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24/04/2024, 12:49 A linguística textual https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04397/index.html?brand=estacio# 1/61 A linguística textual Prof. Roberto de Freitas Junior Descrição O campo de estudo da linguística textual (LT), os processos de textualização e discussão de práticas discursivas orais e escritas, resultantes da relação cultura e língua. Propósito Compreender os principais conceitos e contribuições da linguística textual a fim de ampliar o conhecimento linguístico e a competência escritora. Preparação Tenha em mãos ou consulte na internet um dicionário da área de estudos linguísticos, como o Dicionário de termos linguísticos, hospedado no Portal da Língua Portuguesa. Objetivos 24/04/2024, 12:49 A linguística textual https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04397/index.html?brand=estacio# 2/61 Módulo 1 O campo da linguística textual Identificar as principais características do campo da linguística textual. Módulo 2 Conceito de texto: processo, contexto e interação Reconhecer os conceitos de texto, cotexto e contexto na linguística textual. Módulo 3 Conhecimentos linguístico, textual e extralinguístico Identificar conhecimentos linguísticos e extralinguísticos na textualização. Módulo 4 Construção dos sentidos no texto: coerência textual Analisar a construção dos sentidos no texto a partir da coerência textual. 24/04/2024, 12:49 A linguística textual https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04397/index.html?brand=estacio# 3/61 Introdução Vamos estudar neste conteúdo alguns dos principais conceitos e objetivos da linguística textual, também conhecida como linguística do texto (LT). Destacaremos o desenvolvimento do conceito de texto, tratando da revisão dos principais processos envolvidos em sua construção, seja do ponto de vista linguístico, social ou cognitivo. Dessa forma, apresentaremos os conceitos principais relacionados ao desenvolvimento da textualização, voltando nossa atenção para a construção da coerência, ou seja, a formação do sentido global do texto. 1 - O campo da linguística textual Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car as principais características do campo da linguística textual. 24/04/2024, 12:49 A linguística textual https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04397/index.html?brand=estacio# 4/61 O desenvolvimento da linguística textual A linguística textual ou linguística do texto (LT) tornou-se um campo de investigação importante no Brasil e no mundo. Ao longo dos últimos anos, os estudos dedicados ao entendimento das questões referentes à multiplicidade de textos orais, escritos e sinalizados mostraram como os textos apresentam uma complexidade própria em função da expressividade e da comunicação bem-sucedida. Tal empreitada favorece, assim, a ampliação significativa de estudos sobre a construção do sentido em textos orais, escritos e sinalizados em línguas maternas e estrangeiras. Nesse sentido, essa mesma empreitada oferece subsídios, em particular, em relação ao ensino de línguas. Por meio da aplicação dos resultados de pesquisas na área da LT, é possível haver um maior empoderamento social daqueles que têm oportunidade de acesso a uma visão mais complexa e integral do texto. Sinalizados Textos elaborados em línguas de sinais, como a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS). Comentário Estamos nos referindo a uma visão que defende a estruturação textual como algo que extrapola o nível sentencial (por sua vez bastante complexo), estando comprometido também com questões voltadas para as relações social, histórica, cultural e ideologicamente determinadas. A produção do sentido por meio do texto é vista, assim, como um objeto complexo cujas variáveis linguísticas e não linguísticas determinam seu caráter final. Existem três fases do desenvolvimento da linguística textual. São elas: Até os anos 1970 Análise transfrástica. 24/04/2024, 12:49 A linguística textual https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04397/index.html?brand=estacio# 5/61 Agora, tratamento com mais detalhes de cada uma delas. A primeira fase da LT: a análise transfrástica Na primeira fase da linguística textual, que durou até os anos 1970, os pesquisadores de então se centravam na explicação dos mecanismos interfrásticos envolvidos na produção sentencial na produção textual. Naquele momento, o foco era o estudo das relações referenciais, priorizando aquelas pautadas na correferencialidade. Mecanismos interfrásticos Processos que estabelecem as sequências e articulações entre frases ou sentenças em uma relação de interdependência. O texto era visto como uma frase complexa, uma cadeia de pronominalizações ininterruptas, de pressuposições, ou uma sequência Anos 1970 Virada pragmática. Anos 1980 Virada cognitivista. 24/04/2024, 12:49 A linguística textual https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04397/index.html?brand=estacio# 6/61 de enunciados que poderiam assumir tal status. O foco, portanto, eram as relações anafóricas e catafóricas, ou seja, a articulação entre as sentenças, retomando por referência um termo anterior (anáfora) ou se referindo a um termo posterior (catáfora). Havia o projeto de se fazer uma gramática do texto, já que o texto era visto como uma unidade superior à sentença. De acordo com Marcuschi (1983) e Koch (2015), para que tal projeto se realizasse, as ideias seriam: Analisar as possibilidades combinatórias Determinar os princípios constitutivos de um texto Apontar critérios para sua delimitação Diferenciar suas diferentes espécies Na primeira fase da LT, o texto é visto como produto do ato comunicativo e do pensamento lógico, cabendo aos interlocutores apenas a captação das ideias transmitidas pelo produtor, sem levar em consideração suas experiências e seus conhecimentos já adquiridos. Trata-se de uma diferença importante para o que, com o tempo, tornou- se a LT. 24/04/2024, 12:49 A linguística textual https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04397/index.html?brand=estacio# 7/61 Podemos afirmar que a primeira fase se caracteriza pela necessidade de ir além do limite da própria frase para se dar conta de fenômenos, os quais, segundo Koch (1997, p. 68), incluem: A segunda fase da LT: a virada pragmática Na segunda fase da LT, ainda nos anos 1970, observamos a chamada “virada pragmática”, um movimento fortemente influenciado pela teoria dos atos de fala e pela filosofia da linguagem. Nesse sentido, os estudos no campo da LT passam a ser marcados pela necessidade de ir além da análise de aspectos sintáticos e semânticos, já que o texto não é mais visto como uma unidade formal. Diante do foco no processo comunicativo de comunidade linguística concreta, o contexto passa a configurar um fator importante de análise. Foi adotada uma abordagem de investigação linguística baseada em dois aspectos: Referenciação Seleção do artigo Concordância de tempos verbais Vários fatos de ordem prosódica Relação semântica entre frases não ligadas por conectivo 24/04/2024, 12:49 A linguística textual https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04397/index.html?brand=estacio# 8/61 Atos de fala Introduzido pelo filósofo britânico John Austin (1911-1960), o conceito de atos de fala aponta para a ação relacionada a determinada fala, a determinado uso da língua. Esse conceito indica, portanto, a relação entre o que se diz e o que se faz ou o que se deseja que seja feito por meio do ato de dizer, estabelecendo uma relação entre falas e feitos. Filoso�a da linguagem A filosofia da linguagem se volta para as relações entre pensamento, realidade e linguagem. Um importante filósofo da linguagem foi o austríaco Ludwig Wittgenstein (1889-1951). As bases da teoria dos atos de fala estão nos pensamentos de Wittgenstein e em sua preocupação com o uso da linguagem corrente como fonte para a solução de problemas filosóficos. No uso da língua Nos processosassociada a eles: Gênero discursivo Papel instrumental Tipologia textua mais associada História em quadrinho Divertir, contar histórias, criticar Narração Notícia Informar, verificar, criticar Narração, descrição, exposição Bula de remédio Apresentar instruções ou orientações Injunção Tabela: Função de tipos e gêneros textuais. Roberto de Freitas Junior. 24/04/2024, 12:49 A linguística textual https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04397/index.html?brand=estacio# 54/61 A produção e a compreensão linguística com base no significado são produzidas pela reunião dos seguintes fatores: A adequação social das formas linguísticas O papel instrumental dos gêneros discursivos ou textuais O uso de formas linguísticas apropriadas a determinadas funções comunicativas especificas O conhecimento textual revelado no domínio das características tipológicas textuais e dos próprios gêneros discursivos está profundamente comprometido, portanto, com a construção da coerência textual. A interação verbal Outro importante domínio que contribui bastante para a construção da coerência textual é o que diz respeito ao fato de a interação verbal ser o lócus da materialização, isto é, da prática, de valores e ideologias sociais estabelecidas. Comportamentos e ideologias que perpassam o pensamento social vigente são entendidos como formados e reformados pela e na linguagem. Dessa forma, podemos observar questões culturais e ideológicas presentes nos discursos serem materializadas em textos. Nesse sentido, a linguagem resulta e forma o contexto sócio-histórico mais amplo, constituindo os valores daquela sociedade. Tal fato novamente contribui para o entendimento dos propósitos (explícitos ou não) dos textos em termos ideológicos. Relembrando O fenômeno da coerência textual pode ser caracterizado por meio do princípio de interpretabilidade do texto, abrangendo os seguintes 24/04/2024, 12:49 A linguística textual https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04397/index.html?brand=estacio# 55/61 fatores: linguísticos, cognitivos e interacionais. A coerência determina quais elementos constituem a estrutura superficial do texto e de que modo eles se organizam na sequência linguística. A coerência abrange, no fim das contas, aquilo que determina a natureza do que entendemos por conhecimento sistêmico (linguístico), conhecimento textual e conhecimento de mundo. Além desses fatores, o conhecimento partilhado entre os interlocutores no ato da produção textual implica uma condição fundamental para a construção de sua coerência interna e externa. A situacionalidade, a informatividade, a intertextualidade, a intencionalidade e a aceitabilidade são alguns dos fatores que contribuem para a ativação de conhecimentos diversos, dizendo respeito à relação estabelecida entre o texto e o seu contexto imediato e global. A coerência na construção dos sentidos no texto Neste vídeo, o professor explica a inter-relação entre coerência e coesão na construção do sentido no texto e os fatores de coerência, destacando as funções da linguagem. 