Prévia do material em texto
43 Questão 1 ADOLESCENTES, TESTOSTERONA, ESPINHAS E CRIMES 1 Estamos em guerra contra os adolescentes. Certo, na tranquilidade das famílias, podemos mimá-los 2 carinhosamente, mas nossa solicitude social é feita de desconfiança, medo e repressão preventiva. 3 Nos Estados Unidos é proibido comprar cigarros antes dos 18 anos e consumir álcool antes dos 21. Em 4 certas comunidades vige um toque de recolher para adolescentes. Limita-se o direito há tempo concedido de 5 dirigir aos 16 anos: só de dia, só indo para escola, não com outros adolescentes no carro etc. 6 Fato mais preocupante e universal: a cada crime cometido por um menor, pede-se que o réu pague como 7 gente grande. “Quem tem idade para roubar, matar e estuprar tem idade para cadeia. Acabou a moleza”. 8 As regras se justificam no interesse do adolescente (é bom que não fume, não beba). Ou no da sociedade. 9 No entanto, proliferando, elas transmitem a sensação de uma urgência: precisa conter os adolescentes, 10 sobretudo os meninos. Eles nos apavoram: de “Laranja Mecânica” a “Kids”, flertamos com a perspectiva de 11 bandos nômades penteando as ruas da cidade em arrastões permanentes. 12 Até hoje, eu pensava que estas imagens do adolescente-que-vai-te-pegar tivessem um fundamento real. 13 Afinal, as estatísticas americanas diziam que houve um forte pique de criminalidade juvenil em 95 e 96, logo 14 quando baixavam todos os outros índices de criminalidade. 15 Nesta época, aliás, uma eflorescência de artigos e relatórios coagulou o retrato apavorante do adolescente 16 como “superpredador”. A palavra pegou e, junto com ela, pegaram algumas ideias: 1) Estamos lidando com uma 17 nova criminalidade juvenil insensível aos controles morais e sociais que parecem conter a criminalidade dos 18 adultos; 2) O número de adolescentes está crescendo. Nos Estados Unidos, em 2010 haverá 17 milhões mais do 19 que agora; 3) Como adolescente é igual a superpredador, se não agirmos logo e duro, entregaremos nossas 20 cidades a hordas bárbaras. Este silogismo se alimenta da ideia de uma equivalência natural entre adolescência e 21 tendências criminosas: a testosterona produziria crime junto com as espinhas. 22 Portanto, nos debruçando sobre nenês e meninos de escola maternal, é bom perceber atrás de suas feições 23 (traiçoeiramente) infantis o riso cínico e sádico do futuro carniceiro. Exagero? Apenas. Em 1996 o deputado Bill 24 McCallum assim falava ao Comitê da Infância, Juventude e Família: “A legião de crianças que hoje tem 5 anos 25 será os adolescentes de amanhã. É uma notícia terrível, pois a maior parte dos crimes violentos é cometido por 26 adolescentes entre 15 e 19 anos”. Juntem estes fatos demográficos e preparem-se para a geração que vem: os 27 superpredadores. 28 Suspiro de alívio: as constatações e previsões (idiotas) de McCallum e outros desta época são falsas e 29 abusivas. É o que mostra Frank Zimring - criminalista da Universidade de Berkeley - em "American Youth 30 Violence” (Oxford University Press). Descobre-se que, de fato, nos anos 90, a violência adolescente seguiu a 31 tendência geral de baixa. Aumentaram os efeitos letais dessa violência, pela proliferação de armas de fogo entre 32 adolescentes. 33 Também acontece que o adolescente é mais gregário do que o adulto. Portanto, mais adolescentes presos 34 não significam mais crimes de adolescentes, pois em cada crime adolescente há em média 2 ou 3 réus. Os 17 35 milhões de adolescentes a mais em 2010 nos EUA na verdade são proporcionalmente menores do que a 36 percentagem atual de adolescentes na população. E por aí vai. 37 Conclusão: a vinheta inquietante do superpredador não é um efeito da realidade social. “Laranja Mecânica” 38 poderia ter nos colocado, aliás, uma pulga atrás da orelha. O filme de Kubrick é de 1971, bem antes da pretensa 39 onda de criminalidade juvenil de 1975. E o livro de Burgess é de 1962, época tranquila. 40 Mas de onde vem então o superpredador? Como acabamos acreditando nesta figura? Justamente Burgess (e 41 Kubrick com ele) fascinava seu público propondo uma alternativa radical que está no íntimo de cada um de nós: 42 de um lado a extrema rebeldia do protagonista adolescente, do outro a integração social apresentada como um 43 condicionamento que nos desnatura. 44 A imagem do jovem predador que habita nossos pesadelos é filha desta alternativa. Imaginamos o 45 adolescente como o nômade rebelde que desistimos de ser. Atribuímos a ele um cinismo que expressa nosso 46 próprio desdém pela convenção social que detestamos, mas acabamos respeitando. 47 Recentemente passamos a recear que os adolescentes rebeldes também nos espreitem nas esquinas, nos 48 ameacem de morte e saqueiem nossos bens. Não é de estranhar, pois eles são os agentes (oníricos) de nosso 49 desprezo a nós mesmos. 50 É uma equação: quanto mais uma geração se decepciona consigo mesma, tanto mais ela sonha com 51 adolescentes que castiguem sua própria preguiça e seu comodismo. E tanto mais, naturalmente, ela quer 52 reprimir e conter estes adolescentes vingadores. 53 Um dia destes, se a agente não acorda, os adolescentes reais vão acabar comprando o papel que sonhamos 54 para eles. Aí o pesadelo vai começar mesmo. (Contardo Calligaris. Folha de São Paulo – Folha ilustrada, 08/04/1999. Adaptação) Expressa-se o efeito de envolvimento do autor com o leitor, por meio de expressão própria da linguagem coloquial, no trecho: (A) “Nos Estados Unidos é proibido comprar cigarros antes dos 18 anos e consumir álcool antes dos 21.” (linha 03) (B) “No entanto, proliferando, elas transmitem a sensação de uma urgência: precisa conter os adolescentes, sobretudo os meninos.” (linhas 09 e 10) (C) “Estamos lidando com uma nova criminalidade juvenil insensível aos controles morais e sociais que parecem conter a criminalidade dos adultos.” (linhas 16 a 18) (D) “Recentemente passamos a recear que os adolescentes rebeldes também nos espreitem nas esquinas, nos ameacem de morte e saqueiem nossos bens.” (linhas 47 e 48) (E) “Um dia destes, se a gente não acorda, os adolescentes reais vão acabar comprando o papel que sonhamos para eles. Aí o pesadelo vai começar mesmo.” (linhas 53 e 54) Gabarito: E Resolução: Nas alternativas C, D e E existem recursos gramaticais utilizados pelo autor com intuito de se aproximar do leitor - na C há o uso do verbo na primeira pessoa do plural e na D, além dos verbos, existem pronomes de primeira pessoa do plural. No entanto, essa aproximação em relação ao leitor só é expressa através de expressão coloquial na alternativa E, com o uso da expressão "a gente" no lugar de "nós". Questão 2 A metamorfose do macho A revolução de costumes detonada nos anos 60 criou uma nova mulher – mais livre para concretizar seus desejos existenciais, profissionais e sexuais – e também um novo homem, de 5 contornos pouco claros até alguns anos atrás. Explica-se: a princípio, destituídos dos papéis sociais rígidos a eles destinados, os homens ficaram perdidos, vulneráveis, como se lhes tivessem tirado o chão. Tanto que, nos anos 90, 10 decretou-se a “crise do macho”. Mas, assim como as mulheres foram à luta, eles também não se acomodaram na infelicidade. Empreenderam uma revolução menos barulhenta do que a feminina e hoje já se mostram mais à vontade no lugar que 15 ocupam na sociedade moderna. (...) O machismo perdeu terreno e, no seu lugar, entrou a delicadeza. Embora o esporte preferido dos homens nunca vá ser discutir a relação, eles hoje estão mais atentos aos movimentos internos 20 de suas companheiras e também se mostram mais participativos na vida familiar. Pais e filhos nunca estiveram tão próximos quanto hoje. O número de homens que assistem ao parto de seus filhos mais que dobrou nos grandes hospitais nos últimos dez 25 anos. Eles agora são uma presença constante em reuniões e festinhas de escola. Várias pesquisas sobre o assunto indicam que os homens desempenham esse papel com gosto. Nesses levantamentos, foram feitas perguntas como “Você 30 sente prazer ou se sentea importância das ações preventivas: “O Estatuto da Criança e do Adolescente tem o caráter mais preventivo do que repressivo. Se o ECA fosse realmente cumprido, sequer teríamos adolescentes cometendo crimes. Se o Estado 16 exclui, o crime inclui. A ausência de políticas públicas, programas e serviços de atendimento, conforme prevê a lei, e a fragilidade do sistema de proteção social do país favorecem o atual quadro de violência que envolve adolescentes como vítimas e protagonistas” – explicou Ariel. [...] Sendo a juventude o futuro do país, é preciso debatê- la afirmando seus valores e potências. Em 17 vez de sugerir redução dos seus direitos, faz-se necessário pensar e criar alternativas para as necessidades específicas desse grupo. O que está em debate são as possibilidades de crescimento a que os jovens têm ou deveriam ter acesso. Reivindicar o direito de puni-los como adultos é ceifar direitos e oportunidades e diminuir o tempo da fase mais importante da formação humana. A nossa juventude merece mais, muito mais! MIRANDA, Alan. alan@observatóriodefavelas.org.br. Disponível em: . Adaptado. Releia o trecho a seguir: "Para o delegado Orlando Zaconne, há uma inversão de pautas quando se discute segurança pública no Brasil. “Na verdade, o grande tema não é a violência praticada por adolescentes, mas a violência praticada contra adolescentes." Nesse trecho, o jogo linguístico feito pelo delegado Zaconne para mostrar a “inversão de pautas” na política de segurança pública brasileira foi o uso: a) da locução “Na verdade” para mostrar que ele, sim, diz uma verdade. b) do adjetivo “grande” para destacar a importância do tema. c) de duas preposições diferentes, o que troca a pauta a ser debatida. d) de um advérbio de negação para inverter o sentido do enunciado. e) de uma conjunção adversativa para confirmar o que foi dito antes. Gabarito: C Resolução: No trecho em foco, o jogo linguístico feito pelo delegado Zaconne para mostrar a “inversão de pautas” na política de segurança pública brasileira foi o uso de duas preposições diferentes, "por" e "contra", o que troca a pauta a ser debatida: a "violência praticada por adolescentes" pela "violência praticada contra adolescentes". Questão 16 A juventude merece mais 1 Aos 16 anos de idade, uma pessoa pode ter inúmeras ocupações, anseios, possibilidades e perspectivas de vida em nossa sociedade. Com 16 anos, geralmente as/os adolescentes estão cursando o ensino médio, às vezes fazendo um curso técnico concomitante, outros têm a oportunidade de cursar uma língua estrangeira, estudar música, teatro, circo, artes, praticar esportes, viajar para 2 outros estados, países, tudo isso partindo de uma perspectiva otimista. Nesta idade surgem novas responsabilidades: o voto é facultativo e, com a permissão dos pais, pode ser emancipado. Mas ainda é uma fase de experimentação, de descobertas, de “primeiras vezes”. Segundo a Constituição do país, crianças e adolescentes deveriam ter preferência na formulação e execução de políticas públicas. O documento ressalta também a condição peculiar da criança e do 3 adolescente como pessoas em desenvolvimento. No Brasil, nem todos gozam das mesmas oportunidades: muitos nessa faixa etária estão em situação de exploração sexual, gravidez precoce, dependência química, violência doméstica, evasão escolar. Atualmente um dos temas mais discutidos na agenda política do país é a redução da maioridade penal. A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 171/1993 encontra-se em análise pelo Congresso 15 Nacional. Criada pelo hoje ex-deputado Benedito Domingos (PP), a proposta prevê que a maioridade penal seja reduzida para 16 anos. Depois de aprovada pela maioria dos deputados na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, a PEC agora é debatida em uma comissão especial da Casa, que tem cerca de três meses para analisar o projeto. Em seguida, será votado novamente e, se aprovada, seguirá para o Senado. 