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LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS SA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA Prof. André de Faria Thomáz LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A “A Faculdade Católica Paulista tem por missão exercer uma ação integrada de suas atividades educacionais, visando à geração, sistematização e disseminação do conhecimento, para formar profissionais empreendedores que promovam a transformação e o desenvolvimento social, econômico e cultural da comunidade em que está inserida. Missão da Faculdade Católica Paulista Av. Cristo Rei, 305 - Banzato, CEP 17515-200 Marília - São Paulo. www.uca.edu.br Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem autorização. Todos os gráficos, tabelas e elementos são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência, sendo de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos. Diretor Geral | Professor Valdir Carrenho Junior LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 5 SUMÁRIO CAPÍTULO 01 CAPÍTULO 02 CAPÍTULO 03 CAPÍTULO 04 CAPÍTULO 05 CAPÍTULO 06 CAPÍTULO 07 CAPÍTULO 08 CAPÍTULO 09 CAPÍTULO 10 CAPÍTULO 11 CAPÍTULO 12 CAPÍTULO 13 CAPÍTULO 14 CAPÍTULO 15 07 19 29 41 53 78 90 104 113 125 137 147 160 172 189 LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC – LEI DAS S/A HISTÓRICO DA CONTABILIDADE E APLICABILIDADE DAS NORMAS NORMAS INTERNACIONAIS LEI 6.404/1976 LEI 11.638/2007 IMPORTÂNCIA E CRIAÇÃO DOS CPC’S DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS CPC 00 - ESTRUTURA E CONCEITOS CPC 03 – FLUXO DE CAIXA CPC 06 – ARREDONDAMENTOS CPC 12 – AJUSTES PATRIMONIAIS CPC 16 - ESTOQUES CPC 25 - PROVISÕES CPC 26 – DEMONSTRAÇÕES CPC 27 – ATIVOS IMOBILIZADOS LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 6 INTRODUÇÃO Olá, estudante no decorrer do nosso percurso de aprendizagem iremos aprender sobre a importância dos Comitês de Pronunciamentos Contábeis – CPC, onde ao longo dos estudos de contabilidade, ouve-se falar em diversas organizações, tanto nacionais quanto internacionais, leis brasileiras ligadas à contabilidade, normas nacionais e internacionais, padrões a serem seguidos, resoluções, entre outros vários termos. Mas o que cada uma dessas organizações faz? Quais são as normas e os pronunciamentos utilizados? A contabilidade é a mesma em todos os países? Quais são as semelhanças e diferenças entre as formas de contabilidade? O que causa essas diferenças? Você vai conferir as respostas para todos esses questionamentos ao longo desta dos estudos desta disciplina. Os documentos oficiais utilizados pela contabilidade são divulgados por organismos específicos com diferentes funções, os quais sofrem diversas influências do ambiente externo, impactando a contabilidade. Nesta disciplina, você vai conferir quais são as diferenças entre todos os documentos oficiais utilizados pela contabilidade, bem como quais são as leis envolvidas com a contabilidade brasileira e as organizações responsáveis por desenvolver a contabilidade na forma como é realizada. Além disso, vai conferir como as normas brasileiras de contabilidade são estruturadas e quais são os fatores que influenciam a contabilidade. Por fim, você vai conhecer o Comitê de Pronunciamentos Contábeis e sua função na contabilidade brasileira LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 7 CAPÍTULO 01 LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC – LEI DAS S/A 1.0 INTRODUÇÃO Olá, estudante, você sabia que até 28 de dezembro de 2007, a contabilidade brasileira não atendia plenamente ao seu principal objetivo: o de bem informar. Entraves políticos e burocráticos impediam que a Lei n° 6.404/76 fosse alterada e iniciasse a convergência das normas contábeis brasileiras às Normas Internacionais de Contabilidade. Até então, a contabilidade praticada no Brasil era penalizada, direta ou indiretamente, por influências de natureza tributária. Isso fazia com que as demonstrações contábeis fornecessem mais informações para o fisco do que para outros usuários da informação contábil. 2.0 Principais Mudanças Neste momento, você vai reconhecer as mudanças contábeis que ocorreram a partir da promulgação da Lei n° 11.638/07. Ainda, vai entender os métodos que influenciam a adoção das Normas Internacionais de Contabilidade. Por fim, vai identificar os principais órgãos de normalização contábil brasileira e conhecer seus propósitos, para definir que as empresas não podem ter seus patrimônios confundidos, pois, a pessoa física possui bens, direitos e obrigações tanto quanto a pessoa jurídica, e na sociedade limitada e a anônima são formas de pessoas jurídicas. Convergência das normas contábeis ao padrão internacional de contabilidade A contabilidade é um conjunto de informações que controla o patrimônio das pessoas físicas ou jurídicas. Esse controle é realizado por meio da coleta, do armazenamento e do processamento dessas informações, provenientes dos fatos que modificam a situação patrimonial (PADOVEZE, 2017). É possível denotar que a ocorrência desses fatos faz com que a contabilidade entre em ação. Esses acontecimentos estão presentes a cada minuto no cotidiano das empresas. A forma como os negócios acontecem, o tempo necessário para a tomada de decisões e os stakeholders envolvidos nos fatos mudaram significativamente ao LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 8 longo do tempo, mas as normas contábeis que norteiam o registro desses fatos não acompanharam essas mudanças. O termo stakeholder, de acordo com o “Dicionário Financeiro”, significa grupo de interesse, ou seja, são pessoas que têm algum relacionamento com a empresa. Um dos criadores do termo foi o filósofo Robert Edward Freeman, que utilizava o termo para se referir aos grupos que poderiam afetar ou serem afetados pelos objetivos da empresa. São exemplos de stakeholders: acionistas, investidores, proprietários, empregados, clientes, governos, instituições financeiras, concorrentes etc. Com o passar dos anos, a defasagem contábil causou uma desvalorização das empresas brasileiras, pois os usuários externos não consideravam a contabilidade como fonte fiel de informações. Isso aconteceu porque foi se perdendo a utilidade das demonstrações contábeis como fonte de informação da situação econômica, financeira e patrimonial, visto que os registros eram feitos norteados por regras que não permitiam aferir o cenário real da empresa. Ainda, a ocorrência de fraudes aumentou, pois a falta de atualização das normas dava margem para registros que não condiziam com a realidade da empresa. 2.1 Influências externas, institucionais e culturais nas normas contábeis Dessa forma, os profissionais da área, junto aos pesquisadores e doutrinadores, começaram a cobrar do governo alterações na principal lei sobre assuntos contábeis: a Lei nº 6.404/76, Brasil (2020b). Assim surgiu o Projeto de Lei nº 3.741/00, Brasil (2000), apresentado pelo Poder Executivo em 8 de novembro de 2000. O trâmite desse projeto durou sete anos no Poder Legislativo até ser finalmente aprovado e convertido na Lei nº 11.638/07, Brasil (2007), que entrou em vigor no dia 1º de janeiro de 2008. A aprovação da Lei foi um marco para a contabilidade no Brasil e, a partir desse momento, se iniciou o processo de convergência das normas contábeis brasileiras às Normas Internacionais de Contabilidade, definido como um tema de proteção do patrimônio pelos contadores ou guarda livro, definida como que a contabilidade serve para empresas com ou sem fins lucrativos, independente dos custos dos serviços. A Lei nº 11.638/07, Brasil (2007), alterou e revogou dispositivos da Lei nº 6.404/76, Brasil (2020b), além de incluir o art. 10-A na Lei nº 6.385/76, Brasil (2019), que dispõe sobre o mercado de valores mobiliários ede capitais pelo mundo, a abertura de fronteiras para o comércio internacional e, também, o crescimento das indústrias brasileiras exigem que sejam criadas normas e Leis para atender às exigências dos acionistas e credores. Estudaremos, inicialmente, a criação da Lei n. 6.404/76, das Sociedades por Ações, que regula as companhias de capital aberto e demais sociedades, e a importância dessa lei para a contabilidade brasileira, sobre os custos e despesas: • As despesas se referem à manutenção da atividade principal da empresa. • Custos e despesas referem-se a valores distintos, mas ambos são considerados passivos. Lei n. 6.404/76 – Lei das Sociedades por Ações Como vimos anteriormente, o Brasil é um dos países que adota a filosofia de direito Code Law, e, nesse sistema, predomina o conservadorismo, não dando abertura para outras interpretações que não sejam aquelas estabelecidas por lei. Vimos, também, que a contabilidade nesse sistema é muito influenciada pelos limites da lei. Embora esse fato contribua muito para a legislação fiscal, pode não ser muito bem visto pelos investidores, pois restringe a aplicação dos Princípios de Contabilidade. Com isso, agindo de acordo com a filosofia Code Law e buscando aperfeiçoar as práticas contábeis no Brasil, em 15 de dezembro de 1976, cria-se a Lei n.6.404/76, conhecida como a Lei das Sociedades por Ações, que entrou em vigor no ano seguinte. A Lei das S.A certamente foi um grande avanço para a contabilidade, pois ela traz LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 37 tópicos relevantes para o entendimento e uniformização das demonstrações contábeis, que descrevem os adiantamentos, onde o adiantamento a fornecedores corresponde a práticas de negociação, realizadas pelas empresas, que geralmente estão envolvidas com algum preço ou condição de pagamento diferenciados. O adiantamento a clientes refere-se a obrigações que a empresa tem com terceiros, está associada, na maior parte dos casos, ao Passivo Circulante, e pode ser ilustrada por encomendas. Um desses avanços está bem descrito no seu Art. 177 que determina: “A escrituração da companhia será mantida em registros permanentes, com obediência aos preceitos da legislação comercial e desta lei e aos princípios de contabilidade geralmente aceitos, devendo observar métodos ou critérios contábeis uniformes no tempo e registrar as mutações patrimoniais segundo o regime de competência”. Veja que o grande destaque do Art. 177 está, justamente, em permitir que, além da exigência de obediência à própria lei, devem ser observados os princípios de contabilidade de modo geral aceitos. No entanto, para que isso seja possível, é preciso que as empresas adotem registros auxiliares, veja: Para atender à legislação tributária, ou outras exigências feitas à empresa que determinem critérios contábeis diferentes dos da Lei das Sociedades por Ações ou dos princípios de contabilidade geralmente aceitos, devem ser adotados registros auxiliares à parte (FIPECAFI, 2013, p. 2). 3.0 Contabilidade Internacional A criação dos registros auxiliares foi a forma encontrada para atender tanto às exigências da legislação fiscal como também aos princípios contábeis, o que mais interessa aos investidores. Isso não significa que a contabilidade oficial deva ser inteiramente diferente dos critérios fiscais, já que quanto mais próximos os critérios fiscais dos contábeis tanto melhor. Todavia, essa disposição foi incluída na Lei das Sociedades por Ações com o objetivo de permitir a elaboração das demonstrações contábeis corretas, sem prejuízo da elaboração das declarações do Imposto de Renda, usufruindose de todos os benefícios e incentivos e, ao mesmo tempo respeitando-se todos os seus limites (FIPECAFI, 2013, p. 2). Para resolver a questão de necessidade de controle através de registros auxiliares, a fim de separar a contabilidade fiscal e atender aos princípios de contabilidade geralmente aceitos, foi criado o LALUR – Livro de Apuração do Lucro Real, LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 38 através Decreto-lei n. 1.598/1977. Dessa forma, seria possível adicionar as despesas ou excluir receitas ao lucro real, a fim de atender às exigências fiscais, para as empresas que optam pela tributação na forma do Lucro Real. A Instrução Normativa n. 989 de 2009 substitui a obrigatoriedade do LALUR, impresso na forma tradicional, pelo livro eletrônico, e-Lalur. Porém, ainda em busca de melhor atender à legislação fiscal, a Receita Federal do Brasil, através da Instrução Normativa RFB n. 1.422, de 19 de dezembro de 2013, cria a ECF - Escrituração Contábil Fiscal, em substituição da DIPJ – Declaração de imposto de Renda Pessoa Jurídica, e o livro e-Lalur, atualmente, é entregue com a ECF (CFC, 2016). Além do acima mencionado, a Lei n. 6.404/76 trouxe outros grandes avanços, como a regulamentação de estruturas básicas da contabilidade, direitos e deveres dos acionistas, além de padronizar diversas práticas contábeis, até formas organizacionais das empresas. Umas dessas práticas contábeis é o método de equivalência patrimonial, que veio para facilitar a divulgação das demonstrações consolidadas. Em relação às vantagens trazidas pelo método de equivalência patrimonial, temos: Uma vantagem importante do método de equivalência patrimonial é a de que, no nível estrutural, ele proporciona alguma coerência entre a divulgação de subsidiárias consolidadas e a divulgação de investimentos que não são incluídos na consolidação, mas que possuem algumas das características de participações em subsidiárias. (HENDRIKSEN; VAN BREDA, 1999 apud SCHMIDT; SANTOS; FERNANDES, 2010, p. 21). Queremos chamar sua atenção para o fato de que estamos falando de uma lei que nasceu justamente para atender às companhias constituídas na forma de sociedade anônima, porém também permitiu que outras formas societárias se apoiassem nessa mesma lei, caso assim o desejassem, como é o caso das sociedades limitadas, apesar de esse tipo societário ser regido pelo Código Civil de 2002. A seguir, estudaremos algumas definições e conceitos de sociedade anônima para termos a dimensão desse tipo societário no mercado de capitais, e, também, a importância da contabilidade dentro desse contexto. LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 39 5.0 Definição de Sociedade Anônima Com isso, podemos dizer que cada acionista responde pela companhia apenas até o preço de suas ações e, também, não é solidário aos outros sócios na subscrição do capital, como é o caso da sociedade limitada. A sociedade anônima é regida por um estatuto que definirá seu objeto social de forma clara e precisa, além de estabelecer seus deveres e obrigações junto aos acionistas. Segundo Ferreira (2014), o capital da companhia pode ser formado com contribuições em dinheiro, desde que em moeda nacional, ou outros bens suscetíveis de avaliação monetária, além de créditos (contas a receber). No caso de subscrição em bens, estes devem ser levados à avaliação de, no mínimo, três peritos ou por empresa especializada, nomeados em assembleia geral dos acionistas subscritores. No Brasil, temos dois tipos de companhias, conforme explica Ferreira (2014), a companhia é aberta ou fechada, dependendo se os valores mobiliários de sua emissão estejam ou não admitidos à negociação em bolsa ou no mercado de balcão. Vejamos, então: • Fechadas: São as companhias de pequeno e médio porte, e suas ações são negociadas de forma privada, ou seja, não são comercializadas na bolsa de valores ou no mercado de balcão. Normalmente, o estatuto Na sociedade anônima, também conhecida como companhia, o capital se divide em ações, obrigando-se cada sócio ou acionista somente pelo preço de emissão das ações que subscrever ou adquirir. Assim impõe limites para a negociação de ações,para que seu fundador não perca o poder acionário da companhia, já que as companhias fechadas, em grande parte, são constituídas na forma de empresas familiares. • Abertas: Suas ações são negociadas na Bolsa de Valores e no mercado de balcão, são formadas por grandes companhias. Essas empresas são fiscalizadas e reguladas pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários). Foram justamente as companhias abertas que mais sentiram os impactos da globalização, pois suas ações não somente são negociadas no mercado interno, como também podem interessar a investidores internacionais. Daí a grande importância de se ter uma contabilidade transparente e confiável, e que seja compreendida por todos os países. Com isso, podemos concluir que a Lei n. 6.404/76, apesar de trazer grandes inovações para a contabilidade, também precisou se adequar aos padrões internacionais, para que LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 40 nossas empresas continuassem a ser competitivas no mercado de capitais estrangeiros, e a contabilidade, mais uma vez, acompanhasse a evolução da humanidade. ISTO ESTÁ NA REDE Link: https://www.youtube.com/watch?v=_FY-OLRlPOc Na sociedade anônima, também conhecida como companhia, o capital se divide em ações, obrigando-se cada sócio ou acionista somente pelo preço de emissão das ações que subscrever ou adquirir (FERREIRA, 2014, p. 26). ANOTE ISSO Com isso, podemos concluir que a Lei n. 6.404/76, apesar de trazer grandes inovações para a contabilidade, também precisou se adequar aos padrões internacionais, para que nossas empresas continuassem a ser competitivas no mercado de capitais estrangeiros, e a contabilidade, mais uma vez, acompanhasse a evolução da humanidade. https://www.youtube.com/watch?v=_FY-OLRlPOc LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 41 CAPÍTULO 04 LEI 6.404/1976 1.0 INTRODUÇÃO Olá, estudante, a necessidade de financiamento por parte das empresas pode resultar na opção de financiamento por meio de emissão e venda de suas ações no mercado de capitais. Para tanto, alguns requisitos jurídicos e regulatórios devem ser seguidos. Uma das primeiras coisas que uma entidade deve fazer, se deseja negociar ações no mercado de capitais brasileiro, é enquadrar-se no tipo societário de “sociedade por ação”, também chamado de “sociedade anônima” (S/A). Normalmente, as sociedades nascem no tipo de “sociedade de responsabilidade limitada” (Ltda.) e devem, portanto, alterar o seu tipo societário para acessar o mercado de capitais. Sociedades por ações são regidas por legislações específicas. No Brasil, a lei que rege as sociedades por ações é a n.º 6.404, de 15 de dezembro de 1976, e as suas alterações posteriores. Nessa lei, são fixados os principais deveres da sociedade para com os seus acionistas visando à proteção dos direitos desses, em especial dos acionistas minoritários. 2.0 Lei das Sociedades Anônimas Em 15 de dezembro de 1976, foi sancionada a Lei das Sociedades por Ações (BRASIL, 1976), comumente chamada de Lei das SAs. Essa Lei está dividida em 26 capítulos. Em linhas gerais, essa Lei veio para tratar dos principais aspectos a regerem as SAs em uma única normativa, abrangendo desde a sua caracterização até as obrigações junto aos acionistas. Destacam-se, dentre outros, os Capítulos XV XVI, que tratam de demonstrações financeiras e constituição de reservas e dividendos. De acordo com Gelbcke et al. (2018), a Lei das SAs representa a grande revolução contábil do século XX no Brasil. Ela não teve grandes alterações até 2007, quando foi aprovada a Lei nº. 11.638, com alterações significativas nas normatizações. Em 1976, a Lei das SAs foi um marco na área. Mas, passados 31 anos, alguns de seus aspectos contábeis já não acompanhavam as tendências globais de contabilidade. Era necessária uma reforma para que os tratamentos contábeis de transações cada vez LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 42 mais complexas não ficassem presos às diretrizes específicas da lei ou a normatizações de órgãos reguladores locais, muitas vezes díspares em relação ao que se vinha praticando ao redor do mundo. No que tange à Lei nº. 11.638, que alterou em 2007 as Leis nº. 6.404 e 6.385, ambas de cunho societário e regulamentário do mercado de capitais brasileiro, Gelbcke et al. (2018) entendem que a mudança ofereceu as condições necessárias para a convergência às normas internacionais de contabilidade, citou especificamente o Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) e determinou, de forma enfática, a segregação entre contabilidade para fins de demonstrações contábeis e contabilidade para fins fiscais. O trecho da Lei nº. 11.638 a que os autores fazem referência, que permitiu a convergência dos padrões locais de contabilidade aos padrões internacionais e que aborda a figura do CPC, é o art. 5º, no qual é estipulado que: A Comissão de Valores Mobiliários, o Banco Central do Brasil e demais órgãos e agências reguladoras poderão celebrar convênio com entidade que tenha por objeto o estudo e a divulgação de princípios, normas e padrões de contabilidade e de auditoria, podendo, no exercício de suas atribuições regulamentares, adotar, no todo ou em parte, os pronunciamentos e demais orientações técnicas emitidas (BRASIL, 2007, documento on-line). Observe que a legislação societária brasileira, até então, conferia poder aos órgãos reguladores (Comissão de Valores Mobiliários [CVM], Banco Central do Brasil [Bacen] e outros), para ditarem normas específicas de cunho contábil para os seus regulados. O novo regulamento passou a permitir que tais reguladores firmassem convênio com entidade específica — cujo propósito é centralizar a normatização contábil —, para adotarem as normas redigidas por esse órgão. Na prática, esse órgão regulador é o CPC, criado no Brasil para transcrever e adaptar, quando necessário, as normas internacionais de Controle acionário: Nas palavras do CPC ([20--], documento on-line), o órgão foi idealizado [...] em função das necessidades de: • convergência internacional das normas contábeis (redução de custo de elaboração de relatórios contábeis, redução de riscos e custo nas análises e decisões, redução de custo de capital); LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 43 • centralização na emissão de normas dessa natureza (no Brasil, diversas entidades o fazem); • representação e processos democráticos na produção dessas informações (produtores da informação contábil, auditor, usuário, intermediário, academia, governo). Em síntese, pode-se dizer que: • a Lei nº. 11.638 viabilizou o processo de convergência dos padrões brasileiros de contabilidade aos padrões internacionais; • o CPC foi fundado para ser o órgão emissor das novas normas contábeis • convergentes aos padrões internacionais; e • o poder de adotar ou não as normas editadas pelo CPC continuou com os órgãos reguladores específicos (CVM, Bacen, Conselho Monetário Nacional [CMN], Superintendência de Seguros Privados [Susep], Agência Nacional de Energia Elétrica, Agência Nacional de Saúde e Conselho Federal de Contabilidade). 3.0 Tipos de Ações no Mercado As ações de uma empresa representam cada fração (parte) do seu capital social. Os investidores injetam recursos na empresa (capital social) e, em contrapartida a esse investimento, recebem direitos sobre a empresa (ações) em quantidades proporcionais à sua contribuição para a formação do capital social. De acordo com a Lei das SAs, uma ação pode ser do tipo ordinária ou preferencial. A principal diferença está no fato de que as ações ordinárias podem conferir, dentre outros privilégios, o direito de voto aos seus detentores. A Lei das SAs prevê explicitamente, em seu art. 110, que cada ação ordinária terá um votonas deliberações da assembleia geral, e, em seu art. 111, que o estatuto social da empresa poderá deixar de conferir às ações preferenciais algum ou alguns direitos que são conferidos às ações preferenciais, incluindo o direito de voto ou a restrição a ele, descrevendo que a depreciação se configura como a perda de valor de bem tangíveis ao longo do tempo, deve considerar, além do tempo de uso, propriamente dito, a situação do bem, seu desgaste, obsolescência, função, entre outros, e inicia a partir da operação do bem e se encerra com sua baixa ou transferência. A amortização se refere a bens intangíveis. (BRASIL, 1976). LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 44 De acordo com o art. 121 da Lei das SAs (BRASIL, 1976), “[...] a assembleia geral, convocada e instalada de acordo com a lei e o estatuto, tem poderes para decidir todos os negócios relativos ao objeto da companhia e tomar as resoluções que julgar convenientes à sua defesa e desenvolvimento”. Em outros termos, a assembleia geral representa um encontro entre administradores e acionistas, visando a estabelecer as diretrizes gerais do negócio, dando também a oportunidade para os acionistas participantes do mercado de capitais votarem o que é proposto pela administração. O art. 122 da mesma Lei estabelece o que compete, privativamente, à assembleia geral: I. reformar o estatuto social; II. eleger ou destituir, a qualquer tempo, os administradores e fiscais da companhia; III. tomar, anualmente, as contas dos administradores e deliberar sobre as demonstrações financeiras por eles apresentadas; IV. autorizar a emissão de debêntures; V. suspender o exercício dos direitos do acionista; VI. deliberar sobre a avaliação de bens com que o acionista concorrer para a formação do capital social; VII. autorizar a emissão de partes beneficiárias; VIII. deliberar sobre transformação, fusão, incorporação e cisão da companhia, sua IX. dissolução e liquidação, eleger e destituir liquidantes e julgar-lhes as contas; e X. autorizar os administradores a confessar falência e pedir concordata (BRASIL, 1976, documento on-line). Da mesma forma que as ações ordinárias podem ter certas vantagens em relação às ações preferenciais, sendo a principal delas o direito de voto na assembleia geral, as ações preferenciais dão certas preferências aos seus detentores no tocante a alguns aspectos. Conforme o art. 14 da Lei das SAs, a principal característica desse tipo de ação é a preferência no que diz respeito ao recebimento de dividendos mínimos obrigatórios e ao reembolso de capital (BRASIL, 1976). Já no caso de adiantamento de fornecedores: • Trata-se de uma operação monetária relativa à determinada compra, que será concluída posteriormente. • O adiantamento a fornecedores está compreendido no Ativo Circulante (Balanço Patrimonial). LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 45 • O pagamento dos impostos decorrentes da venda será realizado somente após a entrega da mercadoria. O § 2º do art. 15 da Lei das SAs determina que “[...] o número de ações preferenciais sem direito a voto, ou sujeitas a restrição no exercício desse direito, não pode ultrapassar 50% do total das ações emitidas” (BRASIL, 1976, documento on-line). Adicionalmente, o § 1º do art. 17 estabelece que, para as ações preferenciais sem direito a voto ou com restrição a este, a negociação dessas ações em bolsa de valores somente será admitida se lhe for atribuída pelo menos uma entre três preferências, que são: I — direito de participar do dividendo a ser distribuído, correspondente a, pelo menos, 25% (vinte e cinco por cento) do lucro líquido do exercício; II — direito ao recebimento de dividendo, por ação preferencial, pelo menos 10% (dez por cento) maior do que o atribuído a cada ação ordinária; ou III — direito de serem incluídas na oferta pública de alienação de controle, [...], assegurado o dividendo pelo menos igual ao das ações ordinárias (BRASIL, 1976, documento on-line). No estatuto social da empresa, deve ser fixada a quantidade de ações e se essas ações têm valor nominal ou não. O valor nominal é o valor estabelecido para cada ação no estatuto social. A empresa não pode vender ações por preço inferior ao seu valor nominal, mas pode efetuar a venda das ações por preço superior ao seu valor nominal. Se esse for o caso, o montante excedente não deve ser reconhecido pela contabilidade como capital social, mas como reserva de capital (art. 13, § 2º da Lei das SAs) (BRASIL, 1976). 4.0 Controle Acionário De acordo com o art. 116 da Lei das SAs: Entende-se por acionista controlador a pessoa, natural ou jurídica, ou o grupo de pessoas vinculadas por acordo de voto, ou sob controle comum, que: a) é titular de direitos de sócio que lhe assegurem, de modo permanente, a maioria dos votos nas deliberações da assembleia-geral e o poder de eleger a maioria dos administradores da companhia; e b) usa efetivamente seu poder para dirigir as atividades sociais e orientar o funcionamento dos órgãos da companhia (BRASIL, 1976, documento on-line). LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 46 Já nos termos do CPC 36 (R3) — Demonstrações consolidadas (CPC, 2012, documento on-line), o qual determina que controladora e controladas devem apresentar demonstrações contábeis consolidadas, “[...] o investidor controla a investida quando está exposto a, ou tem direitos sobre, retornos variáveis decorrentes de seu envolvimento com a investida e tem a capacidade de afetar esses retornos por meio de seu poder sobre a investida”. Em síntese, controlador é aquele que tem poder decisório sobre a entidade na qual mantém investimento, de tal modo que esse poder é capaz de afetar os seus retornos variáveis, isto é, os lucros a serem distribuídos como dividendos, por exemplo. De forma geral, o acionista que possui mais da metade do capital votante de uma entidade é o seu controlador. Em outros casos mais complexos, é necessário avaliar se, mesmo sem possuir a metade do capital votante, existem indicativos de controle, como acordos contratuais com os demais acionistas ou poder de indicação da maioria dos administradores da empresa, por exemplo no caso de uma conciliação bancária: • Situações motivadoras de diferença entre razão contábil e extrato bancário podem ser exemplificadas por: cheques pré-datados, depósitos bloqueados, tarifas e taxas de cartão. • O processo de conciliação está pautado na análise e conferência do extrato bancário frente aos relatórios contábeis. De acordo com Ross et al. (2015), nas empresas de capital aberto pulverizadas, isto é, em que a propriedade da empresa é dispersada em diversos investidores proprietários de ações, é bem possível que o controle da empresa esteja nas mãos de um grande acionista ou de seus administradores, e desta forma: As etapas do processo de conciliação bancária compreendem: a prestação de contas, que é o registro e organização dos documentos para a análise; conferência dos saldos, para verificar possíveis erros que acarretem na desarmonia financeira; verificação dos detalhes, que compreende a checagem de valores, datas e outros detalhes e; correção e armazenamento caso haja diferenças ou erros procede-se à correção, armazenando os documentos. Nesse caso, a administração necessariamente agirá para buscar o melhor interesse dos acionistas? Caso exista um acionista controlador, ele necessariamente agirá para buscar o melhor interesse dos não controladores? Em outras palavras, a administração, ou o controlador, não poderia buscar seus próprios objetivos em detrimento daqueles LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 47 dos acionistas em geral, e os dos acionistas minoritários, no caso de preeminência do controlador (ROSS et al., 2015,p. 18)? Esse conflito de interesses entre o principal (nesse caso, os acionistas minoritários) e o agente (o acionista controlador e os administradores da empresa, os quais têm poder de decisão) é denominado problema da agência, onde por exemplo no caso de caixa dois, a empresa prestar serviços sem a emissão da nota fiscal. De acordo com a teoria da agência, o acionista controlador ou os administradores podem tomar decisões que melhor os privilegiem — como medidas que confiram a eles maiores remunerações no curto prazo —, mesmo que isso prejudique o interesse dos acionistas minoritários — como o de agregar valor ao negócio no longo prazo. Segundo Ross et al. (2015) e Martelanc, Pasin e Pereira (2010), diversas empresas já quebraram ou sofreram danos por conta do problema da agência, na maioria das vezes suplantado por esquemas de corrupção, como no emblemático caso da companhia norte-americana Enron e no recente caso da Petrobrás. O documentário Enron: os mais espertos da sala (2005), disponível no YouTube, mostra como se deu o problema da agência na empresa, que levou à sua falência em 2001. Derivado do conceito das ações ordinárias e preferenciais, cuja diferença marcante é o poder de voto automaticamente conferido ao primeiro tipo e o veto a voto ou a restrição a voto inerente ao segundo tipo, há um valor agregado ao controle das empresas. Segundo Martelanc, Pasin e Pereira (2010, p. 224), “[...] por valor de controle entende-se o valor que é transferido dos sócios minoritários para os controladores, pelo fato de estes terem maior poder sobre as ações da empresa”. Martelanc, Pasin e Pereira (2010) afirmam ainda que a principal forma de se quantificar o valor do controle é medindo o ágio com o qual as ações ordinárias são negociadas em relação às ações preferenciais. Por exemplo, se a ação ordinária de uma empresa é cotada em $ 10 e a ação preferencial é cotada em $ 8, então, há um ágio positivo de 25% para a ação ordinária em relação à preferencial. O percentual é obtido dividindo-se o ágio (nesse caso, $ 2 de cotação da ação ordinária superior à preferencial) pela cotação da ação preferencial (nesse caso, $ 8) e se multiplicando o resultado por 100. Já em um cenário em que a ação ordinária valesse $ 15 e a ação preferencial estivesse cotada a $ 18, haveria um deságio de $ 3, o que equivaleria a aproximadamente −16,7%. Para Martelanc, Pasin e Pereira (2010), esse cenário de relação negativa é inadmissível, dado que o poder LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 48 decisório, que deve agregar valor às ações da empresa, está nas ações ordinárias, e não nas preferenciais. 5.0 Aplicabilidades da Lei 6.404/76 Entendidas as finalidades das demonstrações contábeis, agora serão apresentadas a sua estrutura e obrigatoriedade. De acordo com o artigo 176 da Lei nº 6.404/76, conhecida como Lei das SA (Lei das Sociedades por Ações), as demonstrações contábeis obrigatórias são: • Balanço Patrimonial. • Demonstração dos lucros ou prejuízos acumulados. • Demonstração do resultado do exercício. • Demonstração dos fluxos de caixa. • Demonstração do valor adicional (se companhia aberta). • Notas explicativas. Cada demonstração possui uma finalidade para o usuário da informação. Sua estrutura deve ser obedecida também de acordo com a Lei nº 6.404/76 e a Lei nº 11.638/2007. Balanço patrimonial O balanço patrimonial é a demonstração contábil que tem por objetivo demonstrar a estrutura patrimonial da empresa em determinado período, trata- se de uma demonstração apurada com base nas movimentações dos últimos 12 meses, ou seja, as operações que ocorreram do dia 1º de janeiro até o dia 31 de dezembro do ano corrente de elaboração da demonstração. A Lei nº 6.404/76 dispõe: Art. 178. No balanço, as contas serão classificadas segundo os elementos do patrimônio que registrem, e agrupadas de modo a facilitar o conhecimento e a análise da situação financeira da companhia. § 1º No ativo, as contas serão dispostas em ordem decrescente de grau de liquidez dos elementos nelas registrados, nos seguintes grupos: I – ativo circulante; e II – ativo não circulante, composto por ativo realizável a longo prazo, investimentos, imobilizado e intangível. § 2º No passivo, as contas serão classificadas nos seguintes grupos: LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 49 I – passivo circulante; II – passivo não circulante; e III – patrimônio líquido, dividido em capital social, reservas de capital, ajustes de avaliação patrimonial, reservas de lucros, ações em tesouraria e prejuízos acumulados. § 3º Os saldos devedores e credores que a companhia não tiver direito de compensar serão classificados separadamente (BRASIL, 1976, s.p.). Demonstração de lucros ou prejuízos acumulados A demonstração de lucros ou prejuízos acumulados é a demonstração contábil que tem por finalidade demonstrar ao usuário da informação o acumulado de lucros ou prejuízos daquela empresa em determinado período. A Lei nº 6.404/76 dispõe: Art. 186. A demonstração de lucros ou prejuízos acumulados discriminará: I – o saldo do início do período, os ajustes de exercícios anteriores e a correção monetária do saldo inicial; II – as reversões de reservas e o lucro líquido do exercício; III – as transferências para reservas, os dividendos, a parcela dos lucros incorporada ao capital e o saldo ao fim do período. § 1º Como ajustes de exercícios anteriores serão considerados apenas os decorrentes de efeitos da mudança de critério contábil, ou da retificação de erro imputável a determinado exercício anterior, e que não possam ser atribuídos a fatos subsequentes. § 2º A demonstração de lucros ou prejuízos acumulados deverá indicar o montante do dividendo por ação do capital social e poderá ser incluída na demonstração das mutações do patrimônio líquido, se elaborada e publicada pela companhia (BRASIL, 1976, s.p.). Demonstração do resultado do exercício A demonstração do resultado do exercício é a demonstração que evidencia as receitas e as despesas da empresa em determinado período, se a diferença entre elas gerou lucro ou prejuízo para a empresa e o quanto (e se foi) foi distribuído do lucro aos acionistas. Juntamente ao balanço patrimonial é uma das demonstrações contábeis mais completas e muito utilizadas (com outras informações) para entender a saúde financeira da empresa. A Lei nº 6.404/76 dispõe sobre a demonstração do resultado do exercício, conforme mostrado a seguir. LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 50 Art. 187. A demonstração do resultado do exercício discriminará: I – a receita bruta das vendas e serviços, as deduções das vendas, os abatimentos e os impostos; II – a receita líquida das vendas e serviços, o custo das mercadorias e serviços vendidos e o lucro bruto; III – as despesas com as vendas, as despesas financeiras, deduzidas das receitas, as despesas gerais e administrativas, e outras despesas operacionais; IV – o lucro ou prejuízo operacional, as outras receitas e as outras despesas; V – o resultado do exercício antes do Imposto sobre a Renda e a provisão para o imposto; VI – as participações de debêntures, empregados, administradores e partes beneficiárias, mesmo na forma de instrumentos financeiros, e de instituições ou fundos de assistência ou previdência de empregados, que não se caracterizem como despesa; VII – o lucro ou prejuízo líquido do exercício e o seu montante por ação do capital social. § 1º Na determinação do resultado do exercício serão computados: a) as receitas e os rendimentos ganhos no período, independentemente da sua realização em moeda; e b) os custos, despesas, encargos e perdas, pagos ou incorridos, correspondentes a essas receitas e rendimentos (BRASIL, 1976, s.p.). Demonstrações dos fluxos de caixa e do valor adicionado A demonstraçãodos fluxos de caixa é a demonstração que evidencia a movimentação no caixa da empresa. Ela permite ao usuário da informação entender os aspectos relacionados às atividades das operações (da empresa, relacionadas com a sua atividade-fim), as atividades de financiamento e dos investimentos, que uma empresa aérea, que vende uma passagem para um cliente que vai viajar daqui a três meses está trabalhando com receita antecipada, mas não complementa sua estrutura, pois antes do fato gerador se concretizar, efetivamente, a empresa não deve alocar o valor recebido como ativo, mas sim como obrigação. De acordo com a Lei nº 6.404/76: Art. 188. As demonstrações referidas nos incisos IV e V do caput do art. 176 desta Lei indicarão, no mínimo: LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 51 I – demonstração dos fluxos de caixa – as alterações ocorridas, durante o exercício, no saldo de caixa e equivalentes de caixa, segregando-se essas alterações em, no mínimo, 3 (três) fluxos: a) das operações; b) dos financiamentos; e c) dos investimentos; II – demonstração do valor adicionado – o valor da riqueza gerada pela companhia, a sua distribuição entre os elementos que contribuíram para a geração dessa riqueza, tais como empregados, financiadores, acionistas, governo e outros, bem como a parcela da riqueza não distribuída (BRASIL, 1976, s.p.). Notas explicativas As notas explicativas acompanham as demonstrações contábeis quando não é possível evidenciar informações nas demonstrações contábeis. Elas atuam como um informativo de políticas contábeis, valores que não podem ser provisionados com precisão e outros elementos importantes. Esses são os elementos que compõem a estrutura das demonstrações contábeis que as empresas são obrigadas a apresentar. ISTO ESTÁ NA REDE Link: https://www.youtube.com/watch?v=_GXtaqnnHKY No Brasil, a Lei n. 6.404/76 surgiu com o objetivo de oferecer diretrizes para a elaboração das demonstrações contábeis financeiras, porém sem ter o status de princípios contábeis. Somente com a resolução do CFC (Conselho Federal de Contabilidade) n. 750/93, o Brasil passou a adotar os Princípios Fundamentais de Contabilidade. https://www.youtube.com/watch?v=_GXtaqnnHKY LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 52 ANOTE ISSO Quanto à aplicação dos princípios de contabilidade, podemos dizer que são critérios obrigatórios a serem seguidos pelos profissionais de contabilidade, para que haja um padrão e entendimento por todos que se utilizam das informações contábeis. Em relação a esse entendimento, Ferreira (2014) nos dá um exemplo, no qual diz que se uma empresa adotasse o princípio da competência e outra o regime de caixa não teríamos como comparar os resultados entre as duas empresas, já que estariam completamente diferentes. Portanto, os princípios de contabilidade não são uma opção, mas, sim, uma obrigação na elaboração de qualquer peça contábil, sob pena de multa e de suspensão do exercício profissional. LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 53 CAPÍTULO 05 LEI 11.638/2007 1.0 INTRODUÇÃO Olá, estudante, as demonstrações contábeis têm por finalidade fornecer informações sobre a posição patrimonial e financeira e suas mudanças e fornecer informações sobre desempenho que possam ser úteis para um grande número de usuários nas suas tomadas de decisões. No entanto, por mais que as demonstrações contábeis tenham conteúdo informativo de grande relevância, somente as informações provenientes delas não são suficientes para os usuários, pois elas retratam informações financeiras passadas., 2.0 Aplicabilidade da Lei 11.638/2007 De acordo com o CPC 26 (2011, s.p.): As demonstrações contábeis são uma representação estruturada da posição patrimonial e financeira e do desempenho da entidade. O objetivo das demonstrações contábeis é proporcionar informação acerca da posição patrimonial e financeira, do desempenho e dos fluxos de caixa da entidade que seja útil a um grande número de usuários em suas avaliações e tomada de decisões econômicas. As demonstrações contábeis também objetivam apresentar os resultados da atuação da administração, em face de seus deveres e responsabilidades na gestão diligente dos recursos que lhe foram confiados. Ainda de acordo com o CPC 26 (2011), visando satisfazer o objetivo das demonstrações contábeis evidenciam informações sobre ativos, passivos, patrimônio líquido, receitas e despesas, incluindo ganhos e perdas, alterações no capital próprio mediante integralizações dos proprietários e distribuições a eles e fluxos de caixa. Essas informações, aliadas às que constam em notas explicativas, proporcionam ao usuário da informação predizer valores sobre fluxos de caixa futuros. A nova lei contábil, a Lei nº 11.638/2007 enquadrou o Brasil às novas normas contábeis, dessa forma, ela alterou a estrutura das demonstrações contábeis e LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 54 determinou novas obrigatoriedades com relação às demonstrações. Com isso, fica estabelecida a obrigatoriedade das demonstrações contábeis, e, como regra geral, o conjunto completo está previsto no item 10 da NBC TG 26 (R4), são elas: (a) balanço patrimonial ao final do período; (b)demonstração do resultado do período; (c) demonstração do resultado abrangente do período; (d)demonstração das mutações do patrimônio líquido do período; (e) demonstração dos fluxos de caixa do período; (f) demonstração do valor adicionado do período; (g) notas explicativas, compreendendo as políticas contábeis significativas e outras informações. A Lei nº 11.638/2007 ainda dispõe sobre a obrigatoriedade das demonstrações a cada enquadramento, uma vez que nem todas elas são obrigatórias a todos os enquadramentos de empresas. A seguir, veremos a quais empresas elas se aplicam. RESUMO DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS OBRIGATÓRIAS • ME e EPP PMEs Regra Geral • B.P Obrigatório Obrigatório Obrigatório • D.R Obrigatório Obrigatório Obrigatório • D.R.A Facultativa Obrigatório Obrigatório • D.M.P.L Facultativa Obrigatório Obrigatório • D.F.C Facultativa Obrigatório Obrigatório • D.V.A Facultativa Facultativa Obrigatório • N.E Facultativa Facultativa Obrigatório 1.1 BALANÇO PATRIMONIAL O balanço patrimonial é a demonstração contábil que apresenta a posição patrimonial e financeira de uma empresa em determinado momento. O que é representado nesta demonstração são valores estáticos e após o fechamento dessa demonstração é muito provável que os valores passarão a ser diferentes para compor o próximo balanço. De acordo com o CPC 00, a composição do balanço patrimonial se dá por três elementos: ativo, passivo e patrimônio líquido (já vimos o que é cada um no Capítulo 1). Cada um desses elementos é representado em contas, que são denominados LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 55 grupos, esses grupos são classificados em ordem decrescente de liquidez para o ativo e ordem decrescente de exigibilidade para o passivo (ASSAF NETO, 2012). Dentre os elementos que compõem o patrimônio (mais precisamente o ativo) e, consequentemente, o balanço patrimonial, temos as chamadas ‘propriedades para investimentos’, que são os terrenos mantidos para valorização a longo prazo, terrenos mantidos para uso no futuro, edifícios que sejam da entidade (desocupados ou não) e que estejam sob arrendamento e propriedade que esteja sendo construída para futura utilização. Esses elementos patrimoniais têm tratamento específico e são regulados pelo CPC 28, que objetiva estabelecer o tratamento contábil de propriedades para investimento e respectivos requisitos de divulgação. Por se tratar de patrimônio que é mantido para fins de valorização ou de geração de caixa, elessão enquadrados no subgrupo Investimentos dentro do balanço patrimonial. Logo mais essa estrutura ficará mais clara e você conseguirá identificar esses elementos na demonstração contábil. O balanço patrimonial é segregado em duas principais partes, imagine um quadrado em que há uma linha tracejada no meio em sentido vertical, na parte esquerda está representado o ativo, também chamado de aplicação dos recursos da empresa, e pode ser dividido em ativo circulante (caixa e equivalentes de caixa, valores a receber) e ativo não circulante, que é segregado no realizável a longo prazo, investimentos (lembra do CPC 28 que vimos anteriormente?), imobilizado e intangível. No lado direito, que é também chamado de origem dos recursos, são representados o passivo e o patrimônio líquido. O CPC 26 orienta sobre a apresentação das demonstrações contábeis, diretrizes para a estrutura e requisitos mínimos para o seu conteúdo. De acordo com o CPC 26 (2011, s.p.), “este Pronunciamento Técnico não prescreve a ordem ou o formato que deva ser utilizado na apresentação das contas do balanço patrimonial, mas a ordem legalmente instituída no Brasil deve ser observada”. Isso implica dizer que o item 54 do CPC 26 (2011) simplesmente lista os itens que são suficientemente diferentes na sua natureza ou função para assegurar uma apresentação individualizada no balanço patrimonial. Adicionalmente, o CPC 26 (2011, s.p.) em seu item 57, determina que “as contas do balanço patrimonial devem ser incluídas sempre que o tamanho, natureza ou função de um item ou agregação de itens similares apresentados separadamente seja relevante na compreensão da posição financeira da entidade”. LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 56 No passivo, estão as obrigações da empresa, que são a origem dos recursos aplicados, ou seja, os valores investidos no ativo. O passivo é classificado em passivo circulante e passivo não circulante. Por fim, no patrimônio líquido, estão dispostos os recursos próprios, ou seja, o capital dos sócios