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AULA 1 INTELIGÊNCIA EMOCIONAL - COMPETÊNCIAS SOCIAIS E DE RELACIONAMENTO Prof.ª Lucimara do Nascimento Numata 2 CONVERSA INICIAL Nesta abordagem, discutiremos e ampliaremos nosso conhecimento acerca de um tema bastante atual e relevante no mundo, na sociedade e nos estudos sobre gestão e liderança de pessoas. Tais estudos são pautados nos tópicos a seguir: 1. A inteligência emocional na contemporaneidade; 2. O mundo BANI e o Século da Ansiedade; 3. A ciência das emoções; 4. Neurociência aplicada à inteligência emocional; 5. Bases da inteligência emocional e relacional. Esses temas estão relacionados à inteligência emocional e sua relevância na contemporaneidade, abordando diferentes aspectos conforme apontados a seguir: A inteligência emocional na contemporaneidade destaca a importância da inteligência emocional em um mundo em constante mudança, com desafios cada vez mais complexos nas relações humanas, na educação, no trabalho e na saúde. O mundo BANI e o Século da Ansiedade fazem referência à crescente preocupação com a saúde mental e emocional, especialmente em um mundo em que a tecnologia, as redes sociais e outras pressões podem contribuir para a ansiedade e o estresse. A ciência das emoções e a neurociência aplicada à inteligência emocional apresentam a base científica da inteligência emocional e como a compreensão do funcionamento do cérebro e das emoções pode contribuir para o desenvolvimento dessas habilidades. As bases da inteligência emocional e relacional referem-se às habilidades emocionais e sociais que são fundamentais para o sucesso nas relações interpessoais e na vida pessoal e profissional em geral. Isso inclui a autoconsciência, autogerenciamento, empatia, habilidades de comunicação e colaboração, entre outras. Convidamos você a apreciar este conteúdo com olhar crítico sobre a relevância do tema como essenciais para as empresas e a sociedade, pois permitem desenvolver habilidades socioemocionais que impactam positivamente no ambiente de trabalho e nas relações interpessoais. Por meio desses estudos, é possível promover a empatia, a comunicação assertiva, a resolução de conflitos 3 e a liderança eficaz, contribuindo para um clima organizacional saudável e para o bem-estar da sociedade como um todo. Bons estudos! TEMA 1 – A INTELIGÊNCIA EMOCIONAL NA CONTEMPORANEIDADE A inteligência emocional é uma habilidade fundamental para lidar com as demandas da vida moderna. Na contemporaneidade, em que a tecnologia avança cada vez mais rápido e as relações interpessoais se tornam cada vez mais complexas, a capacidade de compreender e gerenciar as emoções é essencial para o sucesso pessoal e profissional. Na contemporaneidade, a inteligência emocional tem sido cada vez mais valorizada e discutida. Segundo Goleman (2021), a pandemia de Covid-19 tem destacado a importância da inteligência emocional para lidar com as incertezas e desafios do mundo atual. Lembrando que a pandemia de Covid-19 é uma doença infecciosa causada pelo coronavírus SARS-CoV-2 que foi inicialmente identificado na cidade de Wuhan, na China, em dezembro de 2019. Desde então, ela se espalhou rapidamente pelo mundo, afetando a saúde pública global, a economia e a sociedade em geral. Chevalier (2020) ressalta que a neurociência das emoções tem contribuído para uma compreensão mais aprofundada sobre o funcionamento do cérebro em relação às emoções, e como isso pode ser aplicado na educação e na formação de líderes emocionalmente inteligentes. Já Herculano-Houzel (2021) destaca que as emoções não são uma entidade separada do cérebro e que a prática e a repetição podem influenciar positivamente as emoções e levar a uma transformação do cérebro. Dessa forma, percebe-se que a inteligência emocional tem ganhado cada vez mais importância na contemporaneidade, tanto no contexto organizacional quanto na área da neurociência, e que autores recentes têm destacado sua relevância para lidar com as demandas e desafios da atualidade. Na obra Inteligência emocional: a teoria revolucionária que redefine o que é ser inteligente, best-seller mundial, Goleman (1995) apresenta a ideia de que a inteligência emocional é um fator crucial para o sucesso e a realização pessoal, mesmo que muitas vezes seja negligenciada ou ignorada. O autor explica que a inteligência emocional é composta por cinco habilidades fundamentais: autoconsciência, autogestão, motivação, empatia e 4 habilidades sociais. Ele argumenta que essas habilidades são mais importantes do que o quociente de inteligência (QI) em muitos aspectos da vida, incluindo relacionamentos, trabalho e saúde mental. Considerando a relevância desse tema inicial, iniciaremos o percurso de conhecimento sobre as bases científicas em que a inteligência emocional se tornou relevante para a gestão e liderança de pessoas. 