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A (IN)COMPETÊNCIA DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS PARA JULGAR EMPRESAS PÚBLICAS E SOCIEDADES DE ECONOMIA MISTA PRESTADORAS DE SERVIÇO PÚBLICO EM REGIME DE MONOPÓLIO

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UNIVERSIDADE COMUNITÁRIA DA REGIÃO DE CHAPECÓ – UNOCHAPECÓ 
ESCOLA DE HUMANIDADES 
CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO 
 
 
 
 
RICARDO METZ WEITZ 
 
 
 
 
 
A (IN)COMPETÊNCIA DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS PARA JULGAR 
EMPRESAS PÚBLICAS E SOCIEDADES DE ECONOMIA MISTA PRESTADORAS 
DE SERVIÇO PÚBLICO EM REGIME DE MONOPÓLIO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CHAPECÓ 
2023 
2 
RICARDO METZ WEITZ 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A (IN)COMPETÊNCIA DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS PARA JULGAR 
EMPRESAS PÚBLICAS E SOCIEDADES DE ECONOMIA MISTA PRESTADORAS 
DE SERVIÇO PÚBLICO EM REGIME DE MONOPÓLIO 
 
 
 
Monografia apresentada ao Curso de Direito da 
Universidade Comunitária da Região de Chapecó 
(UNOCHAPECÓ), como requisito parcial à 
obtenção do título de bacharel em Direito, sob a 
orientação do Prof. Me. André Alexandre Happke. 
 
 
 
 
 
CHAPECÓ 
2023
3 
A (IN)COMPETÊNCIA DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS PARA JULGAR 
EMPRESAS PÚBLICAS E SOCIEDADES DE ECONOMIA MISTA PRESTADORAS 
DE SERVIÇO PÚBLICO EM REGIME DE MONOPÓLIO 
 
RICARDO METZ WEITZ 
 
 
 
Esta monografia foi avaliada pela banca examinadora e julgada adequada para obtenção do 
grau de Bacharel em Direito, tendo sido aprovada em sua forma final pelo Curso de 
Graduação em Direito da Universidade Comunitária da Região de Chapecó. 
Aprovado em: __/__/_ 
 
Banca examinadora 
 
 
__________________________________________ 
Orientador: Prof. André Alexandre Happke 
Mestre em (sigla da Instituição de origem) 
 
__________________________________________ 
Membro. Prof. 
Dr/Me/Esp em..... (sigla da Instituição de origem) 
 
__________________________________________ 
Membro. Prof. 
Dr/Me/Esp em..... (sigla da Instituição de origem) 
 
 
 
 
 
 
4 
AGRADECIMENTOS 
 
Em primeiro lugar, agradeço a Deus pelo dom da vida e por ter me permitido chegar até 
aqui. 
Rendo-me ternamente a agradecer a meus pais, Teonila Metz e Jacinto Weitz, 
personificações de bondade, dignidade e honestidade, pilares de minha vida e responsáveis pelo 
meu trajeto pessoal e profissional. Esta e qualquer conquista futura sempre teve e sempre terá 
eles como corresponsáveis. Obrigado por tanto. 
À minha companheira, Larissa Simões, imprescindível durante o final do meu percurso 
acadêmico, meus maiores votos de gratidão. Minha admiração por ela cresce a cada dia. 
Aos grandes amigos com que o Direito me presenteou, agradeço por toda amizade e o 
apoio durante essa extenuante caminhada, a qual com certeza foi mais leve e gratificante por 
ter companheiros de jornada. 
À Universidade Comunitária da Região de Chapecó, seu formidável corpo docente, 
direção е administração, presto meus agradecimentos por todo conhecimento e dedicação 
prestados. 
Em especial, meu agradecimento ao Prof. Me. André Alexandre Happke por ter aceitado 
o convite de me orientar e tê-lo feito com paciência e maestria. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Felizes os famintos de justiça, 
que nunca serão saciados” 
André Comte-Sponville 
6 
RESUMO 
 
A (IN)COMPETÊNCIA DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS PARA JULGAR EMPRESAS 
PÚBLICAS E SOCIEDADES DE ECONOMIA MISTA PRESTADORAS DE SERVIÇO 
PÚBLICO EM REGIME DE MONOPÓLIO. Ricardo Metz Weitz. 
André Alexandre Happke. ORIENTADOR. (Universidade Comunitária da Região de Chapecó 
– UNOCHAPECÓ). 
 
As recentes decisões do STF em reiteradas ADPF estabeleceram, de forma vinculante, que as empresas 
públicas e as sociedades de economia mista se submetem ao regime dos precatórios no pagamento de 
seus débitos oriundos de condenações judiciais. Assim, considerando o reflexo dessas decisões nos 
Juizados Especiais Cíveis, é necessário se debruçar sobre o tema para melhorar sua compreensão. Para 
tanto, cabe uma análise principalmente sobre os princípios envolvidos, e potencialmente violados, no 
julgamento dessas causas perante os Juizados. A linha de pesquisa se deu no campo do Direito 
Processual Civil e Direito Constitucional. A metodologia adotada se baseou na pesquisa bibliográfica e 
documental, a fim de construir uma base teórica a respeito do tema de modo a compreendê-lo melhor. 
Com base nesse estudo é possível identificar as possíveis violações principiológicas ocorridas nos 
julgamentos das causas em questão nos Juizados e suas consequências, bem como iniciar a identificação 
de possíveis soluções para não desvirtuar o sistema e continuar dando respostas jurídicas satisfatórias 
aos jurisdicionados. 
 
Palavras-chave: Juizado Especial Cível. Acesso à Justiça. Competência. Requisitórios. Precatórios; 
 
7 
ABSTRACT 
 
A (IN)COMPETÊNCIA DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS PARA JULGAR EMPRESAS 
PÚBLICAS E SOCIEDADES DE ECONOMIA MISTA PRESTADORAS DE SERVIÇO 
PÚBLICO EM REGIME DE MONOPÓLIO. Ricardo Metz Weitz. 
André Alexandre Happke. ORIENTADOR. (Universidade Comunitária da Região de Chapecó 
– UNOCHAPECÓ). 
 
The recent decisions of the STF in repeated ADPF established, in a binding manner, that public 
companies and government-controlled companies are subject to the precatorios regime in the payment 
of their debts arising from judicial convictions. Thus, considering the reflection of these decisions in the 
Special Civil Courts, it is necessary to look into the subject to improve its understanding. To this end, it 
is important to analyze mainly the principles involved, and potentially violated, in the judgment of these 
cases before the Courts. The line of research took place in the field of Civil Procedural Law and 
Constitutional Law. The methodology adopted was in the bibliographical and documentary research, in 
order to build a theoretical basis on the subject in order to better understand it. Based on this study, it is 
possible to identify the possible violations of principles that occurred in the judgments of the causes in 
question in the Courts and their consequences, as well as to start identifying possible solutions to not 
distort the system and continue to provide satisfactory legal responses to those under jurisdiction. 
 
Keywords: Special Civil Court. Access to Justice. Competence. Precatorios. 
 
8 
LISTA DE ABREVIATURAS 
 
JEC – Juizado Especial Cível 
FPPC - Fórum Permanente de Processualistas Civis 
ADPF - Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental 
RPV - Requisição de Pequeno Valor 
Art. - artigo 
Min. - Ministro(a) 
 
 
 
9 
LISTA DE SIGLAS 
 
CRFB - Constituição Federal 
CDC - Código de Processo Civil 
STJ - Supremo Tribunal de Justiça 
STF - Supremo Tribunal Federal 
FONAJE – Forúm Nacional dos Juizados Especiais 
 
 
10 
SUMÁRIO 
 
1.INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 12 
1.1 OBJETIVOS ................................................................................................................... 12 
1.1.1 Objetivo geral ............................................................................................................... 13 
1.1.2 Objetivos específicos ..................................................................................................... 13 
1.2 JUSTIFICATIVA............................................................................................................ 13 
2 A GÊNESE DOS JUIZADOS ESPECIAIS ........................................................................ 15 
2.1 ORIGEM HISTÓRICA ..................................................................................................... 15 
2.2 PRINCÍPIOS DOS JUIZADOS ESPECIAIS ........................................................................ 21 
2.2.1 O supraprincípio do acesso à justiça .............................................................................. 23 
2.2.2 Princípio da celeridade .................................................................................................característica decisória, visto que é só o 
cumprimento da determinação judicial feito após o trânsito em julgado da ação que o originou. 
Os precatórios recebidos serão organizados em lista cronológica, contadas da ordem de 
recebimento pelo Poder Executivo da comunicação realizada pelo Judiciário. Na sequência, o 
Executivo organiza duas listas, uma de precatórios comuns e outra de precatórios alimentícios. 
Cabe notar que o instituto é de observância obrigatória nos casos em que se aplica. Isso 
devido a previsão de um modelo constitucional de organização orçamentária e atuarial. 
 
3.3 INADIMPLEMENTO 
 
36 
Os precatórios são dívidas do Estado e, como tal, devem ser considerados como fatores 
importantes no planejamento econômico, na estabilidade financeira e na sensação de segurança 
jurídica do país. 
 Infelizmente, na realidade, a expedição do precatório não garante ao credor o 
recebimento. O mais frequente motivo do não pagamento é a falta de dotação orçamentária 
suficiente. Porém, o descumprimento também pode se dar pela não inclusão do débito no 
orçamento e por desrespeito à ordem cronológica de pagamento. Em todas as hipóteses, viola-
se o sistema posto e se torna passível de sofrer sanção o ente que boicotou o pagamento do 
débito. 
A falta de efetividade dos pagamentos de débitos fazendários já é tema conhecido de 
longo tempo no Brasil. A questão já chegou até mesmo a ser apresentada à Comissão 
Interamericana de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas, a qual concluiu que 
o ordenamento jurídico brasileiro não tem procedimentos adequados para cumprimento dos 
débitos devidos pelo Estado (2012). 
Com a Lei de Responsabilidade Fiscal, buscou-se aumentar a segurança jurídica 
trazendo medidas que buscam obrigar a Administração Pública a realizar o pagamento dos seus 
débitos. Com isso, os débitos que não forem quitados durante a execução orçamentária correta 
podem vir a ser caracterizados como dívidas fundadas, o qual traz sérias consequências em caso 
de inadimplemento, como, por exemplo, a perda da capacidade de contração de novas dívidas 
pelo ente público. 
As sanções previstas ao ente que não incluir o valor no orçamento do ano subsequente 
ou quando incluído e não pago estão previstas nos arts. 34, inciso VI, e 35, inciso IV, da nossa 
Constituição, os quais autorizam a intervenção federal ou estadual, conforme for o ente devedor. 
Assim, nesses casos, via de regra não há de se falar em outras medidas coercitivas ou 
expropriatórias. 
Já quando houver violação da ordem cronológica de pagamento ou não dotação 
orçamentária, a CRFB autoriza, como medida excepcionalíssima, o Presidente do Tribunal 
autorizar o imediato sequestro do montante necessário para adimplir o débito, nos termos art. 
100, §6º, não sendo necessária a participação do Ministério Público, salvo nos casos previstos 
no art. 129 da Carta Magna. 
O sistema, eficaz na teoria e previsto para garantir a moralidade nos pagamentos que 
regula, mostra-se corroído por inúmeros problemas. 
Na prática, graças a lentidão no efetivo pagamento e a falta de responsabilidade dos 
gestores públicos, a sociedade vê com descredibilidade o instituto do precatório. No senso 
37 
comum, essa forma de pagamento serve apenas para protelar o pagamento dos débitos 
fazendários. Mais grave ainda é o fato de que o inadimplemento, causado na grande maioria 
das vezes pelo Poder Executivo, induz ao descrédito do próprio Judiciário, que ao cidadão 
comum aparenta ser conivente ou, no mínimo, impotente perante o Poder Público. Não há como 
negar que, ao ignorar condenações e promover o acúmulo de precatórios ano após ano, a 
conduta da Administração se reveste de total imoralidade, inaceitável no estado democrático de 
direito em que vivemos (THEODORO JÚNIOR, 2005, p. 66). 
É cediço que o sistema de precatórios enfrenta diversos problemas de difícil contorno. 
Assim, a prática administrativa coloca o credor do precatório em grande desvantagem perante 
a Fazenda Pública. Isso porque, não raras vezes, a autoridade fazendária não segue os preceitos 
constitucionais, deixando perpassar os prazos de pagamento sem maiores consequências. 
Nesses casos, está prevista na Constituição a necessidade de intervenção federal em Estados e 
Municípios, ou, quando o desrespeito aos pagamentos provém da própria União, o 
impeachment do Presidente da República. Porém, na prática há dezenas de pedidos não 
atendidos de intervenção federal sem que nada aconteça. Há estados da federação com grandes 
atrasos, como exemplo o Ceará, em que há precatórios não pagos de 20 anos atrás. (MELLO, 
2005). 
Assim, faz-se necessária a criação de medidas que corrijam esses problemas de modo a 
elevar o crédito da Administração Pública como um todo. Ainda mais urgente é devolver a 
confiança ao cidadão em relação ao Judiciário nos casos contra a Fazenda Pública, visto que na 
prática o jurisdicionado frequentemente leva anos para ter o trânsito em julgado do processo e 
mesmo com ele ainda pode levar mais muitos anos para ter seu crédito solvido. 
 
3.4 REQUISIÇÃO DE PEQUENO VALOR 
 
Os requisitórios de menor valor monetário são as Requisições de Pequeno Valor (RPV). 
Foram criadas pela Emenda Constitucional n. 20, de 15 de dezembro de 1998. A quantia que 
as definem é definida por lei e o sistema de pagamento é substancialmente diferente daquele do 
precatório. 
Ainda referente aos pagamentos devidos pela Fazenda Pública, a Constituição determina 
que: 
 
O disposto no caput deste artigo relativamente à expedição de precatórios não se 
aplica aos pagamentos de obrigações definidas em leis como de pequeno valor que as 
38 
Fazendas referidas devam fazer em virtude de sentença judicial transitada em julgado. 
(Redação da EC nº 62, de 09.12.2009). (BRASIL, 1988, Art. 100, §3º). 
 
 No parágrafo seguinte do mesmo art. a própria Constituição assegura a possibilidade de 
a Requisição de Pequeno valor ser valorada de forma diferente a depender de cada ente da 
federação. 
 
§ 4º Para os fins do disposto no § 3º, poderão ser fixados, por leis próprias, valores 
distintos às entidades de direito público, segundo as diferentes capacidades 
econômicas, sendo o mínimo igual ao valor do maior benefício do regime geral de 
previdência social. (Redação da EC nº 62, de 09.12.2009). (BRASIL, 1988, Art. 100, 
§4º). 
 
 
 Com fim de regulamentar a RPV, a Lei n. 10.259, que dispõe sobre a instituição dos 
Juizados Especiais Cíveis e Criminais no âmbito da Justiça Federal, define que: 
 
Tratando-se de obrigação de pagar quantia certa, após o trânsito em julgado da 
decisão, o pagamento será efetuado no prazo de sessenta dias, contados da entrega da 
requisição, por ordem do Juiz, à autoridade citada para a causa, na agência mais 
próxima da Caixa Econômica Federal ou do Banco do Brasil, independentemente de 
precatório. (BRASIL, 2001, Art. 17, §1º). 
 
E ainda: 
 
Para os efeitos do §3º do art. 100 da Constituição Federal, as obrigações ali definidas 
como de pequeno valor, a serem pagas independentemente de precatório, terão como 
limite o mesmo valor estabelecido nesta Lei para a competência do Juizado Especial 
Federal Cível (art. 3o , caput). (BRASIL, 2001). 
 
Quanto ao valor da RPV, após a Emenda Constitucional n. 30, de 13 de setembro de 
2000, passou a caber a cada ente da federação dispor sobre o limite considerado como de 
pequeno valor para que haja dispensa do precatório, de acordo com a respectiva capacidade 
econômica, porém sempre respeitando o limite mínimo que é representado pelo valor do maior 
benefício do regime geral de previdência social. Enquanto não criada a respectiva lei para tanto, 
o valor deverá ser regido pelo art. 87 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias 
(incorporado pela Emenda Constitucional nº 37/2002), que dispõe o limite de quarenta salários 
mínimos em face das Fazendas dos Estados e do Distrito Federal e trintasalários mínimos em 
face das Fazendas Municipais. (SOBRINHO, 2008, p. 234). 
A ideia de deixar a cargo de cada ente a fixação do valor do RPV se baseia nos princípios 
da razoabilidade e proporcionalidade, além de respeitar a autonomia constitucional dos Estados, 
Distrito Federal e Municípios. 
39 
A Lei 10.259 de 12 de julho de 2001 criou os Juizados Especiais Cíveis e Criminais da 
Justiça Federal e fixou o valor da RPV no âmbito federal em sessenta salários-mínimos. Em 
síntese, o procedimento de pagamento se dá com a entrega da requisição pelo juiz à autoridade 
responsável, a qual deve efetuar o pagamento em sessenta dias. Após esse prazo, pode-se 
determinar o sequestro dos valores, mesmo nos simples casos de inadimplemento, ao contrário 
do que ocorre no precatório. 
Tanto a Lei 10.259/01, dos Juizados Especiais Federais, como Lei 12.153/09, dos 
Juizados Fazendários dos Estados e Distrito Federal, preveem sessenta dias para pagamento, 
iniciando por ordem do juiz de primeiro grau a partir da entrega da requisição. 
Na prática, tanto o precatório quanto a RPV são sistemas morosos, todavia este é 
significativamente menos que aquele. Em relação à morosidade do sistema de precatórios, 
disserta brilhantemente Arnaldo Esteves Lima (2008, sem p.): 
 
[...] Como sabemos, é uma constante a busca de soluções, as mais prontas e efetivas, 
nas resoluções dos conflitos judiciais. É a permanente luta contra a morosidade, mal 
maior, talvez, da prestação jurisdicional, de difícil superação. Assim, sempre que 
possível – sem violar as normas de regência e muito menos os princípios jurídicos –, 
mas, ao contrário, atribuindo-lhes racional inteligência, devemos buscar soluções que 
se harmonizem com tal propósito, em favor do próprio interesse público, da cidadania, 
destinatária final e única, a rigor, dos serviços públicos, inclusive daqueles, como 
cediço, prestados pelo Judiciário. (MS 12406/DF, Rel. Ministro ARNALDO 
ESTEVES LIMA, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 09/04/2008, DJe 17/10/2008). 
 
A grande vantagem do pagamento por RPV é que, por óbvio, este não entrará na fila 
cronológica do precatório. Todavia, haverá uma lista cronológica própria para esses diminutos 
pagamentos, de forma a não desrespeitar o princípio da isonomia. No que se refere à inclusão 
no orçamento, a RPV também apresenta uma vantagem, visto que nesse sistema é incluído na 
lei orçamentária uma projeção do valor que será pago, enquanto no sistema do precatório o 
valor a ser incluído é aquele que representa o montante de precatórios previsto para pagamento 
no momento da elaboração do orçamento. 
 
