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Processo Penal I Prof. Me. Gustavo Antonio Nelson Baldan Processo Penal I Da Lei Processual Penal no Espaço - Princípio da Territorialidade É adotado o princípio da territorialidade, conforme se extrai do art. 1º, do CPP: Previsto no art. 1º, do CPP: “O processo penal reger-se-á, em todo o território brasileiro, por este Código, ressalvados”; Segundo ensinamentos de Gustavo Badaró, o princípio da territorialidade pode ser analisado sob 2 enfoques: a) positivo: os processos penais que se desenvolvam perante a autoridade judiciária brasileira seguirão a lei processual brasileira, sendo a lei geral o Código de Processo Penal; b) negativo: exclusão da aplicação da lei processual estrangeira em território brasileiro; Processo Penal I Processo Penal no caso de extraterritorialidade da Lei penal Mesmo nos casos em eu vigora o princípio da extraterritorialidade no direito penal, pouco importando se o caso de condicionada (relativa) ou incondicionada (absoluta) (art. 7º, CP), uma vez definido que a conduta no exterior é crime segundo a lei brasileira, o processo penal por tal delito tramitará no Brasil, sendo de competência do Juízo brasileiro, e seguirá quanto à lei processual no espaço, o princípio da territorialidade. Ou seja, o juiz brasileiro, conduzirá um processo penal no Brasil, aplicando o CPP brasileiro, por um crime cometido no exterior, mas eu está sujeito à lei penal brasileira com base na extraterritorialidade da lei penal; Processo Penal I Exceções ao Princípio da Territorialidade: Tribunal Penal Internacional: Primeiramente, deve-se salientar que o Brasil aderiu a jurisdição do Tribunal Penal Internacional – TPI (art. 5º, § 4º, CF), podendo, portanto, entregar o autor de crime praticado em solo nacional, sendo espécie de jurisdição complementar à brasileira; A adesão ao TPI é subsidiária e complementar, no sentido de ser aplicada apenas quando demonstrada a absoluta inviabilidade do regular exercício da jurisdição nacional, o que, em última análise, poderá depender da manifestação do Estado brasileiro; A título de esclarecimento, nos termos do Estatuto, o Tribunal terá competência para processar e julgar: a) crimes de genocídio; b) crimes contra a humanidade; c) crimes de guerra; d) crime de agressão. Processo Penal I os tratados, as convenções e regras de direito internacional: Os tratados, convenções e regras de direito internacional, firmados pelo Brasil, mediante aprovação por decreto legislativo e promulgação por decreto presidencial, afastam a jurisdição brasileira, ainda que o fato tenha ocorrido no território nacional, de modo que o infrator será julgado em seu país de origem. O Brasil é signatário de vários tratados bilaterais e multilaterais de cooperação judiciária em matéria penal, eu preveem formas de cooperação judiciária, que embora sigam, em regra a lei brasileira (CPP) admitem a realização do ato com observância de outras regras previstas nos próprios tratados. Ex: compartilhamento de informações de inventigação; Processo Penal I As prerrogativas constitucionais do Presidente da República do Presidente da República, dos ministros de Estado, nos crimes conexos com os do Presidente da República, e dos ministros do Supremo Tribunal Federal, nos crimes de responsabilidade (Constituição, arts. 86, 89, § 2º, e 100): tratam-se das infrações político-administrativas, cuja trâmite já se encontram delineados na Constituição Federal. Registre-se que as infrações político-administrativas possuem as seguintes sanções: perda do cargo, cassação do mandato com/sem inabilitação funcional temporária; Nos processos de impeachment de autoridades não será aplicado o CPP. Processo Penal I os processos de competência da Justiça Militar: nestas hipóteses aplica-se o Código de Processo Penal Militar; os processos da competência do tribunal especial (Constituição, art. 122, nº 17): este Tribunal foi criado pela Lei nº 244/1936 e julgava os delitos políticos e contra a economia popular. Não há mais este Tribunal eu foi extinto pela Lei Constitucional nº 15/1945. A partir de 1988, os crimes políticos são de competência da Justiça Federal. Os crimes políticos estão previstos na Lei nº 7.170/83.; os processos por crime de imprensa: os crimes de imprensa eram julgados segundo a Lei nº 5.250/1967. O STF, no julgamento da ADPF 130/DF reconheceu que esta lei não foi recepcionada pela CF de 1988 de forma que