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Tomás de Aquino e a Caridade

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Contexto histórico.
Tomás de Aquino (1221-1274)
e Aristóteles
Século IX: sábios árabes descobrem os textos de Aristóteles e começam a traduzi-los. 
Mais tarde, estes textos começam a entrar na Europa... Sobretudo no século XIII, quando aparecem os textos de física e metafísica
O século XIII é o auge da teologia cristã:
Surgem os primeiros burgos (logo, as primeiras cidades)
Surgem duas importantes ordens mendicantes: dominicanos (Tomás de Aquino) e franciscanos, que se instalem nas cidades
Surgem as primeiras universidades: Bolonha (Direito) e Paris (Teologia, em 1200)
Até o século XIII, o pensamento medieval, no que concerne à herança grega, será marcado sobretudo pelo platonismo e pelo neoplatonismo. 
A partir do século XIII, a Escolástica se vê diante do “enorme problema de enfrentar Aristóteles”. 
Por que “enorme problema”? 
Não se trata apenas de ter que lidar e aplicar lógica rigorosa de Aristóteles a um campo que recusa toda e qualquer lógica, o campo da fé, da teologia cristã, da Revelação da Palavra de Deus, campo no qual atuam e pensam os padres. 
Trata-se antes e sobretudo de saber se o aristotelismo está ou não com a verdade. Como é possível que a razão, por si só, tenha chegado à verdade? 
No fundo, a questão diz respeito a Deus: será o deus aristotélico o mesmo Deus dos cristãos? Mas se for assim a Revelação torna-se inútil... 
Embora Aristóteles diga coisas “belas e profundas sobre Deus”, seu Théos não é o Deus dos cristãos. 
Julián Marías: o deus aristotélico “não é criador, não tem três pessoas, sua relação com o mundo é outra; e o mundo aristotélico tampouco é aquele que saiu das mãos de Deus segundo o Gênese” (Marías, 2004, p. 177). 
Como toda a Escolástica é um movimento doutrinário que tenta lidar com as filosofias partindo do pressuposto teológico, submetendo-as a este pressuposto, é evidente que o grande problema é Deus. 
É ele o centro da questão, é ele que está no centro da discussão sobre quem está em última instância com a verdade: a Revelação ou a Razão? Aristóteles ou os Padres? A teologia ou a filosofia? 
Quem melhor enfrentou o problema, no século XIII, foi sem dúvida Santo Tomás de Aquino, o Doctor Angelicus, esse grande adaptador da filosofia de Aristóteles ao pensamento cristão (Marías, 2004, p. 180). 
Contudo, se na Metafísica de Aristóteles Théos é aquilo que se busca e aquilo a que se chega após um árduo trabalho do pensamento puro, na metafísica de Tomás Deus criador é o ponto de partida, o pressuposto
E isto por um motivo muito simples e muito religioso: é que a Revelação é o critério da verdade. 
Para Tomás, no caso de haver contradição entre filosofia e teologia, é a primeira que está errada, é ela que é falsa, sendo preciso corrigi-la. 
Portanto, a verdade da revelação está dada desde sempre, isto é, desde o advento do cristianismo. 
Mas se a verdade revelada pelas Escrituras está dada, não é possível falar em filosofia tomista ou mesmo medieval: trata-se sempre, em primeiro lugar, de uma teologia, da qual a filosofia vem sempre a reboque, como auxiliar. 
Tomás de Aquino (1221-1274) 
Exerceu enorme influência sobre o pensamento cristão medieval
Enquanto Agostinho foi profundamente influenciado por Platão e seu dualismo entre corpo e alma, Tomás de Aquino será influenciado mais por Aristóteles.
P. ex.: 
1) Tomás de Aquino interpreta a noção aristotélica de “imitatio Dei” (busca da perfeição, atualização das potências) assim: todo ser aspira a Deus, no qual está a finalidade sobrenatural que comanda a vida de todo e qualquer ser, já que Deus é o criador de todas as coisas. 
2) Onde Aristóteles falava em Motor (dos homens e das coisas), Tomás de Aquino falará em Criador – e isso fará toda a diferença.