1.1 Conceituando inteligência e inteligência emocional O quociente de inteligência (QI) refere-se às habilidades cognitivas tradicionais, como a capacidade de compreender conceitos complexos, resolver problemas matemáticos e linguísticos e realizar tarefas que exigem raciocínio lógico. Já o quociente emocional (QE) refere-se às habilidades emocionais e sociais, como a capacidade de compreender as próprias emoções e as dos outros, gerenciar as próprias emoções de forma saudável e eficaz, lidar com o estresse e a pressão e estabelecer e manter relações interpessoais saudáveis e construtivas. Isso pode ser aplicado e desenvolvido em diferentes contextos, já que existe uma relação entre inteligência emocional e liderança, educação, saúde e outros campos. Tieppo (2019) concorda com Goleman em que a inteligência emocional é uma habilidade cada vez mais valorizada no mundo corporativo. O QI é importante, mas sozinho não é suficiente para garantir o sucesso profissional e pessoal. É preciso também saber lidar com as emoções, tanto as próprias quanto as dos outros. Calabrez (2019) reforça que a inteligência emocional é um fator chave para a liderança e a tomada de decisão. É preciso ter habilidades emocionais para lidar com situações complexas, como conflitos e crises. Além disso, a inteligência emocional está relacionada à resiliência e à capacidade de adaptação a mudanças, o que é essencial em um mundo cada vez mais volátil e incerto. Portanto, a inteligência emocional é uma habilidade essencial para enfrentar os desafios da vida moderna. Como afirma Goleman (2007, p. 308): “Se queremos um mundo melhor, precisamos de um povo mais inteligente emocionalmente”. 5 TEMA 2 – O MUNDO BANI E O SÉCULO DA ANSIEDADE Jamais Cascio é um futurista que tem refletido sobre o conceito de mundo BANI e a Era do Caos. Ele defende que estamos vivendo em uma época de transição, em que as formas antigas de organização social e econômica estão se desfazendo, e novas formas ainda não estão totalmente estabelecidas. Ele cunhou o termo mundo BANI para descrever essa nova realidade, conforme a representação na Figura 1 abaixo. Figura 1 – O mundo BANI Créditos: Whale Design/Shutterstock. A sigla que representa as quatro características centrais do mundo moderno e cada letra representa um aspecto do mundo atual: • B de Brittle (frágil): refere-se à fragilidade e instabilidade do mundo atual, que está sujeito a mudanças rápidas e imprevisíveis. • A de Anxious (ansioso): representa a crescente ansiedade e incerteza que permeia as sociedades atuais em relação ao futuro. • N de Non-Linear (não linear): indica a complexidade e imprevisibilidade dos sistemas atuais, que são interconectados e influenciam-se mutuamente de maneiras imprevisíveis. • I de Incomprehensible (incompreensível): alude à quantidade e à complexidade das informações disponíveis, que muitas vezes tornam difícilpara as pessoas compreenderem e tomarem decisões informadas. 6 Segundo Cascio, o mundo BANI representa uma nova era em que as mudanças são rápidas e imprevisíveis, e a incerteza e a complexidade são a norma. Isso tem implicações profundas para as pessoas, organizações e sociedades, exigindo uma nova forma de pensamento e liderança para navegar nesse mundo desafiador. Para o mesmo autor, a Era do Caos é um momento em que os sistemas sociais e econômicos que conhecemos estão entrando em colapso ou passando por grandes mudanças. Isso é impulsionado por uma combinação de fatores, incluindo mudanças climáticas, desigualdade econômica, instabilidade geopolítica, mudanças demográficas e tecnológicas, entre