não mais se aplica esta exceção. Processo Penal I ATENÇÃO Ao contrário do que ocorre no Direito Penal, no Processo Penal não se faz menção à extraterritorialidade da lei. A doutrina (Tourinho Filho), contudo, aponta as seguintes exceções: a) aplicação da lei processual penal brasileira em território nullius; b) concordância do território estrangeiro em aplicar a lei processual penal brasileira; c) territórios ocupados em tempo de guerra. Processo Penal I Da Lei Processual Penal no Tempo - Princípio da Aplicação Imediata Previsto no art. 2º, do CPP: “A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência da lei anterior”. Consagra o princípio da aplicação imediata (ou efeito imediato) da lei processual, ao prever sua incidência desde logo; Em relação aos processos em curso, considerando a aplicação imediata, é adotado o critério do isolamento dos atos processuais (oposição a ideia de que o processo é um complexo inseparável de atos processuais), vigorando a regra do tempus regit actum, de onde podemos extrair 2 conclusões: Processo Penal I A lei processual penal aplica-se imediatamente, ou seja, ao inquérito ou processo em andamento, ressalvada a hipótese de vacatio legis; Os atos processuais já realizados são considerados válidos. Assim, por exemplo, a lei processual penal estabelece novas regras para citação do acusado, as citações já efetuadas são consideradas válidas e a nova regra deverá ser aplicada às citações futuramente praticadas. Processo Penal I Assim, no processo penal, via de regra, não vigora o princípio da irretroatividade ou princípio da retroatividade mais benéfica, como ocorre no Direito Penal, uma vez que a lei processual penal, benéfica ou maléfica, será aplicada de pronto à persecução penal em curso; A exceção à regra reside na aplicação de norma mista (híbrida), entendida como aquela que disciplina aspectos de Direito Material e Direito Processual. Nesta situação, segundo entendimento pacífico do STF, deve prevalecer o aspecto material, valendo a regra da retroatividade benéfica para o réu (HC 83.864/DF – Rel. Min. Sepulveda Pertence); É dizer: tratando-se de norma híbrida, deve-se centrar a análise no aspecto material da norma, e 2 soluções apresentam-se possíveis: Processo Penal I Se for benéfico: aplica-se de imediato, e a parte processual da lei terá aplicação a partir de sua vigência, atingindo o processo em andamento, reputando-se válidos os atos processuais já praticados; Se for maléfico: não há aplicabilidade imediata, e parte processual da norma só é aplicada aos crimes ocorridos após sua entrada em vigor, ou seja, nenhum aspecto da norma será aplicado aos delitos eu lhe são anteriores. Exemplo: existia no ordenamento jurídico brasileiro o recurso chamado de protesto por novo júri, previsto no art. 607, do CPP (O protesto por novo júri é privativo da defesa, e somente se admitirá quando a sentença condenatória for de reclusão por tempo igual ou superior a vinte anos, não podendo em caso algum ser feito mais de uma vez). Referido artigo foi revogado pela Lei nº 11.689/2008. Por se tratar de norma híbrida, a revogação do referido recurso apenas teve aplicação aos crimes praticados após a vigência da lei. Processo Penal I Lei Processual Penal no Tempo Regra: lei estritamente processual Exceção: lei mista ou híbrida É a lei que contém apenas preceitos de direito processual. É a lei que traz preceitos de direito processual e de direito penal. Aplicação imediata com preservação dos atos anteriores. Princípio do efeito imediato ou da aplicação imediata.Não pode haver cisão. Prevalece o aspecto penal: se este benéfico, a lei aplica-se por completo imediatamente; se for maléfico, a lei não aplica ao processo em curso, aplicando-se apenas aos crimes praticados após sua vigência. Como se aplica Noção Processo Penal I Acerca da Aplicação da Lei Processual no Tempo, já foi objeto diversas bancas de concurso (NUCEPE - 2017 - SEJUS-PI - Agente Penitenciário) Quanto a lei processual no tempo, marque a alternativa CORRETA. a) Um processo que tiver sido encerrado sob a vigência da lei processual anterior deverá ser revisto. b) Se há um processo penal a ser iniciado, deverá ser regido pela nova lei processual, para que seu atos se tornem válidos e eficazes. c) Caso o processo penal já tenha sido iniciado, os atos praticados deverão ser refeitos e, todos os posteriores deverão ser praticados conforme a nova lei. d) No Brasil é adotado