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Português PLANEJAMENTO PARA A GESTÃO INTEGRADA DE RECURSOS HÍDRICOS Manual de Capacitação e Guia Operacional Março 2005 Traduzido de inglês, agosto 2005 Cap-Net. Planejamento de GIRH, Módulo de Capacitação 1 PLANEJAMENTO PARA A GESTÃO INTEGRADA DE RECURSOS HÍDRICOS Manual de Capacitação e Guia Operacional Março 2005 Este documento é uma publicação financiada pela Agência Canadense de Desenvolvimento Internacional (Canadian International Development Agency, CIDA), no contexto do programa de Parceria para o desenvolvimento dos Recursos Hídricos Africanos (Partnership for African Waters Development, PAWD). Plano de trabalho Conscientização Participação dos atores Compromisso político. Visão/política Compromisso com a GIRH Análise de situações Problemas, Situação da GIRH. Identificação de metas. Escolha Estratégica. Metas priorizadas Estratégia selecionada Minuta de Plano de GIRH Aprovação política e dos atores Implementação Ação legal, institucional e de gestão. Capacitação Avaliação Avaliação do progresso. Revisão do plano Início. Compromisso do Governo. Equipe formada Cap-Net. Planejamento de GIRH, Módulo de Capacitação 2 Índice do Conteúdo PREFÁCIO......……………………………….………………………………………………………….......................…………………………………….......4 PARTE 1. Material de Capacitação. 1. INTRODUÇÃO A GIRH ................................................................................................................................................................7 1.1. O QUE É A GESTÃO INTEGRADA DE RECURSOS HÍDRICOS?.............................................................................7 1.2. POR QUE A GIRH?..............................................................................................................................................................7 1.3. TEMAS CHAVES PARA GESTÃO INTEGRADA DE RECURSOS HÍDRICOS.......................................................8 1.4. PRINCÍPIOS DA GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS ............................................................................................10 1.5. USOS DA ÁGUA, IMPACTOS E BENEFÍCIOS ............................................................................................................12 1.6. IMPLANTANDO A GIRH .................................................................................................................................................14 2. PROCESSO DE PLANEJAMENTO PARA A GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS: UMA INTRODUÇÃO...................18 2.1. POR QUE PLANEJAR A GIRH? .....................................................................................................................................18 2.2. O QUE ESPERAMOS ALCANÇAR?...............................................................................................................................18 2.3. ASSUMA UMA ABORDAGEM ESTRATÉGICA..........................................................................................................18 2.4. O CICLO DE PLANEJAMENTO .....................................................................................................................................19 3. INICIANDO O PROCESSO DE PLANEJAMENTO .................................................................................................................23 3.1. QUAIS SÃO OS PRODUTOS ESPERADOS...................................................................................................................23 3.2. INÍCIO ..................................................................................................................................................................................23 4. DESENVOLVENDO O PLANO DE TRABALHO......................................................................................................................29 4.1. QUAIS SÃO OS PRODUTOS ESPERADOS?.................................................................................................................29 4.2. MOBILIZAÇÃO..................................................................................................................................................................30 4.3. COMPROMISSO POLÍITICO..........................................................................................................................................31 4.4. PARTICIPAÇÃO DE ATORES ........................................................................................................................................33 4.5 CAPACITAÇÃO...................................................................................................................................................................37 5. ESTABELECENDO UMA VISÃO ESTRATÉGICA ..................................................................................................................39 5.1. QUAIS SÃO OS RESULTADOS ESPERADOS?............................................................................................................39 5.2. POR QUE É IMPORTANTE UMA VISÃO DE ÁGUA? ..............................................................................................39 5.3. ETAPAS NA ELABORAÇÃO DE UMA VISÃO DE RECURSOS HÍDRICOS .........................................................41 6. ANÁLISE DA SITUAÇÃO............................................................................................................................................................44 6.1. QUAIS SÃO OS RESULTADOS ESPERADOS?............................................................................................................44 6.2. O QUE É NECESSÁRIO SER ALCANÇADO................................................................................................................44 6.3. ETAPAS NA REALIZAÇÃO DE UMA ANÁLISE DA SITUAÇÃO ...........................................................................45 6.4. ANÁLISE DA SITUAÇÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS ...........................................................................................47 6.5. QUESTÕES DE INTERESSE PARA OS ATORES........................................................................................................49 7. OPÇÕES ESTRATÉGIAS IDENTIFICADAS PARA DE.............................................................................................................53 GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS ..............................................................................................................................................53 7.1. QUAIS SÃO OS RESULTADOS ESPERADOS?............................................................................................................53 7.2. ONDE COMEÇAR. .............................................................................................................................................................53 7.3. ESCOPO DAS DECISÕES SOBRE ESTRATÉGIA.......................................................................................................54 7.4. ESTRUTURA PARA TOMADA DE DECISÕES SOBRE ESTRATÉGIA. ...............................................................56 7.5. ÁREAS DE MUDANÇA DE GIRH..................................................................................................................................58 8. O PLANO DE GIRH PRONTO E APROVADO..........................................................................................................................64 8.1. QUAIS SÃO OS RESULTADOS ESPERADOS?............................................................................................................64 8.2. QUATRO QUESTÕES .......................................................................................................................................................64 Cap-Net. Planejamento de GIRH, Módulo de Capacitação 3 8.3.APROVAÇÃO DE PLANOS..............................................................................................................................................67 REFERÊNCIAS.................................................................................................................................................................................69 ANEXO 1 ............................................................................................................................................................................................71 ANEXO 2 EXEMPLO DE ESTRATÉGIA DE RECURSOS HÍDRICOS ....................................................................................73 PARTE 2. Guia Operacional 1. ANOTAÇÕES DOS FACILITADORES ......................................................................................................................................76 INTRODUZINDO O CURSO. ..................................................................................................................................................76 SEÇÃO 1. INTRODUÇÃO A GIRH ......................................................................................................................................77 SEÇÃO 2. PROCESSO DE PLANEJAMENTO PARA A GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS, UMA INTRODUÇÃO.........................................................................................................................................................78 SEÇÃO 3. INICIANDO O PROCESSO DE PLANEJAMENTO .........................................................................................80 SEÇÃO 4. ELABORAÇÃO DO PLANO DE