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Síntese Fundamentos da Psicanálise

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Síntese Fundamentos da Psicanálise
Questões que percorrem a psicanálise desde suas origens: Feminilidade: a questão do feminino;
Masculinidade: a questão do masculino
Nos anos finais do século XIX a Europa é varrida por uma epidemia: a grande maioria das mulheres de diferentes classes sociais apresentam uma série de estranhos sintomas:
→ Convulsões que simulam epilepsia
→ Falas delirantes
→ Paralisias em regiões do corpo que não eram explicadas pela neurologia
→ alterações de sensibilidade de fala
→ Situações de nudismo
→ Alterações de visões...
No final do século XIX esses quadros clínicos já eram atendidos nas clínicas e nos hospitais, ao contrário de séculos anteriores quando essas mulheres eram interrogadas pela inquisição e classificadas de bruxas. Morreram aproximadamente 50 mil delas, por terem um “pacto com o demônio”.
Freud, a partir do atendimento das mulheres que apresentavam esses quadros clínicos, esboçou uma teoria do ICS e construiu o que seria (viria a ser) depois a Psicanálise. O enigma do que é o feminino acompanhou Freud durante toda sua vida.
Dois anos antes de morrer, em 1937, num texto chamado Análise Terminável, Análise Interminável, ele coloca a questão que fica em suspense até hoje, em que ele se interroga sobre o deseja da mulher: o que quer a mulher? Porque isso ficou como algo enigmático para Freud? Não foi suficiente Freud pensar que é porque uma mulher é faltante, que ela é sujeito (do desejo) assim como o homem. 
Para responder essa pergunta é preciso começar pela Função Paterna: um dos conceitos fundamentais da psicanálise esboçado por Freud, especialmente quando ele conceituou o Complexo e Édipo. A função paterna se estrutura no psiquismo materno. E foi estabelecida de maneira mais clara e estruturada por Lacan. 
Metáfora Paterno/Nome do Pai: 
É uma operação lógica que nos estrutura enquanto sujeito, que significa: dono de um desejo; proprietário de um corpo.
Para entender a função paterna, um pequeno desvio: 
No reino animal o que o animal necessita para que a reprodução da espécie aconteça a natureza oferece; há uma carga genética que vai operar. O que o macho necessita a fêmea oferece e vice versa; acontece sempre da mesma forma, tem sempre a mesma finalidade; aparentemente não implica em insatisfação; no jogo de encaixe, as peças macho/fêmea se ajustam perfeitamente, de acordo com leis naturais.
No humano, as coisas são mais complexas e diferentes. O encontro do par, do objeto que vai representar, pelo menos imaginariamente, a completude, a reprodução, não é regido pelo código genético; não estão no campo dos instintos, não são um dado biológico.
	Talvez a descoberta mais importante de Freud seja de que a sexualidade humana não é regida pelo biológico, pela genética. Ela não é dada pelo órgão genital com o qual nascemos. Ela é dada pela interpretação que a gente faz desse órgão.
A reprodução no reino humano:
→ O par de um homem pode ser uma mulher e pode não ser.
→ Pode ser um objeto; pode ser um objeto de coleção.
→ Pode ser alguém do mesmo sexo; se for alguém do sexo oposto, uma mulher, não ser qualquer uma.
→ As coisas não acontecem sempre da mesma maneira.
→ Elas não tem sempre a mesma finalidade e provavelmente sempre se deseja que deveria ter sido um pouco melhor, poderia ter sido um pouco diferente.
→ O objeto que poderia representar a completude não existe; estamos condenados a uma insatisfação permanente.
Há um desejo sempre presente. No jogo do encaixe alguma coisa fica faltando. No humano, a ausência de desejo é a morte. A situação em que não se deseja nada é morto; senão o desejo está sempre aceso. E é por isso que a gente fala. Os animais não falam porque não tem nada a dizer.
Lacan disse que os planetas não falam porque eles não tem nada a dizer. A gente tem algo a dizer, a dizer sobre esta falta que nunca se completa. 
