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Origens católicas do Serviço Social

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O serviço social católico: as origens 
A primeira afirmação do autor é a de que o surgimento das escolas de serviço social está ligado à Igreja.
Portanto, é preciso entender as posições da Igreja com relação à questão social nas primeiras décadas do século XX. 
O autor traça brevemente o contexto social da Europa na virada do século XIX para o XX: exploração, miséria e desenvolvimento do capitalismo. Logo: agravamento da questão social. 
A posição da Igreja é uma resposta ao agravamento da questão social. Mas por quê? 
O problema é moral. 
A pobreza não é ruim em si mesma. 
O problema, de fato, é a miséria: ela causa desordem, mau comportamento, degeneração e decadência das relações humanas. 
Há ainda o problema da secularização moderna: desencantamento do mundo e concorrência religiosa
Diante disso, a Igreja reage: é preciso recristianizar toda a sociedade em novas bases
Miséria e exploração afastam o homem de Deus: sob elas, as pessoas não podem cumprir a tarefa principal de suas vidas, que é louvar a Deus, na Igreja, para obter como recompensa a felicidade eterna no além. 
Portanto, quando o a “ordem temporal” está ruim a ponto de impedir os homens de realizar as tarefas requeridas pela “ordem divina”, então a Igreja precisa sair da “Cidade de Deus” e entrar na “Cidade dos homens” – precisa lidar com a questão social. 
A propósito. Uma nota de rodapé oferece uma ideia do autor sobre o que ele pensa ser a questão social: e a nota é positivista – fala em corpo social e suas patologias (paradigma da biologia). 
É então sobretudo a partir do final do XIX que a Igreja irá intervir na questão social. Essa intervenção não é espontânea: ela nasce dos preceitos impostos pela Encíclica Rerum Novarum. 
Encíclica: carta geralmente dirigida a todos os bispos da Igreja, tratando de temas importantes da doutrina católica.
 