TRABALHO. .................................................................................................82 SEÇÃO 5. ESTABELEÇA A VISÃO ESTRATÉGICA........................................................................................................84 SEÇÃO 6. ANÁLISE DE SITUAÇÃO. ....................................................................................................................................86 SEÇÃO 8. O PLANO DE GIRH PRONTO E APROVADO .................................................................................................90 ESTIMULANTES.......................................................................................................................................................................93 2. AMOSTRA DE UM PROGRAMA DE CURSO...........................................................................................................................98 Cap-Net. Planejamento de GIRH, Módulo de Capacitação 4 Nota Este material de capacitação destina-se a um curso de 3 a 4 dias sobre como elaborar um plano de gestão de recursos hídricos que atenda aos princípios de GIRH. O curso tem limitações de tempo que afetam o aprofundamento sobre o conteúdo, e a focalização está voltada para o processo. O que se deseja é que esta introdução limitada possa trazer também uma visão de outras ferramentas e técnicas que serão necessárias. Estão identificadas as ferramentas úteis para apoiar o processo de planejamento, em cada uma das etapas. Embora este material esteja orientado para planos nacionais de GIRH, pode ser adaptado facilmente para o planejamento em nível de bacia. Os capacitadores são encorajados a serem criativos para adaptar o material deste Manual para atender às condições específicas. Agradecimentos O material de referência listado tem sido usado intensamente e algumas vezes é usado integralmente. Os autores são da rede CAP-NET e GWP e incluem Paul Taylor, Lewis Jonker, Emmanuel Donkor, Diana Guio, Ibrahima Mbodji, Charles Mlingi da CAP-NET e Jan Hassing e Daniel Lopez da GWP. Material adicional vem sendo incorporado a partir das atividades de capacitação subseqüentes e o documento continuará sendo atualizado sempre que oportuno. Este material de capacitação pode ser obtido na: http://www.cap-net.org/captrainingmaterialsearchdetail.php?TM_ID=67 e www.gwpforum.org ou solicitado em CD com todas as referências de apoio pelo info@cap-net.org Cap-Net. Planejamento de GIRH, Módulo de Capacitação 5 Prefácio Respondendo a solicitações internacionais por ações ou reconhecendo simplesmente a necessidade urgente de resolver os problemas da água em escala nacional e local, muitos de nós confrontamos com a necessidade de nos envolver em planejamento para a ação. A meta principal de trazer a gestão de recursos hídricos é a sustentatibilidade, mas deve vir acompanhada também da eqüidade social e eficiência econômica. A abordagem adotada para melhorar a gestão de recursos hídricos é baseada no envolvimento dos atores no planejamento e no processo de tomada de decisão. Conseqüentemente, a preparação dos planos de gestão de recursos hídricos pode exigir mais envolvimento do que o planejamento governamental convencional. A formulação de uma estratégia de recursos hídricos é uma etapa inicial na maneira de elaborar um plano onde as metas básicas e os objetivos precisam ser estabelecidos e a definição das principais mudanças acordada antes de entrar no detalhamento do plano. Este módulo de capacitação e guia operacional é destinado a auxiliar às pessoas daqueles países que estão desenvolvendo uma estratégia de gestão de recursos hídricos ou um plano de gestão de recursos hídricos. Os materiais estão associados, particularmente às iniciativas que sendo tomadas pela Associação Mundial pela Água (“Global Water Partnership (GWP)”) em vários países e podem ser usadas conjuntamente com a publicação “Catalyzing Change (GWP, 2004)” (Catalizando Mudanças) para informações adicionais e discussões . Nós apoiamos fortemente a idéia de que planejar não é um exercício linear, mas, um exercício circular e precisa ser acompanhado por uma avaliação periódica, avaliação do progresso e re-planejamento. O material é apresentado com essa visão; embora ele não se estenda até implementação do plano. A implantação é abordada em vários outros materiais de capacitação da Cap-Net. Esperamos que a utilização deste manual de capacitação possa ajudar a fazer a diferença e catalisar mudanças positivas para o desenvolvimento sustentável Estes materiais constituem uma base para a capacitação, mas precisa ser adaptado às circunstâncias, ao idioma, à cultura e à experiência locais Por isso, nós apoiamos fortemente o conceito de promoção de capacitação por instituições locais. Embora dirigida ao planejamento nacional para a gestão integrada de recursos hídricos, o material é facilmente adaptável para o planejamento em nível mais baixo como da bacia ou planejamento de captação, no âmbito de uma estrutura político legal nacional que adote os princípios da gestão integrada de recursos hídricos. PAUL TAYLOR DIRETOR EXECUTIVO CAP-NET www.cap-net.org EMILIO GABRIELLI SECRETÁRIO EXECUTIVO ASSOCIAÇÃO MUNDIAL PELA ÁGUA www.gwpforum.org Cap-Net. Planejamento de GIRH, Módulo de Capacitação 6 PARTE 1 Manual de Capacitação Cap-Net. Planejamento de GIRH, Módulo de Capacitação 7 1. INTRODUÇÃO A GIRH 1.1. O QUE É A GESTÃO INTEGRADA DE RECURSOS HÍDRICOS? De maneira simples, a gestão integrada de recursos hídricos é um conceito lógico e atrativo. A sua base considera que os múltiplos usos dos recursos hídricos são interdependentes. O que é evidente para todos nós. Demandas elevadas de irrigação e efluentes agrícolas poluídos significam que haverá menos água potável e para uso industrial: efluentes municipais e industriais contaminados poluem rios e ameaçam aos ecossistemas; se água tem que ser deixada em um rio para proteger a pesca e o ecossistema, uma menor quantidade poderá ser desviada para cultivo agrícola. Existe uma grande variedade de exemplos de que a utilização não regulada dos escassosrecursos hídricos causa desperdícios e é inerentemente insustentável. Gestão integrada significa que todos os diversos usos de recursos hídricos são considerados em conjunto. As alocações de água e decisões de gestão consideram que os efeitos de cada uso sobre os demais. Essas decisões são capazes de levar em conta todas as metas sociais e econômicas, inclusive alcançar o desenvolvimento sustentável. Isto significa também assegurar a implantação de uma política coerente em relação a todos os setores. Como veremos, o conceito básico da GIRH foi estendido para incorporar à tomada de decisão participativa. Diferentes grupos de usuários (fazendeiros, comunidades, ambientalistas…) podem influenciar nas estratégias para o desenvolvimento e a gestão de recursos hídricos. Isto traz benefícios adicionais, como os usuários informados aplicam auto-regulamentação em relação a questões tais como conservação da água e proteção de áreas de captação mais efetiva do que podem realizar uma regulamentação e supervisão centralizada.. Gestão é usada em seu sentido mais amplo. Ela enfatiza que não devemos focalizar somente na exploração de recursos hídricos, mas que devemos gerir conscientemente a exploração de recursos hídricos de uma forma que assegure uma utilização sustentável para atender as futuras gerações. A gestão integrada de recurso hídricos é, portanto, um processo sistemático para a desenvolvimento sustentável, alocação e monitoramento dos usos de recursos hídricos, tendo em conta os objetivos sociais, econômicos e ambientais. Contrasta com o enfoque setorial aplicado em muitos países. Quando a responsabilidade pela água potavel é de uma agência, a água para irrigação está sob a responsabilidade de outro órgão e para o meio ambiente ainda por uma outra, falta a ligação intersetorial que conduz a um desenvolvimento e gestão descoordenada, dando origem a conflitos, desperdícios e sistemas insustentáveis. 1.2. POR QUE A GIRH? A água é vital para a sobrevivência, saúde e dignidade do ser humano e uma fonte fundamental para o seu desenvolvimento. As reservas de água potável no mundo estão sob pressão constante embora muitos seres humanos ainda não tenham acesso a um suprimento adequado de água para atender às necessidades básicas. O crescimento Você poderia dar mais exemplos onde a integração pode ser benéfica? 1 Cap-Net. Planejamento de GIRH, Módulo de Capacitação 8 populacional, o aumento da atividade econômica e as demandas de qualidade de vida conduzem a um aumento da competição pelos recursos hídricos, e conflitos pela pouca disponibilidade de água potável. Estas são algumas razões porque muitas pessoas afirmam que o mundo enfrenta uma iminente crise da água: Os recursos hídricos estão sob pressão constante pelo aumento da população, atividade econômica e a competição crescente entre os usuários de água; O consumo de água cresceu duas vezes mais rápido do que o crescimento da população e atualmente um terço da população mundial vive em países que sofrem restrição de água variando de um nível médio a elevado; A poluição está aumentando ainda mais a escassez de água pela redução de utilização de água à jusante; Queda na qualidade da gestão da água, um foco na exploração de novas fontes ao invés de melhor gestão das existentes e modelo de gestão fragmentada e controlada de cima para baixo, resultará em desenvolvimento e gestão não coordenados do recurso; Cada vez mais, exploração significa maiores impactos no meio ambiente; Preocupações atuais sobre as variabilidades mudanças climáticas demandam uma gestão melhorada dos recursos hídricos para lidar com enchentes e secas mais intensas. 