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DIREITO TRIBUTARIO Apresentação Seção 1 de 5 A tributação, conforme aparece na Constituição, se dá por meio do poder de tributar, dado aos entes federados. Todavia, esta tributação é limitada dentro do Estado Democrático de Direito, em decorrência dos princípios constitucionais tributários e das imunidades, que visam à garantia dos direitos e às garantias fundamentais do contribuinte. Além disso, a ordem tributária atual tem a missão de proporcionar a eliminação da pobreza das pessoas que estão em vulnerabilidade social por meio da tributação extrafiscal. Essas garantias constitucionais tributárias não foram levadas em conta ao longo da história da humanidade, pois a missão dos tributos e suas espécies era apenas arrecadatória de recursos públicos pelos Estados vitoriosos de guerras ou por meio da mão de ferro do Estado, ou seja, de seu poder de tributar. AUTOR O professor Paulo Roberto de Souza Junior é mestre em Direito (2000), pela Universidade Estácio de Sá (UNESA), e é graduado em Direito (1990), pela Universidade Gama Filho (UGF). Possui Especialização em Gênero e Sexualidade, pela Unyleya Editora e Cursos (2019), em Direito Constitucional, pela Universidade Gama Filho (2013) e Direito Tributário, pela Universidade Cândido Mendes (2012), além de ser autor de obra jurídica e artigos. CURRÍCULO LATTES http://lattes.cnpq.br/9737496617439645 DIREITO TRIBUTARIO Agradeço a todos e todas que estão ao meu lado nesta carreira de professor conteudista e dedico este material à pessoa que me embala em todos os momentos que necessito, a senhora MF, amiga de todos os tempos e momentos. Paulo Roberto de Souza Junior Agradeço a todos e todas que estão ao meu lado nesta carreira de professor conteudista e dedico este material à pessoa que me embala em todos os momentos que necessito, a senhora MF, amiga de todos os tempos e momentos. Paulo Roberto de Souza Junior Presidente do Conselho de Administração: Janguiê Diniz Diretor-presidente: Jânyo Diniz Diretoria Executiva de Ensino: Adriano Azevedo Diretoria Executiva de Serviços Corporativos: Joaldo Diniz Diretoria de Ensino a Distância: Enzo Moreira Autoria: Paulo Roberto de Souza Junior Projeto Gráfico e Capa: DP Content DADOS DO FORNECEDOR Análise de Qualidade, Edição de Texto, Design Instrucional, Edição de Arte, Diagramação, Design Gráfico e Revisão. © Ser Educacional 2021 Rua Treze de Maio, nº 254, Santo Amaro Recife-PE – CEP 50100-160 *Todos os gráficos, tabelas e esquemas são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência. Informamos que é de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem autorização. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela Lei n.º 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal. Imagens de ícones/capa: © Shutterstock Objetivos Seção 2 de 5 DIREITO TRIBUTARIO UNIDADE 1. Panorama sobre o Direito Tributário Paulo Roberto de Souza Junior OBJETIVOS DA UNIDADE • bullet Entender a ligação do Direito Tributário com os demais ramos do Direito; • bullet Compreender as espécies tributárias, seus elementos e suas diferenças; • bullet Diferenciar receita originária e derivada, verificando suas espécies tributárias; • bullet Analisar o poder de tributar e suas limitações; TÓPICOS DE ESTUDO Clique nos botões para saber mais Atividade financeira do Estado – // O Direito Financeiro // Relações com outros ramos do Direito // Fundamentos do tributo O poder de tributar – // Princípios constitucionais tributários // Imunidades O tributo – DIREITO TRIBUTARIO // Classificação dos tributos // Impostos, taxas e contribuições Atividade financeira do Estado Seção 3 de 5 O Estado tem como objetivo realizar o bem comum, ou seja, as necessidades públicas, implementadas por meio de políticas públicas que visam à eliminação da pobreza, desigualdades sociais e de renda e a marginalização de povos oprimidos. Essas atividades são de caráter essencial, quando ligadas à saúde, à segurança e à educação, e de caráter complementar, quando praticadas pelos Estados ou pelos entes privados, por meio da outorga (transferência da própria titularidade do serviço) ou por delegação (transferência da prestação do serviço público). Aliomar Baleeiro salienta que a “atividade financeira consiste em obter, criar, gerir e despender o dinheiro indispensável às necessidades, cuja satisfação o Estado assumiu ou cometeu àquelas outras pessoas de direito público” (BALEEIRO, 2015, p. 18). Alberto Deodato, por outro lado, defende que essa atividade “é a procura de meios para satisfazer as necessidades públicas” (DEODATO, 1968, p. 1). O DIREITO FINANCEIRO A atividade financeira do Estado se dá pela prestação do serviço público (atividades prestadas pelo Estado ou por quem este determina), pelo exercício regular do poder de polícia (regula a prática de ato ou abstenção de fato, em razão de interesse público sobre determinadas atividades) e pelo poder de intervenção no domínio econômico (ao exercer o poder normativo e regulador da atividade econômica). Os gestores públicos, na realização dessas atividades, praticam uma série de ações essenciais ou vitais à população, em busca DIREITO TRIBUTARIO da satisfação do interesse público, relacionado às finanças públicas (Quadro 1), podendo ser de três esferas: • 1 1 A orçamentária (receita e despesa); • 2 2 A financeira (crédito bancário e de fornecimento); • 3 3 A patrimonial (bens patrimoniais). Quadro 1. A evolução do conteúdo das finanças públicas DIREITO TRIBUTARIO Direito Financeiro O Direito Financeiro está situado dentro do ramo de direito público, que estuda a atividade financeira do Estado sob o olhar do campo jurídico, ou seja, das normas jurídicas (legislação), tendo como missão a avaliação de receitas (originárias e derivadas, conhecidas como receitas tributárias), despesas (ordinária e extraordinária), orçamento público (receita e despesa) e o crédito público. Direito Público Esse ramo do Direito Público, de caráter autônomo, tem seus ditames legislativos traçados pelo art. 24, I, da Constituição Federal (BRASIL, 1988), que define que a União, os estados e o distrito federal exercem a competência legislativa concorrente sobre sua legislação. Todavia, aos municípios, dentro de sua competência, é permitido legislar especificamente sobre tal assunto, conforme estipula o art. 30, II, da Constituição (BRASIL, 1988). Dentro desse contexto, o orçamento é o espelho da vida do ente federado, apresentando suas receitas e despesas. Sua montagem dependerá da atuação do governo, ou seja, do foco da sua atuação. As receitas são os recursos financeiros que o Estado possui para fazer frente às despesas e à realização de políticas públicas, e podem ser originárias, que são receitas empresariais do próprio Estado, e derivadas, que nascem da captação de recursos dos particulares (pessoas naturais ou jurídicas), por meio dos tributos. Veremos a composição do patrimônio estatal mais detalhada a seguir. Clique nas setas para saber mais DIREITO TRIBUTARIO 1 As receitas originárias ou estatais São receitas produzidas pelo próprio Estado, por meio de suas atividades ou bens. Assim, temos: • o os aluguéis, certas doações, juros, laudêmios, foros, contrato de venda e atividades praticadas pelo Estado com seus bens, dos quais advêm receitas; • o as multas que o Estado emite por transgressões praticadas por pessoas físicas (naturais) ou jurídicas ao ferirem a lei, que entram para os cofres públicos a título de sanção; • as indenizações, advindas de atos praticados contra o patrimônio; • as adjudicações, que nascem a título de ressarcimento por danos causados ao erário ou decorrente de sanção pela prática de ilícitos,Assim, os demais entes federados que compõem o Pacto Federativo estão impedidos de realizar tal feito. // Anulação ou revogação de uma norma jurídica tributária A vigência é o tempo de vida de determinada norma jurídica que já cumpriu seu ciclo de formação e formalidades de validade de lei. O fenômeno de repristinação não é aceito no país, e refere-se ao “fenômeno pelo qual é restaurada a vigência de uma lei, revogada anteriormente por uma segunda, quando esta é revogada por uma terceira” (ROCHA, 2019, p. 346). Esta lei poderá ser anulada pelo Poder Judiciário ou pelo poder que a elaborou quando for inconstitucional ou ilegal, e revogada de forma tácita (quando a lei nova não menciona a lei, mas dispõe de forma contraria a esta) ou expressamente (quando a nova lei realiza o encerramento do ciclo de sua vida e o início de outra mais recente). Interpretação e integração à legislação tributária Seção 4 de 5 A interpretação é um ato social, uma fonte de sentido jurídico e, por conseguinte, sofre influência da sociedade através de influxos subjetivo-individuais, influxos ideológicos e influxos socioculturais. Toda norma recebe este emaranho de elementos semióticos e socio semióticos que deverão ser analisados e interpretados, mesmo que não haja lacunas, obscuridade e/ou omissões ou DIREITO TRIBUTARIO mesmo se o legislador disse mais ou menos do que pretendia afirmar de fato. Assim, o conjunto das práticas jurídicos-textuais (juridicidade) sofre um verdadeiro efeito de potencialização pela interpretação. Esta juridicidade tem como base a semiótica jurídica (BITTAR, 2017), que é a teoria que estuda o funcionamento do discurso, os diversos sistemas de significação e seus efeitos dentro do campo de debates sobre as questões do direito e da juricidade (sendo o direito entendido como produção textual-jurídica). No campo tributário, ao interpretar a norma tributária, visa-se identificar seu alcance e seu sentido; assim, não há inovação ou criação de uma situação jurídica (concepção de uma norma jurídica), somente busca-se compreender o que a lei quer dizer e onde ela irá atuar em relação ao fato concreto. A aplicação desta lei ao caso concreto, onde será identificado seu significado e alcance, poderá ser realizada tanto pelo fisco como pelo contribuinte, ou mesmo pelo Poder Judiciário. Após tal avaliação técnico-jurídica é que poderá se observar se a lei é aplicável ou não ao fato concreto ensejador da obrigação tributária. Isso posto, é importante mencionar que a ciência que estuda a interpretação é a Hermenêutica. O direito tributário não leva em conta se a atividade é ilícita ou lícita, se advém de uma atitude criminosa, uma vez que segue o princípio do “pecunia non olet” conforme dita o art. 118 do CTN, que prevê a definição legal do fato gerador, que é interpretada abstraindo-se: a) Da validade jurídica dos atos efetivamente praticados pelos contribuintes, responsáveis, ou terceiros, bem como a natureza de seu objeto ou efeitos; e b) Dos efeitos dos fatos efetivamente ocorridos (BRASIL, 1966, n.p.). Machado (2019, p. 104) salienta que há dois sentidos da interpretação: no “sentido amplo como a busca de uma solução DIREITO TRIBUTARIO para um caso concreto e no sentido restrito como a busca do significado de uma norma”. Todavia, nesta busca o intérprete pode entender que não há regra jurídica capaz de ofertar uma resposta a determinada demanda ou que, existindo a lei, esta apresenta uma lacuna, necessitando, por conseguinte, recorrer à integração, que “é o meio de que se vale o aplicador da lei para tornar o sistema jurídico inteiro, sem lacuna” (idem). Segundo Amaro, há uma diferença entre interpretação e integração: [...] na primeira, se procura identificar o que determinado preceito legal quer dizer, o que supõe, é claro, a existência de uma norma de lei sobre cujo sentido e alcance se possa desenvolver o trabalho do intérprete. Na segunda, após se esgotar o trabalho de interpretação sem que se descubra preceito no qual determinado caso deva subsumir-se, utilizam-se os processos de integração, a fim de dar solução à espécie (2019, p. 236). Assim, instrumentos da interpretação são utilizados na integração para identificarmos se uma lei possui ou não lacunas. Classificação da interpretação da Lei Tributária com base no sentido da norma A interpretação, conforme aumenta, diminui, restringe, corrige ou declara o sentido contido no texto jurídico, pode se classificar ainda de acordo com o seguinte esquema (Quadro 5): Quadro 5. Classificação com base no sentido da norma. Fonte: BITTAR, 2017 n.p. (Adaptado). DIREITO TRIBUTARIO A interpretação extensiva que prejudique os direitos do contribuinte ou que crie penalidades e constrições com seu surgimento não deve vigorar, como salienta o art. 112 do CTN (BITTAR, 2017); sobretudo em virtude do que afirma a legislação, constrangendo-se a livre interpretação jurídica em face de normas caracteristicamente benéficas ao contribuinte (art. 111 do CTN). Deve-se ter em vista, sobretudo, que o caráter tendencioso pro fisco não pode prevalecer sobre o direito e garantias fundamentais e constitucionais do contribuinte. Assim, estas interpretações visam orientar os diversos setores em que se manifestam as práticas jurídicas. QUANTO À FONTE DE INTERPRETAÇÃO DA NORMA JURÍDICA TRIBUTÁRIA Quadro 6. Classificação com base na fonte de interpretação da norma jurídica tributária. DIREITO TRIBUTARIO // Interpretação judicial A interpretação judicial é aquela realizada pelo Poder Judiciário através de decisões judiciais (juízes e tribunais). Um conjunto de decisões formulam uma jurisprudência. // Interpretação doutrinária A interpretação doutrinária é aquela realizada por especialistas (estudiosos) do direito através de obras e artigos jurídicos. Sua função é demonstrar como pensa a doutrina especializada sobre determinado assunto. // Interpretação autêntica A interpretação legislativa ou autêntica é advinda do órgão que elaborou a lei, como menciona Nader: Também denominada legislativa, a interpretação autêntica é a que emana do próprio órgão competente para a edição do ato interpretado. (...) se o ato interpretado for uma lei, quando então caberá ao Legislativo a exegese (2014, p. 265). Todavia, quando o Poder Legislativo declara o alcance e o sentido do texto, nasce uma nova ordem jurídica, uma vez que se está inovando o ordenamento jurídico. Assim, não estamos propriamente diante de uma intepretação autêntica. // Interpretação administrativa A interpretação administrativa é aquela realizada pela administração pública com a função de concretizar as normas abstratas (hipóteses e não casos concretos) e gerais (destinadas a todos). Esta interpretação poderá ser realizada por intermédio de uma autoridade responsável por determinado órgão público dentro da estrutura tributária, como o Secretário Geral da Receita Federal do Brasil (ato geral), ou por Auditor-chefe da Receita Federal do Brasil dentro de auto infracional (ato individual). INTERPRETAÇÃO QUANTO AO MÉTODO: GRAMATICAL, LÓGICA, SISTEMÁTICA, HISTÓRICA E TEOLÓGICA DIREITO TRIBUTARIO // Interpretação literal ou gramatical Bittar (2017) menciona que a interpretação gramatical se trata de um método que procura verificar o sentido da norma jurídica (ou do texto jurídico) a partir da leitura da análise da forma com a qual se produzem as estruturas textuais do discurso. Esta tem como função proporcionar o entendimento da norma através do enfrentamento das dificuldades em relação aos termos do art. 111 do CTN (BRASIL, 1966). Já a interpretação literal é um método que procura verificar o sentido da norma jurídica (ou texto jurídico) a partir da leitura da palavra do texto. // Interpretação lógica A interpretação lógicaautoriza decidir contradições entre os elementos de determinada norma jurídica (ou texto jurídico), buscando o seu significado coerente, ou seja: o verdadeiro sentido desta ou sua lógica ao ser criada, sua área de atuação e quem irá atingir. // Interpretação sistemática Partindo do entendimento de que o sistema jurídico é único, nasce a necessidade de analisar as normas que o compõem em conjunto, evitando assim uma análise isolada. Esta análise deve levar em conta a Constituição e demais normas jurídicas (artigos de Lei e de Decreto, por exemplo). Para demonstrar o alcance da norma legal, devemos precisar a quais fatos ela se refere. Para isso, por vezes, precisaremos identificar os fenômenos contidos nos significados de algumas palavras ou expressões. Os principais problemas podem ser de ambiguidade ou vagueza. Um signo é ambíguo quando possui mais de um significado possível; é vago quando não conseguimos determinar seu significado. No caso das normas, um termo ambíguo deixa dúvidas quanto ao fato a que se refere e o termo vago não permite identificá-lo. (FERREIRA, 2011, n.p.). Assim, a interpretação sistemática é um método que procura verificar o sentido da norma jurídica com base na contextualização do texto em meio a uma cadeia de outros textos e princípios. DIREITO TRIBUTARIO // Interpretação histórica A interpretação histórica avalia os antecedentes históricos que levaram à criação da norma, buscando compreender os significados das palavras dentro da elaboração da norma (occasio legis). // Interpretação sociológica A interpretação sociológica busca analisar os costumes e valores atuais da sociedade (FERREIRA, 2011). // Interpretação teleológica A interpretação teleológica busca os fins da norma legal, ao passo que a interpretação axiológica busca explicitar os valores que serão concretizados pela norma (FERREIRA, 2020). INTERPRETAÇÃO QUANTO AOS EFEITOS OU RESULTADOS: DECLARATÓRIA, EXTENSIVA E RESTRITIVA // Interpretação declaratória Dá-se quando o intérprete conclui que não há necessidade de correção de falhas da lei, posto que há coincidência entre o texto legal e o legislador. // Interpretação extensiva Ocorre quando há necessidade de ampliar, por parte do intérprete, o que o legislador quis afirmar. Como exemplo, há a proibição da utilização do tributo com efeito de não confisco. Assim, o STF (ADI 551/RJ) aplicou a interpretação extensiva às multas tributárias. // Interpretação restritiva Dá-se quando o intérprete nota que o texto legal atestou mais do que efetivamente queria dizer. Por exemplo: o STF (ADI 1.135-9/DF) restringiu a atuação do art. 195, § 6º da CF, de 1988, para apenas instituições e a majoração da contribuição para o financiamento da seguridade social. DIREITO TRIBUTARIO // Interpretação e integração O intérprete, então, determina o significado dessa norma, tendo em vista, especialmente, o sistema em que a mesma se encarta. Já de integração se cogita quando se esteja na ausência de norma expressa e específica para o caso, e se tenha, por isto mesmo, de utilizar um dos meios indicados no art. 108 do CTN (MACHADO, 2019, p. 105). Clique nos botões para saber mais Analogia – Diante de uma lacuna, o aplicador da Lei Tributária irá buscar soluções através de estudos de casos similares. Esta será aplicável tanto para o fisco quanto para o contribuinte; Um exemplo – Em uma lacuna apresentada em um imposto não cumulativo, o regramento de outro imposto não cumulativo poderá ser aplicado ao caso análogo para o fim da questão levantada; Princípios gerais do Direito Tributário – Não encontrando solução adequada através da analogia, poderão ser utilizados os princípios constitucionais tributários; Princípios gerais do Direito Público – O direito tributário pertence ao ramo do direito público, assim, princípios deste poderão ser aplicados em demandas tributárias; Equidade – É tida como a justiça em determinado caso concreto, ou seja, o aplicador do direito poderá corrigir falhas através de normas gerais na ausência de normas específicas. EXPLICANDO DIREITO TRIBUTARIO A ordem do art. 108 do CTN deverá ser seguida; assim, a analogia deverá ser utilizada antes dos demais meios de integração. Não sendo cabível sua aplicação, se buscará a solução através dos princípios gerais do Direito Tributário, posteriormente dos princípios gerais de Direito Público e, em último caso, da equidade, que é a justiça no caso concreto. Assim, o § 1º do art. 108 do CTN (BRASIL, 1966) proíbe que haja a utilização da analogia de tributo não previsto em lei, e o § 2º do referido art. não aceita que a equidade seja aplicada em situações que haja a dispensa de tributo devido. DIREITO TRIBUTARIO Quadro 7. O CNT sobre os princípios gerais de direito privado e a lei tributária. Fonte: BRASIL, 1966, n.p. (Adaptado). Assim, caso a Constituição Federal defina a forma ou o conceito dentro do direito privado, a lei não poderá ser alterada por outra lei. Neste sentido, se o Texto Constitucional estiver discorrendo sobre mercadorias ao determinar a competência dos Estados em relação ao ICMS, devemos observar o conceito de mercadoria no direito empresarial. Hipótese de incidência Seção 5 de 5 Da hipótese de incidência nascem os elementos da relação jurídica, os quais são materializados com a ocorrência do fato gerador, definindo qual será o critério para se estabelecer a base de cálculo e alíquotas que definem o quantum a ser pago pelo contribuinte. DIREITO TRIBUTARIO Diagrama 1. Fato gerador abstrato e concreto. Fonte: ALEXANDRE, 2020, p. 349. O art. 114 do CTN (BRASIL, 1966) apresenta o fato gerador em abstrato e em concreto, em que o primeiro representa a hipótese de incidência definida na Lei Tributária e o segundo significa o evento concreto, ocorrido em sociedade e dotado das características de tempo e espaço, o que constitui o fato jurídico tributário ou o fato jurígeno tributário. Esta hipótese é considerada como uma abstração legal de um fato, ou seja, é a situação descrita em lei que será concretizada através da realização do fato gerador, o que ensejará o surgimento da obrigação tributária que definirá os sujeitos envolvidos – ativo e passivo. Diagrama 2. A obrigação tributária. Fonte: ALEXANDRE,2020, p. 349. Carvalho (2019) aponta três critérios de hipótese: o material, que é definido como o fato em si; o temporal, que são as circunstâncias DIREITO TRIBUTARIO de tempo que envolvem o fato gerador materialmente descrito; e o espacial, que é o local onde este deverá ocorrer. O Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores, ou IPVA, apresenta como critério material a propriedade do bem automotor; como critério temporal o lapso de tempo deste; e como critério espacial o que está dentro dos limites do estado-membro. Há ainda o local de onde nasce, como consequência ou comando; os sujeitos, como critério pessoal; e o valor bem, que surgirá com a base de cálculo que estará sujeita às alíquotas. Há dois elementos que integram a norma de incidência tributária: