Buscar

Aula 11 - Fim do Regime Militar

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 5 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

O FIM DO REGIME MILITAR DE 1964, A CONSTRUÇÃO DA ORDEM JURÍDICO-CONSTITUCIONAL DE 1988 E A EMENDA CONSTITUCIONAL 45 DE 2004 
	Apesar do relativo sucesso alcançado pelo regime militar-tecnocrático no campo da economia, quando o Brasil chegou a crescer durante a chamada fase do “milagre econômico” algo em torno de 10% ao ano, o modelo econômico não conseguiu dar conta da redução das desigualdades sociais. Muito pelo contrário, o crescimento do final dos anos 60 e início dos anos 70 se produziu a partir de uma violente concentração de riqueza nas mãos de uma minoria, o que na realidade reproduziu um certo padrão histórico brasileiro de distribuição bastante desigual das riquezas socialmente produzidas;
A redução do dinamismo do crescimento econômico brasileiro que se verificou a partir do início do Governo Geisel (de 15 de março de 1974 a 15 de março de 1979), e a crise que se instalou posteriormente, acabaram por comprometer a legitimidade do regime militar diante dos setores médios e das classes proprietárias. 
A abertura política que conduziria ao processo de redemocratização teve início no Governo Geisel, que definiu, juntamente com seu chefe do gabinete civil, General Golberi do Couto e Silva, que a distensão política deveria ser lenta, gradual e segura (o chefe do SNI foi o General João Baptista Figueiredo e o ministro do Exército, o general Sylvio Frota).
Na verdade, a abertura foi lenta, porém nada gradual e nada segura, tendo sido marcada por hesitações e tensionamentos entre as intenções de Geisel e a chamada “linha-dura” que não concordava com uma possível abertura e que não concordaria, tão facilmente, em ser apeada do poder.
 Assim, ao mesmo tempo em que o general Geisel buscava controlar o processo de abertura com um conjunto de medidas liberalizantes� e outras restritivas�, teve que travar um sério embate contra a “linha-dura” do regime que tentava (e tentou) de todas as formas possíveis, desestabilizar o governo Geisel e o próprio processo de abertura. 
Os episódios das mortes do jornalista Vladimir Herzog em outubro de 1975 e do metalúrgico Manuel Fiel Filho em janeiro de 1976, nas dependências do DOI-CODI de S.Paulo, em condições inexplicáveis, e, tudo indica, com a omissão do comandante do II Exército, general Ednardo D’Ávila Melo (o que abriu caminho para que em, outubro de 1977, Geisel demitisse o general Sylvio Frota do Ministério do Exército – o general Sylvio Frota era o “candidato” natural dos setores descontentes com a abertura, à sucessão de Geisel que ocorreria no início de 1979), levou Geisel a substituí-lo pelo general Dilermando Gomes Monteiro que, seguindo uma nova orientação, buscou ampliar os canais comunicação com a sociedade. 
Mas a “linha-dura” não estava controlada. O episódio da invasão da PUC-SP pela Polícia Militar, sob as ordens do general Erasmo Dias, para dissolver uma assembléia de estudantes que discutiam a reorganização da UNE, então na ilegalidade, mostrou que os setores ligados à repressão ainda dispunham de razoável margem de manobra.
Dentro da lógica de uma abertura lenta, gradual e segura, e a partir da vitória do MDB nas eleições legislativas de 1974, o governo Geisel passou a se preocupar com os futuros confrontos eleitorais. Em julho de 1976, através da Lei Falcão, modificava-se a legislação eleitoral, barrando o acesso dos candidatos ao rádio e à televisão. Mesmo assim, em 1976, o MDB venceu as eleições para prefeituras e para as Câmaras Municipais em mais da metade das cem principais cidades brasileiras;
A vitória da oposição se expressou através dos seguintes números: de 87 deputados, o MDB passou a ter 165, num total de 364. No Senado, o MDB passou a controlar 20 cadeiras em um total de 66 senadores.
