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Estruturalismos_Linguisticos_1_

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UAB – UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL
FUESPI – FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ
NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
LICENCIATURA PLENA EM LETRAS PORTUGUÊS
FUESPI
2011
OS ESTRUTURALISMOS LINGUÍSTICOS: QUASE UM SÉCULO
DEPOIS DE SAUSSURE
Silvana da Silva Ribeiro
Ribeiro, Silvana da Silva.
 Os estruturalismos linguísticos: quase um século depois
de Saussure / Silvana da Silva Ribeiro. – Teresina: UAB/
FUESPI/NEAD, 2011.
 137 p.
ISBN: 978-85-61946-27-2
1. Saussure – estudos científicos da linguagem.
2.Linguística – Escola de Praga . I. Silvana da Silva Ribeiro.
II. Título.
 CDD: 410
C837l
Presidente da República
Dilma Vana Rousseff
Vice-presidente da República
Michel Miguel Elias Temer Lulia
Ministro da Educação
Fernando Haddad
Secretário de Educação a Distância
Carlos Eduardo Bielschowsky
Diretor de Educação a Distância CAPES/MEC
Celso José da Costa
Governador do Piauí
Wilson Nunes Martins
Secretário Estadual de Educação e Cultura do Piauí
Átila de Freitas Lira
Reitor da FUESPI – Fundação Universidade Estadual do Piauí
Carlos Alberto Pereira da Silva
Vice-reitor da FUESPI
Nouga Cardoso Batista
Pró-reitor de Ensino de Graduação – PREG
Marcelo de Sousa Neto
Coordenadora da UAB-FUESPI
Márcia Percília Moura Parente
Coordenador Adjunto da UAB-FUESPI
Raimundo Isídio de Sousa
Pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação – PROP
Isânio Vasconcelos de Mesquita
Pró-reitora de Extensão, Assuntos Estudantis e Comunitários – PREX
Francisca Lúcia de Lima
Pró-reitor de Administração e Recursos Humanos – PRAD
Acelino Vieira de Oliveira
Pró-reitor de Planejamento e Finanças – PROPLAN
Raimundo da Paz Sobrinho
Coordenadora do curso de Licenciatura Plena em Letras Português – EAD
Alima do Nascimento Silva
Edição
UAB - FNDE - CAPES
FUESPI/NEAD
Diretora do NEAD
Márcia Percília Moura Parente
Diretor Adjunto do NEAD
Raimundo Isídio de Sousa
Coordenadora do Curso de Licenciatura
Plena em Letras – Português
Alima do Nascimento Silva
Coordenadora de Tutoria
Maria do Socorro Rios Magalhães
Coordenadora de Produção de Material
Didático
Cândida Helena de Alencar Andrade
Autora do Livro
Silvana da Silva Ribeiro
Revisão
Teresinha de Jesus Ferreira
Diagramação
Jeydson Jonys Barros Batista
Luiz Paulo de Araújo Freitas
Capa
Luiz Paulo de Araújo Freitas
Fonte da imagem:
MATERIAL PARA FINS EDUCACIONAIS
DISTRIBUIÇÃO GRATUITA AOS CURSISTAS UAB/FUESPI
UAB/FUESPI/NEAD
Campus Poeta Torquato Neto (Pirajá),
NEAD, Rua João Cabral, 2231, bairro
Pirajá, Teresina (PI). CEP: 64002-150,
Telefones: (86) 3213-5471 / 3213-1182
Web: ead.uespi.br
E-mail:eaduespi@hotmail.com
SUMÁRIO
UNIDADE 1
UM SAUSSURE POUCO CONHECIDO ................................................ 11
1 Saussure depois de quase um século: entre reflexões e lúcidos
esclarecimentos ....................................................................................... 14
2 Pressupostos recentes sobre Linguística Geral ..................................... 21
3 A ideologia positivista na linguagem...................................................... 33
Atividade complementar .......................................................................... 39
Leituras complementares ......................................................................... 40
Atividades de aprendizagem ................................................................... 41
Resumindo............................................................................................... 42
UNIDADE 2
A LINGUÍSTICA E SUA CIENTIFICIDADE ............................................. 47
2 O que é ciência ..................................................................................... 49
2.1 A Linguística enquanto ciência e sua cientificidade ............................ 53
2.1.1 Acerca das noções de Língua e Fala ............................................... 55
Glossário ................................................................................................. 60
Atividades complementar......................................................................... 61
Atividades de aprendizagem ................................................................... 62
Resumindo............................................................................................... 63
UNIDADE 3
OS ESTUDOS DA LINGUAGEM ............................................................ 67
3 Os estudos da linguagem anteriores a Saussure................................... 69
3.1 Estruturalismo Europeu ...................................................................... 75
3.2 Estruturalismos Americanos ............................................................... 96
3.3 Funcionalismo .................................................................................. 101
3.4 O Círculo Linguístico de Praga - CLP ............................................... 104
3.5 O Formalismo .................................................................................. 108
Resumindo............................................................................................. 118
Atividades de aprendizagem ................................................................. 123
Atividade Complementar ....................................................................... 124
Considerações Finais ............................................................................ 125
REFERÊNCIAS .................................................................................... 127
PARA COMEÇAR...