3.5 AS ENTIDADES QUE PAGAM POR REQUISITÓRIOS 
 
 Como já visto, o art. 100 da CRFB estabelece que serão pagos por requisitórios os 
débitos fazendários federais, estaduais, distritais e municipais, em virtude de sentença 
condenatória. Contudo, o conceito de Fazenda Pública passa longe de ser unânime na doutrina. 
 Para parte dos estudiosos do Direito, somente será considerado Fazenda Pública os entes 
políticos, ou seja, as pessoas jurídicas de direito público interno. Para a doutrina majoritária, se 
40 
incluem no conceito, além dos entes políticos, as autarquias, fundações públicas e outras 
entidades estatais que sejam caracterizadas como de direito público (THEODORO, 2005, p. 
46). 
 Historicamente, o entendimento foi construído tendo em conta que as pessoas jurídicas 
de direito privado, mais especificamente as Empresas Públicas e as Sociedades de Economia 
Mista, não se submetiam ao regime dos requisitórios. Contudo, parte da doutrina sempre 
entendeu que as estatais de direito privado somente não se encaixariam no sistema de precatório 
quando exploradoras de atividade econômica. 
 Nesse ínterim, cabe explicitar que há duas espécies de Empresas Públicas e Sociedades 
de Economia Mista, ambas pessoas jurídicas de direito privado. Uma delas abrange as 
prestadoras de serviços públicos, as quais atuam, via de regra, em regime de monopólio ou não 
concorrencial. As outras, são as que exercem atividades econômicas, as quais é vedado ter 
qualquer benefício não estendido às outras empresas do setor privado. 
 Sobre as espécies de empresas públicas e sociedades de economia mista, Celso Antônio 
Bandeira de Mello (2013, p. 203) ensina que o regime jurídico a que estão submetidas vai 
depender da atividade desenvolvida, diferenciando-se conforme a entidade seja prestadora de 
serviço público ou exploradora de atividade econômica. Neste caso o regime jurídico deve ser 
o mais idêntico possível àquele aplicado às pessoas jurídicas de direito privado, a fim de impedir 
o indevido beneficiamento em relação às empresas privadas. Tal regra está positivada no art. 
173, parágrafo 1º, inciso II, da CRFB. No entanto, para as empresas que prestam serviços 
públicos ou desenvolvem atividades de caráter público o regramento a ser observado deve ser 
ajustado conforme preceitua o direito público. 
3.6 A MUDANÇA DE ENTENDIMENTO SOBRE A APLICAÇÃO DOS REQUISITÓRIOS 
ÀS EMPRESAS PÚBLICAS E SOCIEDADES DE ECONOMIA MISTA 
 
A discussão que ganhou forma recentemente é a possibilidade de as Empresas Públicas 
e Sociedades de Economia Mista prestadoras de serviços públicos estarem submetidas ao 
regime do precatório. 
 Em primeira análise, parece que, ao submeter esses entes à mesma forma de pagamento 
da Fazenda Pública, estar-se-ia indo contra o que reza a Constituição da República em seu art. 
100, §5º, o qual estabelece a obrigatoriedade de entidades de direito público incluírem verbas 
no orçamento para pagamento de seus débitos (BRASIL, 1988, art. 100, §5º). 
41 
 Ademais, em relação a esses entes, integrantes Administração Indireta de direito 
privado, a Carta Magna estabelece que estes se submeterão ao mesmo regime jurídico das 
empresas privadas no tocante às obrigações civis, comerciais, trabalhistas e tributárias, não 
estando desta forma submetidas ao regime dos requisitórios. (BRASIL, 1988, art. 173, §1º, II). 
 Assim, a entidade possuir o capital majoritariamente ou integralmente público, em que 
pese seus bens serem classificados como bens públicos, não faz diferença para a questão aqui 
debatida. 
 O que faz diferença é o caso de o ente estatal se encaixar no conceito de prestador de 
serviço público. Esse conceito também não é unânime na doutrina e, portanto, considera-se 
serviço público aquilo que a lei define como sendo. 
Maria Sylvia Di Pietro (2006, p. 116/119) ensina que no Brasil a crise no entendimento 
de “serviço público” é mitigada pela CRFB, que elenca quais são as atividades prestadas 
exclusivamente pelo Estado. No entanto, a autora também ressalta a importância de, em todo 
caso, haver enquadramento legal da referida atividade à prestação estatal. 
O STF lentamente construiu o entendimento de que são submetidos à aplicação dos 
requisitórios os entes estatais de direito privado prestadores de serviço público em regime de 
monopólio, ou seja, quando a sociedade empresária presta serviço sem concorrência direta, 
como é o caso da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos no que diz respeito ao serviço 
de entrega de correspondências. 
Nesse sentido cabe analisar o julgamento do RE n. 220.906-9/DF, relatado pelo Min. 
Maurício Corrêa (2000, sem p,): 
 
RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONSTITUCIONAL. EMPRESA 
BRASILEIRA DE CORREIOS E TELÉGRAFOS. IMPENHORABILIDADE DE 
SEUS BENS, RENDAS E SERVIÇOS. RECEPÇÃO DO ARTIGO 12 DO 
DECRETO-LEI Nº 509/69. EXECUÇÃO.OBSERVÂNCIA DO REGIME DE 
PRECATÓRIO. APLICAÇÃO DO ARTIGO 100 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. 
1. À empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, pessoa jurídica equiparada à 
Fazenda Pública, é aplicável o privilégio da impenhorabilidade de seus bens, rendas 
e serviços. Recepção do artigo 12 do Decreto-lei nº 509/69 e não-incidência da 
restrição contida no artigo 173, § 1º, da Constituição Federal, que submete a empresa 
pública, a Sociedade de Economia Mista e outras entidadesque explorem atividade 
econômica ao regime próprio das empresas privadas, inclusive quanto às obrigações 
trabalhistas e tributárias. 2. Empresa pública que não exerce atividade econômica e 
presta serviço público da competência da União Federal e por ela mantido. Execução. 
Observância ao regime de precatório, sob pena de vulneração do disposto no artigo 
100 da Constituição Federal. Recurso extraordinário conhecido e provido. (grifo 
nosso). 
 
Ao analisar outros casos semelhantes, a jurisprudência da Corte Superior consolidou o 
entendimento de que as Empresas Públicas e Sociedades de Economia Mista prestadoras de 
42 
serviço público sujeitar-se-ão ao regime dos requisitórios, ressaltando que não pode norma 
infralegal limitar, criando restrições ou condições, o disposto na CRFB. 
Porém, nos casos em que a estatal presta atividade econômica de livre concorrência 
objetivando lucro, como, via de regra, é o caso das Sociedades de Economia Mista, não se pode 
utilizar o regime de precatório. Nesse sentido, destaca-se o entendimento firmado, em sede de 
repercussão geral, no julgamento do RE n.º 599.628/DF, em que se discutia se as Centrais 
Elétricas do Norte do Brasil S/A – Eletronorte, Sociedade de Economia Mista, poderiam pagar 
seus débitos por precatórios: 
 
FINANCEIRO. SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA. PAGAMENTO DE 
VALORES POR FORÇA DE DECISÃO JUDICIAL. INAPLICABILIDADE DO 
REGIME DE PRECATÓRIO. ART. 100 DA CONSTITUIÇÃO. 
CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL CIVIL. MATÉRIA CONSTITUCIONAL 
CUJA REPERCUSSÃO GERAL FOI RECONHECIDA. Os privilégios da Fazenda 
Pública são inextensíveis às Sociedades de Economia Mista que executam atividades 
em regime de concorrência ou que tenham como objetivo distribuir lucros aos seus 
acionistas. Portanto, a empresa Centrais Elétricas do Norte do Brasil S.A. - Eletronorte 
não pode se beneficiar do sistema de pagamento por precatório de dívidas decorrentes 
de decisões judiciais (art. 100 da Constituição). Recurso extraordinário ao qual se nega 
provimento.” (RE 599628, Relator(a): Min. AYRES BRITTO, Relator(a) p/ Acórdão: 
Min. JOAQUIM BARBOSA, Tribunal Pleno, julgado em 25/05/2011, 
REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-199 DIVULG 14-10-2011 PUBLIC 17-
10-2011 EMENT VOL-02608-01 PP-00156 RTJ VOL-00223-01 PP-00602) 
 
No entanto, em que pese o Supremo ter inúmeros julgados no sentido de ser necessário 
a submissão dessas entidades ao regime dos requisitórios, via-se frequentemente o Judiciário, 
através das instâncias iniciais, bloqueando suas contas e até, com menor frequência, penhorando 
seus bens. Tal conduta evidencia uma quebra da segurança jurídica pátria, além de violação do 
princípio da continuidade dos serviços públicos. Ademais, se o ente da administração indireta 
presta o serviço público em regime não concorrencial, não há de se falar em desequilíbrio do 
mercado devido à expedição de requisitórios para o pagamento das dívidas. Isso porque o 
cumprimento das atividades essencialmente públicas deve ser feito de acordo com o modo de 
organização orçamentária das finanças públicas previsto na Carta Magna (Carmen Lúcia, 
ADPF 556) 
A Constituição veda, em seu art. 167, qualquer “transposição, remanejamento ou 
transferência de recursos de uma categoria de programação para outra ou de um órgão para 
outro sem prévia autorização legislativa". Nesse mesmo sentido leciona José Afonso da Silva 
(2014, p. 712): 
 
TRANSPOSIÇÃO. REMANEJAMENTO E TRANSFERÊNCIA DE RECURSOS. 
São formas de movimentação de recursos orçamentários, que o Poder Executivo pode 
43 
efetuar, desde que tenha para tanto autorização legislativa. A Constituição anterior 
vedava apenas a transposição, sem prévia autorização legal, de recursos de uma 
dotação orçamentária para outra. O inciso VI do art. 167 é mais rigoroso, porque 
abrange todos os tipos de movimentação de recursos orçamentários, e não apenas de 
uma dotação para outra, mas de uma categoria de programação para outra, assim como 
de um órgão para outro. É mais técnico falar em categoria de programação já que se 
trata de orçamento- programa. As categorias de programação distribuem-se em dois 
grandes níveis de programas: (a) programas de funcionamento, destinados à 
manutenção e conservação dos serviços públicos existentes e vinculados à 
classificação das receitas e despesas correntes, que caracteriza aquilo que a 
Constituição de 1967 chamava de orçamento corrente (art. 65) e compreende as 
seguintes categorias de programas: programas, subprogramas, atividades, tarefas. (b) 
programas de investimento, destinados à formação do capital e, pois, ao 
desenvolvimento econômico, vinculando-se com a classificação da receita e despesas 
de capital, que constitui o chamado orçamento de capital, cujas categorias de 
programação são: programas, subprogramas, projetos, obras e trabalhos. Os três 
termos não são sinônimos, mas, no contexto, sua diferença de sentido é pequena: “De 
rigor [observa Ives Gandra Martins], as três formas se assemelham. Tanto a 
transposição como o remanejamento e a transferência são formas de retirar recursos 
de uma programação e passá-los para outra, o que representaria, se permitido fosse, 
uma real forma de burlar a lei orçamentária”. Pois foi para evitar burla que se tornou 
necessário o emprego dos três termos, porque, quando se usava apenas transposição, 
praticava-se outra daquelas formas de movimentação, com o que se frustrava a 
vedação. A transferência pelo seu sentido literal se aplica especialmente à retirada de 
recursos de um órgão para a administração de outro; já o remanejamento está mais 
próximo do ato de recompor os recursos de uma categoria de programa ou de um 
órgão; enquanto a transposição para troca de recursos, anula uma dotação de algum 
programa ou órgão com o fito de transportá- la para outro”. 
 
Assim, infere-se que as decisões judiciais que determinam a constrição de bens das 
prestadoras de serviços públicos violam a separação dos Poderes, prevista no art. 2º da Carta 
Magna, bem como o seu art. 167, inciso IV, visto que através delas se modificou a serventia 
dos recursos fazendários sem prévia autorização legislativa. 
Consoante o STF ia firmando entendimento sobre o tema, inúmeras ADPFs eram 
protocoladas pelas empresas públicas e sociedades de economia mista que tinham intenção de 
quitar seus débitos em regime de requisitórios. 
A Min. Carmen Lúcia defende o cabimento da ação de controle concentrado devido à 
ausência de qualquer outro meio processual adequado para deslindar a questão de forma 
absoluta (ADPF 556, Cármen Lúcia). 
No mesmo sentido, o Min. Gilmar Mendes enfatizou que é cabível a ADPF quando 
houver aplicação direta da Carta Magna e a suposta violação decorre de decisão judicial que 
não se resume à aplicação de lei ou ato normativo. A possibilidade da referida ação concentrada 
se dá pela necessidade de resolver de modo definitivo e vinculante demandas repetitivas sobre 
temas constitucionais. Os princípios orçamentários do sistema financeiro possuem 
incontestável qualidade de preceito fundamental, indispensáveis para a continuação da 
harmonia entre os Poderes da República. O instituto do precatório, sintetizado pelo autor como 
44 
um “mecanismo de racionalização dos pagamentos das obrigações estatais oriundos de 
sentenças judiciais”, de modo congênere, também deve ser catalogado como preceito 
fundamental, o que per si justifica o uso da ADPF quando houver violações em sua aplicação 
prática. (ADPF 387, Gilmar Mendes). 
Porém, como voz contrária cabe citar Marco Aurélio de Mello, o qual considera 
indevida a perseguição da questão através da ADPF, defendendo que existem outros meios 
eficazes de debater a questão e, portanto, desrespeita-se a subsidiariedade prevista na lei da 
ação constitucional (ADPF 556, Marco Aurélio de Mello). 
O cabimento da referida ação constitucional foi aceito pela maioria dos membros 
daquele Tribunal Superior nasvárias ações conhecidas e julgadas, conforme demonstra-se em 
sequência. 
O Governador do Estado do Piauí propôs a ADPF 387 buscando inicialmente a 
suspensão de todas as decisões judiciais em processos de cobrança de verbas trabalhistas contra 
a Empresa de Gestão de Recursos do Estado do Piauí (S/A EMGERPI) que determinaram a 
constrição de valores oriundos da conta única do Estado do Piauí. Sustentou o proponente que 
as decisões tomadas pela Justiça do Trabalho violam princípios fundamentais da execução 
orçamentária previstos no art. 167 da CRFB, e a separação dos Poderes. Isso porque os 
bloqueios desvirtuam a vontade do legislador no tocante ao destino das verbas. Em 11 de abril 
de 2016, o Min. Gilmar Mendes, em decisão monocrática, determinou, liminarmente, a 
suspensão de todos os processos em que houve bloqueios na conta única do Estado do Piauí 
proferidos pelo Tribunal Regional do Trabalho (TRT) da 22ª Região para pagamento de verbas 
trabalhistas da S/A EMGERPI. Segundo o relator, os bloqueios violam o art. 167, VI, da CRFB, 
previsão legal de suma importância para manutenção da segurança orçamentária do Estado. 
Além de que, as políticas públicas podem sofrer descontinuidades se não houver possibilidade 
de seguir o planejamento adequado pelo gestor público. Terminou a argumentação rechaçando 
a possibilidade de desvirtuar plano volitivo do legislador e avultando a necessidade de 
observância dos princípios constitucionais do sistema financeiro e orçamentário, de modo a não 
ocorrer a violação da harmonia entre os Poderes. A decisão foi referendada pelo Pleno em 
março de 2017, ficando decidida a inconstitucionalidade dos bloqueios devido ao fato de que à 
EMGERPI se aplica o instituto dos requisitórios. 
Julgamento semelhante se observa na ADPF 513, em que o Governador do Estado do 
Maranhão propôs contra decisões judiciais da justiça estadual, federal e trabalhista que negaram 
a aplicação do instituto dos precatórios para pagamento dos débitos da Companhia de 
Saneamento Ambiental do Maranhão - CAEMA, sociedade de economia mista que integrante 
45 
da Administração Pública Indireta do Estado do Maranhão. A relatora da ação, Min. Rosa 
Weber, destacou que as decisões dos tribunais a quo, ao negarem a aplicação dos precatórios à 
CAEMA, desvirtuam sobretudo o direito social à saúde, tão caro para a CRFB. O princípio da 
continuidade dos serviços públicos também fica comprometido com a possível falta de recursos 
disponíveis. Por ser integrante da Administração Indireta e prestadora de serviço público 
essencial, de forma não concorrencial sem intento de lucro, decidiu-se que a CAEMA se 
distingue da regra geral de que às sociedades de economia mista e empresas pública aplicar-se-
á o mesmo regime das empresas privadas, previsto no art. 173, §1º, II, da CRFB. Caso contrário, 
estar-se-ia violando a previsão do art. 100 da Lei Maior acerca dos débitos fazendários. 
Posteriormente, na ADPF 556, a Min. Carmen Lúcia decidiu pela suspensão das 
decisões judiciais em que se determinou a penhora de valores e a submissão ao regime de 
precatórios nos pagamentos da Companhia de Água e Esgoto do Rio Grande do Norte - 
CAERN, sociedade de economia mista daquele estado. O plenário do Supremo referendou a 
decisão da relatora, firmando o entendimento de que, em não havendo sujeição ao regime de 
concorrência e aferição de lucros, deveriam as referidas empresas pagar seus débitos por 
requisitórios. Todavia, em sentido contrário, o Min. Marco Aurélio Mello firmou voto no 
sentido de que não haveria como se observar os preceitos de Direito Público, aplicados à 
Fazenda, nos litígios envolvendo pessoas jurídicas de direito privado, concluindo pela 
inaplicabilidade da aplicação do instituto dos requisitórios a esses entes. 
Também no julgamento da ADPF 530, relatada pelo Min. Edson Fachin, o Supremo 
decidiu de forma análoga, sustentando que “empresa pública que atua na ordem econômica 
prestando serviços públicos próprios do Estado, sem intuito de lucratividade ou caráter 
concorrencial, equipara-se ao conceito de Fazenda Pública e demais entidades de direito público 
com assento no art. 100 da Constituição da República" (ADPF 530 MC-Ref, Relator(a): 
EDSON FACHIN, Tribunal Pleno, julgado em 08/09/2020, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-
289 DIVULG 09-12-2020 PUBLIC 10-12-2020). 
Exalta-se a brilhante explanação do Min. Joaquim Barbosa, em decisão monocrática 
proferida na ADPF 114, ao elucidar que os ditames previstos no art. 167 da CRFB por si só não 
poderiam ser considerados um preceito fundamental merecedor de arrimo via ADPF. Porém, 
seu desvirtuamento, ocasionado pelas decisões que abalam a harmonia entre os Poderes ao 
bloquear verbas de entes com prerrogativas fazendárias, impede a concretização de outras 
garantias constitucionais. Isso pois a análise necessita se dar em conjunto com os princípios da 
eficiência da administração pública e da continuidade dos serviços públicos, bem como da 
devida repartição tributária entre os entes federados. 
46 
Ressalta-se que, além das paradigmáticas ações supracitadas, há outras ações de 
controle concentrado decididas de modo análogo, bem como abastada jurisprudência da Corte 
Suprema em casos de controle difuso. Em síntese, as decisões que inadmitem o pagamento dos 
entes em questão através de requisitórios configuram violação aos arts. 2º; 84, inciso II; 100, 
caput e parágrafos; e 167, incisos VI e X; todos da CRFB. De todas as desconformidades 
citadas, talvez a mais grave seja a quebra da harmonia entre os Poderes causada pela ingerência 
do Poder Judiciário sobre o orçamento público e sobre a designação das políticas públicas 
prioritárias, funções realizadas pelos Poderes Legislativo e Executivo, respectivamente. Além 
do mais, o precatório tem a importante função de propiciar a isonomia nos pagamentos 
fazendários, sem conferir vantagem a qualquer credor ou classe de credores, o que não é 
possível se alcançar se houver constantes violações do instituto. 
No estado de Santa Catarina, há duas grandes sociedades de economia mista que 
passam, em tese, a se beneficiar dos julgamentos dos STF ao poder adimplir seus débitos através 
dos precatórios. Uma delas é a Companhia Catarinense de Águas e Saneamento - CASAN, e a 
outra é a Centrais Elétricas de Santa Catarina - CELESC. 
Como aos Tribunais dos Estados não restou outra alternativa senão adequar-se ao 
entendimento vinculante do Supremo, já se vislumbra, em ações envolvendo CASAN e 
CELESC, no Tribunal de Justiça Catarinense, decisões respaldando o entendimento firmado 
pela Corte Suprema, conforme se denota nos julgados abaixo: 
 
AGRAVO DE INSTRUMENTO. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. SOCIEDADE 
DE ECONOMIA MISTA. CASAN. PRETENSÃO DE SUBMETER A EXECUÇÃO 
AO REGIME DE PRECATÓRIOS. PERTINÊNCIA. EMPRESA PRESTADORA 
DE SERVIÇO PÚBLICO EM REGIME NÃO CONCORRENCIAL. 
ENQUADRAMENTO AOS PRECEITOS ESTIPULADOS PELO SUPREMO 
TRIBUNAL FEDERAL. PRECEDENTES. 
"1. Embora, em regra, as empresas estatais estejam submetidas ao regime das pessoas 
jurídicas de direito privado, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é no 
sentido de que "entidade que presta serviços públicos essenciais de saneamento 
básico, sem que tenha ficado demonstrado nos autos se tratar de Sociedade de 
Economia Mista ou empresa pública que competiria com pessoas jurídicas privadas 
ou que teria por objetivo primordial acumular patrimônio e distribuir lucros. Nessa 
hipótese, aplica-se o regime de precatórios" (RE 592.004, Rel. Min. Joaquim 
Barbosa). 2. É aplicável às companhias estaduais de saneamento básico o regime de 
pagamento por precatório (art. 100 da Constituição), nas hipóteses em que o capital 
social seja majoritariamente público e o serviço seja prestado em regime de 
exclusividade e sem intuito de lucro. 3. Provimento do agravo regimental e do recurso 
extraordinário". (RE 627242 AgR, Relator(a): MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/Acórdão: ROBERTO BARROSO, Primeira Turma, julgado em 02/05/2017, 
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-110 DIVULG 24-05-2017 PUBLIC 25-05-2017) 
(TJSC, Agravo de Instrumento n. 5035441-16.2020.8.24.0000, do Tribunal de Justiça 
de Santa Catarina, rel. Sônia Maria Schmitz, Quarta Câmara de Direito Público, j. 11-
03-2021). 
 
