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CURSO Agente de Projetos Sociais UNIDADE CURRICULAR 1 Pesquisar demandas sociais na comunidade CURSO DE QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL - Eixo Desenvolvimento Educacional e Social Agente de Projetos Sociais UNIDADE CURRICULAR 1 Pesquisar demandas sociais na comunidade CRÉDITOS UNIDADE CURRICULAR 1 © Senac | Todos os Direitos Reservados Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial – Senac/SC Departamento Regional em Santa Catarina FECOMÉRCIO Presidente Bruno Breithaupt Diretor Regional Rudney Raulino Diretoria de Educação Profissional Ivan Luiz Ecco Diretoria do Centro de Educação Profissional – Senac EAD Anderson Redinha Malgueiro Conteudista Anderson Giovani da Silva Coordenação Técnica Setor de Educação a Distância Coordenação Editorial e Desenvolvimento Equipe do Setor de Produção – Senac EAD SUMÁRIO UNIDADE CURRICULAR 1 APRESENTAÇÃO DA UNIDADE CURRICULAR 1 .......................................................... 05 1 ATRIBUINDO SENTIDO AOS NÚMEROS ................................................................... 06 CONTEXTUALIZANDO ...................................................................................... 06 1.1 DIFERENÇA ENTRE DADOS E INFORMAÇÕES ........................................ 06 1.1.1 Identificação e tipos de dados ......................................................... 08 1.1.1.1 Identificação de dados relevantes .......................................... 08 1.1.1.2 Tipos de dados ......................................................................... 10 1.1.2 Elaborando a informação .................................................................. 15 1.1.3 Identificação de demandas sociais e oportunidades de ação .. 17 1.2 INSTRUMENTOS DE COLETA ..................................................................... 19 1.2.1 Caixa de ferramentas: elaborando instrumentos de coleta ....... 21 1.3 ANÁLISE DE DADOS ..................................................................................... 31 1.4 DEMANDAS AMBIENTAIS E SOCIAIS......................................................... 36 1.4.1 Demandas ambientais ........................................................................ 36 1.4.2 Demandas sociais ............................................................................... 38 2 CONHECENDO QUEM FAZ A COMUNIDADE ............................................................. 41 CONTEXTUALIZANDO ....................................................................................... 41 2.1 AS INSTITUIÇÕES/ORGANIZAÇÕES: CONCEITO E TIPOS ................... 42 2.1.1 Empresas .............................................................................................. 43 2.1.2 Estado .................................................................................................... 43 2.1.3 Organizações da Sociedade Civil .................................................... 44 2.2 LIDERANÇAS COMUNITÁRIAS .................................................................. 45 3 COMUNICANDO-SE COM OS ENVOLVIDOS NO PROJETO SOCIAL .......................... 47 CONTEXTUALIZANDO ...................................................................................... 47 3.1 RESPONSABILIDADES NA PARTICIPAÇÃO E CONDUÇÃO DO PROJETO SOCIAL ........................................................... 47 3.2 CRIANDO GRÁFICOS PARA APRESENTAR DADOS E INFORMAÇÕES .. 48 3.3 APRESENTANDO RESULTADOS DA PESQUISA ...................................... 54 CONSIDERAÇÕES ....................................................................................................... 57 REFERÊNCIAS ............................................................................................................ 58 Pesquisar demandas sociais na comunidade APRESENTAÇÃO DA UNIDADE CURRICULAR 1 Seja bem-vindo(a) ao estudo da Unidade Curricular Pesquisar demandas sociais na comunidade. Esta é a primeira Unidade Curricular do curso, e, ao longo do seu estudo, você irá deparar-se com elementos que visam desenvolver a competência de pesquisar demandas sociais na comunidade. Dentre os elementos estudados, estarão os conhecimentos que apresentam conceitos relevantes para as atividades cotidianas do Agente de Projetos Sociais; as habilidades que são ações importantes para o exercício da competência, pois explicitam o saber fazer e os valores e atitudes que são as disposições individuais necessárias para o profissional. É importante que você estude e dedique-se para que gradativamente articule e mobilize esses elementos, desenvolvendo a competência proposta. O Agente de Projetos Sociais é um profissional preparado para apoiar o planejamento, a elaboração e a implementação de projetos sociais. Para isso, deve conhecer e dominar técnicas de levantamento de demandas, mobilização de recursos e prestação de contas, atuando junto a organizações da sociedade civil, instituições governamentais e junto à comunidade em geral. Esse profissional participa levantando propostas, estabelecendo metas e atividades para alcançá-las, com objetivo de efetivamente colaborar para a resolução dos principais problemas enfrentados pelos cidadãos. Nesta Unidade Curricular, você estudará a diferença entre dado e informação, os instrumentos de coleta de dados, noções conceituais sobre as demandas ambientais e sociais, análise de dados, conceito de organização e liderança comunitária. Estudará, ainda, elementos que lhe permitirão pesquisar e apresentar demandas sociais na comunidade, os quais poderão subsidiar a elaboração de projetos e intervenções capazes de promover soluções para as demandas encontradas. Bons estudos! 06 06 1 UNIDADE CURRICULAR 1: PESQUISAR DEMANDAS SOCIAIS NA COMUNIDADE ATRIBUINDO SENTIDO AOS NÚMEROS CONTEXTUALIZANDO A sociedade em que vivemos é marcada por constantes mudanças. Essas mudanças influenciam diretamente as relações que construímos, e novos desafios são lançados diariamente. Estamos todos igualmente sujeitos a circunstâncias socioambientais como o avanço tecnológico, as mudanças climáticas e o aumento da desigualdade social. Entretanto, não estamos todos nas mesmas condições de enfrentá-las ou fazer delas oportunidades para a construção de uma vida melhor. É de fundamental importância ampliar a capacidade de identificar segmentos populacionais mais desfavorecidos e compreender em quais aspectos as pessoas, enquanto sociedade, mostram-se incapazes de atender às demandas socioambientais e de sugerir alternativas para a melhor entrega de serviços públicos. As demandas socioambientais são múltiplas, complexas e estão sujeitas a percepções particulares. Em razão disso, o Agente de Projetos Sociais, como operador técnico do campo, deve estar atento em trabalhar com dados e indicadores, buscando uma compreensão mais próxima da realidade, de forma a favorecer a formulação de políticas públicas em resposta às necessidades e oportunidades identificadas. Você estudará, a seguir, como realizar a coleta de dados, garantindo o registro de informações com sigilo e confiabilidade, além de como identificar demandas sociais e ambientais. 1.1 DIFERENÇA ENTRE DADOS E INFORMAÇÕES A primeira etapa a ser executada para que o o Agente de Projetos Sociais faça qualquer intervenção, seja por meio de projetos, ações ou programas, entre outros, é coletar dados. O objetivo de coletar dados é pesquisar ampla- mente um grande número e variedade de questões, coletando informações que, quando analisadas, apresentarão as prioridades e permi- tirão identificar as intervenções mais adequadas para enfrentar os desafios que se apresentam. 06 07 UNIDADE CURRICULAR 1: PESQUISAR DEMANDAS SOCIAIS NA COMUNIDADE Segundo o Online Etymology Dictionary: Informação Dado tem sua origem no latim Datum (algo dado). O uso foi catalogado nos anos de 1640, significando um fato ou parte de informação dada. O termo passou a fazer parte do jargão na área de tecnologia quandoem todas as formas de vida. As demandas ambientais, então, surgem: X no sentido de recuperar os ecossistemas eventualmente impactados pela atividade humana de forma não sustentável. Ou seja, de forma a impedir que as gerações futuras tenham a oportunidade e possibilidade de atender suas próprias necessidades; e X no sentido de desenvolver novas tecnologias e práticas para que o ser humano possa contribuir para a harmonia e manutenção dos ecossistemas. Essas novas tecnologias e práticas devem ajudar a melhorar a forma como os recursos são usados, que não venham a desaparecer no futuro, colocando em risco as próximas gerações. Algumas demandas ambientais que são facilmente identificáveis no dia a dia são: X Poluição urbana: proveniente das fábricas/indústrias que ainda não adotam medidas para reduzir essa poluição; automóveis e residências, que são fontes de emissão de gases e resíduos poluentes. Ecossistema é um sistema composto pelos seres vivos (meio biótico) e o local onde eles vivem (meio abiótico, onde estão inseridos todos os componentes não vivos do ecossistema, como os minerais, as pedras, o clima, a própria luz solar, etc.) e todas as relações deles com o meio e entre si. 06 38 UNIDADE CURRICULAR 1: PESQUISAR DEMANDAS SOCIAIS NA COMUNIDADE X Poluição das águas: destinação imprópria de lixo, derramamento de com- bustíveis e resíduos oriundos do tráfego de navios que poluem as águas marinhas. Produtos químicos usados para controlar pestes na agricultura e fertilizantes que poluem rios e mananciais no campo. Na cidade, há des- perdício de água potável por mau uso doméstico ou por rompimento em tubulação, bem como a falta de esgotamento e saneamento básico. X Alterações no ecossistema vegetal: desmatamento, urbanização não planejada, destinação imprópria de lixo. X Alterações no ecossistema animal: caça/pesca predatória, ou seja, de forma descontrolada e colocando em risco a vida das espécies animais; e alterações nas cadeias alimentares, eliminando determinadas espécies cuja falta causa um desequilíbrio na relação entre presas e predadores. Por exemplo, sabendo que uma certa espécie de cobra se alimenta de pequenos roedores, ratos em particular, o extermínio dessas cobras em determinada região pode ocasionar uma superpopulação de ratos, o que pode gerar uma série de outros problemas ao ecossistema. 1.4.2 Demandas sociais São demandas sociais aspectos como emprego, saúde, educação, segurança, entre outros. No Brasil, as demandas sociais são inúmeras e é difícil saber sua origem. Podem ser fruto de cultura patrimonialista, de profundas desigualdades sociais, de baixo senso de responsabilidade pelo bem público, entre outras. O fato de o Brasil ser um país de proporções continentais, de geografia diversa e com uma variedade de culturas e populações, faz com que as demandas sejam múltiplas e exijam respostas também múltiplas e adaptadas localmente. Para validar demandas sociais é de fundamental importância que sejam levantados dados e produzidas informações consistentes. Essa estratégia é necessária porque as demandas são, em grande parte, influenciadas pela percepção das pessoas em relação a um tema, e essa percepção nem sempre encontra respaldo quando confrontada com informações bem fundamentadas. O Agende de Projetos Sociais deve optar sempre pela honestidade na coleta de dados e na condução de suas pesquisas e análises, buscando compreender com a maior precisão possível quais as demandas que devem receber atenção e intervenção para a que a comunidade se desenvolva e as pessoas tenham qualidade de vida. 06 39 UNIDADE CURRICULAR 1: PESQUISAR DEMANDAS SOCIAIS NA COMUNIDADE Um exemplo de como as percepções podem prejudicar o levantamento de demandas sociais é o caso da segurança. As pessoas podem dizer que se sentem inseguras no bairro porque não há um posto policial na região. Essa sensação pode ser verdadeira. Porém, é preciso verificar os dados sobre violência, furto e outras práticas semelhantes no bairro, de forma que se possa elaborar uma intervenção proporcional ao tamanho do problema. Se por acaso descobre-se que, apesar da sensação de insegurança, não são registrados casos de roubo e violência no bairro, deve-se investigar outros elementos que potencialmente originam essa percepção e atuar sobre eles, em vez de imediatamente considerar os custos do posto policial. Afinal, pode ser que o problema não seja a segurança, mas a sensação de insegurança. Se isso for identificado pelo Agente de Projetos Sociais e o processo de articulação com parceiros for bem-sucedido, pode ser que seja evitado um custo desnecessário com a manutenção de um posto policial, e a instalação de uma melhor iluminação pública será o suficiente para que as pessoas sintam-se melhores e mais seguras. Esse exemplo ilustra a necessidade de o Agente de Projetos Sociais estar preparado para refletir sobre as percepções, reconhecê-las enquanto demandas e valorizá-las assim como deve valorizar as pessoas, atuando sempre com respeito e cordialidade. Mas, acima de tudo, deve assumir a responsabilidade pela competência técnica que possui, sendo sincero e confrontando as percepções com um levantamento de dados adequado, uma boa capacidade de análise e uma comunicação clara e objetiva. Para que isso aconteça, é preciso grande atenção na determinação de demandas sociais. Neste curso você estudará técnicas que vão ajudá-lo a identificar e validar demandas para a elaboração de projetos de fato relevantes e capazes de transformar realidades. Até agora você já conheceu a importância de uma boa coleta de dados para que deles se possa extrair informações relevantes, capazes de orientar uma compreensão bastante objetiva sobre a realidade social e ambiental. Você estudou, também, que existem muitas fontes de dados e ferramentas disponíveis para sua coleta, tanto de dados qualitativos como quantitativos, sendo que uma boa pesquisa deve combinar diversos tipos de dados para que se possa oferecer mais informações e permitir que se estabeleçam prioridades condizentes com as necessidades e demandas socioambientais. Você deve certificar-se de que a pesquisa faça uso de ambos os tipos. 