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PEUCER, Tobias. Os relatos jornalísticos

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13
Os Relatos jornalísticos
Tobias Peucer
O texto traz a íntegra da primeira tese sobre jornalis-
mo apresentada em uma universidade: De relationi-
bus novellis, de Tobias Peucer, defendida em 1690 na 
Universidade de Leipzig, na Alemanha. A tese é com-
posta por 29 parágrafos que traçam uma comparação 
entre o Jornalismo e a História. Analisa os tipos de 
relatos utilizados pela cultura ocidental desde a anti-
guidade, identificando o jornalismo com a perspectiva 
do singular. Discute a questão da autoria, da noticia-
bilidade , da verdade e da credibilidade; propõe crité-
rios de seleção e restrições ao que deve ser publicado; 
discute a forma e o estilo dos periódicos. Na presente 
versão, a tese é acompanhada por um preâmbulo do 
tradutor brasileiro Paulo da Rocha Dias.
 Relatos Jornalísticos , Tobias Peucer, Teoria do Jornalismo , 
História
Palavras - chave 
Resumo
Tradução de Paulo da Rocha Dias*
Abstract
This manuscript is a broad version of the first doctoral 
dissertation presented at college level: De relationibus 
novellis by Tobias Peucer defended in 1690 at Leipzig 
University, in Germany. It consists of 29 paragraphs 
that outline a comparison between Journalism and 
History. It analyzes types of accounts employed by 
Western culture since ancient times, identifying jour-
nalism from a singular perspective. Peucer discusses 
authorship, news values, truth and credibility. He 
offers criteria for news selection and restrictions, for-
mat and style. This version includes a foreword by the 
Brazilian translator Paulo da Rocha Dias.
Key Words: 
Journalistic Accounts, Tobias Peucer, Journalism Theory, His-
tory
14
Estudos em Jornalismo e Mídia, 
Vol. I Nº 2 - 2º Semestre de 2004 
Preâmbulo do Tradutor
Tobias Peucer faz parte de um grupo 
que, na primeira metade do século XVII, 
começara a pesquisar e a publicar os re-
sultados de suas investigações nas univer-
sidades alemãs. Este fato coloca a Alema-
nha no ponto inicial de uma rica tradição 
de pesquisa em jornalismo, continuada no 
presente século por pesquisadores insignes 
como Otto Groth e Max Weber. Confirma 
também a “Periodistika” como o primeiro 
e mais antigo ramo das Ciências da Comu-
nicação e da Informação. É na Alemanha, 
e justamente em Leipzig, que surgiu o pri-
meiro diário da história da imprensa, a 
Leipziger Zeitung.
A versão em língua portuguesa da tese 
de Peucer que ora apresentamos* tem como 
base a tradução para o Catalão feita por 
Josep Maria Casasús, presidente da Socie-
tat Catalana de Comunicació. Casasús, por 
sua vez, fez uso do texto original em Latim 
e da versão do mesmo em alemão1. 
Cabe dizer aqui que esta tradução é o 
resultado de um desafio lançado por José 
Marques de Melo. Há muito que, ao se es-
tudar a Zeitungswiessenschaft nos cursos 
de pós-graduação em Comu-nicação, fazia-
se apenas referências à pesquisa de Tobias 
Peucer ou se passava a conhecê-la por meio 
de fontes indiretas. É, portanto, útil e opor-
tuno publicar esta versão em Português, não 
só por ser um meio de conhecer diretamente 
o trabalho de Peucer, mas também pela atu-
alidade perene desta investigação realizada 
há mais de três séculos.
Aqueles que têm familiaridade com a pes-
quisa em jornalismo, irão perceber que a 
maioria dos temas hoje sistematizados e aos 
quais se recorre permanentemente quando 
se faz pesquisa nesta área, foram então ob-
servados e investigados de forma científica 
por Tobias Peucer. O trabalho pioneiro des-
se alemão de Görlitz deu início, em 1690, na 
cidade de Leipzig, ao conhecimento acumu-
lado e sistemático de uma ciência que hoje 
se encontra em fase de amadurecimento e 
autonomia. 
A leitura dessa tese leva-nos às origens 
das teorias de jornalismo hoje em voga nos 
centros de estudos avançados de Comunica-
ção. Ler esses vinte e nove parágrafos será 
uma busca das origens do pensamento mo-
derno em Comunicação.
Com a permissão benévola de Deus.
De relationibus novellis
§ I. Atesto que não há nada que satisfa-
ça tanto a alma humana como a história, 
1 Fontes usadas para a tradução: 
original em latim – PEUCER, To-
bias. De relationibus novellis. In: 
KURTH, Karl (org.). Die ältesten 
Schriften für und wider die Zei-
tung. Brünn: Rudolf M. Rohrer 
Verlag, 1944. p. 163-184; edição 
catalã – CASASÚS GURI, Josep 
María. Sobre els relats periodistics. 
Periodística. Barcelona: Societat 
Catalana de Comunicació, n. 3, p. 
31-47, 1990.Paulo da Rocha Dias
*Este trabalho foi originalmente 
publicado na revista Comunicação & 
Sociedade, do Programa de Pós-Gra-
duação em Comunicação Social da 
Universidade Metodista de São Paulo 
– n. 33, p. 199-216, 1o. sem. 2000. Sua 
reprodução em Estudos em Jornalis-
mo e Mídia foi autorizada pelos edito-
res e pelo tradutor.
15
seja qual for a maneira como tenha sido 
escrita. Pode ser que não oferecerei ao 
leitor uma obra ingrata se elaboro um co-
mentário sobre as publicações de notícias 
(novellae) das quais há hoje uma grande 
abundância.
§ II. Quanto ao termo em si, é sabido por 
todos que novellae tem a mesma acepção 
de Novos Periódicos (Neue Zeitungen); 
porém, este significado não se encontra 
entre os escritores latinos clássicos. Com 
efeito, Charles du Fresne, em seu Glos-
sarium ad scriptores mediae et infimae 
latinitatis, observa que nas glosas manus-
critas dos códex dos Concílios, a palavra 
novellae, por si só, significa “nova comu-
nicação”, cita aí um exemplo do códex que 
se encontra na biblioteca real: “Eodem 
tempore, cum multi novellis gauderent 
quod Constantinus baptizatus a Silvestro 
Episcopo urbis Romae, emundatus fuisset 
a lepra etc.”2
Depois, porém, os monges passaram a 
empregar o termo “notícia”. Isto se pode 
inferir do manuscrito, em verso, sobre 
a vida de Saint Mur: “Est pater in cella, 
cum nascitur ista novella.”3
Daí a palavra nouvelle de uso corrente 
entre os franceses. Antonius Augustinus 
nota que com esta palavra os imperadores 
designavam as disposições mais recentes. 