outros. Cascio argumenta que a Era do Caos não é um momento para o desespero, mas sim uma oportunidade para a inovação e a criatividade. Ele sugere que, à medida que as antigas formas de organização social e econômica desmoronam, surgem novas oportunidades para experimentar e construir novos modelos. Em suma, o mundo BANI e a Era do Caos são inevitáveis e precisamos aprender a lidar com a fragilidade, a incerteza, a complexidade e a ambiguidade que caracterizam essa nova realidade. Em vez de nos concentrarmos no medo e na incerteza, ele incentiva a inovação e a adaptação como a chave para sobreviver e prosperar nesse mundo em constante mudança. Saiba mais No artigo “Como liderar no mundo BANI”, Yeda Oswaldo, mentora e coach executiva e de liderança, psicóloga, autora e palestrante, nos apresenta questões importantes sobre as estratégias para liderar no mundo BANI. Disponível em: . Acesso em: 8 abr. 2023. 2.1 A Era do Caos e o Século da Ansiedade Século da Ansiedade é um termo cunhado por Jamais Cascio para descrever a era atual, marcada pelo aumento significativo dos níveis de ansiedade na sociedade. Ele argumenta que a complexidade e a incerteza do mundo atual, juntamente com o ritmo acelerado das mudanças tecnológicas e sociais, estão gerando uma sensação de instabilidade e desconforto que está afetando a saúde mental de muitas pessoas. Nesse contexto, a inteligência emocional torna-se cada vez mais importante para lidar com a ansiedade e manter um equilíbrio emocional diante dos desafios da vida moderna. 7 Além de Jamais Cascio, vários autores também refletiram sobre a Era do Caos e o Século da Ansiedade. Abaixo, estão alguns exemplos: • Zygmunt Bauman (1925-2017): sociólogo polonês que argumentou que estamos vivendo em uma “modernidade líquida”, caracterizada pela incerteza, pela falta de estrutura e pela transitoriedade. • Douglas Rushkoff (1961): escritor e professor de mídia que argumentou que estamos presos em um sistema econômico insustentável que está nos levando ao caos e que precisamos criar novas formas de organização social e econômica. • Mark Fisher (1968-2017): escritor e teórico cultural que cunhou o termo Século da Ansiedade para descrever a sensação de incerteza, insegurança e medo que muitas pessoas experimentam atualmente. Ele argumentou que essa ansiedade é uma resposta à falta de estrutura e segurança na vida moderna. • Manuel Castells (1942): sociólogo espanhol que argumentou que estamos vivendo em uma nova era de globalização e tecnologia que está transformando a sociedade em níveis profundos e duradouros. • Yuval Noah Harari (1976): historiador israelense que argumentou que estamos entrando em uma nova era de mudanças tecnológicas e biológicas que poderão transformar a humanidade de maneiras imprevisíveis. Esses autores e muitos outros têm refletido sobre as mudanças profundas que estão ocorrendo na sociedade contemporânea e os desafios que elas representam para indivíduos e instituições. Eles também têm oferecido ideias e soluções para lidar com esses desafios e criar um futuro mais sustentável e equitativo. Saiba mais O livro 21 lições para o século XXI (2018), do historiador israelense Yuval Noah Harari, oferece uma visão abrangente dos desafios que a humanidade enfrenta atualmente e sugere maneiras de abordá-los. O livro é dividido em três partes: O Desafio Tecnológico, O Desafio Político e O Desafio Existencial. É uma obra importante para os estudos atuais porque oferece uma visão abrangente dos desafios que enfrentamos como sociedade e sugere maneiras de lidar com eles de maneira significativa e criativa. O livro é relevante para várias áreas do conhecimento, como história, política, filosofia e tecnologia. 