a primeira descreve o fato ou hipótese de incidência do tributo (antecedente, “se” ela vier acontecer) e a segunda o acontecimento que define a relação jurídica obrigacional (consequente). Rocha possui o mesmo entendimento, posto que para ele a norma jurídica tributária, portanto, trabalha com os conectivos lógicos “se” e “então”. A norma tributária descreve a hipótese de incidência e fixa que “se” ela vier a se concretizar, “então” surgirá uma relação obrigacional de tais e quais características (2019, p. 383). A hipótese de incidência é apenas uma situação descrita em lei que é dotada de elementos que, uma vez realizados, nasce o fato jurídico a ser tributado (fato gerador, fato jurídico tributário ou fato jurígeno),produzindo consequências no mundo concreto. // Aspectos da hipótese de incidência Há quatro aspectos da hipótese de incidência: aspecto material (núcleo da hipótese); aspecto espacial (descreve o lugar onde o fato deve acontecer e gerar os efeitos tributários necessários); aspecto temporal (descreve o momento da realização do fato gerador) e aspecto subjetivo (descreve quem realiza o fato). // Aspecto material da hipótese de incidência O aspecto material representa a ação ou omissão a ser tributada e, como é a função principal, poderá influenciar as demais, como, por exemplo, auferir renda. DIREITO TRIBUTARIO // Aspecto espacial da hipótese O aspecto espacial da hipótese define o local onde será realizado o fato gerador. No IPTU – Imposto Predial Territorial Urbano, por exemplo, o local é o perímetro urbano de determinado município. Este aspecto define onde irá ocorrer o fato e não qual ente tributante será o credor desta obrigação tributária. Um outro exemplo é o ISS – o Imposto sobre Serviços, em que determinado município poderá impor regras a um prestador de serviços domiciliado em sua abrangência, mas o serviço será prestado em outra localidade. Carvalho salienta que há formas de classificar o gênero tributário da respectiva hipótese tributaria: a) Hipótese cujo critério espacial faz menção a determinado local para a ocorrência do fato típico; (II – Imposto de Importação e Exportação – local: repartições aduaneiras); b) Hipótese em que o critério espacial alude a áreas específicas, de tal sorte que o acontecimento apenas ocorrerá se dentro delas estiver geograficamente contido; (ITR – Imposto Territorial Rural e IPTU – Imposto Predial Territorial Urbano – precisão geográfica); c) Hipótese de critério espacial bem genérico, onde todo e qualquer fato, que suceda sob o manto da vigência territorial da lei instituidora, estará apto a desencadear seus efeitos peculiares. (demais impostos) (2012, p. 329). // Aspecto temporal da hipótese Há tributos que possuem hipóteses instantâneas e outros não, sendo estes denominados de periódicos. Este aspecto define quando ocorrerá seu fato gerador, onde há o surgimento de um direito subjetivo para o ente tributante e o dever jurídico de pagar o tributo (contribuinte ou seu responsável). // Aspecto subjetivo da hipótese Este tipo de aspecto define quem realiza o fato gerador, suas características e qualidades, como, por exemplo, o indivíduo que deverá ser um comerciante para recolher determinado tributo DIREITO TRIBUTARIO (ICMS - Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços). Agora é a hora de sintetizar tudo o que aprendemos nessa unidade. Vamos lá?! SINTETIZANDO Nesta unidade, estudamos as fontes que compõem o Direito Tributário e a legislação tributária. Aprendemos que estas fontes visam dar um norte para a criação de normas e que elas se dividem em materiais e formais, sendo as primeiras utilizadas na criação de uma norma jurídica e as segundas em sua aplicabilidade. Além disso, vimos que, de acordo com a legalidade na matéria tributária, a lei é o campo principal de produção de regramentos. Uma vez corporificadas as normas tributárias, analisamos sua vigência. Quando relacionada ao tempo, este envolve o período pelo qual a norma deverá ser respeitada pela sociedade e seu tempo de vida, ao passo que o espaço está relacionado à dimensão territorial. Ademais, interpretamos esta vigência, visando a eliminação de questões atinentes à sua construção e à semiótica jurídica (saber-fazer) envolvida. Por fim, exploramos a hipótese de incidência, em abstrato, prevista em lei, que uma vez realizada materializa o fato gerador e permite a construção da obrigação tributária e, posteriormente, o lançamento e a cobrança do tributo. Cabe ressaltar que é da hipótese de incidência que são concebidos os elementos da relação jurídica, sendo estes materializados a partir da ocorrência do fato gerador. DIREITO TRIBUTARIO UNIDADE 3. A relação jurídica tributária: elementos, constituição e lançamento Paulo Roberto de Souza Junior OBJETIVOS DA UNIDADE Identificar os elementos que compõem a relação jurídica tributária; Diferenciar as obrigações entre principal e acessória; Entender a importância do fato gerador dentro da relação jurídica tributária; Analisar a função do lançamento e do crédito tributário. TÓPICOS DE ESTUDO Obrigação tributária: dar, fazer e não fazer Nascimento da obrigação tributária: fato gerador Lançamento e crédito tributário // Modalidades de lançamento // Impugnação de lançamento // Recurso de ofício e recurso voluntário DIREITO TRIBUTARIO Crédito tributário: noções gerais Obrigação tributária: dar, fazer e não fazer Seção 2 de 5 Duas pessoas que têm interesse em comum sobre o mesmo objeto formam uma relação jurídica, que é o vínculo estabelecido entre as partes em relação a seus interesses, obrigação que pode ser de dar, fazer ou não fazer. Hugo de Brito Machado, no Curso de direito tributário, editado em 2020, inclui ainda outro tipo de vinculação entre as partes, como a de tolerar os interesses de arrecadação ou da fiscalização dos tributos. A referida obrigação é gênero do dever em decorrência de um crédito que uma pessoa tem em favor de outra. Segundo publicado no ano de 2015 pelo site Conceito.de: Dá-se o nome de relação jurídica ao vínculo estabelecido e regulado de maneira legal entre dois ou mais sujeitos relativamente a determinados interesses. Trata-se de uma relação que, devido à sua regulação jurídica, gera efeitos legais. Dito de outra maneira: uma relação jurídica é aquela em que seus elementos jurídicos (sujeitos) realizam atividades que terão consequências no mundo jurídico em decorrência deste vinculo. [...] Essa relação jurídica é de cunho obrigacional, devido a sua prestação apreciável do ponto de vista econômico, o que define efeitos legais aos integrantes da relação, através do adimplemento de seu patrimônio. De um lado, esse vínculo une o credor (sujeito ativo), e de outro, o devedor (sujeito passivo), ambos chamados de elementos subjetivos da obrigação e de elementos objetivos da obrigação-natureza, sendo esta última estabelecida como a conduta entre o credor e o devedor. No Quadro 1 a seguir, veja uma descrição dos três tipos de obrigação tributária. DIREITO TRIBUTARIO Quadro 1. Tipos de obrigação: dar, fazer e não fazer. // Relação jurídica obrigacional tributária: elementos A relação jurídica obrigacional permeia todos os ramos do Direito, e no Direito Tributário não é diferente. As razões da obrigação tributária são a lei a fato, gerador. Na esfera tributária, tal relação é definida pelo vínculo entre o contribuinte e o fisco (Fazenda pública). No entendimento de Schoueri, na página 497 do livro Direito tributário, de 2018: Por força da ordem tributária, estabelece-se uma relação jurídica entre o Estado e o particular. Esta é a relação jurídico-tributária. Compreende, via de regra, uma série de vínculos, que não se limitam ao recolhimento do tributo. Basta ter em mente que além deste, o particular está sujeito ao dever de escriturar livros, preencher formulários, atender a fiscalização, etc., para que se compreenda a complexidade da relação assim estabelecida. Essa relação jurídica obrigacional tributária inicia-se através da realização ou concretização do fato gerador ou fato imponível ou fato jurígeno. No tocante aos elementos da obrigação tributária, são eles: sujeito ativo, sujeito passivo, objeto e causa. // Elementos subjetivos da obrigação tributária: sujeito ativo O sujeito ativo é o credor, que é o Fisco (administração fazendária), pessoa jurídica de direito público titular da competência para exigir o cumprimento da obrigação tributária, conforme determinao art. 119 do Código Tributário Nacional (CTN), regulamentado pela lei n. 5.172, de 25 de outubro de 1966. Machado, na página 142 de seu livro de 2020, comenta que: DIREITO TRIBUTARIO O art. 119 do Código Tributário Nacional cuida da relação de tributação nesse estágio em que a mesma se apresenta como relação jurídica obrigacional. Cuida – digamos assim – da obrigação tributária, definindo seu sujeito ativo, que é o titular da competência para lançar e cobrar o tributo. [...] não há insuficiência na norma em questão por não admitir pessoas jurídicas de direito privado e até pessoas naturais como sujeitos ativos da obrigação tributária. [...] É certo que uma pessoa jurídica de direito privado pode receber a atribuição de arrecadar um tributo. E pode até ser destinatária do produto de sua arrecadação. A cobrança e a arrecadação dos tributos podem ser delegadas a um terceiro, nos moldes do art. 7º do Código. // Contribuinte ou responsável tributário A Constituição Federal outorga aos entes federados – União, Estados, Distrito Federal e Municípios – a competência tributária para instituir ou não um tributo, ou seja, dá uma autorização legislativa ou faculta a um ente a instituição de um tributo que esteja em seu rol de competência. Tal competência é indelegável, portanto, mesmo com sua inércia outro ente não pode exercê-la. Já a capacidade tributária é o poder de cobrar, exigir e fiscalizar o tributo, ou seja, é uma atribuição administrativa ou executiva, em que a lei instituidora já existente apenas deve ser cumprida. O art. 7º do CTN prevê que a capacidade tributária pode ser delegada a uma pessoa jurídica de direito público, que passa a ser o sujeito ativo da obrigação tributária e, por isso, tem a capacidade tributária de arrecadar ou fiscalizar tributos (parafiscalidade), executar leis, serviços, atos ou decisões administrativas em matéria tributária. DIREITO TRIBUTARIO Quadro 2. Diferenças entre competência e capacidade tributária. Fonte: ALEXANDRE, 2020; ROCHA, 2019. (Adaptado). Numa arrecadação realizada por terceiros, existem os entes tributantes (sujeito ativo indireto) e os terceiros (sujeito ativo direto). Contudo, alterações de alíquotas, base de cálculo e criações de benefícios fiscais sofrem modificações legislativas realizadas pelo ente competente. A base de cálculo é a medida de grandeza do fato gerador aplicada à alíquota, que é o percentual ou valor fixo aplicável para cálculo do valor de um tributo, determinando o montante do tributo devido. // Sujeito passivo O sujeito passivo é o que paga o tributo ou penalidade pecuniária, denominado contribuinte ou responsável, segundo o art. 121 do CTN. Amaro, na página do livro Direito tributário brasileiro, de 2019, salienta que o contribuinte, “numa noção não rigorosamente técnica, pode ser identificado como a pessoa que realiza o fato gerador da obrigação tributária principal”. A condição de sujeito passivo independe da capacidade civil, já que qualquer pessoa que pratique o fato gerador está apta a participar da relação jurídica tributária. Assim, além do agente ser incapaz, a origem dos bens ou valores recebidos não interfere na situação. DIREITO TRIBUTARIO Diagrama 1. Obrigações do sujeito passivo. Fonte: ALEXANDRE, 2020, p. 372. // Contribuinte ou responsável tributário Segundo Rocha, na página 403 do livro Direito tributário, editado em 2019, contribuinte é: [...] aquele que promove o acontecimento concreto do fato jurídico-tributário. É a pessoa que, enfim, torna a hipótese concreta. É a pessoa que vai realizar concretamente aquilo que a lei define como hipótese de incidência do imposto: quem aufere a renda, quem importa a mercadoria, quem é o proprietário do imóvel etc. É a pessoa que serve como referência pessoal do fato gerador. Os tributos aqui dependem de quem são os vinculados (usuários do serviço que pratiquem a atividade estatal específica, como taxas e contribuição de melhoria) ou não (sem a prática de atividades específicas, podendo ocorrer a geração de impostos). No primeiro caso, o usuário do serviço é o contribuinte, enquanto no segundo caso, é quem praticou a hipótese de incidência. Por consequência, em ambos os casos, há o aspecto subjetivo do fato gerador. Já a característica marcante do responsável tributário é não ser considerado como contribuinte, segundo o art. 121, parágrafo DIREITO TRIBUTARIO único, inciso II do CTN, e que haja “a vinculação, proximidade ou gerência em relação ao fato gerador que justifique sua eleição pela lei tributária”, como determina o art. 128. O art. 130 prevê que o novo proprietário de um imóvel dentro de uma zona urbana, o contribuinte do IPTU, é o responsável pelas dívidas anteriores do imóvel. // O sujeito passivo: direto e indireto O sujeito passivo direto é o contribuinte que pratica o fato gerador e, por isso, possui uma relação pessoal e direta, dada a lei instituidora do tributo. Já o sujeito passivo indireto é definido pela lei instituidora do tributo como o responsável pelo pagamento do tributo (consumidor final), alterando os elementos subjetivos da relação jurídica tributária inicial. Desse modo, o contribuinte de direito pode insurgir contra a administração fazendária (fisco), já que ele é o responsável pelo pagamento do tributo. O contribuinte de fato não possui legitimidade para pleitear qualquer direito ou benefício, já que não faz parte da relação jurídica tributária existente, como consta no REsp 903394/AL do Superior Tribunal de Justiça, publicado no Diário de Justiça Eletrônico de 26 de abril de 2010: PROCESSO CIVIL. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ARTIGO 543-C, DO CPC. TRIBUTÁRIO. RESTITUIÇÃO DE INDÉBITO. DISTRIBUIDORAS DE BEBIDAS. CONTRIBUINTES DE FATO. ILEGITIMIDADE ATIVA. SUJEIÇÃO PASSIVA APENAS DOS FABRICANTES (CONTRIBUINTES DE DIREITO). RELEVÂNCIA DA REPERCUSSÃO ECONÔMICA DO TRIBUTO APENAS PARA FINS DE CONDICIONAMENTO DO EXERCÍCIO DO DIREITO SUBJETIVO DO CONTRIBUINTE DE JURE À RESTITUIÇÃO (ARTIGO 166, DO CTN). LITISPENDÊNCIA. PREQUESTIONAMENTO. AUSÊNCIA. SÚMULAS 282 E 356/STF. REEXAME DE MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA. SÚMULA 7/STJ. APLICAÇÃO. // Solidariedade DIREITO TRIBUTARIO Há dois tipos de solidariedade, nos quais concorrem, de um lado, dois ou mais de um devedor (solidariedade passiva) e, de outro, dois ou mais de um credor (solidariedade ativa). Em matéria tributária, a solidariedade ativa só se aplica no Simples Nacional, todavia, a ação na fase judicial é de competência da União, que pode delegar a função. Já na solidariedade passiva não há óbice, mas não cabe benefício de ordem, de acordo com o art. 124 do CTN, ou seja, o Fisco pode acionar a qualquer um dos proprietários, por exemplo, de um mesmo imóvel. Caso um deles faça a quitação, o pagamento de um aproveita aos demais e a remissão ou isenção desobriga a todos (concedida de maneira geral). Exceto se concedida apenas a um deles (concedida de maneira individual), o saldo pertence aos demais, devido à solidariedade. É a lei ordinária capaz de prever solidariedade, por exemplo, entre contribuintes e responsáveis, já que o art. 125 do CTN não nomeou os casos de solidariedade. // Domicílio tributário O art. 127 do CTN determina a possibilidade de escolha por parte do sujeito passivo. Diagrama 2. Domicílio tributário. Fonte: ROCHA, 2019, p. 426. // Elementos objetivos da obrigação tributária: objeto da obrigação tributária A causa da obrigação tributária nasce através do vínculo jurídico entre os sujeitos ativo e passivo. Já o objeto da relação jurídica é tido como o comportamento de levar recursos aos cofres públicos, ou seja, de dar ou entregar os tributos devidos conforme DIREITO TRIBUTARIO determinado pelo CTN. Quanto ao objeto, a obrigação tributária divide-se em principal e acessória.// Obrigação tributária: obrigação principal e acessória A obrigação tributária é gênero, enquanto as obrigações principal e acessória são espécies. Amaro, na página 278 do livro Direito tributário brasileiro de 2019, aponta que: [...] o nascimento da obrigação não depende de nenhuma manifestação de vontade das partes que passam a ocupar os polos ativo e passivo do vínculo jurídico. Basta a ocorrência do fato previamente descrito na lei para que surja a obrigação. O art. 113 do CTN apresenta, no parágrafo 1º a base da obrigação tributária, que é o fato gerador. O parágrafo 2º salienta que a obrigação acessória decorre da legislação tributária. A obrigação tributária acessória resume-se em realizar ou deixar de realizar algo que não é considerado como obrigação principal, como declarar o IR (Imposto de Renda). São exemplos da obrigação tributária principal o pagamento do tributo e de sua multa, quando existir, já a obrigação tributária acessória pode ser de fazer (emissão da nota fiscal) e não fazer (não circular sem a competente nota fiscal) mas, pelo simples fato da sua inobservância, converte-se em obrigação principal, em relação à penalidade pecuniária. VAMOS REFORÇAR O QUE APRENDEMOS ATÉ AGORA? Relacione o tipo de obrigação com os exemplos à direita: • • • • Dar. • Fazer. • Não fazer. DIREITO TRIBUTARIO • Entregar um carro. • Apresentar um show. • Não construir além do limite. ENVIAR Correta 👍 Muito bem, a resposta está correta! De acordo com o Quadro 1, a fim de ilustrar os tipos de obrigações, no que se refere à obrigação de dar, foi mencionada a entrega um carro. Já no tocante à obrigação de fazer, foi citada a apresentação de um show como um exemplo de trabalho a ser feito. No concernente à obrigação de não fazer, isto diz respeito à não construir além dos limites permitidos num local. Nascimento da obrigação tributária: fato gerador Seção 3 de 5 A norma jurídica é uma espécie de juízo hipotético condicional composta de duas esferas: a hipótese e consequente – o antecedente é condição suficiente do consequente. Essa norma jurídica, quanto ao antecedente, pode ser classificada em norma abstrata (define comportamentos abstratos ou a chamada hipótese tributária) ou norma concreta (acontecimento específico ou individual), segundo McNaughton, na Enciclopédia jurídica da PUC-SP, publicada em 2017. A hipótese de incidência – fato em abstrato – é a descrição da situação necessária e suficiente para o nascimento de uma obrigação tributária, ou seja, é o elemento abstrato constante na lei instituidora do tributo que define o acontecimento passível de realização e cobrança do tributo. Uma vez efetivada a hipótese de incidência, que é o elemento abstrato constante na lei instituidora do tributo e que define o acontecimento passível de realização e cobrança do tributo, nasce DIREITO TRIBUTARIO o fato gerador em concreto ou fato jurígeno, segundo o art. 114 do CTN: Art. 114. Fato gerador da obrigação principal é a situação definida em lei como necessária e suficiente à sua ocorrência. Quadro 3. Características da hipótese de incidência. O dever do contribuinte ou do responsável é garantir o direito subjetivo do fisco, bem como ver se sua pretensão corresponde aos efeitos da incidência da norma dentro da relação jurídica, que nasce com a realização da hipótese de incidência (fato gerador em abstrato). Uma vez realizado o fato gerador, ou seja, a ocorrência no mundo real dos fatos descritos como hipótese de incidência na lei instituidora do tributo. O fato gerador é escolhido pelo legislador dentro das atividades econômicas de relevância, desde que respeitadas as competências tributárias traçadas pela Constituição Federal. O CTN divide este “fato” em duas situações definidas em lei: situações de fato e situações jurídicas, que são levadas em conta no momento da realização (como no IPTU, em que a propriedade é definida como geradora de efeitos jurídicos), conforme o art. 116 do CTN: Art. 116. Salvo disposição de lei em contrário, considera-se ocorrido o fato gerador e existentes os seus efeitos: I – Tratando-se de situação de fato, desde o momento em que o se verifiquem as circunstâncias materiais necessárias a que produza os efeitos que normalmente lhe são próprios. II – Tratando-se de situação jurídica, desde o momento em que esteja definitivamente constituída, nos termos de direito aplicável. DIREITO TRIBUTARIO Segundo McNaughton, “quando for caso de uma norma tributária colher uma situação jurídica em seu antecedente, essa situação é sujeita à condição, devendo ser observados os incisos I e II do art. 117 do CTN”, como na importação, um fato que antes não era gerador de efeitos jurídicos. CONTEXTUALIZANDO Segundo McNaughton, a condição do tipo suspensiva, enquanto não se implementa o negócio jurídico, fica sem eficácia. Então, o “fato gerador” é tido como ocorrido apenas com o adimplemento dessa condição. Já na condição do tipo resolutória, que resolve o negócio jurídico extinguindo-o caso se verifique, o negócio jurídico é tido ocorrido quando praticado ou celebrado. Uma condição do tipo suspensiva é a doação de imóvel que depende de uma situação futura para ser concretizada. Só após concretizada a doação, surge o fato gerador do imposto sobre a transmissão causa mortis e doação – ITCMD. O conceito de fato gerador é interpretado levando em conta o art. 118 do CTN, que determina que seja abstraída a validade jurídica dos atos efetivamente praticados pelo contribuinte ou terceiro, bem como a natureza do seu objeto ou de seus efeitos, e dos efeitos dos fatos ocorridos. DIREITO TRIBUTARIO Uma situação de fato é vista como fato gerador da obrigação principal e da acessória, como, por exemplo, a aquisição de uma mercadoria, que sofre tributação do ICMS (obrigação principal) e a obrigação de emissão da nota fiscal (obrigação acessória). Fatos geradores são classificados em instantâneos (ocorrem num dado momento no tempo), periódicos (envolvem um período) e continuados (referem-se a um estado de coisas): ICMS Um comércio vende produto para um menor incapaz, mas há o recolhimento do tributo, independentemente da idade; ISS Na concretização do fato gerador, não é levada em conta a