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�PAGE � Universidade Estácio de Sá – Campus Resende Disciplina: Direito Civil II – (Obrigações) Prof. Ciro Ferreira dos Santos Aula 03 – 1. Obrigação de dar coisa certa. Conceito. Distinção entre entregar e restituir. Reflexos jurídicos 2. Obrigações pecuniárias: conceito e princípios OBRIGAÇÕES DAR A COISA CERTA E RESTITUIR (art. 233 e ss do CC ) OBRIGAÇÕES DE DAR Trata-se, em termos gerais, de entregar uma coisa ou no compromisso de entrega da coisa, ou restituir aquilo que se encontrava na posse; Há apenas um direito obrigacional e não um direito real; portanto, não se confunde com propriedade, seja imóvel (inscrição no Registro de Imóveis), seja móvel (tradição). “A obrigação de dar é aquela em que o devedor compromete-se a entregar a coisa móvel ou imóvel ao credor, quer para constituir novo direito, quer para restituir a mesma coisa ao seu titular.” (Venosa). ATENÇÃO: Obrigação de dar: art. 233, 234, 235, 236 e 237 do CC Obrigação de Restituir: art. 238, 239, 240, 241 e 242 do CC. Poderá ocorrer, dada a complexidade das relações, as três modalidades que se interpenetram e complementam-se. Resolver a obrigação é extinguí-la na forma de devolução do preço; desfazimento. Quando há responsabilidade pelo não cumprimento, poderá responder o devedor por indenizações, tais como: perdas e danos (art. 402 do CC) e danos morais. 1 – OBRIGAÇÕES DE DAR A COISA CERTA. dar = entregar ; coisa certa = coisa determinada. O adimplemento ocorrerá através de certa coisa, determinada prestação. Não pode o credor ser obrigado a receber outra coisa; como também não pode exigir, mesmo menos valiosa. ( pacta sunt servanda ) DAÇÃO EM PAGAMENTO (art. 356 a 359 do CC) – exige-se o consentimento do Credor, essencial ao instituto. Não pode substituir a obrigação, unilateralmente, em dinheiro, pois não se trata de obrigação alternativa; da mesma forma o pagamento parcelado Acessoriedade – o acessório acompanha o principal, salvo o convencionado: circunstância ou título. Ex.: locação e telefone. Art. 233 c/c 237 do CC. No caso de acréscimos e benfeitorias, após a contratação da obrigação, poderá o devedor exigir o aumento do preço. Evicção – responde o alienante. Até a entrega da coisa, há um dever de diligência e prudência do devedor na conservação da coisa. Aqui se depreende o elemento culpa de que tratarão os artigos 234, 235, 236, 238, 239 240 do CC. – culpa na perda ou deterioração da coisa. Porém a tradição faz cessar a responsabilidade da coisa (exceto 447 do CC, fraude e negligência – vícios redibitórios). Ou seja, o credor é colocado em mora, assumindo os riscos do perecimento da coisa após a sua entrega. Perda Desaparecimento completo da coisa – art. 234, perda total; se ocorrer sem culpa do devedor (art. 234) , antes da entrega da coisa ou de condição suspensiva, resolve-se a obrigação. (devolve-se o preço com atualização da moeda; não se fala em perdas e danos ); não se permite o enriquecimento injusto. Se ocorrer com culpa do devedor; além da devolução do valor pago, há as perdas e danos ( preço + o que deixou de lucrar = extensão do dano) Deterioração da coisa – art. 235, perda parcial; Se ocorrer sem culpa do devedor – art. 235, pode resolver ou pode o credor optar pela coisa, diminuído o seu valor (depreciação). Art. 313, não pode ser obrigado a outra coisa. A lei coloca a alternatividade para o credor. Aqui não ocorre o acréscimo de perdas e danos. Se ocorrer com culpa do devedor – art. 236, podendo o credor exigir o valor da coisa ou a própria coisa, sem prejuízo de perdas e danos (perícia). Melhoramentos / Acréscimos / Frutos na obrigação de dar São situações em que entre a constituição da obrigação e a entrega da coisa, ocorrem modificações na coisa, para maior, valorizando a coisa. No caso de obrigação de dar, o devedor poderá exigir tais acréscimos, na forma do artigo 237 e parágrafo único do CC. A intenção do legislador é dar proteção ao devedor de boa-fé em relação aos frutos naturais. ATENÇÃO: em situação de comprovada má-fé, não há que se falar em tais direitos para o devedor. Os pendentes (estão juntos à coisa principal) são do credor; Os percebidos (estão separados da coisa) são do devedor; Exceção para acordos de vontade. 