47 
E: 
APELAÇÃO CÍVEL. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA CONTRA A CELESC. 
SENTENÇA DE EXTINÇÃO, COM FULCRO NO ARTIGO 924, INCISO II, DO 
CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. INSURGÊNCIA DA EXECUTADA. 
EXCLUSÃO DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS A QUE FOI CONDENADA 
E CONDENAÇÃO DO EXEQUENTE AO PAGAMENTO DA VERBA, ANTE O 
ACOLHIMENTO DA IMPUGNAÇÃO APRESENTADA E O ADIMPLEMENTO 
DO DÉBITO, DENTRO DO PRAZO ESTIPULADO NO ART. 523 DO CPC/15. 
ACOLHIMENTO, COM FUNDAMENTAÇÃO PARCIALMENTE DIVERSA. 
EXECUTADA QUE É SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA, PRESTADORA DE 
SERVIÇO PÚBLICO ESSENCIAL. DÉBITO SUJEITO AO REGIME DE 
PRECATÓRIO. ART. 100 DA CF/88. ENTENDIMENTO FIRMADO PELO 
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, NO JULGAMENTO DA ADPF N. 556/RN. 
INCIDÊNCIA DA REGRA PREVISTA NO ARTIGO 85, § 7º, DO CÓDIGO DE 
RITOS. CONCORDÂNCIA DA CREDORA, COM RELAÇÃO À IMPUGNAÇÃO 
APRESENTADA. VERBA HONORÁRIA INDEVIDA PELA EXECUTADA. 
PRECEDENTES DESTA CORTE. CONDENAÇÃO DA EXEQUENTE, POR 
OUTRO LADO, AO PAGAMENTO DE HONORÁRIOS, PELO ACOLHIMENTO 
DA IMPUGNAÇÃO. ENTENDIMENTO FIRMADO NO JULGAMENTO DO 
RECURSO ESPECIAL N. 1.134.186, PELO STJ (TEMA 410). DECISUM 
REFORMADO NO PONTO. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. (TJSC, 
Apelação n. 5008582-88.2020.8.24.0023, do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, 
rel. Bettina Maria Maresch de Moura, Terceira Câmara de Direito Público, j. 17-05-
2022). 
 
Desta forma, em resumo, para que o precatório seja aplicado às Empresas Públicas e 
Sociedades de Economia Mista estas devem prestar serviço público próprio do Estado, não 
podem prestar atividade econômica em regime de concorrência, devem ser controladas pelo 
Estado ou dependente dele e eventuais lucros devem ser predominantemente direcionados à 
própria atividade estatal e não à remuneração do acionista particular. 
 
 
48 
4 ELEMENTOS TEÓRICOS E PRÁTICOS DO PROCESSO NO JUIZADO CÍVEL 
COM RÉS QUE PRESTAM SERVIÇO PÚBLICO EM REGIME DE MONOPÓLIO 
 
Assim, considerando o contexto peculiar que envolve o Sistema de Juizados, cabe 
discorrer acerca dos elementos que evidenciam a necessidade de melhor análise da competência 
dos Juizados nas causas passíveis de expedição de requisitórios. 
 
4.1 DO EXCESSO DE COMPETÊNCIA DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS 
 
Na exposição de motivos da Lei 7.244/84 foi positivado que a criação dos Juizados de 
Pequenas Causas visava o julgamento de lides propostas por pessoas físicas. Ao analisar o 
histórico dos Juizados, infere-se de forma cristalina que o legislador, no momento da criação, 
pensou num modelo de justiça deveras mais simples do que aquele que existe hoje. 
Nos primórdios do funcionamento dos Juizados o sucesso era tanto que a regra era a 
conciliação e os processos com instrução eram as exceções. O procedimento foi criado para ser 
oral, célere, informal e simples. A eficiência do sistema serviu para destrinchar grandes massas 
de litígios contidos. 
O prestígio e o sucesso que os Juizados obtiveram no início resultaram na deturpação 
do sistema. O objetivo inicial de julgar causas de pessoas físicas, mormente daquelas 
hipossuficientes, que não tinham meios de buscar a justiça comum, em parte, perdeu-se. Isso 
porque cada vez mais o Congresso Nacional aumentou, através de lei, a competência dos 
Juizados Especiais Cíveis. Iniciou com a Lei 9.841/99, a qual tirou a exclusividade de pessoas 
físicas proporem ações nos Juizados ao proporcionar às microempresas a possibilidade de 
também atuar no polo ativo. Após, veio a Lei Complementar 123/06, estendendo a possibilidade 
de judicar no polo ativo também às empresas de pequeno porte. Por fim, veio a Lei 12.126/09 
passando a admitir a autoria pelas Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público e pelas 
Sociedades de Crédito ao Microempreendedor. Esse conjunto de leis transformou os Juizados 
em “balcões de cobrança” estatais dessas empresas, várias delas com vultosa capacidade 
econômica, às quais passaram a se valer de um requintado aparato estatal para cobrar seus 
débitos, via de regra sem desembolsar nenhum valor econômico. Nesse sentido, cita-se como 
forma de exemplo o já inexistente “Juizado das Microempresas da Capital” no Mato Grosso do 
Sul, no qual a organização se dava pelo nome das empresas autoras, ou seja, tinha-se, em termos 
práticos, um departamento de cobrança (LETTERIELLO, 2011, sem p.). 
O grave erro cometido foi, com o passar do tempo, ter aumentado a competência dos 
Juizados. Conforme estes iam colhendo excelentes desempenhos, os tribunais, a população e os 
49 
políticos quiseram que mais processos fossem para os Juizados, o que fez com que surgisse 
neles o mesmo problema de congestionamento já enfrentado na justiça comum. E, 
lamentavelmente, há ainda hoje propostas de se aumentar mais ainda a competência, o que 
expurga a ideia de funcionamento de uma justiça informal, célere e efetiva, características 
fundamentais na ideia dos Juizados Especiais Cíveis (FONAJE, op. cit, live). 
Dinamarco (1985, p. 126) afirma que o Juizado de Pequenas Causas foi criado para ser 
o “tribunal do cidadão”. Não tinha qualquer objetivo de solucionar controvérsias de sociedades 
empresariais, mas sim do cidadão, relegando somente ao polo passivo a atuação das pessoas 
jurídicas. 
Abdicou-se da celeridade de um sistema que foi posto para acudir aqueles que estavam 
à deriva do sistema jurídico pátrio a fim de satisfazer interesses de empresas que poderiam se 
submeter aos ônus da justiça comum. Com tamanho volume de processos, perdeu-se o foco na 
conciliação, a qual passou de índices superiores a 80% para atuais 40%, como mostraram as 
últimas pesquisas. A instrução dos processos também passou a demorar muito mais do que os 
poucos dias que levava nos primórdios, levando frequentemente mais de dezoito meses para se 
alcançar a solução. E o desalento continua ao notar que, em várias unidades federativas, mais 
de metade das novas ações são protocoladas nos Juizados Especiais. Assim, Letteriello (2011, 
sem p) com pesar afirma que os Juizados estão cada vez mais parecidos com a justiça comum 
e perdendo o crédito com a sociedade, alertando para a derrocada iminente do que chama de 
“um sistema quase perfeito de justiça” e, com ela, a aniquilação de uma pioneira e esplêndida 
forma de fazer justiça. A situação pode piorar ainda mais se um ou mais dos projetos de lei que 
ampliam a competência dos Juizados e que estão tramitando no Congresso Nacional sejam 
transformados em lei, fato que viria a beneficiar o extrato da sociedade já “privilegiada” com a 
possibilidade de recorrer ao Judiciário, a despeito daqueles que realmente necessitam desse 
serviço gratuito e especializado. 
Soares (2000, sem p.) já demonstrava preocupação com o destino dos Juizados após a 
Lei. 9.841/99, mesmo antes das posteriores alterações que culminaram ainda mais no aumento 
de competência do sistema. O desembargador também anteviu que grande parte das causas, 
senão a maioria, seriam cobranças feitas pelas microempresas, forma de sociedade 
predominante em praticamente todos os estados do país. Embora assente que várias dessas têm 
o acesso à justiça comum dificultado pelos altos custos e pela morosidade, a carência de 
jurisdição está sobremaneira nas pessoas físicas. A consequência mais marcante das alterações 
legislativas citadas é a ampliação da morosidade, antes apenas na justiça ordinária, agora 
presente também nos Juizados Especiais Cíveis. 
50 
Happke (2016, sem p.) também alerta para o desvirtuamento da essência do sistema ao 
ressaltar as mais de duas dezenas de projetos de lei que visam ampliar ainda mais a competência 
já exaurida dos Juizados Especiais Cíveis.O aumento da legitimidade ativa passou a atingir 
pessoas jurídicas, muitas das quais não tem o costume de adotar políticas internas para 
resolução consensual dos seus litígios, ocasionando grandes pautas de audiências de conciliação 
quiçá inúteis, as quais nem mesmo podem ser indiscriminadamente canceladas devido à 
imposição legal. Tais empresas, acostumadas com as demandas em massa, são na maioria das 
vezes concessionárias de serviços públicos e entidades financeiras ou de seguros. 
Os Juizados Especiais Cíveis não simbolizam mais aquilo que objetivou o legislador 
que os criou, com raríssimas exceções. A agilidade se perdeu gradativamente com o aumento 
em massa das demandas, aliado à atuação deficiente das prestadoras de serviços públicos, o que 
atrai grande quantidade de litígios ao sistema (NORONHA, 2016, sem p.). 
4.2 DA POSSÍVEL INCOMPATIBILIDADE PRINCIPIOLÓGICA OCASIONADA PELA 
APLICAÇÃO DO INSTITUTO DO PRECATÓRIO NOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS 
 
Com o entendimento do STF se consolidando, conforme exemplificado por estas 
decisões recentes, a discussão acerca da possibilidade de pagamento de débitos através de 
precatórios nos Juizados Especiais Cíveis é um tema que ganhou repercussão e se tornou objeto 
de decisões contraditórias pelos Juizados Especiais Cíveis espalhados pelo país. 
Isso porque, aqueles que defendem a incompetência dos Juizados Especiais Cíveis para 
julgar ações contra Sociedades de Economia Mista o fazem justamente por acreditar haver um 
conflito entre a tramitação desses processos, com a possibilidade de expedição de requisitórios 
nos Juizados e, principalmente, os princípios da simplicidade, da informalidade e da celeridade 
processual, por se tratarem de ações em que, havendo condenação, irão obrigatoriamente se 
submeter ao moroso e burocrático sistema do precatório e RPV. 
Infere-se assim que a expedição de precatórios como forma de pagamento, em primeira 
análise, parece conflitar com os princípios mais caros do microssistema dos Juizados. 
As normas e os institutos referentes ao processo ordinário se aplicam de forma 
subsidiária nos Juizados Especiais Cíveis, mesmo quando não expresso na lei especial, segundo 
entendimento majoritário da doutrina. Todavia, só há aplicação de forma subsidiária quando a 
norma emprestada estiver em total sintonia com os princípios norteadores elencados na Lei 
9.099/95. Caso contrário, estar-se-á violando o núcleo fundamental do procedimento especial 
previsto para os Juizados Especiais Cíveis (TOURINHO NETO & FIGUEIRA JR. 2009, p. 69). 
51 
Num sistema em que o legislador que o criou previu até mesmo a impossibilidade de 
suspensão do processo por falta de bens (art. 53, §4º da Lei 9.099/95), fica claro que o princípio 
da celeridade está incrustado em seu núcleo substancial e não pode ser abolido. Submeter esse 
sistema e os jurisdicionados que dele dependem ao moroso e complexo instituto do precatório 
é desprestigiá-lo junto ao cidadão. Isso porque se sabe que um precatório leva geralmente anos 
para ser pago, resultando numa demora de efetivação da atividade satisfativa em causas que 
eram para ser céleres. 
Chega-se a uma absoluta incompatibilidade principiológica entre as causas passíveis de 
pagamento por precatórios e os preceitos basilares previstos da Lei 9.099/95. 
Caso se decida levar a sério esses princípios, o resultado mais factível é a perda de 
competência dos Juizados Especiais Cíveis para julgar as lides que envolvem esses entes. 
 
4.3 DO PARALELISMO COM A JUSTIÇA COMUM 
 
Como já explanado, está consolidado na jurisprudência pátria e na doutrina o 
entendimento de que as Empresas Públicas e as Sociedades de Economia Mista se sujeitam ao 
regime do precatório para pagamento de seus débitos quando prestam serviço público de caráter 
não concorrencial e sem intuito de lucro. 
Tais entidades, embora submetidas ao regime do precatório, continuam tendo natureza 
jurídica privada, o que implica a não extensão das outras vantagens processuais conferidas à 
Fazenda Pública. 
Nesse sentido, justamente pelo fato de continuar tendo natureza privada é que o Tribunal 
de Justiça de Santa Catarina entende que as causas não devem ser processadas perante os Juízos 
Fazendários, como se denota das decisões abaixo. 
 
AGRAVO INTERNO. AÇÃO DE CONHECIMENTO PROPOSTA POR 
PARTICULAR CONTRA A COMPANHIA CATARINENSE DE ÁGUA E 
SANEAMENTO (CASAN). SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA. ENTIDADE 
QUE NÃO INTEGRA O ROL DE LEGITIMADOS DO JUIZADO ESPECIAL DA 
FAZENDA PÚBLICA. ART. 5º, II, DA LEI N. 12.153/09. INCIDÊNCIA DA 
NORMA DO ART. 100 DA CF/88 (SUBMISSÃO AO REGIME DE 
PRECATÓRIOS) QUE NÃO IMPLICA EXTENSÃO DE OUTRAS VANTAGENS 
PROCESSUAIS CONFERIDAS AO PODER PÚBLICO, TAMPOUCO MODIFICA 
A NATUREZA PRIVADA DA COMPANHIA (STF, ADPF 556/RN, RELA. MINA. 
CARMEN LÚCIA, DJE 06.03.2020) COMPETÊNCIA DO JUÍZO COMUM 
CÍVEL. PRERROGATIVA DA PARTE AUTORA EM ELEGER O RITO COMUM 
OU O RITO DA LEI N. 9.099/95. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. 
(TJSC, Agravo de Instrumento n. 5016057-67.2020.8.24.0000, do Tribunal de Justiça 
de Santa Catarina, rel. Ronei Danielli, Terceira Câmara de Direito Público, j. 09-03-
2021) 
52 
E, ainda: 
CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. INCIDENTE INSTAURADO 
ENTRE OS JUÍZOS DA 1ª VARA VARA DA FAZENDA PÚBLICA E DA 3ª 
VARA CÍVEL, AMBOS DA COMARCA DA CAPITAL. AÇÃO ENVOLVENDO 
O SERVIÇO DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA E ESGOTO PRESTADO POR 
SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA (CASAN). COMPETÊNCIA DA 3ª VARA 
CÍVEL, CONFORME PRECEDENTES DESTA CORTE. CONFLITO ACOLHIDO. 
"É do Juízo Cível, e não do Juízo da Fazenda Pública, a competência para processar e 
julgar causas cíveis em que a sociedade empresária privada ou de economia mista, 
ainda que concessionária de serviço público, é autora, ré ou interessada (Conflito de 
Competência n. 2014.068217-3, da Capital, rel. Des. Jaime Ramos, j. 15-10-2014)" 
(Conflito de Competência n. 1002019-60.2016.8.24.0000, da Capital, rel. Des. 
Marcus Túlio Sartorato, j. em 7-12-2016). (TJSC, Conflito de Competência n. 
0002727-25.2019.8.24.0000, da Capital, rel. Cid Goulart, Segunda Câmara de Direito 
Público, j. 07-07-2020). 
 
Desta forma, numa interpretação sistemática do ordenamento jurídico, fica evidente 
que demandas envolvendo as Empresas Públicas e Sociedades de Economia Mista realmente 
não se encaixam na competência das varas fazendárias, sendo processadas e julgadas pela 
justiça comum. 
Todavia, cabe recapitular as decisões das ADPF 513 e 556, pelas quais o Supremo 
decidiu que: 
 
É firme a jurisprudência desta Suprema Corte no sentido de que somente as Empresas 
Públicas que exploram atividade econômica em sentido estrito estão sujeitas ao 
regime jurídico próprio das empresas privadas, nos moldes do art. 173, §1º, II, da Lei 
Maior. Embora constituída sob a forma de Sociedade de Economia Mista, a CAEMA 
desempenha atividades de estados, em regime de exclusividade [...] Por não explorar 
atividade econômica em sentido estrito, sujeita-se, a cobrança dos débitos por ela 
devidos em virtude de condenação judicial, ao regime de precatórios (art. 100 da 
Constituição da República). 
 
[...] A Companhia de Águas e Esgotos dos Rio Grande do Norte - CAERN é Sociedade 
de Economia Mista, prestadora de serviço público em regime não concorrencial e sem 
intuito primário de lucro: aplicação do regime de precatórios. [...] Decisões judiciais 
de bloqueio, penhora, aresto e outras formas de constrição do patrimônio público de 
empresa estatal prestadora de serviço público em regime não concorrencial: ofensa à 
legalidade orçamentária (inc. VI do art. 167 da Constituição), à separação funcional 
de poderes (art. 2º da Constituição) e à continuidade da prestação dos serviços 
públicos (art. 175 da Constituição). 
 
