Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ vol. 11 nº. 2 jan/jun 1999 45 FOL - Faculdade de Odontologia de Lins UNIMEP - Universidade Metodista de Piracicaba PROFILAXIA E OCORRÊNCIA DE ENDOCARDITE BACTERIANA POR PROCEDIMENTOS ODONTOLÓGICOS: UMA REVISTA DA LITERATURA PROPHYLAXIS AND OCCURRENCE OF BACTERIAL ENDOCARDITIS DUE TO DENTAL PROCEDURES. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ A REVIEW OF THE LITERATURE EDERALDO LUIZ VERONESE Acadênico do Curso de Odontologia da Unaerp FABIANO B.R. SILVA Cirurgião-dentista CINCINATO R. SILVA-NETTO Professor doutor de Fisiologia, FORP/USP e Unaerp RESUMO A endocardite bacteriana é ocasionada pela disseminação de bactérias na corrente circulatória que se alojam no endocárdio, membrana que reveste internamen- te o coração. Vários procedimentos odontológicos podem levar a uma endocardite, tais como: extração dental, raspagem radicular, implante dental, cirurgias ortognáticas, instrumentação endodôntica, apicectomia, colocação de tiras ou fibras de antibiótico no sulco, colocação de banda ortodôntica (mas não bracket), anestesia interligamentar, profilaxia com jato de bicarbonato onde haja sangramento gengival e outras manobras cruentas. A bacteremia causada por microrga- nismos encontrados na cavidade bucal é potencialmente letal às pessoas com problemas cardíacos. Assim, faz-se mister um tratamento profilático em indivíduos considerados de alto risco, isto é, cuja estória médica demonstra a existência de fatores predisponentes à endocardite. Atualmente, o antibiótico de eleição é a amoxicilina, ministrado 2 g em dose única, até uma hora antes do procedimento. Essa dose promove um adequado nível sangüíneo e causa menor efeito adverso gastrointestinal. Unitermos: endocardite bacteriana – tratamento profilático. INTRODUÇÃO A endocardite é uma das poucas complicações potencialmente letais do tratamento dental e, embora incomum, tem sido relatado um nível de mortalida- de de 20%.3;55 Isso torna a prevenção dessa enfermidade de interesse prepon- derante para o cirurgião-dentista.12 A bacteremia é um pré-requisito necessário na patogênese da endocardite e o Streptococcus oral é o agente etiológico mais comum dessa infecção.4;23 Alguns procedimentos clínicos, como a raspa- gem e pequenas cirurgias, são conheci- dos como causadores de significante bacteremia e origem da patologia infec- ciosa.3;41;42 Até 1982, existia muita confusão nas áreas médica e odontológica em relação ao tipo de antibiótico e o regime profilático usado em pacientes susceptíveis à infec- ção do endocárdio (tabela 1). Essa situa- ção foi esclarecida por meio de recomen- dações, originadas na reunião de trabalho convocada pela Sociedade Britânica de Quimioterapia Antimicrobiana,62 que têm sido revisadas quando novas práticas clí- nicas ou evidências experimentais são publicadas.63;64 Na prática, essas diretrizes são usadas na disputa legal para julgar negligência, quando procedimentos odontológicos são suspeitos de ser o fator desencadeante da endocardite. Também a Associação Americana do Coração pre- coniza a antibioticoterapia profilática na prevenção da endocardite.14;15;53 REVISTA DA LITERATURA 1. Fatores predisponentes - Desde a clássica descrição de Horder (1909)26 da endocardite infecciosa, o emprego de an- tibiótico e a substituição da válvula car- díaca têm transformado o então desen- ganado prognóstico. Por mais de 50 anos, médicos e dentistas têm acreditado que os procedimentos dental realizados em pacientes com enfermidade cardíaca reu- mática ou congênita são a causa mais comum de endocardite infecciosa (tabela 1). A bacteremia pode ser induzida por raspagem,35 gengivectomia, irrigação dental,7;29 escovação dos dentes e mesmo mastigação.13;20 