive uma gravíssi- ma crise financeira há mais de 6 anos por repetidos erros dos mandatários da organização e da gestão contratada, e por essa insolvência que levaria ao imi- nente fim da equipe, foi pleiteado instituto da Recu- peração Judicial, justamente utilizando-se da argu- mentação da equiparação da atividade do clube com a operação empresarial ao qual a estrutura falimen- tar foi montada sobre. Após negativa sentencial do juiz em primeiro grau, o Figueirense teve seu recur- so reconhecido como procedente pelo TJSC, ao qual o Desembargador reconheceu o exercício empresari- al dentro de um modelo não tradicional e reconhe- ceu a entidade desportiva como legitima para com- por o processo de recuperação judicial. Percebe-se que a jurisprudência já se tornava a favor da concessão da recuperação judicial e extrajudicial para entidades de prática desportiva, mas com o ad- vento da lei da SAF, essa discussão foi praticamente sacramentada. A nova norma apresentou a recupe- ração judicial e extrajudicial como adventos para uso dos clubes ou pessoas jurídicas que originaram a 01/11/2024, 20:00 Página 95 de 139 sociedade anônima do futebol como meio de quita- ção das suas obrigações, ao qual poderá ser a opção em detrimento do Regime Centralizado de Execu- ções. Neste ponto, o ente desportivo originário que optar pela recuperação judicial ou extrajudicial será devidamente reconhecido como parte legítima, jus- tamente por exercer essa atividade econômica, e po- derá desenvolver o processo recuperacional no esco- po da Lei nº 11.101. O regulamento da SAF destaca ainda que os contratos bilaterais, à exemplo dos contratos de atletas profissionais, firmados com o clube ou pessoa jurídica original não serão resolvi- dos em razão do pedido de recuperação e ainda po- derão ser transferidos à Sociedade Anônima do Fu- tebolno momento de sua constituição, seguindo o plano de integralização do capital. Em linhas gerais, entende-se que a norma estabelece a opção de forma específica para os entes desporti- vos que originaram a SAF, o que é tecnicamente uma hipótese restrita, mas no contexto mais amplo, a nova lei contribui para o entendimento da ativida- de econômica das entidades de prática desportiva como equiparadas as operações realizadas nas socie- dades empresárias, fortificando a teoria que as insti- tuições esportivas, mesmo fora do contexto da SAF, poderão ser reconhecidos para compor processo de recuperação judicial e extrajudicial. Por mais que a Sociedade Anônima do Futebol apresente um forma- to de transição muito convidativo, ainda exige um 01/11/2024, 20:00 Página 96 de 139 grande esforço, e em alguns casos um importante propulsor financeiro faz toda a diferença na trans- formação, como foi visto nos primeiros clubes que aderiram ao novo modelo empresarial, assim, é im- portante o que a norma da SAF faz no sentido de proteger e favorecer à concessão de benesses mesmo a instituições que se encontram fora da cúpula da Sociedade Anônima do Futebol. 5.2.2 O Regime Centralizado de Execuções Inicialmente, registra-se que o Regime Centralizado de Execuções, abreviado como RCE, consiste em um sistema criado pela Lei 14.193/2021 de atuação es- pecífica na SAF, ao qual será disponível para sua adoção como método de quitação das dívidas adqui- ridas antes da constituição da SAF pelo clube ou pessoa jurídica original, coexistindo com o método de Recuperação Judicial ou Extrajudicial. Segundo a norma, o RCE submeterá o ente desporti- vo original ao concurso de credores concentrados em um único juízo que irá centralizar todas as exe- cuções, as receitas e os valores arrecadados por meio da colaboração de pagamento entre SAF e institui- ção originária. Esse foro ainda será responsável pela devida distribuição do capital aos credores, ao qual receberão em concurso e de forma ordenada pelos critérios que serão abordados ainda neste texto. Para dar início ao desenvolvimento da estrutura, o 01/11/2024, 20:00 Página 97 de 139 clube ou pessoa jurídica original deverão apresentar requerimento ao presidente do Tribunal Regional do Trabalho e ao presidente do Tribunal de Justiça do seu estado, que poderão conceder a procedência do RCE em relação às dívidas trabalhistas e cíveis res- pectivamente. Ressalta-se que, caso não haja um ór- gão específico de centralização de execuções do judi- ciário abordado, o juízo convergente será aquele que tiver determinado o primeiro pagamento da dívida. Estabelecido o foro, o Poder Judiciário irá discipli- nar o RCE por meio dos atos próprios de seus tribu- nais, conferindo um prazo inicial de 6 anos para o pagamento dos credores. Caso a instituição original comprove que nesse período foram quitados ao me- nos 60% do passivo originário, será permitida a ma- nutenção do Regime Centralizador de Execuções por mais 4 anos, de modo que a SAF poderá, por seu próprio interesse, reduzir o percentual de repasse da receita corrente mensal de 20% para 15%. Percebe-se que a norma busca estruturar uma estru- tura para ser bem fiscalizada, fugindo da possibili- dade de concentrar um montante tão relevante quanto os passivos da instituição sem um monitora- mento adequado. A passagem pelos presidentes dos tribunais, e até mesma a atuação dos Tribunais Su- periores em caso se omissão dos outros colegiados, darão uma segurança maior para que o processo seja feito com maior segurança. Ademais, afere-se que a SAF atua como uma pagadora em conjunto, permi- 01/11/2024, 20:00 Página 98 de 139 tindo um maior escoamento dessas dívidas pelo alto potencial de investimento que a empresa possui, po- dendo desafogar o ente originário, algo que também será afetado pelo bom prazo fornecido, funcionando como um “reparcelamento” dos passivos que, em muitos casos, estavam praticamente impedindo que a organização mantivesse sua atividade. Destaca-se que um período total de 10 anos é suficiente para que o montante seja quitado, e estabelecer um tem- po mais que esse poderia prejudicar ainda mais os credores que só pela existência do passivo estão em déficit. Importante ressaltar que a lei determina que, caso seja superado esse prazo estabelecido, a Socie- dade Anônima do Futebol responderá, de forma subsidiária, pelo pagamento das obrigações civis e trabalhistas anteriores à sua constituição, salvo em caso de negociação coletiva que venha a estabelecer plano de pagamento de forma diversa ao apresenta- do originalmente e aprovado pelo mandatário do Tribunal. Seguindo o procedimento estabelecido pelo legislati- vo, o clube ou pessoa jurídica original que vier a pleitear pela instalação do RCE, terá um prazo de 60 dias para apresentação de seu plano de credores, ao qual deverá expor documentação referente ao balan- ço patrimonial, as demonstrações contábeis dos últi- mos 3 anos de atividade, as obrigações apresentadas no processo executivo com a sua estimativa auditada das dívidas na anterior fase de conhecimento, o flu- 01/11/2024, 20:00 Página 99 de 139 xo de caixa assim como a sua projeção para os próxi- mos 3 anos, o termo de compromisso do controle orçamentário, a ordem da fila de credores constando o respectivo valor individual e atualizado de cada passivo, e por fim, os pagamentos já efetuados. Res- salta-se que todos esses itens, com exceção do balan- ço e dos demonstrativos contábeis, terão que ser re- gistrados publicamente em sítio eletrônico próprio da entidade. Toda a requisição dessa documentação é válida para que seja feita uma profunda análise do quanto a ins- tituição deve e o qual o seu potencial de receita, para que assim seja equilibrado o quanto desses lucros poderão ser destinados ao pagamentos do passivos, estabelecendo um plano parcelado de quitação que se encaixe dentro da realidade do que o clube ou pessoa jurídica original pode de fato arcar, afinal o não cumprimento dos ressarcimentos resultará em responsabilização da SAF, o que poderá comprome- ter todo o trabalho de desenvolvimento que é resul- tante da criação da empresa. Assim, é importante que não haja erros ou omissões nesse rol de docu- mentação, que é complexo para gerar um relatório completo, constituindo um plano que seja factível para a instituição desportiva. Destaca-se ainda a questão da transparência, ao qual a maioria dos do- cumentos requeridos deverão ser publicados em sí- tio eletrônico, o que dará uma dimensão mais exata sobre a realidade financeira ao qual é enfrentada 01/11/2024, 20:00 Página 100 de 139 pela organização, e poderá fornecer uma visão mais firme para os credores sob quais medidas serão ado- tadas para que o seu repasse financeiro seja efetua- do. A norma estabelece uma ordem para o pagamento dos credores, positivando como credores preferenci- ais os idosos, pessoas com doenças graves, pessoas cuja a remuneração salarial seja inferior à 60 salári- os-mínimos, gestantes, pessoas vítimas de acidente de trabalho provindo da relação com o clube ou pes- soa jurídica original, e por fim, credores que possu- am acordo que preveja redução da dívida original em pelo menos 30% Ressalta-se que, em caso de concorrência entre essas preferencias, será prioriza- do o processo mais antigo, como já é de praxe nos planos de pagamentos de dívidas por empresas, além de que as dívidas trabalhistas serão privilegia- das em relação às cíveis na cúpula da ordem de pa- gamento, algo que deverá estar explanado no plano de pagamento dos credores apresentados pelo clube ou pessoa jurídica original. Com a adoção do Regime Centralizado de Execuções, as dívidas, de ambas as naturezas, serão corrigidas exclusivamente pela taxa SELIC (Sistema Especial de Liquidação e de Custó- dia), ou algum outro índice que vier à substituí-lo. O RCE busca ainda ser um pouco flexível em relação aos métodos de pagamento, permitindo uma certa personalização para que o sistema se adeque melhor 01/11/2024, 20:00 Página 101 de 139 em determinadoscasos concretos. Como prova, a norma abre a possibilidade de estruturação de uma negociação coletiva, constando a instituição e todos seus credores, para concordar em um plano de paga- mento de forma diversa ao preceituado em lei. Ade- mais, a legislação confere outra perspectiva em rela- ção à cédula de pagamento dos passivos, de modo que o credor poderá optar por ter sua dívida ressar- cida, no todo ou em parte, em ações da Sociedade Anônima do Futebol ou em títulos por ela emitidos, citando a Debênture-FUT como exemplo, desde que essa opção esteja devidamente prevista no estatuto social da empresa. Desse modo, percebe-se que a norma expõe um modelo padrão, majoritário, que deverá ser seguido para desenvolvimento das execu- ções na cúpula do RCE, contudo, considerando o estabelecido no estatuto da companhia e a autoriza- ção necessárias em alguns casos do juízo centraliza- dor, esse formato amostral poderá ser modificado em alguns pontos para ajustar melhor ao caso con- creto de cada instituição e credor. A norma reserva ainda determinados direitos dos credores em relação aos seus títulos, destacando a possibilidade do merecedor anuir de parte ou todo do seu crédito, à sua exclusiva vontade, bem como a hipótese do credor de dívida trabalhista, à seu crité- rio, sub-rogar seu título por meio de cessão de crédi- to à terceiro, assim como já era possível aos credores de passivos cíveis, mantendo a mesma posição do 01/11/2024, 20:00 Página 102 de 139 titular do crédito original na fila de credores, deven- do ser comunicado ao clube ou pessoa jurídica origi- nal, bem como ao juízo centralizador da dívida para que promova a alteração no plano de pagamento correspondente. Por fim, determina-se a vedação sobre qualquer for- ma de restrição ao patrimônio ou receita, seja por penhora ou ordem de bloqueio, do clube ou pessoa jurídica original que cumprir com os pagamentos devidos na estrutura do Regime Centralizado de Execuções. Tal medida espelha a proibição de restri- ções sobre a SAF que cumprir os repasses do valor à instituição originária, e mais uma vez garante segu- rança jurídica para que a organização possa promo- ver a quitação necessária de seus passivos sem preci- sar interromper sua atividade ou tê-la de alguma forma apenada por conta das dívidas. Em conclusão, analisa-se que o Regime Centralizado de Execuções expõe uma estrutura que, apesar de ter sido morosa em sua elaboração, irá organizar em definitivo o imbróglio que se constitui sobre a égide das abundantes dívidas que cercam as entidades do futebol brasileiro, concentrando-as para que haja um planejamento conciso e firme, e configurando a realização de um pagamento que possa ser factível dentro da realidade do clube ou pessoa jurídica ori- ginal. A estrutura em relação às dívidas que se cons- trói ao redor da Sociedade Anônima do Futebol, não 01/11/2024, 20:00 Página 103 de 139 fornece um sonho utópico de redução dos passivos e abatimentos aleatórios como algumas outros mode- los legislativos mencionavam, mas baseia seu perfil na realidade profunda e complexa em qual as enti- dades desportivas se encontram, muitas ainda em desesperança sobre hipóteses de recuperação. As- sim, as possibilidades que a SAF abre para que haja uma real quitação dessas dívidas, demonstram uma oportunidade inovadora que os clubes e ligas terão para sair do atual poço fundo em que se encontram, e possam mirar em um mais vívido desenvolvimento do futebol brasileiro, 5.3 O Regime de Tributação Específica do Fu- tebol Assevera-se inicialmente que o regime tributário im- posto sobre a instituição era um dos principais moti- vos que desincentivavam a transformação do clube ou pessoa jurídica para o formato empresarial. Para compreender melhor esses termos, é necessária uma explanação da conjuntura tributária da associação civil, que ainda é o modelo que recebe a maioria das entidades de prática desportiva do futebol brasileiro. Primordialmente, se estabelece que a associação ci- vil não possui fins lucrativos, tendo como seu fulcro o desenvolvimento da atividade social, cultura ou esportiva, o que não é impeditivo para que haja au- ferimento de lucro, mas este deverá ser reinvestido 01/11/2024, 20:00 Página 104 de 139 em prol da organização. De acordo com a Constitui- ção Federal de 1988, determina à respeito da tribu- tação desse modelo de sociedade: Art. 9º É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: c) o patrimônio, a renda ou serviços dos partidos políticos, inclusive suas fundações, das entidades sindicais dos trabalhadores, das instituições de edu- cação e de assistência social, sem fins lucrativos, ob- servados os requisitos fixados na Seção II deste Ca- pítulo. No livro Manual da Tributação no Esporte, o profes- sor Rafael Marcondes esclarece quais tributos os clubes de futebol são isentos de custear: Desse modo, estão contemplados tributos como: IRPJ, Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguros (IOF), IPI, ICMS, Imposto sobre a Trans- missão de Bens Imóveis (ITBI), Imposto Sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) e o ISS. Além desses tributos, as associações também sofrem uma redução no pagamento de outros impostos como o PIS, o FGTS e a contribuição ao INSS. Em resumo, conclui-se que um dos grandes trunfos so- 01/11/2024, 20:00 Página 105 de 139 bre o formato de Associação Civil é o regime tributá- rio ao qual lhe é imposto, sendo um dos modelos com a menor quantidade de encargos. Contudo, a realidade dos clubes e ligas não mais compactuam com a essência da Associação Civil, especialmente a respeito do lucro auferido, que nas atuais entidades de prática desportiva é proposital e consideravel- mente alto, sendo necessária essa readaptação a um modelo mais condescendente com o seu funciona- mento. Impreterivelmente, a mudança para um for- mato empresarial, seja uma sociedade anônima, li- mitada, dentre outras, iria inserir uma abrupta mu- dança de patamar sobre a tributação incidente, de modo que a instituição seria alcançada por diversos impostos que não a atingiam antes, além de haver um percentual consideravelmente superior sobre as alíquotas recolhidas, representando um grande ba- que financeiro, algo que sempre freou a transforma- ção dos clubes e ligas de associação civil para empre- sa. Como advento da Sociedade Anônima do Futebol, com o fulcro de tornar o novo modelo convidativo, entendeu-se a necessidade de adotar um modelo tri- butário intermediário, impreterivelmente maior que na Associação Civil sem fins lucrativos, o que era impossível de se evitar pelo seu módulo de funciona- mento, mas ainda menos impactante que nos forma- 01/11/2024, 20:00 Página 106 de 139 tos empresariais tradicionais, configurando-se o que a norma nomeia de Regime de Tributação Específica do Futebol, abreviado como TEF. O funcionamento do TEF se assemelha ao famigera- do “Simples Nacional”, programa de tributação cria- do para facilitar o pagamento dos impostos pelos Micro Empresários, visto que o regime específico para SAF propõe um sistema de recolhimento único, visto que a empresa poderá repassar a alíquota de 5% da receita mensal bruta da SAF e nela serão en- globados os pagamentos do Imposto de Renda das Pessoas Jurídicas (IRPJ), Contribuição para os Pro- gramas de Integração Social e de Formação do Pa- trimônio do Servidor Público ( PIS/Pasep), Contri- buição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), Contri- buição para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS), e por fim, as contribuições previstas no plano de custeio de Seguridade Social, no escopo da Lei 8.212/1991. Este será o modelo de arrecadação de impostos para os primeiros 5 anos de constituição da empresa, de modo que, ainda nesse período, para fins de recolhi- mento da alíquota, a Lei 14.193/2021 considera a receita mensal da SAF como o seu faturamento total, incluindo os prêmios e lucros do programa “sócio- torcedor” que o clube possa vir a possuir, excetuan- do os rendimentos provindos da cessão dos direitos desportivos dos atletas.Após esse quadro temporal, 01/11/2024, 20:00 Página 107 de 139 partindo do 6 ano de existência da Sociedade Anôni- ma do Futebol, a alíquota sobre a receita mensal passará a ser de 4%, mas incluindo os ganhos pela cessão de direito desportivos dos atletas, que era ex- cetuado anteriormente. Apesar dessa gama de tributos incluídos no plano de recolhimento único do Regime de Tributação Espe- cífica do Futebol, ainda há outros impostos que não terão sua cobrança anuída pelo recolhimento da alí- quota e não terão sua exclusão incidida, precisando ser devidamente quitados individualmente, são eles: Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Se- guro, ou Relativas a Títulos ou Valores Mobiliários (IOF); Imposto de Renda relativo aos rendimentos ou ganhos líquidos auferidos em aplicações de renda fixa ou variável; Imposto de Renda relativo aos ga- nhos de capital auferidos na alienação de bens do ativo imobilizado; contribuição para o Fundo de Ga- rantia do Tempo de Serviço (FGTS); Imposto de Renda relativo aos pagamentos ou créditos efetua- dos pela pessoa jurídica a pessoas físicas; e por fim, demais contribuições instituídas pela União, inclusi- ve as contribuições compulsórias dos empregadores sobre a folha de salários, destinadas às entidades privadas de serviço social e de formação profissional vinculadas ao sistema sindical. Entende-se que esses tributos não puderam ser incluídos dentro da alí- quota programada para pagamento único, visto que esses últimos impostos possuem uma alta taxa de 01/11/2024, 20:00 Página 108 de 139 variação à depender de como a atividade na socieda- de será conduzida, além de que não possuem relação direta com o ganho auferido na SAF, então não po- deriam ser quitados por uma alíquota pré-determi- nada provinda da receita mensal. Por fim, a lei estabelece que o Ministério da Econo- mia irá regulamentar a repartição para os encargos tributários quitados por meio da TEF, observando a legislação específica em vigor, bem como os aponta- mentos da Constituição Federal. Ademais, a norma apresenta um “convite” para os clubes ou pessoa ju- rídicas originais com dívidas anteriores à constitui- ção da SAF que não tiverem às dívidas inclusas em programas de refinanciamento do governo federal, informando-os que poderão apresentar proposta de transação resolutiva de litígio, nos termos da Lei 13.988/2020. É importante ressaltar que a estruturação do Regime de Tributação Específica do Futebol talvez tenha sido o dispositivo mais complexo de ser elaborado, principalmente considerando os vetos presidenciais que rodearam a aprovação da Lei 14.193/2021. Den- tre outros cortes, o dispositivo mais impactante que foi retirado da norma autorizava tanto a Sociedade Anônima do Futebol, quanto o clube ou pessoa jurí- dica original, a captar recursos de incentivo em to- das as esferas governamentais, inclusive as proveni- entes da Lei nº 11.438/2006, que é justamente a 01/11/2024, 20:00 Página 109 de 139 norma que regulamenta a distribuição de benefícios para fomentar as atividades de caráter esportivo. Com esse veto, a legislação deixa transparecer uma importante lacuna sobre a influência financeira do Governo sobre as futuras SAF, o que produz um ce- nário confuso, visto que atualmente diversos clubes e ligas de futebol apenas conseguem sobreviver atra- vés do incentivo da prefeitura de sua cidade ou do governo do seu estado, porém com a interdição do dispositivo supracitado, subentende-se que esses “patrocínios” estarão impedidos de serem efetuados, o que, caso se concretize, poderá ser fatal para diver- sas entidades que possuem um impacto desportivo e midiático menor, algo que evidentemente diminui o potencial de investimento, aos menos inicialmente, e impreterivelmente necessita do auxílio governamen- tal para exercer sua atividade. Em conclusão, analisa-se que o Regime de Tributa- ção Específica do Futebol, assim como a maioria das estruturas da SAF, foi constituído a partir de um profundo entendimento sobre os problemas que rondam a transformação de uma entidade desporti- va, no caso dos impostos, sobre o impacto que um regime tributário empresarial poderia causar em uma instituição que está saindo dos moldes de uma Associação Civil. Contudo, apesar da correta com- preensão, a TEF precisou encarar o regime tributá- rio brasileiro que é extremamente vasto e estratifica- do, o que permitiu que o novo sistema pudesse unifi- 01/11/2024, 20:00 Página 110 de 139 car apenas parte do que era preciso inicialmente. Porém mesmo com essa dificuldade, a SAF ainda conseguiu apresentar um regime que atenua a pesa- da carga tributária de uma sociedade empresarial tradicional, diminuindo esse impacto, mas ainda sim elevando os índices para que o recolhimento conduza com o lucro que se pretende auferir, o que é extremamente positivo, balanceado, e atinge o obje- tivo de manter a SAF como um modelo convidativo, apesar do aumento na carga tributária. 5.4 Debênture-Fut: O torcedor-investidor Quando se trata sobre o futebol, especialmente so- bre a modalidade no Brasil, uma das primeiras ima- gens rememoradas são as grandes “massas” que acompanham as equipes por onde elas forem, nos estádios lotados e na intensa paixão que compõe o perfil do torcedor brasileiro. Em termos mercadoló- gicos, ser uma companhia que tem a sua disposição milhares de apoiadores sedentos por apresentar sua colaboração é um fator extremamente positivo, pois potencialmente, muitos desses fãs poderão vir a tor- na-se investidores. Os clubes como associação civil entenderam isso, mas não tinham a base necessária para explorar todo o potencial financeiro que os adeptos poderiam proporcionar, cita-se o famoso programa de sócio-torcedor, o qual fornecia uma “assinatura” em trocas de benefícios como acesso ao estádio, descontos nos produtos oficiais, dentre ou- 01/11/2024, 20:00 Página 111 de 139 tros fatores que buscavam incentivar a adesão. Na prática, muitas torcidas abraçam o projeto, engajan- do para apoiar o clube, como é demonstrado no ran- king de sócios apresentados pelo Estadão ao final de 2021: Colocação Clube Número de Adeptos ao programa Sócio-Torcedor 1º Atlético-MG 126.254 2º Internacional 75.100 3º Flamengo 65.868 01/11/2024, 20:00 Página 112 de 139 4º Grêmio 64.000 5º Vasco 48.758 6º Palmeiras 43.587 7º Corinthians 40.344 8º Fluminense 32.495 01/11/2024, 20:00 Página 113 de 139 9º Ceará 31.800 10º São Paulo 31.250 Total 559.456 Fonte: Estadão A tabela consegue demonstrar a quantidade exorbi- tante de apoiadores que os grandes clubes do futebol brasileiro conseguem alcançar, totalizando mais de meio milhão de torcedores ao considerar apenas 10 times, por mais que sejam os melhores colocados, esse é um número que ainda cresce muito com vári- as instituições que não constaram na lista. Assim, entende-se que o potencial financeiro que a torcida representa é imenso, contudo, dentro da atual reali- dade do programa de sócio-torcedor, apesar da alta quantia de apoiadores, a receita que as organizações 01/11/2024, 20:00 Página 114 de 139 detêm é bem abaixo da expectativa, visto que muitos se utilizam de empresas terceiras para coordenar o programa, o que resulta em uma partilha do lucro e evidentemente restringe a receita final para o clube. Além disso, quando operados por esses mediadores, os planos não condizem com a realidade da torcida, ou não oferecem benefícios que conquistam o apreço dos fãs, até porque não existe uma regulamentação que garanta a destinação do dinheiro arrecadado por esse programa, o que desincentiva o entusiasta da instituição que busca fornecer seu apoio. Em linhas gerais, é um programa com uma excelente motiva- ção, com um potencial descomunal de fornecer re- ceita, mas que ainda é explorado de maneira precá- ria por muitos clubes. Entendendo essa realidade, a Sociedade Anônima do Futebol, através de sua legislação especifica, estrutu- rou a “Debênture-Fut”, uma nova forma de promo- ver o financiamento da SAF, propulsionar financei-ramente a nova empresa através de um novo título de crédito que finda exclusivamente as atividades futebolísticas e conexas, algo que não necessaria- mente irá substituir o programa de sócio-torcedor, mas que dará uma nova perspectiva sobre as possi- bilidades de investimento ao clube, seja de grandes companhias ou de pessoas físicas, que potencial- mente poderão ser preenchidos por apoiadores do clube ou da liga. Contudo, apesar da configuração inicial das debêntures-fut promover um novo pata- 01/11/2024, 20:00 Página 115 de 139 mar sobre essa capacidade de investimento, os vetos presidenciais que recaíram sobre o projeto de lei que resultou na Lei 14.193/2021 destituíram grandes trunfos que o dispositivo trazia mediante imponde- ráveis falácias, o que reduziu bruscamente o impacto positivo que o novo título foi cunhado para signifi- car. Encara-se inicialmente as características das debên- tures-fut que de fato foram positivadas em lei. Assim como as debêntures tradicionais, o novo modelo também são “títulos de dívidas”, apoiados em uma espécie de empréstimo que o investidor faz à empre- sa para que haja rendimentos, periódicos ou totais ao momento do pagamento da quota. A norma esta- belece que as debêntures-fut terão remuneração por taxas de juros não inferior ao rendimento anual da caderneta de poupança, sendo viabilizada a estipula- ção e cumulação de remuneração viável vinculada com a atividade ou ativos da Sociedade Anônima do Futebol. Tal estrutura garante primeiramente que as debêntures-fut promoverão um provento considerá- vel ao investidor, o que já destoa de qualquer possi- bilidade sobre a exploração do torcedor por valores pífio, e em seguida, a norma abre uma hipótese de valorização ainda maior do que o novo título poderá prover, tanto por parte direta da empresa, que pode- rá fornecer uma taxa ainda maior do que a prevista na legislação, quanto de forma dependente à resulta- dos vinculados à atividade da SAF. Para exemplifi- 01/11/2024, 20:00 Página 116 de 139 car, evoca-se o texto de Tácio Lacerda Gama e Ro- drigo R. Monteiro de Castro, no livro “Comentários à lei da Sociedade Anônima do Futebol”: Imagine-se, neste sentido, que determinada debên- ture-fut pague taxa de 9% ao ano e um percentual, por exemplo, de 4% da renda líquida obtida em jo- gos sob mando do time no mesmo ano. Essa combi- nação não apenas garantiria, certamente, um retor- no ao investidor superior ao que se obtém em aplica- ções conservadoras (poupança ou determinados fun- dos), como, também, abriria a possibilidade de ob- tenção de ganho complementar, associado á perfor- mance do time e à capacidade de atração de sua tor- cida. Em outras palavras, o instrumento viabiliza a construção de novas relações com o torcedor-inves- tidor, que passaria a ganhar com o sucesso e com os resultados do time. Como explanado no brilhante texto, a debênture-fut abre um leque de possibilidades sobre formas de ga- nhos para o investidor, que sempre terá garantido um retorno que, mesmo em seu valor mínimo, já será superior aos fundos populares no Brasil, o que torna a SAF como uma possibilidade de investimen- to extremamente atrativa, o que evidentemente mo- verá o próprio torcedor da instituição, com a lumi- nosa hipótese de apoiar o seu time e ainda receber lucros por isso. 01/11/2024, 20:00 Página 117 de 139 Além dessa característica, a norma estabelece outras estruturas que relacionam com o ideal de incentivos para a criação de um novo mercado próprio, que é o que a debênture-fut potencialmente irá gerar por ser um título bem lucrativo, dentre esses instrumentos a lei positiva a remuneração do título no prazo igual ou superior a 2 anos, mantendo a característica de um investimento à “médio-prazo”; vedação à recom- pra da debênture-fut pela própria SAF emissora ou por parte a ela relacionada, assim como proíbe a li- quidação antecipada por meio do resgate ou pré-pa- gamento, salvo em possível forma a ser regulamen- tada pela Comissão de Valores Imobiliários (CVM), pontos que configuram nuances que preservarão o valor do título ao final do prazo estipulado; o paga- mento periódico de rendimentos; e por fim, registro das debênture-fut em sistema de registro devida- mente autorizado pelo Banco Central ou pela CVM, nas respectivas áreas de suas competências. Menciona-se ainda que a norma reitera sobre a fina- lidade do investimento provindos das debêntures- fut, esclarecendo que todos os recursos captados por meio dessa serão obrigatoriamente alocados no de- senvolvimento de atividades ou no pagamento de gastos, despesas ou dívidas, que estão vinculadas ao desenvolvimento do futebol profissional, que é a função primordial da SAF. 01/11/2024, 20:00 Página 118 de 139 5.4.1 Como os Vetos Presidenciais diminuí- ram o potencial das Debêntures-Fut Analisando a estrutura da debênture-fut na forma em que foi positivada em legislação, encontra-se um título com o alto potencial de investimento, algo po- derá factualmente agregar muito no financiamento das Sociedades Anônimas do Futebol. Contudo, os vetos aplicados pelo Presidente da República Jair Messias Bolsonaro foram fundamentais para que essa capacidade de investimento fosse secionada, especialmente no que condiz do perfil do torcedor como um possível novo investidor na empresa. Originalmente, no PL 5.516/2019 que originou a Lei 14.193/2021, no tocante à tributação de títulos, ha- via uma programação para configurar uma estrutura aplicável às debêntures incentivadas, o que consti- tuía um valor mobiliário ainda mais atrativo para que mais recursos pudessem ser aplicáveis. A princi- pal condição desse formato era a redução das alíquo- tas de IRRF (Imposto de Renda Retido na Fonte) incidentes sobre a debênture-fut, de modo que a porcentagem aplicada sobre os rendimentos pagos a pessoas naturais residentes no país seria completa- mente zerada; para pessoas jurídicas ou fundo de investimento alíquota deveria ser de apenas 15%; e por fim, como forma de exceção, o agente localizado no exterior, beneficiário de regime fiscal privilegiado da Lei 9.430/96, teria a alíquota reduzida para 25%. 