4 Partindo do princípio de que o debate está sendo travado no campo da segurança pública, a atual proposta sugere a responsabilização da juventude pelos altos índices de violência do país. É preciso apontar que não é a maioridade civil que está em pauta, mas a penal. Os que desejam a emenda na Constituição argumentam que isso resultará na diminuição da criminalidade; que a lei não pune ou quando pune não é rigorosa o suficiente; se com 16 anos, o jovem possui maturidade intelectual 5 suficiente para votar, logo, também pode ser responsabilizado criminalmente por delitos. Ou seja, com essa medida, o Estado passaria a reconhecer a maioridade de um indivíduo fundamentalmente para puni-lo. Eduardo Alves, sociólogo e um dos diretores do Observatório de Favelas, critica o viés pelo qual o assunto é abordado, discutindo a maioridade pelo aspecto penal e não civil: “Quando se formula políticas para a juventude é necessário pensar no presente e no futuro, pois, o jovem de hoje é o adulto 6 de amanhã. Que tipo de adulto formaremos retirando dois anos da juventude? Retirar dois anos significa inclusive uma redução de investimentos em políticas para a juventude, ou seja, consideramos que já há investimento suficiente? Há violência de sobra em nossa sociedade e a responsabilidade disso é dos adultos e não da juventude. Cabe aos adultos elaborar políticas que diminuam a violência e 7 potencializem a cultura de direitos na juventude. Se a responsabilidade, portanto, é dos adultos, por que diminuir dois anos da juventude? Por que ampliar o tempo de punição daqueles que não são os principais responsáveis?”, questionou Alves. E a violência praticada contra a juventude? A maioria das justificativas e a proposta em si da PEC afirma em suas negativas que pretende 8 combater a violência praticada por adolescentes, alargando a faixa etária passível de punição penal. Porém, raramente (ou nunca) aparece na consideração de seus defensores os números alarmantes que retratam a violência sofrida pelos jovens, como mostra o Índice de Homicídios na Adolescência (IHA) – estudo recentemente divulgado pelo Observatório de Favelas, Unicef, Secretaria de Direitos Humanos e Laboratório de Análise da Violência da UERJ. De acordo com a pesquisa, mais 9 de 42 mil adolescentes (12 a 18 anos) poderão ser vítimas de homicídio nos municípios com mais de 100 mil habitantes entre 2013 e 2019. Os jovens negros são as vítimas mais recorrentes. Ou seja, a principal vítima da violência, principalmente a violência letal é a juventude. Para o delegado Orlando Zaconne, há uma inversão de pautas quando se discute segurança pública no Brasil. “Na verdade, o grande tema não é a violência praticada por adolescentes, mas a 10 violência praticada contra adolescentes. O Brasil é um dos países com maiores índices de violência contra a criança e o adolescente, mas nada disso parece escandalizar a sociedade. E a pauta da redução da maioridade penal serve inclusive para omitir esse dado” – disse Zaconne em vídeo de policiais civis contra a redução. Além do IHA, existem outras pesquisas relacionadas ao tema, que demonstram a deficiência do Estado em cumprir as leis já existentes, mas pouco aplicadas, no que 11 tange a garantia dos direitos do adolescente e na reintegração social daqueles que cumpriram pena. Vale lembrar que o Brasil já está comprometido com pelo menos três pactos internacionais: a Convenção da ONU (1948), que considera maioridade penal como 18 anos; a Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de San José da Costa Rica – 1969), que separa o tratamento dado à 12 criança e ao adolescente do adulto; e a Convenção dos Direitos da Criança (1990), da qual nasceu o Estatuto da Criança e do Adolescente. Além disso, a legislação brasileira já responsabiliza toda pessoa acima de 12 anos por atos ilegais. Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o jovem deve merecer medidas socioeducativas, como advertência, obrigação de reparar o dano, prestação de serviço à comunidade,13 liberdade assistida, semiliberdade e internação. A medida é aplicada segundo a gravidade da infração. Enquanto nas penitenciárias o percentual de reincidência no crime é de 70%, no sistema socioeducativo esse número cai para 20%. Com efeito, esses dados mostram gargalos da atuação do Estado nesse âmbito, que a atual proposta parece ignorar. O Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase) e o Plano Individual de Atendimento (PIA), previstos como ferramentas para 14 reintegração de jovens infratores à sociedade, chegam a apenas 5% dos adolescentes apreendidos no Brasil, segundo dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). MELHOR PREVENIR QUE REMEDIAR [...] Embora careça de melhorias e adaptações, o ECA é um dos documentos que tratam da garantia 15 de direitos da criança e do adolescente e deveria pautar as ações para essa parte da população. Em entrevista a Revista Fórum, o advogado Ariel de Castro Alves, membro do grupo Tortura Nunca Mais de São Paulo e do Movimento Nacional de Direitos Humanos destacou a importância das ações preventivas: “O Estatuto da Criança e do Adolescente tem o caráter mais preventivo do que repressivo. Se o ECA fosse realmente cumprido, sequer teríamos adolescentes cometendo crimes. Se o Estado 16 exclui, o crime inclui. A ausência de políticas públicas, programas e serviços de atendimento, conforme prevê a lei, e a fragilidade do sistema de proteção social do país favorecem o atual quadro de violência que envolve adolescentes como vítimas e protagonistas” – explicou Ariel. [...] Sendo a juventude o futuro do país, é preciso debatê- la afirmando seus valores e potências. Em 17 vez de sugerir redução dos seus direitos, faz-se necessário pensar e criar alternativas para as necessidades específicas desse grupo. O que está em debate são as possibilidades de crescimento a que os jovens têm ou deveriam ter acesso. Reivindicar o direito de puni-los como adultos é ceifar direitos e oportunidades e diminuir o tempo da fase mais importante da formação humana. A nossa juventude merece mais, muito mais! MIRANDA, Alan. alan@observatóriodefavelas.org.br. Disponível em: . Adaptado. Releia o trecho a seguir: "Além disso, a legislação brasileira já responsabiliza toda pessoa acima de 12 anos por atos ilegais. Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o jovem deve merecer medidas socioeducativas, como advertência, obrigação de reparar o dano, prestação de serviço à comunidade, liberdade assistida, semiliberdade e internação. A medida é aplicada segundo a gravidade da infração. Enquanto nas penitenciárias o percentual de reincidência no crime é de 70%, no sistema socioeducativo esse número cai para 20%. Com efeito, esses dados mostram gargalos da atuação do Estado nesse âmbito, que a atual proposta parece ignorar." O pronome relativo "que", marcado na última sentença, retoma o termo: a) percentual. b) sistema. c) dados. d) gargalos. e) proposta. Gabarito: D Resolução: O pronome relativo "que", marcado na última sentença, que introduz uma oração subordinada explicativa, retoma o termo "gargalos", ao qual se liga a explicação veiculada pela oração. Questão 17 A língua literária 1 Na implantação de uma língua em novo ambiente físico e social, há duas possibilidades 2 extremas. Uma é a transferência para uma comunidade aloglota, que assim abandona o anterior 3 idioma materno. Outra é a transferência, não apenas da língua, mas de um grande grupo dos seus 4 sujeitos falantes, para uma região desabitada, ou habitada por uma população nativa que os invasores 5 eliminam. 6 É certo que, em regra, não se verifica na prática, singelamente, o esquema teórico aqui 7 formulado. No primeiro caso, há que levar em conta um núcleo de conquistadores, sob cuja pressão 8 material, cultural ou política se processa a mudança. No segundo caso, se a nova região não era 9 totalmente erma, fica frequentemente um resíduo de população nativa, que com o correr dos tempos se 10 integra na nova situação e adota a língua e as demais instituições sociais dos invasores. Mas, num e 11 noutro caso, continua ainda assim válido o contraste entre as duas possibilidades de ocorrência. 12 É por isso que não se pode associar a implantação do latim em províncias do Império Romano – 13 digamos, particularmente, na Península Ibérica – com a implantação de certas línguas europeias – 14 digamos, particularmente, o português – no ambiente americano. Ali, houve, preponderantemente, a 15 adoção do latim pelos iberos aloglotas, de par secundariamente com a fixação entre eles de soldados e 16 colonos latinos. Aqui, houve uma colonização portuguesa em massa, que desarraigou “in totum” e 17 eliminou em grande parte os indígenas, malgrado certa assimilação que afinal se verificou. 18 O aspecto da implantação do português no Brasil explica por que tivemos, de início, uma língua 19 literária pautada pela do Portugal coevo. A sociedade colonial considerava-se – e o era em princípio, 20 abstração feita da necessária adaptação ao novo ambiente – um prolongamento da sociedade 21 ultramarina. O seu ideal era reviver os padrões vigentes no reino. CÂMARA JR., J. Mattoso. A língua literária. Em: COUTINHO, A. (Org.). A literatura no Brasil. 1968. O pronome em negrito no trecho "e o era em princípio" (último parágrafo) tem como referente o termo a) anterior "Portugal". b) anterior "aspecto". c) posterior "abstração". d) posterior "prolongamento". e) posterior "ambiente". Gabarito: D Resolução: Neste trecho observa-se um caso de catáfora, em que o pronome oblíquo "o" refere-se a um termo que é citado depois dele: "prolongamento da sociedade ultramarina". Tal recurso insere a nova informação no final do parágrafo, o que aumenta o grau de informatividade do texto e desperta o interesse do leitor. Questão 18 A namorada Havia um muro alto entre nossas casas. Difícil de mandar recado para ela. Não havia e-mail. O pai era uma onça. 5 A gente amarrava o bilhete numa pedra presa por um cordão e pinchava a pedra no quintal da casa dela. Se a namorada respondesse pela mesma pedra Era uma glória! 10 Mas por vezes o bilhete enganchava nos galhos da goiabeira E então era agonia. No tempo do onça era assim. BARROS, Manoel de. Poesia Completa. São Paulo: Leya, 2010. Difícil de mandar recado para ela. Não havia e-mail. O pai era uma onça. (v. 2-4) O primeiro verso estabelece mesma relação de sentido com cada um dos dois outros versos. Um conectivo que expressa essa relação é: a) porém b) porque c) embora d) portanto Gabarito: B Resolução: (Resolução oficial) O poeta namorado sente dificuldade de mandar recado para a sua namorada porque, primeiro, não havia e-mail naquela época e, depois, porque o pai que era uma onça bloqueava a comunicação entre os namorados. A relação entre os versos, portanto, é causal, podendo ser marcada pelo uso da conjunção "porque". Questão 19 A vida invisível 1 Há séculos, o ser humano começou a perguntar-se por qual razão as sociedades 2 diferenciavam a tal ponto os dois sexos em matéria de hierarquia e funções. Uma ou outra 3 mulher especialmente intrépida já se havia feito essas perguntas, como, por exemplo, a 4 francesa Christine de Pisan, que em 1405 escreveu A cidade das mulheres; mas foi 5 preciso que viessem o positivismo e a morte definitiva dos deuses para que os habitantes 6 do mundo ocidental desdenhassem a imutabilidade da ordem natural e começassem a 7 perguntar massivamente sobre o porquê das coisas, curiosidade intelectual que 8 forçosamente teve de incluir, apesar da resistência apresentada por muitos e muitas, os 9 numerosos motivos relativos à condição da mulher: diferente, distante, subjugada. 