8 2.2 O Brasil como país da ansiedade De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é o país com a maior taxa de transtornos de ansiedade no mundo. A pesquisa da OMS indica que cerca de 18,6 milhões de brasileiros (ou 9,3% da população) sofrem de ansiedade, uma taxa maior do que a média mundial, que é de 7,3%. Além disso, uma pesquisa realizada pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) em parceria com a Universidade Federal Fluminense (UFF) revelou que a pandemia de Covid-19 tem aumentado os níveis de ansiedade e depressão no Brasil. A pesquisa indicou que, desde o início da pandemia, houve um aumento de 80% nos casos de ansiedade e de 45% nos casos de depressão. Outro fator que pode contribuir para a ansiedade no Brasil é o estresse causado por fatores sociais e econômicos, como a desigualdade social, a violência urbana, o desemprego e a instabilidade política. O Brasil é um país que enfrenta diversos desafios socioeconômicos, o que pode levar as pessoas a se sentirem mais inseguras e ansiosas em relação ao futuro. Portanto, os dados atuais indicam que o Brasil é considerado o país da ansiedade devido à alta taxa de transtornos de ansiedade, o aumento dos casos durante a pandemia de Covid-19 e os fatores socioeconômicos que geram estresse e insegurança na população. É importante que haja uma maior conscientização e investimento em saúde mental para lidar com esse problema no país. Além dos dados da OMS mencionados anteriormente, outras pesquisas também apontam o Brasil como o país com a maior taxa de transtornos de ansiedade no mundo. Uma pesquisa realizada pela International Stress Management Association (ISMA) em 2019, conforme Figura 2, mostrou que 70% dos brasileiros sofrem de ansiedade e que 30% dos casos são considerados graves. A pesquisa também indicou que os principais fatores que contribuem para a ansiedade no Brasil são a pressão no trabalho, a instabilidade financeira e a violência urbana. 9 Figura 2 – Pesquisa da International Stress Management Association Créditos: Obak/Shutterstock. Outro estudo, realizado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), mostrou que a ansiedade é o transtorno mental mais comum entre os brasileiros, afetando cerca de 19% da população. A pesquisa também revelou que os casos de ansiedade são mais frequentes entre as mulheres e pessoas com baixa escolaridade. Além disso, um levantamento realizado pela plataforma de saúde mental Zenklub em 2021 mostrou que a pandemia de Covid-19 impulsionou os níveis de ansiedade na população brasileira. A pesquisa indicou que 58% dos entrevistados afirmaram ter sentido mais ansiedade durante a pandemia e 48% tiveram crises de ansiedade durante o período. Esses dados reforçam a ideia de que o Brasil é considerado o país da ansiedade devido à alta taxa de transtornos de ansiedade, que afeta grande parte da população e é influenciada por fatores sociais e econômicos. É importante que haja maior conscientização sobre o assunto e investimentos em saúde mental para lidar com esse problema no país. 72% •Dos brasileiros que estão no mercado de trabalho sofrem alguma sequela ocoasionada pelo estresse. 32% •Sofrem da síndrome de Burnout. 92% que tem Buurnout • Continuam trabalhando10 TEMA 3 – A CIÊNCIA DAS EMOÇÕES Os neurocientistas Suzana Herculano (2020), Carla Tieppo (2019), Miguel Nicolelis (2018) e Pedro Calabrez (2019) têm contribuído significativamente para a compreensão do funcionamento do cérebro humano e sua relação com o comportamento. De acordo com eles, o cérebro é uma estrutura complexa que permite a realização de diversas funções cognitivas, incluindo as emoções, o pensamento, a tomada de decisão e a percepção. Figura 2 – Emoções Créditos: Alphavector/Shutterstock. Herculano-Houzel, por exemplo, nos revela que o cérebro humano é composto por bilhões de células cerebrais, chamadas de neurônios, e que o número de neurônios está diretamente relacionado à capacidade cognitiva de um indivíduo. Além disso, ela enfatiza que as emoções são processadas em diferentes regiões do cérebro, que trabalham em conjunto para criar uma experiência emocional complexa. Tieppo, por sua vez, discute a relação entre o cérebro e o comportamento humano e como a neurociência pode ajudar a entender a origem de comportamentos disfuncionais. Ela enfatiza a importância da plasticidade cerebral, ou seja, a capacidade do cérebro de se adaptar e mudar ao longo do 11 tempo, o que pode ajudar a explicar a transformação positiva das emoções por meio da prática e repetição. Já Nicolelis tem se destacado por suas pesquisas em interfaces cérebro- máquina e como elas podem ser aplicadas para restaurar a função neurológica em indivíduos que sofreram lesões cerebrais. Ele