Pensando a minha vivência de 11 anos como docente da Universidade
Estadual do Piauí, volto-me um pouco ao tempo em que eu era estudante
desta Instituição de Ensino Superior e também me fazia uma pergunta que já
ouvi inúmeras vezes nessa década de trabalho apaixonado: “Ora se nós vamos
dar aulas de Português, de Gramática ou até de Literatura, para que é mesmo
que nós temos tantas disciplinas dessa tal Linguística?”
Na condição de aluna, aprendi a entender para que nos servia “a tal
linguística”, ao ponto de querer seguir a carreira de linguista. Entretanto,
confesso que na condição de professora, atualmente surpreendo-me com as
discussões que estão ocorrendo no mundo inteiro acerca dos estudos da
Linguística perpassados por outras ciências. Esses estudos, muitas vezes,
vêm até mesmo descaracterizá-la enquanto ciência, bem como sobre os
postulados saussurianos, a sua importância e as heranças deixadas pelo
mestre genebrino. E é por essa coincidência cronológica que decidimos dar
o título do livro, que não é original, mas inspirado no maravilhoso capítulo 3, do
volume I, de Benveniste (1995), que explica em nota de rodapé que muitas
das ideias constantes deste capítulo foram veiculadas numa conferência feita
em Genebra para comemorar o cinquentenário da morte de Ferdinand de
Saussure, em fevereiro de 1963. Exporemos algumas ideias que julgamos
necessárias para o aluno, que muitas vezes ouve falar de um movimento
somente através de resumos que não lhe dão a dimensão da profundidade
dos estudos que foram empreendidos para que se construísse aquela teoria
que ele está estudando (muitas vezes ficando somente no campo da história)
sem compreensão, apenas para ser decorado para prova, sem uma visão
mais crítica ou até mesmo mais humanista.
Esta obra pretende mostrar algumas das afirmações presentes nessas
discussões. Chamamos-lhe a atenção para a necessidade de uma leitura bem
atenta , pois os estudos da Linguística nos cursos de Licenciatura Plena em
Letras com habilitação em Português, Espanhol ou Inglês contemplam o estudo
de uma ou mais linguísticas. Se teremos que fazê-lo, pois então que o façamos
com o gosto de adquirir conhecimento para uma compreensão crítica,
aprofundada, acurada. Convido-lhesa mergulhar nos estudos linguísticos a
partir da seguinte proposta de trajetória. Veremos na Unidade 1, uma exposição
mais humana, biográfica e esclarecedora acerca da vida de Saussure intitulada
– Em homenagem ao capítulo 3, parte da obra, vol. I, de Benveniste (1995) -
Saussure depois de quase um século: entre reflexões e lúcidos
esclarecimentos, que versará em primeiro, sobre a exposição de algumas
reflexões feitas por Benveniste (1995, vol I) a respeito dos postulados de
Saussure, das injustiças cometidas contra o mestre genebrino e sobre as
incompreensões, que este, como quase todos os gênios, sofreu durante sua
época. Na unidade 2, trataremos sobre algumas reflexões acerca da ciência,
bem como de alguns aspectos que contribuem para definir a cientificidade de
algo, de definir, determinar o que é e o que não é ciência, para chegarmos ao
tratamento da ciência linguística. E por fim, na unidade 3, será trazido, de
forma mais substancial, um jeito mais simples e quiçá até mais adequado de
entendimento do estudo das correntes linguísticas, em especial dos
Estruturalismos Linguísticos, que é uma das disciplinas do Curso Licenciatura
Plena em Letras – Português.
OBJETIVOS
• Esclarecer pontos relevantes da história de estudos históricos da
linguagem na vida de Saussure para dar base teórica para os
estudos das correntes linguísticas.
• Aprofundar os fatos históricos que estiveram subjacentes à
configuração da corrente de estudos linguísticos, denominada
estruturalismo.
UNIDADE 1
Saussure depois de quase um século: entre reflexões e
lúcidos esclarecimentos
13
FUESPI/NEAD Letras Português
Para começar
Caro aluno, faremos uma pequena incursão na vida de Saussure,
observando-o sob uma ótica mais humana, com o objetivo de
compreendermos as aflições do homem que levou sob os seus ombros o
peso da construção de uma ciência, bem como a sua preocupação com a
organização metodológica de seus estudos, a intensidade em sua produção
e alguns momentos em que seu silêncio conseguia também alcançar a
expressividade de estudos a que se propusera. A principal função desta
unidade é mostrar a existência do elaborador do Estruturalismo, numa
perspectiva em que este nunca fora visto, que é a da dificuldade que ele teve
em levar os estudiosos de sua época a entenderem que não estavam
conduzindo de forma adequada os estudos da linguagem, a fim de que fique
claro um pouco do momento histórico em que viveu o mestre genebrino.
Observemos uma foto de Ferdinand de Saussure ainda jovem, para
que, de certo modo pelo menos , nos aproximemos um pouco mais da imagem
da pessoa, do gênio, que tanto lutou em defesa da linguística, buscando sua
consideração como ciência e mais ainda, como ciência independente,
autônoma.