As cinco provas ontológicas da existência de Deus (a posteriori)
1) prova-se pelo movimento: há movimento e há coisas que se movem; tudo o que se move é movido por outro; portanto é preciso haver um primeiro motor, Deus; 
2) pela causa eficiente: há uma série de causas eficientes que produzem efeitos; se não houvesse uma primeira causa, não haveria a série das causas, e essa causa prima é Deus; 
3) pelo possível e o necessário: há entes que poderiam não ser, pois concebemos que nem sempre existiram; se não houvesse um ente necessário por si mesmo, não poderia haver os outros entes possíveis, pois se são possíveis, pode-se conceber um tempo em que nada haveria, e não haveria nada que os fizesse vir à existência; 
4) pelos graus de perfeição: os diferentes graus de perfeição que vemos existir só podem ser graus de uma perfeição absoluta, Deus; 
5) pelo governo do mundo ou pela finalidade: porque os entes tendem a um fim, há uma ordem e portanto suas existências não são frutos de um movimento cego, mas antes obedecem a um plano, um planejamento: Deus é arquiteto do mundo, ente inteligente que dirige todas as coisas segundo um fim 
A Caridade
“Quem não a possui é uma nulidade espiritualmente. [...] Ora, o amor tem uma força transformante mediante a qual o amante é de algum modo transferido no amado. Isto é o que explica Dionisio (De divinis nominibus 4): ‘O amor divino provoca uma saída de si (extasim); não abandona o amante a ele mesmo, mas (lhe oferece) o amado.' Por outro lado, porque a totalidade e perfeição se identificam (cf. Aristóteles, Física III 207a 13-14), terá a caridade perfeita aquele que, por meio do amor, seja inteiramente transformado em Deus, sacrificando todas as coisas e a si mesmo por Deus [...]”. 
Tomás de Aquino. Questões Disputadas III, cap. 6, art. 17. 
“O primeiro efeito da presença em nós do dom de Deus que é a caridade consiste na presença do próprio Doador, o Espírito Santo, e, com ele, toda a Trindade que vem habitar na alma do justo. Em toda a parte que se interroga a doutrina da graça ou do Espírito Santo, é surpreendente ver como em Tomás chegamos depressa à verdade, simultaneamente elementar e sublime - que os místicos de todos os tempos colocaram no topo de sua experiência - do dom de Deus que é a caridade”.
J. P. TORRELL, Tommaso d'Aquino. Maestro spirituale. Roma, 1998, pp. 189-190. 
‘‘É desta maneira que nossa amizade de caridade se estende mesmo aos nossos inimigos: nós os amamos por caridade, por causa de Deus, a quem se dirige principalmente nossa amizade de caridade’’. (TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. São Paulo: Loyola, 2001. II-II, 23, 1, ad 2). 
“Deste modo, a caridade, que é por excelência uma amizade honesta, estende-se até aos pecadores, que amamos, por causa de Deus”. (Idem, II-II, 23, 1, ad 3)
“Na nossa condição presente, esta sociedade é ainda imperfeita, pelo que diz o Apóstolo: ‘Nossa sociedade está nos céus’. Mas alcançará sua perfeição na pátria, quando ‘os servos de Deus lhe prestarão culto e verão sua face’, segundo o Apocalipse. Por esta razão a nossa caridade não é perfeita, mas o será no céu”. 
Idem, op. cit., II-II, 23, ad 1.
“A caridade é uma virtude teológica e sobrenatural; sem caridade não há virtude perfeita; por conseguinte não é possível uma vida moral perfeitamente virtuosa sem esta virtude sobrenatural nem sem a graça” 
GILSON, Etienne. El Tomismo: Introducción a La Filosofía de Santo Tomás de Aquino. Buenos Aires: Ediciones Desclée de Brouwer, 1951, p. 476.
Suma Teológica, Q. 62. As Virtudes Teologais
Art. 1. 
Se as virtudes teologais não são virtudes humanas, então não poderiam existir, para nós…
Se elas são quase divinas, também não existem em nós…
Se elas são aquilo pelo que nos ordenamos a Deus, são desnecessárias…
Solução: Eclesiastes, 2:8… 
As Escrituras são “Lei divina” e trazem como preceitos da lei a fé, a esperança e a caridade
Fé, esperança e caridade 
Virtudes teologais: o sobrenatural em nós
Virtudes teologais são sobrenaturais
A virtude aperfeiçoa e, assim, proporciona a felicidade.
A felicidade do homem, porém, é dupla:
Uma é Natural
A outra excede sua natureza
Para esta, o homem necessita de auxílio divino
Donde a necessidade de virtudes, não morais ou naturais, mas teologais
Aquilo que nos dá uma felicidade que excede a nossa própria natureza…
Participação no divino
Não virtudes exemplares, mas exempladas
Elas aquilo sem o que não podemos nos ordenar a Deus, embora tendamos naturalmente a ordenar-se a Deus…
Sim: justamente porque são o sobrenatural em nós, aquilo que nem a razão, nem a vontade, podem compreender
A caridade, claro. Pois é preciso considerar não apenas a “ordem da geração”, mas a “ordem da perfeição”
As virtudes teologais se distinguem das morais e intelectuais?
O que é mais primordial, a fé, a esperança ou a caridade?

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