1.3. TEMAS CHAVES PARA GESTÃO INTEGRADA DE RECURSOS HÍDRICOS 1.3.1. Crise na governança da água No passado, nas abordagens setoriais para a gestão de recursos hídricos dominaram e ainda prevalecem. Esse procedimento conduz à utilização e a gestão fragmentada e não controlada sobre os recursos hídricos. Além disso, a gestão da água está usualmente nas mãos de instituições, cuja legitimidade e eficiência vêm sendo continuamente questionada. Assim, uma administração fraca, agrava a crescente competição pelo recurso finito. A GIRH traz coordenação e colaboração entre cada um dos setores, mais o fortalecimento da participação dos atores, transparência e gestão local rentável. 1.3.2. Garantindo água para as pessoas Embora a maioria dos países dê prioridade ao atendimento das necessidades básicas dos seres humanos, um quinto da população mundial permanece sem acesso à água potável segura e a metade da população permanece sem acesso a saneamento adequado. Essas deficiências de serviço afetam prioritariamente os segmentos mais pobres da população nos países em desenvolvimento. Nesses países, atender às QUADRO 1. A CRISE DA ÁGUA – FAT OS Somente 0.4% da água total existente no mundo estão disponíveis para os seres humanos. Atualmente mais de 2 bilhões de pessoas são afetadas pela falta de água, em mais de 40 países. 263 bacias de rios são compartilhadas por duas ou mais nações. 2 milhões de toneladas de rejeitos humanos são depositados nos cursos d’água. Metade da população do mundo em desenvolvimento está exposta a fontes de água poluída que aumentam a incidência de doenças. A partir da década de 90, 90% dos desastres naturais são relacionados à água. O aumento do número de habitantes de 6 bilhões para 9 bilhões será o principal fator que orientará a gestão de recursos hídricos nos próximos 50 anos. 1 Cap-Net. Planejamento de GIRH, Módulo de Capacitação 9 necessidades de suprimento de água e saneamento para as áreas urbanas e rurais representa um dos mais sérios desafios para os próximos anos. Reduzir pela metade a proporção da população sem acesso aos serviços de água e saneamento até 2015 é uma das Metas de Desenvolvimento do Milênio1. Para atingir essa meta, será necessária uma re-orientação substancial quanto à prioridade nos investimentos, o que será alcançado mais facilmente pelos países que estão também implementando a gestão integrada de recursos hídricos. 1.3.3. Garantindo água para produção de alimentos As projeções sobre a população indicam que nos próximos 25 anos serão necessários alimentos para mais 2 ou 3 bilhões de seres humanos. A escassez de água está sendo vista como uma limitação chave para a produção de alimentos, e mesmo mais crucial, do que a escassez de terras. A agricultura irrigada já é responsável por mais de 70% de toda a água captada (mais do que 90% do todos demais usuários de água). Mesmo com uma necessidade estimada de um adicional de 15-20% de água para irrigação para os próximos 25 anos – o que é provavelmente uma estimativa baixa – provavelmente conflitos sérios acontecerão entre o uso da água para a agricultura irrigada e os usos para consumo humano e para o meio ambiente. A GIRH oferece uma perspectiva de maior eficiência, gestão da conservação e demanda de água compartilhada eqüitativamente entre os usuários, e da crescente reciclagem e re-uso de águas servidas para suplementar o suprimento de água como um novo recurso. 1.3.4. Proteção de ecossistemas vitais As áreas dos ecossistemas terrestres à montante de uma bacia são importantes para a infiltração de água da chuva, recarga de águas subterrâneas, e regime de vazão de rios. Os ecossistemas produzem uma variedade de benefícios econômicos, incluindo produtos como madeira, lenha e plantas medicinais; fornecem o habitat para a vida selvagem e berçário – local de procriação das espécies vivas. Os ecossistemas dependem de cursos de água, sazonabilidade, variações de nível de água e estão ameaçados pela falta de qualidade da água. A gestão do solo e dos recursos hídricos deve assegurar que os ecossistemas vitais sejam mantidos, que efeitos adversos sobre outros recursos naturaissejam considerados, e onde possível, reduzidos quando as decisões de gestão forem tomadas. A GIRH pode ajudar a proteger uma “reserva para a natureza” de água compatível com o valor dos ecossistemas para o desenvolvimento humano. 1.3.5. Desigualdades de gênero A gestão formal dos recursos hídricos é dominada pelos homens. Embora o número de mulheres esteja começando a crescer, a sua representação nas instituições do setor de recursos hídricos é ainda muito pequena. Isto é importante, porque as formas com que os recursos hídricos são geridos, afetam diferentemente às mulheres e aos homens. Como guardiãs da saúde e higiene das famílias e provedoras de água para as necessidades domésticas e supridoras de alimento, as mulheres são as primeiras responsáveis pela água e pelo saneamento. Ainda assim, as decisões sobre tecnologias 1 As Metas de Desenvolvimento do Milênio são uma ambiciosa agenda para redução da pobreza e melhoria da qualidade de vida, que os líderes mundiais acordarão na Cúpula do Milênio em setembro de 2000. Cada meta e uma ou mais ações tem sido indicadas, principalmente para 2015, usando 1990 como um ponto de partida. Mais informações poderá ser encontradas no sítio virtual da UNDP(PNUD) – http://www.undp.org/mdg/. 1 Cap-Net. Planejamento de GIRH, Módulo de Capacitação 10 de suprimento de água e saneamento, localização dos pontos de distribuição de água e sistemas de manutenção são em sua maioria feitas pelo homem. A Aliança para o Gênero e a Água (Gender and Water Alliance) cita o exemplo de uma ONG bem intencionada que ajudou aos habitantes de uma vila a instalar latrinas com descargas para melhorar o saneamento e a higiene, sem antes perguntar às mulheres sobre os dois litros extras de água que elas teriam que carregar de fontes distantes para cada atender à descarga. Um elemento crucial da filosofia da GIRH é que os usuários da água, homem ou mulher, são capazes de influenciar as decisões que possam afetar o cotidiano de suas vidas. 1.4. PRINCÍPIOS DA GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS A conferência em Dublin em 19922 deu origem a quatro princípios que têm sido a base para a maioria das reformas em curso no setor de recursos hídricos. Princípio 1. A água doce é um recurso finito e vulnerável, essencial para manter a vida, o desenvolvimento e o meio ambiente. A noção de que a água doce é um recurso finito surge do fato que o ciclo hidrológico circula em média em uma quantidade fixa de água por um mesmo período de tempo. Essa quantidade total não pode ainda ser alterada significativamente por ações humanas, embora possa ser, e freqüentemente é, diminuída pela poluição provocada pelos seres humanos. Os recursos de água doce são um bem natural que deve ser mantido para garantir que os serviços demandados sejam fornecidos de modo sustentável. Este princípio reconhece que a água é necessária para vários propósitos diferentes, funções e serviços; conseqüentemente a gestão tem que ser integrada e envolve considerações das demandas colocadas sobre os recursos e as ameaças sobre esses recursos. A abordagem integrada para a gestão dos recursos hídricos requer coordenação do alcance das atividades humanas que criam as demandas de água, determinam o uso do solo e geração de efluentes. Este princípio também reconhece a área de captação ou bacia hidrográfica como uma unidade lógica para a gestão de recursos hídricos. Princípio 2. O desenvolvimento e a gestão integrada de recursos hídricos devem ser participativos, envolvendo usuários, planejadores e formuladores de políticas em todos os níveis. Água é um objeto do qual cada um é tomador de decisão. A real participação somente acontece quando os atores são parte do processo de tomada de decisão. O tipo de participação dependerá da escala espacial relevante para a gestão de recursos hídricos e investimentos específicos. Será afetado também pela natureza do ambiente político no qual as decisões acontecem. Uma abordagem participativa é o melhor meio para alcançar um consenso profundo e firme, com um acordo comum. Participar é assumir responsabilidades, reconhecer o efeito de ações setoriais sobre outros usuários e ecossistemas aquáticos e aceitar a necessidade de mudanças para melhorar a eficiência dos usos da água e permitir um desenvolvimento sustentável do recurso. A participação nem sempre alcança o consenso, assim processo de arbitragem ou outros mecanismos de resolução de conflitos também devem ser considerado. 2 Conferência Internacional sobre Água e Meio Ambiente, Dublin, Irlanda, janeiro de 1992. 