01/11/2024, 20:00 Página 119 de 139 Adiciona-se ainda que a tributação pelo IRRF seria definitiva, não sendo posteriormente adicionado ao lucro real ou presumido, como ocorre na maioria dos rendimentos de renda fixa ordinário. Para pessoas jurídicas, fundo de investimento ou estrangeiro de qualquer tipo, a debênture-fut repre- sentaria uma aplicação ainda mais convidativa, que representaria uma opção diversa da carteira de títu- los com garantias exclusivas, além de uma excelente redução na alíquota tributária. Contudo, o veto inci- de prioritariamente sobre pessoa física, e aqui toca- se a figura do torcedor-investidor, que teria o total abono da alíquota do IRRF, o que representaria um lucro ainda mais expressivo, especialmente conside- rando que usualmente, na condição de pessoa natu- ral, os investimento sobre debêntures-fut não seriam estratosféricos, como nos casos das grandes empre- sas, então esse “adicional” de lucratividade potencia- lizaria ainda mais que o torcedor, como já tradicio- nal apoiador e muitas vezes aderente ao programa de sócio-torcedor, exercesse sua aplicação, financi- ando a instituição ao qual é apaixonado. Cita-se no- vamente trecho retirado da obra “Comentários à lei da Sociedade Anônima do Futebol”: Ao ser instituída com isenção do imposto sobre ren- da para pessoas físicas, a debênture-fut poderia atrair não somente torcedores da SAF emissora, mas qualquer investidor que reconhecesse, no projeto de 01/11/2024, 20:00 Página 120 de 139 empresa arquitetado para desenvolvimento da ativi- dade futebolística, a possibilidade de auferir rendi- mentos desonerados de tributos. Desse modo, compreende-se que a SAF perdeu a oportunidade de expandir ainda mais sua capitaliza- ção, especialmente no fulcro de pessoas naturais que terão seus rendimentos reduzidos em relação ao que o projeto original planejava, o que certamente dimi- nuirá a adesão dos investidores.ISS ITBI PASEP PDE PL RCE SA Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços Imposto sobre Operações Financeiras Imposto sobre produtos industrializados Imposto sobre Propriedade de Veículo Automotor Imposto de Renda Pessoa Juridica Imposto de Renda Retido na Fonte 01/11/2024, 20:00 Página 11 de 139 Imposto Sobre Serviços Imposto sobre Transmissão de Bens Imóveis Programa de Formacao do Patrimonio do Servidor Público Programa de Desenvolvimento Educacional e Social Projeto de Lei Regime Centralizado de Execuções Sociedade Anônima SAF Sociedade Anônima do Futebol SELIC Sistema Especial de Liquidação e de Custódia SIBI TEF TJSC 01/11/2024, 20:00 Página 12 de 139 Sistema Integrado de Bibliotecas Transferência Eletrônica de Fundos Tribunal de Justiça de Santa Catarina trad. UFC Tradutor Universidade Federal do Ceará LISTA DE SÍMBOLOS $ Dólar % Porcentagem £ Libra ¥ 01/11/2024, 20:00 Página 13 de 139 Iene € R$ Euro Real § Seção/Parágrafo SUMÁRIO INTRODUÇÃO 2 A SOCIEDADE ANÔNIMA DO FUTEBOL E SUA FUNÇÃO SOCIAL. 2.1 O conceito de Sociedade Anônima para o futebol. 2.2 A função social da SAF 2.2.1 Programa de Desenvolvimento Educa- cional e Social 01/11/2024, 20:00 Página 14 de 139 2.3 As marcas da inovação na SAF 3 A TRANSIÇÃO DO CLUBE ORIGINAL E A CRIAÇÃO DA SAF 3.1 Os modelos de criação da SAF 3.1.1 SAF a partir de nova iniciativa 3.1.2 SAF a partir de transição de Clube ou Pessoa Jurídica original 3.2 A integralização do Capital Social pela en- tidade original 3.3 Ações ordinárias de Classe A como forma de preservação da identidade 4. CONTROLE DE GOVERNANÇA E TRANS- PARÊNCIA 4.1. A atual realidade da administração dos entes esportivos no Brasil 4.2. Os órgãos da SAF como instrumentos li- mitadores da concentração de poder 4.3 A transparência como fator determinante 01/11/2024, 20:00 Página 15 de 139 5 REPERCURSSÃO FINANCEIRA DO ENTE ORIGINAL, TRIBUTAÇÃO E FINANCIAMEN- TO DA SAF 5.1 Como as dívidas do clube repercutem na SAF 5.1.1 Quitação das dívidas por meio de paga- mento conjunto 5.2 Os modos de quitação das Obrigações an- teriores à constituição da empresa 5.2.1 Recuperação judicial e extrajudicial no ente desportivo original 5.2.2 O Regime Centralizado de Execuções 5.3 O Regime de Tributação Específica do Fu- tebol 5.4 Debênture-Fut: O torcedor-investidor 5.4.1 Como os Vetos Presidenciais diminuí- ram o potencial das Debêntures-Fut..... CONCLUSÃO REFERÊNCIAS 01/11/2024, 20:00 Página 16 de 139 INTRODUÇÃO 1895 é o ano que configura a chegada do futebol ao Brasil. Pelas mãos do inglês Charles Miller os brasi- leiros tiveram acesso aos instrumentos e as regras que permitiam a prática do desporto, que logo virou uma “febre” dentro do país. Com o sentimento de originalidade, não demorou para que o esporte se concretizasse em grupos de atletas com seus própri- os uniformes, sua rivalidade regional e um desejo de espalhar ainda mais a prática do futebol, assim, de forma iminente, o Brasil assistiu à fundação de seus clubes inaugurais. O primogênito nasceu do sul do país em 1900, o Sport Club Rio Grande, seguido pelo primeiro paulista, a Associação Atlética Ponte Preta, e logo fazendo a conexão para o Rio de Janeiro com o Fluminense Football Club. Inicialmente percebe-se que a maioria das entidades de prática desportiva do Brasil já possuem idade quase centenária, o que demonstra que a mentalida- de de fundação do clube está muito distante da for- ma de como o esporte é encarado hoje no mundo. No início, configurar os clubes como Associações Civis fazia sentido, visto que eram essencialmente compostos por pessoas que apenas queriam praticar e serem vitoriosas no futebol, sem grandes preten- sões monetárias de lucros exorbitantes. Essa menta- lidade perdurou por quase 70 anos, quando a tecno- logia começou a atingir os desportos na forma de 01/11/2024, 20:00 Página 17 de 139 transmissões televisivas, o que gerou maior visibili- dade e o crescimento na oferta de patrocínio, trans- formando um esporte originalmente lúdico em um negócio financeiramente muito atrativo. Nesses moldes, o futebol evoluiu para um esporte que “dominou” mais de 90 países pelo mundo e construiu um mercado que movimenta anualmente cifras bilionárias, enquanto isso, a maioria dos clu- bes brasileiros seguem em um formato que, por na- tureza, não viabiliza a pretensão ao lucro, de modo que esta desestruturação jurídica das entidades des- portivas nacionais deságua em agremiações com profundas crises econômicas, munidos de diretorias fragilizadas e sujeitas à corrupção, pois não se têm as seguranças que um formato empresarial poderia fornecer à esses clubes. Dessa forma, percebe-se que os clubes brasileiros tentam alcançar um molde competitivo de um mer- cado que movimento bilhões de Reais, com um mo- delo que teoricamente não permite auferir tamanho lucro, o que corrói a estrutura interna da instituição e fragiliza demais a configuração dos times nacio- nais. O desporto por si só é um negócio financeira- mente arriscado, por isso, entende-se que a tentativa e erro precisam ser aceitáveis dentro do escopo, con- tudo, tal plano jurídico não acompanhou a evolução do esporte como bussiness, o que deixa as entidades desportivas brasileiras continuamente à mercê da 01/11/2024, 20:00 Página 18 de 139 bancarrota. Destaca-se ainda a pandemia do CO- VID-19 como um fator agravante, que além de ter paralisado a prática do esporte por vários meses, retirou a possibilidade dos grandes públicos compa- recerem aos estádios, algo que comprometeu demais o faturamento de todos os times nacionais, pela fato de, em sua maioria, não serem empresas, assim se encontrando extremamente dependentes da respos- ta financeira dos torcedores, através da compra de ingressos, artigos esportivos e aderência aos progra- mas de “sócio torcedor”. Com a aprovação do Projeto de Lei 5.516/19, que veio a se tornar a Lei Nº 14.193/2021, o panorama dessa transição mudou. A norma positivou o novo formato de sociedade empresarial, a Sociedade Anô- nima do Futebol (SAF), que surge com uma solução direta para os problemas enfrentados pelo atual mo- delo jurídico vivenciado pelos clubes brasileiros. A Sociedade Anônima do Futebol traz uma regulamen- tação bem direcionada aos atuais imbróglios viven- ciados pelas entidades desportivas, de modo a ser um novo modelo que irá inserir as agremiações nas benesses garantidas pelo código civil e a Lei de Soci- edade por Ações (Lei Nº 6.404/1976.), à exemplo do instituto da Recuperação Judicial que funciona como um instrumento revitalizador de empresas em estado de grave insolvência. 01/11/2024, 20:00 Página 19 de 139 Diante desse contexto, o presente trabalho tem o objetivo de analisar o novo formato de sociedade empresária instituído pela Lei Nº 14.193/2021, pon- tuando todos os aspectos positivos e negativos que poderão atingir a entidade de prática desportiva que almeje tal transição, comparando com os atuais for- matos que já estruturam os clubes brasileiros, para enfim concluir sobre as possibilidades de impacto da Sociedade Anônima do Futebol com seu desempe- nho prático e social no desenvolvimento do futebol profissional nacional. Para tal, utiliza-se, como me- todologia, análise de doutrinas sobre a nova legisla- ção, artigos jurídicos e reportagens especializadas no direito desportivo e empresarial, além de estudo dos casos concretos de entidades esportivas que já ado- taram a SAF, sendo a pesquisa de natureza qualitati- va com o fim descritivo e exploratório. A dissertação irá abordar o tema na seguinte estru- tura. No primeiro capítulo, irá tratar da Sociedade Anônima do Futebol como conceito jurídico e coleti- vo, detalhando os motivos que elevaram sua criação e os impactos pretendidos pelo novo formato, pon- tuando ainda a sua função social e os métodos de aplicação dessas estruturas populares na prática. O texto irá abordar ainda o aspecto “revolucionário” que a SAF promete ter, percorrendo pelos novos dis- positivosOutro veto presidencial relevante no teor do modo de financiamento da Sociedade Anônima do Futebol é sobre o Art. 27 da Lei 14.193/2021. O dispositivo entoava que a SAF poderia emitir, além da supraci- tada debênture-fut, qualquer outro título ou valor imobiliário, na forma da Lei 6.404/1976, norma que instaura as Sociedades Anônimas, ou seja, legislação preponderante em relação a regulamentação da SAF, ou conforme qualquer outra regulação da Co- missão de Valores Mobiliários, seja o título criado com o fim específico para o desenvolvimento da prá- tica do futebol ou não. Em regra, mesmo que não houvesse esse dispositivo, estava implícito que seria autorizada a emissão de outros valores, porém a norma quis por esclarecer para evitar possíveis imbróglios, visto que se uma companhia, em geral, pudesse emitir, a princípio, a SAF também poderia sem qualquer restrição, encon- 01/11/2024, 20:00 Página 121 de 139 trando empecilho apenas caso o valor imobiliário viesse a exigir propriamente por uma finalidade es- pecífica da companhia que destoasse da prevista no estatuto social da SAF. A comunicadora de vetos presidenciais, na Mensa- gem 388, expressou que a manutenção do texto do Art. 27 geraria uma insegurança jurídica, visto que poderia ensejar interpretação de que qualquer título que já tenha ou venha ter previsão na Lei 6.404/1976, ou da própria CVM, poderia ser emitido pela SAF, não delimitando qualquer contenção sobre os agentes da empresa enquanto emissores dos valo- res mobiliários. Afirmação contida na comunicação do veto é inescrupulosa, visto que a sentença que permite a SAF a emitir outros títulos não autoriza um uso deliberado de valores mobiliários que não condizem com a própria empresa, é inerente que existente restrições à depender da própria natureza do título a ser emitido, algo que facilmente poderia ter sido acrescentado ao texto legislativo, caso fosse realmente necessário, em contraponto com o veto que por si só gera a insegurança jurídica tão temida. Na prática, o veto presidencial não inibi a possibili- dade da SAF de emitir outros valores mobiliários além da debênture-fut, estejam os títulos previstos em qualquer legislação vigente, contudo, a proibição do texto gera esse receio que evidentemente muitas empresas terão de serem penalizadas ao emitirem 01/11/2024, 20:00 Página 122 de 139 ações positivadas em outros códigos, mesmo que não haja um único artigo em todo o ordenamento que os impeçam de fazê-lo, excetuando-se obvia- mente qualquer valor que venha a ter uma natureza que seja destoante com a estrutura da Sociedade Anônima do Futebol, algo que deverá ser devida- mente regularizado pela CVM. CONCLUSÃO Ao longo do trabalho, percebeu-se que os clubes e ligas que orbitam o futebol brasileiro encontram-se, em sua maioria, em um processo de defasagem, enti- dades que não conseguiram acompanhar o cresci- mento do futebol no ritmo internacional e precisam lidar com uma grande desvalorização do esporte na- cional, fator que incide especialmente no setor fi- nanceiro, cofres que não estavam preparados para que o futebol deixasse de ser uma atividade lúdica e se tornasse um mercado internacional que movi- menta bilhões de dólares por ano. Assim, urgia-se a necessidade de um escape que oferecesse uma solu- ção para retomar o crescimento do futebol brasilei- ro, e assim foi cunhada a ideia que resultou na Soci- edade Anônima do Futebol. Como apresentado, a SAF foi construída diretamen- te sobre a necessidade das entidades de prática des- portiva, e isso impulsionou que o novo modelo soci- etário pudesse ser bem ajustado para oferecer solu- 01/11/2024, 20:00 Página 123 de 139 ções práticas e efetivas às dificuldades vivenciadas nas instituições. Entende-se também que além das cláusulas especificas presentes na Lei 14.193/2021, a SAF também será responsável por inserir as organi- zações esportivas à cúpula empresarial, o que pro- moverá um patamar de sistematização administrati- va, além de potencializar a captação de recursos para o novo investimento. Demonstrou-se que a legislação foi efetiva em provi- denciar dispositivos que moldarão um perfil seguro de transformação, aos quais propõe uma transição do modelo não-empresarial, previamente adotado pelas entidades, para a Sociedade Anônima do Fute- bol de forma natural, nas quais os bens serão aloca- dos dentro da instituição que envolver a natureza da sua usabilidade, o poder identitário que compõe a essência dos clubes serão protegidos de bruscas alte- rações, e o mérito desportivo não será afetado pela passagem para o novo formato. Provou-se que ver- dadeiras alterações se darão no patamar administra- tivo e financeiro, aos qual a gestão será constante- mente fiscalizada pelos órgãos obrigatório da SAF e evitará que haja um acúmulo de poder de decisão sobre poucos indivíduos, algo que se considera como um dos fatores determinantes para a queda de diver- sos clubes tradicionais do futebol brasileiro. 