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U N ID A D E 2a pessoa na sociedade em que vivemos Carga horária • Seis horas EAD. Objetivo • Analisar a sociedade em que vivemos e sua influência na maneira de ser, pensar, sentir. e quais os caminhos a serem percorridos. Conteúdos • A atual sociedade capitalista. • Caminhos a percorrer. CRC • • • © Antropologia Teológica Claretiano – Batatais14 Cursos de Graduação UNIDADE 2 1 Introdução Nesta unidade vamos nos deter sobre o estudo da pessoa no contexto atual. Já vimos em que implica a situação humana dependendo da maneira como se olha o ser humano. Para isso, vamos retomar o que estudamos até o momento e, em seguida, daremos continuidade. Como o homem é visto na sociedade ocidental nos últimos tempos? Durante muitos anos a chamada sociedade ocidental tratou a pessoa de uma maneira que não beneficiou muito a esta como tal. O que se pode perceber no decorrer de nossa história é que, em cada época, com características diferentes, a preocupação esteve sempre voltada àqueles que detém o poder. Seja o poder de um grupo específico, ou mesmo o poder de um grupo bem mais amplo, não conseguimos identificar claramente a realidade atual, como é o caso do poder do sistema capitalista. O que se percebe é que o poder sempre trabalhou para satisfazer seus desejos e os desejos daqueles que estão do seu lado. Apesar das mudanças que ocorreram durante cada momento histórico, pode- se notar que o ser humano, em geral, sempre foi deixado em um plano inferior pela sociedade. A análise histórica demonstra que o ser humano foi o ponto central das preocupações de pensadores, filósofos, religiosos e pessoas sensíveis às necessidades que afligiam uma grande parcela da sociedade. Por isso mesmo, durante muito tempo o conceito de pessoa vem sendo estudado e construído. Hoje podemos fazer um estudo mais sintético a respeito. Em função disto, a história está repleta de pessoas que se dedicaram exclusivamente às causas sociais. A situação hoje não é diferente. Ainda existem muitas pessoas que lutam e trabalham para dar um sentido diferente para a sociedade e para a vida. Se essas pessoas existem e são exemplos para nós, o que o homem deve fazer pelo outro? É preciso resgatar o verdadeiro sentido do ser humano. Toda a pessoa que com partilha parte de sua vida com os claretianos está convidada a perceber a importância de si mesmo e do outro com quem compartilha seu saber, sua profissão e sua vida. Do mesmo modo, por meio de uma vivência enraizada em conceitos éticos, somos convidados a trabalhar em prol de uma sociedade mais justa e igualitária, a fim de resgatar a dignidade do ser humano. Surge um problema nessa proposta: como compreender a sociedade em que vivemos? Em que estilo de pensamento estamos inseridos sem a reflexão necessária? Estamos inseridos em uma sociedade que reduz a pessoa a uma máquina de fazer e de consumir. Por isso, precisamos estar atentos a tudo o que nos envolve para podermos perceber se nossa atitude está sendo uma atitude tecnicista ou se há espaço para uma forma humanitária de ser e de agir. PARA VOCÊ REFLETIR Não podemos esquecer que vivemos em uma época na qual o neoliberalismo coloca toda a sociedade envolvida em uma lógica tecnicista, excluindo quem não se adapta a ela. Cursos de Graduação © Antropologia Teológica • • • CRC Batatais – Claretiano 15 UNIDADE 2 1 Introdução É diante desta inquietação que desenvolveremos a segunda unidade do nosso estudo. Após perceber os procedimentos que foram utilizados para lidar com o humano, vamos agora estudar e fazer uma análise da nossa situação atual para, com isso, entender qual deve ser nosso procedimento como seres humanos. Não temos respostas prontas. Não temos a receita. Cada realidade é diferente da outra. De uma coisa sabemos: o ser humano precisa ser resgatado em sua dignidade, em seus direitos e, além disso precisa conhecer seus deveres para consigo mesmo, com o outro e com a humanidade em geral. Independente de sua origem racial, de sua cor, da sua fé e da sua profissão, lembre-se de que você, antes de tudo, é uma pessoa que tem direitos e deveres. Por isso, está convidado a partilhar sua reflexão com todos os seus colegas de curso para que, juntos, possamos discutir e descobrir caminhos. Para melhor compreender a realidade sobre o modo claretiano de conhecer o ser humano, veremos rapidamente uma visão panorâmica da realidade em nossa sociedade. 