10 Na realidade, ainda não há uma resposta clara a essas perguntas: como se 11 estabeleceram as hierarquias, quando isso aconteceu, se sempre foi assim. Cunharam-se 12 teorias, nenhuma suficientemente demonstrada, que falam de uma primeira etapa de 13 matriarcadona humanidade, de grandes deusas onipotentes, como a Deusa Branca 14 mediterrânea descrita por Robert Graves. Talvez não tenha sido uma etapa de 15 matriarcado, mas simplesmente de igualdade social entre os sexos, com domínios 16 específicos para umas e outros. A mulher paria, e essa assombrosa capacidade deve 17 tê-Ia tornado muito poderosa. As vênus da fertilidade que nos chegaram da pré-história 18 (como a de Willendorf gorda, bojuda, deliciosa) falam desse poder, assim como as 19 múltiplas figuras femininas posteriores, fortes deusas de pedra do neolítico. 20 Engels sustentava que a sujeição da mulher se originou ao mesmo tempo que a 21 propriedade privada e a família, quando os humanos deixaram de ser nômades e se 22 assentaram em povoados de agricultores; o homem, diz Engels, precisava assegurar-se 23 filhos próprios, aos quais pudesse transferir suas posses, e por isso controlava a mulher. 24 Ocorre-me que talvez o dom procriador das fêmeas assustasse demais os varões, 25 sobretudo quando os grupos se tornaram camponeses. Antes, na vida errante e caçadora, 26 o valor de ambos os sexos estava claramente estabelecido: elas pariam, amamentavam, 27 criavam; eles caçavam, defendiam. Funções intercambiáveis em seu valor, fundamentais. 28 Mas depois, na vida agrícola, o que os homens faziam de específico? As mulheres 29 podiam cuidar da terra tanto quanto eles, ou talvez, sob um ponto de vista mágico, até 30 melhor, pois a fertilidade era seu reino, seu domínio. Sim, é razoável pensar que eles 31 deviam achá-Ias demasiadamente poderosas. Talvez a ânsia de controle dos homens 32 tenha nascido desse medo (e da vantagem de serem eles mais fortes fisicamente). 33 Nota-se esse receio ante o poder feminino já nos primeiros mitos de nossa cultura, 34 nas narrativas sobre a criação do mundo [...]. Eva arruína Adão e toda a humanidade por 35 deixar-se tentar pela serpente, e o mesmo faz Pandora, a primeira mulher segundo a 36 mitologia grega, criada por Zeus para castigar os homens: o deus dá a Pandora uma 37 ânfora cheia de desgraças, jarra que ela destampa, movida por sua irrefreável curiosidade 38 feminina, liberando assim todos os males. Esses dois contos primordiais apresentam a 39 mulher como um ser débil, estouvado e carente de juízo. Mas, por outro lado, a 40 curiosidade é um ingrediente básico da inteligência, e nesses mitos é a mulher quem tem 41 o atrevimento de perguntar-se sobre o que existe além, o anseio de descobrir o que está 42 oculto. Além disso, os males que Eva e Pandora trazem ao mundo são a mortalidade, a 43 enfermidade, o tempo, condições que formam a substância mesma do humano, de modo 44 que, na realidade, a lenda lhes atribui um papel agridoce mas imenso, como fazedoras da 45 humanidade. [...] MONTERO, Rosa. A vida invisível. Em: MONTERO, Rosa. Histórias de mulheres. Tradução Joana Angélica d’Ávila Melo. Rio de Janeiro: Agir, 2008. p. 9-13. Adaptado. Com base na leitura do texto e na norma-padrão da língua portuguesa, assinale a(s) proposição(ões) correta(s). 01. Engels explica que a sujeição da mulher, a propriedade privada e a família se originaram simultaneamente nos primeiros povoados de agricultores, a fim de que os homens tivessem garantia da paternidade dos filhos, para poder legar-lhes a posse dos bens. 02. É de Engels a ideia de que o desejo de domínio do homem sobre a mulher é, em parte, devido ao medo fundamental do homem diante da fertilidade feminina. 04. No período "Engels sustentava que a sujeição da mulher se originou ao mesmo tempo que a propriedade privada e a família, "quando" os humanos deixaram de ser nômades e se assentaram em povoados de agricultores" (l. 20-22), o pronome relativo quando pode ser substituído por "onde", sem que isso implique desvio em relação à norma-padrão. 08. No trecho "Há séculos, o ser humano começou a perguntar-se [...]" (l. 1), caso o verbo "haver" fosse substituído por "fazer", seria necessário flexionar esse verbo na terceira pessoa do plural – "Fazem séculos [...]" – para estabelecer a concordância com o sujeito. 16. No trecho "Uma ou outra mulher especialmente intrépida já se havia feito essas perguntas [...]" (l. 2-3), se respeitadas as regras de pontuação, deveria haver uma vírgula após a palavra "intrépida". 32. No trecho "o homem [...] precisava assegurar-se filhos próprios, aos quais pudesse transferir suas posses" (l. 22-23), se substituíssemos o substantivo "filhos" por "descendência", teríamos: "o homem [...] precisava assegurar-se descendência própria, à qual pudesse transferir suas posses". Gabarito: 01 + 32 = 33 Resolução: 01. Correta. A afirmação faz uma interpretação adequada do texto. 02. Incorreta. Essa ideia é uma conclusão da própria autora, o que se nota no trecho "Ocorre-me que" (l. 24), sendo que a partir das ideias de Engels a autora faz suas reflexões. 04. Incorreta. O conectivo "onde" faz referência a lugar e não pode ser empregado para referir-se a tempo. 08. Incorreta. Quando indica tempo decorrido, o verbo "fazer", assim como "haver", é impessoal e deve ser flexionado na terceira pessoa do singular "faz". 16. Incorreta. Neste caso, a vírgula separaria o sujeito do predicado e seu uso seria incorreto. 32. Correta. Neste caso, o artigo "a" deveria ser flexionado no feminino e deveria ser craseado, pois traz consigo a preposição "a", regida pelo verbo "transferir"; a palavra "qual" deve vir no singular para concordar com o termo retomado por ela, "descendência". Questão 20 A hora dos tablets Eles são a bola da vez da informática. Saiba tudo sobre o gadget do momento e descubra como fazer a compra certa. Tablet é o eletrônico do momento, coqueluche que leva muita gente a encarar filas para botar as mãos na novidade desta ou daquela fabricante. Entretanto, eles já existem há um bom tempo: desde dispositivos para desenho com o uso de canetas a sistemas auxiliares para desktops, eles estão no mercado há pelo menos uma década. Atualmente, um tablet é um misto de computador portátil, telefone celular e aparelho multimídia. Se ele é capaz de substituir de vez todos estes equipamentos? A resposta definitiva ainda não existe, e sempre dependerá de suas necessidades específicas. E seja por razões práticas ou pelo gosto por novidades, vamos ajudá-lo a escolher o melhor equipamento para você. COSMAN, Fábio. Windows: a revista oficial, São Paulo: Digerati, n. 41, p. 30, abr. 2011. O texto possibilita o entendimento de que: I. As expressões "bola da vez", "gadget do momento" e "coqueluche" são variedades linguísticas que caracterizam o tempo de alta comercialização de tablets no mercado de eletrônicos. II. Atualmente, o tablet é capaz de substituir o computador portátil, o telefone celular e o aparelho multimídia. III. O verbo "haver", usado no singular nas expressões linguísticas "há um bom tempo" e "há pelo menos uma década", informa o tempo decorrido do aparecimento do equipamento no mercado de eletrônicos. IV. A conjunção adversativa "entretanto", usada no texto, retoma a tese inicial de que a "hora" é dos tablets. Assinale a alternativa correta: a) Somente as afirmativas I e III são corretas. b) Somente as afirmativas I e IV são corretas. c) Somente as afirmativas II e III são corretas. d) Somente as afirmativas I, II e IV são corretas. e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas. Gabarito: A Resolução: I. Correta. As expressões citadas reforçam a ideia de que o tablet ocupa atualmente uma posição de destaque no mercado de eletrônicos. II. Incorreta. O autor define o tablet como uma mistura de telefone celular, computador portátil e aparelho multimídia, mas é cauteloso e evita afirmar categoricamente que este dispositivo substituirá definitivamente todos os outros aparelhos. III. Correta. O verbo "haver", quando indica tempo decorrido, é impessoal e deve ser empregado na terceira pessoa do singular. IV. Incorreta. A conjunção "entretanto" relativiza a tese inicial pois introduz a informação de que os tablets existem há um bom tempo.diminuído ao dar banho em suas crianças?”, “Sua mulher admira quando você alimenta o bebê ou acha que essa é uma tarefa essencialmente feminina?”, “Você conta para seus colegas que coloca suas crianças para 35 dormir?”. Tabuladas as respostas, constatou-se que a maioria dos homens, quando cumpre essas atividades, sente-se mais viril. Eles também relatam uma grande melhora na qualidade de vida. O contato mais íntimo com os filhos serviu de 40 trampolim para o que os especialistas consideram a maior transformação masculina. O amor que os homens aprenderam a dar e a receber de seus filhos fez com que eles tomassem contato com seus próprios sentimentos, sufocados durante 45 séculos. Homem agora não só pode chorar, como sentir-se frágil, com medo. Tanto que, nos últimos dez anos, o número de pacientes homens nos consultórios de psicoterapia e psicanálise cresceu cerca de 40%. Homem que é novo homem 50 elabora. A reviravolta não se deu apenas no terreno das emoções. Hoje, eles não sentem vergonha de mostrar-se vaidosos. Não está se falando aqui apenas do metrossexual, aquele homem de 55 vaidade exagerada. (...) Que o diga Ronaldo, o Fenômeno. Recentemente, de passagem pelo Brasil, ele foi com a namorada, a apresentadora Daniella Cicarelli, ao cabeleireiro MG Hair Design, em São Paulo. Enquanto ela fazia luzes 60 no cabelo, ele, muito à vontade, era atendido por duas manicures – uma lhe fazia as unhas da mão e a outra, as dos pés. Freud se perguntava, sem conseguir responder, o que queria, afinal, uma mulher. Uma 65 parte da resposta já pode ser dada: ela quer um novo homem. A metamorfose do macho. Veja, edição especial Homem, ago. 2004. Disponível em: . (Adaptado.) Assinale o que for correto a respeito dos elementos linguísticos do texto. 01) Em “O número de homens que assistem ao parto de seus filhos ...” (linhas 22-23), a forma verbal em negrito segue a regência preconizada pelo português-padrão. No português não padrão, não haveria a preposição “a”. 02) Embora os vocábulos “machismo” e “delicadeza” não sejam antônimos, eles apresentam esse uso no período “O machismo perdeu terreno e, no seu lugar, entrou a delicadeza.” (linhas 16-17). 04) Em “... como se lhes tivessem tirado o chão.” (linhas 8-9), o elemento em negrito introduz uma construção causal. 08) No texto, podem ser encontradas várias construções comparativas, como, por exemplo, “... já se mostram mais à vontade ...” (linha 14), “... estão mais atentos aos movimentos internos de suas companheiras...” (linhas 19-20), “... a maioria dos homens (...) sente-se mais viril.” (linhas 36-37). Esse recurso linguístico é utilizado para contrapor o comportamento do novo homem ao do homem tradicional. 