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1 Herança Jacente. Herança Vacante. Arts. 1.819 a 1.823, CC. Arts. 738 a 743, CPC/2015 2 HERANÇA JACENTE Conceito: art. 1.819, CC Sucessão legítima: se não houver herdeiros legítimos (art. 1.829, CC) Sucessão testamentária: se não houver herdeiros legítimos nem testamentários Fundamentação: impedir o perecimento dos bens Objetivo: ⚫ entregar aos herdeiros ou ⚫ declarar a vacância A jacência é uma fase do processo Característica: transitoriedade A matéria tem disciplina nos arts. 1.819 a 1.823 do Código Civil, complementando-se, na esfera formal, com os artigo 739 (1.142) ao 744 (1.158) do Novo Código de Processo Civil. Jacente é a herança que não tem herdeiros conhecidos, ou cujos herdeiros não podem assumir a titularidade da herança. A jacência constitui-se em fase provisória e temporária, de expectativa de surgimento de interessados na herança. Esgotadas as diligencias e cumpridas as formalidades legais, sem a habilitação de sucessores, a herança jacente será considerada vacante, passando ao domínio do Município, do Distrito Federal ou da União Federal, conforme a localização dos bens. 3 Durante a jacência, procede-se a arrecadação judicial dos bens integrantes do acervo hereditário, que ficarão sob a administração e guarda de um sujeito nomeado para o exercício das funções de curador provisório. A administração e a guarda dos bens compreende a arrecadação, a conservação, a cobrança de dividas, a promoção das disposições testamentárias, a venda judicial de bens, a prestação de contas e a realização da partilha aos herdeiros que se habilitarem conforme a lei. 4 Natureza Jurídica da Herança Jacente: A herança jacente não possui personalidade jurídica e nem é patrimônio autônomo sem sujeito. Consiste em um acervo de bens, administrado por um curador, sob fiscalização da autoridade judiciária, até que habilitem os herdeiros, incertos ou desconhecidos, ou se declare por sentença a respectiva vacância. 5 A falta de herdeiros pode ocorrer também nos casos de terem falecido antes do autor da herança, ou excluídos da sucessão, por determinação da lei (indignidade), de testamento (deserdação) ou ato voluntario (renúncia). Nos termos da lei, resumem-se a dois os pressupostos básicos para o reconhecimento de herança jacente: a) inexistência de cônjuge ou companheiro, herdeiros legítimos ou instituídos e legatários ou; b) renuncia da herança ou do legado. 6 7 Ocorre "herança jacente" quando alguém falece não deixando testamento, nem cônjuge sobrevivente e nem parente conhecido para sucedê-lo. O pedido para declaração da herança jacente deverá ser formulado pela Fazenda Pública, Ministério Público e/ou interessado por meio de advogado, instruído com a certidão de óbito. Declaração O juiz através de decisão simples declarará a herança jacente, diante do não comparecimento de herdeiros nomeará curador. Sendo declarada a herança como jacente, o juiz da comarca de domicílio do falecido, sem perder tempo procederá a arrecadação de todos os bens. 8 Curador A herança jacente ficará sob guarda, conservação e administração de um curador (pessoa responsável pelos bens) até a respectiva entrega ao sucessor legalmente habilitado, ou até a declaração de vacância. Sendo declarada vacância os bens serão incorporados ao domínio da União, do Estado ou Município. 9 Obrigações do curador – artigo 738 do NCPC São obrigações do curador: · Representar a herança em juízo ou fora dele, com assistência do Ministério Público; · Ter em boa guarda e conservação os bens arrecadados e promover a arrecadação de outros porventura existentes; · Executar as medidas conservatórias dos direitos da herança; · Apresentar mensalmente ao juiz um balancete da receita e da despesa; · Prestar contas ao final de sua gestão. 10 Procedimentos Após a escolha do curador, o juiz, acompanhado do escrivão, do curador e de um representante da Fazenda Pública e do Ministério Público, comparecerá na residência do falecido e mandará descrever os bens e o estado em que se encontram. Esse processo de descrição dos bens deverá ser feito na presença de duas testemunhas. O juiz examinará papéis, livros, documentos e verificando não serem de importância no processo mandará empacotar e lacrar para entregar aos sucessores do falecido ou queimados quando os bens forem declarados vacantes. Os bens que estiverem em local distante, deverão ser arrecadados e descritos por autoridade policial a pedido do juiz. . 11 No processo o juiz fará perguntas aos moradores da vizinhança, buscando informações sobre possíveis sucessores do falecido e endereço. Não será realizado o processo de arrecadação e descrição de bens ou suspensão deste, se alguém se apresentar para reclamar os bens. Neste caso podendo ser o cônjuge, herdeiro ou testamenteiro, desde que reconhecidos e não houver oposição do curador, do órgão do Ministério Público ou do representante da Fazenda Pública. Terminada a arrecadação, o juiz mandará publicar edital três vezes com intervalos de trinta dias para cada um, no órgão oficial e na imprensa da comarca. 