situação, como um eventual exercício ilegal da medicina; COMPRA E VENDA DE UM BEM A não quitação do bem não é levada em conta para o não recolhimento do tributo // Fato gerador da obrigação: principal e acessória O fato gerador da obrigação principal é a situação prevista no art. 114 do CTN, fixada em lei como necessária e suficiente à sua ocorrência. Machado, na página 129 de seu livro de 2020, apresenta uma análise dos principais elementos do conceito de fato gerador: Uma situação é um fato, conjunto de fatos, situação de fato, situação jurídica. Toda e qualquer ocorrência, decorrente ou não da vontade, é considerada como fato, mas sem qualquer relevância dos aspectos subjetivos; Estabelecida em lei, a descrição da situação cuja ocorrência gere uma obrigação tributária principal é matéria compreendida na reserva legal; https://sereduc.blackboard.com/bbcswebdav/library/Library%20Content/%28LMS%29%20-%20Do%20Not%20Delete/%28LMS%29%20DOL%20-%20Do%20Not%20Delete/SCORM/DIREITO%20CONSTITUCIONAL%20TRIBUT%C3%81RIO/UNIDADE%203/scormcontent/index.html https://sereduc.blackboard.com/bbcswebdav/library/Library%20Content/%28LMS%29%20-%20Do%20Not%20Delete/%28LMS%29%20DOL%20-%20Do%20Not%20Delete/SCORM/DIREITO%20CONSTITUCIONAL%20TRIBUT%C3%81RIO/UNIDADE%203/scormcontent/index.html https://sereduc.blackboard.com/bbcswebdav/library/Library%20Content/%28LMS%29%20-%20Do%20Not%20Delete/%28LMS%29%20DOL%20-%20Do%20Not%20Delete/SCORM/DIREITO%20CONSTITUCIONAL%20TRIBUT%C3%81RIO/UNIDADE%203/scormcontent/index.html DIREITO TRIBUTARIO Sendosuficiente, a situação prevista em lei basta. Para o surgimento da obrigação tributária, a ocorrência da situação descrita na lei é suficiente para esse fim; Sem a situação prevista em lei, não nasce a obrigação tributária. Para surgir a obrigação tributária, é indispensável a ocorrência da situação prevista em lei. Há diversos aspectos dentro deste fato gerador: Clique nos botões para saber mais Aspecto material – Propriedade do bem, como IPTU, ITR, IPVA, realização de certa atividade, II (Imposto de Importação), IE (Imposto de Exportação), valorização imobiliária, contribuição de melhoria, realização do serviço público, taxas de serviço, etc.; Aspecto temporal – Nascimento da obrigação previsto na lei; Aspecto espacial – Local de ocorrência previsto na lei; Aspecto quantitativo – Base de cálculo (grandeza que incide sobre a alíquota) e alíquota (percentagem sobre a base de cálculo); Aspecto pessoal – Sujeitos. O fato gerador da obrigação acessória está previsto no art. 115 do CTN que indica as situações previstas na legislação tributária, e determina a realização de certa atividade ou sua abstenção; todavia, tal situação não pode ensejar uma obrigação principal. // Bitributação e bis in idem Há bitributação quando entes federados diversos cobram de um determinado contribuinte o mesmo fato gerador, como quando dois municípios, por se acharem competentes, cobram o ISS de DIREITO TRIBUTARIO contribuinte por ter praticado tal serviço. Já a expressão bis in idem (duas vezes o mesmo) é quando o mesmo Fisco cobra mais de uma vez o mesmo fato gerador. VAMOS REFORÇAR O QUE APRENDEMOS ATÉ AGORA? Considerando a hipótese de incidência, é possível afirmar que ela é: Abstrata. Correctly selected Concreta. Correctly unselected Neutra. Correctly unselected ENVIAR Correta 👍 Muito bem, a resposta está correta! A hipótese de incidência, ou fato gerador, é abstrata e anterior ao fato gerador concreto, pois se faz presente na lei que institui o tributo e, quando concretizada, dá margem ao fato concreto. Lançamento e crédito tributário Seção 4 de 5 Segundo o art. 142 do CTN, o lançamento tributário é um procedimento administrativo que procede o crédito tributário , garantido certeza no processo e exigibilidade para aqueles que têm acesso ao sistema, desde que isso ocorra dentro da lei. Embora o CTN entenda que o lançamento seja um procedimento, Alexandre, na página 457 do livro Direito tributário esquematizado, editado em 2020, menciona que “a maioria dos autores entende DIREITO TRIBUTARIO ser um ato administrativo apesar de ser resultante de um procedimento”, como Paulo de Barros Carvalho, autor de Curso de direito tributário, editado em 2019. Rocha, na página 470 de sua obra de 2019, concorda com Carvalho ao mencionar que: O lançamento, com uma espécie de ato administrativo, possui o atributo da presunção relativa de legitimidade. Vale dizer, a conduta administrativa, até que exista demonstração em contrário, reputa-se legítima, ou seja, ajustada ao ordenamento jurídico. O ato de lançamento consiste, basicamente, na atividade da Administração de, por meio de servidor competente, confirmar a existência da dívida (conferir certeza), bem como mensurar com exatidão seu valor (conferir liquidez). Essa verificação de certeza e liquidez, realizada pela Administração, presume-se exata e permitir que o fisco possa, então, exigir seu crédito. Vale dizer, se a administração declara que certa dívida existe e em valor específico, isso vale como verdade até que se prove o contrário. Segundo decisão do STJ, divulgada no Diário de Justiça Eletrônico em 01 de agosto de 2000, “o crédito tributário não surge com o fato gerador. Ele é constituído com o lançamento”. // Lançamento tributário A matéria tributária divide-se em dois núcleos: a hipótese de incidência e a base de cálculo, previstos, mesmo que de maneira hipotética, na lei de instituição do tributo. Concretizado o fato gerador, nasce a dívida tributária, já que há a criação de relação jurídica obrigacional. Todavia, há impossibilidade de cobrança da dívida, por falta de sua materialização, que se efetiva por meio do lançamento. Há liquidação do quantum que é devido pela concretização do fato gerador, no qual há o cálculo do montante do tributo devido e a identificação do sujeito passivo da obrigação, com aplicação da penalidade cabível fixada em lei e a multa, se houver. Por fim, há o lançamento e notificação ao devedor, em que o documento descreve o fato e o enquadramento legal para que o contribuinte DIREITO TRIBUTARIO ou responsável possa impugná-lo, se necessário, sob pena de cerceamento do direito de defesa do contribuinte. Esse lançamento tributário é uma atividade da administração pública, vinculada e obrigatória que possibilita a conversão da dívida oriunda de uma obrigação, confirmando a existência da dívida (conferindo certeza), bem como mensurando com exatidão seu valor (conferir liquidez), de modo a facilitar sua cobrança no prazo da lei pelo Fisco, ou por quem ele delegou esta atividade. O lançamento possui efeito ex tunc, já que é um evento que se refere ao passado, diferente da obrigação tributária ex nunc. Caso seja referente a uma penalidade (multa), é observada a legislação mais favorável ao contribuinte. EXPLICANDO O CTN traz consigo dois tipos de regras: materiais (legislação substantiva ou parte substancial), ligada ao tributo (fato gerador, base de cálculo etc.), e formais (legislação adjetiva), que definem a norma procedimental do tributo (prazos, competência para lançar, etc.). Todavia, para realizar o lançamento, as normas formais devem estar em vigor e as nomas procedimentais, seguidas. O lançamento tem alguns pressupostos, que são explicados no Quadro 4. DIREITO TRIBUTARIO Quadro 4. Pressupostos do lançamento. Fonte: ROCHA, 2019, p. 485. MODALIDADES DE LANÇAMENTO O CTN delimita, nos arts. 147 a 150, as modalidades de lançamento: Clique nas abas para saber mais DE OFÍCIO O sujeito passivo não participa da atividade; POR DECLARAÇÃ O Há participação do sujeito passivo e do sujeito ativo; POR HOMOLOGAÇÃ O O sujeito faz quase todos os atos que compõem a atividade. // Lançamento de ofício ou direto – art. 149 do CTN O lançamento de ofício ou direto é feito pela administração pública, que notifica o sujeito passivo sobre o lançamento. O artigo salienta, em seu inciso I, qual é o referido lançamento e, nos incisos II a IX, há o lançamento de revisão efetuado pelo Fisco, já que está corrigindo omissões, erros ou fraudes. Tais correções, desde que justificadas, se dão até a extinção do crédito tributário. Diagrama 3. Lançamento de ofício ou direto pela administração, sem sujeito passivo. Fonte: ROCHA, 2019, p. 491. São exemplos dessa modalidade: https://sereduc.blackboard.com/bbcswebdav/library/Library%20Content/%28LMS%29%20-%20Do%20Not%20Delete/%28LMS%29%20DOL%20-%20Do%20Not%20Delete/SCORM/DIREITO%20CONSTITUCIONAL%20TRIBUT%C3%81RIO/UNIDADE%203/scormcontent/index.html https://sereduc.blackboard.com/bbcswebdav/library/Library%20Content/%28LMS%29%20-%20Do%20Not%20Delete/%28LMS%29%20DOL%20-%20Do%20Not%20Delete/SCORM/DIREITO%20CONSTITUCIONAL%20TRIBUT%C3%81RIO/UNIDADE%203/scormcontent/index.html https://sereduc.blackboard.com/bbcswebdav/library/Library%20Content/%28LMS%29%20-%20Do%20Not%20Delete/%28LMS%29%20DOL%20-%20Do%20Not%20Delete/SCORM/DIREITO%20CONSTITUCIONAL%20TRIBUT%C3%81RIO/UNIDADE%203/scormcontent/index.html DIREITO TRIBUTARIO ITR- COMPETÊNCIA DA UNIÃO IPVA- COMPETÊNCIA ESTADUAL/DISTRITAL IPTU- COMPETÊNCIA MUNICIPAL // Lançamento por declaração ou misto – art. 147 do CTN No lançamento por declaração, o contribuinte ou terceiro apresenta à administração fazendária os dados para apuração do valor devido do tributo mediante uma declaração,que pode ser alterada antes de seu lançamento e desde que comprovado o erro, contanto que reduza ou exclua o tributo, de acordo com o parágrafo 1º do CTN. Após o feito, a administração expede uma notificação ao contribuinte com o valor devido. O entendimento de Machado, exposto na página 182 do livro de 2020, sobre esta modalidade de lançamento demarca que ela: [...] é atividade da autoridade administrativa, com colaboração do sujeito passivo da obrigação tributária, que presta informações quanto à matéria de fato, e se completa com a notificação feita ao contribuinte, determinando o prazo de que este dispõe para o pagamento do valor estabelecido. Antes da manifestação da autoridade não existe o dever de pagar. Nem muito menos o crédito tributário. Esse tipo de lançamento por declaração não pode ser confundido com o lançamento que necessita de declaração, como obrigação acessória. Na esfera municipal, existe o ITBI (Imposto sobre Transmissão de Bens Imóveis). Diagrama 4. Lançamento com base na declaração do contribuinte. Fonte: ROCHA, 2019, p. 492. DIREITO TRIBUTARIO Diante da quantidade de declarações, o IR (Imposto de Renda) tornou-se um lançamento por homologação e o II (Imposto de Importação) sobre bagagem acompanhada, porque seguiam o lançamento por declaração ou misto, depois da disposição da Instrução Normativa 1.385/2013, que o definiu como lançamento por homologação em razão da sistemática eletrônica adotada, tendo sua modalidade de lançamento alterada. // Lançamento por homologação ou “autolançamento” – art. 150 do CTN Nesse lançamento, o contribuinte paga o valor apurado como devido e, no prazo da lei, a administração fazendária homologa, de forma tácita ou expressa, ou expede o lançamento de ofício determinando que se quite a diferença. Na homologação tácita, a administração não homologou o lançamento no prazo da lei quando contado a partir da ocorrência do fato gerador, que é de 05 (cinco) anos, caso a lei não tenha fixado outro prazo. Nesse caso, o lançamento é homologado e o crédito extinto, exceto se comprovado: dolo, fraude ou simulação. O prazo é decadencial. Machado, na página 183 do livro de 2020, relata que: O objeto da homologação não é o pagamento, como alguns têm afirmado. É a apuração do montante devido, de sorte que é possível a homologação que não tenha havido pagamento. Clique nas setas para saber mais // Alteração do lançamento: impugnação, recurso e iniciativa de ofício Constituído o lançamento, ele não pode ser revogado pelo Fisco. A fase oficiosa dele se encerra com a notificação do contribuinte, o DIREITO TRIBUTARIO que dá início à fase contenciosa mediante impugnação de lançamento, recurso de ofício, recurso voluntário e iniciativa de ofício da autoridade administrativa, já que o crédito tributário é extinto dentro dos ditames legais presentes no art. 145 do CTN. A denúncia espontânea é cabível, nos moldes do art. 138 do CTN, e se caracteriza como pedido do contribuinte. CONTEXTUALIZANDO Com a constituição do crédito tributário em definitivo, é afastada a decadência tributária, pois o Fisco exerceu seu direito de constituição, o tributo. Todavia, a prescrição só se dá com a constituição definitiva da dívida, posto que ela é a possibilidade de cobrar o valor devido em ação própria. Na hipótese de pendência na fase litigiosa do crédito tributário, não há prescrição ou decadência. MPUGNAÇÃO DE LANÇAMENTO A impugnação de lançamento é executada pelo sujeito passivo da obrigação tributária – contribuinte ou responsável – que observa um erro no lançamento que pode prejudicá-lo. Nesta impugnação, o contribuinte é prejudicado porque a administração fazendária julgadora pode entender como uma incorreção ou omissão no DIREITO TRIBUTARIO lançamento e proceder o lançamento suplementar, pois não há proibição do reformatio in pejus, conforme salienta Alexandre, na página 466 de seu livro de 2020: Registre-se, contudo, que a impugnação pelo sujeito passivo pode resultar em agravamento da exigência contra ele formalizada se, por exemplo, em diligência ou perícia determinada pela autoridade julgadora, for verificada alguma incorreção ou omissão. Nessa hipótese, será realizado um lançamento suplementar, com a consequente devolução do prazo para impugnação relativa à parte modificada. Não há, portanto, proibição de alteração para pior (reformatio in pejus) no processo administrativo fiscal, uma vez que, nessa seara, deve ser observado o princípio da verdade material. No âmbito federal, a hipótese está expressamente prevista no art. 18, § 3º, do Decreto 70.235/1972. A hipótese de diferimento do lançamento tributário é a realização do fato gerador. Segundo o entendimento do STF, sentenciado pela ADI n. 3.676, publicada no Diário de Justiça Eletrônico em 16 de setembro de 2019: EMENTA: CONSTITUCIONAL E TRIBUTÁRIO. ICMS. DIFERIMENTO. INEXIGÊNCIA DE DELIBERAÇÃO POR ESTADOS E DISTRITO FEDERAL E DE FORMALIZAÇÃO PRÉVIA DE CONVÊNIO. CONSTITUCIONALIDADE. IMPROCEDÊNCIA. 1. Não se confunde a hipótese de diferimento do lançamento tributário com a de concessão de incentivos ou benefícios fiscais de ICMS, podendo ser estabelecida sem a prévia celebração de convênio. Precedentes. 2. O inciso II do art. 1º do Decreto 49.612/2005 do Estado de São Paulo prevê, na incidência do ICMS, diferimento do lançamento tributário. 3. Ação Direta de Inconstitucionalidade julgada improcedente. RECURSO DE OFÍCIO E RECURSO VOLUNTÁRIO O julgador, ao analisar a impugnação de lançamento, pode entender que o contribuinte possui razão e julgar em favor dele. Segundo o CTN, o julgador deve recorrer de ofício, ou “remessa de ofício”, “reexame necessário” ou “duplo grau obrigatório”. // Iniciativa de ofício da autoridade administrativa DIREITO TRIBUTARIO A administração fazendária deverá corrigir de ofício vícios em atos praticados, sem intervenção obrigatória do sujeito passivo da obrigação. Há diferenças entre o lançamento de ofício e a revisão de ofício dentro do lançamento por homologação. Na modalidade de lançamento por homologação, o lançamento de ofício será utilizado quando o contribuinte ou responsável não realizar a declaração corretamente e aos valores não apurados e pagos por este; já a revisão de ofício é um recurso praticado pelo Fisco que corrigirá seus próprios erros. // Iniciativa de ofício da autoridade administrativa O art. 146 do CTN salienta que a modificação do crédito jurídico tributário adotado num lançamento, em decorrência de um ato de ofício ou decisão administrativa de um órgão administrativo ou judicial, tem efeitos apenas a partir dele. Ou seja, o novo entendimento não é empregado sobre lançamento já realizado. Os arts. 145 e 149 do CTN apresentam as hipóteses em que o lançamento efetivado pode ser alterado: Art. 145. O lançamento regularmente notificado ao sujeito passivo só pode ser alterado em virtude de: I – Impugnação do sujeito passivo; II – Recurso de ofício; III – Iniciativa de ofício da autoridade administrativa, nos casos previstos no artigo 149. [...] Art. 149. O lançamento é efetuado e revisto de ofício pela autoridade administrativa nos seguintes casos: I – Quando a lei assim o determine; II – Quando a declaração não seja prestada, por quem de direito, no prazo e na forma da legislação tributária; III – Quando a pessoa legalmente obrigada, embora tenha prestado declaração nos termos do inciso anterior, deixe de atender, no prazo e na forma da legislação tributária, a pedido de esclarecimento formulado pela autoridade DIREITO TRIBUTARIO administrativa, recuse-se a prestá-lo ou não o preste satisfatoriamente, a juízo daquela autoridade; IV – Quando se comprove falsidade, erro ou omissão quanto a qualquer elemento definido na legislação tributária como sendo de declaraçãoobrigatória; V – Quando se comprove omissão ou inexatidão, por parte da pessoa legalmente obrigada, no exercício da atividade a que se refere o artigo seguinte; VI – Quando se comprove ação ou omissão do sujeito passivo, ou de terceiro legalmente obrigado, que dê lugar à aplicação de penalidade pecuniária; VII – Quando se comprove que o sujeito passivo, ou terceiro em benefício daquele, agiu com dolo, fraude ou simulação; VIII – Quando deva ser apreciado fato não conhecido ou não provado por ocasião do lançamento anterior; IX – Quando se comprove que, no lançamento anterior, ocorreu fraude ou falta funcional da autoridade que o efetuou, ou omissão, pela mesma autoridade, de ato ou formalidade especial. Parágrafo único. A revisão do lançamento só pode ser iniciada enquanto não extinto o direito da Fazenda Pública. O Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF), no Acórdão 3401-005.943, ressaltou não ser possível modificar a fundamentação do lançamento já realizado, embora não haja cerceamento sobre lançamentos futuros. [...] O que não se permite é que a Autoridade Tributária, identificando um lançamento com fundamentação legal equivocada, tendo ocorrido um erro de direito, venha a alterar tal fundamento, substituindo-o por outro e acarretando, assim, um agravamento da situação do contribuinte naquela mesma autuação, referente ao mesmo fato gerador, sobre o pretexto de adequar o ato administrativo à legislação vigente. No entanto, nada impede que, em futuros lançamentos, faça tal correção, mesmo para fatos geradores passados. [...]. DIREITO TRIBUTARIO A referida mudança de critério jurídico não se confunde com erro de fato ou erro de direito só se efetiva mediante o mesmo sujeito passivo e o mesmo fato gerador. Quadro 6. Diferença entre erro de fato e erro de direito. Fonte: ALEXANDRE (2020, p. 470). Segundo o STJ, no Ag n. 1.422.444 – AL, o “cometido pela Fazenda Pública na atividade de lançamento é imodificável e enquadrando nesta definição ‘o lançamento do tributo pelo Fisco com base em legislação revogada, equivocadamente indicada em declaração do contribuinte’”, algo apontado também por Alexandre, na página 469 do livro de 2020, sendo incabível o lançamento suplementar motivado por erro de direito, como reforçado pelo REsp 412.904 – SC, publicado no Diário de Justiça Eletrônico em 30 de setembro de 2002. Machado, na página 180 do livro de 2020, pondera que o erro de fato e o erro de direito podem ser revistos, visto que o direito tributário privilegia o princípio da legalidade e as normas aplicáveis ao lançamento não fogem a este princípio. VAMOS REFORÇAR O QUE APRENDEMOS ATÉ AGORA? Identifique quais são os recursos para lançamento tributário: • Impugnação de lançamento Correctly checked • Recurso de ofício e recurso voluntário Correctly checked • Iniciativa de ofício da autoridade administrativa Correctly checked ENVIAR Correta DIREITO TRIBUTARIO 👍 Muito bem, a resposta está correta! Na esfera administrativa, a fase contenciosa é possível através da impugnação de lançamento, de recurso de ofício e recurso voluntário, além da iniciativa de ofício da autoridade administrativa. Crédito tributário: noções gerais Seção 5 de 5 Segundo Jadejiski, em texto divulgado no site Origem da Palavra em 2016, crédito advém do: Latim creditum, “algo emprestado, objeto passado em confiança a outrem”, particípio passado de credere, “acreditar, confiar”. Do Latim debita, “quantias devidas em dinheiro”, de debere, “dever, ter uma quantia a pagar”, originalmente “manter algo afastado de outra pessoa”, de de, “para fora”, mais habere, “ter”. Já crédito tributário, de acordo com Machado, na página 176 de seu livro de 2020, é: [...] o vínculo jurídico, de natureza obrigacional, por força do qual o Estado (sujeito ativo) pode exigir do particular, o contribuinte ou responsável (sujeito passivo), o pagamento do tributo ou da penalidade pecuniária (o objeto da relação obrigacional). Em suma, o crédito tributário é uma obrigação tributária exigível, lançada e passível de cobrança, por conta de seu lançamento, e decorrente da obrigação principal, tendo a mesma natureza dela, conforme consta no art. 139 do CTN. DIREITO TRIBUTARIO Diagrama 6. Constituição do crédito tributário. 