24/04/2024, 12:49 A linguística textual https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04397/index.html?brand=estacio# 56/61 Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Analise as afirmativas a seguir: I. A construção da coerência é um processo que também ocorre pela articulação entre as partes do texto, ou seja, por intermédio das relações orgânicas internas do texto, o que está relacionado com a coesão. 24/04/2024, 12:49 A linguística textual https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04397/index.html?brand=estacio# 57/61 II. A coerência deve ser compreendida a partir dos aspectos semânticos do texto, pois ela depende de cada parte do texto fazer sentido por si mesma, ou seja, isoladamente. III. A coerência está mais ligada à macroestrutura do texto, enquanto a coesão, ao nível estritamente linguístico, está mais associada à estrutura superficial dele. Está correto apenas o que se afirma em: Parabéns! A alternativa E está correta. A textualidade tem na coerência e na coesão textual um importante fundamento, pois um texto desconexo, desprovido de sentido e sem articulações orgânicas e adequadas atua contra o próprio conceito de texto, isto é, de tessitura. Assim, no contexto dos estudos da linguística textual, é necessário compreender a construção da coerência a partir da inter-relação entre coerência e coesão. Além disso, a coesão está mais ligada aos aspectos superficiais e especificamente linguísticos do texto; a coerência, aos aspectos macrotextuais e aos sentidos do texto. Questão 2 O conhecimento acerca das funções da linguagem pode contribuir para o processo de construção da coerência na produção e recepção do texto. Qual alternativa apresenta uma justificativa adequada para a importância das funções da linguagem na construção da coerência? A I. B II. C III. D I e II. E I e III. 24/04/2024, 12:49 A linguística textual https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04397/index.html?brand=estacio# 58/61 Parabéns! A alternativa B está correta. A coerência textual também está relacionada às funções da linguagem, pois essas funções correspondem a diferentes fatores de interação verbal, o que demanda a produção de um texto coerente com a expectativa e os elementos de cada situação de comunicação. Por conta disso, não é correto justificar a importância das funções da linguagem apenas pelo aspecto classificatório, gramatical ou linguístico nem deixar de reconhecer que o texto é dialógico e pode conter mais de uma intencionalidade ou função da linguagem. A As funções da linguagem possibilitam uma taxonomia do texto, ou seja, a classificação formal de cada tipo de texto. B As funções da linguagem correspondem a diferentes objetivos ou intenções na interação verbal, constituindo um aspecto pragmático que atua na produção do sentido. C As funções da linguagem permitem rotular cada texto de acordo com sua estrutura interna, consistindo em uma gramática do texto. D A coerência textual depende das funções da linguagem, porque o sentido do texto é estabelecido por uma única intencionalidade, objetivo ou propósito. E A linguagem possui um fator de interação verbal em cada situação de comunicação, o que caracteriza o texto como uma construção monológica. 24/04/2024, 12:49 A linguística textual https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04397/index.html?brand=estacio# 59/61 Considerações �nais Estudamos neste conteúdo alguns dos principais pontos desenvolvidos no âmbito dos estudos da linguística do texto, como os processos de textualização, o conceito de textualidade e o papel dos conhecimentos sistêmico, textual e de mundo para a construção do texto. Pelo conjunto de informações que trabalhamos, vimos que a linguística textual é uma área de fundamental importância para a educação linguística em língua materna e estrangeira por colocar em destaque aspectos basilares para o desenvolvimento do usuário da língua, seja qual for a sua modalidade. Além disso, aprendemos que a linguística textual vai além do estudo isolado das frases, colocando o texto no centro das atenções. Podcast Neste podcast, o professor aborda os principais conceitos da linguística textual, destacando as relações de cotexto e contexto, a atuação dos conhecimentos linguísticos e extralinguísticos na textualidade e a coerência textual na produção de sentido. Explore + Leia os seguintes textos para continuar e aprofundar seus estudos sobre LT: 24/04/2024, 12:49 A linguística textual https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04397/index.html?brand=estacio# 60/61 O desenvolvimento da linguística textual no Brasil, de Ingedore Koch, publicado na revista Delta e disponível na plataforma Scielo. Linguística textual e ensino de língua: construindo a textualidade na escola, de Maria do Rosário Gregolin,publicado pela revista Alfa e disponível no portal de periódicos da Unesp. A linguística textual e a construção do texto: um estudo sobre os fatores de textualidade, de Max Rocha e Maria Silva, publicado na revista A cor das Letras e disponível no portal de periódicos da UEFS. A linguística textual e seus mais recentes avanços, de Paulo Galembeck, publicado nos Anais do IX CNFL e disponível no portal do CiFEFIL. Referências BEAUGRANDE, R. New foundations for a science of text and discourse: cognition, communication, and freedom of access to knowledge and society. Nova Jersey: Alex, 1997. BRASIL. Base Nacional Comum Curricular: educação é a base. Ensino Médio. Brasília: Ministério da Educação, 2018. BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: língua portuguesa. Brasília: Secretaria de Educação Fundamental; MEC/SEF, 1998. JAKOBSON, R. Linguística e comunicação. São Paulo: Cultrix; Universidade de São Paulo, 1969. KOCH, I. V. Introdução à linguística textual: trajetória e grandes temas. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2015. KOCH, I. V. Linguística textual: retrospectivas e perspectivas. Alfa. v. 41. 1997. p. 67-78. KOCH, I. V.; TRAVAGLIA, L. C. Texto e coerência. São Paulo: Cortez, 1999. MARCUSCHI, L. A. Da fala para a escrita: atividades de retextualização. São Paulo: Cortez, 2001. MARCUSCHI, L. A. Linguística de texto: o que é e como se faz. Recife: UFPE, 1983. 24/04/2024, 12:49 A linguística textual https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04397/index.html?brand=estacio# 61/61 MARCUSCHI, L. A. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola Editorial, 2008. Material para download Clique no botão abaixo para fazer o download do conteúdo completo em formato PDF. Download material O que você achou do conteúdo? Relatar problema javascript:CriaPDF()interacionais em situações reais de comunicação As concepções de texto são modificadas, pois o texto deixa de ser tratado como um produto e passa a ser visto como um instrumento interativo. Essa visão de texto obviamente aproxima-se de uma abordagem de linguagem de base sociointeracional que era amplamente difundida. Vamos nos lembrar de que essa visão sociointeracional compreende a linguagem como experiência de interação no contexto das relações sociais, sendo uma abordagem que se afasta da visão formalista ou estrutural de língua. 24/04/2024, 12:49 A linguística textual https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04397/index.html?brand=estacio# 9/61 A terceira fase da LT: a virada cognitivista Na década de 1980, acontece o que chamamos de “virada cognitivista” na LT. Existe uma consciência de que toda ação, incluindo-se, obviamente, a textual, é necessariamente acompanhada de processos de ordem cognitiva. Esses aspectos cognitivos não podem ser descartados de qualquer tipo de investigação preocupada com a descrição de processos. O entendimento era de que, na produção/compreensão textual, é preciso dispor de modelos mentais, operações e tipos de operações mentais que subjazem a toda prática. Esses modelos e operações deveriam ser observados para a análise no âmbito da LT (KOCH, 2015). A partir da terceira fase, que acabou sendo uma extensão da segunda, duas visões ou concepções passam a predominar: O texto como resultado de processos mentais 24/04/2024, 12:49 A linguística textual https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04397/index.html?brand=estacio# 10/61 A comunicação como fruto dos conhecimentos prévios dos interlocutores A cognição é analisada por um olhar sociocultural e interacional, uma visão sociocognitivista, segundo a qual o texto é tido como um complexo processo sociocognitivo concebido a partir de relações de sentido construídas dialogicamente. Essa discussão faz referência direta ao trabalho do linguista norte- americano Robert de Beaugrande, que apresenta a seguinte definição: O texto é um evento comunicativo em que convergem ações linguísticas, sociais e cognitivas. (BEAUGRANDE, 1997, p. 10) Desse modo, qualquer manifestação linguística que represente uma fatia de sentido intencional, coerente, social e estruturalmente adequada de uso da língua será um texto. Nesse sentido, enunciados simples ou complexos, orais ou escritos, formais ou informais, se estiverem enquadrados nos critérios linguísticos, sociais e cognitivos de Beaugrande, serão textos. Os fatores linguísticos, sociais