Ocorre que, em que pese as decisões do STF sobre a aplicação do precatório às empresas 
prestadoras de serviços públicos não terem certamente o condão de aumentar a competênciados Juizados, deveriam ao menos servir para diminui-la. Se antes já era visível o desvirtuamento 
do sistema, com a aplicação do precatório fica ainda mais nítido. 
Na justiça comum, estabeleceu-se que as empresas públicas e sociedades de economia 
mista, por não terem, até então, prerrogativas fazendárias seriam abrangidas na competência 
53 
residual da justiça civil comum e não nas varas fazendárias. Com a vinculação dessas empresas 
ao instituto do precatório, não há uma necessidade estridente de alteração na competência, em 
que pese seria mais recomendável o julgamento ser feito nas varas fazendárias, já previstas e 
adaptadas às prerrogativas dos entes que lá litigam. 
Também no sistema dos juizados o caminho mais óbvio seria julgar tais lides nos 
Juizados Especiais da Fazenda Pública, previstos na Lei 12.153, de 22 de dezembro de 2009, 
mesmo que na justiça comum a competência fazendária esteja, ainda, afastada. Isso porque não 
há, a princípio, qualquer problema hermenêutico em quebrar pontualmente o paralelismo da 
competência do Sistema de Juizados com a justiça comum. Ademais, as adaptações nos 
sistemas dos Juizados devem ser pensadas objetivando o fortalecimento dos seus princípios, 
simplificando a atuação e o entendimento daqueles para os quais o sistema serve, os 
jurisdicionados. 
4.4 ELEMENTOS TEÓRICOS SOBRE A COMPETÊNCIA DOS JUIZADOS ESPECIAIS 
CÍVEIS 
 
Inicialmente, cabe uma crítica à doutrina nesse ponto. A Lei dos Juizados Especiais 
Cíveis já passa de duas décadas e meia de existência. Todavia, há ainda muitas questões, 
teóricas e práticas, que se apresentam como verdadeiras lacunas doutrinárias, a exemplo do 
tema da presente pesquisa. 
De modo geral, a doutrina brasileira em parte significativa se resume a esquematizar os 
entendimentos dos tribunais, quando deveria, muito mais, dedicar-se a avançar o 
desenvolvimento da ciência jurídica. Nesse sentido disserta Otavio Luiz Rodrigues Junior 
(2010, p. 72): 
 
Longe de pensar sistemas, formular abstrações e fornecer dados ao juiz, essa doutrina 
(dogmática judicializada) é escrita a partir do que já pensaram os juízes em seus 
acórdãos. Não há margens para erros ou desvios. O doutrinador concede ao estudante 
a visão dos tribunais. Nada além disso. Quando muito, alguma posição acessória de 
crítica discreta ou de aplauso eloquente. O doutrinador surge como o autômato, o 
organizador de jurisprudência em blocos, esquemas e sumas do pensamento do 
tribunal. O leitor deve comprar a novíssima edição, pois, a cada ano, com a mudança 
de humores nas Cortes, a obra está desatualizada. Não pela revogação da lei, mas pela 
alteração de entendimento do pretório 
 
Por outro lado, os Tribunais muitas vezes relegam a segundo plano o relevante papel da 
doutrina. Como exemplo, pode-se citar alguns excertos de um voto do Ministro do STJ 
Humberto Gomes de Barros (2001, sem p.), afirmando que “não importa o que pensam os 
54 
doutrinadores [...]” e, continuando, “[...] Esse é o pensamento do Superior Tribunal de Justiça 
e a doutrina que se amolde a ele.” 
No escopo dos Juizados Especiais, o fenômeno do desinteresse doutrinário foi bem 
observado por Tourinho Neto & Figueira Júnior (2009, p. 42), autores que ressaltam a falta de 
literatura sobre vários temas no microcosmo dos Juizados Especiais, notadamente por muitos 
dos grandes processualistas brasileiros. Afirmam os autores, que os Juizados Especiais se 
mostram na forma de justiça mais próxima do povo, e não podem ser relegados a uma “justiça 
de segunda classe”, mas sim prestigiados e aprimorados. 
Ademais, alia-se a relativa falta de interesse dos autores com a contemporaneidade do 
tema do presente trabalho, dada sua especificidade. 
Contudo, pode-se assumir que a posição majoritária da doutrina tradicional não aventa 
a possibilidade de existência de precatórios nos Juizados Especiais Cíveis, em que pese boa 
parte dos doutrinadores aceitava o julgamento das prestadoras de serviço público neles. 
Conjuga-se o verbo no passado em virtude de que as obras são todas anteriores às recentes 
posições do STF e, destarte, o tema certamente terá que ser repensado daqui para frente. 
Majoritariamente, sempre se entendeu pela possibilidade de julgamento na justiça 
comum e, consequentemente, nos Juizados Especiais Cíveis. Nessa toada, disserta Carvalho 
Filho (2015, p. 502-503): 
 
Quando se trata do aspecto relativo ao exercício em si da atividade econômica, 
predominam as normas de direito privado, o que se ajusta bem à condição dessas 
entidades como instrumentos do Estado-empresário. [...] Ao contrário, incidem as 
normas de direito público naqueles aspectos ligados ao controle administrativo 
resultante de sua vinculação à pessoa federativa. 
 
Porém, importantes vozes contrárias já ecoavam. Uma delas é de Marioni (2016, p. 463), 
que destaca a incompetência dos Juizados no julgamento das lides envolvendo empresas 
públicas e sociedades de economia mista devido ao regime diferenciado destas com relação às 
empresas privadas. Caso contrário, inverte-se a lógica do regime jurídico a elas proposto. 
Ademais, o autor cita as prerrogativas e peculiaridades que colocam esses entes públicos no 
que chama de supremacia em relação às demais empresas, visto a possibilidade de exercer o 
poder de polícia e o desenvolvimento de atividades específicas de Estado. Necessária é a criação 
de uma legislação específica para resolver esse embaraço. 
O autor ainda destaca (p. 267) que as prestadoras de serviço público possuem 
responsabilidade civil objetiva em relação aos danos causados aos particulares, semelhante à 
55 
responsabilidade das pessoas jurídicas de direito público, as quais, de acordo com art. 8º da Lei 
9.099/95, foram suprimidas da alçada da Lei. 
As regras próprias aplicadas a esses entes devido ao fato de exercer serviços típicos do 
Estado, o qual detém o controle das entidades, parecem ter o condão de afastar a competência 
dos Juizados Especiais Cíveis, restando a justiça comum para solução dos litígios 
Porém, a doutrina majoritária e jurisprudência aceitavam causas contra esses entes, 
desde que atendidos os demais critérios. Para apaziguar as divergências, o Enunciado 131 do 
FONAJE, criado em 2009, assevera que “As empresas públicas e sociedades de economia mista 
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios podem ser demandadas nos Juizados 
Especiais”. 
Ocorre que todo ordenamento foi assim pensando antes de o STF decidir pela 
aplicabilidade dos requisitórios às prestadoras de serviços públicos. Por óbvio, agora a posição 
terá de ser repensada, tanto em viés teleológico como sistemático do direito. Os Juizados 
Especiais Cíveis, nos moldes contemporâneos, aparentemente não comportam mais essa 
inovação, teratológica se levado em conta o objetivo para o qual foi criado o sistema. 
Como exemplo da divergência entre as peculiaridades necessárias para ações 
fazendárias e o procedimento do JEC, de forma esclarecedora Rocha (2019, p. 13) disserta que, 
em que pese não haver problema na criação de Juizados Especiais na Justiça Federal, esta não 
poderia ser baseada na Lei dos Juizados Especiais Cíveis Estaduais. Para justificar a vedação, 
o autor cita as várias prerrogativas da Fazenda Pública em juízo que não poder-se-iam repetir 
nos Juizados Especiais Cíveis, entre elas o pagamento através de precatórios como uma das 
mais graves. 
Em relação aos Juizados Especiais Federais, a celeuma doutrinária se encerrou com a 
Emenda Constitucional número 22, de 18.03.1999, que estabeleceu que a criação dos Juizados 
no âmbito da justiça federal dar-se-ia através de lei federal. 
Parece óbvio que ao se exigir outra lei para a criação dos Juizados Especiais Federais 
mostra-se que a Lei 9.099/95 era insuficiente ou incompatível para regular a matéria, sendo a 
expedição de precatórios um dos fatos geradores de divergência. 
Ainda nesse sentido, Rocha (2019, p. 13)afirma que a criação da Lei dos Juizados 
Especiais Federais só se tornou viável após nova alteração da Constituição. A emenda número 
30 de 13.09.2000, objetivou suprimir a incompatibilidade do recém-criado Juizado justamente 
ao sistema dos precatórios, visto que se entendeu que estes prejudicariam a celeridade e 
informalidade dos processos. Assim, acrescentou-se o art. 100, §3º na Carta Magna, que dispõe 
56 
que os precatórios não se aplicam aos pagamentos de pequeno valor, definidos em lei, devidos 
pela Fazenda Pública em virtude de sentença judicial transitada em julgado. 
Posteriormente, no ano de 2002 o legislador incluiu o art. número 87 no Ato das 
Disposições Constitucionais Transitórias com o seguinte texto: 
 
Art. 87. Para efeito do que dispõem o § 3º do art. 100 da Constituição Federal e o 
art.78 deste Ato das Disposições Constitucionais Transitórias serão considerados de 
pequeno valor, até que se dê a publicação oficial das respectivas leis definidoras pelos 
entes da Federação, observado o disposto no § 4º do art. 100 da Constituição Federal, 
os débitos ou obrigações consignados em precatório judiciário, que tenham valor igual 
ou inferior a: 
I - quarenta salários-mínimos, perante a Fazenda dos Estados e do Distrito Federal; 
II - trinta salários-mínimos, perante a Fazenda dos Municípios. 
Parágrafo único. Se o valor da execução ultrapassar o estabelecido neste artigo, o 
pagamento far-se-á, sempre, por meio de precatório, sendo facultada à parte exeqüente 
a renúncia ao crédito do valor excedente, para que possa optar pelo pagamento do 
saldo sem o precatório, da forma prevista no § 3º do art. 100. (Artigo acrescido pela 
Emenda Constitucional nº 37, de 2002) 
 
Com a edição da Lei 10.229/2001 houve a regulamentação dos Juizados Especiais 
Cíveis Federais. Com ela, parte da doutrina passou a entender pela aplicabilidade desta lei no 
julgamento das Fazendas Estaduais e Municipais. Tal discussão somente foi apaziguada com a 
criação dos Juizados Especiais da Fazenda Pública através da Lei 12.153/2009. 
No tocante à lei que trata dos Juizados Especiais Federais, para harmonizar os 
pagamentos com o rito mais célere do Juizado, estabeleceu que o teto das ações seria sessenta 
salários-mínimos, valor este que também seria valor máximo pago por RPV em âmbito federal. 
Ou seja, os Juizados Especiais Federais foram criados já com a garantia lógica, ressalta-se, em 
tese, de que em suas causas não haveria expedição de precatório, pois qualquer condenação 
ficaria abaixo do limite estabelecido para a RPV. 
É importante notar uma peculiaridade dos Juizados Especiais Cíveis em relação aos 
Juizados Especiais Federais. Este, não foi pensado originalmente para ter precatórios, pois o 
valor da causa é limitado ao valor do RPV. Os precatórios surgem normalmente a partir da 
morosidade jurisdicional, que acarreta o acréscimo de montantes significativos de juros aos 
valores das condenações e faz o valor passar do teto da RPV. Nos Juizados Especiais Cíveis 
isso não ocorre da mesma maneira, pois os valores limites da RPV são variáveis de acordo com 
a capacidade de cada entidade, enquanto a Lei que rege o sistema estabelece um teto de valor 
de causa único para todo o território nacional - quarenta salários-mínimos. 
Posteriormente, nos Juizados Especiais Federais, foram necessárias outras alterações 
legais para retirar outras amarras relativas à celeridade dos pagamentos, em que pese esses já 
não serem mais realizados por precatórios. Como exemplo, cita-se a alteração feita no art. 475 
57 
do Código de Processo Civil da época, que dispensou o reexame necessário das sentenças cujo 
valor não ultrapassasse a sessenta salários-mínimos proferidas contra a Fazenda Pública - 
exatamente o mesmo valor em que se dispensa o precatório em âmbito federal (ROCHA, 2019, 
P. 14). 
Desta forma, verifica-se o esforço legislativo de modo a criar instrumentos hábeis para 
o julgamento das causas que envolvem as prerrogativas da Fazenda Pública sem que se criassem 
incompatibilidades entre qualquer norma ou sistema processual. 
 
4.5 CONSEQUÊNCIAS PRÁTICAS VERIFICADAS NO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE 
SANTA CATARINA 
 
Em relação ao julgamento de Empresas Públicas e Sociedades de Economia Mista, a 
posição jurisprudencial é firme no sentido de que a competência é da justiça comum e não da 
fazendária. Entendimento que se verifica súmula 556 do STF, a qual afirma que "é competente 
a Justiça Comum para julgar as causas em que é parte Sociedade de Economia Mista" e Súmula 
42 do STJ em que se firmou o entendimento que "compete à Justiça Comum Estadual processar 
e julgar as causas cíveis em que é parte Sociedade de Economia Mista e os crimes praticados 
em seu detrimento". 
Assim, considerando que a Lei 9.099/95 não proíbe que tais entes sejam réus no 
procedimento previsto por ela, via de regra os Juizados Especiais Cíveis seriam competentes 
para julgar essas causas. 
Ocorre que, com o entendimento do STF, exemplificado através do julgamento das 
ADPFs já citadas, parte da jurisprudência passou a entender que, por estarem submetidas ao 
sistema de RPV e precatórios, as Empresas Públicas e Sociedades de Economia Mista em 
regime não concorrencial não podem ser julgadas pelos Juizados Especiais Cíveis. 
Analisando as decisões dos dois Juizados Especiais Cíveis da cidade de Chapecó, 
podemos verificar a posição esplanada acima. 
Este foi o entendimento do Magistrado titular do 1º Juizado Especial Cível da Comarca 
de Chapecó (Happke, 2020, sem p.): 
 
[...] O regime de expedição de precatório e/ou RPV é absolutamente incompatível 
com o rito do Juizado Especial Cível (Lei nº 9.099/95). Quando foi preconizado, 
foram excluídos todos os entes que se sujeitavam a esse regime de pagamento e 
proteção de bens, justamente pela incompatibilidade com diversos caracteres do 
JECív, entre eles a celeridade, a informalidade, a simplicidade etc. [...] não é 
admissível que Sociedades de Economia Mista que prestam estrito serviço público (e 
não atividade econômica concorrencial) sejam demandadas nos Juizados Cíveis. 
58 
 
 No 2º Juizado Especial Cível da Comarca, o magistrado titular seguiu o mesmo 
entendimento de que os Juizados Especiais Cíveis teriam se tornado incompetentes para 
julgamentos das causas em que o pagamento dar-se-ia através de precatórios (SERPA, 2020, 
sem p.). 
A discussão desembocou no suscitamento, pelo juízo do 2º Juizado Especial Cível da 
Comarca de Chapecó, de Conflito de Competência em face de uma decisão proferida pelo juízo 
da 2ª Vara da Fazenda, no qual o Relator da Turma Recursal, Márcio Rocha Cardoso, decidiu 
que “a necessidade de observância ao regime de precatórios, todavia, entendo que não retira a 
possibilidade de que as Sociedades de Economia Mista figurem no polo passivo das demandas 
propostas nos juizados cíveis [...]” (CONFLITO DE COMPETÊNCIA CÍVEL Nº 5000761- 
88.2020.8.24.0910/SC) 
De modo a fundamentar a decisão, citou o art. 99 do Código de Normas e Organização 
Judiciárias do Estado de Santa Catarina, segundo o qual não faz parte da incumbência dos juízos 
da Fazenda Pública processar e julgar as causas promovidas contra sociedades de economia 
mista. Ainda, ressaltou o entendimento do Des. Jaime Ramos (Conflito de Competência n. 
2014.068217-3, da Capital, j. 15-10-2014), de que é dos Juízos Cíveis e não dos Juízos 
Fazendários a atribuição para julgar as sociedades de economia mista concessionárias de 
serviço público, independentemente de ser autora, ré ou interessada no processo. 
Ainda, o juiz afirmou entender que não há óbice para o julgamento de causas envolvendo 
sociedades de economia mista nos juizados cíveis porque o instituto do precatório, por si só, 
não viola os princípios da celeridade e simplicidade. Sustenta o magistrado que o Tribunal de 
Justiça de Santa Catarina possui "arcabouço técnico para processar este tipo de pagamento junto 
aos juizadosespeciais”. Não se vislumbrando na prática qual seria a violação aos referidos 
princípios, os quais perseguem uma forma procedimental mais concisa, todavia não com 
ausência de regras. O fato de aplicar o precatório a esses entes visa garantir a continuidade dos 
serviços públicos, mormente aqueles essenciais, realizados sob regime não concorrencial. 
Contudo, a consolidação desse entendimento pelo STF não afasta a possibilidade de julgamento 
sob a óbice da Lei 9.099/95, a qual, embora não deixe autorizado de forma expressa, também 
não proíbe. Não resta assim qualquer vedação legal ao julgamento dessas causas nos juizados 
cíveis 
Continuando a explanação, o magistrado lembrou que o legislador trouxe o regime dos 
requisitórios à Lei 12.153/09, que cuida dos Juizados da Fazenda Pública. Acaso se entendesse 
que o precatório causaria a violação dos princípios da simplicidade, celeridade ou até mesmo 
59 
da oralidade seria o mesmo de afirmar que esses princípios não existem ou que são 
originariamente violados nos Juizados Fazendários. 
Importante destacar também o entendimento do juiz auxiliar da Presidência do Tribunal 
de Justiça de Santa Catarina, Romano Jose Enzweiler, o qual assevera que: 
 
"[...]inexiste óbice administrativo ou no sistema informatizado para adoção de 
requisições de pagamento de precatórios pelos juizados especiais cíveis não 
fazendários, salientando que a lista de ordem cronológica e processamento dos 
requisitórios é formada por entidade devedora que, no caso da CASAN, inclusive, já 
se encontra cadastrada. Oportuno registrar que, tocante às obrigações de pequeno 
valor, a competência pertence ao Juízo da Execução, na forma do art. 535, § 3º, II, do 
CPC, arts. 47 a 50 da Resolução CNJ n. 303/2019 e Resolução Conjunta GP/CGJ n. 
01/2014, inexistindo interferência por parte da Presidência desta Corte no 
processamento e pagamento das referidas requisições (RPV´s)." (Evento n. 37 - 
despacho/decisão 3). 
 
Concluiu-se então, no referido julgamento da Turma Recursal, que os Juizados Especiais 
Cíveis são competentes para o julgamento das lides em que constam no polo passivo as 
prestadoras de serviço público, independente do regime em que atuam. 
Contudo, considerando que as decisões do STF em sede de ADPF possuem efeito 
vinculativo, ao contrário da decisão do Conflito de competência julgado pela Turma Recursal 
do TJSC, a celeuma permanece, com juízes pendendo para ambos os lados. 
Na prática os magistrados de primeiro grau, tanto dos Juizados quanto das varas 
fazendárias, continuam adotando posicionamentos distintos sobre o tema, o que traz 
insegurança jurídica e causa morosidade à prestação jurisdicional. 
 