defende que o cérebro é capaz de se adaptar e aprender novas tarefas, mesmo após uma lesão, o que demonstra a incrível capacidade de plasticidade cerebral. Por fim, Pedro Calabrez tem discutido a influência da neurociência no comportamento humano, enfatizando a importância da inteligência emocional e da tomada de decisão consciente para o bem-estar emocional. Ele destaca a importância do autoconhecimento para uma vida mais saudável e satisfatória, o que pode ser alcançado por meio da compreensão do funcionamento do cérebro humano e suas implicações no comportamento. Em conjunto, esses neurocientistas destacam a complexidade do cérebro humano e sua importância na regulação do comportamento humano e das emoções. Eles demonstram como a compreensão do funcionamento do cérebro pode ser aplicada para promover a saúde mental e o bem-estar emocional, além de permitir avanços significativos na área médica e tecnológica. Chevalier (2020) destaca a importância das emoções na liderança de pessoas e como a compreensão dos processos neurais que regem as emoções pode ajudar os líderes a criar ambientes de trabalho mais saudáveis e produtivos. Segundo o autor, “as emoções são fundamentais na vida de qualquer pessoa e, portanto, têm um impacto significativo na liderança” (Chevalier, 2020, p. 47). A autora ainda ressalta a importância da empatia na liderança e como ela pode ser facilitada pelo conhecimento das emoções: “quanto mais os líderes entendem as emoções dos seus liderados, mais fácil é para eles se colocarem no lugar deles e assim gerar empatia” (Chevalier, 2020, p. 98). Líderes emocionalmente inteligentes são aqueles capazes de compreender e gerenciar suas próprias emoções, bem como as emoções de seus liderados. Esses líderes são capazes de criar um ambiente de trabalho mais positivo e saudável, gerando empatia e motivação nos colaboradores. Além disso, eles são capazes de tomar decisões mais acertadas em situações de pressão, uma vez que possuem um maior controle emocional. Em resumo, líderes emocionalmente inteligentes são aqueles que conseguem equilibrar a razão e a emoção, gerenciando as emoções de forma 12 positiva para promover um ambiente de trabalho saudável e produtivo, favorecendo a motivação e a produtividade dos colaboradores. Diante desse contexto, vamos agora aprofundar nosso conhecimento sobre a contribuição dos estudos da neurociência aplicada à inteligência emocional. Saiba mais Conheça o “NeuroVox: mente, cérebro e comportamento”, do professor e neurocientista Pedro Calabrez. Trata-se de um canal no YouTube em que Calabrez aborda diversos temas relacionados à mente, ao cérebro e ao comportamento humano, trazendo insights e informações baseadas em pesquisas científicas. Ele explora tópicos como neurociência, psicologia, comportamento humano, inteligência emocional, entre outros, de forma acessível e didática para o público em geral. Disponível em: . Acesso em: 8 abr. 2023. TEMA 4 – NEUROCIÊNCIA APLICADA À INTELIGÊNCIA EMOCIONAL A inteligência emocional, conceito popularizado por Daniel Goleman em 1995, tem sido objeto de estudo de muitos pesquisadores e profissionais da área de neurociência. Segundo Goleman (2013, p. 21), a inteligência emocional é “a capacidade de reconhecer os próprios sentimentos e os dos outros, de motivar- se e de gerir bem as emoções em si mesmo e nos relacionamentos”. Carla Tieppo, em seu livro Inteligência emocional: a teoria revolucionária que redefine o que é ser inteligente, destaca a importância da neurociência na compreensão da inteligência emocional. Segundo a autora, “a neurociência tem nos permitido compreender melhor o funcionamento do cérebro e a relação entre emoção e cognição” (Tieppo, 2019, p. 27). Pedro Calabrez, por sua vez, defende que a inteligência emocional é uma habilidade que pode ser treinada e desenvolvida ao longo da vida. Em seu livro Inteligência emocional na prática, o autor destaca que “o treinamento da inteligência emocional é uma necessidade cada vez mais urgente em um mundo em que as emoções têm um papel tão importante na tomada de decisões” (Calabrez, 2019, p. 45). Alguns estudos de neurociência têm mostrado que a inteligência emocional está relacionada com a atividade em áreas