4 – OBRIGAÇÕES DE RESTITUIR Trata-se de obrigação de devolver a coisa certa que se encontra em poder do devedor: ex.: Locação, Comodato. Diferenciação: na obrigação de dar a coisa certa, a coisa pertence ao devedor até o momento da tradição, recebendo o credor o que até então não lhe pertencia. Na Obrigação de restituir, pelo contrário, a coisa já pertencia ao credor que a recebe de volta em devolução. Perda Desaparecimento Completo da Coisa - Art. 238 do CC – resolve-se porque o objeto desapareceu; porém, o credor possui direitos até o dia da perda (aluguel), sendo sem culpa do devedor. Porém, sendo com culpa do devedor – art. 239 do CC, deve repor o equivalente mais perdas e danos. Ex. : Comodato, mesmo em caso fortuito ou força maior – art. 583 do CC Deterioração da Coisa – art. 240 do CC, 1ª parte, sem culpa do devedor, deve recebê-la sem direito a qualquer indenização. Porém se for com culpa, art. 240 do CC, in fine, responde o devedor pelo equivalente, mais perdas e danos. Poderá, ainda o credor optar por aceitar a coisa como se encontra, reclamando somente perdas e danos. Melhoramentos / Acréscimos / Frutos na obrigação de restituir Se houve aumentos ou valorização do bem de forma natural, deverá tais lucros reverter-se para o credor. Se houve a interferência do devedor, será seguida a regra das benfeitorias; Em estando o devedor de boa-fé poderá recebê-las em necessárias e úteis; no caso de voluptuárias poderá levantá-las se não levar o bem à deterioração. No caso de devedor de má-fé, somente poderá receber as benfeitorias necessárias, não se falando em úteis ou voluptuárias ( nem mesmo levantá-las ). Há o exercício do Direito de Retenção: legítima detenção, existência de crédito por parte do retentor e que exista um acréscimo do retentor. Devedor de boa-fé: devolução dos frutos colhidos com antecipação e frutos pendentes, deduzidas as despesas de produção. art. 1214 do CC Devedor de Má-Fé responde pelos frutos colhidos e percebidos, além daqueles que deixou de perceber por culpa, devendo receber pelos gastos de produção – art. 1215 do CC. Execução da obrigação de dar a coisa certa Na obrigação de restituir, o credor possui meios processuais de executar a obrigação. Ex.: Comodato: ação de reintegração de posse (Att. Cessão para relação de emprego – rompe-se com o rompimento do contrato empregatício ). Na obrigação de dar a coisa certa – ação pessoal, e não real, pois não houve a tradição (móveis), nem o registro (imóveis). Execução in natura mais perdas e danos. OBRIGAÇÕES PECUNIÁRIAS As obrigações pecuniárias são obrigações de dar coisa certa, porque envolvem obrigação de entregar dinheiro. Diferenciam-se das dívidas de valor porque nestas o dinheiro apenas representa o valor da obrigação; enquanto naquelas o objeto da prestação é o próprio dinheiro. Define Inácio de Carvalho Neto (2009, p. 175) dívida de dinheiro é aquela cujo objeto da prestação é a própria moeda. Aplicam-se às obrigações pecuniárias as seguintes regras: As dívidas em dinheiro devem ser pagas no vencimento, sem moeda corrente e pelo valor nominal (princípio do nominalismo) (art. 315, CC). Moeda de curso forçado e de curso legal no Brasil é apenas o real (Lei n. 9.069/95) e, portanto, é a única admitida pela lei como meio de pagamento no país (salvo normas específicas como contratos de importação e exportação; compra e venda de câmbio;...). O valor pode ser corrigido monetariamente, conforme estipulação das partes. Pode ser adotada cláusula de escala móvel, cláusula escalar (ou de escalonamento), cláusula número-índice ou critério de atualização monetária para combater os efeitos da desvalorização monetária (art. 316, CC). É exceção, portanto, ao princípio do nominalismo.Admite-se a correção judicial da prestação por meio da aplicação da cláusula rebus sic stantibus (art. 317 c/c 478, CC). Matéria que será detalhadamente abordada em Direito Civil III. São nulas as convenções de pagamento em ouro ou em moeda estrangeira, bem como para compensar a diferença entre o valor desta e da moeda nacional, exceto nos casos expressamente autorizados por lei especial (art. 318, CC). Se o pagamento se houver por medida ou peso entender-se-á, no silêncio das partes, que aceitaram os do lugar da execução (art. 326, CC). Caso Concreto 1 Adoaldo compromete-se a entregar a Ivan, em razão de um contrato de compra e venda, o livro Curso de Direito Civil, v. II, de