06 40 UNIDADE CURRICULAR 1: PESQUISAR DEMANDAS SOCIAIS NA COMUNIDADE Seu diferencial como Agente de Projetos Sociais está em como você consegue gerar informação útil e honesta a partir de dados; em que medida consegue estabelecer os limites das demandas a serem resolvidas; e em sua habilidade de envolver outras pessoas e organizações que são partes interessadas em resolver as demandas identificadas. A partir de agora, você estudará outras entidades que estão presentes nas comunidades, que podem ser oportunidades de apoio para uma boa pesquisa de demandas sociais. 06 41 2 UNIDADE CURRICULAR 1: PESQUISAR DEMANDAS SOCIAIS NA COMUNIDADE CONHECENDO QUEM FAZ A COMUNIDADE CONTEXTUALIZANDO O trabalho do Agente de Projetos Sociais envolve intensa relação com outras pessoas e organizações presentes nos espaços onde as demandas socioambientais são identificadas. Você estudará, a partir de agora, um pouco mais sobre organizações e pessoas que fazem parte do que já chamamos anteriormente de ativos locais. Para relembrar, os ativos locais são organizações da sociedade civil, lideranças, órgãos do poder público, empresas, parques e praças, escolas e outros elementos já presentes e atuantes na comunidade e que possuem influência na qualidade de vida local. A atenção a esses indivíduos e grupos mais ou menos formais (coletivos, movimentos, redes e instituições) que têm algo a perder ou a ganhar com determinada intervenção, torna possível identificar conflitos de interesse, relações funcionais ou não funcionais e obter pistas que permitirão aumentar as chances de obter ampla participação nos processos de diagnóstico, elaboração e implementaçãode projetos socioambientais. Mais do que limitar-se à participação em momentos pontuais, busca-se que haja uma apropriação de todo o processo por parte desses ativos locais, de forma que as intervenções para solução de demandas sejam mais duradouras. Para que você possa fazer uma análise dessas lideranças e organizações formais e/ou informais e organizar a melhor forma de ter sua participação na pesquisa de demandas sociais, pode-se trabalhar de forma bastante prática em quatro momentos. 1) Listar todas as lideranças e instituições que possuem algum grau de envolvimento. 2) Identificar suas expectativas e interesses. 3) Compreender a importância de cada um deles e sua influência. 4) Conhecer claramente os riscos para o sucesso do projeto. O aspecto de identificação dos envolvidos, interesses, influência e sua relação com riscos à qualidade do trabalho são fundamentais na pesquisa de demandas socioambientais. O Agente de Projetos Sociais deve ter um olhar crítico no momento da coleta de dados e geração de informações para compreender que cada uma dessas pessoas e instituições, que são parte da comunidade, tem um olhar parcial sobre ela, bem como suas demandas particulares. 06 42 UNIDADE CURRICULAR 1: PESQUISAR DEMANDAS SOCIAIS NA COMUNIDADE No estudo da Unidade Curricular Planejar e captar recursos para realização dos projetos sociais, será retomado o tema dos ativos locais como participantes ativos nos processos de atuação junto à comunidade, especificamente na área de planejamento do projeto. A seguir, exploraremos um pouco melhor como se configuram as organizações que operam no contexto das demandas socioambientais e as características das lideranças comunitárias, com objetivo de auxiliá-lo a compreender como atuar com esses ativos em sua pesquisa de demandas. 2.1 AS INSTITUIÇÕES/ORGANIZAÇÕES: CONCEITO E TIPOS No contexto deste curso, instituições e organizações serão tratados como termos intercambiáveis, uma vez que esta é uma prática nas organizações sociais da sociedade civil. Assim, as instituições/organizações constituem-se como uma entidade formal, com propósito e responsabilidades juridicamente estabelecidas, seja pública, privada ou mista. Coletivos, movimentos e redes não formais são considerados aqui como oportunidades para pessoas e organizações exercerem algum tipo de liderança comunitária, empurrando a sociedade para a discussão de algum tema ou pela mudança de alguma prática. A organização baseia-se na forma como as pessoas se inter-relacionam e na ordenação e distribuição dos diversos elementos envolvidos nos processos entre a intenção de promover determinada transformação, na obtenção dos recursos para fazê-la e na realização dessa transformação, considerando as condições para que esses processos aconteçam de forma continuada, ou seja, que a organização se mantenha. As organizações podem ser classificadas de várias formas, de acordo com alguns critérios. Veja alguns exemplos: X Finalidade: com ou sem fins lucrativos; X Tamanho: volume de operações ou de pessoas envolvidas; X Localização: multinacional, regional, nacional; X Produção: tipo de produto ou serviço que oferece; X Propriedade: pública, privada e mista. Nosso interesse de estudo são as organizações relacionadas a sua atuação como futuro Agente de Projetos Sociais. Por este motivo, será focada a discussão na classificação das organizações como Empresas/Mercado; Estado; e Organização da Sociedade Civil. O elemento central de distinção desses tipos de organização está em seu propósito e sua governança, ou seja, em por que e como as decisões são tomadas e a ação é executada. A propriedade pública é a que pertence ao poder público municipal, estadual ou federal. A propriedade privada pertence a uma pessoa ou a um grupo de pessoas. A proprie- dade mista é uma organização cuja propriedade é parte do poder público e parte de pessoas que compram uma parcela da empresa. 06 43 UNIDADE CURRICULAR 1: PESQUISAR DEMANDAS SOCIAIS NA COMUNIDADE 2.1.1 Empresas As empresas nascem em virtude dos interesses particulares dos empreendedores e investidores. Mesmo quando são cooperativas, seu compromisso principal é com a lucratividade que permitirá remunerar os empreendedores, ou seja, aqueles que decidiram começar a empresa, pelo risco assumido ao estabelecer o negócio. As cooperativas são um tipo de organização com um número maior de sócios e a governança é compartilhada entre esse grande número de associados. A intenção da cooperativa é também lidar prioritariamente com os interesses de seus cooperados. Nesses tipos de sociedade, o modelo de governança é estabelecido pelos próprios sócios que estabeleceram a organização e não é necessariamente democrática. O papel das empresas em nosso quadro da pesquisa de demandas sociais na comunidade está relacionado com os impactos e influências que essas organizações têm e exercem no contexto da pesquisa (sobre uma causa, território ou público-alvo). A forma como a empresa participa ou é chamada a participar nas demandas socioambientais pode variar de acordo com sua estrutura interna: X Se a liderança da empresa é mais personalizada na figura do empreende- dor, ela tende a participar a partir de um apelo mais emocional, de senso de pertencimento à comunidade. X Se a liderança é voltada aos compromissos da empresa com acionistas – que nem sempre tem relação com o território de operação da empresa – sua participação em demandas socioambientais tende a ser mais racional e estratégica em relação a seus negócios. Em outras palavras, muitas vezes, a liderança e influência de uma empresa vêm de suas práticas e políticas institucionais, enquanto que, em outras, a liderança e influência da organização se confundem com o ponto de vista e o comportamento do empresário/empreendedor. Esse estudo também será retomado na Unidade Curricular Planejar e captar recursos para realização dos projetos sociais, quando será tratado sobre mobilização de recursos. 2.1.2 Estado O Estado é a instituição com a qual o cidadão conta para a entrega de bens e serviços públicos. A instituição é administrada por um governo eleito por um período definido, que é responsável pelo bom funcionamento da estrutura do Estado e pela Cooperativa é uma sociedade de, no mínimo, vinte pessoas físicas com um interesse em comum, economicamente organizada de forma democrática. Ou seja, com a participação livre e igualitária dos cooperados, aos quais presta serviços, sem fins lucrativos. Os acionistas são pessoas que possuem uma ou mais ações numa sociedade financeira ou comercial, que participam das decisões e são consideradas também como proprietárias. 06 44 UNIDADE CURRICULAR 1: PESQUISAR DEMANDAS SOCIAIS NA COMUNIDADE elaboração de políticas a serem implementadas por essa estrutura de forma a lidar com os desafios da sociedade. Seu propósito e governança estão estabelecidos em lei. No contexto deste estudo, Estado será entendido como uma forma de organização política e institucional cujas atividades estão previstas por um conjunto de leis. Assim, quando falarmos em Estado estaremos nos referindo a um município, um estado ou a um país. O Estado tem responsabilidades para com todos os cidadãos e por zelar pelas regras de convivência no espaço público. Pela sua característica de oferecer uma grande diversidade de serviços para os cidadãos, o Estado é dotado de uma grande infraestrutura, tanto em número de profissionais (funcionários públicos) quanto de equipamentos públicos (escolas, hospitais, polícia, empresas públicas e outras agências). Essa estrutura faz com que o Estado possua grande alcance e capacidade de realizar os serviços necessários ao bem-estar dos cidadãos. Entretanto, os recursos para a manutenção dessa infraestrutura são limitados, o que determina que os governantes tenham que fazer escolhas,definir prioridades de investimentos e estabelecer uma agenda pública de trabalho que esteja em acordo com as expectativas da população. Assim, para uma pesquisa de demandas sociais, o Estado é uma importante fonte de dados, pois possui grande inserção social. O Agente de Projetos Sociais pode atuar encorajando, cada vez mais, os servidores e agentes do poder público a abri- rem-se ao diálogo e assumir uma posição de escuta e colaboração para a entrega de bens e serviços públicos nas comunidades. 2.1.3 Organizações da Sociedade Civil No Código Civil Brasileiro, as Organizações da Sociedade Civil (OSCs) são entidades que podem se configurar como associações e como fundações: X Associação: quando são formadas por pessoas que se reúnem sem a intenção de obter lucros de sua atividade, em torno de uma causa que lhes é cara e comum. X Fundação: quando se formam a partir de um patrimônio colocado à disposição de uma causa, dentre as previstas na legislação. Especificamente no caso das associações, cuja orientação legal é um pouco mais aberta em relação ao motivo de seu estabelecimento, foram criados elementos de reconhecimento do interesse público dessas organizações nas diferentes esferas do Estado: Utilidade pública municipal, estadual e federal, Organização da Sociedade Civil de Interesse Público e outros. 06 45 UNIDADE CURRICULAR 1: PESQUISAR DEMANDAS SOCIAIS NA COMUNIDADE As OSCs possuem um modelo de liderança para tomada de decisões – ou seja, sua governança – previsto no código civil com elementos que podem variar de acordo com os interesses das pessoas envolvidas. São instituições que devem ter uma missão clara, governança e equipe comprometida com a missão e capacidade de executar as atividades cujo sucesso aproxima a entidade de sua finalidade. Uma OSC será mais forte na medida em que sua atividade e missão encontram respaldo no contexto social, cultural e histórico em que opera. Para o Agente de Projetos Sociais, essas organizações são aliadas para compreender o ponto de vista das pessoas ativistas cuja ideologia, independentemente de qual seja, impulsiona a propor transformações, a propor mudanças de status quo. As OSCs acusam quando há um excesso de conforto em relação à qualidade de vida e apontam demandas das mais variadas que podem ou não encontrar campo fértil para mobilização cidadã. 