Ferdinand de Saussure http://simbolize.blogspot.com/2009_04_01_archive.html
14
Estruturalismos Linguísticos
1 Saussure depois de quase um século: entre reflexões e lúcidos
esclarecimentos
Os estudos da linguísticos sofrem, atualmente, algumas críticas. Alguns
dizem que a Linguística já não mais se configura como ciência, outros discutem
as ramificações da Linguística, que se originaram da própria Linguística, se
dizendo ocupar também o status de ciência, acabaram, talvez ofuscando a
ciência da qual se originaram. Como ocorre, por exemplo, com a Linguística
Aplicada, a Pragmática e outras ciências profícuas e com muita produção e
no âmbito da pesquisa científica para corroborar a sua cientificidade. Ou por
outro lado, como ocorre com outras áreas que tiveram que redimensionar seus
estudos para sustentar-se enquanto ciência, a exemplo do que ocorre com os
estudos de Análise do Discurso, que atualmente apresenta em seu campo
mais uma corrente de estudo linguístico denominada Análise do Discurso
Crítica1- ADC. As críticas estão sempre presentes nos campos de estudos ou
de produção científica e as entendemos como salutares ao processo de
conferência da cientificidade, visto que, a crítica, as reflexões são um processo
natural de aprimoramento de qualquer objeto de estudos. E quando se trata
de um objeto tão dinâmico e tão passível de mudanças e variações advindas
tanto do sujeito que a produz quanto das condições de produção das quais
este sujeito dispõe e ainda, dos ambientes de sua ocorrência, produção – a
Língua – objeto de estudo da Linguística, mais compreensível e necessário
torna-se a crítica sempre, o repensar, o refletir do percurso percorrido por
esta ciência, mas isto são cenas para os próximos capítulos.
Por agora, deter-nos-emos, conforme prometido, na abordagem mais
detalhada e humanista da vida paralela a de estudioso da linguistica - a vida
pessoal de Ferdinand de Saussure em meio aos estudos linguísticos que tanto
1 Análise do Discurso Crítica hoje é uma corrente de estudo que se difere das análises de discurso ou do discurso que se fazia anteriormente. Para aprofundar-
se sobre essa nova área de pesquisa ler Introdução: Análise de Discurso Crítica, de MAGALHÃES, Izabel, disponível em http://www.scielo.br/pdf/delta/v21nspe/
29248.pdf.
15
FUESPI/NEAD Letras Português
lhe afligiram quanto, com certeza, também lhe deram prazer, quando havia
espaço para isso.
Benveniste (1995, p. 34) tratando sobre uma conferência que estaria
sendo realizada em Genebra, no dia 22 de fevereiro de 1963, para comemorar
o cinquentenário de morte de Saussure, a convite da própria Universidade de
Genebra, comparando a data de ocorrência da conferência (22.02.1963) à
data de morte 22.02.1913, reportando-se ainda, à curiosidade de tal evento
estar acontecendo na sua cidade e na sua universidade, traz-nos algumas de
suas relevantes reflexões sobre o mestre genebrino:
O autor ainda afirma que o modo como Saussure estava sendo visto
naquela época era totalmente diferente da forma como o viam seus
contemporâneos, advertindo que boa parte das contribuições do linguista só
pôde mesmo ser contemplada após a sua morte. Benveniste (1995, p. 35)
descreve o sofrimento do mestre genebrino de forma que talvez dê ao nosso
aluno uma visão mais próxima da realidade da pessoa que, por trás da criação
do genial método estruturalista e do estudo científico da Linguística, sofria as
dores da incompreensão que todo gênio talvez tenha sentido em sua época:
Essa figura assume agora os seus traços autênticos, aparece-
nos na sua verdadeira grandeza. Não há um só linguista hoje que
não lhe deva algo.
Não há uma só teoria geral que não mencione o seu nome. Algum
mistério envolve a sua vida humana, que cedo se retirou para o
silêncio. É da obra que trataremos. A uma tal obra apenas convém
o elogio que a explica na sua gênese e faz compreender o seu
brilho.
Há em todo criador uma certa exigência, escondida, permanente,
que o sustenta e o devora, que lhe guia os pensamentos, lhe
designa a sua tarefa, estimula-o nas suas fraquezas e não lhe dá
trégua quando tenta escapar-lhe. Nem sempre é fácil reconhecê-
la nas diversas operações, às vezes vacilantes, a que se entrega
a reflexão de Saussure. Mas uma vez percebida, ilumina o sentido
do seu esforço e o coloca frente a frente com os seus precursores,
como em relação a nós.
16
Estruturalismos Linguísticos
As citações destas impressões de Benveniste (1995) são de uma
impressão quase fotográfica se é que podemos referir uma demonstração e
análise tão pessoal e de caráter tão defensivo e subjetivo a algo que talvez
registre um momento, mas que talvez jamais possa relembrar a emoção desse
momento, como ocorre com uma fotografia.
No entanto, Benveniste (1995) não mostra apenas o lado pessoal de
Saussure, o seu sofrimento, as incompreensões a ele lançadas. O autor mostra
o modo de fazer Linguística do Mestre Genebrino, a sua forma metódica e
profunda, como defende Benveniste (1995, p. 35):
Benveniste (1995, p. 35) resolve a segunda questão colocada na
citação anterior sugerindo a sua redução a dois problemas que poderiamser
postos no centro da doutrina saussureana: “1º Quais são os dados de base
sobre os quais a Linguística se fundará, e como podemos atingi-los? 2º De
que natureza são as noções da linguagem e por que tipo de relação se
articulam?”