Carlos Roberto Gonçalves, Editora Saraiva, até o dia 02 de outubro de 2012. Ivan pagou pelo livro o equivalente a R$ 80,00 (oitenta reais). Com relação ao livro identifique: a) Accipiens e Solvens; Objeto Imediato e Objeto Mediato. b) Suponha que Adoaldo, descuidado, perdeu o livro e não poderá entregá-lo no dia combinado e, por isso, Ivan não poderá estudar para a prova que se realizará no dia 06 de outubro. O que acontece com essa obrigação? Justifique sua resposta. Gabarito: ‘accipiens’ Ivan e ‘solvens’ Adoaldo ; Objeto Imediato: obrigação de dar coisa certa e Objeto Mediato: o livro. Suponha que Adoaldo, descuidado, perdeu o livro e não poderá entregá-lo no dia combinado e, por isso, Ivan não poderá estudar para a prova que se realizará no dia 06 de outubro. O que acontece com essa obrigação? Justifique sua resposta. Ivan pode exigir o pagamento do equivalente mais perdas e danos nos termos do art. 234, CC. Caso Concreto 2 Analise o relato a seguir e aponte pelo menos cinco erros na assertiva referente ao problema (cada erro encontrado deve ser indicado e corrigido corretamente). Os cinco erros encontrados devem ser corrigidos (reescrever a frase ou expressão apontando o erro que se pretende corrigir) e, quando for possível, corrigi-lo indicando o artigo respectivo! Carlos empresta gratuitamente a Andreza, em razão de um contrato de comodato, a casa localizada na Rua Enzo Ferrari, n. 27. Andreza se comprometeu a devolvê-la em perfeitas condições até o dia 02 de outubro de 2009. Pode-se afirmar que, quanto à casa, Andreza é solvens e Carlos accipiens. Trata-se de uma obrigação moral, divisível, simples, de trato sucessivo e condicional. A sua fonte mediata é a lei e a fonte mediata obrigação de dar coisa certa. O seu objeto imediato é o contrato de comodato e o objeto mediato é a casa, que pode ser substituída por uma outra de valor equivalente caso Andreza por qualquer motivo não consiga devolvê-la. Imagine que no dia anterior à devolução começa a chover o que ocasiona o alagamento do bairro onde está localizada a casa e consequente deterioração do imóvel. Neste caso Carlos deverá receber a casa tal qual se ache, sem direito à indenização, nos termos do art. 234, CC. Em outra situação, suponha que Andreza, intencionalmente ateou fogo ao imóvel, destruindo-o completamente, pode-se, então, afirmar que Carlos não poderá exigir perdas e danos nos termos do art. 234, CC. Gabarito: Pode-se afirmar que, quanto à casa, Andreza é ‘solvens’ e Carlos ‘accipiens’. Trata-se de uma obrigação civil, indivisível, simples, de execução diferida e a termo. A sua fonte mediata é a lei e a fonte imediata contrato de comodato. O seu objeto imediato é uma obrigação de dar (restituir) e o objeto mediato é a casa, que não pode ser substituída por uma outra de valor equivalente caso Andreza por qualquer motivo não consiga devolvê-la. Imagine que no dia anterior à devolução começa a chover o que ocasiona o alagamento do bairro onde está localizada a casa e consequente deterioração do imóvel. Neste caso Carlos deverá receber a casa tal qual se ache, sem direito à indenização, nos termos do art. 240, CC. Em outra situação, suponha que Andreza, intencionalmente ateou fogo ao imóvel, destruindo-o completamente, pode-se, então, afirmar que Carlos poderá exigir o equivalente mais perdas e danos nos termos do art. 239, CC. Questão Objetiva (FCC – TJ-GO 2012) Antonio obrigou-se a entregar a Benedito, Carlos, Dario e Ernesto um determinado touro reprodutor, avaliado em R$ 80.000,00 (oitenta mil reais). Embora bem guardado e bem tratado em lugar apropriado e seguro, o animal morreu afogado em inundação causada por fortes chuvas. Nesse caso, a obrigação é a) de dar coisa certa, indivisível, resolvida para ambas as partes com ausência de culpa do devedor, ante o perecimento do objeto. b) indivisível, com o perecimento do objeto por culpa do devedor. c) indivisível e tornou-se divisível com o perecimento do objeto, sem culpa do devedor. d) solidária, devendo o valor de R$ 80.000,00 (oitenta mil reais) ser entregue a qualquer dos credores, em lugar do objeto perecido. e) de dar coisa certa, indivisível, devendo o devedor entregar a indenização a todos os credores. Gabarito: A conforme art. 234, CC. �PAGE � _1033206012.doc
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