4.6 INSEGURANÇA JURÍDICA E NECESSIDADE DE UNIFICAR A JURISPRUDÊNCIA 
 
Há no Brasil um histórico relativamente amplo de situações em que se pode verificar a 
falta de segurança jurídica. Mais comumente, a insegurança advém da atuação dos Poderes 
Legislativo e Judiciário. Num cenário de incessantes transformações, o Legislativo legista 
muito e causa contradições que o Judiciário tenta, na medida do possível, mas por vezes sem 
sucesso, harmonizar. A atuação judicante, mormente dos Tribunais Superiores, não escapa de 
críticas relacionadas às constantes idas e voltas de posicionamentos, o que foi ironicamente 
batizado pela doutrina como jurisprudência ziguezague (ÁVILA, 2011, p. 45). 
Quando acontece, o fenômeno da insegurança causa prejuízos econômicos, pois 
afugenta o investidor, desampara os jurisdicionados e aumenta ainda mais a já excessiva 
litigiosidade que se verifica em nosso país. Quando a causa está no Poder Judiciário, este perde 
60 
sua credibilidade com os litigantes envolvidos. Porém, quando está no Legislativo, muitas das 
vezes o descrédito perante o cidadão comum, leigo na grande maioria das vezes, acaba caindo 
também ao Judiciário, que é quem em última instância se pronuncia. Quem perde, acima de 
tudo, é o Estado Democrático de Direito, que tem em um dos seus pilares a separação e 
harmonização dos Poderes, constantemente fragilizado pela insegurança jurídica. 
Um Direito perfeito e utópico apresentaria normas concisas e necessárias para regular a 
vida em sociedade. O equilíbrio entre legislar sem deixar lacunas e por outro lado legislar sem 
criar normas desnecessárias ou contraditórias é um desafio permanente para o Legislador. Em 
regra, toda norma tem um grau de abstração. O Legislador cria a hipótese geral, mas não 
consegue positivar todas as possibilidades de exceções possíveis de existir na vida real. A 
velocidade com que muitas vezes o Legislador tem que atuar, devido às constantes 
transformações sociais, também traz dificuldades na criação e modificação das normas. Nesse 
sentido disserta Ávila (2011, p. 50): 
 
O legislador, para assegurar os interesses dos cidadãos e para orientar a sua ação, age 
com rapidez; mas, exatamente porque o faz desse modo, termina legislando de 
maneira equivocada, o que exige a edição de novas normas destinadas a retificar as 
anteriores. O paradoxo é este: se o legislador age rápido, age mal e tem que rever os 
seus atos, o que provoca insegurança; se demora, não assegura os direitos reclamados 
pelos cidadãos, nem os orienta, criando um estado de insegurança. Em busca de 
garantir segurança, o legislador termina criando insegurança. E, ao lado do fenômeno 
da particularização da legislação, surge o fenômeno da sua rápida obsolescência, 
fazendo com que a lei perca as suas características tradicionais de solenidade, de 
generalidade e de permanência. Tal quadro se justifica, pois, a afirmação de que, 
quanto mais leis, menos Direito, e quanto menos leis, mais Direito. 
 
No âmbito do Poder Judiciário, o Novo Código de Processo Civil de 2015 prevê em seu 
art. 926 que os tribunais têm o dever de “uniformizar a sua jurisprudência e mantê-la estável, 
íntegra e coerente”. Tal previsão tem a finalidade de garantir a segurança jurídica ao elencar a 
previsibilidade como um objetivo a ser perseguido pelos juristas. Nesse sentido, merece 
destaque trecho da obra de Bruno Dantas (2013, p. 29): 
 
Quando a mesma situação fática, num dado momento histórico, é decidida por juízes 
da mesma localidade de forma diametralmente antagônica, a mensagem enviada à 
sociedade é de que ambas as partes têm (ou podem ter) razão. Ora, se todos podem ter 
razão, até mesmo quem, por estar satisfeito com o tratamento jurídico que sua situação 
vinha recebendo, não havia batido às portas do judiciário terá forte incentivo a fazê-
lo. Evidentemente, esse fenômeno é algo normal no exercício da jurisdição em 
primeiro grau. Anormal é que a divergência judicial perpasse os tribunais, órgãos 
colegiados concebidos para dar tratamento mais qualificado às questões julgadas em 
primeiro grau. Anormal é que a divergência dos juízes de primeiro grau seja 
fundamentada em acórdãos divergentes de colegiados de um mesmo tribunal, como 
se não existisse ali órgão uno, mas aglomerado de sobrejuízes com competências 
individuais autônomas, o que contraria o princípio constitucional da colegialidade dos 
61 
tribunais. Vale dizer, normal é a jurisprudência dos tribunais orientar a atuação dos 
juízes inferiores. Anormal é os tribunais oferecerem o insumo da imprevisibilidade e 
da insegurança jurídica para os magistrados das instâncias inferiores e a sociedade em 
geral. 
 
 Não é de hoje que se percebem os problemas causados pela falta de uniformidade 
jurisprudencial dos Tribunais, os quais muitas vezes decidem de modo contraditório e 
aumentam o sentimento de insegurança jurídica existente no direito brasileiro. Nesse sentido, 
Teresa Arruda Alvim Wambier (2012, p. 37) alerta que “o jurisdicionado não pode confiar no 
precedente do STJ, pois poderá vir a ser modificado pelo STF, quando entender que a questão 
é também (ou somente) de índole constitucional.” 
Encontram-se na doutrina apelidos, talvez com certo grau de exagero,acerca da 
jurisprudência brasileira e do seu frequente descanso com seus precedentes. Cambi (2001, p. 
108) chama o fenômeno de “jurisprudência ziguezague” e ao falar de falta de segurança jurídica 
chega a mencionar que o funcionamento dos Tribunais se assemelha a um sistema lotérico. 
Se a segurança jurídica fosse levada a sério, é óbvio que não poderia cada tribunal e 
cada juiz ter um entendimento diferente dos mesmos institutos, em que pese muitas vezes vagos 
e indeterminados. A frequente vagueza das previsões legislativas tem o intuito de fazer com 
que o Direito se adeque às mudanças da sociedade. Todavia, esse fenômeno não deve dar azo 
ao surgimento de decisões conflitantes pelos operadores da lei. Cada juiz tem a prerrogativa de 
decidir conforme sua consciência, todavia deve respeitar limites legais e da hermenêutica 
jurídica, nunca olvidando da necessidade de manter o sistema jurídico íntegro e coerente 
(STRECK, 2010, p. 95). 
As decisões judiciais quando conflitantes geram uma reação em cadeia. Ao não respeitar 
os precedentes jurisprudenciais, avoluma-se o número de ações e recursos no Poder Judiciário. 
Isso porque, ao gerar dúvida sobre o posicionamento na questão objeto da lide, o tribunal 
incentiva que outros jurisdicionados não se contentem com as decisões proferidas e busquem 
cada vez mais novas manifestações dos tribunais, seja através de processos nos juízos a quo ou 
pela via recursal, na crença, muitas vezes infundada, de alcançar a proteção aspirada. Como 
consequência, ter-se-á um sistema inchado por um volume descomunal de postulações. 
De modo geral, o pouco detalhamento das previsões legais que instituem os Juizados 
Especiais é muitas vezes benéfico por possibilitar uma flexibilização procedimental que garante 
o acesso à justiça e a celeridade processual. Todavia, também deixa margens para decisões 
contraditórias, a exemplo das citadas no presente trabalho sobre a competência, ou falta dela, 
62 
dos Juizados Especiais Cíveis para julgar as prestadoras de serviço público submetidas aos 
requisitórios. 
Tamanha flexibilização procedimental não foi acompanhada por mecanismos de 
controle, considerando a limitação recursal do sistema. Assim, deve-se fomentar o debate sobre 
formas de corrigir essas discrepâncias práticas e unificar o entendimento dos magistrados 
atuantes nos Juizados Especiais Cíveis, de modo a garantir que o acesso à justiça não será 
prejudicado e que o Sistema continue a desempenhar sua fundamental função em nossa 
democracia. 
 
63 
5 CONCLUSÃO 
 
Em suma, os Juizados Especiais Cíveis foram criados para ascender a previsão de acesso 
à justiça, elencada como supra princípio em nossa Constituição. Dentre seus princípios mais 
importantes, destacam-se a simplicidade, a oralidade, a celeridade, a economia processual e a 
conciliação. A fiel observância dos princípios norteadores dos Juizados têm fundamental 
importância no correto e efetivo funcionamento do sistema. 
Os princípios da celeridade e da simplicidade têm o condão de diminuir as amarras 
burocráticas que existem no procedimento comum, o que se possibilita devido a simplificação 
do procedimento, o aproveitamento das provas e a oralidade dos atos. 
Nesse sentido, o tema do presente trabalho se deve à celeuma recente que envolve a 
discussão sobre a competência dos Juizados Especiais Cíveis para julgamento de ações contra 
empresas públicas e sociedades de economia mista que atuam em regime de monopólio. 
Historicamente já ecoavam vozes contrárias à competência dos Juizados para julgar 
essas causas. Todavia, foi com os julgamentos das várias ADPFs pelo STF que o a discussão 
ganhou relevos mais notáveis. Isso porque, com efeito vinculante, decidiu-se que as referidas 
sociedades empresárias se subordinam ao instituto dos requisitórios. 
Com as decisões do Supremo, começou a se criar na jurisprudência o entendimento de 
que tais ações não mais devem transitar nos Juizados Especiais Cíveis pela falta de 
competência, aduzindo-se que esta se esvai com a quebra dos princípios da celeridade, 
simplicidade e economia processual ocasionadas pela morosidade dos requisitórios. 
Em regressão histórica, nota-se que os requisitórios realmente não parecem se encaixar 
nos objetivos os quais o legislador elencou na gênese dos Juizados Especiais Cíveis, dado que 
estes foram criados para solucionar demandas não complexas de pessoas físicas, mormente nas 
causas consumeristas, de forma rápida, efetiva e satisfatória. 
Conquanto tenham tido sua competência gradual e excessivamente aumentada para 
abranger diversas outras causas, como exemplo, aquelas intentadas pelas microempresas e 
empresas de pequeno porte, os objetivos originários ainda devem prevalecer, mesmo já tendo 
sido deturpados em certo grau. 
Trazer causas em que haja possibilidade de requisitórios para o já exaurido sistema dos 
Juizados nos parece prejudicar ainda mais o andamento dos processos num sistema que já não 
é mais tão célere quanto deveria. A morosidade dos pagamentos feitos pela Fazenda Pública, 
principalmente quando realizados por meio de precatórios, ao menos na fórmula prevista hoje, 
64 
vai de encontro com os princípios mais caros dos Juizados Especiais Cíveis, a exemplo das já 
citadas celeridade, simplicidade e efetividade. 
Assim, em que pese na justiça comum as causas envolvendo sociedades de economia 
mista são resolvidas pelas varas cíveis e não pelas várias fazendárias, nos Juizados Especiais a 
situação poderia, ou talvez deveria, se inverter. Isso porque nos Juizados Especiais Fazendários 
há causas em que inevitavelmente o pagamento se dá por requisitórios. 
De toda forma, com os Juizados Especiais sendo competentes ou não, é necessário se 
debruçar sobre o tema que futuramente possa haver a pacificação do entendimento 
jurisprudencial, de modo a não ferir o tão consagrado princípio do acesso à justiça, carro-chefe 
de um Estado Democrático de Direito. 
Há de se buscar uma solução que não desprestigie junto à população o tão importante 
Sistema de Juizados Especiais, de modo que este continue a propiciar ao jurisdicionado a 
oportunidade de buscar seus direitos lesados e, com isso, ter garantido o exercício da cidadania. 
 
 
 
65 
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______. Lei nº 13.303, de 30 de junho de 2016. Dispõe sobre26 
2.2.3 Princípios da simplicidade e da informalidade ............................................................... 28 
2.2.4 Princípio da economia processual .................................................................................. 29 
2.2.5 Princípio da oralidade ................................................................................................... 30 
3 PAGAMENTO DE CONDENAÇÕES JUDICIAIS PELA FAZENDA PÚBLICA ................ 32 
3.1 ORIGEM E CARACTERÍSTICAS DO PRECATÓRIO ........................................................ 32 
3.2 CONCEITO DE PRECATÓRIO E SUAS CARACTERÍSTICAS ........................................... 33 
3.3 INADIMPLEMENTO ....................................................................................................... 35 
3.4 REQUISIÇÃO DE PEQUENO VALOR .............................................................................. 37 
3.5 ENTIDADES QUE PAGAM POR REQUISITÓRIOS .......................................................... 39 
3.6 A MUDANÇA DE ENTENDIMENTO SOBRE A APLICAÇÃO DOS REQUISITÓRIOS ÀS 
EMPRESAS PÚBLICAS E SOCIEDADES DE ECONOMIA MISTA ......................................... 40 
4 ELEMENTOS TEÓRICOS E PRÁTICOS DO PROCESSO NO JUIZADO CÍVEL COM 
RÉS QUE PRESTAM SERVIÇO PÚBLICO EM REGIME DE MONOPÓLIO ...................... 48 
4.1 DO EXCESSO DE COMPETÊNCIA DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS .......................... 48 
4.2 DA POSSÍVEL INCOMPATIBILIDADE PRINCIPIOLÓGICA OCASIONADA PELA 
APLICAÇÃO DO INSTITUTO DO PRECATÓRIO NOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS .......... 50 
4.3 DO PARALELISMO COM A JUSTIÇA COMUM .............................................................. 51 
4.4 ELEMENTOS TEÓRICOS SOBRE A COMPETÊNCIA DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS
 ............................................................................................................................................ 53 
11 
4.5 CONSEQUÊNCIAS PRÁTICAS VERIFICADAS NO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SANTA 
CATARINA .......................................................................................................................... 57 
4.6 INSEGURANÇA JURÍDICA E NECESSIDADE DE UNIFICAR A JURISPRUDÊNCIA ........ 59 
5 CONCLUSÃO ................................................................................................................... 63 
6 REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 65 
APÊNDICE A....................................................................................................................... 71 
APÊNDICE B....................................................................................................................... 73 
 
 
 
 
 
 
12 
1. INTRODUÇÃO 
 
O presente trabalho tem como objetivo estudar acerca da competência, ou falta dela, dos 
Juizados Especiais Cíveis, especificamente no tocante ao julgamento de causas promovidas 
contra Empresas Públicas e Sociedades de Economia Mista prestadoras de serviço público em 
regime não concorrencial. 
A relevância da discussão resume-se na tentativa de melhorar a compreensão do tema. 
Isso porque o STF decidiu, com força vinculante, que os pagamentos das Empresas Públicas e 
Sociedades de Economia Mista em condenações judiciais sujeitam-se ao regime de 
requisitórios, ou seja, precatórios e requisições de pequeno valor (RPV). Baseados nisso, parte 
dos juristas entende que os Juizados Especiais Cíveis se tornaram incompetentes para o 
julgamento das causas em que estas entidades estejam no polo passivo. De modo análogo, varas 
fazendárias também se julgam incompetente para o deslinde dos casos. 
Para o desfecho desta pesquisa dar-se-á ênfase à jurisprudência recente sobre o tema, 
mormente às decisões do STF nos julgamentos das várias Arguições de Descumprimento de 
Preceito Fundamental sobre o tema, bem como na decisão proferida pela Turma Recursal do 
TJSC no Conflito de Competência n. 5000761-88.2020.8.24.0910 e nas decisões recentes do 1º 
e 2º Juizados Especiais Cíveis e das Varas Fazendárias da Comarca de Chapecó, entre outras 
decisões relevantes sobre a questão. Ademais, também debruçar-se-á sobre leis pertinentes, 
bem como na doutrina sobre a temática. 
Assim, a presente pesquisa será dividida em três capítulos. O primeiro deles será 
destinado a elaborar um breve contexto histórico acerca da formação e objetivos dos Juizados 
Especiais Cíveis, debatendo também sobre os seus princípios, principalmente aqueles 
relacionados ao conflito de competência em questão e, possivelmente, violados. No segundo 
capítulo, discorrer-se-á acerca do conceito e das formas de pagamento da Fazenda Pública em 
condenações judiciais. E, no derradeiro capítulo final, será debatida e analisada a problemática 
com base nos julgados recentes e, apoiando-se nos conceitos da melhor doutrina, tentar-se-á 
chegar a uma conclusão que unifique os entendimentos acerca da competência ou 
incompetência do Juizado nas citadas causas. 
 
1.1 OBJETIVOS 
 
De acordo com a contextualização e problemática exposta na introdução, serão 
apresentados a seguir o objetivo geral e os objetivos específicos deste trabalho. 
13 
 
1.1.1 Objetivo geral 
 
Delinear acerca da competência, ou falta dela, dos Juizados Especiais Cíveis para julgar 
causas envolvendo no polo passivo Empresas Públicas e Sociedades de Economia Mista 
prestadoras de serviço público em regime de monopólio. 
 
1.1.2 Objetivos específicos 
 
a. Analisar os princípios dos Juizados Especiais Cíveis que têm relação com o 
julgamento de causas envolvendo no polo passivo Empresas Públicas e Sociedades 
de Economia Mista prestadoras de serviço público em regime de monopólio; 
b. Compreender como ocorrem os pagamentos de condenações judiciais de Empresas 
Públicas e Sociedades de Economia Mista prestadoras de serviço público em regime 
de monopólio; 
c. Compreender as ADPFs 513 e 556 do STF e outras sobre a temática, bem como 
analisar se tais decisões têm o condão de suprimir a competência dos Juizados 
Especiais Cíveis nas causas em que a parte ré é Empresa Pública ou Sociedade de 
Economia Mista atuante em regime de monopólio; 
 
1.2 JUSTIFICATIVA 
 
Sabe-se que os Juizados Especiais Cíveis, instituídos através Lei 9.099/1995, são regidos 
pelos princípios da oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade, 
entre outros. 
A referida lei, em seu art. 8º, versa sobre quem não pode ser parte nas ações perante os 
Juizados Especiais Cíveis. Nesse sentido, destaca-se a proibição em ser parte de pessoas 
jurídicas de direito público e Empresas Públicas da União. 
Nesse ínterim, não há problemas, via de regra, em propor ações contra Empresas 
Públicas e Sociedades de Economia Mista de modo geral. Isso porque não há qualquer proibição 
expressa. 
Ocorre que, através do julgamento de várias Arguições de Descumprimento de Preceito 
Fundamental (ADPF), a exemplo das de n. 513 e 556, o STF decidiu que o pagamento das 
condenações judiciais de Empresas Públicas e Sociedades de Economia Mista prestadoras de 
14 
serviço público em regime de monopólio sujeitam-se ao regime RPV e precatórios. Com isso, 
suscitou-se dúvidas nos julgadores acerca da possibilidade de haver tais condenações em 
Juizados Especiais Cíveis, visto que muitos juristas entendem que tal regime de pagamento põe 
em xeque alguns princípios dos Juizados, mormente o da celeridade processual e o da 
simplicidade. 
Assim, a jurisprudência se sedimentou entre aqueles que afirmam ser possível o 
julgamento das referidas causas nos Juizados Especiais Cíveis e aqueles que defendem a 
incompetência desses Juizados para o julgamento das referidas ações. 
Exemplo prático dessa contenda pode ser visto no Tribunal de Justiça de Santa Catarina. 
O magistrado titular do 2º Juizado Especial Cível da Comarca de Chapecó suscitou Conflito de 
Competência n. 5000761-88.2020.8.24.0910, em faceo estatuto jurídico da empresa 
pública, da Sociedade de Economia Mista e de suas subsidiárias, no âmbito da União, dos 
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70 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
APÊNDICES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
71 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
APÊNDICE A 
___________________________________________________________________________ 
 
Atestado de Autenticidade da Monografia 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
72 
UNIVERSIDADE COMUNITÁRIA DA REGIÃO DE CHAPECÓ – UNOCHAPECÓ 
CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO 
 
 
 
 
 
ATESTADO DE AUTENTICIDADE DA MONOGRAFIA 
 
 
 
 
Eu, Ricardo Metz Weitz, estudante do Curso de Direito, código de matrícula n. 750282, declaro 
ter pleno conhecimento do Regulamento da Monografia, bem como das regras referentes ao seu 
desenvolvimento. 
Atesto que a presente Monografia é de minha autoria, ciente de que poderei sofrer sanções nas 
esferas administrativa, civil e penal, caso seja comprovada cópia e/ou aquisição de trabalhos de 
terceiros, além do prejuízo de medidas de caráter educacional, como a reprovação n 
componente curricular Monografia II – Seminário de Socialização de monografias, o que 
impedirá a obtenção do Diploma de Conclusão do curso de graduação. 
 