01/11/2024, 20:00 Página 124 de 139 Quanto ao patamar monetário, vislumbrou-se um sistema colaborativo que permitirá que a atividade futebolística possa ser exercida com a atenção e in- vestimento necessária, enquanto os passivos acumu- lados serão quitados de maneira conjunta entre a pessoa jurídica original e os lucros auferidos pela Sociedade Anônima do Futebol, estrutura que ver- dadeiramente causará um alívio para as entidades, mas que ainda irá remunerar devidamente os credo- res dentro de um prazo justo. Mesmo com o pouco tempo de atuação, já é possível descrever um vislumbre inicial da SAF em termos de resultados, visto que apenas a existência do disposi- tivo foi suficiente para atrair grandes investimentos ao futebol brasileiro, gerando um movimento ines- perado, porém positivo, ao qual a proposta de apli- cação é feita e então a entidade decide adotar o mo- delo de Sociedade Anônima do Futebol para que esse impulso financeiro seja recepcionado. Cita-se o caso do Cruzeiro Esporte Clube e do Botafogo de Futebol e Regatas, que receberam elevadas propos- tas, respectivamente do ex-jogador Ronaldo Nazário e do empresário John Textor, do grupo Eagle Hol- ding, ao qual cada um investiu aproximadamente R$ 400 Milhões para ser detentor de 90% dos ativos das novas empresas. Esses dois clubes, tão tradicio- nais do futebol brasileiro, porém envolvidos em po- lêmicas de governança e corrupção, como já devida- mente explanado na presente dissertação, encon- 01/11/2024, 20:00 Página 125 de 139 tram-se em profunda crise financeira, estando à bei- ra do fim das instituições por impossibilidade de re- cuperação, mas essas novas aplicações que incenti- varam a adoção do novo modelo, já conseguiram construir um perfil sistemático mais saudável para as duas novas empresas, com gestões melhores orga- nizadas, o início do pagamento dos passivos cíveis e trabalhistas, e recurso para desenvolver um trabalho digno para reerguer esses tão aclamados clubes. Em linhas gerais, com todos os dispositivos apresen- tados e discutidos no decorrer do trabalho, aliados aos primeiros resultados vistos no novo molde, en- tende-se, por fim, que a Sociedade Anônima do Fu- tebol não é uma estrutura que promete “salvação”, mas sim que fornece uma excelente possibilidade de restruturação do esporte nacional, oferecendo uma oportunidade inovadora, responsável e eficaz de se desvencilhar das conhecidas adversidades para que o futebol brasileiro possa atingir seu maior potencial através da ascensão de suas próprias entidades, re- sultando em um impacto que poderá conduzi-lo de volta ao patamar mais alto ao qual lhe é de direito. REFERÊNCIAS BARROZO, Jamisson Mendonça. As fontes do direi- to e a sua aplicabilidade na ausência de norma: Tem por objetivo explicar as fontes do direito adotadas pelo ordenamento jurídico brasileiro e interpretar a 01/11/2024, 20:00 Página 126 de 139 sua aplicação às circunstâncias em que há ausência de norma para o caso concreto. DireitoNet, [S. l.], p. S/N, 2 jun. 2010. Disponível em: https://www.di- reitonet.com.br/artigos/exibir/5763/As-fontes-do-direitoea-sua-aplicabilidade-na-aus.... Acesso em: 23 nov. 2021. BRASIL. Lei 5.172 de 25 de outubro de 1966 CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL Dispõe so- bre o Sistema Tributário Nacional e institui normas gerais de direito tributário aplicáveis à União, Esta- dos e Municípios. Brasília 25 de outubro de 1966. Disponível em https://bit.ly/3n8sxUN. Acesso em 6 set. 2021 BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em: https://bit.ly/3C1Puir. Acesso em: 11 set. 2021 BRASIL. Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as Sociedades por Ações. [S. l.], 15 dez. 1976. Disponível em: http://www.planalto.- gov.br/ccivil_03/leis/l6404consol.htm. Acesso em: 21 dez. 2021. BRASIL. LEI nº 9.615, de 24 de março de 1998. Institui normas gerais sobre desporto e dá outras providências. [S. l.], 24 mar. 1998. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9615- consol.htm. Acesso em: 24 nov. 2021. 01/11/2024, 20:00 Página 127 de 139 BRASIL. LEI nº 14.193, de 6 de agosto de 2021. Institui a Sociedade Anônima do Futebol e dispõe sobre normas de constituição, governança, controle e transparência, meios de financiamento da ativida- de futebolística, tratamento dos passivos das entida- des de práticas desportivas e regime tributário espe- cífico; e altera as Leis nºs 9.615, de 24 de março de 1998, e 10.406, de 10 de janeiro de 2002 ( Código Civil). [S. l.], 6 ago. 2021. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019- 2022/2021/Lei/L14193.htm. Acesso em: 1 nov. 2021. BRASIL. PROJETO DE LEI nº 5516, de 1 de ja- neiro de 2019. Cria o Sistema do Futebol Brasilei- ro, mediante tipificação da Sociedade Anônima do Futebol, estabelecimento de normas de governança, controle e transparência, instituição de meios de fi- nanciamento da atividade futebolística e previsão de um sistema tributário transitório. [S. l.], 1 jan. 2019. Disponível em: https://legis.senado.leg.br/sdleg- getter/documento? dm=8025061&ts=1634829035884&disposition=i.... Acesso em: 1 nov. 2021. BRUEL, Maria Rita. Função social do esporte. Mo- trivivência, [S. l.], p. 1, 1 jan. 1989. DOI https://doi.org/10.5007/%25x. Disponível em: 01/11/2024, 20:00 Página 128 de 139 https://periodicos.ufsc.br/index.php/motriviven- cia/article/view/19978. Acesso em: 10 nov. 2021. CALDAS, Rafael Inácio da Silva. O Regime De Tri- butação Específica Do Futebol Na Lei 14.193. Ma- gis: Portal Jurídico, [S. l.], p. S/N, 20 out. 2021. Disponível em: https://magis.agej.com.br/o-regi- me-de-tributacao-especifica-do-futebol-na-lei-14- 193/#fn-3257-4. Acesso em: 17 jan. 2022. CARREIRA, João Paulo. Debêntures-fut: solução ou empecilho para a lei da Sociedade Anônima no Fute- bol?. Lei Em Campo, [S. l.], p. S/N, 16 set. 2021. Disponível em: https://leiemcampo.com.br/deben- tures-fut-solucao-ou-empecilho-paraalei-da-socie- dade-anônima-no-fut.... Acesso em: 18 jan. 2022. CASTRO, Rodrigo R. Monteiro de. As 4 vias de cons- tituição da Sociedade Anônima do Futebol (SAF). Migalhas, [S. l.], p. S/N, 25 ago. 2021. Disponível em: https://www.migalhas.com.br/coluna/meio-de- campo/350653/as-4-vias-de-constituição-da-socie- dade-anoni.... Acesso em: 1 dez. 2021. CHAMELETTE, Mariana; BELLON, Gabriel Del- bem. Sociedade anônima do futebol: uma nova oportunidade para os clubes brasileiros. ConJur, [S. l.], p. S/N, 15 out. 2021. Disponível em: 01/11/2024, 20:00 Página 129 de 139 https://www.conjur.com.br/2021-out-15/opiniao- saf-oportunidade-clubes-brasileiros. Acesso em: 13 jan. 2022. COELHO, Fábio Ullhoa. Manual de Direito Co- mercial. 32ª. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. 448 p. DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil bra- sileiro, volume 1 : teoria geral do direito civil. 28. ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 273. ESTADÃO CONTEÚDO. Com rápida ascensão, Cui- abá é clube-empresa que está no Brasileirão pela 1ª vez. Isto É, [S. l.], p. S/N, 11 jun. 2021. Disponível em: https://istoe.com.br/com-rapida-ascensao-cui- abaeclube-empresa-que-esta-no-brasileirao-pela-1a- vez/. Acesso em: 16 nov. 2021. FINANÇAS dos top 20 clubes do Brasil. SportsVa- lue. 2021. Disponível em: https://bit.ly/3vvWHVJ. Acesso em: 20 out. 2021. FONSECA, João Pedro; FURTADO, Tatiana. Por que o Cruzeiro não consegue sair do buraco. O GLOBO, [S. l.], p. S/N, 18 out. 2021. Disponível em: https://oglobo.globo.com/esportes/futebol/por- que-cruzeiro-nao-consegue-sair-do-buraco- 25240337. Acesso em: 11 jan. 2022. 01/11/2024, 20:00 Página 130 de 139 FURTADO, Bruno; MURATORI, Matheus. Cruzeiro cedeu ‘direitos‘ de criança de 11 anos em contrato com empresário, mas diretoria afirma que se tratava de ‘garantia‘: Clube repactuou contrato com empre- sário nesta segunda-feira, um dia após divulgação de denúncias, e tratou acordo feito em 2018 como ‘ga- rantia de empréstimo‘. Superesportes, [S. l.], p. S/N, 27 maio 2019. Disponível em: https://www.mg.superesportes.com.br/app/notici- as/futebol/cruzeiro/2019/05/27/noticia_cruzei- ro,588940.... Acesso em: 10 jan. 2022. KANGURU. Estudo mostra as melhores torcidas da NFL. 10 JARDAS, [S. l.], p. S/N, 26 jun. 2017. Dis- ponível em: http://10jardas.com/estudo-mostra- melhores-torcidas-da-nfl. Acesso em: 14 dez. 2021. LANCE!. Venda da SAF para John Textor faz marca do Botafogo ser internacionalizada: Empresário nor- te-americano é sócio do Crystal Palace, clube da In- glaterra, e é dono de uma plataforma de streaming especializada em transmissão de ligas. LANCE!, Rio de Janeiro, p. S/N, 16 jan. 2022. Disponível em: https://www.lance.com.br/botafogo/venda-da-saf- para-john-textor-faz-marca-do-botafogo-ser-inter- nacio.... Acesso em: 1 fev. 2022. MACIEL, Thiago. História das mudanças de cidade das franquias norte americanas: Mesmo doloroso para o fiel torcedor, a mudança de cidade é normal 01/11/2024, 20:00 Página 131 de 139 entre as franquias das grandes ligas norte america- nas. E neste artigo te explico as motivações e os ca- sos mais interessantes. Fairplay, [S. l.], p. S/N, 25 jul. 2021. Disponível em: https://fairplay.pt/modali- dades/nba/historia-das-mudancas-de-cidade-das- franquias-norte-americanas/. Acesso em: 21 dez. 2021. MANSSUR, José Francisco C .; AMBIEL, Carlos Eduardo. Clubes brasileiros não podem usar a lei da saf para institucionalizar o calote. Migalhas, [S. l.], p. S/N, 10 nov. 2021. Disponível em: https://www.- migalhas.com.br/coluna/meio-de-cam- po/354588/utilizacao-da-lei-da-saf-para-institucio- nali.... Acesso em: 16 jan. 2022. MANSSUR, José Francisco C. Do Programa de De- senvolvimento Educacional e Social (PDE) - A con- trapartida social da Sociedade Anônima do Futebol - SAF. Migalhas, [S. l.], p. S/N, 23 jun. 2021. Dispo- nível em: https://www.migalhas.com.br/colu- na/meio-de-campo/347463/do-programa-de-desen- volvimento-educacional-e.... Acesso em: 24 nov. 2021. MARCONDES, Rafael Marchetti. Manual de Tri- butação no Esporte. São Paulo: Quater Latin, 2020, p. 90. MARQUES, João Vitor; PEREIRA, Lara. Polícia Ci- 01/11/2024, 20:00 Página 132 de 139 vil aponta ‘rombo‘de R$ 10 milhões no Cruzeiro e detalha irregularidades de dirigentes e empresários: Ex-dirigentes e quatro empresários foram indiciados pelos crimes de apropriação indébita, falsidade ideo- lógica, associação criminosa e lavagem de dinheiro. Superesportes, [S. l.], p. S/N, 11 ago. 2020. Dispo- nível em: https://www.mg.superesportes.com.- br/app/noticias/futebol/cruzeiro/2020/08/11/noti- cia_cruzeiro,385830.... Acesso em: 11 jan. 2022. MILLES, Joe. OUT OF THEIR LEAGUE Premier League vs NFL vs NBA vs LaLig: Battle of most-wat- ched sports leagues in the world and their staggering revenue Joe Miles. The Sun, United Kingdom, p. S/N, 9 out. 2020. Disponível em: https://www.the- sun.co.uk/sport/football/12888077/premier-lea- gue-nfl-nba-la-liga/. Acesso em: 7 dez. 2021. NETO, Giovanni Santoro. SAF. In: NETO, Giovanni Santoro. A SOCIEDADE ANÔNIMA DO FUTE- BOL (SAF) E A MONETIZAÇÃO DA PAIXÃO. Orientador: Luiz Osório Moraes Panza. 2021. Mono- grafia (Bacharel) - Centro Universitário Curitiba, [S. l.], 2021.Disponível em: https://repositorio.anima- educacao.com.br/bitstream/ANI- MA/18621/1/A%20SOCIEDADE%20ANÔNI- MA%20DO%20FUTE.... Acesso em: 10 jan. 2022. 01/11/2024, 20:00 Página 133 de 139 O DRAMA DO VASCO: DO PIONEIRISMO NAS GLÓRIAS AO SOFRIMENTO SEM FIM!. [S. l.]: Youtube, 2019. Disponível em: https://www.youtu- be.com/watch?v=XgZltg0v02Y. Acesso em: 12 jan. 2022. PACHECO, Sen. Rodrigo; TORRES, Prof. Heleno Taveiro; FORGIONI, Profª. Paula A.; AMBIEL, Car- lo Eduardo; MANSSUR, José Francisco C.; BUMA- CHAR, Juliana; SACRAMONE, Marlo Barbosa; GAMA, Tácio Lacerda; CASTRO, Rodrigo R. Montei- ro de. Comentários à lei da Sociedade Anôni- ma do Futebol: Lei 14.193/2021. 1º. ed. São Paulo: Quartier Latin, 2021. 288 p. v. Único. ISBN 978-65- 5575-107-9. PLACAR. Entenda como funcionará o Cruzeiro SAF sob gestão de Ronaldo Fenômeno: Ex-jogador inves- tiu R$ 400 milhões para ter 90% das ações e se tor- nar sócio majoritário do clube mineiro. Placar, [S. l.], p. S/N, 18 jan. 2022. Disponível em: https://pla- car.abril.com.br/placar/entenda-como-funcionarao- cruzeiro-saf-sob-gestao-de-ronaldo-feno.... Acesso em: 1 fev. 2022. SILVA, Diogo. Plano Nacional de Desporto está pa- rado no governo federal há 25 anos... - Veja mais em https://www.uol.com.br/esporte/colunas/diogo-sil- va/2021/05/05/plano-nacional-de-desporto-esta- parado.... UOL Esporte, [S. l.], 5 maio 2021. Dis- 01/11/2024, 20:00 Página 134 de 139 ponível em: https://www.uol.com.br/esporte/colu- nas/diogo-silva/2021/05/05/plano-nacional-de- desporto-esta-parado.... Acesso em: 9 nov. 2021. SIMONI, Antônia Bethonico Guerra. Lei que criou a sociedade anônima do futebol vira camisa dez da governança. ConJur, [S. l.], p. S/N, 3 jan. 2022. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2022- jan-03/simoni-lei-criou-saf-vira-camisa-dez-gover- nanca. Acesso em: 7 jan. 2022. TERRA. Temporada do futebol brasileiro termina com retomada e média alta de sócios-torcedores; veja ranking: Clubes aproveitaram anseio dos fãs em voltar para as arquibancadas para promover ações e descontos dos programas de fidelidade; 2022 marca a normalidade da presença de torcida nos estádios. Terra, [S. l.], p. S/N, 20 dez. 2021. Disponível em: https://www.terra.com.br/esportes/futebol/tempo- rada-do-futebol-brasileiro-termina-com-retomadae- med.... Acesso em: 11 jan. 2022. Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/artigos/sociedade-anonima-do- futebol-funcao-social-analise-legislativa-e-inovacao-para-o- desenvolvimento-do-futebol-profissional/1709065573 Informações relacionadas 01/11/2024, 20:00 Página 135 de 139 Samuel Morais Artigos • há 10 anos Sobre Responsabilidade Social das Empresas, Lucro Social e Lucro. Estudando hoje me deparei com o conceito "lucro social". Aparentemente é uma outra forma de chamar a "responsabilidade social das empresas", tornando-a mais palatável para os empreendedores. Enfim,… Ingrid Cristine Vieira Ferreira Artigos • há 2 anos O Direito Desportivo Internacional e a Copa do Mundo da FIFA Catar 2022 “O esporte se mostra mais universal que a democracia. Assim, pode auxiliar na construção de valores verdadeiramente universais, sem opressão ou imposição; construção de valores pressupõe… Liga de Direito Empresarial Ibmec Sp Artigos • há 2 anos SAF- Sociedade Anônima do Futebol: Histórico, Previsões Legais e Presença no Mercado 1- INTRODUÇÃO O interesse em desenvolver um novo modelo organizacional dos clubes de futebol brasileiros remonta há tempos antigos, ensejando transformá-los em clubes-empresas. Atualmente, a maior… Alan Garbes Artigos • há 8 meses A Inovação Jurídica e Esportiva: Uma Análise da Lei das Sociedades Anônimas do Futebol (SAF) 01/11/2024, 20:00 Página 136 de 139 A Inovação Jurídica e Esportiva: Uma Análise da Lei das Sociedades Anonimas do Futebol (SAF) A promulgação da Lei nº 14.193 , de 6 de agosto de 2021, conhecida como Lei das Sociedades Anonimas do… Ludmila Pereira Barbosa Artigos • há 2 anos Inquérito policial e investigação criminal: os limites da atuação do delegado de Polícia Civil. INQUÉRITO POLICIAL E INVESTIGAÇÃO CRIMINAL: os limites da atuação do delegado de polícia civil. RESUMO O presente estudo tem como objetivo demonstrar pontos importantes sobre o procedimento do… Jusbrasil Sobre nós Ajuda Newsletter Cadastre-se Para todas as pessoas Consulta processual Artigos 01/11/2024, 20:00 Página 137 de 139 A sua principal fonte de informação jurídica. © 2024 Jusbrasil. Todos os direitos reservados. Notícias Encontre uma pessoa advogada Para profissionais Jurisprudência Doutrina Diários Oficiais Peças Processuais Modelos Legislação Seja assinante API Jusbrasil Transparência Termos de Uso Política de Privacidade Central de Privacidade FUTEBOL · CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE FUTEBOL · CONFEDERAÇÃO… Sociedade Anônima do Futebol: Função Social, Aná… CURTIR Evite interrupções durante sua pesquisa. Faça login ou crie uma conta. FAÇA LOGIN ou CADASTRE- SE 01/11/2024, 20:00 Página 138 de 139 CURTIR COMENTAR uma conta. 01/11/2024, 20:00 Página 139 de 139para avaliar o quão inovador é de fato a proposta cunhada pela nova legislação. 01/11/2024, 20:00 Página 20 de 139 Em seguida, o segundo capítulo abordará a fase prá- tica da formação da Sociedade Anônima do Futebol, tanto no seu surgimento de forma original, quanto na transição do clube ou pessoa jurídica para o novo modelo societário. Entende-se que essa passagem é um fator essencial que impedia as entidades despor- tivas de se inserir em um formato empresarial, as- sim, o presente trabalho dedicou a seção para expla- nar e arguir sobre a facilitação dessa transferência, perpassando ainda pelas nuances do modo integrali- zação do capital social, especialmente do investi- mento provindo dos fundos da instituição originária, para que essa continue detendo influência na SAF formada. Por fim, o capítulo aborda ainda as ações de “Classe A”, criadas especialmente na recente le- gislação e como ela irá afetar a preservação da iden- tidade histórica da entidade anterior para com a So- ciedade Anônima do Futebol formada. Posteriormente, o terceiro título do presente traba- lho tratará a respeito dos aspectos administrativos da SAF, partindo do entendimento do atual cenário da gestão de entes desportivos no Brasil, para com- preender como a Sociedade Anônima do Futebol propõe um ponto de mudança para a direção das instituições, baseando-se especialmente no controle de governança, impedindo que haja um excessivo acúmulo de poder sobre um grupo específico, e tam- 01/11/2024, 20:00 Página 21 de 139 bém através da imposição de um novo sistema de transparência, o qual busca impedir ações fraudu- lentas provindas da administração da empresa. O quarto e último capítulo desta dissertação foca no aspecto financeiro da Sociedade Anônima do Fute- bol, ao qual é um dos grandes motivadores da ado- ção desse novo formato societário por diversos clu- be, em especial ao quais encontram-se em grave cri- se monetária. A seção discute como as dívidas per- tencentes a entidade original irão repercutir no âm- bito da SAF, assim como o plano de pagamento cola- borativo que será elaborado para que haja a quitação desses passivos, ao qual poderá ser exercido pela tradicional recuperação judicial ou extrajudicial, que irá abrir um precedente para instituições desporti- vas, ou pelo novo dispositivo criado especialmente para o pagamento das dívidas dos clubes originários à SAF, o denominado Regime Centralizado de Exe- cuções. Ainda no enfoque financeiro, o capítulo trata também sobre o sistema especializado de tributação cunhado especificamente para a Sociedade Anônima do Futebol, ao qual o trabalho apresentará a sua di- ferenciação sobre o modelo de taxação que incide sobre o formato associação civil sem fins lucrativos, previamente adotado pela maioria dos clubes brasi- leiros, e também sobre a tradicional Sociedade Anô- nima. Ao final, a seção apresenta ainda um impor- tante sistema de capitalização de recursos para a SAF, o novo título de crédito denominado Debêntu- 01/11/2024, 20:00 Página 22 de 139 re-Fut, que apresenta um novo método de investi- mento para pessoas físicas e jurídicas, ressaltando também o quão foi prejudicado pelos vetos presi- denciais sobre o projeto de lei original. Por fim, faz-se uma análise sobre o impacto que a Sociedade Anônima do Futebol poderá causar sobre o desenvolvimento do futebol profissional do Brasil, tanto no aspecto desportivo quanto social. 2 A SOCIEDADE ANÔNIMA DO FUTEBOL E SUA FUNÇÃO SOCIAL À título de introdução, faz-se necessário compreen- der que a Sociedade Anônima do Futebol vai muito além do que apenas um conjunto de lei que constitu- em um formato jurídico empresarial, esta é a parte burocrática e estrutural, mas essencialmente a SAF possui uma natureza valorosa baseada em dois fato- res: preservar e aprimorar importantes patrimônios culturais do futebol brasileiro, e promover métodos de realização da função social do esporte. A SAF como entidade desportiva incorpora esses va- lores para constituir sua própria função social, ela- bora suas normas estruturais visando sempre cum- prir esses objetivos traçados ao fim, o que torna o projeto socialmente muito relevante, pois a realiza- ção dessas “metas sociais” encontram-se como obri- gação dentro do novo formato empresarial, o que 01/11/2024, 20:00 Página 23 de 139 terá que ser cumprido sob pena de sanção financei- ra, algo que seria catastrófico pois muitas entidades de prática esportiva buscam o modelo da SAF justa- mente pelo seu elevado amontoado de passivos. Desse modo, mesmo que mediante regras impositi- vas, a SAF possui um teor social muito relevante, que pretende construir um futuro promissor para o futebol brasileiro, seja preservando as entidades desportivas ou promovendo o incentivo para àqueles que se dedicam ao esporte. 2.1 O conceito de Sociedade Anônima para o futebol Inicialmente, cumpre-se entender o conceito da so- ciedade anônima tradicional que deu origem ao mo- delo proposto pela SAF. O Professor Fábio Ulhoa Coelho conceituou a SA em seu Manual de Direito Comercial (2016): A sociedade anônima é uma sociedade de capital. Os títulos representativos da participação societária (ação) são livremente negociáveis. Nenhum dos aci- onistas pode impedir, por conseguinte, o ingresso de quem quer que seja no quadro associativo. Por outro lado, será sempre possível a penhora da ação em execução promovida contra o acionista. 01/11/2024, 20:00 Página 24 de 139 Paralelamente, o Senador Rodrigo Pacheco, autor do projeto de lei (2019) que promoveu a elaboração da Lei da SAF, redigiu como justificativa para a criação da referida norma o argumento de que a criação da lei era essencial visto que é necessário: oferecer aos clubes uma via societária que legitime a criação desse novo sistema, formador de um tam- bém novo ambiente, no qual as organizações que atuem na atividade futebolística, de um lado, inspi- rem maior confiança, credibilidade e segurança, a fim de melhorar sua posição no mercado e seu rela- cionamento com terceiros, e, de outro, preservem aspectos culturais e sociais peculiares ao futebol. Diante das duas importantes visões, compreende-se que o novo modelo societário se conceitua por uma sociedade de capital com títulos de representação próprios que serão ativos em mercado aberto, man- tendo os pilares da estrutura negocial da sociedade anônima tradicional, mas com o enfoque específico em estruturar e reestruturar o ambiente, as organi- zações e o mercado brasileiro que ronda a prática do futebol, convergindo para uma visão positiva de ele- vação da credibilidade e segurança do investimento nas entidades de prática, sem jamais deixar de lado os aspectos sociais e culturais que são próprios do futebol. 01/11/2024, 20:00 Página 25 de 139 A sociedade anônima do futebol já nasce como uma mistura saudável e arrojada entre as pretensões lu- crativas exponenciais que a SA já moldava em sua estrutura primária, e as necessidades peculiares que os clubes profissionais de futebol possuem para o seu funcionamento, exigências essas que, apesar de distintas, são fundamentais para a construção da prática do desporto como um todo, especialmente ao tratar-se do mercado que rodeia o futebol, que se desenvolve de maneira autossuficiente, constante- mente se retroalimentando através do esporte e das organizações que o exercem. Desse modo, ressalta-se que o objetivo canalizado no lucro, cunhado na sociedade anônima original, indubitavelmente persiste, mas para que o modelo recaísse sobre uma forma de negócios tão específicas e promissoras quanto os clubes de futebol, era ne- cessário que houvesse uma particularização do mo- delo da sociedade de capital, para que a adaptação se originasse no berço da lei, e não de forma forçada como algumas entidades como o Red Bull Braganti- no, Figueirense Futebol Clube e Botafogo Futebol SA (Ribeirão Preto) exerceram com outros modelos so- cietários e viram-se desencaixados dentro dos outros formatos justamente pelas particulares que o futebol impõe aos seu participantes,cujos os quais as estru- turas empresariais anônimas e limitadas tradicio- nais não estão aptos à atender com perfeição. 01/11/2024, 20:00 Página 26 de 139 2.2 A Função Social da SAF Segundo a Lei nº 14.193 (2021) e a justificativa que motivou a propulsão da norma, a Sociedade Anôni- ma do Futebol irá trabalhar sobre algumas matrizes que se constituem em objetivo sociais, dentre eles: a formação e desenvolvimento da prática do futebol masculino e feminino; a formação de atletas profis- sionais e exploração de receita decorrente de transa- ção dos seus direitos desportivos; a estruturação das entidades de prática do futebol no Brasil; e a explo- ração da propriedade intelectual e imobiliária da en- tidade. Em equiparação, Maria Rita Bruel (1989) definiu a função social do esporte: O esporte deve ser entendido e tratado como um fenômeno social e político, capaz de influenciar o conjunto de transformações culturais de uma socie- dade. Rico nas suas relações ativas e dinâmicas do grupo social ele é a representação viva das manifes- tações de ludicidade e criatividade do movimento de um povo. Produz e reproduz a identidade cultural, contribuindo de forma decisiva nos processos de mudança social, formação educacional e de consoli- dação desta identidade. Diante desses pilares, percebe-se que o novo modelo societário busca atender e conciliar as métricas soci- 01/11/2024, 20:00 Página 27 de 139 ais que envolvem o desporto, com o objetivo finan- ceiro de conseguir auferir lucro sobre a prática do futebol. Para molde empresarial que tem enfoque nos clubes brasileiros, o discurso não poderia ser diferente, pois apesar do enlace mercado financeiro e a recuperação de entidades à beira da falência se- rem os motivos mais midiáticos para a elaboração da norma, o fator social e cultural jamais deverá ser es- quecido. Compreende-se também que a SAF possui como um de seus enfoques a estruturação e reestruturação de entidades de práticas desportivas, e isso possui uma veia cultural muito forte que precisa ser abordada com cuidado. Especialmente com a pandemia do Corona Vírus, diversos clubes tiveram suas receitas reduzidas drasticamente, o que, aliado às contínuas más direções que viraram rotina nos clubes brasilei- ros, encaminhavam para a eminente insistência de várias entidades historicamente e socialmente muito importante no imaginário popular. Cruzeiro Esporte Clube, Clube de Regatas Vasco da Gama e Botafogo de Futebol e Regatas são os três nomes mais debati- dos, que representam a imagem de clubes multicam- peões, que arrastam multidões para os estádios, mas que estavam à beira da extinção pelo contencioso de dívidas acumuladas em gestões desastrosas, nesse contexto, é simplesmente incalculável o impacto so- cial que o fim de organizações como essas teriam para o povo brasileiro, não só para o esporte como 01/11/2024, 20:00 Página 28 de 139 competição, mas para a identidade cultural que está marcado em milhões de brasileiros. Assim, percebe- se que o objetivo de reestruturação da SAF, apesar de parecer “meramente” financeiro, carrega um far- do social de extrema relevância e é mais um dos fun- damentais motivadores da função social da Socieda- de Anônima do Futebol. Focando no que foi abordado como objetivos sociais na lei entende-se que a inclusão do desenvolvimento do futebol feminino na meta social é extremamente relevante e fortifica o viés de integração que a norma