Nós, por proporcionar mais clareza, empre-
garemos a palavra “relatos” (relationes).
§ III. Porém, como consta nos critérios do 
meu projeto, em primeiro lugar gostaria de 
dizer algumas coisas sobre as diversas for-
mas da história. Uma dessas formas se or-
dena como um fio contínuo, conservando a 
sucessão precisa dos fatos históricos. Esta 
forma é denominada universal, particular ou 
singular. Uma outra, em troca, discorre e re-
senha em uma determinada ordem os fatos 
ou as palavras escolhidas e dignas de serem 
contadas que se extraiu separadamente da 
narração contínua dos fatos históricos. Isto 
se faz na medida em que cada coisa vai se 
apresentando. Parece pertencer a esta for-
ma da história as “coisas esparsas” (tá spo-
ráden) de Aristógenes; igualmente as histó-
rias sem ordem de Pescenni Fest, das quais 
relembra Lactâncio, Livro I, De fals. relig., c. 
XXI e de outros. Segundo Voss, De art. hist., 
c. VII. Uma outra forma, finalmente, é a 
confusa. Os gregos chamam-na “miscelânea 
(symmictica), ou seja, “história variada” ou 
“multiforme” (poikíle radena pantodapé his-
toría): dado que não há também nesta forma 
ne-nhum critério de ordem, é chamada tam-
bém de “coisas desordenadas” (átacta). Foi 
desta forma que escreveu Aristóteles a sua 
obra, segundo o testemunho de Laercio, li-
vro V, p. 317.
2Ao mesmo tempo, muitos se alegra-
vam com a “nova comunicação” de que 
Constantino, batizado por Silvestre, 
bispo da cidade de Roma, havia sido 
purificado da lepra etc. 
3 O padre estava na cela quando 
surgiu aquela notícia.
16
Estudos em Jornalismo e Mídia, 
Vol. I Nº 2 - 2º Semestre de 2004 
§ IV. Esta última classe ou tipo de rela-
tiones são relatos periodísticos (Relationes 
novellae) que contêm a no-tificação de coi-
sasdiversas acontecidas recentemente em 
qualquer lugar que seja. Estes relatos, com 
efeito, têm mais em conta a sucessão exa-
ta dos fatos que estão interrelacionados e 
suas causas, limitando-se somente a uma 
simples exposição, unicamente a bem do 
re-conhecimento dos fatos históricos mais 
importantes, ou até mesmo misturam coi-
sas de temas diferentes, como acon-tece 
na vida diária ou como são propa-gadas 
pela voz pública, para que o leitor curioso 
se sinta atraído pela variedade de caráter 
ameno e preste atenção.
§ V. Agora cabe expor mais exten-samen-
te suas origens e as causas de sua compo-
sição, para que sejam mais ple-namente 
conhecidas sua estrutura e sua utilidade 
na vida literária e cívica.
§ VI. No que se refere à origem desses 
relatos, não é possível assinalar um ano 
determinado e é difícil afirmar quando, 
por primeira vez, surgiu esta maneira de 
escrever este tipo de notícias e de relatos, 
digamos, precipitados. Antigamente, en-
tre os gregos, antes da guerra de Tróia, de 
acordo com o que diz Diodor de Sicília no 
início de sua Bibliotheca historica, não era 
dada nenhuma atenção à história. Muito 
pelo contrário, antes das Olimpíadas, tudo 
restava desconhecido e envolto em faltas. 
Segundo Censori, De die natali, c.XXI. Tam-
bém entre os romanos, nos primeiros séculos 
depois da fundação da cidade, a literatura 
foi muito rara. Tampouco aqui (na Alema-
nha) havia sequer pessoas que pusessem 
por escrito a memória dos acontecimentos. 
Pode ser exceção aquilo que era registrado 
nos comentários dos pontífices e em outros 
documentos públicos e privados (veja Livi, 
livro VI). Esta negligência dos antigos foi 
compensada depois por escritores insignes, 
tanto gregos como latinos, que, de uma só 
vez, estabeleceram as bases dos comentários 
da história escrita. Entre os alemães, antes 
dos tempos de Carlos Magno, não creio que 
seja possível demonstrar com nenhum tipo 
de documentos exatos que se tenha cultivado 
o estudo da história. Porém, quando Carlos 
Magno estendeu seu poder sobre os afazeres 
da Alemanha, teve início o ensino da histó-
ria, assim como as outras artes, sobretudo 
por parte dos monges, que, apesar das difi-
culdades da época, deixaram por primeira 
vez uma relação dos fatos históricos em uma 
crônica. Do mesmo modo, quando no início 
do século passado começou a brilhar a luz da 
literatura, homens sérios e doutos se aplica-
ram novamente com muita assiduidade à ta-
refa de estabelecer as bases da história. Com 
No que se 
refere à origem 
desses relatos, 
não é possível 
assinalar um ano 
determinado e 
é difícil afirmar 
quando, por 
primeira vez, surgiu 
esta maneira de 
escrever este tipo 
de notícias (...)
17
isso a sua glória atingiu um tipo de ressur-
gimento de maneira que muitos se dedi-
caram a escrever história. Depois, alguns 
não mais instruídos, querendo imitá-los, 
recopilaram uns relatos grotescos sobre fa-
tos acontecidos recentemente aqui e acolá, 
obras precipitadas extraídas dos escritos 
dos palácios, dos mercadores, ou da boato 
público de sorte que favoreciam a curiosi-
dade do povo, geralmente inclinada, ao co-
nhecimento das coisas novas.
§ VII. Desde então, os itálicos e os gaule-
ses, e depois os belgas e os germânicos, de-
vido às guerras que então promoviam com 
sortes variáveis, parece que afeiçoaram-se 
rapidamente a este gênero funcional de es-
crita. Em primeiro lugar porque de forma 
inesperada serão instituídos os correios 
públicos e postais, como são denominados, 
e assim se podia conhecer com facilidade o 
que sucedeu em lugares distantes. Os cor-
reios haviam sido instituídos por Augusto 
pela primeira vez no império romano, se-
gundo Suetônio, Augustus, c. 49. Os cor-
reios serão ordenados mais adequadamen-
te no império por Carlos V. Na Gália, Luis 
XI irá instituir os correios a fim de saber 
com mais rapidez e conhecer mais facil-
mente o que se passava em qualquer que 
fosse das províncias de seu império. Limn. 
jur. Publ., livro II, c. IX, n. 135. Finalmen-
te, por obra de Gotard Arthusius, de Gdansk, 
no ano de 1609, apareceram os mercúrios 
franco-belgas, que, apesar de anunciar fábu-
las falsas junto com histórias verdadeiras, 
conseguiram a graça da curiosa novidade 
encontrar credibilidade aos olhos de muitos 
de maneira in-discriminada. Porque, como 
diz Lucrécio, livro IV, “toda a linhagem hu-
mana está ex-cessivamente ávida de cativar 
os ouvidos.” E, tal como disse Sêneca no livro 
VII, c. 16 das Naturales questiones, “alguns 
são crédulos, outros descuidados. Outros são 
enganados de boa fé pela mentira. Outros se 
deixam seduzir por ela. Uns não a evitam, 
outros a procuram. Toda esta raça tem em 
comum o defeito de crer que a sua obra não 
se fará aceitar nem se tornará popular se 
não for misturada com fábulas”.