1 I. Hipótese de incidência ou fato gerador em abstrato Hipótese abstrata prevista na lei instituidora do tributo; 2 II. Fato gerador concreto ou fato jurígeno Realização da atividade ou serviço que gera a imposição tributária; 3 III. Obrigação tributária Vinculo jurídico com elementos subjetivos e objetivos; 4 IV. Lançamento Atividade administrativa que materializa a obrigação tributária; 1 I. Hipótese de incidência ou fato gerador em abstrato Hipótese abstrata prevista na lei instituidora do tributo; 1 2 3 DIREITO TRIBUTARIO 4 5 2 II. Fato gerador concreto ou fato jurígeno Realização da atividade ou serviço que gera a imposição tributária; 1 2 3 4 5 3 III. Obrigação tributária Vinculo jurídico com elementos subjetivos e objetivos; 1 2 3 4 5 4 DIREITO TRIBUTARIO IV. Lançamento Atividade administrativa que materializa a obrigação tributária; 5 V. Crédito tributário Constituição da dívida tributária. O art. 140 do CTN pontua que, uma vez excluído o crédito tributário, ou alterado mediante sua impugnação, ele torna-se inválido, entretanto, a obrigação tributária subsiste. Caso já constituído, ele só tem sua exigibilidade suspensa ou excluída nos casos previstos em lei, bem como suas garantias, conforme determina o art. 141 do CTN, dado que o tributo é cobrado pela atividade vinculada à lei. Com o lançamento, há a liquidez, certeza e exigibilidade do crédito tributário, porém, conforme o art. 151 do CTN, ele pode ser suspenso nos casos de: • 1 1 Moratória: art. 152 a 155 do CTN; • 2 2 Depósito de seu montante integral; • 3 3 Reclamações e recursos administrativos; • 4 4 DIREITO TRIBUTARIO Concessão de liminar e a antecipação de tutela em outras ações judiciais; • 5 5 Concessão de medida liminar em mandado de segurança; • 6 6 Parcelamento. O art. 156 e seus incisos trazem as formas de extinção do crédito tributário: Art. 156. Extinguem o crédito tributário: I – O pagamento; II – A compensação; III – A transação; IV – Remissão; V – A prescrição e a decadência; VI – A conversão de depósito em renda; VII – O pagamento antecipado e a homologação do lançamento nos termos do disposto no artigo 150 e seus §§ 1º e 4º; VIII – A consignação em pagamento, nos termos do disposto no § 2º do artigo 164; IX – A decisão administrativa irreformável, assim entendida a definitiva na órbita administrativa, que não mais possa ser objeto de ação anulatória; X – A decisão judicial passada em julgado. XI – A dação em pagamento em bens imóveis, na forma e condições estabelecidas em lei. Parágrafo único. A lei disporá quanto aos efeitos da extinção total ou parcial do crédito sobre a ulterior DIREITO TRIBUTARIO verificação da irregularidade da sua constituição, observado o disposto nos artigos 144 e 149. As formas de extinção dispostas no CTN dos artigos 156 a 175 são: Clique nos botões para saber mais Pagamento – Arts. 157 a 169; Compensação – Art. 170; Transação – Art. 171; Remissão – Art. 172; Decadência e prescrição – Arts. 173 e 174. As obrigações acessórias não acompanham a obrigação principal e, por isso, são exigíveis durante a suspensão do referido crédito. A exclusão do crédito, prevista no art. 175 do CTN, impede a constituição do crédito tributário. É importante lembrar também que a isenção é a dispensa legal do pagamento do tributo devido, ao passo que a anistia exclui o crédito tributário relativo à penalidade pecuniária.Diagrama 7. Exclusão tributária (art. 176 a 180, CTN). Fonte: ALEXANDRE, 2020, p. 600. DIREITO TRIBUTARIO Agora é a hora de sintetizar tudo o que aprendemos nessa unidade. Vamos lá?! SINTETIZANDO Estudamos nessa unidade os elementos que compõe a relação jurídica tributária: sujeitos – ativo e passivo –, objeto e causa. Esta relação nasce através da realização da hipótese de incidência ou fato gerador abstrato, onde há a concretização do fato gerador concreto ou fato jurígeno e o nascimento da obrigação tributária. Essa obrigação tributária divide-se em: obrigação principal (obrigação de dar) e obrigação acessória (de fazer ou não fazer). Hugo de Brito Machado (2020) inclui a obrigação de tolerar. O fato gerador trouxe juntamente com a hipótese de incidência dois elementos centrais do Direito Tributário, que estão previstos na lei instituidora do tributo. O fato gerador ao ser realizado pode gerar a obrigação tributária principal, sendo de responsabilidade de quem o realiza iniciar uma relação jurídica tributária. Essa relação possui como elementos principais: propriedade do bem, realização de certa atividade, valorização imobiliária, realização do serviço público, entre outros. O caminho para a constituição do crédito tributário é: hipótese de incidência, fato gerador imponível, obrigação tributária, lançamento (e suas modalidades, sejam estas de ofício, por declaração e homologação) e crédito tributário. Assim, para que o crédito possa ser cobrado há a necessidade de seu lançamento, que é uma atividade da administração fazendária de cunho obrigatório, tornando a dívida líquida. A partir disso, o sujeito passivo recebe uma notificação para abrir o prazo para impugnação ou pagamento dentro do prazo da lei; porém, caso DIREITO TRIBUTARIO não seja realizado o crédito, este será inscrito em uma dívida ativa e estará passível de cobrança judicial. DIREITO TRIBUTARIO UNIDADE 4 O crédito tributário e a administração tributária Paulo Roberto de Souza Junior OBJETIVOS DA UNIDADE Entender os conceitos de substituição tributária e responsabilidade tributária; Analisar o lançamento e a constituição do crédito tributário; Avaliar as modalidades e elementos de composição: exclusão, suspensão e extinção do crédito tributário; Analisar os efeitos do não pagamento do tributo e sua dívida ativa. TÓPICOS DE ESTUDO Responsabilidade tributária // Tipos de responsabilidade • Lançamento e o crédito tributário // Suspensão do crédito tributário // Reclamações e recursos do processo tributário administrativo // Extinção do crédito tributário // Exclusão do crédito tributário // Garantias e preferências do crédito tributário Administração tributária // Dívida ativa Responsabilidade tributária DIREITO TRIBUTARIO Seção 2 de 4 A relação jurídico-tributária é decorrente da materialização do fato gerador, previsto na lei instituidora do tributo como hipótese de incidência, na qual é cristalizada a obrigação tributária pelo contribuinte ou seu responsável, tornando-se o sujeito passivo da referida obrigação. O sujeito passivo da presente obrigação tributária assume a responsabilidade de cumprir a obrigação tributária de dar (realizar o pagamento), que, todavia, necessitará ser materializada por meio de seu lançamento, constituindo assim o crédito tributário. CITANDO “O sujeito passivo da obrigação tributária pode ser um contribuinte ou responsável. Será contribuinte quando tiver relação pessoal e direta com a situação que constitua o respectivo fato gerador; caso contrário, será denominado responsável. Em ambos os casos, a sujeição passiva depende de expressa previsão legal” (ALEXANDRE, 2020, p. 389). É necessário que a Administração saiba o que o contribuinte realmente deve, para exigir o cumprimento da obrigação tributária, constituindo o seu crédito por meio do lançamento tributário (Diagrama 1). Ricardo Alexandre (2020, p. 455) diz: Ocorrido o fato gerador, é necessário definir, com precisão, o montante do tributo ou penalidade, o DIREITO TRIBUTARIO devedor e o prazo para pagamento, de forma a conferir exigibilidade à obrigação. Daí a exigência de um procedimento oficial consistente em declarar formalmente a ocorrência do fato gerador, definir os elementos materiais da obrigação surgida (alíquota e base de cálculo), calcular o montante devido, identificar o respectivo sujeito passivo, com o fito de possibilitar que contra este seja feita a cobrança do tributo ou da penalidade pecuniária. Diagrama 1. O nascimento do crédito tributário. Após o lançamento do tributo, o crédito passa a ser exigível no prazo da lei. Todavia, os efeitos desta obrigação poderão estar extintos, suspensos ou excluídos ou, ainda, a responsabilidade em seu pagamento pode ser transferida a um terceiro ou substituída por outrem, já que esta obrigação não nasce para perdurar eternamente. A presença do responsável como devedor da obrigação tributária apresenta uma alteração na relação jurídico-tributária no polo passivo da obrigação, na posição que naturalmente seria ocupada pela figura do contribuinte. Nesses casos, há a substituição ou transferência da responsabilidade tributária, que é determinada pela lei e pode variar em função da intensidade de vinculação do responsável à respectiva dívida. Assim, essa responsabilidade pode ser (ROCHA, 2019, p. 433): Clique nos botões para saber mais SOLIDÁRIA - Caracterizada pelo fato de não haver, entre o responsável contribuinte, qualquer desnivelamento em relação à diferença da dívida (art. 124 do CTN); DIREITO TRIBUTARIO SUBSIDIÁRIA OU SUPLETIVA - Que ocorre quando a lei regula a possibilidade de cobrar dívida sobre o responsável, pressupondo que a exigência sobre o contribuinte é impossível, devido à falta de patrimônio deste (arts. 133 e 134 do CTN); PESSOAL INTEGRAL OU EXCLUSIVA - Que ocorre quando a lei determina que a dívida será exigida exclusivamente pelo responsável dos casos (arts. 131, II e Ille 133, I do CTN). TIPOS DE RESPONSABILIDADE A responsabilidade por substituição ocorre quando o dever de pagar o crédito tributário não depende de outra providência posterior ao fato gerador, que define como responsável o devedor, ou seja, a responsabilidade é concomitante entre ambos. A lei designa um terceiro (substituto) para integrar a relação jurídico- tributária e substituir o contribuinte, recolhendo o tributo em nome de outrem (substituído), conforme regra prevista no art. 128 do CTN (BRASIL, 1966). A substituição tributária (Diagrama 2) só é cabível quando houver vínculo entre o substituído e o substituto, pois, sem vínculo, ela não acontecerá. Além disso, não há recolhimento do tributo em cada fase de comercialização, pois este será pago integralmente pela montadora. Sendo assim, há dois tipos de responsabilidade por substituição: Diagrama 2. Substituição tributária. Substituição tributária para frente A substituição tributária para frente, também conhecida como progressiva ou subsequente (Diagrama 3), ocorre quando pessoas que ocupam posições posteriores das cadeias de produção e circulação são substituídas, no dever de pagar tributos, por aquelas que ocupam as posições anteriores nessas mesmas cadeias; DIREITO TRIBUTARIO Substituição tributária para trás A substituição tributária para trás, também conhecida como regressiva ou antecedente (Diagrama 4), ocorre quando pessoas que ocupam posições anteriores das cadeias de produção e circulação são substituídas, no dever de pagar tributos, por aquelas que ocupam as posições posteriores nessas mesmas cadeias. Clique nas setas para saber mais Em todos esses casos, temos a denominada responsabilidade por transferência, umavez que, devido a evento posterior à ocorrência do fato gerador, a responsabilidade é transferida para um responsável. Há transferência do recolhimento do tributo do contribuinte para o responsável, bem como a transferência de responsável para responsável, como previsto no art. 131 do CTN (BRASIL, 1966). Há situações em que somente o terceiro responsável poderá realizar a atividade e/ou recolher o tributo, como pessoas menores de 18 (dezoito) anos ou inválidos, sendo que crianças e jovens DIREITO TRIBUTARIO deverão ser representados por seus pais, tutores ou curadores. Outra situação possível se dá na aquisição de imóveis com dívida de IPTU, na qual o novo proprietário será o responsável tributário pelos valores em aberto. A transferência da sujeição passiva, por determinação legal, opera sob três hipóteses, segundo o CTN, sendo elas (BRASIL, 1966): Clique nos cards para saber mais (Artigos 129 a 133), que acontecerá quando estivermos diante de uma transferência de bens e/ou direitos, ou seja, quando há a aquisição de bens imóveis de uma sociedade, bem como da própria pessoa jurídica, decorrente de uma transformação societária; (Artigos 134 e 135), que poderá ser solidária ou subsidiária, dependendo da situação; (Artigos 129 a 133), que acontecerá quando estivermos diante de uma transferência de bens e/ou direitos, ou seja, quando há a aquisição de bens imóveis de uma sociedade, bem como da própria pessoa jurídica, decorrente de uma transformação societária; (Artigos 134 e 135), que poderá ser solidária ou subsidiária, dependendo da situação; (Artigos 136 a 138), que acontecerá em decorrência de infrações definidas na legislação tributária. Desse modo, na responsabilidade por transferência não há alteração na sujeição passiva da relação jurídico-tributária em que a obrigação de pagar o tributo pelo responsável nasce após a realização do fato gerador, enquanto na substituição tributária, o sujeito passivo será alterado e a obrigação é concomitante ao surgimento da obrigação tributária. A responsabilidade de sucessores é referente a fatos geradores concretizados antes de sua aquisição, já que tais dívidas tributárias os acompanham e tornam o novo proprietário responsável por DIREITO TRIBUTARIO esta. Por exemplo, segundo o art. 131 do CTN (BRASIL, 1966), o espólio é pessoalmente responsável pelos tributos devidos pela pessoa falecida, em decorrência dos fatos geradores ocorridos até o óbito e durante a partilha, pois, após a sentença, ou caso seja realizada extrajudicialmente, o sucessor do(a) falecido(a) passa a ser responsável por tais tributos. Alexandre (2020, p. 415) ainda salienta que, para efeitos de responsabilidade tributária por sucessão causa mortis, devem ser entendidas, dentro do conceito de tributos, as multas moratórias, conforme já decidido pelo Superior Tribunal de justiça. Além disso, nos casos de aplicação de multa “de ofício”, cuja responsabilidade seja pessoal do infrator, casos do art. 137 do CTN, a responsabilidade, nos exatos termos legais, não é transferida aos sucessores. O adquirente só será responsável se prosseguir na mesma atividade, podendo sua responsabilidade ser integral ou pessoal (caso o alienante cesse a exploração e não volte a se estabelecer em qualquer atividade por seis meses contados), ou por alienação ou subsidiária (caso prossiga em atividade ou volte a se estabelecer dentro de seis meses, podendo essa atividade ser diferente da anterior (ROCHA, 2019, p. 446). A pessoa jurídica de direito privado, segundo o art. 132 do CTN (BRASIL, 1966), que resultar de fusão, transformação ou incorporação de outra, será responsável pelos tributos devidos até a data do ato de encerramento das fusionadas, transformadas ou incorporadas (responsabilidade integral), enquanto que, na cisão, a responsabilidade é solidária. DIREITO TRIBUTARIO O art. 134 do CTN (BRASIL, 1966) menciona a responsabilidade subsidiária de terceiros, que pode ser analisada por meio de duas hipóteses: a impossibilidade de se exigir a dívida sobre o contribuinte ou a colaboração do respectivo responsável, e o não pagamento ou omissão de providências que lhe seria exigível. Assim, a responsabilidade de terceiros refere-se àqueles que atuam regular ou irregularmente na condução da empresa. No artigo 134 do CTN, é possível saber quem são aqueles que atuam regularmente e agem sem agressão à lei do contrato social, enquanto o artigo 135 do CNT, vai tratar daqueles que atuam irregularmente. CURIOSIDADE A responsabilidade dos pais de um menor que estiver sob sua tutela poderá atuar de maneira correta ou incorreta. Quando atuarem corretamente, a responsabilidade será solidária nos termos do artigo 134 do CTN. Todavia, se agirem irregularmente, ultrapassando os limites da lei, a responsabilidade passa a ser pessoal, com base no art. 135, se agir de má fé. É importante notar que o art. 134 refere-se à impossibilidade de cumprimento da obrigação principal pelo contribuinte, sendo a responsabilidade subsidiária ou supletiva. Na ação indevida ou na DIREITO TRIBUTARIO omissão imputável à pessoa designada como responsável, como, por exemplo, o administrador judicial dos tributos devidos pela massa falida ou pela empresa em processo de recuperação judicial, somente haverá responsabilidade de terceiros, nos casos em que é impossível o cumprimento da obrigação principal pelo contribuinte. Já na responsabilidade de terceiros decorrente de atuação irregular, a responsabilidade será pessoal do próprio tributo, e não apensas a de multas eventualmente cabíveis, como salienta o art. 135 do CTN (BRASIL, 1966). Segundo João M. Rocha (2019, p. 452): Imagine-se que certo diretor de uma pessoa jurídica à luz do estatuto social desta não tem poderes para adquirir bens imóveis em nome da empresa sem que haja autorização do colegiado de sócio, pois bem contrariando as normas da sociedade, o referido dirigente promove a aquisição de uma sala comercial em favor da empresa na hipótese a dívida relativa ao ITBI é exigido da pessoa do dirigente devido ao excesso de poder por ele perpetrado. Os artigos 136 e 137 apresentam a responsabilidade por infrações, independentemente da intenção do agente ou do responsável, e da efetiva natureza e extensão dos efeitos do ato, sendo objetiva a responsabilidade em regra. Assim, em uma infração à legislação tributária, a responsabilidade pessoal do agente é decorrente de atitudes que firam o CTN. A responsabilidade pessoal do agente, prevista no artigo 137, será direta e exclusivamente da pessoa física ou jurídica que agrediu o andamento jurídico em direito tributário. A regra pune a pessoa jurídica pelas infrações que venha a cometer, sendo a multa aplicada contra ela, e não contra o agente, ou pessoa física, que concretizou o ilícito no mundo dos fatos. Lançamento e o crédito tributário Seção 3 de 4 O lançamento tributário (Quadro 1) é revestido por características peculiares, que objetivam conferir, DIREITO TRIBUTARIO simultaneamente, garantia aos administrados e prerrogativas à Administração. O Código Tributário Nacional possui regras materiais, formais e informais em relação ao lançamento tributário. Como regras materiais, podemos apontar a legislação substantiva, que corresponde ao tributo, à definição dos fatos geradores, à base de cálculo, às alíquotas e aos contribuintes, enquanto, como regras formais, temos a legislação adjetiva, que disciplina seu agir durante o procedimento. Quadro 1. Lançamento tributário e as prerrogativas da Administração Pública. Fonte: TOMÉ, 2010, p. 5. Essa exclusividade vincula inclusive o magistrado, ao proclamar a nulidade do credo, já que somente a administração pública poderá realizar novo lançamento. A Lei nº 11.457 de 16 de março de 2007, segundo Alexandreem que temos, como exemplos, os butins de guerra, confiscos permitidos e apropriações de bens vacantes; 1 2 2 Receitas derivadas São receitas obtidas sobre o patrimônio ou atividades advindas do Estado que nascem da captação de recursos públicos, intitulados tributos. Esses são deveres pecuniários compulsórios nascidos de um fato lícito, ou seja, decorrem unilateralmente de uma lei em que o credor é o Estado-fisco e o devedor é o contribuinte ou o responsável tributário, que tem o dever de recolher o quantum apurado ou definido aos cofres públicos. DIREITO TRIBUTARIO Receitas derivadas São receitas obtidas sobre o patrimônio ou atividades advindas do Estado que nascem da captação de recursos públicos, intitulados tributos. Esses são deveres pecuniários compulsórios nascidos de um fato lícito, ou seja, decorrem unilateralmente de uma lei em que o credor é o Estado-fisco e o devedor é o contribuinte ou o responsável tributário, que tem o dever de recolher o quantum apurado ou definido aos cofres públicos. 1 2 A despesa faz parte do orçamento público, visando ao cumprimento de receitas dentro da prestação de atividades e serviços da administração pública, que se divide em ordinária, prevista no orçamento público, e extraordinária, que nasce sem previsibilidade. RELAÇÕES COM OUTROS RAMOS DO DIREITO O Direito Financeiro visa a gerir receitas e despesas, por intermédio da confecção do orçamento, apresentando e direcionando as responsabilidades de cunho fiscal dos entes federados e dos agentes envolvidos nas atividades financeiras do Estado. Assim, esse ramo organiza e normatiza os atos e procedimentos que farão parte da arrecadação tributária, que é, por sua vez, objeto de estudo do Direito Tributário, por meio de uma relação jurídica obrigatória entre o Estado e o fisco. O objeto do Direito Tributário é o estudo da norma jurídica tributária, ou seja, do direito tributário legislado ou positivado, sendo o instituto jurídico alvo o tributo. Assim, da mesma forma em que há pontos de interseção entre as duas áreas, há, DIREITO TRIBUTARIO também, pontos que as separam, devido às características de cada. O ponto de ligação ocorre quando o Direito Tributário se socorre do Direito Financeiro, como no caso da repartição de receitas tributárias, que pertence ao campo da atividade financeira do Estado. Por outro lado, há diferenças nítidas entre os dois ramos do Direito, como, por exemplo: • 1 1 O Direito Financeiro estuda a receita originária, enquanto o Direito Tributário estuda a receita derivada, ou seja, os tributos e suas espécies; • 2 2 O Direito Financeiro estuda a atividade financeira do Estado como um todo, exceto a referente à tributação, enquanto o Direito Tributário estuda apenas parte dessa atividade, que é relativa aos tributos. Desse modo, há entrelaces em todos os ramos do Direito (Quadro 2), ou seja, o Direito Financeiro e o Direito Tributário relacionam-se tanto com o Direito Público, quanto com o Direito Privado (com os direitos que fazem parte deste). DIREITO TRIBUTARIO Quadro 2. Os diversos ramos do Direito e sua interface com o Direito Tributário. FUNDAMENTOS DO TRIBUTO O tributo é uma receita derivada, ligada, antigamente, à imposição do vencedor sobre o perdedor de uma guerra, como forma fiscal para o Estado. Hoje em dia, contudo, esse conceito evoluiu, passando a ser considerado como base, por meio de uma prestação em dinheiro ou em bens, arrecadados pelo ente tributante (o Estado-fisco), que visa a prover o Estado de recursos para a manutenção da máquina administrativa e a realização dos fins aos quais almeja (interesse público). “Tributar” (tribuere) emprega-se para designar a ação estatal, enquanto o derivado “contribuir” (unir, incorporar, dar, fornecer) volta-se para a ação do contribuinte (AMARO, 2019, p. 38), diferenciando-se, assim, de um acordo voluntário de vontades ou de um contrato. Esta prestação pecuniária do tributo, então, difere-se da prestação da receita originária, já que a primeira, no caso do tributo, não possui a finalidade de indenizar o Estado, em decorrência de um eventual prejuízo (atividade ilícita), e nem possibilitar a garantia de recursos por meio de depósitos, fianças ou cauções. Desse modo, a reserva de lei traz consigo DIREITO TRIBUTARIO dois princípios; a legalidade (previsão legal) e a tipicidade (descrição do tributo). Segundo Paulo de Barros Carvalho (2019), o tributo, quando traduzido como norma jurídico-tributária, é definido por uma relação jurídico-tributária que nasce de três critérios, que estabelecem o fato gerador em concreto: • bullet O material (fato); • bullet O temporal (circunstância); • bullet O espacial (lugar onde ocorreu o fato). O fato gerador em abstrato, por outro lado, refere-se à hipótese de incidência (previsão da lei), enquanto o fato gerador em concreto é a materialização