investidos na empresa e os lucros da empresa. A seguir, poderemos ver a estrutura básica do balanço patrimonial. BALANÇO PATRIMONIAL ATIVO R$ PASSIVO e PATRIMÔNIO LÍQUIDO CIRCULANTE CIRCULANTE NÃO CIRCULANTE NÃO CIRCULANTE Realizável a longo prazo PATRIMÔNIO LÍQUIDO Investimentos Imobilizado Intangível TOTAL ATIVO TOTAL PASSIVO Salienta-se que a estrutura demonstrada é a estrutura mais básica de um balanço patrimonial. O desdobramento dos subgrupos decorre das atividades das empresas, por exemplo, empresas que não possuem estoques não apresentarão no balanço patrimonial a conta estoque, como as empresas financeiras. Portanto, assim como o enquadramento de porte determina quais demonstrações contábeis são obrigatórias, com relação às contas que compõem o balanço patrimonial, serão desdobradas, considerando as suas atividades-fim. 1.2 DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO A demonstração do resultado do exercício visa fornecer os resultados auferidos pela empresa em determinado exercício social. O lucro (ou prejuízo) do período é resultante de receitas, custos e despesas incorridos pela empresa. Quando falamos em resultado das operações de uma entidade, devemos ter em mente o saldo final obtido por ela, ou seja, o lucro ou prejuízo alcançado por uma entidade após a realização de suas atividades principais e acessórias em um período, normalmente um exercício social (um ano). Para que cheguemos a esse resultado é preciso realizar uma série de adições e subtrações, operações que são apresentadas verticalmente por esse demonstrativo. Aprenderemos, então, a elaborar a Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) de uma entidade, passando por sua estrutura, principais contas que o compõem e a forma como elas estão dispostas e qual a finalidade dessa LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 57 disposição. Entenderemos ainda o processo de análise desse demonstrativo, de que maneira essa análise auxilia na tomada de decisão. De acordo com o CPC 30 (Resolução nº 1.187/2009), a receita é: Como aumento nos benefícios econômicos durante o período contábil sob a forma de entrada de recursos ou aumento de ativos ou diminuição de passivos que resultam em aumentos do patrimônio líquido da entidade e que não sejam provenientes de aporte de recursos dos proprietários da entidade. As receitas englobam tanto as receitas propriamente ditas como os ganhos. A receita surge no curso das atividades ordinárias da entidade e é designada por uma variedade de nomes, tais como vendas, honorários, juros, dividendos e royalties (CPC 30, 2009, s.p.). O CPC 30 (2009, s.p.) define: Receita – é o ingresso bruto de benefícios econômicos durante o período observado no curso das atividades ordinárias da entidade que resultam no aumento do seu patrimônio líquido, exceto os aumentos de patrimônio líquido relacionados às contribuições dos proprietários. Valor justo – é o preço que seria recebido pela venda de um ativo ou que seria pago pela transferência de um passivo em uma transação ordenada entre participantes do mercado na data de mensuração. A Demonstração do Resultado do Exercício é, juntamente ao Balanço Patrimonial, a demonstração contábil que dá origem a todas as outras demonstrações de uma empresa. Ela tem o poder de evidenciar a situação econômica de uma entidade, ou seja, se ela gera lucro ou prejuízo em suas atividades operacionais, além de direcionar os gestores na definição de possíveis estratégias futuras de vendas. No Brasil, a regra é que todas as empresas sejam obrigadas a elaborar a DRE e enviá-la, no mínimo, para os órgãos governamentais para fins de controle tributário. Entretanto, há outros requisitos que fazem com que a elaboração dela seja obrigatória. Como não é apenas a lei societária que deve ser seguida pelas empresas, e nem todas são definidas como sociedades anônimas, as empresas constituídas com outras formas em seus capitais sociais também têm a obrigação da DRE. O CPC 30 (2009, s.p.) esclarece que a receita “deve ser mensurada pelo valor justo da contraprestação recebida ou a receber”. DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO DO EXERCÍCIO VENDAS DE MERCADORIAS, PRODUTOS E SERVIÇOS R$ LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 58 Vendas de Mercadorias Vendas de Produtos Vendas de Serviços (-) Deduções com Impostos, Devoluções e Descontos Incondicionais = RECEITA LÍQUIDA (-) CUSTO DAS VENDAS Custo das Mercadorias Vendidas Custo dos Produtos Vendidos Custo dos Serviços Prestados = LUCRO BRUTO (-) DESPESAS OPERACIONAIS Despesas com Pessoal Despesas Administrativas Despesas de Vendas Despesas Tributárias Depreciação e Amortização Perdas Diversas (+/-) RESULTADO FINANCEIRO Receitas Financeiras (-) Despesas Financeiras (+) OUTRAS RECEITAS 55 Capítulo 2 (-) OUTRAS DESPESAS = RESULTADO ANTES DAS DESPESAS COM TRIBUTOS SOBRE O LUCRO (*) (-) Despesa com Imposto de Renda da Pessoa Jurídica VENDAS DE MERCADORIAS, PRODUTOS E SERVIÇOS Vendas de Mercadorias Vendas de Produtos Vendas de Serviços (-) Deduções com Impostos, Devoluções e LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 59 Descontos Incondicionais = RECEITA LÍQUIDA (-) CUSTO DAS VENDAS Custo das Mercadorias Vendidas Custo dos Produtos Vendidos Custo dos Serviços Prestados = LUCRO BRUTO (-) DESPESAS OPERACIONAIS Despesas com Pessoal Despesas Administrativas Despesas de Vendas Despesas Tributárias Depreciação e Amortização Perdas Diversas (+/-) RESULTADO FINANCEIRO Receitas Financeiras (-) Despesas Financeiras (+) OUTRAS RECEITAS (-) OUTRAS DESPESAS = RESULTADO ANTES DAS DESPESAS COM TRIBUTOS SOBRE O LUCRO (*) (-) Despesa com Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (-) Despesa com Contribuição Social = RESULTADO LÍQUIDO DO EXERCÍCIO De acordo com Almeida (2014), as receitas representamentradas brutas de benefícios econômicos durante o ano, que resultam em aumento do lucro do exercício ou redução do prejuízo do exercício da entidade e consequente e acréscimo do seu patrimônio líquido, exceto os aumentos de patrimônio líquido relacionados às contribuições dos proprietários. Contribuições dos proprietários ou dos sócios para aumento do capital social da entidade são acréscimos do patrimônio líquido da entidade que não representam receitas. • Receita bruta das vendas de mercadorias, prestação de serviços ou ambas: somatório de todas as notas de venda, ou prestação de serviço, de um período; corresponde ao valor bruto das receitas. LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 60 • Receita das vendas de bens do ativo permanente: valor recebido pela venda de itens do ativo permanente que exceder o valor contábil (valor pelo qual o item está registrado na contabilidade, ou seja, valor de aquisição menos depreciação acumulada dele). Exemplo: uma mesa registrada na contabilidade por R$ 100,00, sendo R$ 300,00 seu valor de compra menos depreciação acumulada de R$ 200,00, é vendida por R$ 150,00. Assim, a receita de venda desse ativo será R$ 50,00. • Rendimento das aplicações financeiras: juros e encargos recebidos pelas aplicações e investimentos realizados junto a uma instituição financeira; são chamados de receitas financeiras. • Resultado (positivo) da equivalência patrimonial: atualiza o valor do investimento realizado em outra entidade, quando o ajuste for positivo. • Aluguéis recebidos: valores recebidos por aluguel de imobilizados (quando esta não for a atividade principal da entidade). • Descontos obtidos: descontos obtidos em duplicatas a pagar geram uma diminuição no passivo da entidade e têm como contrapartida uma conta de receita, pois reduz os valores a serem pagos pela entidade; são chamados de receitas financeiras. • Doações e subvenções: valores referentes a doações, sejam em espécie (dinheiro), sejam por meio de outros ativos, como veículos, máquinas etc., bem como valores recebidos de subsídios e incentivos, podendo ser advindos do governo. • Receita das vendas de sucatas da produção: venda de rebarbas e sobras da produção. Exemplo: uma estamparia tem como matéria-prima uma barra de alumínio; após estampar suas peças, os restos dessa barra são vendidos e o recebimento da venda é considerado receita de venda de sucatas. Um assunto bem completo dentro da contabilidade é a mensuração e a divulgação da receita. De acordo com Almeida (2014), a complexidade está no sentido de que, dependendo do segmento de negócio que a sociedade atua, será exigido um alto grau de julgamento pela administração da entidade. O fato é que a receita reconhecida terá impacto nos impostos que serão pagos pela empresa, nos dividendos que serão pagos e também o quanto irá compor o patrimônio da empresa. LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 61 CPC 47 – Receita de contrato com cliente. A conta “venda de mercadorias, produtos e serviços” é a receita bruta proveniente das atividades da empresa com a venda à vista e a prazo em determinado período. Da soma do total de mercadorias, produtos e serviços vendidos são deduzidos valores de devoluções ou cancelamentos de vendas, descontos e abatimentos e impostos sobre vendas ou serviços (ICMS, ISS, PIS e COFINS), o resultado é o valor da venda líquida. O custo das vendas é o resultado do valor do estoque inicial do período + as compras do período - o valor do estoque final. CMV E I CEF No resultado financeiro é utilizado o valor da diferença entre despesas bancárias pagas, variação monetária passiva e de receitas financeiras (juro ativo, descontos obtidos, juros recebidos, variação monetária e cambial ativa). Nas despesas operacionais, constam as despesas com pessoal da produção, escritórios, despesas com as vendas de mercadorias, como marketing e fretes. Após é apurado o lucro do período e calculados os impostos referentes ao lucro da empresa, como Imposto de Renda e contribuição social. Após deduzidos os valores dos impostos é que é obtido o lucro líquido do período e então a gestão da empresa decidirá onde o lucro será aplicado, a parte que será distribuída aos acionistas, o que irá compor as reservas e o que será reinvestido na empresa. 1.3 DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO ABRANGENTE A demonstração do resultado abrangente tem por finalidade mostrar informações que não são apresentadas na demonstração do resultado. Nela, soma-se o resultado do período evidenciado na demonstração do período e outros resultados. Apesar de não fazer parte da legislação societária (Lei nº 6.404/76), a DRA foi inserida no CPC 26 como um relatório que deve fazer parte do conjunto de demonstrações das empresas pelo seu conteúdo informacional e pelo impacto que os resultados abrangentes tem no resultado líquido do período. Se observarmos a expressão “resultado líquido”, de cara lembramos da Demonstração do Resultado do Exercício (DRE), que apresenta a confrontação entre receitas e despesas, gerando como resultado o lucro ou prejuízo do exercício, porém, cabe lembrar que o patrimônio líquido de uma entidade não é afetado apenas pelo resultado líquido de cada período, mas sim por um conjunto de resultados que não aparecem na DRE. Um exemplo disso é o Ajuste LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 62 de Avaliação Patrimonial, que surge por conta da reavaliação de algum ativo a valor justo. Este é um resultado que afeta o Patrimônio Líquido das entidades, porém não aparece na DRE. De agora em diante, daremos a esse tipo de resultado a nomenclatura de outros resultados abrangentes. Devem contar os seguintes tópicos da DRA: • Resultado líquido do período. • Itens do resultado abrangente (de acordo com a natureza). • Equivalência patrimonial. • Resultado total. São considerados resultados abrangentes: ajuste de avaliação patrimonial, variações das reservas de reavaliação e ganhos ou perdas, derivados na conversão de demonstração de operações no exterior. Outros valores que também integram a Demonstração do Resultado Abrangente constam no CPC 26. Todos os itens de receitas e despesas que se referem a eventos ocorridos em determinado período, devem ser reconhecidos contabilmente nesse mesmo período. Nesse caso, o resultado líquido da DRE é aquele informado na última linha desse relatório e representa a diferença entre receitas e despesas. Já na DRA, a última linha indicará o resultado do exercício ajustado por eventuais eventos que serão estudados nos tópicos seguintes, os quais denominamos de resultados abrangentes. Originalmente, a DRA deveria ser um relatório que representaria uma continuação da DRE, ou seja, pelo conteúdo da norma contábil que trata do assunto (NBC T 26) e do pronunciamento contábil (CPC 26), teríamos um único relatório que expressasse o resultado do empreendimento. Isso porque, conforme o teor das normas aqui indicadas, a demonstração do resultado e outros resultados abrangentes (que é o conteúdo da DRA) devem apresentar, além das seções da demonstração do resultado e de outros resultados abrangentes: (a) o total do resultado (do período), apurado e informado na DRE; (b) o total de outros resultados abrangentes; e (c) o resultado abrangente do período, sendo o total do resultado e de outros resultados abrangentes. DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO ABRANGENTE = RESULTADO LÍQUIDO DO EXERCÍCIO (+/-) diferenças de câmbio na conversão de operações no exterior LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 63 (+/-) resultado líquido sobre ativos financeiros disponíveis para venda (+/-) parcela de outros resultados abrangentes de coligadas (+/-) ajustes de exercícios anteriores (=) resultado abrangente total do exercício 1.4 DEMONSTRAÇÃODAS MUTAÇÕES DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO – DMPL Essa é a demonstração que tem por objetivo apresentar todas as mudanças que ocorreram nas contas que compõem o patrimônio líquido em determinado período. De acordo com Montoto (2011), a DMPL tem por objetivo apresentar os lançamentos de credores e devedores na conta Lucros ou Prejuízos acumulados, que é uma das contas do patrimônio líquido. Na DMPL, entendemos o acúmulo e a destinação dos lucros em determinado período ou o tratamento dos prejuízos, caso estes tenham ocorrido. A DMPL pode substituir a obrigatoriedade de elaboração e apresentação da DLPA, mas como pode um demonstrativo substituir a exigência de outro? A resposta é simples! A DMPL é bem mais ampla, pois demonstra todas as variações (mutações) ocorridas no Patrimônio Líquido da entidade. Por outro lado, a DLPA se restringe a explicar as variações ocorridas na conta de Lucros ou Prejuízos acumulados. Entretanto, depois das alterações que ocorreram na Lei das Sociedades Anônimas, em 2007, causadas pela promulgação da Lei nº 11.638/07, a conta de Lucros Acumulados não pôde mais continuar a receber valores (BRASIL, 2007). Ao invés de acumular valores ao longo de períodos, os saldos de Lucros precisam de uma destinação. Dessa forma, a DLPA passou a ter como principal função o cálculo das reservas e de dividendos do período, entre outros itens obrigatórios. A conta de Lucro do exercício ainda existe, sendo essa devidamente distribuída no período e, caso a empresa tenha prejuízo, ou prejuízos acumulados, estes podem figurar no patrimônio líquido normalmente. De acordo com o CPC 26 (2011), para cada componente do patrimônio líquido, a entidade deve apresentar, ou na demonstração das mutações do patrimônio líquido ou nas notas explicativas, uma análise dos outros resultados abrangentes por item. DEMONSTRAÇÃO DAS MUTAÇÕES DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO Capital Social Integralizado Reserva de Capital Reservas de Lucros LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 64 Lucros ou Prejuízos Acumulados Outros Resultados Abrangentes Patrimônio Líquido Consolidado Saldos Iniciais X 0 Aumento de Capital Ações em Tesouraria Adquiridas Ações em Tesouraria Vendidas Dividendos Transações de Capital com os Sócios Ajustes de Instrumentos Financeiros Equiv. Patrim. s/Ganhos Abrang. De Coligadas Ajustes de Conversão do Período Outros Resultados Abrangentes Ajustes de Instrum. Financ. Reclassifica-o p/ Resultado Realização da Reserva Reavaliação Tributos sobre a Realização da Reserva de Reavaliação Reclassificações de Resultados Abrangentes Lucro Líquido do Período Constituição de Reservas Saldos LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 65 1.5 DEMONSTRAÇÃO DOS FLUXOS DE CAIXA – DFC A demonstração do fluxo de caixa é a demonstração contábil que mostra as variações ocorridas no caixa da empresa em determinado período, e quando se retrata do ponto de vista contábil sobre adiantamento, podemos citar, que o adiantamento ocorre, pois há pagamento de valor prévio que difere do fato gerador. Essa demonstração permite o controle das receitas e despesas e demonstra as origens das mudanças nos saldos de caixa. De acordo com Montoto (2011), o usuário da informação precisa entender se o caixa se alterou em função da atividade principal (operacional), se a alteração foi em função da venda de um imóvel (investimento)ou, ainda, se o caixa melhorou porque foi feito um empréstimo (financiamento). A DFC é uma demonstração obrigatória, por força de Lei, para as sociedades anônimas de capital aberto, e também para aquelas com Patrimônio Líquido superior a R$ 2.000.000,00 na data de encerramento do balanço patrimonial. As Pequenas e Médias Empresas (PMEs) também devem observar a sua elaboração segundo a NBC TG 1000, pelo menos de forma anual, conforme informa a norma. Empresas de Pequeno Porte não são obrigadas a elaborar a DFC, porém, as empresas que querem compreender aspectos relativos aos seus fluxos de caixa, podem elaborar e analisar essa demonstração de forma voluntária. A Resolução CFC nº 1.296/10 aprovou a NBC TG 03, que dispõe sobre o fluxo de caixa. De acordo com a norma, informações sobre o fluxo de caixa de uma entidade são úteis para proporcionar aos usuários das demonstrações contábeis uma base para avaliar a capacidade de a entidade gerar caixa e equivalentes de caixa, bem como as necessidades da entidade de utilização desses fluxos de caixa. A conta caixa para a DFC é a soma de dinheiro em caixa, bancos e aplicações com liquidez imediata, como no caso as despesas pagas antecipadas: • Prêmios de seguros pois serve como proteção para o ano seguinte. • Comissões comerciais são relativas aos benefícios ainda não usufruídos. • IPVA reflete na legalização do veículo para o próximo ano. . O método indireto é diferente do método direto porque sua elaboração começa a partir do resultado final da DRE, ou seja, com o resultado que deverá ser ajustado com itens como a depreciação ou a amortização. Essas contas são ajustadas porque impactam o resultado econômico da entidade, sem afetar, no entanto, o caixa, onde as contas retificadoras, do ativo serve para ajustar o saldo de uma conta principal. LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 66 Podemos usar como exemplo a Depreciação de máquinas e equipamentos. O que ela representa? Representa uma desvalorização do valor do bem em face do seu uso ou obsolescência. Lembramos que essa depreciação é contabilizada como uma despesa, afetando diretamente o resultado da entidade. Você já parou para pensar se ela diminui o resultado financeiro da empresa? Se observarmos bem, a depreciação é uma despesa não financeira, pois ela não gera nenhum tipo de desembolso financeiro, ou seja, apesar de afetar o resultado econômico da entidade, a depreciação não gera nenhum desembolso de dinheiro. São esses ajustes que precisam ser feitos no valor do Resultado da DRE para que possamos chegar à Demonstração de Fluxos de Caixa feita pelo método indireto. O CPC 03, que orienta sobre os fluxos de caixa, estabelece que na demonstração dos fluxos de caixa as devidas alterações ocorridas, durante o exercício, no saldo de caixa e equivalentes de caixa e as informações sobre os fluxos de caixa, devem ser segregadas da seguinte maneira: a) Das operações. b) Dos financiamentos. c) Dos investimentos. Saiba Mais Projeto de unificação da Estrutura Conceitual da Contabilidade (ECC) Em 2002, IASB e FASB iniciaram o processo de convergência de sua ECC e normas contábeis com a assinatura da carta de intenções, intitulada Norwalk Agreement e, em 2004, se formalizou o projeto de unificação da ECC de ambos os órgãos (framework project). A adoção de uma única ECC pelo FASB e pelo IASB favorece todo o processo de convergência, pois torna os pronunciamentos contábeis específicos mais consistentes, alinha o entendimento individual de seus membros e, consequentemente, gera informações mais úteis. Sem a orientação fornecida por uma estrutura acordada, a configuração padrão acaba sendo baseada nos conceitos individuais desenvolvidos por cada membro do órgão de configuração. [...] Essa preocupação não é meramente hipotética: dificuldades substanciais para chegar a um acordo em seus primeiros projetos de normas foram um dos principais motivos pelos quais os membros do FASB decidiram dedicar esforços substanciais para desenvolver uma estrutura conceitual (BULLEN; CROOK, 2005, p. 1-2). Para facilitar a elaboração de uma ECC unificada por IASB/ FASB, seu conteúdo foi separado em módulos para melhor discussão pública inicial do tema, elaboração LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 67 da minuta unificada e posterior aprovação, como segue: a) objetivos e atributos de relatórios contábil-financeiros;b) definição de entidade relatante; c) elementos contábeis; d) critérios de reconhecimento e mensuração; e) escopo da apresentação e disclosure de relatórios contábil-financeiros; f) propósito da estrutura conceitual; e g) entidades não lucrativas. Conforme o SFAC 8, emitido em setembro de 2010, o Conceptual Framework for Financial Reporting contempla, por enquanto, apenas dois capítulos/módulos da convergência: Capítulo 1: O objetivo dos relatórios financeiros de uso geral; Capítulo 2: Características qualitativas dos relatórios financeiros úteis. O módulo sobre objetivos e atributos de relatórios contábil-financeiros foi finalizado em setembro de 2010, com a emissão unificada intitulada SFAC nº 8 pelo FASB e Conceptual Framework for Financial Reporting – CFFR pelo IASB, substituindo os SFACs 1 e 2 e dois capítulos do Framework. A definição de entidade relatando, as discussões sobre (des)reconhecimento e mensuração, o escopo da divulgação e apresentação do desempenho financeiro, o propósito da estrutura conceitual e entidades não lucrativas estão em fase de discussão pública, Exposure Draft – ED/2015/3, e atualmente figura com o status ‘finalizando atualização’, para posterior publicação. Também, especificamente, estão em discussão nesse draft alguns pontos, cujo objetivo é melhorar a ECC anterior, como: informações necessárias para que os relatórios financeiros atinjam seus objetivos, conceitos de prudência e essência sobre a forma, esclarecimentos sobre o efeito do nível de incerteza na mensuração e relevância das informações, definição clara e melhor fundamentada de ativo e passivo (esclarece o conceito e/ou função de probabilidade), esclarecimento sobre decisões de reconhecimento e mensuração que geram informações relevantes sobre o desempenho e posição financeira. Sobre a hierarquia da ECC, IASB/FASB já decidiram contra o entendimento brasileiro que a coloca num status acima das normas específicas. Há indícios de que a posição radical do FASB, apenas a de orientar a elaboração de seus pronunciamentos, deve ser abandonada com a ECC unificada (IASB, 2008a; CFC, 2010). Os conselhos não chegaram a uma conclusão comum sobre o status autoritário da estrutura conceitual comum; no entanto, ambos decidiram que a estrutura conceitual comum não terá o mesmo status que as normas de relatórios financeiros. Para fins de comentários sobre este rascunho de exposição e sobre outros documentos de discussão e rascunhos de exposição publicados pelos conselhos durante sua estrutura LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 68 conceitual conjunta, os entrevistados devem assumir que o status autoritário da estrutura será elevado na hierarquia do US GAAP para ser comparável ao status da estrutura em IFRSs (IASB, 2008a, itens P14 e P16). Pelo exposto, a ECC tende a integrar o conjunto de arcabouços teóricos autorizativos do IASB e do FASB. Objetivos da informação contábil financeira Anteriormente, IASB e FASB indicavam objetivos diferentes para a contabilidade. No SFAC nº 1 (1978), item 34, o FASB focava um usuário (provedor de capital, presente e futuro) e um objetivo (auxiliar a decisão de alocar recurso). Já o IASB, no framework, item 12, era mais genérico e admitia um grande número de usuários das informações contábeis-financeiras e não especificava nenhum tipo especial de decisão. No Brasil, o CPC replicou a definição genérica do IASB, enquanto a Resolução CFC 1.282/2010 (extinta), foi omissa sobre o assunto. Atualmente, IASB/FASB já unificaram seus entendimentos sobre o objetivo das informações de relatório contábil-financeiro e decidiram preservar a posição anterior do FASB: o foco em um único usuário e em uma decisão apenas. Além disso, destaca-se a importância e a necessidade de o usuário ter acesso (informação pública) ao fluxo de caixa futuro da empresa. O objetivo do relatório financeiro de propósito geral é fornecer informações financeiras sobre a entidade que reporta, que são úteis para investidores, credores e credores existentes e em potencial na tomada de decisões sobre o fornecimento de recursos à entidade, onde A conta clientes pertence ao ativo circulante e por isso apresenta saldo devedor, além disso é um direito que a empresa tem. A conta de Adiantamento de Clientes, surge da necessidade de a empresa adiantar recursos, por isso, ela é considerada de natureza credora pois pertence ao passivo e representa uma obrigação da empresa para com o cliente. Essas decisões envolvem a compra, a venda ou a manutenção de instrumentos de patrimônio e dívida e a concessão ou liquidação de empréstimos e outras formas de crédito. […] Consequentemente, investidores, credores e outros credores existentes e potenciais precisam de informações para ajudá-los a avaliar as perspectivas de futuras entradas líquidas de caixa para uma entidade (SFAC nº 8, 2010, itens OB2 e OB3). Essa decisão conjunta IASB/FASB afeta diretamente o antigo dilema sobre custo histórico ou valor corrente como base de mensuração patrimonial. Como o objetivo é acessar o fluxo de caixa futuro, a abordagem do custo como base de mensuração perde importância para as estimativas de valor corrente. LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 69 Essa é a primeira característica da nova ECC, que cria condições e favorece a adoção do valor justo (preço corrente). A segunda característica se alinha no foco ao mercado de capitais, que favorece os usuários que têm ou que possam vir a ter potencial de alocação de recursos para a empresa. As responsabilidades do Conselho e do IASB exigem que eles se concentrem nas necessidades dos participantes no mercado de capitais, que incluem não apenas investidores existentes, mas também investidores em potencial e credores existentes e potenciais e outros credores (SFAC nº 8, 2010, item BC1.16b). Assim, a adoção do valor justo passa a ser preponderante para os objetivos estabelecidos para a nova ECC. 1.6 DEMONSTRAÇÃO DO VALOR ADICIONADO – DVA A demonstração do valor adicionado, de acordo com a Lei nº 6.404/76, “é a demonstração que evidencia o valor da riqueza gerada pela companhia, a sua distribuição entre os elementos que contribuíram para a geração dessa riqueza, tais como empregados, financiadores, acionistas, governo e outros, bem como a parcela da riqueza não distribuída” (BRASIL, 1976, s.p.). De acordo com o CPC 09 (2008, s.p.), que trata da DVA, ela é de importância social, uma vez que: Está fundamentada em conceitos macroeconômicos, buscando apresentar, eliminados os valores que representam dupla contagem, a parcela de contribuição que a entidade tem na formação do Produto Interno Bruto (PIB). Essa demonstração apresenta o quanto a entidade agrega de valor aos insumos adquiridos de terceiros e que são vendidos ou consumidos durante determinado período. Ainda, conforme o CPC 09 (2008, s.p.), “para os investidores e outros usuários, essa demonstração proporciona o conhecimento de informações de natureza econômica e social e oferece a possibilidade de melhor avaliação das atividades da entidade dentro da sociedade na qual está inserida”. A Demonstração do Valor Adicionado (DVA) tem sua previsão legal expressa no art. 176, inciso V, da Lei nº 6.404/1976, e é obrigatória para as companhias abertas (BRASIL, 1976). Ela foi incluída entre as demonstrações de publicação obrigatória pela Lei nº 11.638/2007 (BRASIL, 2007). Além de regulamentada pela Lei societária, a DCA tem suas características preconizadas pelo pronunciamento contábil CPC 09 (2008), que define os critérios para elaboração e apresentação da Demonstração de Valor Adicionado, sendo um dos elementos componentes do Balanço Social. Conforme o LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 70 próprio pronunciamento orienta, o objetivo da DVA é evidenciar a riqueza criadapela entidade e sua distribuição, durante determinado período (CPC 09, 2008). É esse demonstrativo e suas particularidades que trataremos neste capítulo. Perpassaremos por suas finalidades e estrutura e compreenderemos como é montada, ou seja, o valor adicionado é a receita gerada menos os insumos para gerá-la. Vejamos um exemplo de DVA. . EXEMPLO DE DVA Ano X Ano Y 1 - Ingressos e Receitas Ingressos / Receita Bruta dos Serviços Prestados Outros Ingressos / Receitas 2 - Insumos Adquiridos Custos de Mercadorias e Serviços Prestados Material, Energia e Serviços de Terceiros Outras (especificar) 3 - Valor Adicionado Bruto (1-2) 4 - Depreciação e Amortização 5 - Valor Adicionado Líquido (3-4) 6 - Valor Adicionado Transferido Resultado de Equivalência Patrimonial Receitas Financeiras Outras 7 - Valor Adicionado a Distribuir (5+6) 8 - Distribuição do Valor Adicionado 8.1) Pessoal (Empregados) Salários e Encargos (exceto INSS) Remuneração Diretores e Conselheiros Participações de Empregados no Resultado 8.2) Impostos, Taxas e Contribuições Federais Estaduais Municipais 8.3) Remuneração do Capital de Terceiros Encargos Financeiros Aluguéis Outros LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 71 8.4) Remuneração do Capital Próprio Juros s/ o Capital Próprio 8.5) Resultado Líquido 8.6) Reversão de Reservas 8.7) Resultado Líquido Ajustado 1.7 NOTAS EXPLICATIVAS De acordo com o CPC 26 (R1) – Apresentação das demonstrações contábeis: As notas explicativas contêm informação adicional em relação à apresentada nas demonstrações contábeis. As notas explicativas oferecem descrições narrativas ou segregações e aberturas de itens divulgados nessas demonstrações e informação acerca de itens que não se enquadram nos critérios de reconhecimento nas demonstrações contábeis (CPC 26, 2011, s.p.). Na DVA, o item relacionado com o pessoal corresponde à parcela de riqueza distribuída aos colaboradores da companhia. Se traçarmos um paralelo com a DRE, este valor está relacionado com o custo do produto, ou ainda como despesa, dependendo da ligação ou não com a produção, e no caso das contas retificadores, a conta capital a integralizar do patrimônio líquido serve para ajustar a integralização de patrimônio quando feita em parcelas, pois a natureza devedora da conta capital a integralizar permite ajustes entre o capital subscrito e o realizado. (IUDÍCUBUS et al., 2010). Dentro dessa categoria, encontram-se os seguintes itens: • Remuneração direta: aqui, entram valores ligados a salários, décimos terceiros, férias e todas as possíveis somas relacionadas a pagamentos, não incluindo impostos. • Benefícios: assistência médica, alimentação e transporte, planos de aposentadoria, entre outros. • FGTS: fundo de garantia depositado para os empregados. Impostos, taxas e contribuições: impostos sobre o lucro, INSS, impostos municipais e outros impostos incidentes sobre a atividade empresarial deverão entrar nesta categoria. O CPC 26 (R1) é que orienta sobre a estrutura e o conteúdo das notas explicativas. De acordo com esse CPC, elas devem: LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 72 (a) apresentar informação acerca da base para a elaboração das demonstrações contábeis e das políticas contábeis específicas utilizadas, de acordo com os itens 117 a 124; (b) divulgar a informação requerida pelos Pronunciamentos Técnicos, Orientações e Interpretações do CPC que não tenha sido apresentada nas demonstrações contábeis; e (c) prover informação adicional que não tenha sido apresentada nas demonstrações contábeis, mas que seja relevante para sua compreensão (CPC 26, 2011, s.p.). Item 113. As notas explicativas devem ser apresentadas, tanto quanto seja praticável, de forma sistemática. Na determinação de forma sistemática, a entidade deve considerar os efeitos sobre a compreensibilidade e comparabilidade das suas demonstrações contábeis. Cada item das demonstrações contábeis deve ter referência cruzada com a respectiva informação apresentada nas notas explicativas (CPC 26, 2011, s.p.). Entre os itens que devem constar, estão a descrição de critérios de avaliação dos elementos patrimoniais e de práticas utilizadas, como aquelas para depreciação, por exemplo, ajustes de exercícios anteriores, detalhamento de dívidas de longo prazo, investimentos em outras empresas, eventos subsequentes ao fechamento da data do balanço, entre outros. A Lei nº 11.941/2009 acrescentou o parágrafo 5º ao art. 176 da Lei das Sociedades por Ações, dispondo que as Notas Explicativas devem: I. apresentar informações sobre a base de preparação das demonstrações financeiras e das práticas contábeis específicas selecionadas e aplicadas para negócios e eventos significativos; II. divulgar as informações exigidas pelas práticas contábeis adotadas no Brasil que não estejam apresentadas em nenhuma outra parte das demonstrações financeiras; III. fornecer informações adicionais não indicadas nas próprias demonstrações financeiras e consideradas necessárias para uma apresentação adequada; e IV. indicar: e) os principais critérios de avaliação dos elementos patrimoniais, especialmente estoques, dos cálculos de depreciação, amortização e exaustão, de constituição de provisões para encargos ou riscos, e dos ajustes para atender a perdas prováveis na realização de elementos do ativo; LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 73 f) os investimentos em outras sociedades, quando relevantes (art. 247, parágrafo único); g) o aumento de valor de elementos do ativo resultante de novas avaliações (art. 182, § 3º); d) os ônus reais constituídos sobre elementos do ativo, as garantias prestadas a terceiros e outras responsabilidades eventuais ou contingentes; h) a taxa de juros, as datas de vencimento e as garantias das obrigações a longo prazo; i) o número, espécies e classes das ações do capital social; g) as opções de compra de ações outorgadas e exercidas no exercício; j) os ajustes de exercícios anteriores (art. 186, § 1º); e i) os eventos subsequentes à data de encerramento do exercício que tenham, ou possam vir a ter, efeito relevante sobre a situação financeira e os resultados futuros da companhia (BRASIL, 1976, s.p.). Divulgação é um conceito genérico da Contabilidade sobre a informação contábil financeira diferenciada transmitida pela entidade para os vários tipos de usuários (IUDÍCIBUS, 2010). O foco central da divulgação está associado à representação fidedigna, ou seja, esse propósito é obtido através da conformidade das divulgações com os Pronunciamentos Técnicos, Interpretações e Orientações do CPC aplicáveis a fim de não tornar as demonstrações contábeis enganosas. Uma divulgação em conformidade com tais requerimentos significa uma informação contábil-financeira com o objetivo de apresentar a substância econômica da transação ou evento que se pretende representar (“essência sobre a forma”). Assim, a divulgação não estaria evidenciando informações contábil-financeiras enganosas aos seus usuários. As demonstrações contábeis, pelo meio das quais se dá a veiculação de informação contábil-financeira, são um conjunto de demonstrativos que inclui: balanço patrimonial; demonstração do resultado e do resultado abrangente; demonstração das mutações do patrimônio líquido; demonstração do fluxo de caixa; demonstração do valor adicionado (no ambiente Brasileiro); e notas explicativas. Para Hendriksen e Michael F. (1999), as notas explicativas fornecem informações que não podem ser apresentadas adequadamente no corpo de uma demonstração sem reduzir a sua clareza e não devem ser usadas como substituto de classificação, avaliação e descrição apropriadas às demonstrações, tampouco devem contradizer ou repetir informações já contidas. LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADEcria a Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Esse artigo autorizou a CVM, o Banco Central do Brasil e outras agências e órgãos reguladores a celebrar convênio com entidade que tenha por objeto o estudo e LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 9 a divulgação de princípios, normas e padrões de contabilidade e de auditoria, podendo, no exercício de suas atribuições, adotar os pronunciamentos e demais orientações técnicas emitidas. O parágrafo único desse artigo complementa que essa entidade deve ser composta, em sua maioria, por contadores e representantes da CVM, de sociedades que auditam e analisam as demonstrações contábeis, do Conselho Federal de Contabilidade (CFC) e, ainda, de universidade ou instituto de pesquisa com atuação reconhecida no setor contábil e de mercado de capitais. Entre a introdução do Projeto de Lei nº 3.741/00, Brasil (2000), e a sua conversão na Lei nº 11.638/07, Brasil (2007), o CFC, em 7 de outubro de 2005, aprovou a resolução CFC nº 1.055/05, Conselho Federal de Contabilidade (2005), e criou o Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC). O CPC tem como objetivo o estudo, o preparo e a emissão de documentos técnicos sobre procedimentos de contabilidade, além da divulgação de informações dessa natureza para permitir a emissão de normas pela entidade reguladora brasileira. Ele visa à centralização e à uniformização do processo de produção, levando em conta a convergência da contabilidade brasileira aos padrões internacionais. Assim, quando a Lei entrou em vigor, o CPC já trabalhava em prol da convergência das normas contábeis brasileiras aos padrões internacionais e da centralização na criação dessas normas. O CPC também assegurava a representação e os processos democráticos na geração das informações contábeis. Desde 2008, esse órgão contribui com pronunciamentos, interpretações de normas, orientações e revisões de regras. Isso faz com que a contabilidade brasileira, além de convergir para os padrões contábeis internacionais, seja adequada à nossa realidade e atualizada constantemente. É importante destacar que todos os documentos emitidos pelo CPC são enviados aos órgãos reguladores, que decidem por acatar ou não, no todo ou em parte, seu conteúdo. Esse novo modelo contábil abandonou a velha contabilidade, voltada para fins fiscais, e ressuscitou a verdadeira função da contabilidade: fornecer informações fidedignas aos usuários dos dados contábeis. Assim, tanto as regras contidas na Lei nº 11.638/07, Brasil (2007), quanto as normas emitidas pelo CFC, passaram a dar preferência pela essência do fato em detrimento à forma como ele foi materializado, o que constitui a primazia da essência sobre a forma. Desde então, a contabilidade vem desapegando da cultura enraizada de que suas informações são utilizadas, principalmente, para atender ao fisco. Agora, apesar de ainda ser atendido, o fisco não é mais o primeiro a LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 10 se beneficiar das informações contábeis. Quando há conflito entre regras contábeis e fiscais, utiliza-se a regra contábil e realiza-se o devido ajuste em livro próprio fiscal, como no e-LALUR. Com esse novo padrão contábil, várias regras de contabilização, vigentes até então, começaram a ser revisadas e alteradas para atender ao renascimento da informação contábil no Brasil. A visão contábil passou a possibilitar a análise dos fatos contábeis sob a ótica de princípios e deixou de ser uma interpretação puramente literal ou legal. Contudo, como o projeto da Lei nº 11.638/07, Brasil (2007), levou anos para ser aprovado, durante esse período surgiram novas necessidades de adequação. Assim, a Lei nº 11.941/09, Brasil (2015), também alterou dispositivos da Lei nº 6.404/76, Brasil (2020b). Ainda, surgiram novas denominações para antigas transações, desdobramento de fatos contábeis, alterações de classificações de contas e uma nova estrutura para o balanço patrimonial. Além dessas, aconteceram outras mudanças para adequar a contabilidade brasileira aos padrões internacionais. Veja a seguir, como eram os principais grupos do balanço patrimonial e como ficaram após a convergência. Comparação entre a estrutura do balanço patrimonial antes das Leis nº 11.638/07 e nº 11.941/09 e atualmente Ativo Passivo Antes Atualmente Antes Atualmente Ativo circulante Ativo realizável a longo prazo Ativo permanente: ■ Investimentos ■ Imobilizado ■ Diferido Ativo circulante Ativo não circulante: ■ Realizável a longo prazo ■ Investimentos ■ Imobilizado ■ Intangível LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 11 Passivo circulante Passivo exigível a longo prazo Resultados de exercícios futuros Patrimônio líquido Passivo circulante Passivo não circulante Patrimônio líquido Apresentamos uma das principais alterações na contabilidade após a vigência das referidas leis. A estrutura do balanço patrimonial foi reformulada com o intuito de melhor informar os usuários dessa demonstração contábil, principalmente no âmbito do mercado de capitais, como forma mais adequada de esclarecer os acionistas minoritários sobre a situação patrimonial da empresa, e como exemplo de ativos tangíveis e intangíveis, temos: máquina extrusora de PVC possui uma substância corpórea e, portanto, é um ativo tangível. Por usa vez, a marca da empresa não apresenta uma substância corpórea e, por isso, é considerado um ativo intangível. Para saber a estrutura completa do plano de contas a partir das alterações ocorridas, leia o apêndice do livro Manual de contabilidade societária, de Ernesto Rubens Gelbcke e outros autores. Outra modificação importante foi a substituição da Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos (DOAR) pela Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC). A DOAR era considerada de difícil entendimento por parte dos seus usuários, enquanto a DFC, além de ser mais fácil de entender, apresenta de forma mais clara a capacidade da empresa na geração de caixa. 3.0 Fundamentos para a adoção das Normas Internacionais de Contabilidade A legislação fiscal sempre influenciou a contabilidade no Brasil, fazendo com que critérios fiscais fossem adotados no momento da escrituração. Assim, a maioria das empresas executavam a contabilidade com base na legislação fiscal e com o intuito de atender basicamente ao fisco. Contudo, nem sempre as exigências fiscais estavam em consonância com critérios contábeis corretos, o que gerava demonstrativos contábeis com dados voltados para o aspecto fiscal. Isso distorcia as informações e limitava a utilização desses demonstrativos para fins de tomada de decisões. A contabilidade sofre influências de fatores econômicos legais e sociais, o que produz informação contábil muito divergente entre as nações, dificultando, principalmente, LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 12 para as empresas que atuam em diversos países, pois cada empresa é obrigada a aplicar as regras contábeis do país onde está estabelecida. Tais diferenças levaram à utilização de uma série de definições de termos contábeis diferentes. Isso gerou um monte de critérios de reconhecimento discrepantes, o que, em regra, produz informações distorcidas e incomparáveis entre si. Assim, com a globalização totalmente sedimentada, as regras da contabilidade brasileira eram um entrave para os negócios entre mercados diferentes, pois os investidores, ao instalar suas subsidiárias, levavam esse aspecto em consideração. Esses investidores miravam o custo que teriam para adequar a sua contabilidade depois que os dados processados de acordo com as normas brasileiras fossem enviados para consolidação. Por isso, o aspecto contábil também era considerado um entrave para a instalação de empresas multinacionais e para a evolução do nossoCATÓLICA PAULISTA | 74 A abordagem de Hendriksen e Michael F. (1999) pertence a um cenário histórico em que as divulgações em notas explicativas eram explicações diretas sobre os principais itens das demonstrações primárias. Isso incluía a exposição das políticas contábeis aplicadas à preparação das demonstrações contábeis pela entidade que reporta e a desagregação dos itens das demonstrações primárias em componentes menores para permitir ao usuário compreender as movimentações do balanço patrimonial (“quadros suplementares”). As notas explicativas eram vistas como notas de rodapé dos elementos das demonstrações primárias. Contudo, nos últimos anos, houve um aumento das informações divulgadas em notas explicativas, decorrente, principalmente, dos desafios surgidos com a complexidade dos modelos de negócios, fontes de riscos e incertezas e de como a administração gerencia tais riscos e incertezas. Esse acréscimo consiste em uma resposta para satisfazer o desejo dos usuários de obter informações relevantes em um momento em que os negócios e o mercado de capitais tornam-se cada vez mais sofisticados, mesmo sendo essas informações mais subjetivas e menos confiáveis, ainda de acordo com o IAASB (2011). A normatização e a prática da divulgação em notas explicativas acompanharam essas mudanças e passaram de simples quadros suplementares e informações sobre políticas contábeis para uma divulgação muito mais detalhada, incluindo a apresentação de estimativas sobre incertezas, modelos, bases de mensurações alternativas. Atualmente, as divulgações em notas explicativas contêm uma quantidade ampla de informações não mais obtidas diretamente do sistema contábil da entidade que reporta, mas preditivas e com modelos e estimativas de incerteza. Razões para o excesso de divulgação em notas explicativas Parte do aumento das informações divulgadas em notas explicativas refere-se a informações não materiais, cuja apresentação seria dispensável. Most (1977) já havia alertado que, mesmo em países onde a divulgação era regulamentada, existia o problema de muitas Companhias apresentarem no seu relatório anual mais informações do que realmente era necessário. O IASB (2013) também está conduzindo uma iniciativa para encontrar um meio de aperfeiçoar as divulgações requeridas pelo IFRS e a anunciou, ao público geral, em janeiro de 2013, através de um fórum de discussão sobre as divulgações nas demonstrações financeiras, o projeto conhecido como “Disclosure Initiative”, que se divide em diversos projetos de pesquisa como: matéria- lity, principles of disclosure, standard level review disclosures, projeto de implementação: proposed Amendments to IAS 7, e projetos complementares: amendments to IAS 1. LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 75 Segundo o Disclosure Initiative, a causa para tal excesso de divulgação de informações não materiais nas demonstrações financeiras ainda não é certa, mas existem indicadores que apontam para as seguintes razões: • Materialidade: o conceito de materialidade é bem compreendido por todos, contudo foram identificados problemas sobre a aplicação da materialidade no contexto das demonstrações financeiras. • Abordagem do disclosure checklist, com o objetivo de identificar omissões de divulgações. • Falta de clareza de determinados pronunciamentos quanto a divulgações de informações contábil-financeiras. • Percepção de que alguns pronunciamentos exigem divulgações ao invés de estimular o julgamento dos preparadores e auditores. • Barreiras legais e institucionais. • Falta de tempo e recurso para preparar e divulgar as demonstrações financeiras. • Falta de comunicação entre preparadores e usuários (IASB – AP8, 2013, traduzido pelo autor). O Disclosure Initiative ainda é um projeto em fase de desenvolvimento que, consequentemente, não chegou a uma conclusão geral a respeito desse problema. O FRC (2009) – Financial Reporting Council – realizou entrevistas que possibilitaram um entendimento sobre os seguintes fatores coadjuvantes para o aumento das divulgações não materiais em notas explicativas: • Devido à pressão do tempo para a emissão das demonstrações financeiras, os preparadores apenas repetem as informações divulgadas em anos anteriores ao invés de avaliarem se elas ainda são materiais. • Falta de confiança ao se fazerem julgamentos a respeito de divulgações que são ou não materiais. • É exigido muito trabalho do preparador para se concluir o que é ou não uma divulgação material a ser inclusa nas demonstrações financeiras • Desejo de se evitar longas discussões com os auditores. • Os preparadores e auditores temem o questionamento dos órgãos reguladores sobre informações não divulgadas (FRC, 2009, traduzido pelo autor). De maneira geral, conforme o FRC (2009), se um pronunciamento requer determinada divulgação, o preparador incluirá tal exigência nas demonstrações financeiras, independentemente de suas considerações a respeito da materialidade. Pode- se notar a semelhança entre o FRC (2009) e o Disclosure Initiative (IASB, 2013) LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 76 quanto às possíveis causas para o aumento de informações não materiais nas demonstrações financeiras, e para a separação dos adiantamentos: • Quando o funcionário vai realizar atividades externas em longas distâncias que são custeadas pela empresa a empresa faz o adiantamento. • Quando a empresa faz o pagamento do salário mensal em duas parcelas. O EFRAG (2012) também destacou os seguintes motivos que deterioram as divulgações em notas explicativas: a) Tentativa de aprimorar o nível de transparência das divulgações por meio da emissão de novos pronunciamentos. Dessa maneira, as notas explicativas passaram a ser vistas como um depósito de informações em que quanto mais dados forem divulgados, menor é a chance de acontecer um desastre financeiro. As notas explicativas tornaram-se um caminho para se compensarem as deficiências de reconhecimento e mensuração, deixando de ser notas suplementares das informações divulgadas nas demonstrações primárias. b) As transações e as exigências de divulgação das demonstrações contábeis aumentaram em nível de complexidade. c) Existe uma dificuldade em aplicar o conceito de materialidade para as divulgações em notas explicativas. d) Os preparadores, auditores e órgãos reguladores aplicam o checklist de divulgações como medida de segurança para apresentação das demonstrações financeiras. e) Pressões de tempo para emissão das demonstrações financeiras dão origem a formas alternativas para comunicação de informações contábil-financeiras ao mercado financeiro (exemplo: press releases) (EFRAG, 2012, traduzido pelo autor). Assim, uma das principais causas da divulgação de informações não materiais nas notas explicativas é a falta de um guia para aplicação da materialidade sobre as exigências de divulgação requeridas pelos pronunciamentos técnicos, decorrentes do aumento da complexidade dos eventos econômicos, exigindo modelos de reconhecimento, mensuração e divulgações cada vez mais sofisticados. Dessa forma, torna-se necessário reavaliar como as informações. LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 77 ISTO ESTÁ NA REDE Link: https://www.youtube.com/watch?v=8Lob0thxYVM Com a Lei nº 11.638/2007, o Brasil passou a adotar as Normas Internacionais de Contabilidade, mais comumente conhecidas por IFRS. Essa nova lei introduziu importantes conceitos do direito societário, tendo sido adaptados conceitos legais bastante utilizados em economias mais desenvolvidas, alinhando, também, a normatização brasileira às legislações dos Estados Unidos e de países da Europa. Foram trazidas inovações tanto para as demonstrações contábeis quanto para as práticas contábeis, visto que essas normas são baseadas muitomais em princípios do que em regras. ANOTE ISSO A contabilidade no Brasil mudou. Isso é o que se tem comentado nos últimos dois anos no âmbito da profissão, das empresas, das universidades, da mídia e da sociedade em geral. De fato, isso em parte é verdade; “em parte”, porque a contabilidade, entendida como o principal sistema de informação das organizações empresariais, que propicia condições para se realizar o controle do patrimônio e se avaliar os seus desempenhos, não mudou. O que mudou foram as práticas contábeis. https://www.youtube.com/watch?v=8Lob0thxYVM LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 78 CAPÍTULO 06 IMPORTÂNCIA E CRIAÇÃO DOS CPC’S 1.0 INTRODUÇÃO Olá, estudante, com a intenção de disseminar todas as informações produzidas em suas atividades, a organização deve formalizar suas ações e divulgar os processos para seus funcionários. 