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Embriologia animal 21Editora Bernoulli B iO LO g iA DESENVOLViMENTO EMBRiONÁRiO HuMANO A espécie humana pertence ao grupo dos mamíferos eutérios, animais que têm como uma de suas principais características a formação de uma placenta bem-desenvolvida durante o desenvolvimento embrionário, por isso são também conhecidos como mamíferos placentários. O desenvolvimento embrionário humano inicia-se na tuba uterina, após a ocorrência da fecundação, com a formação da célula-ovo (zigoto). Por meio dos movimentos peristálticos tubários e do movimento de varredura dos cílios das células epiteliais que revestem a cavidade tubária, o ovo é levado em direção ao útero. Durante essa trajetória, que dura cerca de 4 a 5 dias, o ovo humano, que é do tipo alécito, realiza uma segmentação holoblástica igual, formando uma mórula que, por sua vez, origina uma blástula, conhecida também por blastocisto. Parede posterior do útero Blastocistos Mórula Estágio de oito células Estágio de quatro células Estágio de duas células Zigoto Fertilização Ovócito na tuba Ovócito Folículo maduro Folículo próximo da maturidadeFolículo secundário Folículo em crescimento Folículo primário inicial Vasos sanguíneos Epitélio Corpo albicans Corpo lúteo maduro Folículo em atresia (em degeneração) Folículo roto Tecido conjuntivo Tecido coagulado Corpo lúteo em desenvolvimento Ovócito liberado Endométrio Segmentação na espécie humana – A segmentação (clivagem) do zigoto com a formação da mórula ocorre enquanto o zigoto em divisão passa pela tuba uterina. Normalmente, a formação do blastocisto (blástula) se dá no útero. 3 2 1 Blastocisto humano – O blastocisto possui uma cavidade denominada blastocele (1). As células distendidas que formam sua parede constituem o trofoblasto (2), que dará origem à parte embrionária da placenta. Apresenta ainda um aglomerado de blastômeros em um dos polos, o embrioblasto (3), também conhecido por massa celular interna ou, ainda, nó embrionário. Do embrioblasto virão todas as células que vão constituir o embrião propriamente dito. 22 Coleção Estudo Frente A Módulo 12 Zona pelúcida Massa celular interna Blastômeros MórulaBlástula jovem Blastocisto Trofoblasto Zigoto Membrana plasmática Espaço perivitelino Segmentação – Apesar de a clivagem aumentar o número de células (blastômeros), as células-filhas são menores do que as células-mães. O embrião só começa a aumentar de tamanho depois da degeneração da zona pelúcida. A zona pelúcida é uma camada de glicoproteínas que envolve o ovócito II, o óvulo e o ovo (zigoto), e persiste até as primeiras fases do desenvolvimento, degenerando-se no estágio mais avançado de blástula. Na cavidade uterina, cerca de 6 dias após a fecundação, a blástula (blastocisto) perde a zona pelúcida, permitindo, assim, que as células trofoblásticas entrem em contato com o endométrio, iniciando o processo de nidação, que consiste na fixação da blástula no endométrio, geralmente pelo lado adjacente à massa celular interna. Durante essa implantação, o trofoblasto diferencia-se em duas camadas: citotrofoblasto e sinciciotrofoblasto. O primeiro corresponde à região onde as células mantêm suas características celulares, enquanto o segundo corresponde à região onde as células formam um sincício. A figura a seguir ilustra o início do processo de nidação. Glândulas do endométrio Conjuntivo do endométrio Epitélio do endométrio Sinciciotrofoblasto Blastocele Embrioblasto Região da cavidade uterina Citotrofoblasto Capilar sanguíneo Nidação – Além de ajudar na fixação do blastocisto no endométrio, o sinciciotrofoblasto passa a produzir o hormônio HCG (gonadotrofina coriônica), que atuará no ovário impedindo, durante certo tempo, a degeneração do corpo lúteo, mantendo-o em atividade, produzindo progesterona, hormônio necessário durante todo o período de gestação. Juntamente com parte do endométrio, o trofoblasto formará a placenta, anexo embrionário que, entre outras funções, nutre o embrião até o final da gravidez. Embriologia animal 23Editora Bernoulli B iO LO g iA Dando continuidade ao desenvolvimento, células do trofoblasto liberam enzimas proteolíticas sobre o endométrio, abrindo espaço para a implantação da blástula. As células do embrioblasto se multiplicam e se organizam de modo a formar duas cavidades, a vesícula amniótica e a vesícula vitelínica, separadas pelo disco embrionário, conforme mostra a figura a seguir: Vesícula amniótica Disco embrionário Vesícula vitelínica Ectoderma extraembrionário Endoderma extraembrionário Epiblasto (ectoderma