12 Arrecadação. O procedimento de arrecadação é regulamentado pelo artigo 738 do Código de Processo Civil, e determinará que em casos que sejam declarados a jacente o juiz cuja comarca tiver domicílio o falecido procederá à arrecadação dos respectivos bens. Será o juiz também que irá nomear um curador que será responsável pela arrecadação total dos bens do falecido, onde quer que eles estejam, e que irá administrá-los até que surja um herdeiro ou até que seja declarada a fase de vacância. 13 Após a fase de arrecadação o artigo 741 do Novo Código de Processo Civil determinará que o juiz expeça um edital que será inserido no site do sítio do Tribunal que estiver vinculado o juízo e no Conselho Nacional de Justiça, onde terá que permanecer por três meses, caso não haja o sítio, que seja feita no órgão oficial e na imprensa da comarca, por três vezes com um intervalo de trinta dias entre eles, sendo necessário que os herdeiros se habilitarem no prazo de seis meses, contado da primeira publicação. Uma das principais mudanças do Novo Código de Processo Civil é a possibilidade de que o edital seja expedido também via internet, o que anteriormente no Código de 1973 era somente feita por edital no órgão oficial e na imprensa da comarca. 14 Ultimada a arrecadação, o juiz mandará expedir editais, que serão afixados no local de costume, com intervalo de 30 dias entre cada publicação. O edital será publicado no órgão oficial do Estado e em algum jornal de grande circulação da Comarca, possibilitando aos sucessores do finado, no prazo de seis meses, contados da primeira publicação, tomar conhecimento do óbito, do processo de arrecadação e da existência dos bens. Verificada a existência de sucessor ou testamenteiro em lugar certo, o juiz mandará citá-lo, independentemente da publicação do edital; quando o finado for estrangeiro, será também comunicado o fato à autoridade consular. 15 Comparecendo algum sucessor e sendo reconhecido como tal, a arrecadação será convertida por decisão do juiz em inventário. Passado um ano da publicação do primeiro edital e não comparecendo nenhum herdeiro pedindo habilitação do processo ou comparecendo algum herdeiro fazendo o pedido, mas ser julgado improcedente, a herança será declarada vacante. 16 Passado um ano da primeira publicação, seja ela feita pela internet ou por imprensa, e não sendo habilitado nenhum herdeiro, será declarada a conversão da herança jacente em herança vacante. 17 Habilitação de Herdeiros Antes da declaração de vacância, os herdeiros podem requerer habilitação diretamente no processo de jacência, por petição simples. O juiz proferirá decisão acerca da habilitação de herdeiros no decorrer do processo de jacência. Se for aceita a habilitação o processo de jacência será convertido eminventário (740 (1.153), NCPC). Se for negada a habilitação, caberá recurso ao herdeiro in satisfeito. Se for inadmitida a habilitação apenas por falta de provas, nada impede que o herdeiro proceda novamente o pedido, com novas provas. Caberá, nesse caso, Agravo de Instrumento. Após o trânsito em julgado da sentença que declarou a vacância da herança, os herdeiros somente poderão pleitear a herança por meio de ação direta (744 (1.158), NCPC). 18 Habilitação de Credores A lei garante que os credores habilitem-se diretamente no processo de jacência, para ter direito ao seu crédito. Bem como podem promover a competente Ação de Cobrança (1.821, CC e 744 (1.154), NCPC). Após o trânsito em julgado da sentença que declarou a vacância da herança, somente poderão pleitear o seu crédito por meio de ação direta (745 (1.158), NCPC) 19 Publicação de Edital Depois de concluir a arrecadação dos bens do de cujus , o juiz determinará a expedição de edital, que deverá ser publicado 03 vezes, com intervalo de 30 dias para cada um, no órgão oficial e na imprensa da comarca, chamando os sucessores do finado para habilitarem-se no prazo de 06 meses, contados da primeira publicação (1.820, CC; 1.152, NCPC). Verificada a existência de sucessor ou testamenteiro em lugar certo, deve-se providenciar sua citação e, concomitantemente, a publicação do edital (§1º, 1.152, NCPC). Sendo o de cujus estrangeiro, a jacência também deverá ser comunicada à autoridade consular (§2º, 1.152, NCPC). 20 Herança jacente no Novo Código de Processo Civil Os aspectos processuais -artigo 738 traz quem será competente para iniciar o processo. A competência será da comarca onde residia o falecido. o artigo 739 irá disciplinar a nomeação do curador e seus encargos. -artigo 740 irá prever as providências que serão tomadas para que seja feita corretamente a arrecadação dos bens do “de cujus”, onde precisará de alguns requisitos como duas testemunhas que assistirão a diligência. Pela nova redação do Código de Processo Civil, inclui-se o oficial de justiça no arrolamento dos bens do falecido, sendo que anteriormente eram apenas o escrivão do curador e o curador. 