Em abril de 1977, foi baixado o chamado “pacote de abril”, quando, depois de uma crise entre o Executivo e o Congresso em que o governo não conseguiu a maioria de votos necessária para a implementação de uma série de alterações constitucionais, o Congresso foi colocado em recesso e as medidas do pacote foram implementadas. Criação da figura do “senador biônico”, escolhido por eleição indireta, alteração dos critérios de representação proporcional nas eleições para a Câmara dos Deputados, de modo a favorecer os Estados do Nordeste e extensão das restrições impostas pela Lei Falcão aos pleitos eleitorais para os legislativos federal e estaduais;
Concomitantemente, o governo Geisel deu início a conversações com a ABI e com representantes da CNBB visando o restabelecimento das liberdades públicas e em outubro de 1978 o Congresso votou a Emenda Constitucional N°11 que entrou em vigor em 1º de janeiro de 1979 e que tinha como principal meta revogar o AI 5 que havia sido incorporado à Constituição
A abertura política continuou a se processar durante o Governo Figueiredo (de 15 de março de 1979 a 15 de março de 1985), fez votar a Lei da Anistia (lei nº 6.683 de 28 de agosto de 1979) que, apesar de fazer concessão à “linha-dura” do regime, se constituiu em um passo importante para o restabelecimento e a ampliação das liberdades públicas;
Todavia, o processo de abertura continuava sendo obstaculizados pela ação dos componentes do aparelho repressivo. Bombas na Câmara Municipal do Rio de Janeiro e em jornais de oposição, carta-bomba enviada ao presidente da OAB que explodiu na sede da entidade, matando sua secretária, os seqüestro do Bispo de Nova Iguaçu, Dom Adriano Hypólito e do jurista Dalmo de Abreu Dallari e a tentativa de explosão de bombas no Centro de Convenções do Riocentro, por ocasião de um show que se realizou no dia 30 de abril de 1981, mostram que o processo de abertura política foi sempre ameaçado pelos setores mais repressivos do aparelho de Estado construído ao longo do regime militar;
Ao se aproximar o final do Governo Figueiredo, o problema sucessório novamente emergiu. Ao longo do ano de 1983, iniciou-se um movimento, com o PT à frente, visando o restabelecimento das eleições diretas para a Presidência da República. A partir de janeiro de 1984, o PMDB entrou definitivamente na campanha pelas eleições diretas e daí para frente o movimento ganhou expressão na sociedade. Entretanto, ainda que houvesse uma quase unanimidade nacional no que dizia respeito à volta das eleições diretas para o Executivo Federal, a emenda constitucional que propunha a realização de eleições diretas, conhecida como emenda Dante de Oliveira, não foi aprovada em um Congresso cuja maioria pertencia ao PDS; 
Assim, o confronto sucessório se transferiu para o Colégio Eleitoral. O embate se estabeleceu entre Tancredo Neves cuja candidatura resultou de um acordo entre o PMDB e uma ala dissidente do PDS (a Frente Liberal, que daria origem ao PFL, atualmente Democratas) formando a Aliança Democrática e a candidatura de Paulo Salim Maluf, cuja vitória na convenção interna do PDS, levou a um racha dentro do partido;
Em 15 de janeiro de 1985, a chapa Tancredo-Sarney vencia a votação no Colégio Eleitoral com os votos do PMDB, da dissidência do PDS e do PDT. O PT se recusou a participar por não concordar com a eleição indireta. Todavia, Tancredo viria a falecer antes de ser empossado e a presidência acabou sendo ocupada pelo seu vice, José Sarney que havia um dos grandes aliados dos governos militares;
Em 1986 foram realizadas eleições para os governos dos Estados e para o Congresso que se constituiria como Assembléia Nacional Constituinte. O PM’DB elegeu todos os governadores, com exceção do Estado de Sergipe e obteve maioria na Câmara e no Senado, seguido pelo PFL.
A Assembléia Constituinte iniciou seus trabalhos em 1º de fevereiro de 1987 e depois de um longo período de debates e de elaboração do texto constitucional�, a nova Carta foi promulgada em 5 de outubro de 1988. Apesar de muito criticada por incorporar em seu texto assuntos que não pertenceriam ao âmbito das questões constitucionais, ela refletiu os avanços ocorridos no Brasil, especialmente na extensão dos direitos sociais e políticos a todos os cidadãos e às “minorias”;
	A Constituiçãode 1988 abrigou também todo um conjunto de garantias trabalhistas, como por exemplo: a jornada de trabalho semanal de 44 horas (art. 7º, inciso XIII), universalização do direito de greve, inclusive para funcionários públicos (art. 9º), licença maternidade estendida para 120 dias (art. 7º, inciso XVIII) e licença paternidade de 5 dias (art. 7º, inciso XIX), irredutibilidade salarial (art. 7º, inciso VI), participação nos lucros (art.7º, inciso XI), proibição de diferença de salário, de exercício de funções ou de critérios de admissão motivada por gênero, idade, cor ou estado civil (art. 7º, inciso XXX), aumento do ônus por demissão injustificada de empregado com o pagamento, por parte de empregador, de uma multa de 40% sobre o valor do Fundo de Garantia (art. 7º, inciso III).