Rerum Novarum: encíclica promulgada pelo papa Leão XIII, em 1891, versando sobre o problema social dos trabalhadores, e que estabelece pela primeira vez uma “Doutrina social” da Igreja. Veio a público no dia 15 de maio daquele ano. 
Papa Leão XIII 
(1810-1903)
Papa Pio X 
(1835-1914) 
Papa Pio XI 
(1857-1939) 
Papa Bento XVI
1927 – 2013
As afirmações da Igreja, aí, são exemplares: 1) a solução para a situação passa apenas pela Igreja; 2) as doutrinas dos evangelhos, por si só, são capazes, ou de eliminar o conflito, ou pelo menos amenizá-los.
Quer dizer, a solução é moral e religiosa. E seja para eliminar, seja para apenas amenizar, é necessário seguir os ensinamentos bíblicos da Igreja, pois só isso pode resolver a situação e basta para resolvê-la. 
É interessante e reveladora a posição da Igreja quanto à causa dos problemas: não o capitalismo, mas o liberalismo e o socialismo. 
Logo, é preciso optar por uma terceira via 
(embora isso não seja dito explicitamente – o que se fala é em dura e forte intervenção do Estado).
Nós sabemos qual foi essa terceira via... 
A intervenção do Estado é preconizada contra o liberalismo, claro, mas também contra o socialismo. O que almejava este? Antes de tudo, abolir as classes, para acabar com a luta de classes. 
Já o papa (Leão XIII) almejava também acabar com a luta de classes. Mas ele entende luta como briga, como discórdia, como desentendimento. 
Por isso, ele não visa acabar com as classes, mas torná-las harmônicas entre si. 
Pois elas estariam destinadas por natureza a se harmonizar, a viverem juntas em concórdia, não obstante suas diferenças. 
Deus não criou todo mundo igual; logo, cada um no seu lugar – burgueses e proletários, explorados e exploradores – e tudo irá bem, desde que ambos freqüentem a mesma Igreja, que está aberta a todos... 
Como, no ocidente, religião é moral, a solução para o problema social é a “restauração dos costumes” e a “Reforma social” (instituições). 
Dessas novas diretrizes sociais da Igreja nasce, assim, todo um conjunto de ações católicas para combater o “problema social” – é a chamada Ação Católica (AC). 
A AC sempre pretendeu ser apartidária. E, segundo o autor, as escolas católicas terão papel central na divulgação da doutrina social da Igreja e, portanto, na própria Ação Católica. 
Segundo o autor, é nesse contexto da Ação Católica, que, no Brasil, emerge o serviço social.
Na ACB, o autor destaca o papel de D. Leme, um cardeal arcebispo influente da primeira metade do século XX no Brasil, e que vai dar grande impulso à AC, segundo as diretrizes de Pio XI (1857-1939). 
Qual a novidade de Pio XI? 
É que ele redefine ou refina o sentido do trabalho social leigo dos católicos: 
ele considera que os leigos devem ser co-participantes do “apostolado sacerdotal”. 
Portanto, o laicato, em meio ao trabalho social, deve fazer o serviço apostólico. Trabalho social e doutrinal, portanto, confundem-se. 
Tanto assim que, no Brasil, D. Leme irá afirmar que para fazer a “reforma social” é preciso ser santo!
Acontece que, nesse novo apostolado, a ala feminina terá enorme importância. 
E aqui aparece a figura de mademoiselle Cristine de Hemptine, que em 1932 dará um curso sobre Doutrina Social e sobre AC (no Rio, salvo engano), em plena Revolução Constitucionalista de 1932, em São Paulo. 
Por isso, a AC no Brasil terá como centro a chamada Juventude Feminina Católica. 
Fica fácil entender, assim, porque ainda hoje o Serviço Social é composto na sua maior parte por mulheres. 
Também não é difícil compreender por que os trabalhos social e doutrinal se confundem: a causa de todos os problemas é a “exclusão de Deus”, segundo Pio XI; 
logo a única solução é a Igreja, ou seja, o retorno de Deus. 
No fundo, portanto, o objetivo – explicitado, até – é o de recristianizar a sociedade.
Toda a organização, toda a estrutura montada para concretizar a ACB tem esse objetivo como princípio e como fim. 
Não precisamos descrever essa estrutura. O importante é frisar que, na hierarquia social, a AC é montada de cima para baixo: 
acreditava-se que, formando-se as elites na nova doutrina social, elas influenciariam “o povo”. 
Mas evidentemente não é só uma questão de crença ou aposta nas elites; é uma questão de posição de classe. 
Só as mais abastadas podem realizar esse trabalho, que exige tempo, dinheiro e contato social com as fontes de “doações”, “donativos” e recursos materiais... 
Um dado importante, para o qual o autor chama a atenção, no que concerne a D. Leme, é sua atuação junto ao universo intelectual. Ele estará por trás da criação de centros de estudos e institutos católicos e, sobretudo, das primeiras faculdades e universidades católicas no Brasil – primeiro no Rio, em seguida em São Paulo. 
Há, nesse contexto de desenvolvimento da presença social da Igreja, uma tentativa de influência sobre a política através de uma tentativa de reatar os laços que uniam Igreja e Estado, os quais foram formalmente rompidos com a instalação da República.
O que nos importa é o desenvolvimento do Serviço social nesse contexto todo. Aqui (p.28), o autor faz uma afirmação ligeiramente contraditória com o que fora afirmado páginas antes. 
1. Onde está essa contradição? (localizar no texto)
2. De onde surgem (no geral) as primeiras escolas de serviço social? (localizar no texto)
3. Explique a ligação entre AC e a primeira escola de serviço social no Brasil. 
No ano seguinte, 1937, surge a segunda escola de serviço social, no Rio. Foi ademais no Rio que tiveram início as famosas Semanas Sociais.
Todas as outras escolas criadas no restante do país, afirma o autor, tiveram influências direta da Igreja Católica, até 1950. 
Em seguida o autor trata da formação dos assistentes sociais segundo a Doutrina Social da Igreja. 
Aqui, uma instituição internacional importante aparece: a UCISS – União Católica Internacional de Serviço Social, fundada em 1925. 
O autor salienta que, na Europa, o Serviço Social nasce como um braço ou um instrumento da Ação Social – movimento mais laico do que a AC. 
Basicamente, a Ação Social européia tinha uma visão positivista da sociedade, do serviço social (ver p. 32). 
No Brasil, as escolas de serviço social recebem, claro,influências da Ação Social, mas elas são criadas e estruturadas antes de tudo pela AC, pela Doutrina Social da Igreja.
Notem: dos quatro aspectos da formação, nos anos 40 – científica, técnica, prática e pessoal –, a questão religiosa só estava presente em todos. 
É que a Doutrina deve estar acima de todos eles, e isso é dito e reiterado explicitamente. 
É interessante como se dava o “vestibular” dos alunos... (p. 35).
Nos anos 40, a formação profissional será discutida em dois importantes congressos internacionais: um realizado no Chile (1945, em Santiago), outro no Brasil (1949, no Rio). 
No congresso do Rio, foram debatidas e lançadas as diretrizes da formação do assistente social. 
E, claro, o aspecto moral e cristão é ressaltado na formação. 
Porque nos congressos e convenções realizados no Brasil o pano de fundo é sempre a doutrina católica. 
Por fim, o autor trata da ABESS – Associação Brasileira de Ensino de Serviço Social – a entidade talvez mais importante do Serviço Social, hoje ABEPSS. 
Até as convenções da ABESS eminentemente católicas (p. 37-8). 
A presença católica é marcante até 1960. Após esse ano, ela continua forte, mas em declínio. 
Em 1967 ocorrerá um primeiro momento do processo de “reconceituação”, quando se realizou um seminário de “teorização” do serviço social. 
O seminário foi promovido pelo CBCISS – Centro Brasileiro de Cooperação e Intercâmbios de Serviços Sociais – e realizado em Araxá, Minas Gerais.
É desse seminário que nascerá o famoso Documento de Araxá.

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