no processo penal o sistema da unidade processual, um complexo de atos inseparáveis uns dos outros, isto é, em todo o processo apenas poderá ser aplicada uma lei processual. e) Os atos processuais regidos pela lei processual penal anterior não são considerados válidos. Processo Penal I Da Interpretação da Lei Processual Penal Previsto no art. 3º, do CPP: Art. 3º A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica, bem como o suplemento dos princípios gerais de direito. Interpretar é a atividade de extrair da norma seu exato alcance e real significado; Fala-se em interpretação extensiva quando o intérprete está autorizado a estender o âmbito de aplicação previsto expressamente na norma, de tal maneira que o sentido nela explicitado seja ampliado para atingir situações não contempladas expressamente, por omissão do legislador, seja deliberada, seja inconsciente. Ex: causas de suspeição do juiz (art. 254, CPP) também se aplicam aos jurados, porquanto também são juízes, embora leigos. Processo Penal I A interpretação analógica, por sua vez, mostra-se possível quando, dentro do próprio texto legal, após uma sequência casuística, o legislador se vale de uma fórmula genérica, que deve ser interpretada de acordo com os casos anteriores. Ex: o art. 80 do CPP menciona que o juiz pode determinar a separação de processos quando as infrações forem cometidas em tempo e local diversos, para não prolongar a prisão de um dos acusados, pelo excessivo número de réus ou por outro motivo relevante. Esta parte final do dispositivo permite ao juiz a interpretação analógica; Em relação aos princípios gerais de direito, temos que são “postulados que procuram fundamentar todo o sistema jurídico, não tendo necessariamente uma correspondência positivada equivalente”. Constituem premissas éticas que fundamentam o ordenamento jurídico. Sobre o tema, Júlio Fabbrinni Mirabete afirma que “o direito processual penal está sujeito às influências desses princípios como os referentes à liberdade, à igualdade, ao direito natural etc.”. Processo Penal I Fonte: Direito Processual Penal Esquematizado Processo Penal I Fontes do Direito Processual Penal Fontes Materiais: são as entidades criadoras do direito, sendo, por isso, chamadas também de fontes de criação ou de produção. No caso de direito processual penal, a competência legislativa é privativa da União, ao teor do art. 22, inciso I, da CF. Fontes Formais: São também chamadas de fontes de revelação ou de cognição, e dizem respeito aos meios pelos quais o direito se exterioriza. Dividem-se em fontes formais imediatas e mediatas. as fontes formais imediatas: são as leis em sentido amplo, abrangendo o texto constitucional, a legislação infraconstitucional (leis ordinárias, complementares etc.) e os tratados, as convenções e as regras de direito internacional aprovados pelo Congresso Nacional, bem como as súmulas vinculantes do Supremo Tribunal Federal. Processo Penal I as fontes formais mediatas: não criam leis, tampouco as revogam. Servem para integrar a norma, auxiliar o intérprete. São a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito. Relembrando, a analogia é o meio de autointegração com o qual se aplica às situações não previstas na norma jurídica uma regra específica elaborada para outra hipótese fática. Na analogia, portanto, a solução é encontrada mediante a criação de outra norma – criada pelo intérprete –, inicialmente destinada a regular apenas as situações nela descritas (ubi eadem legis ratio ibi eadem dispositio - onde impera a mesma razão deve prevalecer a mesma decisão). Ex: Súmula 696, STF ( Reunidos os pressupostos legais permissivos da suspensão condicional do processo, mas se recusando o promotor de justiça a propô-la, o juiz, dissentindo, remeterá a questão ao Procurador-Geral, aplicando-se por analogia o art. 28 do Código de Processo Penal). Processo Penal I Já os costumes no âmbito do direito processual, referem-se aos usos comuns, aplicados em todos os juízos, no tramitar das ações penais, ainda que não previstos expressamente na legislação, por exemplo, o costume de dar vista ao Ministério Público em inquérito que apura ação privada, para que verifique eventual conexão com crime de ação pública ou a ocorrência de causa extintiva da punibilidade; a concessão de prazo às partes para localizarem testemunhas não encontradas pelo oficial de justiça etc. image1.png image2.png image3.png image4.png image5.png