Lewis & Grant34 sugeriram que uma bacteremia transitória poderia causar endocardite em pacientes com válvula cardíaca anormal, tendo Rushton50 descri- to a endocardite após extração dental. Okell & Elliot44 reportaram alta incidência de bacteremia estreptocócica após extra- ção dental. Burket & Burn9 confirmaram ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 46 vol. 11 nº. 2jan/jun1999 FOL - Faculdade de Odontologia de Lins UNIMEP - Universidade Metodista de Piracicaba TABELA 2 - Pacientes que desenvolveram endocardite* CAUSA PROCEDIMENTO REGISTRO PROVÁVEL ODONTOLÓGICO Estória Estória Dental Médica Nenhuma profilaxia Exodontia (21) Incompleta (43) Nenhuma (10) antibiótica (48) Endodontia (7) Completa (5) Incompleta (38) Raspagem (18) Cirurgia oral menor (2) Profilaxia antibiótica Exodontia (1) Completa (2) Completa (2) em tempo incorreto (2) Raspagem (1) Antibiótico Exodontia (1) Completa (2) Completa (1) impróprio (2) Raspagem (1) Incompleta (1) Falha profilaxia Raspagem (1) Completa (1) Completa(1) antibiótica (1) *Sumário de 53 pacientes; Martin et al. (1997)39. TABELA 1. Fatores predisponentes da endocardite*. Prótese valvular cardíaca Outras cirurgias cardíacas Infecções prévias do endocárdio Injeção de droga Diabetes Dependência alcoólica Imunossupressão Problemas renais *Dajani et al., (1997)16. essa afirmativa. Taran58 re- portou que quatro crianças, com cultura de sangue nega- tiva anterior à extração den- tal, faleceram, logo após, por endocardite estreptocócica. Cates & Christie10 em seus estudos de 442 casos, encon- traram como causas a extra- ção dental, a assepsia dental ou cárie. Em um estudo de 1.164 casos, foi observado que a via de entrada da bactéria estava relacionada a: extração dental (144), origem na boca (172), outras origens (por exemplo: amigda- lectomia, cirurgia retal ou prostática, cateterização: (130) e origem desco- nhecida (718).8;10;19;21;24;43;46;51;59 Entrando na circulação, por qualquer via, a bac- téria passa através do coração, possi- bilitando a infecção imediata do endocárdio57 (tabela 2). Bender & Pressman6 declararam que 50% de todos os casos de endocardite bacteriana podiam ter origem na manipu- lação gengival. Muitos dos microrganismos envolvidos na endocardite bacteriana1;48 seriam habitantes comuns do fluído gengival em pessoas com gengivite.36;38 Felix22 obser- vou que 50% de pacientes com periodontite generalizada desenvolveram bacteremia transitória após o uso de um aparelho para irrigação oral. Porém, foi relatada a presen- ça de periodontite, que, por si só, não causa bacteremia.32 Uma profilaxia dental ou uma mínima raspagem dental pode originar endocardite.5;42 Romans & App49 comprovaram a possibilidade, em havendo sangramento gengival, da endocardite ser provocada pelo simples uso de jato de água para higienização. Também fizeram referên- cia à crescente porcentagem de outros agentes etiológicos, como os estafilococcus e bastonetes gram positivos. Stephen et al.56 contra-indicaram essa técnica em pes- soas de alto risco. Pogrel & Welsby47 identificaram que, em 83 pacientes, so- mente 5% tinham tido extração dental anterior à endocardite; no entanto, 10% deles haviam tido problemas perio- dontal, periapical ou outras assepsia dental, que poderiam ter sido responsá- veis pela bacteremia. Welton et al.61 re- gistraram que, entre 117 pacientes, a periodontite foi significantemente mais comum entre aqueles que tiveram mais do que um ataque de endocardite. Cawsom12 relatou que de 6 a 10% dos casos de endocardite bacteriana eram devido a procedimentos odontológicos e que o pico de incidência atingia os pacientes na faixa etária entre 60 a 70 anos de idade. Bayliss et al.3 fizeram um levanta- mento por meio de questionário e con- Na circulação, por qualquer via, a bactéria passa através do coração, possibilitando a infecçãoimediata do endocárdio. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ vol. 11 nº. 2 jan/jun 1999 47 FOL - Faculdade de Odontologia de Lins UNIMEP - Universidade Metodista de Piracicaba TABELA 3. Agentes etiológicos mais freqüentes na endocardite. * streptococci 63% staphylococci 19% viridans 4% Culturas negativas 14% Obs.:19% dos quais por procedimentos odontológicos*Bayliss et al. (1983b)4 cluíram que o número de casos, por ano registrados, de endocardite não se alte- rou depois da descoberta da penicilina. Referiram-se ao Streptococcus viridans como o agente etiológico presente na cavidade bucal e sugeriram uma terapia profilática antes de extrações dentais (ta- bela 3). 2. Prevenção: profilaxia antibiótica –– Antes da terapia com a penicilina (1931 a 1944), cerca 1.000 casos de endocardites ocorriam a cada ano na Inglaterra. Mesmo com as práticas da antibioticoterapia profilática, a incidência de endocardite permaneceu quase a mesma.3 Indu- bitavelmente, o perfil da população de alto risco teve uma mudança, o que torna a comparação difícil em razão do aumen- to do número de pacientes com válvulas cardíacas. É claro que desse modo a profilaxia não tem tido um maior impacto em diminuir a ocorrência de endocardite.30 A maior razão da não efetividade profilática é a falta de reconhecimento ou a falta de presença da predisposição de lesões cardíacas em muitos pacientes de alto risco, e, provavelmente o mais impor- tante, o fato de que a bacteremia transi- tória ser comum no dia-a-dia.25;37;54 Relatos anteriores demonstraram que, em alguns casos, a endocardite ocorreu a despeito da profilaxia antibiótica.2;17;18;28 Assim, a eficá- cia protetora é incerta,27;60 no que concor- dam a American Heart Association31 e a Working Party of the British Society for Antimicrobial Chemotherapy62 (tabela 4). A eficácia da profilaxia antibiótica na infecção do endocárdio não foi pro- vada em humanos. É compreensível, eti- camente, o porquê de não se testar a eficácia do regime recomendado com a utilização de seres humanos para os experimentos. Como relatado anterior- mente, se não for recomendada a profilaxia ocorrerá algum malefício. No entanto, mesmo com a prescrição corre- ta de amoxicilina pode ocorrer endo- cardite, o que foi demonstrado em cri- anças.45 O’Sullivan et al. atenderam uma menina de 12 anos de idade para extra- ção dental, sob anestesia local, que apre- sentava um pequeno defeito septal ventricular, tendo prescrito 1 g de amoxi- cilina intravenosa anterior à indução anestésica e 500 mg oral, seis horas após a cirurgia. Decorrido uma semana, ela desenvolveu pirexia associada a letar- gia, cujo prolongamento do quadro e também a presença de severa regur- gitação aórtica originou a substituição da válvula aórtica. Os mesmos autores relataram que um garoto de cinco anos de idade com complexa enfermidade cardíaca congênita foi submetido a anestesia geral para extração dental. Ele recebeu, anteriormente ao procedimen- to, l,5 g de amoxicilina oral; a dose foi repetida uma hora após a intervenção. Assim mesmo desenvolveu pirexia e le- targia após oito semanas, porém não foi submetido à cirurgia, pois respondeu bem à infusão endovenosa de antibióti- co. A cultura sangüínea demonstrou no primeiro caso a presença de Streptococcus mitis e, no segundo, de Streptococcus sanguis. Em 1982, a Sociedade Britânica de Quimioterapia Antibiótica62 publicou em seus anais a recomendação para uso de 1 g de amoxicilina intramuscular e posterior administração, via oral, de 0,5 g do mesmo antibiótico nos casos de tratamento odontológicos em que o paciente de risco é submetido à anestesia geral. Cannon