16) No período “Enquanto ela fazia luzes no cabelo, ele, muito à vontade, era atendido por duas manicures...” (linhas 59-61), o elemento em negrito poderia ser substituído, sem prejuízo de sentido, pela expressão “Durante o tempo em que”. Gabarito: 27 Resolução: 01 + 02 + 08 + 16 = 27 Apenas a afirmação 04 está incorreta, já que o conectivo "como", no contexto em que se insere, não introduz uma construção causal, mas sim expressa uma ideia de comparação. Questão 3 A identidade e a diferença: o poder de definir A identidade e a diferença são o resultado de um processo de produção simbólica e discursiva. (...) A identidade, tal como a diferença, é uma relação social. Isso significa que sua definição – discursiva e linguística – está sujeita a vetores de força, a relações de poder. Elas não são simplesmente definidas; elas são impostas. Não convivem harmoniosamente, lado a lado, em um campo sem hierarquias; são http://veja.abril.com.br/especiais/homem_2004/p_010.html disputadas. Não se trata, entretanto, apenas do fato de que a definição da identidade e da diferença seja objeto de disputa entre grupos sociais simetricamente situados relativamente ao poder. Na disputa pela identidade está envolvida uma disputa mais ampla por outros recursos simbólicos e materiais da sociedade. A afirmação da identidade e a enunciação da diferença traduzem o desejo dos diferentes grupos sociais, assimetricamente situados, de garantir o acesso privilegiado aos bens sociais. A identidade e a diferença estão, pois, em estreita conexão com relações de poder. O poder de definir a identidade e de marcar a diferença não pode ser separado das relações mais amplas de poder. A identidade e a diferença não são, nunca, inocentes. Podemos dizer que onde existe diferenciação – ou seja, identidade e diferença – aí está presente o poder. A diferenciação é o processo central pelo qual a identidade e a diferença são produzidas. Há, entretanto, uma série de outros processos que traduzem essa diferenciação ou que com ela guardam uma estreita relação. São outras tantas marcas da presença do poder: incluir/excluir ("estes pertencem, aqueles não"); demarcar fronteiras ("nós" e "eles"); classificar ("bons e maus"; "puros e impuros"; "desenvolvidos e primitivos”; “racionais e irracionais”); normalizar (“nós somos normais; eles são anormais”). A afirmação da identidade e a marcação da diferença implicam, sempre, as operações de incluir e de excluir. Como vimos, dizer "o que somos" significa também dizer "o que não somos". A identidade e a diferença se traduzem, assim, em declarações sobre quem pertence e sobre quem não pertence, sobre quem está incluído e quem está excluído. Afirmar a identidade significa demarcar fronteiras, significa fazer distinções entre o que fica dentro e o que fica fora. A identidade está sempre ligada a uma forte separação entre "nós" e "eles". Essa demarcação de fronteiras, essa separação e distinção, supõem e, ao mesmo tempo, afirmam e reafirmam relações de poder. (...) Os pronomes "nós" e "eles" não são, aqui, simples categorias gramaticais, mas evidentes indicadores de posições-de-sujeito fortemente marcadas por relações de poder: dividir o mundo social entre "nós" e "eles" significa classificar. O processo de classificação é central na vida social. Ele pode ser entendido como um ato de significação pelo qual dividimos e ordenamos o mundo social em grupos, em classes. A identidade e a diferença estão estreitamente relacionadas às formas pelas quais a sociedade produz e utiliza classificações. As classificações são sempre feitas a partir do ponto de vista da identidade. Isto é, as classes nas quais o mundo social é dividido não são simples agrupamentos simétricos. Dividir e classificar significa, neste caso, também hierarquizar. Deter o privilégio de classificar significa também deter o privilégio de atribuir diferentes valores aos grupos assim classificados.A mais importante forma de classificação é aquela que se estrutura em torno de oposições binárias, isto é, em torno de duas classes polarizadas. O filósofo francês Jacques Derrida analisou detalhadamente esse processo. Para ele, as oposições binárias não expressam uma simples divisão do mundo em duas classes simétricas: em uma oposição binária, um dos termos é sempre privilegiado, recebendo um valor positivo, enquanto o outro recebe uma carga negativa. "Nós" e "eles", por exemplo, constitui uma típica oposição binária: não é preciso dizer qual termo é, aqui, privilegiado. As relações de identidade e diferença ordenam-se, todas, em torno de oposições binárias: masculino/feminino, branco/negro, heterossexual/homossexual. Questionar a identidade e a diferença como relações de poder significa problematizar os binarismos em torno dos quais elas se organizam. Fixar uma determinada identidade como a norma é uma das formas privilegiadas de hierarquização das identidades e das diferenças. A normalização é um dos processos mais sutis pelos quais o poder se manifesta no campo da identidade e da diferença. Normalizar significa eleger – arbitrariamente – uma identidade específica como o parâmetro em relação ao qual as outras identidades são avaliadas e hierarquizadas. Normalizar significa atribuir a essa identidade todas as características positivaspossíveis, em relação às quais as outras identidades só podem ser avaliadas de forma negativa. A identidade normal é "natural", desejável, única. A força da identidade normal é tal que ela nem sequer é vista como uma identidade, mas simplesmente como a identidade. Paradoxalmente, são as outras identidades que são marcadas como tais. Numa sociedade em que impera a supremacia branca, por exemplo, "ser branco" não é considerado uma identidade étnica ou racial. Num mundo governado pela hegemonia cultural estadunidense, "étnica" é a música ou a comida dos outros países. É a sexualidade homossexual que é "sexualizada", não a heterossexual. A força homogeneizadora da identidade normal é diretamente proporcional à sua invisibilidade. Na medida em que é uma operação de diferenciação, de produção de diferença, o anormal é inteiramente constitutivo do normal. Assim como a definição da identidade depende da diferença, a definição do normal depende da definição do anormal. Aquilo que é deixado de fora é sempre parte da definição e da constituição do "dentro". A definição daquilo que é considerado aceitável, desejável, natural é inteiramente dependente da definição daquilo que é considerado abjeto, rejeitável, antinatural. A identidade hegemônica é permanentemente assombrada pelo seu Outro, sem cuja existência ela não faria sentido. Como sabemos desde o início, a diferença é parte ativa da formação da identidade. SILVA, Tomaz Tadeu. A produção social da identidade e da diferença. In: SILVA, Tomaz Tadeu (org. e trad.). Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis: Vozes, 2000. p. 73-75. http://ead.ucs.br/orientador/turmaA/Acervo/web_F/web_H/file.2007-09-10.5492799236.pdf Releia o trecho: “A identidade e a diferença estão, pois, em estreita conexão com relações de poder”. (2° parágrafo) a) Explique o trecho, tomando como base o termo destacado. b) Reescreva o trecho, substituindo o termo destacado por um outro marcador discursivo que mantenha a relação sintático-semântica por ele estabelecida. Gabarito: a) O conectivo em destaque serve para evidenciar uma conclusão do autor: o que se estabelece como identidade e diferença serve, na verdade, para justificar as relações de poder que se constituem na sociedade, ou seja, definir quem são os privilegiados e quem são os excluídos. b) “A identidade e a diferença estão, portanto, em estreita conexão com relações de poder”. Questão 4 A invasão A divisão ciência/humanismo se reflete na maneira como as pessoas, hoje, encaram o computador. Resiste-se ao computador, e a toda a cultura cibernética, como uma forma de ser fiel ao livro e à palavra impressa. Mas o computador não eliminará o papel. Ao contrário do que se pensava há alguns anos, o computador não salvará as florestas. Aumentou o uso do papel em todo o mundo, e não apenas porque a cada novidade eletrônica lançada no mercado corresponde um manual de instrução, sem falar numa embalagem de papelão e num embrulho para presente. O computador estimula as pessoas a escreverem e imprimirem o que escrevem. Como hoje qualquer um pode ser seu próprio editor, paginador e ilustrador sem largar o mouse, a tentação de passar sua obra para o papel é quase irresistível. Desconfio que o que salvará o livro será o supérfluo, o que não tem nada a ver com conteúdo ou conveniência. Até que lancem computadores com cheiro sintetizado, nada substituirá o cheiro de papel e tinta nas suas duas categorias inimitáveis, livro novo e livro velho. E nenhuma coleção de gravações ornamentará uma sala com o calor e a dignidade de uma estante de livros. A tudo que falta ao admirável mundo da informática, da cibernética, do virtual e do instantâneo acrescente-se isso: falta lombada. No fim, o livro deverá sua sobrevida à decoração de interiores. O Estado de S.Paulo, 31 maio 2015. De acordo com o cronista, a ideia que se tinha há alguns anos, de redução de consumo de papel em razão do emprego generalizado de computadores, revelou-se a) plausível. b) improcedente. c) comprovável. d) imponderável. e) procedente. Gabarito: B Resolução: De acordo com o cronista, a ideia que se tinha há alguns anos de redução de consumo de papel, em razão do emprego generalizado de computadores, revelou-se improcedente, como podemos confirmar pela leitura do trecho "Ao contrário do que se pensava há alguns anos, o computador não salvará as florestas. Aumentou o uso do papel em todo o mundo". Questão 5 A internet e a neutralidade da rede 01 A internet, vista, unanimemente, como o 02 território livre, a tecnologia libertadora que, em 03 muitos países, permitiu o florescimento da 04 cidadania, a ampliação das oportunidades de 05 educação, o ambiente para novas empresas e 06 novos empreendedores, para o trabalho 07 colaborativo em rede. 08 Graças a seu ambiente libertário, 09 internacionalmente ajudou a derrubar 10 ditaduras e monopólios de mídia, o controle da 11 informação, tanto por governos como por 12 cartéis. 13 No entanto, não se considere um modelo 14 consolidado. Em outros momentos da história 15 surgiram novas tecnologias, promovendo 16 rupturas, abrindo espaço para a 17 democratização e, no momento seguinte, 18 quedaram dominadas por novos cartéis e 19 monopólios que se formaram. 20 Foi assim com o início da telefonia. 21 Enquanto a Bell Co se consolidava, como 22 grande companhia nacional, surgiram 23 inúmeras experiências locais, como a Mesa 24 Telephone, para localidades rurais norte- 25 -americanas, de tecnologia rudimentar, porém 26 útil para ligar comunidades agrícolas. 27 Nasceram centenas de outras companhias 28 por todo o país. Esse mesmo modelo 29 disseminou-se pelo Brasil dos anos 40 em 30 diante, com companhias municipais levando o 31 telefone a cidades menores, em um surto de 32 pioneirismo extraordinário. 33 Nos Estados Unidos, o movimento dos 34 "independentes" permitiu às comunidades 35 rurais estreitar laços, criar amizades, sistemas 36 de informação, da mesma maneira que as 37 redes sociais de agora. Através do telefone 38 desenvolveram noticiários sobre o clima, sobre 39 a região, relatórios de mercado etc. 40 Os "independentes" chegaram a ter 3 41 milhões de aparelhos, contra 2,5 milhões da 42 Bell. 42 Com a ajuda do J.P. Morgan, o mais 43 influente banco da época, a Bell reestruturou- 44 -se em torno da AT&T. 45 Em vez de declarar guerra aos 46 "independentes", a nova direção propôs um 47 trabalho conjunto, facilitando para eles as 48 ligações de longa distância, desde que 49 trocassem seus sistemas rústicos pelos padrões 50 Bell. Quem não aderisse, não teria ligações de 51 longa distância. 52 Como resultado, a AT&T matou a 53 concorrência dos "independentes" e construiu 54 o mais longevo e poderoso monopólio da 55 história, só desmembrado na década de 1980. 56 O mesmo processo de concentração se 57 repetiu no rádio. 58 No início, o rádio tornou-se uma ferramenta 59 tão democrática e disseminada quanto a 60 internet. Não havia controle e qualquer 61 pessoa, adquirindo um kit de rádio, montava 62 sua estação sem fio. 63 Em 1921 havia 525 estatais transmissoras 64 nos Estados Unidos. Até o final de 1924, mais 65 de 2 milhões de aparelhos de rádio. Segundo 66 Tim Wu, autor do importante Impérios da 67 Comunicação, antes da internet os rádios 68 foram a maior mídia aberta do século. 69 Repetiu-se o mesmo processo do telefone. 70 À medida que aumentava o público e criava 71 escala, o mercado libertário era enquadrado 72 pelo poder público e a ocupação do espaço 73 entregue a grupos particulares. 74 Hoje em dia, as concessões de rádio se 75 tornaram ativos de empresas privadas, as 76 rádios comunitárias são criminalizadas e o 77 exercício pessoal se restringe aos rádio- 78 amadores. 