Mas, existe uma situação única em que esta falta fica em suspenso, em que talvez um objeto possa representar à um sujeito a completude. Isto acontece em determinada ocasião entre a mãe e o bebê. Um bebê pode para uma determinada mãe representar o objeto que a satisfaz completamente. Um objeto de completude. Ela pode olhar para este bebê e ficar absolutamente fascinada, esse bebê vai ficar aí preso como objeto perfeito no jogo do encaixe.
A partir do nascimento, de uma relação que é originalmente simbiótica, vai haver uma ruptura, o bebê se separa da mãe, do organismo da mãe. No entanto, ele pode aí ficar preso. Situação de ligação visceral: situação de ligação que se chama incestuosa. Essa situação, que a gente chama de incestuosa, é na verdade uma transgressão da principal lei que organiza a sociedade em todas as culturas, que é a lei da interdição do incesto, e é essa que organiza as sociedades por mais primitiva que seja. Alguma forma dessa lei vigora no mundo todo. Fundamentalmente um pai não pode ser pai, filho ou irmão da mulher com a qual ele vai ter um filho. A transgressão dessa interdição é a transgressão da lei maior, da que funda a civilização. E toda transgressão de uma lei psíquica importante importa um comprometimento psíquico.
	
Nas situações de grude/cola mãe/bebê tem-se na clínica situações de comprometimento psíquico maior, como: autismo, a psicose, as perversões, que na linguagem comum chama-se psicopata. Situações que são fundamentalmente construções psíquicas, fundamentadas na transgressão da lei maior, a do incesto. Ligação/cola, mãe/bebê, objeto e não sujeito. Para a medicina, psiquiatria, há outra perspectiva: as causas genéticas, hereditárias, biológicas, orgânicas.
Como esse primeiro par bebê/mãe, par em risco, se separa:
Se esse bebê não representa para a mãe o objeto de completude, se apesar do bebê ela continua desejando o parceiro ou outras coisas, ela não olha fascinada só para esse bebê, mas ela olha para um outro lugar, um lugar onde ela deseja uma coisa diferente, uma coisa outra, e o bebê acompanha esse olhar. E nesse momento em que os dois olham para um terceiro lugar, eles se separam. E este lugar terceiro é o que se chama Função Paterna, é um lugar que se constitui no psiquismo materno. É um lugar que vai representar um lugar terceiro de onde se faz uma operação, a operação que separa mamãe/bebê, e que constitui a estrutura do neurótico, como contrapartida da estrutura da psicose.
Esse lugar geralmente é corporificado pelo pai personificado, pode ser o objeto que essa mãe deseja para além do bebê. E ai entra esse pai concreto, de carne e osso, que vai se relacionar com esse filho, com essa filha.
O grau de comprometimento psíquico:
Mesmo quando a metáfora paterna existe, mesmo quando essa função operou é como se o grau de comprometimento psíquico fosse função da presença maior ou menor de como esse pai vai operar.
Exemplo: crianças com dificuldade de atenção, hiperatividade, nos quais a medicina também busca uma causa orgânica, não passa de uma relação em que existiu a metáfora paterna, são crianças neuróticas, mas são crianças que mantém uma relação erotizada, muito próxima da mãe. Falta de concentração que não passa de uma forma de excitação erótica.
Estrutura fundamental da psicanálise / Fundamento da constituição de um sujeito dono de um desejo, proprietário de um corpo → Em oposição ao autismo, que é um pedaço do corpo materno, ele fica ali. Ele pode não falar, ele pode não se relacionar, porque não precisa, fica como puro objeto. O psicótico pode falar, pode ser habitado por uma linguagem, mas da qual ele não é proprietário, e do corpo também não. Quando Van Gogh corta a própria orelha é porque também não é dele. Isso vale para os suicidas.
Homem/Mulher:
Posição masculina / Posição feminina, conforme classificação adotada por Maria Rita Kehl em Deslocamentos do Feminino.
Biologicamente o que se define homem/mulher, e o que se vê na sala de parto no momento que nasce um bebê: a primeira coisa que o obstetra vai dizer se é menino ou menina, antes de dizer se é saudável. Parece que essa nomeação é a nomeação fundamental, mesmo hoje quandona gestação é possível saber sobre o sexo do futuro bebê; essa fala do obstetra fica presente, como confirmação.