2.0 Formalização dos CPC’s – Comitê de Pronunciamentos Contábeis A formalização consiste no grau de padronização dos comportamentos e processos de trabalho em regras, normas e procedimentos. Há vários fatores que podem afetar o grau de uma organização, como: • Tecnologia: as organizações que trabalham com tarefas mais rotineiras tendem a apresentar maior grau de formalização uma vez que têm mais estruturação e previsibilidade das atividades e tarefas organizacionais; • Tradição: a história da organização pode influenciar seu grau de formalização. Empresas que começam suas atividades em um contexto altamente formalizado tendem a manter alto grau de formalização no decorrer no tempo; • Processo decisório: o grau de formalização é resultado das decisões tomadas pelos gestores. É importante destacar que a excessiva formalização limita a flexibilidade, a criatividade e a rapidez de resposta dos entes presentes na empresa. Os processos realizados nas organizações devem ser explicados para todos os participantes, internos ou externos, para evitar que ocorram conflitos e demais problemas com o gerenciamento das funções empresariais. A internacionalização dos mercados demanda a unificação de padrões contábeis no âmbito internacional e contemporâneo para que os usuários consigam comparar informações entre companhias e ativos para investimentos. Sem elas, não seria possível interpretar e comparar informações contábeis produzidas por entidades em países diferentes. LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 79 Partindo da premissa de que a contabilidade objetiva fornecer a seus usuários internos e externos informações contábeis úteis para a tomada de decisões, é preciso harmonizar suas normas, o que ocorreu a partir dos anos 2000 no Brasil. Nesse período, entidades como o International Accounting Standards Board (IASB), em conjunto com o FASB, elaboram as International Financial Reporting Standards (IFRS) visando padronizar o tratamento, a interpretação e a evidenciação das mutações patrimoniais das organizações empresariais quanto à sua compressibilidade, relevância, confiabilidade e comparabilidade. O atual contexto contábil mundial vem aprimorando a utilização e melhorando a transparência da informação contábil, produzindo maior accountability e reduzindo os riscos dos investimentos. 3.0 Convenções e Normas Como dito, a contabilidade é uma ciência social aplicada que tem o objetivo de registrar, mensurar e controlar todos os fatos administrativos capazes de afetar o patrimônio, com a finalidade de produzir uma informação contábil-financeira que seja útil, como por exemplo as contas patrimoniais, por exemplo caixa, bancos, clientes e fornecedores. O conceito de informação útil, trazido pelo CPC 00, refere-se a uma informação capaz de fazer a diferença para um usuário em seu processo de tomada de decisão. Portanto, “Ela precisa ser relevante e representar com fidedignidade o que se propõe a representar. A utilidade da informação contábil-financeira é melhorada se ela for comparável, verificável, tempestiva e compreensível (CFC, 2014)”. Diante desse conceito, abordaremos os aspectos iniciais para que a informação contábil-financeira seja útil ou, conforme definido pela Estrutura Conceitual Básica da Contabilidade, para que a informação contábil-financeira seja de propósito geral (CFC, 2014). As informações sobre o patrimônio de uma entidade precisam embasar as decisões de seus usuários, sejam internos ou externos. Esse processo decisório só poderá ser influenciado por informações contábeis úteis. O patrimônio não é composto apenas pelos bens de uma pessoa ou entidade, mas, sim, por um conjunto de bens, direitos e obrigações. Para ajudar na definição de padrões conceitualmente consistentes e garantir que transações semelhantes sejam tratadas da mesma maneira, fornecendo informações úteis para usuários de maneira LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 80 geral, o International Accounting Standard Board (IASB) elaborou o The Conceptual Framework for Financial Reporting, que, no Brasil, é chamado de Estrutura Conceitual para a Elaboração e Divulgação de Relatório Contábil-Financeiro, emitido pelo CPC 00 (CFC, 2014). Essa estrutura conceitual estabelece os conceitos fundamentais para elaboração de relatórios financeiros e orienta o Conselho Federal de Contabilidade (doravante, CFC) no desenvolvimento de normas brasileiras alinhadas às normas internacionais, chamadas de International Financial Reporting Standards (IFRS). Segundo Almeida (2018, p. 41), a Estrutura Conceitual “(...) é um conjunto de teorias que um órgão regulador, uma lei ou quem tem poder para emitir normas escolhe, entre as teorias e/ou suas vertentes todas à disposição, com o objetivo de nela se basear para emitir as normas contábeis”. Sendo assim, no Brasil, os profissionais da contabilidade precisam se preocupar em atender à estrutura conceitual ao elaborarem uma informação contábil-financeira para que ela seja carregada de utilidade para seus usuários. Além dos princípios e postulados, a contabilidade também tem algumas convenções cuja função é servir de restrições e delimitações às atribuições e direções dos profissionais da contabilidade. Com as convenções contábeis, os profissionais poderão sedimentar toda a experiência e o bom-senso que a profissão de contador acumulou ao longo dos anos. Elas servem também para que os profissionais possam tomar as melhores decisões durante o percurso da profissão. Sobre as convenções contábeis, Almeida (2018, p. 52) afirma que elas são “(...) tidas como restrições aos princípios contábeis. São também consideradas normas de caráter prático que devem ser observadas, como guias, facilitando o trabalho do contador. Não são consideradas geradoras de definições de critérios contábeis”. As convenções existem, portanto, para ajudar os profissionais contábeis a definirem melhor a sua atuação. Ao se afirmar que as convenções são restritivas, isso não significa que elas minimizam a prática dos profissionais, mas, sim, que elas auxiliam os profissionais a definirem a sua atuação, impedindo que erros sejam gerados ou ocasionados pela inobservância de tais convenções. A prática de adotar as convenções no dia a dia profissional é incorporada com o passar dos anos. Sendo assim, os profissionais que já atuam na contabilidade há mais tempo acabam integrando o uso das convenções em todas as suas atividades profissionais. LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 81 A convenção da objetividade estabelece que o profissional contábil deverá sempre escolher o procedimento mais adequado, portanto, o mais objetivo, ao descrever um evento que impacte diretamente no patrimônio da entidade. Segundo essa convenção, o contador deverá sempre ser objetivo em suas escolhas, pois “(...) quando efetua uma escrituração de umfato, ele precisa alicerçar-se de elementos objetivos, visando tirar o máximo possível de subjetividade no lançamento contábil” (ALMEIDA, 2018, p. 103). A objetividade também afirma que, sempre que um novo lançamento for realizado, ele deve ser acompanhado de subsídios que ajudem a explicar tal fato. O contador, de acordo com essa convenção, não deverá imprimir nenhum tipo de marca pessoal ao longo do processo de avaliação do objeto, por isso, a contabilidade deve ser ilesa de qualquer tipo de marcação que indique um comportamento ou atitude do profissional que a realizou, excetuando, é claro, a assinatura do profissional em documento. A consistência é também uma das convenções contábeis de grande importância. Alguns autores chegam a afirmar que ela poderia ser até considerada como um princípio contábil. A manutenção de critérios ao longo do tempo é importante para que seja possível efetuar a comparabilidade dos resultados de uma entidade. Essa convenção, portanto, é muito importante para realizar análises entre entidades de um mesmo setor ou, ainda, para analisar os resultados de uma mesma entidade em períodos distintos. A comparabilidade, conforme mencionado, faz parte das características qualitativas de melhoria apresentadas no CPC 00, que apresenta a estrutura conceitual para o relatório financeiro e que teve sua segunda revisão publicada no ano de 2018 (ALMEIDA, 2018). Uma das características qualitativas fundamentais da contabilidade e que também consta no CPC 00 é a materialidade. Ela está relacionada diretamente com o não desperdício de recursos, sejam eles financeiros, sejam de tempo, na realização da contabilização das atividades da entidade. Em uma situação em que houver inúmeros eventos a serem registrados, o profissional contábil deverá privilegiar os lançamentos que sejam dignos de atenção. Esses registros deverão ser realizados também no tempo oportuno. Segundo Sá (2000, p. 215), “(...) o julgamento quanto à materialidade também se relaciona com qual informação deve ser evidenciada, cuja exclusão dos relatórios publicados poderia levar o leitor a conclusões inadequadas sobre os resultados e as tendências da empresa”. LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 82 4.0 Escolas Contábeis O valor científico da contabilidade foi reconhecido na primeira metade do século XIX, por volta de 1840, quando passou a ser classificada como uma ciência social aplicada. As escolas contábeis que recebem destaque devido à sua contribuição para o desenvolvimento da ciência contábil são a materialista, aziendalista, patrimonialista e neopatrimonialista, além da escola lombarda (ou administrativa). Francesco Villa, pai da escola cientifica italiana, deu início às doutrinas contábeis italianas e da modernidade, originando a escola materialista, que se caracteriza por mesclar conceitos de contabilidade, administração e economia, dando uma visão interdisciplinar frente ao fenômeno patrimonial. Essa corrente, criada pela escola materialista, influenciou outras escolas, como a aziendalista, a patrimonialista e a neopatrimonialista. Convidamos você a fazer uma reflexão e tentar identificar a influência dessas escolas contábeis em seu curso de graduação ou na forma de atuação de um profissional da área contábil atual. Uma outra escola de destaque, a escola lombarda ou administrativa, contribuiu para o desenvolvimento da contabilidade no campo científico, definindo-a como um complexo de conhecimento e de operações que serve à aplicação de diversos métodos e uma disciplina de ordem superior destinada a interpretar a dinâmica das entidades, voltada para o controle da gestão. Essa escola reconhece a necessidade de os profissionais contábeis interagirem com as condicionantes econômicas do fenômeno patrimonial, e não somente quanto aos aspectos técnicos do registro. Apesar de toda a contribuição da escola italiana, sua decadência ocorreu com o que Schimidt (2016) chama de “Invasão Anglo-Saxônica”. Sua queda se deu ao mesmo tempo em que ocorria a ascensão da Escola Americana (Anglo-Saxônica). A Escola Americana deu origem ao Financial Accounting Standards Board (FASB) nos Estados Unidos. Ela era caracterizada pelo enfoque no aspecto prático do tratamento de problemas econômico-administrativos, ditando regras de gestão financeira, de controle orçamentário, entre outros aspectos contábeis. O surgimento das gigantescas corporations, principalmente no início do século XX, aliado ao formidável desenvolvimento do mercado de capitais e ao extraordinário ritmo de desenvolvimento que aquele país experimentou e ainda experimenta, constitui um campo fértil para o avanço das teorias e práticas contábeis norte-americanas (ALMEIDA, 2018, p. 14). LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 83 Como a Escola Italiana dava muita ênfase à teoria, a Escola Americana se fortaleceu através de uma informação útil ao usuário, auxiliando na tomada de decisão. Além disso, a relevância dada à auditoria, herança dos ingleses, representava a transparência das informações dos relatórios contábeis para investidores e credores, uma outra vantagem da Escola Americana. O mais interessante em ver todo esse processo de evolução da contabilidade por meio de suas escolas é compreender que, hoje, ela é uma Ciência que ainda está em constante construção e transformação. Assim, ela se insere em um contexto mundial que acompanha o próprio ritmo do desenvolvimento humano. 5.0 Contabilidade no Brasil x Contabilidade Internacional A contabilidade no Brasil vivenciou um salto evolutivo a partir dos anos 2000, desde a necessidade do aprimoramento do olhar científico até a forte influência de convergência ao padrão internacional. Eventos como a instituição do BRGAAP (Princípios contábeis geralmente aceitos no Brasil) em 2010, o nascimento do CPC em 2005, a promulgação da Lei n° 11.638/2007 e a institucionalização do exame de suficiência causaram grandes avanços, que sujeitam a contabilidade brasileira a perseguir a qualidade das práticas e técnicas utilizadas nos países e mercados mais desenvolvidos. Entender a história da contabilidade no Brasil é fundamental para compreender o contexto em que se insere a profissão contábil em nosso País. Iremos nos aprofundar um pouco mais nesse assunto no próximo tópico. A contabilidade no Brasil é constituída de três momentos históricos demarcadores: anterior a 1964, posterior a 1964 e após 2007, com a consolidação jurídica da convergência ao padrão internacional e o caminho ao BRGAAP - Generally Accepted Accounting Principle (princípios contábeis geralmente aceitos no Brasil). O ponto de início foi o ano de 1808, durante a instalação do reinado de D. João VI, quando foi publicado um alvará que obrigava os contadores gerais da real fazenda a aplicarem o método das partidas dobradas na escrituração mercantil. Assim os principais marcos da evolução da contabilidade no País a partir de então. • 1800 - 1963 1964 – 2005 2005 em diante • 1808: alvará determinando a obrigação da partida dobrada pelos contadores gerais na escrituração mercantil. 1965: Criação do auditor independente. 005: Criação do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC). LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 84 • 1850: publicação do Código Comercial Brasileiro. 1972: Surgimento dos primeiros Princípios de Contabilidade geralmente aceitos no Brasil. 2007: Promulgação da Lei n° 11.638/2007 e a institucionalização e legitimação do CPC. • 1905: reconhecimento do guarda-livros e do perito contador. 1976: Promulgação da Lei • 6.404/76, conhecida como lei das S/As. 2008 – Elaboração do CPC 00 com a Estrutura Conceitual Básica nos padrões do IASB. • 1931: reconhecimento da profissão de contador no Brasil. • 1993: Estabelecimento da Resolução nº 750 quanto aos Princípiosde Contabilidade. 2010: instituição do BRGAAP. • 1940: surgimento da Lei das S/A no Brasil. 2010: Estabelecimento da obrigatoriedade do Exame de Suficiência para todos os contabilistas brasileiros. • 1945: estabelecimento da contabilidade como formação universitária. 2011: revisão do CPC 00, ajustando-o ao Blue Book do IASB. • 1946: fundação das primeiras faculdades de Contabilidade e Atuária no Brasil.2011: revisão do CPC 26 R1 para a elaboração das Demonstrações Contábeis. Segundo o American Accounting Association – AAA, a contabilidade é um processo que tem como finalidade auxiliar a tomada de decisões. Assim, segundo o CPC 00, quais são as características de uma informação contábil capaz de auxiliar a tomada de decisão? Perceba que a Lei 11.638/07 provoca uma virada nos padrões de contabilidade brasileira. Essa mudança foi necessária para que nossa contabilidade estivesse alinhada aos padrões internacionais. Desde 2007, então, tem-se a elaboração de normas e a divulgação de procedimentos que permitem a comparação das informações contábeis brasileiras com as informações produzidas em diversos países do mundo. O investidor do mercado de capitais, nesse sentido, é um componente decisório nesse processo. Isso porque, ao promover uma contabilidade internacional, o investidor ganha maior grau de julgamento sobre as informações geradas pela contabilidade, o que aumenta a responsabilidade do contador perante as demonstrações. Como parte fundamental no desenvolvimento e normatização da profissão no Brasil estão o Conselho Federal de Contabilidade (CFC) e os Conselhos Regionais de Contabilidade (CRC). LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 85 Um pouco antes da segunda fase histórica da contabilidade brasileira, em 1946, o Decreto-Lei presidencial 9.295 fez ter materialidade e personalidade jurídica o Conselho Federal de Contabilidade (CFC), trazendo à tona também as atribuições dos contabilistas. O CFC trabalhou para a institucionalização dos Conselhos Regionais, de Contabilidade (CRCs), consolidando sua organização na Resolução nº 1 de 1946, revogada e alterada pela Resolução CFC nº 1.530, de 22 de setembro de 2017. Eles foram, então, direcionados ao registro dos profissionais em suas áreas de atuação, os quais, posteriormente, passaram a efetuar ações de fiscalização (ALMEIDA, 2018). Ao longo de sua história, o CFC tem emitido normas e regulamentações da atividade contábil no Brasil, frente a aspectos profissionais e técnicos, as quais são denominadas de Normas Brasileiras de Contabilidade (NBC), que, conjuntamente com os pronunciamentos do CPC, conduzem o dia a dia dos profissionais contábeis. Outros dois personagens importantes que praticam atos regulatórios no Brasil são o Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (IBRACON) e a Receita Federal do Brasil (RFB). Iremos estudar um pouco sobre eles a seguir. O IBRACON tem a função de emitir pronunciamentos, interpretações técnicas e orientações sobre temas contábeis. Ao longo de sua história, estabeleceu relacionamento com instituições e organismos internacionais e auxiliou o desenvolvimento da contabilidade no Brasil. Já a RFB é responsável pelo processamento do cadastro das pessoas físicas e jurídicas e pela fiscalização e arrecadação dos tributos de competência da União. Criada em 1968, a Secretaria da Receita Federal representou um avanço na facilitação do cumprimento das obrigações tributárias, pois nasceu da unificação de diversos órgãos fiscais da administração pública federal. Durante um longo período, as regras contábeis eram confundidas com as regras fiscais. Desde sua promulgação em 1964, a lei das SAs trouxe diversas mudanças ao desenvolvimento das atividades contábeis, porém, a confusão entre o que era produção de informação contábil útil e o que era cumprimento de obrigações acessórias fez com que a atividade contábil ficasse subutilizada. Essa mudança de paradigma deu início ao processo de convergência das Normas Internacionais, que permitiu o desenvolvimento de uma atividade contábil independente das regras tributárias. Essas regras, por sua vez, passaram a ser contempladas por normativos específicos que não desvirtuam o contador de suas atividades contábeis, LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 86 tampouco desobrigam-no de cumprir com a prestação de informações fiscais obrigatórias. Ao longo do tempo, essas normas da RFB passaram por diversas reformulações e hoje são constituídas por obrigações, como o Sistema Público de Escrituração Digital (SPED). O contexto mundial engloba empresas estrangeiras instaladas em países diferentes de suas origens. Nesse cenário globalizado, a contabilidade internacional tem como objetivo apresentar informações contábeis úteis e de alta qualidade a seus usuários, auxiliando-os, assim, na dinâmica das tomadas de decisões cotidianas. Logo, uma abordagem comportamental é um elemento diferencial para a produção de informações de qualidade e, consequentemente, para a manutenção dessas organizações. O processo de internacionalização das normas contábeis por meio das IFRS permite que a informação contábil tenha sua utilidade resguardada, preservando suas características de relevância e comparabilidade. Assim, essa informação não deixa de ser fidedigna ao prezar pela essência das operações uma vez que seu registro não é feito com o viés do contador, mas pautado na observação de como se registrar um fato, evidenciando como ele ocorreu. Diante disso, ao estudarmos a contabilidade dentro do contexto nacional, não podemos esquecer que os normativos contábeis seguem as IFRS (tanto no setor público quanto no privado). Esse entendimento é fundamental para compreender a abordagem comportamental, pois, a partir da internacionalização das Normas Brasileiras de Contabilidade, passamos a adotar normativos que prezam por uma postura com foco na produção de informações contábeis úteis. 6.0 Estrutura Social x Contábil Segundo a estrutura conceitual, a informação contábil-financeira de propósito geral é aquela capaz de atender às necessidades de uma gama de usuários, e não apenas a um usuário específico. Além disso, deve fornecer informações contábeis-financeiras acerca da entidade que as reporta (reporting entity) e que sejam úteis a investidores existentes e em potencial, a credores por empréstimos e a outros credores, quando for preciso tomar decisões ligadas ao fornecimento de recursos para a empresa em questão. LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 87 Os investidores analisam as informações sobre a entidade para decidirem sobre compra, venda ou manutenção de seus investimentos, como ilustra a Figura 3 sobre o cuidado com o patrimônio. Um dos pontos mais importantes da elaboração das informações contábeis- financeiras é compreender quem são seus usuários. A informação contábil-financeira de propósito geral é destinada a uma gama de usuários, que são credores, investidores e fornecedores, interessados em tomar decisões relativas a uma entidade. Os bancos, por exemplo, são credores que analisam a situação das empresas para analisar a concessão de crédito. Agora, para que esses usuários tomem suas decisões, eles se baseiam em três situações: 1. Situação financeira: está diretamente relacionada às disponibilidades da empresa para honrar com o pagamento de suas obrigações; 2. Situação econômica: apresenta os resultados econômicos da entidade (lucro ou prejuízo); 3. Situação patrimonial: diz respeito à composição do patrimônio da empresa. Essas informações contábeis permitem, por exemplo, que um credor avalie a capacidade de liquidez de uma entidade ou, ainda, que avalie a qualidade do seu endividamento. Também é possível obter informações sobre o grau de imobilização de capital da entidade ou a expectativade entrada de recursos futuros por meio da análise de ativos recebíveis a longo prazo. 7. Profissão e papel do Contador O campo de aplicação da contabilidade são as aziendas, que, segundo Almeida (2018), são entidades com natureza econômica com ou sem fins lucrativos, que têm um objetivo social ou econômico. Desse modo, o campo de atuação dos contadores é amplo, podendo, também, exercer suas atribuições de forma independente, nas empresas, na educação ou em órgãos públicos. Veja, a seguir, alguns campos de aplicação da contabilidade para os setores público e privado. Aproveite para ir refletindo e pensando sobre qual carreira seguir na profissão. A aplicação da contabilidade está situada no conjunto patrimonial, pertencente à pessoa física ou jurídica, pública ou privada, como indústrias, hospitais, igrejas, LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 88 empresas e entidades governamentais, já que são sistemas organizados que visam a um fim específico. Pode-se dizer, então, que a contabilidade pode ser aplicada na abrangência dos setores públicos e privados, mesmo que incorpore a cada campo de atuação especificidades próprias para que atinja os fins propostos de reconhecer, mensurar e evidenciar a evolução do patrimônio e seus reflexos junto aos diversos usuários da informação. No setor privado, os profissionais da contabilidade têm atuação tanto gerencial como financeira. Na atuação gerencial, o contador atua na análise e desenvolvimento de informações inerentes ao processo gerencial e decisório, utilizando-se de uma visão crítica e detalhada do patrimônio e suas inflexões frente aos acontecimentos do dia a dia. Na área de atuação financeira, por sua vez, o contador se ocupa do registro, controle e mensuração de todos os fatos patrimoniais, o que envolve o cumprimento de obrigações acessórias, como escrituração contábil e fiscal, prestação de informações sociais e elaboração de demonstrativos contábeis. A contabilidade e a administração pública estão intimamente ligadas, pois os contadores podem oferecer aos gestores públicos as informações fundamentais ao desenvolvimento do planejamento e execução orçamentária, que tem como base os Planos Plurianuais (PPA), a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e a Lei Orçamentária Anual (LOA), nas quais o contador tem participação direta na produção de informações. Os profissionais da área contábil também podem atuar no ensino da contabilidade, ainda mais com a convergência da contabilidade brasileira ao padrão internacional nos últimos anos. Essa mudança nos padrões contábeis brasileiros fez crescer a necessidade de reciclagem e de educação continuada dos profissionais já atuantes no mercado (ALMEIDA, 2018). Por conta desse processo de cientificação e alinhamento aos padrões internacionais, a oferta de cursos e eventos de educação continuada pôde ser ampliada, fazendo surgirem oportunidades de trabalho na área de atuação acadêmica. Durante muito tempo, a contabilidade brasileira foi determinada pela legislação tributária e pela legislação societária. Com o processo de globalização, tornou-se imprescindível uma harmonização da contabilidade, surgindo, assim, o IASC, organismo internacional mencionado anteriormente. Então, começou no Brasil o processo para alinhar as práticas contábeis aos padrões IFRS. LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 89 Cabe ao CPC elaborar os pronunciamentos técnicos, as interpretações, as orientações e os comunicados acerca da contabilidade brasileira, sempre buscando a uniformização dos padrões brasileiros aos padrões contábeis internacionais com base nas IFRS. Todos os pronunciamentos técnicos devem ser submetidos a audiências públicas, assim como as orientações e as interpretações técnicas. O sistema contábil brasileiro sempre sofreu profundas influências legislativas, notadamente da legislação tributária e da legislação societária. Por sua vez, a Lei nº 11.638/07 atualizou a Lei das Sociedades por Ações e determinou que futuras normas devem estar de acordo com as normas internacionais de contabilidade, as IFRSs. Assim, o CPC se consolidou no Brasil com a emissão de diversas normativas técnicas alinhadas aos padrões IFRS, que são adotados pelos diversos órgãos regulamentadores de atividades profissionais e/ou de mercado, como o CFC, a Abrasca, a Apimec Nacional, entre outros. Após serem traduzidas, as IFRS são analisadas pelo CPC, que, depois de aprová- las, as transforma em NBCs. Outros órgãos reguladores também podem aprová-las para serem adotadas pelas entidades supervisionadas por esses órgãos reguladores. ISTO ESTÁ NA REDE Link: https://www.youtube.com/watch?v=a3jbyfovb4Q. Em 2005, foi criado para esse processo o CPC, um novo organismo independente, formado por diversas entidades representativas das áreas de contabilidade, finanças, mercado de capitais e bancos, além de seguradoras e a Receita Federal do Brasil (RFB). ANOTE ISSO Com a convergência ao padrão internacional, construiu-se no Brasil uma estrutura conceitual e normativa de práticas contábeis aplicadas ao setor público, que são as Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público. https://www.youtube.com/watch?v=a3jbyfovb4Q LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 90 AULA 07 DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS 1.0 INTRODUÇÃO Olá, estudante, quando se concebe a ideia da racionalidade ao homem de forma ordenada, é possível perceber, em sua essência condicionada à natureza humana, o sentido de posse e propriedade e as relações de poder (HENDRIKSEN, 2015). É nesse contexto que nos aprofundaremos na história da contabilidade e na formação de seus pensamentos e estruturas científicas, compreendendo seus instrumentos práticos do reconhecer, mensurar e evidenciar informações fundamentais para o processo decisório de diversos usuários. 2.0 Estrutura Financeira A estrutura fundamental classificatória da contabilidade é permeada por diversas correntes doutrinárias. Mas o que é contabilidade? Almeida (2018, p. 41) a define como a “(...) arte de registar, classificar e sumariar as transações e eventos de características financeiras”. Uma ciência que desenvolveu a lógica e a racionalidade e se constituiu por meio de um processo contínuo de hipóteses e de sua instrumentalização social, contendo os seguintes elementos e premissas básicas: • objeto de estudo definido; • métodos de raciocínio de aspectos lógicos a serem investigados; • métodos de construção de proposituras e enunciados; • métodos frente aos aspectos técnicos de sua interpretação e análise; • referências comparativas e evolutivas cronologicamente. Frente ao exposto, é possível compreender que a contabilidade é uma ciência já que tem o patrimônio como objeto de estudo e compreende todos os aspectos elencados para sua caracterização, utilizando, em sua instrumentalização, as ferramentas de mensurar, reconhecer e evidenciar para a produção de informações úteis ao processo decisório. LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 91 Existem registros que comprovam que a essência do reconhecimento patrimonial e sua evolução ultrapassam o período pré-histórico mesolítico, entre 10.000 e 5.000 a.C., no que chamamos de arqueologia contábil (SÁ, 2000). Sá (2000, p. 6) cita que, na Bíblia Sagrada, também é possível encontrar passagens que remetem ao controle patrimonial, como em Jó, capítulo 42, versículo 12: “A relação de bens de Jó demonstra um cuidado no controle do seu patrimônio pessoal. Por questões espirituais, um dia, Jó perde toda sua fortuna, tornando-se um homem pobre, sem nenhum bem”. No final do livro de Jó, algo inesperado acontece. Por motivos espirituais, ele recupera sua fortuna e não deixa de reencontrar um contador que, num certo momento,apresenta um relatório surpreendente: sua riqueza estava duplicada em relação ao primeiro inventário. Assim, desde o período medieval, a forma da escrita já se manifestava para compreender as necessidades de uma sociedade principalmente para a comunicação e interpretação da mesma, assim nas civilizações mais antigas, com o surgimento das primeiras grandes comunidades nas terras do Oriente Próximo. Mesmo inexistindo a escrita e a contagem, essas comunidades produziam fichas de controle. São os primeiros registros dos meios de posse e propriedade (riqueza). Os primeiros indícios das partidas dobradas, por exemplo, foram encontrados em registros feitos com argila na baixa Mesopotâmia. Ainda conforme Sá (2000), a sistematização da escrita contábil se desenvolveu em função do progresso de 11 cidades-estados onde o progresso econômico foi expressivo, gerando um sistema altamente organizado para memorizar a informação. Outro fator determinante dos primórdios mesopotâmicos da contabilidade advém da necessidade de buscar o verdadeiro registro, o que deu origem à auditoria, ou contra- contagem, cujo registro histórico mais antigo data de 2.600 a.C. Anteriormente, na Itália do século XIV, houve um processo de intensa renovação cultural, cientifica e comercial. Esse período demarca o início do que os historiadores convencionam denominar de Idade Moderna, no qual se têm os primeiros registros sobre o uso de um sistema formal de escrituração contábil, representado sob a forma de documentos que evidenciavam os detalhes das transações comerciais e seus impactos na geração de riqueza da entidade empresarial denominada intuitiva. Mais adiante, o mês de novembro de 1494 foi um marco na história da contabilidade, com a obra do frei Luca Pacioli, intitulada Summa de Aritmetica, Geometria, Proportione LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 92 et Proportionalita, que sistematizou a partida dobrada e sua universalidade, dando uma nova dimensão ao mundo contábil. Essa sistematização, trazida pela obra do frei italiano, representava a ressignificação da contabilidade, dando relevância às necessidades da sociedade à época (SCHIMIDT; SANTOS, 2016). A obra foi, sem dúvida, um dos principais motores para a ascensão da escola europeia. O conteúdo organizado e sistematizado por Luca Pacioli é essencialmente respaldado nos conceitos da álgebra greco-romana, criada antes da era cristã e que chegou à Europa através do livro Liber Abaci, escrito por Leonardo Fibonacci (1170-1250). Toda essa evolução da ciência contábil não seria possível se não tivéssemos as contribuições das diversas escolas do pensamento contábil, aperfeiçoando, assim, as técnicas científicas para melhor desenvolver os cuidados relacionados ao patrimônio. A ciência contábil tem cerca de 10.000 anos de história, comprovados em registros desde a época em que a escrita ainda não havia se desenvolvido. Vimos as primeiras inscrições, da Mesopotâmia, passando pela formalização, as escolas basilares e a consolidação da partida dobrada, com os italianos, até chegar à padronização e aos institutos universalizados pelos americanos. As escolas italianas e americanas (anglo-saxônica) influenciaram a formação do arcabouço teórico da contabilidade brasileira, dividido em três marcos temporais: do século XIX a 1946, de 1946 até os primeiros anos do século XXI e a partir de 2005, com a convergência aos padrões internacionais e o surgimento do CPC. Atualmente, a contabilidade é dividida em diversos ramos de atuação, dos quais os principais são o geral, o financeiro, o público e o gerencial. A existência e o desenvolvimento da contabilidade estão atrelados à necessidade de informações contábeis, que têm papel relevante no processo de tomada de decisão tanto em entidades privadas, com ou sem fins lucrativos, como nas da esfera pública, como as prefeituras e os governos estaduais e federal. Nesse sentido, veremos qual é o objeto e o objetivo do estudo da contabilidade. Em seguida, faremos uma distinção entre dados e informações para, então, compreendermos o que cada usuário da contabilidade busca ao utilizar seus resultados. Um dos primeiros aspectos que se deve observar ao analisar a concessão ou não de um empréstimo é se a pessoa que pede terá ou não capacidade para realizar o pagamento dentro do prazo e das condições acordadas. Para tanto, é possível contar com o auxílio de relatórios financeiros sobre ela, indicando quão endividada está. LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 93 Adaptando esse exemplo para o mundo corporativo, suponhamos que uma empresa queira ampliar sua área de atividade, necessitando do empréstimo de um banco. É comum que agentes de crédito peçam a seus clientes informações contábeis que demonstrem sua capacidade de pagamento. Ou seja, temos, nessa situação, um usuário da contabilidade pedindo informações que lhe ajudem a tomar uma decisão. Sendo assim, o propósito da contabilidade é controlar o patrimônio objetivando a produção de informações úteis ao processo decisório, na escrituração contábil: • As empresas de direito público surgem por meio de leis e apresentam finalidade comum como disponibilizar serviços. • A Pessoa Jurídica de direito privado surge da livre iniciativa de atender às demandas das pessoas. 3. POSTULADOS CONTÁBEIS Como vimos até aqui, o principal objetivo da harmonização contábil global é fazer com que os demonstrativos contábeis financeiros possam ser compreendidos nos mais diversos países, sem que, para isso, seja preciso elaborar diversas demonstrações diferentes para atender às exigências do mercado internacional. Até aqui, compreendemos a dinâmica da contabilidade no mundo, os modelos contábeis dominantes e o posicionamento do Brasil nesse cenário por intermédio do CPC. Dessa forma, iremos apresentar neste momento os postulados contábeis, porém, o CPC não os cita mais em sua redação, mas, sim, manifesta sua existência e conceitos na harmonização contábil. A informatização de processos, a globalização, o aumento da concorrência e as mudanças frequentes que são impostas às organizações trazem aos profissionais e gestores uma série de desafios profissionais. Os profissionais que atuam na contabilidade também têm o seu trabalho influenciado por todas essas mudanças e devem estar sempre atentos a qualquer tipo de impacto que tais mudanças possam ocasionar na forma de contabilizar o patrimônio, bem como na forma de gerar informações para a tomada de decisões e controles. A inovação é constantemente apontada como uma das principais formas de melhoria em processos organizacionais, portanto, as organizações devem incentivar seus colaboradores, independentemente do nível em que se encontram na empresa, a buscarem formas de inovar em seus processos. Ao estabelecer a criatividade como LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 94 a tônica para os seus negócios, organizações de todos os setores agregam inúmeras vantagens competitivas diante da concorrência. Na contabilidade, a inovação em processos também é bem-vinda, pois permite que o setor ganhe maior eficiência e eficácia em todos os processos realizados. Entretanto, a contabilidade, como toda ciência, tem postulados, princípios e convenções que devem ser seguidos por todos os que atuam, ou pretendem atuar, na área. Os seis princípios têm igual importância e devem ser observados no dia a dia dos profissionais da contabilidade. Entretanto, dois deles, dada a sua aplicabilidade, são também denominados de postulados contábeis. Segundo Almeida (2018, p. 101), postulados “(...) são os elementos vitais, elementos básicos, em que se estruturou toda a contabilidade atual; são as condições sine qua non para o desenvolvimento da contabilidade”. São considerados postulados contábeis os princípiosda entidade contábil e o princípio da continuidade. A inobservância dos princípios contábeis por parte do contador constitui uma infração ao Código de Ética Profissional do Contador (CEPC). O contador que não observar esses princípios poderá receber penalidades, como afastamento temporário ou até permanente da profissão. Outras penalidades são as multas, que podem variar de valor de acordo com a gravidade e os impactos ocasionados pela não aplicação dos princípios contábeis. Se quiser ler o texto completo do CEPC, basta pesquisar por “Código de Ética Profissional do Contador” no seu navegador da Internet e acessar uma fonte confiável do texto, como o site do CFC ou dos conselhos regionais de contabilidade. Os usuários da contabilidade devem receber as informações com o máximo de exatidão para que possam tomar as melhores decisões. Sendo assim, ao seguir os princípios da contabilidade e aplicar todos os aspectos a eles relacionados, a contabilidade poderá atender aos anseios e necessidades de todos os usuários. 