1 Cap-Net. Planejamento de GIRH, Módulo de Capacitação 11 Os governos têm que ajudar a criar a oportunidade e a capacidade de participação, particularmente entre as mulheres e outros grupos sociais marginalizados. É necessário ser reconhecido que criando simplesmente oportunidades de participação não se fará nada para os atuais grupos desfavorecidos, a não ser que a capacidade de participação desses grupos possa ser ampliada. Descentralizando a tomada de decisão para o nível mais baixo conveniente, é uma estratégia para aumentar a participação. Princípio 3. As mulheres desempenham papel principal no abastecimento doméstico, da gestão e da proteção da água. O papel principal das mulheres como provedores e usuárias da água e como guardiãs do ambiente em que vivem, têm sido freqüentemente refletido nos arranjos institucionais para desenvolvimento e gestão de recursos hídricos. É amplamente reconhecido que as mulheres têm um papel chave na coleta e proteção de água para usos domésticos – em muitos casos – também na agricultura. Todavia, as mulheres desempenham um papel muito menos influente do que os homens na gestão, análise do problema e no processo de tomada de decisão relacionados aos recursos hídricos. A GIRH requer a conscientização sobre a incorporação da perspectiva de gênero. No desenvolvimento de uma participação plena e efetiva das mulheres em todos os níveis de tomada de decisão, considerações devem ser feitas pelas formas como diferentes sociedades estabelecem os respectivos papéis social, econômico e cultural específicos para os homens e as mulheres. Há uma sinergia importante entre eqüidade de gênero e de gestão sustentável da água. Envolver homens e mulheres em papéis influentes em todos os níveis da gestão de recursos hídricos pode acelerar o processo para alcançar a sustentabilidade. Gerir os recursos hídricos de maneira integrada e sustentável contribui significativamente para eqüidade de gênero pela melhoria do acesso de mulheres e homens à água e aos serviços relacionados, para atender às suas necessidades essenciais. Princípio 4. A água tem um valor econômico em todos os seus usos competitivos e deve ser reconhecida como um bem econômico assim como um bem social. De acordo com esse princípio, é vital reconhecer primeiramente o direito básico de todos os seres humanos de acesso à água em qualidade e quantidade adequadas e serviços de saneamento a um preço acessível. Valorar economicamente recursos hídricos é uma maneira importante de alcançar os objetivos sociais, tais como a utilização eficiente e eqüitativa, e de encorajar a conservação e a proteção de recursos hídricos. A água tem valor como um bem econômico assim como um bem social. Muitos dos fracassos do passado, na gestão de recursos hídricos são atribuídos ao fato de que o valor integral da água não tem sido reconhecido. Valor e cobrança são duas coisas diferentes e nós temos que fazer essa diferenciação claramente. O valor da água em usos alternativos é importante para a alocação racional de água como um recurso escasso, seja por meios regulatórios ou econômicos. Cobrar (ou não cobrar) pela água é aplicar um instrumento econômico para apoiar os grupos menos favorecidos, afetar o comportamentoem relação à conservação e uso eficiente da água, dar incentivos para a gestão da demanda, garantir 1 Cap-Net. Planejamento de GIRH, Módulo de Capacitação 12 retorno de custos e despertar o interesse dos usuários para pagar por investimentos adicionais em serviços relacionados ao uso da água. Tratar a água como um bem de valor econômico é um meio importante para a tomada de decisão sobre sua alocação entre os diferentes setores de usuários e entre diferentes usos dentro de um mesmo setor. Isto é particularmente importante quando a oferta de água não é uma opção possível. 1.5. USOS DA ÁGUA, IMPACTOS E BENEFÍCIOS 1.5.1. Impactos A maioria dos usos da água traz benefícios para a sociedade, mas a maioria tem também impactos negativos que podem se tornar piores pelas práticas deficientes de gestão, falta de regulamentação ou falta de motivação devida aos regimes adotados para a governança em aplicação. Cada país tem as suas prioridades de desenvolvimento e metas econômicas estabelecidas, de acordo com as respectivas realidades ambiental, social e política. Problemas e restrições aparecem em todos os usos de água, mas a disposição e habilidade para abordar essas questões em todos os setores usuários da água de maneira coordenada são diretamente afetadas pela estrutura de governança da água. Reconhecer a natureza inter-relacionada de diferentes fontes de água e conseqüentemente reconhecer também a natureza inter-relacionada e os impactos dos diferentes usos da água é uma etapa essencial para a introdução da GIRH. 1.5.2. Benefícios da GIRH Benefícios ambientais Os ecossistemas podem ser beneficiados pela aplicação de uma abordagem integrada para a gestão da água, dando especial espaço para as necessidades TABELA 1. IMPACTOS SOBRE A ÁGUA PELOS SET ORES D E USO Impactos positivos Impactos negativos Meio ambiente Purificação Estocagem Ciclo hidrológico Agricultura Correntes de retorno Infiltração aumentada Erosão diminuída Recarga de águas subterrâneas Reciclagem de nutrientes Esvaziamento Poluição Salinização Transferência de água Erosão Abastecimento de água e saneamento Reciclagem de nutrientes Necessidade de garantia de alta qualidade da água Poluição de águas superficiais e subterrâneas 1 Cap-Net. Planejamento de GIRH, Módulo de Capacitação 13 ambientais no debate de alocação de água. No presente, tais necessidades não estão representadas com freqüência nas negociações. A GIRH pode auxiliar ao setor contribuindo para a tomada de consciência dos outros usuários das necessidades dos ecossistemas e dos benefícios que isto pode gerar para todos. Com freqüência, estes benefícios são subvalorizados e não são incorporados ao planejamento e na tomada de decisão. A abordagem de ecossistema proporciona uma nova estrutura para a GIRH que focaliza mais atenção numa abordagem de sistema para a gestão de recursos hídricos: proteção de captações à montante (p.e. reflorestamento, conservação terras rurais , controle de erosão do solo), controle da poluição (p.e. redução de pontos de captação, não incentivo à captação, proteção das águas subterrâneas) e fluxo de água para o meio ambiente. A GIRH proporciona uma alternativa para uma perspectiva de competição de um sub-setor que pode unir os atores na elaboração de uma visão compartilhada e uma ação conjunta. Benefícios para a agricultura A agricultura tem uma imagem ruim como o maior usuário de água e principal fonte de poluição difusa das águas de superfície e subterrâneas . Levar em conta o baixo valor agregado à produção agrícola, freqüentemente significa que, especialmente em situações de escassez de água, esta será desviada da agricultura para outros fins. No entanto, redução indiscriminada na alocação de água para a agricultura pode ter conseqüências econômicas e sociais graves. Com a GIRH, os planejadores são encorajados a olhar além do setor econômico e considerar as implicações das decisões de gestão da água sobre o emprego, o meio ambiente e a eqüidade social. Trazendo todos os setores e todos os usuários para dentro do processo de tomada de decisão, a GIRH é capaz de considerar o “valor” ajustado para a água como um todo nas decisões difíceis sobre a alocação de água. Isto pode significar que a contribuição da produção de alimentos para a saúde, redução da pobreza e eqüidade de gênero, por exemplo, pode superar comparações de ordem estritamente econômicas quanto às taxas de retorno de cada metro cúbico de água. Da mesma forma, a GIRH pode incluir na equação, o potencial de reuso de fluxos de retorno agrícolas para outros setores e a aplicação de reuso de efluentes industriais na agricultura. A GIRH clama para o planejamento integrado, de modo que a água, o solo e os outros recursos sejam utilizados de maneira sustentável. Para o setor da agricultura, a GIRH procura aumentar a produtividade da água (p.e. mais colheita por gota de água) de acordo com as restrições impostas pelos contextos econômico, social e ecológico de uma particular região ou país. Benefícios para o abastecimento de água e saneamento Acima de tudo, a GIRH aplicada apropriadamente fará com que seja assegurado aos pobres e aos vulneráveis, em todo o mundo, o acesso à água com qualidade. A implementação de políticas baseadas na GIRH deve significar aumento de qualidade dos abastecimentos de água domésticos, com custos reduzidos de 1 Cap-Net. Planejamento de GIRH, Módulo de Capacitação 14 tratamento além do combate à poluição mais efetivamente. Reconhecer o direito das pessoas, particularmente mulheres e pobres, a uma parcela justa dos recursos hídricos para atender aos usos domésticos e à produção agrícola familiar, conduz, inevitavelmente, a necessidade de assegurar a representação apropriada desses grupos em órgãos coletivos que tomam as decisões sobre a alocação de água. O foco em gestão integrada e uso eficiente deve ser um estímulo para o setor exigir a reciclagem, o reuso e a redução do desperdício. Multas elevadas pela poluição, apoiadas em fiscalização rígida, têm levado a avanços impressionantes na eficiência do uso industrial de água nos países industrializados, com benefícios para o abastecimento primário e o meio ambiente. No passado, os sistemas de saneamento eram concentrados freqüentemente na remoção dos rejeitos das áreas de ocupação humana, mantendo desta forma, os territórios habitados limpos e saudáveis, com freqüência em detrimento de efeitos ambientais, em outro lugar. A introdução da GIRH aumentará a oportunidade para a introdução de soluções de saneamento sustentáveis que almejam minimizar os insumos geradores e da redução da descarga de rejeitos, a resolver problemas de saneamento em local tão próximo quanto possível de onde são gerados. Na prática e em nível local, a integração sustentável da gestão de recursos hídricos poderia levar à redução dos custos de suprimentos do abastecimento doméstico de água. Por exemplo, se tecnologias de irrigação fossem concebidas tendo um componente de uso doméstico da água, explicitamente incluído no projeto. 