2.2 LIDERANÇAS COMUNITÁRIAS Para além das organizações, as comunidades contam com algumas pessoas cujo perfil, posição profissional ou reputação lhes concede a condição de liderança ou referência para questões de interesse público. Isso pode acontecer com um sacerdote, um médico, um professor, um delegado de polícia, pessoas que são procuradas/lembradas pela comunidade como capazes de resolver determinado problema, dar um conselho, assumir responsabilidades sobre questões relacionadas ao bem público e ajudar de alguma forma. Não existe um padrão de estilo de vida ou trajetória profissional/ pessoal que permitirá identificar se uma pessoa é ou será uma liderança comunitária. Essa condição lhe é atribuída a partir de sua própria experiência de vida, de forma coletiva. Pode-se favorecer o surgimento de lideranças ao abrirem-se espaços de diálogo na esfera pública, a criação de fóruns ou momentos em que as pessoas possam se expor e contribuir para o bem público. Os líderes comunitários são pessoas importantes no processo de pesquisar as demandas sociais na comunidade, já que trazem elementos qualitativos fundamentais para que se entendam as dinâmicas e como se dão os relacionamentos locais. O Status quo é um termo origi- nário do latim e está relacionado ao estado de fatos, situações e coisas, independentemente do momento. O termo status quo geralmente é acompanhado de palavras como, por exemplo, manter, mudar, defender. 06 46 UNIDADE CURRICULAR 1: PESQUISAR DEMANDAS SOCIAIS NA COMUNIDADE Para identificar as lideranças locais, o Agente de Projetos Sociais deve conversar com as pessoas da comunidade, escutá-las e buscar entender como elas se ajudam mutuamente. Uma das habilidades importantes do Agente de Projetos Sociais é justamente comunicar-se com clareza e objetividade, favorecendo a aproximação e o envolvimento das pessoas e organizações como parceiras, no sentido de promover a qualidade de vida na comunidade. As organizações são espaços de participação cidadã, canais formais para coleta de dados e expressão da dinâmica de um contexto a ser pesquisado. Podem apoiar na consolidação de informações e oferecer possíveis oportunidades de implementação. É importante considerar que as organizações, empresas, Estado e OSCs são formados por pessoas e têm um determinado grau de abertura para o relacionamento interpessoal. O Agente de Projetos Sociais deve estar atento em buscar conhecer as pessoas referenciadas pelas demais como líderes em determinados contextos. Elas são peças-chave para a compreensão da realidade local, têm uma função importante em ajudar uma nova iniciativa a encontrar um espaço de operação na comunidade e para se identificar as principais dinâmicas e relacionamentos locais. É importante lembrar de que se chega mais próximo da realidade local quando mais pessoas e organizações atuantes na comunidade forem ouvidas, já que cada um desses ativos locais traz uma visão parcial das demandas e oportunidades. 06 47 3 UNIDADE CURRICULAR 1: PESQUISAR DEMANDAS SOCIAIS NA COMUNIDADE COMUNICANDO-SE COM OS ENVOLVIDOS NO PROJETO SOCIAL CONTEXTUALIZANDO A última parte do processo de pesquisa de demandas sociais na comunidade está na preparação dos dados e informações coletados e organizados para apresentação. Comunicar a produção obtida em todo esse processo de pesquisa é fundamental para expor à crítica os resultados obtidos. É uma responsabilidade para com todos os envolvidos no processo de pesquisa e um compromisso com as próximas etapas a serem desenvolvidas em benefício da comunidade que recebeu o trabalho do Agente de Projetos Sociais nessa fase de conhecimento e reconhecimento local. A prática de comunicar os resultados do trabalho desenvolvido na pesquisa de demanda local é também uma das razões de manter a atenção e o cuidado com a coleta, tratamento e análise de dados durante todo o processo. Esse cuidado não está limitado aos dados, mas estende-se principalmente às pessoas e organizações locais envolvidas direta ou indiretamente. Sabendo, desde o início de sua atividade como pesquisador, do compromisso de comunicar, o Agente de Projetos Sociais deve adotar medidas para garantir o bem-estar de todos os participantes durante o trabalho desenvolvido na comunidade. A partir de agora, você estudará algumas formas de comunicar os resultados obtidos a partir da coleta e análise de dados e alguns cuidados a tomar para facilitar a comunicação e fortalecer os relacionamentos construídos. 3.1 RESPONSABILIDADES NA PARTICIPAÇÃO E CONDUÇÃO DO PROJETO SOCIAL Como já estudado nesta Unidade Curricular, o Agente de Projetos Sociais precisa estar atento para garantir o bem-estar de todos os participantes envolvidos em sua atividade de pesquisador de demandas sociais. Isso significa dizer que o Agente de Projetos Sociais precisa ser claro com relação às responsabilidades envolvidas em participar e conduzir o processo de pesquisa e certificar-se de que os acordos (formais ou informais) sejam respeitados. Isso inclui desde ser pontual em entrevistas marcadas, respeitando o tempo das pessoas e organizações, até cumprir responsabilidades contratuais com fornecedores e parceiros. Esse profissional não deve utilizar imagens de pessoas e organizações, de qualquer forma, sem expressa autorização. Para obter uma autorização, pode ser utilizado o 06 48 UNIDADE CURRICULAR 1: PESQUISAR DEMANDAS SOCIAIS NA COMUNIDADE modelo de autorização de uso de imagens, sugerido no estudo sobre Identificaçãoe tipos de dados. Certifique-se de que as informações sigilosas permaneçam em sigilo e sejam eliminadas após o uso. Nesse aspecto, tenha especial cuidado com as informações coletadas por meio de gravação. Lembre-se de que conquistar a confiança das pessoas é uma tarefa difícil e manter essa confiança faz toda diferença para as próximas etapas, após a pesquisa de demandas sociais, que consistem no planejamento, elaboração e implementação de projeto. 3.2 CRIANDO GRÁFICOS PARA APRESENTAR DADOS E INFORMAÇÕES No estudo sobre a tabulação de dados, você pôde constatar que as planilhas facilitam a organização, resumo e efetuação de análises dos dados coletados. A seguir, são apresentados oito passos para a criação de gráficos a partir de dados inseridos em uma planilha. Os gráficos contribuem para que, visualmente, seja possível comunicar o andamento ou resultado de pesquisas. X Passo 1: inicie o Excel e abra a pasta de trabalho. 06 49 UNIDADE CURRICULAR 1: PESQUISAR DEMANDAS SOCIAIS NA COMUNIDADE X Passo 2: insira os dados que vão originar o gráfico na planilha. X Passo 3: selecione os dados que farão parte do gráfico que você deseja construir, vá ao menu Inserir e clique na lateral da seção Gráficos. 06 50 UNIDADE CURRICULAR 1: PESQUISAR DEMANDAS SOCIAIS NA COMUNIDADE X Passo 4: na seção Gráficos, escolha o tipo de gráfico que melhor representará os dados que você deseja mostrar. X Passo 5: para mudar o título do gráfico, clique no próprio título. Uma caixa de texto será aberta e você pode alterá-lo. 06 51 UNIDADE CURRICULAR 1: PESQUISAR DEMANDAS SOCIAIS NA COMUNIDADE X Passo 6: você poderá fazer alterações no formato do gráfico e na aparência das colunas clicando com o botão esquerdo sobre o gráfico e abrindo a janela de opções. Além de mudar cores na opção Formatar Série de Dados, você pode incluir, nas barras, os dados que originaram o gráfico (chamados rótulos). A opção para isso é Adicionar Rótulos de Dados. 06 52 UNIDADE CURRICULAR 1: PESQUISAR DEMANDAS SOCIAIS NA COMUNIDADE X Passo 7: é possível também fazer alterações na legenda, clicando com o botão esquerdo sobre ela. X Passo 8: ao usar o Excel, explore bem o programa e suas funcionalidades. Tente fazer gráficos diferentes, alterar números e compreender as facilidades que o sistema pode oferecer. O menu Ajuda é muito útil e servirá para que você possa aprimorar, cada vez mais, suas habilidades em trabalhar com dados e gráficos. A seguir, são apresentados alguns exemplos de gráficos e a melhor forma de usá-los de acordo com os tipos de dados. Os números utilizados são fictícios, pois o interesse é somente observar o tipo de gráfico sugerido para cada situação. Gráfico de barra ou coluna O gráfico de barra (variáveis no eixo y) ou coluna (variáveis no eixo x) é usado para demonstrar valores quantitativos comparando-se diferentes variáveis. No Gráfico 1, as variáveis são as áreas de atuação das Organizações da Sociedade Civil (OSCs). Gráfico 1 - Gráfico em colunas: variável da área de atuação das OSCs no eixo x (horizontal) e número de organizações no eixo y (vertical) Defesa e preservação do meio ambiente Defesa dos direitos do cidadão Atendimento à população socialmente vulnerável Mobilização e incentivo à participação social Apoio às organizações de saúde, educação e assistência social Democratização de acesso a bens culturais e artísticos Outras Número de OSCs por área de atuação no município ABC 0 38 16 61 7 25 9 19 10 20 30 40 50 60 70 Fonte: Elaborado pelo autor (2015). 06 53 UNIDADE CURRICULAR 1: PESQUISAR DEMANDAS SOCIAIS NA COMUNIDADE Gráfico em pizza e gráfico circular Os gráficos em pizza e os circulares são usados para expressar uma proporção, em que a soma de todos os dados corresponde a um todo (100%). Gráfico 2 - Gráfico em pizza: a soma das partes corresponde a 100% Assistência Social Meio Ambiente Saúde Cultura e Arte Defesa dos Direitos Educação Distribuição das OSCs do município ABC por área de atuação 31% 9% 7% 1% 6% 46% Fonte: Elaborado pelo autor (2015). Gráficos em linha e em área Os gráficos em linha e em área demonstram uma sequência numérica ao longo de um período de tempo. São usados para demonstrar o comportamento de determinados fenômenos observados por algum tempo, permitindo visualizá-los de forma comparativa. Se for em área, o gráfico dá uma noção da proporção sobre o todo. Gráfico 3 - Gráfico em linha: comportamento de fenômenos ao longo do tempo Aumento de empregos em empresas e em OSCs (%) no município ABC 2010 0 10 20 30 40 50 60 70 2011 2012 2013 2014 % Aumento de empregos em empresas % Aumento de empregos em OSCs Fonte: Elaborado pelo autor (2015). 06 54 UNIDADE CURRICULAR 1: PESQUISAR DEMANDAS SOCIAIS NA COMUNIDADE Gráfico 4 - Gráfico em área: dá a noção de proporção sobre o todo Aumento de empregos em empresas e em OSCs (%) no município ABC 2010 0 10 20 30 40 50 60 70 2011 2012 2013 2014 % Aumento de empregos em empresas % Aumento de empregos em OSCs Fonte: Elaborado pelo autor (2015). 3.3 APRESENTANDO RESULTADOS DA PESQUISA Com gráficos preparados e informações elaboradas a partir dos dados, é o momento de apresentar, a todos os participantes e interessados na pesquisa de demandas sociais, os resultados de seu esforço. Para apresentar esses resultados, utilize programas de apresentação como o Power Point, Prezi ou outros que você conhece e está habituado a usar. Para uma boa apresentação, use pouco texto e opte por elementos visuais que ajudem as pessoas que estiverem assistindo sua apresentação a entender os pontos principais e relevantes de seu trabalho. Certifique-se de que as pessoas possam acessar o conteúdo completo de sua pesquisa em outro formato (texto, artigo, livro, relatórios, dentre outros), preferencialmente antes da apresentação. Na sua fala, use histórias que aconteceram durante o processo de pesquisa, que possam ilustrar os dados e resultados e envolver o público que o está ouvindo. A seguir, são apresentados os quatro passos para a elaboração de uma apresentação utilizando o Microsoft Power Point. 06 55 UNIDADE CURRICULAR 1: PESQUISAR DEMANDAS SOCIAIS NA COMUNIDADE X Passo 1: inicie o programa. Automaticamente uma apresentação em branco será aberta. Grave o arquivo no computador com um nome que represente o trabalho a ser desenvolvido. X Passo 2: no menu, selecione a opção Design e escolha uma arte que achar mais apropriada. A seguir, clique com o botão da esquerda sobre o slide na guia na direita da tela e selecione novo slide para adicionar slides extras. 06 56 UNIDADE CURRICULAR 1: PESQUISAR DEMANDAS SOCIAIS NA COMUNIDADE X Passo 3: o primeiro slide deve conter o título da apresentação e quem é o responsável por sua elaboração ou condução (pessoa ou organização). Os demais servem para mostrar os dados, figuras, fotos e pouco texto, que ajudarão o apresentador a conduzir sua fala. Para inserir texto, clique na caixa de texto disponibilizada pelo software. Faça o mesmo para inserir imagens. X Passo 4: use poucos slides e utilize a ferramenta copiar e colar para passar os gráficos feitos no Excel para slides no Power Point, enriquecendo sua apresentação. Novamente, use a ferramenta Ajuda do Microsoft Power Point e explore o sistema para descobrir funcionalidades que ajudem a fazer uma apresentação atraente. Vale considerar que nem todas as informações e conclusões são interessantes para todos os públicos. Assim, pode ser necessário que sejam feitas diferentes apresentações sobre a mesma pesquisa, com enfoques e linguagens diferentes. A linguagem e enfoque para uma liderança comunitária podem ser diferentes daqueles a serem apresentados em uma universidade, por exemplo. Sua pesquisa é pouco útil se não puder ser socia- lizada e compreendida. Esforce-se para que as pessoas possam conhecer e compartilhardos resultados, aprender com eles e, principalmente, inspirar-se para engajar-se em iniciativas que possam contribuir para lidar com as demandas socioambientais pesquisadas. Use tabelas, gráficos e fotos para representar as informações qualitativas e quantitativas encontradas e lembre-se de que a comunicação adequada da pesquisa de demandas sociais é mobilizadora, ajuda a integrar os diversos atores envolvidos e a promover engajamento e ambientes propícios para intervenção. 