4. PRINCÍPIOS CONTÁBEIS Princípios contábeis são regras e diretrizes da contabilidade que são aplicáveis e aceitas por todos os profissionais e entidades que atuam na área. Esse conjunto de regras orienta a prática contábil e estabelece a estrutura conceitual da contabilidade. Essas regras são estabelecidas pelas entidades de classe, comitês, comissões especiais e órgãos reguladores (ALMEIDA, 2018). LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 95 Entidades como o Instituto Brasileiro de Contadores (Ibracon) e o Conselho Federal de Contabilidade (CFC) tiveram papel fundamental nas discussões relacionadas aos princípios contábeis no Brasil. Os princípios contábeis ajudam os profissionais da área a nortearem sua atuação, ajudam no processo de organização e também permitem à contabilidade manter sua essência como uma ciência social aplicada, com definições de pessoa física e jurídica: • Por Pessoa Física entende-se qualquer cidadão em pleno exercício de sua cidadania, integrado a determinada sociedade. • No caso da Pessoa Física, a certidão de nascimento marca o início da vida legal dela. • Pessoas Jurídicas podem ser classificadas em: de direito público e de direito privado. Ao estudarmos os princípios contábeis, não devemos confundi-los com os objetivos e o objeto da contabilidade. Enquanto a contabilidade tem como objeto o patrimônio das entidades e como objetivo gerar informações aos usuários, os princípios são a forma, o meio e a estrutura que a prática contábil utiliza para chegar aos objetivos (SÁ, 2000). Definir princípios contábeis é algo que auxilia a todos os profissionais que atuam, direta ou indiretamente, na contabilidade. A definição de padrões sempre contribui muito para a evolução e a aplicabilidade da própria ciência: Decorre que um padrão estabelece uma forma de conduta a ser seguida pelos operadores da contabilidade, os princípios subjacentes a essa norma de conduta podem ser considerados consoante duas linhas de raciocínio distintas, porém, complementares e não excludentes. A primeira refere-se à figura dos princípios como regramento, ou seja, o estabelecimento de diretrizes e regras que devem ser adotadas pelo contador no exercício de suas atividades operacionais, para os balancetes contábeis: • Permite que se avalie o volume de operações que afetaram uma ou outra conta em determinado período de tempo. • Trata-se de uma demonstração prévia que tem por finalidade apresentar todas as operações realizadas pela empresa. • O balancete é utilizado para fins de validação do que foi previamente registrado pelas empresas. LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 96 A segunda refere-se aos princípios sob uma perspectiva filosófica, voltada aos valores éticos, morais e responsáveis que permeiam o julgamento de valor na conduta do contador (IUDÍCIBUS et al., 2020). A contabilidade evolui constantemente em face das mudanças ocorridas na sociedade e também porque, como toda ciência, ela se transforma e se modifica, visando a acompanhar as necessidades dos seus usuários. Antigamente, os princípios contábeis eram denominados princípios contábeis geralmente aceitos, nome pelo qual ainda são reconhecidos em alguns países, como os Estados Unidos. Para o melhor entendimento da matéria, resumiremos o conjunto de princípios contábeis reconhecidos desde a sua criação até os dias atuais, com foco nas transformações da lei 6.404/76: • Essa lei procura definir, com o máximo de clareza, os preceitos e obrigações para as empresas constituídas no Brasil. • Determina as demonstrações contábeis que devem ser elaboradas e apresentadas não somente pelas sociedades anônimas, mas também pelas demais entidades. Em 1981, o Conselho Federal de Contabilidade editou a Resolução CFC nº 530, de 23 de outubro de 1981, aprovando 16 princípios fundamentais de contabilidade. Nessa norma, ficou claro também que, até então, inexistia um consenso sobre o que era e quais eram os princípios contábeis no País. Segundo Sá (2000), “(...) a resolução definia como princípios os conceitos e postulados gerais emanados da doutrina contábil, voltados ao tratamento contábil uniforme dos atos e fatos administrativos e das demonstrações deles decorrente”. A convergência das normas contábeis para o padrão das Normas Internacionais de Relatório Financeiro (IFRS, International Financial Reporting Standards) avançou rapidamente, e as normas contábeis brasileiras passaram a ser traduzidas e adaptadas para a realidade brasileira. Com isso, surgiu a norma mais atual acerca dos princípios contábeis divulgada no Brasil. Trata-se da Resolução CFC nº 1.374, de 8 de dezembro de 2011. Essa norma, denominada Estrutura Conceitual, visa a adequar as definições de princípios adotadas pela contabilidade brasileira às normas internacionalmente aceitas (IUDÍCIBUS et al., 2020). Reconhecer, conceituar e caracterizar os princípios de contabilidade aceitos no Brasil se faz importante como forma de auxiliar a aplicação deles, bem como de colaborar para a incorporação deles na formação de novos profissionais. Compreender os princípios de contabilidade é tarefa necessária de todos os profissionais da área, LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 97 pois, a partir deles, é possível compreender todos os demais conceitos aplicáveis à contabilidade e à geração de informações para a tomada de decisões nas entidades. Aqui serão abordados os conceitos dos seis princípios de contabilidade: entidade, continuidade, oportunidade, registro pelo valor original, competência e prudência, que, a partir da Resolução 750/93, devido ao advento da Lei 11.638/2007, os princípios abrem caminho para a contabilidade e a padronização internacional. a) Princípio da Entidade O princípio da entidade, como já vimos, ganha o status de postulado da contabilidade dada a sua abrangência. Ele prega que o patrimônio da entidade não deve se confundir com o patrimônio dos seus sócios, acionistas ou proprietário individual. Esse princípio se estrutura na personalidade jurídica da entidade, cujo(s) proprietário(s) são pessoas distintas (juridicamente, inclusive). O princípio da entidade se baseia também em autonomia patrimonial, patrimônio personalizado e autônomo (SCHIMIDT; SANTOS, 2016). Quer dizer, o patrimônio dos sócios não pode ser confundido e misturado com o patrimônio da entidade, sendo assim, é necessário que os profissionais da contabilidade cuidem para que isso não ocorra e orientem os sócios para que não realizem operações que possam gerar tal confusão. b) Princípio da Continuidade O princípio da continuidade também é considerado como um postulado. Segundo esse princípio, “(...) a empresa deve ser avaliada e, por conseguinte, ser escriturada, na suposição de que a entidade nunca seráextinta; os ativos dessa empresa serão avaliados partindo desse pressuposto” (IUDÍCIBUS et al., 2020, p. 101). O princípio da continuidade existe porque, na contabilidade, as entidades são constituídas para “(...) operar por um período de tempo relativamente longo no futuro e esta premissa somente é abandonada quando há um histórico de prejuízos persistentes, perda de substância econômica e de competitividade de mercado” (IUDÍCIBUS et al., 2020, p. 76). Considerando que as entidades têm uma vida longa, os componentes patrimoniais contidos nas demonstrações contábeis emitidas por essas entidades serão mensurados e apresentados levando essa longevidade em conta. Considera-se que a entidade continuará em operação e, dessa forma, é impossível que as demonstrações contábeis sejam desvinculadas umas das outras ou, ainda, que não sejam vinculadas a períodos anteriores ou subsequentes. LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 98 Caso a entidade, por algum motivo qualquer, tenha de ser descontinuada e ter encerradas suas operações, essa informação deverá ser divulgada como um fato e mencionada em suas demonstrações contábeis (GRECO; AREND, 2016). A descontinuidade de uma entidade pode ocorrer por diversos fatores, entre eles, a paralisação de suas atividades produtivas, seja por motivos operacionais, seja por motivos comerciais, financeiros ou de dissolução aprovada pelos seus sócios. c) Princípio da Oportunidade O terceiro princípio da contabilidade é o princípio da oportunidade. Ele tem como função garantir que, na contabilização do patrimônio da entidade, a mensuração e a evidenciação dos componentes patrimoniais produzam informações íntegras e tempestividade, com foco de: Os relatórios externos servem para atender a públicos interessados e/ou a exigências dos órgãos de fiscalização, são exemplos: o relatório de demonstração dos resultados do exercício e o relatório de balanço patrimonial. Os relatórios internos servem para atividades de tomada de decisão e, portanto, contêm informações sigilosas, são exemplos: o relatório de estrutura atual de custos e o relatório de projeção de lucro dos próximos períodos. O CPC (2019) apresenta dois grupos de características da informação contábil. O primeiro grupo refere-se às características qualitativas fundamentais e é composto por relevância, materialidade e representação fidedigna. O segundo grupo apresenta as características qualitativas de melhoria e é composto por comparabilidade, capacidade de verificação, tempestividade e compreensibilidade (IUDÍCIBUS et al., 2020). O princípio da oportunidade, portanto, tem forte relação com a qualidade das informações que são geradas a partir da atividade contábil, e a qualidade está relacionada aos usuários dessa informação. Entre os principais usuários da informação contábil que têm forte relação com a qualidade delas, estão os seguintes: Governo: para acompanhar a evolução do patrimônio com vistas à fiscalização e cobrança de impostos da entidade. Sócios e proprietários: para acompanhar se a entidade está auferindo lucro ao final de cada período e, também, para definir os rumos do seu negócio. Colaboradores: para acompanhar como a entidade está em relação à sua situação financeira. LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 99 Administradores e gestores: visam a acompanhar como a entidade tem se comportado a partir de cada uma das decisões que vêm sendo tomadas no dia a dia do negócio. d) Princípio do Registro pelo Valor Original O princípio do registro pelo valor original tem forte impacto nas atividades dos profissionais de contabilidade no momento em que eles estão registrando as operações realizadas pela entidade. Segundo este princípio, é esperado das entidades que “(...) os componentes do patrimônio devem ser inicialmente registrados pelos valores originais das transações, expressos em moeda nacional” (HENDRIKSEN, 2015, p. 7). As seguintes bases de mensuração podem ser adotadas pelas entidades no momento da elaboração das suas demonstrações: Custo histórico: este conceito prega que os ativos deverão ser registrados pelos valores pagos na data de aquisição. Para isso, cabe também a consideração do valor justo. Em relação aos passivos, os mesmos deverão ser registrados pelos “(...) valores dos recursos que foram recebidos em troca da obrigação ou, em algumas circunstâncias, pelos valores em caixa ou equivalentes de caixa, os quais serão necessários para liquidar o passivo no curso normal das operações” (HENDRIKSEN, 2015, p. 15). Custo corrente: nesta base de mensuração, os ativos são mantidos pelo montante ao equivalente em caixa que teria de ser pago na aquisição desse mesmo ativo na data de fechamento do balanço. Já em relação ao passivo, os passivos seriam avaliados pelo montante de recursos necessários para liquidar a obrigação também na data de fechamento do balanço. Valor realizável: os ativos são mantidos pelo montante que poderia ser obtido pela venda desses ativos; já os passivos são mantidos “(...) pelos seus montantes de liquidação, isto é, pelos montantes em caixa ou equivalentes de caixa, não descontados, que se espera serão pagos para liquidar as correspondentes obrigações no curso normal das operações” (HENDRIKSEN, 2015, p. 78). Valor presente: os ativos são mantidos pelo valor presente, entretanto, devem-se descontar dos fluxos futuros de entradas de caixa os valores que esses ativos gerariam no curso normal das operações. Já os passivos são “(...) mantidos pelos valores em caixa e equivalentes de caixa, não descontados, que se espera seriam pagos para liquidar as correspondentes obrigações no curso normal das operações da entidade” (HENDRIKSEN, 2015, p. 15). LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 100 e) Princípio da Competência Segundo o princípio da competência, o resultado de um período deverá ser apurado confrontando-se receitas e despesas do respectivo período. Com isso, ele prevê que a entidade tenha simultaneidade da confrontação das receitas e despesas no período em que estiver fechando suas demonstrações. Segundo Schmidt e Santos (2016, p. 93), esse é um dos mais importantes fundamentos da contabilidade uma vez que direciona a apuração dos resultados do período pela inclusão das receitas e das despesas que tiveram seus fatos geradores ocorridos durante o respectivo período, independentemente de as receitas terem sido recebidas e de as despesas terem sido pagas no respectivo período. f) Princípio da Prudência A prudência determina a adoção do menor valor para os componentes do ativo e do maior para os do passivo quando houver dúvidas quanto a sua quantificação. O mesmo ocorre sempre que se apresentem alternativas igualmente válidas para a quantificação das receitas e despesas (IUDÍCIBUS et al., 2020, p. 12). Compreender os princípios e convenções contábeis é indispensável a todos os profissionais que atuam, ou pretendem atuar, na contabilidade. Como em toda ciência, a contabilidade faz jus aos seus pressupostos básicos, cabendo aos profissionais que se utilizam dessa ciência como trabalho fazerem o correto uso e emprego desses pressupostos em seu dia a dia profissional. 5 MENSURAÇÃO DE ATIVOS, PASSIVOS E CONTAS DE RESULTADO A contabilidade é a ciência responsável pela mensuração, controle e estudo das mutações que ocorrem no patrimônio das entidades. Estas podem ser com ou sem fins lucrativos, ou ainda relacionadas a uma ou mais pessoas físicas ou jurídicas. O patrimônio, do ponto de vista contábil, é representado pelo conjunto de bens, direitos e obrigações de qualquer uma dessas entidades as quais são reconhecidas pela contabilidade em todas as suas nuances. Além disso, é preciso entender como esse patrimônio se forma, ou seja, quais são as movimentações que levam aalterações na situação patrimonial em uma entidade tendo alterada sua situação de um período a período. Compreender as características e o conceito do patrimônio das entidades e como ele é formado são os primeiros passos para aqueles que querem entender qual é o objeto LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 101 e o campo de atuação da contabilidade. De forma bastante básica, o patrimônio pode ser definido pelo conjunto de bens, direitos e obrigações, sejam eles pertencentes a uma pessoa física ou jurídica, com ou sem fins lucrativos, e que terão suas mutações e aspectos estudados por essa ciência. O campo de aplicação da contabilidade irá contemplar tanto as aziendas, as quais estão voltadas para além da questão dos fins lucrativos, como para aquelas empresas que comercializam produtos, mercadorias e serviços em sua atividade principal. 6. CARACTERÍSTICAS DAS INFORMAÇÕES CONTÁBEIS Diferentemente do dado, a informação traz valor agregado, ou seja, é um dado que foi trabalhado e conectado a outros dados, que, em conjunto, conseguem fornecer aos usuários informações úteis ao processo decisório. A informação também pode ser definida, de forma mais genérica, como o resultado, o conhecimento que fora obtido por meio de uma análise ou investigação dos dados (SCHMIDT; SANTOS, 2016) 7. FORMALIDADES DAS ESCRITURAÇÕES Pode-se afirmar que o campo de aplicação da contabilidade é o das aziendas. Mas o que seria tal conceito? Segundo Schmidt e Santos (2016), as entidades, no sentido geral, criadas sob forma econômica possuem elementos em comum. Nesse contexto, uma azienda pode ser definida como uma entidade constituída pelo conjunto de bens, direitos e obrigações, ou seja, todas as que possuem patrimônio. Ainda de acordo com os autores, as entidades, apesar dos laços em comum, diferenciam-se em questões bastante específicas. Com base nesse entendimento, a contabilidade é aplicável a entidades com ou sem fins lucrativos, empresas do setor público, religiosas, partidos políticos e qualquer tipo de organização ou pessoa física, as quais possuam um patrimônio. Já que a contabilidade se aplica tanto às pessoas físicas quanto às jurídicas, como elas se diferenciam dentro do mundo dos negócios? Uma pessoa física é considerada uma pessoa natural ou, ainda, aquela registrada em cartório e que possui um conjunto de bens, direitos e obrigações. Perante a contabilidade, ela responde de forma individual por seus atos, além disso, é finita quando se dá o seu falecimento. No processo de controle patrimonial, outro ponto crucial também é entender as representações gráficas, ou seja, como é representado dentro da contabilidade, seus elementos e o significado de cada um dentro da natureza contábil. Isso irá permitir LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 102 o conhecimento das situações, estados patrimoniais e como cada um deles impacta de forma diferenciada em uma organização. Para que alguém possa controlar o patrimônio de uma entidade, é necessária a compreensão de alguns elementos essenciais que farão parte do processo de mutação dos elementos patrimoniais. De forma inicial, é imprescindível o entendimento de como funciona a equação patrimonial e por que sua composição ocorre para que uma empresa tenha o seu patrimônio. 8. ESCRITURAÇÃO CONTÁBIL X DIGITAL A contabilidade pode ser entendida como a ciência que é responsável pelo estudo das mutações que ocorrem tanto no patrimônio das entidades como também no de uma pessoa física. Essas transformações podem ocorrer de forma aumentativa ou diminutiva, ou seja, o patrimônio poderá ser adicionado ou diminuído a todo tempo, e a contabilidade irá registrar e controlar essas movimentações. Adicionalmente, outra possibilidade de entendimento da contabilidade é que ela é encarregada também pelo registro – classificações e posterior elaboração de demonstrações contábeis, sejam elas obrigatórias ou não, referentes às mutações patrimoniais ocorridas em um determinado período, consequência de uma etapa anterior, a chamada escrituração contábil. Assim, o processo de escrituração contábil evidencia, de forma ordenada, todos os registros referentes às mutações contábeis em questão, as quais ocorreram em um período. Atualmente tal processo ocorre de maneira digital e é conhecido como Sistema Público de Escrituração Digital (SPED). Assim, o nome escrituração está relacionado à forma como a contabilidade era realizada, de maneira manual (IUDÍCIBUS et al., 2020). Dentro do contexto contábil e empresarial, de modo simples, um bem pode ser classificado como algo capaz de satisfazer às necessidades humanas por meio de benefícios econômicos, os quais possuem valor e podem ser mensurados economicamente (HENDRIKSEN, 2015). Nesse contexto, um exemplo bastante comum são os maquinários de uma empresa, ressaltando-se que existe uma série infinita de bens em uma firma, e devem ser colocadas em notas explicativas, onde a publicação das Notas Explicativas é obrigatória às empresas de capital aberto, com a publicação das Notas Explicativas facilita o entendimento dos leitores (acionistas, investidores e sociedade em geral), contribuindo para o esclarecimento da situação patrimonial e dos resultados do exercício LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 103 Assim, podemos dizer que uma máquina é um ativo da empresa já que ela faz parte do patrimônio de uma organização. Ela serve como um mecanismo para satisfazer as necessidades humanas uma vez que, no caso de produção, ela é mensurável e tem valor econômico. Ademais, pode ser negociada entre duas empresas diferentes. O mesmo raciocínio pode ser aplicado a diversos tipos de ativos, como veículos, computadores, entre outros que são utilizados em uma empresa. ISTO ESTÁ NA REDE Link: https://www.youtube.com/watch?v=JGKI3JrwFJI . Vamos aprofundar nossa troca de conhecimento? Para tanto, segue um vídeo que demonstra toda aplicabilidade em relação à escrituração contábil digital e suas formalizações nas rotinas organizacionais. Assista a O que é a ECD?. ANOTE ISSO Os direitos, representados por valores a receber (como clientes, adiantamentos a funcionários e a fornecedores, entre outros valores), também irão compor o conjunto patrimonial que a empresa mantém junto a terceiros. Este, ainda que não represente bens ativos propriamente ditos, de alguma forma permite à empresa cobrar algo de um terceiro. https://www.youtube.com/watch?v=JGKI3JrwFJI LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 104 CAPÍTULO 08 CPC 00 - ESTRUTURA E CONCEITOS 1.0 INTRODUÇÃO Olá, estudante, O balanço patrimonial é a demonstração contábil que apresenta a posição patrimonial e financeira de uma empresa em determinado momento. O que é representado nesta demonstração são valores estáticos e após o fechamento dessa demonstração é muito provável que os valores passarão a ser diferentes para compor o próximo balanço. De acordo com o CPC 00, a composição do balanço patrimonial se dá por três elementos: ativo, passivo e patrimônio líquido (já vimos o que é cada um no Capítulo 1). Cada um desses elementos é representado em contas, que são denominados grupos, esses grupos são classificados em ordem decrescente de liquidez para o ativo e ordem decrescente de exigibilidade para o passivo (ASSAF NETO, 2012). Dentre os elementos que compõem o patrimônio (mais precisamente o ativo) e, consequentemente, o balanço patrimonial, temos as chamadas ‘propriedades para investimentos’, que são os terrenos mantidos para valorização a longo prazo, terrenos mantidos para uso no futuro, edifícios que sejam da entidade (desocupados ou não) e que estejam sob arrendamento e propriedade que esteja sendo construída para futura utilização. 2.0 BalançoPatrimonial Esses elementos patrimoniais têm tratamento específico e são regulados pelo CPC 28, que objetiva estabelecer o tratamento contábil de propriedades para investimento e respectivos requisitos de divulgação. Por se tratar de patrimônio que é mantido para fins de valorização ou de geração de caixa, eles são enquadrados no subgrupo Investimentos dentro do balanço patrimonial. Logo mais essa estrutura ficará mais clara e você conseguirá identificar esses elementos na demonstração contábil. O balanço patrimonial é segregado em duas principais partes, imagine um quadrado em que há uma linha tracejada no meio em sentido vertical, na parte esquerda está LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 105 representado o ativo, também chamado de aplicação dos recursos da empresa, e pode ser dividido em ativo circulante (caixa e equivalentes de caixa, valores a receber) e ativo não circulante, que é segregado no realizável a longo prazo, investimentos (lembra do CPC 28 que vimos anteriormente?), imobilizado e intangível. No lado direito, que é também chamado de origem dos recursos, são representados o passivo e o patrimônio líquido. O CPC 26 orienta sobre a apresentação das demonstrações contábeis, diretrizes para a estrutura e requisitos mínimos para o seu conteúdo. De acordo com o CPC 26 (2011, s.p.), “este Pronunciamento Técnico não prescreve a ordem ou o formato que deva ser utilizado na apresentação das contas do balanço patrimonial, mas a ordem legalmente instituída no Brasil deve ser observada”. Isso implica dizer que o item 54 do CPC 26 (2011) simplesmente lista os itens que são suficientemente diferentes na sua natureza ou função para assegurar uma apresentação individualizada no balanço patrimonial. Adicionalmente, o CPC 26 (2011, s.p.) em seu item 57, determina que “as contas do balanço patrimonial devem ser incluídas sempre que o tamanho, natureza ou função de um item ou agregação de itens similares apresentados separadamente seja relevante na compreensão da posição financeira da entidade”. No passivo, estão as obrigações da empresa, que são a origem dos recursos aplicados, ou seja, os valores investidos no ativo. O passivo é classificado em passivo circulante e passivo não circulante. Por fim, no patrimônio líquido, estão dispostos os recursos próprios, ou seja, o capital dos sócios investidos na empresa e os lucros da empresa. A seguir, poderemos ver a estrutura básica do balanço patrimonial. BALANÇO PATRIMONIAL ATIVO R$ PASSIVO e PATRIMÔNIO LÍQUIDO R$ CIRCULANTE CIRCULANTE NÃO CIRCULANTE NÃO CIRCULANTE Realizável a longo prazo PATRIMÔNIO LÍQUIDO Investimentos Imobilizado Intangível TOTAL ATIVO TOTAL PASSIVO Fonte: A autora LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 106 Salienta-se que a estrutura demonstrada é a estrutura mais básica de um balanço patrimonial. O desdobramento dos subgrupos decorre das atividades das empresas, por exemplo, empresas que não possuem estoques não apresentarão no balanço patrimonial a conta estoque, como as empresas financeiras. Portanto, assim como o enquadramento de porte determina quais demonstrações contábeis são obrigatórias, com relação às contas que compõem o balanço patrimonial, serão desdobradas, considerando as suas atividades-fim. 2.0 Relatórios Financeiros Para que o gestor de uma empresa consiga realizar um trabalho de qualidade, ele precisa visualizar os dados referentes a patrimônio, dívidas e lucros, que serão utilizados para obtenção de informações relevantes sobre o desempenho financeiro do empreendimento. Os dados compõem os relatórios financeiros (ou contábeis), tais como balanço patrimonial, demonstração de fluxos de caixa demonstração do resultado do exercício e demonstração das mutações de patrimônio líquido. Com base nesse conjunto de demonstrações contábeis, torna-se possível a realização de decisões de investimento e financiamento de modo assertivo. Segundo Matarazzo (2010), os dados, isoladamente, não provocam nenhuma reação em quem os lê, por outro lado, as informações podem produzir reações ou decisões com significado importante. Por exemplo, o gestor financeiro precisa passar ao diretor geral a situação financeira da empresa. Neste caso, ele não pode apenas olhar para o dado referente às vendas, pois esse dado por si só não leva a nenhuma conclusão. Ele precisa reunir diferentes dados, como os custos fixos e variáveis, a receita líquida, o percentual de inadimplência, entre outros. A partir da análise desse conjunto de dados, ele consegue retirar informações relevantes e precisas que darão suporte para definir a real situação financeira da empresa e a elaboração de uma resposta consistente ao seu direto, com foco em analisar este como Ativo Circulante quando satisfizer qualquer dos seguintes critérios: seja realizado no decurso normal do ciclo operacional da entidade; está mantido com o propósito de ser negociado; ou é caixa ou equivalente de caixa, onde o grau de liquidez que determina em que grupo seja inserida a informação, estando assim determinado que os bens e direitos passíveis LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 107 de serem convertidos em dinheiro em curto espaço de tempo estejam elencados no ativo circulante. Para que um gestor possa tomar decisões acertadas, de forma rápida e eficiente, ele precisa ter como base relatórios gerenciais ou administrativos, nos quais devem constar um conjunto de informações de caráter geral sobre a organização, como projeções financeiras, políticas de recursos humanos, projetos para expansão e modernização, perspectivas para o futuro da empresa e o seu setor no geral, além de outras informações que podem contribuir para uma melhor tomada de decisão por parte da administração e que são fundamentais para os analistas externos. Alguns dos principais relatórios gerenciais são os demonstrativos contábeis, como o balanço patrimonial, a DRE e a DFC, sendo estes obrigatórios e elaborados pelo contador da empresa. No entanto, outros relatórios gerenciais, mais simples, são amplamente utilizados e podem ser feitos manualmente por meio de planilhas ou software especializados. Confira a seguir alguns deles. Relatório de contas a pagar — O qual deve conter as despesas fixas, como aluguel, salários e encargos trabalhistas, e as despesas variáveis, como comissões e insumos. É importante, ainda, que sejam registradas nele todas as contas, com valor, data de vencimento, número de parcelas, data do pagamento, valor final (considerando possíveis juros) e status do pagamento. Relatório de contas a receber — Neste relatório, encontram-se os valores a serem recebidos, com as respectivas datas de recebimento, possíveis descontos oferecidos, cobrança de juros e identificação dos clientes que são bons pagadores. Relatório de vendas — Relatório que possibilita aos gestores acompanhar o desempenho dos seus vendedores, perceber algum padrão de comportamento dos clientes (como, por exemplo, o horário que preferem comprar e por quais meios, como telefone, e-commerce ou pessoalmente). Normalmente, constam nesse relatório o número de vendas, valor das vendas, ticket médio dos produtos mais vendidos e buscados, e dias e horas com maior percentual de vendas. Orçamento empresarial — Relatório que demonstra os recursos que a empresa tem para projetar as metas e quanto deverá ser gasto para que elas sejam alcançadas. Sua base é realizada por meio da previsão de receitas e despesas, formada com dados de meses anteriores. Valor real × valor orçado — É possível acompanhar, por meio desse relatório, o que foi planejado para determinado período e o que está efetivamente acontecendo. É de LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 108 suma importância que os gestores acompanhemmercado de capitais. Outra questão, não menos importante, era a incomparabilidade das informações contidas nas demonstrações contábeis oriundas de empresas de diversos países, pois, se cada uma processava a contabilidade com regras desiguais, o resultado, em termos informacionais, também era diferente. É importante ressaltar que o próprio resultado do exercício — lucro ou prejuízo — era desigual, pois as despesas e receitas que compunham o resultado possuíam tratamentos diferentes, o que acarretava um resultado econômico diverso. Orleans Silva Martins, na matéria “A busca pela harmonização das normas internacionais de contabilidade e a convergência aos padrões do IASB”, apresenta um exemplo real da ocorrência de distorção de resultado entre empresas de um mesmo grupo econômico, mas sediadas em países diferentes. É o caso da companhia alemã Daimler-Benz, fabricante de veículos da marca Mercedes Benz. Segundo o autor, o fato ocorreu no primeiro semestre de 1993, quando, de acordo com princípios contábeis alemães, a companhia obteve um resultado operacional positivo de 168 milhões de marcos alemães e, em conformidade com normas norte-americanas, foi apurado um resultado negativo de aproximadamente 949 milhões de marcos alemães, ou seja, uma diferença de cerca de 1,1 bilhões de marcos alemães. Se era difícil para os usuários internos da informação contábil interpretar resultados tão diferentes baseados em regras desiguais, imagine como era complicado para os LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 13 investidores ou futuros investidores a interpretação das informações contábeis de empresas de diversos países. Os contadores e administradores também achavam necessária a aproximação e a similaridade das regras contábeis entre os países. Isso facilitaria a tomada de decisões, pois haveria a possibilidade de comparação de informações entre empresas distintas. Outro grupo interessado na harmonização das normas contábeis era o dos analistas financeiros, pois, ao reconhecer um investimento, esses profissionais precisam fazer a análise das demonstrações contábeis de empresas do mundo todo. A convergência das normas proporciona aos analistas financeiros uma maior confiabilidade dessas informações. A convergência ainda permite que a empregabilidade em empresas multinacionais aumente, pois a base contábil é a mesma. Camargo (2017) aponta que os principais critérios a favor da harmonização contábil são a credibilidade, a comparabilidade e a eficiência de comunicação. A credibilidade é um interesse considerável para as informações contábeis, pois é o resultado da reunião de normas e de relatórios contábeis. A comparabilidade propicia a comparação das informações de diversas empresas, e a eficiência de comunicação é oportunizada pela facilidade na compreensão e na interpretação das demonstrações contábeis. Camargo (2017) mostra, ainda, algumas vantagens da harmonização contábil: • melhora a compreensão e a comparabilidade das informações contábeis, além de propiciar mais transparência para as informações contábeis; • reduz o custo e o tempo de conversão das demonstrações contábeis de subsidiárias estrangeiras; • diminui o risco para o investidor; • favorece auditorias financeiras e contábeis; • facilita a análise comparativa de resultados financeiros de empresas sediadas no Brasil e no exterior; • reduz os custos para as companhias de capital aberto em relação à elaboração, divulgação e auditoria das demonstrações contábeis; • beneficia a política de preços, as transações internacionais e a decisão de alocação de recursos; • contribui indiretamente para o desenvolvimento do mercado interno por meio da estimulação de ingresso de investimentos diretos do exterior; • facilita o acesso ao mercado externo; LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 14 • favorece bastante a consolidação das demonstrações contábeis; • contribui para a melhoria na comunicação financeira entre a empresa e seus investidores nacionais e estrangeiros; Camargo (2017) também cita algumas desvantagens: • tem um processo trabalhoso em relação à conciliação de diferenças resultantes de informações divergentes; • reduz as opções de práticas contábeis que podem ser mais adequadas; • não contempla políticas fiscais que sejam lançadas de forma temporária; • é interpretada por alguns estudiosos como uma imposição dos desenvolvidos aos em desenvolvimento; Em última análise, a convergência da contabilidade brasileira aos padrões internacionais em termos econômicos é benéfica para a sociedade. Ela proporciona o crescimento das empresas já instaladas por meio do incremento de capital estrangeiro, contribui para a instalação de novas empresas e aumenta a oferta de emprego e o giro econômico, para tomada de decisão dos empresários, que será necessária a definição do preço de venda com maior precisão. 4.0 Principais órgãos de normalização contábil no Brasil A contabilidade possui órgãos que normatizam, orientam e fiscalizam a aplicação das regras contábeis. O principal órgão regulador da área contábil é o Conselho Federal de Contabilidade (CFC). O CFC tem sede em Brasília e é uma autarquia especial corporativa. Ele consiste em uma pessoa jurídica criada e regida por legislação específica e é formado pelo Decreto-Lei nº 9.295, de 27 de maio de 1946, Brasil (2020a). Segundo esse Decreto-Lei, são atribuições do CFC: • organizar o seu regimento interno; • aprovar os regimentos internos organizados pelos conselhos regionais, • modificando o que se tornar necessário, a fim de manter a respectiva unidade de ação; • tomar conhecimento de qualquer dúvida suscitada nos conselhos • regionais e elucidá-la; • decidir, em última instância, os recursos de penalidade impostos pelos • conselhos regionais; LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 15 • publicar o relatório anual de seus trabalhos, no qual deverá figurar a • relação de todos os profissionais registrados; • regular acerca dos princípios contábeis, do exame de suficiência, do cadastro de qualificação técnica e dos programas de educação continuada; • editar as normas brasileiras de contabilidade de natureza técnica e • profissional. A manutenção financeira do CFC sucede do repasse feito pelos Conselhos Regionais (CRCs) de cada estado da federação, consistindo em um quinto de sua renda bruta, de doações e legados e de subvenções governamentais. Vale destacar que o CFC, assim como os CRCs, tem obrigação de prestar contas anualmente, aos seus registrados, sobre a movimentação financeira ocorrida no período. O CFC, ao aprovar a Resolução CFC nº 1.328/11, Conselho Federal de Contabilidade (2011), estabeleceu a estrutura das normas brasileiras de contabilidade, como clareza na DRE, onde: • Na DRE, são demonstradas as receitas do período. • São visualizados os descontos envolvendo impostos. Quando começou o processo de convergência da contabilidade brasileira aos padrões internacionais, o CFC passou a emitir periodicamente as novas normas e/ou atualizou as regras já existentes ou, ainda, revogou aquelas que estavam em desacordo com o novo cenário contábil brasileiro, que definem a situação patrimonial negativa, com a inexistência de riqueza própria significa que o ativo e o passivo são iguais no balanço patrimonial, não necessitando do patrimônio líquido para equilibrar. O passivo a descoberto significa que há mais passivos do que ativos e que o patrimônio líquido é deslocado para o mesmo lado do ativo, afim de equilibrar a equação ou em outros termos que o patrimônio líquido está negativo. No caso de superávit, o ativo é maior que o passivo e, o patrimônio líquido, encontra-se do mesmo lado do passivo, com intuito de equilibrar os valores. No mercado de capitais, a CVM emitiu normas contábeis no âmbito de sua competência, ouesses números em curtos períodos de tempo. Por meio da utilização desses e de outros relatórios gerenciais, torna-se possível administrar e/ou gerenciar um negócio com mais segurança e respaldo, seja esse uma instituição privada, pública, comercial, industrial, etc. Por meio dos relatórios, contábeis e gerenciais, tem-se acesso a informações 12 Informações e relatórios financeiros fidedignas aos dados e, assim, podem ser adotadas as melhores ações, com vistas ao progresso da empresa (SILVA; EVANGELISTA, 2017). Com base no exposto até aqui, é possível notar a importante diferença entre dados e informações, mais especificamente que as informações são resultado da análise de diferentes dados e permitem que sejam tiradas conclusões sobre um determinado assunto a partir delas. Além disso, é possível reconhecer a estrutura das diferentes demonstrações contábeis e dos relatórios gerencias, importantes ferramentas para um bom gerenciamento empresarial. Os relatórios contábeis são a base de todas as informações relacionadas ao patrimônio da empresa, seja de aspectos financeiros, patrimoniais ou gerenciais; cada demonstração contábil irá refletir um — ou vários — item(ns) patrimoniais por meio das contas contábeis nela registradas. O Conselho Federal de Contabilidade (2016a), por meio da NBC TSP Estrutura Conceitual, descreveu os aspectos qualitativos e quantitativos fundamentais da contabilidade; como aspecto quantitativo, temos a expressão de componentes patrimoniais descritos em valores monetários, inclusive no momento do lançamento do plano de contas: • Cada entidade adequa o plano de contas de acordo com as suas necessidades. • É necessário que as informações sejam padronizadas e agrupadas de forma a atender o maior número possível de usuários dentro de suas especificidades e objetivos. • Alimentar o plano de contas adequadamente oferece maior segurança às análises posteriores. Em relação às características qualitativas, a NBC TSP Estrutura Conceitual, descreve a natureza dos elementos que compõem as demonstrações e o grau de particularização das contas, que refletem de forma direta a compreensão dos componentes que engloba o patrimônio da empresa (CONSELHO FEDERAL LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 109 DE CONTABILIDADE, 2016a). Além disso, como aspecto qualitativo temos a individualização das contas patrimoniais, por isso é necessária uma elaboração eficaz do plano individualizado de contas da empresa, o qual englobará todas as particularidades apresentadas na instituição, além de descrever os itens que pertencerão aos relatórios financeiros de forma coesa e eficiente. O Conselho Federal de Contabilidade (2008), entendendo a importância das informações contábeis, emitiu o Pronunciamento Técnico CPC 00 (R2), que trata da estrutura conceitual dos relatórios financeiros, abordando, entre os seus itens, um que trata especificamente sobre as características qualitativas de informações financeiras úteis. Entre os pontos elencados no Pronunciamento Técnico CPC 00 (R2), o Conselho Federal de Contabilidade (2008) elencou algumas características fundamentais — relevância, tempestividade, compreensibilidade, representação fidedigna, verificabilidade e comparabilidade. De acordo com Hendriksen e Breda (1999), para uma informação ser útil, ela deve ser relevante a seus usuários, ou seja, deve refletir os impactos de situações passadas, presentes ou futuras (valor preditivo), ou retificar/ ratificar expectativas (valor de feedback). 2 Relatórios financeiros segundo as normas do IFRS A relevância está interligada com outra característica, a tempestividade, pois uma informação só será relevante se ela for obtida dentro de um determinado tempo. De acordo com Campelo (2007), a tempestividade, ou oportunidade, diz respeito a disponibilizar a informação no momento útil a todos os seus usuários, para que possam, por meio dela, tomar as decisões em tempo hábil. Outra característica da informação contábil é a compreensibilidade, pois uma informação não será utilizada se ela não puder ser interpretada por seus usuários. Desse modo, Santos e Vasconcelos (2006), definem a compreensibilidade como a clareza e a objetividade na divulgação das informações. A representação fidedigna, ou confiabilidade, das informações contábeis é um atributo qualitativo, pois garante ao usuário que as informações que estão sendo analisadas são verdadeiras. De acordo com a NBC TSP Estrutura Conceitual, a confiabilidade faz com que os usuários aceitem e utilizem as informações para decisões relacionadas ao patrimônio da empresa (CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE, 2016a). LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 110 A verificabilidade das informações contábeis está relacionada com a capacidade de mensurar que o método utilizado não possui erros, segundo o Conselho Federal de Contabilidade (2008, p. 13): A capacidade de verificação ajuda a garantir aos usuários que as informações representem de forma fidedigna os fenômenos econômicos que pretendem representar. Capacidade de verificação significa que diferentes observadores bem informados e independentes podem chegar ao consenso, embora não a acordo necessariamente completo, de que a representação específica é representação fidedigna. Informações quantificadas não precisam ser uma estimativa de valor único para que sejam verificáveis. Uma faixa de valores possíveis e as respectivas probabilidades também podem ser verificadas, onde o conjunto de contas do ativo são todos os bens e direitos de uma entidade, assim como do passivo são todas as obrigações e o patrimônio líquido todo o conjunto de ativos da entidade depois de deduzidos seus todos seus passivos. Nas demais alternativas foram enumeradas uma conta de ativo, uma conta de passivo e uma conta de patrimônio líquido individualmente, é elencado como Passivo Circulante quando espera-se que seja liquidado durante o ciclo operacional normal da entidade, assim é compreendido como Passivo Circulante também a obrigação que deverá ser liquidada no período de até doze meses após a data do balanço, pois todas as demais contas de passivo adicionais são importantes ao entendimento da situação da entidade quanto as suas obrigações. Por fim, temos como caraterística qualitativa a confiabilidade das informações contábeis, caraterística relacionada com a possibilidade de os usuários compararem suas informações com as de outras instituições que se encontram em similaridade. Segundo o Conselho Federal de Contabilidade (2008), a comparabilidade permite aos usuários identificar as diferenças e similaridades nos itens contábeis. Além dessas características qualitativas, as informações contábeis têm uma abrangência, pois, a depender do usuário que está buscando as informações, elas podem se apresentar de forma mais dinâmica. A contabilidade tem o objetivo de descrever informações sobre o patrimônio da empresa, para que, de posse desses dados, os usuários, internos ou externos, possam tomar decisões sobre o presente e o futuro da instituição. Cada usuário buscará extrair informações individuais de acordo com suas necessidades específicas. Para saber quais informações serão importantes para cada usuário, é necessário conhecer quem eles são; desse modo, podemos separar os LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 111 usuários da contabilidade em: acionistas, administração, investidores, financiadores e auditores. Segundo Almeida (2019), os acionistas são usuários que investiram na empresa, portanto desejam que o seu capital seja valorizado, ou seja, que a empresa tenha lucro, pois quanto maior o lucro, maior será o seu dividendo. Ainda de acordo com Almeida (2019), os usuários da administração são aqueles que desejam gerenciar os negócios da empresa, desse mododevem estar atentos aos índices de liquidez, para visualizar a situação econômica da empresa. Os investidores são os usuários que estão interessados em comprar ações, desse modo, eles devem analisar se a empresa está ou não dando lucro, para que possa ter um retorno de seus investimentos. Temos também os financiadores, que são os usuários que buscam informações da empresa sobre a possibilidade de liquidar seus débitos, tendo em vista que eles estão inserindo valores na empresa e desejam que esses valores sejam creditados. Por fim, temos como usuários os auditores, e, de acordo com Almeida (2019), a finalidade desses usuários é detectar situações anormais associadas a erros ou irregularidades dos relatórios contábeis. Ao reconhecer os tipos de usuários da contabilidade, é o momento de interpretar os relatórios contábeis para buscar atender a demanda de cada usuário; sendo assim, vale destacar a importância de cada demonstração, do relatório de auditor e dos grupos do plano de contas da empresa. Segundo Almeida (2019), podemos separar as demonstrações contábeis de acordo com as informações que elas emitem, com isso, pode-se afirmar que a demonstração do fluxo de caixa está relacionada com a parte financeira da empresa; já a demonstração do resultado do exercício reflete o desempenho econômico. Além disso, é importante conhecer as transações com efeitos econômicos e as que envolvem efeitos financeiros. Para ter mais informações sobre as demonstrações contábeis, suas finalidades, estrutura e conteúdo, acesse a NBC TG 26, que trata sobre a apresentação das demonstrações contábeis no site do Conselho Federal de Contabilidade (2017). O balanço patrimonial e a demonstração do resultado do exercício são relatórios financeiros que refletem informações mais gerais da empresa, por isso são mais utilizados pelos usuários com o objetivo de extrair as informações necessárias. Ao identificar o balanço patrimonial da empresa, o analista deverá focar em três principais informações, que são os ativos, as dívidas e os investimentos dos sócios LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 112 na empresa. Ao identificar esses valores, o analista deverá, também, sinalizar os que estão mencionados como circulante e não circulante, com o objetivo de detectar a liquidez de cada conta. ISTO ESTÁ NA REDE Link: https://www.youtube.com/watch?v=E3QFRD-cD9o . Ao identificar o balanço patrimonial da empresa, o analista deverá focar em três principais informações, que são os ativos, as dívidas e os investimentos dos sócios na empresa. Ao identificar esses valores, o analista deverá, também, sinalizar os que estão mencionados como circulante e não circulante, com o objetivo de detectar a liquidez de cada conta. ANOTE ISSO De acordo com Almeida (2019), ao buscar informações do balanço patrimonial, o usuário deverá identificar os ativos e passivos, circulantes e não circulantes, sabendo que os bens, direitos e as dívidas realizáveis até o exercício seguinte estarão no circulante — e após esse período no não circulante — e que os investimentos dos sócios e os lucros da entidade estarão dispostos no patrimônio líquido. https://www.youtube.com/watch?v=E3QFRD-cD9o LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 113 AULA 09 CPC 03 – FLUXO DE CAIXA 1.0 INTRODUÇÃO Olá, estudante, a demonstração do fluxo de caixa é a demonstração contábil que mostra as variações ocorridas no caixa da empresa em determinado período. Essa demonstração permite o controle das receitas e despesas e demonstra as origens das mudanças nos saldos de caixa. De acordo com Montoto (2011), o usuário da informação precisa entender se o caixa se alterou em função da atividade principal (operacional), se a alteração foi em função da venda de um imóvel (investimento) ou, ainda, se o caixa melhorou porque foi feito um empréstimo (financiamento). 2.0 Demonstração do Fluxo de Caixa A DFC é uma demonstração obrigatória, por força de Lei, para as sociedades anônimas de capital aberto, e também para aquelas com Patrimônio Líquido superior a R$ 2.000.000,00 na data de encerramento do balanço patrimonial. As Pequenas e Médias Empresas (PMEs) também devem observar a sua elaboração segundo a NBC TG 1000, pelo menos de forma anual, conforme informa a norma. Como já mencionamos antes, as Microempresas e Empresas de Pequeno Porte não são obrigadas a elaborar a DFC, porém, as empresas que querem compreender aspectos relativos aos seus fluxos de caixa, podem elaborar e analisar essa demonstração de forma voluntária, demonstrando o capital de terceiros ou aporte, financeiro vem de terceiros, significa que a empresa deve gerar mais recursos em menos tempo, ou seja, com menos folga, a fim de que possa cumprir com os pagamentos de suas dívidas a terceiros evitando, assim, o enfraquecimento de seus ganhos. A Resolução CFC nº 1.296/10 aprovou a NBC TG 03, que dispõe sobre o fluxo de caixa. De acordo com a norma, informações sobre o fluxo de caixa de uma entidade são úteis para proporcionar aos usuários das demonstrações contábeis uma base para avaliar a capacidade de a entidade gerar caixa e equivalentes de caixa, bem como as necessidades da entidade de utilização desses fluxos de caixa. A conta caixa para a LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 114 DFC é a soma de dinheiro em caixa, bancos e aplicações com liquidez imediata, com foco no patrimônio líquido: • Ao grupo do Capital Social pertencem o Capital Social e Capital a Realizar, sendo que o primeiro já está integralizado à empresa e o segundo ainda não está integralizado à empresa. • O subgrupo das Reservas refere-se àquele grupo em que existem valores retidos seja por vontade dos acionistas ou por exigências legais. • Provisões são aquelas cuja certeza inexiste, ou seja, são realizadas contando com a probabilidade de algum evento não esperado pela entidade. 