propõe, além disso, ter como real finalidade a for- mação profissional de atletas também é muito inte- ressante visto que parte do viés social do futebol é justamente proporcionar oportunidades para jovens ingressarem no esporte, algo que salva diversas cri- anças de situação de pobreza. Importante ressaltar que este ponto sobre o desenvolvimento dos atletas “de base” já foi amplamente discutido e prometido por outras normas, a Lei 9.615/98, conhecida popu- larmente como Lei Pelé, trazia o conceito do Plano Nacional do Desporto, que consiste em um progra- ma decenal que busca uma forma planejada e orga- nizada de nortear o acesso de crianças e jovens ao esporte através do incentivo fiscal do Ministério do Esporte, porém, tal campanha encontra-se estagna- da pelo Governo Federal há mais de 23 anos. Ressal- ta-se que este apoio governamental sobre o incenti- 01/11/2024, 20:00 Página 29 de 139 vo à prática do esporte e formação de novos atletas encontra-se paramentado na Constituição Federal, através de seu artigo 217: Art. 217. É dever do Estado fomentar práticas des- portivas formais e não-formais, como direito de cada um, observados: I - A autonomia das entidades desportivas dirigentes e associações, quanto a sua organização e funciona- mento; II - A destinação de recursos públicos para a promoção prioritária do desporto educacio- nal e, em casos específicos, para a do despor- to de alto rendimento; III - o tratamento diferenciado para o desporto pro- fissional e o não- profissional; IV - a proteção e o incentivo às manifestações des- portivas de criação nacional. § 1º O Poder Judiciário só admitirá ações relativas à disciplina e às competições desportivas após esgota- rem-se as instâncias da justiça desportiva, regulada em lei. 01/11/2024, 20:00 Página 30 de 139 § 2º A justiça desportiva terá o prazo máximo de sessenta dias, contados da instauração do processo, para proferir decisão final. § 3º O Poder Público incentivará o lazer, como for- ma de promoção social. (GN) 2.2.1 Programa de Desenvolvimento Educa- cional e Social Desse modo, a SAF buscou positivar um modo efeti- vo de cumprir com o objetivo social sobre o incenti- vo de prática e formação de atletas profissionais de futebol, para isso, instituiu o Programa de Desenvol- vimento Educacional e Social (PDE), um plano obri- gatório para todos que aderirem ao modelo de socie- dade anônima do futebol que conecta diretamente os clubes e os centros educacionais públicos onde se encontram os jovens, promovendo medidas em prol do desenvolvimento da educação por meio do fute- bol, e do futebol por meio da educação. A Lei da SAF traz em seu texto um rol, não restritivo, que explora alguns exemplos de como a entidade de prática des- portiva poderá exercer o PDE: I - Na reforma ou construção de escola pública, bem como na manutenção de quadra ou campo destinado à prática do futebol; 01/11/2024, 20:00 Página 31 de 139 II - Na instituição de sistema de transporte dos alu- nos qualificados à participação no convênio, na hi- pótese de a quadra ou o campo não se localizar nas dependências da escola; III - Na alimentação dos alunos durante os períodos de recreação futebolística e de treinamento; IV - Na capacitação de ex-jogadores profissionais de futebol, para ministrar e conduzir as atividades no âmbito do convênio; V - Na contratação de profissionais auxiliares, espe- cialmente de preparadores físicos, nutricionistas e psicólogos, para acompanhamento das atividades no âmbito do convênio; VI - Na aquisição de equipamentos, materiais e aces- sórios necessários à prática esportiva. Faz-se necessário aferir que os alunos participantes do programa de desenvolvimento deverão estar re- gularmente matriculados na instituição conveniada, manter o nível de assiduidade e o padrão de aprovei- tamento escolar definido no convênio. Ademais, atendendo ao objetivo social anteriormente assinala- do a respeito da integração do futebol feminino, o PDE deverá oferecer na exata mesma medida opor- 01/11/2024, 20:00 Página 32 de 139 tunidade de participação de alunas matriculadas, garantido o acesso ao esporte de forma igualitária para os meninos e meninas. Diante deste cenário, compreende-se e reafirma-se a forte veia social da sociedade anônima do futebol, a preocupação com o incentivo à prática do futebol assim como a formação de novos atletas exibe um modelo inovador que entrega a responsabilidade aos próprios clubes de futebol, não que o governo passe a estar desobrigado de oferecer seus próprios pro- gramas sociais, mas agora as organizações privadas serão vistascomo aliados regulamentados para o fomento ao esporte, afinal, a paixão do povo sobre o esporte emerge a partir dos times, logo, é justo que os clubes devolvam e reiniciem este ciclo através do PDE. Analisa-se que o irrestrito rol apresentado na lei apresenta soluções em diversos aspectos para que a organização desportiva contribua com o incentivo ao futebol, resoluções que se debruçam desde o lado estrutural como a alimentação, acompanhamento médico, fornecimento de material adequado e trans- porte, até desenlaces mais arrojados como a capaci- tação de ex-jogadores profissionais para ministrar e conduzir as atividades do convênio, o que se de- monstra uma típica situação ganha-ganha visto que diversos atletas buscam seus clubes ao fim da carrei- ra para desenvolver o trabalho no esporte e agora poderão ter nessas crianças uma oportunidade mag- nífica de capacitação para o futuro trabalho com o 01/11/2024, 20:00 Página 33 de 139 futebol de alto nível, e por outro lado, os jovens po- derão ter um mentor que conhece bem os caminhos do esporte profissionais e poderá auxiliar magistral- mente na formação de diversos novos atletas. Salienta-se que, ainda no escopo do programa de desenvolvimento educacional e social, a Lei 14.193 ainda institui obrigações à organização desportiva sobre os atletas que se encontram alojados no clube, situação que entrou em evidência após o infeliz cau- so de incêndio nos containers do “Ninho do Urubu”, local onde se localiza a base do Clube de Regatas Flamengo, que resultou no falecimento de 10 jovens atletas e o ferimento de outros 3 por negligência do clube na manutenção saudável do espaço. Para evi- tar novas tragédias como essa, a norma traz um rol de obrigações que devem ser adicionadas as exigên- cias previamente conferidas pela Lei Pelé para todas as instituições que adotaram o modelo de sociedade anônima do futebol. A nova legislação implica que dentre as determinações impõe-se que as instalações físicas deverão ser certificadas por órgãos e autori- dades competentes com relação à habitabilidade, à higiene, à salubridade e às medidas de prevenção e combate a incêndio e a desastres, obriga-se também a assistência de um monitor responsável durante todo o dia, a garantia de convivência familiar para os atletas, a participação em atividades culturais e de 01/11/2024, 20:00 Página 34 de 139 lazer nos horários livres, e por fim, assistência religi- osa àqueles que desejarem, de acordo com suas crenças. Após perpassar todo o fulcro social planejado para o modelo de sociedade anônima do futebol, percebe-se que a função social da SAF se concentra na mescla entre a estruturação das entidades de prática des- portiva com fins monetários e culturais, e a forma- ção de um plano efetivo para o fomento ao exercício do futebol, formação e proteção de novos atletas, e integralização do direito de acesso pleno ao desporto por meio da ação dos clubes. 2.3 As marcas da inovação na SAF Dentro dos direitos cíveis e comerciais do ordena- mento jurídico brasileiro existem previstos diversos modelos societários, uns mais recentes outros mais antigos, alguns com maior previsão de aporte finan- ceiros, podendo ser individuais ou coletivos, um ver- dadeiro cardápio de opções que poderão servir para os diferentes tipos de negócios que poderão ser de- senvolvidos pelo empreendedor. Contudo, a Socie- dade Anônima do Futebol é o primeiro formato em- presarial que possui um alvo extremamente específi- co em qual deverá ser o objetivo da empresa a ser constituída, no caso concreto, deverá ser uma com- 01/11/2024, 20:00 Página 35 de 139 panhia cuja atividade principal consiste na prática do futebol, feminino e masculino, em competição profissional. Dessa forma, enquanto os outros modelos, por mais diversos que sejam, precisam ter o seu toque genéri- co, pois compreendem empresas com objetivos po- tencialmente distintos, contudo, no tocante a SAF, esta especificidade quanto ao modelo negocial que irá preencher o novo formato societário permite que a estrutura da norma seja mais apegada às necessi- dades estritas que um clube de futebol profissional exige, o que potencializou a Lei 14.193 a adotar uma abordagem mais arrojada e corajosa, mergulhando fundo nas peculiaridades que o futebol como modelo de negócio requisita, assim conseguindo construir uma série de estruturas inovadoras que seriam im- possíveis em outras sociedades para adequar-se per- feitamente aos clubes. Essencialmente, uma das maiores principais matéri- as sobre a SAF é justamente a sua constituição. An- teriormente, a transição de uma entidade de prática desportiva no modelo associação civil para qualquer formato empresarial era bem dificultado, visto que muitas vezes o mérito desportivo era perdido e a equipe perdia todo o seu status dentro da estrutura competitiva nacional, precisando recomeçar desde 01/11/2024, 20:00 Página 36 de 139 as divisões de base do campeonato estadual, além das consequências contratuais em relação aos atletas e patrocinadores. A Lei nº 8.672, popularmente conhecida como Lei Zico, tentou formatar uma estrutura de acesso dos clubes ao modelo de Sociedade Anônima, porém a norma foi pouco efetiva e acabou por ser revogada em 1998 com a criação da Lei Pelé, que por sua vez não mencionava tópicos que articulassem essa mi- gração. Dessa forma, para que uma entidade despor- tiva pudesse virar um clube-empresa, ela precisaria deixar de existir e ser refundada no novo formato, ou tentar uma transição parcial, como houve em al- guns famosos casos de compras de clubes como o Red Bull Bragantino, onde se vivia um modelo líqui- do que perpassava as estruturas de uma sociedade limitada e uma associação civil, formando uma es- trutura mútua e instável. A SAF começa inovando para solucionar essa difícil transição, propondo mo- delos de transformação total e parcial, desenvolven- do o trabalho empresarial apenas no departamento de futebol do clube, o que poderá acelerar brusca- mente o processo visto que algumas organizações possuem outros desportos em sua estrutura, man- tendo em sua integridade todos os contrato acorda- dos com jogadores e patrocinadores, evitando qual- quer perda de conquistas por mérito desportivo re- conhecidas pela Confederação Brasileira de Futebol, e dando a possibilidade de integralizar o capital da 01/11/2024, 20:00 Página 37 de 139 nova sociedade com os próprios bens da associação civil (Estádio, Centro de Treinamento, Contratos e até mesmo bens imateriais como os símbolos, iden- tidade visual, direitos de imagem dentre outros). Além do sistema de transição, uma outra matéria que dificultava a materialização do clube em socie- dade empresarial eram suas dívidas, que precisari- am ser solvidas para que a instituição pudesse fazer a transformação. Contudo, a SAF tendo como um dos motivos para sua criação a possibilidade de rees- truturação de clubes colapsados financeiramente, criou um regime especializado que poderá replane- jar o pagamento desses passivos para que se torne algo factualmente pagável dentro da realidade do clube e ainda permitindo que a organização possa torna-se sociedade empresária nesse processo. Tra- ta-se do RCE, Regime Centralizado De Execuções, que funcionará como um hub judiciário para que se possa unificar as dívidas executadas em um único centro e então montar um plano de pagamento no período de 6 anos para que a instituição possa retor- nar ao estado de solvência, além disso, o regime con- fere que a sociedade empresária use de seu poderio econômico em 20% para o pagamento das dívidas do clube original, permitindo assim que a entidade possa exercer os pagamentos que deve sem abdicar do crescimento, investimento e desenvolvimento da equipe competitiva. 01/11/2024, 20:00 Página 38 de 139 Faz-se necessário mencionar o controle de gover- nança imposto pela SAF, apesar de não se tratar de uma inovação para o meio societário, a estrutura de abertura e transparência que é exigido pela Lei é no- vidade para todos os clubes que aderirem ao mode-lo, visto que muitas entidades são administradas por famílias tradicionais e representantes que provém da própria torcida, falta de visibilidade e ocultação de dados importantes sobre a organização interna do clube são práticas constantes que obrigatoria- mente serão alteradas pela adoção na SAF. Por fim, cita-se a atenção que foi dada ao lado tradi- cional do clube e à sua torcida, de modo que serão criadas ações específicas que agirão com direito de veto sobre possíveis mudanças nos signos do clube, cores, hino, cidade padrão onde manda os jogos dentre outras fortificações que representam as raízes do futebol brasileiro através das entidades, permi- tindo que a estrutura interna do clube seja alterada sem que a identificação com o seu público seja dani- ficada. Em relação ao torcedor, a SAF apresenta um novo modelo de ação para o público, nomeada de Debênture-FUT, esse novo ativo poderá servir como uma substituição ao tradicional plano de “sócio tor- cedor”, onde o público assina um serviço com o in- tuito de auxiliar seu time financeiramente, porém, com o novo título passa-se a oferecer uma possibili- dade mais segura de “auxílio”, que ganhar nova rou- pagem para torna-se um investimento que poderá 01/11/2024, 20:00 Página 39 de 139 ser feito no clube, mas com um objetivo melhor defi- nido na utilização do capital e um sistema mais se- guro de pagamento dos rendimentos. Esses equipamentos citados são marcas do arrojado projeto que a SAF apresenta, apesar de não estar pa- ramentado por um necessário sistema de tributação especial, que chegou a ser projetado porém vetado pelo presidente da república Jair Messias Bolsonaro, ainda sim demonstra-se um planejamento ousado que pretende mudar por completo a maneira de se gerir as entidades de prática desportiva no Brasil. Com instrumentos que tocam desde o torcedor até a gestão, a SAF inova positivamente em apresentar um sistema tão entrelaçado com as peculiaridades do futebol, demonstrando dispositivos específicos que miram à real eficácia para conquistar os objeti- vos sociais e estruturais, não apenas mantendo de forma abstrata como tantas outras normas do des- porto fizeram e evidentemente falharam em muitas de suas concepções. 