06 57 06 57 UNIDADE CURRICULAR 1: PESQUISAR DEMANDAS SOCIAIS NA COMUNIDADE Ao longo desta Unidade Curricular, foram apresentados os elementos de modo a permitir que você desenvolvesse a competência de Pesquisar demandas sociais na comunidade, estabelecendo relações com o dia a dia do Agente de Projetos Sociais e indicando possíveis situações e melhores escolhas. Durante os estudos, você conheceu como realizar a coleta de dados garantindo o registro de informações com sigilo e confiabilidade, já que esse fator é decisivo para o bom andamento da pesquisa de demandas. Pôde ainda estudar como identificar demandas sociais e ambientais de acordo com as suas características, observando a importância da escuta das pessoas, o papel das lideranças e como identificar cada situação corretamente sem colocar em risco investimentos tanto de pessoal como financeiro. Foi priorizado que você aprendesse como identificar e registrar instituições e lideranças da comunidade, compreendendo o significado e papel de cada uma. E principalmente, após a pesquisa, você pôde aprender como apresentar as demandas da comunidade, incluindo o uso de softwares que o auxiliarão nessa tarefa. Bons estudos! CONSIDERAÇÕES UNIDADE CURRICULAR 1 06 58 06 58 UNIDADE CURRICULAR 1: PESQUISAR DEMANDAS SOCIAIS NA COMUNIDADE ARMANI, Domingos. Como elaborar projetos? Guia prático para elaboração e gestão de projetos sociais. Porto Alegre: Tomo Editorial, 2009. (Coleção Amencar). BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é educação popular. São Paulo: Brasiliense, 2011. (Coleção Primeiros Passos). HARPER, Douglas. Dado. In: DICTIONARY.COM. Online Etymology Dictionary. Disponível em: . Acesso em: 20 dez. 2014. HARPER, Douglas. Informação. In: DICTIONARY.COM. Online Etymology Dictionary. Disponível em: . Acesso em: 20 dez. 2014. GIL, A. C. Método e técnicas de pesquisa social. 5. ed. São Paulo: Editora Atlas S.A., 1999. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Disponível em: . Acesso em: 13 mai. 2015. JANNUZZI, Paulo de Martino. Indicadores sociais no Brasil: conceitos, fontes de dados e aplicações. 4. ed. Campinas: Alinea, 2009. NEUMANN, Lycia Tramujas V.; NEUMANN, Rogério Arns. Desenvolvimento comu- nitário baseado em talentos e recursos locais – ABCD. São Paulo: Global, 2004. PM4NGOS. Guia para o PMD Pro: Gerenciamento de projetos para profissionais de desenvolvimento. 2012. Disponível em: . Acesso em: 20 mar. 2015. SHUTTERSTOCK. Banco de Imagens. Disponível em: . Acesso em: 24 set. 2015. TANAKA, Oswaldo Y.; MELO, Cristina. Avaliação de Programas de Saúde do Adolescente: um modo de fazer. São Paulo: Edusp, 2001. REFERÊNCIAS UNIDADE CURRICULAR 1 http://dictionary.reference.com/browse/project http://dictionary.reference.com/browse/project http://www.ibge.gov.br/home/ http://www.pm4ngos.com/wp-content/uploads/2014/10/PMD_Pro_Guide_2nd_PT_USLetter.pdf http://www.pm4ngos.com/wp-content/uploads/2014/10/PMD_Pro_Guide_2nd_PT_USLetter.pdf http://www.shutterstock.com http://www.shutterstock.comregistrado pela primeira vez em 1946. O dado não tem um significado por si, somente quando interpretado ele se torna uma informação. Informação tem sua origem no latim informationem (conceito, ideia). O uso foi catalogado no final do século XIV. O significado de informação como conhecimento comunicado, ou como organização de dados capaz de permitir conhecimentos que induzem à transformação, foi identificado na metade do século XV. Assim, pode-se dizer que o dado é um fato em si, um número, uma medida que isolada- mente não comunica uma ideia ou conceito. Em estatística, os dados são resultados de observações feitas sobre uma variável. Considerando que dado é o resultado da observação de uma característica durante a pesquisa, veja dois exemplos de dados: Exemplo Exemplo 1: Observando-se a variável “sexo biológico”, ao pesquisar o sujeito “José Pereira”, o pesquisador obteve o dado “sujeito é do sexo masculino”. Exemplo 2: A quantidade de um tipo de bactéria na água, denominado enterococos, é superior a 400 por 100 mililitros. Diferentemente do dado, a informação im- plica a elaboração de algum conhecimento, conceito ou ideia a partir de um conjunto de dados. Ela pode ser expressa na forma de um indicador. A variável é a característica que o pesqui- sador tem interesse de conhecer/medir durante a coleta de dados. São exemplos de variáveis: raça, sexo biológico, gênero, número de pessoas, frequência, entre outros. O indicador é um elemento construído a partir de dados levantados para dar visibilidade a conceitos, permitindo observar fenômenos e medir impactos de uma intervenção na realidade. É exemplo de indicador: número de praias brasileiras impróprias para banho. 06 08 UNIDADE CURRICULAR 1: PESQUISAR DEMANDAS SOCIAIS NA COMUNIDADE Vejamos um exemplo de informação: Exemplo Segundo a resolução no 274 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), de 29 de novembro de 2000, as águas serão consideradas impróprias quando forem identificadas quantidades de bactérias enterococos em número superior a 400 por 100 mililitros. A partir de agora, você estudará como identificar dados e em quais tipos eles podem ser classificados. Na sequência, aprenderá como usá-los para gerar informação a partir de um quadro com diferentes tipos de necessidades e a identificar demandas sociais e oportunidades de ação na comunidade. 1.1.1 Identificação e tipos de dados Existe uma infinidade de dados disponíveis nas mais diversas áreas. Para que você possa fazer uma boa coleta de dados em sua atividade como Agente de Projetos Sociais, é importante que: X identifique os dados mais relevantes para subsidiar o trabalho a ser realizado na comunidade; e X compreenda os tipos de dados disponíveis, para que se tenha uma ideia de sua confiabilidade e precisão ao subsidiar informações. Tendo noção da relevância dos dados e de sua confiabilidade, você produzirá uma pesquisa de demandas sociais muito mais precisa e capaz de subsidiar bons projetos. Conheça mais sobre identificação de dados relevantes e sobre tipos de dados. 1.1.1.1 Identificação de dados relevantes Na pesquisa para compreender a realidade social, os dados devem identificar não somente as necessidades, mas também as oportunidades em uma comunidade. Por isso, devem ser pesquisados também os ativos sociais locais, relacionamentos entre as pessoas, elementos históricos, influências políticas, entre outros fatores. Existem diversas formas de coletar dados e, dada a amplitude das áreas de ação, quando se trata de projetos sociais, a escolha da maneira mais apropriada de fazê-lo determi- nará como e onde os dados serão coletados e ajudará a verificar, entre as variadas fontes, aquelas mais adequadas e relevantes. Para a identificação de quais dados coletar, o Agente de Projetos Sociais deve considerar alguns passos. Os ativos sociais locais são organizações da sociedade civil, lideranças, órgãos do poder público, empresas, parques e praças, escolas e outros elementos já presentes e atuantes no território e que possuem influência na qualidade de vida local. 06 09 UNIDADE CURRICULAR 1: PESQUISAR DEMANDAS SOCIAIS NA COMUNIDADE 1) O que se quer saber; 2) Quais os recursos existentes para fazer a coleta; 3) Se há disponibilidade de tempo e dinheiro; 4) Quais são as fontes de dados disponíveis; 5) Qual a complexidade dos dados a serem coletados; e 6) Com que frequência há a coleta de dados. A partir de agora, em vários momentos do curso será utilizado um exemplo que consiste no desenvolvimento de um Projeto Social em um determinado bairro. Para iniciar, imagine que uma organização pretenda atuar em um determinado bairro e solicita, ao Agente de Projetos Sociais, que faça uma coleta de dados. São inúmeros os dados existentes, desde os oferecidos pelos moradores, que acumulam anos de história na região, até aqueles encontrados junto a agências governamentais e institutos de pesquisa. Nesse caso, o primeiro passo é o mais importante: identificar, nesse universo de possibilidades, uma linha de ação, uma pergunta a ser respondida, ou seja, o que se quer saber. Durante todo o seu trabalho de pesquisa de demandas, é essa pergunta que vai ajudá-lo a construir um projeto social relevante para a comunidade. Assim, se uma organização quer atuar no bairro, a primeira coisa a ser feita é delimitar sua ação e fazer uma escolha sobre onde atuar, como, por exemplo, na saúde de crianças e adolescentes. Com essa escolha feita, você já tem pistas de por onde começar. O segundo passo é saber claramente quais são os recursos disponíveis para essa fase de coleta de dados. O terceiro é identificar se há tempo e dinheiro. Se houver, pode-se ampliar o número de fontes de onde coletar dados. Caso contrário, as fontes a serem escolhidas são aquelas mais convenientes e próximas do Agente de Projetos Sociais, desde que continuem sendo fontes confiáveis. Sabendo o que procurar e quais os recursos disponíveis, parte-se para o quarto passo, que consite na identificação de fontes possíveis e confiáveis de onde extrair os dados. Dependendo do tipo de projeto, as fontes podem ser órgãos da administração pública local, lideranças comunitárias, institutos de pesquisa, entre outras. 06 10 UNIDADE CURRICULAR 1: PESQUISAR DEMANDAS SOCIAIS NA COMUNIDADE Em seguida, no quinto passo, é preciso selecionar, entre os diversos dados, aqueles que são mais úteis para a identificação das necessidades ou oportunidades que originarão o projeto. No exemplo que se está analisando, considere os dados relacionados à saúde de crianças e adolescentes do bairro. Dados muito complexos, que exigem um conhecimento muito especializado como, por exemplo, o pH sanguíneo de pessoas atendidas no centro de saúde do bairro, podem ser interessantes, mas podem, também, ser pouco práticos. Assim, procure economizar seu tempo e recursos buscando dados mais simples e relevantes para o que se quer saber. Por exemplo, número de atendimentos de crianças e adolescentes no centro de saúde do bairro, principais queixas e relação de diagnósticos, número de reincidência das doenças, entre outros. Por fim, o sexto passo de seleção de dados deve ser a frequência com que eles são registrados e disponibilizados. Procure selecionar dados que possam ser coletados em espaços de tempo mais curtos como, por exemplo, a cada mês ou a cada ano. Assim é possível ter uma ideia de como eles variam ao longo do tempo e esses dados poderão gerar informações mais relevantes para um projeto social. Observando todos os esses passos, o Agente de Projetos Sociais poderá identificar, com mais clareza, os dados a serem coletados. 1.1.1.2 Tipos de dados Os dados de uma pesquisa podem ser classificados, em relação a suas fontes, como secundários ou primários, e, quanto a sua natureza (função ou característica), podem ser dados quantitativos ou qualitativos.Fonte Secundários Primários Natureza Quantitativos Qualitativos Dados Secundários Os dados secundários são aqueles que reúnem dados já coletados em algum outro momento, em pesquisas anteriores, mesmo que para outra finalidade, e já tratados. Algumas dessas fontes são livros, jornais, revistas, relatórios, pesquisas, avaliações, relatórios de organizações sociais, dados de censos econômicos e populacionais, entre outros. X Vantagens: Os dados secundários podem ser úteis na definição do problema e das hipóteses de pesquisa; ajudam a planejá-la pelo exame de estudos semelhantes, fornecem parâmetros para o estabelecimento da amostra e podem ser usados como base para comparar os resultados finais de um estudo. 06 11 UNIDADE CURRICULAR 1: PESQUISAR DEMANDAS SOCIAIS NA COMUNIDADE X Desvantagens: Os dados secundários podem apresentar uma limitação de relevância e exatidão, não estarem adequados à situação real, estarem desatualizados ou não serem confiáveis. Voltando ao exemplo de que uma organização deseja atuar no tema de saúde de crianças e adolescentes em um determinado bairro, os dados secundários poderiam vir dos registros de atendimento do centro de saúde e de uma pesquisa feita por alunos da universidade vizinha ao bairro a respeito de problemas de frequência escolar das crianças em virtude dos problemas de saúde. Ao analisar esses registros, pode-se, por exemplo, identificar que há um número grande de crianças e adolescentes que procuram o centro de saúde por causa de doenças de pele, provocadas por contato com água contaminada. Assim, os dados secundários acabam apontando problemas e ajudam a levantar hipóteses que servem de base para estudos mais aprofundados e/ou para a elaboração de um projeto de intervenção objetivando lidar com a situação. Além disso, os resultados obtidos no projeto podem eventualmente ser comparados com os resultados da pesquisa feita pelos alunos da universidade vizinha e que serviram como dados secundários. Dados Primários Quando os dados secundários não existem, ou existem e não são suficientes para responder às necessidades de pesquisa, deve-se partir para a busca de dados primários. Os dados primários são aqueles coletados, em campo, pelo próprio Agente de Projetos Sociais, por meio de entrevistas, questionários, testes, observação, entre outros. Assim como os dados secundários, os dados primários também servem para ajudar na definição do problema e dão subsídios para a elaboração de projetos sociais. X Vantagens: Diferentemente dos dados secundários, o levantamento dos dados primários está sob o controle do próprio Agente de Projetos Sociais e, portanto, serão, de fato, os dados mais relevantes para o trabalho e, se buscados com critérios metodológicos adequados, serão também os mais confiáveis. X Desvantagens: O levantamento de dados primários consome mais tempo, já que é necessário preparar os instrumentos de coleta de dados, ir a campo, entrevistar as pessoas ou aplicar questionários, fazer tabulação e tratamento estatístico do material. 