§ VIII. Assim então, as causas da aparição 
dos periódicos impressos com tempestiva fre-
qüência hoje em dia, são em parte a curiosi-
dade humana e em parte a busca de lucro, 
tanto da parte dos que confeccionam os pe-
riódicos, como da parte daqueles que os co-
merciam, vendem. Assim se poderia demons-
trar com exemplos óbvios a cada passo, mas 
pareceria tedioso entreter-se exten-samente 
em uma coisa conhecida, e po-deria afinal 
ser enfadonho para alguns.
§ IX. Cabe-nos então avançar pri-meira-
mente às causas pelas quais se compõem tais 
Devido às guerras, 
itálicos e gauleses 
afeiçoaram-se 
a esse gênero 
funcional de escrita. 
Logo surgiram os 
correios, e assim se 
podia conhecer com 
facilidade o que 
sucedia em lugares 
distantes.
18
Estudos em Jornalismo e Mídia, 
Vol. I Nº 2 - 2º Semestre de 2004 
relatos; em primeiro lugar cabe tratar dos 
autores (que na escola é denominado “cau-
sa eficiente”). Se alguém espera encontrar 
nestas umas notícias (novellae) verdadei-
ras e úteis (empre-garemos por enquanto o 
termo novellae em sentido comum, vulgar), 
são ne-cessárias diversas coisas. Indicare-
mos as qualidades do bom historiador; em 
parte cabe relacioná-las com o intelecto e 
em parte com a vontade.
§ X. Cabe ao intelecto o conhecimento 
das coisas que serão registradas nos rela-
tos públicos. Estas são obtidas por inspeção 
própria (autopsia) quando o sujeito é espec-
tador (autóptes) dos acon-tecimentos, ou 
por transmissão, quando uns explicam aos 
outros os fatos que presenciaram. E nisso 
qualquer pessoa concordará sem nenhum 
problema que é merecedor de mais credi-
bilidade o tes-temunho “presencial” (autóp-
tes) que o receptor de uma transmissão de 
outro. Assim como nos julgamentos costu-
ma-se dar mais crédito a um testemunho 
ocular que a um testemunho de ouvidos, 
assim também se dá mais crédito ao narra-
dor “presencial” (autóptes) que a quem cuja 
narrativa foi extraída de outro. Pode ser 
também por esta causa que Verri Flac, no 
livro De verborum significatione, citado por 
Gelli, livro V, c. 18, pretende que a história 
propriamente seja a narração daquelas coi-
sas de que o indivíduo tenha sido especta-
dor (autóptes). Porém, Voss, De art. hist., c. 
1, observa com acerto que assim a história é 
tomada em um sentido mais estrito.
§ XI. Depois, na confecção deste tipo/clas-
se de relatos, faz falta o juízo, a mais exímia 
qualidade do intelecto, para que, por meio 
dele, as coisas dignas de crédito sejam sepa-
radas dos rumores infundados que se fazem 
correr; as leves suspeitas e as coisas e ações 
diárias sejam separadas das coisas públicas 
e daquelas que merecem ser contadas. Este 
juízo faltou em outros tempos sobretudo aos 
monges, assim como a muitos escritores, ou 
seja, aos autores das crônicas, e também fal-
ta freqüentemente aos redatores de pe-riódi-
cos quando procuram falar de ba-nalidades 
(micrología) e minúcias (tá lepta) e omitem o 
que seria útil e fácil de ler, envernizamcom 
documentos o que ouviram dizer por outros 
e, por fim, quando não têm coisas exatas, fa-
zem passar por história as suspeitas e con-
jecturas dos outros. Muitas coisas desse qui-
late chegam do estrangeiro.
§ XII. Sobre este defeito, comum nos his-
toriadores, advertiu em outros tempos Lú-
cia na obra De hist. scrib.: “há muitos que 
deixam de lado os fatos históricos maiores e 
mais dignos de ser contados, ou a eles se re-
ferem apenas super-ficialmente; isto aconte-
ce por falta de instrução ou de critérios e por 
ignorância em relação ao que cabe dizer ou 
As causas da 
aparição dos 
periódicos 
impressos (...) 
são em parte a 
curiosidade humana 
e em parte a busca 
de lucro, tanto 
da parte dos que 
confeccionam os 
periódicos, como 
da parte daqueles 
que os comerciam, 
vendem.
19
silenciar, inquirem sobre as coisas mais in-
significantes, detendo-se nelas de ma-neira 
extremamente prolixa e laboriosa. Como se 
um não visse nem ouvisse toda a beleza de 
Júpiter d’Olímpia, que é tão grande e tão 
excelsa, e não explica nada aos que a des-
conhecem, enquanto ad-miram em troca a 
retidão e polidez do pedestal e a harmonia 
da sandália (explica detalhadamente estas 
coisas com grande paixão)”. E depois ilus-
tra esta sentença com um duplo sentido, 
um extraído dos jardins e outro dos convi-
tes. Diz-se que é bem simples se um, dei-
xando de lado a rosa, se aplica mais prota-
mente a con-templar com acurácia os espi-
nhos que surgissem perto da raiz ou se em 
um jantar muito suntuoso, alguém achasse 
conveniente colocar juntos um peixe vulgar 
e um prato de carne. Quando se está mais 
pronto para não fazer nenhuma das duas 
coisas.
§ XIII. Relaciono com a vontade do escri-
tor de periódicos a credibilidade e o amor à 
verdade: não seja o caso que, preso por um 
afã partidário, misture ali te-merariamen-
te alguma coisa de falso ou escreva coisas 
insuficientemente explo-radas sobre temas 
de grande importância. “Já que, quem ig-
nora, diria Cícero, livro II De oratore, que 
a primeira lei da história é que não se 
ouse dizer nada de falso; depois, que não 
lhe falte coragem para dizer o que seja ver-
dade, que não tenha nenhuma suspeita de 
parcialidade nem aversão alguma em escre-
ver? É manifesto que estes fundamentos são 
conhecidos de todos.” E Estrabó, no livro XII 
da sua Geogr. Considera uma invenção o que 
se explica sobre as Amazonas, acrescenta: 
“A história quer o que é vero, seja antigo ou 
novo; E o que é insólito, ou não se narra ou o 
faz muito raramente.” Por isso, Polibi, um es-
critor muito rigoroso da antigüidade, quando 
decidiu escrever sobre as gestas de Escipio 
da Espanha, foi até àqueles países distantes 
para que nada de falso borrasse a sua histó-
ria. Cícero, no livro I De Legibus, afirma que 
falta esta laboriosidade em Heródoto e em 
Teopomp. Quintiliano, no livro II, De insti-
tutione oratoria, c.11, parece negar a credi-
bilidade aos gregos quando es-creveu que os 
gregos normalmente usam para a história as 
mesmas licenças que usam para a poética.