E podemos qualificar como fantástica a sacada de Benveniste (1995),
visto que este autor mesmo defende que foi com a sua obra Mémoire sur le
système primitif des voyelles dans les langues indo-européennes, obra
publicada por Saussure quando este tinha apenas vinte e um anos, que marcou
a sua entrada na ciência, e nesta já eram trazidas as duas preocupações aqui
expostas em forma de problemas. O linguista faz uma exposição um pouco
longa sobre os estudos que Saussure fizera nesta obra na qual se propusera,
Saussure é em primeiro lugar e sempre o homem dos fundamentos.
Vai por instinto aos caracteres primordiais, que governaram a
diversidade dos dados empíricos. Naquilo que pertence à língua,
pressente certas propriedades que não se encontram em nenhum
outro lugar a não ser aí. Com o que quer que a comparemos a
língua aparece sempre como algo de diferente. Mas em que é
diferente? Considerando essa atividade, a linguagem na qual tantos
fatores estão associados, biológicos, físicos e psíquicos, individuais
e sociais, históricos, estéticos, pragmáticos, ele se pergunta: a
qual deles pertence a língua?
17
FUESPI/NEAD Letras Português
conforme se comprova através da leitura de seu prefácio, que o seu objetivo
era somente centrar-se no estudo das múltiplas formas do a indo-europeu , o
que não ocorreu porque este se viu impelido a investigar o sistema das vogais
no seu conjunto, o que o levou a tratar de vários problemas de fonética e de
morfologia e ainda de questões que talvez até 1963 nem tivessem sido tocadas
ainda, como afirma Benveniste (1995), que conclui que suas impressões sobre
o Mémoire e sobre o trabalho de Saussure afirmando que ele sempre estava,
em seus estudos dos dados elementares, muitas vezes desviando-se pouco
a pouco da ciência do seu tempo, na qual somente vê arbitrariedade e
incerteza quando, por outro lado, a linguística indo-europeia tinha como única
preocupação continuar crescendo no método comparativo.
Vejamos uma imagem da obra, para nos aproximar um pouco mais
de 1873, à época de sua publicação, cronologicamente tão distante de nós.
Capa de Mémoire sur le système primitif des voyelles dans
les langues indo-européennes http://openlibrary.org/works/
OL2139803WMémoire_sur_le_système_primitif_des_voyelles
_dans_les_langues_indo-européennes
2 Sobre o indo-europeu ler o artigo Contribuição do método comparativo para a determinação da existência do indo-europeu, de João Bittencourt de Oliveira.
Disponível em: http://www.filologia.org.br/revista/artigo/3(9)41-52.html.
18
Estruturalismos Linguísticos
E mais uma vez, Benveniste (1995, p. 38) desvenda o mistério que
Saussure descobrira no que concerne aos estudos dos a, do indo-europeu.
O autor ressalta que foram necessários mais vinte e cinco anos para
que esse estudo se impusesse novamente. E declara que, em 1927, M.
Kuylowicz encontrou na linguística histórica, o hitita, unidade decifrada a partir
do som escrito h – que cinquenta anos antes fora definido por Saussure como
um coeficiente sonântico, hoje é definida como fonema não único, que
representa uma classe inteira de fonemas, desigualmente representado nas
línguas históricas – os laríngeos. O que Benveniste (1950) destaca de forma
mais veemente é que ano após ano as interpretações acerca desse fonema
aumentaram e que esse problema está no centro da teoria do indo-europeu,
apaixonando os diacronistas e os descritivistas. O autor fecha a sua linha de
raciocínio responsável pela defesa da genialidade de Saussure com o
seguinte texto: “Até mesmo os linguistas de hoje que não leram o Mémoire lhe
são devedores” (BENVENISTE, 1995, p.39).
Embora Saussure mais tarde seja convidado para a École de Hautes
Études, na qual encontra discípulos fiéis tais como Bréal, que lhe dá, na
instituição o cargo de Secretário Adjunto, e nessa fase boa de sua vida, o
mestre tenha publicado artigos fundamentais sobre a entonação báltica, que
mostraram a profundidade de sua análise; após essa profícua fase, vem a
sua volta para Genebra e com ela a diminuição de sua produção, chegando
ao seu silenciar por completo.
Saussure havia percebido que o sistema vocálico do indo-europeu
continha várias aa. À luz do conhecimento puro, os diferentes aa
do indo-europeu são objetos tão importantes quanto as partículas
fundamentais em física nuclear [.aa.] é coeficiente sonântico,
isto é, é susceptível de desempenhar o mesmo papel duplo,
vocálico e consonântico, das nasais ou líquidas, e se combina
com vogais[..aa.]
Saussure fala dele como de um fonema e não como de um som
ou de uma articulação [aa] ele chamará mais tarde de uma entidade
distintiva e opositiva.
19
FUESPI/NEAD Letras Português
Benveniste (1995) explica tal silenciamento do mestre em função do
drama que Saussure experimentava verificando que a linguagem e seu estudo
deveria ser contemplado nos estudos linguísticos, embora os linguistas da
época não percebessem essa necessidade que angustiava Saussure. A época
privilegiava os estudos lógicos, a investigação histórica no emprego dos
materiais de comparação e na elaboração de repertórios etimológicos. A
solidão de Saussure centrava-se em suas preocupações não estarem no foco
de atenção de outros linguistas da época. E ele próprio definia o que queria
realmente fazer que era conforme Benveniste (1995, p. 43):
O linguista chama a atenção de forma enfática para a preocupação
central de Saussure em considerar que a substância de determinado objeto
estava no ponto de vista sobre o qual o observamos, o investigamos. Além
disso, uma preocupação que também o afligia, nessa perspectiva, é que o estudo
da língua não era para estar sendo feito como se a língua fosse um organismo
vivo, como uma coisa ou matéria ou ainda como criação livre e incessante da
imaginação humana. Talvez aí se anunciasse as ideias que nunca foram publicada
sobre a discordância da forma como a linguística foi estudada.