3 A TRANSIÇÃO DO CLUBE ORIGINAL E A CRIAÇÃO DA SAF Como abordado anteriormente, a Sociedade Anôni- ma do Futebol se configura como um instrumento que detém um agrupamento de dispositivos moder- nos para potencializar os resultados da adoção do modelo. Isto se comprova logo ao começo do proces- 01/11/2024, 20:00 Página 40 de 139 so de criação da empresa, seja ela uma criação com- pletamente nova, ou fruto da transição de um clube ou pessoa jurídica original que se encaixava anteri- ormente em um modelo não-empresarial, majorita- riamente o formato de associação civil. Previamente a elaboração do modelo da SAF, qual- quer transição da pessoa jurídica original para o mo- delo empresarial percorria-se em diversos riscos que comprometiam a eficácia dessa passagem. Nos casos específicos das entidades de prática desportiva, o desempenho esportivo era sempre uma pauta polê- mica, visto que para que ocorresse a transição, o clu- be basicamente precisava ser “refundado”, de modo que os méritos conquistados através do esporte eram esquecidos e a instituição precisaria galgar to- dos os passos novamente. Dentro da premissa do futebol brasileiro isso é desastroso, visto que a estru- tura das competições de clubes exige anos de inves- timento e alto desempenho para que se alcance os principais patamares do futebol nacional. Além da questão do mérito desportivo, os contratos feitos com jogadores e patrocinadores precisavam ser re- feitos em sua integralidade, vista a troca de titulari- dade do clube como associação civil para empresa. Em muitos casos, adotava-se um sistema misto, flui- do, que misturava os dois modelos em um edifício instável, mas que permitia a venda do clube para investidores, como foi o caso mais recente do Red 01/11/2024, 20:00 Página 41 de 139 Bull Bragantino, tradição clube do interior paulista que foi comercializada para a famosa empresa de energéticos. Para que a Sociedade Anônima do Futebol surgisse como um modelo razoável, que permitisse o acesso dos clubes, a norma precisava constituir uma estru- tura facilitadora de ingresso, que admitisse tanto a criação de novas instituições como uma transição segura dos clubes pré-existentes, e dessa forma foi feito. A Lei 14.193/2021 entendeu essa problemática e constituiu um programa especial de passagem, que incide nos moldes integrais e parciais, dependendo exclusivamente da vontade própria do clube alvo, de modo tal que o departamento de futebol poderá ser secionado do todo para que haja a sua transição úni- ca para o modelo da SAF, não alterando a governan- ça e a estrutura das outras práticas desportivas den- tro do clube original. Ressalta-se que nas duas hipó- teses, a SAF sucederá o clube original em todas as relações contratuais, assim como sua relação com as entidades administrativas, mantendo todos os títu- los, história e colocação em qualquer campeonato previamente disputado pelo clube original, dessa forma, preservando todo o mérito desportivo con- quistado, garantindo uma transição segura, e evi- dentemente, muito convidativa e acessível aos clu- bes brasileiros. 3.1 Os modelos de criação da SAF 01/11/2024, 20:00 Página 42 de 139 De acordo com a Lei 14.193/21 a Sociedade Anônima do Futebol poderá ser constituída sobre três hipóte- ses: Pela transformação integral de um clube ou pes- soa jurídica original, pela cisão do departamento de específico do esporte da entidade original aliado a transferência do seu patrimônio relacionado à práti- ca do futebol, e por fim, a iniciativa para a criação de uma nova entidade com o fim da prática profissional do futebol provinda de pessoa natural, jurídica ou de fundo de investimento. 3.1.1 SAF a partir de nova iniciativa A criação da SAF a partir de um impulso original, de modo não-coligado a qualquer clube ou pessoal jurí- dica original ativa a ser sucedida, é tutelada a partir do Art. 2º, III, da Lei 14.193/2021: Art. 2ºA Sociedade Anônima do Futebol pode ser constituída: (...) III - pela iniciativa de pessoa natural ou jurí- dica ou de fundo de investimento. (GN) Além do dispositivo citado, a norma em si não traz novas regulamentações que conduzam a criação da Sociedade Anônima do Futebol a partir de nova ini- 01/11/2024, 20:00 Página 43 de 139 ciativa, o que permite a abertura dos caminhos para uma interpretação por meio de analogia, como con- ceitua Jamisson Mendonça: Analogia é fonte formal mediata do direito, utilizada com a finalidade de integração da lei, ou seja, a apli- cação de dispositivos legais relativos a casos análo- gos, ante a ausência de normas que regulem o caso concretamente apresentado à apreciação jurisdicio- nal, a que se denomina anomia. Desse modo, equipara-se a formação de constituição da SAF como iniciativa original subsidiário ao já tra- dicional molde de formação da Sociedade Anônima, positivados pela Lei 6.404/1976, assim, reproduzin- do o rito que inicia-se na consulta de viabilidade do modelo de negócio na junta comercial estadual, emissão de CNPJ, elaboração de Estatuto Social, aprovação do estatuto em Assembleia Geral, integra- lização ou subscrição do Capital Social, elaboração dos órgãos administrativos até culminar no funcio- namento pleno da empresa. De forma geral, a única distinção realmente relevan- te no processo da criação da SAF para a SA tradicio- nal, é a finalidade que deve ser preenchida no Esta- tuto Social. Enquanto a Sociedade Anônima abrange diversos modelos de negócios, o novo modelo é es- pecífico, e apenas aceitará abrigar a nova iniciativa caso o seu objetivo seja que atividade primordial 01/11/2024, 20:00 Página 44 de 139 seja a prática do futebol, feminino e masculino, obri- gatoriamente em seu módulo competitivo e profissi- onal. Ressalta-se que, apesar da cobertura midiática suge- rir a SAF sempre como um modelo paraclubes de futebol, o novo modelo societário também abrange entidades que promovam a prática do futebol profis- sional como organizadoras, e não necessariamente como clubes em si, estendendo o molde para a inser- ção de Ligas, Confederações e Federações que pro- movem o exercício do esporte como coordenadora das competições e incentivadora da prática dos clu- bes. Instituições como essas que são muito comuns no Brasil, visto que cada estado possui sua própria federação para regulamentar a prática do futebol, além da Confederação Brasileira (CBF), que já é uma empresa por si só. Ademais, há uma constante von- tade dos clubes montarem suas próprias ligas para promover novas competições que permitam que o lucro obtivo seja mantido e repartido majoritaria- mente entre os time, como é o atual caso da Liga de Futebol do Nordeste, união criada para defender os interesses políticos e comerciais dos principais clu- bes da região, além de ser a entidade responsável por promover a bem-sucedida Copa do Nordeste, competição que repercute financeiramente de forma extremamente positiva para os “cofres” dos clubes participantes. Assim, é possível que com o advento da SAF, novas ligas e entidades coordenadoras se- 01/11/2024, 20:00 Página 45 de 139 jam criadas a partir de iniciativa própria, pois a em- presa possuirá a capacidade e as peculiaridades pre- cisas para comportar essas instituições. Por fim, importante esclarecer que, no caso da cria- ção de uma entidade de prática desportiva nova a partir da Sociedade Anônima do Futebol, com im- pulso original, o novo clube será locado desportiva- mente dentro da mais básica das divisões do campe- onato estadual correspondente ao seu local de cria- ção, visto que, por tratar-se de uma nova instituição, não possui mérito esportivo prévio. 3.1.2 SAF a partir de transição de Clube ou Pessoa Jurídica original Como já destacado, a estrutura formulada para pro- mover a transição de clube ou pessoa jurídica origi- nal ao status de Sociedade Anônima do Futebol é uma das inovações primordiais para tornar a SAF um modelo acessível aos clubes. Afere-se pela Lei 14.193/2021: Art. 2º A Sociedade Anônima do Futebol pode ser constituída: I - Pela transformação do clube ou pessoa ju- rídica original em Sociedade Anônima do Fu- tebol; 01/11/2024, 20:00 Página 46 de 139 II - Pela cisão do departamento de futebol do clube ou pessoa jurídica original e transfe- rência do seu patrimônio relacionado à ativi- dade futebol; (GN) Entende-se de imediato que a SAF fornece duas for- mas de abordar a transição do ente original, primei- ramente com o modelo integral, onde o clube ou pessoa jurídica como um todo poderão fazer sua transferência para o novo modelo societário. Contu- do, existem diversas instituições que se identificam como poliesportivas ou mesmo multifuncionais, comportando outros esportes ou mesmo outras fina- lidades que não a prática do futebol, assim, a adoção do modelo da SAF poderia ser prejudicial para essas outras funções. A partir disso, a legislação previu tal impasse e também forneceu um modelo de transição parcial, no qual há uma cisão interna do clube entre o seu departamento de futebol, e todo o seu pa- trimônio relacionado à prática desse esporte em es- pecífico, com o restante do conteúdo da entidade que não se relaciona com o futebol. Dessa forma, há uma preservação do modelo original da entidade para locar toda a estrutura do clube que se relaciona a outros esportes ou funções diversas que não influ- enciam na prática do futebol, enquanto o departa- mento específico, será apartado e elevado a um mo- delo de unitário que virá a se tornar a SAF. 01/11/2024, 20:00 Página 47 de 139 Como já evidenciado, nos dois modelos de transição propostos, há uma relação de hereditariedade entre o clube ou pessoa jurídica original e a nova empresa, de modo que SAF irá obrigatoriamente suceder o ente anterior nas relações com as entidades de ad- ministração (Ligas, Federações e Confederações), assim como nos contratos, de qualquer natureza, com atletas profissionais do futebol. Ademais essa “herança” também se identifica na transferência do mérito esportivo, de modo que a nova SAF constituí- da terá o pleno direito de assumir todas as vagas do antigo clube em campeonatos, copas ou torneios, na exata mesma condição em que o ente genitor se en- contravam no momento de sua sucessão, sem qual- quer prejuízo de ordem desportiva, o que se estende para o reconhecimento de títulos, conquistas e hon- rarias que também compõe essa “hereditariedade desportiva”. Tais pilares conferem á SAF uma segu- rança fundamental que inexistia anteriormente, sen- do impensável para um clube que abdique de toda a sua condecoração almejada e conquistada durante décadas de esforço e dedicação para adotar um novo modelo administrativo, afinal, a história do clube é parte fundamental da identidade construída sobre cada uma das instituições, e a SAF busca exercer a transição do clube para evoluir o formato adminis- trativo mas sempre manter a essência social e cultu- ral do que cada uma das entidades significa, logo, a história não poderia ser simplesmente apagada. 01/11/2024, 20:00 Página 48 de 139 Em relação a hipótese de cisão interna do ente origi- nal, existem alguns fundamentos que precisam ser especificados para que não haja confusão com o que será factualmente transferido para a SAF. Primordi- almente, semelhante ao que já foi mencionado sobre “herança desportiva”, a nova empresa receberá obri- gatoriamente direitos e deveres, independentemente de sua natureza, das relações estabelecidas pelo clu- be/PJ original com as entidades de administração do futebol, incluindo a participação em competições profissionais, os contratos trabalhistas, direito à uso de imagem, bem como quaisquer negócios vincula- dos à atividade de prática do futebol. Novamente garantindo idoneidade à “substituição” que a empre- sa SAF fará em relação a sociedade original, assegu- rando que não haja qualquer prejuízo de ordem des- portiva. Menciona-se também que durante a integralização do Capital Social da SAF, na hipótese de cisão inter- na, os direitos de propriedade intelectual poderão ser utilizados como patrimônio transferível à empre- sa, incluindo escudo, hino, cores, símbolos e todos os signos privados que referenciam e constituem a instituição original. Contudo, caso não haja interes- se em utilizar esses ativos como dispositivo de inte- gralização de capital, a SAF ainda sim precisará uti- lizá-los, como os signos de identificação, utilizando- os em competições, ações de marketing dentre infi- nitas possibilidades. Por isso, o clube ou pessoa jurí- 01/11/2024, 20:00 Página 49 de 139 dica original deverão firmar um contrato com a Soci- edade Anônima do Futebol, na data da constituição da empresa, para acordar pagamento de remunera- ção proveniente da utilização de direitos de proprie- dade intelectual do clube original pela SAF, servindo como uma espécie de “aluguel” dos signos para que a empresa também possa legalmente explorá-los, permitindo-se identificar através deles. Em relação aos bens e direitos em geral pertencentes ao ente original, poderão ser transferidos à SAF de forma definitiva ou a termo, de acordo com o que for previamente estabelecido em contrato. Ressalta-se que essa transferência patrimonial para a nova em- presa independe da autorização ou do devido con- sentimento dos credores ou partes interessadas, mesmo que se trate de bem de natureza pública, com exceção de contratos que prevejam expressamente a necessidade de concordância para a transferência do título. Percebe-se que existe uma procura constante pela facilitação no câmbio de propriedades e direi- tos, a norma insiste em aproximar o máximo possí- vel o modelo antigo da SAF, como uma linha que inicia-se no molde original do ente e finaliza já na sociedade empresária, sem intersecção, fomentando uma transição fluida e natural, o que diminui as pos- sibilidades de imbróglios judiciais sobre a partição dos bens, visto que a transferênciaé pouco abrupta e segue quase como um fluxo natural que investe no que a SAF poderá se tornar para a instituição. 