§ XIV. É certo que sob este aspecto se pode 
pensar que os compiladores de notícias têm 
maior licença que os his-toriadores mais ri-
gorosos, quando eles mesmos não intervêm 
nos fatos nem podem obter facilmente do-
cumentos fide-dignos de países distantes ou 
dos arqui-vos dos príncipes, e a maioria das 
coisas, muitas delas incertas, são recolhidas 
de cartas de amigos ou da voz pública; E, en-
quanto isso alimentam a curiosidade huma-
Relaciono com a 
vontade do escritor 
de periódicos a 
credibilidade e o 
amor à verdade: 
não seja o caso que, 
preso por um afã 
partidário, misture 
ali (...) alguma 
coisa de falso ou 
escreva coisas 
insuficientemente 
exploradas sobre 
temas de grande 
importância.
20
Estudos em Jornalismo e Mídia, 
Vol. I Nº 2 - 2º Semestre de 2004 
na com alguns relatos. Da mesma forma, 
não se pode mentir nem dizer coisas falsas 
de sorte que o outro forme uma opinião 
falsa ou seja enganado, em tais casos, o 
autor trabalhará mais reta-mente, absten-
do-se em transmitir coisas abertamente 
falsas ou se, em caso sejam incertas, ajun-
te a elas aquela precaução que Sêneca ofe-
receu no livro IV das Naturales questio-
nes: “Caberá confiar nos autores”. Seguir 
uma opinião incerta e enganar os leitores 
em coisas de relativa importância é muito 
temerário. O que ca-be atribuir aos rumo-
res e à fama pública pode ser compreendi-
do pelas palavras dirigidas por Alexandre 
Magno aos soldados, no livro IX de Curci: 
“Não é nenhuma novidade para vocês os 
exageros dos mentirosos. A fama jamais 
deixa alguma coisa ser transparente. Tudo 
o que ela nos traz é maior que a verdade. 
A nossa própria glória, sólida como é, é 
ainda maior pelo nome que pelas nossas 
obras.” E por isso é preciso averiguar se 
quando um fato acontecido recentemen-
te é anunciado imediatamente em locais 
diversos, é confirmado pelo testemunho 
de muitos. Quando estes não concordam, 
conferem uma credibilidade provável às 
coisas narradas, de sorte que afinal ao 
mais sério, pode suceder-lhe que algumas 
vezes se lhe misture coisas falsas com coi-
sas verdadeiras sem culpa sua. Com efeito, 
Flávio Vopisc, em seu Aurelianus não se ru-
boriza em confessar que ele mesmo havia 
dito Juni Tiberiá que não havia historiador 
algum que, pelo que faz à história, não men-
tisse em alguma coisa; havia deixado claro 
afinal que alguns pontos eram refutados por 
testemunhos manifestos de Lívio, Salustia-
no, Cornélio Tácito e Trogus.
§ XV. Feitas estas observações, quanto ao 
autor, podemos nos ocupar agora da maté-
ria dos periódicos. Esta (como a da história 
escrita), são as coisas singulares, fatos rea-
lizados ou por Deus através da natureza, ou 
pelos anjos, ou pelos ho-mens na sociedade 
civil ou na Igreja. Pois bem, como estes fatos 
são quase infinitos, cabe estabelecer uma se-
leção de modo que seja dado preferência aos 
axiomnemóneuta, ou seja, àqueles que mere-
cem ser recordados ou conhecidos. São desta 
natureza, em primeiro lugar, os prodígios, 
as monstruosidades, as obras ou os feitos 
maravilhosos e insólitos da natureza ou da 
arte, as inundações ou as tempestades hor-
rendas, os terremotos, os fenômenos desco-
bertos ou detectados ultimamente, fatos que 
têm sido mais abundantes que nunca nes-
te século. Depois, as diferentes formas dos 
im-périos, as mudanças, os movimentos, os 
afazeres da guerra e da paz, as causas das 
guerras, os planos, as batalhas, as derrotas, 
(...) Polibi, um 
escritor muito 
rigoroso da 
antigüidade, quando 
decidiu escrever 
sobre as gestas de 
Escipio da Espanha, 
foi até àqueles 
países distantes 
para que nada de 
falso borrasse a sua 
história.
21
as estratégias, as novas leis, os julgamen-
tos, os cargos políticos, os digna-tários, os 
nascimentos e mortes dos prín-cipes, as 
sucessões em um reino, as inau-gurações 
e cerimônias públicas que pa-recem se 
instituir novamente ou que pare-cem mu-
dar ou que são abolidas, o óbito de varões 
ilustres, o fim de pessoas ímpias, e outras 
coisas. Finalmente os temas eclesiásticos e 
literários: como a origem desta ou daque-
la religião, seus autores, seus progressos, 
as novas seitas, os pre-ceitos doutrinais, os 
ritos, os cismas, a perseguição que sofrem, 
os sínodos cele-brados por motivos religio-
sos, os decretos, os escritos mais notáveis 
dos sábios e doutos, as disputas literárias, 
as obras novas dos homens eruditos, as 
instituições, as desgraças, as mortes e cen-
tenas de coisas mais que façam referência 
à história natural, à história da sociedade, 
da Igreja ou da literatura: tudo isto cos-
tuma ser narrado de forma embaralhada 
nos periódicos, como uma história confusa, 
para que a alma do leitor receba o impacto 
de uma amena variedade.§ XVI. Aqui, porém, ao escolher a maté-
ria digna dos novos relatos jornalísticos, 
cabe algumas precauções que a prudência 
comum sugere. A primeira é esta: que aí 
não se ponha coisas de pouco peso ou as 
ações diárias dos homens; ou as desgraças 
humanas, das quais há uma fecunda abun-
dância na vida comum. Tais podem ser as 
tempestades que acontecem regularmente 
de acordo com a diversidade de estações e 
clima; os atos privados dos príncipes, como 
fazer uma caçada, celebrar um banquete, as-
sistir a uma comédia, fazer uma excursão a 
esta ou àquela montanha, passar em revis-
ta alguns batalhões. Igualmente, o trato aos 
cidadãos, entre eles, os castigos dos malfei-
tores, as conjecturas sobre afazeres públi-
cos que ainda não são conhecidos e outras 
coisas desta natureza que são mais próprias 
de um diário particular que de uma rese-
nha pública. Pode-se encontrar a cada passo 
muitos exemplos dessas coisas nas crônicas 
dos monges, e nas gravuras nos livros dos 
escritores. Esta mesma falta de capacidade 
de julga-mento foi enfatizada em outros tem-
pos por Capitólio em sua Macrini vita, c. 1, 
a propósito do historiador Juni Cordus por-
que ele perseguia os mínimos detalhes: como 
se de Trajano, de Pius, de Marco ti-vesse 
que saber quantas vezes iriam sair, quando 
iriam mudar a dieta ali-mentar, e quantas 
vezes trocariam de roupas. O mesmo es-
critor, no livro Gordiani tres, c. XXI, censu-
ra este Cordus. “Estas, dizia, são as coisas 
que acham dignas de recordar de Gordià, o 
jovem. Nós, com efeito, negamos a divulgar 
tudo aquilo que Juni Cordus irá escrever de 
(...) como os fatos 
são quase infinitos, 
cabe estabelecer 
uma seleção de 
modo que seja dado 
preferência aos 
axiomnemóneuta, 
ou seja, àqueles 
que merecem ser 
recordados ou 
conhecidos.