79 Esse é o desafio atual da internet. Se não 80 for garantida a neutralidade da rede - isto é, o 81 direito de qualquer site ou pessoa de ter 82 acesso à rede, sem privilégios - em breve o 83 grande sonho libertário da internet terá o 84 mesmo destino do telefone e do rádio. Luís Nassif. Coluna Econômica, 7 set. 2013.Os parágrafos do texto têm um alto grau de coesão. Assinale a afirmação falsa em relação ao mecanismo coesivo. a) Entre os parágrafos 1 e 2, a coesão é feita só com a progressão das ideias do parágrafo 1, sem nenhum elo linguístico. b) Entre os parágrafos 2 e 3, a coesão é feita pela conjunção adversativa "no entanto" (que opõe o que vai ser dito no parágrafo 3 ao que foi dito nos parágrafos 1 e 2) e pela retomada do que foi dito nos parágrafos 1 e 2, que o articulista resumiu em "um modelo consolidado". c) Entre os parágrafos 3 e 4, a coesão é feita pelo advérbio "assim" que aponta retroativamente para o que foi dito entre as linhas 01 e 19. d) Entre os parágrafos 10 e 11, faz-se a coesão por meio da expressão "o mesmo processo de concentração" e liga-se não só ao parágrafo imediatamente anterior (parágrafo 10), mas a tudo que foi dito antes, entre as linhas 13 e 58. Gabarito: A Resolução: A afirmação A é falsa, pois a coesão entre os parágrafos não é feita apenas pela progressão das ideias, mas também pelo pronome "seu" (segundo parágrafo, linha 51), que se refere a "internet" (primeiro parágrafo, linha 44). Questão 6 A internet e a neutralidade da rede 01 A internet, vista, unanimemente, como o 02 território livre, a tecnologia libertadora que, em 03 muitos países, permitiu o florescimento da 04 cidadania, a ampliação das oportunidades de 05 educação, o ambiente para novas empresas e 06 novos empreendedores, para o trabalho 07 colaborativo em rede. 08 Graças a seu ambiente libertário, 09 internacionalmente ajudou a derrubar 10 ditaduras e monopólios de mídia, o controle da 11 informação, tanto por governos como por 12 cartéis. 13 No entanto, não se considere um modelo 14 consolidado. Em outros momentos da história 15 surgiram novas tecnologias, promovendo 16 rupturas, abrindo espaço para a 17 democratização e, no momento seguinte, 18 quedaram dominadas por novos cartéis e 19 monopólios que se formaram. 20 Foi assim com o início da telefonia. 21 Enquanto a Bell Co se consolidava, como 22 grande companhia nacional, surgiram 23 inúmeras experiências locais, como a Mesa 24 Telephone, para localidades rurais norte- 25 -americanas, de tecnologia rudimentar, porém 26 útil para ligar comunidades agrícolas. 27 Nasceram centenas de outras companhias 28 por todo o país. Esse mesmo modelo 29 disseminou-se pelo Brasil dos anos 40 em 30 diante, com companhias municipais levando o 31 telefone a cidades menores, em um surto de 32 pioneirismo extraordinário. 33 Nos Estados Unidos, o movimento dos 34 "independentes" permitiu às comunidades 35 rurais estreitar laços, criar amizades, sistemas 36 de informação, da mesma maneira que as 37 redes sociais de agora. Através do telefone 38 desenvolveram noticiários sobre o clima, sobre 39 a região, relatórios de mercado etc. 40 Os "independentes" chegaram a ter 3 41 milhões de aparelhos, contra 2,5 milhões da 42 Bell. 42 Com a ajuda do J.P. Morgan, o mais 43 influente banco da época, a Bell reestruturou- 44 -se em torno da AT&T. 45 Em vez de declarar guerra aos 46 "independentes", a nova direção propôs um 47 trabalho conjunto, facilitando para eles as 48 ligações de longa distância, desde que 49 trocassem seus sistemas rústicos pelos padrões 50 Bell. Quem não aderisse, não teria ligações de 51 longa distância. 52 Como resultado, a AT&T matou a 53 concorrência dos "independentes" e construiu 54 o mais longevo e poderoso monopólio da 55 história, só desmembrado na década de 1980. 56 O mesmo processo de concentração se 57 repetiu no rádio. 58 No início, o rádio tornou-se uma ferramenta 59 tão democrática e disseminada quanto a 60 internet. Não havia controle e qualquer 61 pessoa, adquirindo um kit de rádio, montava 62 sua estação sem fio. 63 Em 1921 havia 525 estatais transmissoras 64 nos Estados Unidos. Até o final de 1924, mais 65 de 2 milhões de aparelhos de rádio. Segundo 66 Tim Wu, autor do importante Impérios da 67 Comunicação, antes da internet os rádios 68 foram a maior mídia aberta do século. 69 Repetiu-se o mesmo processo do telefone. 70 À medida que aumentava o público e criava 71 escala, o mercado libertário era enquadrado 72 pelo poder público e a ocupação do espaço 73 entregue a grupos particulares. 74 Hoje em dia, as concessões de rádio se 75 tornaram ativos de empresas privadas, as 76 rádios comunitárias são criminalizadas e o 77 exercício pessoal se restringe aos rádio- 78 amadores. 79 Esse é o desafio atual da internet. Se não 80 for garantida a neutralidade da rede - isto é, o 81 direito de qualquer site ou pessoa de ter 82 acesso à rede, sem privilégios - em breve o 83 grande sonho libertário da internet terá o 84 mesmo destino do telefone e do rádio. Luís Nassif. Coluna Econômica, 7 set. 2013. Considere os dois enunciados do último parágrafo e atente ao que se diz sobre eles. I. O pronome "esse", pelos ensinamentos da gramática normativa, aponta para o que vem antes dele (enquanto o "este" aponta para o que vem depois). No primeiro enunciado do último parágrafo – "Esse é o desafio atual da internet", no entanto, o que deveria ter sido dito antes não foi explicitado linguisticamente. II. Por inferência o leitor fica sabendo qual é o desafio da internet: conservar-se como um território livre e neutro. III. "em breve o grande sonho libertário da internet terá o mesmo destino do telefone e do rádio." Esse destino consiste em ser a internet dominada por cartéis (acordos comerciais entre empresas com a finalidade de determinar os preços e limitar a concorrência) e, portanto, passar a ser um espaço privilegiado de liberdade. Está correto o que se diz apenas em a) I e III. b) III. c) II e III. d) I e II. Gabarito: D Resolução: III. Incorreta. Se a internet for dominada por cartéis, ela não será um espaço privilegiado de liberdade, mas, ao contrário, tal liberdade será restringida, pois seu acesso não será para todos. Questão 7 A internet e a neutralidade da rede 01 A internet, vista, unanimemente, como o 02 território livre, a tecnologia libertadora que, em 03 muitos países, permitiu o florescimento da 04 cidadania, a ampliação das oportunidades de 05 educação, o ambiente para novas empresas e 06 novos empreendedores, para o trabalho 07 colaborativo em rede. 08 Graças a seu ambiente libertário, 09 internacionalmente ajudou a derrubar 10 ditaduras e monopólios de mídia, o controle da 11 informação, tanto por governos como por 12 cartéis. 13 No entanto, não se considere um modelo 14 consolidado. Em outros momentos da história 15 surgiram novas tecnologias, promovendo 16 rupturas, abrindo espaço para a 17 democratização e, no momento seguinte, 18 quedaram dominadas por novos cartéis e 19 monopólios que se formaram. 20 Foi assim com o início da telefonia. 21 Enquanto a Bell Co se consolidava, como 22 grande companhia nacional, surgiram 23 inúmeras experiências locais, como a Mesa 24 Telephone, para localidades rurais norte- 25 -americanas, de tecnologia rudimentar, porém 26 útil para ligar comunidades agrícolas. 27 Nasceram centenas de outras companhias 28 por todo o país. Esse mesmo modelo 29 disseminou-se pelo Brasil dos anos 40 em 30 diante, com companhias municipais levando o 31 telefone a cidades menores, em um surto de 32 pioneirismo extraordinário. 33 Nos Estados Unidos, o movimento dos 34 "independentes" permitiu às comunidades 35 rurais estreitar laços, criar amizades, sistemas 36 de informação, da mesma maneira que as 37 redes sociais de agora. Através do telefone 38 desenvolveram noticiários sobre o clima, sobre 39 a região, relatórios de mercado etc. 40 Os "independentes" chegaram a ter 3 41 milhões de aparelhos, contra 2,5 milhões da 42 Bell. 42 Com a ajuda do J.P. Morgan, o mais 43 influente banco da época, a Bell reestruturou- 44 -se em torno da AT&T. 45 Em vez de declarar guerra aos 46 "independentes", a nova direção propôs um 47 trabalho conjunto, facilitando para eles as 48 ligações de longa distância, desde que 49 trocassem seus sistemas rústicos pelos padrões 50 Bell. Quem não aderisse, não teria ligaçõesde 51 longa distância. 52 Como resultado, a AT&T matou a 53 concorrência dos "independentes" e construiu 54 o mais longevo e poderoso monopólio da 55 história, só desmembrado na década de 1980. 56 O mesmo processo de concentração se 57 repetiu no rádio. 58 No início, o rádio tornou-se uma ferramenta 59 tão democrática e disseminada quanto a 60 internet. Não havia controle e qualquer 61 pessoa, adquirindo um kit de rádio, montava 62 sua estação sem fio. 63 Em 1921 havia 525 estatais transmissoras 64 nos Estados Unidos. Até o final de 1924, mais 65 de 2 milhões de aparelhos de rádio. Segundo 66 Tim Wu, autor do importante Impérios da 67 Comunicação, antes da internet os rádios 68 foram a maior mídia aberta do século. 69 Repetiu-se o mesmo processo do telefone. 70 À medida que aumentava o público e criava 71 escala, o mercado libertário era enquadrado 72 pelo poder público e a ocupação do espaço 73 entregue a grupos particulares. 74 Hoje em dia, as concessões de rádio se 75 tornaram ativos de empresas privadas, as 76 rádios comunitárias são criminalizadas e o 77 exercício pessoal se restringe aos rádio- 78 amadores. 79 Esse é o desafio atual da internet. Se não 80 for garantida a neutralidade da rede - isto é, o 81 direito de qualquer site ou pessoa de ter 82 acesso à rede, sem privilégios - em breve o 83 grande sonho libertário da internet terá o 84 mesmo destino do telefone e do rádio. Luís Nassif. Coluna Econômica, 7 set. 2013. Atente ao que se diz sobre o seguinte enunciado: "No entanto, não se considere um modelo consolidado" (l. 13-14). I. Para ser entendido, o enunciador exige a cooperação do leitor, que deverá, por inferência, saber de qual modelo ele fala. II. Ao enunciado falta uma expressão que desempenhe o papel de sujeito da voz passiva do verbo considerar. III. Dependendo do contexto, a não explicitação do sujeito do verbo "considerar" torna o enunciado passível de duas leituras: (1) "No entanto, não considere a si mesmo um modelo consolidado."; (2) "No entanto, não seja considerado (o modelo da internet) como um modelo consolidado." Está correto o que se diz em a) I, II e III. b) II e III apenas. c) I e II apenas. d) I e III apenas. Gabarito: A Resolução: Todas as afirmações estão corretas. O enunciado "No entanto, não se considere um modelo consolidado" não traz o sujeito do verbo "não se considere", que está na voz passiva. Assim, o autor conta com a cooperação do leitor para ser entendido, uma vez que este deverá inferir que o modelo a que o autor se refere é o modelo de internet descrito nos dois primeiros parágrafos do texto, o que o levaria à segunda leitura explicitada na afirmação III. Questão 8 A pressa de acabar Evidentemente nós sofremos agora em todo o mundo de uma dolorosa moléstia: a pressa de acabar. Os nossos avós nunca tinham pressa. Ao contrário. Adiar, aumentar, era para eles a suprema delícia. Como os relógios, nesses tempos remotos, não eram maravilhas de precisão, os homens mediam os dias com todo o cuidado da atenção. 5 Sim! Em tudo, essa estranha pressa de acabar se ostenta como a marca do século. Não há mais livros definitivos, quadros destinados a não morrer, ideias imortais. Trabalha- se muito mais, pensa-se muito mais, ama-se mesmo muito mais, apenas sem fazer a digestão e sem ter tempo de a fazer. Antigamente as horas eram entidades que os homens conheciam imperfeitamente. Calcular 10 a passagem das horas era tão complicado como calcular a passagem dos dias. Inventavam-se relógios de todos os moldes e formas. Hoje, nós somos escravos das horas, dessas senhoras inexoráveis* que não cedem nunca e cortam o dia da gente numa triste migalharia de minutos e segundos. Cada hora é para nós distinta, pessoal, característica, porque cada hora representa para nós o acúmulo de várias 15 coisas que nós temos pressa de acabar. O relógio era um objeto de luxo. Hoje até os mendigos usam um marcador de horas, porque têm pressa, pressa de acabar. O homem mesmo será classificado, afirmo eu já com pressa, como o Homus cinematographicus. Nós somos uma delirante sucessão de fitas cinematográficas. Em meia hora de sessão tem-se um espetáculo multiforme e assustador cujo título geral é: Precisamos acabar depressa. 