E quanto ao Cours, a novidade no que concerne aos estudos atuais é
que Saussure mesmo definiu a tarefa do linguista como está em definir o que
torna a linguística um conjunto especial no conjunto dos fatos semiológicos.
“...Para nós o problema linguístico é antes de tudo semiológico” (SAUSSURE,
1916, p.34-35).
Como últimas palavras de Benveniste (1995, p. 48) gostaríamos de
trazer, a título de esclarecimento avaliativo não só do estudioso atordoado
[...]Mostrar ao linguista o que ele faz. Queria fazer compreender o
erro em que se envolveu a linguística desde que estuda a linguagem
como uma coisa, como um organismo vivo ou como matéria que
se analisa por uma técnica instrumental, ou ainda como uma
criação livre e incessante da imaginação humana. É preciso voltar
aos fundamentos, descobrir esse objeto que é a linguagem, a que
nada pode ser comparado.
20
Estruturalismos Linguísticos
pela lealdade a seus princípios, à ciência à qual representava, mas também
ao movimento pelo qual Saussure trabalhava:
O que se percebe de tudo o que fora exposto sobre a vida e a obra do
mestre genebrino, isso desde o começo até o fim de suas publicações é que
tanto os fundamentos da Linguística como a própria linguística renovada tem
suas origens em Saussure. Isso é inegável e os próprios estudiosos da
contemporaneidade, reconhecem isso, inclusive percebendo que muito do
que, nos estudos realizados por Saussure, pode ter sido chamado limitação,
na realidade se configurava, à época como ainda hoje como delimitação.
Algo mesmo, como o fato de ter se negado a estudar a fala. Ele estaria apenas
delimitando seu campo e seu objeto de estudo, até mesmo porque na época
não dispunha de recursos materiais para fazê-lo. E já nesse momento ele aentende como discurso, por isso a sua preocupação em mostrar aos linguistas
que continuaram seu estudo em se voltarem para o estudo da linguagem.
Ele, no desenvolver de seu trabalho, havia percebido isso. E talvez, por isso
mesmo esta questão lhe tenha afligido tanto.
Passaremos a seguir, a observar alguns dos postulados recentes
sobre linguística geral, que também tem suas relações com Saussure, mas
desta vez não para mostrá-lo de forma tão defensiva, visto que serão tecidas
críticas não à pessoa de Saussure, mas sobre os estudos de linguagem, sobre
a forma como foram desenvolvidos e de quem foram, de fato, muitas das
contribuições atribuídas erroneamente a Saussure.
Pode-se pensar durante muito tempo sobre esse contraste: a vida
temporal de Saussure comparada com o destino das suas ideias.
Um homem sozinho dentro do seu pensamento durante quase
toda a vida, não podendo consentir em ensinar aquilo que julga
falso ou ilusório, sentindo que é preciso refundir tudo, cada vez
menos tentado a fazê-lo e, finalmente, após muitos desvios que
não podem arrancá-lo ao tormento da sua verdade pessoal,
comunicando a alguns ouvintes, sobre a natureza da linguagem,
ideias que não lhe pareciam jamais suficientemente amadurecidas
para serem publicadas.
21
FUESPI/NEAD Letras Português
2 Pressupostos recentes sobre a Linguística Geral
Se nos basearmos em Lyons (1981) para observarmos os mais recentes
pressupostos acerca da Linguística Geral, veremos que o autor parte para
definição de lingua(gem), concepção problematizada, conforme descrito abaixo:
O autor ressalta que se a pergunta é feita de forma a colocar o artigo
antecedendo a palavra linguagem, deixando esta no singular, as interpretações
acerca desse fenômeno modificam-se. Principalmente se tomarmos tal termo
como sinônimo de idioma, posicionamento ao qual o autor distingue e esmiúça
desde a observação deste termo com base em diferentes idiomas até o ponto
em que lingua(gem) também pode referir-se a “língua(gem) natural” a quaisquer
outros sistemas de notação, cálculo, sobre o qual, segundo o autor se possa
discutir. E a partir de algumas ponderações o autor fecha a questão de forma
muito habilidosa, revelando inclusive a matéria de estudo da linguística Geral:
Lyons (1981) defende que em geral, o linguista lida com as línguas
naturais, mas ressalta que se deve atentar para o que de fato, é a linguagem
um questionamento que nos trará a pressuposição de que cada uma das
milhares de línguas naturais reconhecidamente distintas, faladas em todo o
mundo, representam um caso específico de algo mais geral. Em seu
entendimento, o que o linguista quer saber é se as línguas naturais, todas,
possuem em comum algo que não pertença a outros sistemas de
comunicação, humano ou não humano, de tal forma que seja correto aplicar a
cada uma destas a palavra “língua”, negando-se a aplicação deste termo a
outros sistemas de comunicação – exceto na medida em que, assim como o
esperanto, eles sejam baseados em línguas naturais preexistentes.