22
Estudos em Jornalismo e Mídia, 
Vol. I Nº 2 - 2º Semestre de 2004 
maneira ridícula e estúpida sobre as di-
versões domésticas e outras coisas mais 
baixas; Quem quiser saber sobre elas, que 
leia o próprio Cordus, que falou de cada 
impe-rador quantos escravos teria, quan-
tos ami-gos, quantos capas, quantos clámi-
des.” Não serviria nada a ninguém saber 
tudo isto.
§ XVII. Depois, a segunda precaução é 
esta: que não se expliquem indis-crimina-
damente aquelas coisas dos príncipes que 
não querem que sejam divulgadas. Porque 
é coisa perigosa es-crever sobre aquilo que 
pode lhe mandar ao degredo. Assim então, 
as pessoas prudentes aconselham que cabe 
esperar até que aqueles tenham desapa-
recido dentre os vivos ou que já não lhe 
possa causar danos. Assim advertiu Arrià 
na história de Alexandre descrita fielmen-
te com base em Ptolomeu e em Arstóbulo; 
Isto foi também observado por Cornélio 
Tácito, Annales I, 1. Raramente foram di-
tas coisas verdadeiras sobre os príncipes 
que ainda vivem dado que os escritores es-
peram por uma adulação crescente e, por 
isso, com o relato das coisas acontecidas, 
falta a verdade de muitos modos: primei-
ramente por desconhecimento do modo 
como uma coisa sucedeu, depois, pelo dese-
jo de dar consentimento ou ainda, por ódio 
aos que governam. Assim, entre inocentes 
e culpados, nenhum deles tem preocupação 
alguma com a posteridade. Segundo Tácito, 
Historiae, livro I, c.1. Por isso, num estado 
bem organizado não há de ser concedido a 
quem quer que seja difundir periódicos en-
tre a multidão. Segundo Besold, Thesaurus 
pract. Na expressão neue Zeitungen; e do cé-
lebre jurista Ahsver-Fritsch, o Discursum de 
novellarum hodierno usu et abusu, cap. III, 
publicado em Jena em 1676.
§ XVIII. Eis a terceira precaução: que não 
se insira nos periódicos nada que prejudique 
os bons costumes ou a verdadeira religião, 
tais como coisas obscenas, crimes cometidos 
de modo perverso, expressões ímpias dos ho-
mens que sejam graves para os ouvidos pie-
dosos. Quando se explicam estas coisas, tal 
como disse Plínio, é como se as estivesse en-
sinando. É por isso que em algumas cidades 
se estabeleceu com uma prudente decisão 
que não seja permitido imprimir periódicos 
sem que estes tenham sido aprovados pela 
censura. Dá-se, com efeito, a honesta disci-
plina, para que os espíritos inocentes não 
sejam ofendidos com esta espécie de páginas 
impuras espalhadas aqui e ali, ou que, por 
outro lado, os que são propensos ao mal, não 
venham a ser incitados por esse tipo de es-
critos.
§ XIX. Por outro lado, no que diz respeito a 
coisas de pouca importância, que constituem 
Ao escolher a 
matéria digna 
dos novos relatos 
jorna-lísticos, cabe 
algumas precauções 
(...) A primeira é 
esta: que aí não 
se ponha coisas 
de pouco peso ou 
as ações diárias 
dos homens; ou as 
desgraças humanas, 
das quais há uma 
fecunda abundância 
na vida comum. 
23
a maior parte de alguns periódicos, os que 
os produzem podem ter mais licença que 
os historiadores, porque aqueles escrevem 
quase precipitadamente, não tanto para a 
posteridade, mas para satisfazer a curiosi-
dade do povo, ávido de coisas novas. Para 
satisfazer esta curi-osidade, faltam coisas 
de peso, e ocupam-se com coisas amenas, 
leves, e às vezes fúteis. Por isso, fica bem 
fazer aqui de certa maneira alguma con-
cessão aos costumes do século. Júlio César, 
De bello gallico, livro IV, c. 5, já em outros 
tempos deu constância a esta curiosidade 
entre os gauleses: “Os gauleses, disse Júlio 
Cesar, têm por costume aturar os viajan-
tes para seu próprio desagrado, e lhes fa-
zem per-guntas sobre tudo o que ouviram 
ou observaram das coisas que acontecem, 
e assim, rodeiam os viajantes e os fazem 
dizer de que terras vêm e de que coisas 
estão informados; e então, preocupados 
pelos rumores e pelo que ouviram dizer, 
normalmente tomam decisões em afa-zeres 
dos mais graves, dos quais todos normal-
mente hão de se arrepender por ter se fia-
do demais e por ter falado de todo mundo 
posto que a maioria dos informadores lhes 
respondem com falsos elogios. Portanto, 
quando alguns narram coisas amenas, le-
ves, pode suceder que estejam se acomo-
dando ao desejo de coisas novas que tam-
bém já invadiu os ânimos do povo, pode que 
estejam imitando Dió Cassi, que, depois de 
rebaixar-se a resenhar umas minúcias, logo 
em seguida apresentou um tipo de desculpa 
porque não percebeu que havia faltado por 
imprudência ou por incapacidade. Dado que 
quem conhece a superficialidade humana 
pode pensar sem esforço o quanto é fácil er-
rar em todas estas coisas que ouve dos ou-
tros em uma conversa ou em um rumor in-
certo. Aquelas coisas que acontecem a cada 
dia, muitos, induzidos pelos sentimentos ou 
traídos pela negligência, explicam-nas de 
uma forma completamente diversa do que 
realmente aconteceu. Por isso, se se trata da 
veracidade de um fato, poder-se-á fazer uso 
daquela fórmula de precaução que se encon-
tra em Curci, livro IX: “Com efeito, transcre-
vi mais coisas que não acredito. Dado que 
não posso afirmar sobre aquilo de que du-
vido, nem posso ocultar o que ouvi.” Agindo 
assim, o escritor de periódico salvaguardará 
a sua credibilidade, já que assim permite ao 
prudente leitor fazer o seu juízo. Por isso, o 
já mencionado Dr. Fritsch, no Discursum ci-
tado, c. IV, adverte que não se há de crer te-
merariamente nos periódicos. 
