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MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA Prof. André de Faria Thomáz MACROECONOMIA Marília/SP 2022 “A Faculdade Católica Paulista tem por missão exercer uma ação integrada de suas atividades educacionais, visando à geração, sistematização e disseminação do conhecimento, para formar profissionais empreendedores que promovam a transformação e o desenvolvimento social, econômico e cultural da comunidade em que está inserida. Missão da Faculdade Católica Paulista Av. Cristo Rei, 305 - Banzato, CEP 17515-200 Marília - São Paulo. www.uca.edu.br Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem autorização. Todos os gráficos, tabelas e elementos são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência, sendo de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos. Diretor Geral | Valdir Carrenho Junior MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 5 SUMÁRIO CAPÍTULO 01 CAPÍTULO 02 CAPÍTULO 03 CAPÍTULO 04 CAPÍTULO 05 CAPÍTULO 06 CAPÍTULO 07 CAPÍTULO 08 CAPÍTULO 09 CAPÍTULO 10 CAPÍTULO 11 CAPÍTULO 12 CAPÍTULO 13 CAPÍTULO 14 CAPÍTULO 15 07 14 24 32 40 48 56 70 78 88 97 106 116 125 134 INTRODUÇÃO À MACROECONOMIA FLUTUAÇÕES ECONÔMICAS AGENTES ECONÔMICOS ATIVIDADES ECONÔMICAS FLUTUAÇÕES ECONÔMICAS TEORIAS ECONÔMICAS CONSTITUIÇÃO ECONÔMICA NO BRASIL DESENVOLVIMENTO DAS ATIVIDADES ECONÔMICAS FLUXO CIRCULAR DA ECONOMIA MODELO DE ECONÔMIA SIMPLES MODELO CAPITALISTA PAPEL DA MOEDA DESCRIÇÃO DA MOEDA PÓLITICAS MACROECONOMICAS POLÍTICAS OU ECONOMIAS MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 6 INTRODUÇÃO Olá Estudante, você sabia que a estrutura macroeconômica está dividida em campos de estudo que têm como objetivo principal buscar a estabilidade da economia de determinado cenário. Em busca dessa estabilidade, existem os instrumentos macroeconômicos na forma de políticas utilizadas pelos governos como, por exemplo, as políticas monetária, cambial, fiscal e de renda. Você sabia que a macroeconomia se preocupa com o reflexo das movimentações dos agentes fornecedores e consumidores na estrutura econômica de um determinado sistema econômico? Neste capítulo, você aprenderá sobre a macroeconomia, analisando as movimentações de agentes fornecedores e consumidores e considerando diversos fatores econômicos. Tais análises consideram diferentes cenários, que podem ser definidos em termos de regiões, municípios, estados e países. O sistema econômico pode ser analisado sob aspectos distintos, dando forma aos enfoques da ciência econômica. Os termos macroeconomia e microeconomia surgiram para dar orientação ao estudo das particularidades existentes na economia e no sistema econômico. Sendo assim, segmentando os estudos da economia, podemos entender a microeconomia como um ramo de conhecimento da ciência econômica que visa a entender ou estudar os problemas de alocação de recursos econômicos, ou seja, analisar o comportamento individual dos consumidores e distribuidores. Podemos entender a microeconomia, a partir de perspectivas individuais e particulares, como o estudo dos movimentos de empresas e consumidores. Os consumidores, à medida que aumentam o consumo, maximizam os lucros das empresas fornecedoras; da mesma forma, quando diminuem o consumo, reduzem os lucros das empresas. Forma-se, assim, uma relação de consumo que estabelece os preços relativos aos produtos ou serviços e, ao mesmo tempo, em função da limitação da renda dos consumidores, mantém um equilíbrio competitivo nesse cenário de renda e consumo. Em suma, a microeconomia, como ramo de estudo da ciência econômica, estuda o mercado no que diz respeito às relações de consumo, analisando a atuação dos agentes, consumidores e fornecedores a partir de perspectivas individuais. A macroeconomia, por outro lado, estuda o relacionamento entre os agentes de um determinado sistema econômico, ou seja, analisa as movimentações dos agentes fornecedores e consumidores em um determinado cenário, que pode ser definido em termos de regiões, países, estados ou municípios. MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 7 CAPÍTULO 01 INTRODUÇÃO À MACROECONOMIA Introdução Olá Estudante durante esta aula iremos apresentar informações sobre a origem e a evolução da Macroeconomia, bem como seus principais desafios enquanto ciência econômica, admitindo sua necessidade a fim de buscar a adoção de políticas que visem o equilíbrio econômico e social. Para isso, serão trabalhados os principais problemas macroeconômicos, como recessão, desemprego da força de trabalho e inflação, com a utilização de seus conceitos e a análise de suas evoluções. Nessa perspectiva, existem políticas macroeconômicas de curto e longo prazo. As políticas de curto prazo estão relacionadas a conjunturas e/ou ciclos econômicos, isto é, a flutuações do emprego, desemprego, inflação e deflação. Por outro lado, as políticas de longo prazo são voltadas ao crescimento econômico, ou seja: nível de vida, desigualdades, distribuição de renda e riqueza etc. Diante desse cenário, surge o seguinte questionamento: qual é a diferença entre a Macroeconomia de curto e longo prazo? 1.1. MACROECONOMIA: ORIGEM E EVOLUÇÃO Os estudos iniciam-se, agora, a partir da origem e evolução da Macroeconomia. Para isso, será abordado o seu nascimento, bem como sua evolução enquanto teoria econômica. Assim, serão compreendidos os principais fatores que originaram os estudos sobre o tema, como a gênese da história da Macroeconomia e o contexto de seu surgimento dentro de um fato marcante da história econômica mundial, mudando, assim, a percepção dos agentes econômicos e os governos em relação ao funcionamento das economias de mercado. MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 8 1.1.1 O NASCIMENTO DA MACROECONOMIA A Macroeconomia surgiu em 1933 e foi introduzida pelo economista norueguês Ragnar Frisch (1895-1973), também criador da Econometria e ganhador do Prêmio Nobel em Ciências, no ano de 1969. O marco do surgimento da Macroeconomia ocorreu a partir da publicação, em 1936, da obra A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, de autoria do economista inglês John Maynard Keynes (1883-1946) (PASSOS; NOGAMI, 2016). Figura 01: Importância da Economia Fonte: https://pixabay.com/pt/vectors/contabilidade-finan%c3%a7a-o-neg%c3%b3cio-6063321/ Cabe salientar que o contexto do surgimento da Macroeconomia é o meio da maior crise mundial do capitalismo, conhecida como a grande depressão, que se iniciou no ano 1929 e perdurou até 1941. Nesse cenário, os economistas confiavam que as economias de mercado tinham a capacidade de autorregular-se, por meio de uma mão invisível. Acreditava-se que a oferta cria sua própria demanda, isto é, tudo que era produzido era vendido (Lei de Say), e que os preços e salários eram capazes de se ajustarem no mercado, garantindo o equilíbrio econômico e o pleno emprego. Entretanto, em 1929, o mercado não foi capaz de se autorregular, pois havia um excesso de oferta e um desemprego alarmante. Nesse contexto, surge o pensamento Keynesiano, destacando que, às vezes, a mão invisível falha e, quando isso acontece, em um cenário de desemprego, falta de recursos, os governos podem intervir, por meio de políticas fiscais e monetárias, a fim de melhorar os resultados do mercado. https://pixabay.com/pt/vectors/contabilidade-finan%c3%a7a-o-neg%c3%b3cio-6063321/ MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 9 Para que se entenda como Keynes foi importante para a evolução da teoria macroeconômica, serão apresentados os números assustadores que levaram a grandes discussões sobre o porquê de a mão invisível não funcionar. Conhecida como o maior choque da economia moderna, a grande depressão provocou queda na produçãoindustrial, entre 1930 e 1932, de 50% nos Estados Unidos, de aproximadamente 30% na França, de quase 10% na Inglaterra e de cerca de 40% na Alemanha (SAMPAIO, 2016). Ademais, a deflação, nunca vista antes, atingiu as economias industrializadas, com preços caindo mais de 30% nos Estados Unidos e na Alemanha, mais de 40% na França e quase 25% no Reino Unido. Isso tudo sem falar no desemprego, que alcançou patamares superiores a 24% nos Estados Unidos e Europa (SAMPAIO, 2016). Nesse panorama, a principal contribuição de Keynes foi a fantástica forma de olhar para a Macroeconomia e para a política macroeconômica. Antes de Keynes, os economistas e as autoridades econômicas aceitavam os altos e baixos dos ciclos econômicos como algo inevitável. Os altos e baixos na economia são conhecidos como ciclos econômicos. Nesse sentido, como é possível entender a política keynesiana em relação à temporalidade? Todavia, com sua obra, Keynes deu um enorme salto intelectual ao apresentar dois argumentos: “é possível a persistência de desemprego alto e de capacidade subutilizada nas economias de mercado; e as políticas fiscais e monetárias do governo podem influenciar a produção e, assim, reduzir o desemprego e encurtar as recessões econômicas” (SAMUELSON; NORDHAUS, 2012, p. 328). Houve impacto das ideias de Keynes, ao serem apresentadas pela primeira vez em um cenário de plena depressão. Notadamente, em um primeiro momento, essas ideias ori- ginaram muita controvérsia e discussão. Entretanto, após “a Segunda Guerra Mundial, a economia keynesiana passou a dominar a Macroeconomia e a política governamental” (SAMUELSON; NORDHAUS, 2012, p. 328). Desde aquela época, “novos desenvolvimentos incorporando condicionantes da oferta, expectativas e visões alternativas sobre a dinâmica dos preços e dos salários cor- roem o anterior consenso keynesiano” (SAMUELSON; NORDHAUS, 2012, p. 328). Apesar de um pequeno número de economistas da contemporaneidade acreditar que a ação do governo possa eliminar os ciclos econômicos (como a economia de Keynes), “nem a ciên- cia econômica nem a política econômica foram as mesmas desde a grande descoberta de Keynes” (SAMPAIO, 2016, p. 328). MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 10 1.1.2 EVOLUÇÃO DA TEORIA ECONÔMICA Antes dessa depressão, os economistas clássicos dominavam o pensamento econômico, dando ênfase à autorregula cão do mercado, isto é, sem a necessidade de interfência do governo, as economias conseguiam utilizar, de forma eficiente, os recursos e promover o pleno emprego (PASSOS; NOGAMI, 2016). Assim, os economistas clássicos acreditavam na plena flexibilidade de preços e salários, que sempre iriam ajustar-se ao mercado, atestando o equilíbrio no mercado de trabalho e o pleno emprego (PASSOS; NOGAMI, 2016). Ainda, os clássicos admitiam, que a demanda ou procura agregada de bens e serviços, constituída por despesas com bens de consumos e gastos em investimentos, não era um fator decisivo do nível de produto. Figura 02: Controle Econômico Fonte: https://pixabay.com/pt/vectors/apresenta%c3%a7%c3%a3o-estude-professora-4158205/ Não obstante, segundo a Lei de Say, de fato, se as economias se comportassem de acordo com esses pressupostos, os níveis de produto e emprego já estariam determinados e a competição ajudaria a manter ou direcionar a economia para o pleno emprego. Por exemplo, se a quantidade ofertada superasse a demandada, a competição forçaria os preços para baixo, até garantir que todos os bens fossem comprados pelos consumidores. Nesse sentido, por algum motivo, se os trabalhadores estivessem desempregados, eles iriam competir por trabalho, oferecendo-se para a função por um salário mais baixo. Além disso, Keynes tratou da rigidez salarial, chamando a atenção dos sindicatos. A rigidez salarial levaria ao desemprego involuntário, ou seja, quando os trabalhadores https://pixabay.com/pt/vectors/apresenta%c3%a7%c3%a3o-estude-professora-4158205/ MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 11 procuram empregos, e não encontram. Nessa perspectiva, a economia operaria abaixo do pleno emprego. Keynes enfatiza, ainda, que os níveis de produto e emprego são determinados pela demanda agregada. Diferentemente, os economistas clássicos enfatizavam que a oferta cria sua própria demanda. Para Keynes, a demanda agregada é constituída pela demanda dos consumidores, das firmas, do governo e das exportações líquidas. De fato, para Keynes, o valor do produto total é decorrente do valor total da renda e do nível de emprego, que são determinados pela demanda agregada. Aqui, Keynes refuta a Lei de Say, pois, para ele, a crise ocorre pela insuficiência de demanda. Se não há for- ças que promovam o pleno emprego de forma automática, é necessária a intervenção do governo, a fim de melhorar os resultados do mercado. A intervenção do governo, para Keynes, seria por meio de política fiscal e monetária expansionista. Esse argumento leva ao fim o não intervencionismo da economia na Era Clássica, que se iniciou em 1776 com Adam Smith e a publicação de seu trabalho A Riqueza das Nações. Assim, o discurso de que o governo poderia intervir na economia para prevenir ou enfrentar as recessões econômicas foi tão bem aceito que tal conjunto de ideias foi denominado Revolução Keynesiana, sendo adotado por inúmeros países. Nesse sentido, passou-se a acreditar que o combate a recessões poderia ser realizado por meio de políticas fiscais e monetárias. Com isso, a maioria das economias cresceu rapidamente, sem grandes problemas macroeconômicos, como recessão e inflação, até os anos de 1970 (PASSOS; NOGAMI, 2016). De fato, a partir de 1970, muitos países passaram por um fenômeno chamado estagflação, isto é, uma combinação de estagnação econômica (crescimento baixo ou negativo e elevado desemprego) com alta inflação. Nesse momento, houve uma contrarrevolução, na qual surgiram os monetaristas (PASSOS; NOGAMI, 2016). Os monetaristas, em oposição ao pensamento keynesiano, passaram a argumen- tar que a economia de mercado é autorreguladora, isto é, se não houver intervenção do governo, tende a voltar ao pleno emprego (PASSOS; NOGAMI, 2016). Por outro lado, os keynesianos acreditavam que os desequilíbrios exigiam intervenções governamentais. Cabe ressaltar que, para os monetaristas, a inflação é um fenômeno essencialmente monetário e a moeda é a variável mais importante na determinação da demanda agregada da economia (PASSOS; NOGAMI, 2016). Nessa perspectiva, para combater a inflação, é necessário um controle efetivo do estoque de moeda. MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 12 Ademais, as mudanças na política monetária, como aumentos na oferta de moeda, podem estimular a demanda agregada e ter um impacto na economia no curto prazo. Por outro lado, no longo prazo, ocorreria o processo inflacionário (PASSOS; NOGAMI, 2016). Dessa forma, para os monetaristas, a moeda seria perniciosa, pois eles defendiam que as flutuações econômicas podem ser resultado de alterações na oferta de moeda. Notadamente, para os monetaristas, uma oferta de moeda estável seria o verdadeiro segredo da estabilidade econômica. Já entre as décadas de 1970 e 1980, surgem as escolas das expectativas racionais, lideradas por Robert Lucas e Robert Barro. Tais escolas ficaram conhecidas como os novos clássicos, sustentando que a economia é autorreguladora e que as políticas governamentais não são eficazes para estabilizá-la. A ideia das expectativas racionais dos novos clássicos consiste em afirmar que as pessoas e empresas obtêm suas expectativas com relação ao futuro de forma racional. Por isso, as políticas econômicas não têm tanto efeito como o previsto, visto que as pes-soas constroem suas expectativas com base no passado e no futuro, por causa do acesso à grande quantidade de informação. Sendo assim, conforme o caminhar da economia, os agenteseconômicos são capazes de prever as ações do governo. Consequentemente, tais ações tornam-se ineficazes (PASSOS; NOGAMI, 2016). Considerando uma economia que esteja indo em direção a uma recessão, os preços e salários tendem a cair, porém, se houver uma política expansionista, os preços não se reduzirão, visto que os agentes econômicos, ao identificarem a política expansionista, acredi- tam que haverá um aumento da demanda. Com isso, os preços permanecerão altos e um aumento na oferta monetária irá pressiona-los, gerando inflação. Num período mais recente, nasceu outra escola de pensamento: os defensores do ciclo real de negócios, argumentando que os choques da economia são tecnológicos e, sendo assim, não são os choques de demanda ou choques políticos que explicam as flutuações econômicas (PASSOS; NOGAMI, 2016). Surgiram, também, os neokeynesianos, tentando colocar as ideias fundamentais de Keynes em um esquema teórico mais sólido. Por fim, nasceram os defensores do papel das instituições e da tecnologia, denomina- dos institucionalistas. Fazem parte dessa corrente de pensamento John Kenneth Galbraith, Thorstein Veblen, dentre outros, que centravam sua análise no papel desempenhado pelas instituições no processo de formação de preços e de alocação de recursos. MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 13 ISTO ESTÁ NA REDE Link: https://www.youtube.com/watch?v=H67ctVbyPEA Nesse contexto, surge uma alternativa à visão clássica: a obra de Keynes. Tal obra sustentava a ideia de que a economia poderia atingir o equilíbrio por meio da intervenção do governo, para direcionar a economia para o pleno emprego. Keynes buscou mostrar que não há perfeita flexibilidade de preços e salários e que o pleno emprego de recursos não estaria garantido. ANOTE ISSO Ainda, conforme os economistas clássicos, a renda das pessoas era direcionada para a aquisição de bens e serviços. Caso parte dessa renda fosse poupada, a poupança seria canalizada para se adquirir títulos. O volume de poupança, então, correspondia ao volume de fundos financeiros, que seriam emprestados a outros agentes econômicos para se adquirir bens de capital. Assim, as flutuações na taxa de juros asseguravam que toda poupança planejada fosse emprestada. Nesse sentido, os clássicos acreditavam que a produção criava a oferta e, então, a demanda equivalente. Tal pensamento foi aceito até 1930, porém, com a grande depressão, surgiram as insatisfações em relação à teoria clássica, principalmente a de que a economia operava no pleno emprego e que não haveria capacidade ociosa nas empresas. Na verdade, a teoria clássica não podia explicar, e muito menos oferecer, alternativas para a economia sair do desemprego. https://www.youtube.com/watch?v=H67ctVbyPEA MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 14 CAPÍTULO 02 FLUTUAÇÕES ECONÔMICAS Introdução Prezados Estudantes, neste momento iremos conversar sobre as flutuações econômicas, abordaremos alguns aspectos do Produto Interno Bruto (PIB) real e potencial, com ênfase nos principais problemas macroeconômicos, como: recessão, desemprego da força de trabalho e inflação. Notadamente, será trabalhada em conjunto a Macroeconomia de curto prazo, e também serão compreendidos os aspectos dessa política em longo prazo. 2.1 OS DESVIOS DO PIB REAL EM RELAÇÃO AO PIB POTENCIAL Tendo em vista o nascimento e a evolução da teoria em questão, você, provavelmente, já percebeu ao menos alguns dos principais objetivos e instrumentos das políticas macroeconômicas. Os principais objetivos são: crescimento do nível de produção, elevação do nível de emprego e níveis de preços estáveis, ou seja, uma economia livre da recessão, desemprego e sem significativas variações de preços. Para isso, existem instrumentos, como a política fiscal e a política monetária. Nessa perspectiva, o sucesso econômico depende da condução do nível de produção de bens e serviços numa economia. Como medida para esse nível de produção, existe o Produto Interno Bruto (PIB). O PIB é a quantificação do valor de mercado de todos os bens produzidos num país durante um ano, como habitação, educação, alimentos, cerveja, automóveis, concertos, passeios, dentre outros. Existem duas formas de medição do PIB: o PIB real e o PIB nominal. O PIB real é calculado a preços constantes ou invariáveis, levando em consideração a quantidade produzida e eliminando os efeitos da inflação. Já o PIB nominal é medido a preços correntes de mercado, isto é, no ano em que o produto foi produzido e comercializado. Dessa forma, o processo de crescimento econômico ocorre a partir de um cresci- mento contínuo no longo prazo do PIB real e uma melhoria dos padrões de vida de MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 15 uma população. O PIB potencial representa o nível de produção sustentável máximo que uma economia pode alcançar (SAMUELSON; NORDHAUS, 2012). Ao se comparar a diferença entre o PIB real e o PIB potencial, há o hiato do produto. Por que calcular o hiato do produto? De acordo com Dornbusch, Fischer e Startz (2013), o hiato do produto é a diferença entre o produto real e o produto potencial, isto é, o que a economia poderia produzir no pleno emprego, dados os recursos existentes. Assim: Hiato do produto = produto real – produto potencial. Tal fato pode ser observado na figura “PIB real e potencial nos Estados Unidos”. O PIB real e potencial nos Estados Unidos”, o hiato do produto nos anos de 1930 a 1940 e perceba que o PIB real estava muito abaixo do PIB potencial. Quando isso ocorre, tem-se como consequência um desemprego elevado. Ainda na referida figura, após 1940, o PIB real ficou acima do PIB potencial. Nesse caso, quando a produção cresce acima do produto potencial, a inflação dos preços tende a aumentar. Notadamente, o produto potencial é determinado pela capacidade de produção da economia, a qual depende destes fatores: capital, trabalho, terra e eficiência tecnológica. Assim, o PIB potencial tende a crescer de forma gradativa, uma vez que os fatores de produção variam lentamente ao longo do tempo. Em contrapartida, o PIB real está sujeito a grandes variações cíclicas. Logo, durante as recessões cíclicas, ele cai abaixo do seu potencial, aumentando o desemprego (SAMUELSON; NORDHAUS, 2012). Nesse sentido, a inflação, o crescimento e o desemprego estão relacionados ao ciclo econômico, que é um padrão de expansão e contração da atividade econômica ao longo de uma trajetória de crescimento (DORNBUSCH; FISCHER; STARTZ, 2013), conforme apresentado na figura “Ciclos econômicos”. A atividade econômica é alta em rela- ção à tendência; em um vale cíclico, é atingido o ponto baixo na atividade econômica. Todos (inflação, crescimento e desemprego) possuem padrões cíclicos” (DORNBUSCH; FISCHER; STARTZ, 2013, p. 14). É importante, agora, prestar atenção no comportamento do produto (PIB) em relação à tendência do ciclo econômico. Essa trajetória de tendência do PIB seria a trajetória que ele tomaria se os fatores de produção fossem plenamente empregados. Mas não é isso que ocorre o tempo todo, pois o PIB varia constantemente, ou seja, a população aumenta, os empresários MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 16 adquirem máquinas e equipamentos, o conhecimento melhora, enfim, todos esses recursos aumentados permitem que o nível do produto cresça. Em contrapartida, os fatores de produção não são empregados o tempo todo, visto que, para isso, todas as pessoas teriam que estar trabalhando, em média, de 8 a 16 horas por dia. Em “termos econômicos, há o pleno emprego de trabalho quando todas as pessoas que querem um emprego podem encontrá-lo em um intervalo de tempo razoável”. Nessa perspectiva, o hiato do produto permite mensurar o tamanho de seus desvios cíclicos, em relação ao produto potencial, ou da tendência do produto (DORNBUSCH;FISCHER; STARTZ, 2013). Assim, para buscar equilíbrio econômico de curto prazo e controlar o hiato do produto, é necessário evitar as grandes variações cíclicas do PIB real. Para isso, o governo pode utilizar dois instrumentos: a política fiscal e a política monetária. A política fiscal utiliza impostos e gastos do governo. Os gastos do governo correspondem às compras governamentais, gastos com bens e serviços e transferência de rendas (aposentadorias, seguro desemprego e bolsa família). Dessa forma, uma ampliação das despesas do governo influencia o nível global de despesa da economia, bem como o PIB. Por causa do peso dos gastos do governo na economia, um aumento desses implica uma elevação do PIB. Por outro lado, uma redução das despesas reduz o PIB. Existem, ainda, os tributos que afetam a economia, visto que os impostos influenciam as rendas das pessoas e, por sua vez, o consumo (SAMPAIO, 2016). Nessa perspectiva, deixar as pessoas com maior ou menor renda disponível provoca efeitos relevantes na economia. Por exemplo, o governo pode tentar estimular a economia com desemprego de recursos, ou seja, por meio de uma redução dos impostos, ampliando a renda disponível para as famílias para que elas passem a ter mais renda para gastar ou poupar. Sendo assim, essa medida provoca um crescimento do PIB. Em contrapartida, um aumento no imposto leva a um efeito contrário, reduzindo, assim, o PIB. Por outro lado, existe a política monetária, considerada o segundo instrumento mais importante da política macroeconômica (SAMPAIO, 2016). Tal política é conduzida pelo governo por meio da gestão da moeda, do crédito e do sistema bancário. Você já deve ter notado como o Banco Central do Brasil aumenta e reduz a taxa de juros da economia. O Banco Central afeta a economia ao determinar as taxas de juros de curto prazo e também pela compra e venda de títulos públicos. Por exemplo, MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 17 para segurar a inflação, o governo pode decidir aumentar a taxa de juros. Dessa forma, as pessoas serão incentivadas a deixarem de consumir e a aplicarem o dinheiro em títulos públicos. Com a aquisição de tais papéis, “retira-se” o dinheiro de circulação. Nesse caso, a pessoa, incentivada pelo aumento dos juros, pode deixar de comprar um caro zero para adquirir títulos. Por outro lado, se a economia estiver em recessão e o governo decidir estimular o con-sumo, ele pode reduzir a taxa de juros, tornando os títulos públicos não tão atrativos assim, o que faria com que as pessoas pudessem preferir a moeda para realizar as transações ao invés de adquirir títulos. Assim, Samuelson e Nordhaus (2012) afirmam que a política monetária tem um efeito importante tanto sobre o PIB real quanto sobre o PIB potencial. 2.2 MACROECONOMIA DE CURTO E LONGO PRAZO A história econômica, ao ser observada, é descrita conforme o desempenho macroeconômico das economias. O qual pode ser analisado conforme as relações entre a demanda e a oferta agregada, uma vez que tais relações explicam as principais tendências de variações nos preços, quando se leva em consideração o equilíbrio do mercado de bens, financeiro e de trabalho, o que pode ser observado, na figura “Oferta e demanda agregadas determinam as principais variáveis macroeconômicas”. Oferta e demanda agregadas determinam as principais variáveis macroeconômicas. Pense que o nível da oferta agregada é a quantidade de bens que a economia pode produzir, de acordo com os recursos e a tecnologia disponíveis. Por outro lado, o nível de demanda agregada é a demanda total por bens de consumo, por novos investimentos, por bens adquiridos pelo governo e por bens líquidos a serem exportados. A Oferta e Demanda agregadas determinam as principais variáveis macroe conômicas, observe, os principais determinantes que afetam a atividade econômica global. Do lado esquerdo, estão as variáveis que determinam a demanda e a oferta agregadas. No centro, mostra-se como elas interagem entre si. Finalmente, o lado direito apresenta o resultado em termos de produto, emprego, nível de preços e comércio externo. Apesar da oferta agregada, as empresas estão, em geral, dispostas a venderem tudo o que puderem pelo maior preço possível (SAMUELSON; NORDHAUS, 2012). Assim, durante uma expansão, as empresas se esforçam para entregar todos os produtos demandados. Em contrapartida, em tempos de contração de demanda, as empresas podem perceber que possuem excesso de capacidade e de custos. MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 18 Figura 01: Controle Econômico Fonte: https://pixabay.com/pt/vectors/dinheiro-troca-moeda-economia-5723747/ Nesse sentido, a produção nacional e o nível geral de preços dependem do comporta- mento da oferta e também da demanda agregada (DA). Na parte de cima da figura “Oferta e demanda agregadas determinam as principais variáveis macroeconômicas”, tem-se a demanda agregada, que é igual ao total da despesa em bens e serviços, dependendo do nível de preços e das políticas fiscal e monetária. A demanda agregada é composta por consumo, investimentos, gastos do governo e exportações menos importações. Assim, a demanda agregada é afetada pelos seus componentes e pelas variáveis exógenas, como o gasto do governo. Nesse sentido, quando há um equilíbrio entre oferta e demanda agregada, a produção nacional e o nível de preços estão estabelecidos no patamar em que há consumidores dispostos para a compra e empresas dispostas para a venda. Desse modo, a relação de oferta agregada reflete os efeitos do produto sobre o nível de preços e decorre do equilíbrio no mercado de trabalho, isto é, da relação entre o nível de preços, o nível de preços esperado e o nível de produção. Por outro lado, a relação de demanda agregada reflete o nível de preços sobre o produto. No curto prazo, as variações no produto da economia são causadas tanto por variações na oferta agregada quanto na demanda agregada. Ao se analisar, no curto prazo, as curvas de OA e DA, verifica-se que a curva de oferta agregada é horizontal. No médio prazo, o produto é determinado pelo equilíbrio no mercado de trabalho, no https://pixabay.com/pt/vectors/dinheiro-troca-moeda-economia-5723747/ MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 19 qual a velocidade do ajuste de preços é resumida na curva de Phillips, que relaciona inflação e desemprego. Por isso, as curvas de oferta e demanda agregada possuem uma inclinação intermediária. Assim, em uma economia com capacidade de produção fixa, “no longo prazo, o nível de produto é determinado somente por considerações por parte da oferta. Basicamente, o produto é determinado pela capacidade produtiva da economia” (DORNBUSCH; FISCHER; STARTZ, 2013, p. 6). O nível de preços é determinado pela demanda em relação ao produto que a economia pode ofertar. A seguir, há a figura “Oferta agregada e demanda agregada: longo prazo”. A Oferta agregada e demanda agregada: longo prazo”, há o diagrama da oferta e de demanda, agregada com uma curva de oferta agregada vertical. Na curva de oferta agregada (OA), está representada, a cada nível de preços, a quantidade de produto que as empresas estão dispostas a ofertar (DORNBUSCH; FISCHER; STARTZ, 2013). Com isso, a posição da curva de oferta agregada depende da capacidade produtiva da economia. Na curva de demanda agregada (DA), está apresentado, a cada nível de preços, o nível de produto no qual os mercados de bens e os mercados monetários estão, simultaneamente, em equilíbrio (DORNBUSCH; FISCHER; STARTZ, 2013). A posição da curva de demanda agregada depende das políticas monetárias e fiscais e do nível de confiança do consumidor. A interseção da oferta agregada com a demanda agregada determina preço e quantidade. Em longo prazo, a curva de oferta agregada é vertical. O produto está atrelado à posição em que essa curva de oferta atinge o eixo horizontal.O nível de preços, por sua vez, pode assumir qualquer valor” (DORNBUSCH; FISCHER; STARTZ, 2013, p. 7). Logo, no longo prazo o produto é determinado somente pela oferta agregada, e os preços são determinados pela oferta agregada e pela demanda agregada. Cabe ressaltar que, no longo prazo, conforme ocorre o crescimento econômico, a curva de oferta, geralmente, move-se para a direita em ordem de pequenas porcentagens. Ademais, os movimentos na demanda agregada podem ser pequenos ou gran- des. Logo, a única fonte possível de inflação elevada está em grandes movimentos de demanda agregada, que se deslocam, cruzando a curva de oferta agregada na verti- cal (DORNBUSCH; FISCHER; STARTZ, 2013). Diante disso, serão abordadas essas relações no decorrer do texto. Por isso, o escopo deste material está limitado ao estudo da Macroeconomia de curto e médio prazo. MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 20 2.3 DESEMPREGO E PRODUTO Neste tópico, será trabalhada a relação entre o mercado de trabalho, o produto e a determinação de preços e salários. Por isso, é importante frisar que alterações na renda interferem na demanda por bens e que variações na demanda por bens levam a mudanças no produto, as quais, por sinal, interferem diretamente na renda. Como a mão de obra é um fator de produção, alterações nos salários podem levar a mudanças no nível de preços e também do produto. Para entender essa dinâmica, é necessário trazer o conceito de oferta e demanda para o mercado de trabalho. Ao se pensar pela lei da oferta, quanto maior a oferta de trabalho, considerando a demanda constante, menor serão os salários. Logo, quanto maior o desemprego, menor tende a ser o salário. O contrário é verdadeiro, pois quanto menor a oferta de trabalho, maior tende a ser o salário. Ainda, se houver um aumento na demanda por mão de obra, mantendo-se a oferta constante, o salário tende a subir. Por outro lado, se houver uma redução da demanda por mão de obra, os salários tendem a cair (BLANCHARD, 2004). Pense que as empresas podem demitir em função de uma queda na demanda ou reduzir o número de contratações. Se as empresas, inicialmente, optarem pela redução do número de contratações, isso levará a uma maior concorrência no mercado de trabalho. Em contrapartida, se a decisão for demitir, haverá a possibilidade de os que estão empregados perderem o emprego, o que pode levar a um alto desemprego e a uma piora na situação dos trabalhadores. A probabilidade de que os trabalhadores venham a perder o emprego é maior e, se eles ficarem desempregados, há uma probabilidade de permanecerem no desemprego por um período mais longo (BLANCHARD, 2004). Figura 02: Equilíbrio da Oferta e Demanda Fonte: https://pixabay.com/pt/vectors/bitcoin-pre%c3%a7o-gr%c3%a1fico-moeda-6856507/ https://pixabay.com/pt/vectors/bitcoin-pre%c3%a7o-gr%c3%a1fico-moeda-6856507/ MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 21 Assim, considerando a lei da oferta e da demanda no mercado de trabalho, é possível inferir que um aumento na taxa de desemprego afeta os salários. Logo, a determinação dos salários depende do nível de desemprego, de forma que o nível de desemprego enfraquece o poder de barganha do trabalhador, forçando-o a aceitar um salário mais baixo. Outro fator que pode afetar os salários é o seguro-desemprego, visto que quanto melhor ele for, mais as pessoas tenderão a abrir mão do emprego em prol de consegui- rem o benefício, o que pode levar a um maior desemprego. Pense que se o seguro-desemprego não existisse, o indivíduo, para não ficar desempregado, aceitaria qualquer salário. No entanto, com o seguro-desemprego, o trabalhador tenderia a escolher um trabalho que oferecesse um salário melhor, para que não fosse necessário abrir mão do benefício em prol de um emprego, uma vez que o benefício de seguro desemprego tende a elevar os salários. Agora, imagine que as empresas produzam bens utilizando o trabalho como o único fator de produção, embora seja preciso destacar que elas utilizam máquinas e precisam de uma infraestrutura. Porém, para efeito de exemplo, considere somente a mão de obra. Não obstante, se a mão de obra é um fator de produção, o custo para produzir algum bem é o salário (W) do trabalhador. De acordo com Blanchard (2004), para a empresa calcular o preço (P) do seu produto, levará em consideração a margem de lucro (m) que deseja obter e também o valor dos salários. Perceba que os preços possuem uma relação direta com o salário, visto que à medida que o salário aumenta, os preços também aumentam, e vice-versa. A razão entre o nível de preços e salários é resultante do processo de formação de preços das empresas, que é igual a um mais a margem de lucro, ao se pensar que os salários são nominais. Uma elevação na margem de lucros das empresas leva a um aumento de preço, o que provoca uma redução no salário real (BLANCHARD, 2004). Como os salários são fixados por um determinado período, durante um tempo, mesmo que haja um aumento de preço, os salários, normalmente, não serão reajustados, ou seja, esse reajuste demora um tempo. Portanto, como os preços dos produtos dependem dos salários e da margem de lucro, uma margem de lucro maior leva a um salário real menor. Ademais, o equilíbrio do mercado de trabalho requer que o salário real escolhido na determinação dos salários seja igual ao salário real resultante da fixação dos preços. Esse equilíbrio, então, determina a taxa de desemprego (BLANCHARD, 2004). Assim, a taxa de desemprego permite identificar se a economia está operando acima ou abaixo de seu nível normal de atividade. Nesse sentido, um alto crescimento do produto MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 22 leva a uma queda da taxa de desemprego. Por outro lado, o baixo crescimento está asso- ciado a uma elevação da taxa de desemprego. Não obstante, um aumento no produto leva a um aumento do nível geral de preços, o que implica em um aumento do emprego. Um aumento do emprego, porém, leva a uma redução do desemprego e, portanto, a uma queda da taxa de desemprego (BLANCHARD, 2004), tendo vista que uma queda da taxa de desemprego leva a um aumento dos salários nominais. Logo, um aumento dos salários nominais implica em um aumento dos preços definidos pelas empresas, o que equivale a um aumento do nível de preços (BLANCHARD, 2004). Cabe ressaltar que há uma dinâmica sobre as expectativas de aumento de preços. Por exemplo, um nível esperado de preços mais elevado provoca um nível de preços correntes, proporcionalmente, mais alto, ou seja, se o nível de preços esperados dobrar, o nível de preços correntes irá dobrar (BLANCHARD, 2004). Esse efeito acontece por meio dos reajustes salariais. Se os responsáveis pelos reajustes dos salários tiverem expectativas de aumento de preços, eles estabelecerão salários nominais mais altos. Por sua vez, isso levará as empresas a fixarem preços mais elevados (BLANCHARD, 2004). Assim, a relação entre o produto e o nível de preços, para um dado valor de nível de preços esperados, é representada pela curva OA (oferta agregada. Dessa forma, a curva, na figura “Oferta agregada” tem três propriedades: primeira- mente, uma oferta agregada possui inclinação ascendente, de forma que um aumento do produto leva a um aumento do nível de preços; em segundo lugar, a curva de oferta agregada passa pelo ponto A, no qual o produto (Y) é igual ao seu produto natural (Yn) e o seu nível de preços (P) é igual ao nível de preços esperados (Pe); por fim, aumentos no nível de preços farão com que a curva de oferta agregada desloque-se para cima, e a queda nos preços levará a um deslocamento da curva para baixo. ISTO ESTÁ NA REDE Link: https://www.youtube.com/watch?v=YbLvUXZZ0T4 A Macroeconomia é diferenciada pelos economistas entre de médio e de longo prazo. A Macroeconomia de curto prazo considera os preços e salários fixos.Portanto, analisa os ciclos econômicos bem como os fatores que estabelecem o produto, determinado pela demanda. Assim, muitos fatores afetam a demanda, desde a confiança do consumidor até as políticas fiscais, monetárias e cambiais. https://www.youtube.com/watch?v=YbLvUXZZ0T4 MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 23 ANOTE ISSO Já a Macroeconomia de médio prazo estuda o que determina o produto, como recursos tecnológicos, estoque de capitais e força de trabalho. No longo prazo, os preços e salários são flexíveis e o produto é determinado pelos fatores de produção. Assim, são estudadas as relações entre crescimento econômico, renda e riqueza, distribuição de renda e a razão de alguns países serem ricos enquanto outros são pobres. Para isso, as políticas econômicas de longo prazo, comumente, focam em fatores como instrução, pesquisa, poupança e papel do governo. MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 24 CAPÍTULO 03 AGENTES ECONÔMICOS Introdução Nesta aula você, compreenderá o funcionamento da Macroeconomia a partir do fluxo circular da atividade econômica. Serão apresentados, também, os conceitos dos principais agregados macroeconômicos, como o Produto Interno Bruto (PIB), o Produto Nacional Bruto (PNB), o Produto Interno Líquido (PIL) e o Produto Nacional Líquido (PNL), bem como a sua a evolução ao longo do tempo. Além disso, você aprenderá a diferenciar o investimento bruto do líquido. Também, serão analisadas as diferenças entre variáveis reais e nominais e o PIB a custo de fatores e o preço de mercado, destacando sua importância para uma compreensão mais ampla do sistema econômico. Diante desse cenário: Qual é a identidade macroeconômica fundamental? Agora, você entenderá, de forma detalhada, a relação da demanda agregada como uma variação entre a inflação, a expectativa de inflação e o desemprego ao longo do tempo. 