2 Sociedade capitalista Como você percebe a sociedade capitalista? É egoísta? Desumana? Injusta? A sociedade capitalista, que camufla a realidade, condiciona o mercado de trabalho e cria certos tipos de necessidades e, ao exigir capacidade profissional cada vez mais seleta, deixa a grande maioria à margem do que almeja (MÜLLER, 1997). Quanto a isso, o problema é que, sem uma perspectiva de futuro, toda uma geração pode desorientar-se. No sistema em que vivemos, os atrativos para uma vida de consumo levam as pessoas a buscarem, de forma desenfreada, a satisfação ilusória de inúmeras necessidades. Deste modo, é mais fácil desencadear a perspectiva de uma vida sem objetivo e sem valores, do que uma vida de esperança e realizações. A descoberta das ciências modernas fez o mundo passar por profundas transformações e se redefinir. Quando as primeiras sociedades capitalistas começaram a surgir, no final do século 18, as pessoas foram se juntando em torno das fábricas. Nessa época, o capital passa de comercial e mercantil para industrial. A busca, cada vez maior, do lucro cria a necessidade de construir máquinas cada vez mais sofisticadas e, portanto, a mão-de-obra tende a tornar-se mais especializada. Na sociedade pós-moderna, o capitalismo se estabelece como sistema econômico, influenciando o social e interferindo no político. Aos poucos o neoliberalismo vai se implantando e demonstrando regressão no campo social e político. O individualismo é a tônica constante de todo o seu agir. O raciocínio neoliberal é tecnicista, pois reduz problemas sociais a questões administrativas, e os problemas da educação em problemas de mercado e de técnicas de gerenciamento. PARA VOCÊ REFLETIR O sistema capitalista que envolve as ciências, entre elas, o capital industrial, o lucro e a mão-de-obra especializada, cria o individualismo, o tecnicismo, o lucro e, conseqüentemente, a competição. O ser humano quando não tem emprego passa a ter uma vida incerta. Reflita sobre essa questão importante. INFORMAÇÃO Para ampliar seus horizontes em relação a este tema, recomendamos três obras de Eric Hobsbawn, intituladas Era dos Impérios, Era do Capital e Era dos Extremos, que retratam a realidade dos séculos 19 e 20. Não se limitem ao conteúdo deste material didático mediacional: busquem outras fontes de pesquisa. CRC • • • © Antropologia Teológica Claretiano – Batatais16 Cursos de Graduação UNIDADE 2 Siqueira (2000) afirma que dentre os vários pontos negativos da sociedade pós-moderna o que mais atinge os aspectos da vida é a busca por um desempenho, exigindo que as pessoas sejam operacionais caso contrário, elas correm o risco de serem marginalizadas. Aqueles que por algum motivo (idade, renda, saúde...) não estiverem atendendo às exigências de performance impostas, são desprezados pelo sistema, e neles nada se investe. Exemplo claro disso são os aposentados: seu desempenho já não impulsiona mais a performance do sistema, e por isso podem até ser considerados vagabundos. Dessa forma, percebemos que o ser humano vale pelo que produz e pelo que consome. Enquanto produz, tem ainda alguma possibilidade de ser considerado pela sociedade, essa é a ótica tecnicista. Entretanto, se não produz nada, só terá lugar se tiver condições para consumir. A ótica utilizada é a da negatividade, pois está calçada na quantidade sem levar em consideração o equilíbrio da qualidade. A performance não pode apoiar-se só na competência, mas deve considerar o desenvolvimento integral do homem,valorizando-o no seu todo: fazer, ser, refletir, participar e agir autonomamente (SIQUEIRA, 2000). O sistema capitalista considera aquilo que fará com que as pessoas tenham atitudes nitidamente competitivas visando a competição e o lucro. Numa visão estreita da sociedade e do ser humano, dentro da ótica tecnicista, o ser humano fica reduzido e seu valor é considerado zero. O que dizer quando percebemos que o alto índice de desemprego atinge as pessoas e proporciona um ambiente de incerteza quanto ao futuro, em relação à vida e à realização pessoal? Para responder a essa questão Galbraith (1996) nos relata que “Na sociedade justa, ninguém pode ser deixado à mingua ou sem teto. A primeira exigência é ampla oportunidade de emprego e de renda, e não a inatividade forçada”. Com isso, chega-se à conclusão de que o individualismo na sociedade existe e é perceptível em todos os aspectos. Com o intuito de rebater a essa crítica, é preciso buscar formas de nos desviarmos desse individualismo que o capitalismo provoca. Como fugir dessa proposta negativa que a sociedade nos apresenta como a melhor? 