e cognitivos Perceba que, na definição de Beaugrande, três fatores (ou ações) convergem para a ideia de texto: fatores linguísticos, sociais e cognitivos. Veja cada um deles: 24/04/2024, 12:49 A linguística textual https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04397/index.html?brand=estacio# 11/61 Observado no referencial de Beaugrande (1997), o aspecto linguístico pode ser exemplificado no nível estrutural. Tal nível está relacionado à capacidade de combinar itens de forma a produzir sentenças, expressões gramaticais comunicativamente eficazes, a partir dos processos de textualização atuantes na formação coesiva e coerente do conjunto textual. O nível estrutural está fortemente ligado à visão da primeira fase da própria LT. Ao lado das habilidades gramaticais, o fator social diz respeito às escolhas e às decisões sobre palavras, sentenças e expressões condizentes e adequadas às situações comunicativas diversas nas quais nos encontramos todos os dias. Tais situações requerem usos relativamente definidos sobre como usar a língua em termos de formatações e expectativas social e culturalmente convencionalizadas. O aspecto social, nesse sentido, se sobrepõe ao linguístico, uma vez que a produção do texto implica a inter-relação entre contexto sociocomunicativo e a forma com que se materializa a língua (ou, ao menos, como se espera que ela se materialize). Traz implicações referentes, principalmente, à maneira como apresentamos, retomamos ou mudamos assuntos ao longo do curso da produção discursiva. Estamos a todo o tempo apostando em algo que mantemos de conhecimento compartilhado com nossos interlocutores. Também tentamos o tempo todo apresentar nosso ponto de vista e convencer o outro de que estamos corretos. Assim, introduzimos temas, palavras e expressões, apostando no que o outro sabe e/ou no que precisa saber na tentativa de sermos novamente comunicativamente eficazes. Todo esse processo ocorre a partir de princípios de coerência com o que sabemos por meio das nossas experiências de vida em geral. O fator cognitivo também aponta Fator linguístico Fator social Fator cognitivo 24/04/2024, 12:49 A linguística textual https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04397/index.html?brand=estacio# 12/61 para operações mentais importantes, como, por exemplo, a categorização e a analogia. Desse modo, a compreensão, a leitura e a produção de um texto envolvem múltiplos fatores que atuam ao mesmo tempo em uma rede complexa de forças que se sobrepõem e formam todo e qualquer texto em qualquer situação interacional de uso da linguagem. Tanto na língua falada quanto na escrita, estamos o tempo todo acessando conhecimentos linguísticos, textuais, sociais e contextuais, entre outros, para sermos comunicativamente bem-sucedidos. Para a LT, o foco do entendimento da linguagem torna- se a própria interação verbal e o papel desempenhado pelos interlocutores inseridos em relações sociais específicas que hão de definir a forma com que ela acontecerá. Nesse sentido, a interação verbal-discursiva se torna assunto de maior importância para a análise linguística no âmbito da LT por se tratar de uma realidade fundamental da língua e por ser derivada e derivante do contexto sociocultural no qual ela emerge e representa. A interação verbal-discursiva torna-se, portanto, o lócus para o entendimento do funcionamento da linguagem em todos os sentidos. Da formação de novos enunciados à confirmação de usos daqueles já estabelecidos, é na interação verbal (espaço em que a negociação de significados acontece) que a língua se materializa graças a usos de enunciados concretos e reveladores dos sentidos negociados, ratificados e retificados pelos agentes verbais. Em linhas gerais, a ideia central da LT é a seguinte: 24/04/2024, 12:49 A linguística textual https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04397/index.html?brand=estacio# 13/61 É na interação verbal que a língua acontece A língua só pode ser de fato descrita e entendida nesse contexto Essencialmente composto de maneira ativa pelos interlocutores em situação real de comunicação, o processo de negociação de significados revela intencionalidades, crenças e pensamentos subjacentes a contextos sociais, culturais e ideológicos maiores espelhados na linguagem e ratificados (ou não) pela linguagem. Os aspectos comunicativo e social da linguagem O aspecto comunicativo da linguagem é visto, assim, como a mola propulsora de sua formação, e não como elemento secundário e distante da gênese da linguagem. O dialogismo implicado nas interações verbais garante que tanto a agentividade quanto as atitudes e os pensamentos das partes envolvidas na interação verbal sejam igualmente responsáveis pela produção final de sentidos e crenças de toda e qualquer materialização textual, seja ela oral, sinalizada ou escrita. Assim, no curso da negociação de significados, a ação verbal, seja ela qual for, entre falantes, autores, leitores ou sinalizantes resultará nos sentidos abstraídos a partir do próprio dialogismo refletido na interação sociodiscursiva. A relação entre o eu e o outro é central para o entendimento da natureza da linguagem. No uso da língua, os agentes da produção dialógico-discursiva expressam-se em relação e em função do outro. Dessa forma, as múltiplas situações sociais, ou seja, contextos interacionaisde naturezas diversas, implicam especificidades que impactam a forma como a língua é embalada via produção de enunciações concretas em discursos reais. 24/04/2024, 12:49 A linguística textual https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04397/index.html?brand=estacio# 14/61 Nesse cenário, o entendimento de que os gêneros do discurso estão no cerne da natureza da linguagem é extremamente importante. No processo de negociação de significados, isto é, no próprio processo de uso da linguagem, há sempre a centralidade dos gêneros e sua relação com a função comunicativa. O domínio dos múltiplos gêneros (falados, escritos ou sinalizados) do discurso é uma questão diretamente relacionada à produção de sentidos, à expressividade, ao empoderamento e ao trânsito comunicativo no âmbito social macro. Estamos o tempo todo produzindo diferentes gêneros discursivos em nossas interações sociais. Somam-se ainda a tal condição os papéis socioculturais estabelecidos entre os agentes produtores da linguagem via dialogismo. É nesse cenário e sob tais condições que podemos entender a natureza e o funcionamento da linguagem. Para a LT, a linguagem é vista, portanto, como um objeto analisável a partir das situações concretas de comunicação e de seus condicionamentos socioculturais diversos. Nesse sentido, saber (e aprender!) uma língua é estar constantemente operando em tais condições na busca da expressividade e, em escala maior, da manutenção ou da conquista de espaços mais confortáveis nas relações de poder. Por consequência, a observação sobre a forma com que os discursos diversos se materializam na sociedade está diretamente ligada a essa discussão. O entendimento de que a linguagem precisa ser vista a partir do lugar social em que se realiza nos permite observar, por exemplo, alguns aspectos importantes, como: 24/04/2024, 12:49 A linguística textual https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04397/index.html?brand=estacio# 15/61 A forma como o discurso midiático pode determinar e/ou ratificar as relações de poder existentes. A maneira como o discurso religioso pode ser construído a partir de relações basicamente assimétricas. Quem orienta e é orientado pelo discurso político e o modo como esse discurso se aproxima ou se distancia da fala popular em função da eficácia na comunicação com o eleitor. 24/04/2024, 12:49 A linguística textual https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04397/index.html?brand=estacio# 16/61 Implicações da LT no ensino- aprendizado de língua Entender lugares de fala, intenções, valores socioculturais e manejos de linguagem na luta nas relações de poder é uma das consequências naturais para quem sai de um estado de alienação para o de percepção de um ser pertencente e construído na e pela linguagem dentro de seu espaço social e no contexto de suas condições. Toda essa discussão desemboca de maneira particular em propostas educacionais que visam ao desenvolvimento do aprendiz como cidadão crítico na e pela linguagem. Tornam-se particularmente importantes as propostas de ensino de línguas maternas e adicionais que se preocupam em formar indivíduos conscientes das relações materializadas na linguagem e que podem perpetuar diferenças sociais que trazem prejuízos a certas populações. Um ponto importante para a LT diz respeito aos processos de textualização nos contextos diversos em que a língua é usada. Comentário Apesar de a língua falada e a escrita serem tratadas por muitos como modalidades cujos usos linguísticos são absolutamente distintos, na prática, em busca do sucesso e da eficácia comunicativa, é possível verificar uma grande sobreposição de gêneros e formas linguísticas entre as duas modalidades. Os múltiplos fatores atuantes na formação do texto falado influenciam a forma como o texto escrito pode ocorrer – e vice-versa. A análise da língua com base na produção textual oferece uma forma potente de entendimento sobre seu funcionamento, assim como sobre o que se sabe ao falar uma língua, no – e para além do – nível sentencial. Assim, é possível delimitar pontos observáveis sobre o conhecimento linguístico a partir de uma abordagem que focalize a análise da produção textual. Confira alguns desses pontos: A variação linguística Os gêneros discursivos 24/04/2024, 12:49 A linguística textual https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04397/index.html?brand=estacio# 17/61 As intenções e as implicaturas pragmáticas da produção As relações sobre organização tópica e progressão temática O funcionamento autêntico do sistema por parte de falantes reais Os fatos históricos linguísticos e extralinguísticos re�etidos no uso O tratamento da capacidade de argumentação, resumo e ampliação de textos O funcionamento da língua em seus diferentes níveis (morfossintático, fonológico, semântico e pragmático- discursivo) 24/04/2024, 12:49 A linguística textual https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04397/index.html?brand=estacio# 18/61 Os itens acima abordados apresentam um panorama sobre alguns dos diferentes e mais importantes pontos no campo de estudo da LT ao longo do tempo. Podemos observar que, em diferentes fases, os estudiosos da LT dedicaram-se ao entendimento do texto a partir de diversas perspectivas. As contribuições advindas da LT são inúmeras, destacando-se particularmente no ensino de línguas e na contribuição para um engajamento mais substancial dos alunos em suas práticas linguageiras. A linguística textual Neste vídeo, o professor apresenta as principais características e pressupostos teóricos da linguística textual, destacando as três fases de seu desenvolvimento e os fatores linguísticos, sociais e cognitivos do texto. 