3.1 Controle Internos A taxa de inflação é um percentual do aumento generalizado dos preços, o que resulta na perda do poder aquisitivo da moeda (PASSOS; NOGAMI, 2016). Por exemplo, você precisa de mais moedas, hoje, para comprar um litro de leite do que precisava alguns anos atrás. Logo, a inflação é uma desvalorização da moeda, isto é, para se adquirir o mesmo produto, mais moedas são necessárias. Isso ocorre quando o PIB nominal aumenta mais rapidamente que o PIB real. É importante destacar que existem dois tipos de inflação: a de demanda e a de custos. “A inflação de demanda diz respeito ao excesso de demanda agregada em relação à produção disponível de bens e serviços (oferta agregada) (PASSOS; NOGAMI, 2016, p. 506). Esse tipo de inflação pode ser entendido como “dinheiro demais à procura de poucos bens”. MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 25 Dessa forma, políticas expansionistas de demanda agregada tendem a gerar inflação. Por exemplo, o governo, ao financiar seus deficit emitindo moeda, cria um processo inflacionário. Imagine uma economia na qual a demanda é dada por: Considere a oferta agregada (OA) dada por Y, que mede o nível de renda ou de produto da economia. Para que a economia esteja em equilíbrio, é preciso que a oferta agregada seja igual à demanda agregada (PASSOS; NOGAMI, 2016, p. 506). Agora, se o produto está operando abaixo do pleno emprego, nesse cenário, não há inflação. “Presume-se aqui que, se houver desemprego em larga escala na economia, aumento da demanda agregada deverá corresponder a aumento na produção agregada de bens e serviços, sem que haja correspondente aumento de preços” (PASSOS; NOGAMI, 2016, p. 508). Entretanto, uma vez atingido o pleno emprego, qualquer aumento adicional da demanda agregada provocará apenas aumento de preços, visto que a demanda estará maior que a oferta. Por outro lado, para se combater a inflação, será necessário reduzir a demanda agregada por bens e serviços, uma vez que, em curto prazo, ela se mostra mais sensível a alterações de política econômica que a oferta agregada, cujos ajustes se dão em longo prazo. Dessa forma, uma contração da demanda agregada tende a reduzir a taxa de inflação. Em contrapartida, existe a inflação de custos, provocada pelo aumento de custos de produção, como matéria-prima e salários, em que a demanda é constante. Essa elevação dos custos leva a uma retração da produção, uma vez que ocorre um deslocamento da curva de oferta para a esquerda, provocando um aumento de preços. Perceba que a inflação tem uma relação direta com os salários e o mercado de trabalho. Quando o desemprego está baixo, a inflação tende a subir; quando o desemprego está alto, a inflação tende a cair. Logo, “a variação da inflação depende da diferença entre as taxas de desemprego atual e natural. Quando a taxa de desemprego atual ultrapassa a taxa natural, a inflação cai; quando a taxa de desemprego atual é menor que a taxa natural, a inflação aumenta” (BLANCHARD, 2004, p. 163). A inflação, bem como o desemprego, é uma grande preocupação macroeconômica. Cabe ressaltar que os custos do desemprego englobam o desperdício do produto potencial. No caso da inflação, não há uma perda evidente de produto, mas ela incomoda as relações dos preços conhecidas e reduz a eficiência do sistema de preços. MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 26 Nesse contexto, os formuladores de políticas econômicas, comumente, estão dispostos a aumentar o desemprego como um esforço para diminuir a inflação. Para isso, os governos utiliza políticas de contração de demanda, o que leva a uma queda na quantidade da demanda de produtos na economia. As empresas param de contratar ou passam a demitir, gerando desemprego. Indivíduos desempregados consomem menos, o que leva a um maior desemprego e uma redução da inflação. Para comprimir a demanda agregada, são utilizadas políticas de: “aumento da carga tributária; redução dos gastos do governo; elevação das taxas de juros; controle de cré- dito; e arrocho salarial” (PASSOS; NOGAMI, 2016, p. 508). Demanda agregada: deslocamento” um exemplo da curva de demanda agregada, considerando-se uma política expansionista de gasto do governo e contracionista, por meio da redução da quantidade de moeda. A relação da demanda agregada reflete o nível de preços sobre o produto. Assim, um aumento no nível de preços esperado mais elevado provoca um aumento no nível de preços, de forma que um nível de preços mais elevado leve a uma queda no estoque real de moeda. Por sua vez, um estoque real de moeda menor provoca aumento na taxa de juros. Como consequência, uma taxa de juros maior leva a uma queda da demanda por bens e a um produto menor. Assim, um aumento no nível de preços reduz o estoque real de moeda, o que leva a um aumento da taxa de juros. Um aumento da taxa de juros leva a uma queda do consumo, o que reduz o produto. Os estudos serão iniciados a partir do fluxo circular da atividade econômica, produto e renda. Para isso, serão vistos os agentes econômicos, o fluxo real e monetário e o fluxo circular da atividade econômica. Assim, você compreenderá o funcionamento da Macroeconomia a partir do fluxo circular da economia. Verá, também, como é a interação entre os agentes econômicos e a circulação de moeda e de produtos nos mercados. Dessa forma, você passará a ter uma melhor percepção do funcionamento das atividades econômicas. Nessa perspectiva, a expressão fluxo circular da atividade econômica pode parecer estranha à primeira vista, mas ela retrata a forma pela qual a economia se movimenta como um todo (PASSOS; NOGAMI, 2016). Isso porque o fluxo circular da atividade econômica está relacionado diretamente ao cotidiano das pessoas, sobre o qual nunca se reflete. MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 27 3.2 AGENTES ECONÔMICOS A economia se caracteriza por uma quantidade infinita e contínua de transações econômicas entreos agentes, sejam pessoas ou, sejam empresas, significando que todas as unidades econômicas transacionam entre si. Figura 01: Efeitos da Inflação Fonte: https://pixabay.com/pt/vectors/dinheiro-transfer%c3%aancia-de-dinheiro-3598743/ De forma simples, como os indivíduos e as empresas interagem na economia, sendo que cada um busca atingir diferentes objetivos: “as empresas procurando maximizar seus lucros e os indivíduos procurando maximizar a satisfação de seus desejos e necessidades” (PASSOS; NOGAMI, 2016, p. 370 Assim uma sociedade bem simples, na qual são considerados somente dois setores: os indivíduos representados pelas famílias e as empresas. “As famílias oferecem mão de obra para as empresas, que a utilizam para a produção de bens e serviços, remunerando-os sob a forma de salários; com esses salários elas adquirem bens e serviços das empresas” (PASSOS; NOGAMI, 2016, p. 370). Agora, imagine que as famílias sejam detentoras de outros fatores de produção, tais como máquinas e equipamentos, construções, recursos naturais, além da mão de obra, e que esses fatores sejam utilizados, direta ou indiretamente, para a produção de bens e serviços (PASSOS; NOGAMI, 2016). Dessa forma, para analisar esses fluxos de forma mais precisa, é necessária a adoção de alguns critérios para se agregarem ao conjunto de informações geradas nas relações entre indivíduos e empresas, como a remuneração dos proprietários de fatores de produção, isto é, a renda (PASSOS; NOGAMI, 2016). Fazem parte dessa renda salários, lucros, juros e aluguéis. Logicamente, os salários referem-se aos pagamentos https://pixabay.com/pt/vectors/dinheiro-transfer%c3%aancia-de-dinheiro-3598743/ MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 28 feitos aos proprietários do fator de trabalho, e os lucros representam a remuneração dos empresários. Já os juros representam a remuneração do capital, e os aluguéis referem-se à remuneração dos bens e imóveis (PASSOS; NOGAMI, 2016). Nesse sentido, ao “somarmos a renda auferida por todas as famílias de uma sociedade, em um determinado período, obteremos a Renda Nacional relativa a esse período” (PASSOS; NOGAMI, 2016, p. 371). Na parte inferior da figura “Fluxo da atividade econômica”, está apresentado “o fluxo de renda (juros, lucros, salários e aluguéis) das empresas para as famílias, fruto do fornecimento dos fatores de produção das famílias para as empresas (capital, terra, mão de obra etc)” (PASSOS; NOGAMI, 2016, p. 371). A renda auferida pelas famílias, a despesa dos fatores de produção e o produto gerado representam uma relação de igualdade. Essa igualdade entre produto, renda e despesa é a identidade fundamental da economia? Nessa perspectiva, as empresas, ao utilizarem os fatores de produção, produzirão bens e serviços que serão oferecidos às famílias. Dessa forma, o Produto Nacional refere- se ao valor de toda a produção gerada pelas empresas. Veja o fluxo do Produto Nacional na parte superior. Ademais, é realizada a suposição de que toda a renda das famílias é destinada ao consumo, logo, todo “esse consumo retratará o total das despesas efetuadas pelos indivíduos na aquisição de todos os bens e serviços produzidos pelas empresas” (PASSOS; NOGAMI, 2016, p. 371). Considerando que o pagamento para as empresas dos bens e serviços adquiridos pelas famílias é denominado despesa, a “soma de todos os pagamentos efetua- dos dentro de uma economia, em um determinado período de tempo, chama-se Despesa Nacional” (PASSOS; NOGAMI, 2016, p. 371). É possível compreender, então, que o valor do Produto Nacional é igual ao valor da despesa nacional, que por sinal, é igual à renda nacional, isto é: PN = DN = RN. 3.3 Fluxos Monetários Existem dois fluxos: o fluxo real e o fluxo monetário, ou o fluxo da atividade econômica, como também é conhecido. MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 29 Figura 02: Fluxos Monetários Fonte: https://pixabay.com/pt/vectors/dinheiro-moeda-finan%c3%a7a-investimento-1673582/ O fluxo real das firmas é o movimento dos recursos produtivos de bens e serviços entre os diversos agentes econômicos (PASSOS; NOGAMI, 2016). Assim, as empresas “contratam mão de obra, compram matérias-primas e bens de investimentos, e produzem bens que são, posteriormente, vendidos a outras empresas que transformam o pro- duto ainda mais, até que o produto final seja vendido ao consumidor” (PASSOS; NOGAMI, 2016, p. 371). Observe que, durante todas essas posições, há uma transferência constante de bens e serviços entre os agentes econômicos. Os fluxos monetários são contrapartidas monetárias dos fluxos reais, isto é, “toda vez que um bem ou serviço é transferido de um agente para outro, são efetuados pagamentos em troca deles” (PASSOS; NOGAMI, 2016, p. 372). O fluxo monetário gira na direção contrária ao fluxo real. O fluxo de renda que foi visto anteriormente. “Agora, na parte superior, temos o movimento dos recursos produtivos e de bens e serviços que denominamos Fluxo Real” (PASSOS; NOGAMI, 2016, p. 372). Considere, então, o pagamento em moeda pela utilização dos recursos produtivos, bem como pela aquisição dos bens e serviços, o que se denomina fluxo monetário, na parte inferior da figura “Fluxos reais e fluxos monetários”. Portanto, é possível salientar que a preocupação central do estudo macroeconômico “é com o que determina a magnitude desses fluxos e por que esses fluxos variam ao longo do tempo” (PASSOS; NOGAMI, 2016, p. 372). Agora, para que se entenda melhor o fluxo circular da atividade econômica, é necessário compreender o conceito mais importante da Macroeconomia, que é o Produto Interno Bruto (PIB). O PIB é o valor total de bens finais e serviços produzidos numa economia (país) durante um período de tempo (normalmente, um ano). Dessa forma, o PIB é o termômetro da economia, isto é, permite que as autoridades econômicas https://pixabay.com/pt/vectors/dinheiro-moeda-finan%c3%a7a-investimento-1673582/ MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 30 determinem se a economia está em expansão ou contração, bem como se há ameaça de uma grave recessão e de inflação. Se o PIB é a soma de todos os bens e serviços produzidos numa economia num dado período de tempo, qual é a relação entre PIB e o fluxo circular da atividade econômica? Para se conhecer o nível de desenvolvimento econômico de um país, basta analisar o PIB per capita, ou seja, dividido pela população. Logo, o PIB pode dar uma imagem global da economia, visto que representa o valor a que se chega quando se aplica a medida monetária aos diversos bens e serviços – desde abacate a zinco – que um país produz com os seus recursos de terra, trabalho e capital. Nesse sentido, o PIB representa toda a produção de bens de consumo (C), investimento (I), gastos do governo (G) e as exportações líquidas (X - M) (exportação menos importação de bens e serviços). Em símbolos: PIB = C + I + G + (X - M). Como representa a produção global da economia, o PIB é utilizado para medir o seu desempenho. Na grande depressão que se iniciou em 1929, o PIB dos EUA caiu quase 50% em quatro anos, o que causou elevado desemprego, falências, quebras de bancos e dificuldades para a população em geral. Em contrapartida, desde a Segunda Guerra Mundial até os anos 2000, o PIB dos EUA aumentou 250% (DORNBUSCH; FISCHER; STARTZ, 2013). Nesse contexto, “o produto interno bruto pode ser medido (a) como um fluxo de produtos finais ou, equivalentemente, (b) como um fluxo de remunerações ou rendas. No arco superior, os compradores adquirem bens e serviços finais” (DORNBUSCH; FISCHER; STARTZ, 2013, p. 344). O fluxo monetário total da sua despesa em cada ano é uma das medidas do PIB. 3.4 FORMAS DE MENSURAÇÃO DA ATIVIDADE ECONÔMICA Neste momento, serão trabalhadas as formas de mensuração da atividade econômica no mercado. Abordando o Produto Interno Bruto (PIB) pela ótica do dispêndio eda renda, bem como o Produto Interno Bruto (PIB) pela ótica da oferta e o problema da dupla contagem. Você deve estar pensando: como os economistas calculam o PIB? Pois bem, ficando você surpreso(a) ou não, saiba que é possível medir o PIB de duas formas MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 31 completamente independentes, ou seja, o PIB pode ser medido ou como um fluxo de produtos ou como uma soma de rendas. Assim, para demonstrar as diferentes formas de se calcular o PIB, os tópicos a seguir serão iniciados com a consideração de uma economia muito simplificada, na qual não há governo, comércio exterior e investimento, e a economia produz apenas bens de consumo adquiridos pelas famílias. ISTO ESTÁ NA REDE Link: https://www.youtube.com/watch?v=gRiAGmlToq4 A inflação é perniciosa, pois provoca diversos danos à economia e, consequente- mente, à sociedade, como a redução do poder aquisitivo de alguns segmentos da população que possuem rendimentos fixos, por exemplo, aluguéis e salários. Por sua vez, aqueles com renda livre, como empresas e especuladores, são mais favorecidos pelo processo inflacionário. ANOTE ISSO A inflação influencia a alocação de recursos na economia, visto que costuma modificar o perfil de investimentos dos agentes econômicos, provocando resistências em investidores ao alocar recursos em projetos de longo prazo. Por fim, a inflação influencia o balanço de pagamentos, visto que a elevação dos preços internos encarece o produto nacional, o que pode dificultar as exportações e estimular as importações. https://www.youtube.com/watch?v=gRiAGmlToq4 MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 32 CAPÍTULO 04 ATIVIDADES ECONÔMICAS Introdução Olá Estudante, a partir, deste momento iremos conversar sobre o reflexos econômicos, onde o Produto Interno Bruto (PIB), pela ótica do dispêndio, divide-se em: despesa de consumo (consumo das famílias), investimentos (formação bruta de capital fixo e variação de estoque), gastos do governo (despesa de consumo da administração pública) e exportações menos importações (exportações líquidas de bens e serviços). Entretanto, esse estoque de capital está em constante desgaste, isto é, ferramentas, máquinas, edificações e outros instrumentos de produção utilizados durante o ano se depreciam. Por esse motivo, parte das despesas de investi- mento destina-se à substituição do capital desgastado, o que não aumenta o estoque de capital da economia. Por isso, existem duas definições de investimento: “Investimento Bruto (Ib), que é igual às despesas com novas edificações, novos equipamentos etc., mais a variação de estoques; e Investimento Líquido (Il), que é igual ao investimento bruto menos a depreciação” (PASSOS; NOGAMI, 2016, p. 382). 4.1 CONTROLE GOVERNAMENTAL O gasto do governo (G) “em bens e serviços também são um importante componente da demanda agregada da economia. São inclusas nesse item despesas com educação, segurança, justiça, construção de estradas, hospitais etc.” (PASSOS; NOGAMI, 2016, p. 382). O gasto do governo (G) deve atender suas funções típicas, como “administração direta, judiciário, legislativo etc., que dependem de dotação orçamentária” (SAMPAIO, 2016, p. 382). Por fim, existem as exportações (X) menos as importações (M), que são denominadas exportações líquidas. “As exportações correspondem à venda de parte da nossa produção para o exterior e que constituem demanda por produção interna. As despesas MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 33 de impor- tação constituem-se em aquisições de produção realizada em outros países” (SAMPAIO, 2016). Assim, pode-se entender o PIB pela ótica do dispêndio ou da demanda, como costuma ser chamado. Desse modo, tem-se: Agora, o Produto Interno Bruto (PIB) será trabalhado pela ótica da renda, também chamada de abordagem pelo custo. Por meio dele, surgem todos os custos das atividades empresariais, que incluem os salários pagos à mão de obra, os aluguéis pagos pela terra, os lucros pagos ao capital, e assim consecutivamente. Por outro lado, esses custos empresariais representam as rendas que as famílias recebem das empresas. Logo, ao mensurarem o fluxo anual dessas rendas, os economistas chegam, novamente, ao PIB. Dessa forma, calcula-se o PIB pelo total das rendas dos fatores produtivos (salários, juros, aluguéis e lucros), que são os custos de produção dos produtos finais de uma empresa. Figura 01: Controle do PIB Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/financeiro-planejamento-relat%c3%b3rio-3207895/ Assim, denomina-se valor adicionado a um produto a soma dos custos dos fatores de produção. Mas o método do valor adicionado é, de fato, a abordagem da renda para medir o PIB. Esses custos, em cada fase de produção, podem ser visualizados no quadro “Valor adicionado”. Na produção do pão, o valor de um bem em cada estágio de produção é a soma do valor adicionado (salários + juros + aluguéis + lucros) durante cada estágio. Deve- se observar “que a inclusão do lucro como um item de custo se deve ao fato de ele ser uma remuneração a um fator de produção (ou seja, é um custo para se produzir um bem)” (PASSOS; NOGAMI, 2016, p. 377). Assim, o valor final é a soma do valor adicionado em cada estágio de produção, o que, no quadro “Valor adicionado”, resultou no valor final do pão de R$1.400,00. É possível entender o porquê de as duas abordagens serem iguais analisando uma economia simples de pedreiros. Considere que os pedreiros não possuem outras despesas além das de mão de obra. Se trabalharem dez horas pelo valor de R$ 8,00 https://pixabay.com/pt/photos/financeiro-planejamento-relat%c3%b3rio-3207895/ MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 34 a hora, o PIB é de R$ 80,00. Mas as remunerações dos pedreiros (em salários e lucros) são exatamente iguais a R$ 80,00. Assim, o PIB é idêntico, quer como fluxo de produtos (R$ 80,00 de horas trabalhadas), quer como fluxo de custo e rendas (R$ 80 de salários e lucros). As duas abordagens são idênticas, visto que os lucros são incluídos em conjunto com as outras rendas. Mas o que é, exatamente, o lucro? O lucro caracteriza-se pela receita menos os custos de produção, isto é, o que resta da venda de um produto depois de pagos os custos dos outros fatores, como salários, juros e aluguéis. Mais um exemplo será apresentado a seguir, no quadro “Abordagens da despesa e da renda”, que demonstra que as abordagens da despesa e da renda são formas diferentes de se medir o valor da produção em uma economia, a economia produz quatro tipos de bens: A, B, C e D. O PIB (valor de mercado do produto final), conforme a abordagem da renda, “é dado pela soma dos salários (renda do trabalho), juros (renda do capital), dos aluguéis (renda da terra) e lucros (renda do fator capacidade empresarial)” (PASSOS; NOGAMI, 2016, p. 377). Os salários recebidos na produção dos bens A, B, C e D totalizam R$170,00 (50,00 + 40,00 + 60,00 + 20,00). Por sua vez, a soma dos juros apresenta um total de R$15,00, e a soma dos aluguéis e do lucro totaliza R$79,00 e R$38,00, respectivamente. Se for realizada a soma do total de salários, juros, aluguéis e lucros ( 170,00 + 15,00 + 79,00 + 38,00), será obtido o valor da renda gerada de 302,00. Como foi visto, o PIB pela ótica da oferta é a quantidade total produzida no período multiplicada pelo preço de mercado desse bem. Agora, preste atenção: o valor de mercado do bem A é de R$80,00 ( 2,00/unidade × 40 unidades); já os valores de mercado dos bens B, C e D são de R$70,00, R$102,00 e R$50,00, respectivamente. Assim, o PIB é de R$302,00. Se for feita a suposição de que tudo o que é produzido é vendido, chegar-se-á, novamente, à identidade básica da Macroeconomia: Resumindo, ambas as abordagens proporcionam exatamente a mesma medida do PIB. Ou seja, o PIB pode ser mensurado de duas formas diferentes: (1) como o totalde custos, ou rendas, dos fatores de produção; ou (2) como o fluxo de despesa com produtos finais. Todos os anos, a população consome uma grande variedade de bens e serviços finais, como bananas, computadores, camisetas, serviços odontológicos, serviços de assistência médica e cortes de cabelo. Esses bens são adquiridos e consumidos, em última instância, pelos consumidores, e as famílias gastam suas rendas nesses MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 35 bens de consumo. Ao somar todo o dinheiro gasto com o consumo desses bens, chega-se ao PIB total dessa economia simplificada. Na economia simplificada, você pode calcular facilmente a renda ou o produto nacional como a soma do fluxo anual dos bens e serviços finais (preço das camisetas × número de camisetas) + (preço das bananas × número das bananas), e assim consecutivamente para todos os outros bens finais. Dessa forma, o PIB é definido como o valor monetário total do fluxo dos produtos finais produzidos pelo país. Definir o PIB como a produção total de bens e serviços finais significa afirmar que o PIB exclui os bens intermediários, isto é, aqueles que são utilizados para produzir outros bens. O PIB inclui, por exemplo, a calça jeans, mas não o tecido; o pão, mas não o trigo. Calcular o PIB pelo fluxo de produção (excluindo-se os bens intermediários) não é tão complicado. Estão inclusas as calças jeans e os pães, mas evita-se incluir o tecido utilizado na produção da calça e o trigo utilizado na produção dos pão. Logo, os itens intermediários estão apenas circulando no processo produtivo, visto que, se não forem comprados pelos consumido- res, nunca aparecerão no PIB como produtos finais. Outro exemplo é o do pneu em um carro. Os bens pneu e carro são produzidos por empresas distintas. Seria possível considerar, na produção agregada, o valor da produção de ambos os bens, todavia não seria correto considerar o valor do pneu duas vezes, pois, no valor do carro, já está computado o valor desse bem intermediário. Para que esse problema de dupla contagem seja evitado, é necessário descontar da produção total da economia a produção ou o consumo intermediário. Ainda, de acordo com Passos e Nogami (2016), excluir os produtos intermediários ou computar somente o valor adicionado são duas formas de se evitar o problema de dupla contagem. Para a computação do valor adicionado, são levados em consideração os valores adicionados ao produto, à medida que ele passa pelos vários estágios do processo produtivo. Há um exemplo no quadro “Método do valor adicionado”, para que o problema de dupla contagem seja evitado com a utilização do método do valor adicionado, no qual se faz a suposição de que os produtores de trigo não compram bens intermediários de outras empresas. Estágios Produção Receitas de Vendas - Compras de Outras Empresas = Valor Adicionado 1. Produção de trigo (fazenda) MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 36 2. Produção de farinha (moinho) 3. Produção de pão (padaria) $700 Cabe ressaltar que, para uma empresa, o valor adicionado consiste no valor de suas vendas menos o valor de suas compras de bens intermediários. No exemplo do quadro “Método do valor adicionado”, faz-se a suposição de que os produtores de trigo não compram bens intermediários de outras empresas (PASSOS; NOGAMI, 2016). Pode-se inferir, também, que o fazendeiro vende sua produção de trigo a um moinho por R$700,00. Já o dono do moinho processa o trigo, transformando-o em farinha, vendendo-a, posterior- mente, a uma padaria por R$1.000,00. O padeiro utiliza a farinha para fabricar o pão, vendendo-o aos consumidores por R$1.400,00. Assim, “o valor adicionado na produção de trigo é de $ 700; na produção de farinha adicionam-se $ 300 ($ 300 = $ 1.000 – $ 700); na produção de pão, finalmente, adicionam-se $ 400 ($ 400 = $ 1.400 – $ 1.000)” (PASSOS; NOGAMI, 2016, p. 376). A “soma dos valores adiciona- dos em cada estágio de produção totaliza $ 1.400 ($ 700 + $ 300 + $ 400), que é igual ao valor do pão, que é o produto final. Esse resultado não é fruto do acaso e origina-se do fato de que os dois métodos evitam a contagem dos bens intermediários” (PASSOS; NOGAMI, 2016, p. 376). 4.2 VALORES REAIS E NOMINAIS Existe um problema associado às medidas de atividade econômica: separar crescimentos de preços de crescimentos reais. Se, por exemplo, for observado que, entre dois períodos, o produto medido a preços correntes aumentou de R$ 10.000,00 para R$ 18.000,00, como se assegurar de que não foram somente os preços que aumentaram? Para responder a essa questão, inicialmente, é necessário conhecer o que é e como calcular o deflator do PIB. Em seguida, ver os aspectos do desempenho do PIB real versus nominal. O PIB nominal reflete tanto as quantidades de bens e serviços produzidos na economia quanto os seus preços. Todavia, mantendo os preços constantes nos níveis do ano-base, o PIB real reflete apenas a produção em quantidade (MANKIW, 2014). A partir dessas duas estatísticas, é possível calcular uma terceira, chamada de deflator do PIB, que representa uma medida utilizada para monitorar o nível médio de preços na economia e, consequentemente, a taxa de inflação. MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 37 Figura 02: Controle das Taxas Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/gr%c3%a1fico-diagrama-crescimento-3033203/ Cabe ressaltar que o deflator do PIB pode ser empregado para se obter a inflação do PIB nominal, isto é, deflacionar o PIB nominal devido a um aumento de preços (SAMPAIO, 2016). Assim, o deflator do PIB é calculado da seguinte forma: O PIB nominal e o PIB real devem ser iguais no ano-base e, por isso, o deflator do PIB para o ano-base é sempre igual a 100. Logo, o deflator do PIB para os anos seguintes mede a variação do PIB nominal a partir do ano-base, variação essa que não pode ser atribuída a uma variação do PIB real (SAMPAIO, 2016). Para verificar se é verdade que o deflator do PIB mede o nível de preços corrente em relação ao nível de preços do ano-base, considere dois exemplos. Primeiro, pense em uma situação em que que as quantidades produzidas na economia aumentem com o tempo, mas os preços permaneçam iguais. Nesse caso, tanto o PIB nominal quanto o PIB real aumentam em conjunto, de forma que o deflator do PIB seja constante. Agora, imagine que os preços aumentem com o tempo, entretanto as quantidades produzidas permaneçam as mesmas. Nesse segundo caso, o PIB nominal aumenta, mas o PIB real se mantém inalterado, de forma que o deflator do PIB também aumenta. Em ambos os casos, o deflator do PIB reflete o que está acontecendo com os preços, não com as quantidades. Os economistas utilizam o termo inflação para descrever ou expor uma situação na qual o nível geral de preços da economia aumenta. Nesse sentido, a taxa de inflação é uma alteração na porcentagem, em alguma medida, do nível de preços de um período para outro. Se o deflator do PIB aumentou em 2014 de 100 para 120, a taxa de inflação é 100 × (120 – 100) / 100, ou 20%. Em 2015, o deflator do PIB aumentou de 120, no ano anterior, para 240, portanto, a taxa de inflação é 100 × (240 – 120) / 120, ou 100%. Igualmente, a inflação pode ser medida pelo nível de preços, que é o acúmulo https://pixabay.com/pt/illustrations/gr%c3%a1fico-diagrama-crescimento-3033203/ MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 38 de inflações passadas. Se Pt-1 representa o nível de preços do ano passado e Pt representa o nível de preços de hoje. Cabe ressaltar que a mensuração da inflação seria simples se os preços de todos os bens crescessem proporcionalmente. Entretanto, quando um preço cresce mais rápido que o outro, o cálculo da inflação é realizado com base numa determinada cesta de bens e ser- viços que, muitas vezes, não reflete a realidade de alguns indivíduos. O PIB foidefinido anteriormente como o valor de mercado dos bens e serviços finais produzidos na economia, em um determinado período. Em outras palavras, o PIB é avaliado em termos monetários, levando em conta o preço de cada bem, no período em que esse bem foi produzido. Essa é uma medida satisfatória, caso se queira saber o valor do PIB de um ano qualquer. Sabe-se, porém, que, ano a ano, o PIB pode variar devido a um aumento (ou uma diminuição) de preços, devido a um aumento (ou uma diminuição) na quantidade de bens ou devido a ambos. Por essa razão, é importante saber que parte do aumento corresponde à quantidade de bens e serviços produzidos, e que parte do aumento corresponde à variação de preços. Cabe, destacar que, por definição, a renda nacional é igual ao produto interno líquido a custo dos fatores. Ainda, uma última medida utilizada na economia é a da renda disponível do setor privado, isto é, quanto o setor privado da economia teve a seu dispor como resultado da atividade econômica no período em questão. Partindo da renda nacional a custo dos fatores, há que se levar em consideração que os indivíduos precisam pagar impostos diretos, como Imposto de Renda de Pessoas Físicas, contribuições para o INSS ( Instituto Nacional do Seguro Social), dentre outros. Logo, ao serem deduzidos todos os abatimentos de contribuições compulsórias que o setor privado faz e acrescentadas todas as transferências do setor público para o privado (tais como pagamentos de aposentadorias, subsídios e outros), será obtida a renda que o setor privado teve a seu dispor, para consumo e poupança, como resultado da atividade econômica do período em questão. Os dados do PIB, também, são utilizados como uma medida do bem-estar dos residentes de um país, dando a entender que um aumento do PIB significa que as pessoas estão em melhor situação, mas tais dados estão longe da perfeição, tanto em relação ao produto quanto em relação ao bem-estar. Nesse sentido, há alguns problemas como produtos que são mensurados de forma deficiente, visto que não são comercializados no mercado. Por exemplo, se você assa bolos de chocolate, o valor MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 39 do seu trabalho não é contabilizado nas estatísticas oficiais do PIB. Se você comprar um bolo (sem dúvida, de qualidade inferior), o trabalho do confeiteiro é contabilizado. Assim, já houve diversas tentativas de se construir uma série de PIB ajustado que considere algumas dessas dificuldades, aproximando-se de uma medição do bem- estar. Há estudos que indicam que uma série do PIB ajustado, em seu nível real, é cerca de 50% maior do que as estimativas oficiais. ISTO ESTÁ NA REDE Link: https://www.youtube.com/watch?v=lVjPv33T0hk Ademais, o aumento da participação das mulheres na força de trabalho tem aumentado os valores do PIB oficial sem redução de compensação para a diminuição da produção caseira. O valor da creche é medido, mas a ação de cuidar de seus próprios filhos em casa não é contabilizada. Os serviços oferecidos pelo governo não são diretamente precificados pelo mercado. Ainda, alguns recursos são incluídos no PIB, mas, na verdade, são empregados para evitar ou conter males como crimes ou riscos à segurança nacional. ANOTE ISSO É difícil contabilizar, de forma correta, as inovações e o aperfeiçoamento na qualidade dos bens, por exemplo os computadores, dos quais a qualidade tem melhorado radical- mente, enquanto seus preços têm caído de modo significativo. É importante frisar que tal fato se aplica a, praticamente, todos os bens, como os automóveis, cuja qualidade se altera ao longo do tempo. https://www.youtube.com/watch?v=lVjPv33T0hk MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 40 CAPÍTULO 05 FLUTUAÇÕES ECONÔMICAS Introdução Olá Estudante, nesta unidade iremos abordar principais causas das flutuações econômicas. Para isso, você verá os componentes da demanda agregada em uma economia fechada sem governo e, em seguida, com governo; aprenderá sobre as relações do consumo, da poupança e do investi- mento, por meio da função consumo keynesiana e, na sequência, a função poupança; e, então, trabalhará a igualdade entre poupança e investimento. Você compreenderá os fatores que determinam a renda, bem como os componentes da renda de equilíbrio e, ainda, as mudanças nos investimentos e as flutuações na renda. Por fim, irá analisar o comportamento da renda (produto) em alguns países selecionados ao longo dos úl- timos anos, para se aprofundar na questão das flutuações econômicas, que, em grande parte, estão relacionadas a alterações na demanda agregada. Diante desse cenário, surge uma questão importante: Como o sistema econômico está vinculado ao comportamento da demanda agregada? 