3 Caminhos a percorrer Dentre tantas propostas para a valorização do homem, qual é a mais coerente até o momento? Quais documentos podem nos ajudar (no aspecto teórico) a valorizar mais o ser humano, como o Ceuclar propõe? No relatório que organizou para a Unesco1 sobre educação para o século 21, Delors (1999) apresenta quatro pilares para a construção da sociedade, necessários para que a pessoa possa se adaptar aos novos tempos: aprender a conhecer (adquirir os instrumentos da compreensão); aprender a fazer (para poder agir sobre o meio envolvente); aprender a conviver com os outros (a fim de participar de todas as atividades humanas) e aprender a ser (que é o ponto de ligação com as outras três). (1) Unesco – United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization (Organização das Nações Unidas para a educação, a ciência e a cultura). Para maiores informações, acesse o site: . Acesso em: 03 Jul. 2006. Cursos de Graduação © Antropologia Teológica • • • CRC Batatais – Claretiano 17 UNIDADE 2 1 Introdução Sem dúvida, atentos a toda a lógica do mercado, aprender a conhecer significa estar atento a tudo o que acontece à nossa volta. Com isso, perceber os detalhes daquilo que envolve o ser humano e as circunstâncias ao seu redor permite à pessoa a capacidade de poder decidir sobre o que fazer com sua vida e, desta forma, buscar o caminho mais adequado para alcançar a realização pessoal. Embora vivamos em uma situação adversa, não podemos negar que existem muitas possibilidades, muitas situações que esperam uma oportunidade para acontecer. Por isso, precisamos ficar atentos aos acontecimentos que envolvem a sociedade. As coisas boas e importantes que estão presentes no mundo não são destacadas no convívio social. Os meios de comunicação social não mostram os acontecimentos positivos que são engendrados no seio da sociedade. Com base nesses dados, vamos conhecer algumas características que o homem necessita para uma melhor convivência humana em meio à sociedade individualista. Vamos conhecê-las! Adaptabilidade Como o ser humano é visto com relação a isso? O ser humano é um ser capaz de adaptar-se às situações mais diversas e adversas. A educabilidade permite a ele situar-se de tal forma que, mesmo nas situações mais difíceis, é possível encontrar uma forma, uma possibilidade, um atalho para reencontrar o caminho ou adaptar-se a outro modo de viver ou a um ambiente distinto. O importante é que a pessoa adquira os instrumentos necessários para compreender essas situações complexas do mundo em que vivemos. Quando a pessoa começa a olhar para si mesma e passa a conhecer-se, percebe que existe espaço para desenvolver o seu potencial criativo. Porém, duas coisas são essenciais: • conhecer a realidade que a cerca; • conhecer as potencialidades naturais e existentes em sí mesma. Esse tesouro presente dentro de cada pessoa precisa ser descoberto e colocado para fora a serviço de seu desenvolvimento pessoal e da sociedade. O exercício do pensamento ajuda a pessoa a situar-se nesta vida, neste mundo, nesta sociedade, ajuda a entender o porquê do estar aqui e qual o papel de cada um nesta realidade. Ao mesmo tempo em que ocupa o pensamento e presta atenção às coisas, é necessário dirigir essa atenção às pessoas. É no grupo social que a pessoa encontra a ressonância do seu ser, percebe a importância do conhecimento e o que fazer com isso (DELORS, 1999). Ao mesmo tempo, não basta compreender o que está se passando ao seu redor. A pessoa precisa de uma preparação específica para determinada tarefa ou profissão. Mesmo sabendo que isso não garante um lugar no mercado de trabalho, é necessário aprender, ter habilidade e competência. O que o mercado exige para uma melhor ação profissional? O mercado de trabalho requer qualificação, conhecimento técnico aprofundado e, em alguns casos, especializado, sendo necessário comprovar formação profissional. Ao mesmo tempo, existem necessidade de uma relação interpessoal2 mais profunda. (2) interpessoal: relativo à ou que envolve relação entre duas ou mais pessoas. (Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa). CRC • • • © Antropologia Teológica Claretiano – Batatais18 Cursos de Graduação UNIDADE 2 Essa relação interpessoal ocupa um lugar de importância nas relações de trabalho. Contudo, quando as indústrias começaram a produzir em série, o relacionamento interpessoal esfriou. Com o crescimento tecnológico, a automação e as novas formas de produção, o trabalho em equipe passou a ser fundamental. No entanto, Sennett (2000) chama a atenção para esse “perigo”. Toda a sistemática do trabalho em equipe que envolve o sistema capitalista torna as pessoas vulneráveis, ou seja, dispensáveis, pois a forma de como exercer as atividades dentro da empresa mostra que qualquer pessoa, a qualquer tempo, pode ser substituída por outra, sem que isso prejudique o funcionamento