24/04/2024, 12:49 A linguística textual https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04397/index.html?brand=estacio# 19/61 Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 É possível identificar três momentos no desenvolvimento da linguística textual: cada um deles se concentra em determinados conceitos e aspectos da linguagem e do texto. Na terceira fase, a partir dos estudos de Beaugrande, observa-se uma concepção de texto que apresenta alguns critérios que devem ser levados em conta na análise do texto. Que critérios são esses? A Sociais, cognitivos e normativos. 24/04/2024, 12:49 A linguística textual https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04397/index.html?brand=estacio# 20/61 Parabéns! A alternativa C está correta. Beaugrande propõe uma definição de texto na qual as ações linguísticas, sociais e cognitivas convergem para a realização da comunicação. O texto é compreendido como algo complexo no qual essas ações se articulam de modo dialógico em um processo sociocognitivo e linguístico. Com isso, fatores sociais, cognitivos e linguísticos interagem na formação do texto, sendo, por isso, fatores de análise na LT. Questão 2 A linguística textual traz algumas implicações para o ensino de língua. Considerando um ensino que possua uma base na LT, no que diz respeito à compreensão de textos em língua materna ou adicional, pode-se afirmar que B Linguísticos, normativos e sociais. C Linguísticos, sociais e cognitivos. D Linguísticos, sociais e ortográficos. E Normativos, sociais e comunicacionais. A defende-se a tese de que a compreensão de textos em língua adicional é inviável e deficitária. B os gêneros discursivos são abordados, e a análise linguística é impedida. C busca-se a adesão ao conceito formal ou estruturalista de texto. 24/04/2024, 12:49 A linguística textual https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04397/index.html?brand=estacio# 21/61 Parabéns! A alternativa E está correta. A exposição a diferentes tipos de texto é premissa básica do ensino para a LT, além do trabalho com ele a partir das diversas situações de uso da língua. Desse modo, uma abordagem formalista do texto é superada, enquanto os gênerosdiscursivos passam a ser um dos recursos trabalhados sem que, com isso, se elimine a análise linguística. 2 - Conceito de texto: processo, contexto e interação Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer os conceitos de texto, cotexto e contexto na linguística textual. As relações que tecem o texto É bastante conhecida a observação de que a palavra “texto” é etimologicamente oriunda da mesma fonte da qual se origina a palavra “tecido”. O vocábulo latino textum dá origem à palavra “texto” no D é esperado um sucesso comunicativo na análise linguística e não dos gêneros. E diferentes tipos de textos e contexto de uso da língua são expostos. 24/04/2024, 12:49 A linguística textual https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04397/index.html?brand=estacio# 22/61 português a partir da ideia de trama, de um conjunto coesivo organizado por princípios internos que compõem um todo de sentido final coerente e refinado. A associação entre as palavras “tecido”, “trama” e “texto” parece ser mesmo inevitável e muito útil para se entender o modo como a tessitura, seja a do tecido ou a do texto, acontece. O conceito de tessitura aqui adotado aponta para a ideia de um conjunto harmônico, o qual, milimetricamente desenhado e organizado, é o resultado de uma produção que requer conhecimento específico sobre relações internas e externas referentes a esse mesmo produto. Nesse sentido, tessitura é um sinônimo para o que chamamos de textualidade. O texto será sempre resultado de, pelo menos, dois tipos de relações: Juntas, essas relações são responsáveis pela produção de um todo de sentido único e particular. Em termos técnicos, referimo-nos aqui às relações cotextuais e às contextuais que interagem na produção do conjunto textual e de sua textualidade: Relações linguísticas e estruturais Relações cotextuais Relações situacionais e sociocognitivas Relações contextuais As relações cotextuais dizem respeito às possibilidades de ligações intra e intersentenciais que produzem efeitos lógicos e possíveis de sentido. Já as relações contextuais referem-se à produção de sentido Relações linguísticas e estruturais Relações situacionais e sociocognitivas 24/04/2024, 12:49 A linguística textual https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04397/index.html?brand=estacio# 23/61 em situações sociocomunicativas específicas no contexto social, histórico e culturalmente marcado, além da própria coerência interna das informações providas no texto. Marcas cotextuais e contextuais Confira a imagem que reproduz uma conversa que acontece em um aplicativo de mensagem: Reprodução de conversa em aplicativo de mensagem. O gênero conversa desenvolvido nesse aplicativo possui natureza híbrida, pois carrega características cotextuais e contextuais da escrita e da fala ao mesmo tempo. Pela leitura do texto, vemos que se trata de uma conversa entre uma avó e seu neto. A relação interpessoal em questão prevê comentários e expressões do tipo “Você nem comeu”, “Ta (sic) ventando leva agasalho” e o uso das formas “vó” e “vo”, entre outros exemplos. Trata-se de informações contextuais que indicam a marca do contexto sociocomunicativo maior. 24/04/2024, 12:49 A linguística textual https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04397/index.html?brand=estacio# 24/61 Verificamos, portanto, a presença marcante do registro informal, algo típico da fala e das relações de parentesco mais próximas. Observamos no conteúdo da fala da avó uma preocupação com a alimentação e a saúde do neto, uma atitude usual de quem cuida do outro, e assim por diante. Encontramos, em suma, diversas marcas que representam características contextuais desenvolvidas nesse pequeno trecho da conversa, tais como: As escolhas lexicais A de�nição de registro O tema dos assuntos Por outro lado, se observarmos com cuidado, veremos informações cotextuais nas seguintes marcas: O artigo de�nido “a” em “da Brastemp” e em “a Brastemp” O apagamento do sujeito na frase “deve ser boa mesmo” O uso do adverbial “lá” Essas informações são cotextuais porque estabelecem relações internas entre os itens do texto. O uso do artigo “a” reflete a suposição da informação Brastemp na primeira frase (já que as “geladeiras” eram o assunto) e a retomada do assunto, já conhecido no discurso, na segunda frase. 24/04/2024, 12:49 A linguística textual https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04397/index.html?brand=estacio# 25/61 A elipse do sujeito também indica um conhecimento da informação prévia (erroneamente interpretada como Holanda), o que leva a uma não necessidade de recuperação textual via repetição. Da mesma forma, o uso de “lá” indica uma informação já conhecida, presumida. O pronome dêitico faz referência (não física, apesar de espacial) ao termo “reunião”. É desse conjunto de informações cotextuais e contextuais que se desenvolve a trama do texto. O processo de textualização confere ao conjunto da obra sua textualidade, isto é, a harmonização dos sentidos dialogicamente construídos. Uma sequência de frases como as apresentadas demonstra a complexa interação de aspectos cotextuais e contextuais inerentes à formação da tessitura, da textualidade, do sentido final do texto. A textualidade e seus processos Os textos podem ser orais, escritos e sinalizados, sendo resultantes de processos complexos e inerentes que chamamos de processos de textualização. Tais processos garantem, como produto final, a textualidade, o todo de sentido, a mensagem final. Questões estruturais e situacionais/contextuais interagem na produção dos sentidos, na emergência do significado negociado no processo sociointeracional. Adaptado do trabalho de Marcuschi (2008), o esquema adiante destaca a interação dos fatores de textualização, partindo ainda do princípio que coloca os interlocutores como pontos de partida para a formação do texto em si e segundo a atuação de tais princípios: 24/04/2024, 12:49 A linguística textual https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04397/index.html?brand=estacio# 26/61 Gráfico: Esquema de textualidade. O esquema salienta os dois lados da constituição da textualidade: Sua configuração formal, linguística; Sua configuração comunicativa, que alcança os níveis do conhecimento textual, social e de mundo em geral. No grupo dos fatores de configuração linguística, estão os cotextuais: a coesão e a coerência. No grupo daqueles relacionados à situação comunicativa, estão os fatores contextuais: a intencionalidade, a aceitabilidade, a intertextualidade, a informatividade e a situacionalidade. Falaremos brevemente sobre tais fatores a seguir. Coesão A coesão consiste nas relações que geram a progressão textual baseada na forma. Em termos gerais, é possível afirmar que há dois tipos de macroprocessos coesivos: 24/04/2024, 12:49 A linguística textual https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04397/index.html?brand=estacio# 27/61 Diz respeito às relações de sentido oriundas das relações semânticas