A Linguística é o estudo científico da língua(gem). À primeira vista,
esta definição - que se encontra na maior parte dos livros e
tratamentos gerais do assunto – é suficientemente direta. Porém
qual o significado exato da “língua(gem)” e de científico? Poderá a
linguística, tal como é praticada atualmente, ser corretamente
descrita como uma ciência? (LYONS, 1981, p. 15)
22
Estruturalismos Linguísticos
Lyons (1981) constrói sua exposição trazendo algumas definições de
linguagem para dar algumas indicações preliminares sobre as propriedades
que ao menos linguistas tendem a considerar essenciais à língua(gem). Ele
apresenta a visão de Sapir revelando que esta apresenta defeitos, refutando
alguns termos usados por este último quando Sapir (1929, p.8) defende que
“a linguagem é método puramente humano e não instintivo de se comunicarem
ideias, emoções e desejos por meio de símbolos voluntariamente produzidos”.
Lyons critica a vagueza que representam os termos ideia, emoção e desejo,
bem como ressalta que a expressão símbolos voluntariamente produzidos é
vaga demais e pode referir-se a inúmeros tipos de símbolos. Ele até apresenta
outras noções, concepções acerca da linguagem, mas antes de tudo, faz de
forma muito oportuna as seguintes asserções:
Outra definição trabalhada por Lyons (1981) baseia-se em Outline of
Linguistic Analysis, de Bloch e Trager (1942, p. 5): “Uma língua é um sistema
de símbolos vocais arbitrários por meio dos quais um grupo social co-opera”.
A esta, o linguista critica pela ausência da referência à função comunicativa
da linguagem, pela ênfase colocada na função social, além de apresentar
uma visão bastante restrita do papel da língua(gem) na sociedade; e ainda,
comparando-a com a definição de Sapir defende que aquela difere desta na
medida em que salienta a arbitrariedade e explicitamente restringe a linguagem
à língua falada. Esta observação consecute num importante posicionamento
de Lyons (1987, p. 18):
Por exemplo, matemáticos, lógicos e engenheiros de sistemas
frequentemente elaboram, por motivos específicos, sistemas de
notação que, legitimamente ou ilegitimamente, chamados de
linguagens, são artificiais, e não naturais. É o que acontece, embora
seja baseado em línguas naturais preexistentes e seja
inequivocamente uma língua, ao esperanto, inventado no final do
século XIX, para servir à comunicação internacional....O linguista
a princípio lida com linguas naturais (LYONS, 1987, p. 16 -17).
23
FUESPI/NEAD Letras Português
Considera-se esta uma pista da opinião aferida pelo linguista no
momento de colher as concepções de Língua.
Lyons (1987, p. 87) apresenta ainda, a definição de lingua(gem)
conforme Hall (1968, p. 158), em seu Essay on language,: “a instituição pela
qual os humanos se comunicam e interagem uns com os outros por meio de
símbolos arbitrários orais-auditivos habitualmente utilizados”. E suas críticas a
esta definição são destinadas em primeiro aos pontos que o linguista considera
importante destacar que são a introdução dos fatores de comunicação e interação
(esta sendo entendida como mais ampla) e a este respeito ser um termo mais
adequado do que co-operação, e em segundo, o fato de que o termo “oral-auditivo”
pode ser tomado, grosso modo, como equivalente a “vocal”. Sua visão comparativa
entre as definições anteriores é bem lúcida:
Dentre as suas considerações sobre a definição de língua(gem)
cunhada por Hall (1968) o linguista ainda defende que o emprego do termo
“habitualmente utilizados” explicita-se como herança do behaviorismo que
influenciou a Linguística e a Psicologia, que o termo “símbolos” linguísticos
aparentemente refere-se a sinais vocais transmitidos do emissor para o
receptor no processo de comunicação e interação. E se põe de forma
totalmente contrária à afirmação de que um enunciado linguístico seja um
hábito, ao que o autor refuta veementemente com a seguinte afirmação: “a
linguagem é independente de estímulo”. (LYONS, 1987, p. 18) (grifo do autor)
No entanto, dado que a língua é logicamente independente da
fala, há boas razões para se dizer que, nas línguas naturais tais
como as conhecemos, a fala é historicamente, e talvez
biologicamente, anterior à escrita. E esta é a posição da maior
parte dos linguistas.
Hall, como Sapir, trata a linguagem como instituição puramente
humana; e o termo “instituição” explicita a visão de que a língua
que é usada por uma determinada sociedade é determinada é
parte da cultura daquela sociedade. (LYONS, 1987, p. 18)
24
Estruturalismos Linguísticos
Outras concepções que são trazidas à baila, tais como as de Robins
(1979a, p. 9- apud Lyons, 1987, p.19) que não define a linguagem, mas que
salienta alguns fatos que devem ser estudados em qualquer teoria da
linguagem; e a de Chomsky (1957, p.13, apud Lyons, 1987, p. 20): “Doravante
considerarei uma língua(gem) como um conjunto(finito ou infinito) de sentenças,
cada uma finita em comprimento e constituída a partir de elementos”. A respeito
desta última definição Lyons (1981) assume tê-la trazido apenas pelo contraste
que estabelece com as outras, tanto no estilo quanto no que se refere ao
conteúdo e defende que embora esta não se reporte à função comunicativa
das línguas, naturais ou não, nem mencione nada sobre a natureza simbólica
dos elementos ou de suas sequências; tem como maior contribuição o fato de
ter atribuído ênfase especial ao que chama de dependência estrutural dos
processos pelos quais se constroem as sentenças nas línguas naturais e ter
formulado uma teoria geral da gramática.