3.0 FLUXOS DE CAIXA Os fluxos de caixa podem ser elaborados pelos métodos indireto e direto. Veremos, a seguir, primeiro o modelo do método indireto e depois o método direto. O FLUXO DE CAIXA PELO MÉTODO INDIRETO ANO X ANO Y Fluxos de Caixa das Atividades Operacionais Resultado Líquido do Exercício - - Ajustes ao Resultado Líquido Depreciação e Amortização - - Juros Transcorridos e Não Pagos - - Reversão de Provisões - - Provisão p/ Créditos de Liquidação Duvidosa - - Resultado de Equivalência Patrimonial - - Outros Ajustes - - Resultado Líquido Ajustado - - Variações das Contas de Ativo e Passivo Operacional Créditos com Associados - - Créditos com Clientes - - Créditos Tributários - - Adiantamentos - - Outros Créditos - - Estoques - - Dispêndios Antecipados - - Fornecedores - - LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 115 Obrigações com Associados - - Obrigações Sociais - - Obrigações Tributárias - - Obrigações Trabalhistas - - Outras Obrigações - - Caixa Líquido das Atividades Operacionais - - Fluxos de Caixa das Atividades de Investimento - - Recebimento da Venda do Imobilizado - - Pagamento pela Compra de Imobilizado e Intangível - - Aquisição de Investimentos - - Caixa Líquido das Atividades de Investimentos - - Fluxos de Caixa das Atividades de Financiamento Empréstimos Contraídos - - Amortizações de Empréstimos - - Aumento de Capital pelos Sócios - - Devolução de Capital aos Sócios - - Distribuição de Sobras - - Outras Variações - - Caixa Líquido das Atividades de Financiamento - - Variação Líquida de Caixa e Equivalentes de Caixa - - Caixa e Equivalentes de Caixa no Início do Exercício - - Caixa e Equivalentes de Caixa no Final do Exercício - - Variação Líquida de Caixa e Equivalentes de Caixa - - O FLUXO DE CAIXA PELO MÉTODO DIRETO ANO X ANO Y Fluxos de Caixa das Atividades Operacionais Recebimentos de Clientes e Cooperados - - Pagamentosa Fornecedores e Cooperados - - Pagamentos a Empregados - - Caixa Gerado pelas Operações - - Juros Pagos - - Pagamento de Tributos - - Outros - - LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 116 Caixa Líquido das Atividades Operacionais - - Fluxos de Caixa das Atividades de Investimento Recebimento da Venda do Imobilizado - - Pagamento pela Compra de Imobilizado e Intangível - - Aquisição de Investimentos - - Caixa Líquido das Atividades de Investimentos - - Fluxos de Caixa das Atividades de Financiamento Empréstimos Contraídos - - Amortizações de Empréstimos - - Aumento de Capital pelos Sócios Devolução de Capital aos Sócios Distribuição de Sobras - - Outras Origens / Aplicações - - Caixa Líquido das Atividades de Financiamento - - Variação Líquida de Caixa e Equivalentes de Caixa - - Caixa e Equivalentes de Caixa no Início do Exercício - - Caixa e Equivalentes de Caixa no Final do Exercício - - Variação Líquida de Caixa e Equivalentes de Caixa - - O método indireto é diferente do método direto porque sua elaboração começa a partir do resultado final da DRE, ou seja, com o resultado que deverá ser ajustado com itens como a depreciação ou a amortização. Essas contas são ajustadas porque impactam o resultado econômico da entidade, sem afetar, no entanto, o caixa. Podemos usar como exemplo a Depreciação de máquinas e equipamentos. O que ela representa? Representa uma desvalorização do valor do bem em face do seu uso ou obsolescência. Lembramos que essa depreciação é contabilizada como uma despesa, afetando diretamente o resultado da entidade. Você já parou para pensar se ela diminui o resultado financeiro da empresa? Se observarmos bem, a depreciação é uma despesa não financeira, pois ela não gera nenhum tipo de desembolso financeiro, ou seja, apesar de afetar o resultado econômico da entidade, a depreciação não gera nenhum desembolso de dinheiro. São esses ajustes que precisam ser feitos no valor do Resultado da DRE para que possamos chegar à Demonstração de Fluxos de Caixa feita pelo método indireto. LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 117 O CPC 03, que orienta sobre os fluxos de caixa, estabelece que na demonstração dos fluxos de caixa as devidas alterações ocorridas, durante o exercício, no saldo de caixa e equivalentes de caixa e as informações sobre os fluxos de caixa, devem ser segregadas da seguinte maneira: a) Das operações. b) Dos financiamentos. c) Dos investimentos. Projeto de unificação da Estrutura Conceitual da Contabilidade (ECC) Em 2002, IASB e FASB iniciaram o processo de convergência de sua ECC e normas contábeis com a assinatura da carta de intenções, intitulada Norwalk Agreement e, em 2004, se formalizou o projeto de unificação da ECC de ambos os órgãos (framework project). A adoção de uma única ECC pelo FASB e pelo IASB favorece todo o processo de convergência, pois torna os pronunciamentos contábeis específicos mais consistentes, alinha o entendimento individual de seus membros e, consequentemente, gera informações mais úteis. Nesse sentido, dois integrantes do FASB/IASB comentam: Sem a orientação fornecida por uma estrutura acordada, a configuração padrão acaba sendo baseada nos conceitos individuais desenvolvidos por cada membro do órgão de configuração. [...] Essa preocupação não é meramente hipotética: dificuldades substanciais para chegar a um acordo em seus primeiros projetos de normas foram um dos principais motivos pelos quais os membros do FASB decidiram dedicar esforços substanciais para desenvolver uma estrutura conceitual (BULLEN; CROOK, 2005, p. 1-2). Para facilitar a elaboração de uma ECC unificada por IASB/ FASB, seu conteúdo foi separado em módulos para melhor discussão pública inicial do tema, elaboração da minuta unificada e posterior aprovação, como segue: a) objetivos e atributos de relatórios contábil-financeiros; b) definição de entidade relatante; c) elementos contábeis; d) critérios de reconhecimento e mensuração; e) escopo da apresentação e disclosure de relatórios contábil-financeiros; f) propósito da estrutura conceitual; e g) entidades não lucrativas. LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 118 Conforme o SFAC 8, emitido em setembro de 2010, o Conceptual Framework for Financial Reporting contempla, por enquanto, apenas dois capítulos/módulos da convergência: Capítulo 1: O objetivo dos relatórios financeiros de uso geral; Capítulo 2: Características qualitativas dos relatórios financeiros úteis. O módulo sobre objetivos e atributos de relatórios contábil-financeiros foi finalizado em setembro de 2010, com a emissão unificada intitulada SFAC nº 8 pelo FASB e Conceptual Framework for Financial Reporting – CFFR pelo IASB, substituindo os SFACs 1 e 2 e dois capítulos do Framework. A definição de entidade relatando, as discussões sobre (des)reconhecimento e mensuração, o escopo da divulgação e apresentação do desempenho financeiro, o propósito da estrutura conceitual e entidades não lucrativas estão em fase de discussão pública, Exposure Draft – ED/2015/3, e atualmente figura com o status ‘finalizando atualização’, para posterior publicação. Também, especificamente, estão em discussão nesse draft alguns pontos, cujo objetivo é melhorar a ECC anterior, como: informações necessárias para que os relatórios financeiros atinjam seus objetivos, conceitos de prudência e essência sobre a forma, esclarecimentos sobre o efeito do nível de incerteza na mensuração e relevância das informações, definição clara e melhor fundamentada de ativo e passivo (esclarece o conceito e/ou função de probabilidade), esclarecimento sobre decisões de reconhecimento e mensuração que geram informações relevantes sobre o desempenho e posição financeira. Sobre a hierarquia da ECC, IASB/FASB já decidiram contra o entendimento brasileiro que a coloca num status acima das normas específicas, onde a Demonstração do Resultado do Exercício – DRE, tanto o profissional de contabilidade quanto os empresários têm condições de avaliar o desempenho real da entidade e, com isso, identificar os pontos fortes e fracos, buscando a melhora dos seus resultados. Há indícios de que a posição radical do FASB, apenas a de orientar a elaboração de seus pronunciamentos, deve ser abandonada com a ECC unificada (IASB, 2008a; CFC, 2010). Os conselhos não chegaram a uma conclusão comum sobre o status autoritário da estrutura conceitual comum; no entanto, ambos decidiram que a estrutura conceitual comum não terá o mesmo status que as normas de relatórios financeiros. Para fins de comentários sobre este rascunho de exposição e sobre outros documentos de discussão e rascunhos de exposição publicados pelos conselhos durante sua estrutura conceitual conjunta, os entrevistados devem assumir que o status autoritário da estrutura será elevado na hierarquia do US GAAP para ser comparável ao status da estrutura em LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 119 IFRSs (IASB, 2008a, itens P14 e P16). Pelo exposto, a ECC tende a integrar o conjunto de arcabouços teóricos autorizativos do IASB e do FASB, pois a análise patrimonial, visa, obter informações detalhadas de quanto forte ou fraca está a empresa para que assim os investidores possam tomar decisões com mais segurança só poderão ser aceitas se for realizada uma Análise Patrimonial que leva em conta o todo. Portanto, a alternativa está totalmente coerente com o enunciado. Já as demais alternativas são algumas das ferramentas que compõem o todo e que somadas com outras mais possibilitam uma análise completa. 4.1 Objetivos da informação contábil financeira Anteriormente, IASB e FASB indicavam objetivos diferentes para a contabilidade. No SFAC nº 1 (1978), item 34, o FASB focava um usuário (provedor de capital, presentee futuro) e um objetivo (auxiliar a decisão de alocar recurso). Já o IASB, no framework, item 12, era mais genérico e admitia um grande número de usuários das informações contábeis-financeiras e não especificava nenhum tipo especial de decisão. No Brasil, o CPC replicou a definição genérica do IASB, enquanto a Resolução CFC 1.282/2010 (extinta), foi omissa sobre o assunto. Atualmente, IASB/FASB já unificaram seus entendimentos sobre o objetivo das informações de relatório contábil-financeiro e decidiram preservar a posição anterior do FASB: o foco em um único usuário e em uma decisão apenas. Além disso, destaca-se a importância e a necessidade de o usuário ter acesso (informação pública) ao fluxo de caixa futuro da empresa. O objetivo do relatório financeiro de propósito geral é fornecer informações financeiras sobre a entidade que reporta, que são úteis para investidores, credores e credores existentes e em potencial na tomada de decisões sobre o fornecimento de recursos à entidade. Essas decisões envolvem a compra, a venda ou a manutenção de instrumentos de patrimônio e dívida e a concessão ou liquidação de empréstimos e outras formas de crédito. […] Consequentemente, investidores, credores e outros credores existentes e potenciais precisam de informações para ajudá-los a avaliar as perspectivas de futuras entradas líquidas de caixa para uma entidade (SFAC nº 8, 2010, itens OB2 e OB3). Essa decisão conjunta IASB/FASB afeta diretamente o antigo dilema sobre custo histórico ou valor corrente como base de mensuração patrimonial. Como o objetivo é acessar o fluxo de caixa futuro, a abordagem do custo como base de mensuração perde importância para as estimativas de valor corrente e sobre as contas de prejuízos: LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 120 • Na composição do balanço patrimonial, somente fica permitida a apresentação de uma conta redutora de prejuízos acumulados. • A conta de Lucros Acumulados foi extinta pela Lei n.º Lei nº 11.638/2007, tornando-se conta de caráter transitório, impedida de publicação. Essa é a primeira característica da nova ECC, que cria condições e favorece a adoção do valor justo (preço corrente). A segunda característica se alinha no foco ao mercado de capitais, que favorece os usuários que têm ou que possam vir a ter potencial de alocação de recursos para a empresa. As responsabilidades do Conselho e do IASB exigem que eles se concentrem nas necessidades dos participantes no mercado de capitais, que incluem não apenas investidores existentes, mas também investidores em potencial e credores existentes e potenciais e outros credores (SFAC nº 8, 2010, item BC1.16b). Assim, a adoção do valor justo passa a ser preponderante para os objetivos estabelecidos para a nova ECC. A Demonstração do Fluxo de Caixa (DFC) é uma demonstração contábil que indica as entradas e saídas de dinheiro em caixa, permitindo identificar quais transações têm gerado ou consumido caixa. A Lei n.º 11.638/2007, que orienta sobre a elaboração e a divulgação das demonstrações financeiras, considera que a DFC é obrigatória para todas as empresas de capital aberto (aquelas que ofertam suas ações na Bolsa de Valores) e também para as empresas que têm patrimônio líquido superior a R$ 2 milhões. A DFC pode ser elaborada pelo método direto ou pelo indireto, sendo um subsídio importante para a tomada de decisão dos gestores em relação às atividades operacionais, de investimentos e de financiamentos, contribuindo para a gestão financeira das empresas. A demonstração dos fluxos de caixa (DFC) é um relatório contábil que fornece uma visão detalhada das movimentações ocorridas no caixa e equivalentes de caixa na empresa. Essas movimentações podem ser categorizadas nos fluxos de atividades operacionais, de investimento e de financiamento. As atividades operacionais envolvem os fluxos de caixa provenientes das principais atividades de negócios da empresa. Já as atividades de investimentos compreendem os fluxos relacionados à compra ou venda de ativos de longo prazo. Por fim, as atividades de financiamento dizem respeito LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 121 aos fluxos de caixa resultantes de fontes de financiamento, e desta forma ressurge os procedimentos contábeis: • terá melhor comparabilidade das informações; • terá mesmas regras aplicáveis quanto às depreciações; • terão métodos de estoques padronizados; • com a padronização, nenhum país terá suas regras como principais e não exercerá imposição aos demais; • facilitará aos investidores a tomada de decisão, uma vez que as informações serão uniformes; • diminuirá custos ao compor os demonstrativos, pois não será preciso várias adequações a vários critérios; • facilitará as relações financeiras e comerciais entre os países. A elaboração do DFC pode seguir dois métodos distintos: o direto e o indireto. A principal diferença entre eles é a forma como se inicia o cálculo das informações: enquanto, no método direto, o ponto de partida é a obtenção direta das entradas e saídas de caixa, no método indireto o ponto de partida é o lucro líquido registrado na demonstração do resultado do exercício (DRE) da empresa, para melhor resolução da análise de indicadores: • Liquidez Corrente – Indica a capacidade da empresa saldar suas obrigações a curto prazo no menor tempo possível. LC = AC/PC. Interpretação do índice isoladamente “quanto maior, melhor”. • Liquidez Seca – Indica quanto a empresa possui em disponibilidades, aplicações financeiras e duplicatas a receber para honrar suas dívidas de curto prazo. LS = DISP+APF+DRL/PC. Interpretação do índice isoladamente “quanto maior, melhor”. • Índice de Liquidez Geral – Indica a capacidade da empresa em saldar suas dívidas a longo prazo contando com seus recursos a longo prazo; LG = AC + RLP/PC+PNC. Interpretação do índice isoladamente “quanto maior, melhor”. A demonstração dos fluxos de caixa (DFC) foi legalmente introduzida pela Lei nº 11.638, de 28 de dezembro de 2007, em substituição à demonstração das origens e aplicações de recursos (Doar). Isso ocorreu porque a DFC é mais acessível aos usuários da contabilidade e é amplamente adotada no exterior. LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 122 A Lei das Sociedades por Ações (Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976) isenta as companhias de capital fechado com patrimônio líquido inferior a R$2.000.000,00 da obrigação de elaborar e divulgar a DFC (Iudícibus; Marion, 2019). O Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), por meio do Pronunciamento Técnico CPC 03 (R2): Demonstração dos Fluxos de Caixa, alinhado com as Normas Internacionais de Contabilidade (International Accounting Standard [IAS] 7, do International Accounting Standards Board [IASB]), estabeleceu as diretrizes para a elaboração da DFC (Iudícibus; Marion, 2019). De acordo com o CPC 03 (R2), as informações relacionadas ao fluxo de caixa de uma entidade têm o propósito de fornecer, aos usuários das demonstrações contábeis, uma base para avaliar a capacidade da entidade de gerar caixa e equivalentes decaixa, bem como de entender as necessidades da entidade de utilizar esses fluxos de caixa (CPC, 2010). As decisões econômicas feitas pelos usuários, portanto, dependem da análise da capacidade da entidade de gerar caixa e equivalentes de caixa, da avaliação do momento de sua ocorrência e da confiabilidade dessa geração de recursos. Mas você sabe o que significam os termos caixa, equivalentes de caixa e fluxos de caixa? Caixa se refere ao dinheiro em espécie e aos depósitos bancários disponíveis. Já equivalentes de caixa compreendem as aplicações financeiras de curto prazo, de alta liquidez, que podem ser facilmente convertidas em uma quantia determinada e têm um risco insignificante de variação de valor. Por suavez, os fluxos de caixa são os movimentos de entrada e saída de caixa e equivalentes de caixa (CPC, 2010). Para Ribeiro (2013), o conceito de caixa abrange todas as disponibilidades da empresa, que são registradas nas contas caixa (dinheiro em posse da própria empresa), bancos conta movimento (dinheiro da empresa em posse de estabelecimentos bancários, depositado em contas correntes) e aplicações financeiras de liquidez imediata (dinheiro da empresa investido em aplicações altamente líquidas, com vencimento em até três meses a partir da data investimento). Essas três contas fazem parte do grupo de disponibilidades no ativo circulante do balanço patrimonial. Ainda segundo Ribeiro (2013), os equivalentes de caixa representam investimentos financeiros como caderneta de poupança, certificado de depósito bancário (CDB) e recibo de depósito bancário (RDB) prefixados, etc. A DFC deve exibir os fluxos de caixa durante determinado período, categorizados em atividades operacionais, de investimento e de financiamento (CPC, 2010). A categorização por atividade fornece informações que permitem,aos usuários, analisar como essas atividades impactam a situação financeira da entidade e o montante de seu caixa e equivalentes de caixa. Essas informações também podem ser empregadas LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 123 para avaliar as conexões entre as atividades (Iudícibus; Marion, 2019). Movimentando as contas de reservas: • Reservas Estatutárias são aquelas determinadas pelo estatuto da companhia, destinando uma parcela do lucro do exercício, sem interferir na distribuição dos lucros obrigatórios. • Reserva Para Contingências: Será usada para compensar, futuramente, uma diminuição de lucro decorrente de alguma perda, porém deverá poder ser mensurada antecipadamente. • Na Reserva de Incentivos Fiscais, pode-se destinar a parcela do lucro líquido decorrente de doações ou subvenções governamentais para investimentos. O fluxo de caixa das atividades operacionais compreende as principais fontes de receita da entidade. Isso inclui recebimento de vendas e/ou prestação de serviços, os pagamentos a fornecedores por compras e/ou serviços prestados, pagamento de despesas (salários, aluguéis etc.), recebimento de outras receitas (aluguéis, juros, royalties, etc.). Todas as atividades que não se enquadram nas categorias de investimento ou financiamento devem ser categorizadas como operacionais. Os dados básicos para a montagem do fluxo das atividades operacionais são extraídos da demonstração do resultado do exercício (DRE), mas também compreendem o balanço patrimonial (Ribeiro, 2013; Rios; Marion, 2020; Viceconti; Neves, 2017). ISTO ESTÁ NA REDE Link: https://www.youtube.com/watch?v=ywrlIXJ0SVg . O profissional de gestão financeira supervisiona a saúde financeira de uma organização, sendo responsável por diversas atividades para ajudar a garantir que ela possa se manter rentável. Entre suas atribuições, estão a de ajudar a gerar relatórios financeiros, atividades de investimentos direto e se envolver em planejamento financeiro da empresa, com objetivo de garantir que ela possa alcançar suas metas financeiras de longo prazo. Da mesma forma, ainda cabe ao gestor financeiro analisar dados e aconselhar os atores organizacionais sobre oportunidades para maximizar os lucros. Entre as atribuições de um gestor financeiro, podemos citar a de manter o fluxo de caixa revisado; desenvolver a interpretação banco de dados financeiros; gerenciar o orçamento empresarial, almejando maximização da receita, bem como identificar possíveis oportunidades no mercado econômico/ financeiro; promover aperfeiçoamento nos processos financeiros e orçamentário; criar estratégias de gerenciamento de riscos financeiros e aconselhar a empresa em decisões financeiras. https://www.youtube.com/watch?v=ywrlIXJ0SVg LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 124 ANOTE ISSO Essa é a primeira característica da nova ECC, que cria condições e favorece a adoção do valor justo (preço corrente). A segunda característica se alinha no foco ao mercado de capitais, que favorece os usuários que têm ou que possam vir a ter potencial de alocação de recursos para a empresa. As responsabilidades do Conselho e do IASB exigem que eles se concentrem nas necessidades dos participantes no mercado de capitais, que incluem não apenas investidores existentes, mas também investidores em potencial e credores existentes e potenciais e outros credores (SFAC nº 8, 2010, item BC1.16b). Assim, a adoção do valor justo passa a ser preponderante para os objetivos estabelecidos para a nova ECC. LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 125 CAPÍTULO 10 CPC 06 – ARREDONDAMENTOS 1.0 INTRODUÇÃO Olá, estudante, você sabia que algumas vezes, o gestor necessita de determinado bem para alavancar seus negócios. Contudo, ao analisar o custo-benefício de uma aquisição desse bem, percebe-se que não é muito vantajoso comprar o item, pois não se pretende agregá-lo ao seu imobilizado, mas se deseja fazer uso dele apenas por um período de tempo. A operação de arrendamento, ou leasing, como também é conhecida essa modalidade financeira, é uma alternativa interessante para muitas empresas por se caracterizar como uma operação semelhante a um aluguel, porém com opção de compra do bem arrendado no final do período combinado. Neste momento do caminho da aprendizagem, você vai ver importantes análises sobre transações de arrendamentos, com as suas principais características, além dos critérios utilizados para isenção e identificação de reconhecimento. Também vai estudar o reconhecimento da mensuração e a reavaliação de ativos e passivos de arrendamento, bem como os critérios para sua divulgação. 2.0 CPC 06 Imagine a seguinte situação: você é proprietário de uma empresa e precisa de um veículo para atender às demandas de sua empresa. Porém, não tem interesse em adquirir tal bem, apenas utilizá-lo para servir aos seus propósitos. Pois saiba que existe um procedimento que contempla essa situação: a operação de arrendamento, ou leasing, de acordo com a apuração da DRE que é mensalmente pela administração e trimestralmente para fins fiscais. Fortuna (2008) conceitua o leasing como uma operação realizada mediante contrato, em que o arrendador (dono do bem) concede ao arrendatário (a outra parte interessada) o direito de utilização do bem em questão por um prazo determinado previamente. Em síntese, essa operação proporciona ao arrendatário a chance de possuir esse bem sem comprá-lo, segundo a ideia de que o lucro vem do seu uso e não de sua propriedade. LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 126 Por sua vez, Meneses e Mariano (2015) definem a atividade econômica de leasing como um contrato pelo qual uma pessoa, pretendendo utilizar determinado equipamento ou imóvel, consegue que uma instituição financeira o adquira, arrendando-o ao interessado por tempo determinado. Ademais, o arrendador possibilita ao arrendatário, findo o prazo, optar entre a devolução Arrendamentos (CPC 06 [R2]) do bem, a renovação do arrendamento ou a aquisição do bem arrendado, mediante um preço residual fixado em contrato. Segundo Múrcia e Matos (2020), o arrendamento é um contrato definido, para fins das Internationaln Financial Reporting Standards (IFRS, ou Normas Internacionais de Relatórios Financeiros), como um acordo entre duas ou mais partes que cria direitos e obrigações executáveis. Tal contrato transfere o direito de uso de um ativo por um período determinado. Em contrapartida, pela cessão do direito de uso, o arrendador recebe uma contraprestação do arrendatário, geralmente na forma de valores monetários. Em janeiro de 2016, foi publicado pelo International AccountingStandards Board (IASB) o IFRS 16 — Leases, para substituir o IAS 17 e suas respectivas interpretações e orientações. No Brasil, o Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) divulgou em 2017 o CPC 06 (R2), norma correspondente ao IFRS 16. As alterações contidas nesse novo pronunciamento são importantes para buscar um alinhamento com as normas internacionais em termos de operações de leasing. Neste momento, você aprenderá as práticas adotadas nas operações de leasing e conhecerá também as principais alterações na norma que norteia essas operações. Além disso, verá os fundamentos relacionados aos princípios para reconhecimento, mensuração, apresentação e divulgação de arrendamentos. 3.0 Transações de arrendamentos A ideia clássica de leasing consiste em um contrato no qual uma empresa. A adquire um bem escolhido por seu cliente B (pessoa física ou jurídica, no caso o locatário) para alugá-lo a este por um prazo determinado. Quando ocorre o encerramento do contrato, a empresa que detém a posse do bem (cliente B) pode escolher se renova esse item por mais um período, se o devolve à arrendadora ou então se dela adquire o bem, seja pelo valor de mercado ou por um valor residual previamente definido no contrato. Tecnicamente, as operações de arrendamento são definidas como transações que ocorrem entre o arrendador, que fornece o direito de uso (fornecedor), LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 127 e o arrendatário, que obtém o direito de uso (cliente B) por determinado período em troca de contraprestações (pagamentos). A nova norma eliminou essa classificação entre os arrendamentos para a contabilidade dos arrendatários, preservando apenas para os arrendadores. De fato, o novo modelo de contabilidade do arrendatário é baseado na abordagem do direito de uso do ativo. Ressalta-se que a nova norma IFRS 16, conforme comentado, ampliou o modelo de contabilização do arrendamento mercantil financeiro para todos os tipos de arrendamentos mercantis nos arrendatários, sendo desnecessária sua classificação entre financeiro e operacional. Existia uma assimetria nas demonstrações contábeis que precisava ser reduzida em relação às operações envolvendo arrendamento operacional, buscando-se uma melhoria na confiabilidade dos indicadores de desempenho das empresas (MOURA et al., 2020). Assim, a IFRS 16, nessa nova versão que entrou em vigor no Brasil em janeiro de 2019 com a emissão do CPC 06 (R2), extinguiu a diferença entre operacional e financeiro, dando assim um mesmo Arrendamentos (CPC 06 [R2]) tratamento contábil a essas duas modalidades para as arrendatárias (MATOS; NIYAMA, 2018). Todos os arrendamentos são reconhecidos no balanço patrimonial do arrendatário, sendo registrado um passivo para pagamentos futuros e um ativo para o direito de uso do bem (GELBCKE et al., 2018). Nesse sentido, Rossetti et al. (2008) observam que na norma anterior o leasing operacional era vantajoso para as entidades, pois elas teriam interesse em utilizar um bem sem adquiri-lo visando à liberação de capital de giro, além de haver também uma não imobilização no seu balanço patrimonial. Conforme consta no CPC 06 (R2), o termo “arrendamentos” que foi adotado nesse pronunciamento corresponde à tradução do termo leases na língua inglesa, podendo abranger, entre outros, contratos de arrendamento, aluguel, locação e similares que conferem à entidade que reporta o direito de uso de um ativo em troca de uma contraprestação (CPC, 2017). Conforme consta no pronunciamento, o CPC 06 (R2) estabelece os princípios para o reconhecimento, mensuração, apresentação e divulgação de arrendamentos. O objetivo é garantir que arrendatários e arrendadores forneçam informações relevantes, de modo que as representem fielmente. Tais informações fornecem a base para que usuários de demonstrações contábeis avaliem o efeito que os arrendamentos têm sobre a posição financeira, o desempenho financeiro e os fluxos de caixa da entidade. Em LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 128 seu Apêndice A, o novo pronunciamento traz as definições de termos encontrados no corpo do CPC 06 (R2), com destaque para os seguintes CPC (2017): • Arrendador: entidade que fornece o direito de usar o ativo subjacente • por um período em troca de contraprestação. • Arrendamento: contrato, ou parte de contrato, que transfere o direito de usar um ativo (ativo subjacente) por um período em troca de contraprestação. • Arrendamento financeiro: transfere substancialmente todos os riscos e benefícios inerentes à propriedade do ativo subjacente. • Arrendamento operacional: não transfere substancialmente todos os riscos e benefícios inerentes à propriedade do ativo subjacente. • Arrendatário: entidade que obtém o direito de usar o ativo subjacente por um período em troca de contraprestação. Conforme esse pronunciamento, a entidade deve aplicar esse CPC a todos os arrendamentos, incluindo arrendamentos de ativos de direito de uso em subarrendamento. Porém, existem exceções para a aplicação desse pronunciamento, destacadas a seguir CPC (2017): • arrendamentos para explorar ou usar minerais, petróleo, gás e recursos não renováveis similares; • arrendamentos de ativos biológicos dentro do alcance do CPC 29 (ativo biológico e produto agrícola mantidos por arrendatário); • acordos de concessão de serviço dentro do alcance da ICPC 01 — Contratos de Concessão; • licenças de propriedade intelectual concedidas por arrendador dentro do alcance do CPC 47 — Receita de Contrato com Cliente; • direitos detidos por arrendatário previstos em contratos de licenciamento dentro do alcance do CPC 04 — Ativo Intangível (como filmes, gravações de vídeo, reproduções, manuscritos, patentes e direitos autorais. Em termos contábeis, identifica-se uma mudança relevante, pois conforme a norma anterior, como já mencionado, as empresas arrendatárias segregavam as operações de arrendamento entre financeiro e operacional. Assim, no arrendamento financeiro eram contabilizados e demonstrados ativo e passivo, conforme contrato e utilização na competência. Os arrendamentos classificados como operacionais eram contabilizados LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 129 como despesa de aluguel diretamente no resultado do exercício, conforme sua utilização (SILVA; OLIVEIRA; SANTOS, 2019). A Figura 2 ilustra graficamente essa diferença. Gelbcke et al. (2018) definem que os leasings financeiros são vendas no arrendador e compras de ativos no arrendatário, e nos arrendamentos operacionais não ocorria dessa forma. As parcelas de pagamentos da prestação (exceto custos como seguro e manutenção) deveriam ser reconhecidas como despesa durante o período do arrendamento contratado. Assim, nas novas regras, caso o contrato sujeite ao arrendamento, este deverá ser reconhecido nos ativos ou passivos — não sendo mais permitido o reconhecimento apenas no resultado, como ocorria com o modelo anterior de arrendamento operacional. A grande novidade trazida pelo CPC 06 (R2) para os arrendatários foi o fim da classificação do leasing entre operacional e financeiro. Assim sendo, em princípio todas as operações de leasing devem ser reconhecidas de acordo com a abordagem do direito de uso do ativo. Contudo, o IASB trouxe duas exceções a essa regra geral, motivado por simplificações de ordem prática: • arrendamentos de curto prazo (contratos de prazo igual ou inferior a 12 meses); • arrendamentos de ativos de baixo valor. Assim, no caso de serem aplicáveis tais isenções, a contabilização desses tipos de arrendamentos seria feita à semelhança do modelo de arrendamento mercantil operacional (GELBCKE et al., 2018). Com relação à primeira exceção (os arrendamentos de curto prazo), cabe observar que o IASB considerou que os benefícios provenientes do reconhecimentocomo ativo e passivo dessas modalidades de contrato não superariam os custos. Outro detalhe muito importante é que, se o arrendamento contiver opção de compra, ele não pode ser considerado um arrendamento a curto prazo. Além disso, o prazo do arrendamento é definido como o prazo não cancelável durante o qual o arrendatário tem o direito de usar o ativo subjacente (aquela ativo que é o objeto de arrendamento, conforme conceito do CPC), juntamente com períodos cobertos por opção de prorrogar o arrendamento se o arrendatário estiver razoavelmente certo de exercer essa opção, e períodos cobertos por opção de rescindir o arrendamento, se o arrendatário estiver razoavelmente certo de não exercer essa opção (CPC, 2017; GELBCKE et al., 2018). Caso o arrendatário assine um contrato de menos de 12 meses, mas com uma opção de extensão com alta probabilidade de ocorrer, e o prazo formal do contrato LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 130 mais o prazo previsto da extensão passar de 12 meses, então esse contrato não poderá ser elegível para essa exceção (GELBCKE et al., 2018). Cabe ressaltar que, por se tratar de uma escolha contábil, o arrendatário pode ou não reconhecer arrendamentos de curto prazo na forma de ativos e passivos. Contudo, tal escolha deve ser feita por classe de ativo subjacente ao qual se refere o direito de uso. Portanto, se a empresa decidir não reconhecer, por exemplo, um arrendamento de curto prazo de uma máquina, não poderá reconhecer nenhum outro arrendamento de curto prazo de outras máquinas. A segunda exceção refere-se a arrendamentos para os quais o ativo subjacente é de baixo valor. A avaliação em relação ao valor do ativo subjacente deve ser realizada em base absoluta e considerando o valor do ativo quando este é novo. Isso significa que a avaliação não é afetada pelo porte, natureza ou circunstâncias do arrendatário. Exemplos de ativos desse tipo incluem computadores pessoais, tablets, pequenos itens de mobiliário de escritório, telefones, entre outros. O ativo subjacente pode ser de baixo valor somente se o arrendatário puder se beneficiar do seu uso por si só ou em conjunto com outros recursos que estiverem imediatamente disponíveis ao arrendatário, se esse ativo não for altamente dependente de outros ativos ou se não estiver altamente inter-relacionado a outros ativos. Caso contrário, ele se soma a esses outros ativos (CPC, 2017). Essa exceção também se caracteriza como uma escolha, ou seja, o arrendatário pode reconhecer ou não tais contratos. Contudo, ao contrário da primeira exceção, essa escolha pode ser feita contrato a contrato. Caso as exceções sejam aplicáveis, o arrendatário não reconhecerá o ativo decorrente do direito de uso nem o passivo decorrente da obrigação de pagar as prestações do Arrendamentos (CPC 06 [R2]) 7 contrato. Os pagamentos associados ao contrato serão reconhecidos como despesa, ou seja, o registro contábil dessas operações será realizado com base no modelo anterior do arrendamento mercantil operacional. Silva, Oliveira e Santos (2019) entendem que a aplicação do reconhecimento de todos os contratos de arrendamento no ativo e passivo da empresa arrendatária pode significar relevantes impactos nas suas demonstrações contábeis, sobretudo no balanço patrimonial, na demonstração do resultado e no fluxo de caixa. Para os autores, os impactos se referem ao registro dos bens arrendados no ativo imobilizado, à depreciação e teste a valor justo anual desses ativos e ao reconhecimento financeiro LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 131 desses contratos no passivo, onde, também, terão que registrar as taxas de juros fixadas em contrato. Mensuração e reavaliação e critérios de divulgação Arrendatário — reconhecimento e mensuração inicial. De acordo com o CPC 06 (R2), o ativo de direito de uso é o ativo que representa o direito do arrendatário de usar o ativo subjacente durante o prazo do arrendamento, enquanto o passivo de arrendamento representa a obrigação do arrendatário de pagar as prestações ao arrendador durante o prazo do arrendamento. O ativo de direito de uso deve ser mensurado inicialmente ao custo, que deve compreender: a) o valor da mensuração inicial do passivo de arrendamento; b) quaisquer pagamentos de arrendamento efetuados até a data de início, menos quaisquer incentivos de arrendamento recebidos; c) quaisquer custos diretos iniciais incorridos pelo arrendatário; d) a estimativa de custos a serem incorridos pelo arrendatário na desmontagem e remoção do ativo subjacente, restaurando o local em que está localizado ou restaurando o ativo subjacente à condição requerida pelos termos e condições do arrendamento, salvo se esses custos forem incorridos para produzir estoques. O arrendatário incorre na obrigação por esses custos seja na data de início ou como consequência de ter usado o ativo subjacente durante um período específico. No balanço patrimonial, o registro contábil do item (a) terá como contrapartida o passivo. Os itens restantes serão contabilizados de forma distinta, dependendo de cada transação. O passivo de arrendamento deve ser mensurado inicialmente pelo valor presente dos pagamentos do arrendamento (exceto se já foram efetuados na data de início do arrendamento), com foco na estrutura básica de contabilidade, que representa: • Receitas representam o aumento de ativos, por meio de benefícios adquiridos durante o período contábil e que resultam em crescimento do patrimônio líquido. • As receitas englobam todas aquelas movimentações que trazem ganhos como: vendas, juros, royalties e honorários. O valor presente deve ser calculado a partir de fluxos de caixa futuros e uma taxa de desconto, que será, em princípio, a taxa de juros implícita no arrendamento. Porém, se não for possível determinar de forma imediata essa taxa, deve ser utilizada a taxa incremental sobre empréstimo do arrendatário, ou seja, a taxa que o arrendatário teria LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 132 de pagar ao pedir emprestado, por prazo semelhante e com garantia semelhante, os recursos necessários para obter o ativo com valor similar ao ativo de direito de uso em ambiente econômico similar (GELBCKE et al., 2018). Conforme se observa no CPC 06 (R2), os pagamentos do arrendamento incluídos na mensuração do passivo compreendem os seguintes itens para o direito de usar o ativo subjacente durante o prazo do arrendamento não efetuados na data de início: • pagamentos fixos (incluindo pagamentos fixos na essência), menos quaisquer incentivos de arrendamento a receber; • pagamentos variáveis de arrendamento que dependem de índice ou de taxa, inicialmente mensurados utilizando o índice ou a taxa da data de início; • valores que se espera que sejam pagos pelo arrendatário de acordo com as garantias de valor residual; • o preço de exercício da opção de compra se o arrendatário estiver razoavelmente certo de exercer essa opção; • pagamentos de multas por rescisão do arrendamento, se o prazo do arrendamento refletir o arrendatário exercendo a opção de rescindir o arrendamento. 5. Mensuração subsequente — mensuração subsequente do ativo de direito de uso Após o registro inicial do ativo ter sido efetuado, a mensuração subsequente será feita com base no método de custo, a menos que sejam aplicáveis outros modelos de mensuração, como o de valor justo de propriedades para investimento ou o de reavaliação de ativo imobilizado (GELBCKE et al., 2018). O primeiro será aplicável caso o arrendatário aplique o método do valor justo do CPC 28 para suas próprias propriedades para investimento, e o segundo será aplicável caso os ativos de direito de uso se refiram à classe de imobilizado em que o arrendatário aplique o método de reavaliação do CPC 27. Contudo, existe vedaçãopela legislação societária ao método da reavaliação utilizado atualmente. O método do custo faz com que o arrendatário mensure o ativo de direito de uso ao custo inicial menos: (a) qualquer depreciação acumulada e perdas por impairment; e (b) corrigido por qualquer mensuração do passivo de arrendamento. O item 32 do CPC 06 (R2) adiciona que, se o arrendamento transferir a propriedade do ativo subjacente ao arrendatário no fim do prazo do arrendamento ou se o custo do ativo de direito de uso refletir que o arrendatário exercerá a opção de compra, então LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 133 o arrendatário deve depreciar o ativo dedireito de uso desde a data de início até o fim da vida útil do ativo subjacente. Em razão disso, a depreciação deve ser calculada considerando a vida útil do ativo subjacente (CPC, 2017). Caso nenhuma dessas condições ocorrer, então o arrendatário deve depreciar o ativo de direito de uso desde a data de início até o fim da vida útil do ativo de direito de uso ou o fim do prazo de arrendamento, o que ocorrer primeiro. 6.0 Mensuração subsequente do passivo de arrendamento Conforme Gelbcke et al. (2018), o passivo de arrendamento tem sua mensuração subsequente definida pelo item 36 do CPC 06 (R2), segundo o qual o passivo deverá ser: a) aumentado para refletir os juros sobre o passivo; b) diminuído para refletir os pagamentos do arrendamento; c) remensurado para refletir qualquer reavaliação ou modificações do arrendamento (como correção monetária, variação cambial, etc.), ou para refletir pagamentos fixos na essência revisados (pagamentos inevitáveis). Os itens (a) e (c) da mensuração subsequente do passivo são a mera aplicação o Regime de Competência. Afinal, à medida que o tempo passa, o passivo aumenta pela apropriação dos juros e eventuais atualizações monetárias. Por sua vez, o item (b) diminui em razão dos pagamentos da dívida. O item (c), denominado remensuração, será aplicável em razão de mudanças que possam vir a ocorrer no contrato ao longo do tempo. Apresentação e divulgação das operações de leasing nas demonstrações contábeis No balanço patrimonial (ou em notas explicativas), o arrendatário deve apresentar, desde que relevantes, os ativos de direito de uso separadamente de outros ativos, ou então incluir tais ativos na mesma rubrica em que estariam classificados os ativos subjacentes e divulgar quais rubricas no balanço patrimonial incluem esses ativos. Se, por exemplo, o ativo subjacente for um ativo imobilizado, o arrendatário pode incluir os ativos de direito de uso dentro do imobilizado (abrindo os saldos em nota explicativa), ou então incluindo uma linha separada no balanço para esses ativos. A apresentação dos passivos é análoga, ou seja, ou se destaca em linha separada ou se inclui em outras rubricas, divulgando em quais delas estão registrados os passivos de arrendamento, não excluindo os custos: • Os custos de aquisição das mercadorias devem ser alocados no Plano de Contas dos custos de mercadorias vendidas. LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 134 • Transportes e Seguros de mercadorias são custos que irão fazer parte dos custos de venda do produto. • Tributos devidos incidem e devem estar elencados nas contas de compra das mercadorias de revenda. Na demonstração de resultado do exercício, os juros serão apresentados como um componente das despesas financeiras, separadamente da despesa de depreciação. Já na demonstração do fluxo de caixa, o pagamento do principal do passivo será classificado como fluxo de caixa das atividades de financiamento. Já o pagamento dos juros poderá ser classificado como operacional ou financiamento, conforme os requisitos do CPC 03 (pronunciamento que trata da demonstração dos fluxos de caixa). Com a chegada do CPC 06 (R2), não apenas as transações “formais” de arrendamento (de aluguel ou outro contrato que transfira o direito de uso) devem ser contabilizadas conforme esse pronunciamento. Tomando por base o que consta no CPC 06 (R2), se um contrato é, ou contém, um arrendamento e se transmite o direito de controlar o uso de ativo identificado por um período de tempo em troca de contraprestação, ele se encaixa e deve ser contabilizado como operação de arrendamento. Isso significa que até mesmo um contrato de fornecimento de mercadorias, caso se encaixe nessas definições do CPC 06 (R2), deverá ser procedido dessa forma, e assim descreve: A despesa acontece quando ocorre a necessidade de a entidade dispor de seus numerários para custear movimentações nas suas vendas, com seus colaboradores, ou atender às demandas relacionadas aos reparos em seus bens imobilizados; essa movimentação resulta na redução do patrimônio líquido, porém é de extrema importância na medida em que promove a viabilidade dos seus fatos geradores, pois a Receita Bruta é o resultado da soma de todos os movimentos de entrada de recursos da empresa. A Receita de vendas de Bens é a soma dos ganhos obtidos em venda de bens do imobilizado levando em consideração a depreciação até o momento da venda. As Aplicações financeiras referem-se aos ganhos de juros e encargos obtidos em aplicações bancárias. O Resultado da equivalência patrimonial são os ganhos de investimento em outras empresa. As perdas acontecem esporadicamente dentro de uma entidade e, na sua maioria, independem da vontade dos administradores, no entanto, devem ser contabilizadas, uma vez que afetam os resultados, representando decréscimos na economia da entidade. O conceito dos custos está intimamente ligado ao que é gasto para a realização LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 135 de uma atividade específica da empresa seja para fabricar algo ou prestar serviço, não levam em consideração outros gastos que não fazem parte deste processo de produção, como o pagamento do pessoal administrativo, por exemplo. Despesas de depreciação são aquelas relacionadas aos gastos dos equipamentos da empresa, sejam maquinários e móveis; elas são calculadas levando em consideração o valor contábil e o tempo de uso e vida útil do bem. Digamos, por exemplo, que a empresa Delta celebra um contrato de fornecimento de mercadorias para a empresa Mega. Conforme mencionado no contrato, a Delta disponibiliza à Mega um ativo para viabilizar tal fornecimento. Caso a empresa Mega detenha o direito de obter substancialmente todos os benefícios econômicos do uso do ativo e o direito de direcionar seu uso, então, nos termos do CPC 06 (R2), a empresa Delta será um arrendador e a empresa Mega será um arrendatário. Num passado recente, as operações de arrendamento ou leasing caracterizavam- se por proporcionar ao arrendatário a oportunidade de possuir um determinado bem sem comprá-lo, sob a ideia de que o lucro advém do uso desse bem, e não de sua propriedade. Em 2017, com a divulgação do pronunciamento CPC 06 (R2), as operações de leasing passaram a eliminar a divisão que existia entre arrendamento mercantil financeiro e operacional, e sobre as contas de despesas: • Provisão para créditos de liquidação duvidosa: estimativa de perdas no recebimento de vendas a prazo. • Despesas com o pessoal da área de vendas: valor pago aos funcionários sobre o ganho de vendas realizadas na empresa. • Descontos Concedidos: descontos concedidos a clientes no ato do pagamento de duplicata. Contabilmente, somente o arrendamento mercantil financeiro era reconhecido no balanço patrimonial do arrendatário, o que gerava controvérsias. A nova norma extinguiu essa classificação entre os arrendamentos para a contabilidade dos arrendatários, preservando-a apenas para os arrendadores. As mudanças tiveram um impacto relevante sobre as escriturações contábeis de todas as entidades, pois se antes os arrendamentos classificados como operacionais eram contabilizadoscomo despesa de aluguel diretamente no resultado do exercício, as operações passaram a ser contabilizadas e demonstradas no ativo e passivo. A princípio, todas as operações de leasing deveriam ser reconhecidas de tal forma, LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 136 exceto os arrendamentos de curto prazo (contratos que apresentam um prazo igual ou inferior a 12 meses) e os arrendamentos de ativos de baixo valor. O pronunciamento também aborda as mensurações iniciais e subsequentes de ativo e passivo, além das formas de apresentar e divulgar as operações de leasing nas demonstrações contábeis. Por se apresentar em consonância com as normas contábeis internacionais vigentes, essas alterações trazidas pelo pronunciamento CPC 06 (R2) se mostraram adequadas e pertinentes. ISTO ESTÁ NA REDE Link: https://www.youtube.com/watch?v=Zkje18Gim9o . A transferência do direito de uso de um bem em determinado período de tempo por meio de um contrato é a característica básica da operação de arrendamento ou leasing. Tal operação é ideal quando a parte interessada no bem em questão necessita dele para as suas atividades normais, porém não tem condições financeiras ou, então, não tem interesse em adquirir formalmente esse ativo. ANOTE ISSO Essa é a primeira característica da nova ECC, que cria condições e favorece a adoção do valor justo (preço corrente). A segunda característica se alinha no foco ao mercado de capitais, que favorece os usuários que têm ou que possam vir a ter potencial de alocação de recursos para a empresa. As responsabilidades do Conselho e do IASB exigem que eles se concentrem nas necessidades dos participantes no mercado de capitais, que incluem não apenas investidores existentes, mas também investidores em potencial e credores existentes e potenciais e outros credores (SFAC nº 8, 2010, item BC1.16b). Assim, a adoção do valor justo passa a ser preponderante para os objetivos estabelecidos para a nova ECC. https://www.youtube.com/watch?v=Zkje18Gim9o LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 137 DENGUE 11 CPC 12 – AJUSTES PATRIMONIAIS 1.0 INTRODUÇÃO Olá, estudante, o Pronunciamento (CPC12) estabelece os requisitos básicos a serem observados pelas entidades quando reportam suas demonstrações ajustadas a Valor Presente nos elementos do ativo e do passivo. 