Nos casos de crianças que nascem sem os órgãos genitais bem definidos, intersexo, mesmo a medicina considera como uma emergência médica, quando não se pode dizer: é menino ou é menina. Mesmo como emergência, leva dois ou três meses para que se possa definir se vai ser menino ou menina, muitas vezes por uma intervenção cirúrgica, só aí se poderá dar um nome e fazer o registro. Situações dramáticas e mais tarde sempre se vê um comprometimento da sexualidade bastante importante. Isso para definir o que é homem e o que é mulher.
Feminilidade e Masculinidade: 
Feminilidade é um conjunto de qualidades atribuídas à mulher pela cultura, que depende do momento histórico, que depende do lugar, muda ao longo do tempo. É uma construção da cultura. 
Posição Masculina / Posição Feminina:
É algo que qualquer um de nós, homem ou mulher, pode adotar preponderantemente (predominantemente). Que é mais fácil pensar como posição ativa e posição passiva, que também são construções culturais; atribuem-se imaginariamente ao homem uma posição mais ativa, que na prática, na maioria das vezes, não acontece. E atribui-se à mulher a posição passiva. Uma maneira mais sofisticada de se pensar nisso é posição de sujeito → posição de alguém que atua no sentido de exercer um desejo. E posição de objeto → posição de alguém que serve como complemento, como objeto complementar do desejo de alguém.
Porque Freud deixou em suspenso a pergunta: O que quer a mulher? Freud fala “da mulher” → como se o desejo pertencesse a todas, como se fosse necessário fazer uma teorização para todas as mulheres. Isso não é possível.
Para tratar do tema:
1º – Como Freud constrói o Complexo de Édipo
O primeiro objeto de amor do bebê é a mãe – período pré-edípico; é a mãe e é uma mulher → primeiro tempo do Complexo de Édipo. No segundo tempo do Complexo de Édipo, com a função paterna operando, o bebê vai se distanciar da mãe, vai romper essa relação original e vai se voltar, se dirigir, na direção do pai. Ele vai buscar no pai os traços de identificação do que é o sexo masculino culturalmente. E no futuro ele vai ter como objeto de amor uma mulher que vai coincidir como aquele que foi seu primeiro objeto de amor, que é a mãe. Para a menina é um pouco mais complexo, como se tivesse uma passagem a mais.
2º – O modo como a cultura interpreta esses dois órgãos genitais – da mulher e do homem. (trágica, a grande desgraça)
Reflexo da cultura, dos pais como veículos da cultura expressam, pode-se observar quando as crianças brincam de médico. Os meninos tem pipi e as meninas não tem pipi – essa é a desgraça: existem os que tem um sexo e os que não tem; existem os que são homens e existem os que não são homens. Lacan: a mulher não existe. Significa que não há um nome que designe esse lugar daquela que não tem. Isso tem consequências maiores do que as consequências da construção do complexo de Édipo. Isso é diferente da feminilidade, não é uma construção que depende do tempo, do lugar geográfico. Ela provavelmente existe em todas as culturas de alguma forma.
Para a menina também, num primeiro momento, o objeto de amor é a mãe, no período pré-edípico. Diz-se que neste primeiro momento todos os bebês são menininhos. Por meio da função paterna vai haver a separação e essa menina vai se dirigir, vai voltar na direção do pai. 
Aonde ela vai buscar os traços que vão identificá-la como mulher? Os traços da feminilidade? Vai ser na mãe. Então, como se fosse necessário em algum momento o movimento de retorno, complicado porque ela vai retornar a aquela que ela tem que se separar. A segunda complicação é que o objeto de amor do futuro não vai corresponder àquele que foi seu primeiro objeto de amor, que era a mãe. Talvez aí está para Freud o que ficou enigmático. É como se a menina, na teorização de Freud, ficasse suspensa num lugar, no meio do caminho.
Voltando a segunda perspectiva sobre o tema, o modo como a cultura interpreta esse dois órgãos genitais – é a mais trágica, a grande desgraça.