5.1 COMPONENTES DA DEMANDA AGREGADA O desempenho do sistema econômico, de alguma forma, está vinculado ao comportamento da demanda agregada. Assim, os níveis de emprego, o hiato do produto, as variações cíclicas do desemprego involuntário e os índices de desemprego estrutural são derivados da demanda efetiva. Nesse sentido, quando esses itens estão baixos, a taxa de ocupação dos recursos de produção também será baixa. Ainda, o comportamento da demanda agregada e suas pressões sobre a oferta agregada podem resultar em variações no índice geral de preços, Todavia, as quais podem, também, originar-se de movimentos nos custos da oferta agregada, o que levará a reações subsequentes que serão definidas pelas respostas da demanda agregada. MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 41 A demanda agregada desempenha um papel importante nos modelos de determinação do produto e da renda nacional de equilíbrio, sob diferentes níveis de emprego e de preços. Nesse sentido, é importante conhecer o comportamento e os fatores determinantes de cada um de seus componentes. Inicia-se, assim, o estudo sobre os principais componentes da demanda agregada e sobre como ela interage com a oferta para determinar a produção e os preços. Para isso, é necessário conhecer como a demanda agregada influencia o produto em uma economia fechada e sem governo e, em seguida, em uma economia fechada e com governo. 5.2 ECONOMIA FECHADA E SEM GOVERNO Para entender o funcionamento do sistema econômico, conheça, agora, os determinantes da demanda, isto é, a renda de uma economia. Para isso, inicialmente, serão apresentados os agentes econômicos, como trabalhadores, empresários e o governo. Nesse sentido, preliminarmente, será montado um sistema econômico bem simples, no qual haja apenas trabalhadores e empresários, sendo uma economia fechada (não há setor externo) e sem governo. Figura 01: Construção Econômica Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/homem-figura-brinquedo-76196/ Assim, nesse tipo de economia, os trabalhadores e os empresários produzem bens e serviços que são consumidos por eles. Os trabalhadores oferecem sua força de trabalho e os empresários oferecem as demandas. Nesse sentido, ao conjunto de https://pixabay.com/pt/illustrations/homem-figura-brinquedo-76196/ MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 42 empresas numa economia dá-se o nome de capacidade produtiva, representada pela letra K, que também pode ser denominada capital. Se a poupança for igual ao investimento, é possível dizer que o sistema econômico está em equilíbrio. Como você entende a relação entre poupança e investimento? Até o momento, tem sido trabalhada uma economia que funciona de acordo com a Lei de Say, ou seja, tudo o que foi produzido, foi consumido. No entanto podem ocorrer falhas no processo montado, visto que os empresários podem não aplicar toda sua poupança em um investimento produtivo. De acordo com Silva e Luiz (2010), se os empresários estiverem pessimistas em relação ao futuro da economia, certamente não acreditarão no crescimento de seus negócios e não realizarão o investimento.Dessa forma, a poupança fica maior do que o investimento ou a demanda será menor do que a oferta. Assim, se a situação persistir, haverá aumento dos estoques, as empresas terão que reduzir a produção, demitirão funcionários e haverá recessão e desemprego. Essa é apenas uma das possíveis razões para a ocorrência de uma falha, isto é, a demanda ser menor que a oferta em um dado momento. 5.3 ECONOMIA FECHADA E COM GOVERNO Agora, o setor público será introduzido, ou seja, o governo, que interfere na divisão do produto e influencia o lado da demanda. O governo, então, também realiza despesas de consumo e de investimento, as quais são denominadas gastos do governo (G). Dessa forma, “tudo o que é produzido pela economia destina-se ao consumo das unidades familiares e investimento das empresas, bem como para o consumo e investimento do governo” (PASSOS; NOGAMI, 2016, p. 388). Para que o governo realize suas despesas de consumo e investimento, é necessária a receita, comumente obtida mediante os impostos (T) pagos pela sociedade. Nessa perspectiva, a inclusão do governo na economia permite analisar a pou- pança de forma mais detalhada. Assim, é possível reescrever a igualdade fundamental da macroeconomia: Considerando que S = Y - C, tem-se que I = (RN - T) = (T - G). Na expressão anterior, a poupança pode ter duas origens: o setor privado (RN - T) e o governo (T - G) (PASSOS; NOGAMI, 2016). Notadamente, se o governo gastar mais do que ganha, seu déficit será financiado pelo setor privado. Diante disso, são consideradas três situações: MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 43 • (T – G) = 0. Ocorre equilíbrio no orçamento do governo e poupança governamental nula, isto é, o que o governo gasta é igual ao que arrecada. • (T – G) > 0. Nesse caso, o governo tem um superávit, ou seja, uma poupança. • (T – G) < 0. Nesse caso, o governo tem um déficit. Quando isso ocorre, não só o governo não poupa, como também toma emprestado do setor privado para cobrir suas despesas. Figura 02: Desenvolvimento Econômico Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/refugiados-refugiados-econ%c3%b4micos-1015294/ Assim, numa economia fechada e com governo, o PIB é composto por consumo, investimento e gastos do governo, que são expressos na identidade das contas nacionais (Y = C + I + G). Nesse tipo de economia, as famílias recebem a renda, pagam impostos ao governo e decidem quanto consumir e quanto poupar da renda remanescente após o pagamento dos impostos. A renda que as famílias recebem é igual ao produto da economia (Y) e o governo, então, tributa as famílias em um montante (T). Assim, a renda remanescente após o pagamento de todos os impostos (Y – T) é denominada renda disponível (MANKIW, 2014). Com sua renda disponível, as famílias decidem entre consumo e poupança. Partindo do pressuposto de que o nível de consumo depende da renda disponível, uma maior renda disponível leva a um maior consumo, de forma que C = C (Y – T) (MANKIW, 2014). Essa relação entre consumo e renda disponível é chamada função consumo, em que a propen- são marginal a consumir (PMgC) é o montante no qual o consumo se modifica quando a renda disponível aumenta em uma unidade de moeda corrente. Entretanto a PMgC fica entre zero e um, visto que o aumento na renda faz aumentar o consumo em um montante inferior ao aumento na renda (MANKIW, 2014). Não obstante, quando as famílias obtêm mais moeda, tendem a poupar uma parcela dessa unidade para investimento. Assim, tanto as famílias quanto as empresas https://pixabay.com/pt/photos/refugiados-refugiados-econ%c3%b4micos-1015294/ MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 44 adquirem bens de investimento. As famílias adquirem novas casas e também podem investir na abertura de empresas que têm como objetivo aumentar o seu estoque de capital ou substituir o existente (MANKIW, 2014). Entretanto, a quantidade demandada de bens de investimento tem uma relação direta com a taxa de juros, visto que se remete aos custos dos recursos utilizados para financiar o investimento, isto é, para que um projeto seja lucrativo, sua receita tem que ser maior que seu custo. Agora se a taxa de juros aumenta, ou se for muito alta, uma quantidade menor de projetos passa a ser lucrativa na economia e, consequentemente, a demanda por bens de investimento é reduzida. Por exemplo, uma empresa está ponderando se deve ou não ampliar a fábrica utilizando um valor de dois milhões de reais que proporcione um retorno de 200 mil reais por ano, ou 10% (MANKIW, 2014). A empresa compara esse retorno com o custo de tomar emprestado dois milhões. Se a taxa de juros estiver abaixo de 10%, a empresa toma emprestado o dinheiro no banco, por exemplo, e faz o investimento. Se a taxa de juros estiver acima de 10%, a empresa desiste da oportunidade de investimento e não amplia a fábrica (MANKIW, 2014). Mesmo que a empresa tenha o dinheiro disponível e não precise pegar emprestado, ela utilizará a mesma análise para tomar a decisão. Isso porque se a taxa de juros for muito alta, o empresário não arriscará seu patrimônio em uma expansão, sendo que poderá ganhar a mesma quantia em forma de juros, aplicando seus recursos no mercado financeiro. Assim, o investimento tem uma relação inversa com a taxa de juros, isto é, um aumento da taxa de juros reduz investimentos e uma redução da taxa de juros aumenta investimentos. Agora, será tratado o terceiro componente da demanda por bens e serviços: os gastos do governo. Os governos adquirem armamentos, constroem escolas, estradas, estádios e pagam o funcionalismo público. Ainda, há outro tipo de gasto, que engloba as transferências de rendas para as famílias, por meio de programas sociais e pagamentos de aposentadorias (SAMPAIO, 2016). Ademais, os pagamentos de transferências afetam a demanda por bens e serviços, de forma indireta, à medida que essas transferências aumentam a renda disponível das famílias. Se os gastos do governo forem iguais aos tributos (G = T), tem-se um orçamento do governo equilibrado. Se os gastos excedem os tributos, o governo incorre em um deficit orçamentário. Esse deficit é financiado com a emissão de títulos da dívida pública, isto é, emprestando o dinheiro no mercado financeiro. Por outro lado, se os gastos forem menor que os tributos, o governo incorre em um superávit orçamentário, ao qual pode recorrer para saldar uma parcela remanescente de sua dívida. MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 45 5.4 CONSUMO, POUPANÇA E INVESTIMENTO Agora, serão tratados consumo, poupança e investimento em uma economia. Para isso, inicialmente, você conhecerá um pouco sobre o comportamento das despesas de consumo em uma economia. Nesse contexto, será utilizado o exemplo de uma família cujo padrão pode ser generalizado para a economia como um todo. Dessa forma, quais são os fatores que determinam o consumo de uma família? A renda é, comumente, o fator mais importante na determinação das despesas de consumo de uma família. 5.5 PONTO DE EQUILIBRIO O ponto de equilíbrio da família é o nível de renda de R$6.000,00, que dá uma despesa de consumo de R$6.000,00 (ponto C na curva de consumo), isto é, a renda igual ao consumo. Nesse ponto, há a intersecção da curva de consumo com a reta de 45o. Até esse ponto, a poupança era negativa. No ponto de equilíbrio, a família consegue se manter sem recorrer a empréstimos, mas também sem poupar. No nível de renda de R$7.000,00 (ponto D na curva de consumo), as despesas de consumo são de R$6.700,00, isto é, existe uma poupança de R$300,00. “Devemos observar que, à direita do ponto de equilíbrio, a distância vertical entre a linha de consumo e a reta diretriz nos dá o valor da poupança” (PASSOS; NOGAMI, 2016, p. 398). Como se sabe, a poupança é obtida mediante a diferença entre a renda e o con- sumo (S = Y – C). Nessa perspectiva, se o consumo depende darenda, a poupança também depende. Na parte 2 da figura “Representação gráfica do consumo e da poupança”, o valor da poupança está no eixo vertical e a renda disponível no eixo horizontal. “O ponto A’ corresponde ao nível de renda de $ 4.000 e despoupança de $ 600; o ponto B’ corresponde ao nível de renda de $ 5.000 e uma despoupança de $ 300. Já o ponto C’ corresponde ao nível de renda de $ 6.000 e poupança zero” (PASSOS; NOGAMI, 2016, p. 398). Nesse ponto, a curva da poupança intercepta o eixo da renda. A partir desse momento, se a renda aumentar, a poupança vai se tornar positiva (a curva ficará acima do eixo da renda). Assim, “ao nível de renda de $ 7.000 teremos uma poupança de $ 300 (ponto D’ na curva de poupança), ao nível de $ 8.000 teremos uma pou- pança de $ 600 (ponto E’ na curva de poupança) e assim por diante” (PASSOS; NOGAMI, 2016, p. 398). MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 46 Nesse sentido, há a propensão marginal a consumir e a propensão marginal a poupar, conforme pode ser verificado no quadro “Propensão marginal a consumir e propensão marginal a poupar”. A propensão marginal a consumir (PMgC) é a variação no consumo resultante de uma variação na renda. Já a propensão marginal a poupar (PMgS) é a variação da poupança decorrente da variação na renda (PASSOS; NOGAMI, 2016). A propensão marginal a poupar determina o nível de poupança de uma economia que pode ser utilizada para um consumo futuro ou um investimento em acúmulos de bens de capital, como edifícios e equipamentos, aumentando o produto nacional de uma economia ao longo do tempo. 5.5 FUNÇÃO DE CONSUMO KEYNESIANA A função consumo, criada por Keynes para designar a parte da renda que é despendida em consumo, baseia-se na Lei Psicológica Fundamental, que ressalta: “Os homens estão dispostos, quase sempre e em média, a aumentar seu consumo à medida que a sua renda aumenta, mas não pela quantia do aumento em sua renda” (SAMPAIO, 2016, p. 402). Nesse sentido, a renda influencia a determinação do consumo. Logo, as despesas de consumo dependem da renda disponível das famílias, isto é, variam diretamente com ela. Assim, é possível descrever a função consumo. A renda (Y) é a variável independente e o consumo é a variável dependente. Nessa perspectiva, a função consumo trata da relação entre o consumo e a renda (PASSOS; NOGAMI, 2016). Assim, essa função mostra o nível de despesas às quais os indivíduos estão dispostos a incorrer na aquisição de bens e serviços em todos os níveis de renda (PASSOS; NOGAMI, 2016). Supondo que as despesas de consumo dependem da renda, é possível definir a função consumo como ponto de equilíbrio. É a partir da combinação desses fatores apresentados que surge a divisão internacional do trabalho e a especialização das nações (PASSOS; NOGAMI, 2016), a qual leva os países a ganharam com o comércio. Os preços determinados pela troca levam os produtores, necessariamente, a aumentarem a produção da mercadoria que tem vantagem comparativa, porque essa mercadoria tem preço relativamente maior no mercado mundial do que autarquicamente. A especialização completa quer dizer que todos os recursos são dedicados à produção de uma mercadoria, sem a produção de nenhuma outra (APPLEYARD et al., 2010). Se os dois países alterarem seus padrões de produção e se empenharem MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 47 na especialização completa das mercadorias nas quais têm vantagem comparativa, cada um aumentará cada vez mais seus ganhos com o comércio. Vejamos um exemplo em que o país A produz apenas tecido, e o país B produz apenas vinho. Eles trocam 2 mil barris de vinho por 5 mil jardas de tecido. Assim, o país A consumi- ria 4 mil jardas de tecido (9 mil jardas produzidas e 5 mil jardas exportadas) e 2 mil barris de vinho importados. Uma combinação tem um valor-trabalho para o país A de 10 mil horas (4 mil horas para tecido, visto que cada unidade de tecido requereria 1 hora, e 6 mil horas para vinho, já que cada uma das 2 mil unidades de vinho requereria três horas), o que é maior que o valor- trabalho de remuneração em qualquer nação, ou no caso de comércio sem modificação de produção. Dessa forma, se há uma base para a troca, ela, automaticamente, leva um país à completa especialização da mercadoria na qual tem vantagem comparativa. O consumo mantém-se diversificado nos produtos, conforme ditado pelas preferências dos consumidores. ISTO ESTÁ NA REDE Link: https://www.youtube.com/watch?v=iXqU-w2dxuY Entretanto é importante apontar as limitações desse conjunto de proposições. Uma das premissas para que a teoria da dotação relativa dos fatores pudesse encontrar validade estava localizada na necessidade de estabelecimento do livre-comércio. A presença de barreiras, tarifas, controle de comércio ou, ainda, de custos de transporte pode inviabilizar a validade do conjunto de trocas entre as nações. ANOTE ISSO A proporção dos fatores de produção de cada país determina seu padrão de importação e exportação. De acordo com os neoclássicos, o processo de troca entre duas nações deve observar o fato de que os países sempre tendem a exportar mercadorias provenientes de seus recursos produtivos mais abundantes e tendem a importar bens cujos recursos sejam mais escassos (SAMPAIO, 2016). Assim, pode- se explicar o comércio entre países como o Brasil, que exporta produtos primários (por ter abundância de mão de obra) e importa do Japão produtos industrializados (com abundância de capital). https://www.youtube.com/watch?v=iXqU-w2dxuY MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 48 CAPÍTULO 06 TEORIAS ECONÔMICAS Introdução Olá Estudante, neste momento vamos conversar sobre as Teorias Econômicas, devido à complexidade da ciência econômica, como você já deve ter percebido ao longo de sua caminhada de estudos neste curso, para poder entender os fenômenos econômicos, interpretá-los e adotar medidas de intervenção, a macroeconomia adota uma metodologia própria de análise. Isso porque, para compreender a macroeconomia é preciso levar em consideração uma série de variáveis interligadas, como o próprio conceito já sinaliza (recordar também é aprender). “A macroeconomia estuda a economia como um todo, analisando a determinação e o comportamento de grandes agregados, tais como: renda e produto nacionais, nível geral de preços, emprego e desemprego, estoque de moeda e taxas de juros, balanço de pagamentos e taxa de câmbio” (VASCONCELLOS; GARCIA, 2005, p. 86). Desta forma, neste momento você verá que a macroeconomia se utiliza de dados (que também podemos chamar de indicadores) para conhecer a situação de determinado país, região, estado, município, interpretar estes dados (indicadores), criando novas ou reafirmando teorias já existentes, para então pôr em prática medidas de política macroeconômica que visam intervir nessa realidade com o objetivo de modificá- la, sanando ou diminuindo a intensidade de problemas econômicos existentes na sociedade. 6.1 DADOS ECONÔMICOS Para que as intervenções efetuadas no sistema econômico sejam eficientes é necessário observar os fatos que partem de uma dada realidade. Para isso, diversas variáveis são utilizadas, como o nível de preços, o nível de produção e consumo, a renda nacional, taxas de desemprego, taxas de juros, dentre outras. Esses dados não são apresentados de forma isolada, mas acompanhados sistematicamente, formando MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 49 um todo estatístico que visa à identificação da tendência e do ciclo. Por exemplo, quando analisamos a evolução da taxa de desemprego no Brasil, podemos constatar tendências de queda e de alta quando analisamos um período de tempo relativamente longo. Assim, como podemos ver na figura, a partir de 2004 se observa uma tendência de baixa na taxa de desemprego, que perdura até o ano de2014, quando inicia uma forte tendência de alta. Isoladamente este indicador é importante, mas não consegue explicar o comportamento da economia como um todo; entretanto, quando confrontado com outros indicadores, como nível de produção, renda agregada, dentre outros, fornece um conjunto de informações que permite traçar com maior precisão um diagnóstico da realidade para, a partir deste diagnóstico, propor alguma intervenção. 6.2 TEORIAS ECONÔMICAS Ao longo da evolução da ciência econômica, diversas teorias foram construídas para explicar os fenômenos econômicos, analisar tendências e efetuar prognósticos. Para exemplificar, abordaremos a teoria dos ciclos econômicos. Para Nikolai D. Kondratiev (1992), o modo de produção capitalista é caracterizado pela ocorrência de ciclos econômicos ou movimentos cíclicos de ondas longas, de 40 a 60 anos, de variação de toda atividade econômica (industrial, agrícola e comercial) de um país ou de um conjunto de países. Vivemos períodos de prosperidade quando ocorre uma expansão econômica, seguidos de períodos de crise econômica, marcada pela recessão e depressão, e, finalmente, um novo intervalo de crescimento ou de recuperação econômica. “O estudo dos ciclos econômicos está intimamente ligado ao das crises, que podem ser caracterizadas como um momento descontínuo desastroso de uma evolução cíclica contínua” (SANDRONI, 1989, p. 47). As crises são inerentes ao modo de produção capitalista. De certa forma, podemos compreender essa teoria quando analisamos as grandes crises do capitalismo, citando a de 1929 e a de 2008, consideradas as mais graves e abrangentes. Ao contrário do que muitos economistas imaginavam, essas crises não provocaram a queda do capitalismo ou sua substituição por outro sistema, apenas exigiram mudanças na forma como a economia se desenvolveria. Aprimorando a teoria de Kondratiev, Joseph Schumpeter (1883-1950), Ignácio Rangel (1914-1994) e Ernest Mandel (1923-1995) também se debruçaram sobre a teoria dos ciclos econômicos. MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 50 Assim, com base na realidade econômica, diversas teorias foram elaboradas pelas escolas de pensamento econômico e podem ser aplicadas para explicar determinados fenômenos e sua evolução. 6.3 POLÍTICA MACROECONÔMICA A política macroeconômica nada mais é do que um conjunto de ações governamentais desenvolvidas para o alcance de diferentes finalidades que estão intrinsecamente relacionadas com a situação econômica de um país e mesmo de uma respectiva região, conjunto de países ou de blocos econômicos. Tais ações são executadas por diferentes agentes de política econômica, como o Governo Federal, no caso de um país, bem como organismos internacionais como o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial, a Comissão Jurídica Interamericana da Organização dos Estados Econômicos (CJI-OEA), Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Comissão Econômica das Nações Unidas para a América Latina e o Caribe (CEPAL), Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), blocos econômicos regionais como a União Europeia, Mercado Comum do Sul (MERCOSUL), dentre outros. A macroeconomia se utiliza de dados, teorias e políticas para explicar tanto os fenômenos que são considerados macro, quanto para diagnosticar suas causas e propor soluções por meio dos instrumentos de política macroeconômica. Os dados (indicadores) fornecem informações importantes para um diagnóstico mais preciso da realidade, sendo que diversos indicadores devem ser utilizados neste levantamento, como os níveis de produção e de renda, produção industrial, desemprego, inflação, dentre outros. Figura 01: Indicadores Economicos Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/bolsa-de-valores-ganhar-estrondo-3087396/ https://pixabay.com/pt/photos/bolsa-de-valores-ganhar-estrondo-3087396/ MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 51 As teorias visam explicar os fenômenos ocorridos, como as crises e as fases de ascensão da economia, e podem variar substancialmente de uma para outra, de acordo com a ideologia utilizada pelo pensador e a corrente de pensamento a que o economista pertença ou seja o criador. De posse dos dados e das teorias, a política macroeconômica é a aplicação de um conjunto de medidas que visa intervir na realidade diagnosticada, utilizando determinada teoria econômica que seja considerada a ideal pelo seu agente (no caso do Governo Federal, seria o ministro da Fazenda). 6.4 CONTROLES ECONÔMICOS E MERCADO FINANCEIRO Vamos analisar o mercado de bens e serviços num contexto macroeconômico, assim temos a oferta e a demanda de bens e serviços. O nível geral de preços e o nível agregado de produção são determinados por outras duas variáveis: a evolução do nível de demanda e oferta agregada de bens e serviços. Você saberia dizer como se forma a demanda agregada? Esta depende somente dos consumidores ou há outros setores econômicos envolvidos? Para responder a estas perguntas, vamos a um exemplo: afirmamos anteriormente que o fluxo real da economia é constituído pelo mercado de bens e serviços e pelo mercado de trabalho. Temos aqui dois agentes importantes: os consumidores, que demandam bens e serviços, e as empresas, que demandam força de trabalho e demais fatores produtivos. Mas a demanda agregada depende ainda de dois outros setores importantes: o primeiro é o governo, que demanda bens e serviços e força de trabalho para executar as ações governamentais. O segundo é o setor externo, já que, como sabemos, há uma interdependência entre os países, pois o que não produzimos internamente ou produzimos de forma ineficiente pode ser suprido pelas importações, e o que excede a demanda nacional pode ser exportado (apesar de ser mais comum encontrar na literatura apenas três agentes: famílias/consumidores, empresas e governo). Por outro lado, a oferta ou produção agregada depende da evolução do nível do emprego e da capacidade instalada da economia. Por isso, como verificamos nas situações de crise, que podem ser ocasionadas por um fenômeno inflacionário, por exemplo, a diminuição da demanda agregada interfere MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 52 no nível de emprego, pressionando-o para baixo, o que impacta também no nível de preços e a utilização da capacidade instalada de produção. E qual é a condição de equilíbrio do mercado de bens e serviços? A cada dia as relações sociais e econômicas se tornam mais virtuais, você deve ter percebido que o mercado financeiro também tem se tornado de difícil operacionalização e até de entendimento por parte dos leigos no assunto. A moeda, que é um ativo financeiro, portanto, pertencente ao Sistema Financeiro Nacional, é também uma mercadoria (e por isso tem seu preço definido pelo mercado) que serve de equivalente geral para todas as demais, pois os preços dos demais bens e serviços são expressos em moeda corrente. Você sabe o que é e para que serve o mercado financeiro? • O que é: conjunto de instituições e instrumentos de intermediação de recursos financeiros. • Função: transferência de recursos dos agentes econômicos superavitários para os deficitários. • É semelhante à ideia de mercado de bens e serviços, o que muda é a mercadoria que, no caso, são ativos financeiros (moeda nacional e estrangeira, ações, títulos públicos e privados, commodities, mercado de opções: uma espécie de apólice de seguro). • Os intermediários financeiros não trabalham com recursos próprios, repassando recursos dos ofertadores para os receptores. • São responsáveis pela criação de condições para que os títulos e valores mobiliários tenham liquidez no mercado. Quanto maior a quantidade de moeda circulando numa economia, menor tende a ser o seu preço, já que a moeda também é uma mercadoria. Quando há uma diminuição da quantidade de moeda disponível, a tendência é que ocorra uma elevaçãoem seu preço, que é determinado pela taxa de juros. A taxa básica de juros da economia brasileira já deve ser conhecida por você, já que o noticiário divulga de tempos em tempos mudanças na taxa, que são determinadas pelo Conselho de Política Monetária (COPOM), órgão vinculado ao CMN, órgão do qual integra, dentre outros, o Ministro da Fazenda, certo? Essa mesmo, a SELIC, sigla de Sistema Especial de Liquidação e Custódia. MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 53 Historicamente, em comparação com outros países, a SELIC tem destaque por ser uma das mais altas do mundo (em termos reais). De fato, ainda no início de 2017 (com 12,90% a.a.) era a maior no ranking que leva em conta 40 países, finalizando o ano com a taxa de 6,90% a.a. No início de 2018, caiu de quarto para quinto lugar, passando para 6,75% a.a. (BANCO CENTRAL, 2018). “Essa é a menor taxa nominal da série histórica, que tem início em 1986. Com a Selic em 6,75% ao ano, os juros reais, ou seja, descontada a inflação, atingiram 2,89% ao ano. Atrás do Brasil estão: Argentina: 6,05%; Turquia: 5,31%; Rússia: 3,68%; México: 3,66%” (MARTELLO, 2018). A SELIC é considerada a taxa básica da economia porque serve de referência para as demais taxas de juros cobradas pelas instituições financeiras. Assim, quanto mais alta é a SELIC, mais “cara” a moeda se torna e, assim, mais difícil o acesso ao crédito, o que interfere de forma direta sobre a economia, podendo gerar depressão econômica. 6.5 MERCADO DE DIVISAS Utilizando a mesma dedução utilizada para analisar os demais mercados, no mercado de divisas existe equilíbrio quando: Mas o que são divisas? Divisas é o nome dado às moedas estrangeiras, que são utilizadas para as transações entre os países, hoje cada vez mais globalizados. E como as divisas são precificadas? Como sabemos, as moedas também são mercadorias e as divisas têm seu preço determinado pela taxa de câmbio. A taxa de câmbio, por sua vez, é o valor que se paga, em moeda nacional, por uma unidade de moeda estrangeira, que pode ser o dólar, euro, ou qualquer moeda aceita no mercado de câmbio. Figura 02: Estrutura Econômica Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/an%c3%a1lise-pagar-pessoas-de-neg%c3%b3cio-680572/ https://pixabay.com/pt/illustrations/an%c3%a1lise-pagar-pessoas-de-neg%c3%b3cio-680572/ MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 54 A moeda oficial utilizada nas transações internacionais é o dólar americano. Com a crise financeira internacional de 2008, iniciada nos Estados Unidos, tendo como ponto de partida a crise imobiliária, chegou-se até mesmo a discutir a substituição do dólar como meio de pagamento oficial, mas ainda não se chegou a um consenso sobre como seria possível utilizar um novo instrumento, já que todas as moedas estão vinculadas ao seu país de origem e, por isso, sofrem influência dos fenômenos econômicos internos. Mas como é que se determina a taxa de câmbio, então? A taxa de câmbio é determinada pela relação entre a demanda e a oferta de moeda estrangeira. Quem são os demandantes e ofertantes nesse mercado? Vejamos: quando um agente importador brasileiro fecha um contrato de importação, por exemplo, com os Estados Unidos, pelo valor estipulado de U$ 2.000,00, este valor não pode ser pago em reais. Logo, convertendo pela taxa de câmbio vigente na transação, que era de, suponhamos, U$ 3,00, o importador pagará R$ 6.000,00 ao agente de câmbio e terá os dólares necessários para efetuar a transação. Assim, além do importador e do exportador, qualquer pessoa física (mesmo você ou alguém da sua família quando viaja para o exterior ou faz uma compra internacional), empresário ou agente público que precise efetuar uma transação com o exterior, necessita comprar ou vender moeda estrangeira e a relação entre estes demandantes e ofertantes é que vai determinar a taxa de câmbio daquele dia. Quando você estudar economia internacional irá aprofundar esses conceitos. Por ora é importante que você entenda que quando há um desequilíbrio entre oferta e demanda de moeda estrangeira, sempre um dos agentes econômicos fica prejudicado. Quando a taxa de câmbio está valorizada (dólar mais caro, por exemplo), significa que o Brasil tem que desembolsar mais reais na transação, o que prejudica especialmente os importadores, e quando a taxa de câmbio está desvalorizada (dólar mais barato), os exportadores se sentem prejudicados porque recebem menos reais para cada unidade de moeda estrangeira paga pelos produtos exportados. Na contabilidade social (ou nacional), quando estudamos uma das suas contas, que é o balanço de pagamentos, você verá que quando exportarmos menos (produtos e serviços, capitais, mão de obra etc.) do que importamos, teremos um déficit em nosso balanço de pagamentos (ou seja, ficamos devendo para o exterior) e quando ocorrer o contrário, seremos superavitários nas nossas contas com o exterior, então buscar esse equilíbrio e, na medida do possível, o superávit com o setor externo é uma das metas de política econômica dos países. MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 55 Por fim, agora que já tratamos dos mercados que compõem o lado real e monetário da economia, você deve ter percebido o quanto todos esses mercados estão inter- relacionados. Assim, um desequilíbrio havido em um desses mercados poderá levar a um desequilíbrio em todo o sistema econômico. Se ocorre uma diminuição da renda nacional (composta pela remuneração na forma de salários, juros, lucros e aluguéis), poderá ocorrer uma diminuição das despesas com consumo, desencadeando uma diminuição da produção e do nível de emprego, que por sua vez poderá levar a uma queda no investimento produtivo, interferindo nas relações com o setor externo, que consequentemente afetam tanto o lado real como monetário da economia. ISTO ESTÁ NA REDE Link: https://www.youtube.com/watch?v=s_8Wk_GUtAc De posse dos dados fornecidos pelas estatísticas econômicas e baseados nas teorias que mais se adéquam à ideologia adotada pelo governo é que se aplicam as políticas macroeconômicas de intervenção na sociedade, visando corrigir distorções, solucionar problemas, superar crises. Quando afirmamos que a política macroeconômica adotada tem um componente ideológico é porque partimos do pressuposto de que não existe neutralidade na ciência econômica, pois cada teórico tem maior afinidade com dada teoria ou então cria a sua própria, refutando assim as demais. ANOTE ISSO Em nível de Governo Federal, este pode intervir na esfera econômica por meio das políticas monetária, fiscal, cambial e comercial e de rendas. Exemplificando, imaginemos que o governo queira estimular o crescimento de determinado setor de atividade econômica, tornando-o mais forte no país para competir em condições de igualdade com seus concorrentes no exterior. O que ele pode fazer? Lançar mão tanto de política fiscal (concedendo um plano de acesso a financiamentos com taxas de juros mais baixas ou diminuindo alíquotas de impostos, este é denominado de renúncia fiscal), quanto da política comercial (impondo barreiras tarifárias ou não tarifárias ao produto proveniente do exterior). https://www.youtube.com/watch?v=s_8Wk_GUtAc MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 56 AULA 07 CONSTITUIÇÃO ECONÔMICA NO BRASIL Introdução Olá Estudante, vimos anteriormente que a política macroeconômica é um conjunto de ações governamentais desenvolvidas para o alcance de diferentes finalidades, que estão intrinsecamente relacionadas com a situação econômica de um país e mesmo de uma respectiva região, conjunto de países ou de blocos econômicos. Entretanto, para que o governo possa de fato interferir na economia de um país é necessária uma legislação que legitime e ampare esta intervenção. Nesta unidade, você verá o que trata a Constituição da República Federativa do Brasil (CRFB) de1988 a respeito dos casos em que o Estado pode intervir na economia, bem como verificará que são cinco os principais objetivos (finalidades, metas) de política macroeconômica listados pela literatura econômica: • Alto nível de emprego. • Estabilidade de preços. • Crescimento econômico. • Distribuição equitativa da renda. • Equilíbrio nas contas externas. 7.1 A CONSTITUIÇÃO ECONÔMICA DO BRASIL No caso do Governo Federal é a Constituição da República Federativa do Brasil (CRFB) de 1988 que estabelece a forma pela qual irá acontecer esta intervenção. No seio da CRFB está estabelecida a Constituição Econômica, ou seja, as normas e princípios que regem a intervenção do Estado na economia. O Título VII da CRFB, que trata da Ordem Econômica e Financeira, reza, no Capítulo 1 (dos princípios gerais da atividade econômica), em seu art. 170 que: MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 57 Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: I- soberania nacional; II- propriedade privada; III- função social da propriedade; IV- livre concorrência; V- defesa do consumidor; VI- defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação; VII- redução das desigualdades regionais e sociais; VIII- busca do pleno emprego; IX- tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no País. Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei (BRASIL, 1988, s.p.). É atribuição do Estado assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social. Afinal, o que isso significa, na prática? É isso mesmo o que você deve estar pensando: o que nós abordamos no início deste material didático, sobre o objeto da economia, podemos nos referir novamente, acrescentando o que hoje é também papel do Estado: atender às necessidades de toda a sociedade e não apenas de alguns grupos econômicos. Ao longo da história do capitalismo, podemos observar que este é um modo de produção que cria e reproduz desigualdades, já que se trata de uma sociedade dividida em duas classes sociais: o capital e o trabalho, sendo este último o lado mais fraco nesta relação. Assim, garantir uma existência digna implica em executar ações que façam com que todos tenham acesso à moradia, educação, saúde, segurança, inclusão social, um meio ambiente preservado, direitos de consumidor assegurados, redução das desigualdades regionais e assim por diante. E, ainda, garantindo a soberania nacional. Mas o que isso significa? Na etimologia da palavra, “soberania é a qualidade de algo ou alguém que é soberano, isto é, uma autoridade superior (com mais poder e domínio) em comparação aos demais” (SIGNIFICADOS, 2018, s.p., grifo do original). Desse modo, podemos citar que nas monarquias o rei era o soberano, aquele que fazia as leis e as impunha aos seus súditos, independentemente da vontade destes. MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 58 Já em um Estado Republicano, como é hoje a maioria dos países, a soberania deveria pertencer ao povo. Assim, de acordo com Rousseau (1973), a soberania não é outra coisa, senão o exercício da vontade geral, sendo esta a vontade do povo e tendendo sempre ao bem comum. Com relação à soberania nacional econômica, que em nosso caso é a que mais nos interessa, frente aos demais países, de acordo com Noble (2014, s.p.): São elementos centrais da soberania econômica de um país, fundamentalmente em tempos de globalização: a defesa da produção nacional, a conquista de novos mercados no exterior, com o consequente crescimento da participação do país no mercado internacional, o equilíbrio das contas externas, e a geração de uma tecnologia nacional altamente competitiva. Figura 01: Desenvolvimento das Atividades Econômicas Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/dedo-toque-m%c3%a3o-estrutura-internet-769300/ Infelizmente, no caso do Brasil, a soberania nacional, tão intensamente defendida na Constituição de 1988, vem sofrendo consecutivos ataques nos últimos anos desta década. Assim, no que se refere à defesa da produção nacional, especialmente em tempos de globalização, o Estado deveria proteger as empresas nacionais em detrimento das estrangeiras. Quando uma empresa brasileira fecha, em decorrência de uma falência pela concorrência com outra externa, empregos, renda e riqueza do país também são afetados diretamente. Vemos que as multinacionais avançam sobre o Brasil de forma assustadora nas últimas décadas para explorar nossas riquezas naturais, nossa diversidade biológica https://pixabay.com/pt/illustrations/dedo-toque-m%c3%a3o-estrutura-internet-769300/ MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 59 e até nossos empregos, além do fato de que a riqueza gerada por essa exploração é levada para fora do país, na forma de lucros e dividendos para a multinacional. Para que o Brasil possa ter destaque no comércio mundial, o governo deve adotar estratégias de inserção que aumentem sua soberania nacional, ou seja, não deve ser dominado por outro país ou por um conjunto de outros países, como acontece no caso do domínio americano sobre muitas nações. No que se refere à geração de uma tecnologia nacional altamente competitiva, as privatizações que se intensificaram no Brasil a partir de 1990, além de contribuírem para a desnacionalização da economia brasileira, aceleraram o processo de “desindustrialização” (diminuição do número de indústrias) no país. Com certeza você sabe o que significa privatização. Em todo caso, de acordo com Pena (2018, s.p.), “entende-se por privatização o processo de transferência de órgãos ou empresas estatais (pertencentes ao Estado, portanto, públicos) para a iniciativa privada por meio da realização de vendas, que costumam ser instrumentalizadas a partir de leilões públicos” (grifo do original). Isso quer dizer que um patrimônio que antes era público (em outras palavras, do povo), passa para as mãos da iniciativa privada, a exemplo do que ocorreu com a Companhia Vale do Rio Doce, em 1997, quando foi vendida por R$ 3,3 bilhões, o que, de acordo com Sthephanowitz (2018), equivalia a apenas 3,3% do valor estimado de suas reservas de minério de ferro, que era de R$ 100 bilhões na época. Assim, mais de uma centena de empresas públicas já foram privatizadas nas últimas décadas, deixando o Brasil ainda mais subserviente aos interesses do capital internacional, de acordo com as recomendações que foram ditadas pelo Consenso de Washington, realizado em 1989. [Este] apresentava uma série de recomendações econômicas que funcionaram como instrumento de pressão internacional para a adoção do neoliberalismo, principalmente pelos países subdesenvolvidos. Dessa forma, muito instrumentalizadas pelo FMI, as recomendações desse consenso foram amplamente difundidas no Brasil, das quais as privatizações são destaque (PENA, 2018, s.p.). Quanto mais empresas públicas forem privatizadas, menor será o tamanho do Estado e menor será a capacidade deste em realizar ações e investir na economia do país, visando justamente atender ao que está propugnado na própria Constituição Econômica. MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 60 7.2 OBJETIVOS DE POLÍTICA MACROECONÔMICA Como já afirmamos, a política macroeconômica visa ao atendimento de diversos objetivos. A literatura enumera pelo menos cinco: alto nível de emprego; estabilidade de preços; crescimento econômico; distribuição equitativa da renda; e, equilíbrio nas contasexternas. Vamos tratar de cada um deles especificamente. 7.1.1 ALTO NÍVEL DE EMPREGO Acompanhando as notícias econômicas divulgadas, é muito comum ouvir indicadores do nível de desemprego do país. É claro que você sabe da importância que a geração de emprego tem para a economia de qualquer país, já que o salário, que nada mais é do que a remuneração pelo fator de produção trabalho, é um dos componentes da renda nacional agregada. Assim, se o nível de desemprego aumenta, diminui a massa salarial, que faz pressionar para baixo o consumo, afetando igualmente a produção e a renda e assim sucessivamente. Entretanto, é preciso que se faça aqui uma distinção entre o pensamento liberal e marxista/keynesiano sobre o desemprego. A história revela que, com a implantação e o desenvolvimento do capitalismo, vieram a consciência da luta de classes, já que os trabalhadores se mobilizavam para garantir direitos fundamentais, que não existiam; a jornada de trabalho era de 16 a 18 horas semanais, a condição de trabalho na maioria das situações era desumana, os salários aviltantes, o que fez surgir e solidificar os sindicatos de trabalhadores que, organizados, exigiam melhores salários e condições de trabalho. Além disso, o comércio internacional e o mercado de capitais também se intensificaram, trazendo incerteza e insegurança para os agentes econômicos sobre o real funcionamento da economia. A Grande Depressão Econômica de 1930, iniciada com a quebra da Bolsa de Valores de Nova York em 1929, atingindo a maioria dos países do mundo ocidental, pôs em xeque este entendimento, já que milhares de trabalhadores ao redor do mundo perderam seus empregos, centenas de empresas faliram, ocorreram suicídios de muitos empresários que tiveram suas empresas falidas, o que levou à constatação de John Maynard Keynes (afirmação esta já atribuída a Marx [1890]), de que o desemprego não MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 61 é um problema conjuntural, mas estrutural, ou seja, é inerente ao modo de produção capitalista. Marx trata dessa questão quando aborda o exército industrial de reserva, peça- chave para que o capitalista possa extrair mais-valia do trabalhador que, com medo de perder o emprego (já que há muitos desempregados esperando por uma vaga), aceita trabalhar por um salário cada vez menor. Marx (apud DANTAS, 2016, s.p.) afirma que: Há no capitalismo uma “lei de salários”, isto é, uma norma que é a seguinte: o sistema capitalista necessita de que haja constantemente um exército de desempregados, de forma que a patronal possa usar os trabalhadores sem emprego para pressionar pelo rebaixamento dos salários de quem está empregado. ‘Aceite o salário que te pago caso contrário alguém lá fora pega seu lugar e ainda aceita salário menor’. Esse ‘alguém lá fora’ vem a ser justamente aquela multidão de trabalhadores desempregados, nas periferias das cidades, no campo ou as próprias mulheres dos trabalhadores, todos em uma posição mais frágil, mais carente ou mais defensiva ao ponto de aceitarem substituir o trabalhador demitido inclusive por um salário menor do que ele ganhava. O chamado terceirizado, o precarizado, vem a ser justamente isso: a massa de trabalhadores que o sistema lança no desemprego absoluto e na carência profunda. A partir dessa constatação, de ser o desemprego um componente estrutural do capitalismo, Keynes, no célebre livro Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, de 1936, “forneceu aos governantes os instrumentos necessários para que a economia recuperasse seu nível de emprego potencial ao longo do tempo” (VASCONCELLOS; GARCIA, 2005, p. 88). A principal contribuição de Keynes, implantada por governantes de diversos países, foi no sentido de comprovar que para debelar a recessão que assolava os países, os Estados Nacionais deveriam intervir na economia que, até aquele momento, não sofria uma intervenção direta por parte do Estado. Mas que tipo de intervenção seria essa? O Estado, utilizando recursos públicos, investiria na construção de estradas, rodovias, ferrovias, hospitais e demais bens públicos, demandando, além de matérias-primas e insumos por parte das empresas, mão de obra assalariada para execução das obras, o que geraria um aumento da renda nacional, que induziria a um aumento na demanda nacional e, consequentemente, no nível de produção das empresas, elevando a riqueza do país e resgatando o país da recessão econômica. MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 62 Keynes (1983) também asseverou que o investimento produtivo e a inovação tecnológica são importantes para gerar competitividade ao país, mas podem gerar novo ciclo de desemprego (o que ele chamou de paradoxo do investimento), haja vista que em geral novas tecnologias demandam menos mão de obra, o que se verifica na prática se formos analisar a evolução do emprego formal por setor econômico, como já abordamos anteriormente. Além desse fator, temos um outro agravante: novas tecnologias, que mudam cada vez mais rapidamente, exigem um grau de conhecimento e especialização cada vez maior por parte da classe trabalhadora, o que cria o chamado ‘trabalhador marginal’, que fica à margem da sociedade porque não consegue acompanhar essa evolução e perde a possibilidade de encontrar emprego no mercado formal. Por isso que, no Brasil, cresce assustadoramente o mercado informal de trabalho. 7.1.2 ESTABILIDADE DE PREÇOS Você já deve ter ouvido diversas vezes os economistas falarem da importância da estabilidade de preços. Mas você sabe qual é o real significado de estabilidade? Na etimologia da palavra, estabilidade é a qualidade de estável (que mantém o equilíbrio, não varia e permanece no mesmo lugar durante muito tempo). O termo deriva do latim stabilitate” (CONCEITO.DE, 2018). A estabilidade é uma palavra que designa diversas concepções, como podemos observar em alguns exemplos: a) no serviço público indica que o servidor terá a garantia de permanência no trabalho, não podendo ser demitido; b) na política indica que há convergência de ideologias, competência para resolver e/ou prevenir crises; c) na saúde indica que o paciente está estável, ou seja, responde bem ao tratamento; d) na construção civil indica que a obra está em equilíbrio, não corre risco de sofrer algum colapso. Figura 02: Estabilidade de Preços Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/d%c3%b3lar-v%c3%b4o-conceito-o-neg%c3%b3cio-2891817/ https://pixabay.com/pt/photos/d%c3%b3lar-v%c3%b4o-conceito-o-neg%c3%b3cio-2891817/ MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 63 E para os preços? Indica que os preços dos mais diferentes tipos de bens estão estáveis, ou seja, constantes, o que significa dizer que não há inflação. Define-se inflação “como o aumento contínuo e generalizado no nível geral de preços” (VASCONCELLOS; GARCIA, 2005, p. 88). Sendo contínuo, significa dizer que não se pode confundir com elevações “sazonais” de preços, aquelas oriundas de efeitos adversos, por exemplo, uma queda de granizo, que afeta a oferta de alimentos de ciclo curto de produção, como as verduras e legumes, ou então aquelas havidas pela diminuição da oferta conforme a estação do ano, como a produção leiteira. E generalizado, pois afeta todas as cadeias de produção, atingindo todos os setores da economia. A inflação é um dos maiores problemas econômicos, pois como a história econômica já constatou, gera inúmeras distorções, afetando diretamente a distribuição de renda de um país, bem como as expectativas dos agentes econômicos e o balanço de pagamentos (VASCONCELLOS; GARCIA, 2005). A distribuição de renda é afetada, pois quando os preços dos bens aumentam, diminui o poder de compra de certos indivíduos (que dependem de rendimentos fixos), afetando mais fortemente os assalariados, pois com o mesmo salário recebido no início do mês não é possível adquirir a mesma quantidade de produtos ao longodo mês, pois os mesmos são reajustados mais frequentemente em relação ao reajuste salarial. Esta realidade ainda é agravada porque o trabalhador geralmente utiliza todo seu salário na aquisição de bens de consumo, não podendo, portanto, aplicar sua renda no sistema financeiro com o intuito de manter o poder de compra da moeda por meio dos juros. Os donos do capital, entretanto, como têm um fluxo de rendimentos mais flexível, pois recebem suas rendas provenientes de lucros, juros e aluguéis em dias alternados, conseguem manter seu poder de compra, aumentando assim a desigualdade entre pobres e ricos. No que se refere às expectativas dos agentes econômicos (consumidor, empresas e governo), os mesmos são afetados porque criam-se incertezas com relação a investimentos produtivos (se é apropriado investir na implantação de uma nova fábrica, na construção de uma casa, no financiamento de um automóvel ou mesmo em um imóvel, na realização de uma obra pública, por exemplo), pois o retorno esperado desse investimento pode não compensar economicamente, ou no caso de empréstimos, pode não haver possibilidade de quitar as dívidas pelo aumento do valor das prestações. Os agentes econômicos preferem deixar suas economias em aplicações financeiras MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 64 (mais seguras) do que utilizar estes recursos em projetos de longo prazo, pois o risco de prejuízo é tanto maior quanto mais incerto é o investimento. Assim, pode resultar numa paralisia do sistema econômico, gerando decréscimo no consumo, desemprego, dentre outros fatores. A própria fixação de novos preços pelos agentes econômicos também fica afetada, pois há incertezas no sentido de prever se a inflação persistirá nos meses seguintes, o que levaria, em tese, os agentes a aumentarem os preços de seus produtos e serviços. No Brasil, como já afirmamos, houve um período chamado de inflação inercial (nas décadas de 1980-1990), quando os preços dos produtos e serviços eram aumentados sistematicamente pelos agentes econômicos de um período para outro, sem a verificação da real ocorrência de tal subida dos preços, o que retroalimentava a inflação. A inflação inercial ocorre quando os preços de uma economia oferecem resistência às políticas de estabilização para atacar as causas primárias da inflação, é a chamada memória inflacionária. Essa inflação inercial é decorrente de mecanismos de indexação, que reajustam o valor das parcelas de contratos pela inflação do período passado, ou seja, mesmo que não tenha uma razão do preço aumentar, ele aumenta baseado nessa memória inflacionária (CULTURAMIX, 2012, s.p., grifo da autora). Finalmente, em relação ao balanço de pagamentos, um país com altas taxas de inflação pode facilmente perder a competitividade no comércio mundial, já que os preços dos seus bens e serviços se tornam mais “caros” em comparação com os demais países com os quais mantêm relações comerciais, levando a diminuições da demanda e, consequentemente, exportando menos. Assim, se o valor das exportações passa a ser inferior ao valor das importações, gera um déficit no balanço de transações correntes (uma das contas do balanço de pagamentos), o que pode acarretar inclusive, dependendo do comportamento das demais contas (de capital e financeira e de erros e omissões), em déficit no citado balanço de pagamentos. A inflação de demanda “diz respeito ao excesso de demanda agregada em relação à produção disponível de bens e serviços (oferta agregada)” (NOGAMI; PASSOS, 2003, p. 500). Para você não deve ser difícil entender: há mais pessoas procurando bens e serviços do que bens e serviços disponíveis para venda. Ou, por analogia, há muita moeda disponível à procura de poucos bens. Esse fenômeno costuma ocorrer quando se verifica um crescimento na renda dos agentes econômicos, que pode ser por meio do crescimento econômico do país. MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 65 Entretanto, há “estudos que admitem que o governo, ao financiar seus déficits através da emissão de moeda, origina o processo inflacionário. Essa é a visão monetarista da inflação” (NOGAMI; PASSOS, 2003, p. 500). Já a inflação de custos [...] pode ser associada a uma inflação tipicamente de oferta. O nível de demanda permanece o mesmo, mas os custos de certos fatores importantes aumentam. Com isso ocorre uma retração da produção, deslocando a curva de oferta do produto para trás, provocando um aumento dos preços de mercado (VASCONCELLOS; GARCIA, 2005, p. 184). 7.2 As causas da hiperinflação brasileira As causas da hiperinflação no país costumam ser relacionadas ao aumento dos gastos públicos durante o governo militar e pela elevação do endividamento externo, agravado pela crise mundial derivada do aumento dos preços do petróleo e pela retração na taxa de expansão da economia. A política de substituição das importações – que vinha desde o governo Juscelino Kubitschek – fez crescer os gastos públicos, e o “milagre econômico” entre o final dos anos 1960 e o início da década de 1970 (quando a economia brasileira cresceu à média de 10% ao ano) foi financiado por empréstimos internacionais. A partir de 1973, quando a crise internacional do petróleo fez o custo do barril subir 400% em três meses, de US$ 2,90 para US$ 11,65, a economia brasileira passou a apresentar taxas de inflação crescentes. O PIB já não crescia tanto, e o Brasil entrou na década de 1980 com o pé esquerdo: inflação, dívida externa elevada e indústria defasada. Na hiperinflação crônica, as causas se sucedem e se realimentam. O choque do petróleo pode ter dado início à crise hiperinflacionária, mas ela foi intensificada por desvalorizações da moeda, para manter o Brasil competitivo (com uma maxidesvalorização em 1979); e pelo aumento do dinheiro em circulação para financiar a dívida externa. Foram cerca de 15 anos de inflação acima de dois dígitos e de correção monetária. Comerciantes remarcavam diariamente os preços dos produtos, que sumiam rapidamente das prateleiras, já que a população estocava alimentos por temer as sucessivas altas. Preços e salários eram reajustados automaticamente assim que era MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 66 divulgada a inflação do mês anterior, criando o efeito bola de neve, em que a inflação de um mês era imediatamente repassada para o mês seguinte. Quem mais perdia com a hiperinflação eram os mais pobres, que não podiam se defender das perdas colocando o dinheiro em aplicações que rendessem juros diários e acompanhassem a desvalorização da moeda. O Plano Cruzado O Plano Cruzado foi um conjunto de medidas econômicas, lançado pelo governo brasileiro em 28 de fevereiro de 1986, com base no Decreto-Lei nº 2.283, de 27 de fevereiro de 1986. Na época, o presidente da República era José Sarney e o ministro da Fazenda era Dilson Funaro. O Plano Cruzado foi o primeiro plano econômico nacional em larga escala desde o término da ditadura militar. Em 1986, o Plano Cruzado congelou preços, e a carne sumiu dos supermercados. Principais medidas do Plano Cruzado As principais medidas contidas no plano foram: • congelamento de preços de bens e serviços; congelamento da taxa de câmbio; • reforma monetária, com alteração da unidade do sistema monetário, que passou a denominar-se cruzado (Cz$), cujo valor correspondia a mil unidades de cruzeiro; • substituição da Obrigação Reajustável do Tesouro Nacional (ORTN – (título da dívida pública instituído em 1964), pela Obrigação do Tesouro Nacional (OTN), cujo valor foi congelado por um ano; • congelamento dos salários pela média de seu valor dos últimos seis meses e do salário mínimo em Cz$ 804,00, que era igual a aproximadamente a US$ 67,00 de salário mínimo; • como a economia fora desindexada, instituiu-se uma tabela de conversão para transformar as dívidas contraídas numa economia com inflação muito alta em dívidascontraídas em uma economia de inflação praticamente nula; • criação de uma espécie de seguro-desemprego para aqueles que fossem dispensados sem justa causa ou em virtude do fechamento de empresas; • os reajustes salariais passaram a ser realizados por um dispositivo chamado gatilho salarial ou seguro-inflação, que estabelecia o reajuste automático dos salários sempre que a inflação alcançasse 20%. MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 67 Plano Verão O Plano Verão, instituído em 16 de janeiro de 1989, foi um plano econômico lançado pelo governo do presidente brasileiro José Sarney, realizado pelo ministro Maílson Ferreira da Nóbrega, que havia assumido o lugar de Bresser Pereira. Devido à crise inflacionária da década de 1980, foi editada uma lei que modificava o índice de rendimento da caderneta de poupança, promovendo ainda o congelamento dos preços e salários, a criação de uma nova moeda, o Cruzado Novo, inicialmente atrelada em paridade com o dólar e a extinção da OTN, importante fator de correção monetária. Assim como ocorreu no Plano Bresser, o Plano Verão também gerou grandes desajustes às cadernetas de poupança, em que as perdas chegaram a 20,37%. Nenhuma regra foi definida em relação a ajustes salariais. Atualmente, até dezembro de 2008, estas perdas podem ser reclamadas na justiça. Cruzado Novo Em 1989, o governo lançou o Cruzado Novo: o dinheiro perdeu zeros, a taxa de juros subiu e o crédito desapareceu. Plano Real Após quase uma dezena de planos econômicos fracassados, o Plano Real marcou o final do período de instabilidade monetária e altas taxas de inflação, que chegaram a atingir 5.000% ao ano, de julho de 1993 a junho de 1994. Junto com o plano, veio a nova moeda, o real – a quinta à qual os brasileiros tiveram que se acostumar em uma década. Lançado no início de 1994, durante o governo Itamar Franco, o plano baseou-se, num primeiro momento, no equilíbrio das contas do governo, iniciado ainda no ano anterior, com redução de gastos, aumento de impostos e privatizações. O governo também promoveu a desindexação da economia – isto é, a inflação passada deixou de corrigir automaticamente preços e salários. Para os brasileiros, a medida mais visível foi a nova troca de moeda. Antes do real, a moeda que circulava no país era o cruzeiro real (CR$), vigente de 1º de agosto de 1993 até 30 de junho de 1994. Em fevereiro de 1994, foi criada a Unidade Real de Valor (URV), uma moeda fictícia, cujo valor, em cruzeiros reais, era estabelecido diariamente. Assim, a hiperinflação seguia em cruzeiros reais, mas não em URVs. Em MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 68 1º de julho de 1994, uma URV passou a ser igual a R$ 1, o novo dinheiro entrou em circulação no país. Distribuir as notas e moedas do real pelo país foi uma das maiores operações de logística já vistas. Para a equivalência, o valor da nova moeda foi fixado com a cotação da URV do dia anterior, que era de 2.750 cruzeiros reais. Dessa forma, CR$ 5.000 equivaliam a cerca de R$ 2 – o suficiente para comprar, na época, meio quilo de carne, três litros de leite ou duas latas de refrigerante, por exemplo. Entre as medidas para controlar os preços, o governo também. A âncora cambial instituiu o regime de bandas cambiais que, na prática, fixava o valor da moeda e barateava o custo dos importados. Já a âncora monetária buscava controlar o volume de dinheiro em circulação, evitando a pressão sobre os preços. Para isso, foram elevadas a taxa de juros e as reservas compulsórias dos bancos (recursos que eles são obrigados a deixar guardado no Banco Central). Essas âncoras foram substituídas, em 1999, pelo regime de metas de inflação, em que as autoridades monetárias se comprometeram a cumprir metas estabelecidas para o ano corrente e próximo – o que ancora as expectativas do mercado. Uma das formas de buscar atingir essa meta é por meio da taxa Selic. Ao elevar os juros, o governo encarece o custo do dinheiro, e faz cair a procura por produtos e serviços à venda. Para manter o nível de inflação esperado, o governo faz uso da política monetária, por meio da taxa básica de juros, a Selic. Assim, caso o BC observe que a inflação corre o risco de superar a meta, a tendência é elevar os juros. A taxa de juros foi o instrumento escolhido pelo governo, pois ela determina o nível de consumo do país, já que a taxa Selic é utilizada nas transações bancárias e, portanto, influencia os juros de todas as operações na economia. A Selic é utilizada pelos bancos como um parâmetro. A partir dela, as instituições financeiras definem quanto vão cobrar por empréstimos às pessoas e às empresas. Caso os juros do país estejam altos, o consumidor tende a comprar menos, porque a prestação de seu financiamento vai ser mais alta. Isso reflete na queda da inflação. Segundo a lei da oferta e da procura, quanto maior a demanda por um determinado produto, mais elevado é o seu preço. Do contrário, se uma mercadoria ou serviço não forem tão procurados, o preço tende a cair para atrair mais compradores. MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 69 7.2.1 Principais indicadores de inflação do Brasil No Brasil há diversos índices de inflação. Os diferentes índices utilizam em seus cálculos faixas de renda diferentes, regiões diferentes, itens diferentes e até períodos diferentes. Isso contribui para tornar mais segura a medição da inflação no país. Confira abaixo os mais conhecidos: Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI) Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) Índice de Preços ao Consumidor – Fipe (IPC-FIPE) Índice Nacional da Construção Civil (INCC). ISTO ESTÁ NA REDE Link: https://www.youtube.com/watch?v=o6F3ne4RQdQ Os mercados, sem interferência do Estado, conduziriam a economia ao pleno emprego de seus recursos, ou ao seu produto potencial: milhões de consumidores e milhares de empresas, como que guiados por uma ‘mão invisível’, determinariam os preços e a produção de equilíbrio, e, desse modo, nenhum problema surgiria no mercado de trabalho. ANOTE ISSO Para a teoria liberal, o nível de emprego é um problema conjuntural, ou seja, de curto prazo. O pensamento liberal acredita que ao analisar a evolução do capitalismo desde a Revolução Industrial, no período entre o final do século XVIII até o início do século XX, quando o desenvolvimento tecnológico e a produção foram crescentes e demandando muita mão de obra, pode-se afirmar que, de certa forma, neste interregno, não havia flutuações tão grandes no emprego. https://www.youtube.com/watch?v=o6F3ne4RQdQ MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 70 CAPÍTULO 08 DESENVOLVIMENTO DAS ATIVIDADES ECONÔMICAS Introdução Olá Estudante, neste momento iremos aprender sobre o desenvolvimento econômico, afinal não se pode negar a importância do crescimento econômico para as nações, não é mesmo? Você, com certeza, sabe que o crescimento econômico é aquele que diz respeito à economia, ou seja, aquele que aumenta a riqueza de um país, sendo esta medida por meio do Produto Nacional Bruto (PNB). Exemplificando, um país cresce economicamente quando aumenta sua riqueza de um ano para outro, que pode se dar por meio de um incremento na produção agrícola, industrial, dentre outros, de forma isolada ou envolvendo diversos setores econômicos. Além do PNB é comum utilizar a renda per capita para medir o crescimento econômico, que nada mais é do que o PNB dividido pela população. Assim, teremos o valor que cada cidadão, em tese, deveria possuir em relação à riqueza produzida. Por que grifamos? Certamente você já sabe o motivo: a riqueza não é bem distribuída para todos os cidadãos, pois esse crescimento pode beneficiar apenas determinadosgrupos, como é comum acontecer no Brasil. Então a renda per capita é apenas uma média, necessitando de outros indicadores para medir a qualidade de vida e a distribuição de renda, como veremos adiante. 8.1 APLICABILIDADES Desde a Grande Depressão, os Estados Nacionais têm utilizado políticas macroeconômicas para estimular o crescimento econômico, pois em diversos períodos de crise do capitalismo, como as que ocorreram na década de 1970 (com as altas do preço do petróleo) e aquela iniciada em 2008 (crise imobiliária/ financeira), que ainda perdura, foi necessária a presença do Estado para ajudar a economia a se reerguer. MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 71 Uma distinção se faz necessária: há controvérsias entre os economistas no que se refere a afirmar que crescimento e desenvolvimento são sinônimos (têm o mesmo significado). “Via de regra, os manuais têm consagrado crescimento como ‘taxas positivas de crescimento do PIB’, enquanto desenvolvimento, além de supor crescimento, exige melhoria dos indicadores sociais e de bem-estar” (FONSECA, 2004, p. 270). Percebe-se que essa discussão passa por questões bastante subjetivas, por estarem carregadas de apelo ideológico. Mas, o que é ideologia? Em um sentido amplo, significa aquilo que seria ou é ideal. Este termo possui diferentes significados, sendo que no senso comum é tido como algo ideal, que contém um conjunto de ideias, pensamentos, doutrinas ou visões de mundo de um indivíduo ou de determinado grupo, orientado para suas ações sociais e políticas (SIGNIFICADOS, 2018, s.p., grifo do original). Assim, muitos afirmam que somente o desenvolvimento econômico garante melhoria dos indicadores sociais (distribuição de renda, melhoria dos serviços públicos, dentre outros), trazendo justiça social. Já o crescimento seria apenas o aumento da riqueza material. Há, entretanto, os que afirmam serem os mesmos sinônimos, pois: Ambos se opõem à estagnação, ou seja, desenvolvimento/crescimento ocorrem quando a economia cresce, expande-se a produção e a acumulação de capital; a sociedade, assim, se reproduz, criando mais bens e serviços para pôr à disposição de seus habitantes, segundo determinadas regras de distribuição (FONSECA, 2004, p. 270). 8.2 DISTRIBUIÇÃO EQUITATIVA DA RENDA Temos aqui outro conceito importante para a economia. Distribuir significa repartir, certo? Renda é pagamento pela utilização dos fatores produtivos terra, trabalho, capital e capacidade empresarial. E equitativa? “Equitativo é um adjetivo da língua portuguesa e refere-se ao que é justo, equivalente, imparcial e igual. De acordo com a definição, ser equitativo está relacionado com o “ser justo”, em um sentido moral e/ou ético. Ser honesto e imparcial” (SIGNIFICADOS, 2018, s.p., grifo do original). Agora você já deve ter decifrado a charada: há equidade de renda quando a distribuição das riquezas de um país é igual para todos. Claro que chegar a essa total igualdade é quase que impossível, mas como é um desejo e direito de todos, é o que se busca. MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 72 Porém, no que se refere a este quesito, o Brasil está classificado em um triste ranking, justamente o que mede a disparidade de renda. Mas você pode estar se perguntando: Na chamada “década do milagre econômico” (1969 a 1963) o Brasil não cresceu a taxas invejáveis entre 7% e 13% ao ano? Nisso você está certo. O problema é que, neste caso específico, o termo crescer significou somente aumentar riqueza mesmo, já que foi igualmente o período em que a concentração de renda só fez aumentar. Os resultados do aumento da riqueza ficaram somente com determinados grupos, aqueles ligados à ditadura militar. Foi nesse período que o então ministro da Fazenda, Delfim Neto, criou a famigerada “teoria do bolo”, que fez o povo acreditar que, em relação a este crescimento verificado no período, era preciso que primeiro o bolo (o crescimento) fosse aumentando ano a ano, para que futuramente a renda fosse distribuída. E, adivinha? Estamos esperando por uma migalha deste bolo até hoje. Mesmo com a redemocratização, iniciada com o movimento “Diretas Já” (1984) e efetivada com a promulgação da CRFB de 1988, esta importante meta de política macroeconômica não foi colocada no centro do debate, não sendo prioridade dos governos subsequentes. Figura 01: Repercussão Econômica Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/m%c3%b3vel-smartphone-bolsa-de-valores-1419281/ Como é possível, então, distribuir renda? Por meio da política das rendas e por meio de políticas sociais (programas assistenciais), cujos principais instrumentos abordamos aqui: Entende-se por programas assistenciais de distribuição de renda as transferências de renda em que o beneficiário recebe um valor monetário sem ter contribuído diretamente para financiá-lo ou sem alguma forma de contrapartida. No Brasil, os maiores programas assistenciais de transferência de renda são o Benefício de Prestação Continuada da Lei Orgânica da Assistência Social (BPC-LOAS), o benefício da aposentadoria rural e https://pixabay.com/pt/illustrations/m%c3%b3vel-smartphone-bolsa-de-valores-1419281/ MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 73 o Bolsa Família (BF). O BPC é uma transferência de renda sem condicionalidades, dirigida aos indivíduos inválidos ou idosos de 65 anos de idade ou mais cuja renda per capita familiar seja inferior a ¼ do salário-mínimo nacional. O benefício corresponde ao pagamento mensal de um salário mínimo. A aposentadoria rural é uma transferência de renda para trabalhadores rurais idosos instituída dentro da legislação da seguridade social brasileira. Antes da Constituição de 1988, a legislação garantia o pagamento de meio salário-mínimo ao trabalhador rural idoso que fosse chefe de família. A Constituição de 1988 e a Lei Ordinária 8.212/8.213 de 1991 estenderam o benefício para outros membros da família, reduziram a idade mínima requerida de 65 para 60 anos para homens e de 60 para 55 anos para as mulheres e aumentaram o valor do benefício para um salário-mínimo mensal (SOUZA, 2012, p. 1). Além destas, mais recentemente foi instituído o Bolsa Família: O programa Bolsa Família (BF) foi criado em 2003 pelo Governo Federal como resultado da fusão de quatro programas até então existentes: Auxílio Gás, Bolsa Escola, Bolsa Alimentação e Cartão Alimentação. Diferentemente dos dois anteriores, ele é um programa de transferência direta de renda com condicionalidades. Programas com transferências condicionais de renda nos moldes do Bolsa Família surgiram em meados dos anos 1990 com o duplo objetivo de combater a pobreza no curto prazo via transferências de renda e reduzir a pobreza no longo prazo via incentivo à acumulação do capital humano das futuras gerações via condicionalidades (Fiszbein; Schady, 2009). O programa beneficia famílias em situação de pobreza (com renda mensal por pessoa de R$ 70 a R$ 140) e extrema pobreza (com renda mensal por pessoa de até R$ 70) (SOUZA, 2012, p. 1). Apenas para que você tenha uma primeira aproximação com a política de rendas (que trataremos adiante), falaremos daquela que trata do reajuste do salário mínimo nacional. Para que o poder de compra do salário mínimo aumente, ele precisa ser reajustado acima da inflação do período, ou seja, precisa ter um aumento real. O que isso significa? Que quando o salário mínimo sofre um aumento real (que é um percentual de aumento acima da inflação do período, neste caso utilizando como indicador o Índice Nacional de Preços ao Consumidor [INPC]), aumenta o poder de compra do trabalhador, que passa a adquirir mais produtos e, assim, também dinamiza a economia, a exemplo do que ocorreu no período de 2003 a 2013 no Brasil, segundo levantamento do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócio- Econômicos (DIEESE): MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIATHOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 74 EVOLUÇÃO DO SALÁRIO MÍNIMO DO BRASIL DE 2002 A 2013 Valor (R$) Reajuste (%) Variação do INPC (%) Aumento real (%) 2002 200 – 2003 240 20,0 18,54 1,23 2004 260 8,33 7,06 1,19 2005 300 15,38 6,61 8,23 2006 350 16,67 3,21 13,04 2007 380 8,57 3,30 5,10 2008 415 9,21 4,98 4,03 2009 465 12,05 5,92 5,79 2010 510 9,68 3,45 6,02 2011 545 6,86 6,47 0,37 2012 622 14,13 6,08 7,59 2013 678 9,0 5,96* 2,9** Total – 239 98,6% 70,7% Evolução do salário mínimo * Percentual acumulado em 12 meses até novembro **Percentuais aproximados FONTE: DIEESE (2015, p. 3) Como se observa na figura apresentada, no período compreendido entre os anos de 2003 a 2013 houve um aumento real de 70,7% do salário mínimo nacional, já o reajuste concedido no respectivo período foi de 239%, enquanto que a inflação (neste caso medida pelo INPC) subiu 98,6%. Além disso, é preciso que o mercado conquiste maior produtividade, mas para que isso ocorra é necessária a realização de reformas urgentes nas atuais políticas tributária e industrial, dentre outras. De acordo com Fonseca (2004, p. 291), “aumentos crescentes de produtividade e construção de um quadro institucional adequado, ao que tudo sugere, ainda constituem o caminho a ser trilhado para que se alcance um desenvolvimento socialmente mais justo e equilibrado”. 