O linguista finaliza suas análises acerca das definições de linguagem
demonstrando que a demonstração das definições cumpre sua função de
explicitar algumas das propriedades que alguns linguistas consideraram
essenciais das línguas tais como as conhecemos. Como podemos perceber
nesta exígua exposição, a definição de língua(gem) é um dos pontos relevantes
a ser tratados dentre os pressupostos mais antigos da Linguística.
Em se tratando da Linguística Moderna, Coseriu (1980, p.1) importante
Saussuriano, traz algumas reflexões bastante significativas acerca da trajetória
dos estudos linguísticos, o que o autor italiano justifica, como se pode
corroborar em suas próprias palavras:
Para oferecer uma ideia panorâmica da Linguística moderna torna-
se necessário, antes de tudo, colocá-la no seu contexto histórico,
tanto mediato quanto imediato, e após ter procurado quais os
motivos e intuições do passado que servem de base a teorias e
orientações atuais, apresentar destas uma síntese orgânica, que
permita formular uma série de propostas satisfatórias a respeito
do problema fundamental: “Que se entende hoje, por linguagem?”
25
FUESPI/NEAD Letras Português
O linguista saussuriano chama-nos a atenção para duas questões
importantes no estudo do que se chama de Linguística Moderna. A primeira
questão refere-se ao fato de que a suposta sensação de novidade desses
estudos é apenas aparente, e a segunda, diz respeito à impossibilidade de
se poder perceber em uma linha divisória clara entre os estudos da Linguística
Tradicional e os da Linguística Moderna. Esclarecendo essas questões Coseriu
(1980) defende que a procura dessa trajetória feita de modo cronológico não
será encontrada nem mesmo nos manuais introdutórios da disciplina.
Em se tratando da Linguística Moderna, o linguista italiano alerta:
Se analisarmos esse excerto de Coseriu (1980) perceberemos em
suas palavras uma espécie de crítica com relação à linguística, mas essa é
apenas a primeira impressão, porque o que esse brilhante defensor da
linguística faz é uma reflexão muito lúcida sobre os aspectos que devem ser
considerados para se considerar qualquer ciência que seja com uma
roupagem ou uma abordagem moderna. Ele ressalta que modernos são os
tempos nos quais esta ciência linguística ainda se instaura, mas o mesmo
não se pode dizer das questões e objetos de pesquisa e preocupação desta
ciência. Um posicionamento muito lúcido, sério e científico é aqui demonstrado
por este magnífico autor.
Para oferecer uma ideia panorâmica da Linguística moderna torna-
se necessário, antes de tudo, colocá-la no seu contexto histórico,
tanto mediato quanto imediato, e após ter procurado quais os
motivos e intuições do passado que servem de base a teorias e
orientações atuais, apresentar destas uma síntese orgânica, que
permita formular uma série de propostas satisfatórias a respeito
do problema fundamental: “Que se entende hoje, por linguagem?”
Primeiramente foi assinalado o caráter de aparente novidade, próprio
da Linguística moderna. Ora é oportuno distinguir entre novidade
efetiva e desenvolvimento com roupagem moderna, de temas já
conhecidos. Isto posto, não há dúvidas de que a Linguística
moderna encara, de um lado, problemas sobre a natureza e a
estrutura da linguagem que a Linguística tradicional havia
26
Estruturalismos Linguísticos
A segurança com que formula a crítica e a embasa de forma histórica
e científica rebate qualquer contraposição às ideias de Coseriu. Do autor não
se percebem simples posicionamentos, mas posicionamentos científicos
embasados em conhecimento e análise da realidade das passagens da
ciência linguística.
Cosériu (1980, p. 2) organiza uma espécie de esquema cronológico,
constante das alíneas a) a e), que explicita a sucessão dos interesses
linguísticos através dos tempos conforme será descrito no quadro a seguir,
que montamos, tomando-lhe como base, para tentar didatizar um pouco mais
a teorização aqui exposta:
desprezado; por outro lado, ela não se ocupa absolutamente com
indagações históricas; ou então, procura justificar a história
(desenvolvimento) partindo da descrição (estrutura). Entretanto, é
evidente, antes de tudo, que, dado o caráter abstrato e quase
filosófico dessas preocupações, a Linguística atual deve reelaborar
e desenvolver a seu modo tais temas e problemas que,
constituindo-se em interesses culturais particulares, caducaram
e não forma considerados como objetos de ciência, principalmente
na segunda metade do século XIX (COSERIU, 1980, p 2).
Alíneas Época/Movimento Estudos linguísticos realizados
Predominância de problemas de definição.
Ex.: essência da linguagem e as categorias
das línguas.Problemas de descrição.Síntese:
Teorização sobre a Linguagem e descrição
da Língua.
Predominância da Linguística Histórico-
comparativa.Ex.: comparação de línguas
diversas, comparação de frases históricas
de uma mesma língua – indagação sobre a
transformação do latim em italiano, francês
e espanhol.