Aristóteles falava nas mulheres como monstros. Nos textos medievais colocam as mulheres como seres inferiores, com órgãos genitais menores ou invertidos. A caça as bruxas tem uma relação com isso. Foi só na metade do século XIX que se descobriu a função do óvulo. Até então se acreditava que o bebê estava todo contido em miniatura só no sêmem, no esperma masculino. Até a primeira metade do século XX em alguns lugares nos EUA ainda se propunha a ovariectomia, retirada dos próprios ovários das mulheres que tivessem um desejo sexual muito intenso ou que se masturbavam. Isso de algum modo está presente até hoje. Está presente no fundamento de nosso psiquismo, no modo como ele está construído. Isto é tão forte, tão poderoso. Poderoso como valor de lei. Na clínica a partir das diferentes culturas, em número maior ou menor, na variação familiar dos meninos, dos bebês do sexo masculino, mais valoroso, paradoxalmente mais grudados, mais queridos talvez pelas mães que são mulheres. Essa valorização do sexo masculino é tão forte, tão poderosa, que as mães não escapam disso. Não só não escapam disso como o que aparece na clinica é que a grande maioria dos casos de hiperatividade, de autismo, são em meninos.
Recentemente saiu no jornal um levantamento feito por cientistas americanos, médicos, descobrindo que os meninos são muito mais acometidos por questões psíquicas graves, coisa que acho que todo psicanalista sabe. Também estão buscando uma causa orgânica para isso, e penso que não vão encontrar nada.
Mesmo no movimento feminista que conquistou tantas coisas: a autonomia, a igualdade social, a igualdade na economia, a igualdade no trabalho, a igualdade dentro de casa, coisas que a importância é absolutamente discutível, mesmo essas mulheres um dia se tornam mães. São mães de um bebê menino, ele corre mais riscos. 
Elas também, paradoxalmente, seguem essa lei poderosíssima da cultura, correm um risco de grudar mais nesse filho. E um simples recalque, uma simples negação dessa diferença (a diferença a gente pode até dizer que não existe, mas culturalmente existe). Então, a negação ou o recalque dessa diferença, que é uma das coisas que faz parte do movimento feminista, vai tornar à repetição. 
Isto é: recalcar, esquecer, não dizer, fingir que não existe, não falar de alguma coisa é prato cheio para a repetição, repetição de qualquer estrutura.
A construção do feminino / da feminilidade:
Lacan transformou essa pergunta de Freud: O que quer uma mulher? Essa pergunta ampla e generalizada, em pergunta muito mais reduzida: o que quer uma mulher? A única coisa que a gente pode generalizar, imaginar, considerar, é o que quer cada uma, cada uma delas. Na clínica embora a gente tenha uma teoria, uma teoria que nasceu e deve nascer obrigatoriamente da clinica, cada vez que se escuta um sujeito, homem ou mulher, é aquele sujeito e é o que ele tiver a dizer. Então, no máximo a gente pode falar sobr as estruturas das formações fundamentais, que vão definir a feminilidade ou a masculinidade; e alguém a atuar preponderantemente na posição feminina ou na posição masculina. Ninguém atua o tempo todo de um lado ou de outro, na posição ativa ou passiva, na posição sujeito ou de objeto, mas na relação com o par complementar alguém atua preferencialmente ou preponderantemente ou na maior parte do tempo numa dessas duas posições. 
O que a gente pode tentar pensar é quais são os fatores que vão determinar a operação numa dessas duas posições; alguém mais na posição de sujeito ou na posição de objeto, e como estes atributos que a cultura designa para a feminilidade ou para a masculinidade vão ser montados. E aí fica claro também porque a gente só pode pensar em um sujeito, em cada sujeito, e o que cada sujeito tem a dizer.
Em relação a estes fatores só podemos falar em tendências, senão caímos em uma coisa muito psicológica, ou uma receita: se papai fizer isso com a filha, a filhaserá tal coisa. Não é nada disso, não pode ser assim. 