8.3 EQUILÍBRIO NAS CONTAS EXTERNAS Você se lembra de que na seção 3.4 tratamos do mercado de divisas? Definimos que as divisas são as moedas estrangeiras, utilizadas para as transações entre os países e que a moeda oficial utilizada nas transações internacionais é o dólar americano. MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 75 Abordamos também que as divisas, sendo mercadorias, têm seu preço determinado pela taxa de câmbio. A taxa de câmbio, por sua vez, é o valor que se paga, em moeda nacional, por uma unidade de moeda estrangeira, que pode ser o dólar, euro, ou qualquer moeda aceita no mercado de câmbio. Informamos que a taxa de câmbio é determinada pela relação entre a demanda e a oferta de moeda estrangeira, e que qualquer pessoa física ou jurídica, e mesmo o governo, são demandantes e ofertantes de divisas. Finalmente, tratamos do balanço de pagamentos, que é uma das contas nacionais e definida como a conta onde são registradas todas as movimentações legais entre o Brasil e os demais países, registrados em dólar e que, quando exportamos menos (produtos e serviços, capitais, mão de obra etc.) do que importamos, teremos um déficit em nosso balanço de pagamentos (ou seja, ficamos devendo para o exterior), e quando ocorrer o contrário, seremos superavitários nas nossas contas com o exterior. Assim, buscar esse equilíbrio e, na medida do possível, o superávit com o setor externo, é uma das metas de política econômica dos países. A vitória de Donald Trump em 2016, nas eleições para presidente dos Estados Unidos, tem provocado alterações nas relações comerciais entre os países e nas expectativas dos agentes econômicos. Em sua plataforma de governo está sendo colocado como prioridade o protecionismo (nacionalismo econômico), que, em termos gerais, implica na imposição de barreiras tarifárias e não tarifárias aos produtos estrangeiros, protegendo assim os empregos e a indústria americana da concorrência internacional, além de tentar reverter os déficits comerciais estadunidenses (a balança comercial é uma das contas do balanço de pagamentos, que registra a importação e exportação de mercadorias). Figura 02: Bússola Econômica Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/b%c3%bassola-jornal-finan%c3%a7a-dire%c3%a7%c3%a3o-2779371/ https://pixabay.com/pt/photos/b%c3%bassola-jornal-finan%c3%a7a-dire%c3%a7%c3%a3o-2779371/ MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 76 Como assim? Por ser um grande importador mundial, os EUA têm um histórico de consecutivos déficits comerciais, como podemos constatar na imagem a seguir: O que isso significa? Que os EUA compram, em valor, mais mercadorias do exterior do que vendem. Então, se as medidas protetivas (como taxação dos produtos importados pelos EUA) forem mesmo adotadas, afetarão toda a nação e, consequentemente, o Brasil. Além desse fator, novas batalhas judiciais entre os países podem vir a ser travadas, porque aqueles que mantêm relações comerciais com os EUA serão prejudicados pelas medidas, gerando insegurança e afetando todo o sistema econômico global. Portanto: A análise das relações econômicas internacionais constitui condição necessária para um adequado entendimento da estrutura econômica de uma determinada nação. Isto por que os países não são estruturas isoladas, e mesmo os mais ‘fechados’ acabam por manter uma série de relações econômicas com outros países, envolvendo troca de mercadorias, fatores de produção e ativos financeiros. Tais relações acabam tendo importantes implicações no cômputo de determinados agregados macroeconômicos (CASTOLDI, 2006, p. 109). Manter um balanço de pagamentos em equilíbrio (e melhor ainda quando superavitário) tem sido uma meta bem antiga. Se formos analisar como se dava na prática a chamada era do capitalismo mercantil (que os historiadores e economistas também chamam de mercantilista ou de etapa de acumulação primitiva de capital), ocorrido na Europa da Idade Moderna, entre o século XV e final do século XVIII, iremos constatar uma quase total intervenção do Estado na economia, caracterizado ainda por um protecionismo extremo, visando alcançar este superávit. O que embasava esta prática? A crença de que o que gerava riqueza para uma nação era a acumulação de grande volume de metais preciosos (especialmente ouro e prata que, por sua escassez, são considerados metais nobres). Como você sabe, esses minerais são objeto de extração mineral e, dada esta característica, o estoque existente no planeta é fixo (não pode ser produzido pelo homem). Assim, pela lógica chegamos à conclusão de que, obviamente, para que um país enriqueça, necessariamente outro tem que empobrecer. Caro acadêmico! Se você se liga em história, sabe da existência do chamado período absolutista (ou da era das navegações) quando, principalmente países europeus como Inglaterra, França, Portugal e Espanha, por deterem grande conhecimento sobre navegação marítima, ao “descobrirem” outros países (como o Brasil), impuseram sua MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 77 força e poder para conquistar estas nações. Sabe, também, que estas terras eram habitadas por indígenas ou negros, e que, para colonizá-las, os impérios, na maioria dos casos, realizaram verdadeiras carnificinas, dizimando povos inteiros e os obrigando a se submeterem as suas regras. Os continentes americano e africano foram os principais alvos dessa política imperialista. ISTO ESTÁ NA REDE Link: https://www.youtube.com/watch?v=P4GttdWSOBY Assim, com o aumento do salário mínimo, os trabalhadores das empresas que recebem um salário “normativo” que é determinado na negociação coletiva entre o sindicato patronal e dos trabalhadores de acordo com a categoria econômica a que pertencem (comerciário, mecânico, etc.), também conseguem maior poder na referida negociação para que seus salários sejam aumentados pelo menos no mesmo percentual, o que beneficia toda a classe trabalhadora. ANOTE ISSO Finalmente, para que ocorra uma distribuição de renda mais equitativa no Brasil, é necessário fortalecer as organizações da sociedade civil, instituições que, organizadas e mobilizadas, exijam que o poder público esteja imbuído dos mesmos objetivos, porque não se pode distribuir renda sem que haja vontade política e institucional para promover estas políticas. https://www.youtube.com/watch?v=P4GttdWSOBY MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 78 CAPÍTULO 09 FLUXO CIRCULAR DA ECONOMIA Introdução Olá Estudante, quando tratamos da estrutura da análise macroeconômica,vimos que na economia existem dois fluxos: o real e o monetário. De acordo com Nogami (2012, p. 34), por fluxo real entende-se como sendo “o movimento dos recursos produtivos e de bens e serviços entre os diversos agentes econômicos”. A economia se torna a cada dia mais complexa. Assim, esse fluxo real torna- se mais dinâmico na medida em que as relações de compra e venda de recursos produtivos (terra, trabalho, capital e capacidade empresarial) e de bens e serviços vão se avolumando. “Como contrapartida monetária dos fluxos reais temos os fluxos monetários. Toda vez que um bem ou serviço é transferido de um agente para outro, são efetuados pagamentos em troca deles. O fluxo monetário, consequentemente, gira em direção contrária ao fluxo real” (NOGAMI, 2012, p. 35, grifo da autora). Exemplificando, relembramos o exemplo da Unidade 1: Para adquirir os bens e serviços necessários para atender às suas necessidades, você (caso seja trabalhador) oferece ao mercado a sua força de trabalho e recebe uma remuneração na forma de salário. O dono da terra a aluga e recebe por ela uma renda na forma de aluguel, o proprietário de moeda a empresta e recebe por ela uma renda chamada de juro. A empresa na qual você trabalha vende os bens ou serviços e recebe uma renda denominada de lucro. Ou seja, terra, trabalho, capital e capacidade empresarial são denominados fatores de produção e representam o fluxo real da economia. Já o pagamento pela utilização desses fatores (também chamados de recursos), que são o aluguel, o salário, o juro e o lucro, representa o fluxo monetário. 9.1 APLICABILIDADES Assim, quando falamos em “Fluxo Circular da Atividade Econômica” estamos nos referindo a toda movimentação existente entre os agentes econômicos, na busca pela satisfação de suas necessidades. MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 79 Temos assim que o fluxo circular da atividade econômica “mostra de forma simplificada a maneira pela qual indivíduos e firmas interagem na economia, cada qual buscando atingir diferentes objetivos: as firmas procurando maximizar seus lucros e os indivíduos procurando maximizar a satisfação de seus desejos e necessidades” (NOGAMI; PASSOS, 2003, p. 371). 9.2 O FLUXO BÁSICO DA ECONOMIA Como você já deve ter percebido, a ciência econômica se utiliza de abstrações da realidade para explicar os fenômenos econômicos. Desta forma, para que possamos entender o funcionamento do fluxo circular da atividade econômica é necessário primeiro entender como se dá este fluxo numa economia que possua apenas dois agentes econômicos: os consumidores (unidades familiares) e as firmas. A capacidade empresarial nada mais é do que o “saber fazer”. Exemplificando: se uma fábrica de móveis possui à sua disposição os fatores capital (fábrica + equipamentos + recursos financeiros), trabalho (mão de obra), terra (local onde está instalada a planta industrial + matérias-primas + insumos), mas o seu proprietário não tiver domínio da atividade, não souber como administrar esta fábrica, a chance de falência desta empresa em pouco tempo é muito grande. Figura 01: Mercado Capitalista Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/lavagem-de-dinheiro-1963184/ https://pixabay.com/pt/photos/lavagem-de-dinheiro-1963184/ MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 80 Desta forma, ampliando nosso campo de análise, vamos conhecer o funcionamento do fluxo da atividade econômica como um todo. O mercado de fatores de produção, que são todos os recursos necessários para produzir um bem ou prestar um serviço (terra, trabalho, capital e capacidade empresarial) e o mercado de bens e serviços. Como já analisamos anteriormente, esses mercados dinamizam dois fluxos básicos da atividade monetária: o fluxo real e o fluxo monetário. Verifique que neste modelo simplificado existem apenas dois agentes econômicos: empresas e famílias. As empresas oferecem bens e serviços e demandam fatores de produção, enquanto as famílias demandam bens e serviços e oferecem fatores de produção. Relembrando, assim, o que abordamos anteriormente, essa relação entre as famílias e as empresas dá origem aos fluxos reais e monetários, sendo que o fluxo real representa a utilização dos fatores de produção e a produção de bens e serviços, enquanto o fluxo monetário representa o pagamento pela utilização desses fatores e pelo consumo de bens e serviços. A renda representa, então, num primeiro momento, este fluxo monetário entre empresas e famílias. 9.3 O FLUXO BÁSICO DA ECONOMIA COM GOVERNO E SETOR EXTERNO Que agente econômico está ausente do nosso modelo básico? Lógico que é o governo, que desempenha uma função muito importante na economia, em especial, a partir da Grande Depressão de 1930, como já estudamos na Unidade Este também interage no mercado e, como tal, demanda recursos produtivos e bens e serviços e aufere renda por meio dos tributos. O governo é a instância máxima de administração executiva, geralmente reconhecida como a liderança de um Estado ou uma nação. O papel que um governo desempenha é, na sua essência, zelar pelo bem-estar, da mesma maneira como o chefe de uma unidade familiar, ou o síndico de um condomínio. Quando observamos a realidade e fazemos uma análise mais aprofundada sobre o papel do governo na atualidade, vemos que este tem assumido diferentes papéis ao longo da história do capitalismo, em especial, neste século XXI. Para Oliveira (2015, p. 17-18): MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 81 A existência de uma atuação estatal que coordene, resolva conflitos e direcione as decisões para o melhor aproveitamento dos recursos e para o alcance dos resultados é base para o funcionamento dos mercados e para o crescimento da economia [...]. O Estado brasileiro tem a desafiadora tarefa de conciliar a função de Estado indutor com as demais funções. Somos um Estado de redistribuição de renda, além de sermos responsáveis por políticas geradoras de crescimento. O grande desafio é preservar as conquistas sociais e melhorar a eficiência das políticas públicas, garantindo os investimentos e ampliando a participação do setor privado. Para o secretário executivo do Ministério do Planejamento, o papel do Estado no Brasil diz respeito à promoção dos direitos individuais e sociais, ao provimento da seguridade social e da infraestrutura, e indução ao desenvolvimento sustentável. O Estado tem uma especificidade no Brasil: conciliar ação indutora e inovadora com a distribuição de renda e a ampliação dos serviços públicos (saúde, educação, previdência social, saneamento, habitação, segurança pública etc.), afirmou o secretário executivo. Para isso, Dyogo defende a parceria para o desenvolvimento produtivo na saúde, cooperação pública/privada para desenvolvimento, transferência e absorção de tecnologia, produção, e capacitação produtiva e tecnológica do país em produtos estratégicos, como o Sistema Único de Saúde (SUS). Como você pode perceber, para que o Estado possa desempenhar essas funções, precisa auferir renda. E de que forma faz isso? Caro estudante, é o que você está pensando: por meio da cobrança de tributos. Mas o que é um tributo? Quando pesquisamos sobre a etimologia da palavra tributo, temos que: No início da civilização romana, o povo estava dividido em várias tribos. Em latim, tribus, vocábulo que produziu vários derivados conhecidos: o tribuno era o magistrado da tribo, enquanto o tributo era a contribuição a ser paga pelos membros da tribo. O termo logo generalizou-se para abranger todo imposto ou taxa cobrado dos cidadãos romanos, passando a designar também o valor que um povo vencedor obrigava o povo vencido a pagar como símbolo de submissão e obediência. Naquela época, como até hoje, os poderosos raramente pagavam tributos, que eram suportados pelos comerciantes mais humildes, os camponeses e os pequenos proprietários. Esse infeliz contribuinteera chamado de tributarius, designação que se aplica, por metáfora, aos rios que vão desaguar em um rio maior: “o rio Tapajós é um dos mais importantes tributários do Amazonas” (DICIONÁRIO ETIMOLÓGICO, 2018, s.p.). MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 82 Os tributos, por sua vez, são despendidos pelo governo na execução de todas as suas atividades e são denominados de gastos, “que podem ser de três naturezas: dispêndios com custeio (manutenção da máquina do Estado), investimentos (especialmente em infraestrutura como educação, moradia, saúde, segurança pública e transporte) e transferências (pensões, aposentadorias e subsídios)” (NOGAMI, 2012, p. 40). 9.4 HAJA IMPOSTO (E PACIÊNCIA)! O sistema tributário brasileiro é composto por mais de 70 tipos de tributos, entre impostos, taxas e contribuições. O Brasil tem uma das mais elevadas cargas tributárias do mundo e serviços públicos que não condizem com o montante de tributos que pagamos. De acordo com a Receita Federal, a Carga Tributária do Brasil atingiu a cifra de 32,66% do PIB em 2015. Isso significa que, a cada R$ 100 que ganhamos, os governos federal, estadual e municipal ficam com quase R$ 33, e sobram apenas R$ 67 em nossa carteira. Mesmo com nosso salário mínimo equivalente a US$ 280, pagamos mais impostos que cidadãos de países ricos e desenvolvidos, como Estados Unidos (26%), Suíça (26,6%), Canadá (30,8%), e praticamente o mesmo que cidadãos do Reino Unido (32,6%), Espanha (33,2%) e Alemanha (36,1%). Nosso sistema tributário é tão perverso, arcaico e injusto que deveria ser considerado a principal reforma do país. Figura 02: Elevação da Economia Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/tend%c3%aancia-curva-m%c3%a3o-1445464/ https://pixabay.com/pt/illustrations/tend%c3%aancia-curva-m%c3%a3o-1445464/ MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 83 Ele é perverso porque prejudica a economia. Existem várias condições socioeconômicas que determinam o potencial tributário de um país, entre elas a renda per capita, participação da agricultura no PIB, escolaridade, grau de abertura econômica, condições de saúde etc. Estudos apontam que o Brasil arrecada efetivamente mais tributos do que suporta sua economia. A longo prazo, essa tributação excessiva provoca baixo crescimento econômico e desemprego. Nos Estados Unidos, por exemplo, o salário mínimo equivale a US$ 1.160 e, ainda assim, pagam menos tributos que aqui na Terra de Santa Cruz. Vale dizer que apenas 2,7% da população de lá ganha salário mínimo, enquanto aqui, essa parcela chega a quase 50% da população ocupada. A legislação tributária brasileira é extremamente complexa e ultrapassada. Nosso código tributário é da época em que metade da população vivia na zona rural e não existiam computadores. Segundo levantamento do IBPT, desde a Constituição de 1988 já foram criadas 363.779 normas tributárias, isto é, cerca de 1,88 por hora nos dias úteis. A bagunça tributária é tão generalizada que até mesmo contadores e advogados tributaristas ficam perdidos em meio a tantas mudanças que ocorrem diariamente nos níveis federal, estaduais e municipais. O sistema tributário é, ainda, injusto, pois metade do dinheiro subtraído pelo poder público é cobrada nos bens e serviços que adquirimos, desde medicamentos a veículos. E não importa se você é rico ou pobre, a alíquota é a mesma. Pense, por exemplo, a compra de uma geladeira no valor de R$ 2.000, em que a tributação é de 40%, ou seja, R$ 800. Nesse caso, quem ganha um salário mínimo precisa gastar 85% da sua renda para pagar o “imposto da sociedade”. FONTE: <https://ibpt.com.br/noticia/2606/Haja-imposto-e-paciencia>. Acesso em: 21 ago. 2018. Continuando nossa análise da atividade econômica a três setores, é importante ainda informar que os tributos são divididos em impostos, taxas e contribuições. Os impostos, como o nome já faz referência, são aqueles que somos obrigados a pagar, pois caso não o façamos sofreremos as sanções que a lei determina, como no caso do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), do Imposto sobre Veículos Automotores (IPVA), Imposto de Renda (IR), dentre outros, independentemente deste imposto retornar na forma de ações governamentais diretas. Com relação aos impostos, ainda há outra divisão: há os impostos diretos, que incidem sobre a renda e a propriedade e é possível identificar o contribuinte, como no caso do IPTU, IR, IPVA; e os indiretos, que incidem sobre o consumo e as vendas e não MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 84 tem como identificar o contribuinte porque quem presta as informações ao fisco não é a fonte pagadora. Isso acontece no caso do ICMS, já que somos nós que pagamos esse imposto (dentre outros indiretos) quando adquirimos um bem ou serviço, mas quem presta contas é a empresa que nos vendeu o produto. As taxas, por sua vez, são aquelas que pagamos por um serviço que o Estado presta ao cidadão de forma generalizada, como a taxa de coleta de lixo, taxa de iluminação pública, dentre outros, e que vai beneficiar a qualquer cidadão, independentemente da sua identificação. Por exemplo, quando você passa à noite numa rua com boa iluminação pública, mesmo que não resida no local, também é beneficiado, pois terá maior segurança. As contribuições (geralmente de melhoria) são aquelas que o poder público executa e que irão beneficiar determinados grupos ou localidades. Como exemplo clássico temos a contribuição de melhoria que pagamos quando a administração pública executa uma obra de pavimentação da rua onde residimos. Geralmente pagamos um valor que é calculado levando em conta a metragem do terreno em relação à rua a ser pavimentada. Chama-se contribuição de melhoria, porque esta obra irá valorizar o seu imóvel e você e todos os residentes da rua onde você mora serão diretamente beneficiados, razão pela qual o valor é cobrado. Voltemos à nossa análise do fluxo da atividade econômica. O que falta incluirmos na nossa análise? Com o avanço da globalização econômica e financeira, sabemos que as relações comerciais entre os países, ou entre blocos econômicos, estão cada vez mais acirradas e a interdependência entre os mesmos é cada vez maior. Então o setor externo, por sua vez, importa e exporta bens e serviços e fatores de produção, de acordo com as necessidades e recursos disponíveis em cada país. Analisemos um exemplo dessa interdependência comercial entre os países, no caso do Brasil, com o mercado de fertilizantes. Por ser um país produtor de alimentos, conhecido inclusive como “celeiro do mundo”, o Brasil demanda grande quantidade de fertilizantes e defensivos agrícolas. Ocorre que em sua maioria os insumos utilizados para a produção de fertilizantes, principalmente os nitrogenados, são importados, já que os maiores produtores mundiais são China, Índia e Estados Unidos. Em contrapartida, o Brasil é um dos maiores exportadores de alimentos, sendo que os países que mais importaram produtos do agronegócio brasileiro foram, em 2017, respectivamente, China, Zona do Euro e Estados Unidos, conforme indica o quadro a seguir: MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 85 É por estas características que observamos, não só nos dias de hoje, fluxos migratórios, fluxos de comércio e fluxo de capitais estrangeiros, aportando nas mais diferentes economias mundo afora. Só que esse comportamento moderno pode afetar as economias, domesticamente, criando o desequilíbrio entre as nações (NOGAMI, 2012, p. 41, grifo da autora). É importante analisar a abordagem citada, pois como Nogami (2012) afirma, e nós destacamos, uma das consequências mais perversas da economia moderna é o acirramento da xenofobia como consequência do aumento dos fluxos migratórios. Ficou em dúvida sobre o que significa “xenofobia”? De acordo com o Dicionário Etimológico (2018, s.p.): Xenofobia significaaversão a pessoas ou coisas estrangeiras. O termo é de origem grega e se forma a partir das palavras “xénos” (estrangeiro) e “phóbos” (medo). A xenofobia pode se caracterizar como uma forma de preconceito ou como uma doença, um transtorno psiquiátrico. O preconceito gerado pela xenofobia é algo controverso. Geralmente se manifesta através de ações discriminatórias e ódio por indivíduos estrangeiros. Há intolerância e aversão por aqueles que vêm de outros países ou diferentes culturas, desencadeando diversas reações entre os xenófobos. Nem todas as formas de discriminação contra minorias étnicas, diferentes culturas, subculturas ou crenças podem ser consideradas xenofobia. Em muitos casos são atitudes associadas a conflitos ideológicos, choque de culturas ou mesmo motivações políticas. Como doença, a xenofobia é um transtorno causado por um medo descontrolado do desconhecido, que se transforma em desequilíbrio. Quem sofre este transtorno possivelmente passou por uma má experiência ao estar exposto a uma situação desconhecida que causou terror e deixou marcas que vão interferir na sua vida diária. As pessoas com essa patologia sofrem de angústia e extrema ansiedade, se distanciam do convívio social, evitam o contato com estranhos e, em alguns casos, podem ter crises de pânico. Xenofobia no Brasil O Brasil é conhecido por ser um país que recebeu e recebe muitos imigrantes de vários países com diferentes culturas, sem graves demonstrações de xenofobia. No entanto, no século XIX se verificou no Brasil um fenômeno chamado lusofobia, que MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 86 resultou de um sentimento nacionalista de alguns políticos brasileiros, que tinham como objetivo reduzir a interação de indivíduos portugueses na economia local. Xenofobia na Europa A existência de xenofobia é bastante comum na Europa, principalmente nos países onde há um grande fluxo de imigração, como a Inglaterra e Suíça. Também em Portugal, alguns portugueses apresentam sentimentos xenófobos em relação a brasileiros. Xenofobia e racismo Xenofobia e racismo são dois conceitos diferentes, mas que muitas vezes se traduzem em atitudes semelhantes de discriminação em relação a alguém. A xenofobia está direcionada para alguém que vem de outro país, mesmo que seja da mesma etnia. Por outro lado, o racismo é a discriminação fundamentada na existência de uma raça superior às outras. É uma construção social que não encontra eco na comunidade científica, sendo um grave preconceito, e que pode ocorrer também a uma pessoa que tenha nascido no mesmo país daquela que comete o ato racista. De qualquer forma, o setor externo desempenha um papel muito importante para a economia das nações, pois permite a aquisição de bens e serviços que não possuem ou não têm competitividade e a venda de bens e serviços que possuem em abundância no país. Especialmente para o Brasil, que ainda é grande exportador de commodities, manter sólida relação comercial com o exterior é muito importante, pois trata-se, em muitos casos, de produtos perecíveis ou com um grande excedente de oferta em relação à demanda interna, que obriga a exportar o que não é brevemente consumido internamente. Numa economia aberta, constituída por famílias, empresas, governo e setor externo, pode-se afirmar que a renda obtida a partir da venda dos fatores produtivos terra, trabalho, capital e capacidade empresarial, bem como da venda dos bens e serviços, é utilizada, em grande medida, na compra dos produtos e serviços necessários e desejados pelos agentes econômicos. Assim, ocorre uma circulação contínua de produtos e rendimentos que possibilitam a observação do desempenho macroeconômico de uma economia sob três óticas distintas: o produto (P), a renda (R) e a despesa (D). Afirma-se que estes três agregados constituem uma identidade econômica básica, por que: MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 87 Observe que a forma mais adequada para expressar as identidades é a utilização do símbolo da identidade (≡) em vez do símbolo da igualdade (=). Isso para demonstrar que, “da mesma forma que não pode ocorrer uma compra sem que vejamos do outro lado uma venda, também não pode haver uma produção que não constitua um dispêndio e não seja simultaneamente geração de renda” (PAULANI; BRAGA, 2006, p. 8). Daí surge a denominação identidade básica. ISTO ESTÁ NA REDE Link: https://www.youtube.com/watch?v=jNeUx0LAJXQ Como já sabemos, o modo de produção capitalista, que é o sistema no qual vivemos desde a Revolução Industrial do século XVIII, se caracteriza, dentre outros fatores, pela existência de duas classes sociais: capital (que dá origem às firmas) e trabalho (representado pelas unidades familiares). Nesse sistema, os meios de produção pertencem ao dono do capital, o capitalista, sendo que o trabalhador dispõe apenas de sua força de trabalho para vender ao mercado. Utilizamos a expressão “vender ao mercado” porque é justamente o que ocorre: para que o trabalhador consiga manter a sua própria subsistência (e da sua família), vende sua força de trabalho ao capitalista e recebe em troca um pagamento denominado salário. Este salário representa a renda do trabalhador, que adquire bens e serviços que são produzidos pelo empresário, ou capitalista, e este recebe pela sua produção um valor que denominamos lucro. ANOTE ISSO Entretanto, firmas e unidades familiares não são os únicos agentes econômicos existentes na economia, bem como trabalho, como já afirmamos, não é o único fator produtivo, até porque qualquer firma precisa de outros fatores produtivos para operar, pois de que adiantaria o fator trabalho sem máquinas, equipamentos, recursos financeiros (que provêm do fator capital), matérias- primas oriundas da extração mineral e vegetal (provenientes do fator terra)? E, finalmente, mesmo tendo todos os demais fatores à disposição, ainda assim faltaria um fator deveras importante: a capacidade empresarial. https://www.youtube.com/watch?v=jNeUx0LAJXQ MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 88 CAPÍTULO 10 MODELO DE ECONÔMIA SIMPLES Introdução Olá Estudante, iremos analisar cada agregado econômico separadamente. Para melhor compreensão desses conceitos, partiremos de um modelo de economia simples, sem governo e sem setor externo. 10.1 FUNCIONALIDADES Sob a ótica das famílias, basicamente toda a renda obtida é gasta na compra de produtos e serviços. Entretanto, aquilo que não é gasto no momento é poupado. A poupança nada mais é que uma renúncia do consumo presente para poder consumir mais no futuro, já que o dinheiro aplicado rende juros. Assim, se pode afirmar que: R = C + S em que: R = renda; C = consumo e S = poupança (savings, em inglês). Na ótica das empresas, tudo o que é produzido (denominaremos a partir de agora de produto) é destinado ao consumo das famílias e parte desta produção, que é constituída por bens de capital (aqueles utilizados na confecção de outros bens, como máquinas, equipamentos e materiais de construção) é denominada de investimentos. Não podemos esquecer que a parcela que é produzida e não vendida é considerada como investimento em estoques e, por isso, também é contabilizada como investimento. Assim: P = C + I em que: P = produto; C = consumo e I = investimento. Se partirmos do pressuposto de que R = P, então, igualando as duas equações, temos que: MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 89 C + S = C + I Ou, finalmente, obtemos que: S = I Chegamos assim à outra identidade econômica básica. A poupança é tecnicamente igual ao investimento porque o excedente sobre o consumo (poupança) é canalizado para o investimento. Assim: S ≡ I Temos aqui uma importante observação: uma economia, para crescer, precisa investir, e para investir precisa contar com uma renda não consumida, que pode ser a poupança. Por isso que taxasde poupança elevadas tendem a levar a taxas de investimento também elevadas, o que explica, de certo modo, o bom desempenho econômico de países com altas taxas de poupança. Observe a figura a seguir: Figura 01: Importância da Poupança Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/porquinho-banco-dinheiro-finan%c3%a7a-2889050/ A relação entre poupança e investimento é objeto de discussões acaloradas entre os economistas. E você sabe por quê? Há quem defenda, como a exemplo dos monetaristas, que a poupança é que precede o investimento, e há quem entenda que é o investimento que precede a poupança, como para Keynes. Para ele, o investimento é que precede a poupança; a renda adicional criada pelo investimento produz a posteriori a poupança exigida. Logo, pode haver investimento sem poupança – por exemplo, via criação de crédito [...] e, por conseguinte, não é a poupança que explica o investimento e sim um conjunto de outras variáveis, como a preferência pela liquidez, a eficiência marginal do capital e a taxa de juros (PAULANI; BRAGA, 2006, p. 8). https://pixabay.com/pt/photos/porquinho-banco-dinheiro-finan%c3%a7a-2889050/ MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 90 Por isso, é importante levar em conta outras variáveis, além da poupança e investimento, quando analisamos os condicionantes do crescimento econômico. Uma série de outros fatores políticos, econômicos e sociais, que constituem o sistema econômico como um todo, é imprescindível numa análise mais apurada. 10.1.1 Modelo de Economia Fechada (com governo e sem setor externo) Quando incluímos o governo no nosso modelo de análise, passamos a tratar com mais duas variáveis importantes, que são os gastos do governo (G) e a tributação (T). Os gastos governamentais são de três naturezas: custeio (manutenção da máquina pública), investimentos do governo (infraestrutura de saúde, educação, transportes, moradia, segurança pública) e transferências (pagamento de aposentadorias, subsídios e pensões). A tributação abrange os impostos, taxas e contribuições, que constituem as receitas governamentais. Você já deve ter percebido que tributação e gastos são postos em lados contrários quando se analisam as contas públicas visando conhecer a sua situação fiscal. Assim, quando o governo gasta mais do que arrecada por meio dos tributos, temos um déficit fiscal, e o contrário ocorre quando as receitas superam as despesas, quando temos um superávit fiscal. Estudante, como a tributação é extraída da renda e os gastos do governo advêm de parte da produção, então: C + S + T = C + I + G Temos que: S + T = I + G Ou, ainda: S - I = G - T Essa nova identidade pode ser assim interpretada: o excesso de despesas do governo sobre a arrecadação, isto é, o déficit do orçamento do governo é contabilmente idêntico ao excesso de poupança sobre o investimento privado. Em outras palavras, o déficit orçamentário do governo é financiado pela poupança privada, que deveria estar sendo canalizada para investimentos na economia. Quando falamos em investimento (não de aplicação financeira), existem três agentes envolvidos: as famílias (construção de imóveis, educação), as empresas MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 91 (criação ou ampliação de unidades fabris, maquinário, equipamentos) e o governo (infraestrutura). Quando o governo tem uma estrutura de gastos muito elevada em custeio ou transferências, sobra pouco para investir em infraestrutura (transportes, saúde, moradia, educação, segurança pública), que é um dos determinantes do crescimento econômico. Quando o governo apresenta déficit fiscal, ele precisa fazer empréstimos para realizar as ações governamentais, fazendo com que a poupança privada (transformada em diversas modalidades de aplicações financeiras), que tecnicamente deveria atender à demanda de investimentos, seja mais atrativa circulando no mercado financeiro. 10.1.2 Modelo de Economia Aberta (com governo e com setor externo) Vamos completar nosso modelo com a inclusão do setor externo que, como já vimos, é imprescindível para as nações. Assim, temos que o excedente que produzimos, além dos demais fatores de produção e serviços, é comercializado por meio das exportações (X), enquanto que são importados (M) bens e serviços e fatores produtivos que não dispomos internamente ou que são mais vantajosos quando trazidos do exterior. Na ótica da renda, além do consumo, poupança e tributação, incluímos as importações, e na ótica do produto ou da despesa, temos o consumo, o investimento, os gastos do governo e as exportações. Assim: C + S + T + M = C + I + G + X Logo: S + T + M = I + G + X Agrupando este conjunto de variáveis de acordo com sua procedência, temos que: Privado Externo Público (S - I) + (M - X) = (G - T) Como entender essa equação? Em relação ao setor privado, o montante poupado é superior ao investido, ou seja, há uma poupança interna líquida, enquanto que no setor externo há uma remessa de recursos ao exterior superior à entrada no país, o que representa uma poupança externa líquida. Tendo a terceira relação apresentando um déficit fiscal, chega-se à conclusão de que a poupança interna líquida e a poupança externa líquida podem – e têm financiado – o endividamento público, podendo assim causar paralisia ou lentidão MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 92 na economia que, sem capacidade de investir, tem dificuldade de crescer (NOGAMI, 2012). Por outra ótica, podemos deduzir que qualquer acontecimento ou política econômica que reduza o consumo (C), os investimentos (I), os gastos do governo (G) ou resultado da balança comercial (M – exportações menos importações – X) a um dado nível geral de preços (P) leva à diminuição da demanda agregada (DA). 