 
Chapecó, 10 de junho de 2023. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
73 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
APÊNDICE B 
___________________________________________________________________________ 
 
Termo de Solicitação de Banca 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
74 
UNIVERSIDADE COMUNITÁRIA DA REGIÃO DE CHAPECÓ – UNOCHAPECÓ 
CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO 
 
 
 
 
 
TERMO DE SOLICITAÇÃO DE BANCA 
 
 
 
 
Encaminho à Coordenação do Núcleo de Monografia o trabalho monográfico de conclusão de curso do 
estudante __________________________________________________, cujo título é A 
(in)competência dos Juizados Especiais Cíveis para julgar empresas públicas e sociedades de economia 
mista prestadoras de serviço público em regime de monopólio em consonância com as recentes decisões 
do STF, realizado sob minha orientação. 
Em relação ao trabalho, considero-o apto a ser submetido à Banca Examinadora no Seminário de 
Socialização de Monografias, vez que preenche os requisitos metodológicos e científicos exigidos em 
trabalhos da espécie. 
Para tanto, solicito as providências cabíveis para a realização da defesa regulamentar. 
 
 
Chapecó, 10 de junho de 2023. 
 
 
 
 
__________________________________________________ 
Assinatura do orientadorda 2ª Vara da Fazenda Pública da 
Comarca de Chapecó, sendo que a 1ª Turma Recursal decidiu, no caso em apreço, que o 2º 
Juizado Especial Cível é que tem competência para o julgamento. 
No entanto, o acórdão da Turma Recursal não tem efeito vinculante, ou seja, não torna 
obrigatório o julgamento das ações semelhantes pelos Juizados Especiais Cíveis, assim como 
não proíbe o julgamento pelos Juízos Fazendários, ficando tais decisões exclusivamente a cargo 
dos magistrados de primeiro grau, em cada ação distribuída. 
A jurisprudência sedimentada sobre o assunto acarreta insegurança jurídica para o 
jurisdicionado. Como exemplo disso, cita-se a Comarca de Chapecó, em que há dois Juizados 
Especiais Cíveis. Num deles, o magistrado titular extinguia o processo entendendo a falta de 
competência (nos Juizados não há a obrigação de remeter os autos para a vara competente), 
enquanto o juiz titular da outra vara recebia e, com ressalvas, dava prosseguimento à lide, 
mesmo já tendo demonstrado o entendimento de ser incompetente para a causa. 
Dito isso, evidencia-se a necessidade de um maior aprofundamento sobre o tema, a fim 
de que se possa entender se os Juizados Especiais Cíveis são competentes ou não para o 
julgamento dos processos em questão, de modo a auxiliar na unificação do entendimento sobre 
o tema. 
15 
2 A GÊNESE DOS JUIZADOS ESPECIAIS 
 
2.1 ORIGEM HISTÓRICA 
 
Ao se fazer uma regressão histórica, nota-se que o modelo coexistencial de justiça 
participativa tem resquícios longínquos, provenientes da época colonial do Brasil. Naquele 
tempo, o modelo de justiça era local e popular, em que pese não ser um ideal a servir de 
exemplo. Porém, destoa o contraste com o modelo republicano de justiça, excessivamente 
formal, conservador e elitizado, marcado pelo positivismo jurídico e fadado a profundas e 
constantes crises (ABREU, 2008, p. 28). 
O modelo liberal-individualista, popular no início da República, mostrou-se ineficaz 
frente às reais necessidades de um regime democrático justo. Assim, o Estado teve que 
reconhecer sua incapacidade de onipresença e buscar a participação de outros atores para 
auxiliá-lo a resolver as demandas cada vez mais numerosas. A tão buscada justiça social, de 
índole constitucional, passou a ser uma exigência da democracia (ABREU, 2008, p. 34). 
Após a modernidade, a necessidade de criação de um órgão para julgar pequenas causas 
foi notada em vários sistemas jurídicos do mundo. Nos Estados Unidas, criaram-se as “Small 
Claims Courts”, a fim de proporcionar o acesso à justiça para a população financeiramente 
carente e com isso diminuir a desigualdade existente no sistema judicial da época, que era, na 
prática, inacessível aos operários e donos pequenos comércios (OLIVEIRA, 1989, p. 3). 
No modelo de corte americana o procedimento era ainda mais célere do que aquele 
conhecido hoje. Naquele processo não se criavam autos. O juiz da causa ouvia as partes e 
eventuais testemunhas anotando o que julgasse necessário em uma simples ficha. Em todo 
momento tentava-se pôr fim ao litígio através de uma solução amigável constantemente 
estimulada, resultando em composição uma parte significativa dos processos (1985, sem p.). 
No Brasil, a criação de um modelo de juízo de pequenas causas foi prevista já na 
Constituição de 1934. A ideia era julgar causas de menor valor econômico de forma 
especializada, mais célere e informal, focando primordialmente na conciliação. 
Porém foi só após o sucesso da experiência norte-americana que o Secretário Executivo 
vinculado ao Ministério da Desburocratização, o qual era responsável pelo Programa Nacional 
de Desburocratização do Poder Executivo da época, viajou para os Estados Unidos a fim de 
conhecer a experiência jurídica das “smalls claim courts”, em funcionamento na cidade de 
Nova Iorque. Aquelas singelas cortes internacionais eram presididas por juízes togados, mas 
contavam com o auxílio de árbitros, normalmente escolhidos entre advogados, e julgavam 
16 
causas de até mil dólares. Nelas, somente no ano de 1982 foram julgadas cerca de setenta mil 
causas (CUNHA, 2008, p. 17). 
Segundo Watanabe (FONAJE, 2020, live) mais de 70% das reclamações recebidas pelo 
Ministério da Desburocratização diziam respeito às deficiências do Poder Judiciário da época. 
Assim, sem dúvidas a experiência nova-iorquina foi vista de forma eufórica como uma 
possibilidade de aumentar o prestígio do Judiciário junto à sociedade. 
Paralelamente, no ano de 1982 surgiram no Rio Grande do Sul os Conselhos de 
Conciliação e Arbitragem. Estes não tinham previsão legal e eram compostos por juízes 
improvisados, que muitas vezes atuavam fora do horário de expediente (ROCHA, 2019, p. 4). 
Quase que de forma simultânea ao movimento rio-grandense, foram instaladas Juntas 
Informais de Conciliação no estado de São Paulo. Após, face ao pioneirismo bem-sucedido da 
experiência e a produção de resultados significativos, foram instalados Conselhos também em 
outros estados da federação (DINAMARCO, 2019, p. 772). 
Com o sucesso dos recentes Conselhos de Conciliação espalhados pelo país, sobretudo 
aqueles criados no Rio Grande do Sul, aliado à experiência adquirida em Nova Iorque, o 
Ministério da Desburocratização propôs a criação dos Juizados de Pequenas Causas. Aquilo 
que já estava previsto na Constituição de 1934 e nunca tinha sido implantado começou a ganhar 
forma com a proposição da Lei 7.244/84 (CUNHA, 2009, p. 15). 
Após a publicação do anteprojeto da referida Lei, os advogados se posicionaram contra 
devido à relativização do princípio da capacidade postulatória exclusiva do advogado. Surgiu 
uma grande discussão e uma verdadeira batalha contra a ferrenha oposição da Ordem dos 
Advogados do Brasil. Desta forma, aprovou-se de forma mais modesta a criação dos Juizados 
de Pequenas Causas. Estes, inicialmente, tinham competência para julgar causas de até vinte 
salários-mínimos, sendo que as de até dez salários-mínimos poderiam ser intentadas sem 
advogado. Ademais, havia somente competência para o processo de conhecimento, excluindo-
se a execução (FONAJE, 2020, live). 
Watanabe relembra com saudosismo sua atuação na criação dos Juizados. Segundo o 
jurista, após a aprovação da Lei, o Tribunal de São Paulo somente criou estrutura para a parte 
da conciliação. Criou-se o Fórum Regional da Lapa. Sua inauguração contou com a presença 
ilustre do presidente do STF à época, Moreira Alves, o qual afirmou em seu discurso estar 
presenciando a coisa mais importante já vista em sua carreira. O resultado colhido na Lapa foi 
estrondoso. Com mais de sessenta advogados atuando como conciliadores, além de juízes e até 
promotores, funcionando na maior parte das vezes à noite, obtinha-se conciliação em mais de 
90% dos processos. (FONAJE, 2020, live). 
17 
A criação dos Juizados Especiais Cíveis buscou legitimar o modelo democrático no 
início dos anos 80. Foi um movimento que partiu tanto do Poder Judiciário, buscando alterar 
sua estrutura de forma a aumentar o acesso à justiça, quanto do Poder Executivo, o qual buscava 
alavancar o número de causas que o Judiciário era capaz de julgar de forma eficiente, a fim de 
perseguir o viés democrático buscado já na época. A estratégia era buscar legitimidade naquele 
momento de crise institucional (CUNHA, 2008, p. 12). 
Naquele período histórico havia um grande sentimento de antipatia em relação ao Poder 
Judiciário. A impressão era de que alguma coisa deveria ser feita de forma urgente para 
melhorar o sistema a fim de evitar um colapso institucional. A chamada crise judiciária da época 
possuía diversos fatores, tanto internos quanto externos, e passava sem dúvidas pelas 
modificações sociais, políticas e econômicas recém experimentadas. Embora os Juizados 
Especiais não fossem suficientes para resolver a crise, buscou-se neles uma forma de minimizar 
seus impactos através da justiça participativa (devido ao aumentoda participação da 
comunidade) e da justiça coexistencial (graças à participação de outros atores no processo e 
priorização da autocomposição). A tutela prestada pelo Estado-juiz foi repensada, dando 
prioridade à conciliação amigável ao invés da imperatividade de uma decisão forçada, imposta 
por um mecanismo estatal moroso e desacreditado. A Lei dos Juizados Especiais Cíveis 
representou uma verdadeira revolução da cultura jurídica do país, a qual tonificou o pouco 
crédito que o Poder Judiciário tinha junto aos cidadãos (TOURINHO NETO & FIGUEIRA JR. 
2009, p. 44). 
A experiência dos Juizados significava uma acentuada sensação de melhora no serviço 
prestado pelo Judiciário, ocasionada pela aproximação da justiça e da comunidade a fim de 
amenizar os conflitos sociais. (CUNHA, 2008, p. 21). 
Ressalta ROCHA (2019, p. 4) que um dos objetivos mais importantes da criação dos 
Juizados foi a tentativa de criar uma cultura de conciliação na resolução dos conflitos no Brasil. 
Tentou-se mudar o foco. Enquanto no procedimento comum havia grande preocupação em 
relação às questões processuais, no novo procedimento o foco estaria nas partes em litígio e no 
bem jurídico buscado. Com a conciliação, evita-se o longo caminhar processual, pacificam-se 
os conflitos e se obtêm uma solução baseada na vontade das partes, o que via de regra as agrada 
mais do que uma solução imposta. 
Quando o constituinte originário criou a Constituição atual, já existia o Juizado de 
Pequenas Causas, o qual de forma geral atendia aos objetivos para o qual foi proposto. Assim, 
a fim de dar força constitucional a essa justiça especializada, previu-se na CRFB dois modelos 
de Juizados: aquele que já existia, o Juizado de Pequenas Causas, bem como ressuscitou-se a 
18 
previsão de criação dos Juizados Especiais, sendo o primeiro competente para causas de menor 
valor econômico e o segundo com competência para julgar causas menos complexas e infrações 
penais de menor potencial ofensivo (ROCHA, 2019, p. 6). 
Em 26 de setembro de 1995, sancionou-se a Lei 9.099, a qual versa, conjuntamente, 
acerca dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais. Assim, criaram-se os Juizados Especiais 
Cíveis como órgãos da justiça ordinária com objetivo de julgar as lides de sua competência, 
além de promover a conciliação entre as partes e a execução de seus próprios julgados 
(PARIZATTO, 2017, p. 10). 
 Surpreendentemente, a referida lei expressamente revogou a lei do Juizado Especial de 
Pequenas Causas. Com isso, confundiu-se, de maneira equivocada, complexidade com valor 
econômico. A despeito da previsão constitucional de ambos os modelos de Juizados, unificou-
se todo procedimento na Lei 9.099/95, ignorando-se que causas de pequeno valor não 
necessariamente são simples, e causas complexas não obrigatoriamente são de alto valor. 
Conquanto tenha havido a confusão conceitual na criação do modelo de Juizado 
existente hoje, houve a contemplação de causas de pequeno valor (art. 3º, incisos I e IV da Lei 
9.099/95) e também de causas especiais em razão da menor complexidade da matéria (art. 3º, 
incisos II e III da Lei 9.099/95). Portanto, no mesmo diploma legislativo foram abrangidas as 
competências dos arts. 24, inciso X, e 98, inciso I, da CRFB (ROCHA, 2019, p. 7). 
Watanabe critica a forma como esse sistema é estruturado hoje. Segundo o autor, 
ampliou-se demais a competência dos Juizados Especiais de modo que eles passaram a servir 
acima de tudo ao melhoramento do desempenho do Judiciário, que ainda sofre com o acúmulo 
de processos. Para o jurista, a transformação dos Juizados em somente mais uma espécie de 
justiça especializada retira o cerne do significado do Juizado de Pequenas Causas. Há sem 
dúvida um grande distanciamento do modelo de hoje daquele que foi proposto na primeira Lei 
dos Juizados e, ainda mais, daquilo que se viu fazer tanto sucesso em Nova Iorque. (FONAJE, 
2020, live). 
Contudo, o modelo criado se mostrou, embora não livre de fundamentadas críticas, 
eficiente em seu papel. Mesmo com os reveses surgidos ao longo do tempo. Happke (2012, sem 
p.) afirma que a instituição ainda é bem-vista junto aos jurisdicionados. O autor ressalta que os 
Juizados ainda hoje podem ser considerados como a “vitrine da Justiça”, graças à elevada 
credibilidade que estes detêm quando comparados à justiça comum. 
Devido ao sucesso inicial dos Juizados Especiais Cíveis, foram criados modelos 
análogos também na Justiça do Trabalho (Lei 9.957/2000), na Justiça Federal (Lei 10.259/2001) 
e nos Juízos da Fazenda dos Estados, Municípios e Distrito Federal (Lei 12.153/2009). 
19 
Esse conjunto de leis tratando de modelos semelhantes de Juizados poderia ser previsto 
em apenas um diploma legal, unificando regras e conceitos, de modo a tornar menos confuso o 
tratamento da matéria. Nesse sentido, foi a aprovada no Fórum Permanente de Processualistas 
Civis moção que discorre sobre a necessidade de elaboração de uma nova lei de Juizados 
Especiais, a fim de dar “aos Juizados Especiais Cíveis, aos Juizados Especiais Cíveis, aos 
Juizados Especiais Federais e aos Juizados da Fazenda Pública tratamento compatível com o 
Código de Processo Civil de 2015”. (FPPC, p. 67). 
 Os Juizados Especiais Cíveis, de modo geral, preveem um procedimento sem excesso 
de formalismo e burocracia, assim buscando tornar mais célere a prestação jurisdicional 
(DONIZETTI, 2016). Ademais, a gratuidade prevista pela Lei 9.099/95, consoante na ausência 
de custas e honorários de sucumbência em primeiro grau de jurisdição, vem ao encontro do que 
se entende por Estado Social. (BOTTIN, 2006). 
Segundo Luciana Gross Cunha (2008, p. 11): 
 
Ainda sob esta perspectiva, os juizados especiais no Brasil, ao contrário dos países da 
common law, nasceram de uma iniciativa dos tribunais que se viram diante da 
necessidade de atender conflitos que antes não chegavam ao sistema de Justiça. Neste 
processo, o Judiciário brasileiro, juntamente com o processo de transição política para 
a democracia, que atingia mais diretamente o Poder Executivo, no início da década de 
80, aderiu à agenda de democratização, aproximando-se da população com o objetivo 
de se legitimar. Assim, a criação dos juizados especiais no Brasil seria resultado de 
dois movimentos: um que parte do Poder Judiciário ao instituir em sua estrutura novas 
formas de acesso à Justiça; outro de iniciativa do Poder Executivo ao produzir 
políticas que ampliam a capacidade do poder Judiciário de apreciar um maior número 
de direitos, de forma mais rápida e eficiente, democratizando o Estado. 
 
Na atual Constituição há menção aos modelos de Juizados em dois dispositivos. No art. 
94, cita-se o Juizado de Pequenas Causas. Já no art. 98, dispõe-se acerca dos Juizados Especiais. 
Tais dispositivos constitucionais servem para estabelecer as finalidades e as características de 
cada modelo, balizando, ao lado dos princípios, a interpretação normativa. (BORRING, p. 9). 
Com a criação de vários Juizados Especiais, a doutrina passou a conceituar um Sistema 
de Juizados Especiais. Com o advento da Lei 9.099/95, houve a previsão legal desse Sistema 
em seu art. 93, o qual dispõe que a “Lei estadual disporá sobre o Sistema de Juizados Especiais 
Cíveis e Criminais, sua organização e competência”. 
Posteriormente, com a vigência da Lei dos Juizados Especiais da Fazenda Pública o 
referido Sistema ganhou projeção. Isso porque seu art. 1º dispõe que: 
 
Art. 1º Os Juizados Especiais da Fazenda Pública, órgãos da justiça comum e 
integrantes do Sistema dos Juizados Especiais, serão criados pela União, no Distrito 
20 
Federal e nos Territórios, e pelos Estados, para conciliação, processo, julgamento e 
execução, nas causas de sua competência. 
 
Parágrafo único. O sistema dos Juizados Especiais dos Estados e do Distrito Federal 
é formado pelos Juizados Especiais Cíveis, Juizados Especiais Criminais e Juizados 
Especiais da Fazenda Pública.Portanto, considerando todos os Juizados Especiais existentes no ordenamento jurídico, 
pode-se falar que existe atualmente um Sistema de Juizados Especiais, com princípios, regras 
e procedimentos próprios. Nesse sentido, leciona Tourinho Neto e Figueira Jr. (2007, p. 734): 
 
Sistema de Juizados Especiais vêm a ser, portanto, um conjunto de regras e princípios 
que fixam, disciplinam e regulam um novo método de processar as causas cíveis de 
menor complexidade e as infrações penais de menor potencial ofensivo. Uma nova 
Justiça marcada pela oralidade, simplicidade, informalidade, celeridade e economia 
processual para conciliar, processar, julgar e executar, com regras e preceitos próprios 
e, também, com uma estrutura peculiar, Juízes togados e leigos, Conciliadores, 
Juizados Adjuntos, Juizados Itinerantes, Turmas Recursais, Turmas de 
Uniformização. 
 