06 12 UNIDADE CURRICULAR 1: PESQUISAR DEMANDAS SOCIAIS NA COMUNIDADE O Agente de Projetos Sociais, ao coletar dados primários, contatará pessoas e organizações públicas e privadas colhendo falas, imagens, impressões, histórias e outros dados que podem ou não ser públicos. Para garantir o bem-estar de todos os envolvidos, o Agente de Projetos Sociais deve estabelecer acordos que deixam claro quais dados e imagens podem ser divulgados e como isso pode ser feito. Nos instrumentos de coleta de dados – questionários, por exemplo –, pode-se inserir um pequeno texto explicando os propósitos da coleta e como os dados serão utilizados. Pode-se pedir ou não a identificação das pessoas. Em entrevistas, essa autorização pode ser gravada no momento em que se registram as respostas. Para fotos e vídeos, peça que a pessoa assine uma autorização de uso de imagem, especificando, na autorização, as condições para esse uso, como, por exemplo, a apresentada na Figura 1. Figura 1 - Termo de autorização de uso de imagem e voz TERMO DE AUTORIZAÇÃO DE USO DE IMAGEM E VOZ (Pessoa maior de 18 anos) Neste ato, e para todos os fins em direito admitidos, autorizo expressamente a utilização da minha imagem e voz, em caráter definitivo e gratuito, constante em fotos e filmagens decorrentes da minha participação na pesquisa ______________________________, a seguir discriminada: Título: _______________________________________________________________________ Pesquisador(es): _____________________________________________________________ Objetivos principais: __________________________________________________________ As imagens e a voz poderão ser exibidas: nos relatórios parcial e final do referido projeto, na apresentação áudiovisual dele, em publicações e divulgações acadêmicas, em festivais e premiações nacionais e internacionais, assim como disponibilizadas no banco de imagens resultante da pesquisa e na internet, fazendo-se constar os devidos créditos. O pesquisador fica autorizado a executar a edição e montagem das fotos e filmagens, conduzindo as reproduções que entender necessárias, bem como a produzir os respectivos materiais de comunicação, respeitando sempre os fins aqui estipulados. Por ser essa a expressão de minha vontade, nada terei a reclamar a título de direitos conexos a minha imagem e voz ou qualquer outro. Data: Nome: RG.: CPF: Fone: Assinatura: ______________________________ Fonte: Adaptada de Senac-SP (2015). 06 13 UNIDADE CURRICULAR 1: PESQUISAR DEMANDAS SOCIAIS NA COMUNIDADE No exemplo do levantamento de dados sobre a saúde de crianças e adolescentes, caso os registros do centro de saúde, por exemplo, não fossem suficientes para levantar um dado importante como o tipo de queixa apresentada pelas famílias quando procuram os serviços de saúde, o Agente de Projetos Sociais poderia elaborar um questionário a ser aplicado com as famílias do bairro, solicitando esse dado. De acordo com o que já foi estudado, os dados secundários e primários são tipos de dados em relação às fontes. Em relação à natureza (função ou característica), os tipos de dados dividem-se em qualitativos e quantitativos. Dados qualitativos Os dados qualitativos procuram refletir as experiências das pessoas que participam do levantamento. Podem ser coletados através da observação de variáveis qualitativas, obtidas em questionários, nas falas ou comportamentos das pessoas em resposta a uma entrevista, por meio de imagens ou objetos que retratam uma situação que se procura investigar. Os dados qualitativos são mais subjetivos, ou seja, dependem de uma interpretação que precisa ser bem fundamentada para que seja aceita como uma explicação possível para o que se quer estudar ou conhecer. Esse tipo de dado apresenta um conceito sobre o que se está observando, uma qualidade como, por exemplo, bom/ruim ou negativo/positivo. 06 14 UNIDADE CURRICULAR 1: PESQUISAR DEMANDAS SOCIAIS NA COMUNIDADE Em uma entrevista, ao perguntar a uma liderança comunitária como está a saúde das crianças e adolescentes do bairro, o Agente de Projetos Sociais estará tratando com dados qualitativos. A partir das respostas coletadas, vai se formando um conceito sobre o que se quer compreender. Para ter uma noção mais próxima da realidade, outras pessoas devem ser entrevistadas da mesma forma e as respostas devem ser comparadas e analisadas em seus aspectos comuns e divergentes. A análise dessas respostas precisa, ainda, ser realizada observando-se dados quantitativos que ajudam a compreender a realidade trazida no discurso e comportamento das pessoas. Por exemplo, se a grande maioria das pessoas entrevistadas responde que a saúde das crianças e adolescentes está piorando, o Agente de Projetos Sociais deve buscar comparar esse dado com outros, como os registros de atendimentono centro de saúde local. Dados quantitativos Os dados quantitativos são levantados a partir de variáveis quantitativas quando já se tem um conceito, uma hipótese. São dados da realidade que se quer conhecer traduzidos em números e/ou percentuais, de forma que possam ser mais objetivamente analisados. Para coletar esse tipo de dado, são utilizados instrumentos padronizados, banco de dados de institutos de pesquisa, testes e também questionários, nos quais o Agente de Projetos Sociais já sabe exatamente o que deve ser perguntado para atingir os objetivos da pesquisa. Os dados quantitativos permitem que se façam projeções para a população representada e testam, de forma precisa, as hipóteses levantadas para a pesquisa, além de fornecer índices que podem ser comparados com outros. 0606 Para o exemplo em questão, uma coleta de dados quantitativos poderia ser a análise de documentos dos registros de atendimento do centro de saúde do bairro, de onde obtêm-se dados sobre variáveis como número de pessoas atendidas, tempo de espera entre a entrada no centro e o atendimento do médico, idade dos pacientes, entre outros dados numéricos e mensuráveis. 06 15 UNIDADE CURRICULAR 1: PESQUISAR DEMANDAS SOCIAIS NA COMUNIDADE Analise as informações do Quadro 1, que apresenta um comparativo das características gerais dos dados quantitativos e qualitativos: Quadro 1 - Características dos dados Qualitativo e Quantitativo Dado Qualitativo Dado Quantitativo Descreve conceitos e significados que são socialmente construídos (bom, ruim, negativo, positivo). Por isso é definido como subjetivo. Mede e descreve, em números, fatos e situações, quantas vezes um fato aconteceu, por quanto tempo ou quantas pessoas participaram. Tem características não estruturadas, ou seja, não se tem uma ideia preestabelecida de quais são as respostas que podem ser encontradas quando se vai a campo para levantar o dado. A coleta de dados dá-se a partir de uma estrutura já prevista. Existem condições dadas, dentro das quais as respostas se enquadram. O dado serve para comprovar ou não uma hipótese já concebida. As técnicas de análise são indutivas, orientadas pelo processo. Isso quer dizer que os resultados que vão sendo obtidos é que vão dar forma à interpretação da realidade que se quer conhecer. São dados que não podem ser generalizados para toda uma população, mas ajudam a compreender a experiência particular de uma pessoa ou grupo. As técnicas de análise são dedutivas, isto é, partem de uma ideia geral formulada para, a partir dela, compreender a realidade (por exemplo: assume-se que as pessoas doentes vão ao médico/centro de saúde. Por isso, o dado de quantas vezes as famílias foram o médico nos permite saber, com certo grau de certeza, a frequência com que as pessoas ficam doentes naquela família). Espera-se que os resultados desse levantamento de dados possam ser generalizados, representando uma população. Exemplos de variáveis: raça, gênero, cor dos olhos, estado civil, categorias (menos de 18 anos, mais de 65 anos). Exemplos de variáveis: idade (número de anos vividos), número de membros na família, altura, peso, quantas vezes frequentou determinado local. Fonte: Elaborado pelo autor (2015). Uma pesquisa que adota dados quantitativos e qualitativos em conjunto possibilita compreender, interpretar e quantificar aspectos mais profundos sobre as demandas sociais e ambientais. 1.1.2 Elaborando a informação Conforme já foi estudado, a informação é elaborada a partir de um conjunto de dados. É a informação que dá sentido aos dados, aos números e observações coletadas, atribuindo conotações positivas, negativas ou neutras ao combinar os dados. As informações ajudam a definir as necessidades e pautar as demandas ou oportunidades a serem trabalhadas em uma comunidade. Considerando que, muitas vezes, o processo de coleta de dados pode ser subjetivo, ou seja, orientado por uma interpretação parcial da realidade, a elaboração de informações para definição das demandas sociais precisa de embasamento para que possa ampliar as chances de lidar com necessidades reais de uma comunidade. As necessidades são classificadas em normativas, comparativas, sentidas e expressas. O Quadro 2 apresenta a identificação de necessidades ligadas à obtenção de informações a partir de dados. 06 16 UNIDADE CURRICULAR 1: PESQUISAR DEMANDAS SOCIAIS NA COMUNIDADE Quadro 2 - Tipos de necessidades Tipos de necessidades Obtendo informações a partir de dados Normativas A informação origina-se da comparação dos dados coletados com outros dados referentes a normas ou leis estabelecidas formalmente. Por exemplo: A coleta de dados inclui as taxas de bactérias em águas domésticas, dado obtido junto a profissionais especializados. A informação sai da comparação desse dado com o obtido na análise das resoluções previstas em lei que determinam a quantidade de bactérias presentes em águas domésticas para que elas sejam consideradas próprias ou impróprias. A informação obtida é se – e em que grau – as águas analisadas estão poluídas. Comparativas A informação é originada ao analisarem-se comparativamente os dados coletados com dados obtidos através de pesquisa em outros ambientes e/ou sujeitos. Por exemplo: A coleta de dados no bairro XYZ mostra que existem águas não tratadas, grande contato de crianças com essas águas e um alto grau de doenças de pele em crianças e adolescentes. A informação de que essa situação tem relação de causa e consequência (ou seja, as crianças apresentam doenças de pele por causa do contato com águas não tratadas) vem da comparação desses dados com os do bairro vizinho, onde a água é tratada, também há grande contato de crianças com essas águas e o número de doenças de pele em crianças e adolescentes é mínimo. Sentidas Com o olhar das necessidades sentidas, os dados que darão base à informação estão relacionados aos desejos e sonhos das pessoas, o que elas acreditam que deve ser prioridade. São informações que partem do conhecimento e da expectativa dos indivíduos, e não necessariamente condizem com necessidades reais ou sustentáveis. Por exemplo: Se em uma coleta de dados focada na opinião dos moradores de um bairro resulta que a maioria dos moradores está preocupada com as condições da escola, mesmo que o prédio do centro de saúde esteja tecnicamente em piores condições, a informação elaborada estará relacionada à escola. Expressas A informação baseia-se em dados coletados que não partem do que as pessoas falam, mas do que fazem em uma comunidade. A informação é elaborada ao verificarem-se os dados relacionados ao comportamento das pessoas. Por exemplo: O dado de que há uma longa lista de espera por atendimento clínico com dermatologista no centro de saúde específico, permite elaborar uma informação de que o referido serviço é uma necessidade que deve ser priorizada naquela comunidade. Fonte: Adaptado de Bradshaw (1972 apud PM4NGOS, 2012). 