estabelecidas no nível do texto. Recursos, como a sinonímia, a hiperonímia, a elipse, a referenciação pronominal e o uso de advérbios, exemplificam tais relações. Dois tipos importantes de relações de sentido estabelecidas na coesão referencial são a anáfora e a catáfora. A anáfora refere- se a relações de sentido estabelecidas retrospectivamente entre itens atualizados e referentes anteriores; a catáfora, a relações de sentido de natureza mais prospectiva entre itens atualizados e informações do porvir. Possui uma natureza mais gramatical, relacionada a recursos de sequenciação calcados em elementos conectivos e que permitem a continuidade das ideias. Coerência A coerência é o processo de textualização referente à conexão de informações e produção de sentidos no nível mais conceitual. As relações de sentido se manifestam não só entre os enunciados em geral por diferentes aspectos coesivos, mas também de maneiraglobal, não localizada, a partir de aspectos cognitivos, pragmáticos, conceituais e do próprio conhecimento de mundo dos interlocutores. É no nível da coerência, afinal, que itens diversos atuam/acionam o conjunto de conhecimentos do interlocutor para a construção do sentido final do texto. Intencionalidade e aceitabilidade A intencionalidade refere-se especificamente ao locutor, ao produtor do texto e às suas pretensões e intenções identificadas na leitura literal e nas próprias implicaturas textuais e suas sutilezas. A aceitabilidade, por Coesão referencial Coesão sequencial 24/04/2024, 12:49 A linguística textual https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04397/index.html?brand=estacio# 28/61 outro lado, é mais centrada no receptor e na sua habilidade de maior ou menor apreensão de um todo coeso e coerente provido de significado. Tanto a intencionalidade quanto a aceitabilidade são fatores que se constituem por meio do princípio de cooperação entre os interlocutores, pois quem produz um texto tem sempre a intenção de que ele seja compreendido, assim como quem o recebe espera que o texto faça sentido. Situacionalidade Um aspecto importante para a construção da textualidade é o fator situacionalidade, o qual, por sua vez, diz respeito à relação do evento textual com a situação social/cultural maior. A situacionalidade refere- se ao conjunto de fatores que torna um texto essencial em uma situação de comunicação corrente ou passível de ser constituída. Um texto sempre será adequado a uma ou outra situação sociocomunicativa específica, assim como a quebra das expectativas referentes à adesão contextual também pode comprometer a construção do sentido, da textualidade. A adequação ao contexto sociocomunicativo diz respeito ainda ao uso apropriado de gêneros discursivos em situações associadas à sua convencionalização de uso. Intertextualidade Atém-se ao caráter relacional existente entre dado texto e os outros textos aos quais fomos previamente expostos na nossa experiência com o uso da língua. Como aspecto interrelacional entre formas de linguagem, a intertextualidade é identificada em diferentes contextos, podendo estar espelhada nas relações entre textos diferentes, textos e imagens etc. 24/04/2024, 12:49 A linguística textual https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04397/index.html?brand=estacio# 29/61 A intertextualidade envolve as diversas maneiras pelas quais a produção e a recepção de um texto dependem do conhecimento prévio de outros conhecimentos. Ambas estão relacionadas a fatores que tornam a utilização de um texto dependente de um ou mais textos previamente existentes. Informatividade O último processo de textualização é a informatividade. Como tal, ela se refere à coerência prevista na expressividade do texto e no desenvolvimento dos tópicos eleitos e conteúdos da produção textual. A produção de sentidos vai além das unidades informacionais imediatamente identificadas em um texto. Ela se encontra, sobretudo, na junção de tais unidades às implicaturas, às ideologias e às escolhas em geral que serão responsáveis pela criação da informatividade de um texto, seja ele oral, escrito ou sinalizado. A informatividade também está relacionada ao grau de novidade e previsibilidade sobre os tópicos contidos em um texto. Ela pode, com isso, dificultar ou facilitar sua compreensão. Gêneros do discurso, letramento e oralidade O conceito de gênero discursivo e sua fluidez de uso são um ponto importante para o entendimento da relação existente entre processo, contexto e interação no curso da produção textual. Na prática, porém, é preciso falar de dois pontos importantes. O primeiro ponto concerne ao próprio conceito de gênero discursivo, que aponta para usos linguísticos relativamente estáveis e previstos em certos contextos interacionais. 24/04/2024, 12:49 A linguística textual https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04397/index.html?brand=estacio# 30/61 Desse modo, gêneros tidos como mais associados à oralidade, como a conversação, por exemplo, ou aqueles mais ligados ao letramento, como o texto acadêmico, podem ser encontrados em contextos não necessariamente comuns para seu uso, fator que, aliás, é muito comum. O trabalho Da fala para a escrita: atividades de retextualização (MARCUSCHI, 2001) estabelece justamente a necessidade de reconhecimento da distinção de usos linguísticos de gêneros orais e escritos. Nele, o autor indica o contínuo existente entre os padrões de usos da língua socialmente orientados para se materializarem de formas específicas em textos escritos e orais, desfazendo a visão dicotômica rígida que divide tanto a língua falada da escrita quanto as práticas de letramento das práticas de oralidade. Este esquema representa tal pensamento: Gráfico: Fala e escrita no contínuo dos gêneros textuais. Objetivamente, o autor apresenta uma proposta que dilui a visão de que um gênero pertence à fala ou à escrita, mostrando que os gêneros se espraiam na língua de modo bem fluido. Exemplo Apesar de carregar muitas marcas de um texto escrito formal prototípico, uma palestra acadêmica é um texto que se dá em um contexto oral. Trata-se, assim, de uma prática de oralidade. Da mesma forma, uma conversa em aplicativo de conversa, como a que vimos acima, apesar de ocorrer em um contexto escrito, desenvolve-se a partir de processos típicos da oralidade sem deixar de ser uma prática de letramento. Claramente, um dos suportes teóricos que sustenta a proposta de Marcuschi é a ideia de que a língua (o texto) não pode ser vista distante dos contextos de uso nos quais ela se materializa e se constitui de uma O segundo – que, de certa forma, relativiza o primeiro – mostra que, embora seja possível, por um lado, falar da prototipicidade de gêneros discursivos, há, por outro, uma vasta possibilidade de usos dos gêneros de modo fluido e híbrido, os quais não estão necessariamente comprometidos com as marcas prototípicas de cada grupo. 24/04/2024, 12:49 A linguística textual https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04397/index.html?brand=estacio# 31/61 ou outra forma. A língua e o texto, em suma, estão relacionados com um contexto de interação. Dessa forma, as práticas de oralidade e letramento são vistas como áreas complementares e macroespaços de práticas sociais e culturais. O letramento envolve as diversas práticas de escrita na sociedade; a oralidade, as práticas sociais orais e interativas. Tais práticas se apresentam sob variadas formas ou gêneros textuais, podendo ser realizadas de modo informal ou formal nos mais variados contextos de uso. Oralidade e letramento são dois pontos de uma escala nos quais se encontram múltiplas possibilidades de realizações textuais orais e escritas que podem ser prototipicamente mais ou menos afastadas dos modelos que representam o texto escrito formal e a informalidade da conversação. No fim das contas, textos escritos podem apresentar características de oralidade – e vice-versa. Na relação existente entre processo, contexto e interação na produção textual, ocorrem todas estas questões: Fatores de textualização e textualidade; Macroprocessos de usos de gêneros em práticas de oralidades; Letramentos diversos e complementares. Conceito de texto: processo, contexto e interação 24/04/2024, 12:49 A linguística textual https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04397/index.html?brand=estacio# 32/61 Neste vídeo, o professor apresenta as relações e marcas cotextuais e contextuais na produção da textualidade, os diferentes processos textuais. 24/04/2024, 12:49 A linguística textual https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04397/index.html?brand=estacio# 33/61 Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 A textualidade resulta da articulação entre as relações linguísticas e estruturais, por um lado, e as situacionais e sociocognitivas,por outro. Sendo assim, assinale a alternativa que apresenta uma afirmativa correta acerca dessas relações. Parabéns! A alternativa C está correta. A Essas relações correspondem apenas às relações contextuais. B Essas relações correspondem apenas às relações cotextuais. C As relações cotextuais correspondem a aspectos linguísticos e estruturais. D As relações cotextuais correspondem a aspectos situacionais e sociocognitivos. E As relações cotextuais correspondem a aspectos linguísticos e situacionais. 