§ XX. A forma deste tipo de relatos, se é 
que alguém se pergunta sobre isto, é vária. 
Porém, falando de modo geral, a forma é 
baseada na economia (oikonomía) e na ex-
pressão (léxis); porque aquilo que constitui 
Que não se insira 
nos periódicos nada 
que prejudique 
os bons costumes 
ou a verdadeira 
religião, tais como 
coisas obscenas, 
crimes cometidos 
de modo perverso, 
expressões ímpias 
dos homens que 
sejam graves 
para os ouvidos 
piedosos. 
24
Estudos em Jornalismo e Mídia, 
Vol. I Nº 2 - 2º Semestre de 2004 
o corpo da história(tó soma tés historías) 
freqüentemente encontra-se em um outro 
lugar. A economia (oikonomía) se refere à 
ordem e disposição do fato histórico; a ex-
pressão (léxis) indica a maneira de dizer e 
o estilo adequado aos fatos. Em continua-
ção direi alguma coisa de cada uma destas 
partes.
§ XXI. No que se refere à economia (oiko-
nomía) e disposição, parece claro que de-
pende da natureza do tema de que se trata. 
Dado que ou se resenha diversas coisas de 
variada índole, ou alguma coisa simples. 
Na recensão daquelas, a ordem é arbitrá-
ria, atestando que não há nenhu-ma co-
nexão entre coisas acontecidas em lugares 
diversos, em tempos diferentes e de manei-
ra variada. Por isso, é costume preservar a 
ordem com que os acon-tecimentos se apre-
sentam. Em contra-partida, quando se tra-
ta de uma coisa simples e singular, aí sim 
que cabe preservar/guardar uma ordem 
que enquadre ao tema. Por exemplo, se al-
guém quer reconstituir o sítio de Mogúncia 
que aconteceu no ano passado e a sua con-
seqüente conquista, este alguém terá que 
dispor tudo de sorte que primeiro fale dos 
seus autores, depois do motivo, em seguida 
dos aparelhos e instrumentos, logo em se-
guida do local e da maneira de agir, final-
mente da ação mesma e dos acontecimen-
tos e do valor dos valentes heróis que res-
plandeceu de maneira especial no sítio e na 
ocupação da cidade. Assim, se alguém quer 
preparar um relato que para ser impresso 
sobre a expedição à Britânia por Guillerme, 
príncipe de Aurênia, agora rei da Grã-Bre-
tanha, terá que ordenar o relato do mesmo 
modo e com a mesma ordem. Igualmente 
nas outras narrações caberá ater-se àquelas 
circunstâncias já conhecidas que se costuma 
ter sempre em conta em uma ação tais como 
a pessoa, o objeto, a causa, o modo, o local, e 
o tempo. Segundo Franz Patricius, De hist. 
dialog., VII e VIII. Em outras coisas que não 
são da vida civil, o critério é, de certo modo, 
diferente. Porque nem todas as cir-cunstân-
cias podem ser encaixadas sempre da mes-
ma maneira quando não houver constância 
suficiente da causa, ou do tempo, ou do lo-
cal ou do modo pelo qual o fato foi realizado. 
Por enquanto é suficiente anunciar os fatos 
de forma superficial, segundo os rumores, 
sem ordem alguma. Veja Plinius, Epist., li-
vro IV, n. 11.
§ XXII. A expressão (léxis) ou modo de di-
zer, ou estilo dos periódicos, não há de ser 
nem oratório nem poético. Porque aquele 
distancia o leitor desejoso de novidade; e 
este lhe causa confusão além de não expor 
as coisas com clareza suficiente. Em com-
pensação, o narrador, se quer agradar, pre-
Quem conhece a 
superficialidade 
humana pode 
pensar sem esforço 
o quanto é fácil 
errar em todas 
estas coisas que 
ouve dos outros 
em uma conversa 
ou em um rumor 
incerto.
25
cisa seguir antes o fato como ele sucedeu. 
Veja Cicero, livro II, De oratore. Pois bem, 
para este fim o narrador se faz servir uma 
linguagem por um lado pura, mas por ou-
tro, clara e concisa. Isto é asseverado por 
Cícero no seu Brutus: “Não há nada, disse, 
que seja tão agradável na história como a 
brevidade pura e clara.” Por isso cabe evi-
tar as palavras obscuras e a confusão na 
ordem sintática. Assim também advertiu 
Lúcia na obra De scrib. hist.: “Que a sua 
palavra (a do escritor) tenha este único 
objetivo: mostrar os fatos claramente e tor-
ná-los compreensíveis da maneira mais di-
áfana, com palavras não obscuras e fora de 
uso, nem tampouco com palavras próprias 
dos mercados e dos botecos, de tal modo 
que a maioria as entenda e que os erudi-
tos as respeitem”5. Não cabe analisar aqui 
mais coisas sobre o estilo da história, que 
convém empregar também nos periódicos, 
pois já foi falado sobre isto em um outro 
lugar. Veja Fabio Quintiliano, livro X, e o 
De art. hist. Do doutíssimo Voss. Ainda 
que o estilo seja áspero e bárbaro, como 
nas crônicas antigas, da mesma forma, a 
amenidade da narração é pouco ressenti-
da. Porque, segundo Plínio, Epistulae, li-
vro V, n. 8, “a história deleita seja qual for 
a maneira como tenha sido escrita. Porque 
os homens são curiosos por natureza e eles 
se sentem fascinados por qualquer conheci-
mento nu das coisas, de modo que se deixam 
até mesmo levar por erros e fábulas.