20 O homem de agora é como a multidão: ativo e imediato. Não pensa, faz; não pergunta, obra; não reflete, julga. O homem cinematográfico resolveu a suprema insanidade: encher o tempo, atopetar o tempo, abarrotar o tempo, paralisar o tempo para chegar antes dele. Todos os dias (dias em que ele não vê a beleza do sol ou do céu e a doçura das árvores porque não tem tempo, diariamente, nesse 25 número de horas retalhadas em minutos e segundos que uma população de relógios marca, registra e desfia), o pobre diabo sua, labuta, desespera com os olhos fitos nesse hipotético poste de chegada que é a miragem da ilusão. Uns acabam pensando que encheram o tempo, que o mataram de vez. Outros desesperados vão para o hospício ou para os cemitérios. A corrida continua. E o Tempo também, o Tempo 30 insensível e incomensurável, o Tempo infinito para o qual todo o esforço é inútil, o Tempo que não acaba nunca! É satanicamente doloroso. Mas que fazer? João do Rio. Cinematógrafo: crônicas cariocas. Rio de Janeiro: ABL, 2009. Adaptado. * inexoráveis − que não cedem, implacáveis. "O homem cinematográfico resolveu a suprema insanidade: encher o tempo, atopetar o tempo, abarrotar o tempo, paralisar o tempo para chegar antes dele." (l. 22-23) De acordo com a leitura global do texto, o autor caracteriza a tentativa de controlar o tempo como “suprema insanidade”, porque se trata de uma tarefa que não está ao alcance do homem. O trecho que melhor expõe a insanidade dessa tentativa é: a) homens mediam os dias com todo o cuidado da atenção. (l. 4) b) Inventavam-se relógios de todos os moldes e formas. (l. 10-11) c) O homem de agora é como a multidão: ativo e imediato. (l. 20) d) sua, labuta, desespera com os olhos fitos nesse hipotético poste (l. 26-27) Gabarito: D Resolução: (Resolução oficial) A insanidade a que se refere o cronista é a de tentar chegar antes do próprio tempo, como se não precisasse de tempo para chegar a algum lugar. O trecho que melhor expõe a insanidade dessa tentativa é aquele que diz que “o pobre diabo sua, labuta, desespera com os olhos fitos nesse hipotético poste”, pois descreve uma tentativa “insana” e apresenta um poste que funciona como uma imagem, como uma ilusão, mesmo como uma alucinação. Questão 9 A Lei Bernardo e o assédio moral na família 1 O caso do menino Bernardo Uglione Boldrini chocou o Brasil. Ainda sem julgamento, a história do homicídio 2 do menino de apenas 11 anos de idade, que tem como principais suspeitos o pai, a madrasta e a assistente 3 social amiga da família, trouxe à tona diversos assuntos, em especial, a convivência familiar. As versões dos 4 acusados são diversas e contraditórias, mas a principal questão reside em torno do tratamento interpessoal 5 dentro da entidade familiar. Nesse tocante, surge preocupação com a situação que muitas famílias vivenciam 6 de tratamento cruel ou degradante, que a Lei Bernardo repudia. 7 A Lei Bernardo, antiga Lei Palmada, eterniza o nome de Bernardo Boldrini. Em vida, o menino chegou a 8 reclamar judicialmente dos maus-tratos sofridos no ambiente familiar, demonstrando que, antes de sua morte 9 física noticiada, Bernardo já estava sofrendo o chamado homicídio da alma, também conhecido como assédio 10 moral. O assédio moral é conduta agressiva que gera a degradação da identidade da vítima assediada, 11 enquanto o agressor sente prazer de hostilizar, humilhar, perseguir e tratar de forma cruel o outro. 12 Justamente essa conduta que o Art. 18-A do ECA, trazido pela Lei Bernardo, disciplina na tentativa de proteger 13 a criança e o adolescente de tais práticas. 14 O assédio moral possui várias denominações pelo mundo, como bullying, mobbing, ijime, harassment, e é 15 caracterizado por condutas violentas, sorrateiras,constantes, que algumas vezes são entendidas como ino- 16 fensivas, mas se propagam insidiosamente. A figura do assédio moral na família surge exatamente quando 17 o afeto deixa de existir dando espaço à desconsideração da dignidade do outro no dia a dia. Demonstrando, 18 assim, que, embora haja necessidade de afetividade para que surja uma entidade familiar, com o desapare- 19 cimento do sentimento de afeto surgem situações de violência, inclusive a psíquica. 20 A gravidade é majorada no âmbito da família, eis que ela é principal responsável pelo desenvolvimento da 21 personalidade de seus membros e do afeto, elemento agregador. 22 A morte da alma do menino Bernardo ainda em vida, resultado de tratamento degradante, diário e sorrateiro, 23 que culminou na morte física, faz refletir sobre a importância da família no desenvolvimento da personalidade 24 de seus membros, de modo a valorizar a existência do afeto para que não haja na entidade familiar a figura 25 do assédio moral. 26 O assédio moral na família, ou psicoterror familiar, deve ser amplamente combatido, principalmente pelo papel 27 exercido pela família de atuar no desenvolvimento da criança e do adolescente, de modo que a integridade 28 psíquica deve ser sempre resguardada, no afeto e no respeito à dignidade da pessoa humana, desde seu 29 nascimento. SENGIK, K. B. Jornal de Londrina. 14 set. 2014. Ponto de vista. ano 26. n. 7.855. p. 2. Adaptado. Sobre os conectivos empregados no quarto parágrafo, assinale a alternativa correta. a) O termo "como" (l.14) é usado para introduzir exemplificação de denominações. b) O termo "mas" (l.16) tem valor aditivo, associando caráter inofensivo e propagação insidiosa. c) O termo "assim" (l.18) tem valor temporal, remetendo ao imediatismo na sequência das ações. d) O termo "embora" (l.18) serve para contrapor "necessidade de afetividade" e "entidade familiar". e) O termo "para que" (l.18) é utilizado para introduzir a finalidade do surgimento de situações de violência. Gabarito: A Resolução: (Resolução oficial) a) Correta. O termo "como" introduz, no texto, uma série de exemplificações de denominações que se referem ao assédio moral "como bullying, mobbing, ijime, harassment", isto é, "como" pode ser substituído pelo termo "por exemplo". b) Incorreta. A conjunção "mas" tem caráter adversativo e opõe os termos "inofensivas" e "propagam insidiosamente". c) Incorreta. O termo "assim" tem caráter conclusivo. d) Incorreta. O termo "embora" contrapõe "necessidade de afetividade" a "desaparecimento do sentimento de afeto". e) Incorreta. A expressão "para que" indica a finalidade da necessidade afetiva para o surgimento da entidade familiar. Questão 10 A Lei Bernardo e o assédio moral na família 1 O caso do menino Bernardo Uglione Boldrini chocou o Brasil. Ainda sem julgamento, a história do homicídio 2 do menino de apenas 11 anos de idade, que tem como principais suspeitos o pai, a madrasta e a assistente 3 social amiga da família, trouxe à tona diversos assuntos, em especial, a convivência familiar. As versões dos 4 acusados são diversas e contraditórias, mas a principal questão reside em torno do tratamento interpessoal 5 dentro da entidade familiar. Nesse tocante, surge preocupação com a situação que muitas famílias vivenciam 6 de tratamento cruel ou degradante, que a Lei Bernardo repudia. 7 A Lei Bernardo, antiga Lei Palmada, eterniza o nome de Bernardo Boldrini. Em vida, o menino chegou a 8 reclamar judicialmente dos maus-tratos sofridos no ambiente familiar, demonstrando que, antes de sua morte 9 física noticiada, Bernardo já estava sofrendo o chamado homicídio da alma, também conhecido como assédio 10 moral. O assédio moral é conduta agressiva que gera a degradação da identidade da vítima assediada, 11 enquanto o agressor sente prazer de hostilizar, humilhar, perseguir e tratar de forma cruel o outro. 12 Justamente essa conduta que o Art. 18-A do ECA, trazido pela Lei Bernardo, disciplina na tentativa de proteger 13 a criança e o adolescente de tais práticas. 14 O assédio moral possui várias denominações pelo mundo, como bullying, mobbing, ijime, harassment, e é 15 caracterizado por condutas violentas, sorrateiras, constantes, que algumas vezes são entendidas como ino- 16 fensivas, mas se propagam insidiosamente. A figura do assédio moral na família surge exatamente quando 17 o afeto deixa de existir dando espaço à desconsideração da dignidade do outro no dia a dia. Demonstrando, 18 assim, que, embora haja necessidade de afetividade para que surja uma entidade familiar, com o desapare- 19 cimento do sentimento de afeto surgem situações de violência, inclusive a psíquica. 20 A gravidade é majorada no âmbito da família, eis que ela é principal responsável pelo desenvolvimento da 21 personalidade de seus membros e do afeto, elemento agregador. 22 A morte da alma do menino Bernardo ainda em vida, resultado de tratamento degradante, diário e sorrateiro, 23 que culminou na morte física, faz refletir sobre a importância da família no desenvolvimento da personalidade 24 de seus membros, de modo a valorizar a existência do afeto para que não haja na entidade familiar a figura 25 do assédio moral. 26 O assédio moral na família, ou psicoterror familiar, deve ser amplamente combatido, principalmente pelo papel 27 exercido pela família de atuar no desenvolvimento da criança e do adolescente, de modo que a integridade 28 psíquica deve ser sempre resguardada, no afeto e no respeito à dignidade da pessoa humana, desde seu 29 nascimento. SENGIK, K. B. Jornal de Londrina. 14 set. 2014. Ponto de vista. ano 26. n. 7.855. p. 2. Adaptado. Sobre os recursos linguísticos utilizados no texto, assinale a alternativa correta. a) Em "surge preocupação", no primeiro parágrafo, mesmo que o substantivo fosse flexionado no plural, o verbo se manteria no singular. b) Em "surge preocupação", no primeiro parágrafo, o substantivo exerce a função de complemento do verbo. c) Em "sente prazer de hostilizar, humilhar", no segundo parágrafo, o verbo "humilhar" complementa o sentido de "prazer". d) Em "tratar de forma cruel o outro", no segundo parágrafo, o adjetivo se refere tanto à "forma" quanto a "o outro". e) No terceiro parágrafo, o termo "disciplina" é um substantivo concreto. Gabarito: C Resolução: (Resolução oficial) a) Incorreta. Se o substantivo fosse flexionado no plural (preocupações), o verbo com ele concordaria, ou seja, "surgem". b) Incorreta. O substantivo não é complemento do verbo, pois tem função de sujeito. c) Correta. Tanto o verbo "hostilizar" quanto o verbo "humilhar" são complementos do termo "prazer". Trata-se de complemento nominal, nesse caso, com elipse da preposição "de", já enunciada no primeiro verbo. d) Incorreta. O adjetivo "cruel" faz referência somente ao termo "forma" (de forma cruel). e) Incorreta. O termo "disciplina", no terceiro parágrafo, é um verbo. Questão 11 A mídia realmente tem o poder de manipular as pessoas? 1 À primeira vista, a resposta para a pergunta que 2 intitula este artigo parece simples e óbvia: sim, a 3 mídia é um poderoso instrumento de manipulação. A 4 ideia de que o frágil cidadão comum é impotente 5 frente aos gigantescos e poderosos conglomerados 6 da comunicação é bastante atrativa intelectualmente. 7 Influentes nomes, como Adorno e Horkheimer, os 8 primeiros pensadores a realizar análises mais 9 sistemáticas sobre o tema, concluíram que os meios 10 de comunicação em larga escala moldavam e 11 direcionavam as opiniões de seus receptores. 