embrionário) Hipoblasto (endoderma embrionário) A vesícula amniótica dará origem, posteriormente, à bolsa amniótica ou âmnio, anexo embrionário que tem como função proteger o embrião contra choques mecânicos e também contra a desidratação. Em muitos animais vertebrados, a vesícula vitelínica ou saco vitelínico armazena o vitelo (substância nutritiva para o embrião). Mas, nos mamíferos eutérios, cuja nutrição do embrião é feita pela placenta, a vesícula vitelínica atrofia-se gradativamente. Convém ressaltar, entretanto, que, no início da embriogênese, a vesícula vitelínica constitui o primeiro órgão hematopoiético (formador do sangue). As células que formam o assoalho da vesícula amniótica constituem o epiblasto (ectoderma embrionário), e as que formam o teto da vesícula vitelínica formam o hipoblasto (endoderma embrionário). Essas duas camadas de células (epiblasto + hipoblasto) formam o disco embrionário (disco dérmico). Do disco embrionário, vão se originar todos os constituintes do embrião. As demais células que delimitam as vesículas amniótica e vitelínica formam, respectivamente, o ectoderma extraembrionário e o endoderma extraembrionário. Com a continuidade do desenvolvimento, células se interpõem entre o trofoblasto e as duas vesículas (amniótica e vitelínica), formando o mesoderma extraembrionário (extraembrionário porque não está disposto entre os dois folhetos que constituem o disco embrionário, ficando limitado à área extraembrionária). É discutida a origem dessas células que formam o mesoderma extraembrionário, existindo autores que admitem que elas se originam do trofoblasto, do próprio disco embrionário ou da vesícula vitelínica. A figura a seguir representa como é o embrião humano por volta do 12º dia de desenvolvimento. Vilosidades coriônicas Ectoderma extraembrionário Vesícula amniótica Vesícula vitelínica Endométrio Pedículo embrionário Mesoderma extraembrionário Citotrofoblasto Celoma extraembrionário Disco embrionário Epiblasto (ectoderma embrionário) Hipoblasto (endoderma embrionário) Endoderma extraembrionário O mesoderma extraembrionário forma uma camada de revestimento em volta da vesícula amniótica e da vesícula vitelínica, assim como por dentro do trofoblasto. A cavidade delimitada pelo mesoderma extraembrionário constitui o celoma extraembrionário. A camada formada pelo trofoblasto e pelo mesoderma extraembrionário, que reveste externamente o celoma extraembrionário, passa a ser denominada córion. No final da segunda semana, a partir do córion, originam-se as vilosidades coriônicas, que, juntamente com o endométrio, formam a placenta. 24 Coleção Estudo Frente A Módulo 12 Parte do mesoderma extraembrionário também forma o pedículo embrionário, uma ponte entre as duas vesículas e o trofoblasto. O pedículo embrionário será o ponto de formação do futuro cordão umbilical que ligará o embrião à placenta. Ao término da segunda semana do desenvolvimento, o embrião já estará todo contido (envolvido) pelo endométrio. Na terceira semana, surge na superfície do epiblasto (ectoderma embrionário), na porção que está voltada para o pedículo do embrião, uma elevação situada na linha média: a linha primitiva. A linha primitiva resulta da proliferação e da migração de células do epiblasto para o plano mediano do disco embrionário. Logo à frente da linha primitiva, surge também uma pequena elevaçãodenominada nó primitivo (nó de Hensen). Concomitantemente, forma-se, na linha primitiva, um sulco estreito, o sulco primitivo. O sulco primitivo resulta do movimento de “mergulhamento” ou infiltração de células do epiblasto no interior do disco embrionário. Processo semelhante ocorre no nó primitivo, formando no seu interior uma depressão, a fosseta primitiva. As figuras a seguir dão uma ideia de como são essas estruturas. Ectoderma do embrião Borda cortada do âmnio Ectoderma do embrião Nó primitivo Nó primitivo Fosseta primitiva Sulco primitivo da linha primitiva Sulco primitivo da linha primitiva Pedículo do embrião Saco vitelino coberto pelo mesodema extraembrionário Nível de secção B B A A. Vista dorsal de um embrião humano com 16 dias. O âmnio foi removido para expor o disco embrionário; B. Corte transversal. As células que vão sendo formadas na linha primitiva migram e se insinuam entre o ectoderma e o endoderma do embrião, formando o terceiro folheto, o mesoderma embrionário (mesoderma intraembrionário), conforme ilustra a figura a seguir: 1 2 3 Origem do mesoderma intraembrionário – Células que migram da linha primitiva (1) para se interpor entre o ectoderma (2) e o endoderma (3).