§ XXIII. A finalidade interna e própria da 
história é a conservação do registro dos fa-
tos acontecidos. Se não fosse pela história, 
as coisas acontecidas antes dos nossos tem-
pos esvaneceriam ou seriam todas apaga-
das. Porque as coisas singulares são pratica-
mente infinitas e, se não fossem registradas 
pela história ou nos anais, por displicência 
ou por deficiência da memória humana se-
riam finalmente sepultadas pelo silêncio ou 
não poderiam ser transmitidas integralmen-
te à posteridade. Que aos novos relatos jor-
nalísticos não se pode designar igualmente 
esta finalidade, pode ser inferido do que já 
dissemos acima. Pelas causas acima comen-
tadas fica claro que os relatos jornalísticos 
não costumam es-crever tendo em vista a 
posteridade senão tendo em vista a curiosi-
dade humana. Da mesma forma, se acontece 
que a partir deles as coisas narradas pas-
sam também à história estritamente dita, 
há de se compreender que nem todos, mas 
somente de uns poucos, os que foram regis-
trados com uma certa acurácia e aplicação é 
que passam à história. Porém, a maior parte 
deles, por ter sido escrita de forma precipi-
tada a partir de rumores e de cartas pouco 
certas, não chega a superar os anos. E bem 
A expressão ou 
modo de dizer, 
ou estilo dos 
periódicos, não 
há de ser nem 
oratório nem 
poético. Porque 
aquele distancia o 
leitor desejoso de 
novidade; e este 
lhe causa confusão 
além de não expor 
as coisas com 
clareza suficiente. 
26
Estudos em Jornalismo e Mídia, 
Vol. I Nº 2 - 2º Semestre de 2004 
certo que não podem ser considerados entre 
os documentos con-fiáveis e podem obscure-
cer a memória da posteridade.
§ XXIV. Eu diria que a finalidade dos no-
vos periódicos é mais própria para o conhe-
cimento de coisas novas acompa-nhadas 
de um certa utilidade e atualidade. Foi por 
esta causa que começaram por primeiro lu-
gar a serem escritos e divulgados os perió-
dicos, como já insinuei acima, ao ocupar-me 
de suas origens. Com efeito, o afã de saber 
coisas novas é tão grande que cada vez que 
os cidadãos se encontram em encruzilhadas 
e nas vias públicas perguntam: “o que há 
de novo?” A fim de satisfazer esta curiosida-
de humana tem se imprimido de todo modo 
novos relatos jornalísticos em diversos idio-
mas. E os que os lêem podem satisfazer as-
sim a sede de novidades dos companheiros 
e dos grupos de amigos.
§ XXV. A esta finalidade se ajuntam a uti-
lidade e a amenidade que costuma acompa-
nhar estes periódicos. Já que, assim como 
Lúcia, De scrib. hist. Estabelece como fi-
nalidade da história a utilidade (tó chrési-
mon) e de outras a amenidade (tó terpnón), 
assim nós não erraríamos se os colocásse-
mos como efeito e conseqüência do fim já 
exposto. Dado que tanto uma coisa como 
a outra aparece nos ânimos dos leitores 
quando alguém tira uma notícia de um re-
lato jornalístico.
§ XXVI. Não afirmaria absolutamente que 
a utilidade dos periódicos seja tão grande 
como a da história escrita com bom senso, 
dado que os autores daqueles se encontram 
quase desprovidos daquilo que é necessário 
para estabelecer a história estrita, com co-
nhecimentos dos fatos, competência, juízo 
elevado, documentos autênticos obtidos de 
arquivos não suspeitos e, finalmente, a lin-
guagem e o estilo adequados à história. Da 
mesma forma, não se pode negar que haja 
neles alguma utilidade que afeta a vida tan-
to privada como pública dos homens. A expo-
sição de suas peculiaridades a empreendeu 
faz mais de treze anos um homem preclaro, 
Christian Weise, no seu Schediasmacurio-
sum no qual, assim como cabe ressaltar a 
genialidade de um homem tão famoso, as-
sim mesmo acontece que o leitor curioso de 
periódicos preste absoluta atenção àquelas 
aplicações que ele assinala, sobretudo aque-
las que fazem referência ao conhecimento 
da geografia, da genealogia, da história e 
da política. Mostra, com efeito, como a pes-
soa pouco versada no estudo da geografia, 
graças à leitura de periódicos se sente como 
que atraída, ou, se já não é um especialista, 
sente-se confirmada com um reclame perpé-
tuo. E o mesmo pode ser afirmado quanto à 
genealogia. Quanto à história de nosso tem-
5 O autor reproduz o texto de Lucia 
em grego, seguido da tradução em 
latim
27
po, não há necessidade de demonstrar que 
a leitura de periódicos a faz especialmente 
precipitada, se se levar em conta seu obje-
tivo. Finalmente, quanto à utilidade políti-
ca, o insigne Weise defendeu que esta é ge-
ralmente a mais importante nos periódicos 
por que nesta se pode conhecer os direitos 
entre os príncipes, discutidos por uma e 
outra parte, juntamente com as delibe-
rações, os artifícios e os costumes que são 
freqüentes às cortes; da mesma forma, o 
leitor de bom senso terá que discernir aí as 
coisas sem fundamentos das verdadeiras e 
sólidas. Porque os que crêem que ali podem 
ampliar um conhecimento acurado dos afa-
zeres cívicos, estariam muito equivocados. 
Finalmente faz ver também outras utili-
dades para os letrados e para os iletrados, 
sobretudo para os comer-ciantes. Por tudo 
isso não há que acrescentar aí senão que, 
para se extrair estas utilidades, requer-se 
um conhe-cimento da geografia, dos negó-
cios civis e sobretudo das coisas de palácio. 
Dado que isto são poucos os que tem a sor-
te de conseguir, é claro que estas utilidades 
não as pode explicar quem quer que seja.
§ XXVII. A amenidade dos periódicos, as-
sim como a de toda a história, ninguém que 
não seja obtuso não a negará. Segundo pa-
lavras de Cícero, livro V, Ep.12 ad famil., 
não há nada mais apto para o deleite que 
as mutações dos tempos e as vicissitudes da 
sorte, que, apesar de não poder escolhê-las 
no momento de vivê-las, do mesmo modo, se-
rão agradáveis de ler. O registro sem neces-
sidade da dor passada é um deleite; e para 
os que se escaparam sem nenhuma moléstia 
pessoal vêem os dramas dos outros sem ne-
nhuma dor, pois também a compaixão em si 
mesma é agradável. De fato, a ordem mes-
ma dos anais não é que eles atraiam tanto, 
pelo que têm de simples enumeração cro-
nológica. Em troca, as situações incertas e 
variadas de uma personagem muitas vezes 
destacada, contêm admiração, expectativas, 
alegria, moléstia, esperança, temor, e se ter-
minam com um sucesso notável, o espírito 
sacia-se do prazer de uma leitura altamente 
amena.” Isso acontece sobretudo na história 
recente dado que toca sempre o ânimo do 
leitor curioso e o diverte. Como disse Plínio 
mais acima, “os homens são curiosos por 
natureza e eles se deixam fascinar por qual-
quer conhecimento nu das coisas, de manei-
ra que se deixam levar até erros e fábulas.” 