12 Segundo eles, o rádio torna todos os ouvintes iguais 13 ao sujeitá-los, autoritariamente, aos idênticos 14 programas das várias estações. No livro Televisão e 15 consciência de classe, Sarah Chucid Da Viá afirma 16 que o vídeo apresenta um conjunto de imagens 17 trabalhadas, cuja apreensão é momentânea, de forma 18 a persuadir rápida e transitoriamente o grande 19 público. Por sua vez, o psicólogo social Gustav Le 20 Bon considerava que, nas massas, o indivíduo 21 deixava deser ele próprio para ser um autômato sem 22 vontade e os juízos aceitos pelas multidões seriam 23 sempre impostos e nunca discutidos. Assim, 24 fomentou-se a concepção de que a mídia seria capaz 25 de manipular incondicionalmente uma audiência 26 submissa, passiva e acrítica. 27 Todavia, como bons cidadãos céticos, devemos 28 duvidar (ou ao menos manter certa ressalva) de 29 proposições imediatistas e aparentemente fáceis. As 30 relações entre mídia e público são demasiadamente 31 complexas, vão muito além de uma simples análise 32 behaviorista de estímulo/resposta. As mensagens 33 transmitidas pelos grandes veículos de comunicação 34 não são recebidas automaticamente e da mesma 35 maneira por todos os indivíduos. Na maioria das 36 vezes, o discurso midiático perde seu significado 37 original na controversa relação emissor/receptor. 38 Cada indivíduo está envolto em uma "bolha 39 ideológica", apanágio de seu próprio processo de 40 individuação, que condiciona sua maneira de 41 interpretar e agir sobre o mundo. Todos nós, ao 42 entrarmos em contato com o mundo exterior, 43 construímos representações sobre a realidade. Cada 44 um de nós forma juízos de valor a respeito dos 45 vários âmbitos do real, seus personagens, 46 acontecimentos e fenômenos e, consequentemente, 47 acreditamos que esses juízos correspondem à 48 "verdade". [...] 49 [...] A mídia é apenas um, entre vários quadros ou 50 grupos de referência, aos quais um indivíduo recorre 51 como argumento para formular suas opiniões. Nesse 52 sentido, competem com os veículos de comunicação 53 como quadros ou grupos de referência fatores 54 subjetivos/psicológicos (história familiar, trajetória 55 pessoal, predisposição intelectual), o contexto social 56 (renda, sexo, idade, grau de instrução, etnia, 57 religião) e o ambiente informacional (associação 58 comunitária, trabalho, igreja). "Os vários tipos de 59 receptor situam-se numa complexa rede de 60 referências em que a comunicação interpessoal e a 61 midiática se completam e modificam", afirmou a 62 cientista social Alessandra Aldé em seu livro A 63 construção da política: democracia, cidadania e 64 meios de comunicação de massa. Evidentemente, o 65 peso de cada quadro de referência tende a variar de 66 acordo com a realidade individual. Seguindo essa 67 linha de raciocínio, no original estudo Muito além 68 do Jardim Botânico, Carlos Eduardo Lins da Silva 69 constatou como telespectadores do Jornal Nacional 70 acionam seus mecanismos de defesa, individuais ou 71 coletivos, para filtrar as informações veiculadas, 72 traduzindo-as segundo seus próprios valores. "A 73 síntese e as conclusões que um telespectador vai 74 realizar depois de assistir a um telejornal não podem 75 ser antecipadas por ninguém; nem por quem 76 produziu o telejornal, nem por quem assistiu ao 77 mesmo tempo que aquele telespectador", inferiu 78 Carlos Eduardo. LADEIRA, Francisco Fernandes. Disponível em: . Publicado em: 14 abr. 2015, edição 846. Acesso em: 13 jul. 2016. Adaptado. De acordo com o ponto de vista do autor, I. fatores subjetivos/psicológicos são os mais influentes na formação das opiniões e superam até mesmo a incondicional influência midiática. II. a homogeneidade dos programas de rádio e de televisão é a responsável pela manipulação midiática das opiniões. III. é impossível determinar como o indivíduo interpretará as informações veiculadas por um telejornal. Está(ão) correta(s) apenas a) I e II. b) I e III. c) II. d) II e III. e) III. Gabarito: E Resolução: A afirmativa III está correta, pois, de acordo com o autor, é impossível determinar como o indivíduo interpretará as informações veiculadas por um telejornal, pois "competem com os veículos de comunicação como quadros ou grupos de referência fatores subjetivos/psicológicos (história familiar, trajetória pessoal, predisposição intelectual), o contexto social (renda, sexo, idade, grau de instrução, etnia, religião) e o ambiente informacional (associação comunitária, trabalho, igreja)" (l. 52-58). Neste sentido, a preponderância dada de antemão pela afirmativa I aos fatores subjetivos/psicológicos e pela II à homogeneidade dos programas de rádio e de televisão como responsáveis pela manipulação de opiniões não se verifica no texto lido. Questão 12 A mídia realmente tem o poder de manipular as pessoas? 1 À primeira vista, a resposta para a pergunta que 2 intitula este artigo parece simples e óbvia: sim, a 3 mídia é um poderoso instrumento de manipulação. A 4 ideia de que o frágil cidadão comum é impotente 5 frente aos gigantescos e poderosos conglomerados 6 da comunicação é bastante atrativa intelectualmente. 7 Influentes nomes, como Adorno e Horkheimer, os 8 primeiros pensadores a realizar análises mais 9 sistemáticas sobre o tema, concluíram que os meios 10 de comunicação em larga escala moldavam e 11 direcionavam as opiniões de seus receptores. 12 Segundo eles, o rádio torna todos os ouvintes iguais 13 ao sujeitá-los, autoritariamente, aos idênticos 14 programas das várias estações. No livro Televisão e 15 consciência de classe, Sarah Chucid Da Viá afirma 16 que o vídeo apresenta um conjunto de imagens 17 trabalhadas, cuja apreensão é momentânea, de forma 18 a persuadir rápida e transitoriamente o grande 19 público. Por sua vez, o psicólogo social Gustav Le 20 Bon considerava que, nas massas, o indivíduo 21 deixava de ser ele próprio para ser um autômato sem 22 vontade e os juízos aceitos pelas multidões seriam 23 sempre impostos e nunca discutidos. Assim, 24 fomentou-se a concepção de que a mídia seria capaz 25 de manipular incondicionalmente uma audiência 26 submissa, passiva e acrítica. 27 Todavia, como bons cidadãos céticos, devemos 28 duvidar (ou ao menos manter certa ressalva) de 29 proposições imediatistas e aparentemente fáceis. As 30 relações entre mídia e público são demasiadamente 31 complexas, vão muito além de uma simples análise 32 behaviorista de estímulo/resposta. As mensagens 33 transmitidas pelos grandes veículos de comunicação 34 não são recebidas automaticamente e da mesma 35 maneira por todos os indivíduos. Na maioria das 36 vezes, o discurso midiático perde seu significado 37 original na controversa relação emissor/receptor. 38 Cada indivíduo está envolto em uma "bolha 39 ideológica", apanágio de seu próprio processo de 40 individuação, que condiciona sua maneira de 41 interpretar e agir sobre o mundo. Todos nós, ao 42 entrarmos em contato com o mundo exterior, 43 construímos representações sobre a realidade. Cada 44 um de nós forma juízos de valor a respeito dos 45 vários âmbitos do real, seus personagens, 46 acontecimentos e fenômenos e, consequentemente, 47 acreditamos que esses juízos correspondem à 48 "verdade". [...] 49 [...] A mídia é apenas um, entre vários quadros ou 50 grupos de referência, aos quais um indivíduo recorre 51 como argumento para formular suas opiniões. Nesse 52 sentido, competem com os veículos de comunicação 53 como quadros ou grupos de referência fatores 54 subjetivos/psicológicos (história familiar, trajetória 55 pessoal, predisposição intelectual), o contexto social 56 (renda, sexo, idade, grau de instrução, etnia, 57 religião) e o ambiente informacional (associação 58 comunitária, trabalho, igreja). "Os vários tipos de 59 receptor situam-se numa complexa rede de 60 referências em que a comunicação interpessoal e a 61 midiática se completam e modificam", afirmou a 62 cientista social Alessandra Aldé em seu livro A 63 construção da política: democracia, cidadania e 64 meios de comunicação de massa. Evidentemente, o 65 peso de cada quadro de referência tende a variar de 66 acordo com a realidade individual. Seguindo essa 67 linha de raciocínio, no original estudo Muito além 68 do Jardim Botânico, Carlos Eduardo Lins da Silva 69 constatou como telespectadores do Jornal Nacional 70 acionam seus mecanismos de defesa, individuais ou 71 coletivos, para filtrar as informaçõesveiculadas, 72 traduzindo-as segundo seus próprios valores. "A 73 síntese e as conclusões que um telespectador vai 74 realizar depois de assistir a um telejornal não podem 75 ser antecipadas por ninguém; nem por quem 76 produziu o telejornal, nem por quem assistiu ao 77 mesmo tempo que aquele telespectador", inferiu 78 Carlos Eduardo. LADEIRA, Francisco Fernandes. Disponível em: . Publicado em: 14 abr. 2015, edição 846. Acesso em: 13 jul. 2016. Adaptado. Assinale a opção em que o verbo destacado está na voz passiva pronominal. a) Assim, fomentou-se a concepção de que a mídia seria capaz de manipular incondicionalmente uma audiência submissa, passiva e acrítica. (l. 23-26) b) As mensagens transmitidas pelos grandes veículos de comunicação não são recebidas automaticamente e da mesma maneira por todos os indivíduos. (l. 32-35) c) "Os vários tipos de receptor situam-se numa complexa rede de referências [...]" (l. 58-60) d) "[...] complexa rede de referências em que a comunicação interpessoal e a midiática se completam e modificam" [...] (l. 59-61) e) "A síntese e as conclusões que um telespectador vai realizar depois de assistir a um telejornal não podem ser antecipadas por ninguém [...]" (l. 72-75) Gabarito: A Resolução: a) Correta. O verbo destacado "fomentou-se" está na voz passiva sintética ou pronominal, o que se confirma pelo fato de o verbo transitivo direto "fomentar" estar acompanhado do pronome apassivador "se" e do sujeito paciente "a concepção". Se transpuséssemos a oração para a voz passiva analítica, teríamos "a concepção foi fomentada". b) Incorreta. O verbo destacado está na voz passiva analítica. c) Incorreta. O verbo destacado está na voz ativa. d) Incorreta. O verbo destacado está na voz reflexiva recíproca. e) Incorreta. O verbo destacado está na voz passiva analítica. Questão 13 A mídia realmente tem o poder de manipular as pessoas? 1 À primeira vista, a resposta para a pergunta que 2 intitula este artigo parece simples e óbvia: sim, a 3 mídia é um poderoso instrumento de manipulação. A 4 ideia de que o frágil cidadão comum é impotente 5 frente aos gigantescos e poderosos conglomerados 6 da comunicação é bastante atrativa intelectualmente. 7 Influentes nomes, como Adorno e Horkheimer, os 8 primeiros pensadores a realizar análises mais 9 sistemáticas sobre o tema, concluíram que os meios 10 de comunicação em larga escala moldavam e 11 direcionavam as opiniões de seus receptores. 12 Segundo eles, o rádio torna todos os ouvintes iguais 13 ao sujeitá-los, autoritariamente, aos idênticos 14 programas das várias estações. No livro Televisão e 15 consciência de classe, Sarah Chucid Da Viá afirma 16 que o vídeo apresenta um conjunto de imagens 17 trabalhadas, cuja apreensão é momentânea, de forma 18 a persuadir rápida e transitoriamente o grande 19 público. Por sua vez, o psicólogo social Gustav Le 20 Bon considerava que, nas massas, o indivíduo 21 deixava de ser ele próprio para ser um autômato sem 22 vontade e os juízos aceitos pelas multidões seriam 23 sempre impostos e nunca discutidos. Assim, 24 fomentou-se a concepção de que a mídia seria capaz 25 de manipular incondicionalmente uma audiência 26 submissa, passiva e acrítica. 27 Todavia, como bons cidadãos céticos, devemos 28 duvidar (ou ao menos manter certa ressalva) de 29 proposições imediatistas e aparentemente fáceis. As 30 relações entre mídia e público são demasiadamente 31 complexas, vão muito além de uma simples análise 32 behaviorista de estímulo/resposta. As mensagens 33 transmitidas pelos grandes veículos de comunicação 34 não são recebidas automaticamente e da mesma 35 maneira por todos os indivíduos. Na maioria das 36 vezes, o discurso midiático perde seu significado 37 original na controversa relação emissor/receptor. 