01/11/2024, 20:00 Página 50 de 139 A sina segue quanto à despeito dos imóveis, as insta- lações desportivas, como estádio, arena, centro de treinamento dentre outros espaços reservados a prá- tica do futebol, tendem a ser diretamente transferi- das à Sociedade Anônima do Futebol pois esta será a nova condutora do usufruto desses equipamentos. Contudo, caso o ente original opte por não os trans- ferir, a norma segue a lógica do acordo sobre direi- tos de propriedade intelectual e propõe um novo contrato apartado entre o clube ascendente e a nova empresa para firmar os termos e condições de utili- zação dessas instalações. Negócio esse que deverá ser devidamente celebrado na data de constituição da SAF, para que a prática do futebol não fique ca- rente de local para a sua execução. Ainda sobre as peculiaridades do modelo de cisão interna para transformação em Sociedade Anônima do Futebol, tem-se uma restrição quanto a prática desportiva do ente original: A partir da constituição da SAF, a participação de qualquer competição pro- fissional de futebol, direta ou indiretamente, é prer- rogativa exclusiva da nova empresa, de modo que o clube ou pessoa jurídica remanescente não poderá, em qualquer hipótese, inscrever equipe para partici- pação em torneio profissional de futebol. De modo geral, atividade “futebol profissional” como um todo fica restrita à SAF, pois este o objetivo primordial da empresa em seu estatuto social, logo, passa a torna- se algo restritivo, restando ao ente original a prática 01/11/2024, 20:00 Página 51 de 139 profissional de outros desportos, exercício de ativi- dades diversas não relacionadas ao futebol, ou ao menos, não ao futebol de forma profissional, reser- vando sua prática a forma lúdica, amadora ou edu- cativa. Por fim, este modelo de transição ainda promove a obrigatoriedade quanto a emissão de ações ordinári- as de “Classe A”, com subscrição exclusiva ao clube ou pessoa jurídica original que originou a SAF, título esse que concede direito de veto à um rol pré-estabe- lecido de tópicos relacionados a mudanças sobre a identidade do clube, mas que será devidamente abordado e desenvolvido em tópico próprio posteri- or. 3.2 A integralização do Capital Social pela en- tidade original Um ponto importante a ser trabalhado e desenvolvi- do é o papel da entidade original como integraliza- dora do Capital Social na Sociedade Anônima do Fu- tebol na hipótese do Art. 2º, II, da Lei 14.193/2021. Como já explanado, essa possibilidade perpassa a cisão do departamento de futebol do clube ou pessoa jurídica original, para que apenas os dispositivos estritamente relacionados ao futebol sejam a maté- ria-prima para a idealização da SAF. Contudo, é ne- cessário ressaltar que, apesar das peculiaridades da SAF, ela ainda é um modelo derivado da Sociedade 01/11/2024, 20:00 Página 52 de 139 Anônima, urgindo dessa forma a necessidade de in- tegralização do seu Capital Social para dar início ao funcionamento da nova empresa. Obviamente, estes recursos iniciais poderão ser complementados por investidores que pretendam impulsionar o novo pro- jeto, o mesmo por meio da venda de ações em mer- cados específicos que busquem capitalizar recursos para o nascimento da empresa, mas apesar dessas vias, o ente original possui papel fundamental na integralização desse capital, afinal, a SAF idealiza perpetuar o trabalho que foi iniciado nessa institui- ção ascendente, logo existem determinados direitos e propriedades que são pertencentes ao clube origi- nal e que precisam ser utilizados pela nova empresa. Prevendo essa necessidade de incorporação, a lei da SAF permitiu a possibilidade de integralização pelo clube ou pessoa jurídica original, de modo que pode- rão inscrever sua parcela do capital social por meio da transferência à empresa de ativos relevantes, em termos de propriedade intelectual menciona-se o nome do time, a marca, os dísticos e os símbolos; já tratando-se de ativos concretos, poderão também constar as propriedades do clubes original, seu pa- trimônio, ativos imóveis e também móveis, como registros, licenças, direitos desportivos sobre atletas e sua correspondente repercussão econômica. Res- salta-se que esse rol demonstrado pela Lei é exem- plificativo, e não taxativo, podendo perpassar os ins- trumentos citados para integralizar o Capital Social 01/11/2024, 20:00 Página 53 de 139 com outros possíveis ativos. Dentre os bens possí- veis de integralização pelo clube ou pessoa jurídica original, excetua-se operações sobre ativos imobili- zados que contenham gravame ou tenham sido for- necidos em garantia, ressalvando-se aqueles com devida autorização do respectivo credor. Enquanto o ente original apresentar obrigações anteriores à for- mação da SAF, também será vedado o desfazimento de sua participação acionário na integralidade, re- servando sempre a instituição ascendente como de- tentora de parcela da empresa, enquanto houverem passivos que atinjam o modelo anterior. Afere-se que a adoção da cisão como método de transição para a SAF é o método mais convidativo para os maiores clubes do cenário brasileiro, mas ressalta-se novamente a relevância da integralização do capital social a partir do ente original, visto que, caso haja a cisão e os recursos da SAF sejam garanti- dos unicamente por acionistas e associados, sem partir diretamente do clube, a instituição perderá a ligação embrionária com a nova empresa, promo- vendo as transferências e usufruto de direitos e pa- trimônios para a SAF através de contratos, como duas entidades apartadas, perdendo inclusive a hi- pótese de emissão das ações de “Classe A”, que vi- sam preservar as tradições e culturas do clubes-em- presa mediante possível pressão dos novos acionis- tas. Desse modo, o ente original e a SAF irão distan- ciar-se, contratualmente e culturalmente, o que po- 01/11/2024, 20:00 Página 54 de 139 derá ser desastroso para os adeptos ao time. Mesmo para aqueles que adotaram a SAF como um modelo de recuperação financeira, a falta de integralização do Capital Social pela instituição ascendente fatal- mente dizimaria os instrumentos de reabilitação fi- nanceira para o clube originário, visto que este não teria a SAF como uma extensão que forneceria solu- ções para o refinanciamento e planejamentos da qui- tação das dívidas, e sim apenas como um sociedade empresária apartada que celebrou negócios jurídicos quanto ao uso do patrimônio intelectual e físico, além de sofrer reais danos financeiros, visto que a cisão implicaria na perda do departamento de fute- bol e a matéria restrita ao qual o envolve, provocan- do uma redução patrimonial do ente. Assim, pare que o modelo de cisão funcione como planejado pela Lei e tenha a efetividade em todos os seus dispositivos, tanto para a SAF quanto para o ente original, é indispensável que o clube ou pessoa jurídica ascendente assuma parcela na integraliza- ção do capital social da empresa, o que criará essa conexão embrionária que será obrigatoriamente mantida enquanto a instituição tratar com passivos anteriores à constituição da empresa, e que eviden- temente refletirá no programa de reabilitação finan- ceira fornecido na lei da SAF. Importante mencionar que, diferentemente do que foi atribuído à hipótese citada de não inscrição do capital pela entidade an- terior, a cisão com integralização do capital pelo 01/11/2024, 20:00 Página 55 de 139 ente original não promoverá a perda de nenhum di- reito ou patrimônio ao apartar o departamento de futebol e seus acessórios, visto que o patrimônio será transferido para a SAF não concluirá em redu- ção patrimonial, e sim uma realocação da proprieda- de, de modo que a empresa receberá os bens e a ins- tituição ostentará ações subscritas correspondentes à esses ativos, dessa forma, inexistindo perda ou re- dução dos recursos, unicamente uma mudança de postos para beneficiar o plano estrutural. 3.3 Ações ordinárias deClasse A como forma de preservação da identidade Primordialmente, aborda-se o lado social e cultural que a identidade de um time de futebol tem em sua comunidade, de modo que um clube poderá ser pre- enchido de contratos, amplos recursos financeiros, estruturas moderníssimas e tudo mais que altos re- cursos podem fornecer, contudo, a verdadeira essên- cia que compõe o futebol brasileiro encontra-se nas arquibancadas. A torcida é, e sempre será, o real motivo da existência de todos os clubes no Brasil, seja ela do tamanho que for, o futebol desempenha- do em campo é voltado para os seus torcedores, pes- soas que vivem o dia a dia de amar uma instituição, de defender a honra do seu time a todo custo, que carregam essa paixão à gerações e continuarão à re- passar para os próximos, um povo que anda nas rua 01/11/2024, 20:00 Página 56 de 139 estampando o escudo no peito com orgulho e se identifica em toda a história que seu time de futebol construiu através do anos. Neste escopo, entende-se a torcida como um ser tão essencial dentro de um clube de futebol que precisa ter seus pilares preservados, e mesmo que a SAF promova uma transição fluida, a mudança de estru- tura de um ente desportivo ainda poderá gerar estra- nheza e um receio do que novos investidores pode- rão causar à uma instituição que, no contrato per- tence aos seus acionistas, mas na essência nunca deixou se ser propriedade da torcida. Assim, os fato- res identitários de uma entidade de prática desporti- va encontram-se em um patamar que precisa ser priorizado, visto que eles são um dos pilares que sustentam a história do clube e essa identificação que os torcedores possuem até os mínimos detalhes. Tudo dentro da simbologia de um time é um dispo- sitivo de reconhecimento cultural, desde as cores, o escudo, as frases do hino, as alcunhas, até o imóvel da sede, o local onde manda seus jogos dentre ou- tros instrumentos, assim, alterá-los poderiam gerar uma grande repulsa da torcida, o que seria extrema- mente prejudicial ao clube, afinal, os torcedores são o motivo pelo qual o time joga. Esse receio é motivado com razão, visto que grandes instituições que vivem da forma empresária e rece- bem constantes investimentos externos vem de- 01/11/2024, 20:00 Página 57 de 139 monstrando mudanças bruscas que afetam direta- mente essa identificação do torcedor. Toma-se por exemplo a National Football League, conhecida po- pularmente como NFL, que é a principal liga de fu- tebol americano dos Estados Unidos e é considerado o campeonato mais rico do mundo dentre todos os esportes segundo o jornal britânico “The Sun”, com um valor aproximado de 10 bilhões de Euros arreca- dados na última temporada, demonstrando-se um claro exemplo de sucesso financeiro e altos investi- mentos, como todos os campeonatos almejam um dia ser. Contudo, tratando-se da questão identitária, a NFL apresenta uma constante discussão sobre esse reconhecimento com sua torcida ser sobrepujado pelo interesse monetário dos investidores, o que acarreta mudanças bruscas e que potencialmente poderão prejudicas os adeptos pelo esporte. Dá-se exemplo às constantes trocas de logomarca de cada uma das franquias, chegando até a alterar cores e simbologias importantes, mas o principal marco dessa discussão é ainda mais incisivo, pois os times tem sido realocados para outras cidades pelo país, por apresentar um maior potencial financeiro ou fechar um contrato com um estado que paga mais para ter o time em seu território, transformando o clube que originalmente foi cunhado para servir à torcida em uma mera moeda de troca em investi- mentos, como aconteceu recentemente como o gi- gante “San Diego Chargers” que com a mudança tornou-se o “Los Angeles Chargers”, ou mesmo o 01/11/2024, 20:00 Página 58 de 139 tradicional “Raiders” que nasceram na cidade de Oakland em 1960 mas foram vendidos para torna-se o “Las Vegas Raiders” em 2020, abandonando 60 anos de uma história cunhada em outra comunida- de. Pensando no sentimento de pertencimento e identi- ficação que cunha a essência do futebol, algo que não poderá jamais ser banalizado como aconteceu na NFL, a SAF traz um dispositivo específico para evitar essa perda identitária através do mantimento das relações da nova empresa com o clube ou pessoa jurídica original. Trata-se da Ação Ordinária de Classe A, uma ação estrutura-se como um dispositi- vo exclusivo que será destinado ao clube ou pessoa jurídica original que constituiu a SAF e será emitida obrigatoriamente a partir da subscrição do Capital Social da empresa pelo ente antecessor, ressaltando- se novamente a importância da integralização dos recursos provindos da sociedade originária. De acor- do com a Lei 14.193/2021, enquanto a entidade ge- nitora possuir as ações de Classe A, ela terá direito a veto em sobre determinados temas que relacionam- se à identificação cultural da instituição, especifican- do-se em rol taxativo a necessidade de concordância dos proprietários desse título para alterar a denomi- nação, modificar os signos identificativos da equipe de futebol profissional, tais como símbolo, brasão, marca, alcunha, hino, cores e qualquer outro ele- mento considerado significativo dentro do reconhe- 01/11/2024, 20:00 Página 59 de 139 cimento cultural e social do time, e por fim, a mu- dança da sede institucional para outro munícipio, podendo ainda serem agregados outros assuntos so- bre esse “poder de veto” a depender de previsão no estatuto social da Sociedade Anônima do Futebol. Ainda na mesma logística, a norma previu outras matérias que dependerão da concordância expressa do titular das ações ordinárias de Classe A, porém, neste rol em específico, dependerá da correspondên- cia desses títulos a no mínimo 10% (dez por cento) do capital social votante ou do capital social total. Qualifica-se como necessária de concordância em assembleia geral de deliberação sobre: I - Alienação, oneração, cessão, conferência, doação ou disposição de qualquer bem imobiliário ou de di- reito de propriedade intelectual conferido pelo clube ou pessoa jurídica original para formação do capital social; II - Qualquer ato de reorganização societária ou em- presarial, como fusão, cisão, incorporação de ações, incorporação de outra sociedade ou trespasse; III - Dissolução, liquidação e extinção; e 01/11/2024, 20:00 Página 60 de 139 IV - Participação em competição desportiva sobre a qual dispõe o art. 20 da Lei nº 9.615, de 24 de março de 1998. A norma determina ainda que o estatuto social da Sociedade Anônima do Futebol constituída por clu- be ou pessoa jurídica original, poderá prever outros direitos, diversos das relações aqui elencadas, para também evidenciar necessidade de concordância expressa dos titulares das ações de Classe A. Do mesmo modo que, esses títulos poderão ser modifi- cados, restringidos e até mesmo extinguidos de for- ma posterior à sua emissão, sob devida autorização dos titulares detentores dessas ações. Conclui-se que as ações de Classe A funcionam como uma manobra da SAF para evitar que possíveis in- vestidores venham a modificar os símbolos que constituem a identidade cultural dos clubes ou pes- soa jurídica original, o que novamente busca garan- tir uma transição mais pacífica do modelo anterior para a nova empresa. A ação não busca por manter tradições retrógradas ou impedir a evolução da mar- ca, mas entrega nas mãos do ente originário que de- sempenhará o papel de “consultor obrigatório”, pois no fim, dentre os integrantes da assembleia geral da SAF, é o mais qualificado para determinar o que e como aquela instituição significa para o povo, sua torcida, seus ideais e sua vasta história. 01/11/2024, 20:00 Página 61 de 139 4 CONTROLE DE GOVERNANÇA E TRANS- PARÊNCIA Apesar do modelo de Sociedade Anônima do Futebol buscar exercer a transição do clube ou pessoa jurídi- ca original de forma fluida e natural, seja em relação à identidade ou a passagem dos ativos, a mudança dentro do patamar da organização administrativa será impreterivelmente brusca, e é