24/04/2024, 12:49 A linguística textual https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04397/index.html?brand=estacio# 34/61 A textualidade ou tessitura é um processo que se dá a partir das relações cotextuais e contextuais. As cotextuais dizem respeito a aspectos internos do texto e à dimensão linguística e estrutural, enquanto as contextuais se referem a aspectos externos, como, por exemplo, a situação de comunicação e a dimensão sociocognitiva. A integração entre essas relações é que contribui para a formação do texto. Questão 2 Analise as afirmativas acerca dos processos textuais: I. A textualidade implica tanto a configuração formal ou linguística quanto a configuração comunicativa, abrangendo diferentes tipos de conhecimento, como o conhecimento textual, social e de mundo. II. A textualidade é um processo que alcança uma configuração estrutural da língua caracterizada pelo predomínio do conhecimento textual, sem haver uma participação do conhecimento prévio ou um conhecimento de mundo. III. Os fatores cotextuais estão presentes no processo da textualidade, fazendo parte da configuração linguística, uma das configurações que resultam no texto. IV. Os fatores contextuais correspondem à configuração formal na textualidade, articulando-se com a configuração comunicativa, a qual, por sua vez, está relacionada com os aspectos estruturais ou linguísticos do texto. Está correto apenas o que se afirma em: A I e II. B I e III. C I e IV. D II e III. E III e IV. 24/04/2024, 12:49 A linguística textual https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04397/index.html?brand=estacio# 35/61 Parabéns! A alternativa B está correta. Há duas configurações que se relacionam na textualidade: a configuração formal (linguística) e a comunicativa. Os fatores cotextuais correspondem à configuração formal; os contextuais, à configuração comunicativa. 3 - Conhecimentos linguístico, textual e extralinguístico Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car conhecimentos linguísticos e extralinguísticos na textualização. Conhecimento sistêmico ou linguístico Abordaremos os conceitos de conhecimento sistêmico, conhecimento textual e conhecimento de mundo que constam nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) de língua materna e estrangeira (BRASIL, 1998) para entendermos o que acontece quando interpretamos ou produzimos um texto. A ativação de conhecimentos linguísticos e extralinguísticos (sociais e cognitivos) é bem representada por esses conceitos. Interpretar, ler, compreender e produzir sentidos a partir do uso de uma língua requerem um 24/04/2024, 12:49 A linguística textual https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04397/index.html?brand=estacio# 36/61 conhecimento do código. O conhecimento linguístico consiste exatamente nessa habilidade. Para decodificar uma língua, é preciso possuir conhecimento sobre as palavras dela, assim como de suas expressões idiomáticas e da forma como produzimos blocos comunicativos de sentidos, sejam eles sentenças completas ou apenas sintagmas menos complexos. Tratamos aqui do conhecimento sistêmico (ou conhecimento linguístico). O conhecimento sistêmico está diretamente ligado ao processo de aquisição (aprendizagem) de linguagem de: L1 Uma língua materna ou primeira língua. L2 Uma língua adicional ou segunda língua. Os seres humanos possuem o melhor cenário para aquisição rápida de uma língua (principalmente durante uma idade tenra), desde que isso ocorra segundo as condições necessárias para seu desenvolvimento. O conhecimento sistêmico é justamente o resultado do curso dessa aquisição. É o conhecimento sistêmico ou linguístico que garante a compreensão e a produção linguística nativa e mais natural. O desenvolvimento do conhecimento sistêmico de uma L2 pode ser um pouco mais custoso por diversas razões ligadas à natureza do processo de aquisição de uma língua adicional. Transferências e interferências da L1 no aprendizado da L2, por exemplo, refletem a diferença dos processos de aquisição de uma L1 e o aprendizado de uma L2, impactando no desenvolvimento do conhecimento sistêmico. A compreensão e a produção textual, comparativamente falando, tornam-se mais complexas. Conhecimento textual 24/04/2024, 12:49 A linguística textual https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04397/index.html?brand=estacio# 37/61 Na visão mais tradicional sobre a compreensão leitora, defende-se que é o conhecimento sistêmico o mais importante para o alcance do sucesso da compreensão. Longe de negar a importância do conhecimento do código, entretanto, atualmente se sabe que a capacidade de (de)codificação é apenas um nível da nossa competência linguística. Referentes ao uso adequado de tipologias textuais e gêneros discursivos, os aspectos textuais fazem parte de nossa competência comunicativa maior e são fundamentais para a garantia do sucesso sociointeracional, seja na compreensão e processamento de leitura, seja na produção linguística em si. O conhecimento textual é fundamental para entendermos a forma como interpretamos e produzimos textos falados escritos e sinalizados com mais ou menos eficácia. O conhecimento textual diz respeito ao conjunto de habilidades desenvolvidas desde a aquisição de linguagem sobre a forma como aprendemos a produzir textos de formatações convencionalizadas e que se torna adequado e esperado em diferentes situações comunicativas. Graças a tal conhecimento, sabemos como adequar o uso da língua a uma conversa, o que será diferente ao de uma palestra. Escolhemos palavras adequadas a textos escritos ou orais a partir do controle de seu registro (formal/informal). Esperamos que o tema de uma fofoca não seja o mesmo de uma palestra acadêmica. Ainda aprendemos a expor uma ideia, a narrar um fato, a descrever uma cena e a dar ordens e a argumentar contra ou a favor de algo. A aquisição desses conhecimentos segue ao longo de nossas vidas, já que vamos nos deparando com novas situações interacionais, as quais são social, cultural e historicamente delimitadas. O foco na relação entre a forma da língua e as suas funcionalidades já foi abordado por inúmeros estudiosos. Uma abordagem clássica é a de Roman Jakobson (1969), que reúne, a partir dos fatores relacionados à interação verbal, seis funções da linguagem, cada qual mais relacionada a um ou outro ponto da interação verbal. O entendimento sobre a funcionalidade dos diferentes tipos de textos e de seus propósitos comunicativos e sociais é fundamental para que possamos produzir e processar textos de modo eficaz. Tal conhecimento também é abarcado pelo conhecimento textual de que aqui tratamos, particularmente quando ambos são vistos em articulação com a discussão sobre gêneros discursivos e tipos textuais. 24/04/2024, 12:49 A linguística textual https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04397/index.html?brand=estacio# 38/61 O conhecimento sobre gêneros discursivos (acadêmicos, jornalísticos, conversacionais, pedagógicos etc.) e tipos textuais (narração, dissertação, descrição, injunção e argumentação) faz parte de nosso conhecimento textual, sendo desenvolvidos pela e na experiência diversificada com o uso da língua. A compreensão, o processamento de leitura e a produção textual como um todo dependem em grande tamanho do que aqui chamamos de conhecimento textual. Isso acontece ao usarmos nossa L1 e quando aprendemos uma L2. Resumindo O domínio do nível sentencial,como, por exemplo, as combinações de palavras na formação de orações, não será de forma alguma suficiente para garantir a compreensão e a produção linguística em L1 ou L2, pois dependemos do conhecimento acerca do funcionamento de gêneros e tipos textuais na construção dos sentidos, entre outras coisas. Situações como as que ocorrem no contexto de ensino superior, por exemplo, em que os alunos apresentam dificuldades importantes na compreensão de um texto acadêmico, mostram que, apesar de nos mostrarmos capazes de operar no nível sistêmico-sentencial via escolarização, não seremos necessariamente bem-sucedidos na compreensão/produção linguística se não estivermos ambientados, mesmo na nossa L1, com as características dos gêneros discursivos aos quais somos expostos a todo o tempo. Uma situação semelhante ocorre com o aprendiz de uma L2 que, ao se deparar com uma conversação real da língua adicional, pode encontrar dificuldade de compreensão do texto em produção por falta de familiaridade com as reais marcas linguísticas, pragmáticas e conteudistas que determinam tal gênero nessa determinada língua. É comum que o ensino de L2 – que, em geral, acontece desgarrado de situações comunicativas reais – não permita o pleno domínio de determinadas marcas dos gêneros discursivos por elas focalizarem mais aspectos linguísticos, ou seja, aspectos no nível da (de)codificação. Consideramos aspectos fundamentais do nosso conhecimento textual a: Referenciação 24/04/2024, 12:49 A linguística textual https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04397/index.html?brand=estacio# 39/61 Coesão e coerência Organização tópica Sabemos – e a todo tempo estamos reaprendendo – como dar sequência, recuperar e (re)conectar informações entre expressões a fim de formar sentidos específicos e eficazes, mantendo uma organização lógica sobre o que estamos falando. Assim, lidamos coesivamente com o cotexto (nível das relações internas do texto), assim como o fazemos com o nível contextual maior, o qual, por sua vez, exige concordância, coerência e sequenciação lógica do conteúdo e de sua relação com o mundo. Além do conhecimento a respeito de aspectos sobre coesão e coerência, também mantemos um controle constante sobre como apresentar determinado tópico, isto é, um assunto. Sabemos como mantê-lo como ponto de reflexão, retomando, por intermédio de diferentes processos de referenciação, a expressividade que desejamos e o efeito de sentido que queremos aplicar quando embalamos o discurso. Com isso, a referenciação e a organização tópica, pontos que se sobrepõem inclusive com o nível de conhecimento sistêmico, fazem parte (ou, aos poucos, passam a fazê-lo) de nosso conhecimento linguístico, impactando diretamente a eficácia no nível da compreensão, o processamento de leitura e a produção linguística em L1 e em L2. Nesse sentido, podemos ver a complementaridade dos conhecimentos sistêmicos e textual. Implicações do conhecimento linguístico e textual A necessidade do trabalho de ensino de línguas via gêneros discursivos decorre do papel relevante do conhecimento textual para a compreensão e a produção de textos. Dessa forma, seja no escopo da língua materna ou no de uma língua adicional, torna-se necessário que o ensino da língua se volte para o trabalho com a produção real em textos culturalmente verificáveis no 24/04/2024, 12:49 A linguística textual https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04397/index.html?brand=estacio# 40/61 cotidiano