06 17 UNIDADE CURRICULAR 1: PESQUISAR DEMANDAS SOCIAIS NA COMUNIDADE 1.1.3 Identificação de demandas sociais e oportunidades de ação É importante lembrar que o momento de pesquisar demandas sociais na comunidade é também o momento em que o Agente de Projetos Sociais tem a oportunidade de conhecer suas características e oportunidades. Uma abordagem que permite desenvolver uma ampla visão sobre as vulnerabilidades e oportunidades que existem em uma comunidade é a ABCD, abreviação inglesa para Desenvolvimento Comunitário Baseado em Ativos Locais. Essa abordagem resgata o olhar sobre os potenciais de uma determinada comunidade. Ou seja, as competências das pessoas que moram lá, sua cultura, capacidade de empreender, sua articulação política, entre outras. Por essa abordagem, as dificuldades, demandas e necessidades de um local são justamente os fatores e situações que atrapalham o desenvolvimento desses potenciais. Para identificaras demandas com base na abordagem ABCD, são criados mapas de necessidades e talentos locais, identificando as vulnerabilidades e ativos como organizações da sociedade civil, lideranças, empresas e outros elementos que possuem influência na qualidade de vida local. A Figura 2 apresenta um mapa de necessidades. A análise desse mapa permitirá que você perceba as dificuldades que as pessoas encontram em uma determinada comunidade, daquelas nas quais os indivíduos têm mais controle (parte de dentro do mapa – problemas pessoais) para aquelas em que os indivíduos têm menos controle (parte de fora do mapa – problemas estruturais). Figura 2 - Mapa de necessidades Problemas estruturais: Desemprego, migração, falta de infraestrutura urbana, problemas ambientais. Problemas sociais: Desestruturação da comunidade, desigualdade social, violência e criminalidade, má gestão e uso dos recursos naturais. Problemas pessoais: Problemas de saúde física e mental, abandono escolar, violência doméstica, drogas, falta de consciência ambiental. Fonte: Adaptada de Neumann e Neumann (2004). Ao usar o mapa de necessidade para pesquisar demandas sociais na comunidade, o Agente de Projetos Sociais deve estar atento em identificar em que parte do mapa estão localizados os dados que está coletando. A importância dessa identificação reside no fato de que, apesar de existirem relações e influências entre as dimensões pessoais, sociais ou estruturais das necessidades, elas demandarão projetos e intervenções diferentes, mais ou menos complexos. 06 18 UNIDADE CURRICULAR 1: PESQUISAR DEMANDAS SOCIAIS NA COMUNIDADE Ao coletar dados sobre a saúde das crianças do bairro, o Agente de Projetos Sociais deve elaborar um instrumento de coleta que cobre elementos das dimensões estrutural, social e pessoal, limitando a quantidade de dados de acordo com o tema da sua pesquisa, nesse caso, saúde das crianças. A Figura 3 apresenta o mapa de talentos e recursos da comunidade. A análise desse mapa permitirá que você identifique uma lógica de dimensões de análise semelhante, com elementos macro e ligados à infraestrutura, e outros voltados ao indivíduo e à comunidade. Figura 3 - Mapa de talentos e recursos da comunidade Instituições e recursos naturais existentes: Empresas, escolas e universidades, recursos naturais e paisagem, igrejas. Talentos individuais: Habilidades, competências, saberes. Talentos comunitários: Grau de coesão social, grupos e associações comunitárias existentes. Fonte: Adaptada de Neumann e Neumann (2004). Os mapas de necessidades e talentos devem ser cruzados e podem trazer boas surpresas, como o fato de um determinado talento da comunidade estar sendo subu- tilizado para lidar com uma das necessidades identificadas e, dessa constatação, propõem-se atividades, iniciativas e projetos capazes de lidar com as dificuldades a partir da força da própria comunidade. O Agente de Projetos Sociais pode descobrir que o bairro elegeu praticamente sozinho um dos vereadores, portanto tem expressão política. Também pode descobrir que pessoas que analisam a qualidade da água do município moram no bairro e se prontificariam a fazer a análise uma vez por semana, controlando a melhoria ou não da água ao longo do tempo. 06 19 UNIDADE CURRICULAR 1: PESQUISAR DEMANDAS SOCIAIS NA COMUNIDADE Conforme se exploram as necessidades da comunidade, o desafio é garantir que o processo de identificação de necessidades e oportunidades seja preciso e honesto. Os mapas de necessidades e talentos apresentados pela abordagem ABCD ajudarão nessa tarefa. Essa abordagem será retomada futuramente, no estudo da Unidade Curricular Planejar e captar recursos para realização dos projetos sociais. 1.2 INSTRUMENTOS DE COLETA Agora que você já estudou sobre a diferenciação entre dado e informação, identificação e tipos de dados, aprendendo também a observar as necessidades e talentos locais, é hora de aprender a construir instrumentos de coleta de dados e informações na comunidade. Vale considerar que existem inúmeros estudos e pesquisas realizadas por universidades e institutos que fornecem dados secundários sobre a situação de públicos em desvantagem social. Isso significa dizer que é possível focar na análise de documentos e banco de dados e que, nem sempre, é necessário aplicar entrevistas ou questionários. Considere que as informações são elaboradas a partir de dados e são expressas através de indicadores, os quais são elementos que dão visibilidade àquela informação/conceito, permitindo observar fenômenos e medir impactos de uma intervenção realizada sobre esses fenômenos. Os indicadores sociais, aqueles que informam sobre um aspecto da realidade social, podem ser utilizados nas atividades relacionadas ao campo socioambiental como, por exemplo, desenvolvimento de comunidades e preservação ambiental, no planejamento do poder público, na formulação de políticas públicas para monitoramento das condições de vida da população e avaliação de programas e projetos socioambientais. Conheça, na Figura 4, a origem dos Indicadores Sociais. Figura 4 - Origem dos indicadores sociais Organização de dados, gerando informação expressa na forma de um indicador que subsidia decisões de política pública. Fatos e fenômenos da vida em sociedade. Levantamento de dados sobre os fenômenos. Fonte: Elaborada pelo autor (2015). 06 20 UNIDADE CURRICULAR 1: PESQUISAR DEMANDAS SOCIAIS NA COMUNIDADE Da mesma forma que precisamos seguir alguns passos para a identificação dos dados a serem coletados (definir o que se quer saber, recursos e fontes disponíveis, entre outros), também para a seleção de indicadores é importante estar atento a algumas definições. Veja as definições necessárias para a seleção de indicadores. 1) Deve, o indicador, permitir que se estabeleça um marco conceitual de associação causa-efeito; 2) Não deve ser tratada como representação pura da realidade a resposta do indicador, mas como um elemento que ajuda a estabelecer prioridades; 3) Deve permitir a observação de evolução no decorrer do tempo; 4) Deve ser uma fonte confiável; 5) Deve ser de impacto, ser relevante; 6) Deve ser compreensível; e 7) Deve estar disponível por região/estado/município. Considere sempre que um indicador não deve ser analisado isoladamente, e sim visto como uma ferramenta dentro de um sistema mais amplo, formado por um conjunto de indicadores que possa orientar as ações. Se na preocupação com a saúde das crianças e adolescentes do bairro chega-se à conclusão de que é preciso reduzir os casos de doenças de pele nesse público, são vários os indicadores que podem ser levantados: • para justificar a realização da iniciativa; • para verificar se as atividades foram realizadas com sucesso; e/ou • para se ter uma dimensão da eficácia da iniciativa na solução do problema. Alguns indicadores que atendem aos critérios acima são descritos a seguir. a) Percentual (%) de casos de crianças com doenças de pele atendidos por mês no posto de saúde em relação ao total de atendimentos; b) Número de faltas das crianças na escola em decorrência de doenças de pele; c) Percentual (%) de faltas das mães ao trabalho em decorrência de doenças de pele dos filhos, em relação ao número total de faltas dessas mães; d) Percentual (%) de casos de crianças com doenças de pele originadas por contato com outras crianças acometidas por esse tipo de doença. 06 21 UNIDADE CURRICULAR 1: PESQUISAR DEMANDAS SOCIAIS NA COMUNIDADE O indicador útil para um projeto social ou para formulação de uma política pública também pode ser composto por outros indicadores. Um exemplo clássico é a taxa de natalidade. A taxa de natalidade estabelece as bases para sabermos o tamanho da população no futuro. Assim, pode-se planejar a oferta de serviços públicos para a população a longo prazo como, por exemplo, quantasescolas serão necessárias nos próximos 15 anos, quantos hospitais, entre outros, e estabelecer prioridades para políticas sociais. A taxa de natalidade é a percentagem de nascimentos ocorridos em uma população em determinado período de tempo. É um índice obtido entre duas variáveis: a quantidade de nascimentos registrados em um período de tempo (um ano, por exemplo), pela população estimada na metade do mesmo período (no meio do ano, por exemplo). Ao fazer a divisão entre os números, multiplicando o resultado por 1.000, obtém-se o índice em percentual. Ou seja: Taxa de natalidade = Nascimentos vivos no ano x 1.000 População estimada meio do ano 1.2.1 Caixa de ferramentas: elaborando instrumentos de coleta Apesar de existir uma tendência em relação ao uso de um tipo de instrumento para a coleta de um certo tipo de dado (como, por exemplo, questionários para dados quantitativos, já que em geral podem ser aplicados sem a presença do pesquisador; e entrevistas para dados qualitativos, uma vez que implicam a presença de um entrevistador que pergunta a partir de um roteiro ou pode formular questões na hora em que está com o respondente), é preciso ter em mente que qualquer instrumento pode ser usado para coletar os tipos de dados. Ou seja, pode-se construir um questionário com perguntas que permitem coletar dados qualitativos. A análise do Quadro 3 permite identificar, a partir do trabalho com cada tipo de dado, alguns instrumentos de coleta que fazem parte da rotina do Agente de Projetos Sociais em sua atividade de pesquisar demandas sociais na comunidade. 06 22 UNIDADE CURRICULAR 1: PESQUISAR DEMANDAS SOCIAIS NA COMUNIDADE Quadro 3 - Instrumentos de coleta Trabalhando com dados secundários Trabalhando com dados quantitativos Trabalhando com dados qualitativos � Análise de literatura: buscam-se publicações científicas e livros sobre o tema de pesquisa. � Análise de registros: em instituições envolvidas com o tema, buscam-se registros que contenham dados capazes de servir à compreensão da demanda social. � Estatísticas existentes: disponíveis em bancos de dados governamentais ou de institutos de pesquisa especializados. � Documentos do governo e outras instituições: publicações de governos e institutos de pesquisa que trazem informações sobre os dados estatísticos. � Pesquisa/questionário de conhecimento, prática e cobertura: com eles, buscam-se dados a partir das respostas de indivíduos. � Pesquisa/questionário em residências: buscam-se dados relacionados ao ambiente familiar; � Testes e pesquisas padronizados: têm objetivo de encontrar dados que podem ser generalizados a toda população. � Instrumentos de observação padronizados: buscam validar uma ideia preconcebida. � Medições antropométricas (peso, altura): também buscam dados que podem ser generalizados, gerando uma informação capaz de retratar determinada população. � Tempestade de ideias: busca-se a contribuição irrestrita dos participantes, que expõem livremente suas ideias sobre o tema da pesquisa para posterior análise. � Diagramas de afinidade: são uma forma de organizar as contribuições saídas de um processo de tempestade de ideias. Observando-se as contribuições, busca-se separá-las em categorias de acordo com a afinidade entre elas. � Grupos focais: são pequenos grupos reunidos para identificar problemas e/ou avaliar conceitos. � Entrevistas semiestruturadas: o pesquisador tem um roteiro pouco estruturado, com somente algumas informações básicas relacionadas ao tema da pesquisa que não podem ser esquecidas. O entrevistado é encorajado a falar sobre o tema e o pesquisador faz intervenções somente para certificar-se de obter as informações básicas; � Entrevistas com informantes-chave: o pesquisador mapeia pessoas ou organizações que possuem determinado conhecimento ou influência substancial sobre o tema. Fonte: Adaptado de PM4NGOS (2012). Deve-se ter cuidado na seleção das ferramentas e abordagens mais adequadas e mais econômicas para a coleta de informações, já que uma boa pesquisa demanda não só o tempo e esforço do pesquisador, mas também a contribuição de, às vezes, centenas de pessoas que se dispõem a participar, respondendo entrevistas e questionários. O Agente de Projetos Sociais deve se mostrar respeitoso com a disposição e tempo das pessoas, com suas expectativas e com os recursos envolvidos no projeto em que participa. É importante não se limitar e fazer uma boa mistura de fontes de dados, buscando sempre precisão e credibilidade nos diagnósticos sobre a realidade. Uma combinação dos dados secundários e primários, qualitativos e quantitativos no mesmo processo de coleta permite a obtenção de informações e indicadores que dão uma noção mais abrangente e integrada, auxiliando o processo de tomada de decisão. 