2.0 Valor Presente Procura responder a questões controversas sobre o assunto, entre elas: a. Se o ajuste a valor presente deve ser aplicado somente aos fluxos de caixa já contratados, ou os fluxos de caixa projetados por meio de estimativas também devem ser considerados; b. Em quais momentos deve ser feito o ajuste a valor presente de ativos e passivos, quando do registro inicial, se na mudança de base de avaliação ou em ambos os momentos; c. Se os passivos não contratuais devem ou não considerados para fins de ajuste a valor presente; d. Qual deve ser a taxa de juro adequada para o cálculo do valor presente de ativos e passivos, e qual deve ser a base conceitual para aferi-la sem causar distorções nos valores considerados; e. Qual o método mais apropriado para o cálculo dos influxos de caixa na aplicação dos ativos e passivos no método do valor presente; f) Se o efeito fiscal deve ser considerado para o cálculo do valor presente. Informações baseadas no Valor Presente corroboram para o incremento do valor preditivo da Contabilidade; permite a correção de eventuais previsões feitas e registradas no passado; e propicia melhoria na mensuração e registro de eventos presentes, permitindo a obtenção de demonstrações com maior relevância, que se constitui em característica qualitativa imprescindível. LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 138 Do mesmo modo, a confiabilidade, outra característica qualitativa imprescindível prevista na citada Estrutura Conceitual, deve ser considerada. A mensuração e registro de eventos com uso de estimativas e julgamentos, pertinentes a cenários com probabilidades de ocorrência deve estar livre de viés. As premissas assumidas e os cálculos baseados em modelos de precificação devem seguir lógicas reconhecidas pelos meios científicos e profissionais e devem ser passíveis de verificação por interessados na informação contábil com independência, o que requer que a custódia dessas informações seja feita com todo o zelo e sob condições ideais. Para que uma avaliação possa ser independente e os resultados alcançados possam ser similares ou aproximados daqueles produzidos pelo prestador da informação, a mensuração em seu processo integral deve ter como base a neutralidade. O tratamento deste pronunciamento trata de mensuração (Por quanto registrar), não considerando detalhes sobre reconhecimento (Quando registrar) A mensuração a valor presente deve ser aplicada no reconhecimento inicial de ativos e passivos, podendo ser reaplicada em outro momento da vida econômica dos ativos e passivos em raras situações, por exemplo na renegociação de dívidas. É necessário observar que a aplicação do conceito de ajuste a valor presente embora traga em seu conceito alguns parâmetros que norteiam os agentes econômicos na busca da mensuração do valor justo, nem sempre equipara o ativo ou o passivo a seu valor justo. Importante salientar que valor presente evalor justo não são sinônimos. Por exemplo, a compra financiada de um bem por um cliente em condições especiais de taxa de juro no financiamento, pode fazer com que o ativo para o comprador tenha um custo de aquisição menor do que o valor justo. Considera-se Valor justo aquele que estabelece o preço justo que vendedores e compradores aceitam para um ativo ou passivo a valor de mercado, negociado livremente em um mercado eficiente com foco em: • Reconhecer a importância de mensurar os ativos e passivos a valor justo para buscar a relevância e confiabilidade das demonstrações contábeis. • Reconhecer a importância de mensurar os riscos na avaliação de ativos. • Reconhecer a importância da mensuração do valor justo dos passivos, mesmo aqueles não contratuais. O objetivo da norma não é enumerar sistematicamente os ativos e passivos que deverão ter seus valores ajustados e sim estabelecer a base de princípios que vão nortear a regra, onde as ontas operacionais e não operacionais foram unificadas passando LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 139 a ser denominadas outras receitas/despesas operacionais. Algumas características descritas abaixo sugerem que os ativos e passivos possam ser avaliados a valor presente: 1. A transação que dá origem ao ativo, passivo, receita ou despesa tem prazo de liquidação financeira (pagamento ou recebimento) em data diferente do reconhecimento desses elementos; 2. Há reconhecimento periódico de mudanças de valor, utilidade ou substância dos ativos ou passivos para os quais há emprego de métodos de desconto financeiro (Fluxo de caixa descontado); 3. Há um fluxo de caixa estimado associado àquele ativo ou passivo. O conceito de valor presente leva em consideração a mensuração de ativos e passivos considerando o conceito de Valor do Dinheiro no Tempo e a incerteza dos fluxos de caixa futuros. As informações prestadas partindo deste conceito, possibilitam aos tomadores de decisão a melhor avaliação econômica para a alocação dos recursos escassos considerando a incerteza quanto aos fluxos de caixa futuros. Para tanto, as diferenças de natureza econômica que ocorrem na mensuração entre ativos e passivos devem ser refletidas adequadamente pela Contabilidade a fim de que os agentes econômicos possam partir de uma base de informação segura, a fim de reduzir as margens de erro das previsões e em decorrência, alinhar os prêmios de risco ao assumir suas posições. Ativos e passivos monetárioscom juros implícitos ou explícitos embutidos devem ser mensurados pelo seu valor presente quando do seu reconhecimento inicial, por ser este o valor de custo original dentro da filosofia de valor justo (fair value). Por isso, quando aplicável, o custo de ativos não monetários deve ser ajustado em contrapartida; ou então a conta de receita, despesa ou outra conforme a situação. A esse respeito, uma vez ajustado o item não monetário, não deve mais ser submetido a ajustes subsequentes no que respeita à figura de juros embutidos. Ressalte-se que nem todo ativo ou passivo não monetário está sujeito ao efeito do ajuste a valor presente; por exemplo, um item não monetário que, pela sua natureza, não está sujeito ao ajuste a valor presente é o adiantamento em dinheiro para recebimento ou pagamento em bens e serviços. Com relação aos empréstimos e aos financiamentos subsidiados, deve-se considerar que no Brasil não há mercado para dívidas de longo prazo, portanto as operações desta natureza são ofertadas por instituições financeiras governamentais. LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 140 Até que exista um mercado competitivo no Brasil para esse tipo de origem de recursos com juros de mercado, essas operações com juros subsidiados são tratadas por outro pronunciamento (CPC07 – Subvenção e Assistência Governamentais). Taxas de desconto estão intrinsecamente ligadas a risco e incerteza, pois o Valor do Dinheiro no tempo deve ser considerado para efeito de valor presente, dependente da taxa de juros, que reflete o prêmio de risco do ativo (passivo). Não podemos ignorar esse fato, sob pena de produzir informação contábil incompatível com o que seria uma representação justa e verdadeira da realidade econômica. Por outro lado, a mensuração dos prêmios de risco devem seguir metodologias bem definidas e amplamente aceitas, não sendo aceitos ajustes arbitrários para esses valores, mesmo com a justificativa de ausência de informações sobre os participantes de mercado, pois, assim procedendo, a informação é enviesada. Em muitas situações, os modelos de precificação não podem ser aplicados com segurança para uma estimativa confiável do prêmio de risco ou, em sendo possível, o montante estimado pode ser relativamente pequeno se comparado a erros potenciais advindos da volatilidade na estimação dos fluxos de caixa. Nesses casos, excepcionalmente, o valor presente dos fluxos de caixa esperados pode ser obtido com a adoção de uma taxa de desconto que expurga o prêmio de risco e que reflita unicamente a taxa de juros livre de risco da economia (No Brasil, a Taxa SELIC), desde que com divulgação clara do fato e das razões que levaram à utilização deste procedimento, de acordo com o CPC 26, que descreve, pois o Comitê de Pronunciamentos Contábeis, por meio de seu número 26 – Apresentação das Demonstrações Contábeis, vem trazendo as normativas para a aplicabilidade e divulgação dos resultados abrangentes. A teoria de finanças se baseia no pressuposto que, em geral os participantes de mercado são avessos ao risco, portanto exigem taxas de juros maiores para compensar riscos maiores. Portanto, a contabilidade em sua busca pela visão justa e verdadeira, tem o objetivo de incluir o comportamento dos agentes econômicos do mercado, refletindo na mensuração contábil, por extensão o comportamento dos ativos e passivos expressando a volatilidade dos fluxos de caixa produzidos, pois o lucro Bruto é o valor obtido entre a diferença das receitas líquidas e o custo das mercadorias vendidas, sem muitas deduções. Margem de Lucro é um indicador que demonstra em percentual o lucro conquistado pela empresa para cada unidade monetária vendida. Margem de Contribuição é o valor de receita que resta depois de deduzidos todos os custos variáveis de um produto. Ponto de equilíbrio é o valor mínimo que a empresa deve LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 141 vender o produto após deduzidos todos os seus custos, tanto fixos quanto variáveis, sem ainda obter lucro. Suponha um ativo que produza um único fluxo de caixa para daqui a três anos no valor de $10.000 (Fluxo de caixa certo =Renda Fixa) e outro ativo com fluxo de caixa incerto (com risco) para três anos de $ 10.000. Se a taxa de juro livre de risco é de 8% ao ano, a avaliação dos dois ativos não será idêntica, pois o mercado estaria disposto a pagar pelo ativo 1 um valor presente de $7.938, ao passo que o valor do segundo ativo teria obrigatoriamente que ser menor, pois a taxa de juro a ser utilizada deverá ser incrementada por um prêmio de risco. Suponha que a taxa de juro sem risco (8%) seja acrescida de 2% referente ao prêmio de risco, perfazendo 10% ao ano. Então o valor que o mercado estaria disposto a pagar pelo ativo 2 seria de $7.513. Preço inferior ao ativo 1 para compensar o risco. PV1 = 10.000 x 1,08 -3 =7.938 PV2 = 10.000 x 1,10 -3 =7.513 O processo utilizado para calcular riscos não é dos mais simples. Porém a teoria das finanças oferece alguns modelos que, embora apresentem suas limitações (todo modelo tem limitações), podem ser boas ferramentas, quando bem utilizados, para tal fim. O modelo de Precificação de Ativos de Capital (CAPM - Capital Assets Pricing Model) leva em conta os betas (Contribuição do risco do ativo para o risco da carteira de mercado) para mensurar o nível de risco de mercado, devido na DRE: • Devoluções e Cancelamentos. • Custos dos Produtos e/ou serviços. • Provisão para Imposto de Renda. Os betas podem ser calculados pela seguinte expressão matemática: O CAPM estabelece que o ativo deve remunerar os investidores por uma taxa de juro sem risco acrescida de um prêmio de risco: (E) R = K% rf + [β (K% RM - K% RF )] • Krf = Taxa livre de risco (Selic no Brasil); • Krm= Taxa de juro média de mercado (Ibovespa no Brasil); • β= Multiplicador do prêmio de risco de mercado para o ativo objeto. Existem modelos de risco que adicionam o efeito da alavancagem financeira no valor dos betas para estimar a taxa de juro, modelos de avaliação de ações, modelos de precificação de opções. Todos eles tem suas virtudes e defeitos, porém com ajustes LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 142 podemos ter uma boa noção do risco envolvido em ativos que produzem fluxos de caixa. Relevância e confiabilidade são característica qualitativas da informação contábil que devem ser consideradas quando o assunto é avaliar ativos, levando em conta a incerteza dos fluxos de caixa futuros. Quando há um fluxo de caixa que pode ser estimado em bases contratuais sem muita volatilidade, os valores presentes são bastante confiáveis. Entretanto, em alguns casos em que o grau de incerteza aumenta demasiadamente, o peso da relevância supera o da confiabilidade, visto que a taxa de juro bem como os fluxos de caixa dependem de variáveis com acentuado grau de incerteza, e dependem da utilização de modelos teóricos que abrem margens para desconfiança quanto à confiabilidade dos cálculos, devido à grande quantidade de variáveis incluídas no modelo. Um dos pressupostos que norteiam a estrutura Conceitual das Demonstrações Contábeis diz respeito aos custos e benefícios para a geração da informação útil. Os benefícios tem que superar os custos para que a produção da informação contábil útil seja viável economicamente, com reflexos na DMPL: • Fornece informações sobre as mudanças ocorridas nas contas do Patrimônio Líquido durante o exercício. • Indica o fluxo das movimentações nas contas durante o período analisado das empresas. • Demonstra as origem e os valores, sejam de aumento ou diminuição nas contas do Patrimônio Líquido. Uma informação prestada pode alcançar inúmeros usuários e gerar, por vezes, benefícios por mais de um exercício social, ao passo que o custo de produzi-la é incorrido em um únicoseja, aplicáveis somente para as sociedades anônimas de capital aberto. A CVM, criada em 7 de dezembro de 1976 pela Lei nº 6.385/76, tem como objetivo normatizar, fiscalizar, desenvolver e disciplinar o mercado de LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 16 valores mobiliários brasileiros. É uma autarquia em regime especial, vinculada ao Ministério da Economia, que possui patrimônio e personalidade jurídica próprios. A CVM tem autonomia administrativa, financeira e orçamentária e não possui subordinação hierárquica, mandato fixo ou estabilidade de seus dirigentes (CVM, 2020). Assim, qualquer norma criada pela CVM é aplicável somente às companhias que possuem suas ações negociadas nas bolsas de valores. Outro órgão normalizador de práticas contábeis é o Banco Central do Brasil (BC), que pode instituir essas regras apenas no âmbito de sua competência, ou seja, normas aplicáveis ao Sistema Financeiro Nacional. O BC é uma autarquia federal vinculada ao Ministério da Economia e, segundo o seu site oficial, Banco Central do Brasil (c2020), tem como principais funções: • manter a inflação sob controle, ao redor da meta; • assegurar que o sistema financeiro seja sólido e eficiente; • ser o depositário das contas do governo e das reservas internacionais do país; • fiscalizar as instituições financeiras por meio do monitoramento das • transações financeiras; • fornecer dinheiro em espécie para a população, gerenciando o meio circulante. Vale destacar ainda o CPC, que embora não figure como um órgão normalizador, estuda, prepara e emite documentos técnicos sobre mecanismos contábeis, além de dar suporte para a emissão de normas pelo CFC e, às vezes, por outros órgãos reguladores. Além de emitir os pareceres, o CPC constantemente realiza a revisão de posicionamentos anteriores já emitidos, possibilitando uma atualização constante. Ele é composto por dois representantes de cada uma das entidades a seguir: • Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca). • Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (APIMEC Nacional). • B3 – Brasil, Bolsa, Balcão. • CFC. • Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (Ibracon). • Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi). • Entidades representativas de investidores do mercado de capitais. LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 17 Por conseguinte, o CPC é um órgão que não emite normas contábeis, mas sim subsidia a criação das regras contábeis pelos órgãos normalizadores, por meio de pronunciamentos técnicos, interpretações, orientações e comunicados. Os pronunciamentos técnicos são obrigatoriamente submetidos a audiências públicas, mas esse procedimento é facultativo para a formalização das orientações e interpretações. Por fim, é importante salientar que, até a edição da Lei nº 11.638/07, Brasil (2007), a contabilidade no Brasil era fortemente influenciada pelas regras tributárias. Isso fazia com que os demonstrativos contábeis apresentassem informações de interesse do fisco. A partir da vigência da Lei, a contabilidade brasileira teve um grande avanço, pois passou a fundamentar os registros contábeis na essência dos fenômenos, e não apenas em sua forma legal. Assim, as regras fiscais deixaram de impor normas contábeis. Quando a essência do fenômeno econômico, que tem como objetivo representar, for diferente de sua forma legal, essa forma passa a ser representada por relatórios complementares, considerando a primazia da essência sobre a forma. Contudo, a Receita Federal do Brasil (RFB), Brasil (c2021), é uma das usuárias da informação contábil, e é bastante comum que as regras emitidas por esse órgão sejam iguais à representação do fenômeno econômico, ou seja, o registro contábil é realizado levando em consideração as normas emitidas pela RFB. A RFB é um órgão subordinado ao Ministério da Economia e é responsável pela administração dos tributos de competência da União, incluindo os previdenciários e os que incidem sobre as operações de comércio exterior (BRASIL, c2021). Além disso, a RFB contribui na formulação da política tributária e previne e combate a sonegação fiscal, a pirataria, o descaminho, o tráfico ilícito de entorpecentes e outras drogas, a lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores etc. (BRASIL, c2021). Aliado aos órgãos apresentados anteriormente, há o Ibracon, que busca orientar e apoiar seus associados nos assuntos emergentes e relevantes. Ele foi criado para auxiliar no processo de reconstrução, quando a auditoria independente passou a ser obrigatória para as empresas de capital aberto. O Ibracon mantém relacionamento com órgãos que normatizam a contabilidade em nível internacional. Ele é parceiro da IFRS Foundation e participante ativo no desenvolvimento dos trabalhos do CPC, e tem como missão “Manter a confiança da sociedade na atividade de auditoria independente e a relevância da atuação profissional, LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 18 salvaguardando e promovendo os padrões de excelência em contabilidade e auditoria independente.” (IBRACON, 2020). Segundo o Ibracon (2020), a visão do órgão é ser reconhecido como: • órgão representativo dos interesses políticos, profissionais e educacionais dos auditores independentes; • agente participante da regulação da atividade de contabilidade e auditoria independente em convergência com as demais entidades reguladoras; • difusor do papel e responsabilidade dos associados; • referência técnica e educacional em assuntos ligados à auditoria independente e contabilidade; • organização voltada para a proteção do interesse público. ISTO ESTÁ NA REDE Link: https://www.youtube.com/watch?v=akGOiy4g_cY Dentre todos esses aspectos, é possível notar a importância que tem a proteção do interesse público, pois o Ibracon é o representante dos auditores independentes, e a auditoria representa, para os usuários da informação contábil. ANOTE ISSO Segundo a RFB, sua missão é “Exercer a administração tributária e aduaneira com justiça fiscal e respeito ao cidadão, em benefício da sociedade.” Sua visão é “Ser uma instituição inovadora, protagonista na simplificação dos sistemas tributário e aduaneiro, reconhecida pela efetividade na gestão tributária e pela segurança e agilidade no comércio exterior, contribuindo para a qualidade do ambiente de negócios e a competitividade do País.” Ainda que a RFB seja muito importante para o Brasil e um aliado dos profissionais contábeis, sua missão e visão são um pouco utópicas ao considerarmos a realidade da atividade profissional contábil (BRASIL, c2021). https://www.youtube.com/watch?v=akGOiy4g_cY LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 19 CAPÍTULO 02 HISTÓRICO DA CONTABILIDADE E APLICABILIDADE DAS NORMAS 1.0 INTRODUÇÃO Olá, estudante, a Contabilidade, campo de conhecimento essencial para a formação dos agentes decisórios dos mais variados níveis, é fruto concebido da relação entre o desenrolar dos fatos econômico-financeiros e sua captação e processamento segundo os paradigmas de uma metodologia própria e potencializada pela racionalidade científica (IUDÍCIBUS; MARTINS; CARVALHO, 2005). A partir dessa afirmativa, entenderemos o funcionamento da contabilidade a partir dos aspectos básicos. Conforme exposto anteriormente, para que seja possível o agente decisório atuar, entender sua estrutura básica e elementos que compõem o patrimônio é fundamental para a formação do conhecimento. A contabilidade teve sua origem pautada no comércio e na necessidade de proteção, posse e interpretação de fatos ocorridos com sua riqueza. 2.0 Aplicabilidades Contábeis De acordo com Fábio Besta (1880), um grande estudioso italiano, a contabilidade é “a ciênciamomento. Ademais, podem ocorrer ganhos em termos de eficiência, à medida em que dita informação vai sendo prestada com maior frequência. PASSIVOS NÃO CONTRATUAIS Passivos não contratuais apresentam características que os tornam mais complexos para fins de mensuração do valor presente. O nível de incerteza nas previsões de fluxos de caixa são bastante acentuadas. LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 143 Portanto, é necessário um senso crítico bastante apurado para traçar o cenários probabilísticos que vão determinar os fluxos de caixa futuros dos passivos. O reconhecimento de provisões e passivos está disciplinado no ambiente contábil brasileiro (CPC25 – Provisões, Passivos Contingentes e Ativos Contingentes). São contempladas as obrigações legais e as não formalizadas (estas últimas também denominadas pela Teoria Contábil Normativa como “obrigações justas ou construtivas”), que nada mais são do que espécies do gênero “passivo não contratual”. Obrigações justas resultam de limitações éticas ou morais e, não, de restrições Legais, está associado ao custo da mercadoria vendida: • O cálculo do custo das mercadorias vendidas, utilizado pelo comércio, é um cálculo considerado muito simples. • Os estoques nessas empresas se destinam somente à revenda, sendo registrados saldos, compras e vendas. Já as obrigações construtivas decorrem de práticas e costumes. Garantias concedidas a clientes discricionariamente, assistência financeira frequente a comunidades nativas situadas em regiões nas quais sejam desenvolvidas atividades econômicas exploratórias, entre outros, são alguns exemplos. O desconto a valor presente é requerido quer se trate de passivos contratuais, quer se trate de passivos não contratuais, sendo que a taxa de desconto necessariamente deve considerar o risco de crédito da entidade. A obrigação para retirada de serviço de ativos de longo prazo, qualificada pela literatura como Asset Retirement Obligation (ARO), é um exemplo de passivo não contratual já observado em companhias que atuam no segmento de extração de minérios metálicos, de petróleo e termonuclear, ajustando-o a valor presente. Para fins de desconto a valor presente de ativos e passivos, a taxa a ser aplicada não deve ser líquida de efeitos fiscais e, sim, antes dos impostos. No tocante às diferenças temporárias observadas entre a base contábil e fiscal de ativos e passivos ajustados a valor presente, essas diferenças temporárias devem receber o tratamento requerido pelas regras contábeis vigentes para reconhecimento e mensuração de imposto de renda e contribuição social diferidos. As evidenciações em notas explicativas devem ser prestadas de forma que permitam aos usuários a obtenção de informações que levem ao entendimento das mensurações a valor presente levadas a efeito nas demonstrações contábeis. LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 144 É fundamental que a entidade que reporta a informação faça a descrição detalhada do item objeto da mensuração a valor presente, das características de seus fluxos de caixa (contratuais ou não) e, se aplicável, o seu valor justo de entrada cotado a preço de mercado. É importante ressaltar a necessidade de colocar em notas explicativas as premissas utilizadas pela administração como taxas de juros decompostas pelos incrementos de prêmios e os fatores de risco que motivaram esses prêmios (Taxa de juro livre de risco, Taxa de risco país, risco de mercado, risco de crédito, etc.), valores monetários dos fluxos de caixa estimados ou séries de montantes dos fluxos de caixa estimados, o horizonte temporal estimado considerado para a mensuração, as expectativas em termos de montante e temporalidade dos fluxos ponderados pelas suas probabilidades de ocorrência e outras informações relevantes, como no caso dos custos de oportunidades. O custo de oportunidade é um fator crucial que permeia as decisões diárias das empresas em seus processos de escolha. Para ilustrar, considere uma empresa que está diante da necessidade de investir em uma nova máquina. Diante das várias opções disponíveis, como mecanismos de aquecimento elétrico, aquecimento solar, aquecimento a gás e aquecimento por caldeira a lenha, a escolha de um desses projetos implica no descarte das demais alternativas. Os custos de oportunidade se referem aos benefícios potenciais que um investidor ou empresa perde ou deixa de ganhar ao optar por um investimento ao invés de outro. Identificar potenciais oportunidades que foram perdidas por um investidor ou mesmo organização, quando ele escolhe um investimento em detrimento de outro, proporciona uma melhoria no processo decisório, à medida que gera aprendizado. O custo de oportunidade se refere ao valor que é renunciado ao tomar uma decisão. Como exemplo, suponha que você tem R$ 5.000,00 e opta em comprar ações de risco com este dinheiro. Nesse cenário, o seu custo de oportunidade é abrir mão de uma renda fixa, que é conservadora e segura a longo prazo, em troca da perspectiva de obter lucros mais elevados a curto prazo. A análise de custos de oportunidade desempenha um papel fundamental na tomada de decisão sobre a estrutura de capital de uma organização. É importante comparar as opções de investimento que têm um risco semelhante. Em uma situação hipotética, qual seria o ponto de equilíbrio para produzir um produto, que apresenta um custo de 10 reais, e é vendido a 15 reais, considerando um imposto total de 12% e custos fixos de R$ 15.0000,00? O ponto de equilíbrio é uma LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 145 ferramenta fundamental para identificar quanto a empresa precisa vender antes de começar a ter lucros, sendo ainda uma ferramenta indispensável para que se conheça o ponto de alavancagem. O ponto de equilíbrio, ou quantidade de equilíbrio, é o nível de vendas no qual as receitas totais são exatamente iguais aos custos operacionais totais. Os custos operacionais são divididos em três categorias: fixos, variáveis e semivariáveis. Já a alavancagem apresenta dois tipos: a alavancagem operacional e a alavancagem financeira, que são duas métricas diferentes, usadas para determinar a saúde financeira de uma empresa. O ponto de equilíbrio pode ser utilizado em uma extensa diversidade de contextos. Para um empresário, por exemplo, o ponto equilíbrio apresenta quanto dinheiro ele precisaria gerar em uma venda para compensar exatamente o preço líquido de compra, incluindo custos de fechamento, impostos, taxas, seguros e juros pagos, bem como custos relacionados à manutenção e melhorias. Para um comerciante, o ponto de equilíbrio também é utilizado por exemplo em negociações, descobrindo qual preço e quantos produtos devem ser vendidos para cobrir exatamente todos os custos associados a uma negociação, incluindo impostos, comissões, taxas de gerenciamento e assim por diante. O ponto de equilíbrio de uma empresa também é calculado tomando custos fixos e dividindo esse valor pela porcentagem da margem de lucro bruto. Como podem observar, o ponto de equilíbrio é ferramenta fundamental no meio empresarial, evitando prejuízos para as organizações, bem como maximizando seu investimento. O ponto de equilíbrio é um nível necessário de produção para que a receita de uma empresa seja igual aos seus custos totais. Em outras palavras, é o ponto de inflexão em que uma empresa começa a gerar lucro. ISTO ESTÁ NA REDE Link: https://www.youtube.com/watch?v=DSF17k5F8oM . O objetivo da CPC 12 é determinar alguns requisitos mínimos que devem ser obedecidos para a apuração do Ajuste a Valor Presente de ativos e passivos, abordando a mensuração de ativos e passivos que deverão ter seus valores ajustados a Valor Presente mediante algumas regras. https://www.youtube.com/watch?v=DSF17k5F8oM LEGISLAÇÃO CONTÁBIL- CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 146 ANOTE ISSO A mensuração a valor presente é aplicada no reconhecimento dos ativos e passivos e possui o intuito de definir a base de princípios que vão orientar a regra. Na avaliação de ativos, devem ser consideradas a relevância e a confiabilidade, observando as incertezas que possam ocorrer em relação aos fluxos de caixa futuros. LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 147 CAPÍTULO 12 CPC 16 - ESTOQUES 1.0 INTRODUÇÃO Olá, estudante, os estoques possuem uma importante função dentro das organizações, pois eles se relacionam diretamente com a geração de suas receitas. As organizações pretendem prever o que seus clientes desejam e quanto desejam, buscando prevenir e, assim, evitar possíveis incertezas em suas demandas. Esse entendimento é fundamental para uma boa gestão de estoques. É importante haver um equilíbrio, pois se houver um excesso de estoque, pode acontecer uma elevação nos custos operacionais, porém se ocorrerem níveis baixos de estoque, podem ser identificados gastos elevados à entidade devido à falta de produtos. Assim, é muito relevante estudar as principais características desse grupo do ativo a fim de usar suas ferramentas em favor da gestão. 2.0 CPC 16 na aplicabilidade Funções básicas: • Estabelecer o tratamento contábil para os estoques. • Diferenciar a mensuração pelo valor de custo e pelo valor realizável líquido. Relacionar os itens obrigatórios de divulgação sobre os estoques. Em decorrência da necessidade de alinhar a contabilidade brasileira com as regras contábeis internacionais, os órgãos normativos de nosso país desenvolveram normas com a finalidade de acompanhar a legislação contábil mundial. O Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), entidade responsável pela emissão de documentos técnicos sobre procedimentos de contabilidade a serem adotados pelos profissionais contábeis, editou pronunciamentos com a finalidade de melhorar a qualidade e a confiabilidade das demonstrações contábeis. Ao gerar dados mais confiáveis, a contabilidade propicia segurança aos gestores e demais interessados nas informações contábeis. LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 148 O principal interesse de uma empresa privada é obter lucro, seja prestando serviços ou vendendo seus produtos (ou até ambos). Gelbcke et al. (2018) ensinam que os estoques estão intimamente ligados às principais áreas de operação das companhias e envolvem problemas de administração, controle, contabilização e, principalmente, avaliação. Estoques (CPC 16 [R1]) Marcelo Cristiano de Mello Para Rodrigues, Souza e Dalfior (2015), os estoques têm as seguintes utilidades: • proteger contra o aumento de preços; • criar uma reserva contra contingências; • propiciar economia na produção. Os autores enxergam os estoques como agentes reguladores na lei de oferta e demanda, pois eles possibilitam uma produção mais constante, não oscilando com as flutuações das vendas quando sua gestão é efetiva e a empresa em questão conhece seu mercado. Neste momento, você vai estudar como definir o tratamento contábil para os estoques, contemplando a sua contabilização, o método e os critérios usados para atribuir custos aos estoques. Você também vai entender a distinção entre a mensuração pelo valor de custo e pelo valor realizável líquido, entendendo os seus respectivos critérios, além de identificar e classificar os itens sobre os estoques que devem obrigatoriamente ser divulgados nas demonstrações contábeis. Os estoques e o seu tratamento contábil Iudícibus (2021) considera o grupo de contas estoque um item muito importante dentro do ativo de muitas empresas e fundamental para determinar o resultado do período. Almeida (2014) salienta que todas as empresas têm alguma espécie de estoque, seja para revender, utilizar no serviço prestado ou então no processo produtivo ao longo da cadeia de produção de algum produto. Identificado como um subgrupo localizado no ativo circulante, o estoque compreende todas as contas que representam os bens sujeitos à comercialização ou produção de itens ligados ao objeto de sua atividade e gênero, podendo ser decomposto em estoque de produtos acabados, mercadorias para a revenda, serviços em desenvolvimento, estoques de produtos em elaboração, estoque de matérias-primas e estoque de insumos e em consignação (HOOG, 2013). Para Almeida (2014), os estoques se relacionam diretamente com as receitas das entidades, pois estas se originam das vendas ou da prestação de serviços e devem ser confrontadas com o valor dos estoques de produtos ou materiais que saíram da LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 149 entidade, na entrega de produtos ou de materiais utilizados nos serviços prestados (quando as receitas são confrontadas com as despesas). Nesse contexto, cada empresa e cada setor tem características próprias no uso/consumo, na manutenção e/ou vendas dos estoques, ou seja, quando uma empresa entrega seus estoques aos seus clientes, ela pode reconhecer receitas (ALMEIDA, 2014). Para Hendriksen e Van Breda (1999), normalmente os estoques são encarados como saldos de mercadorias, embora a contabilização desse fluxo de mercadorias seja geralmente considerada 2 Estoques (CPC 16 [R1]) mais importante. Tradicionalmente, na contabilidade, os saldos ao final de um período relacionam-se aos fluxos desse período, muito embora possam ser determinados de forma residual; assim, a avaliação dos saldos é afetada pela vinculação dos valores de entrada a receitas do período precedente à data do balanço, podendo, também, ser afetada pelo processo de vinculação de exercícios anteriores (HENDRIKSEN; VAN BREDA, 1999). Estoques são ativos Mantidos para venda no curso normal dos negócios Na forma de materiais ou suprimentos a serem consumidos ou transformados no processo de produção ou na prestação de serviços Em processo de produção para venda OU Devido à convergência das normas contábeis brasileiras aos padrões de contabilidade internacional, o tratamento contábil dos estoques sofreu alterações significativas. O CPC divulgou, em setembro de 2009, o Pronunciamento CPC 16 – Estoques, com orientações sobre a determinação do valor de custo dos estoques e sobre o seu subsequente reconhecimento como despesa em resultado, além de nortear o profissional de contabilidade sobre o método e os critérios utilizados para atribuir custos aos estoques. O propósito do CPC 16, em síntese, é instituir o tratamento contábil para os estoques. A questão fundamental na contabilização dos estoques é em relação ao valor do custo a ser reconhecido como ativo e mantido nos registros até que as respectivas receitas sejam reconhecidas (COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS, 2009). Existem exceções para a aplicação desse CPC, ou seja, ele não é utilizado nos seguintes estoques: • instrumentos financeiros (que estão relacionados à pronunciamentos específicos); • ativos biológicos que se relacionam com a atividade agrícola e o produto agrícola no ponto da colheita (Pronunciamento próprio, o CPC 29). Conforme se observa, o CPC 16 não se aplica também à mensuração de alguns outros estoques. LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 150 • Exceções na mensuração dos estoques • Estoques mantidos por Procedimento Produtores de produtos agrícolas e florestais, de produtos agrícolas após colheita, de minerais e produtos minerais, na medida em que eles sejam mensurados pelo valor realizável líquido de acordo com as práticas já estabelecidas nesses setores. Quando tais estoques são mensurados pelo valor realizável líquido, as alterações nesse valor devem ser reconhecidas no resultado do período em que tenhasido verificada a alteração. Comerciantes de commodities que mensurem seus estoques pelo valor justo deduzido dos custos de venda. As alterações desse valor devem ser reconhecidas no resultado do período em que tenha sido verificada a alteração. Os estoques referidos no item que diz respeito aos produtores de produtos agrícolas e florestais devem ser mensurados pelo valor realizável líquido (esse modo de mensuração será mais bem tratado no decorrer desta aula) em determinadas fases de produção. Por exemplo, isso ocorre quando as culturas agrícolas tiverem sido colhidas ou os minerais tiverem sido extraídos e a venda esteja assegurada pelos termos de um contrato futuro ou por garantia governamental; ou, ainda, quando existir um mercado ativo e houver risco baixo de fracasso de venda. Esses estoques devem ser excluídos apenas dos requisitos de mensuração desse pronunciamento. 3.0 Particularidades da conta estoques Para que um item seja considerado um ativo, ele precisa ter três termos fundamentais: gerar benefício econômico futuro; ser controlado pela entidade; e ser resultante de um evento que ocorreu no passado (NIYAMA; SILVA, 2013). Ele precisa satisfazer às três condições em conjunto. É controlado pela entidade Gera benefício econômico futuro ATIVO Alguns itens pertencentes ao ativo possuem características similares. No entanto, Iudícibus (2021) ressalta a distinção entre estoques, ativos monetários e despesas pagas antecipadamente, uma vez que os três se caracterizam pela relevante participação no ativo circulante, embora parcelas possam ser não circulantes. 4.0 Característica Ativos monetários São montantes de poder aquisitivo que se tornarão disponíveis agora ou no futuro. Assim, o valor corrente dos ativos monetários pode ser computado por meio do LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 151 desconto das entradas previstas de caixa. Despesas antecipadas São os serviços a serem recebidos pela empresa no processo de obtenção de sua receita. Geralmente, não existe uma forma possível de determinar o valor de tais serviços em termos da receita adicional a ser gerada por eles. Podem ser avaliados apenas em termos de seu valor de aquisição-custo corrente ou passado. Não são itens monetários, pois os recursos de caixa a serem recebidos por sua venda ainda dependem de eventos futuros, e o momento em que os receberemos também é incerto. Entretanto, o valor atual dos fluxos futuros a serem gerados pela venda dos estoques pode ser estimado mais rapidamente do que no caso das despesas pagas antecipadamente. Hendriksen e Van Breda (1999) identificam que os estoques não são ativos monetários, pois o volume de caixa ou de recursos líquidos a ser gerado por sua venda geralmente depende de expectativas quanto a variações futuras de preços. Contudo, mesmo quando os preços podem ser previstos de forma precisa, o momento de ocorrência dos recebimentos futuros também pode ser incerto, o que dificulta a elaboração de estimativas de valores presentes. A validade de preços de saída para a avaliação de estoques também está condicionada ao volume de despesas diretas adicionais e ao uso de recursos conjuntos e atividades conjuntas da empresa necessárias à venda dos bens e ao pagamento pelos compradores. Nesse sentido, são semelhantes a despesas pagas antecipadamente. No entanto, em termos gerais, o valor presente da mercadoria pode ser estimado mais facilmente com base em fluxos futuros de caixa esperados do que com as despesas pagas antecipadamente (HENDRIKSEN; VAN BREDA, 1999). Para Iudícibus (2021), as finalidades ou os objetivos da mensuração e da avaliação dos estoques são de várias ordens, entre as quais a indicação do total de recursos que esperamos receber pela venda dos produtos. Entretanto, o objetivo mais comum refere-se ao esforço de correlacionar a receita com as despesas respectivas no processo de mensuração do lucro, o que poderia levar a uma preferência por um preço de entrada (ou uma avaliação a valores de entrada). Em certas situações, todavia, a avaliação a preços de saída é razoável. Valor de custo e valor realizável líquido: identificando os dois modos de mensuração Mensuração é, em termos contábeis, o processo de atribuir valores monetários significativos a objetos ou eventos associados a uma empresa, obtidos de modo LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 152 a permitir agregação ou desagregação, quando exigida em situações específicas (HENDRIKSEN; VAN BREDA, 1999). Santos, Schimidt e O valor justo é mencionado por esse mesmo pronunciamento, que o define como sendo o preço que seria recebido pela venda de um ativo ou que seria pago pela transferência de um passivo em uma transação não forçada entre participantes do mercado na data de mensuração, com foco nas mudanças que ocorrem na DMPL:] • Na estruturação de uma demonstração da mutação do patrimônio líquido, todas as contas de reservas devem ser contempladas, não só as contas de reservas de lucros. • Integralizar Capital Social contando com bens do ativo imobilizado afeta os resultados de composição de uma DMPL. • Na demonstração das mutações do patrimônio líquido, as alterações por decorrência do pagamento de juros sobre o capital próprio devem ser também elencadas. Gelbcke et al. (2018) consideram que esse conceito de valor justo será importante, por exemplo, quando da mensuração do custo do produto agrícola colhido proveniente de ativo biológico, cujo reconhecimento inicial deve ser feito pelo seu valor de mercado, deduzidos os gastos estimados no ponto de venda no momento da colheita, o que não é, perfeitamente, o conceito de valor justo. Silva, Silva e Denberg (2011) lembram que a avaliação do valor realizável líquido deve ser realizada no mínimo anualmente. Quando as circunstâncias que anteriormente provocaram a redução dos estoques abaixo do custo deixarem de existir ou quando houver uma clara evidência de um aumento no valor realizável líquido devido à alteração nas circunstâncias econômicas, a quantia da redução deve ser revertida contra o resultado (limitada à quantia da redução original), de modo que o novo montante registrado do estoque seja o menor valor entre o custo e o valor realizável líquido revisto. O CPC 16 estabelece formas de atribuição de valores aos itens de estoque das organizações. Os itens que são únicos e insubstituíveis ou que são destinados a um projeto específico devem ter seus custos identificados e escriturados individualmente. Por exemplo, móveis produzidos sob encomenda para uma casa, grandes equipamentos de uso hospitalar ou a produção de produtos perecíveis, como o leite (COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS, 2009). No entanto, para itens não exclusivos e que sejam estocados em maior quantidade é recomendada a utilização de métodos padronizados de atribuição de custo unitário, LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 153 o que permite identificar o custo dessas mercadorias, quando vendidas, bem como otimizar o valor total do estoque. Podemos citar como exemplo de itens não exclusivos os estoques de roupas, calçados e medicamentos, vendidos em grande escala e que permitem sua conservação por longos períodos, onde a DRA, pois as transformações ocorridas no patrimônio líquido e que não derivem de movimentações dos sócios/ proprietários. Existem dois métodos permitidos pela legislação fiscal para avaliação dos estoques, descritos a seguir. • Custo médio ponderado: utilizado por empresas que atualizam o valor unitário dos itens de estoque mensalmente ou a cada compra. Nesse método, a cada nova aquisição de produtos, ou ao final do mês, o sistema gera um novo custo unitário para todos os produtos em estoque, calculando o valor total do estoque dividido pela quantidade de produtos. • CritérioPEPS (primeiro a entrar, primeiro a sair): essa metodologia de avaliação calcula os valores unitários com base no valor histórico dos produtos adquiridos. Considera-se que os itens mais antigos do estoque serão os primeiros a serem vendidos, e o custo dos produtos segue essa linha histórica de evolução, utilizando os valores mais antigos para os mais recentes. Para ilustrar a diferença entre esses dois métodos, vejamos o exemplo a seguir. A empresa Beta Com possui a seguinte movimentação em seus estoques no mês X1: • dia 02: compra de 900 peças no valor unitário de R$ 15,00; • dia 05: compra de 100 peças no valor unitário de R$ 18,00; • dia 09: venda de 600 peças; • dia 16: compra de 1.500 peças no valor unitário de R$ 14,00; • dia 25: venda de 1.400 peças; • dia 31: compra de 900 peças no valor unitário de R$ 15,00; Os valores da venda das peças nos dias 09 e 25 são irrelevantes, pois o que se busca aqui é a apuração do custo das peças vendidas. Pelo método do custo médio ponderado, temos os seguintes registros: Estoques (CPC 16 [R1]) 9 Vemos aqui que ao final do mês X1 a empresa Beta Com possui um saldo de 1.400 peças e um valor total de R$ 20.636,84. Agora, vamos ver a apuração da escrituração do estoque pelo método PEPS: Uma vez que a base histórica é necessária para o cálculo do valor unitário dos produtos vendidos, há a necessidade de segregar os itens a partir da data de entrada, pois o LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 154 custo de cada um está baseado no valor da compra histórica. Por isso, quando houve a venda de 1.400 peças no dia 25/X1, os valores do CMV foram segregados de acordo com a ordem de compra dos itens, identificados na tabela pelas cores para melhor visualização. Pelo método PEPS, ao final do mês X1 a empresa Beta Com possuía o mesmo saldo de itens (1.400 peças), mas o valor apurado foi de R$ 20.500,00. Neste pequeno exemplo é possível perceber que os dois métodos podem resultar em valores bem diferentes, refletindo em questões fiscais e de resultado do período. Controle de estoques As pessoas jurídicas devem escriturar o registro de inventário contendo todas as informações dos bens mantidos em estoque, seja ele de matéria-prima, bens em elaboração ou bens prontos para venda, atentando-se para o cumprimento da legislação societária e fiscal. Além disso, ele é uma importante fonte de informação para a gestão da empresa. O controle contábil dos estoques pode ocorrer por meio do sistema periódico (GRECO; AREND, 2013). O sistema periódico, ou inventário periódico, geralmente é utilizado por empresas que não possuem um sistema de controle de entradas, em que os registros contábeis de estoque e do custo de mercadorias vendidas são realizados ao final do exercício, com a contagem física de itens do (CPC 16 [R1]) a apuração das contas transitórias relacionadas ao estoque, como custo das mercadorias vendidas (CMV), abatimento sobre compras, fretes e seguros. No sistema periódico, o valor do custo das mercadorias vendidas é calculado pela seguinte fórmula. CMV = Ei + Co – DevC – AbatC + FreteC + SegC – Ef onde: � Ei = estoque inicial do período; • Co = compras do período; • DevC = devolução de compras do período; • AbatC = abatimentos sobre compras do período; • FreteC = fretes sobre compras do período; • SegC = seguros sobre compras do período; • Ef = estoque final (das mercadorias inventariadas ao final do período). Ao final do período é realizada a apuração da conta CMV, conforme demonstrado a seguir. Conta: custo das mercadorias vendidas Lançamentos a débito Lançamentos a crédito (1) Estoque Inicial R$ ........ (1) Devoluções sem compras R$ ........ (1) Compras R$ ........ (1) Abatimentos sem compras R$ ........ (1) Fretes sem compras R$ ........ (2) LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 155 Estoque final R$ ........ (1) Seguros sem compras R$ ........ (3) Saldo R$ ........ (1) Saldos transferidos das respectivas contas transitórias. (2) Valor apurado no inventário ao final do período. (3) O saldo da conta CMV deve ser transferido para a apuração do resultado do exercício. Observação: as empresas que optam por utilizarem o sistema periódico não podem utilizar o critério de avaliação de estoques por meio do custo médio, em conformidade com a legislação fiscal. Os estoques e a obrigatoriedade de divulgação de seus itens. Em decorrência da evolução do ambiente corporativo empresarial e da inevitável globalização da economia, se fazia necessário desenvolver mecanismos para acompanhar esse aprimoramento que passou a envolver a esfera contábil. As diversas modificações trazidas pela internacionalização das normas contábeis introduzidas no Brasil proporcionaram enormes benefícios. A padronização decorrente desse movimento propiciou uma melhoria significativa na qualidade das informações prestadas pelas entidades aos usuários por meio de suas demonstrações contábeis. Esse novo regramento trouxe alterações em diversos aspectos de mensuração e apresentação dos dados contábeis. Uma área importante dentro das demonstrações contábeis que foi afetada por essas mudanças foi o grupo de estoques. A divulgação das informações contábeis por parte das entidades é de extrema relevância para orientar as decisões tomadas pelos gestores, acionistas e demais interessados nesses dados, onde existe uma relação entre DVA e DRE: • Pois a elaboração do relatório das Demonstrações dos Valores Adicionados totais, é necessário que se tenha concluído o relatório das Demonstrações dos Resultados do Exercício - DRE. • Um dos três componentes básicos para a elaboração do relatório dos Valores Adicionados é o Resultado Líquido do Exercício que se obtém após o término da elaboração da DRE. Ao transformar dados e registros em informações úteis, relevantes e transparentes para esses agentes, a contabilidade busca oferecer uma divulgação adequada das informações contábeis de uma determinada entidade. Essas informações contábeis devem refletir uma extrema fidelidade do desempenho operacional da entidade em todos os seus aspectos econômico-financeiros. Assim, é necessário que os usuários desses dados tenham elementos suficientes para análise e tomada de decisão. Conforme consta no CPC 16, em relação aos estoques, LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 156 as demonstrações contábeis devem divulgar (COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS, 2009): • as políticas contábeis que foram adotadas na mensuração dos estoques (incluindo as formas e os critérios de valoração utilizados); • o valor total escriturado em estoques e o valor registrado em outras contas apropriadas para a entidade; • o valor de estoques escriturados pelo valor justo menos os custos de venda; • o valor de estoques reconhecido como despesa durante o período; • o montante escriturado de estoques dados como penhor de garantia a passivos; o valor de qualquer redução de estoques reconhecida no resultado do período, o valor de toda reversão de qualquer redução do valor dos estoques reconhecida no resultado do período, e as circunstâncias ou os acontecimentos que conduziram à reversão de redução de estoques de acordo com o item 34 do CPC 16. Esse item menciona o seguinte: quando os estoques são vendidos, o custo escriturado desses itens deve ser reconhecido como despesa do período em que a respectiva receita é reconhecida. A quantia de qualquer redução dos estoques para o valor realizável líquido e todas as perdas de estoques devem ser reconhecidas como despesa do período em que a redução ou a perda ocorrer. A quantia de toda reversão de redução de estoques, proveniente de aumento no valor realizável líquido, deve ser registrada como redução do item em que for reconhecida a despesa ou a perda, no período em que a reversão ocorrer(COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS, 2009). Conforme sinalizado no CPC 16, a informação referente aos valores contábeis registrados em diferentes classificações de estoques e a proporção de alterações nesses ativos são úteis para os usuários das demonstrações contábeis. As classificações comuns de estoques são: mercadorias, bens de consumo de produção, materiais, produtos em elaboração e produtos acabados (COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS, 2009). O valor do estoque baixado consiste nos custos que estavam incluídos na mensuração do estoque que agora é vendido. Esse valor é reconhecido como despesa durante o período (frequentemente é denominado como custo dos produtos, das mercadorias ou dos serviços vendidos). Os custos indiretos de produção eventualmente não alocados aos produtos e os valores anormais de custos de produção devem ser reconhecidos como despesa do LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 157 período em que ocorrem, sem transitar pelos estoques, dentro desse mesmo grupo, mas de forma identificada (COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS, 2009). O pronunciamento menciona também que algumas entidades adotam um formato para a demonstração de resultados, resultando na divulgação de valores que não sejam os custos dos estoques reconhecidos como despesa durante o período. Conforme o padrão desse formato, a entidade deve apresentar a demonstração do custo das vendas usando uma classificação com base na natureza desses custos, elemento a elemento. Nesse caso, essa entidade deve divulgar os custos reconhecidos como despesas item a item, por natureza: matérias-primas e outros materiais, evidenciando o valor das compras e da alteração líquida nos estoques iniciais e finais do período; mão- de-obra; outros custos de transformação, etc. Estoques (CPC 16 [R1]) 13 A fim de fornecer explicações e predições para a prática da contabilidade, a pesquisa na área tem procurado instrumentalizar-se cada vez mais. Dentro da ciência contábil, existem inúmeras teorias que buscam entender e explicar algum fenômeno da contabilidade a partir da observação. Entre essas teorias existe uma que especificamente estuda a divulgação das demonstrações contábeis em todos os seus aspectos: a teoria da divulgação. Seu principal objetivo é explicar o fenômeno da divulgação das informações contábeis, com base em diversas perspectivas. O que se busca é entender, dentre outros aspectos, os motivos econômicos para que uma determinada informação seja divulgada. Por exemplo: se busca determinar qual é o efeito da divulgação de demonstrações contábeis no preço das ações. Outro exemplo seria identificar quais são as razões econômicas para que uma determinada informação seja divulgada. A teoria da divulgação possui em seu arcabouço três tipos de pesquisas: a divulgação baseada em associação (que estuda a relação entre a divulgação e as mudanças no comportamento dos investidores que maximizam a sua riqueza); a divulgação baseada em julgamento (investiga quais são os motivos da divulgação por parte dos gestores/empresas); e a divulgação baseada em eficiência (discute quais são os tipos de divulgação mais eficientes). Cabe observar que entender as linhas teóricas que norteiam o registro contábil é importante para o desenvolvimento da contabilidade. Estreitamente ligado às principais áreas de operação das companhias, o grupo estoques do ativo circulante tem a função de agente regulador na lei de oferta e demanda, uma vez que possibilita uma produção LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 158 mais constante, não oscilando com as flutuações das vendas quando sua gestão é efetiva e a empresa em questão conhece seu mercado, sobre a DRA: • Investimentos conforme método de equivalência patrimonial. • Itens classificados conforme sua natureza. • Resultado líquido do exercício. Esse grupo de contas está diretamente relacionado com as receitas das entidades, pois essas receitas se originam das vendas ou da prestação de serviços. Em termos de mensuração dos estoques, o Pronunciamento Técnico CPC 16 determina que deve ser utilizado o valor de custo ou então o valor realizável líquido, sendo usado dos dois o menor e o CPC define as normas contábeis como: • Exclusão dos Resultados Não Operacionais da DRE. • Surgimento dos Resultados Abrangentes como Demonstrações. Pois a DRA age conforme as normas e por meio do estudo das elaborações das demonstrações, pode-se concluir que o resultado final da entidade é encontrado, efetivamente, no Resultado abrangente total do período, após todas as movimentações serem evidenciadas. No entanto, no Brasil, torna-se obrigatório somente a elaboração da DRE, mesmo apesar de a elaboração da DRE e DRA ser determinação de órgãos reguladores, como a NBC e o CPC, a Lei n.º 6.404/1976 obriga somente a elaboração da DRE e uma norma não pode ser sobreposta a uma lei. A mensuração determina os valores pelos quais os elementos (do ativo e do passivo) devem ser reconhecidos e apresentados nas demonstrações contábeis, dessa forma esse item tem grande importância para a parte interessadas na informação gerada pela contabilidade (COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS, 2009). ISTO ESTÁ NA REDE Link: https://www.youtube.com/watch?v=Ky--05eW9bY . As empresas comerciais que vendem mercadorias necessitam de uma organização de seus itens por diversos motivos, como, por exemplo, proteger seus elementos contra um aumento de preços e proporcionar economia na produção. Os gestores entendem que os estoques são agentes reguladores na lei de oferta e demanda. A contabilidade, como ciência que lida com o patrimônio das entidades, efetua o registro adequado desses itens que pertencem ao estoque das organizações com a finalidade de prover informações aos gestores e demais interessados. https://www.youtube.com/watch?v=Ky--05eW9bY LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 159 ANOTE ISSO As organizações possuem como meta garantir lucratividade e evitar perdas nos seus negócios. Uma adequada gestão dos estoques possibilita que o gestor otimize a utilização do seu espaço físico, organizando seus materiais acumulados. Uma escolha envolvendo um determinado método de avaliação de estoque pode interferir diretamente na lucratividade de qualquer entidade. Como o custo de aquisição de um material influencia o valor de venda dos produtos dessa entidade, é fundamental contar com um método de avaliação de estoque adequado aos propósitos dessa organização. LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 160 CAPÍTULO 13 CPC 25 - PROVISÕES 1.0 INTRODUÇÃO Olá, estudante, a complexidade no reconhecimento, na mensuração e na divulgação assertiva das provisões e dos passivos contingentes chamou a atenção dos órgãos normativos internacionais de contabilidade para a criação de regras contábeis para esses temas. Devido à convergência das normas brasileiras às normas internacionais de contabilidade, o país passou a adotar essas regras, sendo um tema de grande relevância para os profissionais e para os usuários das demonstrações contábeis. Dessa forma, o assunto é tratado pelo Pronunciamento técnico CPC 25: provisões, passivos contingentes e ativos contingentes, que tem como objetivo estabelecer os critérios de reconhecimento e as bases de mensuração apropriadas a provisões e a passivos e ativos contingentes, além de apresentar as informações a serem divulgadas em notas explicativas. 2.0 Aplicabilidade do CPC 25 No Brasil, o pronunciamento técnico CPC 25, que tem correlação com a norma internacional de contabilidade IAS 37 (Provisions, Contingent Liabilities and Contingent Assets), do International Accounting Standards Board (IASB), é o quadro de padrões da contabilidade internacional e trata especificamentede provisões, passivos e ativos contingentes (COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS, 2019). O CPC 25 tem como objetivo estabelecer os critérios de reconhecimento e as bases de mensuração apropriadas a provisões e a passivos e ativos contingentes, além das informações a serem divulgadas em notas explicativas. Neste capítulo, você vai estudar o CPC 25, que orienta o tratamento contábil de provisões, passivos e ativos contingentes. Além disso, vai ver exemplos que ajudam a compreender os registros contábeis das provisões. Provisões, ativos e passivos contingentes Inicialmente, cabe aos profissionais conhecerem as terminologias tratadas pelas normas contábeis. Assim, veja LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 161 a seguir algumas definições abordadas no CPC 25 (COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS, 2019). • Provisão: passivo de prazo ou valor incertos. • Passivo: obrigação presente, derivada de eventos passados, cuja liquidação se espera que resulte em uma saída de recursos da empresa capaz de gerar benefícios econômicos. • Passivo contingente: obrigação possível que resulta de eventos passados e cuja existência poderá ser confirmada por evento futuro incerto, não totalmente sob controle da entidade, ou ser uma obrigação presente que resulta de eventos passados, mas que não é reconhecida. • Ativo contingente: ativo possível que resulta de eventos passados e cuja existência poderá ser confirmada por evento futuro incerto, não totalmente sob controle da entidade. O CPC 25 define que todas as organizações devem aplicá-lo quanto à contabilização de provisões, passivos e ativos contingentes (COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS, 2019). No entanto, há algumas exceções, como aquelas que resultam de contratos a executar ou estejam cobertas por outro pronunciamento. É possível destacar como exemplos de outros pronunciamentos os contratos de construção (CPC 17), os tributos sobre o lucro (CPC 32), os benefícios a empregados (CPC 33), os instrumentos financeiros (CPC 48), entre outros. 2 Provisões, passivos contingentes e ativos contingentes (CPC 25) Antes da harmonização das normas contábeis brasileiras às normas internacionais de contabilidade, observava-se que o termo provisão era um nome genérico amplamente utilizado pelos contadores brasileiros. Esse termo era usado para designar uma série de ajustes contábeis nas demonstrações contábeis sempre que houvesse algum evento de provável realização implicando em redução de ativos ou aumento de passivos. É possível citar como exemplo a redução dos valores de ativo de clientes, por meio da conta provisão para créditos de liquidação duvidosa. Atualmente, o termo adequado é perdas estimadas. Assim, perceba que o termo provisão, nas demonstrações financeiras, deve ser utilizado somente para obrigações, conforme descrito nas normas do IASB e de acordo com o conceito de redução ao valor recuperável (ADRIANO, 2018). Nesse sentido, verificamos que o CPC 25 distingue as provisões de outros passivos derivados de LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 162 apropriações por competência (accruals). As provisões derivadas de apropriações por competência (accruals) são aquelas relacionadas a obrigações já existentes, registradas no período de competência, em que não existe grau de incerteza relevante, como os valores relacionados ao pagamento de férias (COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS, 2019). Gelbcke et al. (2021) destacam que esses passivos se caracterizam como genuínos e não devem ser reconhecidos como provisões, sendo o termo adequado a pagar. Dessa forma, os contadores devem contabilizar os passivos relacionados aos pagamentos de férias e 13º salário como férias a pagar e 13º a pagar, respectivamente. Por outro lado, observe que as provisões propriamente ditas referem-se a obrigações já existentes que estão relacionadas a prazos incertos ou valores incertos. Como exemplo, é possível citar uma ação trabalhista com causa favorável ao empregado. Assim, note que as provisões propriamente ditas são distintas de outros passivos, como as contas a pagar, e dos passivos derivados de apropriações por competência (accruals), pois há incerteza sobre o prazo ou o valor do desembolso futuro necessário para a sua liquidação (ADRIANO, 2018). Os ativos contingentes normalmente surgem de evento não planejado que dá origem à possibilidade de entrada de benefícios econômicos para a empresa. Um exemplo é uma reivindicação, por meio de processos legais, de impostos recolhidos, em que o desfecho seja incerto. Quando a realização do ganho for praticamente certa, será reconhecido nas demonstrações financeiras o ativo adequado como impostos a recuperar. O termo contingente é usado para passivos e ativos que não são reconhecidos nas demonstrações financeiras, em razão de sua existência depender de um ou mais eventos futuros incertos que não estão totalmente sob o controle da empresa. Dessa forma, é possível observar que os ativos contingentes e os passivos contingentes se diferem das provisões, pois estas devem ser reconhecidas pela companhia, presumindo que atendam aos critérios de reconhecimento. Ativos contingentes De acordo com o CPC 25, os ativos contingentes não são reconhecidos nas demonstrações financeiras, pois resultam de eventos passados cuja comprovação vai depender de um ou mais eventos futuros incertos, que não estão totalmente sob o controle da empresa (COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS, 2019). Em outras palavras, pode ser um resultado que nunca venha a ser realizado. No entanto, quando a realização do ganho for praticamente certa, o ativo relacionado LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 163 não é um ativo contingente, e o seu reconhecimento é devido. Provisões, passivos contingentes e ativos contingentes (CPC 25) Os ativos contingentes são avaliados periodicamente para garantir que os desenvolvimentos sejam apropriadamente refletidos nas demonstrações financeiras, pois caixa é tudo que se encontra para uso imediato, dinheiro ou disponível em banco, seu conceito é genuíno e por si só se explica, assim como equivalentes de caixa são as aplicações de curto prazo que podem ser convertidos em caixa quando necessário para que o fluxo de caixa é todo o movimento do caixa e seus equivalentes durante as operações da empresa. Atividades operacionais são aquelas que geram recursos para a entidade e não são nem de financiamento ou investimento. Se for praticamente certo que ocorrerá uma entrada de benefícios econômicos, o ativo e o correspondente ganho são registrados nas demonstrações contábeis do período em que ocorrer a mudança de estimativa. Se a entrada de benefícios econômicos se tornar provável, a entidade divulga o ativo contingente em nota explicativa (COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS, 2019). Tratamento contábil de acordo com o risco de ocorrência Probabilidade de ocorrência da entrada de recursos Tratamento contábil A entrada de benefícios econômicos não é provável. Nenhum ativo é reconhecido na contabilidade. Nenhuma divulgação é exigida. A entrada de benefícios econômicos é provável, mas não praticamente certa. Nenhum ativo é reconhecido na contabilidade. É exigida a divulgação do ativo contingente em nota explicativa. A entrada de benefícios econômicos é provável e praticamente certa. Ativo não é contingente. Deve ser reconhecido no ativo apropriado. Fonte: Adaptado de Comitê de Pronunciamentos Contábeis (2019). 3.0 Passivos contingentes De acordo com o CPC 25, os passivos contingentes não são reconhecidos pela empresa. Sua divulgação é exigida em nota explicativa, a menos que seja remota a possibilidade de uma saída de recursos que incorporam benefícios econômicos (COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS, 2019). Quando a entidade for conjunta e solidariamenteresponsável por obrigação, a parte da obrigação que se espera que as outras partes liquidem é tratada como passivo contingente. Dessa forma, a empresa só deverá reconhecer a provisão para a parte da obrigação para a qual é provável uma saída de recursos que incorporam benefícios econômicos, exceto nas circunstâncias extremamente raras em que nenhuma estimativa suficientemente confiável possa LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 164 ser feita (COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS, 2019). Provisões, passivos contingentes e ativos contingentes (CPC 25). Assim como os ativos contingentes, os passivos contingentes devem ser periodicamente avaliados para determinar se uma saída de recursos que incorporam benefícios econômicos se tornou provável. Se for provável que uma saída de benefícios econômicos futuros será exigida para um item previamente tratado como passivo contingente, a provisão deve ser reconhecida nas demonstrações contábeis do período em que ocorre a mudança na estimativa da probabilidade. Provisão De acordo com o CPC 25, uma provisão será reconhecida se satisfazer três condições (COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS, 2019): 1. a entidade tem uma obrigação presente (legal ou não formalizada) como resultado de um evento passado; 2. provavelmente será necessária uma saída de recursos que incorporam benefícios econômicos para liquidar a obrigação; 3. é possível fazer uma estimativa confiável do valor da obrigação. A obrigação presente tem origem em um evento passado e se caracteriza por evidência disponível de que é mais provável a existência da obrigação do que não. Na maioria dos casos, essas evidências serão claras. Contudo, quando não forem, é possível recorrer à opinião de peritos, como ocorre em casos de processos judiciais (GELBCKE et al., 2021). Um evento passado é aquele que tem condições de criar obrigações para a empresa, ou seja, ela não tem alternativa a não ser liquidar a obrigação gerada do evento. Isso é feito por imposição legal ou pelo fato de o evento criar expectativas válidas em terceiros de que a organização vai cumprir a obrigação. Assim, podemos constatar que são reconhecidas como provisão apenas as obrigações que surgem de eventos passados que existam independentemente de ações futuras da entidade (ou seja, da conduta futura de seus negócios). Para o reconhecimento do passivo, além da obrigação presente, é condicionante a probabilidade de saída de recursos que incorporam benefícios econômicos futuros para sua liquidação, sendo que a probabilidade do evento ocorrer deve ser maior do que a de não ocorrer. Entretanto, de acordo com o CPC 25, quando não for provável a existência de uma obrigação presente, a entidade divulga um passivo contingente (COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS 6 Provisões, passivos contingentes e ativos contingentes (CPC 25) CONTÁBEIS, 2019). Por outro lado, quando a probabilidade de saída de recursos é praticamente certa, trata-se de um passivo genuíno, com foco LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 165 nos resultados abrangentes, pois todas as variações nas reservas de reavaliações, os ganhos e as perdas nos planos que beneficiam empregados, nas conversões de moeda nas transações, os ajustes de avaliação patrimonial. Assim, as obrigações presentes devem ser avaliadas e classificadas segundo a probabilidade de saída de recursos. As estimativas são essenciais quando se trata de provisões, em razão de sua característica intrínseca de incerteza. Além disso, o CPC 25 deixa claro que uma estimativa não prejudica a confiabilidade da informação nas demonstrações contábeis. A estimativa confiável é resultante da capacidade de a entidade determinar um conjunto de desfechos possíveis. Para tanto, a estimativa aplicada para mensuração do valor é a “melhor estimativa” do desembolso para a liquidação da data do balanço, ou seja, é o valor requerido na hipótese de a empresa pagar para liquidar a obrigação ou transferi-la para terceiros nesse momento. As estimativas do desfecho e do efeito financeiro são determinadas pelo julgamento da administração, complementado pela experiência de transações semelhantes e, em alguns casos, por relatórios de peritos independentes (COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS, 2019). Quando a provisão a ser mensurada envolver uma grande população de itens, a obrigação poderá ser estimada utilizando o método denominado valor esperado. Havendo uma escala contínua de desfechos possíveis, com cada ponto nessa escala sendo tão provável quanto qualquer outro, será usado o ponto médio da escala. Acompanhe o exemplo a seguir sobre a estimativa da probabilidade de um desembolso para pagamento de obrigações. Suponha que a empresa ABC venda produtos eletrônicos com uma garantia contra defeitos de fábrica de até seis meses após a compra. A empresa analisou a possibilidade de ocorrer um defeito provável nos eletrônicos produzidos. Por experiências passadas e por expectativas futuras, a empresa identificou que, para o próximo ano, 75% dos produtos não vão apresentar defeitos, 20% vão apresentar defeitos menores e 5% vão ter defeitos maiores. A empresa estima que, se a totalidade dos produtos vendidos tiver que sofrer pequenos reparos, o custo será de R$1 milhão. Já grandes reparos custariam R$4 milhões. Dessa forma a provisão para garantia é determinada pelo seguinte cálculo: Estimativa = (75% × 0) + (20% × R$1 milhão) + (5% de R$4 milhões) Estimativa = R$400.000 Assim, o valor esperado do custo das reparações é de R$400.000,00. LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 166 As estimativas consideram os riscos e as incertezas. O risco representa a variabilidade dos desfechos possíveis. É preciso ter cuidado ao realizar julgamentos em condições de incerteza, para que as receitas ou os ativos não sejam superavaliados e as despesas ou passivos não sejam subavaliados. Além disso, o desfecho a ser considerado deve ser o mais provável, com a devida divulgação das incertezas sobre o valor, do cronograma de desembolsos e das premissas utilizadas. Quando o efeito do valor do dinheiro no tempo é material, o valor da provisão deve ser o valor presente dos desembolsos que se espera que sejam exigidos para liquidar a obrigação. Vale ressaltar que os ganhos da alienação esperada de ativos não devem ser considerados ao mensurar a provisão, mesmo se a alienação esperada estiver intimamente ligada ao evento que dá origem à provisão. Em vez disso, a organização deve reconhecer tais ganhos no momento determinado pelo pronunciamento técnico específico que trata do respectivo ativo. Quando a empresa espera que alguns dispêndios exigidos para liquidar uma provisão sejam reembolsados por outra parte (por exemplo, por intermédio de contratos de seguro, cláusulas de indenização ou garantias de fornecedores), a empresa poderá reconhecer o reembolso na contabilidade, desde que o seu recebimento seja praticamente certo. Nesse caso, o reembolso deve ser tratado como ativo separado, e o valor reconhecido nunca deve ultrapassar o valor da provisão. Na demonstração do resultado, a despesa relativa a uma provisão pode ser apresentada líquida do valor reconhecido de reembolso. Regras de reconhecimento e mensuração das provisões para contingências passivas Quando julgarmos que a saída de recursos de uma situação tenha risco provável em exercício futuro, devemos registrar contabilmente uma provisão, baseada em estimativa confiável. Veja a seguir algumas regras de reconhecimento e mensuração de provisões, conforme o tratamento contábil estipulado pelo CPC 25. Provisões para riscos fiscais, trabalhistas e cíveis Verificamos com frequência o reconhecimento de provisões relacionadas à existência de ações judiciais exigindo o pagamento de autuações fiscais, reclamações trabalhistas ou indenizaçõesa fornecedores ou clientes (GELBCKE et al., 2021). Quando houver ações judiciais que a administração, em conjunto com seus advogados, considere provável o desembolso futuro e quando forem atendidos os requisitos estabelecidos no CPC 25, a empresa deve reconhecer as respectivas provisões. LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 167 Acompanhe o exemplo a seguir de reconhecimento de provisão para contingências fiscais, e assim sofrem alterações no patrimônio da entidade: • Acréscimo ou redução no lucro, gerando lucro ou prejuízo. • Diminuições no patrimônio por distribuições dos dividendos. • Capital subscrito e integralizado, gerando aumento no patrimônio. Imagine que a empresa Flor Azul Ltda. tenha sido autuada em maio/X1 pelos agentes fiscais da receita federal em R$300.000,00, em razão de graves incorreções na apuração do lucro real dos três exercícios anteriores. A administração da empresa não tinha consciência dessas falhas. Tomando conhecimento dos problemas, a administração contratou um advogado especializado para tentar administrativa e/ou judicialmente extinguir a obrigação ou pelo menos atenuar a punição financeira. Apesar de entender que a punição possa ser amenizada com a redução do valor envolvido, as incorreções de fato ocorreram, sendo necessária a constituição da provisão. Verificado o risco provável, a empresa vai precisar efetuar o seguinte lançamento contábil. � Débito: ajuste de exercícios anteriores (patrimônio líquido), R$300.000,00. � Crédito: provisão para contingências fiscais (passivo circulante), R$300.000,00. Provisão para danos ambientais Caso existam obrigações originadas por penalidades ou custos para reparação de danos ambientais ilegais, com provável saída de recursos que incorporam benefícios econômicos para liquidação, a empresa deve reconhecer uma provisão, no que tange a equivalência patrimonial: • Considerado critério de avaliação nas relações entre coligadas e controladas. • Sociedade investidora reconhece perdas ou ganhos, conforme resultados das investidas. • Sua contabilização deverá acontecer no momento em que acontecem, independente da distribuição aos sócios. No entanto, quando existir relação de dependência de ações futuras e quando a empresa tiver condições de evitar os gastos futuros pelas suas próprias ações (por exemplo, alterando o seu modo de operar), ela não tem qualquer obrigação presente relativa a esse gasto futuro, então nenhuma provisão é reconhecida. Veja a seguir um exemplo de reconhecimento de provisão de danos ambientais. Suponha que a empresa Mercado Verde Ltda. tenha uma despesa prevista com recuperação do meio ambiente, cuja degradação já ocorreu e é responsabilidade da empresa, em decorrência LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 168 de exigência legal. Um laudo ambiental apontou um provável volume de gastos para recuperação de R$1.500.000,00. Dessa forma, a empresa deve efetuar o seguinte lançamento contábil. • Débito: provisão com recuperação de meio ambiente (despesa), R$1.500.000,00. • Crédito: provisão por danos ambientais (passivo circulante), R$1.500.000,00. A provisão para reestruturação inclui os desembolsos diretos decorrentes da reestruturação que simultaneamente sejam ocasionados por ela e não estejam associados às atividades em andamento da organização (COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS, 2019). O CPC 25 lista os seguintes eventos que podem se enquadrar na definição de reestruturação (COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS, 2019): • venda ou extinção de uma linha de negócios; • fechamento de fábricas ou realocação das atividades de negócios; • mudanças na estrutura da administração; • reorganizações que tenham efeito material na natureza e no foco das operações da entidade. Contudo, vale ressaltar que não se inclui na provisão para reestruturação os custos com novo treinamento ou remanejamento da equipe permanente, com marketing ou com investimento em novos sistemas e redes de distribuição. Afinal, esses desembolsos relacionam-se com a conduta futura da empresa e devem ser reconhecidos da mesma forma que seriam se surgissem independentemente da reestruturação (COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS, 2019). Em relação às condições para que o processo de reestruturação dê origem ao reconhecimento de uma provisão, deve existir um plano formal detalhando a operação de reestruturação e uma expectativa válida naqueles que serão afetados pelo processo de reestruturação, seja iniciando a implementação do plano, seja anunciando as principais características e impactos do referido plano (COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS, 2019). A evidência de que a entidade começou a implantar o plano de reestruturação seria fornecida, por exemplo, pela desmontagem da fábrica, pela venda de ativos ou pela divulgação das principais características do plano. Veja a seguir um exemplo de reconhecimento de uma provisão de reestruturação. Provisões, passivos contingentes e ativos contingentes (CPC 25) 11 Considere que a empresa Caminho Longo S.A. tenha decidido que vai efetuar, no próximo ano, uma reestruturação com redução de níveis LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 169 hierárquicos, demissões e fechamento de duas unidades de negócio. Inicialmente, foram aprovadas as principais linhas do plano de reestruturação, mas ainda não foi feita a divulgação às partes envolvidas. Assim, a provisão não deve ser constituída, pois o plano não foi divulgado em detalhes suficientes para as partes envolvidas. Caso a comunicação seja realizada antes do encerramento do exercício, o balanço deve contemplar a provisão, reconhecendo a melhor estimativa dos custos a incorrer por conta da reestruturação, do fluxo de caixa, pois, tende a analisar a capacidade da empresa gerar caixa e equivalentes de caixa. Segundo o CPC 25, um contrato oneroso é um contrato em que os custos inevitáveis de satisfazer às obrigações do contrato excedem os benefícios econômicos que se espera receber ao longo do mesmo contrato (COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS, 2019). Dessa forma, quando a organização tiver um contrato oneroso, a obrigação presente deve ser reconhecida e mensurada como provisão. Os custos inevitáveis do contrato devem refletir o menor custo líquido de saída do contrato. Esse custo é determinado com base no custo de cumprir o contrato ou no custo de qualquer compensação ou de penalidades provenientes do não cumprimento do contrato. Considera-se o menor (COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS, 2019). Os custos relacionados diretamente ao contrato consistem em custos incrementais para seu cumprimento (por exemplo, mão de obra direta) e em alocação de outros custos diretamente relacionados ao seu cumprimento (por exemplo, encargo de depreciação para bens do imobilizado utilizados). Quando o contrato puder ser cancelado sem pagar compensação à outra parte, não vai haver obrigação. No entanto, quando o contrato estabelecer direitos e obrigações para cada uma das partes, com eventos que o tornem oneroso, deve ser reconhecido um passivo (GELBCKE et al., 2021). Veja a seguir um exemplo de provisão para contrato oneroso. 12 Provisões, passivos contingentes e ativos contingentes (CPC 25) I A menos que seja remota a possibilidade de ocorrer qualquer desembolso na liquidação, a entidade deve divulgar, para cada classe de passivo contingente na data do balanço, uma breve descrição da natureza do passivo contingente e, quando praticável: • a estimativa do seu efeito financeiro; • a indicação das incertezas relacionadas ao valor ou ao momento de ocorrência de qualquer saída; • a possibilidade de qualquer reembolso. LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 170 Quando a provisão e o passivo contingentesurgirem do mesmo conjunto de circunstâncias, a empresa deve fazer as divulgações de forma que evidencie a ligação entre eles. Não sendo provável a entrada de benefícios econômicos, a entidade deve divulgar uma breve descrição da natureza dos ativos contingentes na data do balanço e, quando praticável, uma estimativa de seus efeitos financeiros. É importante que as divulgações de ativos contingentes evitem dar indicações indevidas da probabilidade de surgirem ganhos. Se por um caso raro a divulgação de alguma informação venha a prejudicar seriamente a posição da empresa em uma disputa com outras partes sobre o assunto de provisão, contingência passiva ou contingência ativa, a empresa não é obrigada a divulgar as informações. No entanto, ela deve divulgar a natureza geral da disputa e o fato de que as informações não foram divulgadas, com a devida justificativa, bem como deve avaliar a necessidade de comunicar o assunto ao órgão regulador, nos termos das normas existentes sobre informações confidenciais (ALMEIDA, 2018). Por fim, é possível concluir que o CPC 25 tem grande contribuição para o correto reconhecimento das obrigações passivas e para a divulgação das informações úteis nas demonstrações financeiras. ISTO ESTÁ NA REDE Link: https://www.youtube.com/watch?v=g9rTr0qRgfo . O propósito do pronunciamento técnico CPC 25 é garantir que os critérios corretos sejam adotados para reconhecimento, mensuração e divulgação de provisões, passivos contingentes e ativos contingentes e que a evidenciação seja suficiente e oportuna, permitindo que os usuários interessados nas demonstrações contábeis. Desta forma, observa-se que o CPC 25 aborda o tratamento contábil das provisões, ativos e passivos contingentes, apresentando desde as suas definições até as informações obrigatórias a serem divulgadas, e assim com reflexos na DFC, pois, deve ser utilizado o Regime de Caixa. https://www.youtube.com/watch?v=g9rTr0qRgfo LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 171 ANOTE ISSO A contabilidade tem como missão subsidiar a tomada de decisões, fornecendo informações úteis aos seus usuários. Para isso, ela está em constante evolução e aprimoramento, especialmente com o mercado globalizado e as novas formas de investimentos. Dessa forma, é possível perceber que novos conceitos e métodos contábeis são estabelecidos, o que requer atualização dos profissionais da área. Um tema que ganhou destaque com a harmonização das normas internacionais de contabilidade é o referente a provisões, passivos e ativos contingentes. LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 172 CAPÍTULO 14 CPC 26 – DEMONSTRAÇÕES 1.0 INTRODUÇÃO Olá, estudante, O correto reconhecimento de todos os fatos que alteram o patrimônio das entidades inclui a contabilização daqueles que afetam a contabilidade de forma antecipada, ou seja, os adiantamentos. Nesse contexto, é essencial reconhecê-los de forma adequada, classificando-os de acordo com o seu fato gerador e controlando a sua ocorrência dentro das demonstrações contábeis. Suponha que você está em um processo seletivo para contador de uma grande empresa do ramo automobilístico e, em uma das fases, você precisa explicar a importância das informações contábeis, como um contexto social e administrativo. 2.0 Aplicabilidade das Demonstrações Na qualidade de um profissional contábil, a informação precisa ser útil para o tomador de decisão, ela deve ter certas características e atender a determinados critérios, como: ser compreensível, relevante, completa, acessível e de estrutura interpretativa das funções e ferramentas contábeis. Uma informação completa, por sua vez, contém todos os fatos necessários para que o tomador de decisão resolva, satisfatoriamente, o problema em questão, utilizando essas informações. Nada importante deve ser desconsiderado. Embora a informação nem sempre seja completa, todo esforço razoável deve ser feito para obtê- la. A informação pode ser inútil se não for, prontamente, acessível na forma desejada, quando necessário. O objeto de estudo da ciência contábil é o patrimônio das entidades, e seu objetivo é o controle desse patrimônio para produzir informações contábeis úteis para as tomadas de decisão. A definição de patrimônio não se limita apenas aos bens de uma pessoa ou empresa, mas, sim, engloba um conjunto de bens, direitos e obrigações. As informações contábeis precisam ser construídas em uma base sólida, que possa permitir sua comparabilidade com informações contábeis produzidas por outras pessoas, empresas ou, até mesmo, países, pois serão utilizadas por diferentes usuários, LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 173 os quais se dividem em internos e externos. Cada um tem interesses distintos, portanto, a contabilidade não pode produzir informações iguais para todos. Os usuários externos, como investidores, fornecedores e credores, têm acesso a um tipo de informação definido na contabilidade como relatórios contábeis-financeiros de propósito geral, que têm o objetivo de atender às necessidades de um grupo de usuários, e não um ou outro usuário específico. A necessidade dos usuários internos é diferente da dos externos, pois é sobre eles que recai o poder decisório, como responsáveis pela gestão de recursos das empresas, com o objetivo de maximizar resultados. Para que possamos atingir a finalidade da contabilidade (produção de informação contábil financeira útil para a tomada de decisão), é fundamental compreender como o patrimônio de uma entidade é afetado pela dinâmica patrimonial. Nesse sentido, pode-se dizer que o patrimônio de uma entidade tem seu valor aumentado ou prejudicado no desenvolvimento de suas atividades. Ou seja, a venda de produtos e mercadorias, ou a prestação de serviços, gera resultados (lucro ou prejuízo) que acabam por modificar o patrimônio. Para compreender essa dinâmica patrimonial, é necessário entender que o resultado de uma entidade em um determinado período de tempo, seja lucro ou prejuízo, é composto por receitas, custos, despesas e receitas, sendo o estudo desses elementos fundamental para medir e avaliar o desempenho de uma entidade na geração de benefícios econômicos e, consequentemente, para a gestão de seu patrimônio. 3. AVALIAÇÃO CONTÁBIL E FINANCEIRA A compreensão do conceito de receita e sua classificação se tornam cruciais para podermos estudar a composição dos resultados de uma entidade. Porém, assim como as receitas, existem outras atividades da empresa que geram benefícios econômicos: são os valores denominados de ganho. Sendo assim, antes de nos aprofundarmos de fato no conceito de receitas, iremos aprender o que são ganhos. Em sua constituição e formalização, uma empresa define qual é sua atividade principal. Por exemplo, uma loja que vende roupas tem como atividade principal o comércio de artigos de vestuário. Por ser sua atividade principal, na contabilidade ela é definida como atividade operacional. Agora imagine que essa mesma entidade que comercializa artigos de vestuário tenha decidido renovar sua loja e, para isso, vendeu os manequins antigos. Um erro LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 174 muito comum é classificar essa venda como receita, mas é preciso esclarecer que os benefícios econômicos oriundos de transações que não fazem parte da atividade operacional de uma empresa devem ser definidos como ganhos. Mas o que seria, então, uma receita? O Comitê de Pronunciamentos Contábeis (2011) define receita como sendo aumentos nos benefícios econômicos durante o período contábil sob a forma de entrada ou aumento de ativos ou diminuição de passivos, que resultam em aumentos do patrimônio líquido e que não sejam provenientes de aporte dos proprietários da entidade.Prevista no CPC 00 (Estrutura Conceitual Básica da Contabilidade Brasileira), a definição de receita é muito mais abrangente, pois contempla tanto os recursos advindos das atividades operacionais de uma empresa (a venda de artigos de vestuário em nosso exemplo) como os ganhos (a venda de manequins em nosso exemplo). As receitas, portanto, surgem das atividades usuais da entidade. Por exemplo, um escritório de contabilidade aufere receitas de honorários, enquanto uma empresa comercial aufere receitas com vendas de mercadorias. Esses exemplos usam a classificação de receitas, pois fornecer serviços contábeis (objeto social de um escritório contábil) são suas atividades usuais. Assim, como a comercialização de mercadorias é o objeto social de uma entidade comercial, o aumento de benefícios econômicos ocasionado por essas atividades é denominado de receita. Por outro lado, os ganhos, segundo o CPC (2011), representam outros itens que se enquadram na definição de receita e podem ou não surgir no curso das atividades usuais da entidade, representando aumentos nos benefícios econômicos. O próprio CPC 00 de 2011 traz como exemplo a venda de bens que estão no ativo não circulante. Por exemplo, quando um escritório contábil vende o prédio em que está localizado, ele obtém um ganho (HENDRICKSEN, 2015). Em qualquer entidade, o conhecimento das receitas é fundamental para determinar o resultado de uma empresa. Sem esse conhecimento, não é possível criar informação com valor preditivo e apontar, por exemplo, o ponto de equilíbrio da entidade, ou seja, o momento em que as receitas são suficientes para arcar com todos os custos e despesas. O CPC 47 faz menção à Obrigação de Desempenho, definindo que, para se ter o reconhecimento de uma receita, se faz necessária a transferência dos bens e serviços aos clientes, cumprindo com as obrigações assumidas. No entanto, essa “nova” definição de receita não é aplicável às entidades que seguem a ITG 1.000 (Interpretação Técnica LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 175 geral – Modelo Contábil Simplificado para Microempresas e empresas de Pequeno Porte) (HENDRIKSEN, 2015). Uma obrigação de desempenho refere-se à promessa feita pela entidade em entregar um bem ou serviço, ou parte de um bem ou serviço, ao comprador. Uma promessa constitui uma obrigação de desempenho se o bem ou serviço prometidos forem distintos. Em outras palavras, o CPC 47 define que uma receita deve ser reconhecida apenas quando a entidade cumprir com as obrigações referentes àquela receita. Por exemplo, uma empresa que fabrica móveis sob medida cumpre com suas obrigações de desempenho quando finalmente realiza a entrega e a montagem dos móveis na casa do cliente, pois essa era sua obrigação de desempenho principal de acordo com a essência comercial da transação com o seu cliente. Ressalta-se que um contrato com um cliente vai além do que podemos imaginar. Mesmo que não exista um papel (um documento jurídico formal), é possível que tenhamos um contrato. Na venda de uma mercadoria, por exemplo, há um contrato; na prestação de um serviço, há um contrato. Nessas situações, as atividades desenvolvidas por uma entidade, seja pela prestação de serviços ou pela comercialização de mercadorias, há a necessidade de se reconhecerem receitas. Essas mudanças na forma como as receitas são reconhecidas, advindas do CPC 47, trouxeram inúmeras alterações práticas para o registro contábil dos fatos contábeis. 