da engrenagem. É importante ressaltar que a relação interpessoal traz a necessidade de uma relação chamada intrapessoal. Ou seja, antes mesmo de haver uma relação boa e agradável com o outro, existe a necessidade de haver uma relação muito íntima consigo mesmo. Mas isso vamos estudar mais adiante. De qualquer forma, o modo de ser e de viver o relacionamento interpessoal não nasce com o homem; ele é adquirido no dia-a-dia e é imprescindível para seu crescimento particular e comunitário. Portanto, é necessário desenvolver um relacionamento bom com os demais não apenas em seu ambiente de trabalho, mas em qualquer meio social. Viver juntos Vimos no tópico anterior que o homem precisa se adaptar a uma realidade sobre a qual ele não foi instruído, além de contribuir para o desenvolvimento da sociedade. Para isso, ele não deve conhecer apenas ao outro, mas, também, se conhecer. A convivência temporária nos ajuda a conhecer nossos limites, porém, a convivência diária nos apresenta as adversidades que dificultam a harmonia da convivência humana. Como são as dificuldades existentes dessa problemática? Em que período esse problema inicia efetivamente? Depois do século 15, quando surgem as primeiras descobertas científicas, o mundo começa a sofrer uma mudança sem precedentes no relacionamento entre as pessoas. Nos séculos seguintes, o desenvolvimento industrial e tecnológico trouxeram na bagagem o individualismo provocado pelas mudanças no modo de ser e de agir. As primeiras sociedades capitalistas, fruto do desenvolvimento econômico e industrial, provocaram uma corrida intensa em busca de satisfações pessoais. O consumo desenfreado, desencadeado pela incessante busca das satisfações e desejos individuais, deixou transparecer uma realidade em que o outro é peça descartável. A busca das satisfações pessoais criou distâncias entre as pessoas. O sistema econômico e social capitalista,com sua ideologia predominantemente consumista que instiga a acumulação de bens e de poder nas mãos de poucos, causa uma luta inconsciente e sem precedentes no seio da sociedade. Competição No contexto vivido pelos seres humanos, percebemos que o individualismo não surge sozinho: aparecem com ele outros fatores que demonstram o quão exagerada é a nossa sociedade em relação aos interesses próprios. Deste modo, o que devemos considerar em meio a tantos exageros na sociedade capitalista, prejudicial aos homens? Qual a prioridade desse sistema? PARA VOCÊ REFLETIR Se fosse o dono de uma grande empresa, você contrataria a pessoa apenas pela formação ou pelo modo como ela reage em meio a um grupo de pessoas? Como o homem é valorizado nessa fase? Reflita sobre esse aspecto e anote suas reflexões no Bloco de Anotações. PARA VOCÊ REFLETIR Como você pode desenvolver essa relação intrapessoal na sua vida como ser profissional e pessoal? Como trabalhar com cada item na sua vida pessoal? Realize essa reflexão e registre-a no Bloco de Anotações. ATENÇÃO! Para aprimorar seus conhecimentos, pesquise na internet ou em bibliotecas sobre o contexto histórico da sociedade contemporânea e quais foram as causas que fizeram o homem chegar a essa conclusão. O nosso compromisso é lançar para você pistas para sua reflexão. Você é autor do seu conhecimento. Cursos de Graduação © Antropologia Teológica • • • CRC Batatais – Claretiano 19 UNIDADE 2 O ponto fundamental é considerar o fato de que este sistema prioriza a competição. O individualismo carrega consigo todo o envolvimento de uma sociedade competitiva em que o sucesso individual está acima de qualquer outra coisa. O grupo perde a importância, o trabalho em equipe gera desconfiança, pois a idéia de competição não considera o outro como um elemento imprescindível, mas sim como alguém contra quem se deve lutar. O que esse individualismo prega na sociedade contemporânea? Existe uma proposta para amenizar esse problema? Essa competitividade vista na ótica capitalista é a responsável pela guerra econômica travada entre as nações. Por essa razão, é importante analisar alguns passos para que essa corrente seja quebrada e novos paradigmas sejam inseridos nesse estilo de ser e de viver impostos pelo sistema capitalista. O mercado, de forma contraditória, impulsiona as pessoas para uma maneira competitiva e individualista de ser e viver. Antes de se falar sobre a descoberta do outro, é importante analisar a necessidade de começar pela descoberta do homem por si mesmo. O ser humano, de maneira geral, não costuma perceber-se, conhecer-se e valorizar-se. Esse é um ponto que fica um pouco obscuro quando se lê e se fala de relacionamento. Se a descoberta do outro é necessária