et al. (1984)11 propuseram uma dose profilática de 3 g de amoxi- cilina, via oral, quatro horas antes do procedimento odontológico e 3 g tão rápido quanto possível após a inter- venção. Shanson et al.52 sugeriram 3 g de amoxicilina, via oral, juntamente com probemicide 1 g via oral, quatro horas antes da intervenção. Kaye31 propôs mudanças na maneira de prescrever a antibioticoterapia profilática para pacientes de risco, passando a adminis- É compreensível, eticamente, o porquê de não se testar a eficácia do regime recomendado com a utilização de seres humanos para os experimentos. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 48 vol. 11 nº. 2jan/jun1999 FOL - Faculdade de Odontologia de Lins UNIMEP - Universidade Metodista de Piracicaba TABELA 4. Procedimentos dentais e antibioticoterapia profilática* RECOMENDADA NÃO RECOMENDADA Extração dental Anestesia local Periodontia Dentística restauradora (sondagem, raspagem, alisamento, cirurgias) Implante dental. Retirada de pontos pós-cirurgicos Instrumentação endodôntica Moldagem Cirurgias periapicais Colocação de próteses removíveis Colocação de bandas ortodônticas Aplicação de fluor Anestesia intraligamentar Raio X Profilaxia Colocação de borracha ortodôntica (quando há sangramento gengival) * Dajani et al. (1997)16 TABELA 5. Recomendação antibiótica para pacientes predisponentes à endocardite * ANTIBIÓTICO POSOLOGIA AUTORES ANO Amoxicilina 1g I.M. + 5g 6h depois BSAC 1982 Amoxicilina 3g 4h antes + 3g depois Cannon et al. 1984 Amoxicilina 3g 4h antes Shanon et al. 1984 Penicilina V 2g 1h antes + 1g 6h depois Kaye 1986 Amoxicilina 3g 1h antes + 5g 6h depois AHA 1990 Amoxicilina 3g 1h antes BSAC 1990 Amoxicilina 3g 1h antes + 1,5g 6h depois Dajani et al 1990 Amoxicilina 2g 1h antes Dajani et al. 1994 Para indivíduo alérgico ou incapaz de ingestão oral da droga. Eritromicina 1g 1 a 2h antes Dajani et al 1986 Clindamicina 600mg/ IV Dajani et al. 1997 Cefazolina 1mg/ IM Dajani et al. 1997 * Dajani et al. (1997)16 trar 3 g de amoxicilina uma hora antes do ato operatório, não mais 48 horas antes. Como margem de segurança, preconizou novas 3 g de amoxicilina seis horas depois. Ainda que a desinfecção da boca com anti-sépticos não seja considerada método profilático, ressal- tou o valor dessa prática que ajuda a dimi- nuir o risco de contaminação. Leviner et al.33 estudaram o desen- volvimento de resistência após o uso de antibióticos. Preconizaram que nessa si- tuação a terapia profilática não devesse ser interrompida, e, sim, reiniciada em intervalos menores de 10 dias, com acom- panhamento de antibiograma. Ainda não está claro na literatura se é necessário a prescrição de profilaxia antibiótica para pacientes de alto risco à endocardite se subme- tidos à terapia endodôntica. No entan- to, para esse procedimento há um extenso estudo anterior.40 A instru- mentação extra-canal, principalmente através do forame apical, seguramen- te pode causar bacteremia5 (tabela 5). Atualmente, a recomendação profi- lática para endocardite bacteriana é a prescrição de amoxicilina 2- g/oral, uma hora antes do procedimento den- tal16 (tabelas 4 e 5). Não está claro na literatura se é necessário a prescrição de profilaxia antibiótica para pacientes de alto risco à endocardite se submetidos à terapia endodôntica. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ vol. 11 nº. 2 jan/jun 1999 49 FOL - Faculdade de Odontologia de Lins UNIMEP - Universidade Metodista de Piracicaba CONCLUSÃO No passado, a extração dentária era o procedimento clínico mais comum em Odontologia, e nenhuma medida profilática era disponível para o tratamento dental de pacientes de risco. Dos relatos acima referidos fica cla- ro que a febre reumática era considera- velmente mais comum, tendo em vista que as bacteremiasnão eram tratadas nem prevenidas. Quando a endocardite infecciosa se desenvolvia, não havia tratamento espe- cífico ou efetivo. Hoje, além da preven- ção antibiótica, a válvula cardíaca pode ser substituída, através de ato cirúrgico, na tentativa de salvar a vida do paciente. Assim, é imperioso que seja realiza- da rigorosa história médica, não somente na descoberta das enfermidades atuais mas também pelo desenvolvimento da resistência a antibióticos. O cirurgião- dentista deve estar sempre atualizado em relação às mudanças na terapêutica profilática, em benefício da saúde de seu paciente. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. ANDERSON, W.D. Pathology, v. I, ed. 5, St. Louis, C. V. Mosby Co., 1968. 2. BARNES, C.G. & HURLEY, R. Antibiotic cover for dental extractions. Br Med. J., 2: 1.205, 1963. 3. BAYLISS, R.; CLARKE, C.; OAKLEY, C.M.; SOMERVILLE, W. & WHITFIELD, A.G.W. The teeth and infective endocarditis. Br Heart J. 50: 506-512, 1983a. 4. BAYLISS R.; CLARKE C.; OAKLEY C.M.; SOMERVILLE W.; WHITFIELD A.G.W. & YOUNG S.E.J. The microbiology and pathogenesis of infective endocarditis. Br Heart J., 50:513-519, 1983b. 5. BENDER, I.B. & BARKAN, M.J. Dental bacteremia and its relationship to bacterial endocarditis: preventive measures. Compendium, 10:472-482, 1989. 6. BENDER, I.B & PRESSMAN, R.S. Factors in dental bacteremia. J Amer Dent Assn., 32:836, 1945. 7. BERGER, S.A.; WEITZMAN, S.; EDBERG, S.C. & CASEY, J.I. Bacteremia after the use of and oral irrigation device. Ann Int Med., 80:510-511, 1974. 8. BLUMER, G. Subacute bacterial endocarditis. Medicine, 2:105-170, 1923. 9. BURKET, L.W. & BURN, C.G. Bacteremias following dental extraction. Demonstration of source of bacteremia by means of a nonpathogen (serratia marcescens). J Dent Res., 16:521-530, 1937. 10. CATES, J.E. & CHRISTIE, R.V. Subacute bacterial endocarditis: a review of 442 patients treated in 14 centres appointed by the Penicillin Trials Committee of the Medical Research Council. Q J Med., 20:93-130, 1951. 11. CANNON, P.D.; BLACK, H.J.; KITSON, K. & WARDS, C.S. Serum amoxycillin levels following oral loading doses prior to outpacients general anesthesia for dental extractions. J Antimicrob Chemoter., 13:285- 289, 1984. 12. CAWSON, R.A. Infective endocarditis as a complication of dental treatment. Br Dent J., 151:409-414, 1981. 13. COBE, H.M. Transitory bacteremia. Oral Surg., 7:609-615, 1954. 14. DAJANI, A.S.; BAWDON, R.E. & BERRY, M.C. Oral Amoxicillin as prophylaxis for endocarditis: What is the optimal dose? Clin Inf. Dis., 18:157-160, 1994. 15. DAJANI, A.S.; BISNO, A.L. & CHUNG, K.J.; Prevention of bacterial endocarditis: recommendations by the American Heart Association. Jama, 264: 2.919-2.922, 1990. 16. DAJANI, A.S.; TAUBERT, K.A.;WILSON, W.; BOLGER, A.F.; BAYER, A.; FERRIERI, P.; GEWITZ, M.H.; SULMAN, S.T.; NOURI, S.; NEWBERGER, J.W.; HUTTO C.; PALLASCH, T.J.; GAGE, T.W.; LEVISON, M.E.; PETER G. & ZUCCARO, G. Jr.; Prevention of bacterial endocarditis. Recommendations by the American Heart Association. Jama, 277: 1.794-1.801, 1997. 17. De SWIET, M.; De LOUVOIS, J. & HURLEY, R. Failure of cephalosporins to prevent endocarditis during labour. Lancet, 2:186, 1975. 18. DURACK, D.T. & LITTLER, W.A. Failure of “adequate”penicillin therapy to prevent bacterial endocarditis after tooth extraction. Lancet, 2:846-847, 1974. 19. ELLIOT, S.D.Bacteriaemia and oral sepsis. Proc Roy Med., 32:747-754, 1939. 20. EVERETT, E.D. & HIRSCHMANN, J.V. Transient bacteremia and endocarditis prophylaxis. A review. Medicine (Baltimore), 56:61-77, 1977. 21. FELDMAN, L. & TRACE, I.M. Subacute bacterial following the removal of teeth or tonsils. Ann Int Med., 11:2.124-2.132, 1938. 