4. CONTAS DE INVESTIMENTOS – RECEITAS E DESPESAS As receitas oriundas da atividade operacional podem ser divididas em receitas de prestação de serviços e receitas de comercialização de mercadorias. As receitas de prestação de serviços são os aumentos de benefícios econômicos, obtidos pela empresa que presta serviços aos seus clientes. Assim, as receitas de comercialização de mercadorias são obtidas quando a entidade realiza atividade de venda de produtos. A mensuração da produtividade, a partir do estudo de indicadores de desempenho, visa identificar, de forma clara e objetiva, como os processos, por meio das suas atividades e das competências dos profissionais, podem contribuir para o alcance dos objetivos estratégicos das organizações. As empresas precisam se empenhar na identificação e mensuração das suas competências essenciais e nas tecnologias necessárias para garantir seu posicionamento no mercado, de forma contínua. LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 176 Tomar decisão nem sempre é uma tarefa fácil. Em algumas civilizações, essa arte tem sido aprimorada através do tempo; em outras, encontra-se fortemente vinculada a crenças e experiências apreendidas em situações semelhantes ou com base na intuição ou ainda capricho do tomador de decisão. Ao tomar uma decisão, escolhemos correr mais, ou menos, risco. Sabemos que essa percepção de risco não é idêntica para todos os elaboradores de projetos e empreendedores. Em sua opinião, a percepção de risco varia de profissional para profissional? Um profissional da área contábil que opta por assumir mais riscos tem as mesmas chances de ser bem-sucedido do que alguém que opta por evitá-los? Defenda seu posicionamento, tendo por base os conceitos de estudo de mercado abordados na obra. Assim, definitivamente a percepção sobre o grau e a frequência do risco influencia na aceitação e consequente estratégia para administrar o risco, estando diretamente relacionada à capacidade individual de assumir riscos, a qual é definida a partir do histórico profissional e dos conhecimentos adquiridos previamente, além das recompensas ou prejuízos vinculados aos resultados das decisões gerenciais. Trabalhamos as contas que representam a movimentação operacional da organização empresarial, destacando as grandes modificações sofridas ao reconhecer e mensurar as contas de receitas com a adoção do CPC 47. Assim, podemos observar que as receitas são consideradas acréscimos ao patrimônio da entidade, advindo da venda de bens e/ou de serviços. As despesas, por sua vez, correspondem ao uso ou o consumo de bens e/ou serviços no processo de obtenção dessas receitas. Elas podem ser tanto diretas quanto indiretas, ou seja, elas podem estar relacionadas ou não com o objeto operacional da organização. Além disso, elas também podem ser classificadas em fixas ou variáveis, sendo que as despesas fixas independem do volume vendido, enquanto as variáveis dependem. Quanto aos custos, eles correspondem aos gastos que são depreendidos para a elaboração final do produto ou serviço oferecido. Esses custos também podem ser classificados como diretos ou indiretos, ou como fixos ou variáveis, e tais classificações devem observar o comportamento dos custos durante o processo produtivo ou de prestação de serviços. A expressão análise organizacional é utilizada em diversos contextos organizacionais para a compreensão de suas variáveis, independentemente da sua natureza, para exprimir conformação ou desvios em relação a um determinado contexto ou planejamento através de uma estratégia de tomada de decisão, para as atividades de investimentos: LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 177 • As Atividades de Investimento relacionam-se com o aumento e a diminuição dos ativos de longo prazo, os quais são usados pela empresa para produzir bens e serviços. • Incluem as concessões e os recebimentos de empréstimos, as aquisições e alienações de imobilizados, aquisições e vendas de instrumentos financeiros para outras entidades, todas as aplicações financeiras, inclusive as de curto prazo (excetuando-se as que gerem equivalentes de caixa). Muitas sociedades têm buscado associações com outras ao longo das últimas décadas. Tais mudanças têm como objetivo a melhoria dos resultados econômicos. As formas mais frequentesdo controle econômico”. A contabilidade é a linguagem dos negócios, pois é por meio desta que conseguimos saber como as empresas estão se desenvolvendo e como elas podem continuar competitivas no mercado. Se a contabilidade é a linguagem dos negócios e está ligada ao controle econômico, ela também tem objetivos, que de acordo com Castilho, Castilho e Castilho (2010), resume-se em fornecer elementos para os gestores das entidades otimizarem suas administrações e para os usuários externos maximizarem os investimentos e relacionamentos, onde os custos de produção e implacabilidade, se definem, como os custos possuem relação direta com a atividade fim, ou seja, quanto mais realiza essa atividade maior fica o custo. Ainda de acordo com os autores supracitados, para que a LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 20 empresa e os interessados nela saibam exatamente como ela está e quais os rumos possíveis. Para que isso seja alcançado é primordial que exista uma boa contabilidade. Desta forma, o presente capítulo terá como objetivo primordial estabelecer os conceitos e os principais elementos que compõem a contabilidade. 2.1 PATRIMÔNIO E SEUS COMPONENTES O patrimônio é objeto de estudo da contabilidade. “Patrimônio” é definido em direito civil como o conjunto de bens, direitos e obrigações economicamente apreciáveis, mas o que de fato é bem, direito e obrigação? Bem: é tudo aquilo que pode ser objeto de direito e está sujeito à utilização e à apropriação. Bens corpóreos ou tangíveis: têm existência física, podem ser tocados e vistos. • Dinheiro • Edificações. • Terrenos. • Veículos. • Móveis e utensílios de escritório. • Equipamentos de informática. • Máquinas e equipamentos industriais. • Estoque. Bens incorpóreos ou intangíveis: não existem fisicamente, embora não palpáveis ou visíveis podem ser traduzidos em moeda. • Programas de computador. • Marcas. • Patentes de fabricação. • Propriedade literária. • Propriedade científica. • Ponto comercial. Direitos: são valores a receber ou a recuperar nas transações com terceiros. • Duplicatas. • Cheques. • Operações com mercadorias. LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 21 • Impostos a recuperar. • Notas promissórias emitidas por terceiros. Obrigações: são contas a pagar ou a compensar nas transações com terceiros. • Compra a prazo de mercadorias e bens para uso. • Empréstimos e financiamentos bancários ainda não pagos. • Salários a pagar aos empregados. • Impostos e demais tributos devidos e não pagos. • Notas promissórias emitidas pela empresa. 2.1.1 Características qualitativas da informação contábil As demonstrações contábeis são elaboradas e publicadas para auxiliar os usuários em geral, já que cada tipo de usuário tem suas próprias finalidades. Por exemplo, o usuário credor utilizará as demonstrações contábeis para conceder créditos ou não àquela empresa, fornecedores utilizam as demonstrações contábeis para conceder maiores prazos e negociação e investidores para saber a situação da empresa e decidir se investem ou não nela, onde o patrimônio líquido se definem: • O patrimônio líquido representa o lucro da empresa, após dedução de todos os passivos, inclusive impostos. • O patrimônio líquido é o resultado da diferença entre o ativo e o passivo de uma organização. Portanto, as demonstrações contábeis são elaboradas de forma que possam atender às necessidades desses usuários sem que haja prejuízo no tocante à tomada de decisões. Com base nisso, as demonstrações contábeis atendem a características qualitativas que são de grande importância para o processo de elaboração das demonstrações e, consequentemente, auxiliam o tomador de decisão, pois o patrimônio líquido, o patrimônio da empresa é representado pelo conjunto dos bens, direitos e obrigações da empresa, os quais são calculados, segundo a equação patrimonial, e o resultado é chamado de patrimônio líquido.. De acordo com o CPC 00 (2011, s.p.): LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 22 As características qualitativas da informação contábil-financeira útil identificam os tipos de informação que muito provavelmente são reputadas como as mais úteis para investidores, credores por empréstimos e outros credores, existentes e em potencial, para tomada de decisões acerca da entidade que reporta com base na informação contida nos seus relatórios contábil financeiros (informação contábil-financeira). Ainda conforme o CPC 00, às características qualitativas da informação contábil- financeira útil devem ser aplicadas à informação contábil-financeira fornecida pelas demonstrações contábeis, assim como à informação contábil- financeira fornecida por outros meios. Se a informação contábil-financeira é para ser útil, ela precisa ser relevante e representar com fidedignidade o que se propõe a representar. A utilidade da informação contábil-financeira é melhorada se ela for comparável, verificável, tempestiva e compreensível (CPC 00, 2011). Características qualitativas fundamentais Relevância • Informação contábil-financeira relevante é aquela capaz de fazer diferença nas decisões que possam ser tomadas pelos usuários. A informação pode ser capaz de fazer diferença em uma decisão mesmo no caso de alguns usuários decidirem não a levar em consideração, ou já tiverem tomado ciência de sua existência por outras fontes. • A informação contábil-financeira é capaz de fazer diferença nas decisões se tiver valor preditivo, valor confirmatório ou ambos. Relevância • A informação contábil-financeira tem valor preditivo se puder ser utilizada como dado de entrada em processos empregados pelos usuários para predizer futuros resultados. A informação contábil-financeira não precisa ser uma predição ou uma projeção para que possua valor preditivo. A informação contábil-financeira com valor preditivo é empregada pelos usuários ao fazerem suas próprias predições. • A informação contábil-financeira tem valor confirmatório se retroalimentar – servir de feedback – avaliações prévias (confirmá-las ou alterá-las). • O valor preditivo e o valor confirmatório da informação contábil-financeira estão inter-relacionados. A informação que tem valor preditivo muitas vezes também tem valor confirmatório. Por exemplo, a informação sobre receita para o ano corrente, a qual pode ser utilizada como base para predizer receitas para anos futuros, também LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 23 pode ser comparada com predições de receita para o ano corrente que foram feitas nos anos anteriores. Os resultados dessas comparações podem auxiliar os usuários a corrigirem e a melhorarem os processos que foram utilizados para fazer tais predições. • Materialidade - A informação é material se a sua omissão ou sua divulgação distorcida (misstating) puder influenciar decisões que os usuários tomam com base na informação contábil-financeira acerca de entidade específica que reporta a informação. Em outras palavras, a materialidade é um aspecto de relevância específico da entidade baseado na natureza ou na magnitude, ou em ambos, dos itens para os quais a informação está relacionada no contexto do relatório contábil-financeiro de uma entidade em particular. Consequentemente, não se pode especificar um limite quantitativo uniforme para materialidade ou predeterminar o que seria julgado material para uma situação particular. Representação fidedigna • Os relatórios contábil-financeiros representam um fenômeno econômico em palavras e números. Para ser útil, a informação contábil-financeira não tem só que representar um fenômeno relevante, mas tem também que representar com fidedignidade o fenômeno que se propõe representar. Para ser representação perfeitamente fidedigna, a realidade retratada precisa terde reorganizações societárias são a fusão, a cisão e a incorporação, cada uma com características bem próprias, estudadas ao longo desta unidade. Veremos também os locais onde esses procedimentos devem ser realizados. Ademais, cite-se, desde já, que há outras modalidades de reorganização societária em torno de negócios: a criação de joint venture e a combinação de negócios. 6. INVESTIMENTOS EM COLIGADAS E CONTROLADAS O Pronunciamento Técnico 18, item 3, do CPC (2012a) demonstra que um investimento permanente, realizado pela aquisição do capital social de uma empresa, pode ser classificado como o relacionamento entre um investidor e uma investida em coligadas, controladas e controladas em conjunto. São classificados como investimentos em controlada quando a investidora tem o controle de uma entidade por possuir 50% das ações ordinárias (ALMEIDA, 2018). Nesse caso, a investidora é o mandatário da investida. Portanto, a empresa que adquiriu as ações passa a ser denominada controladora; enquanto a que vendeu, controlada. A Lei das Sociedades por Ações (S.A.), nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976, em seu artigo 243, parágrafo segundo, considera: (...) controlada a sociedade na qual a controladora, diretamente ou através de outras controladas, é titular de direitos de sócio que lhe assegurem, de modo permanente, preponderância nas deliberações sociais e o poder de eleger a maioria dos administradores (SCHMIDT; SANTOS, 2016). Almeida (2018) classifica o investimento em coligada quando o investidor tem influência significativa sobre a empresa em que investiu. Essa influência diz respeito ao poder de participar de diversas decisões: políticas, financeiras e operacionais, mas sem exercer o controle. LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 178 Em participação societária, as empresas envolvidas, o investidor e a investida realizam transações entre si nas quais ocorre um resultado, lucro ou prejuízo. Isso acontece com a venda de um ativo, como, por exemplo, máquinas e mercadorias em estoques, que não poderão ser consideradas na aplicação do método de equivalência patrimonial (ALMEIDA, 2018, p. 55). O item I do art. 248 da Lei nº 6404/76 estabelece que, na aplicação desse método no valor do patrimônio da coligada ou controlada, não há contabilização dos resultados não realizados que decorram “(...) de negócios com a companhia ou com outras sociedades coligadas à companhia, ou por ela controladas” (SCHMIDT; SANTOS, 2016). Existem dois métodos para avaliar os investimentos permanentes: o método de avaliação de equivalência patrimonial, que analisa investimentos em coligadas, controladas e controladas em conjunto; o método de equivalência patrimonial, que compara os valores das ações representadas no patrimônio líquido da investida, com a variação ocorrida, positiva ou negativamente, desse patrimônio líquido ao fim do exercício social da empresa; e o método de custo, utilizado para avaliar outros investimentos permanentes, comparando o valor de aquisição com o valor de mercado. Além disso, pudemos entender quais elementos estão presentes no valor de aquisição desses investimentos, como o ágio, ou goodwill, mais-valia e o deságio, considerado uma compra vantajosa. Vimos, ainda, como o patrimônio líquido de uma investida deve seguir formalidades para a sua apresentação. Por último, identificamos os resultados não operacionais, que são justificados quando há transações entre o investidor e sua investida, e o inverso também é verdadeiro. De modo geral, analisamos as formalidades legais e contábeis que compõem os métodos para avaliar investimentos permanentes em outras sociedades. 7. JOINT VENTURES Nas notas explicativas da sua Instrução 247/96, a CVM determina que a expressão joint venture significa a situação em que duas ou mais empresas investem em uma atividade econômica sujeita a um controle em conjunto. Essa situação ocorre por meio de um acordo contratual e de parcelas fragmentadas de participações. Joint venture pode ser definida como, na visão de Almeida (2018): Um negócio comercial ou marítimo, executado por diversas pessoas em conjunto; Uma sociedade com responsabilidade limitada que não é considerada limitada no aspecto legal quanto à responsabilidade dos sócios, mas quanto à sua finalidade e à sua durabilidade; LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 179 Uma associação formada por duas ou mais pessoas para executar um empreendimento com intuito do lucro; Nessa associação, são empenhados seus bens, dinheiro, conhecimento, habilidade e energia; Um acordo realizado entre duas ou mais pessoas que decidem empreender um determinado negócio visando à lucratividade, sem se tipificar como sociedade ou companhia. Os critérios contábeis apresentam uma escolha adicional para o registro contábil dos empreendimentos controlados de forma conjunta, que pode ser executado pelo investidor ou não. O método é denominado de consolidação proporcional. Ele pode ser aplicado pela empresa como opção ao método de equivalência patrimonial. A consolidação proporcional consiste nos critérios de registro contábil em que as participações do investidor nos ativos, passivos, despesas e receitas da empresa investida são adaptadas uma por uma com elementos semelhantes nas demonstrações contábeis do investidor, ou em linhas separadas por meio das demonstrações contábeis. A organização controlada em conjunto elabora suas atividades e transações como as demais empresas. À frente dos negócios , estão os administradores que vão conduzi-los com o objetivo de defender os interesses conjuntos dos empreendedores, que são considerados os controladores da organização. Dessa forma, os administradores operam de acordo com o que foi definido em conjunto com os demais investidores por meio da política empresarial aprovada pelo grande grupo. Uma organização que possui o controle compartilhado possivelmente é um tipo de empreendimento conjunto. Este é formado por meio da pessoa jurídica de uma sociedade por ações ou quotas. Contudo, há outros tipos de empreendimentos que não se originam de pessoa jurídica distinta. Considerando uma situação, a empresa que possui controle compartilhado preserva sua escrituração contábil e realiza a elaboração das suas demonstrações contábeis seguindo os modelos apresentados pelas demais organizações. Todos os recursos investidos pelos empreendedores e investidores nas entidades controladas em conjunto devem ser identificáveis nas demonstrações contábeis particulares como investimento feito em um modelo similar aos de outros tipos de participação já apresentados por outras empresas. LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 180 A contabilização de aplicações em empreendimentos controlados em conjunto é regulada pelas IFRS. As demais contabilizações relativas a outros investimentos são tratadas de forma separada. As aplicações realizadas em empreendimentos controlados em conjunto possuem diversas características em comum com os investimentos que são contabilizados pelo método de equivalência patrimonial. Neste, o investidor possui influência relevante sobre a empresa investida, contudo, não possui o controle absoluto da empresa. Dessa forma, a consolidação total frequentemente não deve ser efetuada. As empresas controladas em conjunto têm sido consideradas uma nova tendência mundial em se tratando de investimentos em empreendimentos conjuntos. Essa é considerada uma opção de concentrar o capital que for preciso para a ampliação e a manutenção das atividades econômicas, permitindo assim que as demonstrações de fluxo de caixa possam ser: • Atividades operacionaistrês atributos. Ela tem que ser completa, neutra e livre de erro. É claro, a perfeição é rara, se de fato alcançável. O objetivo é maximizar referidos atributos na extensão que seja possível. • O retrato da realidade econômica completo deve incluir toda a informação necessária para que o usuário compreenda o fenômeno sendo retratado, incluindo todas as descrições e explicações necessárias. Por exemplo, um retrato completo de um grupo de ativos incluiria, no mínimo, a descrição da natureza dos ativos que compõem o grupo, o retrato numérico de todos os ativos que compõem o grupo, e a descrição acerca do que o retrato numérico representa (por exemplo, custo histórico original, custo histórico ajustado ou valor justo). Para alguns itens, um retrato completo pode considerar ainda explicações de fatos significativos sobre a qualidade e a natureza desses itens, fatos e circunstâncias que podem afetar a qualidade e a natureza deles, e os processos utilizados para determinar os números retratados. • Um retrato neutro da realidade econômica é desprovido de viés na seleção ou na apresentação da informação contábil financeira. Um retrato neutro não deve ser distorcido com contornos que possa receber dando a ele maior ou menor peso, ênfase maior ou menor, ou qualquer outro tipo de manipulação que aumente a probabilidade LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 24 de a informação contábil-financeira ser recebida pelos seus usuários de modo favorável ou desfavorável. Informação neutra não significa informação sem propósito ou sem influência no comportamento dos usuários. A bem da verdade, informação contábil financeira relevante, por definição, é aquela capaz de fazer diferença nas decisões tomadas pelos usuários. Representação fidedigna • Representação fidedigna não significa exatidão em todos os aspectos. Um retrato da realidade econômica livre de erros significa que não há erros ou omissões no fenômeno retratado, e que o processo utilizado, para produzir a informação reportada, foi selecionado e foi aplicado livre de erros. Nesse sentido, um retrato da realidade econômica livre de erros não significa algo perfeitamente exato em todos os aspectos. Por exemplo, a estimativa de preço ou valor não observável não pode ser qualificada como sendo algo exato ou inexato. Entretanto, a representação dessa estimativa pode ser considerada fidedigna se o montante for descrito clara e precisamente como sendo uma estimativa, se a natureza e as limitações do processo forem devidamente reveladas, e nenhum erro tiver sido cometido na seleção e aplicação do processo apropriado para desenvolvimento da estimativa. • Representação fidedigna, por si só, não resulta necessariamente em informação útil. Por exemplo, a entidade que reporta a informação pode receber um item do imobilizado por meio de subvenção governamental. Obviamente, a entidade ao reportar que adquiriu um ativo sem custo retrataria com fidedignidade o custo desse ativo, porém essa informação provavelmente não seria muito útil. Outro exemplo mais sutil seria a estimativa do montante por meio do qual o valor contábil do ativo seria ajustado para refletir a perda por desvalorização no seu valor (impairment loss). Essa estimativa pode ser uma representação fidedigna se a entidade que reporta a informação tiver aplicado com propriedade o processo apropriado, tiver descrito com propriedade a estimativa e tiver revelado quaisquer incertezas que afetam significativamente a estimativa. Entretanto, se o nível de incerteza de referida estimativa for suficientemente alto, a estimativa não será particularmente útil. Em outras palavras, a relevância do ativo que está sendo representado com fidedignidade será questionável. Se não existir outra alternativa para retratar a realidade econômica que seja mais fidedigna, a estimativa nesse caso deve ser considerada a melhor informação disponível. Características qualitativas de melhoria LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 25 Comparabilidade • As decisões de usuários implicam escolhas entre alternativas, como vender ou manter um investimento, ou investir em uma entidade ou noutra. Consequentemente, a informação acerca da entidade que reporta informação será mais útil caso possa ser comparada com informação similar sobre outras entidades e com informação similar sobre a mesma entidade para outro período ou para outra data. • Comparabilidade é a característica qualitativa que permite que os usuários identifiquem e compreendam similaridades dos itens e diferenças entre eles. Diferentemente de outras características qualitativas, a comparabilidade não está relacionada com um único item. A comparação requer no mínimo dois itens. • Consistência, embora esteja relacionada com a comparabilidade, não significa o mesmo. Consistência refere-se ao uso dos mesmos métodos para os mesmos itens, tanto de um período para outro considerando a mesma entidade que reporta a informação quanto para um único período entre entidades. Comparabilidade é o objetivo; a consistência auxilia a alcançar esse objetivo. • Comparabilidade não significa uniformidade. Para que a informação seja comparável, coisas iguais precisam parecer iguais e coisas diferentes precisam parecer diferentes. A comparabilidade da informação contábil-financeira não é aprimorada ao se fazer com que coisas diferentes pareçam iguais ou ainda ao se fazer coisas iguais parecerem diferentes. • Algum grau de comparabilidade é possivelmente obtido por meio da satisfação das características qualitativas fundamentais, na redução de despesas, como as receitas estão vinculadas, em grande parte, à atividade principal da organização. A representação fidedigna de fenômeno econômico relevante deve possuir naturalmente algum grau de comparabilidade com a representação fidedigna de fenômeno econômico relevante similar de outra entidade que reporta a informação. • Muito embora um fenômeno econômico singular possa ser representado com fidedignidade de múltiplas formas, a discricionariedade na escolha de métodos contábeis alternativos para o mesmo fenômeno econômico diminui a comparabilidade, como exemplo temos o uso do SPED, que integra instituições da administração tributária e abrange as esferas federal, estadual e municipal e o meio pelo qual as empresas informam ao fisco suas movimentações relacionadas a impostos e documentos fiscais. LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 26 Verificabilidade • A verificabilidade ajuda a assegurar aos usuários que a informação representa fidedignamente o fenômeno econômico que se propõe representar. A verificabilidade significa que diferentes observadores, cônscios e independentes, podem chegar a um consenso, embora não cheguem necessariamente a um completo acordo quanto ao retrato de uma realidade econômica em particular ser uma representação fidedigna. Informação quantificável não necessita ser um único ponto estimado para ser verificável. Uma faixa de possíveis montantes com suas probabilidades respectivas pode também ser verificável. • A verificação pode ser direta ou indireta. Verificação direta significa verificar um montante ou outra representação por meio de observação direta, como por meio da contagem de caixa. Verificação indireta significa checar os dados de entrada do modelo, fórmula ou outra técnica e recalcular os resultados obtidos por meio da aplicação da mesma metodologia. Um exemplo é a verificação do valor contábil dos estoques por meio da checagem dos dados de entrada (quantidades e custos) e por meio do recálculo do saldo final dos estoques utilizando a mesma premissa adotada no fluxo do custo (por exemplo, utilizando o método PEPS). • Pode não ser possível verificar algumas explicações e alguma informação contábil- financeira sobre o futuro (forward-lookinginformation) até que o período futuro seja totalmente alcançado. Para ajudar os usuários a decidirem se desejam usar dita informação, é normalmente necessário divulgar as premissas subjacentes, os métodos de obtenção da informação e outros fatores e circunstâncias que suportam a informação. Tempestividade • Tempestividade significa ter informação disponível para tomadores de decisão a tempo de poder influenciá-los em suas decisões. Em geral, a informação mais antiga é a que tem menos utilidade. Contudo, certa informação pode ter o seu atributo tempestividade prolongado após o encerramento do período contábil, em decorrência de alguns usuários, por exemplo, necessitarem identificar e avaliar tendências. 2.2 MÉTODO DAS PARTIDAS DOBRADAS Na contabilidade, as operações que ocorrem na empresa (compras de mercadorias, vendas de mercadorias, aquisição de imobilizado, pagamentos de funcionários e demais) são registradas, e esse registro é feito por meio do “método das partidas LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 27 dobradas”. Cada vez que uma operação ocorre e é registrada deve- se ter um débito e um crédito correspondente de valor igual. De acordo com Sá (2004), a partida dobrada evoluiu na Itália em uma era de início dos chamados ‘Anos de Ouro’, defluentes de profundas modificações das estruturas do regime medieval, sob a égide de uma mescla de culturas. O processo de registros contábeis que se consagrou por uma “equação” ou igualdade entre o débito e o crédito de contas, conforme alega o emérito professor Federigo Melis, surgiu na Itália, acredita- se, entre os anos de 1250 e 1280 (SÁ, 2004). Embora o método das partidas dobradas tenha sido difundido desde o século XIV, as partidas dobradas são utilizadas na contabilidade até os de Compreensibilidade: • Classificar, caracterizar e apresentar a informação com clareza e concisão torna-a compreensível. • Certos fenômenos são inerentemente complexos e não podem ser facilmente compreendidos. A exclusão de informações sobre esses fenômenos dos relatórios contábil-financeiros pode tornar a informação constante em referidos relatórios mais facilmente compreendida. Contudo, referidos relatórios seriam considerados incompletos e potencialmente distorcidos (misleading). • Relatórios contábil-financeiros são elaborados para usuários que têm conhecimento razoável de negócios e de atividades econômicas e que revisem e analisem a informação diligentemente. Por vezes, mesmo os usuários bem informados e diligentes podem sentir a necessidade de procurar ajuda de consultor para compreensão da in- formação sobre um fenômeno econômico complexo. De acordo com Sá (2004), a primeira obra que se tem conhecimento sobre as partidas dobradas é ‘Aritmética, Geometria, Proporções e Proporcionalidade’, de 1494, cujo autor foi o Frei Luca Pacioli, então considerado o precursor das partidas dobradas. Conforme dito anteriormente, as partidas dobradas são o método utilizado para registrar as operações contábeis. Vejamos um exemplo: • A empresa Alfa comprou à vista um veículo para uso em suas atividades, o valor do automóvel foi de R$ 14.000,00. Portanto, conforme apontado anteriormente, deve-se ter igualdade entre o débito e o crédito. Na contabilidade, o registro da operação (fato contábil) de compra do veículo é feito da seguinte forma: D – VEÍCULOS R$ 14.000,00 (D = débito) C – CAIXA R$ 14.000,00 (C = crédito) LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 28 Veja que a operação é registrada com um débito e um crédito correspondente, uma vez que ao comprar um veículo, ele fará parte do patrimônio da empresa (um bem), e como o pagamento foi feito à vista, está saindo dinheiro do caixa da empresa para tal. Na contabilidade, temos as origens dos recursos e as aplicações dos recursos, ou seja, de onde são originados os recursos que a empresa tem para aplicar nela mesma.. É importante saber esses aspectos iniciais sobre registros de operações para que possamos continuar com o capítulo. ISTO ESTÁ NA REDE Link: https://www.youtube.com/watch?v=h8hNte6Cej8 A origem dos recursos são os valores de capital próprio, ou seja, o capital que o(s) sócio(s) empregou/empregaram na empresa e os recursos buscados em fontes externas, terceiros (tais como bancos). A aplicação dos recursos é onde esses recursos são empregados na empresa, na aquisição de bens, compra de estoque, imobilizado e o que é necessário para o funcionamento da empresa. ANOTE ISSO Dentre as atribuições da contabilidade, fazer relatórios e publicá-los é uma das mais importantes. Por meio das demonstrações contábeis os gestores e usuários conseguem saber de forma consistente e real a situação econômico-financeira da empresa. É por meio das demonstrações contábeis que os gestores e demais usuários as usam para tomada de decisão, tais como os gestores as utilizam para entender a saúde financeira da empresa e dessa forma conduzir sua gestão para decisões que mantenham suas atividades em prol do desenvolvimento da empresa, onde o risco financeiro, mesmo que se reduzam as despesas, elas não vão desaparecer, pois são essenciais para a manutenção da atividade empresarial. Já investidores, fornecedores, credores e demais usuários utilizarão as demonstrações de acordo com suas necessidades, seja para investir ou não na empresa, conceder linhas de crédito ou conceder maiores prazos para pagamento das obrigações. O objetivo da contabilidade é controlar o patrimônio das entidades, estudando sua estrutura e suas variações. O resultado (lucro ou prejuízo de uma entidade) é função do desempenho individual de cada atividade executada no dia a dia. Comprar, vender, transportar etc. consomem recursos, portanto, a contabilidade deve sempre interagir com as demais áreas/funções da organização, a fim de registrar, controlar e informar sobre as transações que são realizadas pela entidade. https://www.youtube.com/watch?v=h8hNte6Cej8 LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 29 CAPÍTULO 03 NORMAS INTERNACIONAIS 1.0 INTRODUÇÃO Olá, estudante, estudaremos, neste momento, a evolução da contabilidade no Brasil, começando pelos períodos da colonização e imperial brasileiros até os dias atuais. A contabilidade no Brasil evoluiu significativamente nas últimas décadas, assim como em outros países do mundo, trazendo expressivas contribuições para as empresas que atuam no mercado financeiro nacional e internacional. O processo de convergência para as normas internacionais de contabilidade é uma das principais condições para que os países continuem competitivos no mercado financeiro global. O Brasil, apesar das dificuldades de adaptação, comum aos países de filosofia Code Law, também adotou formalmente as normas internacionais de contabilidade, com a Lei n. 11.638/2007. 2.0 Convergência das Normas Estudaremos, ainda, as principais alterações trazidas pela Lei n. 11.638/07 e algumas recentes mudanças, como a criação do CPC – Comitê de Pronunciamentos Contábeis, e como elas impactaram na forma de se pensar contabilidade no Brasil. Além disso, a adoção das normas internacionais provocou uma série de mudanças em relação às demonstrações contábeis, inclusive criando novos grupos de contas e eliminando outros. Veremos que os escândalos financeiros que abalaram o mercado no início do século XXI contribuíram para impulsionar a adesão dos países ao padrão IFRS. No Brasil, a grande novidade é a primazia da essência sobre a forma. Como definem Martins, Martins, Martins (2007), essa foi a bandeira mor: determinar que na hora da aplicação de suas normas, se alguma delas, em situação que se acredita seja rara, produzir qualquer deformação em qualquer informação contábil, ela não poderá ser usada e terá que ser substituída por outra que retrate melhor o que precisa ser contabilizado.Caso contrário, não poderá a empresa dizer que está seguindo as normas internacionais. Ou seja, a substância econômica é mais relevante do que as regras propriamente ditas. LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 30 Enfim, compartilhando ainda a ideia de Martins, Martins, Martins (2007), o Brasil caminha rumo ao processo de convergência às normas internacionais de contabilidade. Porém, seguindo um caminho mais ousado que muitos países avançados, fazendo com que nossas demonstrações contábeis individuais e primárias já sejam assim elaboradas conforme essas regras, gerando menores custos e riscos. Com esse processo, devemos demorar um pouco mais do que a maioria, mas, com certeza, com um final provavelmente mais feliz. 3.0 Evolução da Contabilidade no Brasil Já pudemos conhecer um pouco da evolução da contabilidade ao longo dos tempos. Portanto, apenas para relembrar, vimos que o desenvolvimento da contabilidade acompanha a evolução da humanidade, conforme nos descreve Sá (1997 apud PELEIA; BACCI, 2004, p. 147): “A Contabilidade nasceu com a civilização e jamais deixará de existir em decorrência dela; talvez, por isso, seus progressos quase sempre tenham coincidido com aqueles que caracterizam os da própria evolução do ser humano”. Ainda, corroborando com essa ideia, temos: Provas do desenvolvimento da Contabilidade associado à evolução da sociedade são as primeiras preocupações com o ensino comercial, o surgimento e a atuação dos pensadores contábeis, os esforços e a necessidade de padronização (cuja consequência natural é formulação de regras e a padronização das demonstrações contábeis), a criação dos órgãos de classe e os eventos realizados por estes organismos (PELEIA; BACCI, 2004, p. 41). No Brasil, temos registros de uma contabilidade muito rudimentar encontrada nas pinturas rupestres, descobertas nas cavernas de diversas regiões, conforme relata Sá (2008 apud SILVA; ASSIS, 2015, p. 36): “Os primitivos habitantes do Brasil deixaram vasta comprovação de sua presença através de incisões e pinturas em lápides e cavernas”. Ainda segundo Silva e Assis (2015), tais inscrições e pinturas se acham conservadas em várias partes do Brasil. Porém seria preciso estudos arqueológicos apropriados para revelar mais sobre evidências de registros contábeis em período pré-histórico no Brasil. Com isso, concluímos que a contabilidade se desenvolveu de maneira semelhante em todas as partes do mundo. Em seguida, com as grandes expedições marítimas, era comum haver uma pessoa responsável pelos registros e controle de tudo que LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 31 era necessário para o sucesso dessas viagens. De certa forma, essa pessoa era um contabilista. Na expedição de Cabral, que levou ao descobrimento do Brasil, não foi diferente, podemos dizer que Pero Vaz de Caminha foi o primeiro contador a pisar em terras brasileiras. No Brasil, esse desenvolvimento surge mais significativamente com a vinda da família real de Portugal. Faremos um pequeno resumo da evolução da contabilidade no Brasil Imperial, que teve três governantes, sendo eles D. Joao VI, D. Pedro I e D. Pedro II. Em cada governo, as decisões políticas tiveram reflexos significativos no campo contábil. Acompanhe, no quadro abaixo, as principais características e influências de cada império. Em 1860 foi promulgada a Lei n. 1083, determinando que as empresas deveriam publicar seus balanços e demonstrações contábeis. Conforme Ano GOVERNO IMPERIAL DO BRASIL Governo de D. João VI (1808 – 1821): • 1808: Criação do Banco do Brasil, em 1808, e ordenada sua liquidação em 1829. • 1809: Cria-se um decreto determinando que as escriturações contábeis só pudessem ser feitas por quem frequentasse a escola. Os cursos eram chamados de escola de comércio. • 1800 a 1860: Época de grandes exigências em conhecimentos contábeis, na apuração dos custos e lucros pelos empresários, bem como na apuração dos tributos por parte do governo. Governo de D. Pedro I (1821 – 1831) • 1800 a 1860: Continuação do ciclo do ouro e metais preciosos. • 1822: Surgimento da dívida externa. O Brasil se viu obrigado a fazer empréstimo na Inglaterra para pagar a Indenização exigida por Portugal ao Brasil por declarar- se independente. • 1830: Criação de Decreto exigindo que as escriturações contábeis só poderiam ser feitas usando o método das partidas dobradas. Governo de D. Pedro II (1831 – 1889) • 1831: D. Pedro I é obrigado a voltar a Portugal para assumir o trono, depois da morte de D. João VI. Quem assume o trono no Brasil é seu filho D. Pedro II. • 1836: Grande avanço na contabilidade por influência dos franceses que aqui viviam. Foram criados grupos de contas Contábeis, aprimorando o controle das empresas Europeias instaladas no Brasil. LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 32 • 1837: Primeira obra contábil escrita por um brasileiro, Estevão Rafael de Carvalho, “A Metafísica da Contabilidade Comercial”, teve grande repercussão, pois objetivava apresentar a contabilidade como ciência. • 1850: Promulgação do código comercial, que estabeleceu a obrigatoriedade do Balanço e a elaboração do livro Diário (por influência francesa), serviços que exigiam conhecimentos específicos de escriturações. • 1851: Recriação do Banco do Brasil. • 1860: Decadência do ciclo do ouro e metais preciosos. Sebastião Ferreira Soares, escritor e defensor da Contabilidade como uma ciência exata e de informação. Em 1852, publicou a primeira obra de contabilidade pública no Brasil, “Tratado de Escrituração Mercantil por Partidas Dobradas Aplicado às Finanças do Brasil”. Carlos de Carvalho, autor da obra “Estudos de Contabilidade”, composta de quatro volumes, cuja segunda edição data de 1915, foi um dos precursores do estudo da Contabilidade e divulgador de seus aspectos práticos e científicos. “Estudos de Contabilidade” procurava demonstrar os precursores do estudo da Contabilidade e divulgador de seus aspectos práticos e científicos. “Estudos de Contabilidade” procurava demonstrar os problemas relativos à escrituração contábil e da implantação do sistema de partidas dobradas. Frederico Hermann Jr, tendência patrimonialista, divulgava o pensamento econômico- contábil. Defendeu o patrimônio como objeto de estudo da Contabilidade e propôs sua inclusão no quadro geral das Ciências. Foi professor, membro fundador do Sindicato dos Contabilistas de São Paulo, autor de diversas obras, atuou em grandes empresas de sua época e fundou uma empresa de serviços contábeis nas áreas de Contabilidade, Auditoria e Organização. Francisco D’Auria, autor de várias obras, foi professor, escritor, membro fundador do Sindicato dos Contabilistas de São Paulo, serviu aos governos estadual e federal, participou da criação da FEA/USP - Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo. Defendeu filosoficamente a Contabilidade como Ciências Pura, e possuía tendências patrimonialistas, como por exemplo temos as despesas antecipadas que se caracterizam por: • Até que o fato gerador da despesa se concretize, esta deve ser considerada direitos a realizar. LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 33 • Uma empresa que dispõe da assinatura de um jornal impresso (diário), pelo qual realiza o pagamento mensalmente, deve alocar esse valor em despesa antecipada. • Ao contrário dos seguros pessoais, realizados por pessoa física, os seguros empresariais, ou associados a algum CNPJ, não devem ser entendidos como despesas antecipadas. Peleia e Bacci (2004), em 1870, o Decreto Imperial de n. 4.475 reconheceu oficialmente a Associação dos Guarda-Livros da Corte, tornando o guarda-livros uma das primeiras profissões liberais regulamentadas no Brasil. Em1890, a Escola Politécnica do Rio de Janeiro passa a oferecer a disciplina “Direito Administrativo e Contabilidade”, relacionada à escrituração mercantil, associando, pela primeira vez no Brasil, a Contabilidade ao Direito. Caro (a) acadêmico (a), não podemos deixar de mencionar que a contabilidade no Brasil, assim como em outros países, passou por grandes transformações ao logo dos anos, exigindo esforços e grandes lutas por parte de estudiosos e seus defensores. Dentre eles, podemos citar alguns nomes que contribuíram para o reconhecimento da profissão contábil no Brasil e também sua regulamentação. Quadro 8 - Personalidades que Influenciaram a Contabilidade no Brasil Fonte: Decreto Imperial de n. 4.475 Reconheceu oficialmente a Associação dos Guarda- Livros da Corte, tornando o guarda-livros uma das primeiras profissões liberais regulamentadas no Brasil, onde a informação é contábil se destaca por: • A função da contabilidade é produzir informações confiáveis para o controle do patrimônio e avaliação do desempenho empresarial. Assim, para evitar que os problemas se tornem conhecidos posteriormente à divulgação do exercício, • A função da contabilidade é a de verificar o cumprimento das obrigações, dos programas e da veracidade das informações geradas pela própria contabilidade, prevenindo danos ou prejuízos ao patrimônio da entidade. Por isso, o contador já conta com a competência necessária para atuar como um auditor. Veja que além desses importantes nomes na contabilidade brasileira, temos, ainda no século 20, o Senador João Lyra muito contribuiu para o reconhecimento da profissão contábil, na época conhecida como guarda-livros, e mais tarde veio a ser reconhecido como o patrono da classe contábil. Conforme mencionam Peleia e Bacci (2004), o LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 34 Senador João Lyra Tavares nasceu em 23 de novembro de 1871 e faleceu em 1929, cujo “curriculum vitae” foi publicado no Boletim do CRC-SP, n. 116, em 1997, na página 20: Foi guarda-livros e chefe de escritório da firma em que trabalhava. Como comerciante, teve uma atuação destacada em Pernambuco. Fundou em seu Estado uma Associação de Guarda-livros e foi membro da Associação Comercial de Recife. Atuou na política, foi historiador e economista, autor de obras didáticas e estudioso de geografia. Em 1914, a convite do então Ministro Rivadavia Corrêa, esteve pela primeira vez na cidade do Rio de Janeiro, Capital da República, onde tomou parte da comissão escolhida para estudar a reorganização da contabilidade do Tesouro nacional. No ano seguinte, João Lyra Tavares foi eleito Senador pelo Rio Grande do Norte, cargo que ocupou até o fim de sua vida. No Senado foi membro eminente da Comissão de Finanças e, sempre ressaltou os benefícios que a sociedade brasileira teria com o reconhecimento de uma classe de contadores públicos (PELEIA; BACCI, 2004, p. 46). Ainda, segundo afirmam os autores Peleia e Bacci (2004), Lyra foi convidado para assumir a Presidência do Conselho Perpétuo de Contadores, e homenageado em cerimônia realizada no Hotel Terminus, em São Paulo, em 25 de abril de 1926, como prova do reconhecimento da classe contábil paulista ao seu trabalho junto ao Senado em prol da profissão contábil. Em certo momento de seu discurso, afirmou: trabalhemos, pois, bem unidos, tão convencidos de nosso triunfo, que desde já consideramos 25 de abril o dia dos Contabilistas Brasileiros. Em 27 de maio de 1946 é promulgado o Decreto-lei n. 9295/46, criando o CFC – Conselho Federal de Contabilidade, e os CRCs – Conselhos Regionais de Contabilidade. Estes órgãos, operando sob a coordenação do CFC, atuam na fiscalização do exercício da profissão contábil, colaboram na definição de normas e procedimentos contábeis, por meio da promulgação das Normas Brasileiras de Contabilidade, funcionam como tribunais de ética e definem, regulamentam e baixam normas e padrões de interesse da profissão contábil, além de definirem e efetuarem o recolhimento das taxas relativas ao registro e exercício profissional. Atualmente, o CFC possui estrutura, organização e funcionamento regulamentados pela Resolução CFC n. 1.370, de 8 de dezembro de 2011, que LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 35 Em 27 de maio de 1946 é promulgado o Decreto-lei n. 9295/46, criando o CFC – Conselho Federal de Contabilidade, e os CRCs – Conselhos Regionais de Contabilidade. Contabilidade Internacional aprovou o Regulamento Geral dos Conselhos de Contabilidade. O CFC é integrado por um representante de cada Estado e mais o Distrito Federal, no total de 27 conselheiros efetivos e igual número de suplentes, e tem, dentre outras finalidades, nos termos da legislação em vigor, principalmente, a de orientar, normatizar e fiscalizar o exercício da profissão contábil, por intermédio dos Conselhos Regionais de Contabilidade, cada um em sua base jurisdicional, nos Estados e no Distrito Federal; decidir, em última instância, os recursos de penalidade imposta pelos Conselhos Regionais, além de regular acerca dos princípios contábeis, do cadastro de qualificação técnica e dos programas de educação continuada, bem como editar Normas Brasileiras de Contabilidade de natureza técnica e profissional, onde microempreendedor individual (MEI), microempresa (ME), empresa de pequeno porte (EPP) e organizações não-governamentais (ONG). (CFC, 2016). Podemos, então, dizer que os CRCs têm, como principal função, fiscalizar o exercício da profissão contábil, ou seja, é o CRC que atua diretamente com o profissional de contabilidade, no sentido de orientar e fiscalizar se este profissional está agindo de acordo com a ética e normas contábeis, além de expedir e registrar as carteiras profissionais. Os CRCs funcionam como uma primeira instância, subordinados ao CFC. O Conselho Federal de Contabilidade, por sua vez, é o órgão maior de regulamentação da profissão contábil, assim como lhe compete editar e publicar as Normas Brasileiras de Contabilidade. O CFC é, ainda, responsável por decidir em última instância os recursos de penalidades impostas pelos Conselhos Regionais de Contabilidade. Podemos ver que a contabilidade no Brasil avançou rapidamente e se desenvolveu à mesma proporção em que cresceu o próprio país. Os colonizadores, vindos de diversas nações, trouxeram também novas técnicas nas mais diversas áreas, inclusive, a necessidade de abertura dos portos para receber comerciantes de outros países, para suprir as necessidades que aqui ainda poderiam ser escassas, onde é possível, percebermos que os conceitos iniciais se baseiam para que a conta Caixa é um bem do Ativo e representa o dinheiro que a empresa tem para girar o negócio naquele momento, ou seja, para fazer as operações diárias. LEGISLAÇÃO CONTÁBIL - CPC E LEI DAS S/A PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 36 O Contas a Receber é um direito do Ativo, pois como o nome supõe, a empresa tem o direito de receber aquele valor de terceiros, os quais podem ser clientes ou outras empresas. Os Empréstimos representam uma Obrigação – Passivo, pois representam uma obrigação que a empresa tem com terceiros (financiadoras). Os adiantamentos a fornecedores se caracterizam com o pagamento antecipado do valor (encomenda) o qual só será consumado com o pagamento restante e a emissão da nota fiscal. Por isso, a empresa adquire um direito em relação ao fornecedor. Veja que, como aconteceu em outros países, o avanço da globalização traz consigo a necessidade de novos conceitos em relação à contabilidade. O Brasil também acompanha essa realidade, exigindo que sejam criados órgãos responsáveis pelo estudo de novas técnicas contábeis, e, principalmente, exigindo que os profissionais estejam cada vez mais preparados para acompanhar toda essa evolução. Veremos, adiante, que a evolução do mercado