1º fator, fundamental sempre, a história de duas linhagens familiares. Todos nós somos filhos de duas linhagens diferentes. E todos nós somos mais inscritos em uma delas, na linhagem materna ou na linhagem paterna. Somos mais identificados com uma das duas linhagens. E aí neste sentido as concepções de masculinidade e feminilidade, e o modo como os sujeitos nesta linhagem operam, a história de nossa herança história vai ser um dos fatores fundamentais, de como nós como sujeito vamos nos relacionar com a sexualidade.
2º fator, que é fruto da linhagem familiar, mas é também intimamente ligada à cultura, é o desejo de pai e mãe por terem um filho menino (homem) ou uma filha menina (mulher). Cada um deles tem um desejo, e em cada uma das gestações um desejo diferente, para cada filho um projeto diferente, e o filho ao nascer vai ser abraçado por essa malha da linhagem, como uma rede de pescador, e nessa malha vai estar colocado o desejo do pai e o desejo da mãe por ter um filho menino ou uma filha menina.
3º fator importante, a tendência à repetição das histórias familiares, a compulsão à repetição das histórias familiares (se não houvesse a família não teria muito a fazer na clínica). É por alguém se perceber repetindo que muitas vezes busca um trabalho terapêutico ou psicanalítico.
Na feminilidade: a tendência da menina de repetição da mãe, tanto mais marcada quanto for menor a incidência da paternidade, quanto menos esse pai, que vestiu a função paterna, entrar e assumir essa paternidade. A tendência à repetição vai ser tanto maior também quanto maior for a “rejeição”, quanto mais a mãe valorizar o sexo masculino, ou o irmãozinho que existe ou que existe imaginariamente mas não veio. A repetição se dá basicamente pela relação de cumplicidade de um ponto de encontro, de encontrar uma relação amorosa com essa mãe.
Se eu repito, eu em ato, de certa forma, a perdoo. Essa repetição pode ser mais ou menos suavizada pela acolhida, pela entrada do pai. E como entra o pai?
Pode entrar de duas formas:
→ Posição de acolhida e criação de um conforto com essa filha pelo fato de ela ser mulher. Ele reconhece essa filha como sujeito, como detentora de um desejo, como alguém que merece esse reconhecimento justamente por ser mulher. Essa filha muito provavelmente no futuro vai se acomodar muito melhor com a condição de ser mulher. Vais transitar com mais tranquilidade nestas duas posições, a masculina e a feminina, a ativa e a passiva, porque um dia, na origem, ela foi reconhecida como sujeito e reconhecida na posição de objeto.
	
A família hoje é constituída por um mosaico de formação. Frente a tal diversificação as funções paterna e materna se mantem nesse espectro justamente porque são funções, ou seja, não dependem de influências culturais. Trata-se sempre de duas posições distintas que constituem o psiquismo de cada bebê que nasce. Embora exista o mosaico de formações familiares, o ideal cultural é tão forte que as variantes funcionam como transgressão do modelo histórico. E por serem transgressões, apesar do discurso da modernidade, elas determinam comprometimentos psíquicos.
Ouvir os filhos enriquece a compreensão sobre eles. Nisso os pais podem reconhecer o que os filhos repetem, ou seja, o que é expressão do projeto dos pais em contraposição ao desejo dos filhos.
A função paterna se estrutura no psiquismo materno. É quando o olhar desejante da mãe sobre o bebê se dirige a um outro que não o bebê que instaura a função paterna. Acontece que na maioria das vezes o pai ocupa esse lugar. Mas, pode haver ausência da função paterna na presença do pai e presença da função em órfãos de pai. Mas, uma vez acontecida essa operação, se esse pai não exerce a paternidade, se é muito frágil, ausente, impotente, algum tipo de comprometimento psíquico importante vai ocorrer, embora não necessariamente uma psicose.
A experiência de consultório tem mostrado que pais psicóticos tem dificuldade muito grande em exercer a paternidade. As consequências desse lugar desocupado do pai vai compor a história de cada um, não dá para generalizar de forma alguma.
Função paterna e função materna, uma função não existe sem a outra. Entretanto, a existência da função paterna garante a ausência de quadros clínicos muito graves como as psicoses e o autismo.
A teoria psicanalítica só pode ser aceita por quem passar pelo processo de análise, ou seja, fez a revisão das responsabilidades em sua própria história.

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