do ocorrido, sendo, assim, o fato imponível. Há duas consequências advindas desta norma tributária: • bullet O critério pessoal da consequência (os sujeitos da relação jurídico-tributária); • bullet O critério quantitativo (base de cálculo e alíquotas, adições de valores devidos, deduções sobre os valores que, uma vez aplicados, implicarão o valor a ser pago). DIREITO TRIBUTARIO Essa hipótese de incidência é tida como a descrição de fatos previstos na legislação tributária (aspecto material), que será somada aos aspectos temporal e espacial. Desse modo: Toda e qualquer regra jurídica (independentemente de sua natureza tributária, civil, comercial etc.) tem a mesma estrutura lógica: a hipótese de incidência (fato gerador, suporte fático etc.) e a regra (norma, preceito, regra de conduta) cuja incidência fica condicionada à realização dessa hipótese de incidência. (BECKER, 1963, p. 289). Um exemplo da realização da hipótese de incidência é a aquisição, por parte de um consumidor de um armário em um determinado estabelecimento comercial, sujeito ao ICMS. Assim, o consumidor, ao praticar essa aquisição, proporciona a realização do fato jurídico em concreto, havendo a incidência do comando e a instauração do vínculo obrigacional tributário, que é o dever de pagar o quantum em moeda ao Estado, a título de tributo. O art. 4º do Código Tributário Nacional (CTN), ao definir a natureza jurídica do tributo, salienta que é irrelevante, para qualificar sua natureza jurídica, “a denominação e demais características formais adotadas pela lei” e a “destinação legal do produto de sua arrecadação” (BRASIL, 1966). A investigação da natureza jurídica, mencionada no artigo, é referente a seu fato gerador, previsto na lei que o instituiu, sendo irrelevante a destinação do tributo, ou seja, sua arrecadação, pois se refere à receita ligada a seu aspecto financeiro. Desse modo, a prática desse fato gerador pelo sujeito passivo determina o dever de recolher o tributo. DIREITO TRIBUTARIO O poder de tributar Seção 4 de 5 A competência tributária é o poder de tributar, previsto na Constituição Federal, definido a um dos entes federados para instituir, fiscalizar e arrecadar determinado tributo, definindo, assim, o comando para que o ente federado possa exercer sua competência em relação aos ditames constitucionais, não podendo, uma vez instituído, deixar de ser cobrado. O art. 7º do CTN (BRASIL, 1966) salienta que a competência tributária de instituir o tributo é indelegável, enquanto as funções de arrecadar e fiscalizar são delegáveis. Imposto Territorial Rural (ITR) Um exemplo disso é o Imposto Territorial Rural (ITR), que, por meio de acordo, estipula que a União, competente para instituí- lo, poderá deixar aos municípios a arrecadação e fiscalização do tributo em questão, dentro de suas terras. Imposto sobre Grandes Fortunas (IGF) Outro exemplo é o Imposto sobre Grandes Fortunas (IGF), cuja instituição(2020, p. 459), afirma que: [...] elaborada a conta pela parte ou para os órgãos auxiliares da Justiça do Trabalho, o juiz poderá proceder à intimação da União para manifestação no prazo de 10 dias sob pena de preclusão deste ato, o qual é encarado como um ato homologatório. Importante mencionar que informado um débito e o mesmo não pago por si só se constitui o crédito tributário independente da manifestação da administração pública. DIREITO TRIBUTARIO O art. 144 do CTN (BRASIL, 1966) define que o lançamento se reporta à data do fato da ocorrência do fato gerador da obrigação e, por conseguinte, rege-se pela lei em vigente. Uma vez notificado o contribuinte pelo lançamento realizado, inicia-se o prazo para pagamento ou impugnação. Todavia, o lançamento se presume definitivo, em regra, mas não se trata de presunção absoluta, já que o artigo 145 determina que o lançamento poderia ser modificado. De qualquer forma, o CTN adota a linha de que, antes do lançamento, o crédito tributário ainda não existe, existindo apenas a obrigação tributária. Realizado o lançamento, termina-se a fase oficiosa e inaugura-se a fase contenciosa, na qual o contribuinte poderá opor-se ao crédito lançado. O crédito tributário, então, é diferente da obrigação tributária, pois esta “tem por objeto o pagamento do tributo ou penalidade pecuniária” (AMARO, 2019, p. 417) enquanto o crédito “se trata da própria obrigação tributária no estágio do lançamento” (idem). Ocorre, portanto, que a extinção do crédito tributário, geralmente, acarreta a extinção da obrigação, ou seja, a obrigação “extingue-se juntamente com ele” (AMARO, 2019, p. 417). Este crédito é constituído por meio do lançamento tributário, já que o materializa, segundo o artigo 142 do CTN. Assim, à luz do referido artigo, não há crédito tributário passível de ser exigido antes do lançamento, tornando a obrigação, ilíquida e líquida, certa e exigível na data ou no prazo da lei. O ato, para alguns tributaristas, ou o procedimento, para o CTN, é uma atividade que está DIREITO TRIBUTARIO vinculada à administração fazendária, pois formaliza o valor do crédito, configurando-o e determinando, assim, sua exigibilidade. Esse lançamento, ao ser realizado, possui efeitos ex tunc, ou seja, se refere a um evento passado que retroage no tempo, para constituir o crédito tributário. Não obstante, quanto à natureza constitutiva do crédito do lançamento, é necessário que se perceba que o CTN claramente a define como natureza mista ao lançamento, sendo ele constitutivo do crédito tributário e declaratório da obrigação tributária. A constituição do crédito tributário tem como principal função tornar a dívida líquida certa e exigível à obrigação. Todavia, há casos de suspensão, extinção e exclusão do crédito tributário (Diagrama 5). Assim, Rocha (2020, p. 591), ao comentar as hipóteses de exclusão e extinção do crédito tributário, salienta que: Por interferência lógica, tais hipóteses deveriam referir-se a situações cuja ocorrência se dá após o lançamento, após a formalização do crédito tributário, já que não é possível extinguir aquilo que não existe. Já ao cuidar de hipótese de exclusão do crédito tributário, o CTN visa a dar notícia sobre situações que impedem que o crédito seja formalizado por lançamento. Ou seja, o crédito, por não poder ser formalizado, será excluído. Diagrama 5. Exclusão e extinção do crédito tributário. Fonte: ROCHA, 2020, p. 591. (Adaptado). DIREITO TRIBUTARIO SUSPENSÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO Há dois casos que marcam o advento da causa suspensiva prévia ou posterior. Para a primeira causa (suspensiva prévia), há o impedimento à propositura da ação de execução fiscal, já que ela previamente não impede a marcha do procedimento de lançamento, mas impede a sua cobrança. Já na causa suspensiva prévia ou posterior, tendo o lançamento já sido realizado, sua exigibilidade será suspensa. Segundo o entendimento de Luciano Amaro (2019, p. 408): O que se suspende, portanto, é o dever de cumprir a obrigação tributária, ou porque o prazo para pagamento foi prorrogado ou porque o litígio se esteja instaurando sobre a legitimidade da obrigação, e esse litígio seja acompanhado de alguma medida que impede a prática de atos do sujeito ativo, no sentido de exigir o cumprimento da obrigação. As hipóteses do art. 151 do CTN (BRASIL, 1966) formam um rol exaustivo, diante do art. 141 do CTN (idem), em que o crédito tributário regularmente constituído somente tem sua exigibilidade suspensa nos casos previstos no próprio Código. O art. 111, I, do CTN (idem) determina que haja a interpretação literal da legislação sobre a suspensão do crédito tributário. Assim, Alexandre (2020, p. 488) comenta as hipóteses de suspensão previstas no art. 151 do CTN: As hipóteses ‘suspensivas’ previstas no art. 151 do CTN, as constantes dos incisos III e VI, somente se verificam após a realização do lançamento, uma vez que não há como parcelar crédito tributário não constituído nem como impugnar lançamento não realizado. O raciocínio não se aplica à hipótese do inciso I, pois a redação do art. 154 do CTN possibilita que a lei excepcionalmente conceda a moratória de crédito cujo lançamento não tenha sido iniciado. Uma vez suspensa a exigibilidade, o Fisco não poderá efetuar a cobrança do tributo e nem propor a execução fiscal, já que a contagem do prazo prescricional estará suspensa. Desse modo, as causas de suspensão da exigibilidade do crédito tributário, segundo o art. 151 do CTN, são: • 1 1 DIREITO TRIBUTARIO A moratória; • 2 2 O depósito do seu montante integral; • 3 3 As reclamações e os recursos, nos termos das leis reguladoras do processo tributário administrativo; • 4 4 A concessão de medida liminar em mandado de segurança; • 5 5 A concessão de medida liminar ou de tutela antecipada, em outras espécies de ação judicial; • 6 6 O parcelamento. A função da moratória é a dilatação do prazo para pagamento, que poderá ser autônoma ou heterônoma. A moratória autônoma (art. 152, I, “a” do CTN) é aquela em que o ente competente dilata o prazo de pagamento de seu tributo, enquanto que a moratória heterônoma (art. 152, I, “b” do CTN) se refere ao tributo de competência alheia. Esta moratória pode ser concedida em caráter geral ou individual, mas, em ambos os casos, só pode ser conferida por lei, conforme dispõem o parágrafo único do art. 152 e o art. 153 do CTN (BRASIL, 1966). DIREITO TRIBUTARIO A moratória em caráter individual depende da comprovação de condições e requisitos da lei específica (art. 152, II do CTN), que não gera direito adquirido e pode depender do oferecimento de garantias pelo beneficiário. Desse modo, os requisitos especificados pela lei são (Art. 153 do CTN): O parcelamento (151, IV da CTN), como modalidade de suspensão da exigibilidade do crédito, nada mais é do que “uma modalidade de moratória” (MACHADO, 2019, p. 191), na qual será parcelada a dívida tributária, salvo disposição em contrário, não excluindo a incidência de juros e multas. O depósito do montante integral da dívida refere-se à hipótese de suspensão do crédito, na qual o sujeito poderá discutir o valor que está sendo cobrado pela administração fazendária, por meio de ação de execução. Desse modo (BRASIL, 2001): o depósito inibitório de ação fiscal (CTN, art. 151) deve ser devolvido ao contribuinte em caso de este ser vitorioso na ação a ele relativa. Não é lícito ao Fisco apropriar-se de tal depósito a pretexto de que existem outras dívidas do contribuinte, oriundas de outros tributos. Semelhante apropriação atenta contra a coisa julgada (CPC, arts. 467 e 468) Por fim, a decisão transitada em julgado a favor da Fazenda determina que o valor depositado seja convertido em renda e destinado definitivamente aoscofres públicos, sendo causa de DIREITO TRIBUTARIO extinção do crédito tributário previsto no artigo 156, IX da Constituição Federal (BRASIL, 1988). RECLAMAÇÕES E RECURSOS DO PROCESSO TRIBUTÁRIO ADMINISTRATIVO A Constituição Federal prevê, em sede administrativa, o exercício da ampla defesa e do contraditório em decorrência de impugnação do crédito tributário. Neste caso, não há exigência de depósito prévio, sendo “inconstitucional a exigência do depósito ou arrolamento prévio de dinheiro ou bens para admissibilidade de recurso administrativo” (BRASIL, 2009). Desse modo, “é ilegítima a exigência de depósito prévio para admissibilidade de recurso administrativo” (BRASIL, 1964). Nesse contexto, o mandado de segurança é uma ação judicial de rito sumário especial que deverá ser proposta dentro do prazo de 120 dias, a contar da ciência do lançamento pela sujeito ativo, mediante a presença da relevância dos fundamentos levantados no mandado e o perigo causado pelo potencial demora na solução do caso. A medida liminar e a tutela antecipada são instrumentos que têm aptidão de satisfazer a pretensão do autor, nos casos previstos em lei. A tutela antecipada (Diagrama 6) é uma decisão interlocutória dentro do processo e, assim, não sendo definitiva, o CTN a enquadra como suspensão do crédito tributário, e não extinção do texto, já que na decisão final da demanda poderá ser revertida a tutela. DIREITO TRIBUTARIO Diagrama 6. Tutela provisória de urgência. Fonte: BRASIL, 2015. EXTINÇÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO O art. 156 do CTN (BRASIL, 1966) traz consigo as modalidades de extinção do crédito tributário, que estão relacionadas entre os artigos 157 e 169. Segundo a legislação, são causas de extinção da exigibilidade do crédito tributário: • 1 1 O pagamento; • 2 2 A compensação; • 3 3 A transação; • 4 4 DIREITO TRIBUTARIO A remissão; • 5 5 A conversão de depósito em renda; • 6 6 O pagamento antecipado e a homologação do lançamento; • 7 7 A consignação em pagamento; • 8 8 A decisão administrativa irreformável/definitiva, que não pode mais ser objeto de ação anulatória; • 9 9 A dação em pagamento em bens imóveis; • 10 10 A decadência; • 11 11 A prescrição A forma mais simples de extinção do crédito tributário é o pagamento, que poderá ser em moeda corrente, cheque ou vale DIREITO TRIBUTARIO postal e deverá ser no valor correto da dívida, segundo o art. 157 do CTN (BRASIL, 1966). Todavia, não sendo realizado no valor integral, ele traz consigo a imposição de penalidade e manutenção desta. O art. 158 do CTN (BRASIL, 1966) menciona que o crédito poderá se dividir em parcelas, ou seja, cotas periódicas das quais a quitação da última cota não gera presunção de pagamento das demais parcelas do mesmo crédito do tributo. Em seguida, os artigos 160 e 161 salientam que o pagamento, quando feito fora do prazo, deverá acarretar juros e mora. Esse prazo para pagamento será de 30 (trinta) dias, após realizada a notificação do sujeito passivo, se a lei for omissa em relação a este. Por fim, o art. 163 do CTN (BRASIL, 1966) traz consigo a imputação de pagamento quando há dois ou mais créditos tributários referentes a uma mesma fazenda, de um mesmo sujeito passivo. A preferência, quanto à ordem de pagamento dos créditos tributários devidos pelo sujeito passivo, quando este for contribuinte e também for identificado como responsável tributário, deverá ser primeiro os devidos como contribuinte e, somente depois, os devidos da qualidade de responsável. A compensação é uma forma de extinção do crédito tributário, na qual a administração fazendária autoriza ao sujeito passivo a compensação de uma dívida de mesma natureza. Segundo o Agravo Interno no Recurso Especial Nº. 1434905/PI, do Superior Tribunal de Justiça, que estipula o pedido de devolução ou compensação do ICMS pago a maior no regime de substituição tributária (BRASIL, 2016): DIREITO TRIBUTARIO 1. A orientação jurisprudencial deste Tribunal Superior é no sentido de que “os tributos ditos indiretos, dentre eles o ICMS, sujeitam-se, em caso de restituição, compensação ou creditamento, à demonstração dos pressupostos estabelecidos no art. 166 do CTN”. Precedentes AgRg no AREsp 31.660/SP, rel. min. Herman Benjamin, Segunda Turma, j. 20/3/2013; REsp 1.209.607/SP, Segunda Turma, rel. min. Mauro Campbell Marques, j. 12/11/2010. 2. O recurso especial não encontra óbice nas Súmulas 284/STF e 7/STJ, tendo em vista que o ora agravado demonstrou objetivamente o ponto central da controvérsia jurídica. E o comando da decisão foi justamente para que o Tribunal de origem, à luz do contexto fático-probatório, aprecie a pretensão sob a ótica dos requisitos do art. 166 do CTN. 3. Agravo interno a que se nega provimento. Dando prosseguimento, a transação consiste em um acordo mediante concessões mútuas, entre o Fisco e o contribuinte, como forma de extinção do crédito tributário. A remissão é a modalidade de extinção do crédito tributário por meio do perdão do crédito, de forma total ou parcial, nas hipóteses de: Tratando-se de crédito tributário, devido ao princípio da indisponibilidade do patrimônio público (art. 150, parágrafo 6º da Constituição Federal), a remissão somente poderá ser concedida como fundamento em lei específica, cujas regras gerais estão previstas no artigo 172 do CTN. Entretanto, a redação desse artigo DIREITO TRIBUTARIO abrange valores referentes a tributos e multas, já que o texto não se restringe à concessão apenas de tributos. Caso o tributo seja pago de forma indevida, deverá este ser restituído ou, havendo o crédito de mesma natureza, compensado. O art. 167, caput, do CTN (BRASIL, 1966) traz consigo a restituição dos juros e multas pagas indevidamente. O pedido de restituição de valores pagos indevidamente, ou em decorrência de decisão judicial administrativa ou judicial, deverá ser formalizado no prazo de 05 (cinco) anos, sob pena de decadência. Caso esta for denegada, terá o interessado o prazo de 02 (dois) anos para a propositura da ação competente. A compensação é uma forma de extinção do crédito tributário, na qual a administração fazendária autoriza ao sujeito passivo a compensação de uma dívida de mesma natureza. Já a conversão de depósito em renda é realizada quando a ação proposta pelo sujeito passivo foi julgada a favor da administração fazendária, assim, o valor depositado converte-se em renda e será destinado aos cofres da referida administração. O lançamento por homologação descreve a extinção do crédito tributário após o pagamento antecipado, no momento do depósito. Já a consignação em pagamento consiste na modalidade de extinção do crédito tributário por meio de depósito judicial, nos casos de (artigo 164, CTN): Recusa no recebimento, ou subordinação deste ao pagamento de outro tributo ou penalidade, ou ao cumprimento de obrigação acessória; Subordinação do recebimento ao cumprimento de exigências administrativas sem fundamento legal; Exigência, por mais de uma entidade pública, de pagamento de tributo idêntico sobre o mesmo fato gerador. A decisão administrativa irreformável/definitiva, não pode mais ser objeto de ação anulatória, pois trata-se da decisão proferida no processo administrativo, que extingue o lançamento pela inexistência do crédito tributário. Assim, a decisão DIREITO TRIBUTARIO judicial passada em julgado consiste na decisão judicial irreformável que entende pela extinção do crédito tributário. A dação em pagamento em bens imóveis é a modalidade de extinção do crédito tributário que segue o artigo 156, inciso XI, do CTN, que salienta que, caso o pagamento do tributo não possa ser feito em dinheiro, somente poderá ser substituído pela entrega de um bem imóvel. A decadência é olapso de tempo (cinco anos a contar da realização do fato gerador) que tem a administração fazendária para exercer o direito de constituir o crédito tributário decorrente da concretização do fato gerador e do nascimento da obrigação tributária. Por fim, a prescrição versa sobre o direito material, na qual há um lapso temporal de 05 (cinco) anos para a propositura da ação competente, após o seu não pagamento no prazo da lei. EXPLICANDO O prazo para a administração tributária promover o lançamento decadencial é de cinco anos, e o prazo para que se ajuste a ação de execução prescricional também é de cinco anos. Assim, a diferença entre a decadência e a prescrição é o lançamento do tributo. EXCLUSÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO DIREITO TRIBUTARIO A exclusão do crédito tributário tem a função de evitar que ele se constitua e poderá ser realizada por meio da isenção e da anistia. Desse modo, entre estes institutos que compõe a modalidade da exclusão da exigibilidade do crédito tributário, Alexandre (2020, p. 600) aponta que a isenção: [...] é a dispensa legal do pagamento do tributo devido. Segundo a tese que prevaleceu no judiciário, a isenção não é causa de não incidência tributária, pois, mesmo com a isenção, os fatos gerados continuam a correr, gerando as respectivas obrigações tributárias, sendo apenas excluída a etapa do lançamento e, por conseguinte, a constituição do crédito. A isenção tributária traz consigo uma série de requisitos presentes na lei de concessão, para permitir a exclusão do crédito tributário. Ela deverá ser criada por lei específica, que apresentará as condições e os requisitos de sua concessão, os tributos a que se aplica e, se for o caso, o prazo de sua duração (art. 176 do CTN). Salvo caso concedida por prazo certo, e em função de determinadas condições, a isenção pode ser revogada ou modificada por lei a qualquer tempo, observado o princípio da anterioridade (art. 178 do CTN). Além disso, ela difere da não incidência e da imunidade, já que a não incidência refere-se à não realização da sua hipótese de incidência e a imunidade impede a incidência de norma tributária sobre determinada situação (pessoas ou categorias de pessoas). Segundo Machado (2019, p. 233): Não incidência é a situação em que a regra jurídica de tributação não incide porque não se realiza a sua hipótese de incidência, ou, em outras palavras, não se configura o seu suporte fático. [...] A rigor, a norma que faz tal explicitação poderia deixar de existir sem que nada se alterasse. Já, na norma de isenção, porque retira parcela da hipótese de incidência, se não existisse o tributo seria devido. [...] Imunidade é o obstáculo criado por uma norma da Constituição que impede a incidência de lei ordinária de tributação sobre determinado fato ou em detrimento de determinada pessoa ou categoria de pessoas. DIREITO TRIBUTARIO A isenção possui dois aspectos: fiscais (pequena capacidade contributiva) e extrafiscais (políticas públicas), sendo que esta poderá ser geral (caráter objetivo geral) e individual (caráter subjetivo individual ou pessoal). A anistia significa o perdão da infração tributária, ou seja, a impossibilidade de exigir a penalidade correspondente. Assim, ela pode ser concedida (art. 181 do CTN): a determinada região do território da entidade tributante, em função de condições a ela peculiares; às infrações da legislação, relativa a determinado tributo; sob condição do pagamento de tributo no prazo fixado pela lei que a conceder, ou cuja fixação seja atribuída pela mesma lei à autoridade administrativa; e às infrações punidas com penalidades pecuniárias até determinado montante, conjugadas ou não com penalidades de outra natureza. Sempre referente à multa, a anistia é uma forma de exclusão do crédito tributário, significando impedir o lançamento e evitando o nascimento do crédito. Assim, há o perdão desde que esta não tenha sido lançada. Já a remissão é uma forma de extinção do crédito