específicas do cérebro, como o córtex pré-frontal e a amígdala (Ledoux, 2019, p. 112). Além disso, a plasticidade cerebral, ou seja, a capacidade do cérebro de se adaptar e mudar ao longo do 13 tempo, também tem sido estudada como um fator importante no desenvolvimento da inteligência emocional (Davidson, 2017, p. 67). As questões filosóficas abordadas por Nicolelis sobre a natureza da consciência e a relação entre mente e cérebro estão mudando nossa compreensão do que significa ser humano. Embora suas pesquisas estejam mais associadas a aplicações na área de medicina e tecnologia, suas descobertas também podem ter implicações importantes para o contexto organizacional, especialmente no que diz respeito à liderança de pessoas. Segundo Nicolelis (2011), as interfaces cérebro-máquina que ele desenvolveu permitem que os indivíduos possam estender sua capacidade cognitiva para além de seus próprios limites, criando uma espécie de “mente coletiva”. Isso pode ter implicações importantes para a liderança de pessoas, permitindo que os líderes possam alavancar as habilidades e competências de sua equipe de forma mais eficiente. Em suas próprias palavras, A verdadeira liderança envolve não apenas liderar uma pessoa, mas liderar um grupo de pessoas em uma direção que é maior do que a soma de suas partes. A liderança deve ser capaz de catalisar e organizar a atividade coletiva de tal forma que o resultado final seja maior do que o que seria possível individualmente. (Nicolelis, 2011, p. 263) Além disso, as pesquisas do autor também podem ajudar a entender melhor como a comunicação e a colaboração funcionam entre diferentes indivíduos, o que pode ser aplicado para melhorar a dinâmica de equipe e a efetividade da liderança. Segundo o autor, “A capacidade de entender e se comunicar com outras pessoas é fundamental para o sucesso de qualquer empreendimento. É a chave para o sucesso da colaboração em grupo, para a negociação e para o desenvolvimento de soluções criativas” (Nicolelis, 2011, p. 268). Corroborando comNicolelis, Herculano-Houzel (2019) nos apresenta a visão de que as emoções são uma construção do cérebro, ou seja, são resultado da atividade neuronal em regiões específicas do órgão. Ela defende que as emoções não são uma entidade separada do cérebro, mas sim uma parte integrante e inseparável dele. A emoção é um estado do corpo, do cérebro e da mente, que envolve a percepção de um estímulo, uma reação fisiológica e uma interpretação cognitiva. E, como tudo isso ocorre dentro do cérebro, a emoção não é uma entidade separada do cérebro, mas sim uma parte integrante e inseparável dele. (Herculano-Houzel, 2019, p. 96) 14 Além disso, a autora também destaca a importância da plasticidade cerebral, ou seja, a capacidade do cérebro de se modificar e se adaptar a novas situações. A prática leva a mudanças duradouras, tanto comportamentais quanto neurais. A repetição de um comportamento ou a exposição a um estímulo emocional modifica a plasticidade do cérebro, com mudanças em conexões sinápticas, densidade neuronal e até mesmo neurogênese, a formação de novos neurônios. Em outras palavras, emoções podem ser influenciadas e moldadas pela prática, o que pode levar a uma transformação positiva do cérebro e, consequentemente, das emoções. (Herculano-Houzel, 2019, p. 137) Dessa forma, Suzana Herculano-Houzel reforça a importância de compreender a natureza das emoções e do cérebro para promover um desenvolvimento emocional saudável e construtivo. Morais (2020) reforça as pesquisas globais dos autores anteriormente citados e apresenta uma abordagem sobre a relação entre a neurociência e as emoções humanas. A abordagem neurocientífica das emoções humanas tem permitido avanços significativos no entendimento das bases neurais das emoções e dos mecanismos que as regulam. Através de técnicas de neuroimagem, é possível observar quais áreas do cérebro são ativadas em resposta a estímulos emocionais e como as conexões entre essas áreas são moduladas por neurotransmissores e hormônios. Além disso, estudos em animais e em humanos têm fornecido evidências sobre a existência de circuitos neurais específicos para diferentes emoções, como medo, raiva, tristeza e alegria. Esses avanços