06 23 UNIDADE CURRICULAR 1: PESQUISAR DEMANDAS SOCIAIS NA COMUNIDADE Ainda, ao preparar os instrumentos de coleta de dados, questionários e entrevistas, por exemplo, o Agente de Projetos Sociais deve ter em mente o processo de tabulação dos dados depois da coleta. Atualmente os softwares disponíveis on-line já oferecem a possibilidade de criar questionários que podem ser tabulados automaticamente em um formulário bastante simples quando preenchido on-line. Para ampliar as chances de sucesso na coleta de dados, faça uma versão-teste de seus instrumentos e aplique a um reduzido número de pessoas, com objetivo de saber se as perguntas são mesmo aquelas que lhe darão os dados necessários para que os objetivos da pesquisa sejam alcançados. Somente depois de validar o instrumento, vá a campo para coletar os dados junto a sua amostra estatisticamente relevante. É importante considerar que um mesmo instrumento pode permitir a coleta de dados qualitativos e quantitativos. O Quadro 4 apresenta exemplos do uso de um mesmo tipo de instrumento para coleta de diferentes tipos de dados. Quadro 4 - Instrumentos e coleta de dados Usando o questionário Dados qualitativos: para coletar dados qualitativos em um questionário, em geral, usam-se perguntas abertas, ao contrário das perguntas fechadas, em que são dadas algumas opções de resposta para que a pessoa assinale a alternativa que melhor representa sua opinião. A pergunta aberta permite qualquer resposta por parte da pessoa entrevistada. As opiniões dos participantes são registradas e posteriormente analisadas. Dados quantitativos: para coletar dados quantitativos, normalmente as perguntas do questionário são mais estruturadas. Ou seja, são oferecidas possíveis respostas e a pessoa indica aquela que melhor representa sua opinião. Isso garante a uniformidade de entendimento dos entrevistados. Usando a entrevista Dados qualitativos: esse tipo de dado é coletado em entrevistas que proporcionam discussão em grupo ou em entrevistas em profundidade, com perguntas abertas e em forma de conversa. O entrevistador pode fazer perguntas que não estavam planejadas, baseando-se nas respostas obtidas durante a entrevista. Para as discussões em grupo, as pessoas (em média oito) são convidadas para um bate-papo realizado em salas especiais com circuito de gravação em áudio e vídeo. Nas entrevistas em profundidade, é feito o agendamento prévio com o entrevistado e a sua aplicação é individual, em local reservado. Este procedimento garante a concentração do respondente. Dados quantitativos: em entrevistas, pode-se coletar também dados quantitativos, em geral através de perguntas mais diretas que buscam identificar, por exemplo, a frequência com que o respondente apresenta determinado comportamento. Na entrevista, o Agente de Projetos Sociais tem a oportunidade de aprofundar seu conhecimento a partir da resposta, explorando outros dados, também qualitativos. Fonte: Elaborado pelo autor (2015). 06 24 UNIDADE CURRICULAR 1: PESQUISAR DEMANDAS SOCIAIS NA COMUNIDADE No Quadro 5,conheça um modelo de questionário e um modelo de roteiro de entrevista para coleta de dados quantitativos e qualitativos a partir do exemplo que se está trabalhando neste curso. 0606 Quadro 5 - Modelo de questionário e modelo de roteiro de entrevista Q U ES TI O N Á RI O Tema: Saúde de crianças e adolescentes do bairro 1. Idade: ___ 2. Tem filhos ou é responsável por alguma criança ou adolescente com 17 anos ou menos? ( ) Sim ( ) Não. Se sim, quantos? ___ 3. Soma da renda de todas as pessoas da família: ( ) Entre R$ 0 e R$ 250,00 ( ) Entre R$ 251,00 e R$ 500,00 ( ) Entre R$ 501,00 e R$ 750,00 ( ) Entre R$ 751,00 e R$ 1.000,00 ( ) Entre R$ 1.001,00 e R$ 1.500,00 ( ) Entre R$ 1.501,00 e R$ 2.000,00 ( ) Entre R$ 2.001,00 e R$ 3.000,00 ( ) Entre R$ 3.001,00 e R$ 5.000,00 ( ) Mais de R$ 5.001,00 4. Quantas pessoas dependem dessa renda? ___ 5. Algum dos membros de sua família, com 17 anos ou menos, precisou usar o centro de saúde do bairro no último ano? ( ) Sim. Se sim, assinale o motivo que levou a usar o centro de saúde: ( ) doença ou mal-estar; Se foi por doença, qual? ______________________ ( ) emergência por acidente; ( ) exame de rotina; ( ) buscar informações; ( ) outro motivo. Qual? _____________________________________________ Atribua uma nota de 0 a 5 sobre como foi sua experiência, sendo que “0” significa péssimo e “5” significa excelente: ___ ( ) Não. Se não, assinale o motivo principal de não ter usado o centro de saúde no último ano: ( ) não houve doença ou emergência; ( ) a família tem plano de saúde e foi a médicos/hospitais privados; ( ) medicou-se em casa, ou com aconselhamento de amigos; ( ) foi a outro centro de saúde público, fora do bairro; ( ) outro motivo. Qual? _____________________________________________ Com base no que você conhece sobre os serviços prestados no centro de saúde, atribua uma nota de 0 a 5, sendo que “0” significa péssimo e “5” significa excelente: ___ 6. O que você acha que poderia melhorar no centro de saúde? __________________________________________________________________ 7. Qual foi ou é a principal doença (a qual tenha sido necessários cuidados médicos) que as crianças e adolescentes que vivem com você apresentaram ou apresentam? __________________________________________________________________ continua 06 25 UNIDADE CURRICULAR 1: PESQUISAR DEMANDAS SOCIAIS NA COMUNIDADE EN TR EV IS TA Tema: Saúde de crianças e adolescentes do bairro Roteiro 1. Fale sobre a vida no bairro, especialmente para as crianças que moram por aqui. 2. O que seus filhos (crianças e adolescentes sob sua responsabilidade) gostam de fazer? 3. Quais são os principais riscos para a saúde das crianças e adolescentes que moram no bairro? 4. O que você faz quando as crianças ficam doentes ou têm uma emergência? Fale da sua experiência. 5. Sobre o tema da saúde, fale das coisas que funcionam bem no bairro. 6. Sobre o tema da saúde, fale das coisas que funcionam mal no bairro. Fonte: Elaborado pelo autor (2015). Quando o Agente de Projetos Sociais estiver buscando conhecer as características de uma determinada população, a amostragem é fundamental para produzir dados confiáveis em sua pesquisa de demandas. Veja, a seguir, um exemplo de produção de amostragem no Quadro 6. 06 26 UNIDADE CURRICULAR 1: PESQUISAR DEMANDAS SOCIAIS NA COMUNIDADE Quadro 6 - Exemplo de produção de amostragem Imagine que em uma comunidade existam 03 famílias e você precisa saber a média de renda mensal (por pessoa) das famílias na comunidade. Para obter esse dado, você vai à casa de cada uma delas e pergunta a renda mensal somada que elas obtêm (salários de todos que trabalham, benefícios, outras rendas), dividindo esse valor pelo número de pessoas na família: Família 01, com 5 pessoas: R$ 2.000,00 / 5 = R$ 400,00 de renda por pessoa Família 02, com 4 pessoas: R$ 2.400,00 / 4 = R$ 600,00 de renda por pessoa Família 03, com 4 pessoas: R$ 1.600,00 / 4 = R$ 400,00 de renda por pessoa Agora, para se obter a média de renda mensal por pessoa das famílias nessa comunidade, somam-se as rendas por pessoa obtidas no cálculo anterior e divide-se o resultado pelo número total de famílias da comunidade, ou seja, 03. Fórmula para calcular a média simples: x = x1 + x2 + … + xn— n Média de renda por pessoa das famílias da comunidade = R$ 400,00 + R$ 600,00 + R$ 400,00 = R$ 1.400,00 = R$ 466,66 03 03 Fonte: Elaborado pelo autor (2015). Agora imagine que, em outra comunidade, existam 1.500 famílias. Seria inviável ir a cada casa para levantar os dados, certo? Nesse caso, para facilitar o trabalho de obter dados confiáveis a respeito de uma população, são usadas técnicas de amostragem. Ou seja, estuda-se um grupo menor que seja representativo de uma população que se quer conhecer. A forma mais comum é a chamada amostragem aleatória simples. Veja, no Quadro 7, como estabelecer o tamanho da amostra. A amostragem aleatória simples é o estabelecimento de uma amostra. Ou seja, um grupo menor que repre- senta a população que se quer conhecer, em que a seleção de quem vai compor a amostra ocorre de forma aleatória. Ou seja, sem que se esta- beleça nenhum critério ou prioridade, simplesmente ao acaso. É comum que a amostra aleatória seja definida até por sorteio. 06 27 UNIDADE CURRICULAR 1: PESQUISAR DEMANDAS SOCIAIS NA COMUNIDADE Quadro 7 - Definindo o tamanho da amostra Primeiro é preciso estabelecer qual será o tamanho necessário da amostra para que os resultados possam ser generalizados para a população. Isso se faz usando-se duas fórmulas: A) n0 = (E0) 2 1 onde: n0 é uma primeira ideia de tamanho da amostra E0 é a margem de erro aceitável em sua pesquisa (pode-se definir em 5% = 0,05. Significa dizer que os resultados que você obterá analisando a amostra podem ser diferentes do resultado que você teria se coletasse o dado de todas as 1.500 famílias em 5% para mais ou 5% para menos) B) n = N + n0 N . n0 onde: N é o número de elementos da população (1.500 famílias) n é o tamanho da amostra (é o que você quer encontrar) Assim, para saber a quantas famílias você deve perguntar a respeito da renda familiar, usa-se o seguinte cálculo: A) n0 = (0,05)2 1 0,0025 1→ n0 = → n0 = 400 B) n = 1500 + 400 (1.500) . (400) n = 1.900 600.000→ n = 315,78 ou 316 famílias.→ Fonte: Elaborado pelo autor (2015). Agora que você sabe quantas famílias devem participar da pesquisa para que os dados possam ser generalizados para a população, é hora de buscar uma amostra que seja representativa da variedade de famílias que compõem a população. A amostragem aleatória simples é a técnica mais utilizada para isso. Primeiro, com o registro de todas as famílias que moram na comunidade, atribua um número para cada família. Depois, sorteie famílias de forma aleatória (no mínimo 316) e envie a elas o questionário com as informações que deseja saber, certificando-se de receber ao menos 316 respostas. O número de 316 respostas é um número bem menor do que o de 1.500, mas ainda é um número grande para se estabelecer uma média, ao menos para fazê-lo sem auxílio de um programa. Por isso, use um programa de computador que facilite essa tarefa, como o Microsoft Excel, por exemplo. 06 28 UNIDADE CURRICULAR 1: PESQUISAR DEMANDAS SOCIAIS NA COMUNIDADE Com o auxílio de um programa como esse, você poderá obter a média de renda mensal por pessoa na comunidade, com uma margem de erro de 5% para mais ou para menos. O Quadro 8 apresenta a sequência que utilizaremos no programa Microsoft Excel. Quadro 8 - Passos na utilização do Microsoft Excel para obter a média Passo 1: Insira os dados coletados em uma tabela na planilha. Passo 2: Acesse . Passo 3: Selecione todas as células da coluna Renda mensal. O resultado do exemplo é que a média da renda mensal por pessoa das famílias da comunidade x é de R$ 371,49. Fonte: Elaborado pelo autor (2015).06 29 UNIDADE CURRICULAR 1: PESQUISAR DEMANDAS SOCIAIS NA COMUNIDADE Como você pôde observar, obter a amostragem e levantar dados que podem ser generalizados para uma população inteira demanda grande esforço e cuidado. Por isso, é importante reforçar o zelo em identificar os dados a serem levantados e os instrumentos de coleta, bem como a estratégia de fazer uma aplicação-teste dos instrumentos, para que possam ser feitas eventuais correções antes de encaminhá-los para a amostra. Uma etapa importante, durante a pesquisa para identificação de demandas, é a escolha de fontes para dados estatísticos. Entre essas fontes, estão as oficiais, que podem oferecer parâmetros confiáveis que o Agente de Projetos Sociais poderá utilizar. Todas as fontes recomendadas podem ser encontradas em mecanismos de busca na internet. Nos sites, procure por palavras como publicações, estatísticas, dados, pesquisas, relatórios ou documentos. O Quadro 9 apresenta algumas fontes estatísticas oficiais para a coleta de dados secundários. Quadro 9 - Fontes de pesquisa de dados Âmbito Instituição Características Federal Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) É o principal órgão de dados e estatísticas no país, responsável pela contagem da população brasileira, definindo, em dados quantitativos e qualitativos (como raça, idade, renda), suas características (Censo Populacional). Essa contagem é realizada a cada 10 anos. DataSus Ligado ao Ministério da Saúde, reúne todos os dados ligados ao Sistema Único de Saúde – o SUS. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) Ligado ao Ministério da Educação, sua missão é promover estudos e pesquisas sobre o Sistema Educacional Brasileiro. Entre outras ações, é responsável pelo Censo Escolar, uma pesquisa que identifica em dados qualitativos e quantitativos (como o número de escolas, onde estão localizadas, os indicadores de qualidade de ensino) as características das escolas do país. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) É vinculado à Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República e realiza pesquisas para subsidiar as decisões do governo em relação às medidas que deve tomar para promover a melhor qualidade de vida da população, ou seja, as políticas públicas. Sistema de Informação para a Infância e Adolescência (SIPIA). Oferece estatísticas nacionais sobre a situação das crianças e adolescentes. Mapa da Violência Estudo periódico que traz indicadores sobre segurança no Brasil. Estadual Fundações de Amparo à Pesquisa (diversos estados) Publicam pesquisas financiadas, oferecendo dados em diversas áreas. Secretarias de Estado de Planeja- mento e Gestão Publicam os orçamentos estaduais e outros dados úteis referentes à gestão pública em diversos estados. Universidades Estaduais Publicam pesquisas de acadêmicos e professores. 06 30 UNIDADE CURRICULAR 1: PESQUISAR DEMANDAS SOCIAIS NA COMUNIDADE Âmbito Instituição Características Cooperação científica, técnica e tecnológica (organismos multilaterais): Agências das Nações Unidas (FAO, OIT, UNESCO, PNUD, OMS e outros) São ricas fontes de pesquisa de dados estatísticos. Frequentemente oferecem oportunidade de análise comparativa entre países e regiões do mundo. Instituto Interamericano de Coope- ração para a Agricultura – LICA Publica documentos técnicos com dados sobre inovação na área de agricultura e produção. Organização dos Estados Americanos – OEA. Publica relatórios e dados sobre os países americanos, além de resoluções e normas adotadas entre os países. União Europeia Publica relatórios e dados sobre os países europeus e relatórios de cooperação internacional. Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) Também ligada à ONU, merece destaque pela atenção que dispensa aos dados e estatísticas da região. É uma rica fonte de pesquisa na área econômica. Fonte: Elaborado pelo autor (2015). A seguir, veja mais algumas fontes que trazem publicações úteis para coleta de dados e que, em algum momento, o Agente de Projetos Sociais poderá utilizar. X Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES X Fundação Banco do Brasil – FBB X Comissão Nacional de Energia Nuclear – CNEN X Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq X Financiadora de Estudos e Projetos – FINEP X Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES X Sistema Embrapa de Planejamento – SEP X Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA X Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico – PADCT X Projeto de Apoio ao Desenvolvimento de Tecnologia Agropecuária para o Brasil – PRODETAB X Programa de Capacitação de Recursos Humanos para Atividades Estratégicas – RHAE/CNPq X Fundo Nacional do Meio Ambiente – FNMA X Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – SENAI X Serviço Social da Indústria – SESI X Instituto Euvaldo Lodi – IEL Nacional X Serviço Brasileiro de Apoio a Pequenas e Médias Empresas – SEBRAE 06 31 UNIDADE CURRICULAR 1: PESQUISAR DEMANDAS SOCIAIS NA COMUNIDADE X Organização Internacional de Madeiras Tropicais – ITTO X Organização da Aviação Civil Internacional – OACI X Organização Internacional de Meteorologia – OMM X Organização Pan-Americana de Saúde – OPAS A seguir, você estudará a análise de dados e alguns conceitos relevantes sobre demandas sociais e ambientais que o ajudarão a desenvolver um olhar mais apurado sobre as necessidades das comunidades e as oportunidades de atuação como Agente de Projetos Sociais. 1.3 ANÁLISE DE DADOS Analisar dados é extrair deles informações, de forma racional e lógica, dando-lhes uma razão de ser. Após a definição do objetivo da iniciativa, da necessidade ou oportunidade de intervenção, após o diagnóstico, identificação e validação das fontes de informações e da coleta de dados, a análise tratará de organizar os dados em informações comunicáveis e próprias para um processo de tomada de decisão. Na prática, o registro dos dados coletados no processo pode ser feito: X por meio da tecnologia: gravação em áudio, vídeo, fotografia e outros equipamentos; X por representação gráfica: mapas, cartografias, gráficos, etc.; e X por meio do registro de informações por escrito: diário de campo, relatórios, planilhas eletrônicas, lista de frequência, atas, cronogramas, pautas de trabalho, teste de verificação, etc. Na coleta de dados, há a preocupação de explorar amplamente um grande número e uma grande variedade de questões, obtendo-se a maior quantidade de registros possível. Na análise de dados, o objetivo é ordenar e organizar os dados brutos de modo que seja possível extrair informações úteis deles. A análise é um processo constante, no qual o pesquisador está, a todo momento, combinando os dados, elaborando informações que possam explicar fenômenos, encontrando padrões generalizáveis e respostas aos problemas e inquietudes que levaram ao desafio da pesquisa. É a partir da análise dos dados, seja ela coletada por 06 32 UNIDADE CURRICULAR 1: PESQUISAR DEMANDAS SOCIAIS NA COMUNIDADE meio de entrevista, observação ou questionários, que informações serão elaboradas para que seja feita uma prosposta de intervenção. Um passo anterior à análise é o tratamento dos dados, sua tabulação. A tabulação de dados coletados em entrevistas e questionários é uma tarefa que demanda tempo e planejamento. Como já comentado anteriormente, ao elaborar os instrumentos de coleta, considere a tarefa de tabulação e tenha em mente que pode contar com ferramentas tecnológicas que facilitam bastante o trabalho de reunir os dados coletados de vários formulários em um documento rico em informações. Para a tabulação, juntam-se os dados coletados de todos os participantes, reunindo-os por item do instrumento de coleta. Em umaentrevista, por exemplo, dividem-se todas as respostas em categorias, de acordo com o tipo de informação que se busca. Em um questionário, por exemplo, reúnem-se as respostas de todos os participantes por questão e organizam-se os dados em uma tabela. Analise, no Quadro 10, um exemplo de uma entrevista semiestruturada. Ou seja, em que as perguntas são definidas previamente pelo pesquisador, guiando sua conversa com o entrevistado. 06 33 UNIDADE CURRICULAR 1: PESQUISAR DEMANDAS SOCIAIS NA COMUNIDADE Quadro 10 - Entrevista semiestruturada Tema: Saúde de crianças e adolescentes do bairro Roteiro para a coleta de dados: 1. Fale sobre a vida no bairro, especialmente para as crianças que moram por aqui. 2. O que seus filhos/crianças e adolescentes, sob sua responsabilidade, gostam de fazer? 3. Quais são os principais riscos para a saúde das crianças e adolescentes que moram no bairro? 4. O que você faz quando as crianças ficam doentes ou há uma emergência? Fale da sua experiência. 5. Sobre o tema da saúde, fale das coisas que funcionam bem no bairro. 6. Sobre o tema da saúde, fale das coisas que funcionam mal no bairro. Categorias para separar as respostas na tabulação: a) Estilo de vida das crianças e adolescentes (o que fazem, como fazem, rotina); b) Potenciais agentes causadores de doença (clima, infraestrutura pública, vulnerabilidade social, outros); c) Ativos locais para recuperação da saúde (liderança comunitária, medicina caseira, postos de saúde, outros). Fonte: Elaborado pelo autor (2015). Analise, no Quadro 11, um exemplo de questionário (itens 1 a 4) produzido na pesquisa com o tema: saúde de crianças e adolescentes do bairro. 06 34 UNIDADE CURRICULAR 1: PESQUISAR DEMANDAS SOCIAIS NA COMUNIDADE Quadro 11 - Questionário 1. Idade: ____ 2. Tem filhos ou é responsável por alguma criança ou adolescente com 17 anos ou menos? ( ) Sim ( ) Não. Se sim, quantos? ___ 3. Soma da renda de todas as pessoas da família: ( ) Entre R$ 0 e R$ 250,00 ( ) Entre R$ 251,00 e R$ 500,00 ( ) Entre R$ 501,00 e R$ 750,00 ( ) Entre R$ 751,00 e R$ 1.000,00 ( ) Entre R$ 1.001,00 e R$ 1.500,00 ( ) Entre R$ 1.501,00 e R$ 2.000,00 ( ) Entre R$ 2.001,00 e R$ 3.000,00 ( ) Entre R$ 3.001,00 e R$ 5.000,00 ( ) Mais de R$ 5.001,00 4. Quantas pessoas dependem dessa renda? ___ Fonte: Elaborado pelo autor (2015). Imagine fazer uma aplicação-teste com o questionário, submetendo-o a cinco famílias. A Figura 5 apresenta a tabulação das questões 1 a 4, usando uma planilha do Microsoft Excel. Mas lembre-se, conforme afirmamos anteriormente, o mesmo trabalho pode ser feito em outras planilhas eletrônicas como a do BrOffice, por exemplo. Figura 5 - Tabulação de questões Fonte: Elaborada pelo autor (2015). 06 35 UNIDADE CURRICULAR 1: PESQUISAR DEMANDAS SOCIAIS NA COMUNIDADE Com os dados tabulados, podemos fazer uma análise, extraindo informações como: X As pessoas que responderam são, em sua maioria, jovens e possuem filhos com 17 anos ou menos. X Sabendo que, segundo o IBGE, a taxa de fecundidade (número médio de filhos por mulher) no Brasil em 2015 é de 1,72, três das famílias apresentam mais do que o dobro da média nacional. X Duas das pessoas que responderam (família 01 e família 02) provavelmente criam os filhos sozinhas. No caso da família 01, ela possui três filhos na faixa etária perguntada e afirma que quatro pessoas dependem da renda. No caso da família 02, ela possui quatro filhos e afirma que cinco dependem da renda. X Outra informação extraída do instrumento de coleta é a renda mínima e máxima por pessoa na família. Ela foi obtida dividindo-se os valores de renda descritos no questionário e assinalados pela família, pelo número de pessoas dependendo da renda. Por exemplo, a família 01 assinalou renda entre R$ 1.501,00 e R$ 2.000 para quatro pessoas. Assim: 1.501 / 4 e 2.000 / 4 = mínima de 375,25 e máxima de 500,00 por pessoa. Observe, na Figura 6, que, no campo de fórmula do Microsoft Excel, na planilha eletrônica que estamos utilizando como exemplo, foi usada uma fórmula para fazer a divisão entre os dados inseridos na planilha. Figura 6 - Planilha eletrônica Fonte: Elaborada pelo autor (2015). Durante a análise de dados, novas combinações vão sendo realizadas e informações relevantes vão surgindo. Este é mais um motivo para aplicar os instrumentos de coleta antes em um grupo-teste. Assim, pode-se testar combinações e verificar se o instrumento pode ser aprimorado para melhorar a pesquisa. 06 36 UNIDADE CURRICULAR 1: PESQUISAR DEMANDAS SOCIAIS NA COMUNIDADE 1.4 DEMANDAS AMBIENTAIS E SOCIAIS Os direitos dos cidadãos apresentam-se como fundamento da política pública. São uma con- quista da civilização, e a desigualdade na garantia desses direitos é pauta das lutas políticas no espaço público. As prioridades contempladas pelas políticas públicas nascem da sociedade civil e exatamente por isso estão em permanente disputa. Sendo assim, as demandas e necessidades tornam-se prioridade efetiva quando ingressam na agenda do Estado, tornando-se interesse e tarefa do poder público, e não mais apenas de grupos organizados da sociedade. Neste estudo, serão tratadas por demandas as reinvindicações e as necessidades que se apresentam nas áreas sociais e ambientais. As demandas socioambientais devem ser compreendidas e validadas com o auxílio e interpretação de indicadores, e atendidas por meio de programas e projetos liderados tanto por agentes governamentais como não governamentais (indivíduos, associações, fundações e empresas). Identificá-las exige grande pesquisa e conhecimentos técnicos que devem ser complementados com dados colhidos junto às populações diretamente implicadas. A seguir, será abordado, de modo mais detalhado, o que são demandas ambientais e demandas sociais e este detalhamento contribuirá na identificação de suas características. 1.4.1 Demandas ambientais Elas dizem respeito a uma ampla variedade de causas relacionadas à manutenção das condições para a vida harmônica entre as espécies. Considera-se aqui a preservação da natureza em relação ao impacto da ação humana, incluindo elementos minerais. O olhar às demandas ambientais, considerando, como ponto de partida, a ação do homem, ajuda no reconhecimento de nossas capacidades e influências sobre as condições de vida no planeta. 06 37 UNIDADE CURRICULAR 1: PESQUISAR DEMANDAS SOCIAIS NA COMUNIDADE A partir da década de 90, as questões ambientais entraram fortemente na agenda global, destacando-se a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento em 1992 (conhecida como ECO 92), no Rio de Janeiro. A conferência foi organizada para debater formas de reduzir os impactos de nosso modo de vida em relação ao ecossistema. No final da Conferência, foi elaborada a Agenda 21, documento que estabeleceu parâmetros para o desenvolvimento sustentável. A agenda propõe adequar eficiência econômica à proteção ambiental e à justiça social. Outro conceito consolidado na ECO 92 é o de desenvol- vimento sustentável, sendo a sustentabilidade compreendida como o compromisso presente pela manutenção das possibilidades e oportuni- dades das gerações futuras de atender suas próprias necessidades. De 1992 para cá, muitos avanços foram verificados em termos de proteção ambiental, mas tantos outros desafios surgiram, entre eles a questão das mudanças climáticas e o complexo debate em torno da responsabilidade das atividades humanas nessas mudanças. Independentemente dos posicionamentos sobre se a humanidade é mais ou menos responsável pelas mudanças climáticas, a atenção dos pesquisadores tem provocado o surgimento de novas formas de conduzir nossas escolhas de maneira a diminuir o impacto de nossas vidas no ecossistema, que é o sistema onde se vive, com suas características biológicas, físicas e químicas que têm influência