38 Cada indivíduo está envolto em uma "bolha 39 ideológica", apanágio de seu próprio processo de 40 individuação, que condiciona sua maneira de 41 interpretar e agir sobre o mundo. Todos nós, ao 42 entrarmos em contato com o mundo exterior, 43 construímos representações sobre a realidade. Cada 44 um de nós forma juízos de valor a respeito dos 45 vários âmbitos do real, seus personagens, 46 acontecimentos e fenômenos e, consequentemente, 47 acreditamos que esses juízos correspondem à 48 "verdade". [...] 49 [...] A mídia é apenas um, entre vários quadros ou 50 grupos de referência, aos quais um indivíduo recorre 51 como argumento para formular suas opiniões. Nesse 52 sentido, competem com os veículos de comunicação 53 como quadros ou grupos de referência fatores 54 subjetivos/psicológicos (história familiar, trajetória 55 pessoal, predisposição intelectual), o contexto social 56 (renda, sexo, idade, grau de instrução, etnia, 57 religião) e o ambiente informacional (associação 58 comunitária, trabalho, igreja). "Os vários tipos de 59 receptor situam-se numa complexa rede de 60 referências em que a comunicação interpessoal e a 61 midiática se completam e modificam", afirmou a 62 cientista social Alessandra Aldé em seu livro A 63 construção da política: democracia, cidadania e 64 meios de comunicação de massa. Evidentemente, o 65 peso de cada quadro de referência tende a variar de 66 acordo com a realidade individual. Seguindo essa 67 linha de raciocínio, no original estudo Muito além 68 do Jardim Botânico, Carlos Eduardo Lins da Silva 69 constatou como telespectadores do Jornal Nacional 70 acionam seus mecanismos de defesa, individuais ou 71 coletivos, para filtrar as informações veiculadas, 72 traduzindo-as segundo seus próprios valores. "A 73 síntese e as conclusões que um telespectador vai 74 realizar depois de assistir a um telejornal não podem 75 ser antecipadas por ninguém; nem por quem 76 produziu o telejornal, nem por quem assistiu ao 77 mesmo tempo que aquele telespectador", inferiu 78 Carlos Eduardo. LADEIRA, Francisco Fernandes. Disponível em: . Publicado em: 14 abr. 2015, edição 846. Acesso em: 13 jul. 2016. Adaptado. Marque a alternativa em que o verbo destacado está classificado corretamente quanto à transitividade. VTD – verbo transitivo direto VTI – verbo transitivo indireto VI – verbo intransitivo a) [...] devemos duvidar (ou ao menos manter certa ressalva) de proposições imediatistas e aparentemente fáceis. – VTD (l. 27-29) b) Na maioria das vezes, o discurso midiático perde seu significado original na controversa relação emissor/receptor. – VTI (l. 35-37) c) A mídia é apenas um, entre vários quadros ou grupos de referência, aos quais um indivíduo recorre como argumento para formular suas opiniões. – VTI (l. 49-51) d) Nesse sentido, competem com os veículos de comunicação como quadros ou grupos de referência fatores subjetivos/psicológicos [...] – VTD (l. 51-54). e) Evidentemente, o peso de cada quadro de referência tende a variar de acordo com a realidade individual. – VI (l. 64-66) Gabarito: C Resolução: a) Incorreta. O verbo "duvidar" é transitivo indireto (VTI) e rege a preposição "de". b) Incorreta. O verbo "perder" é transitivo direto (VTD), tendo como objeto direto "seu significado original na controversa relação emissor/receptor". c) Correta. O verbo "recorrer" é transitivo indireto (VTI) e tem como objeto indireto "aos quais", expressão formada pela preposição "a" e o pronome relativo "os quais" (que retoma "vários quadros ou grupos de referência"). d) Incorreta. O verbo "competir" é transitivo indireto (VTI), regendo a preposição "com". e) Incorreta. O verbo "tender" é transitivo indireto (VTI), regendo a preposição "a". Questão 14 A praga dos selfies De uma coisa tenho certeza. A foto pelo celular vale apenas pelo momento. Não será feito um álbum de fotografias, como no passado, onde víamos as imagens, lembrávamos da família, de férias, de alegrias. As imagens ficarão esquecidas em um imenso arquivo. Talvez uma ou outra, mais especial,seja revivida. Todas as outras, que ideia. Só valem pelo prazer de fazer o selfie. Mostrar a alguns amigos. Mas o significado original da foto de família ou com amigos, que seria preservar o momento, está perdido. Vale pelo instante, como até grandes amores são hoje em dia. É o sorriso, o clique, e obrigado. A conquista: uma foto com alguém conhecido. CARRASCO, W. .A praga dos selfies. Época, 26 set. 2016. a) Para que o emprego da palavra “onde”, destacada no texto, seja considerado correto, a que termo antecedente ela deve se referir? Justifique sua resposta. b) Reescreva a frase “Todas as outras, que ideia.”, substituindo os dois sinais de pontuação nela empregados por outros, de tal maneira que fique mais evidente a entonação que ela tem no contexto. Gabarito: a) Para que seja considerado correto, o emprego do pronome relativo “onde”, relativo a lugar, deve referir-se à expressão “álbum de fotografia”. Assim, teríamos a associação anafórica “víamos as imagens no álbum de fotografias”. b) O excerto em destaque dirige uma crítica aguda à produção numerosa de fotografias por meio da prática de selfies. A reescrita que pode deixar mais evidente a entonação própria dessa crítica seria “Todas as outras? Que ideia!”. Resolução: Questão 15 A juventude merece mais 1 Aos 16 anos de idade, uma pessoa pode ter inúmeras ocupações, anseios, possibilidades e perspectivas de vida em nossa sociedade. Com 16 anos, geralmente as/os adolescentes estão cursando o ensino médio, às vezes fazendo um curso técnico concomitante, outros têm a oportunidade de cursar uma língua estrangeira, estudar música, teatro, circo, artes, praticar esportes, viajar para 2 outros estados, países, tudo isso partindo de uma perspectiva otimista. Nesta idade surgem novas responsabilidades: o voto é facultativo e, com a permissão dos pais, pode ser emancipado. Mas ainda é uma fase de experimentação, de descobertas, de “primeiras vezes”. Segundo a Constituição do país, crianças e adolescentes deveriam ter preferência na formulação e execução de políticas públicas. O documento ressalta também a condição peculiar da criança e do 3 adolescente como pessoas em desenvolvimento. No Brasil, nem todos gozam das mesmas oportunidades: muitos nessa faixa etária estão em situação de exploração sexual, gravidez precoce, dependência química, violência doméstica, evasão escolar. Atualmente um dos temas mais discutidos na agenda política do país é a redução da maioridade penal. A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 171/1993 encontra-se em análise pelo Congresso 15 Nacional. Criada pelo hoje ex-deputado Benedito Domingos (PP), a proposta prevê que a maioridade penal seja reduzida para 16 anos. Depois de aprovada pela maioria dos deputados na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, a PEC agora é debatida em uma comissão especial da Casa, que tem cerca de três meses para analisar o projeto. Em seguida, será votado novamente e, se aprovada, seguirá para o Senado. 4 Partindo do princípio de que o debate está sendo travado no campo da segurança pública, a atual proposta sugere a responsabilização da juventude pelos altos índices de violência do país. É preciso apontar que não é a maioridade civil que está em pauta, mas a penal. Os que desejam a emenda na Constituição argumentam que isso resultará na diminuição da criminalidade; que a lei não pune ou quando pune não é rigorosa o suficiente; se com 16 anos, o jovem possui maturidade intelectual 5 suficiente para votar, logo, também pode ser responsabilizado criminalmente por delitos. Ou seja, com essa medida, o Estado passaria a reconhecer a maioridade de um indivíduo fundamentalmente para puni-lo. Eduardo Alves, sociólogo e um dos diretores do Observatório de Favelas, critica o viés pelo qual o assunto é abordado, discutindo a maioridade pelo aspecto penal e não civil: “Quando se formula políticas para a juventude é necessário pensar no presente e no futuro, pois, o jovem de hoje é o adulto 6 de amanhã. Que tipo de adulto formaremos retirando dois anos da juventude? Retirar dois anos significa inclusive uma redução de investimentos em políticas para a juventude, ou seja, consideramos que já há investimento suficiente? Há violência de sobra em nossa sociedade e a responsabilidade disso é dos adultos e não da juventude. Cabe aos adultos elaborar políticas que diminuam a violência e 7 potencializem a cultura de direitos na juventude. Se a responsabilidade, portanto, é dos adultos, por que diminuir dois anos da juventude? Por que ampliar o tempo de punição daqueles que não são os principais responsáveis?”, questionou Alves. E a violência praticada contra a juventude? A maioria das justificativas e a proposta em si da PEC afirma em suas negativas que pretende 8 combater a violência praticada por adolescentes, alargando a faixa etária passível de punição penal. Porém, raramente (ou nunca) aparece na consideração de seus defensores os números alarmantes que retratam a violência sofrida pelos jovens, como mostra o Índice de Homicídios na Adolescência (IHA) – estudo recentemente divulgado pelo Observatório de Favelas, Unicef, Secretaria de Direitos Humanos e Laboratório de Análise da Violência da UERJ. De acordo com a pesquisa, mais 9 de 42 mil adolescentes (12 a 18 anos) poderão ser vítimas de homicídio nos municípios com mais de 100 mil habitantes entre 2013 e 2019. Os jovens negros são as vítimas mais recorrentes. Ou seja, a principal vítima da violência, principalmente a violência letal é a juventude. Para o delegado Orlando Zaconne, há uma inversão de pautas quando se discute segurança pública no Brasil. “Na verdade, o grande tema não é a violência praticada por adolescentes, mas a 10 violência praticada contra adolescentes. O Brasil é um dos países com maiores índices de violência contra a criança e o adolescente, mas nada disso parece escandalizar a sociedade. E a pauta da redução da maioridade penal serve inclusive para omitir esse dado” – disse Zaconne em vídeo de policiais civis contra a redução. Além do IHA, existem outras pesquisas relacionadas ao tema, que demonstram a deficiência do Estado em cumprir as leis já existentes, mas pouco aplicadas, no que 11 tange a garantia dos direitos do adolescente e na reintegração social daqueles que cumpriram pena. Vale lembrar que o Brasil já está comprometido com pelo menos três pactos internacionais: a Convenção da ONU (1948), que considera maioridade penal como 18 anos; a Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de San José da Costa Rica – 1969), que separa o tratamento dado à 12 criança e ao adolescente do adulto; e a Convenção dos Direitos da Criança (1990), da qual nasceu o Estatuto da Criança e do Adolescente. Além disso, a legislação brasileira já responsabiliza toda pessoa acima de 12 anos por atos ilegais. Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o jovem deve merecer medidas socioeducativas, como advertência, obrigação de reparar o dano, prestação de serviço à comunidade, 13 liberdade assistida, semiliberdade e internação. A medida é aplicada segundo a gravidade da infração. Enquanto nas penitenciárias o percentual de reincidência no crime é de 70%, no sistema socioeducativo esse número cai para 20%. Com efeito, esses dados mostram gargalos da atuação do Estado nesse âmbito, que a atual proposta parece ignorar. O Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase) e o Plano Individual de Atendimento (PIA), previstos como ferramentas para 14 reintegração de jovens infratores à sociedade, chegam a apenas 5% dos adolescentes apreendidos no Brasil, segundo dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). MELHOR PREVENIR QUE REMEDIAR [...] Embora careça de melhorias e adaptações, o ECA é um dos documentos que tratam da garantia 15 de direitos da criança e do adolescente e deveria pautar as ações para essa parte da população. Em entrevista a Revista Fórum, o advogado Ariel de Castro Alves, membro do grupo Tortura Nunca Mais de São Paulo e do Movimento Nacional de Direitos Humanos destacou