têm contribuído para o desenvolvimento de terapias baseadas em neurociência, que visam modular a atividade cerebral para tratar distúrbios emocionais como ansiedade, depressão e transtornos de estresse pós-traumático. (Morais, 2020, p. 25) Aqui é revelada a importância das emoções na vida humana, bem como os transtornos emocionais e as possíveis formas de tratamento, promovendo, dessa forma, uma compreensão mais ampla e aprofundada das emoções humanas, abordando a relação entre a atividade cerebral e os processos emocionais. A autora Chevalier aborda de maneira sistemática os principais conceitos da neurociência, como a estrutura e a função do cérebro, e como estes se relacionam com as emoções. Além disso, ela discute a importância do cérebro límbico no processamento emocional, apresentando as diferentes áreas cerebrais envolvidas na regulação emocional. Vamos conhecer agora alguns exemplos práticos e estudos científicos para ilustrar suas reflexões e tornar o conteúdo mais didático e aplicável. Algumas das referências a serem verificadas no Quadro 1. 15 Quadro 1 – Estudos científicos sobre a relação entre a neurociência e as emoções humanas Créditos: Alphavector; elenabsl/Shutterstock. Esses são apenas alguns dos exemplos práticos e estudos científicos mencionados que ajudam a ilustrar como os processos cerebrais e neurais se relacionam com as emoções e como podemos utilizar esse conhecimento para melhorar nossa saúde emocional e mental. Nesse sentido, Chevalier (2020) e Morais (2020) convergem em suas pesquisas e publicações sobre a neurociência das emoções, para compreender a relação entre o cérebro e as emoções humanas. Buscam tornar o tema acessível a leitores leigos no assunto, mas sem perder a profundidade necessária para uma boa compreensão do tema com a validação científica necessária. TEMA 5 – BASES DA INTELIGÊNCIA EMOCIONAL E RELACIONAL A inteligência emocional e relacional tem suas bases na neurociência, psicologia e nas teorias sociais e culturais. Para Goleman (2007, p. 45), a inteligência emocional é “a capacidade de identificar nossos próprios sentimentos O estudo da Universidade de Wisconsin sobre meditação e atividade cerebral mostra que a prática da meditação pode aumentar a atividade do córtex pré-frontal, responsável pelo controle emocional e pela tomada de decisões. O estudo da Universidade de Michigan sobre o efeito da música triste nas emoções mostra que a música triste pode levar a uma maior ativação da amígdala, uma das principais estruturas do cérebro envolvidas no processamento emocional. O estudo da Universidade de Iowa sobre o efeito da prática regular de exercícios físicos na regulação emocional mostra que a prática regular de exercícios físicos pode reduzir os sintomas de ansiedade e depressão, além de melhorar a capacidade de lidar com situações estressantes. 16 e os sentimentos dos outros, de nos motivarmos e de gerenciar bem as emoções dentro de nós e em nossos relacionamentos”. Segundo o mesmo autor, a importância da inteligência emocional e como ela pode ser aplicada em diferentes áreas da vida é um fator fundamental para quem deseja desenvolver suas habilidades emocionais e alcançar uma vida mais feliz e satisfatória. Ele nos revela que a inteligência emocional se baseia em cinco competências, que são demonstradas a seguir no Quadro 2. Um exemplo de aplicação dos pilares da inteligência emocional segundo a teoria de Goleman (2020) é demonstrado em uma situação de conflito no trabalho, quando um líder de equipe percebe que um de seus subordinados está enfrentando problemas pessoais que estão afetando seu desempenho. Ao invés de adotar uma postura autoritária e repreender o funcionário pelo baixo desempenho, o líder pode demonstrar empatia e preocupação, oferecendo ajuda e suporte para que o funcionário possa superar suas dificuldades e se sentir motivado novamente. Quadro 2 – Os pilares da inteligência emocional Créditos: inimalGraphic/Shutterstock. Segundo Goleman (2017, p. 43-48), o conceito de cada pilar é definido como demonstrado abaixo: Autoconsciência emocional Autogerenciamento emocional Consciência social Habilidade de relacionamento Habilidade de relacionamento 17 • Autoconsciência emocional: é a