22. FELIX, J.E. Detection of transient bacteremia after the use of an oral irrigation device, Master’s Thesis, The Ohio State University, 1969. 23. FREEDMAN, L.R. The pathogenesis of infective endocarditis. J Antimicrob Chemothe., 20 (Suppl A):1-6, 1987. 24. GEIGER, A.J. Relation of fatal subacute bacterial endocarditis to tooth extraction. J Am Dental Assoc., 29:1.023-1.025, 1942. O cirurgião- dentista deve estar sempre atualizado em relação às mudanças na terapêutica profilática, em benefício da saúde de seu paciente. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 50 vol. 11 nº. 2jan/jun1999 FOL - Faculdade de Odontologia de Lins UNIMEP - Universidade Metodista de Piracicaba 25. GUNTHEROTH, W.G. How important are dental procedures as a cause of infective endocarditis? Am J Cardiol., 54:797-801, 1984. 26. HORDER, T.J. Infective endocarditis with an analysis of 150 cases with special reference to the chronic form of the disease. Q J Med., 2:289-324, 1909. 27. IMPERIALE, T.F. & HOREWITZ, R.I. Does prophylaxis prevent post dental infective endocarditis? A controlled evaluation of protective efficacy. Am J. Med., 88: 131-135, 1990. 28. JOHNSON, D.H.; ROSENTHAL, A. & NADAS, A.D. A forty-year review of bacterial endocarditis in infancy and childhood. Circulation, 51:581-588, 1975. 29. KAPLAN, E.L. & ANDERSON, R.C. Infective endocarditis after use of dental irrigation device.[Letter]. Lancet, ii: 610, 1977. 30. KAYE, D. Changing pattern of infective endocarditis. Am J Med., 78 (6B):157-162, 1985. 31.___________. Prophylaxis of infective endocarditis: an update. Ann Int Med., 104:419-423, 1986. 32. KHAIRAT, O. The non-aerobis of post extraction bacteremia. J Dent Res., 45:1191, 1966. 33. LEVINER, E.; TZUKERT, A.A.; BENOLIEL, R.; BARAM, O. & SELA, M.N. Development of resistent oral viridans strepcocci after administration of prophylactic antbiotics: Time management in the dental treatment of patients susceptible to infective endocarditis. Oral Surg. Oral Med, Oral Pathol., 64:417-420, 1987. 34. LEWIS, T. & GRANT, R.T. Observations relating to subacute infective endocarditis. Heart, 10:21-99, 1923. 35. LINEBERGER, L.T. & De MARCO, T.J. Evaluation of transient bacteremia following routine periodontal procedures. J Periodontol., 44:757-762, 1973. 36. LOE, H.; THEILADE, E. & JENSEN, S. Ex- perimental gingivitis in man. J Periodont., 36:177, 1965. 37. LOWY, F. & STEIGBIGEL, N.G. Infective endocarditis: Part III. Prevention of bacterial endocarditis. Am Heart J., 96:689-695, 1978. 38. MANDEL, I. Dental plaque: nature, formation and effects. J Periodont., 37:357, 1966. 39. MARTIN, M.V.; BUTTERWORTH, M.L. & LONGMAN, L.P. Infective endocarditis and the dental practitioner: a review of 53 cases involving litigation. Br Dent J., 182:465-468, 1997. 40. McGOWAN, D.A. Endodontics and infective endocarditis. Int Endod J. 15:127-131, 1982. 41. ___________. A dental view of controversies in the prophylaxis of infective endocarditis. J Antimicrob Chemother., 20 (Suppl A):105- 109, 1987. 42. McGOWAN, D.A. Dentistry and Endocarditis. Br Dent J., 169:169, 1990. 43. MIDDLETON, W.S. & BURKE, M. Streptococcus viridans endocarditis lenta. Am J Med Sci., 198:301-323, 1939. 44. OKELL, C.C. & ELLIOTT, S.D. Bacteremia and oral sepsis with special reference to the aetiology of subacute endocarditis. Lancet, ii: 869-872, 1935. 45. O’SULLIVAN, J.; ANDERSON, J. & BAIN, H. Infective endocarditis in children following dental extraction and appropriate antibiotic prophylaxis. Br Dent J., 181:64-65, 1996. 46. PANKEY, G.A. Subacute bacterial endocarditis at the University of Minnesota Hospital, 1939 through 1959. Ann Intern Med., 55:550-561, 1961. 47. POGREL, M.A. & WELSBY, P.D. The dentist and prevention of infective endocarditis. Quart J Med., 46:12-16, 1975. 