A expressão “Sistema” é interpretada de diferentes formas pela doutrina. Fazendo parte 
da porção majoritária, cita-se Rocha (2019, p. 19) e Câmara (2010, p. 195), os quais entendem 
que as Leis dos Juizados existentes (Lei 9.099/95, Lei 10.259/01 e Lei 12.153/09) se integram, 
formando uma espécie de Estatuto dos Juizados. 
Há um entendimento bastante difundido de que os Juizados pertencem a um 
Microssistema próprio, também chamado de Teoria do Microssistema. Na maioria das vezes, a 
expressão é utilizada no sentido de enfatizar a autonomia dos Juizados dentro do ordenamento 
jurídico como um todo. Todavia, as críticas a essa posição se sintetizam na absoluta separação 
jurídica que ela traria para os Juizados, como por exemplo, na aparente impossibilidade de 
submeter às decisões a recursos a órgãos não integrantes do microssistema (ROCHA, 2019, p. 
20). 
Analisando todas as nuances acerca dos Juizados Especiais, aliado à regressiva análise 
doutrinária e jurisprudencial, infere-se que não se privilegiou a Teoria do Microssistema. Uma 
porque pela grande proporção de processos distribuídos nos Juizados não poderia se falar em 
microssistema. Ademais, certamente a intenção do legislador não foi criar um microssistema, 
visto que não há como isolar os Juizados Especiais do restante do ordenamento. Tal tentativa 
só criaria problemas conjunturais, além de violar o acesso à justiça. 
Desta forma, ao se falar em um Sistema de Juizados Especiais, deve-se remeter ao 
conjunto de Leis que os disciplinam, consoante apregoa a Teoria do Estatuto. A autonomia dos 
órgãos judicantes que integram esse Sistema é a mesma daqueles que integram a justiça 
21 
ordinária, ou seja, sujeita a controle de outros órgãos, a exemplo do STF. Ademais, todos os 
órgãos do Sistema devem respeitar os princípios básicos estabelecidos pela CRFB, além 
daqueles especiais, previstos nas normas legais instituidoras. A visão macro dos Juizados 
Especiais como um Sistema integrado mostra a ascensão do reconhecimento obtido por esse 
sistema especializado de justiça. 
Em que pese o estudado Sistema ser integrado por todas as Leis instituidoras dos 
Juizados Especiais, denota-se que a lei em que está inserida toda a base normativa é a Lei 
9.099/95. Tal fato se comprova na teoria devido à frequente remissão a essa lei, bem como na 
prática ao servir de interpretação e integração na decisão das lides. É na Lei dos Juizados 
Especiais Cíveis Estaduais que se encontra o sistema principiológico, as formas de 
interpretação, a estrutura do procedimento e outras diretrizes que servem à analogia quando 
houver lacunas na base legal dos Juizados Especiais Federais (Lei 10.259/2001) e da Fazenda 
Pública (Lei 12.153/09). (ROCHA, 2019, p.21). 
 
2.2 PRINCÍPIOS DOS JUIZADOS ESPECIAIS 
 
No ramo do Direito, os princípios são mandamentos nucleares do sistema jurídico. Além 
de alicerçar a base do sistema, servem de critério para o devido entendimento do sistema 
normativo. (MELLO, p. 747). De forma sintética, são postulados básicos que fundamentam e 
qualificam a ordem jurídica instituída (BARROSO, p. 147). 
Salienta-se que o legislador constituinte, ao adicionar a previsão de criação de um 
procedimento especial para julgamento de pequenas causas, seguiu a tendência mundial de dar 
enfoque constitucional a normas de direito processual. Esse movimento é perceptível também 
ao se debruçar sobre as nuances do processo que a Constituição exaustivamente prescreve, 
majoritariamente em forma de princípios. 
Para eleger os princípios concernentes aos Juizados Especiais Cíveis, objetivou-se 
propiciar amplo acesso ao Poder Judiciário, não olvidando de continuamente buscar a 
conciliação entre as partes e sempre respeitando as garantias constitucionais e os princípios 
processuais do devido processo legal, do contraditório e da ampla defesa. (SANTOS & 
CHIMENTI, 2013, p. 50). 
No Sistema dos Juizados Especiais Cíveis existem princípios próprios, elencados em lei 
ou implícitos, que dão forma ao procedimento diferenciado desta jurisdição. Obviamente, todos 
os princípios devem ser respeitados, visto que transgredi-los é muito mais grave do que violar 
22 
uma norma legal. Isso porque, ao transgredir um princípio, viola-se todo o sistema, ascendendo 
assim a mais grave forma de ilegalidade (MELLO, p.748). 
Tourinho Neto e Figueira Júnior (2007, p. 734) dissertam que: 
 
O Sistema de Juizados Especiais vem a ser, portanto, um conjunto de regras e 
princípios que fixam, disciplinam e regulam um novo método de processar as causas 
cíveis de menor complexidade e as infrações penais de menor potencial ofensivo. Um 
a nova Justiça marcada pela oralidade, simplicidade, informalidade, celeridade e 
economia processual para conciliar, processar, julgar e executar, com regras e 
preceitos próprios e, também, com uma estrutura peculiar, Juízes togados e leigos, 
Conciliadores, Juizados Adjuntos, Juizados Itinerantes, Turmas Recursais, Turmas de 
Uniformização. 
 
Ao elencar os princípios da oralidade, simplicidade, informalidade, economia 
processual, celeridade e conciliação, buscou-se efetuar uma melhoria social, principalmente 
para a população que não conseguia chegar ao Judiciário para buscar tutela ao seu direito lesado 
nos casos de baixo valor econômico. Tentou-se solucionar a flagrante desmotivação do cidadão 
com o Poder Judiciário e aumentar o custo-benefício de protocolar ações com baixo valor de 
causa numa realidade em que crescia cada vez mais a insatisfação com o serviço jurisdicional 
prestado e se evitava sobremaneira a litigância em juízo (GAIO JÚNIOR, p. 734). 
Segundo disserta Fátima Nancy Andrighi (2010, p. 3), ministra do Superior de Justiça, 
os juizados especiais são exemplos de democracia no Poder Judiciário, visto que atendem a 
todos os legalmente legitimados, sem fazer distinção entre as classes econômicas e sociais. 
Destarte, o acesso à justiça fica condicionada apenas à competência estabelecida na 
Constituição e nas Leis dos Juizados. 
Cabe advertir que no Sistema dos Juizados Especiais se faz necessária muitas vezes a 
ponderação entre dois ou mais princípios, assim como ocorre em todo o ordenamento jurídico 
pátrio. Destarte, não se pode obedecer de forma absoluta e imutável qualquer princípio, mas 
sim ponderar entre os preceitos conflitantes a fim de chegar em uma solução que não suprima 
integralmente qualquer deles. 
O art. 2º da Lei 9.099/95 elenca os princípios da oralidade, simplicidade, informalidade, 
economia processual, celeridade, conciliação e transação. Além destes, faz-se necessário citar, 
no âmbito da discussão do presente trabalho, os princípios constitucionais do acesso à justiça, 
do juiz natural e da indelegabilidade da jurisdição, também aplicados ao Sistema dos Juizados 
Especiais Cíveis. 
O que a lei erroneamente chama de critérios, são em verdade princípios gerais. Tais 
princípios servem para fundamentar e orientar todo o procedimento. Desta forma, cabe sua 
observância tanto ao legislador no momento de modificar a lei, quanto ao magistrado no23 
momento de aplicá-la. Ademais, não há de jamais se olvidar de que entre os princípios não há 
hierarquia abstrata, devendo ser sopesados no caso concreto, mormente em caso de colisão entre 
um e outro (TOURINHO NETO & FIGUEIRA JR. 2009, p. 73). 
A importância da fidelidade de todos os agentes do processo, tais como juízes, 
advogados, serventuários e partes, ao sistema principiológico é de fundamental relevância nos 
Juizados Especiais Cíveis e propicia o funcionamento regular do sistema. Todos os 
participantes do processo devem atuar com consciência de que estão numa vara especializada 
dotada de postulados próprios e não na justiça comum (HAPPKE, 2016, sem p.). 
 
2.2.1 O supraprincípio do acesso à justiça 
 
Fato frequente em países subdesenvolvidos e em desenvolvimento é a exclusão de 
grande parcela da população aos serviços de justiça. No caso do Brasil, é ascendente a 
preocupação com a inclusão de todas as camadas sociais no âmbito da proteção jurídica estatal. 
A urgência se justifica ao analisarmos a desigualdade social e cultural, bem como para o 
tamanho continental do país, o que faz com que a periferia, mais distante dos efeitos da 
globalização, frequentemente fica para trás no acesso aos serviços estatais. O acesso à justiça é 
requisito essencial para a cidadania e promovê-lo é instrumento indelegável do Estado 
(ABREU, 2008, p. 26). 
Nas democracias capitalistas o custo do Poder Judiciária se mostra, de modo geral, 
bastante elevado. Por óbvio, o custo por ação tende a ser proporcionalmente maior em causas 
menores. Além disso, normalmente quem litiga nas ações de menor valor, via de regra, é 
justamente o extrato com menos condições financeiras. Assim, muitas vezes a parte que já foi 
vítima do ato ilícito é posteriormente vítima do sistema jurídico, que indiretamente obsta a 
perquirição do seu direito. Tal fenômeno é o que Abreu (2008, p. 54) chama de dupla 
vitimização. 
A CRFB de 1988, buscando solidificar o Estado Social no país, traz diversas normas 
programáticas e garantias aos jurisdicionados. Várias dessas normas oferecem ditames básicos 
ao serviço jurisdicional do Estado. 
Tecendo elogios à nossa Carta Magna, Pellegrini (2012, p. 85) afirma que esta representa 
a mais moderna tentativa de encurtar o espaço entre o cidadão e o sistema de justiça. 
 O princípio constitucional do acesso à justiça prevê que “a lei não excluirá da apreciação 
do Poder Judiciário lesão ou ameaça de direito.” (BRASIL, 1988). Nesse sentido, o direito de 
ação, para Nelson Nery Junior, “é um direito cívico e abstrato, vale dizer, é um direito subjetivo 
24 
à sentença tout court, seja essa de acolhimento ou de rejeição da pretensão, desde que 
preenchidas as condições da ação”. (apud Moraes, 2008, p. 91) 
 Ainda nessa toada, cabe destacar que o Judiciário, diante de uma ameaça ou lesão a 
direito é obrigado a realizar a prestação jurisdicional requerida regularmente, de modo a 
respeitar outro também importante princípio que é o da indeclinabilidade (MORAES, 2021, 
sem p.). 
O acesso à justiça previsto na CRFB, embora de difícil definição, busca definir os 
objetivos básicos do sistema jurisdicional, através do qual as partes podem, com auxílio da 
tutela do Estado, reivindicar seus direitos ou fazer valer aqueles já reconhecidos. Para tanto, a 
acessibilidade ao sistema deve estar ao alcance de todos e os resultados da tutela jurisdicional 
devem ser justos e coerentes. (CAPPELLETTI; GARTH, 1988, p. 8). 
Ainda segundo Cappelletti e Garth (op. cit., p. 12), “o acesso à justiça pode, portanto, 
ser encarado como requisito fundamental - o mais básico dos direitos humanos, de um sistema 
jurídico moderno e igualitário que pretenda garantir os direitos de todos”. 
No início da ascensão dos sistemas jurídicos ocidentais, o acesso à justiça era visto 
simplesmente na possibilidade de utilização dos serviços judiciários pelos cidadãos mais 
pobres. Posteriormente, o entendimento foi consolidado no sentido de que não é necessário 
somente a garantia ao simples acesso, mas sim a um acesso eficiente e satisfatório. Isso porque, 
considerando o crescente número de leis criadas e os procedimentos cada vez mais complexos, 
o auxílio técnico se tornou quase indispensável, devendo o Estado procurar formas para que 
consiga disponibilizar tais serviços a população vulnerável de forma eficiente (CAPPELLETTI; 
GARTH, op. cit., p. 32). Nesse condão, destaca-se que “qualquer tentativa realística de 
enfrentar os problemas de acesso deve começar por reconhecer esta situação: os advogados e 
seus serviços são muito caros”. CAPPELLETTI; GARTH, op. cit., p. 18). 
Assim, surgiu a necessidade de o Estado criar soluções efetivas e acessíveis para causas 
de menor complexidade, embora considerando a necessidade de avaliar o dispêndio dos sempre 
limitados recursos estatais. Isso porque, via de regra, as lides envolvendo pequenas causas não 
são economicamente viáveis no procedimento comum. Nesse procedimento, as custas judiciais 
podem se tornar mais robustas do que o valor da condenação, trazendo ao autor um ganho de 
causa apenas simbólico. Desta forma, pode o Juizado Especial ser utilizado com confiança pelo 
indivíduo mais carente, independente dos recursos que dispõe aquele contra o qual se litiga. 
(CAPPELLETTI; GARTH, op. cit., p. 97). 
A fim de aumentar o acesso à justiça, foi necessário criar condições para que as causas 
de menor vulto pudessem também ser resolvidas através do sistema oficial, evitando a 
25 
litigiosidade contida e a frequente autotutela que muitas vezes traz efeitos indesejados, como 
exemplo o aumento da violência e o desprestígio do poder estatal. 
O grande trunfo para essa promoção de justiça foi a criação dos Juizados Especiais 
Cíveis, através dos quais buscou-se democratizar o modelo de justiça e popularizar o Judiciário 
(ABREU, 2008, p. 36). 
Para CUNHA (2008, p. 10) a democratização do acesso à justiça se confunde com a 
popularização da justiça, devendo esta chegar ao maior número possível de pessoas. O Poder 
Judiciário, como um dos poderes autônomos do Estado, tem, junto com os outros poderes, o 
dever de buscar elevar os mecanismos de representação previstos em nosso sistema 
democrático. 
 A redação da Exposição de Motivos da Lei 7.244/84 (Lei dos Juizados de Pequenas 
Causas), traz à tona a intenção do legislador da época: 
 
“Os problemas mais prementes, que prejudicam o desempenho do Poder Judiciário, no 
campo civil, podem ser analisados sob, pelo menos, três enfoques distintos, a saber: 
[...] c) o tratamento processual inadequado das causas de reduzidos valor econômico e 
consequente inaptidão do Judiciário atual para a solução barata e rápida desta 
controvérsia.” 
 
A criação dos Juizados Especiais buscou resolver parte do problema da litigiosidade 
contida que havia na época, proporcionando um acesso à justiça mais generalizado, devido 
principalmente ao baixo custo. A população mais carente foi guarnecida de um sistema de 
justiça rápido, barato e seguro, que ampliou o acesso à “ordem jurídica justa” (TOURINHO 
NETO & FIGUEIRA JÚNIOR, 2009, p. 42). 
Dissertam de forma brilhante Ada Pellegrini Grinover, Cândido Rangel Dinamarco e 
Antônio Carlos de Araújo Cintra (2012, p. 82): 
 
E com isso tem a Nação, no momento exato em que caminha em direção à plenitude 
democrática pela participação, um instrumento de democratização da Justiça. E mais: 
um instrumento capaz de abrir caminhos para a grande transformação que todo o 
sistema processual e judicial demanda, para que se efetive a promessa de igual acesso 
de todos à Justiça. 
 
O expressivo aumento de demandas após a criação e regular funcionamento dos Juizados 
Especiais é resultado da liberação da litigiosidade que estava contida na época, mormente por 
não encontrar antes, com o auxílio do Estado, uma forma de resolução. Com o novo 
26 
procedimento sumário instituído, facilitou-se o acessoaos tribunais e se incentivou o cidadão a 
buscar seu direito material violado através de um procedimento célere e eficaz (TOURINHO 
NETO & FIGUEIRA JÚNIOR (op.cit., p. 47). 
Os jurisdicionados têm direito de ter seus conflitos resolvidos por todos os meios 
adequados e os Juizados têm o dever de oferecer esse serviço, os quais atendem ao que se 
conhece por acesso à ordem jurídica justa, que não se limita apenas a resolução de conflitos. 
Na criação dos Juizados prevaleceu a ideia de que a concepção de acesso à justiça era mais 
abrangente do que mero acesso aos órgãos do Poder Judiciário. Para esse fim, dever-se-ia 
organizar e oferecer ao jurisdicionado todos os mecanismos adequados de solução de conflitos, 
em especial os consensuais (FONAJE, 2020, live). 
Assim, não restam dúvidas que os Juizados Especiais foram criados com o fim de 
facilitar aos cidadãos comuns, principalmente aqueles mais humildes, o acesso à justiça. Ocorre 
que nesse sistema jurisdicional especial, à parte do sistema ordinário, há deficiências em sua 
estrutura que vão de encontro ao seu próprio objetivo, tornando não raras vezes os processos 
morosos e inefetivos (MANCUSO, 2015, p. 140). 
Com efeito, em que pese existam correções a serem feitas, é notório que os Juizados 
possibilitam um facilitado acesso ao Poder Judiciário, oportunizando a defesa de direitos que 
dificilmente teria espaço se tentada através dos oneroso e complexo procedimento comum 
(THEODORO JUNIOR, 2016. p. 600). 
2.2.2 Princípio da celeridade 
 
Um dos princípios norteadores dos Juizados Especiais Cíveis é o princípio celeridade 
processual, por vezes confundido com a duração razoável do processo. Segundo esse princípio, 
a demanda deve ser solucionada, incluindo a atividade satisfativa do direito buscado, em tempo 
hábil. 
A morosidade da justiça é um problema grave, visto que suprime os direitos 
fundamentais do jurisdicionado. Aqui não se fala apenas em direito de ação. De nada adianta 
efetivar o acesso ao sistema jurídico se o processo for inútil ou insuficiente devido à excessiva 
demora. O atraso da justiça tem custos econômicos de difícil mensuração para os cidadãos 
afetados e não raras vezes é usado como estratégia pelo demandado para se esquivar de suas 
obrigações (ABREU, 2008, p. 57). 
A celeridade não é um princípio exclusivo dos juizados especiais, visto se aplica a todos 
os processos do Poder Judiciário. Sua importância é tamanha que ganhou liame constitucional, 
27 
sendo acrescentado no art. 5º, inciso LXXVIII, pela Emenda Constitucional nº 45 de 2004. 
Todavia, há de se reconhecer que, em que pese a ausência de previsão na Carta Magna, esse 
princípio já tinha espaço no ordenamento jurídico antes da Emenda. Assim reconhece o 
professor Alexandre de Moraes (2012, p. 456): 
 
Essas previsões - razoável duração do processo e celeridade processual -, em nosso 
entender, já estavam contempladas no texto constitucional, seja na consagração do 
princípio do devido processo legal, seja na previsão do princípio da eficiência 
aplicável à Administração Pública (CFRB, art. 37, caput). 
 