21 artigo 741 tem como objetivo notificar aos futuros ausentes de que a arrecadação já está finalizada, assim será possível, casa surjam herdeiros ou interessados, requererem a herança. Essa notificação sofreu mudanças com o Novo Código de Processo Civil, podendo agora ser publicado na rede mundial de computadores, sendo que anteriormente era feito apenas por edital no órgão oficial e na imprensa local 22 O artigo 742 define as possibilidades em que o juiz poderá autorizar a alienação antecipada dos bens do falecido, como nos casos em que os bens móveis forem de difícil conservação; em caso de semoventes, quando não usados em exploração de indústrias títulos e papéis, havendo possibilidade de depreciação; ações de sociedades quando, reclamada a integralização, não dispuser a herança de dinheiro para o pagamento; e bens imóveis quando estiverem a beira da ruina ou hipotecados e vencer-se a dívida não havendo dinheiro para o pagamento. E o artigo 743 irá finalizar estipular quando ocorrerá o fim da herança jacente, que no caso será um ano após a publicação do primeiro edital e sem que haja herdeiros reclamantes, diante disso será declarada a herança vacante. 23 Herança Vacante Herança vacante é aquela que foi declarada de ninguém. Como nenhum herdeiro compareceu para reclamar seus direitos, a herança será entregue ao poder público. Efeitos Após a declaração da herança vacante os herdeiros como irmãos, sobrinhos, tios e primos ficam excluídos do direito a sucessão. Os herdeiros diretos (ascendentes e descendentes) e o cônjuge tem ainda o prazo de cinco anos contados da abertura da sucessão para dar início a ação de petição de herança. Caso nenhum herdeiro der início a ação e passar o prazo de cinco anos da abertura da sucessão, o acervo hereditário será em definitivo do poder público. Herança Vacante: Previsto no artigo 1.820: Art. 1.820 – Código Civil: praticadas as diligências de arrecadação e ultimado o inventário, serão expedidos editais na forma da lei processual, e, decorrido um ano de sua primeira publicação, sem que haja herdeiro habilitado, ou penda habilitação, será a herança declarada vacante. 24 25 herança vacante aquela que não houve qualquer habilitação de herdeiros, ou seja, somente existirá a herança vacante após ser reconhecida sua jacência. O artigo 1.822 do Código Civil vem regulamentar quais são as conseqüências, e o que se procederá com os bens arrecadados do “de cujus” caso não haja nenhuma habilitação de herdeiros. 26 HERANÇA VACANTE: Conceito: art. 1.820, CC Requisito: arrecadação da herança jacente e cumprimento dos prazos Deve-se aguardar as sentenças nas habilitações pendentes Renúncias de todos os herdeiros: art. 1.823, CC (não há fase de jacência) A herança, então, passa ao Poder Público (municípios, distrito federal e união), mas não de forma definitiva (propriedade resolúvel, art. 1.359, CC): art. 1.822, CC 27 Efeitos da vacância: ⚫ Cessação dos deveres do curador (art. 1.143, CPC/73 – art. 739, CPC/15) ⚫ Propriedade resolúvel do Poder Público (art. 1.359, CC) ⚫ Possibilidade de habilitação dos herdeiros necessários nos cinco anos seguintes a abertura da sucessão ⚫ Colaterais afastados da herança (art. 1.822, § único, CC) ⚫ Obrigação do Poder Público de, após os cinco anos, aplicar o patrimônio em fundações destinadas aos desenvolvimento do ensino universitário (DL 8.207/45 – revogado - ver Lei 8.049/90) 28 Após a decretação de vacância, os colaterais são excluídos da sucessão (art. 1.822, § único, CC) Após a decretação de vacância e antes de completados os cinco anos da abertura da sucessão (período de carência) os herdeiros necessários podem pleitear seu direito sucessório através da ação de petição de herança (art. 1.824, CC) A arrecadação definitiva – incorporação – dos bens pelo Poder Público ocorre após cinco anos da abertura da sucessão (art. 1.822, CC) 29 O direito de saisine poderia ser aplicado em sendo caso de herança jacente, beneficiando município, Distrito Federal e União? A transferência da propriedade, nesses casos, se dá com a sentença que declara a vacância, mas os bens são transferidos provisoriamente, uma vez que os eventuais herdeiros terão um prazo de cinco anos da abertura da sucessão para se habilitarem como tais. Tratar-se-á de uma propriedade resolúvel deferida aos Poderes Públicos. A propriedade só será definitivamente do ente público após o trânsito em julgado da sentença de vacância e o escoamento do prazo de cinco anos da morte sem que herdeiros possíveis tenham se habilitado. A posição do Superior Tribunal de Justiça se infere de acórdãos prolatados como o do REsp 34.330/SP, rel. Min. Costa Leite, j. 15.12.1993. Parece claro a não aplicação do droit de saisine aos entes públicos pelos nossos tribunais uma vez que a transferência só ocorrerá com a declaração da vacância. Nesse sentido a decisão da 4ª Turma do STJ.