Dentre outras características da Constituição de 1988, podemos destacar: 
Seu caráter “enciclopédico”, como resultado do receio ao retorno do arbítrio e como forma de garantir em lei constitucional conquistas importantes desejadas pela sociedade; 
A presença da regra fundamental que garante a igualdade de todos perante a lei, constante do inciso I do artigo 5º e o respeito ao princípio da legalidade, presente no inciso II do mesmo artigo;
A ampliação, em relação às Constituições anteriores, da diretriz relacionada aos direitos fundamentais, objeto de título próprio e que se desdobra em capítulos dedicados aos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos, aos Direitos Sociais e aos Direitos Políticos;
A enunciação dos direitos individuais e coletivos em 77 incisos e 2 parágrafos, constantes do art. 5º;
Enunciação dos direitos sociais no art. 7º, enquanto que a Ordem Social encontra-se disciplinada em título específico (Título VIII), dividida em 7 capítulos que tratam: da seguridade social (Cap. II), da educação, cultura e desporto (Cap.III), da ciência e tecnologia (Cap. IV), da comunicação social (Cap.V), do meio ambiente (Cap.VI), da família, criança, adolescente e idoso (Cap.VII) e dos índios (Cap. VIII);
Os objetivos fundamentais da República encontram-se explicitados no art. 3º: a construção de uma sociedade justa, livre e solidária, a erradicação da pobreza e da marginalização, redução das desigualdades sociais e promoção do bem de todos, sem qualquer discriminação de origem, raça, cor, sexo, idade, ou de outro tipo qualquer, devendo a lei punir os atos atentatórios a esses valores;
Incorporação de normas penais e de processo penal, assim como de direito civil;
O restabelecimento da independência do Judiciário (Título IV, cap.III), de sua autonomia financeira, administrativa e funcional e das prerrogativas fundamentais da magistratura (vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade);
O restabelecimento da independência do Legislativo (Título IV, cap.I);
	A partir de 1992, quatro anos após sua promulgação, a atual Carta constitucional brasileira começou a sofrer uma série de emendas que refletem de certa maneira as necessidades de adaptação do texto às demandas políticas, sociais e econômicas que surgem em função das transformações que a sociedade vai experimentando e incorporando ao longo do tempo. Dentre as emendas feitas ao texto constitucional de 1988, devemos destacar a EC 45/2004 que trata da reforma do Judiciário, em relação a qual podemos enfatizar as seguintes disposições:
Princípio da Celeridade Processual - Art. 5º LXXVIII – a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação;
Uniformização dos critérios de ingresso na Magistratura - Art. 93, I – passa a ser exigida do bacharel em direito, no mínimo, três anos de atividade jurídica para ingresso na Magistratura e no Ministério Público;
Extinção do Recesso Forense - Art. 93, XII CF – a atividade jurisdicional será ininterrupta, sendo vedados férias coletivas ou recesso nos juízos e tribunais de 2º grau, funcionando, nos dias em que não houver expediente forense normal, juízes em plantão permanente. Nos Tribunais Superiores, haverá Órgão Especial de Férias para julgar matérias urgentes;
Vedação do recebimento de auxílio ou contribuição por Magistrado - 95 § 1º, IV – o magistrado não poderá receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições de pessoas físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas as exceções previstas em lei;
Instituição de quarentena de saída para membros da Magistratura – Art. 95, § 1º V - ao magistrado será vedado exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, antes de decorridos três anos do afastamento do cargo por aposentadoria ou exoneração;
Atribuição do Efeito Vinculante às ADIN´s (art. 102, § 2º) – o dispositivo vem explicitar o efeito e endereçá-lo à administração pública, direta ou indireta em todas as esferas, inclusive;
Súmula Vinculante - Art. 103-A – o STF passa a ter a possibilidade de editar súmula com efeito vinculante para todos os órgãos do Judiciário e da Administração Pública em geral. A súmula terá por objeto a interpretação, validade e eficácia de normas específicas e pode ser revista ou cancelada pelo próprio STF. Da decisão que aplicar indevidamente a súmula caberá reclamação direta para o STF;
Federalização dos Crimes contra os Direitos Humanos – Art. 109 § 5º - em caso de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral da República poderá suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal;
Competência Recursal para causas trabalhistas julgadas por Juizes de Direito - Art. 112 – Não havendo vara do trabalho as causas trabalhistas serão julgadas por juízes de direito, cabendo recurso para o TRT;
Justiça Militar Estadual - Art. 125, § 3º - a Justiça militar estadual passa a ser integrada, além dos Conselhos de Justiça, por juízes de direito, cujos cargos serão preenchidos de acordo com critérios traçados pelos Tribunais de Justiça; -Art. 125, § 4º - a lei não poderá atribuir à Justiça Militar Estadual a competência reservada ao Júri quando a vítima for civil; - Art. 125, § 5º - aos juízes de direito do juízo militar caberá processar e julgar, singularmente, os crimes militares cometidos contra civil e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, cabendo ao Conselho de Justiça, sob a presidência de juiz de direito, processar e julgar os demais crimes militares;
� Suspensão da censura ao jornal O Estado de S.Paulo, o que possibilitou uma maior ousadia por parte de outros jornais, dentre os quais se destacou a Folha de S.Paulo.
� Repressão duríssima contra o PCB por parte do ministro da Justiça, Armando Falcão que acusou o partido de estar por trás da vitória do MDB nas eleições legislativas de 1974.
� Conforme lembra Teixeira da Silva in Linhares (1990, p.391), pela primeira vez na história do Brasil, a elaboração de uma Constituição contemplava as demandas advindas das pressões por novas formas de representação, através das emendas populares, propostas por petições encaminhadas por pelo menos três organizações da sociedade civil, acompanhadas de 30 mil assinaturas.

Outros materiais