10.2 AGREGADOS ECONÔMICOS Agora vamos estudar os agregados econômicos. Como exposto anteriormente, temos a seguinte igualdade econômica: Veremos, na sequência, como estes agregados são mensurados. O produto nacional (ou produto agregado) é o somatório do valor de todos os bens e serviços finais, em determinado período de tempo (geralmente um ano), contabilizados em termos monetários. O grifo é importante porque neste cômputo não entram os bens ou serviços intermediários, pois implicariam em dupla contagem. Assim, por exemplo, no caso do valor de uma cadeira, considerado um produto final, já está implícito o valor pago ao fornecedor das matérias-primas e insumos como a madeira, a cola, a tinta etc. Temos então que: Produto Nacional = PiQi. i 1 Em que: Pi = preço médio do produto i Qi = bem ou serviço i i = bens e serviços finais i = 1, 2,...n PiQi = valor da produção de setor i Vale observar que há diferentes formas de definir o produto: interno, nacional, bruto ou líquido e a preço de mercado ou a custo de fator. O Produto Interno Bruto (PIB), na maioria das vezes o mais conhecido e divulgado, é a soma, em unidades monetárias, de tudo o que é produzido em bens e serviços dentro do país, ou seja, não entra neste cômputo o que é produzido por multinacionais brasileiras no exterior, mas entra o que é produzido no país por multinacionais estrangeiras. MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 93 Figura 02: Descrição Econômica Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/contador-calculadora-contabilidade-3681227/ No caso do Brasil, nos últimos anos houve flutuações muito grandes no PIB, devido aos fenômenos econômicos ocorridos tanto interna como externamente (especialmente a crise financeira de 2008). Para você compreender melhor essas flutuações, Observe na figura que o reflexo mais forte da crise financeira internacional sobre o PIB brasileiro foi sentido no ano de 2009, quando houve um decréscimo nesse indicador da ordem de 0,1%, embora já em 2008 (a crise “estourou” em agosto de 2008) tenha havido uma queda significativa, passando de um crescimento de 6,1% em 2007 para 5,1%em 2008. Nos anos seguintes, e ainda hoje, muitos países continuam sendo afetados pelos efeitos gerados pela crise de 2008, como se observa quando vemos que a partir de 2013 houve novos decréscimos no PIB brasileiro, quando aliado à situação econômica internacional, somaram-se também fatores internos que geraram uma forte crise na economia do país. Quando nos referimos ao PIB, observe que existe aqui uma delimitação geográfica importante. O PIB, como já afirmamos, é o somatório de tudo o que é produzido no país, independentemente da nacionalidade das empresas. Já o Produto Nacional Bruto (PNB), como a denominação indica, mede o que é produzido em bens e serviços pelas empresas nacionais, quer elas estejam no país ou no exterior, desde que a propriedade da empresa pertença a empresários do país. Neste caso, não é contabilizado o que é produzido pelas multinacionais instaladas no país que têm sua matriz no exterior. No sistema de contas nacionais, o PNB é encontrado quando subtraímos a Renda Líquida Enviada ao Exterior (RLEE) do PIB. A renda enviada ao exterior é líquida https://pixabay.com/pt/illustrations/contador-calculadora-contabilidade-3681227/ MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 94 porque representa a diferença entre recursos enviados ao exterior para remuneração da matriz das multinacionais instaladas no país e os recursos recebidos do exterior para remuneração da matriz das empresas brasileiras que têm filiais em outros países. Assim, temos que: PNB = PIB - RLEE Outro conceito relacionado ao produto é o de Produto a Preço de Mercado (PIBpm). Este é o produto que inclui os impostos indiretos (que incidem sobre a produção e o consumo, tais como ICMS, IPI, dentre outros), já descontados os subsídios. Podemos dizer, assim, que o PIBpm é a soma do valor dos bens e serviços efetivamente pagos pelo consumidor. Já o conceito de Produto a Custo de Fatores (PIBcf) é aquele que reflete os custos de produção das empresas, pois não inclui os impostos indiretos, mas inclui os subsídios. Temos, ainda, que efetuar uma diferenciação entre o Produto Nacional Bruto e o Produto Nacional Líquido (PNL), já que o produto se torna líquido quando extraímos o valor relativo à depreciação (bens e serviços produzidos para a reposição ou manutenção do capital, na forma de máquinas, equipamentos e instalações das mais diversas). Assim: PNL = PNB - depreciação Alternativamente, o produto agregado pode ser obtido contabilizando- se o Valor Adicionado em cada etapa produtiva. Para exemplificar, utilizamos uma abstração da realidade. Imaginemos, então, que um país produza um único bem final, o pão. Para produzir pão, dois insumos fundamentais são requeridos: o trigo e a farinha (LOPES; VASCONCELLOS, 2008). Esses insumos tiveram um custo para serem produzidos. Assim, conforme estabelecido no quadro abaixo, o valor adicionado de cada etapa produzida estaria assim representado: Produto Valor do produto Insumos Valor adicionado Trigo 10 0 10 Farinha 15 10 5 Pão 20 15 5 FONTE: Lopes e Vasconcellos (2008, p. 31) Desta forma, soma-se o valor adicionado a cada etapa produtiva, gerando um valor total de $ 20,00. Neste exemplo, o Valor Bruto da Produção (VBP) é a soma de todos os bens (trigo, farinha e pão), que soma $ 45,00. Entretanto, não podemos considerar este valor, pois incorreríamos no erro de dupla contagem. Temos, então, que suprimir MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 95 o valor dos insumos necessários à produção do pão, no caso, denominados de bens de consumo intermediário (LOPES; VASCONCELLOS, 2008). Assim, o valor adicionado (VA) é dado por: VA = VBP - consumo de bens serviços intermediários Então: VA = 45 - 25 VA = 20 Como afirmamos anteriormente, produto, despesa e renda agregados formam uma identidade econômica básica. Mas como obter o valor da despesa (ou dispêndio) nacional? Esta é encontrada quando medimos as despesas realizadas pelos consumidores, empresas, governo e setor externo para produzir bens e serviços. DN = Despesas de consumo Ou seja: “Para produzir, quais tipos de bens a economia despendeu seus esforços, sua força de trabalho, seu capital material?” (PAULANI; BRAGA, 2006, p. 12). Na sociedade em que vivemos e que é, no aspecto material, inteiramente organizada pela troca, a ótica do produto considera a atividade dos indivíduos como produtores, ou seja, a atividade das unidades produtivas ou empresas. Já a ótica do dispêndio (ou do gasto, ou da demanda) refere-se à sua atuação como consumidores, ou seja, como famílias. Finalmente, a ótica da renda analisa os indivíduos em sua condição de proprietários de fatores de produção. As transações ocorrem entre as famílias e empresas e envolvem fluxos reciprocamente determinados de bens e serviços concretos, por um lado, e de dinheiro, por outro (PAULANI; BRAGA, 2006, p. 20). 10.3 A RENDA NACIONAL A terceira forma de medir a atividade econômica utiliza o conceito de Renda Nacional, que nada mais é do que a soma da remuneração obtida pela utilização dos fatores produtivos terra, capital, trabalho e capacidade empresarial, denominados, respectivamente, de aluguel, juro, salário e lucro, na produção dos bens e serviços demandados pela sociedade. RN = aluguel + juro + salário + lucro (RPD), que é a Renda Pessoal subtraindo-se os impostos diretos sobre as famílias. MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 96 ISTO ESTÁ NA REDE Link: https://www.youtube.com/watch?v=ZUVQZi0lYII Vimos, desta forma, que as três óticas (produto, despesa e renda) são utilizadas para medir a atividade econômica e conduzem ao mesmo resultado numérico, expresso em unidades monetárias. ANOTE ISSO Para fecharmos as medidas de produto e de renda, podemos introduzir os conceitos de Renda Nacional (RN), que é o Produto Nacional Líquido a custo de fatores, Renda Pessoal (RP), que é igual à Renda Nacional menos os lucros retidos pelas empresas, os impostos diretos sobre empresas, outras receitas do governo (contribuição previdenciária, FGTS etc.), e mais as transferências governamentais (aposentadorias, seguro desemprego etc.). Temos ainda a Renda Pessoal Disponível https://www.youtube.com/watch?v=ZUVQZi0lYII MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 97 CAPÍTULO 11 MODELO CAPITALISTA Introdução Olá Estudante, o modo de produção capitalista é um sistema que gera e reproduz crises. Isso porque a crise é inerente a este sistema, que divide a sociedade em duas classes sociais: o capital e o trabalho, como já afirmamos. Uma das mais graves crises foi a ocorrida em 1930, que você já ouviu falar desde o Ensino Fundamental ou Médio, não à toa chamada de “Grande Depressão”. A teoria clássica de Adam Smith (também conhecida como teoria do liberalismo econômico) foi hegemônica desde a Revolução Industrial até a Grande Depressão. A base desta teoria trazia os seguintes pressupostos: o mercado deveria funcionar livremente; b) a economia deveria atingir o pleno emprego; c) o desemprego somente ocorreria quando os trabalhadores quisessem receber acima do salário de mercado – desemprego voluntário; d) a oferta cria sua própria demanda – Lei de Say. A partir da Grande Depressão, pelo menos até as décadas de 1970/1980, as nações praticamente não mais utilizaram como modelo a teoria clássica, mas a “Teoria da Determinação do Equilíbrio da Renda Nacional”, de Keynes, capítulo integrante da célebre obra Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, publicada em 1936, que contestava veementemente a ideia de que “havia uma tendência automática ao pleno emprego, com inexistência de desemprego e de capacidade ociosa” (NOGAMI; PASSOS, 2003, p. 395). Já estudamos que a macroeconomia analisa as relações existentes entre dois mercados específicos: o mercado real e o mercado monetário. Vimos também que é por meio das políticas macroeconômicas que acontece a intervençãodo Estado na economia, o que pode acontecer tanto no mercado monetário quanto no mercado real. 11.1 CONTROLES CAPITALISTAS Os principais órgãos responsáveis por implementar estas políticas são o Ministério da Fazenda, que atua mais especificamente no mercado real, e o Banco Central, também chamado de Autoridade Monetária, que se responsabiliza pelo mercado monetário. MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 98 Um dos principais objetivos da intervenção do Estado na economia é a geração de renda, componente fundamental para o crescimento econômico e a geração de empregos. Mas existem teorias divergentes no que se refere à forma como se determina a renda, que são o modelo clássico e o modelo keynesiano. Para que você possa construir seu próprio pensamento crítico a respeito das duas teorias de determinação da renda, analisaremos primeiro o modelo clássico de determinação da renda nacional para, em seguida, conhecermos o modelo keynesiano. 11.2 O MODELO CLÁSSICO Para Rossetti (1988, p. 606), “todo o desenvolvimento clássico sobre o equilíbrio geral da atividade econômica foi definitivamente resumido nos primeiros anos do século XIX pelo teórico francês Jean-Baptiste Say (1767-1832), em seu Traité d’Êconomie Politique, cuja primeira edição foi publicada em 1803”. Defensor do liberalismo econômico, tal como proposto por Adam Smith, Say era defensor do livre mercado e do mecanismo do sistema de preços, assegurando que a produção cria mercados para os produtos. Figura 01: Ponto de Equilíbrio Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/estat%c3%adsticas-setas-flechas-tend%c3%aancia-2899919/ Segundo Pereira (1976, p. 9), “a Macroeconomia Clássica, como toda a teoria econômica clássica, parte do pressuposto fundamental de que o mundo econômico é governado por leis naturais, as quais, se forem deixadas a funcionar livremente, produzirão sempre os melhores resultados possíveis”. https://pixabay.com/pt/photos/estat%c3%adsticas-setas-flechas-tend%c3%aancia-2899919/ MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 99 Os clássicos se utilizam de três hipóteses para formular a sua teoria de determinação da renda nacional: a) as forças de mercado tendem a equilibrar a economia a pleno emprego; b) a quantidade de moeda afeta apenas o nível geral de preços; e c) a demanda agregada não é um fator determinante do nível do produto, hipóteses essas que estudaremos adiante. Antes de prosseguirmos, entretanto, uma informação é importante: como já frisamos, até a Grande Depressão de 1930 a teoria macroeconômica não tinha grande importância na literatura econômica, sendo Keynes seu principal formulador. Assim, de acordo com Lopes e Vasconcellos (2008, p. 105-6): O que os livros-textos de Macroeconomia caracterizam como modelo clássico é na realidade a junção da contribuição de diversos autores isolados. [...] Na verdade, o chamado modelo clássico utilizado nos principais livros-texto de Macroeconomia diz respeito ao modelo neoclássico, que se baseia na hipótese da racionalidade dos agentes econômicos. Um dos principais defensores de Say sustentava que: Como a oferta cria a sua própria procura, não poderia haver superprodução, afastando- se, consequentemente, a possibilidade de ocorrência do desemprego geral. A produção global sempre criaria, ela própria, mercado para seu escoamento, pois, numa economia baseada nas trocas e na divisão do trabalho, o ato da produção representa um futuro ato de procura; o fato de a coletividade estar produzindo significa que ela está se preparando para consumir (A. G. PIGOU apud ROSSETTI, 1988, p. 606). Segundo Lopes e Vasconcellos (2008, p. 105): O modelo clássico considera que as forças de mercado tendem a equilibrar a economia a pleno emprego, isto é, no ponto em que se igualam a oferta e a procura de mão de obra; corresponde a dizer que há completa flexibilidade de preços e salários; como o nível de atividade e de emprego está determinado automaticamente pelas forças de mercado, a quantidade de moeda afeta apenas o nível geral de preços. Significa dizer que as variáveis reais, bem como os preços relativos, não são afetados pela política monetária (hipótese da neutralidade da moeda); a demanda agregada não é um fator determinante do nível do produto; é válida a chamada Lei de Say: ‘a oferta cria sua própria demanda’. Para que possamos conhecer todas as proposições do modelo clássico de determinação da renda nacional, analisaremos primeiro como se forma a oferta agregada, a função de produção agregada, demanda, oferta e equilíbrio no mercado de MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 100 trabalho, oferta e demanda agregada, o papel da moeda no modelo clássico, poupança, investimento e o papel da taxa de juros para, finalmente, analisarmos o equilíbrio entre oferta e demanda 11. 3 OFERTA AGREGADA A demanda agregada não é um fator determinante do nível do produto para os clássicos; é válida a chamada Lei de Say: “a oferta cria sua própria demanda”. Segundo esta lei, a oferta agregada, ou seja, as quantidades produzidas e o volume de serviços oferecidos são determinados pela quantidade e qualidade dos fatores de produção existentes, nível tecnológico, capacitação do capital humano e pela capacidade de administração dos empreendedores (LOPES; VASCONCELLOS, 2008). Say argumentava que havia simultaneidade e interdependência dos fluxos da produção e da renda. Mas o que isso significa? Basicamente, significa que a produção vai determinar a oferta, e esta criará a demanda e a renda, então será uma consequência da produção, já que no processo produtivo todos os agentes são envolvidos, quer sejam firmas, quer sejam trabalhadores. “Afinal, a geração simultânea da produção e da renda coloca nas mãos da coletividade um potencial de compra suficiente para que todos os bens e serviços produzidos pelo sistema possam ser efetivamente consumidos” (ROSSETI, 1988, p. 609). Não é a demanda agregada que determina o nível de produtos e serviços da economia, mas sim as condições de oferta. A demanda apenas determina o nível de preços (LOPES; VASCONCELLOS, 2008). E a oferta agregada, como se forma? Para os clássicos, “a oferta agregada corresponde ao total de produto que as empresas e famílias estão dispostas a oferecer em um determinado período de tempo, a um determinado padrão de preços” (LOPES; VASCONCELLOS, 2008, p. 106). 10.4 FUNÇÃO DE PRODUÇÃO AGREGADA “Produzir significa adaptar a natureza, por meio da combinação de fatores de produção, às necessidades humanas. Para gerar produto, portanto, as empresas se utilizam de capital (máquinas, equipamentos, edifícios etc.) e trabalho, de acordo com uma dada tecnologia” (LOPES; VASCONCELLOS, 2008, p. 106). MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 101 Assim, para produzir sapatos é preciso de máquinas e equipamentos, matérias-primas e insumos, mão de obra, sendo que o nível tecnológico irá depender de quão modernos são estes bens de capital e, ainda, o nível tecnológico, adaptado ao conhecimento, irá determinar a produtividade da empresa. Para analisar a relação existente entre a quantidade produzida e os fatores produtivos empregados, os clássicos utilizam a seguinte função de produção: Y = f (K.N,T) Em que: Y = produto; K = estoque de capital utilizado; N = quantidade de trabalho (horas); T = nível tecnológico. Essas variáveis são definidas num dado período de tempo, nesse caso considerado o curto prazo, que é aquele período de tempo em que pelo menos um dos fatores de produção é fixo, neste caso o capital, sendo o trabalho o fator variável. Vamos considerar que a produção responde positivamente a qualquer das variáveis que a determina, ou seja, aumentando a quantidade de fatores produtivos utilizados, aumentará a quantidade produzida e que a função de produção apresenta retornos constantes de escala. Se tomarmos o capital (K)como um fator de produção fixo, essa função apresentará rendimentos marginais decrescentes em relação ao fator variável (N), que é o trabalho. Dessa formulação resulta um conceito muito utilizado pelos clássicos, que é o da produtividade marginal decrescente. Figura 02: Variáveis Econômicas Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/o-neg%c3%b3cio-finan%c3%a7a-bolsa-de-valores-816491/ https://pixabay.com/pt/illustrations/o-neg%c3%b3cio-finan%c3%a7a-bolsa-de-valores-816491/ MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 102 Para entender esse conceito, vamos a um exemplo formulado por Nogami e Passos (2003, p. 225-226): Suponhamos que uma fazenda possua uma determinada área cultivável de, por exemplo, 10 hectares. Façamos então a hipótese de que esse fator de produção permanecerá fixo e que a mão de obra será o único fator de produção variável, de tal forma que essa fazenda possa produzir volumes maiores de produção (trigo) por meio do aumento desse fator (mão de obra). Em termos de função de produção, teríamos: Y = f (K.N) Em que: K = Terra (capital) e N = Trabalho Logo: Y = f (N) Ou seja, o nível de produto varia apenas em função (ou depende) de alterações na mão de obra, em curto prazo, coeteris paribus (todas as demais variáveis permanecem constantes). A partir dessa constatação é que os clássicos formularam a teoria da produtividade marginal de um fator de produção, no caso, da mão de obra. Essa teoria consiste no seguinte: “O produto marginal (ou produtividade marginal) do fator variável é definido como sendo a variação na produção total decorrente da variação de uma unidade no fator de produção variável. Como em nosso exemplo, a mão de obra é o único fator de produção variável” (NOGAMI; PASSOS, 2003, p. 229). Assim, o nível de produção depende da quantidade utilizada do fator trabalho, dado o estoque de capital e o nível tecnológico, como se observa no gráfico ilustrado a seguir, sendo que a produtividade marginal do trabalho é positiva, mas decrescente: Considerando o curto prazo em que, em nosso caso, apenas a quantidade de trabalho pode ser alterada, percebemos que a produção ou oferta agregada passa a depender exclusivamente de quanto é utilizado deste fator. O nível de emprego (utilização) do fator trabalho é determinado no mercado de trabalho, em que a demanda é realizada pelas empresas que o utilizam na produção, e a oferta pelos indivíduos (famílias, trabalhadores) que o possuem (LOPES; VASCONCELLOS, 2008, p. 108). Como para os clássicos o mercado de trabalho é a força motriz, que determina o nível de mão de obra e o salário real de pleno emprego, vamos analisar agora os condicionantes desse mercado. MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 103 11.5 DEMANDA, OFERTA E EQUILÍBRIO NO MERCADO DE TRABALHO Considerando a hipótese dos clássicos de que as forças de mercado tendem a equilibrar a economia a pleno emprego, ou seja, que flutuações na economia seriam apenas momentâneas, questionamos: Como, então, explicar o desemprego? O desemprego seria apenas momentâneo, haja visto que, como sempre haveria tendência ao equilíbrio nos mercados, se houvesse desemprego seria porque haveria um excesso de oferta de trabalho em relação à demanda dos empresários pela mão de obra. Desta forma, para restabelecer o equilíbrio no mercado de trabalho (assim como acontecia no mercado de bens e serviços), bastaria reduzir os salários (o preço da mão de obra) para que a demanda por trabalho aumentasse e o problema fosse resolvido. A livre interação entre as forças de oferta e demanda por trabalho é que determina o número de pessoas e os seus salários reais de equilíbrio. Assim, há a seguinte relação entre demanda e oferta de mão de obra: a oferta de trabalho é função crescente do salário real e a demanda por trabalho é função decrescente do salário real. Quanto ao trabalhador, a decisão de quanto trabalhar corresponde à escolha de como alocar as horas do dia entre o trabalho e o lazer, sendo que o trabalho não gera nenhum prazer, apenas a renda necessária para poder consumir e obter a satisfação decorrente do consumo de mercadorias. Assim, a decisão de dedicar seu tempo ao trabalho depende do valor do salário real, ou seja, deve ser tal que induza o indivíduo a abrir mão do lazer. “Por simplicidade, suporemos que o efeito substituição se sobreponha ao efeito renda, e que a curva de oferta de trabalho seja positivamente inclinada em relação ao salário real” (LOPES; VASCONCELLOS, 2008, p. 111). Considerando que a teoria do equilíbrio parcial considera que os mercados operem em uma situação de concorrência perfeita, em que empresas e trabalhadores são tomadores de preços tanto de bens e serviços quanto de fatores produtivos, o equilíbrio entre oferta e demanda de mão de obra é análogo ao formato do equilíbrio entre oferta e demanda de um produto qualquer (já que é o mercado que vai determinar o preço dos produtos e dos fatores produtivos). Assim, quando o salário real estiver acima do nível de equilíbrio, haverá excesso de oferta de trabalho, o número de horas de trabalho oferecidas pelos trabalhadores será maior do que o demandado pelas empresas, caracterizando uma situação de MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 104 desemprego (W/P). Com isso, a concorrência entre trabalhadores para obter empregos levará à redução dos salários, reduzindo a oferta e ampliando a demanda, até que as duas quantidades se igualem, em um nível inferior de salário real (W/P). Se o salário real estiver abaixo do equilíbrio, haverá excesso de demanda por trabalho (superemprego) (W/P). Com isso, a concorrência entre as firmas para conseguir trabalhadores levará ao aumento do salário real, ampliando a oferta de trabalho e diminuindo a demanda, até que as duas quantidades se igualem (W/P) (LOPES; VASCONCELLOS, 2008, p. 113). 11.5 OFERTA E DEMANDA AGREGADA E O PAPEL DA MOEDA Tendo analisado a oferta e demanda de mão de obra no modelo clássico e considerando que neste modelo (analisado no curto prazo) o nível de produto depende da função de produção, e sendo a mão de obra o único fator de produção variável, temos o seguinte formato do produto de pleno emprego (que será ao mesmo tempo a oferta agregada da economia) (LOPES; VASCONCELLOS, 2008). Note que a curva de produto, embora seja positiva, cresce a taxas decrescentes devido à produtividade marginal do trabalho ser decrescente, como já analisamos anteriormente. Desta forma, “o nível de emprego e de produto independem de variáveis nominais (monetárias), como o nível de preços ou salário nominal, por exemplo. [...] Portanto, a oferta agregada é inelástica ao nível de preços, o que significa que a curva de oferta é vertical” (LOPES; VASCONCELLOS, 2008, p. 114, grifo da autora). Afinal, o que significa essa afirmação? Quando um produto é inelástico a preços, significa que se aumentar o preço, a quantidade ofertada permanecerá a mesma. Isso acontece porque este é o nível de produção no pleno emprego, ou seja, não há mais recursos disponíveis para aumentar a produção, razão pela qual, se aumentar o nível de preços da economia, a oferta permanecerá a mesma. Isso porque, para que o nível de oferta (e de produto) aumente, é preciso que haja uma expansão dos recursos produtivos: que aumente a quantidade de matérias- primas disponíveis, por exemplo, com a descoberta de novos materiais, que o nível tecnológico se modernize (o que faz com que se produza mais e desperdiçando menos), aumentando assim a produtividade do trabalho, ou, ainda, com o aumento da população economicamente ativa (crescimento populacional). Podemos chamar isso de expansão da fronteira de produção. MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 105 ISTO ESTÁ NA REDE Link: https://www.youtube.com/watch?v=V1U67_ZjJ30 É preciso lembrar que existem algumas condições importantes na análiseclássica do equilíbrio geral, dentre elas que as empresas estão inseridas num mercado perfeitamente competitivo e, assim, são tomadoras de preços, ou seja, é o próprio mercado que determina o preço dos produtos na interação entre oferta e demanda. Somando-se a produção de cada firma, obtém-se a oferta agregada. ANOTE ISSO A renda nacional é gerada no processo de produção pela remuneração dos fatores produtivos (salários, lucros, juros e aluguéis) e retorna para o mesmo processo na forma de consumo ou investimento. Com isso, toda a produção de bens e serviços da economia seria escoada, não havendo vazamentos. Mesmo a parte da renda que não fosse para o consumo, isto é, a parte poupada, iria para os investimentos em bens de capital. https://www.youtube.com/watch?v=V1U67_ZjJ30 MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 106 CAPÍTULO 12 PAPEL DA MOEDA Introdução Olá Estudante, aprendemos que uma das hipóteses do modelo clássico de determinação da renda supõe que há uma separação entre o lado real e o lado monetário da economia. Para estes, a moeda tende a ser neutra, especialmente no longo prazo. Mas o que isso significa? Basicamente significa que, caso haja aumento da quantidade de moeda em circulação, acarretará em aumento do nível geral de preços (gerando inflação), sem alterar o nível de produto, nível de emprego, salário real e os preços relativos da economia. Caso imperfeições no mercado venham a ocorrer (lembremos de que os clássicos supõem a livre concorrência), como a pressão de sindicatos com o consequente aumento dos salários, haverá desemprego, fazendo com que haja uma oferta maior de mão de obra em relação à demanda e uma diminuição do produto (ficará abaixo do produto potencial). Entretanto, com o desemprego haverá trabalhadores aceitando trabalhar por salários cada vez menores, ou, se o governo lançar mão da política monetária e injetar moeda na economia, elevará o nível geral de preços e o valor do salário real cairá, o que restabelecerá novamente o equilíbrio. 12.1 POUPANÇA, INVESTIMENTO E O PAPEL DA TAXA DE JUROS Apesar dos clássicos sustentarem a aplicabilidade da Lei de Say, admitiam a existência de uma variável que poderia interromper (mas sempre temporariamente) este mecanismo: a poupança. “Sem dúvida, se a sociedade destinasse ao consumo todo o rendimento gerado pelo processo da produção, não haveria motivos para que ocorressem a superprodução, o desemprego e o desequilíbrio da atividade econômica” (ROSSETTI, 1988, p. 609). Afirmavam, então, que a poupança, se de início pode causar algum desequilíbrio, acaba sendo importante componente para o crescimento da economia, porque esta se MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 107 traduziria em investimento, bastando, para restaurar o equilíbrio, que as duas variáveis se igualem. Ou seja, acreditavam que a poupança é uma variável que antecede o investimento. Sendo o nível de poupança determinado pela taxa de juros, quanto maior a taxa de juros de mercado, maiores os recursos poupados. Já o investimento caminha em sentido contrário: como os investidores (unidades produtoras) em geral captam recursos no mercado financeiro, quanto menores essas taxas, maior será o nível de investimento. Segundo Nogami e Passos (2003), uma vez que a poupança é estimulada pelas altas taxas de juros e o investimento é encorajado pelas baixas taxas de juros, as curvas de poupança e do investimento caminham em direções inversas, devendo interceptar-se em determinado ponto de equilíbrio. É importante destacar, por fim, que o nível de consumo agregado também depende da taxa de juros, pois quando as mesmas estão elevadas o custo da moeda também se eleva, podendo elevar os preços dos produtos. 12.2 EQUILÍBRIO ENTRE OFERTA E DEMANDA Tendo estudado oferta e demanda agregadas separadamente, vamos analisar como se dá o equilíbrio entre as duas variáveis. Temos que: Oferta Agregada = Demanda Agregada, ou seja: Y = DA Considerando apenas o consumo e o investimento, temos que: DA = C + I Assim, no equilíbrio entre oferta e demanda, substituímos DA por C + I: Y = C + I Considerando, ainda, que tanto o consumo como o investimento dependem da taxa real de juros, temos que: Y = C( i ) + l( i ), sendo r a taxa real de juros Pela definição de poupança, temos que: S = Y - C Sabendo que: S = S ( i ) Chegamos, finalmente, no equilíbrio macroeconômico, que é obtido quando: MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 108 S ( i ) = l( i ) Ou seja, de acordo com Lopes e Vasconcellos (2008, p. 122), “a taxa de juros tem a função de equilibrar o mercado de produto”. Quando tratamos dos agregados macroeconômicos, vimos que renda nacional, produto nacional e despesa nacional são grandezas de igual valor (que possuem uma identidade básica). Entretanto, como podemos agora compreender a partir das hipóteses keynesianas, a condição de equilíbrio macroeconômico pode ser alcançada mesmo com a economia operando abaixo do pleno emprego, o que Keynes chamou de produto efetivo (o que, por analogia, conduz às demais igualdades, que são a renda e a demanda, à mesma designação). Assim, a renda de equilíbrio (ou renda efetiva) é determinada quando a demanda agregada e a oferta agregada se igualam, o que pode acontecer mesmo quando a economia estiver operando com capacidade ociosa de produção (VASCONCELLOS; GARCIA, 2005). Então, como restabelecer o equilíbrio que possa conduzir a economia novamente ao pleno emprego dos recursos? É isso mesmo que você deve estar pensando: “Como a oferta agregada é fixada no curto prazo, a política econômica deve se concentrar em elevar a demanda agregada, por meio de instrumentos que proporcionem aumento dos gastos de consumo, investimento, gastos do governo, elevação das exportações acima das importações etc.” (VASCONCELLOS; GARCIA, 2005, p. 126). Figura 01: Controle da Moeda Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/ouro-dinheiro-o-neg%c3%b3cio-finan%c3%a7a-2024083/ https://pixabay.com/pt/photos/ouro-dinheiro-o-neg%c3%b3cio-finan%c3%a7a-2024083/ MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 109 Quais variáveis são analisadas nesse gráfico? Vejamos: temos o Nível Geral de Preços, no eixo vertical do gráfico, a Renda Nacional Real (RN) (ou efetiva), no eixo horizontal e as variáveis que são dependentes tanto dos preços quanto da renda, que são a Demanda Agregada (DA) e a Oferta Agregada (OA). Vamos analisar o gráfico ponto a ponto. Para Keynes, quando a Oferta Agregada (OA) está distante da Renda Nacional de Pleno Emprego (RNpe) é possível aumentar a Demanda Agregada (DA) de DA0 para DA1 sem aumentar o Nível Geral de Preços e, consequentemente, aumentar a Renda Nacional (RN) de RN0 para RN1. Observe que, nesse caso, a economia está operando abaixo do pleno emprego, certo? Entretanto, quando a economia está operando no pleno emprego dos recursos, quando há equilíbrio entre Demanda Agregada (DA2) e Oferta Agregada no ponto em que a Renda Nacional chega ao pleno emprego de recursos (RNpe), aumentos na Demanda Agregada (DA) de D1 para D2 não alteram a Oferta Agregada (OA), porque esta oferta é fixa no curto prazo, o que vai acarretar no aumento do Nível Geral de Preços de P1 para P2. Observe que existe uma parte da curva intermediária, na qual o aumento da demanda agregada leva ao incremento do produto, mas com uma pequena elevação do nível geral de preços. Nessa área da curva, o governo precisa tomar muito cuidado com sua política de aumentar a demanda agregada, pois ele vai começar a levar a economia para um processo inflacionário (ROSSETTI, 1988). Conseguiu visualizar a afirmação no gráfico da Figura 20? Quando a economia está operando no pleno emprego de recursos, para que haja uma expansão da Oferta Agregada (OA) é preciso aumentar a quantidade de recursos disponíveis, o que somente é possível no longo prazo. Portanto, qualquerestímulo da Demanda Agregada (DA) nesse intervalo de tempo pode causar um processo inflacionário, já que a demanda será maior que a oferta, levando o nível geral de preços de P2 para P3. 12.3 CONSUMO, POUPANÇA E INVESTIMENTO AGREGADO Agora que já estudamos as relações existentes entre Nível Geral de Preços, Renda Nacional Efetiva (ou real), Demanda Agregada (DA) e Oferta Agregada (OA), vamos incluir outras variáveis que são importantes na análise macroeconômica, que são o consumo, a poupança e o investimento agregado. Por que estas variáveis são importantes? Vejamos na sequência. MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 110 Quando você decide adquirir um bem, por exemplo, um automóvel, que fatores você leva em conta na sua decisão de compra? Entretanto, como no exemplo anterior (onde analisamos como funcionam suas decisões de compra), a Renda Nacional Disponível (RND) é o fator mais importante a ser levado em conta no consumo agregado. Renda Nacional Disponível é aquela que sobra quando subtraímos os tributos (impostos, taxas e contribuições) da Renda Nacional Efetiva, ou seja, é a renda efetivamente utilizada para o consumo de toda a coletividade, o que é gasto, despendido por todos os residentes em uma nação. Assim, podemos expressar esta relação algebricamente: C = f (RND) Sendo que: C = consumo agregado; RND = Renda Nacional Disponível. Antes de prosseguirmos com as demais variáveis, vamos a um conceito criado por Keynes que é deveras importante para a análise macroeconômica. É o que Keynes denominou Propensão Marginal a Consumir. A denominação parece difícil de entender, mas com um simples exemplo você irá entender perfeitamente. Como o consumo depende em grande medida da renda, utilizando o exemplo anterior, quando você pensa em adquirir um automóvel, irá verificar se sua renda disponível será suficiente para efetuar a compra. Se num primeiro momento você constatar que sua renda não será suficiente, provavelmente não efetuará a compra. Mas se no futuro sua renda disponível aumente em, digamos, 30%, será que você finalmente comprará o automóvel tão desejado? Analisando agora, em termos macroeconômicos, a Propensão Marginal a Consumir mede a variação que ocorre no Consumo Agregado quando ocorre uma variação na Renda Nacional Disponível, ou seja: Propensão marginal a Consumir = Variação no consumo agregado = C Variação na renda nacional disponível RND MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 111 Vamos a um exemplo: Se a Renda Nacional Disponível sofrer uma variação de 30% e o Consumo Agregado variar 25%, temos que: Propensão marginal a Consumir = 25 X 0, 83 X 30 O que este resultado significa? Que para este país, 83% da Renda Nacional Disponível é destinada ao consumo dos mais diferentes bens e serviços. Assim, se a Renda Nacional Disponível sofrer um aumento de, digamos, $ 100 milhões, $ 83 milhões serão destinados ao consumo. Mas, e o restante da Renda Nacional Disponível? É o que veremos na próxima seção. 