1.6. IMPLANTANDO A GIRH As vantagens para implantar a gestão integrada de recursos hídricos são fortes – muitos diriam incontestáveis. O problema para a maioria dos países é a longa história de desenvolvimentos setorializados. A Associação Mundial pela Água (Global Water Partnership) coloca: “A GIRH é um desafio às práticas convencionais, atitudes e certezas profissionais. Confronta interesses setoriais arraigados e requer que os recursos hídricos sejam geridos holisticamente para o benefício de todos. Ninguém tem a pretensão de considerar que o desafio da GIRH será fácil. Mas é vital que seja dada a partida agora para prevenir a crise que está despontando.” A GIRHé antes de tudo uma filosofia. Como tal, oferece uma abordagem conceitual orientadora com o objetivo da gestão e uso sustentável dos recursos hídricos. Exige que as pessoas tentem mudar suas práticas de trabalho para observar o universo mais amplo que englobe suas ações e descubra que os seus procedimentos de trabalho não ocorrem independentemente de outras ações. A GIRH também procura introduzir elementos de democracia descentralizada na gestão da água, com ênfase na participação dos atores no nível mais baixo que for possível. 1 Cap-Net. Planejamento de GIRH, Módulo de Capacitação 15 Tudo isto implica em mudança, que traz ameaças como também oportunidades. Há ameaças para o poder das pessoas e posições; e ameaças deles próprios como profissionais. A GIRH requer o desenvolvimento de plataformas que permitam a atores muito diferentes, freqüentemente com diferenças aparentemente irreconciliáveis, possam, de alguma forma trabalharem juntos . Em consequência dos arcabouços institucionais e legislativos existentes, a implantação da GIRH exigirá provalvelmente reformas em todas as etapas do ciclo de planejamento e gestão dos recursos hídricos. Um plano abrangente é necessário para prever como a transformação pode ser alcançada. Isto terá início provavelmente com uma nova política para a água que reflita os princípios de gestão sustentável de recursos hídricos. Para colocar a política em prática provavelmente será necessária uma reforma das leis sobre a água e das instituições de recursos hídricos. Este pode ser um processo longo e necessita envolver uma consulta profunda, incluído a sociedade, as agências envolvidas e a sociedade. A implementação da GIRH é mais bem realizada em um processo passo-a-passo, com algumas mudanças acontecendo imediatamente e outras necessitando vários anos de planejamento e capacitação. 1.6.1. Estrutura política e legal As atitudes estão mudando com a conscientização das autoridades sobre as necessidades de gerir os recursos naturais mais eficientemente. Também entendem que a construção de uma nova infra-estrutura tem que levar em conta os impactos socioambientais, satisfazendo às necessidades fundamentais para que os sistemas sejam economicamente viáveis para manutenção dos propósitos. FIGURA 1. A GIRH E SUAS LI GAÇÕES COM OS SUB-SET ORES Fonte: GWP TEC Documento 4 (2000) Água e Agricultura Gestão integrada Instrumentos de gestão Suprimento de Água e efluentes líquidos Saneamento Básico Estrutura político e legal Estrutura institucional Infra-estrutura Água e Meio ambiente Água para outros usos 1 Cap-Net. Planejamento de GIRH, Módulo de Capacitação 16 No entanto, o sistema pode ser ainda inibido pelas implicações políticas decorrentes da mudança. O processo de revisão da política de águas é conseqüentemente um passo chave, exigindo uma extensa consulta e demandando compromissos políticos. A legislação sobre águas converte as políticas em lei e deveria: Regular as titularidades e as responsabilidades dos usuários e dos fornecedores de água; Definir os papéis do Estado em relação aos outros atores; Formalizar a transferência de alocações de água; Definir em lei as instituições gestoras governamentais e grupos de usuários; Assegurar o uso sustentável do recurso. É um desafio aplicar os princípios de GIRH em uma política setorial de águas e conseguir apoio político, principalmente quando decisões difíceis têm que ser tomadas. No entanto, não é surpresa que as principais reformas legais e institucionais são estimuladas somente quando existem problemas sérios na gestão da água. 1.6.2. Estrutura institucional Por muitas razões, os governos de países em desenvolvimento consideram o planejamento e a gestão de recursos hídricos como sendo uma parte central das responsabilidades do governo. Esse entendimento está consistente com o consenso internacional que promove o conceito de governo como um facilitador e regulador, ao invés de executor de projetos. O desafio é alcançar o acordo mútuo sobre o nível no qual, em qualquer instância específica, a responsabilidade do governo deve cessar ou ser compartilhada com entes autônomos de gestão de serviços de água e/ou organizações de base comunitária. O conceito de gestão integrada de recursos hídricos vem acompanhado da definição de bacia hidrográfica como a unidade geográfica lógica para suas aplicações práticas. A bacia hidrográfica oferece muitas vantagens para o planejamento estratégico, principalmente nos escalões mais elevados do governo, embora as dificuldades não devam ser subestimadas. Aqüíferos atravessam com freqüência as fronteiras das áreas de captação e, mais problematicamente, as bacias hidrográficas raramente se enquadram dentro da entidade ou estrutura administrativa existente3. Para tornar a GIRH efetiva, é necessário alcançar acordos institucionais, permitindo: A instalação de um consórcio de atores envolvidos no processo decisório, com representação de todos os setores da sociedade, e um bom equilíbrio de gênero; A gestão de recursos hídricos baseada em fronteiras hidrológicas; Estruturas organizacionais em nível de bacia e sub-bacias para possibilitar a tomada de decisão no nível mais baixo que for possível; O Governo coordenando a gestão nacional de recursos hídricos, feita através dos setores usuários de água. 3 Lei nº 9433/97 1 Cap-Net. Planejamento de GIRH, Módulo de Capacitação 17 QUEST ÕES Tendo lido sobre os princípios básicos da GIRH você provavelmente será capaz de avaliar a situação no seu próprio país quando a GIRH for implantada. Algumas das questões que você pode querer responder, são: Qual é a evidência de compromisso para a gestão integrada de recursos hidricos em seu país? Considerando a estrutura de gestão de recursos hídricos em seu país, que reformas institucionais e legais são necessárias para implantar a GIRH? Existe urgência para a gestão de recursos hídricos de maneira integrada e como isto pode ser feita da melhor forma? Quais serão os benefícios para os diferentes setores? Qual a diferença entre a forma com que os homens e as mulheres são afetados pelas mudanças na gestão de recursos hídricos em seu país? FONTES E FERRAMENTAS ÚTEIS ACESSÍVEIS NA INTERNET PÁGINA NA WEB DA CAP-NET o Tutorial da Cap-Net: http://www.cap-net.org/iwrm_tutorial/mainmenu.htm PÁGINA NA WEB DA GWP o Publicações da GWP: http://www.gwpforum.org/servlet/PSP?iNodeID=231&iFromeNodeID=102 o GWP Toolbox: www.gwpforum.org 1 Cap-Net. Planejamento de GIRH, Módulo de Capacitação 18 2. PROCESSO DE PLANEJAMENTO PARA A GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS: UMA INTRODUÇÃO 2.1. POR QUE PLANEJAR A GIRH? Como nós vimos, os problemas dos recursos hídricos são muitos e as soluções urgentes. No entanto, as soluções devem considerar basicamente as forças sociais, econômicas e políticas envolvidas e requererem mudanças que não são fáceis de alcançar. O planejamento para introduzir o modelo de GIRH para a gestão e desenvolvimento sustentável de recursos hídricos pode ser feito de várias formas. A racionalização mais poderosa é a de avaliar quais os principais problemas referentes à água que afetam a sociedade. Isto pode resultar em ação gradual progressiva focalizada na GIRH. Em geral, o reconhecimento de que o problema da água é sintomático de um profundo fracasso do sistema de gestão, nos leva ao planejamento de longo prazo com uma agenda para o uso mais sustentável dos recursos hídricos. A identificação da água como um fator chave na redução da pobreza e para desenvolvimento sustentável também direcionam o planejamento nacional de recursos hídricos.2.2. O QUE ESPERAMOS ALCANÇAR? Um dos resultados do processo será um plano de GIRH, endossado e implementado pelo governo. No processo, os atores e os políticos se tornarão mais informados sobre as questões da água, a importância e os benefícios, a partir do direcionamento para a gestão e desenvolvimento sustentável dos recursos hídricos. O plano pode ser mais ou menos detalhado dependendo da situação do país no momento, mas mostrará etapas de longo prazo que deverão continuar ao longo de uma trajetória para a sustentabilidade, eqüidade social e uso eficiente. 2.3. ASSUMA UMA ABORDAGEM ESTRATÉGICA Ser estratégico significa procurar as soluções que ataquem as causas dos problemas de uso da água ao invés dos sintomas. Isto requer uma visão de longo prazo. Entender as forças básicas que causam os problemas relacionados com a água ajuda a construir uma visão compartilhada, assumindo o compromisso de tornar essa visão uma realidade. Neste sentido uma estratégia estabelece a estrutura de longo prazo para uma ação crescente na direção do uso sustentável de recursos hídricos aplicando os princípios de GIRH. Outra característica para estratégia da água é considerar os conflitos. Gestão de recursos hídricos é um processo caracterizado pelos confrontos e competição entre interesses conflitantes e pontos de vista. A abordagem integrada da gestão de recursos hídricos proporciona mecanismos de aumento de diálogo, negociação e mecanismos 2 Cap-Net. Planejamento de GIRH, Módulo de Capacitação 19 de participação. A aplicação desses princípios na estratégia e no subseqüente processo de planejamento colabora na transparência para a tomada de decisão, reconhece a negociação e comprometimento para a implantação do plano. 