Nesse sentido, o princípio constitucional em questão se trata em verdade de um conceito 
jurídico indeterminado, sendo assim de difícil efetivação, visto ser uma regra geral carente de 
parâmetros passíveis de averiguação concreta (LACHTER, 2009). Em que pese o 
abstracionismo, o deslinde do processo em tempo razoável é um dos pressupostos de garantia 
de um processo justo e equitativo. A razoabilidade do tempo processual não deixa de ser uma 
consequência lógica do princípio do devido processo legal (Nicolitt, 2006. p. 94). 
No âmbito dos Juizados Especiais Cíveis, Tourinho Neto & Figueira Júnior (2009, p. 
41) destacam que o principal objetivo da Lei 9.099/95 foi criar um sistema para a resolução dos 
problemas jurídicos a eles subordinados de forma célere e eficiente, apresentando aos 
estudiosos do direito da época o desafio de aperfeiçoar a aplicabilidade técnica sem olvidar 
jamais da necessidade de o procedimento ser célere. 
Importante destacar que não há como afastar o princípio da celeridade sem corromper a 
normatização da Lei 9.099/95. Assim, um dos principais pilares da prestação jurisdicional 
trazida pelos Juizados é a supressão de procedimentos excessivamente burocráticos, a fim de 
alcançar a máxima efetividade do processo. (VANCIM & GONÇALVES, 2016, p. 28). 
Cabe um adendo ao significativo número de denúncias, doutrinárias e jurisprudenciais, 
de violação sistemática desse princípio na prática. Tourinho Neto & Figueira Júnior (2009, p. 
57) afirmam que, no cotidiano de grande parte dos varas de Juizados Especiais, encontram-se 
com facilidade processos tramitando em tempo superior do que frequentemente levaria seu 
deslinde na justiça comum. 
Para evitar esse problema da morosidade também nos Juizados Especiais, quando 
necessário, nada impede que o intérprete da lei procure e efetive novas soluções processuais, 
assumindo a vanguarda da prestação jurisdicional, desde que com isso consiga resolver a lide 
de forma célere, sem implicar em morosidade jurisdicional (SANTOS & CHIMENTI, 2013 p. 
50). 
28 
2.2.3 Princípios da Simplicidade e da Informalidade 
 
 Pelo princípio da simplicidade, deve-se entender que no Sistema dos Juizados Especiais 
o procedimento precisa ser claro, simples e acessível a todos. Com ele, busca-se promover o 
acesso à justiça de forma objetiva, suprimindo qualquer excesso de formalismo que 
frequentemente se vê nas varas cíveis comuns. 
O objetivo de a Lei 9.099/95 elencar expressamente a simplicidade foi realçar que os 
Juizados devem funcionar de forma simples e acessível, facilitando o diálogo entre as partes e 
evitando que estas tenham dificuldades no entendimento e cumprimento dos atos processuais 
em virtude de obstáculos burocráticos. Como exemplo prático do princípio da simplicidade, 
tem-se que no procedimento em questão, via de regra, não devem existir incidentes processuais, 
devendo estar na contestação toda matéria de defesa do réu (TORRES NETO, 2011, sem p.). 
Ademais, o § 2º do art. 13 da lei 9.099/95 traz outro exemplo de simplicidade, quando 
aduz que os atos praticados em outras comarcas podem ser realizados por intermédio de 
qualquer meio idôneo de comunicação, podendo assim dispensar a carta precatória. 
Ressalta Parizatto (2017, p. 4) que o processo deverá transcorrer da forma mais 
espontânea e natural possível, sem burocracias e primando pela sinceridade das partes. 
 De forma análoga ao princípio da simplicidade, a informalidade visa conseguir uma 
mais rápida solução para a satisfação do direito procurado pela parte. Despe-se o ato de formas 
específicas, tornando-o mais econômico e efetivo. 
 Pode-se verificar a consagração do princípio da informalidade no art. 13 da Lei 
9.099/95, o qual admite que atos processuais possam ser válidos mesmo que praticados 
contrariando a lei, desde que preencham os fins perseguidos. 
 Para Vancim e Gonçalves (2016, p. 29) “a simplicidade contrasta com a complexidade 
inadmissível, mas a informalidade não deve ser confundida com a absoluta ausência de 
formalismo”. 
 No mesmo sentido, alerta Happke (2016, sem p.) que não se pode, com base nos 
postulados da informalidade e da simplicidade, realizar os atos com displicência. Porém, não 
raras vezes os processos caem na vala do excesso de formalismo, frequentemente quando as 
partes são empresas com demandas em massa, as quais peticionam de forma genérica e muitas 
das vezes com o mesmo padrão de formalismo que usariam ao realizar o ato na justiça comum. 
 Ademais, nota-se que graças a esses princípios é possível estreitar ainda mais a 
aproximação entre os cidadãos e o Poder Judiciário, inclusive se considerarmos a atuação de 
conciliadores e juízes leigos, os quais contribuem para a representatividade democrática que 
29 
deve haver neste microssistema, bem como para a simplificação da buscade soluções aos 
jurisdicionados (CUNHA, 2008, p. 10). 
 
2.2.4 Princípio da economia processual 
 
 O princípio da economia processual pode ser visto por dois vieses. O principal deles 
está ligado à redução dos custos financeiros do processo. De outro, aponta para a 
desnecessidade de praticar atos meramente formais e aproveitar os já praticados sempre que 
possível. 
Nos Juizados Especiais Cíveis, via de regra o processo tramita com menos atos e 
providências do que exige o rito comum. Com isso é possível isentar as partes ao pagamento 
de custas e despesas em primeiro grau de jurisdição e, com isso, propiciar, em tese, o acesso à 
justiça a todas as pessoas. (PARIZATTO, 2017, p. 4). 
Reinaldo Filho (1996, p. 36) leciona: 
 
O princípio da economia processual tem no processo especialíssimo dos Juizados 
Cíveis uma outra conotação, relacionada com a gratuidade do acesso ao primeiro grau 
de jurisdição, em que fica isento o demandante do pagamento de custas, e com 
facultatividade de assistência das partes por advogado, que dizem, à evidência, com o 
barateamento de custos aos litigantes fundamentado na economia de despesas, que, 
com a de tempo e a de atos (a economia no processo, enfim), constitui uma das 
maiores preocupações e conquistas do Direito Processual Civil moderno. 
 
A necessidade de elencar expressamente o princípio da economia processual se denota 
pela enorme influência que as custas judiciais representam em causas pequenas. Isso porque, 
caso essas referidas ações fossem submetidas ao procedimento comum, formal e burocrático, o 
custo econômico do processo muitas vezes sobrepujaria o valor objeto do litígio, inviabilizando 
totalmente o ingresso ao Judiciário (CAPPELLETTI; GARTH. Op. Cit., p. 19). 
Para Chimenti (2005, p. 13), ao se falar em economia processual está se dizendo que o 
procedimento buscará o objetivo estabelecido pela lei com o menor número de atos processuais 
possíveis e, consequentemente, com um menor custo financeiro. O princípio se coaduna com o 
princípio da gratuidade, pelo qual as partes estão dispensadas, via de regra, em primeiro grau 
de jurisdição, ao pagamento de taxas, custas e despesas. 
A economia processual em causas sumaríssimas, como as dos juizados especiais, tem o 
condão de propiciar mais rapidez à atividade jurisdicional. Desta forma, nada mais lógico que 
o sistema dos juizados possua acentuada aplicação deste princípio (GRINOVER; 
DINAMARCO; CINTRA, 2012, p. 82). 
30 
Já para Vancim e Gonçalves (2016, p. 29), o referido princípio tem a prerrogativa de 
barrar a atividade jurisdicional desnecessária, mormente nos casos em que a pretensão é 
nitidamente inadequada. 
Portanto, o princípio em questão objetiva reduzir os custos e melhorar o resultado do 
processo. 
 
2.2.5 Princípio da Oralidade 
 
 Na esteira da simplificação do processo, há também o princípio da oralidade, que 
certamente tem o mérito de aproximar o magistrado das partes, fortalecendo a comunicação. 
Com isso os litigantes conseguem assumir uma postura mais ativa no processo, tendo ou não 
assistência de defesa técnica. Valoriza-se assim a produção de atos de forma oral. 
 O princípio da oralidade foi uma inovação jurisdicional de âmbito nacional. 
Promovendo a aproximação entre juiz e partes verifica-se uma melhor e mais rápida solução 
para a contenda processual, sem olvidar de respeitar também os princípios correlacionados 
pertinentes aos Juizados Especiais Cíveis, como o da identidade física do juiz, o da 
irrecorribilidade das decisões interlocutórias e da imediatidade de lei processual (PISKE, 2012, 
sem p.). 
 Ainda segundo Piske (2012, sem p.) o princípio da oralidade tem destaque na Lei 
9099/95, a qual elenca atos que podem ser feitos pelas partes de forma oral, a exemplo do 
pedido inicial, do mandato ao advogado, da contestação em audiência, a interposição de 
embargos de declaração e o início do cumprimento de sentença. Aos juízes também a lei 
reservou a possibilidade de praticar alguns atos de forma oral, a exemplo da decisão sobre 
questões que interferem no andamento da audiência e da sentença que, ao menos em teoria, é 
proferida oralmente logo após a audiência. 
 Embora o princípio em questão também tenha previsão no procedimento comum, foi 
somente nos Juizados Especiais que este pôde ser aplicado em sua acepção máxima. Tourinho 
Neto e Figueira Júnior (2009, p. 74), citando Giuseppe Chiovenda, dissertam que: 
 
“A experiência resultante da história nos permite afirmar que o processo oral é, sem 
sombra de dúvida, o melhor e o mais de acordo com a natureza e as exigências da vida 
moderna, visto que sem ponto comprometedor; mas, em vez disso, melhor garante a 
boa índole intrínseca da decisão, a qual é fornecida mais economicamente, com mais 
simplicidade e prontamente. E no tocante à celeridade do processo oral, ele dura três 
ou quatro vezes menos tempo do que o processo escrito” 
 . 
31 
Cabe ressaltar que, em que pese na maioria dos casos não há uma obrigatoriedade 
expressa de praticar o ato de forma oral, é importante que assim se o faça quando possível, visto 
que a prática do ato de modo oral normalmente acarreta um transcurso mais rápido do processo. 
Ademais, em relação ao jurisdicionado, o princípio da oralidade traz um benefício 
secundário que por vezes não é tomado em conta. Ao possibilitar a prática do ato de forma oral, 
mormente nos casos em que a parte atua sem acompanhamento técnico (instituto do jus 
postulandi), aproxima-se o cidadão do Poder Judiciário, dando àquele a oportunidade clara de 
influenciar a vontade do Estado-juiz de forma decisiva na causa em que litiga. Nessa toada 
disserta Tourinho Neto (2009. p. 78): 
 
Sobre o princípio da oralidade poderíamos dizer que sua acentuada adoção apresenta 
ainda uma outra grande vantagem que poderíamos chamar de “ordem psicológica”, as 
partes têm a impressão de exercer, elas mesmas, uma influência decisiva no deslinde 
da demanda, resultando, em contrapartida, no melhoramento da imagem do judiciário 
perante os jurisdicionados. 
 
Destarte, importante mencionar que para o sistema funcionar de modo correto é 
necessária a observância de todos os princípios concomitantemente às regras do procedimento 
previsto pela Lei 9099/95. Somente assim, explica Tourinho Neto (2005, p. 74) o processo terá 
a instrumentalidade suficiente para ser efetivo, ter um tramitar simples e uma solução rápida, 
sem onerar os litigantes com formalidades e custos excessivos e desnecessários. 
 
 
32 
3 PAGAMENTO DE CONDENAÇÕES JUDICIAIS PELA FAZENDA PÚBLICA 
 
O pagamento dos débitos da Fazenda Pública se dá através dos requisitórios, 
compreendidos estes como o conjunto do precatório (dividido em subespécies) e da requisição 
de pequeno valor (RPV). A expressão requisitório teve origem na construção doutrinária e 
ganhou índole constitucional com a emenda 62 de 09 de dezembro de 2009, a qual constou o 
gênero expressamente na redação do art. 100, §12, da Carta Magna. 
 
3.1 ORIGEM E CARACTERÍSTICAS DO PRECATÓRIO 
 
A necessidade de responsabilidade estatal pelos danos causados é reconhecida em todos 
os sistemas jurídicos de países democráticos do mundo (MELLO, 2012. p. 1009). 
Trata-se de uma das consequências do modelo republicano a responsabilidade do Estado 
em arcar com os danos causados ao patrimônio do particular. A responsabilidade estatal está 
expressa em nossa Constituição, em seu art. 37, §6º, o qual aduz que: 
 
As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços 
públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a 
terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou 
culpa (BRASIL, 1988, Art. 37, §6º). 
 
Assim, surgiu a necessidade de compatibilizar a forma de pagamento dos débitos 
fazendários com o princípio da supremacia do interesse público e outros referentes aosbens 
públicos. 
Isso porque, quando um débito é inadimplido por um particular este pode, através do 
Poder Judiciário, tomar medidas expropriatórias em relação aos bens do devedor. Porém quando 
o inadimplente é a Fazenda Pública, a expropriação de bens em regra viola os princípios 
basilares do Direito Administrativo, como exemplos a supremacia do interesse público, a não 
interrupção dos serviços públicos, a indisponibilidade dos bens, entre outros. 
Considerando a inalienabilidade e a impenhorabilidade dos bens públicos, necessitou-
se criar um sistema que garantisse o pagamento ao credor e ao mesmo tempo não violasse as 
prerrogativas da Administração Pública. 
Desta forma, surge, ainda na Constituição de 1934, a criação do precatório. Esse 
instituto, polêmico ainda nos dias de hoje, envolve a multidisciplinaridade de conceitos 
existentes nos ramos do Direito Constitucional, Administrativo, Processual Civil e 
33 
Orçamentário e é entendido como uma forma indireta de execução contra a Fazenda Pública 
sucumbente. 
Cabe ressaltar a excessiva ingerência existente antes da constitucionalização do 
precatório em 1934. Lemos (2004, p. 49) destaca que até então a ordem para pagamento era 
definida pela mais eficiente “advocacia administrativa”. Isso porque era o Poder Legislativo 
que votava quais verbas iriam a pagamento e assim, ao léu das condenações judiciais, as 
votações normalmente favoreciam o interesse do Poder Executivo, justamente aquele com o 
ônus de arcar com o débito. 
A Constituição atual assim dispõe sobre o instituto: 
 
“Os pagamentos devidos pelas Fazendas Públicas Federal, Estaduais, Distrital e 
Municipais, em virtude de sentença judiciária, far-se-ão exclusivamente na ordem 
cronológica de apresentação dos precatórios e à conta dos créditos respectivos, 
proibida a designação de casos ou de pessoas nas dotações orçamentárias e nos 
créditos adicionais abertos para este fim.” (BRASIL, 1988, Art. 100). 
 
A criação do instituto foi necessária, considerando que os bens públicos são 
impenhoráveis, bem como que toda despesa pública tem que ter autorização orçamentária, 
conforme art. 167, inciso II da Constituição, sob pena de o responsável ser tipificado no art. 
359-D do Código Penal. 
3.2 CONCEITO DE PRECATÓRIO E SUAS CARACTERÍSTICAS 
 
Para Oliveira (2005, p. 46), o precatório se conceitua na comunicação feita pelo chefe 
do Poder Judiciário à entidade pública condenada em ação ordinária conduzida até o trânsito 
em julgado. 
No mesmo sentido, Franco (2002, p. 129) define o precatório como um comando 
direcionado ao Poder Executivo responsável pelo pagamento da condenação, impondo que este 
inclua o débito no orçamento do próximo exercício, para que seja até o final desse exercício 
depositado e, assim, satisfeito o crédito cobrado. 
 Deste modo, tem-se por precatório uma solicitação de pagamento em que a autoridade 
competente, qual seja, o Presidente do Tribunal no qual se proferiu a decisão, ordena o 
pagamento do débito fazendário objeto de decisão irrecorrível (FERNANDES, 2007). 
 Para Marioni (2008), o precatório é semelhante a uma carta de sentença, diferenciando-
se por não ter a função de iniciar algum procedimento judicial, mas sim administrativo, ao 
34 
incluir o valor necessário no orçamento da respectiva Fazenda Pública para quitação da 
condenação imposta. 
 Todavia, parte da doutrina entende que o precatório nasce ainda antes da ordem feita 
pelo presidente do tribunal. Nesse condão, entende Mello (2012, p. 1062) que precatório é o 
mecanismo procedimental de pagamento dos débitos reconhecidos pelo Judiciário das pessoas 
jurídicas de direito público. 
Talvez a mais importante característica do precatório seja sua função moralizadora no 
tocante aos pagamentos de débitos do Poder Público. Isso porque permite que não existam 
privilégios subjetivos e preferências na ordem dos pagamentos, salvo aquelas expressas em lei. 
Além disso, tal forma de pagamento permite a organização orçamentária do ente pagador, o 
qual consegue dispor do patrimônio de forma a respeitar a legislação vigente (OLIVEIRA, 
2007, p. 34). 
Celso de Mello (2012, p. 1064) ressalta que o precatório glorifica o princípio da 
igualdade e proporciona um tratamento isonômico aos credores estatais, impedindo 
favoritismos de caráter pessoal e impedindo eventuais perseguições políticas no pagamento dos 
débitos. Assim, a regra nascida na Constituição de 1934 visa assegurar que o Poder Público 
respeite a preferência jurídica de quem esteja cronologicamente na frente na lista de pagamento. 
Em que pese estar previsto nos arts. 731 e seguintes do Código de Processo Civil, o 
precatório é em verdade matéria de Direito Administrativo. Quem o pratica é membro do Poder 
Judiciário, incumbido de exercer atipicamente a função administrativa. Desta forma, o Poder 
Judiciário determina a ordem de pagamento ao titular do ente público que sucumbiu 
(OLIVEIRA, 2007, p. 46). 
O procedimento se inicia no Poder Judiciário, porém denota-se que não há caráter 
jurisdicional na requisição e expedição de precatório. Trata-se, em verdade, de um simples ato 
administrativo inaugural de um processo administrativo, que termina com o efetivo pagamento 
ao credor. 
Nesse sentido disserta Antônio Flávio de Oliveira: 
 
Trata-se o precatório de ato administrativo, porquanto essa é a característica que lhe 
sobressai, pois, uma vez que não contém carga decisória, não poderia ser classificado 
como ato judicial, muito menos podendo ser caracterizado como ato legislativo, 
porquanto não fixa norma de ordem geral. Em que pese o fato de realizar-se a 
expedição na seara do Judiciário, o requisitório correspondente a ato não judicial, 
mesmo porque ocorre posteriormente ao término da fase judicial do processo de 
execução contra Fazenda Pública, conforme perceptível na sistemática adotada pelo 
Código de Processo Civil, nos seus arts. 730 e 731. 
 
35 
Destarte, no caso concreto, o precatório se dá com a requisição feita pelo magistrado 
prolator da sentença contra a Fazenda Pública ao Presidente do Tribunal em que atua a fim de 
que este emita ordem à entidade sucumbente para incluir o valor da condenação na previsão 
orçamentária para posterior quitação até o fim do exercício financeiro subsequente à 
apresentação do precatório. 
A regra posta é que os comandos de pagamento, em valor superior àqueles que se 
encaixam em Requisição de Pequeno Valor. Quando recebidas até dia segundo de abril pelo 
respectivo Tribunal serão convertidas em precatório e previstas no orçamento do ano 
subsequente. Aquelas recebidas após dia dois de abril serão convertidas também em precatório, 
com a diferença de que constarão no orçamento do ano seguinte ao ano subsequente. 
Existem espécies distintas de precatório. Há as chamadas espécies "altamente 
preferenciais”, “preferenciais” e “sem preferência” ou “comuns”. Cada espécie terá lista 
cronológica própria, sendo pagos, respectivamente, em primeiro, segundo e terceiro lugar na 
“fila” orçamentária. Os precatórios altamente preferenciais são os débitos alimentícios de até 
três vezes o valor fixado para a RPV em que o credor tem no mínimo sessenta anos de idade, 
bem como quando o credor é pessoa com deficiência grave definida em lei. Ambos os casos 
admitem o fracionamento. Os precatórios preferenciais são os débitos de natureza alimentar 
que ultrapassam o triplo do valor da RPV e que o credor tenha no mínimo 60 anos de idade ou 
deficiência grave definida em lei, bem como todos os demais débitos de caráter alimentício. Os 
demais débitos serão pagos por precatórios comuns. 
Em tempo, cabe descrever que são considerados débitos de caráter alimentícios aquele 
decorrente de salários, vencimentos, proventos, pensões e suas complementações, benefícios 
da previdência, verbas trabalhistas e indenizações por acidente, morte e invalidez. 
Cabe frisar que o precatório não tem qualquer

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