12.4 POUPANÇA AGREGADA Você já parou para pensar o que significa a palavra poupar? Do latim, palpare, significa deixar de gastar, economizar (DICIONARIOWEB, 2018). Ou seja, você deixa de gastar hoje para poder gastar mais no futuro. A moeda, quando retirada de circulação e posta numa aplicação financeira, dentre elas a mais popular, chamada de “caderneta de poupança”, rende juros que aumentam o seu poder de compra ao longo do período em que estiver aplicado, protegendo sua renda dos efeitos da inflação. Figura 02: Poupança Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/cofrinho-salvando-dinheiro-finan%c3%a7a-4747516/ Mas de onde se origina a poupança? Esta é parte da nossa renda pessoal disponível e responde à pergunta que fizemos. Da nossa renda pessoal disponível (deduzidos os impostos), ou nós gastamos com o consumo ou nós poupamos. Assim, ampliando nosso horizonte para toda a macroeconomia, “a poupança é a parte residual da renda https://pixabay.com/pt/illustrations/cofrinho-salvando-dinheiro-finan%c3%a7a-4747516/ MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 112 nacional disponível, ou seja, a parcela da renda nacional que não é gasta em bens de consumo” (VASCONCELLOS; GARCIA, 2005, p. 129, grifo da autora). Algebricamente, temos o seguinte: S = f (RND) Sendo que: S = poupança agregada (do inglês, savings); RND = Renda Nacional Disponível. Assim, temos que: Propensão Marginal a Poupar = Variação na poupança agregada = S Variação na renda nacional disponível RND Ora, utilizando o mesmo exemplo do Consumo Agregado: se a Renda Nacional Disponível sofrer uma variação de 30% e a Poupança Agregada variar 5%, temos que: Também podemos obter este resultado com outra fórmula, bem fácil de entender: Propensão Marginal a Poupar + Propensão Marginal a Consumir = 1 Assim, se sabemos que a Propensão Marginal a Consumir é igual a 0,83: Propensão Marginal a Poupar + 0,83 = 1 Logo: Propensão Marginal a Poupar = 1 - 0,83 Ou seja: Propensão Marginal a Poupar = 0,17 Aplicando no exemplo anterior, para um acréscimo na Renda Nacional Disponível de $ 100 milhões, $ 17 milhões serão poupados e o restante ($ 83 milhões), consumidos. 12.5 INVESTIMENTO AGREGADO Antes de mais nada, é importante definirmos o que é investimento, pois há confusão principalmente em relação às aplicações financeiras. “Investimento é o acréscimo ao estoque de capital que leva ao crescimento da atividade produtiva (construções, instalações, máquinas, dentre outros). Ele pode ser MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 113 interpretado sob dois ângulos: a curto prazo e a longo prazo” (VASCONCELLOS; GARCIA, 2005, p. 129, grifo da autora). Então, quando falamos de investimento, estamos nos referindo ao lado real da economia (produção de bens e serviços) e não ao lado monetário (pois há quem utilize a expressão investimento para se referir a uma aplicação no mercado financeiro). Depois dessa diferenciação, vamos entender: O que é investimento de curto e longo prazos e quais seus efeitos? Muito bem acadêmico, vamos lá! Como já estudamos nessa unidade, no curto prazo a Oferta Agregada (OA) é fixa, injeções de renda via gastos com investimento irão fazer com que a capacidade de produção aumente, afetando, assim, a Demanda Agregada (DA). Como por definição o curto prazo é aquele período de tempo em que pelo menos um dos fatores de produção é fixo, vamos então imaginar que este fator seja a mão de obra. Logo, se aumentar os gastos com investimento, no caso, na construção de uma escola, trabalhadores serão contratados para a execução da obra, mas os demais fatores envolvidos nesse processo produtivo já estarão em estoque (matérias-primas, insumos). Assim, aumentará a renda dos trabalhadores, o que fará com que aumente a demanda agregada. Agora, se o objetivo é aumentar a Oferta Agregada (OA), isso acontecerá somente no longo prazo, período em que todos os fatores de produção são variáveis (capital, tecnologia, trabalho, capacidade empresarial, terra). Com relação ao investimento, há que se ressaltar a sua importância para o crescimento econômico de um país. É fácil de entender essa afirmação: para que um país possa crescer ao longo dos anos, aumentando sua riqueza, volumosos recursos na forma de investimentos são necessários, na forma de incremento da infraestrutura do país: ampliação e manutenção de estradas, rodovias, portos, aeroportos, edificações para armazenamento e distribuição dos produtos, bem como nas áreas de saúde, educação e segurança pública, dentre outros. Por que isso é preciso, então? Ora, se houver um aumento da produção nacional e não tiver uma infraestrutura condizente com este aumento, haverá o que chamamos de “gargalo” logístico na economia. De certa forma já convivemos com essa realidade no Brasil, pois não temos sequer rodovias em muitas regiões, deixamosque a rede ferroviária fosse sucateada, ainda há lacunas de investimentos nas demais áreas de MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 114 transporte de cargas (como o fluvial, marítimo e aéreo), temos uma educação muito aquém daquela que seria a ideal para desenvolvermos pesquisa e desenvolvimento de qualidade (que nos tornem mais soberanos em relação aos países desenvolvidos, principalmente na inovação tecnológica), a saúde pública ainda é precária e a segurança, então, você conhece muito bem, pois é notícia diária nos telejornais e mídias sociais. Ao mesmo tempo em que o investimento é uma variável indispensável quando tratamos do crescimento e desenvolvimento econômico, precisamos refletir na sua instabilidade, pois “seu comportamento é de difícil previsão, por depender de fatores não apenas econômicos, mas também das expectativas quanto ao futuro” (VASCONCELLOS; GARCIA, 2005, p. 130). E do que ele depende, então? Vamos a uma análise micro para depois entender estas relações na sua forma macro. Dissemos anteriormente que quando você quer adquirir um automóvel, a renda pessoal disponível será a principal variável na sua decisão de compra. Isso pode ser analisado em duas situações: 1) Se você tiver feito uma aplicação financeira e tiver reunido o valor necessário para a compra do automóvel, irá pensar se valerá a pena adquiri-lo neste momento, analisando como estão as taxas de juros no mercado, pois se a taxa de juros estiver elevada, poderá preferir deixar seu dinheiro aplicado, que lhe renderá juros, ao invés de resgatar este valor na aquisição do veículo, ainda mais que este veículo deprecia ao longo do tempo. 2) Se você não tiver o dinheiro necessário para adquirir o automóvel à vista, poderá optar por um financiamento, mas se a taxa de juros estiver muito elevada, talvez não seria indicado adquiri-lo neste momento, porque você pode não conseguir efetuar o pagamento das prestações mensais. Com o investimento agregado acontece mais ou menos a mesma coisa, ou seja, ele vai depender da taxa de rentabilidade esperada e da taxa de juros do mercado. A taxa de rentabilidade esperada ou taxa de retorno é calculada a partir da estimativa do retorno líquido esperado pela aquisição do bem de capital [...ou, ainda] também é chamada, na literatura econômica, de eficiência marginal do capital” (VASCONCELLOS; GARCIA, 2005, p. 130, grifos do original). MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 115 A taxa de retorno do investimento baseia-se nas relações entre: o fluxo de renda esperado advindo da aquisição do bem de capital, o preço de compra e o tempo de depreciação desse bem e a taxa de juros praticada no mercado. ISTO ESTÁ NA REDE Link: https://www.youtube.com/watch?v=kPuc60MYiVw Provavelmente irá verificar, em primeiro lugar, a sua renda disponível, para decidir a forma de compra desse bem (se à vista ou financiado), a taxa de juros praticada pelos bancos (já que se você precisar financiar tem que avaliar se terá moeda suficiente para efetuar o pagamento das prestações mensais), suas expectativas sobre o fluxo da sua renda no futuro, bem como a situação econômica do país, avaliando se não haverá uma alta significativa da inflação, por exemplo, que fará com que o valor das prestações mensais se eleve muito ao longo do tempo, dentre outras variáveis. ANOTE ISSO O Consumo Agregado também depende de variáveis como a renda nacional, estoque de riqueza ou patrimônio, taxa de juros do mercado, disponibilidade de crédito, expectativa sobre a renda futura e rentabilidade das aplicações financeiras. https://www.youtube.com/watch?v=kPuc60MYiVw MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 116 CAPÍTULO 13 DESCRIÇÃO DA MOEDA Introdução Olá Estudante, como você já estudou anteriormente, a moeda é um ativo, certo? Mas, o que é um ativo? Na etimologia da palavra, moeda provém do latim activus, “que tem ação, que atua, que opera com energia” (DICIONÁRIOWEB, 2018, s.p.). A moeda é, portanto, um ativo, porque é o meio utilizado pelas nações para efetuar o pagamento de todos os demais bens e serviços existentes, ou seja, é o equivalente geral de todas as mercadorias. Você já se perguntou por que cada país tem uma moeda diferente, tanto na forma (figuras constantes nas cédulas e nas moedas metálicas) como na nomenclatura (real, dólar, euro, yene etc.)? Isso se dá devido ao fato de que cada país determina qual moeda utilizará de acordo com suas características, situação econômica, sendo que em muitos casos é comum inserir a figura de personalidades importantes da história do país. Agora, você sabe o que faz com que as pessoas aceitem utilizar a moeda que o governo cria, como foi no caso da implantação do real em 1994? Isso se deve ao fato da moeda ter curso forçado, ou seja, ser determinado por lei. Mas nem sempre foi assim. A história da moeda é bem antiga, como veremos em breve exposição nas linhas seguintes. 13.1 ORIGEM E EVOLUÇÃO De acordo com Nogami e Passos (2003), são seis fases distintas que explicam a origem e a evolução da moeda. A primeira fase remonta ao início da civilização, quando o homem deixa de ser nômade e passa a viver em pequenas comunidades, iniciando assim o processo de divisão do trabalho e especialização (caça, pesca, plantio, colheita etc.). MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 117 O que isso significa? Ora, como acontece hoje, as pessoas se especializam em algum tipo de profissão, ou seja, se especializam em alguma área do conhecimento humano (ciências humanas, exatas, etc.), sendo que a divisão do trabalho é o que permite esta especialização (em vez de cada pessoa ter que efetuar todo o processo produtivo, é responsável por uma parte). Apenas para exemplificar, Nogami e Passos (2003, p. 446) dizem que a quantidade de transações necessárias para que um indivíduo adquirisse o que estivesse demandando neste sistema de escambo. Percebeu qual seria o grau de dificuldade se esse sistema de escambo funcionasse na economia moderna, que possui milhares de produtos diferentes? Já na Antiguidade, esse sistema se tornou insuportável e com a evolução das trocas entre tribos e famílias, estas perceberam que existiam mercadorias mais raras que outras e, então, começaram a eleger uma dessas mercadorias como meio de pagamento. E foi assim que mercadorias como animais, alimentos, metais não nobres, até os metais nobres foram utilizados ao longo da história da humanidade, prevalecendo este sistema até o final da Idade Moderna (fins do século XVIII, constituindo-se na segunda fase da moeda a fase das mercadorias-moeda. Com a utilização dos metais já na segunda fase da moeda, a sociedade começou a ver nesta mercadoria algo que a diferenciava das demais mercadorias- moeda, e passaram a dar a ela maior preferência por diversos motivos, dentre os quais a durabilidade (durava mais que alimentos, cereais, dentre outros), a homogeneidade (possibilidade que têm os metais de serem moldados de forma que fiquem exatamente iguais), a divisibilidade (é possível derreter o metal e parcelar em valores diferentes), a facilidade de manuseio e transporte (entende- se que é mais fácil transportar um baú com moedas que dez cabeças de gado, que foi uma das mercadorias-moeda mais utilizada) (NOGAMI; PASSOS, 2003). Assim, a terceira fase da moeda inicia-se com a utilização de metais não nobres, como o cobre, o bronze e o ferro, mas logo percebeu-se que tais metais, por existirem em abundância, não serviriam como reserva de valor. “Em outras palavras, a existência em abundância desses metais, associada à descoberta de novas jazidas e ao aperfeiçoamento do processo industrial de fundição, fez com que tais metais perdessem gradativamente seu valor” (NOGAMI; PASSOS, 2003, p. 450). A consequência disso com certeza você já sabe: a descoberta de metais chamados nobres, devido ao fato desuas características melhor se ajustarem às exigências para MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 118 que uma mercadoria seja considerada moeda, fez com que o ouro e a prata passassem a ser a moeda metálica por excelência, ou seja, esta é a fase da moeda metálica. E como inicia a quarta fase da moeda? Nos clássicos filmes de faroeste norte- americano, ou mesmo no hilariante “Piratas do Caribe”, de Jack Sparrow, podemos encontrar facilmente a resposta: carregar baús de moeda metálica, além de pesados, deixava os mercadores expostos a ladrões e piratas, que frequentemente assaltavam as caravanas ou os navios, gerando muita insegurança. “Para contornar esse problema, especialmente após o século XIV, com o crescimento dos fluxos comerciais na Europa, iniciou-se a difusão de um instrumento monetário mais flexível: a moeda-papel” (NOGAMI; PASSOS, 2003, p. 451, grifo da autora). Citadas pelos historiadores como embrião do Sistema Financeiro, surgem assim as Casas de Custódia, que funcionavam da seguinte forma: os mercadores depositavam as moedas metálicas que dispunham nas casas de custódia existentes em seu lugar de origem e o “custodiante” (dono da casa de custódia) emitia um certificado de depósito especificando o valor depositado. De posse desse papel, o mercador ia para seu lugar de destino e trocava esse papel por moedas depositadas naquela casa e somente depois comercializava seus produtos. Esse sistema de pagamento deu tão certo que com o tempo os mercadores perceberam que não seria mais necessário trocar o certificado pelas moedas, efetuando pagamentos e aceitando recebimentos por meio do papel, daí a denominação “moeda- papel”. Uma característica, entretanto, é fundamental nessa fase da moeda: a moeda-papel era 100% lastreada em ouro, ou seja, representava que o valor contido no certificado era exatamente equivalente ao depositado em moedas metálicas nas casas de custódia. Figura 01: Produção Econômica Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/o-neg%c3%b3cio-economia-global-troca-1676138/ https://pixabay.com/pt/illustrations/o-neg%c3%b3cio-economia-global-troca-1676138/ MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 119 E o que diferencia a fase da moeda-papel para a quinta fase, conhecida como a fase do papel-moeda ou moeda fiduciária? Com o passar do tempo, as ‘Casas de Custódia’, que recebiam o metal e forneciam certificados de depósito (ou moeda-papel) totalmente lastreados, começam a perceber que os detentores desses certificados não faziam a reconversão ao mesmo tempo. Além disso, enquanto alguns faziam a troca de moeda-papel pelo metal, outros faziam novos depósitos em ouro e prata, o que acabava por ensejar novas emissões (NOGAMI; PASSOS, 2003, p. 451). Surge, assim, o papel-moeda no formato que conhecemos hoje, já que com o passar dos anos as Casas de Custódia, que mais tarde foram denominadas de bancos, passaram a emitir os certificados de depósito sem o lastro em metal, sendo aceito baseado numa relação de confiança (significado da expressão ‘fidúcia’) entre o custodiante e os comerciantes e consumidores em geral. Note que houve um período em que bancos privados podiam emitir papel- moeda. Entretanto, como você deve imaginar, naquele tempo, como hoje, havia os honestos e também os desonestos, que levaram o sistema à ruína e obrigaram o Estado a ser o emissor oficial da moeda, o que no Brasil é realizado por meio da Casa da Moeda. Com o tempo, as moedas passaram a denominar-se moeda de curso forçado, isto é, aceita por força de lei e não eram mais lastreadas em metais preciosos. Houve tentativas de restaurar o padrão ouro depois da Primeira Guerra Mundial, da Grande Depressão e da Segunda Guerra Mundial. O acordo de Bretton Woods trouxe a aceitação geral de um padrão ouro fundamentado no dólar dos Estados Unidos. Segundo esse acordo, as principais moedas tinham valor em dólar, sendo que o dólar era conversível em ouro. Esse acordo acabou em 1971, quando foi suspensa a conversibilidade do dólar em ouro (NOGAMI; PASSOS, 2003, p. 452). A sexta e última fase da moeda é a conhecida como a fase da moeda bancária. Essa, entretanto, é complementar ao papel-moeda, pois representa uma modalidade diferente de manusear dinheiro. É chamada de moeda bancária ou escritural porque representa os depósitos à vista e a curto prazo nos bancos, sendo que a escrituração das contas dos correntistas é feita pelo mesmo sistema de partidas dobradas da contabilidade, ou seja, para todo crédito existe um débito correspondente. 13.2 FUNÇÕES, CARACTERÍSTICAS E FORMAS DA MOEDA Vasconcellos e Garcia (2005) enumeram três funções básicas da moeda: 1. Instrumento ou meio de trocas: é a intermediária perfeita para efetuar as transações MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 120 comerciais; 2. Denominador comum monetário: serve como equivalente geral para todas as mercadorias, funcionando como um padrão de medida; 3. Reserva de valor: quando retirada de circulação a moeda pode valorizar-se, mantendo o valor de compra, como acontece quando fazemos uma aplicação financeira. Já Nogami e Passos (2003) incluem ainda uma quarta função: a de padrão de pagamento diferido que, trocando em miúdos, significa que somente com a moeda é possível efetuar compras a prazo, fazer financiamentos, pois quando você adquire um automóvel, por exemplo, sai com o produto e somente pagará as parcelas, cujos valores são expressos em moeda, no futuro. No que se refere às características da moeda, além das já elencadas acima (durabilidade, homogeneidade, facilidade de manuseio e transporte), Nogami e Passos (2003) incluem ainda a indestrutibilidade e inalterabilidade, pois custa caro emiti-la e, mesmo com toda tecnologia utilizada na sua fabricação, ainda existem os falsificadores. Por isso buscam-se novas formas de torná-la mais resistente, para que possa circular mais tempo e não seja passível de falsificações. E quanto às formas de moeda? Isso com certeza você já sabe: existem as moedas metálicas (as de menor valor), o papel-moeda (cédulas) e a moeda bancária (depósitos à vista ou a curto prazo), que circulam na forma de cheques, ordens de pagamento, cartões de débito e de crédito. 13.3 OFERTA E DEMANDA DA MOEDA Naturalmente, você sabe muito bem da importância que a moeda tem no nosso dia a dia, quer seja ela utilizada na forma de moedas metálicas, papel- moeda ou moeda bancária (hoje a mais utilizada devido à segurança que propicia aos usuários). A não ser por alguns núcleos ou comunidades isoladas que experimentam outros sistemas monetários (como a utilização das chamadas “moedas sociais”), ou que realizam atividades de escambo (nos chamados comércios alternativos), precisamos de moeda para todas as transações comerciais que fazemos e por isso o lado monetário da economia é tão importante. Para entender as versões clássica e keynesiana em relação ao lado monetário da economia, antes precisamos entender como se dá a oferta e demanda de moeda. MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 121 13.4 A OFERTA MONETÁRIA Você já sabe que a moeda é também uma mercadoria e, como tal, tem seu preço fixado pela relação entre a oferta e a demanda. Assim, conceitua-se oferta de moeda como “o suprimento de moeda para atender às necessidades da coletividade” (VASCONCELLOS; GARCIA, 2005, p. 141). Já os meios de pagamento, que é outra forma de conceituar a moeda, [...] constituem o total de moeda à disposição do setor privado não bancário, de liquidez imediata, ou seja, que pode ser utilizada imediatamente para efetuar transações. A liquidez da moeda é a capacidade que ela tem de ser um ativo prontamente disponível e aceito para as mais diversas transações (VASCONCELLOS; GARCIA, 2005, p. 141). Consideramos o seguinte exemplo: Caso você tenha uma aplicação financeira de médio e longo prazos, como Letra de CréditoImobiliário, Certificado de Depósito Bancário, dentre diversas modalidades que o sistema financeiro oferece, não pode utilizar de imediato o saldo da aplicação para pagar suas compras, sendo necessário primeiramente efetuar o resgate dos valores. Por isso essas aplicações não têm a liquidez que o valor depositado em conta corrente tem. Dessa forma, segundo Nogami e Passos (2003, p. 457), meios de pagamento (ou M1): É o total de haveres de perfeita liquidez em poder do setor não bancário. É representado pelo ‘Papel-Moeda em Poder do Público’ (PMP), também chamado ‘moeda manual’ (papel-moeda e moedas metálicas), ou ‘moeda corrente’, mais os depósitos à vista nos bancos comerciais (DBC), públicos e privados, aí incluídos o Banco do Brasil (DBB) e a carteira comercial das Caixas Econômicas (DCE). Entretanto, existem outros conceitos de moeda, quais sejam: 1 M2: M1 mais os Depósitos de Poupança e os Títulos Privados; 2 M3: M2 e por Quotas de Fundos de Renda Fixa mais Operações Compromissadas com Títulos Federais; 3 M4: M3 mais Títulos Federais (SELIC) mais Títulos Estaduais e Municipais. Nogami e Passos (2003) explicam que é através do conceito de M4, que envolve os ativos monetários e não monetários, que o Banco Central procura controlar a oferta total de moeda na economia. MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 122 É dever do Banco Central do Brasil, órgão executor das políticas monetária e cambial, providenciar a regulação da oferta de moeda, crédito, taxas de juros e câmbio levando em conta a demanda da coletividade, que sofre oscilações em decorrência da atividade econômica e o equilíbrio do balanço de pagamentos (VASCONCELLOS; GARCIA, 2005). 13.4.1 A Criação da Moeda Já vimos que, além do papel-moeda, existe também a moeda bancária ou escritural. Entretanto, se já é sabido por todos que é função do governo emitir moeda, como podemos afirmar que os bancos também têm o poder de criar moeda? Sim, isso é possível, mas não é a mesma coisa que a moeda manual (cédulas) que utilizamos para nossos pagamentos em espécie. “A moeda escritural possui uma alta participação na composição do meio circulante, e isso pode ser explicado pela capacidade dos bancos em multiplicar os depósitos à vista realizados por seus correntistas. Trata-se, portanto, do mecanismo de criação de moeda pelos bancos” (NOGAMI; PASSOS, 2003, p. 459). Como se dá, então, a criação de moeda escritural? Imaginemos que você seja um grande empresário e que efetue uma aplicação financeira em um título de renda fixa no valor de $ 500 milhões em um banco comercial existente na sua cidade, que chamaremos de “Banco A”. O seu gerente, então, irá utilizar parte deste valor (porque uma parte ele tem que reter como reserva ou encaixe bancário), digamos, 70%, o que corresponde a $ 350 milhões para emprestar a outro empresário, que tem conta no “Banco B”. Ocorrerá, então, a transferência bancária entre o “Banco A” e o “Banco B”. Já o “Banco B” poderá emprestar 70% dos $ 350 milhões a um terceiro empresário correntista do “Banco C” ($ 245 milhões). No que essa movimentação bancária resulta? Ora, se somarmos o valor inicial depositado em papel-moeda ($ 500 milhões) aos valores emprestados pelo “Banco A” ao “Banco B” ($ 350 milhões) e do “Banco B” ao “Banco C” ($ 245 milhões), teremos uma expansão dos depósitos à vista de $ 1.095 bilhões, sendo que foram efetivamente emprestados $ 595 milhões em moeda escritural (que não existe no meio físico, apenas no seu modo bancário). A demanda especulativa por moeda foi apresentada por Keynes e “fundamenta-se na relação entre os preços do mercado dos títulos de renda fixa e as taxas de juros ganhas pelos que detinham tais títulos” (NOGAMI; PASSOS, 2003, p. 463). MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 123 Há, assim, uma relação inversa entre os preços dos títulos financeiros e a taxa de juros de mercado, ou seja, quando o preço dos títulos disponíveis no mercado está elevado, a taxa de juros cai e ocorre o contrário quando o preço do título cai. Figura 02: Evolução Econômica Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/d%c3%b3lar-dinheiro-ganhar-dinheiro-1968710/ Keynes observou que, quando os preços dos títulos estão altos e a taxa de juros baixa, as pessoas preferem manter seus ativos na forma de valor monetário, ficando no aguardo de que houvesse uma queda nos preços dos títulos. Se comprados quando estivessem em queda, a aquisição desses títulos ensejaria ganhos especulativos. Por outro lado, se os preços dos títulos estivessem baixos e as taxas de juros elevadas, as pessoas procuravam manter os saldos monetários reduzidos aplicando em títulos, na expectativa de que seus preços se elevassem no futuro. Se vendidos quando se encontrassem em alta, propiciariam maiores ganhos especulativos (NOGAMI; PASSOS, 2003, p. 463). Assim, temos que: De = f (i), em que De = Demanda especulativa i = taxa de juros Ao incluir a demanda especulativa como importante componente da demanda de moeda, Keynes demonstrou que a demanda da moeda não é somente associada para motivos de transação ou precaução, sendo que especular com a moeda pode ser decisivo para determinar o nível de produção da economia. https://pixabay.com/pt/illustrations/d%c3%b3lar-dinheiro-ganhar-dinheiro-1968710/ MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 124 ISTO ESTÁ NA REDE Link: https://www.youtube.com/watch?v=OG_pNXIKd3Q Com isso é comum ocorrer excedentes de produção, como se percebe facilmente na agricultura: se um agricultor se especializa na produção de grãos, gerará um excedente, que no início da civilização, como ainda não havia nenhuma moeda de troca, era trocado entre os demais agricultores, dando origem ao que chamamos de era da troca de mercadorias ou escambo, que durou muito tempo. ANOTE ISSO Conforme as civilizações se formavam e cada núcleo familiar surgia, o número e a variedade de mercadorias produzidas aumentavam. Então, continuar utilizando esse sistema estava se tornando insuportável, pela dificuldade que era encontrar alguém que tivesse a mercadoria desejada e, ao mesmo tempo, demandasse a mercadoria ofertada. https://www.youtube.com/watch?v=OG_pNXIKd3Q MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 125 CAPÍTULO 14 PÓLITICAS MACROECONOMICAS Introdução Olá Estudante, para atingir seus objetivos, o governo utiliza de instrumentos de política macroeconômica. Caro acadêmico, você sabe o que são instrumentos de política macroeconômica? Vamos explicar! Instrumento é claro que você sabe o que significa, pois é todo e qualquer utensílio, podendo ser uma máquina, um aparelho, uma ferramenta utilizada para realizar uma tarefa, uma obra. Assim, este livro de estudos é um dos seus instrumentos de aprendizagem. Política, na etimologia da palavra: É a ciência da governança de um Estado ou Nação e também uma arte de negociação para compatibilizar interesses. O termo tem origem no grego politiká, uma derivação de polis que designa aquilo que é público. O significado de política é muito abrangente e está, em geral, relacionado com aquilo que diz respeito ao espaço público. Na ciência política, trata-se da forma de atuação de um governo em relação a determinados temas sociais e econômicos de interesse público: política educacional, política de segurança, política salarial, política habitacional, política ambiental etc. (SIGNIFICADOS, 2018, s.p., grifos do original). Assim, se a política designa como se dará a atuação do governo na sociedade, que abrange todas as áreas de interesse público como segurança, saúde, educação, meio ambiente, inclusão social, seguridade social, dentre outras, a política econômica diz respeito à atuação do Estado na economia. Isto quer dizer que, por ser um dos agentes econômicos, o governo tem um papel triplo na sociedade: ele exerce o papel de consumidor (porque compra e vende fatoresprodutivos e bens e serviços), empresário (porque oferece bens e serviços à sociedade e demanda fatores produtivos) e governo propriamente dito (porque tem a função de administrar o país, fiscalizar a atuação de todos os agentes econômicos e intervir MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 126 na sociedade, por meio de políticas), com a finalidade de atingir as metas de política macroeconômica. Assim, a política macroeconômica é um conjunto de ações governamentais desenvolvidas para o alcance de diferentes finalidades, que estão intrinsecamente relacionadas com a situação econômica de um país e mesmo de uma respectiva região, conjunto de países ou de blocos econômicos. É fácil deduzir que, interferindo na economia, o Estado influencia a sua condução no que diz respeito à produção, distribuição e o próprio consumo da sociedade. Há que ressaltar, ainda, que, por ser a economia uma ciência social, as medidas governamentais podem alterar até a composição das classes de renda do país, favorecendo a ascensão das classes mais pobres a extratos maiores de renda, ou, como tem sido em boa parte da história do Brasil, mantendo interesses de grupos econômicos já abastados e fazendo com que a distribuição de renda brasileira seja uma das piores entre as nações. Em cada país as políticas econômicas, mesmo que semelhantes, podem trazer resultados robustamente diferentes, pois, como já é do seu conhecimento, depende da subjetividade de cada agente econômico, do nível de organização das instituições, da diversidade de grupos econômicos e de seu poder em pressionar os poderes Executivo e Legislativo, e da própria teoria econômica que embasa os formuladores dessas políticas. 14. 1 TIPOS DE POLITICAS Agora que você já sabe o que são instrumentos de política macroeconômica, precisamos conhecer e distinguir cada um deles, quais sejam: • Política Monetária. • Política Fiscal. • Política Comercial e Cambial. • Política de Rendas. Vamos abordar cada uma nas páginas seguintes. MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 127 A) POLÍTICA MONETÁRIA A política monetária é conhecida até pelos mais leigos, pois é muito utilizada pelo governo por seu efeito rápido na economia. Sendo muito utilizada, é constantemente divulgada nas mídias sociais e telejornais. E você, que já conhece um pouco mais desse universo econômico, sabe o que é e para que serve a política monetária? Bem, a expressão “monetário” vem de moeda, portanto na etimologia da palavra moeda, esta: Vem do latim moneta, derivada do verbo monere (“avisar, aconselhar, lembrar”), da mesma família, portanto, de monumento (“o que deve ser lembrado”) e de premonição (“aviso prévio de que algo vai acontecer”). Moneta (“a que avisa”) era um dos nomes dados à deusa Juno, porque os romanos acreditavam que ela os havia advertido várias vezes da iminência de desastres militares e de catástrofes da natureza. No grande templo dedicado a Juno Moneta, que se erguia no Capitólio, foi instalada uma casa de cunhagem de dinheiro metálico, que logo passou a ser designado de moneta. Daí vieram moeda e monetário (port.), moneda (esp.), moneta (it.), monnaie (fr.) e money (ing.) (DICIONÁRIO ETIMOLÓGICO, 2018, s.p.). Para Wassily Leontieff (apud NOGAMI; PASSOS, 2003, p. 445), “a moeda é a mercadoria (ou um ativo), que serve de equivalente geral para todas as mercadorias”. Assim, a política monetária é um: Conjunto de medidas adotadas pelo governo visando adequar os meios de pagamento disponíveis às necessidades da economia do país. Essa ação geralmente ocorre por meio de uma ação reguladora, exercida pelas autoridades sobre os recursos monetários existentes, de tal maneira que estes sejam plenamente utilizados e tenham um emprego tão eficiente quanto possível (SANDRONI, 1989, p. 244). E o que são meios de pagamento? É o total de haveres de perfeita liquidez em poder do setor não bancário. É representado pelo ‘Papel-Moeda em Poder do Público’ (PMP), também chamado ‘moeda manual’ (papel-moeda e moedas metálicas) ou ‘moeda corrente’, mais os depósitos à vista nos bancos comerciais (DBC), públicos e privados, aí incluídos o Banco do Brasil (DBB) e a carteira comercial das Caixas Econômicas (DCE) (NOGAMI; PASSOS, 2003, p. 457). Mas de que forma a política monetária interfere na economia e que reflexos recaem sobre os agentes econômicos? MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 128 Figura 01: Trabalho Econômico Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/dinheiro-moeda-renda-investimento-4062229/ Bem, como a política monetária determina principalmente a quantidade de moeda disponível na economia, sua interferência sobre a renda e o consumo vai se dar de forma indireta, ou seja: irá atuar sobre o nível de preços e a taxa de juros, o que irá influenciar no poder de compra dos agentes econômicos, nas expectativas dos agentes com relação à inflação (nível geral de preços), que poderão ser estimulados ou desestimulados a tomar decisões de investimentos, o que vai influenciar no mercado real (de bens e serviços e de fatores produtivos). Não podemos nos esquecer de que quando nos referimos à política monetária estamos tratando do lado monetário da economia, que é composto pelo mercado financeiro (monetário e de títulos), que tem como variáveis determinadas a taxa de juros e o estoque de moeda e o mercado de divisas, que tem como variável determinada a taxa de câmbio. Para analistas, existem dois tipos de política monetária: a ativa e a passiva. Na primeira, o objetivo do governo é controlar a oferta de moeda e, neste caso, a taxa de juros oscila para determinar o equilíbrio entre oferta e demanda de moeda. No segundo caso, o objetivo do governo é determinar a taxa de juros e, neste caso, o governo, tanto via taxa de redesconto como pela remuneração dos títulos públicos, tenta determinar a taxa de juros de mercado, deixando a oferta de moeda variar livremente para manter esta taxa de juros, ou seja, a oferta de moeda fica endogenamente determinada (CASTOLDI, 2006, p. 90). A política monetária se utiliza, assim, de diferentes ferramentas (ou instrumentos), quais sejam: • controle direto da quantidade de dinheiro em circulação; • operações no mercado aberto; • fixação da taxa de reserva; https://pixabay.com/pt/photos/dinheiro-moeda-renda-investimento-4062229/ MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 129 • fixação da taxa de redesconto; • controles seletivos de crédito. Vamos analisar a seguir cada uma dessas ferramentas. 14.1 CONTROLE DIRETO DA QUANTIDADE DE DINHEIRO EM CIRCULAÇÃO Esta ferramenta é a de mais fácil entendimento, pois se refere à atuação direta do governo sobre a moeda, já que é uma das suas atribuições a sua emissão. A emissão de moeda também pode ser efetuada para fornecimento de empréstimos de liquidez às instituições bancárias e à realização de operações de compra e venda de moeda estrangeira. 14.3 OPERAÇÕES NO MERCADO ABERTO Também conhecidas pela nomenclatura de open market, as operações de mercado aberto constituem um instrumento de política monetária ágil e de reflexos muito rápidos sobre a economia. Consiste na compra e venda de títulos públicos por parte do Banco Central com a finalidade de controlar a liquidez da moeda. Este instrumento de política monetária é muito utilizado pela sua eficácia, já que permite ao governo regular no dia a dia a oferta monetária e a taxa de juros. Genericamente, o open market é operado por intermédio da compra e venda de títulos da dívida ativa pública, como as letras e as obrigações do Tesouro Nacional. Como demonstrado no esquema, quando as autoridades monetárias querem contrair os meios de pagamento, ou seja, diminuir a quantidade de moeda em circulação, eles vendem títulos públicos. Assim, o comprador fica com o título e entrega moeda ao governo, que recolhe o dinheiro no cofre do Banco Central, diminuindoa oferta monetária. O contrário acontece quando o governo quer expandir a quantidade de dinheiro em circulação, quando efetua a compra de títulos públicos. Assim, o vendedor retoma o dinheiro e entrega o título à autoridade monetária, com o consequente aumento da oferta monetária. Os principais títulos utilizados nas operações de mercado aberto no Brasil são as Notas do Tesouro Nacional (NTN), as Letras do Tesouro Nacional (LTN) e os Títulos do Banco Central (TBC). MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 130 14.4 FIXAÇÃO DA TAXA DE RESERVA Este mecanismo permite ao governo atuar diretamente sobre os bancos, que são fiscalizados e normatizados pelo Sistema Financeiro Nacional. No que consiste este instrumento? As reservas bancárias, também conhecidas como depósitos compulsórios, consistem num percentual sobre os depósitos à vista que os bancos têm que manter no Banco Central. Como já tivemos a oportunidade de estudar quando tratamos da criação da moeda escritural pelos bancos, uma parte dos depósitos à vista pode ser emprestada e outra deve ser retida. Deduzindo o esquema apresentado, temos que quando as autoridades monetárias querem diminuir a oferta monetária, estas determinam que os bancos aumentem suas taxas de reserva, e o contrário ocorre quando o objetivo é aumentar a oferta de moeda. 