do aluno, possibilitando-lhe a ativação desse tipo de conhecimento para o uso corrente da língua. Não devemos nos esquecer de que o mundo digital impôs o surgimento de novas linguagens e, acima de tudo, de novas possibilidades de interação entre linguagens. Dessa maneira, os conceitos de letramento e oralidade, fortemente associados ao conceito de conhecimento textual, abarcam as experiências do indivíduo sobre práticas discursivas diversas e são revistos em função das múltiplas práticas discursivas que emergem a partir de então. Para fins de ativação de conhecimentos linguísticos e extralinguísticos que possibilitem o uso linguístico eficaz por parte do aluno, esse ponto se torna mais uma demanda para o contexto educacional. Também decorre daí outro ponto que merece destaque em um trabalho educacional com foco na ativação de conhecimentos linguísticos e extralinguísticos para a produção, a compreensão e o processamento de leitura: a multimodalidade. A multimodalidade corresponde à realidade de os textos poderem trabalhar com diferentes modalidades de linguagem. Os textos podem ser elaborados a partir da palavra escrita e oral, das imagens, dos sons e de outras manifestações expressivas. Exemplo Charges, tirinhas, memes e hipertextos digitais. A compreensão/produção textual no contexto multimodal torna-se extremamente sujeita aos conhecimentos linguísticos, textuais e de mundo. Novas formas linguísticas, novos gêneros digitais e novos conhecimentos de mundo estão implicados na maneira com que o indivíduo há de compreender, formar e produzir sentidos, posicionando- se na nova sociedade virtual. No contexto da multimodalidade, em que vídeos, textos escritos, emoticons, imagens e hiperlinks interagem em um mesmo espaço, o que se sabe sobre a compreensão, o processamento de leitura e a produção textual é revisto o tempo todo. São reconstruídas, dessa forma, a ideia de que a leitura se dá por um processo linear de decodificação e a de que a compreensão ocorre de forma descontextualizada da gama de conhecimentos disponíveis no texto e fora dele. Além de se reconfigurar o papel de agentes sociointeracionais dos interlocutores, reinterpreta-se a leitura de intenções das produções no contexto digital. 24/04/2024, 12:49 A linguística textual https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04397/index.html?brand=estacio# 41/61 Conhecimento de mundo Por fim, para se entender a complexidade da atuação dos fatores linguísticos e extralinguísticos atuantes na compreensão, no processamento de leitura e na produção textual, deve-se refletir sobre o papel que os PCNs e a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) chamam de conhecimento de mundo ou até denominam conhecimentos prévios (BRASIL, 1998; 2018). A experiência prévia (ou conhecimento prévio) do indivíduo promove ou dificulta: A compreensão A produção textual O processamento de leitura A partir do que já vivemos e experimentamos, somos capazes (ou não) de fazer articulações, identificar intertextos, fazer analogias, formar novas categorizações etc. O conhecimento de mundo (ou conhecimento enciclopédico) consiste nas nossas experiências em geral, sejam elas linguísticas ou não. Um indivíduo pode apresentar grande dificuldade em articular informações associadas ao conhecimento sistêmico ou textual, porém, a depender de seu conhecimento de mundo ou repertório, isto é, do tipo de informação que ele pode ativar sobre determinado assunto, ele será capaz de apresentar certo sucesso comunicativo de entendimento e de expressividade. As inferências e as associações advindas do conhecimento de mundo podem permitir interpretações textuais, inclusive em contextos nos quais os indivíduos pouco ou nada sabem sobre a língua ou o tipo/gênero textual em questão. É o conhecimento de mundo que favorece o processo de compreensão textual pela articulação entre elementos do texto e outros relacionados à construção do sentido. Dessa forma, o conhecimento de mundo constitui um dos fatores responsáveis pela construção da coerência textual. 24/04/2024, 12:49 A linguística textual https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04397/index.html?brand=estacio# 42/61 Saiba mais No Brasil, o ensino de língua materna e estrangeira já é orientado por esse caminho: o ensino de línguas, afinal, deve estar centrado na exploração do conhecimento sistêmico, textual e de mundo do aluno para que ele tenha mas sucesso comunicativo e maiorengajamento como cidadão crítico do seu entorno. Em seu escopo, o trabalho proposto pelos PCNs de língua materna e estrangeira, pelas Orientações Curriculares para o Ensino Médio (OCEM) e pela BNCC prevê o enquadramento de gêneros discursivos tanto com foco na compreensão quanto na produção linguística. Mais do que isso, o trabalho em sala de aula tem de valorizar a variante falada pelos alunos, levando-os ao aprendizado mais abrangente e menos preconceituoso sobre linguagens. Com isso, as diversas práticas sociais faladas e escritas de nossa sociedade – o que Marcuschi (2001) classifica por oralidade e letramento – tornam-se potenciais objetos de ensino, tendo em vista a formação global e cidadã do aluno, assim como o ensino da gramática tradicional. As relações ideológicas ou as determinações culturais presentes nos textos formam um novo grupo importante de conhecimentos extralinguísticos acionáveis no curso do processo de compreensão, processamento e produção textual. A linguística textual interage com a análise do discurso ao observar as relações de discurso e poder de nossa sociedade, as quais, por sua vez, estão o tempo todo refletidas nos textos. O entendimento mais profundo deles requer tanto a observação quanto o conhecimento sobre as diferentes formas pelas quais as estruturas sociais são refletidas e/ou perpetuadas nos textos orais, escritos e sinalizados que produzimos. Assim, a LT também desenvolve estudos de base crítica acerca do papel do discurso na (re)produção dos valores e das macroestruturas sociais. Em particular, a abordagem mais crítica do texto permite o apontamento da desigualdade, que se dá por meio do abuso de poder ou da dominação de determinados grupos em relação ao público em geral: as massas, os clientes ou os alunos, grupos que, em suma, são dependentes de relações institucionais e de organização e poder. No âmbito do ensino, a LT permite uma abordagem crítica de diferentes gêneros discursivos (institucionais e/ou profissionais) existentes e controlados pelas estruturas sociais vigentes. 24/04/2024, 12:49 A linguística textual https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04397/index.html?brand=estacio# 43/61 Exemplo O discurso pedagógico ou midiático e conversas situacionalmente localizadas. Essa abordagem crítica dos diversos gêneros discursivos permite a ativação de conhecimentos mais profundos acerca das realidades sociais dos alunos. Em suma, a ativação de conhecimentos linguísticos e extralinguísticos apresenta dois aspectos ou lados: Somente integrando os conhecimentos linguísticos e extralinguísticos, poderemos aproveitar de modo eficaz os desdobramentos teóricos advindos da linguística textual. Conhecimento linguístico, textual e de mundo Neste vídeo, o professor fala sobre a atuação do conhecimento linguístico ou sistêmico, do conhecimento textual e do conhecimento de mundo na produção da textualidade. É um fato comum presente no curso da compreensão, do processamento e da produção textual. Torna-se um ponto importante a ser observado no âmbito da educação, já que cabe à escola a aplicação de um trabalho educacional focado no desenvolvimento dessas mesmas habilidades por parte dos alunos. 24/04/2024, 12:49 A linguística textual https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04397/index.html?brand=estacio# 44/61 24/04/2024, 12:49 A linguística textual https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04397/index.html?brand=estacio# 45/61 Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Analise as afirmativas a seguir: I. O conhecimento sistêmico ou linguístico contribui para a identificação dos elementos internos do texto e se relaciona com o domínio do código utilizado. II. O conhecimento textual, assim como o conhecimento linguístico, diz respeito ao repertório ou aos conhecimentos prévios mobilizados na produção e na recepção do texto. III. O conhecimento sistêmico é suficiente para a produção do texto, bem como para os processos de leitura, pois o texto se resume à sua estrutura interna. Está correto apenas o que se afirma em: Parabéns! A alternativa A está correta. A afirmativa I está correta, pois, na textualidade, são ativados conhecimentos linguísticos, textuais e extralinguísticos, sendo o A I. B II. C III. D I e II. E II e III. 24/04/2024, 12:49 A linguística textual https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04397/index.html?brand=estacio# 46/61 conhecimento linguístico ou sistêmico relacionado com o código, a aquisição da língua e sua estrutura ou sistema. Já a II está incorreta, porque o conhecimento textual não corresponde ao conhecimento enciclopédico ou aos conhecimentos prévios, e sim aos tipos textuais e gêneros discursivos. Por fim, a III também está errada, já que o conhecimento linguístico é necessário, mas não suficiente na produção e interpretação do texto, pois o texto é mais do que seus elementos internos ou linguísticos. Questão 2 O processo de produção e recepção do texto envolve o conhecimento linguístico, textual e de mundo. Na interpretação/produção textual, o conhecimento de mundo atua como Parabéns! A alternativa C está correta. O conhecimento de mundo é um fator diretamente ligado ao maior ou menor sucesso da interpretação textual. Trata-se de um parâmetro e recurso necessário, ainda que não suficiente, no A parâmetro para a identificação dos elementos estruturais ou sistêmicos do texto. B parâmetro para a produção das marcas linguísticas relacionadas com aspectos formais. C parâmetro que pode potencializar o resultado final da elaboração do texto ou do processo de leitura. D recurso suficiente para elaborar textos de diferentes gêneros discursivos e dispensável para as práticas de leitura. E recurso que pode prover mecanismos de interpretação baseados em aspectos internos ao texto. 