48. ROBBINS, S.L. Pathology, ed. 3. Philadelphia, W.B. Saunders Co., 1967. 49. ROMANS, A.R. & APP, G.R. Bacteremia, a result from oral irrigation in subjects with Gingivitis. J. Periodontol., 42:757-760, 1971. 50. RUSHTON, M.A. Subacute bacterial- endocarditis following the extraction of teeth. Guy’s Hospital Reports, 80:39-44,1930. 51. SEABURY, J.G. Subacute bacterial endocarditis. Arch Intern Med., 79:1-21, 1947. 52. SHANSON, D.C.; McNABB, W.R. & HAJIPIERIS, P. The effect of probemicid on serum amoxycilin: possible implications for preventing endocarditis. J Antimicrob Chemoter., 13:629-632, 1984. 53. SHULMAN, S.T.; AMREN, D.P. & BISNO, A.L. Prevention of bacterial endocarditis. Circulation, 70:1.123A-1.127-A, 1984. 54. SIPES, J.N.; THOMPSON, R.L. & HOOK, E.W. Prophylaxis of infective endocarditis: a reavaluation. Annu Rev Med. 28:371-391, 1977. 55. SKEHAN J.D., MURRAY, M. & MILLS, P.G. Infective endocarditis - incidence and mortality in the North East Thames Region. Br Heart J., 59:62-68, 1988. 56. STEPHEN, A.B.; STEPHEN, W.; STEPHEN, E. & JOAN, I.C. Bacteremia after the use of oral irrigation device. Annal of Internal Medicine, 80:510-511, 1974. 57. STARKEBAU, M.; DURACK, D. & BEESON, P. The “incubation period”of subacute bacterial endocarditis. Yale J Biol Med., 50:49- 58, 1977. 58. TARAN, L.M. Rheumatic fever in its relation to dental disease. NY J Dent., 14:107-113, 1944. 59. UWAYDAH, M.M. & WEINBERG, A.N. Bacterial endocarditis - a changing pattern. N Engl J Med., 273:1.231-1.235, 1965. 60. VAN der MEER, J.; VANWIJK, W. & THOMPSON, J. Efficacy of antibiotic ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ vol. 11 nº. 2 jan/jun 1999 51 FOL - Faculdade de Odontologia de Lins UNIMEP - Universidade Metodista de Piracicaba SUMMARY Bacterial endocarditis (BE) is caused by the dissemination of bacteria in the blood stream that subsequently lodge in endocardium, the membrane that lines the heart internally. Some dental procedures that may lead to BE are: tooth extraction, root planning, tooth implants, orthognathic surgery, root canal instrumentation, apicectomy, placement of antibiotic strips or fibers in the gingival sulcus, placement of orthodontics bands (not including brackets), intraligamental anesthesia and dental prophylaxis in the presence of bleeding. The bacteraemia caused by the micoorganisms detected in the oral cavity are potentially lethal for people with some heart conditions. Thus, prophylactic treatment is necessary for high risk individuals, i.e., those whose medical history demonstrates the existence of predisposing factors to EB. Current main recommendations include as first choice the use of amoxicillin, which is administered in a single dose of 2g up to one hour before the procedure. This dose promotes an adequate blood level of the drug and has fewer gastrointestinal adverse effects. Uniterms: bacterial endocarditis – prophylatic treatment. prophylaxis for prevention of native valve endocarditis. Lancet, 339:135-139, 1992. 61. WELTON, D.E., YOUNG, J.B., GENTRY, W.O., RAIZNER, A.E., ALEXANDER, J.K., CHAHINE, R.A. & MILLER, R.R. Recurrent infective endocarditis analysis of predisposing factors and clinical features. Amer J Med., 66:932-938, 1979. 62. Working Party of the British Society for Antimicrobial Chemotherapy. The antibiotic prophylaxis of infective endocarditis. Lancet, ii: 1.323-1.326, 1982. 63. Working Party of the British Society for Antimicrobial Chemotherapy. Antibiotic prophylaxis of infective endocarditis. Lancet, i: 88-89, 1990. 64. Working Party of the British Society for Antimicrobial Chemotherapy. Antibiotic prophylaxis of infective endocarditis. Lancet 339:1.292-1.293, 1992.
Compartilhar