14.5 FIXAÇÃO DA TAXA DE REDESCONTO “O redesconto é um empréstimo que os bancos comerciais recebem do Banco Central para cobrir eventuais problemas de liquidez. A taxa de juros cobrada sobre esses empréstimos é chamada Taxa de Redesconto” (NOGAMI; PASSOS, 2003, p. 479). Mesmo não trabalhando em uma instituição bancária é fácil imaginarmos que estas têm que manter uma boa reserva de moeda para suas operações diárias, que são chamadas de reservas voluntárias. Ocorre que mesmo assim, há situações em que não há disponibilidade suficiente de crédito em determinados períodos com maior movimento de transações bancárias. Figura 02: Taxas Econômicas Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/euro-parecer-moeda-bola-bala-447214/ https://pixabay.com/pt/illustrations/euro-parecer-moeda-bola-bala-447214/ MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 131 Não encontrando outros bancos na praça que possam efetuar empréstimo, os bancos têm que recorrer ao Banco Central. É assim que acontecem as operações de redesconto, sendo que aqui o esquema funciona da seguinte forma: Para que você possa entender esse mecanismo, que geralmente é utilizado em conjunto com a política comercial e industrial do país, vamos citar o exemplo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A missão do BNDES é “promover o desenvolvimento sustentável e competitivo da economia brasileira, com geração de emprego e redução das desigualdades sociais e regionais” (BNDES, 2011, s.p.). Veja que estão embutidos na missão do BNDES dois dos principais objetivos de política macroeconômica e, por isso, não é à toa que é chamado de “Banco do Desenvolvimento”. Assim, a cada ano o BNDES estipula suas metas, como será sua política de crédito aos setores econômicos, podendo beneficiar determinados setores que precisam de maiores incentivos financeiros para se tornarem competitivos no comércio mundial (como ocorreu, por exemplo, com o setor de informática), com o oferecimento de crédito a taxas de juros menores, o que ele faz por meio dos diversos programas que oferece. Também os bancos comerciais públicos (Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal), que atuam como executores da política monetária, oferecem créditos com juros subsidiados, como o Crédito Rural, Programa Nacional da Agricultura Familiar (PRONAF), dentre outros. Nesses casos, o governo pode controlar o volume e a destinação do crédito, determinando prazos, limites e condições dos empréstimos. Outra forma de controle se refere a aumentos ou reduções das taxas de juros da economia. Você deve se lembrar de que o Conselho de Política Monetária (COPOM) é o órgão responsável pela fixação da taxa de juros básica da economia, a famosa SELIC. Esta se constitui em outra forma de intervenção direta, cujo mecanismo pode ser explicado da seguinte maneira: 14.5 POLÍTICA FISCAL Quando nos referimos à política fiscal, temos que estar cientes de que existem dois aspectos a serem considerados: a arrecadação e os gastos. A arrecadação, facilmente compreendida, consiste na cobrança de tributos, que se dividem em impostos, taxas e contribuições, e é chamada de política tributária. MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 132 Os gastos, por sua vez, determinam a forma pela qual o governo utiliza os recursos públicos, e essa atuação é chamada de política de gastos. A política fiscal é fortemente utilizada pelos países, já que a participação do Estado na economia tem sido bastante significativa na maioria das nações, sendo que tal política afeta não só as relações internas, mas também o comércio internacional. Fortemente criticada por diversos segmentos da economia brasileira, a nossa carga tributária, que nada mais é do que a proporção do PIB que é destinada aos tributos, é considerada uma das mais elevadas do mundo. Não podemos nos esquecer de que a principal discussão a se fazer quando se trata de carga tributária não é a respeito do seu percentual em relação ao PIB, mas do retorno que o Estado faz dessa arrecadação em serviços ao cidadão. Países desenvolvidos como Dinamarca, França, Suécia, dentre outros, tiveram uma carga tributária bem superior ao Brasil no ano de 2013, como se vê no gráfico da Figura 5. Entretanto, os serviços prestados à população por estes países (educação, saúde, segurança pública, moradia, transporte, acessibilidade, dentre outros) são em maior volume e qualidade que os verificados no Brasil, o que faz com que a satisfação dos cidadãos com a administração pública seja maior lá do que a verificada por aqui. Como é sabido por todos, o governo (compreendido nas esferas federal, estadual e municipal) efetua despesas na economia na forma de pagamento do funcionalismo público, na manutenção e construção de escolas, hospitais, rodovias, penitenciárias etc. A partir do momento em que os gastos governamentais aumentam, entendemos que o governo está efetuando uma política fiscal expansionista. Quando ocorre o contrário, estaremos diante de uma política fiscal contracionista. O que isso significa, na prática? Bem, “a política tributária, além de influir sobre o nível de tributação, é utilizada, por meio da manipulação da estrutura e alíquotas de impostos, para estimular (ou inibir) os gastos de consumo do setor privado” (VASCONCELLOS; GARCIA, 2005, p. 91). Ao adotar uma política fiscal expansionista, além de aumentar os gastos, o governo pode diminuir alíquotas de impostos, estimular as exportações por meio de incentivos fiscais, taxar ou impor barreiras ao produto importado, incentivando a produção nacional para atender à demanda interna. Por exemplo, em 2008, quando estourou a bolha imobiliária americana, que resultou na chamada “Crise Financeira Mundial”, o governo brasileiro lançou mão de uma política tributária expansionista chamada de renúncia fiscal, ao isentar, dentre outros, o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) dos MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 133 automóveis, o que fez aumentar a renda pessoal disponível e, consequentemente, o consumo. Já para conter a inflação ou quando houver um aumento da demanda agregada superior à capacidade produtiva do país, o governo pode lançar mão do aumento das alíquotas dos impostos, para inibir (ou diminuir) o consumo, já que esse aumento repercute sobre a renda disponível, o que representa uma política tributária contracionista. Ao adotar uma política tributária contracionista (ou restritiva), o governo pode diminuir gastos públicos (o que pode pressionar a renda, reduzindo o consumo),elevar a carga tributária sobre os bens de consumo, desencorajando os gastos, reduzir ou eliminar tarifas e barreiras para o produto importado. As administrações estaduais e municipais também utilizam a política fiscal como forma de atrair investimentos, aumentar o nível de emprego, desenvolver a economia. Um dos grandes problemas que ocorre em relação à política fiscal entre estados e municípios é a chamada guerra fiscal, já que os mesmos impostos (como o ICMS e o IPVA de competência estadual e o IPTU e o ISS de competência municipal) podem ter alíquotas diferentes entre estes. ISTO ESTÁ NA REDE Link: https://www.youtube.com/watch?v=ZbIyuOxM3yA Lançando mão desse tipo de recurso sem haver um crescimento proporcional do PIB, haverá uma expansão monetária, fazendo com que haja uma oferta excessiva de moeda em relação à demanda, o que levará a uma queda em seu preço, levando a um aumento no nível de preços dos produtos. ANOTE ISSO Mas quando e para que o governo emite moeda? Já houve casos no Brasil em que a emissão de moeda foi muito utilizada para financiamento da dívida pública, o que contribuiu sobremaneira para o aumento da inflação. Por isso a emissão de moeda deve ser efetuada somente quando ocorre uma expansão da economia (crescimento do PIB e da renda), que fará aumentar as transações entre os agentes econômicos e a renda, o que, consequentemente, irá aumentar a demanda de moeda. https://www.youtube.com/watch?v=ZbIyuOxM3yA MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 134 AULA 15 POLÍTICAS OU ECONOMIAS Introdução Olá Estudante, para exercer sua política tributária e de gastos, o governo se baseia, em nível teórico, nas funções a ele atribuídas, quais sejam: • A função alocativa; • a função distributiva; • a função estabilizadora. A função estabilizadora “corresponde ao manejo da política econômica para tentar garantir o máximo de emprego, crescimento econômico, com estabilidade de preços” (GREMAUD, 2005, p. 195, grifo do original). Como já vimos nas unidades anteriores, a intervenção do Estado na economia se fortaleceu fortemente depois da Grande Depressão de 1930, atuando no sentido de elevar a demanda efetiva, o nível de emprego, de renda e de consumo. 15.1 CONTROLE DAS POLÍTICAS Também chamada de anticíclica, a função estabilizadora pode ser utilizada para intervir tanto em casos de recessão econômica, quanto em situações de crescimento acelerado, evitando que tal crescimento saia do controle e estimule um forte processo inflacionário. “Quanto à função alocativa, tem-se a ação do governo complementando a ação do mercado no que diz respeito à alocação de recursos na economia” (GREMAUD, 2005, p. 195, grifo do original). O que isso significa? Como todos nós sabemos, o capitalismo tem o lucro como figura central. Isso nos faz imaginar, então, que um empresário só irá empreender se a atividade for lucrativa. Existem, assim, bens e serviços que precisam ser ofertados à coletividade, mas que, por não gerarem lucro, não são de interesse da iniciativa privada, bem como demais “falhas de mercado” que precisam ser atendidas pelo setor público, como as externalidades e economias de escala, além dos chamados bens públicos. MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 135 “As externalidades (ou economias externas) correspondem ao fato de que a ação de determinados agentes pode ter impactos sobre o resultado almejado por outros agentes” (GREMAUD, 2005, p. 195, grifo do original). Complicado de entender? Vamos descomplicar. Quando você circula com seu automóvel por uma rodovia e se depara com inúmeros buracos, se pergunta: Quem é o responsável por isso? “As economias de escala são definidas como a situação em que o aumento da produção de determinado bem, por uma única empresa, leva à redução do custo médio por produto, ocasionando no limite o aparecimento dos ‘monopólios naturais’” (GREMAUD, 2005, p. 195, grifo do original). Pela citação anterior, você já deve ter deduzido que se trata dos casos em que uma única empresa domina a oferta de determinado produto por características próprias da atividade, como os custos para a implantação da empresa serem excessivamente altos (como o caso da Petrobras, Vale do Rio Doce), por serem estas destinadas à operação em áreas públicas (como as hidrelétricas), serem consideradas de interesse público (como a segurança pública, telecomunicações) etc. Normalmente as nações estabelecem formas diferenciadas de fiscalização desses monopólios, como é o caso no Brasil das Agências Reguladoras, como a Agência Nacional do Petróleo (ANP), Agência Nacional das Águas (ANA), dentre outras. Também estão associadas aos monopólios naturais ou a empresas estatais as atividades que, embora sejam importantes ao país, apresentem risco elevado, como o setor de energia nuclear, pesquisas de novos medicamentos, novos produtos e processos. Naturalmente que o setor privado tem mais restrições a investir nestes segmentos, restando essa responsabilidade ao setor público, especialmente ligado às universidades públicas. “Os bens públicos são caracterizados pelo fato de seu consumo ser não excludente e não rival, isto é, o consumo de uma pessoa não impede o consumo de outra” (GREMAUD, 2005, p. 196, grifo do original). Existem atividades que não são lucrativas, ou que são de atribuição própria do Estado, como o caso da segurança pública, das forças armadas, da iluminação pública, educação, saúde, que devem ser disponibilizadas para todos os cidadãos, independentemente de sexo, idade, condição financeira. MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 136 Finalmente, temos a função distributiva, que “corresponde à função do governo em arrecadar impostos (reduzir a renda) de determinadas classes sociais ou regiões, para transferi-los a outras” (GREMAUD, 2005, p. 196, grifo do original). Você estudou na Unidade 2 que um dos princípios da Constituição Federal de 1988 é reduzir as desigualdades sociais e regionais. Somos um país de dimensões continentais, que passou por um processo de colonização a partir do seu descobrimento em 1500, já de forma concentradora de renda e de riquezas em determinados estados. A Proclamação da República, em 1889, não alterou muito o cenário, com a presença de poucas atividades industriais no país, que até então era dependente da exportação de matérias-primas e vivia os chamados “ciclos econômicos” do ouro, da borracha, da cana-de-açúcar e, por derradeiro, o ciclo do café. A Grande Depressão de 1930 fez com que o Brasil fosse obrigado a alterar a sua matriz econômica, totalmente dependente das exportações do café, passando então a um processo de industrialização por substituição de importações, mais uma vez caracterizado pela falta de planejamento e por priorizar determinadas regiões, principalmente Sudeste e Sul do país. Um exemplo do que significou o processo de industrialização no Brasil relaciona-se a aspectos demográficos. No início do século XX, cerca de 80% da população brasileira vivia no campo e somente 20% na cidade. No final do século esta realidade se inverteu totalmente, já que hoje as estatísticas demográficas dão conta de que mais de 80% da população vive nas cidades. A concentração populacional nos grandes centros urbanos, como São Paulo e Rio de Janeiro (as chamadas metrópoles), resultou na favelização, reunindo principalmente famílias (ou parte delas) provenientes de regiões mais pobres do Norte e Nordeste, que vinham para o Sudeste atraídos pela promessa de empregos, os quais não existiam para todos. Figura 01: Concentração Econômica Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/neg%c3%b3cios-finan%c3%a7as-economia-dinheiro-1908846/ https://pixabay.com/pt/photos/neg%c3%b3cios-finan%c3%a7as-economia-dinheiro-1908846/ MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 137 As famílias que permaneceram no campo convivem ainda hoje coma falta de água e demais políticas públicas que possam favorecê-los. Por isso existem políticas fiscais destinadas especialmente às regiões mais pobres do país, como Norte e Nordeste. No que se refere às desigualdades sociais, como já exposto, somos um país de contrastes, já que há um pequeno número de famílias que fica com mais da metade da riqueza, enquanto a maioria da população sofre com a pobreza. Por isso que o princípio de diminuição das desigualdades regionais e sociais ainda é um desafio que requer do Estado o pleno exercício da sua função distributiva na economia. É importante ainda destacar que o Estado pode utilizar-se ao mesmo tempo das três funções na economia. Vamos exemplificar: na transposição do Rio São Francisco, o Estado se valeu de sua função estabilizadora, já que a obra é realizada por meio do aumento de gastos públicos (política fiscal expansionista), da função distributiva, pois está destinando recursos a uma região específica do país, e da função alocativa, pois com a obra está oferecendo aos cidadãos um bem público, que é a própria transposição. 15. 2 POLÍTICA TRIBUTÁRIA E DE GASTOS Como já salientado anteriormente, a arrecadação pública é efetuada por meio dos tributos, que são os impostos, taxas e contribuições, sendo que os primeiros são os de maior valor. Lembramos, ainda, que os impostos se dividem em diretos (incidem sobre a renda e o patrimônio) e indiretos (incidem sobre o consumo e as vendas). No Brasil, a arrecadação de impostos é ainda mais injusta com a população mais pobre, já que o peso dos impostos indiretos na arrecadação representa quase a metade de todos os impostos. “Um sistema é regressivo quando a participação dos impostos na renda dos agentes diminui conforme a renda aumenta (paga mais quem ganha menos)” (GREMAUD, 2005, p. 199). Conforme exemplificamos, o Brasil não possui um sistema tributário com características progressivas, já que este tem recaído mais (relativamente) sobre as faixas de renda menores, tendendo a ser mais regressivo. MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 138 Figura 02: Evolução dos Impostos Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/gr%c3%a1fico-anal%c3%adtico-cubos-barras-1545734/ Um sistema tributário “é neutro quando a participação dos impostos na renda dos indivíduos é a mesma, independentemente do nível de renda” (GREMAUD, 2005, p. 199). Uma das principais atribuições da política fiscal é proporcionar à sociedade a possibilidade de se desenvolver e obter eficiência econômica, de tal forma que possa ser competitiva em nível internacional, já que as exportações são uma forma importante de crescimento econômico. Desta forma, distorções nos preços relativos dos bens e serviços devem ser evitadas, bem como desincentivos ao investimento e perda de competitividade dos produtos nacionais. Por exemplo, se o governo taxar com altas alíquotas matérias- primas ou insumos importantes para o setor produtivo, como o petróleo e seus derivados e energia elétrica, poderá ocasionar uma distorção nos preços relativos dos produtos, encarecendo-os, o que pode inclusive acarretar no aumento do nível de preços e na perda de competitividade com os produtos do exterior. “Por outro lado, quando se fala em desenvolvimento, o sistema tributário deve ser flexível, para facilitar o cumprimento de metas socialmente desejáveis” (GREMAUD, 2005, p. 199). O que é uma meta socialmente desejável? Existem produtos essenciais e produtos supérfluos, não é mesmo? Produtos essenciais são aqueles imprescindíveis à sociedade, e podemos citar a cesta básica cujos produtos têm uma alíquota tributária menor em relação a produtos menos importantes ou até nocivos ao ser humano, como o cigarro. Veja a seguir alguns exemplos da taxação de produtos considerados supérfluos ou menos essenciais: https://pixabay.com/pt/illustrations/gr%c3%a1fico-anal%c3%adtico-cubos-barras-1545734/ MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 139 TRIBUTAÇÃO ALÍQUOTA (%) 1 Cachaça 81,87 2 Casaco de pele 81,86 3 Vodca 81,52 4 Cigarro 80,42 5 Perfume importado 78,99 6 Caipirinha 76,66 7 Videogame 72,18 8 Revólver 71,58 9 Perfume nacional 69,13 10 Motos acima de 250 cc 64,64 QUADRO 1 – OS DEZ PRODUTOS MAIS TRIBUTADOS NO BRASIL FONTE: <https://epocanegocios.globo.com/Dinheiro/noticia/2017/04/os-10-produtos-com- mais-imposto-no-brasil.html>. Desta forma, o governo aumenta a alíquota de produtos considerados supérfluos ou nocivos para desestimular o consumo e pode diminuir ou até isentar produtos considerados essenciais. Tecnicamente, pode ser definido de várias formas: a) benefícios a pessoas ou a empresas pagos pelo governo, sem contrapartida em produtos ou serviços; b) despesas correspondentes à transferência de recursos de uma esfera de governo em favor de outra; c) despesas de governo visando à cobertura de prejuízos das empresas (públicas ou privadas) ou ainda para o financiamento de investimentos; d) benefícios a consumidores, na forma de preços inferiores que, na ausência de tal mecanismo, seriam fixados pelo mercado; e) benefícios a produtores e vendedores mediante preços mais elevados, como acontece com a tarifa aduaneira protecionista; e f) concessões de benefícios pela via do orçamento público ou outros canais. Como você pôde observar pela definição de Sandroni (1989), existe uma infinidade de formas diferentes de concessão de subsídios que são importantes para o desenvolvimento econômico, desde que não impliquem no aumento do endividamento público. Exemplos? Temos o Programa de Financiamento Estudantil (FIES) como uma forma importante de ingresso e permanência de alunos nas universidades, o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), que favorece os pequenos agricultores, dentre tantos outros. Infelizmente, a concessão de subsídios também passa por uma interpretação ideológica do agente público, que pode optar por beneficiar setores ou grupos MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 140 economicamente já privilegiados e deixar de atender a setores mais marginalizados pelo sistema econômico. Uma das características da estrutura tributária brasileira que você já deve ter discutido é o grande número de impostos, que na linguagem “economês” compõe o que se chama de “custo Brasil” e dificulta a abertura de empresas, além da burocracia que está associada a esta estrutura, pois inúmeras portarias e decretos são frequentemente editados, o que faz com que as empresas tenham que contar com um verdadeiro aparato contábil e jurídico para decifrar e implantar as constantes modificações efetuadas no sistema tributário. Por isso a sociedade clama por uma reforma tributária que atenda aos interesses nacionais, reduza o número de impostos e torne nossos produtos mais competitivos. Essa concentração dos tributos na esfera federal também é alvo de muitas críticas, pois a forma como está repartido o bolo tributário obriga municípios e estados a praticar o que denominamos de política do “pires na mão”, ou seja, frequentemente ouvimos nos noticiários e lemos nas mídias sociais sobre a ida de representantes de estados e municípios a Brasília para reivindicar mais recursos para si, o que representa uma forte relação de subserviência com o Governo Federal. No primeiro caso, a tão discutida reforma da Previdência está no centro dos debates no Congresso Nacional e no Poder Executivo há anos, pois com a melhora significativa da expectativa de vida no Brasil (que implica no aumento do tempo de prestação do benefício previdenciário por aposentado) e a diminuição da taxa de natalidade (hoje caminha para menos de 1% ao ano) é preciso pensar numa alternativa viável para que as futuras gerações possam contar com a aposentadoria pública. Há ainda que se ressaltar que nessa discussão não se pode deixar de tratar das injustiças que ocorrem em relação aos beneficiários da Previdência,principalmente relacionadas à aposentadoria dos servidores públicos, em especial de juízes, governadores, deputados e senadores, que embolsam grande fatia do bolo previdenciário. Já no tocante à dívida da União, aquela famosa frase conhecida por todos de que é preciso gastar somente o que se recebe –, é preciso ser levada com seriedade pelos gestores públicos, para que tenhamos uma futura redução desses valores que permita ao país utilizar o recurso público de forma mais eficiente. “O total de impostos arrecadados no país corresponde à chamada carga tributária bruta. A diferença entre a carga tributária bruta e as transferências governamentais (juros sobre a dívida pública, subsídios e gastos com assistência e previdência social) é a carga tributária líquida do governo” (GREMAUD, 2005, p. 210). MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 141 É com base na carga tributária líquida que o governo pode financiar seus gastos correntes, que nada mais é do que o consumo do governo (custeio da máquina pública). Ao extrairmos da carga tributária líquida o consumo do governo, teremos a poupança do governo em conta corrente. Assim: Poupança do governo em conta corrente = Carga tributária líquida – consumo do governo Como se observa, há significativas alterações na balança comercial brasileira, muito em função da produção agropecuária, já que grande parte das exportações provém desse setor. Ou seja, quando a produção agropecuária é boa, aumenta o saldo da balança comercial. Mas os produtos com maior valor agregado também sofrem impactos pela situação econômica interna e externa, ocorrendo períodos em que aumentam as exportações desses produtos e outros em que a exportação declina. Isso porque cada país irá adotar uma certa política comercial conforme a sua conjuntura interna, alternando períodos de maior abertura com períodos mais protecionistas. Além das medidas protecionistas, a intervenção governamental no comércio mundial também pode se dar na forma de restrições ao livre comércio, por meio de barreiras tarifárias e não tarifárias. O governo pode aplicar uma barreira tarifária, isto é, um imposto que, adicionado ao preço internacional do produto, poderá fazer com que o preço da mercadoria produzida internamente se torne competitivo; dessa forma, o governo protege os produtos nacionais a fim de que não sofram a concorrência de produtos importados mais baratos (NOGAMI; PASSOS, 2003, p. 519). Barreiras tarifárias são impostas a diversos produtos brasileiros. Dentre elas, uma das mais conhecidas são as aplicadas por países como Estados Unidos e União Europeia, Japão e China ao suco de laranja, com a imposição de altas tarifas de importação para esse produto. Nesse caso, assim como no caso da barreira tarifária, o governo visa dar maior competitividade ao produto nacional. A diferença básica é que não se aplica um imposto, mas sim obstáculos quantitativos ou burocráticos que oneram ou inviabilizam as importações. Como restrições burocráticas podemos citar os certificados de origem e vistos consulares. Como restrições quantitativas temos a fixação de cotas (volume máximo a ser importado) (NOGAMI; PASSOS, 2003, p. 519). MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 142 Os certificados de origem, na maioria das situações, exigem que o país exportador atenda a uma série de exigências, como no caso dos alimentos, de ordem sanitária e fitossanitária (embalagens, temperatura, bem-estar animal etc.). O Brasil, por ser grande produtor do chamado agronegócio, é constantemente bombardeado com barreiras não tarifárias, sendo comuns casos aplicados ao frango e aos suínos. Finalmente, a intervenção do governo no comércio exterior também pode se dar na forma de incentivos, que podem ser fiscais ou creditícios, fazendo com que o produto nacional se torne competitivo internacionalmente. Os incentivos fiscais podem se dar na forma da redução ou isenção de impostos ao produto exportado e os creditícios na forma de financiamentos para a produção com juros subsidiados (NOGAMI; PASSOS, 2003). A taxa de câmbio, por sua vez, é determinada pela relação entre a demanda e a oferta de moeda estrangeira. O órgão responsável pela taxa de câmbio é o Banco Central, que pode utilizar dois regimes cambiais: torná-la fixa ou permitir que ela flutue ao sabor do mercado. As duas formas de administração da taxa de câmbio já foram utilizadas no Brasil. Num período mais recente, foi o Plano Real que tornou a taxa de câmbio fixa ao estabelecer, em julho de 1994, que R$ 1,00 equivaleria a US$ 1,00. Por meio dessa medida, também chamada de âncora cambial, o governo utilizou a política cambial para ajudar no combate à inflação. Cada vez que os preços nacionais de alguns produtos ameaçavam subir, o governo liberava a importação do produto que, por ter uma taxa cambial fixa, tinha o mesmo valor do produto nacional, desestimulando o aumento dos preços. É claro que essa política de câmbio fixa, em que pese ter ajudado efetivamente no combate à inflação, trouxe sérias consequências para a economia brasileira, já que contribuiu para aumentar o endividamento do país, pois para manter o câmbio fixo o Banco Central tinha que comprar ou vender dólar diretamente ao mercado, comprometendo as contas públicas. De acordo com Gremaud (2005, p. 283): No regime de câmbio fixo, as oscilações nas demandas e ofertas de divisas não repercutem sobre a taxa de câmbio, mas apenas sobre o volume de reservas internacionais do país e sobre a oferta de moeda primária nesse país, pois a oferta de moeda dentro do país aumenta quando o governo compra divisas e diminui quando há venda de divisas. Isso porque, quando o governo adquire as divisas, as troca por MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 143 moeda nacional, colocando tal moeda em circulação; e quando as vende, recebe em troca moda nacional, que, assim, é retirada de circulação. Para os exportadores foi um período difícil, pois os produtos a serem exportados rendiam o mesmo valor em dólar e assim isso desestimulava as exportações. Já os importadores foram beneficiados, pois conseguiam importar produtos com o mesmo valor em dólar, o que propiciou a modernização de setores econômicos que tiveram condições de adquirir principalmente bens de capital, como máquinas e equipamentos. No regime de taxas de câmbio flutuantes o valor do câmbio é determinado pela relação entre a oferta e demanda de divisas, sendo que o governo não interfere diretamente, apenas indiretamente como um dos agentes econômicos. Assim, quando a demanda de divisas for maior do que a oferta, dizemos que a moeda nacional se desvaloriza em relação à estrangeira, ficando a cotação mais distante (por exemplo, US$ 1,00 equivale a R$ 3,00), e quando a oferta de divisas for maior do que a demanda, a moeda nacional se valoriza em relação à estrangeira (US$ 1,00 = R$ 1,20). O sistema de taxas de câmbio flutuantes provoca grandes desconfortos ao comércio mundial, pois, com a alta volatilidade de taxas, pode levar a constantes alterações nos preços relativos. Com isso, cria-se um cenário desfavorável à formação de expectativas e, consequentemente, à tomada de decisões dos agentes econômicos (GREMAUD, 2005, p. 285). Está difícil de entender? Vamos descomplicar. Imaginemos que você fez uma reserva financeira para uma viagem à Europa por uma semana e ao se aproximar o dia de efetuar a troca de reais por dólar ou euro você observa que a moeda nacional está se desvalorizando, ou seja, precisa de mais reais para adquirir a divisa que irá utilizar. Você pode ficar em dúvida se deve adquirir logo a moeda, temendo por uma desvalorização ainda maior da moeda nacional, ou esperar que a moeda nacional se valorize, quando seu poder de compra de divisas aumente. Assim também acontece com os demais agentes econômicos. Derivados dos dois principais regimes cambiais citados no parágrafoanterior, temos ainda dois outros, o sistema de flutuação suja e o sistema de bandas. A partir de meados da década de 70, o sistema de flutuação suja foi utilizado e consistia em intervenções pontuais do governo em períodos em que a taxa, que era flutuante, apresentava riscos à economia interna. Nessas situações o governo intervinha estabilizando ou direcionando a taxa para o patamar desejável (GREMAUD, 2005). MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 144 Recentemente o regime de bandas cambiais tem sido utilizado e consiste na fixação de um teto e uma base para a taxa, limites nos quais a taxa é fixa, sendo que no intervalo entre as duas “bandas” o regime é flutuante. Entretanto, assim como ocorre em relação ao regime de câmbio fixo, o regime de bandas cambiais também tem o inconveniente de se ter que trabalhar com uma taxa desejável. Como o comércio internacional atinge interesses antagônicos, já que para alguns o ideal é uma taxa valorizada e para outros uma taxa desvalorizada, fixar essa taxa desejável é um desafio para os governantes. ISTO ESTÁ NA REDE Link: https://www.youtube.com/watch?v=7xCcDNCHxjw Há também exemplos de externalidades positivas. Quando uma empresa instala uma unidade num bairro de uma cidade e efetua uma série de melhorias, como asfaltamento das ruas, temos uma externalidade positiva. Ou ainda, quando um município destina determinada área pública para a criação de um distrito industrial, oferecendo infraestrutura na forma de rodovias, energia elétrica e sistema de comunicações, favorece o desenvolvimento da cidade, possibilita a inovação e a criação de novas tecnologias, além de elevar o nível de emprego. ANOTE ISSO Partindo do pressuposto de que a rodovia tenha sido construída dentro dos parâmetros recomendados, uma possível resposta a essa pergunta reside no fato de muitos caminhões transitarem com peso superior ao permitido, causando danos à rodovia. Ou seja, todos nós sofremos as consequências pela atuação negativa ou de má-fé de uma parcela da população que transita na rodovia. Muitos outros exemplos estão associados a este, como os custos derivados da poluição, que são suportados por todos, a destruição da camada de ozônio, dentre outros. Estes são exemplos de externalidades negativas. https://www.youtube.com/watch?v=7xCcDNCHxjw MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 145 CONCLUSÃO Aprendemos no decorrer da disciplina que a macroeconomia estuda o relacionamento entre os agentes de um determinado sistema econômico. Observando que nesse sistema ocorrem diversas atividades que produzem consumo, acumulação e fornecimento de bens, percebemos que podemos medir o nível de transações ou, até mesmo, valorizar essas transações segregando essas atividades em grupos. Esses grupos são chamados de agregados econômicos. Eles têm a função de acumular as transações, agrupando- as em grupos de análise. Uma vez mapeadas essas movimentações, observa-se a criação de tendências econômicas. Essas tendências estão, para a macroeconomia, divididas em campos de estudos, que dão origem à estrutura macroeconômica. Esses mercados trazem uma ideia de ambiente econômico: são os campos onde ocorrem aquelas movimentações, ou seja, onde os produtos são ofertados e demandados. Em resumo, devemos analisar os mercados como ambientes limitados onde acontecem as movimentações de consumo e venda. Essas movimentações estão condicionadas a diversas variáveis, promovidas pelos consumidores e vendedores, gerando naturalmente uma dinâmica volátil na qual se deve considerar a evolução natural para o equilíbrio. Por outro lado, diversas variáveis, como o número de participantes, o nível de renda, o número de participantes aptos ao trabalho, a oferta de trabalho, e, ainda, as movimentações extra divisas com outros mercados, além das barreiras à entrada de novos participantes, são responsáveis por um tipo de movimentação diferente no mercado em análise. Em suma, verificamos que o estudo da macroeconomia, com foco no relacionamento entre os agentes de um determinado sistema econômico, analisa as movimentações dos agentes fornecedores e consumidores em um determinado cenário, que pode ser definido em termos de regiões, países, estados e municípios. Nesse contexto, percebemos que a estrutura macroeconômica analisa as tendências econômicas, e essas tendências estão, para a macroeconomia, divididas em campos de estudos que tem como objetivo principal buscar a estabilidade da economia daquele cenário. Para buscar essa estabilidade, existem os instrumentos macroeconômicos, na forma de políticas utilizadas pelos governos, como, por exemplo, as políticas monetária, cambial, fiscal e de renda. MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 146 ELEMENTOS COMPLEMENTARES LIVRO https://pixabay.com/pt/vectors/dinheiro-salvando-poupan%c3%a7a-finan%c3%a7a-4068357/ Título: Macroeconomia. Autor: Fernando de Holanda Barbosa Editora: Livre Sinopse: Macroeconomia é a aplicação da teoria econômica ao estudo do crescimento, do ciclo e da determinação do nível de preços da economia. Ela procura levar em conta os fatos estilizados observados no mundo real e construir arcabouços teóricos que sejam capazes de explicá-los. Nestes arcabouços existem, em geral, dois tipos de mecanismos: impulso e propagação. Os mecanismos de impulso são as causas das mudanças nas variáveis do modelo. Os mecanismos de propagação, como o próprio nome indica, transmitem os impulsos, ao longo do tempo, e são responsáveis pela dinâmica do modelo. https://pixabay.com/pt/vectors/dinheiro-salvando-poupan%c3%a7a-finan%c3%a7a-4068357/ MACROECONOMIA PROF. ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 147 REFERÊNCIAS 8.1. Bibliografia Básica GARRATT, D. Macroeconomia. São Paulo: Saraiva, 2015. [Minha Biblioteca] MANKIW, N. G. Macroeconomia. Rio de Janeiro: LTC, 2014. [Minha Biblioteca]. SAMPAIO, L. M. M. Esquematizado - Macroeconomia. São Paulo: Saraiva, 2016. [Minha Biblioteca]. 8.2. Bibliografia Complementar DORNBUSCH, R.; FISCHER, S.; STARTZ, R. Macroeconomia. Porto Alegre: Bookman, 2013. [Minha Biblioteca]. KENNEDY, P. E. Macroeconomia em contexto: uma abordagem real e aplicada do mundo econômica. São Paulo: Saraiva, 2011. [Minha Biblioteca]. MONTELLA, M. Micro e macroeconomia: uma abordagem conceitual e prática. São Paulo: Atlas, 2011. [Minha Biblioteca]. PAULANI, L. M. A nova contabilidade social: uma introdução à macroeconomia. São Paulo: Saraiva, 2013. [Minha Biblioteca]. ROSSETTI, J. P. Introdução à economia. São Paulo: Atlas, 2016. [Minha Biblioteca]. OREIRO, J. L. C. Macroeconomia do desenvolvimento - uma perspectiva keynesiana. Rio de Janeiro: LTC, 2016. [Minha Biblioteca]. SIMONSEN, M. H.; CYSNE, R. P. Macroeconomia. São Paulo: Atlas, 2009. [Minha Biblioteca]. _gjdgxs _GoBack _heading=h.30j0zll _heading=h.gjdgxs _GoBack INTRODUÇÃO À MACROECONOMIA FLUTUAÇÕES ECONÔMICAS AGENTES ECONÔMICOS ATIVIDADES ECONÔMICAS FLUTUAÇÕES ECONÔMICAS TEORIAS ECONÔMICAS CONSTITUIÇÃO ECONÔMICA NO BRASIL DESENVOLVIMENTO DAS ATIVIDADES ECONÔMICAS FLUXO CIRCULAR DA ECONOMIA MODELO DE ECONÔMIA SIMPLES MODELO CAPITALISTA PAPEL DA MOEDA DESCRIÇÃO DA MOEDA PÓLITICAS MACROECONOMICAS POLÍTICAS OU ECONOMIAS