24/04/2024, 12:49 A linguística textual https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04397/index.html?brand=estacio# 47/61 processo de textualização e atribuição de sentidos. Assim, como conhecimento extralinguístico, o conhecimento de mundo precisa estar articulado com os demais conhecimentos, ainda que, na falta dos demais, ele consiga suprir muitas lacunas. 4 - Construção dos sentidos no texto: coerência textual Ao �nal deste módulo, você será capaz de analisar a construção dos sentidos no texto a partir da coerência textual. Coerência e textualidade Nossa capacidade de produzir e processar textos orais, escritos ou sinalizados está ligada a um conjunto de processos responsável pela construção dos sentidos. A partir da linguística textual, temos tratado dos aspectos responsáveis pela construção do texto ou de sua textualidade. Em outras palavras, abordamos os aspectos responsáveis pela construção da coerência textual, aquilo que traz textualidade a uma sequência linguística, tornando-a um texto, uma unidade significativa global, e não um amontoado de palavras (KOCH; TRAVAGLIA, 1999). Devemos nos lembrar de que, nos módulos anteriores, vimos que o processo sociointeracional de construção da coerência textual ocorre a partir de diferentes pontos de vista: Formal/gramatical 24/04/2024, 12:49 A linguística textual https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04397/index.html?brand=estacio# 48/61 Relacionado à coesão. Funcional-comunicativo Associado às funções mais fundamentais de um texto, ou seja, a comunicação e a interação. Textual Relacionado à adequação da aplicabilidade e aos propósitos de usos de tipos e gêneros textuais específicos. Ideológico Associado às questões ideológicas e discursivas que permeiam a construção da expressividade. A coerência é resultado da interação desses múltiplos fatores. Ela, afinal, é o fenômeno linguístico responsável pela construção de sentido que garante a interpretabilidade de um texto. Atividade discursiva Observemos o trecho a seguir: As crianças deixaram os brinquedos espalhadosno chão. O time do Corinthians venceu. Marcela foi à feira. Ninguém havia solicitado o relatório. A manteiga era suficiente. O carro, então, enguiçou. A leitura rápida do trecho nos permite chegar a algumas conclusões sobre ele: O conjunto de frases em jogo não compõe uma unidade global de sentido, ou seja, não compõe um texto; Do ponto de vista do desenvolvimento do conteúdo ou do ponto de vista gramatical-articulatório, não ocorre a construção de um texto; Ao se considerar isoladamente cada sentença em questão, verifica- se que elas são unidades significativas; 24/04/2024, 12:49 A linguística textual https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04397/index.html?brand=estacio# 49/61 Há vários textos em um único espaço, mas não um único texto composto por essas mesmas frases. Mas o que nos permite identificar tais aspectos sobre esse trecho? Digite sua resposta aqui Chave de resposta A resposta comporta dois pontos: A não articulação de conteúdos; A não articulação gramatical. A ausência dessas articulações evidencia que a sequência linguística em questão não se trata de um texto. O mesmo argumento (o da articulação gramatical e conteudista) nos permite garantir a interpretabilidade das sentenças constituintes do trecho e identificá-las isoladamente como textos. Veja agora a seguinte sequência linguística: Ele estava gripado. Não foi ao trabalho. Do ponto de vista do conteúdo, existe uma unidade global de sentido, a qual, por sua vez, é formada por duas outras unidades menores, a despeito de não haver um conectivo, um elemento gramatical, que unifique explicitamente as sentenças em um único bloco de sentido. Vê- se nessa sequência que a construção da coerência textual não ocorre apenas por meio de ligações gramaticais, mas também – e acima de tudo – por relações de sentido de orientação pragmática, ideológica, funcional e discursiva. A ligação de sentido estabelecida entre as orações do texto acontece cognitivamente por um processo pragmático particular de busca de coerência e unificação de sentidos. Apenas os mecanismos de coesão não fariam de um conjunto de frases um texto, já que o texto, por si só, prescinde de certo grau de envolvimento de vários componentes 24/04/2024, 12:49 A linguística textual https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04397/index.html?brand=estacio# 50/61 linguísticos e extralinguísticos na situação de fala. De todo modo, o primeiro aspecto que desejamos destacar para pensarmos sobre o processo de construção da coerência textual é a própria coesão, isto é, o nível das relações lineares entre os itens do texto. A coesão a serviço da coerência Relembremos que a coesão e a coerência estão relacionadas a diferentes aspectos: Coesão Está relacionada à estrutura superficial do texto, ou seja, ao nível estritamente linguístico. Coerência Manifesta-se macrotextualmente, relacionando-se à transmissão de conhecimentos ou conteúdos na viabilização da existência de sentidos. Podemos afirmar, portanto, que há uma relação direta entre o nível gramatical e o conceitual do texto, sendo a cadeia gramatical compreendida por meio de pequenas partes do texto, enquanto a conceitual o é graças ao conjunto de fatores atuantes no nível global. Analisemos a seguinte frase: Ele estava gripado, por isso não foi ao trabalho. Agora vemos que o sentido de consequência entre as orações é produzido por uma articulação que ocorre por meio da realização explícita de um conectivo, ou seja, por meio do processo de coesão gramatical. Nesse sentido, a coesão está a serviço da coerência, uma vez que, por meio dela, os sentidos do texto também são estabelecidos, mostrando como tais elementos assumem um papel essencial no estabelecimento da coerência em textos. A despeito da relevância dos aspectos pragmáticos, discursivos e cognitivos (conhecimento de mundo) na construção da coerência textual, a observação do papel das marcas linguísticas como pistas na construção do sentido do texto é de extrema importância. É fundamental levar em conta a relação dos elementos linguísticos (fonético/fonológico, morfológico/lexical e sintático/semântico) com os de ordem pragmático-discursiva para o estabelecimento de uma 24/04/2024, 12:49 A linguística textual https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04397/index.html?brand=estacio# 51/61 “coesão” de caráter mais pragmático e a consequente produção do sentido do texto. Resumindo A coesão é o processo por meio do qual partes do texto são conectadas para garantir o desenvolvimento proposicional, ou seja, ela está ligada aos aspectos gramaticais do texto. Já a coerência incorpora, nesse sentido, as condições coesivas, estando ainda diretamente ligada à dimensão pragmática, à situação de fala, tão relevante para a construção do sentido no texto. Funções da linguagem e coerência Outro fator importante para o entendimento da construção da coerência diz respeito ao nosso conhecimento acerca das funções da linguagem, dos propósitos sociais e convencionalizados de tipos textuais e gêneros discursivos. O uso da língua apresenta funcionalidades diferenciadas a depender dos fatores intervenientes da interação verbal. Relembremos as funções da linguagem mais tradicionais e os fatores da interação verbal a cada uma delas relacionados: Função referencial ou denotativa Transmitir informação ou dados da realidade. Função emotiva ou expressiva Expressar juízos, opiniões, emoções, valores ou estados de espírito do emissor. 24/04/2024, 12:49 A linguística textual https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04397/index.html?brand=estacio# 52/61 O conhecimento de tais fatores, isto é, das múltiplas funções da linguagem cotidianamente identificadas no uso, também contribui para a construção de uma face pragmática importante do sentido e da coerência textual. Exemplo Se o foco da mensagem está mais voltado para a tentativa do locutor em convencer, influenciar ou atuar nas escolhas e nas percepções do interlocutor, é possível afirmar que a língua cumpre predominantemente sua função conativa, que é típica do discurso da propaganda, da venda e do convencimento em geral. O usuário da língua será capaz de capturar essa função se estiver a par dos aspectos formais e funcionais relacionados ao uso da função conativa, sem estar sujeito a interpretações ambíguas ou mesmo à impossibilidade de interpretação. A coerência se estabelece na interação e na interlocução, ou seja, em uma situação comunicativa entre dois usuários. Ela depende, entre Função conativa ou apelativa Persuadir ou influenciar o receptor. Função fática Iniciar ou manter a comunicação. Função metalinguística Tratar da própria linguagem. Função poética Produzir efeito de sentido no receptor. 24/04/2024, 12:49 A linguística textual https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04397/index.html?brand=estacio# 53/61 tantos fatores, de fatores socioculturais diversos, o que evidencia a importância da dimensão pragmática na construção de sentido. Tipos e gêneros textuais na construção da coerência Outro ponto ligado a essa questão é o papel exercido pelo conhecimento das características de textos de diferentes gêneros discursivos e tipologias textuais. Os textos são materializados em interações sociais diversas, cumprindo, assim, funcionalidades e sentidos relacionados aos seus gêneros e aos tipos textuais mais associados. Textos acadêmicos possuem funcionalidades específicas e diferenciadas daquelas presentes em textos jornalísticos, conversacionais, ficcionais etc. O domínio sobre o funcionamento dos gêneros discursivos e dos tipos textuais é fundamental, pois ele contribui diretamente para a formação de sentidos e funcionalidades maiores de seus interlocutores, ou seja, para a coerência textual deles. O quadro adiante exemplifica tal discussão ao apresentar três gêneros discursivos distintos, assim como suas funções sociais e a tipologia textual costumeiramente