nas relações sociais, a relação consigo mesmo é indispensável para que haja um relacionamento sadio com o outro e com o mundo. Desta forma, é necessário haver uma compreensão profunda nas relações pessoais, pois existe, em todo meio social, uma interligação essencial que não pode ser esquecida. Auto-conhecimento Quais os passos para que o homem sinta-se realizado por conhecer-se? O primeiro passo compreende um conhecimento de si mesmo, e quanto mais profundo, melhor. O ato de conhecer-se implica conhecer a história da existência pessoal por meio das potencialidades, aptidões e dificuldades. Esse é um elemento importante, mas não é o único: existem as necessidades de se aceitar e, mais que isso, é extremamente necessário gostar de si mesmo assim como se é. Isso compreende um entendimento amplo de tudo o que envolve a pessoa. Quando consegue-se olhar para si mesmo de forma positiva a pessoa pode descobrir o outro. Quais são as possíveis dificuldades que existem para que o auto-conhecimento seja efetivo na vida do ser humano? Hoje, em função da violência generalizada, ainda existe certa desconfiança quando se trata do outro, sem nos esquecermos que existe um agravante muito profundo: a sociedade competitiva. A idéia de que o outro pode tirar o seu lugar, faz com que você fique atento aos gestos do outro e se coloque em uma situação de desconfiança em relação a ele. Se tivermos consciência das semelhanças e da interdependência existentes entre os seres humanos, não deixaremos de considerá-las essenciais na relação existente entre o ser humano e a natureza. PARA VOCÊ REFLETIR Seja na escola, no serviço ou no grupo de amigos, você saberia identificar as pessoas que pensam em contribuir com o próximo ajudando no seu crescimento e as que competem para o crescimento pessoal, deixando de lado o grupo? Reflita e anote suas reflexões no Bloco de Anotações. INFORMAÇÃO Durante a Guerra Fria o seguidor do capitalismo era apresentado como inimigo para o socialista e vice-versa. Durante muito tempo, devido a esse medo, as relações interpessoais ficaram comprometidas. 1 Introdução CRC • • • © Antropologia Teológica Claretiano – Batatais20 Cursos de Graduação UNIDADE 2 Essa interdependência entre os seres do mundo interior não pode ficar esquecida. Percebe-se cada vez mais que a vida das pessoas e do mundo não podem acontecer de forma separada do contexto. Com isso, aquilo que provoca a descoberta de si mesmo e a descoberta do outro nos oferece uma visão adequada do mundo em que vivemos. E essa é uma tarefa educacional que não se restringe só à escola, mas compreende a comunidade e a família. Um dos pontos importantes desse novo paradigma é superar o individualismo e valorizar as expectativas coletivas. O que une é mais importante do que o que separa. A partir desse aspecto do ser humano, a cooperação é mais importante do que atividades que dividem, que competem e que distanciam as pessoas. Por isso, as atividades com finalidades sociais, que implicam cooperação entre os membros do grupo, precisam ser implantadas nos bairros, na ajuda aos menos favorecidos, nos serviços solidários ou nas ações que olhem os outros como semelhantes, embora sejamos completamente diferentes. Consciência do eu A que damos importância quando trabalhamos essa consciência do eu? Como ela é caracterizada? Quando chamamos a atenção para a importância de aprender a ser, como aponta Delors (1999), queremos ressaltar que é necessário levar em consideração que o processo de caracterização da pessoa consiste na consciência que ela tem de si mesma. Isso faz com que a pessoa entre em contato com o seu interior. Nesse contato com o interior cada um pode perceber como a diferenciação é importante e necessária no processo do próprio desenvolvimento e no desenvolvimento do mundo. Essa consciência do eu, que leva o indivíduo a perceber-se distinto dos outros seres criados e dos indivíduos da sua mesma espécie, cria nele a consciência da responsabilidade de ser mais e melhor. É dessa forma que ele encontra o caminho da auto-realização. Logo, a auto-consciência abre caminho para a auto-realização. O conceito que cada um faz de si mesmo determina o seu comportamento. O que faz ou tenta fazer, o que realiza ou tenta realizar, o relacionamento interpessoal, pode estar intimamente relacionado com o conceito de eu-mesmo e com os vários fatores que lhe são afins. 4 Considerações Com isso, encerramos essa segunda unidade com uma visão ampla sobre como o homem é visto na sociedade e quais são os eixos para mudança. Na última unidade, vejamos o que o do Centro Universitário Claretiano propõe para reverter esta situação.