2.4. O CICLO DE PLANEJAMENTO O planejamento é um processo lógico que é mais eficaz quando visualizado como ciclo (Figura 2): Por que o planejamento é importante para você? QUADRO 2. PL A N E J A M E N T O D E G I R H S I G N I F I C A Mover-se de uma visão em que o Estado como único responsável pela gestão de recursos hídricos para aquela que considera a responsabilidade da sociedade como um todo. Mover-se de uma tomada de decisão centralizada e controlada para uma gestão por resultados e oportunidades compartilhadas, negociação transparente, cooperação e ação concertada. Mover-se de um planejamento setorial para um planejamento coordenado ou totalmente integrado de recursos hídricos. FI G U R A 2 . O C I C L O P A R A D E S E N V O L V E R E A J U S T A R U M P L A N O D E GIRH Plano de trabalho Conscientização; Participação dos atores; Compromisso político Visão/Política Compromisso para a GIRH Análise da Situação Problemas, Situação da GIRH; Metas identificadas. Escolha de estratégia Metas priorizadas; Estratégia escolhida. O plano de GIRH Minuta, Aprovação dos atores e políticos. Implementação Ações de gestão legais e institucionais; Capacitação. Avaliação Avaliação dos avanços; Revisão do plano Início Compromisso governamental; Equipe formada 2 Cap-Net. Planejamento de GIRH, Módulo de Capacitação 20 O ciclo de planejamento é uma seqüência lógica de fases dirigidas e apoiadas por eventos contínuos de apoio à gestão e de consulta, mostrados aqui no centro da figura 2. 2.4.1. Início (Módulo 3) O desencadeamento do processo de planejamento pode ser interno ou externo ou a combinação de ambos. Contudo, uma vez acordado que a gestão e desenvolvimento dos recursos hídricos melhorada é importante, a pergunta feita imediatamente é: como fazer o plano funcionar para alcançar esses objetivos? Este é propósito do curso. O planejamento da GIRH requer uma equipe para organisar e coordenar esforços e facilitar a consulta regular aos atores e a comunidade. Um ponto de partida importante para o comprometimento do governo, é um entendimento da GIRH e dos princípios de gestão de recursos hídricos para o desenvolvimento sustentável. 2.4.2. Plano de trabalho e participação de atores (Módulo 4) O planejamento da GIRH necessita de um forte compromisso com o futuro, com uma gestão sustentável de recursos hídricos. Isso implica em vontade política e a liderança de mais alto escalão e dos principais atores.. O compromisso dos atores é necessário porque são eles que influenciam fortemente a gestão dos recursos hídricos por meio de esforços conjuntos e/ou mudando os seus comportamentos. Assim, o planejamento precisa do reconhecimento e da mobilização dos atores importantes, apesar de seus múltiplos objetivos e objetivos freqüentemente conflitantes. Os políticos formam um grupo especial de atores porque são ao mesmo tempo responsáveis por aprovar um plano e ainda por acompanhar sua adequada implementação, tendo também que responder pelo seu sucesso ou fracasso. Assim: Gestão do processo; Manutenção do compromisso político; Assegurar a participação efetiva dos atores Promover a conscientização sobre princípios da GIRH São pontos essenciais para o todo o processo de planejamento 2.4.3. Construindo uma visão estratégica (Módulo 5) Uma visão nacional da água capta sonhos, aspirações e esperanças compartilhadas sobre o estado, uso e gestão dos recursos hídricos de um país. Neste sentido, uma visão fornece princípios orientadores e diretrizes para as futuras ações sobre os recursos hídricos e, em particular, orienta o processo de planejamento. A visão pode ou não ser transformada em uma política de água, mas espera se, pelo menos, uma abordagem de uso sustentável dos recursos hídricos. O que nós entendemos por gestão sustentável e uso de água? Por que devemos ter um ciclo e não uma linha reta? 2 Cap-Net. Planejamento de GIRH, Módulo de Capacitação 21 2.4.4. Análise da situação (Módulo 6) É importante conhecer a situação existente para definir a ação necessária para atingir aos propósitos descritos. A consulta aos atores e às diversas entidades do governo, é vital para o processo de entendimento das necessidades concorrentes e das metas em relação à disponibilidade dos recursos hídricos. Os problemas que aparecem durante a análise, quando vistos em confronto com a visão da água ou dos princípios da GIRH, indicam imediatamente os tipos de soluções que podem ser necessárias ou possíveis. Essa fase identifica as forças e as fragilidades da gestão integrada de recursos hídricos, da mesma forma que revela os pontos que devem se considerados para melhorar a situação e o caminho a seguir para alcançar a visão. Como um produto final, as metas devem ser propostas de acordo com os problemas e os temas identificados, assim como as prioridades nacionais. 2.4.5. Estratégias de gestão de recursos hídricos (Módulo 7) As soluções possíveis vêm simultaneamente ou após a definição dos problemas. Tais soluções têm que ser analisadas, levando em conta os requisitos, as vantagens e as desvantagens envolvidas e a sua viabilidade. No estágio em que a extensão dos problemas e os obstáculos a serem enfrentados são conhecidos, é importante estabelecer as metas para o plano de GIRH. Para cada meta, a estratégia para viabilização mais apropriada é escolhida e definida, assim como a sua conformidade com a meta geral de gestão sustentável. O âmbito para a ação técnica e gerencial é muito amplo tendo em conta a complexidade do setor de recursos hídricos. Já nesse estágio, devem ser identificadas as áreas prioritárias para a ação. 2.4.6. O plano de GIRH pronto e aprovado (Módulo 8) Um plano de GIRH pode ser construído com base na visão, na análise da situação e na estratégia de recursos hídricos. Podem ser necessárias várias propostas, não só para alcançar a viabilidade, bem como atividades e orçamentos realistas. Mas também obtera concordância dos políticos e atores nas diversas negociações realizadas e decisões tomadas. A aprovação pelo governo é essencial para mobilização de recursos e implementação. 2.4.7. Implementação e avaliação A implementação e avaliação não são consideradas neste material de capacitação. Construir um plano de GIRH é um marco, mas não é um fim em si mesmo. Com freqüência, os planos não são implementados, então é importante identificar as principais razões, e eliminá-las: Falta de compromisso político com o processo. Usualmente, devido a diretrizes ditadas por fontes externas ou falta de engajamento de tomadores de decisão que são decisivos para dar início ao processo. Planejamento fora da realidade, requerendo recursos que vão além das possibilidades do Governo. Planos inaceitáveis. Planos rejeitados por um ou mais grupos de influência, resultante de uma consulta inadequada ou expectativas irreais de compromisso. 2 Cap-Net. Planejamento de GIRH, Módulo de Capacitação 22 Em questão da água, onde benefícios econômicos e relações de poder podem ser afetados, é vital que a consulta seja feita adequadamente. Alcançar uma gestão e desenvolvimento sustentável de recursos hídricos é um compromisso de longo prazo. Portanto, o plano deve ser visto como dinâmico com possibilidades de avaliação e reformulação, em intervalos periódicos. EXERCÍCIO Em grupos pequenos copiem as atividades para cada etapa do ciclo de planejamento que considerem necessárias em seus países ou região. FONTES E FERRAMENTAS ÚTEIS ACESSÍVEIS NA INTERNET National Strategies for Sustainable Development: A resource book http://www.nssd.net/res_book.html#contents UNESCAP - Strategic Planning and Management of Water Resources http://www.unescap.org/esd/water/spm/ 2 Cap-Net. Planejamento de GIRH, Módulo de Capacitação 23 3. INICIANDO O PROCESSO DE PLANEJAMENTO 3.1. QUAIS SÃO OS PRODUTOS ESPERADOS Esta seção é dedicada ao início e a mobilização do processo de planejamento, por essa razão, os resultados esperados neste estágio seriam: O interesse de Governo em uma gestão melhorada de recursos hídricos é traduzido no compromisso e na criação de uma estrutura de gestão para desenvolver o plano. 