Antônio, o Panormita, disse sobre o Rei Al-
fonso de Aragão, em um livro sobre as suas 
gestas que sentiu tanto prazer em ler a his-
tória de Curci que acabou sendo curado da 
doença que o afetava. É dito que recuperou 
de uma vez a saúde e disse. “Tiau, tudo de 
bom para o Dr. Aviccenna, para Hipócrates, 
Não afirmaria que 
a utilidade dos 
periódicos seja tão 
grande como a da 
história escrita (...) 
Da mesma forma, 
não se pode negar 
que haja neles 
alguma utilidade 
que afeta a vida 
tanto privada como 
pública dos homens.
28
Estudos em Jornalismo e Mídia, 
Vol. I Nº 2 - 2º Semestre de 2004 
e aos outros médicos. Viva Curci, pois foi 
ele o meu salvador.”
§ XXVIII. É ainda maior o prazer encon-
trado na leitura dos periódicos pelos eru-
ditos: aqueles que gozam do conhecimento 
da geografia, da genealogia e dos afazeres 
cívicos. Porque todo relato é mais agradá-
vel se se conhece o local, as pessoas notá-
veis que foram autoras de um feito, ou as 
causas pelas quais se empenharam. Quem 
ignora que estas circunstâncias dos fatos 
sejam tiradas das partes do conhecimen-
to mencionadas? E os que isto ignoram se 
assemelham àqueles que em um dado qua-
dro observam a face das pessoas sem fixar-
se na estatura e nas linhas do corpo e por 
fim abandonam tal quadro.
§ XXIX. Porém, tendo já uma certa idéia 
dos periódicos, cabe-nos agora falar de 
seus variados gêneros. Dado que alguns 
periódicos específicos contêm coisas literá-
rias, sua natureza, seus temas certamen-
te variados e sua publicação na França, 
Inglaterra, Bélgica, Alemanha e Itália são 
coisas bastante conhecidas, eis porque os 
havemos de expor aqui. Alguns prometem 
ao leitor coisas sobretudo singulares e ele-
gantes estampando na frente algum título 
certamente curioso, como são os que se es-
crevem em Paris e Amsterdam, Le nouve-
au Mercure Galant, contenant tout ce qui 
s’est passé de curieux etc. Outros se ocupam 
dos feitos cívicos como Histoire abregé de 
l’Europe, ou Relation exacte de ce qui se pas-
se de considerable dans les Estats, dans les 
Armées, etc., como os publicados em Amster-
dam por Claudius Jordanus. Outros, por sua 
vez, se ocupam de coisas de diversos gêneros 
tal como se apresentam a cada dia. Estes, 
impressos em diversos lo-cais, com periodi-
cidade semanal, ou men-sal, ou até mesmo 
semestral, costumam ser divulgados em 
diversos idiomas. Entre es-tas publicações 
periódicas merecem ser destacadas as de 
Leipzig, em alemão, até agora curiosamente 
reunidas, e as de Frankfurt, em latim, im-
pressas com o apoio econômico dos herdeiros 
Latomici, porque têm uma certa seleção das 
coisas que se explicam, prescindindo de ba-
nalidades e de coisas que escampam aqui e 
ali por rumo-res incertos. Porém, falar mais 
extensa-mente com o fim de dar um juízo so-
bre cada um deles, poderia parecer tedioso, 
dado que o critério da nossa investigação não 
permite assinalar aqui ninguém com uma 
censura inoportuna. Ao contrário, deixando 
o juízo em mãos dos seus leitores assinantes, 
rezem a Deus que de agora em diante, para 
escrever periódicos, disponham somente de 
temas que sejam motivo de alegria para a 
Alemanha e para a nossa Pátria.
Glória seja dada ao nome de Deus! 
O registro sem 
necessidade da 
dor passada é um 
deleite; e para os 
que se escaparam 
sem nenhuma 
moléstia pessoal 
vêem os dramas 
dos outros sem 
nenhuma dor, 
pois também a 
compaixão em si 
mesma é agradável.
29
Nota do Tradutor
A capa da tese traz os seguintes dados: no 
alto, o título, De relationibus novellis; na 
parte central, os dizeres: sob a orientação 
de L. Adam Rechenberg, professor públi-
co e magnífico reitor da Universidade de 
Leipzig, em 8 de março de 1690, dissertará 
publicamente Tobias Peucer, de Görlitz 
(Lausitz); na base, a menção à tipografia 
de Wittigau, acompanhada da exclamação 
“Cristo Senhor seja bendito!” No sumário, 
o autor relaciona os seguintes tópicos: Atu-
alidade do tema; Significado e uso do termo 
“novellae”; As diversas formas dos relatos 
históricos e as atribuídas aos periódicos; 
Descrição dos periódicos; Exposição de 
suas origens e suas causas; Expõe-se sobre 
a origem dos relatos históricos entre al-
guns povos, em especial entre os alemães: 
Os primeiros fundadores de periódicos e 
qual foi a ocasião para escrevê-lo: Duas 
causas impulsoras: a curiosidade huma-
na e o afã do lucro; Causa eficiente dos 
periódicos; Seu primeiro requisito (sobre 
o intelecto) é o conhecimento; O segundo 
requisito é o juízo; O juízo geralmente falta 
aos narradores; Sobre a vontade exige-se 
credibilidade e amor à verdade; O que às 
vezes se encontra em falta nos redatores 
de notícias; A matéria dos periódicos:coi-
sas singulares que são de diversos tipos 
ou classes; A primeira precaução quanto à 
seleção de matérias; A segunda; A terceira; 
A curiosidade humana desculpa de certa 
maneira as coisas fúteis que contêm; Em 
que se baseia a forma das reportagens; O seu 
primeiro aspecto é a economia (oikonomía) 
ou disposição; O segundo aspecto é a expres-
são (léxis), ou dicção que assim determina; O 
ser humano se interroga sobre a finalidade 
dos periódicos; O que é a notícia de coisas 
novas; Segue-se a utilidade e a atualidade; 
Afirmação das diversas utilidades; Explica-
ção da atualidade; A sua delimitação; Faz-se 
a distinção entre os periódicos e se põe fim 
à dissertação.
Paulo da Rocha DiasÉ ainda maior o 
prazer encontrado 
na leitura dos 
periódicos pelos 
eruditos: (...) 
Porque todo relato 
é mais agradável se 
se conhece o local, 
as pessoas notáveis 
que foram autoras 
de um feito, ou as 
causas pelas quais 
se empenharam.
O tradutor deste texto é doutarando em 
Comunicação na Universidade Metodistade 
São Paulo.

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