tributário referente à multa ou ao tributo, necessitando ter sido lançada, já que não há extinção de algo que não nasceu. GARANTIAS E PREFERÊNCIAS DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO As garantias e as preferências (privilégios) do crédito tributário são institutos que o fazem superior aos demais créditos, quando de sua cobrança. As garantias são mecanismos, previstos no CTN, que possibilitam ao Fisco (Administração Tributária ou Fazendária) a busca pelos créditos tributários não pagos dentro do prazo legal. DIREITO TRIBUTARIO Assim, todo o patrimônio do sujeito passivo concorre para o pagamento das dívidas tributárias, conforme disposto no artigo 184 do CTN, excluída a possibilidade de quitação dos tributos em que a lei enumera como absolutamente impenhoráveis, listados no art. 833 do NCPC (BRASIL, 2015). Segundo Alexandre (2020, p. 620), a prova de quitação de tributos: [...] apesar de terem sido inseridos na seção relativa as referências dos artigos 191 a 193 do CTN trazem verdadeiras garantias do crédito tributário, porque, ao exigirem a apresentação de prova de pagamento para prática de certos atos jurídicos e para obtenção de determinados benefícios legais acaba-se por criar eficazes meios de cobrança indireta - e, portanto, garantias Indiretas - do prédio tributário. No curso do processo de execução fiscal, o juiz competente, que está presidindo a causa, poderá exigir que seja realizada a “penhora on-line”, a comunicação da ordem que determina a impenhorabilidade dos bens, para posterior afetiva penhora, segundo o artigo 185-A do CTN. Por outro lado, as preferências (ou privilégios) do crédito tributário permitem que o sujeito passivo tenha preferência nas formas de pagamento, desde que este esteja dentro da regularidade tributária, excluídos os créditos trabalhistas (de natureza salarial) e os créditos relativos à indenização advindas de acidente de trabalho. Sendo assim, os bens do sujeito passivo poderão ser alvo de processo de ação de execução fiscal, aos moldes do CTN ou por meio de processos coletivos (processo de falência e recuperação judicial, inventário, arrolamento e liquidação de empresas). Por fim, entre os entes federados, há também uma ordem de preferência, que respeita a sequência: DIREITO TRIBUTARIO O crédito tributário não é preferível aos créditos extraconcursais, as importâncias passíveis de restituição (Súmula 307 do STJ e Súmula 417 do STF), ou aos créditos com garantia real, no limite do bem gravado. No curso da falência, os créditos tributários são tidos como extracontratuais (art. 188 do CTN). Administração tributária Seção 4 de 4 Dentre os conceitos mais importantes das atividades fiscais da Administração Tributária (Diagrama 7), o Código Tributário Nacional elenca como fundamentais para a Diagrama 7. Administração Tributária. Fonte: ALEXANDRE, 2020, p. 638. Clique nos botões para saber mais Poderes de investigação – DIREITO TRIBUTARIO Os poderes de investigação das autoridades fiscais (art. 194, caput, do CTN), que serão atribuídos pela legislação tributária de cada ente tributante; Pessoas sujeitas à fiscalização – As pessoas sujeitas à fiscalização (art. 194, § único), que podem ser qualquer pessoa, natural ou jurídica; Exibição de documentos – A exibição de documentos por comerciantes, industriais e produtores (art. 195, caput do CTN), sendo que as autoridades fiscais poderão examinar os livros, documentos contábeis, papeis com efeito comercial ou papéis; Manutenção dos livros – A manutenção dos livros que comprovem transações fiscais e que são tidos como obrigatórios (art. 195, § único, do CTN), devem ser mantidos até que seja consumado o prazo de prescrição dos créditos tributários por ventura existentes; Dever de colaboração – O dever de colaboração por parte de terceiros (art.197 do CTN), que, desde que saibam do fato, como é o caso do administrador de bens, poderão ser acionados, por escrito e pela autoridade fiscal, para prestar informações e fornecer os documentos solicitados; Sigilo – O sigilo por parte de autoridade fiscal (arts. 198 e 199 do CTN), em decorrência do acesso a dados dos fiscalizados; Requisição do auxílio – A requisição do auxílio da força pública (art. 200 do CTN), desde que haja obstáculos para realização de suas atribuições fiscais e seja respeitado o art 5º, XI da Constituição Federal,que diz que a casa é asilo inviolável do indivíduo e sua extensão como espaço DIREITO TRIBUTARIO privado no qual a pessoa exerce sua atividade – estabelecimento empresarial (BRASIL, 2005). Além dessas, podemos apontar também o termo de fiscalização, a fiscalização tributária e as informações bancárias e, por fim, a representação fiscal. O termo de fiscalização (art. 196 do CTN) deve ser lavrado no documento (livro obrigatório), sendo apresentado à fiscalização e objeto de auditoria. Caso haja impossibilidade, poderá ser realizado em documento separado, desde que a pessoa fiscalizada seja notificada e receba cópia, mediante recibo (art. 196, § único do CTN). A Lei Complementar 105/2001, declarada constitucional pelo STF em 2016, permite a fiscalização tributária e de informações bancárias, com base na tese de que não há quebra de sigilo bancário, já que não haverá divulgação pública dos dados, sob pena dos arts. 198 e 199 do CTN. Esta solicitação poderá acontecer sem autorização judicial, desde que haja, em curso, um processo administrativo instaurado ou um procedimento fiscal em curso e que tal situação seja indispensável à conclusão da fiscalização. Assim, para fins penais, podemos dizer que a representação fiscal: • bullet Se dá após regular processo administrativo, devendo sua conclusão, sobre a exigência fiscal do crédito tributário correspondente, ser encaminhada ao Ministério Público de uma possível prática criminal (art. 83 da Lei 9.430/1996); • bullet Não tipifica crime material contra a ordem tributária, previsto no art. 1º, incisos I a IV, da Lei 8.137/1990, antes do lançamento definitivo do tributo (BRASIL, 2009c). DÍVIDA ATIVA Com a ocorrência do fato gerador, o contribuinte ou responsável, previsto na lei instituidora do tributo, passa a ter obrigação de recolhê-lo, desde que haja seu DIREITO TRIBUTARIO lançamento e a notificação, sendo aberto o prazo para pagamento ou a impugnação do crédito constituído e exigível. Esse crédito tributário, não quitado no prazo legal ou por decisão final proferida em processo regular, será inscrito em dívida ativa e poderá ser cobrado por meio de ação de execução fiscal, conforme previsto no art. 201 do CTN (BRASIL, 1966), já que a certidão possui força de título executivo extrajudicial. Assim, segundo Rocha (2020, p. 623), a dívida ativa: [...] é uma espécie de cadastro onde são registrados os valores que a fazenda pública tem o direito de exigir judicialmente de alguém. Ela é dita ativa exatamente por que é executável, cobrável, já que é um título executivo extrajudicial. A inscrição do crédito tributário em dívida tributária é cercada de presunção administrativa, havendo, assim, a certeza (presunção de sua existência) e liquidez (valor exato) dos dados e valores constantes na certidão. A dívida a ser inscrita em dívida ativa deverá conter, como requisitos formais previstos no art. 202 do CTN (BRASIL, 1966): Clique nas setas para saber mais 1 Nome do devedor O nome do devedor ou, sendo o caso, os dos responsáveis, bem como, sempre que possível, o domicílio ou residência de um e de outros; 1 Nome do devedor O nome do devedor ou, sendo o caso, os dos responsáveis, bem como, sempre que possível, o domicílio ou residência de um e de outros; 1 2 3 4 DIREITO TRIBUTARIO 5 2 Quantia devida A quantia devida e a maneira de calcular os juros de moras acrescidos; 1 Nome do devedor O nome do devedor ou, sendo o caso, os dos responsáveis, bem como, sempre que possível, o domicílio ou residência de um e de outros; 1 2 3 4 5 2 Quantia devida A quantia devida e a maneira de calcular os juros de moras acrescidos; 1 2 3 4 DIREITO TRIBUTARIO 5 3 Origem e a natureza do crédito A origem e a natureza do crédito, mencionada especificamente a disposição da lei em que seja fundado 1 Nome do devedor O nome do devedor ou, sendo o caso, os dos responsáveis, bem como, sempre que possível, o domicílio ou residência de um e de outros; 1 2 3 4 5 2 Quantia devida A quantia devida e a maneira de calcular os juros de moras acrescidos; 1 2 3 4 DIREITO TRIBUTARIO 5 3 Origem e a natureza do crédito A origem e a natureza do crédito, mencionada especificamente a disposição da lei em que seja fundado 1 2 3 4 5 4 Data A data em que foi inscrita; 1 Nome do devedor O nome do devedor ou, sendo o caso, os dos responsáveis, bem como, sempre que possível, o domicílio ou residência de um e de outros; 2 Quantia devida A quantia devida e a maneira de calcular os juros de moras acrescidos; 3 Origem e a natureza do crédito A origem e a natureza do crédito, mencionada especificamente a disposição da lei em que seja fundado DIREITO TRIBUTARIO 4 Data A data em que foi inscrita; 5 Número do processo Sendo o caso, o número do processo administrativo de que se origina o crédito. Kiyoshi Harada salienta que a dívida ativa é contrária à dívida pública, já que, na primeira, o credor é o Estado. Sendo assim (HARADA, 2012, p. 578): O crédito tributário, uma vez esgotado o prazo de pagamento fixado por lei ou por decisão administrativa que não caiba recurso, é escrito no Livro de Inscrição da Dívida ativa pela Procuradoria da Fazenda (5º do Artigo 39 da lei 4.320 de 1964). Essa inscrição constitui-se um ato de controle administrativo da legalidade (Súmulas 346 e 473 do STF) conferindo ao crédito tributário a presunção de liquidez e certeza (art. 204 do CTN) que a ele atribui força executiva, bem como efeito de prova pré- constituída conforme dispõe o art. 204. O parágrafo único do artigo 201 acrescenta que a incidência de juros de mora não prejudica a presunção de liquidez e certeza, pois por simples cálculo aritmético é possível encontrar o quantum debeatur no dia da satisfação do crédito tributário. Uma vez lançado e notificado o sujeito passivo acerca do crédito tributário, não se fala mais em decadência tributária, já que a inércia da perda do direito de efetuá-lo foi sanada. Todavia, iniciará a contagem do tempo de prescrição a partir do fim do prazo legal, destinado ao pagamento ou à impugnação. O contribuinte poderá discutir a cobrança de uma dívida que entende ser infundada, administrativa ou judicialmente, além de DIREITO TRIBUTARIO resguardar-se por meio da emissão da certidão positiva com efeito de negativa (artigo 206 do CTN). A certidão negativa, art. 205 do CTN (BRASIL, 1966), é um documento comprobatório de regularidade fiscal, atestando que o contribuinte não se encontra com qualquer pendência obrigacional de caráter tributário ou previdenciário. A ação de execução é o meio hábil que o Fisco terá para acionar o contribuinte ou responsável – sujeito passivo da execução fiscal – quando não fora feito o recolhimento devido no prazo legal. Durante o processo judicial “a Fazenda Pública pode substituir a certidão de dívida ativa (CDA) até a prolação da sentença de embargos quando se tratar de correção de erro material ou formal vedada à modificação do sujeito passivo da execução“. (BRASIL, 2009). Por outro lado, o referido sujeito passivo poderá propor embargos do devedor (embargos à execução), no prazo de 30 (trinta) dias, que suspenderá o cursoda ação, desde que a dívida esteja garantida (penhora, depósito ou carta de fiança bancária) ou ação de conhecimento com depósito integral do crédito na execução (por ter perdido o prazo dos embargos), que suspenderá a ação de execução ou a ação de conhecimento sem depósito integral do crédito, na execução que não suspenderá a ação de execução. A jurisprudência, segundo ROCHA (2020), tem aceito um terceiro meio de defesa, a exceção de pré-executividade, em matérias que o juiz poderia ou deveria conhecer de ofício na execução. DIREITO TRIBUTARIO Agora é a hora de sintetizar tudo o que aprendemos nessa unidade. Vamos lá?! SINTETIZANDO Nessa unidade, estudamos a substituição tributária (progressiva e regressiva) e as modalidades de responsabilidade tributária, bem como seus tipos. Em um segundo momento, analisamos a constituição do crédito tributário, que é realizado por meio de lançamento. Também foram debatidas a suspensão do crédito, como forma de não pagamento de forma momentânea, e a exclusão e extinção, como forma de não cobrança, bem como as consequências do não pagamento da dívida tributária. Por fim, vimos que, com o não pagamento do crédito tributário ou sua impugnação no prazo da lei, a administração tributária irá inscrevê-lo em dívida ativa, expedindo a consequente certidão da dívida ativa, que é o documento fundamental para a propositura da ação de execução fiscal. Esta ação de execução pode ser contestada pelo sujeito passivo, com ou sem o depósito integral do valor da dívida constante na ação propostaé de competência da União, porém poderão ser delegadas a sua arrecadação e a fiscalização a outra pessoa jurídica de Direito Público, sendo característico desse tipo de competência o fato de ser facultativo, indelegável, intransferível, incaducável e irrenunciável. Desse modo, a repartição de competências na esfera tributária é dividida em: DIREITO TRIBUTARIO Quadro 3. A competência impositiva e seu exercício dentro das classificações doutrinárias dos tributos. Fonte: ALEXANDRE, 2020, p. 122. (Adaptado). Todavia, a Lei Complementar 101/1999, ou Lei de Responsabilidade Fiscal, em seu art. 11 e § único, define como elemento fundamental da gestão fiscal a instituição e arrecadação dos tributos inerentes à sua competência. Assim, caso não seja realizada a criação dos tributos viáveis (Quadro 3), o ente federado ficará impedido de receber transferências voluntárias. Clique nos botões para saber mais Competência tributária privativa – Que se refere à instituição de impostos, empréstimos compulsórios e contribuições especiais pelos entes federados; Competência tributária comum – DIREITO TRIBUTARIO Que é observada por meio de fatos geradores dos tributos vinculados a uma atividade estatal específica, taxa e contribuição de melhoria, ou seja, quem prestar o serviço será o competente para instituí-los; Competência tributária cumulativa – Que está prevista no art. 147 da Constituição, destinada aos territórios (quando existirem) e ao Distrito Federal. A capacidade tributária ativa decorre da competência tributária (Quadro 4), que se apresenta por meio das funções de fiscalizar e arrecadar o tributo, mas sem instituir, e sendo delegáveis de uma pessoa jurídica de direito público a outra (ente político ou ente administrativo). Segundo o § 2º do art. 7 do CTN, esta delegação não é ad aeternum, podendo ser revogada a qualquer tempo (BRASIL, 1966). Quadro 4. Função da competência e da capacidade tributária no Direito Tributário. Nesse contexto, o art. 119 do CTN define que o sujeito ativo é a pessoa jurídica de direito público que poderá exigir o cumprimento da obrigação principal, bem como da obrigação secundária. Assim, a expressão “titular da competência para exigir o adimplemento da obrigação tributária”, do referido art. 119 do CTN, significa “ter atribuição de constituir o crédito tributário, com o que lhe confere exigibilidade, e em seguida exigir judicialmente seu pagamento, se necessário” (MACHADO, 2019, p. 143). Para Eduardo Sabbag (2020), há dois tipos de sujeito: • 1 1 DIREITO TRIBUTARIO O sujeito ativo direto (entes tributantes); • 2 2 O sujeito passivo indireto (entidades parafiscais, como CREA e CRC, entre outros). Sendo que o primeiro tem competência para instituir o tributo, e o segundo, capacidade de fiscalizar e arrecadar. Neste caminho, por exemplo, a Súmula 396 do STJ nos diz que a “Confederação Nacional da Agricultura tem legitimidade ativa para a cobrança da contribuição sindical rural” (BRASIL, 1964). Por fim, as limitações constitucionais ao poder de tributar são entendidas como manifestações dos direitos fundamentais, previstas na Constituição Federal, que não ultrapassam seus próprios enunciados, compostas de princípios e imunidades que visam à garantia dos direitos fundamentais do contribuinte. VAMOS REFORÇAR O QUE APRENDEMOS ATÉ AGORA? A competência tributária é prevista na Constituição Federal e definida a um dos entes federados para instituir determinado tributo. Sobre a competência tributária, podemos dizer que: • O ente federado pode exercer sua competência nos limites constitucionais. • Ela poderá ser delegada de uma pessoa jurídica de direito público a outra. • Ela se apresenta por meio das funções de arrecadar, fiscalizar e executar o tributo. • 👍 • Muito bem, a resposta está correta! Conforme vimos no tópico “O poder de tributar”, a competência tributária descreve o poder de tributar, previsto na Constituição Federal e definido DIREITO TRIBUTARIO a um dos entes federados para instituir, fiscalizar e arrecadar determinado tributo, nos limites constitucionais, e não poderá ser delegada de uma pessoa jurídica de direito público a outra. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS TRIBUTÁRIOS Os princípios tributários são mandamentos nucleares do sistema tributário, que visam à interpretação e à aplicação das normas dentro do seu campo de atuação. Esses princípios não se confundem uns com outros, já que expressam, por exemplo, que a lei deve ser anterior ao fato gerador do tributo por ela criado ou majorado (CF, art. 150, III, alínea “a”) e não podendo se exigir que haja lei anterior ao início do exercício financeiro no qual o tributo é cobrado (CF, art. 150, III, alínea "b”). O princípio da legalidade está delineado no art. 5º, II, enquanto o princípio da legalidade tributária se encontra no art. 150, I, da Constituição Federal. Considerando que há necessidade de produção legislativa, nos casos do art. 97, II, do CTN, devemos, assim, descrever o fato tributável, bem como definir a base de cálculo e da alíquota, ou o critério a ser utilizado para estabelecer o valor do tributo, e o sujeito ativo da relação tributária, na lei instituidora do tributo. Há casos, contudo, em que a majoração ou redução de tributos não seguirá tal determinação, como os impostos de caráter extrafiscal (II, IE, IOF e IPI), que poderão ter sua alíquota majorada ou diminuída em razão da política governamental em vigor, por meio de ato do Poder Executivo, desde que DIREITO TRIBUTARIO respeitados os ditames legais, conforme determinado pelo art. 153, § 1º da CF. O princípio da isonomia (art. 150, II, da CF) prevê aos entes tributantes a impossibilidade de tratamento desigual de contribuintes na mesma situação, ou seja, não há diferenciação em razão de ocupação profissional ou atividade exercida, por exemplo. A isonomia prevê dois patamares: o sentido formal, feito pela edição de normas gerais; e o sentido material, feito pelo tratamento igualitário aos iguais (acepção horizontal) e o tratamento aos desiguais dentro de suas desigualdades (acepção vertical). Desse modo, quando se agride o princípio da isonomia em matéria tributária, é ferido também o princípio da capacidade tributária, já que ele é o seu corolário, em matéria tributária. A Constituição Federal de 1988, em seu art. 145, §1º, determina que os impostos deverão ter como base a capacidade econômica que corresponde aos princípios da capacidade contributiva, ou da capacidade econômica. Por outro lado, o art. 150, III, ‘'a'’, da CF apresenta o princípio da irretroatividade, que é um dos pilares da segurança jurídica, definindo que a nova lei será aplicada apenas aos fatos geradores ocorridos no futuro. CURIOSIDADE A base do princípio da surpresa (o contribuinte não poderá ser surpreendido pela instituição ou majoração de tributos) é o princípio da segurança jurídica, que possui DIREITO TRIBUTARIO como braços os princípios da irretroatividade, da anterioridade e da noventena, privilegiando os direitos fundamentais do contribuinte. Há debates sobre como será aplicada a lei, ou seja, o instante em que se define o fato gerador do tributo, nos casos de fatos geradores pendentes (que dependem de uma atividade para serem concretizados) e periódicos (que se prolongam no tempo), que podem ser simples (único evento, como o IPTU) ou compostos (diversos eventos, como o IR). Desse modo, o CTN autoriza a retroatividade de lei para beneficiar o contribuinte, desde que não tenha acontecido da decisão final do litígio. Podemos também explorar o chamado princípio da anterioridade, que pode ser dividido em dois casos: Clique nas setas para saber mais 1 Anterioridade anual Na anterioridade anual, previsto no art. 150, III, b, da CF, impede-se que nova produção legislativa seja aplicada de imediato àsituação que está em curso, ou seja, não há surpresa para o contribuinte, estabelecendo, assim, a proibição de cobrança, no mesmo ano, da publicação da lei que o institui ou majora, bem como no caso de revogação de qualquer benefício fiscal, já que gera efeitos financeiros para o contribuinte. 