3.2. INÍCIO O início do processo de planejamento da GIRH pode ocorrer de diversas fontes. Representantes de governos, na Conferência de Cúpula sobre Desenvolvimento Sustentável assumiram compromissos de adotar planos de gestão e desenvolvimento sustentável dos recursos hídricos até 2005. Este objetivo vem sendo perseguido com o apoio da comunidade internacional e doadores. Como resultado, a orientação para os planos GIRH pode parecer vir de fora do país, por intermédio de doadores e agências internacionais, oferecendo assistência para alcançar essa meta de construir seus Planos Nacionais. Muitos governos estão conscientes dos problemas que os seus respectivos setores de água estão enfrentando por questões tais como poluição, escassez, emergências, competição pelos usos e têm identificado a ação como prioritária. Muitos governos já deram o primeiro passo para estabelecer uma política ou têm contribuído para o FIGURA 3. FA S E I NI CIAL – DIRETRIZ ES, RESULT ADOS E ATIVID ADES Resultados Atividades Forças Internas Água Visão/Política INÍCIO Forças Externas Compromisso do Governo Formação de equipe Conscientização da GIRH 3 Cap-Net. Planejamento de GIRH, Módulo de Capacitação 24 desenvolvimento de tais visões em suas região. O foco sobre problemas específicos de água ou áreas problemas são ainda estímulos adequados para os governos agirem, mesmo que isto resulte em um plano de ação mais restrito para resolver uma questão específica, pode conduzir a um desenvolvimento gradual de uma abordagem completamente integrada da gestão de recursos hídricos. O processo para a elaboração de um plano de GIRH requer um processo diferente daqueles usados no caso em planejamento de governo. As principais diferenças são: Abordagem multi-setorial: Gerenciar recursos hídricos de maneira integrada significa criar ligações e estruturas para gestão entre setores. Para esta estratégia ser bem sucedida, os principais setores de uso da água devem ser envolvidos desde o início no planejamento e na elaboração da estratégia. Processo dinâmico: A elaboração de um sistema de gestão sustentável de recursos hídricos e uma abordagem integrada é um processo longo. Esse procedimento exige uma revisão periódica, adaptação e possível reformulação dos planos para que permaneçam efetivos. Participação dos atores: Devido ao fato de que, em sua maioria, os problemas com a gestão de recursos hídricos são percebidos nos níveis mais baixos e as mudanças na gestão de recursos hídricos exigem ações até ao nível individual. O processo de formulação de uma estratégia requer uma consulta ampla dos atores. Existem pontos importantes para o governo considerar a sua participação em um exercício de planejamento de GIRH, qualquer que seja a razão. Compromisso do governo; Conscientização sobre os princípios para alcançar a gestão integrada de recursos hídricos (GIRH); Organização da equipe de gestão. 3.2.1. Obtendo o compromisso do governo Um plano, para ser aceito e implementado tem que envolver o governo, e estar acolhido em sua estrutura, desde o início. O compromisso firmado pelo governo deve ir além de um determinado ministro quando as mudanças esperadas são muito amplas. A revisão dos sistemas de gestão de recursos hídricos afeta todos os usuários de água, ameaçando o poder de alguns ministros influentes. A obtenção do compromisso desses ministros deve ser logo no início ou, pelo menos, ser uma das principais atividades para o lançamento do plano de trabalho. A estrutura da Equipe de gestão para o planejamento e formação da consciência sobre gestão de recursos hídricos estão ambos ligados à obtenção e manutenção do compromisso do governo. O tópico de “Apoio Político” será retomado mais à frente em módulos específicos. Indicadores do comprometimento do governo incluem: alocação de verbas para o processo de planejamento, liderança da equipe de planejamento, número de ministros e órgãos ambientais envolvidos na decisão de desenvolver um plano. Quais são os ministérios mais influentes em seu país com relação aos recursos hídricos? Que ministério ou instituição deveria liderar o processo de planejamento? 3 Cap-Net. Planejamento de GIRH, Módulo de Capacitação 25 3.2.2. Conscientização sobre gestão de recursos hídricos O processo de planejamento de GIRH tem que ser respostas diretas e incluir os problemas e questões nacionais de recursos hídricos. A GIRH tem que ser apresentada como um meio realístico para promover a mudança e abordar alguns dos problemas que o país esteja enfrentando. A conscientização continuará durante o processo de planejamento, mas esse ponto é dirigido aos servidores públicos principais do governo que precisam ser alertados do potencial para o impacto e o sucesso da proposta antes de assumirem o compromisso com o exercício de planejamento baseado nos princípios da GIRH. A equipe de gestão, uma vez formada, deve ter a oportunidade de ser informada sobre a GIRH, sendo capaz de explicar com clareza e convicção as estratégicas e opções disponíveis para melhorar a gestão dos recursos hídricos. Para membros da alta administração do governo, uma explicação objetiva e precisa talvez seja o possível. Um evento ou a preocupação em alto nível da comunidade internacional pode também estimular o interesse do governo. Um evento de alto nível de âmbito nacional ou a manifestação da comunidade internacional pode estimular o interesse do governo. 3.2.3. Estabelecendo uma equipe de gestão O envolvimentode todas as partes deve acontecer dentro de um contexto claro de gestão e com um acordo sobre as funções e responsabilidades. Com organizações importantes para conduzir o processo de planejamento de GIRH incluem-se, por exemplo: Governo Nacional; Um Comitê Diretor de Processo; Equipe de Gestão; Onde for apropriado a GWP pode atuar como facilitadora. Desde as etapas iniciais, o papel das diversas organizações tem que ser definido e consensado. (Tabela 2). Em razão da diversidade de situações encontradas nos diferentes países e níveis variáveis de maturidade dos processos de planejamento, não existe uma fórmula para uma estrutura de gestão de programa efetiva Que estratégia poderia ser usada para envolver as figuras políticas chaves e os governantes superiores para explicar a GIRH? 3 Cap-Net. Planejamento de GIRH, Módulo de Capacitação 26 Comitê Diretor Se criado Comitê Diretor para dirigir a iniciativa de planejamento estratégico, conduzirá o plano ao longo de todas as etapas de preparação para assegurar que a iniciativa esteja funcionando eficazmente e fornecendo o máximo de benefícios. O Comitê deve incluir autoridades e instituições envolvidas no processo decisório do setor de recursos hídricos, com um grupo escolhido de atores. A composição do Comitê deve ser cuidadosamente balanceada. É fundamental o compromisso, desde o início, que todas as organizações participantes (governo, setor privado e sociedade civil) aceitáveis para atores. Criando uma Equipe de Gestão do Processo A chave para o desempenho eficiente é a criação de um secretariado/órgão de coordenação/equipe de gestão aceito pelos atores, com autoridade e recursos para coordenar as atividades. A equipe inclui geralmente planejadores experientes de agências setoriais relevantes com a função de trazer diferentes perspectivas para assegurar o processo de planejamento, porém também pode incluir consultores ou pessoal auxiliar. QUADRO 4.MEMBROS POTENCIAI S DE UM COMITÊ DIRETOR Sugere-se um político experiente como presidente; Pelo menos um membro da equipe de gestão; Servidores de ministérios e secretarias envolvidos na gestão das águas; Representantes de agências reguladoras; Representantes dos tomadores de decisão e sociedade civil; Especialistas selecionados; Representantes de agências externas de apoio. QUADRO 3. TAREFAS CHAVES D O COMITÊ DIRETOR Prover a equipe de gestão com orientação e apoio geral; Rever as propostas e relatórios preparados pela equipe de gestão; Rever regularmente o progresso da implementação; Apoiar a equipe de gestão na obtenção de dados preliminares e informações; Ser responsável por coordenar o supervisionar a implementação de atividades relevantes com as suas respectivas agências, organizações e comunidades; Decidir sobre a composição da equipe de gestão e indicar seus membros. 3 TABELA 2. SUGESTÃO DE DISTRI BUIÇÃO DE FUNÇÕES E RESPONSABI LIDADES FUNÇÃO GOVERNO NACIONAL Liderança, “dono” do processo; Mobilização de financiamentos; Estabelecimento de um ambiente de política macro- econômica. COMITÊ DIRETOR Conduzir o processo (grupo com ampla representação); Mobilização do apoio entre os setores de interesse; Garantia da qualidade dos resultados; Monitoramento do processo de implantação. EQUIPE DE GESTÃO Grupo de profissionais qualificados Gerência do processo diário para o desenvolvimento da estratégia, implantação e capacitação. INSTITUIÇÃO FACILITADORA Onde for apropriado, por exemplo, ONGs nacionais, GWP, parcerias nacionais ou regionais ou equipes locais da ONU. Promoção de um ambiente neutro para o diálogo; Apoio ao processo de desenvolvimento de estratégia dando conselhos e compartilhando conhecimentos; Adoção de processos de capacitação e o treinamento de pessoas. Cap-Net. Planejamento de GIRH, Módulo de Capacitação 27 A função da equipe é traduzir decisões do Comitê Diretor em medidas práticas de ação, ao mesmo temp o que informa o Comitê Diretor do progresso e as questões principais levantadas. A equipe será responsável pela gestão do processo de planejamento participativo e por conduzir as atividades necessárias para a preparação do plano de GIRH. As tarefas específicas da equipe são as seguintes: Organizar e coordenar todo o processo estratégico; Planejar atividades e reuniões específicas; Aportar expertise e recursos; Apoiar grupos de trabalho e outros comitês; Atuar como ponto focal de comunicação. A composição da Equipe pode variar e dependerá da dimensão de cada tarefa e a dimensão dos resultados esperados. Da mesma forma a localização da equipe pode variar. No entanto, a experiência mostra que funcionará melhor se estabelecida dentro de um departamento governamental. Se o resultado estiver longe de ser atingido, então poderá ser mais bem colocada em um escritório centralizado que tenha funções interligadas tais como Finanças e Planejamento. Instalada dentro de um organismo independente aceitável para, e respeitado pelo governo, também é uma possibilidade. A PLATAFORMA DE MULTI-ATORES: A VALORIZAÇÃO ADICIONAL DA GWP A Associação Mundial pela Água (Global Water Partnership (GWP) utiliza plataformas multi-atores em nível regional e nacional – na forma de Parceria Regional ou Nacional Pela Água (Regional and Country Water Partnerships (CWP) – como um meio para auxiliar no desenvolvimento de planos nacionais de GIRH e de uso eficiente da água. Estes CWP são plataformas neutras que permitem congregar atores para discussão como podem contribuir de modo concreto, no sentido de estabelecer estratégias, planos e implantação de ações que levem a uma gestão e uso sustentáveis da água. Tais Parceiras, por exemplo, são fórum para inovação e melhor entendimento de como a mudança pode ser implementada – tornado-as assim mais efetiva – e pressionar pela reformas necessárias na legislação e nos acordos institucionais. Ao facilitar a preparação de planos nacionais de GIRH – o qual tem o apoio de todos os de atores importantes e são aprovados pelos governos respectivos - A Parceria Nacional pela Água objetiva assegurar ampla apropriação dos Planos, assim facilitando a mobilização de recursos para apoiar a sua implementação Assim a Parceria pela Água : Fornece uma plataforma neutra para o diálogo e a troca de informações; Apóia o processo de desenvolvimento de estratégia e planejamento de GIRH dando orientação e compartilhando conhecimento e lições aprendidas de outras regiões e países; Apóia a capacitação e treinamento fornecendo as ligações e coordenações com redes de capacitação. QUADRO 5. EQUI PE QUALI FICADA EM GESTÃO QUALIFICAÇÃO MÍNIMA DA EQUIPE Liderança de equipe e gestão de projetos. Habilidade em comunicação e negociação. Apoio administrativo. QUALIFICAÇÃO DESEJADA. Organização e planejamento em recursos hídricos. Habilidade política, institucional e legal. Habilidade técnica: hidrologia, avaliação de demanda, etc. Análise sócio - econômica. Economia e finanças. 