habilidade de reconhecer e compreender as próprias emoções, bem como seus efeitos sobre os outros. • Autogerenciamento emocional: refere-se à capacidade de controlar as próprias emoções e comportamentos, lidar com o estresse e a adversidade de forma eficaz e adaptar-se às mudanças. • Consciência social: é a habilidade de compreender as emoções e necessidades dos outros, bem como de se relacionar com eles de maneira positiva e empática. • Habilidade de relacionamento: diz respeito à capacidade de inspirar, influenciar e trabalhar com os outros de forma colaborativa e construtiva, estabelecendo relacionamentos saudáveis e produtivos. Além disso, a inteligência relacional, segundo Goleman (2006, p. 43), é “a habilidade de se conectar com os outros e construir relacionamentos saudáveis, baseados em confiança, respeito e empatia”. Para Artigas (2019, p. 14), a inteligência relacional é “a capacidade de interagir e se relacionar com outras pessoas de forma saudável e construtiva”. A autora destaca que a inteligência relacional é uma habilidade importante para líderes e gestores, pois “a capacidade de se relacionar bem com outras pessoas e lidar com conflitos de maneira construtiva é essencial para o sucesso em qualquer área da vida” (Artigas, 2019, p. 17). A autora também destaca que a inteligência relacional envolveo desenvolvimento de quatro habilidades principais: empatia, comunicação, influência e resolução de conflitos. • A empatia, segundo a autora, é a capacidade de se colocar no lugar do outro e compreender seus sentimentos e perspectivas. • A comunicação, por sua vez, envolve a habilidade de se expressar de forma clara e eficaz, além de saber ouvir e compreender as mensagens que os outros estão transmitindo. • Já a influência diz respeito à capacidade de persuadir e motivar outras pessoas. Por fim, a resolução de conflitos envolve a habilidade de identificar as causas dos conflitos e encontrar soluções que sejam satisfatórias para todas as partes envolvidas. Portanto, a inteligência emocional e relacional são habilidades fundamentais para a vida pessoal e profissional, permitindo uma melhor 18 compreensão e gestão das emoções próprias e alheias, além de facilitar a construção de relacionamentos saudáveis e duradouros. Finalizamos esta abordagem compreendendo acerca da inteligência emocional e relacional como extremamente importante na contemporaneidade porque vivemos em um mundo altamente interconectado, em que as habilidades sociais e emocionais são fundamentais para o sucesso em todas as áreas da vida, incluindo no trabalho, nas relações interpessoais e na saúde mental. Hoje em dia, as empresas estão cada vez mais valorizando as habilidades emocionais e sociais dos funcionários, como a empatia, a comunicação eficaz e a colaboração, porque elas são essenciais para um ambiente de trabalho saudável e produtivo. Além disso, a inteligência emocional é fundamental para lidar com as pressões e desafios do trabalho moderno, como prazos apertados, conflitos interpessoais e trabalho em equipe. Nas relações interpessoais, a inteligência emocional e relacional é essencial para construir e manter relacionamentos saudáveis e duradouros. Isso inclui a capacidade de expressar emoções de maneira clara e eficaz, de ouvir ativamente os outros, de entender e respeitar as diferenças e de resolver conflitos de forma construtiva. Por fim, a inteligência emocional também é importante para a saúde mental e bem-estar pessoal. A capacidade de gerenciar emoções negativas, de desenvolver resiliência e de manter uma perspectiva positiva pode ajudar a lidar com o estresse e a ansiedade da vida moderna. Em resumo, a inteligência emocional e relacional é crucial na contemporaneidade, pois possibilita o alcance de uma relação saudável no trabalho e para a saúde mental. Por isso, é importante desenvolver essas habilidades ao longo da vida para alcançar uma vida plena e satisfatória. Seguiremos com os estudos desse tema com foco na educação emocional e no autoconhecimento para o desenvolvimento das habilidades emocionais que caracterizam as pessoas possuidoras de inteligência emocional e relacional. 19 REFERÊNCIAS ARTIGAS, A. 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