2 Anterioridade nonagesimal No segundo caso, o da anterioridade nonagesimal (EC n. 42/2003), alguns tributos só poderão ser exigidos caso cumpram pelo menos noventa dias da data em que tenha sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou, observado o disposto no art. 150, III, ''c'', da CF. Os tributos IE (CF, art. 153, I e II), IOF (CF, art. 153, V), imposto extraordinário (CF, art. 154, II) e empréstimos compulsórios (CF, art. 148, I) não seguem a nenhum tipo de anterioridade. DIREITO TRIBUTARIO O Texto Constitucional de 1988 estabelece o princípio do não- confisco, proibindo, no art. 150, IV, que os tributos sejam utilizados com efeito confiscatório. Neste caminho, o STF (ADI 551/RJ) avalia que a vedação ao efeito de confisco estende-se às multas decorrentes do descumprimento de obrigação tributária. Assim, os impostos possuem formato diferenciado das taxas na análise do efeito confiscatório, devido ao caráter contraprestacional, já que haverá uma análise do custo e do valor cobrado a título de taxa, fato que não ocorre com os impostos, devido à manifestação de riqueza do contribuinte. Além das já mencionadas, podemos apontar o art. 150, V, da CF, que estabelece o princípio da liberdade de tráfego, proibindo a imposição de limites ao tráfego de pessoas ou bens por meio da oneração de tributos; as vedações específicas à União, que são regras protegidas por cláusula pétrea (art. 151 da CF/88); e demais princípios, como: O princípio da uniformidade geográfica – Veda a criação de tributos que determinem privilégios ou preferências entre os entes federados. Todavia, é permitida a concessão de incentivos fiscais com finalidade de possibilitar o desenvolvimento econômico entre regiões, conforme narrado no art. 151, I, da CF; O princípio da vedação às isenções heterônomas – (Art. 151, III, da CF) veda à União instituir isenções de outros entes federados, mas conta com exceções, no art. 155, § 2º, XII, “a” e “e”; O princípio da uniformidade da tributação de renda – (Art. 151, II, da CF) veda tributar renda como instrumento de concorrência desleal entre os entes e seus agentes, bem como a renda das obrigações de dívida pública entre os entes federados. DIREITO TRIBUTARIO IMUNIDADES A imunidade é uma limitação da competência tributária que produzirá a não incidência da norma tributária nos casos de taxa (CF, art. 5º, XXXIV), impostos (CF, art. 150, VI) e contribuições para a seguridade social (CF, art. 195, § 7º). Em relação aos impostos, o art. 150, inciso VI, da CF, diz que é vedado à União, aos estados, ao Distrito Federal e aos municípios instituir impostos sobre: • bullet patrimônio, renda ou serviços uns dos outros; • bullet templos de qualquer culto; • bullet patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos, inclusive suas fundações, das entidades sindicais dos trabalhadores, das instituições de educação e de assistência social, sem fins lucrativos, atendidos os requisitos da lei; • bullet livros, jornais, periódicos e papel destinado à sua impressão. A imunidade recíproca é a expressão do pacto federativo ao definir que os entes federados e suas autarquias, como os conselhos de fiscalização profissional e fundações públicas, não podem fazer incidir impostos sobre o patrimônio, a renda ou os serviços, uns sobre os outros (ADI 939/DF), inclusive a OAB, que possui natureza sui generis (RE 259.976 – AgR/RS). O STF incluiu, neste campo de imunidade, as empresas públicas e a sociedade de economia mista, prestadoras de serviços públicos de prestação obrigatória e exclusiva do Estado (RE 407.099/RS). DIREITO TRIBUTARIO Há pelo menos duas situações nas quais o patrimônio, a renda e os serviços das entidades públicas não são imunes: quando relacionados à exploração de atividades econômicas; e quando relacionados a atividades em que haja contraprestação ou pagamento de preços ou tarifas pelo usuário (MACHADO, 2019, p. 288). Assim, não estão imunes aos impostos sobre produtos industrializados (IPI) ou sobre circulação de mercadorias (ICMS), já que o contribuinte do primeiro é o industrial e o do segundo é o comerciante, que produzirá a saída do bem, com intuito de lucro, sendo a relação jurídica tributária instaurada entre estes e o Fisco. Segundo a Constituição Federal, não haverá instituição de tributos sobre o exercício das atividades religiosas (art. 150, VI, ''b''), ou seja, não haverá tributação sobre as atividades litúrgicas essenciais da entidade religiosa (o espaço físico – templo e atividades da entidade). O STF entende que, se um imóvel que pertence a ente imune é alugado, ele não deixa de estar vinculado às finalidades essenciais do ente, não perdendo a imunidade (ALEXANDRE, 2020, p. 234). Assim, segundo a Súmula Vinculante 52, do STF: Ainda quando alugado a terceiros, permanece imune ao IPTU o imóvel pertencente a qualquer das entidades referidas pelo art. 150, VI, "c", da Constituição Federal, desde que o valor dos aluguéis seja aplicado nas atividades para as quais tais entidades foram constituídas (BRASIL, 2015c). Contudo, para Hugo de Brito Machado (2019), um imóvel de entidade religiosa que realiza atividade econômica sem ligação com atividades religiosas deveria não ser imune, evitando concorrência desleal devido à livre iniciativa. No mesmo entendimento, imóveis alugados de entidades religiosas e seus rendimentos podem ser tributados. Em seguida, o art. 150, VI, “c”, da Constituição Federal de 1988, veda a instituição de impostos sobre o patrimônio, a renda ou serviços dos partidos políticos, das entidades sindicais e DIREITO TRIBUTARIO das instituições de educação ou de assistência social, sem fins lucrativos. O imóvel, então, pertence às instituições de educação e de assistência social sem fins lucrativos, ainda quando alugado a terceiros, desde que a renda dos aluguéis seja aplicada às atividades essenciais de tais entidades (BRASIL, 2003). Não ter fins lucrativos, segundo o art. 14 do Código Tributário Nacional, significa: • bullet Não distribuir qualquer parcela de seu patrimônio ou de suas rendas, a qualquer título; • bullet Aplicar integralmente no País os seus recursos, na manutenção dos seus objetivos institucionais; • bullet Manter escrituração de suas receitas e despesas em livros revestidos de formalidades, capazes de assegurar sua exatidão. Segundo a decisão do STF, "a imunidade tributária subjetiva aplica-se a seus beneficiários na posição de contribuinte de direito, mas não na de simples contribuinte de fato, sendo irrelevante para a verificação da existência do beneplácito constitucional a repercussão econômica do tributo envolvido” (BRASIL, 1977). Nos casos de livros, jornais, periódicos e papel destinado à sua impressão, a imunidade cultural, também chamada de imunidade objetiva, refere-se aos impostos ICMS, IPI, II e IE, em que são incluídas apostilas, filmes e papéis fotográficos. Além disso, segundo a Súmula Vinculante 57, a imunidade tributária constante do art. 150, VI, ''d'', da CF/88 aplica-se à importação e à comercialização, no mercado interno, do livro eletrônico (e-book) e dos suportes exclusivamente utilizados para fixá-los, como leitores de livros eletrônicos (e-readers), ainda que possuam funcionalidades acessórias (BRASIL, 2020). DIREITO TRIBUTARIO Depois de elencar essas diferentes imunidades, é importante mencionar que há diferenças entre as não incidências, a isenção e a alíquota zero (Quadro 5), já que, para a primeira, não há instituição de tributo e, para as duas últimas, há instituição, mas não há cobrança.Quadro 5. Não incidência, isenção e alíquota zero. Fonte: ALEXANDRE, 2020, p. 211. (Adaptado). VAMOS REFORÇAR O QUE APRENDEMOS ATÉ AGORA? A imunidade recíproca é a expressão do pacto federativo ao definir que os entes federados e suas autarquias não podem fazer incidir impostos sobre o patrimônio, a renda ou os serviços, uns sobre os outros. Assim, podemos apontar como reciprocamente imunes: Os conselhos de fiscalização profissional e fundações privadas. Correctly unselected Os templos religiosos, as fundações públicas e a OAB. Correctly unselected As prestadoras de serviços públicos de prestação obrigatória e exclusiva do Estado. DIREITO TRIBUTARIO Correctly selected ENVIAR Correta 👍 Muito bem, a resposta está correta! Conforme vimos no tópico “Imunidades”, a imunidade recíproca abrange os conselhos de fiscalização profissional e fundações públicas, inclusive a OAB, e as empresas públicas e sociedades de economia mista, bem como as prestadoras de serviços públicos de prestação obrigatória e exclusiva do Estado. O tributo Seção 5 de 5 O art. 3º do Código Tributário Nacional (CTN) conceitua o tributo com base na apresentação de seus elementos, sendo eles: • bullet O caráter pecuniário da prestação tributária (como a prestação em moeda); • bullet A compulsoriedade dessa prestação, ou seja, a prestação do tributo deve ser prevista por lei; • bullet A natureza não sancionatória de ilicitude, já que o tributo está previsto na lei; • bullet A prestação “instituída em lei”, já que a obrigação tributária é lastreada pela lei; • bullet A natureza vinculada (ou não discricionária) da atividade administrativa, mediante a qual se cobra o tributo. DIREITO TRIBUTARIO Ao analisarmos o caráter pecuniário da prestação tributária, podemos perceber que, apesar de haver proibição de o tributo in natura ser pago em serviços ou bens, a Lei Complementar 104/2001 acresceu, ao art. 156 do CTN, o inciso XI, que permite a dação em pagamento de bens imóveis como forma de extinção do crédito tributário. Além disso, a Portaria PGFN n. 32, de 08 de fevereiro de 2018, regulamenta o procedimento de dação em pagamento de bens imóveis para extinção de débitos de natureza tributária inscritos em dívida ativa da União. CURIOSIDADE Em 26 de abril de 2007, a Lei distrital 1624/97, que dispunha sobre o pagamento de débitos de microempresas e das empresas de pequeno e médio porte, mediante dação em pagamento de materiais, foi julgada como inconstitucional pela Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 1917, sob a relatoria do ministro Ricardo Lewandowski, com fundamento de que somente por lei federal é que se poderia criar a dação em pagamento por bens móveis. Compulsoriedade da prestação A compulsoriedade da prestação refere-se ao dever de pagar o tributo, independentemente da vontade do contribuinte, já que DIREITO TRIBUTARIO não poderá se constituir em sanção de ato ilícito por se tratar de receita derivada. Esta compulsoriedade está prevista nos tributos, mas não na multa, pois o primeiro não possui finalidade sancionatória, enquanto a segunda se apresenta como uma sanção. O tributo só pode ser criado por lei, complementar ou ordinária, ou medida provisória. Este fato decorre do princípio democrático, em que o povo elege os seus representantes. Por fim, a prestação cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada é advinda de lei e, por isso, a prestação é compulsória. A atividade vinculada é aquela na qual a autoridade administrativa não goza de liberdade para apreciar a conveniência nem a oportunidade de agir (MACHADO, 2019, p.62). CLASSIFICAÇÃO DOS TRIBUTOS Até hoje, os estudiosos do Direito debatem sobre a classificação dos tributos em espécie, de modo que sugiram quatro principais correntes (Quadro 6): Clique nas setas para saber mais 1 Corrente bipartite A primeira delas, a corrente bipartite, dividiu os tributos em tributos vinculados e não vinculados, sendo que os primeiros se referem a uma atividade estatal vinculada (taxa) e os segundos, a, uma não vinculada (impostos). Corrente tricotômica ou tripartite A segunda classificação de tributos, a corrente tricotômica, ou tripartite (art. 4º e 5º do CTN), divide os tributos em não vinculados (impostos), vinculados (taxa) e atividades vinculadas com base na valorização de imóveis, referente a uma obra pública (contribuição de melhoria). A contribuição parafiscal e o empréstimo compulsório não são tidos como uma nova espécie tributária, pois (RIBEIRO, 2013, p. 09): DIREITO TRIBUTARIO a contribuição parafiscal que se utilizar do fato gerador da taxa, como a contribuição previdenciária do empregado, taxa será. O empréstimo compulsório que se utilizar do fato gerador do imposto (o que quase sempre acontece) será imposto. Corrente quadripartite Em seguida, a corrente quadripartite possui divergência entre os seus expositores. Enquanto Ribeiro de Moraes (1995) salienta que há quatro espécies tributárias (impostos, taxas, contribuição de melhoria e contribuições parafiscais) e entende que os empréstimos compulsórios são tidos como impostos restituíveis, Ricardo Lobo Torres (2001) e Fabio Fanucchi (1986) possuem entendimento diverso. Para eles, os tributos são impostos, taxas, contribuições especiais (contribuição de melhoria e contribuições parafiscais) e empréstimos compulsórios (Figura 1). Corrente quinquipartite Por fim, a corrente quinquipartite é a abarcada pela Constituição Federal de 1988, em que impostos, taxas e contribuições de melhoria têm como base o seu fato gerador, ou fato jurígeno, que dá ensejo à tributação e às contribuições especiais, enquanto o empréstimo compulsório tem como finalidade a destinação legal do produto de arrecadação. DIREITO TRIBUTARIO IMPOSTOS, TAXAS E CONTRIBUIÇÕES Segundo o art. 16 do CTN, os impostos não possuem finalidade específica, ou seja, são instituídos e arrecadados em virtude de lei, decorrente de manifestação de riqueza por parte do contribuinte. O art. 145, §1º, da CF, salienta que os impostos são graduados conforme a capacidade econômica ou a capacidade contributiva do contribuinte, que são divididas em: Clique nos botões para saber mais Competência tributária privativa – Impostos federais (art. 153, CF), impostos estaduais e do Distrito Federal (art. 155, CF), e impostos municipais e do Distrito Federal (art. 156, CF); Competência tributária residual – DIREITO TRIBUTARIO Impostos extraordinários (art. 154, II, CF), leis completares, com novos fatos geradores e bases de cálculo, e não cumulatividade; Competência tributária extraordinária – Impostos extraordinários de guerra (art. 155 e 156, CF). O art. 77 do CTN conceitua taxa e prevê dois fatos geradores: Taxa de polícia O primeiro destes, a taxa de polícia, é conceituada no art. 78 do CTN e refere-se ao regular exercício do poder de polícia (legalidade ou legitimidade), detido pelo agente público quando de sua atuação, exercida mediante o estrito cumprimento legal, respeitando a vinculação de seu exercício ao devido processo legal e à efetividade deste exercício do poder. Taxa de serviço público O segundo fato gerador, a taxa de serviço público, segundo o art. 79 do CTN, é a utilização efetiva (quando contribuinte utiliza o serviço público) ou potencial (quando o serviço público de utilização compulsória é colocado à disposição do contribuinte mediante atividade administrativa em efetivo funcionamento) do serviço público. Contudo, por exemplo, o serviço de iluminação pública não poderá ser remunerado por meio de taxa (BRASIL, 2015b), pois não se enquadra em qualquer uma das duas características do serviço público, que pode ser: • 1 1 Serviço específico, realizado em unidades autônomas de intervenção, de utilidade ou de necessidade públicas; • 2 2 Serviço divisível, suscetívelde utilização, separadamente, por parte de cada um dos seus usuários. Há diferenças entre a taxa e o preço público, sendo que a primeira refere-se à receita derivada (surgem de uma imposição legal e são instituídas por pessoas jurídicas de direito público) e a segunda refere-se à receita originária (não surgem de uma imposição legal e são cobradas por pessoas jurídicas de DIREITO TRIBUTARIO direito privado, decorrentes de serviço público, e praticadas por elas). Assim, ''preços de serviços públicos e taxas não se confundem, porque estas, diferentemente daqueles, são compulsórias e têm sua cobrança condicionada à prévia autorização orçamentária, em relação à lei que as instituiu" (BRASIL, 1969). CURIOSIDADE O pedágio, por exemplo, é considerado uma taxa, quando instituído e arrecadado por uma pessoa jurídica de direito público, e é tomado como preço público, quando cobrado por uma pessoa jurídica de direito privado. Contribuição de melhoria A contribuição de melhoria é uma espécie tributária decorrente de uma obra pública nova, conforme salientado pelos art. 81 e art. 82, do CTN, e pelo art. 145, III, da Constituição Federal. Em primeiro lugar (art. 82, I, CTN), o dispositivo exige a publicação prévia de elementos como: • bullet Um memorial descritivo do projeto; • bullet O orçamento do custo da obra; • bullet A determinação da parcela do custo da obra, a ser financiada pela contribuição; • bullet DIREITO TRIBUTARIO A delimitação da zona beneficiada; • bullet A determinação do fator de absorção do benefício de valorização para toda a zona, ou para cada uma das áreas diferenciadas nela contidas. Cálculo da contribuição O cálculo da contribuição de melhoria se dá pela lei instituidora, que deve determinar a parcela do custo da obra a ser financiada pelo tributo (art. 82, I, "c", CTN) e pela contribuição relativa a cada imóvel, que será determinada pelo rateio da parcela do custo da obra e pelos imóveis situados na zona beneficiada, em função dos respectivos fatores individuais de valorização (art. 82, I, CTN). Empréstimo compulsório Em seguida, a espécie tributária empréstimo compulsório, de natureza vinculada, visa à entrada de recursos temporários aos cofres da União, por meio de lei complementar, pois somente este ente poderá instituí-lo, conforme determina o art. 148 da Constituição Federal. Além disso, o § único do art. 15 do CTN determina que a lei instituidora deste ensejo tributário deverá apresentar como será sua restituição. Assim, os requisitos desse empréstimo, expostos na CF, estipulam que ele serve (BRASIL, 1988): I - para atender a despesas extraordinárias, decorrentes de calamidade pública, de guerra externa ou sua iminência; e II - no caso de investimento público de caráter urgente e de relevante interesse nacional, observado o disposto no art. 150, III, b. Contribuições especiais Por fim, as contribuições especiais estão previstas no art. 149 da Constituição Federal e são de criação exclusiva da União. Elas representam um gênero de contribuição subdividida em subespécies como as contribuições sociais; a contribuição de intervenção no domínio econômico (CIDE); as contribuições corporativas; e a contribuição para o custeio do serviço de iluminação pública (COSIP). As contribuições sociais, segundo o STF (RE 138.284-8/CE), são divididas em (BRASIL, 1992): • 1 DIREITO TRIBUTARIO 1 Contribuições de seguridade social (art. 194, CF): ações destinadas ao tripé saúde, previdência social e assistência social, dispostas no art. 195 da Constituição Federal; • 2 2 Outras contribuições sociais (art. 195, § 4º da CF): contribuições residuais à seguridade social; e • 3 3 Contribuições sociais gerais (art. 212, § 5º da CF): contribuições destinadas ao custeio de áreas diversas, dentro do campo social, como o salário-educação. Contribuição de intervenção do domínio econômico (CIDE) A contribuição de intervenção do domínio econômico (CIDE) é de competência da União e tem finalidade de intervir em determinada situação econômica ou social (ALEXANDRE, 2020, p. 104), como, por exemplo, a CIDE-Royalteis, a CIDE- Remessas ou a CIDE-Tecnologia, criada pela Lei 10.168/2000, e a CIDE-Combustíveis. Contribuições corporativas As contribuições corporativas são contribuições de interesse das categorias profissionais ou econômicas. Esta subespécie tributária tem como finalidade o financiamento de atividades representativas ou fiscalizatórias de categorias profissionais (CREA, OAB e CRM, por exemplo) ou econômicas (corporações). A contribuição sindical é destinada aos sindicatos por seus afiliados (BRASIL, 2015a). Todavia, com a Reforma Trabalhista, esta deixou de possuir natureza tributária, pois passou a ser uma liberalidade do trabalhador. Contribuição de iluminação pública Por fim, a contribuição de iluminação pública (COSIP) é uma subespécie de contribuição especial, criada pela EC 32/2002, como sucedâneo de cobrança da taxa de iluminação pública, declarada inconstitucional pelo STF (Súmula 41 do STF). A competência para a criação da COSIP é dos municípios e do Distrito Federal. Segundo o Supremo Tribunal Federal, a COSIP é um tributo sui generis, não podendo ser considerado nem DIREITO TRIBUTARIO imposto nem taxa, já que sua finalidade é específica, mas não individualizada (ALEXANDRE, 2020). VAMOS REFORÇAR O QUE APRENDEMOS ATÉ AGORA? A contribuição de melhoria é uma espécie tributária decorrente de uma obra pública nova. Em relação aos requisitos para sua instituição, então, podemos apontar: A delimitação da zona beneficiada e não beneficiada. Correctly unselected O memorial descritivo do projeto. Correctly selected O orçamento dos imóveis beneficiados e não beneficiados. Correctly unselected ENVIAR Correta 👍 Muito bem, a resposta está correta! Conforme vimos no tópico “Impostos, taxas e contribuições”, o art. 82, I, da CTN exige a publicação prévia, para instituição da contribuição de melhoria, de elementos como: um memorial descritivo do projeto; o orçamento do custo da obra; a determinação da parcela do custo da obra, a ser financiada pela contribuição; a delimitação da zona beneficiada; e a determinação do fator de absorção do benefício de valorização para toda a zona, ou para cada uma das áreas diferenciadas nela contidas. DIREITO TRIBUTARIO UNIDADE 2. Constitucional Tributário Paulo Roberto de Souza Junior OBJETIVOS DA UNIDADE Entender as normas que compõem a legislação tributária e diferenciá-las em primárias e secundárias; Discutir a vigência e a aplicação da legislação tributária; Verificar os aspectos da hipótese de incidência; Analisar a interpretação da legislação tributária. TÓPICOS DE ESTUDO Fontes do Direito Tributário // A lei tributária e a legislação tributária // Lei ordinária e lei complementar // Normas complementares Vigência e aplicação da legislação tributária // Vigência das leis tributárias // Vigência no tempo (princípio da anterioridade) Interpretação e integração à legislação tributária // Classificação da interpretação da lei tributária com base no sentido da norma // Quanto à fonte de interpretação da norma jurídica tributária // Interpretação quanto ao método: gramatical, lógica, sistemática, histórica e teológica // Interpretação quanto aos efeitos ou resultados: declaratória, extensiva e restritiva • Hipótese de incidência DIREITO TRIBUTARIO Fontes do Direito Tributário Seção 2 de 5 O direito possui fontes que têm como função evidenciar sua interpretação, origem e raízes, indicando ao seu operador um norte, um caminho para a criação de normas que visem solucionar uma possível demanda. Essas fontes se dividem em materiais e formais: a primeira possibilita a criação de uma norma jurídica; a segunda sua aplicabilidade. Seguindo o princípio da legalidade em matériatributária, o campo principal de produção de regramentos dentro do Direito Tributário é a lei, definida como ato normativo primário (norma jurídica) oriundo do Poder Legislativo. Assim, existem dois tipos de normas jurídicas: a norma geral abstrata e a norma individual, que é específica. Assim, dentro do Direito Tributário, por possuir caráter geral e abstrato, a orientação do delegado de uma repartição fiscal aos contribuintes de determinado imposto é definida como um ato normativo e, devido a isso, integra a legislação tributária. Entretanto, uma decisão administrativa de determinado órgão de jurisdição administrativa referente a uma impugnação realizada pelo contribuinte possui caráter concreto e, assim, não integra