3 Cap-Net. Planejamento de GIRH, Módulo de Capacitação 28 FONTES E FERRAMENTAS ÚTEIS ACESSÍVEIS NA INTERNET Getting in Step: Engaging and Involving Stakeholders in Your Watershed o http://www.epa.gov/owow/watershed/outreach/documents/stakeholderguide.pdf The How-to of Communications Planning. Social Change media. o http://media.socialchange.net.au/planning_comms/10steps.html Advocacy Sourcebook. A Guide to advocacy for WSSCC co-ordinators working on the WASH campaign o http://www.wsscc.org/download/Advocacy_Sourcebook.pdf Manual Advocacy for Gender & Water Ambassadors. Gender and Water Alliance. o http://www.genderandwateralliance.org/reports/GWA%20Advocacy%20manual.pdf The partnership handbook. Government of Canada o http://www.hrsdc.gc.ca/en/epb/sid/cia/partnership/partnerhb_e.pdf Working on Teams. Articles and Tools. MIT. o http://web.mit.edu/hr/oed/learn/teams/articles.html 3 Cap-Net. Planejamento de GIRH, Módulo de Capacitação 29 4. DESENVOLVENDO O PLANO DE TRABALHO 4.1. QUAIS SÃO OS PRODUTOS ESPERADOS? Esta etapa do ciclo de planejamento enfoca a preparação para a tarefa de produzir um plano de GIRH e, portanto, os produtos esperados nessa etapa poderiam ser: Um programa de ação com um plano de trabalho detalhado e meios de financiamento definidos; Vontade política e apoio para o processo de planejamento construído; Uma estrutura para ampla participação dos atores formada Atividades de capacitação em apoio ao processo de planejamento identificadas. As seções seguintes abordam as áreas de produção. FI GURA 4. FASE DE MOBILIZAÇÃO – DIRETRI ZES, PROD UT OS E ATIVID ADES Diretrizes existentes Produtos Atividades PLANO DE TRABALHO COM CONTÍNUA Compromisso político Concordância no processo Compromisso dos atores e sociedade Análise dos atores Compromisso político Capacitação Equipe formada Participação de atores 4 Cap-Net. Planejamento de GIRH, Módulo de Capacitação 30 4.2. MOBILIZAÇÃO São componentes do lançamento do processo de planejamento: a mobilização da equipe, o desenvolvimento do plano de trabalho, envolvimento dos atores e a garantia do compromisso político de todos os componentes. As ações da equipe e de outras estruturas de gestão do processo devem ser formadas ao longo do ciclo de planejamento e são os meios para manter o ciclo em movimento. Os esforços de mobilização devem também procurar construir a confiança de todos com respeito ao processo. A confiança é um capital social não percebido que emula a coesão pela redução das incertezas. A confiança reduz os conflitos, facilita o processo de consulta e melhora a aceitação dos resultados. A perda da confiança tem um efeito deletério sobre o Plano. 4.2.1. Formulando plano de trabalho Definição dos Termos de Referência Uma das etapas cruciais em todo o processo de planejamento é a fase de mobilização, durante o qual os Termos de Referência (TRs) para o próprio Plano de GIRH serão definidos. É importante que os principais temas a serem incluídos devam ser pensados cuidadosamente, em termos de áreas de interesse, recursos, inclusive financeiros, para adotar o plano de GIRH e para implementar suas recomendações. Os TRs precisam ser baseados nessas considerações e fornecer uma estrutura clara para atividades adicionais. Os TRs podem ser desenvolvidos em paralelo com a formação da Equipe de Gestão ou como tarefa principal da Equipe. Freqüentemente, as atividades da Equipe são definidas nos TRs. É importante lembrar que os TRs têm a intenção de ser um documento de referência, fornecendo subsídios claros das necessidades, abrangência e objetivos. Desta forma, os TRs consolidam as regras fundamentais que regem todo o processo. Os componentes típicos dos TRs incluem: antecedentes, objetivos do planejamento estratégico, divisão de responsabilidades, abrangência de trabalho/tarefas, plano de trabalho, exigência de relatórios, estrutura do processo de gestão, orçamento e recursos necessários; dados, materiais e informações de apoio. Os resultados obtidos e um cronograma são parâmetros de controle importantes para a Equipe. Levantando recursos e financiamento A condução do processo de planejamento está, também, limitado pelo orçamento alocado. O plano de trabalho, o número de reuniões, oficinas, utilização de consultores estão limitados pelos recursos financeiros, assim como por outros fatores. A Equipe pode ter a expectativa de contar com orçamento. Mas é mais provável que a Equipe seja formada somente se houver uma garantia de quantia definida e destinada ao processo na fase inicial. Recursos humanos e outros recursos que serão necessários e as condições para contratação de consultores devem ser bem definidos. O plano de trabalho 4 Cap-Net. Planejamento de GIRH, Módulo de Capacitação 31 O estágio final do processo de mobilização é construir o Plano de Trabalho. Baseado nos requisitos estabelecidos nos TRs. Esses TRs integrarão as necessidades do Plano de GIRH com recursos que forem alocados e fornecerá um esquema detalhado das ações específicas e atividades. O plano de trabalho pode ser estruturado com base nas etapas identificadas nesse material de capacitação e tem que ser preparado pela Equipe e/ou ou qualquer consultor contratado para este propósito, constituindo-se em um dos principais produtos da primeira etapa. As áreas típicas abordadas pelo plano de trabalho são: Sumário sobre as tarefas solicitadas; Plano de trabalho e metodologia a ser aplicada; Gestão e responsabilidades qualificadas; Abordagem dos pontos importantes; Mecanismos claros de reuniões/seminários/ comunicação. 4.3. COMPROMISSO POLÍTICO Apoio político e compromisso são essenciais para o sucesso de qualquer processo de mudança. É necessário o compromisso desde o nível mais elevado (gabinete, chefe de estado) caso o plano elaborado preveja mudanças em ministérios ou em estruturas legais e institucionais. Uma primeira etapa importante, é acordar com os líderes políticos a necessidade da gestão e desenvolvimento sustentável dos recursos hídricos com enfoque em GIRH. Um líder político ou social como defensor do plano pode auxiliar na conscientização e canalização de apoio para o processo. Algumas das razões para forte apoio político são: assegurar que os problemas e questões prioritárias dos recursos hídricos possam ser enfocados a partir de uma dimensão multi-institucional; possibilitar que o sistema de coordenação estratégica funcione (o secretariado e o comitê diretor dependerão do apoio político para a sua formação e operação); garantir que a visão e objetivos de recursos hídricos incorporem objetivos políticos consistentes com outros objetivos nacionais; assegurar, por outro lado, que a visão e objetivos dos recursos hídricos sejam refletidos nas aspirações políticas; assegurar que abordagens sustentáveis para a gestão de recursos hídricos sejam incluídas no desenvolvimento, planos e compromissos políticos de outros setores; assegurar que implicações políticas da estratégia sejam acompanhadas e consideradas ao longo do processo, e não meramente em algum ponto final QUADRO 6. SOBRE O COMPROMI SSO POLÍTI CO ALGUMAS COISAS PARA MEDIR Alocação financeira para o processo de planejamento Liderança da equipe de planejamento Número de Ministérios e agências envolvidas na decisão de desenvolver um plano. Oficinas/atividades com políticos ALGUMAS COISAS PARA CONSIDERAR A existência de uma política oficial ou decisão do governo não garante uma ação efetiva O governo tem usado freqüentemente uma abordagem de cima para baixo e não considera os atores desde o início Compromisso político deve ser de longo prazo e portanto supra partidário As ONGs têm tido participação importante em projetos de uso de recursos hídricos. Você acha que o trabalho deve ser realizado pela equipe ou que deve somente ser coordenado por ela? 4 Cap-Net. Planejamento de GIRH, Módulo de Capacitação 32 formal (para permitir que funcione uma abordagem de aperfeiçoamento contínuo); tomar decisões sobre as mudanças políticas, legais e institucionais recomendadas; assegurar que o plano seja adotado e tenha continuidade em seu acompanhamento; alocar fundos governamentais (se necessário, também mobilizar
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