a legislação tributária. O ato normativo poderá ser conceituado como: [...] uma norma jurídica que estabelece ou sugere condutas de modo geral e abstrato, ou seja, sem destinatários específicos e tratando de hipóteses. Atos normativos, como o próprio nome sugere, têm carga normativa, ou seja, estabelecem normas, regras, padrões ou obrigações (BRASIL, 2017, p. 3). É importante mencionar que atos tidos como periféricos por apenas nortearem o campo do Direito Tributário não necessitam serem construídos por uma lei, conforme reza o art. 100 do CTN (BRASIL, 1966). DIREITO TRIBUTARIO A LEI TRIBUTÁRIA E A LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA O Código Tributário Nacional difere da lei de legislação, posto que a lei é o ato jurídico elaborado pelo poder competente no exercício da função que lhe coube por determinação da Constituição Federal e da legislação. Assim, esse ato jurídico “compreende as leis, os tratados e as convenções internacionais, os decretos e as normas complementares que versem, no todo ou em parte, sobre tributos e relações jurídicas a eles pertinentes” (BRASIL, 1966, n.p.). Isso posto, no campo tributário há normas legais e infralegais decorrentes dos capítulos III e IV do texto constitucional de 1988 (BRASIL, 1988). As normas legais são deflagradas através de um processo legislativo que compreende a elaboração de emendas à constituição, Leis Complementares, Leis Ordinárias, leis delegadas, medidas provisórias, decretos legislativos e resoluções, os quais terão aplicabilidade dentro do Direito Tributário. Já as normas infralegais são oriundas do Poder Executivo e do Poder Judiciário. A lei possui dois sentidos: material, regra de direito objetivo, e dotada de hipoteticidade, como salientado por Hugo de Brito Machado (2020), modalidade na qual a lei expressa a hipótese de incidência que, uma vez realizada, definirá a obrigação tributária, configurando o sujeito ativo e o sujeito passivo. O segundo sentido é o formal, ato produzido pelo Poder Legislativo como, por exemplo, a Lei Ordinária ou Complementar no campo tributário. Assim, o art. 97 do CTN define que somente por lei poderá ser estabelecido: a) A instituição de tributos, ou a sua extinção; b) A majoração de tributos ou sua redução, com as ressalvas que indica; c) A definição do fato gerador da obrigação principal e do seu sujeito passivo; DIREITO TRIBUTARIO d) A fixação da alíquota do tributo e de sua base de cálculo, com as ressalvas que menciona; e) A cominação de penalidades para as ações ou omissões contrárias a seus dispositivos, ou para outras infrações nela definidas; f) As hipóteses de exclusão, suspensão e extinção de créditos tributários, ou dispensa ou redução de penalidades (BRASIL, 1966, n.p.) (Adaptado). Equipara-se a majoração do tributo à modificação de sua base de cálculo, que busca tomá-lo mais oneroso (art. 97, § 1º), mas não à simples atualização monetária (art. 97, § 2º). Dessa maneira, a legislação tributária brasileira segue o desenho da pirâmide de Hans Kelsen, que define em seu vértice a Constituição Federal e na seção mais baixa normas e atos de cunho individual. Figura 1. O ordenamento jurídico brasileiro e as normas tributárias primárias e secundárias. DIREITO TRIBUTARIO // Constituição Federal e suas emendas As normas gerais do Direito Tributário estão presentes na Constituição Federal de 1988, na qual são definidas as competências e suas limitações; os princípios constitucionais tributários; as características das espécies tributárias previstas na legislação tributária; e seu processo legislativo produtivo, bem como a esfera de atuação de cada norma jurídica tributária. Esta base da estruturação do Direito Tributário faculta aos entes federados (União Federal, Estados, Distrito Federal e Municípios) o poder de tributar dentro dos limites constitucionais, estabelecendo, portanto, competências e limitações. Respeitado o art. 60, 4º da Constituição Federal, que trata sobre cláusulas pétreas, a constituição poderá ser alterada através de Emendas Constitucionais, inclusive na parte tributária, desde que respeitados os direitos e garantias dos contribuintes. // Emendas Constitucionais As emendas tributárias, no campo do Direito Tributário, visam alterar os elementos que integram o Sistema Tributário Nacional, como a modificação da competência para instituir determinado tributo ou a redefinição do perfil de certo tributo, as quais deverão seguir os ditames do art. 60 da CF de 1988 (BRASIL, 1988). Tanto as emendas à constituição como a própria Constituição Federal não criam tributos, visto que somente disciplinam competências para os entes federados os instituírem. Todavia, segundo Luciano Amaro, [...] a Emenda Constitucional de Revisão n. 1/94 disciplinou diretamente certas contribuições sociais, referindo-se a alíquotas, base de cálculo, contribuintes etc, atropelando, dessa forma, o processo legislativo (que, normalmente, supõe a sanção do Poder Executivo para a criação ou modificação de tributo) (2019, p. 195). LEI ORDINÁRIA E LEI COMPLEMENTAR Partindo do pressuposto de que a Constituição Federal não cria tributos, visto que esta faculta aos entes federados tal tarefa DIREITO TRIBUTARIO através do exercício do poder de tributar, a Lei Complementar, em regra, também não os cria. O instrumento de criação destes atos normativos legais pelos entes federados é a Lei Ordinária, a qual define os elementos necessários para que a espécie tributária exista legalmente. Entretanto, há espécies em que a constituição determina que o processo legislativo em vigor seja através de uma Lei Complementar, como é o caso dos empréstimos compulsórios. EXPLICANDO As Leis Ordinárias e complementares se diferem nos aspectos formal e material. Quanto ao aspecto material, a Lei Complementar refere-se à matéria expressamente prevista na Constituição Federal, ao passo que a Lei Ordinária poderá ser objeto de qualquer matéria. Já o aspecto formal diz respeito ao quórum de votação. A aprovação de uma Lei complementar dar-se-á através do DIREITO TRIBUTARIO quórum de maioria absoluta, enquanto que a Lei Ordinária exige o quórum de maioria simples (ALMEIDA, 2009). Observe o Quadro 1, que demonstra as diferenças entre Lei Complementar e Lei Ordinária no referido aspecto ou campo formal. Quadro 1. Diferenças entre Lei Ordinária e Lei Complementar. Como visto, as leis Complementares possuem características próprias e visam, no campo tributário: // Lei Delegada As Leis Delegadas são delegações dadas ao Presidente da República pelo Congresso Nacional (art. 68 da CF/88). Assim, através desta produção legislativa, poderá instituir-se uma espécie tributária, desde que não DIREITO TRIBUTARIO aquelas nas quais a Constituição Federal define o processo legislativo para sua criação. // Medidas provisórias Até a promulgação da emenda constitucional nº 32, de 2001, havia a discussão sobre a possibilidade ou não da criação de uma espécie tributária por medida provisória, um ato com força de lei expedido pelochefe do Poder Executivo, em casos de relevância e urgência (art. 62 da Constituição Federal). Lembrando que a “força de lei significa ter aptidão para inovar no ordenamento jurídico, criando novos direitos e obrigações” (ALEXANDRE, 2020, p. 279). Assim, a medida provisória poderá ser expedida pelos governadores e prefeitos, desde que presente na Constituição Estadual e na Lei Orgânica Municipal, respectivamente. Com a promulgação da EC nº 32, de 2001, definiu-se que não há óbice de edição da medida provisória em matéria tributária reservada à Lei Ordinária, exceto os impostos previstos nos arts. 153, I, II, IV, V, e 154, II da Constituição Federal (BRASIL, 1988). O art. 62 § 2º, incluído pela referida EC salienta que a [...] medida provisória que implique instituição ou majoração de impostos, exceto os previstos nos arts. 153, I, II, IV, V, e 154, II, só produzirá efeitos no exercício financeiro seguinte se houver sido convertida em lei até o último dia daquele em que foi editada (BRASIL, 1988, n.p.). Ressalta-se que há um debate doutrinário acerca do uso ou não de medidas provisórias na esfera tributária. Enquanto alguns discordam de seu uso, há outros autores que são favoráveis à sua utilização. Já os poderes Legislativo e Judiciário não são contra este uso. Por fim, é necessário evidenciar que os tributos instituídos por Lei Complementar não poderão ser instituídos por medida provisória, uma vez que estas serão convertidas ao final do processo legislativo com sua promulgação em Lei Ordinária. // Tratados internacionais Mazzuoli salienta que o STF se posicionou sobre a temática através do Recurso Extraordinário 80.004- SE (RTJ 83/809): DIREITO TRIBUTARIO [...] dentro do sistema jurídico brasileiro, em que tratados e convenções guardam estrita relação de paridade normativa com as Leis Ordinárias editadas pelo Estado, a normatividade dos tratados internacionais permite, no que concerne à hierarquia das fontes, situá-los no mesmo plano e no mesmo grau de eficácia em que se posicionam as nossas leis internas (2012, p. 17). O CTN, em seu art. 98, estabelece que os tratados e convenções internacionais revogam ou modificam a legislação tributária interna; todavia, Machado (2019) diz que se trata de Lei Complementar, e Não Ordinária. Somente a União poderá celebrar tratados internacionais, visto que, segundo a Constituição Federal de 1988, é o único ente competente para tanto. Assim, quem legisla sobre estes tratados é o Congresso Nacional. // Resoluções do Senado Federal e do Congresso Nacional A Constituição Federal foi a responsável por definir a competência exclusiva para a expedição de resoluções pelo Senado Federal e pelo Congresso Nacional. Assim, através de resoluções do Congresso Nacional, há publicidade de rejeição das medidas provisórias e, por sua delegação, o Presidente da República poderá editar as Leis Delegadas. As resoluções do Senado Federal, órgão que representa os Estados da Federação no Congresso Nacional, definem os limites de alíquotas dos impostos estaduais, conforme reza o art. 155, § 1º, IV; § 2º, IV e V da Constituição Federal de 1988: - ITDC - imposto de transmissão causa mortis e doação, de quaisquer bens ou direitos; - ICMS - imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda que as operações e as prestações se iniciem no exterior (BRASIL, 1988). // Decretos legislativos DIREITO TRIBUTARIO Os decretos legislativos são atos exclusivos do Congresso Nacional e competem dispor sobre medidas provisórias não convertidas em lei, seja devido ao seu decurso de prazo ou quando não acatada pelo Congresso Nacional. NORMAS COMPLEMENTARES As normas complementares, segundo o art. 100 do CTN, são: atos normativos das autoridades administrativas (portarias, ordens de serviço, instruções normativas, entre outros); decisões administrativas dotadas de eficácia normativa (decisões de órgãos singulares ou coletivos); e práticas reiteradas das autoridades administrativas (decisões reiteradas, as quais poderão ser alvo de alteração, mas apenas para casos futuros). // Decretos e regulamentos do Poder Executivo Os decretos regulamentares são atos expedidos pelo chefe do Poder Executivo e restringem o conteúdo e o alcance das leis em função de serem expedidos com base nas regras de interpretação, segundo o art. 99 do CTN. Já os regulamentos tributários são expedidos pelo Ministério de Estado competente e demais autoridades previstas em lei específica. // Instruções ministeriais, portarias e ordens de serviços As instruções ministeriais estão no plano secundário das normas brasileiras e suas funções incluem regulamentar normas dentro de sua pasta na ausência de orientação do chefe do Poder Executivo, o Presidente da República, ou corrigir lacunas nestas. As portarias, por seu turno: [...] consubstanciam regras gerais ou individuais que o superior edita para serem observadas por seus subalternos. Ocorrem em todos os degraus da escala hierárquica, desde os ministérios até as mais simples repartições do serviço público. Prestam-se não só para veicular comandos administrativos gerais e especiais, como também para designar funcionários para o exercício de funções menores, abrir sindicâncias e inaugurar procedimentos administrativos (CARVALHO, 2019, p. 119). DIREITO TRIBUTARIO Assim, as ordens de serviço são regras concretas destinadas a quem irá realizar tal providência ou determinado ato. // Circulares Já as circulares, ainda segundo Carvalho: [...] encerram normas jurídicas de caráter infralegal e visam à ordenação uniforme do serviço administrativo. Seu campo de validade, porém, é restrito a setores específicos, destinando-se a orientar determinados agentes cometidos de atribuições especiais. Não desfrutam, como se vê, da generalidade própria das instruções ministeriais (2019, p. 119). Assim, sua função é a orientação de pessoas que possuem posições estratégicas ou especiais dentro da estrutura estatal. // Convênios Há dois tipos de convênios sobre as matérias de Direito Tributário: os que identificam a fiscalização e arrecadação de tributos, como é o caso do ITR - o Imposto Territorial Rural entre União e Municípios, e a troca de interesse fiscal entre os entes federados (EC nº 42/2003); e os tidos como normas complementares. Os convênios tidos como normas complementares são uma ferramenta importante na interpretação das leis e estão previstos nos arts. 199, 213 e 214 do CTN. Vigência e aplicação da legislação tributária Seção 3 de 5 A lei é válida quando for formal e materialmente constitucional; vigente quando encerrado seu ciclo de produção e esta for publicada, mas não revogada; e eficaz quando está apta a produzir os efeitos pretendidos quando de sua proposição. DIREITO TRIBUTARIO Para ser considerada eficaz, todavia, “é necessário também que a lei não tenha sido declarada inconstitucional pelo STF em sede de controle concentrado, ou suspensa pelo Senado Federal ou que tenha declaração de inconstitucionalidade pelo STF em sede de controle difuso” (ALEXANDRE, 2020, p. 298). É importante salientar que os casos de interpretação literal estão previstos no art. 111 do CTN (BRASIL, 1966) e de interpretação mais benigna no art. 122 do CTN (idem). Os casos de interpretação literal previstos no referido artigo se referem a determinados casos que se constituem como exceção, posto que a regra do CTN realiza o fato gerador e constitui o crédito tributário. Se a infração ocorrer, a penalidade deverá ser aplicabilidade ao contribuinte. VIGÊNCIA DAS LEIS TRIBUTÁRIAS Primeiramente, a Quadro 2 evidencia a diferença entre a vigência no tempo e a vigência no espaço. Quadro 2. Resumode vigência: tempo e espaço. A vigência da Lei Tributária é conceituada por Machado: Vigência é a aptidão para incidir, vaie dizer, para dar significação jurídica aos fatos. Para produzir efeitos jurídicos no plano abstrato. Lei vigente pode incidir e, assim, dar a seu suporte fático um significado jurídico. Se a lei é vigente e ocorre a DIREITO TRIBUTARIO situação nela prevista como hipótese de incidência, inevitavelmente incide (2019, p. 43). A partir do momento em que lei vigente cumpriu seu ciclo de produção e foi publicada, não poderá ser revogada, mesmo que tenha defeitos a serem corrigidos. Os arts. 100 e 101 do CTN (BRASIL, 1966), estabelecem, respectivamente, o prazo de entrada em vigor do art. 103 do CTN – atos normativos de autoridades administrativas, decisões de órgãos singulares e coletivos e convênios; bem como a vigência da legislação tributária se rege pela Lei de Introdução ao Código Civil e pelas demais leis em vigor, respeitados os ditames do referido diploma legal. Quadro 3. A aplicação da legislação tributária e os fatos geradores futuros e pendentes. Fonte: ALEXANDRE, 2020, p. 307. A legislação tributária tem aplicabilidade imediata sob fatos geradores futuros e pendentes (art. 105 do CTN – princípio da irretroatividade) e atos ou fatos pretéritos nos casos do art. 106 do CTN; todavia, não atinge fatos já consumados. // Aplicação retroativa CURIOSIDADE A Lei Tributária poderá retroagir quando esta for dita como “interpretativa”, ou seja, aquela que não inova, apenas visa DIREITO TRIBUTARIO explicar o sentido de algo (dispositivo de Lei Tributária). Entretanto, exclui-se a aplicação de penalidade em decorrência de alguma infração dos dispositivos interpretados (BRASIL, 1966). A lei antiga é aplicável a fatos acontecidos à época de sua ocorrência; assim, a regra denominada direito intertemporal será utilizada quando uma nova lei for promulgada em relação a assuntos que a lei anterior tratava e quando o fato ocorreu durante o tempo em que aquela era vigente, conforme art. 106 do CTN (BRASIL, 1966). Neste sentido, o art. 106, II do CTN enumera os casos em a que lei poderá retroagir e ser aplicada, desde que não tenha havido o julgamento definitivo. Todavia, uma lei mais branda que venha a reduzir as alíquotas de certo tributo só poderá ser aplicada para casos futuros. A retroatividade prevista neste artigo (art. 106 do CTN), segundo o STJ, não é aplicável em relação às multas de natureza administrativa (penalidade administrativa). Em caso de sanção às infrações tributárias, poderá ser aplicada a lei mais favorável ao acusado, levando em conta o princípio in dubio pro reo devido à determinação contida no art. 112 do CTN (BRASIL, 1966). Para compreendermos o que é fato gerador pendente, é preciso entender o conceito de fato gerador previsto no art. 116 do CTN: (a) Tratando-se de situação de fato, desde o momento em que se verifiquem as circunstâncias materiais necessárias a que produza os efeitos que normalmente lhe são próprios; (b) Tratando-se de situação jurídica, desde o momento em que esteja definitivamente constituída, nos termos do direito aplicável (BRASIL, 1966, n.p.). DIREITO TRIBUTARIO Assim, Machado relata a aplicabilidade da situação de fato e da situação jurídica apresentada no artigo em referência. Na situação de fato o fato gerador se considera ocorrido, consumado, fora, portanto, do alcance de lei que venha a surgir, no momento em que se verifiquem as circunstâncias materiais necessárias a que aquela situação de fato produza os efeitos que normalmente produz, porque lhe são próprios. Se é situação jurídica, o fato gerador se considera ocorrido no momento em que a mesma esteja definitivamente constituída, nos termos do direito a ela aplicável (2019, p. 99). Entende-se, portanto, que o fato gerador, dentro da esfera tributária, é uma situação de fato. Assim, fato gerador pendente é aquele que não foi consumado devido à ausência da conclusão de alguma das circunstâncias, fatos ou direitos (jurídicas), ou seja, teve início, mas não foi concluído. Por fim, os futuros nascerão quando determinada situação ocorrer. CURIOSIDADE O Imposto de Renda e os tributos com base na propriedade de bens (IPTU, ITR e IPVA) podem ser considerados como fatos geradores pendentes ou futuros devido à corrente doutrinária que se segue. Todavia, como se projetam ao longo de determinado tempo, são considerados fatos geradores periódicos. // A territorialidade e suas exceções DIREITO TRIBUTARIO A regra de fundamentação e aplicabilidade da legislação tributária é a territorialidade, ou seja, a vigência é aplicada dentro do espaço territorial do ente tributante que a promulgou. Assim, se o ente tributante é um munícipio situado no noroeste do Estado-membro, a vigência desta lei será restrita àquele ente federado. Alexandre menciona que “segundo o CTN, haverá também extraterritorialidade nos limites do que disponham o próprio Código ou outras normas gerais expedidas pela União” (2020, p. 301), como poderá ocorrer pelo desmembramento territorial de um ente federado, em que sua constituição em definitiva, salvo disposição em contrário, conforme previsto o art. 120 do CTN (BRASIL, 1966), é a territorialidade. Todavia, esta territorialidade possui exceções tipificadas no art. 102 do CTN (BRASIL, 1966), a extraterritorialidade nos limites em que é reconhecida nos convênios que participam os entes federados. VIGÊNCIA NO TEMPO (PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE) As Leis Tributárias terão o início de sua vigência postergadas através do princípio constitucional da anterioridade, segundo o art. 104 do CTN (BRASIL, 1966), elaborado à luz da Emenda Constitucional 18/1965 e compatível com a Constituição Federal, segundo Amaro (2019). Neste caminho, o art. 104, III do CTN salienta que, ao revogar a isenção concebida, isto aumenta um tributo e amplia a hipótese de incidência. Assim, os ditames do princípio da anterioridade deverão ser seguidos. Não seguem este princípio da anterioridade os DIREITO TRIBUTARIO tributos extrafiscais e o imposto de guerra previsto no art.153, I, II, IV e V e art. 154, II, ambos da Constituição Federal (BRASIL, 1988). Em atenção ao princípio da irretroatividade no CTN (art. 105), não há exceções legais (art. 150, III, “a”, da CF, de 1988) em que se possa cobrar tributos antes da entrada em vigência da lei que os tenha instituído ou majorado. Neste sentido, a lei que inova o ordenamento jurídico deverá seguir este princípio. Quadro 4. Decisão do STF sobre os princípios irretroatividade e anterioridade. Fonte: BRASIL, 1964, n.p. (Adaptado). A Constituição Federal trouxe consigo o princípio da anterioridade, vedando a cobrança do tributo no mesmo exercício em que a lei foi promulgada ou sofreu majoração. Há algumas exceções, entretanto: em regra, as leis que criem ou majorem tributos só poderão ser aplicadas no próximo exercício daquele que foi editado, como mencionado. Todavia, caso a lei nada mencione sobre a aplicabilidade do princípio da anterioridade, segue-se o prazo de 90 dias para a entrada de sua vigência. Como já dito, o art. 103 do CTN define diferentes prazos para normas complementares. // Vigência no espaço (Leis Estrangeiras) Leis Estrangeiras poderão ser aplicadas no país desde que haja um tratado internacional dispondo tal situação. Em relação à vigência DIREITO TRIBUTARIO da Lei Tributária fora do território nacional, Amaro (2019) salienta que não há extraterritorialidade da Lei Brasileira devido ao elemento de conexão utilizado, domicílio do contribuinte no país ou local da produção do fato ocorrido no país, mesmo a pessoa estando no exterior. Todavia, somente a União Federal é quem poderá subscrever os tratados internacionais, e o Congresso Nacional irá ratifica-los.