Retomada de problemas antigos - Teoria e
Descrição.Ex.: Gramática Geral e Descrição
das Línguas Modernas
Da Antiguidade Clássica ao
Renascimento
Renascimento
Século XVII
a)
b)
c)
27
FUESPI/NEAD Letras Português
O linguista italiano defende uma posição que consiste em uma espécie
de divisão de acordo com o ponto de referência dos estudos linguísticos, em
se tratando da Linguística Moderna que ele denomina de teórica, descritiva e
sincrônica se pensarmos numa determinada fase de uma língua e da não-
diacronia no que concerne ao estudo da língua através do tempo. Desse modo,
o autor chama a atenção, em especial, para a Linguística imediatamente
precedente, que pode ser considerada como uma espécie de hiato no
desenvolvimento dos problemas linguísticos, que desde quando estes foram
estudados no mundo ocidental, época que ele define, cronologicamente, como
Antiguidade – fora omitida em nossa cultura ocidental, isto é, a Gramática do
hindus antigos, em especial a de Pãnini, talvez isso tenha ocorrido em função
de sua insignificante repercussão.
Cosériu (1980) defende mais um de seus bem fundamentados
posicionamentos quando ressalta que o Historicismo e a Linguística histórica
prevaleceram no Renascimento e no século XIX do mesmo modo que a
Linguística Moderna é representada por estudos de natureza teórica e
descritiva, com estudos de questões não absolutamente novas, mas de retorno
as suas tradições mais antigas. Isso de fato, tem ocorrido não somente na
Retorno à problemática do Renascimento
com interesse voltado especialmente para a
Comparação e História.
Este século não marcou o início da
Linguística Moderna, como alguns pensam.
Tal pensamento só se justifica pelo
posicionamento preconceituoso de que à
época nasceu um método histórico-crítico.
Domínio de questões tais como diversidade
de teorias e orientações; o problema da
descrição e da aplicação.
Proposta de questões práticas no âmbito da
Linguística Histórica.
Século XIX
Linguística atual
d)
e)
28
Estruturalismos Linguísticos
Linguística, mas em ciências outras, quiçá, como forma de aperfeiçoamento
dos estudos, conferindo-lhes mais cientificidade.
Em se tratandodo estudo dos fatos linguísticos, Cosériu (1980, p. 4)
nos traz informações bastante novas no que diz respeito à autoria atribuída a
alguns fenômenos estudados, o que em alguns momentos pode parecer com
uma forma de criticar Saussure, mas vale ressaltar que este autor é um
estruturalista saussuriano e que a sua busca é mesmo por comprovar a sua
tese já enunciada aqui à qual retomaremos mais tarde.
Outra novidade trazida pelo linguista italiano refere-se à distinção que
segundo ao autor nos parece recentíssima, que é a que se estabelece entre
linguagem – que tem por objeto realidades extralinguísticas e a que tem por
objeto a própria linguagem ou “metalinguagem”. A esse respeito Cosériu (1980,
p.5) esclarece: “Também esta distinção entre uso primário das palavras e uso
“reflexivo” (aplicado às próprias palavras) não é nova, pois aparece, já em
forma explícita no De Magistro de Santo Agostinho...” O autor esclarece ainda,
que esta distinção ainda aparecerá outras vezes, na história das reflexões sobre
linguagem, como por exemplo, na Lógica Medieval, distinguindo-se concepções
como hipótese formal ou funcional de hipótese material. A preocupação do autor
neste esclarecimento tanto se direciona à atribuição da autoria quanto à cronologia
atribuída, de forma equivocada, às ideias supracitadas.
Em nosso entendimento, o autor italiano quer e consegue fundamentar
seu posicionamento a respeito dos fatos linguísticos estudados pela Linguística
Moderna: “Trata-se ainda de um retorno a questões já existentes; isto nos
A distinção entre “significante” e “significado” (isto é, a parte
material do signo linguístico) e “significado” (ou seja, o conteúdo
mental do próprio signo linguístico) é atribuída, a maior parte das
vezes, a Ferdinand de Saussure, que todavia definia o “significante”
como “imagem acústica”, de natureza psíquica e não física. Mas
tal distinção é muito antiga: ela já aparece, com outras palavras,
no De Interpretacione, de Aristóteles... Só se explica que esta
distinção seja atribuída a Saussure porque se interrompeu alinha
teórica no decorrer dos séculos (COSÉRIU, 1980, p. 4).
29
FUESPI/NEAD Letras Português
deveria convencer de que muitos motivos e problemas da linguística atual3
não são “novos” mas, retomados e redescobertos no curso da história voltam
hoje a ser postos à luz” (COSERIU, 1980, p. 5).
Outra vez o autor se posiciona, só que desta, ele se refere tanto aos
fatos linguísticos estudados quanto à atribuição da autoria de seus estudos a
Saussure. O fato linguístico ao qual o linguista se refere, de forma bastante
esclarecedora no que concerne aos estudos linguísticos da distinção entre
sincronia que fora atribuída a Saussure e na realidade, já havia sido tratado,
em 1751, na obra de J. Harris, Hermes or a Philosophical Inquiry Concerning
Language and Universal Grammar (Hermes ou a Pesquisa Filosófica sobre
a Linguagem e a Gramática Universal, publicada em Londres. Como se
percebe todas as críticas do linguista italiano são fundamentadas e
comprovações não lhe faltam para fazê-lo.
No que concerne à atribuição do estudo dos fatos linguísticos a
Saussure, Coseriu (1980, p. 5), como que para corroborar a afirmação anterior
destaca com riqueza de detalhes:
E mais detalhes acerca dos fatos linguísticos e da atribuição de seus
estudos, Coseriu (1980, p. 5) estabelece uma comparação contundente entre
Saussure e Gabelentz:
3 Estamos usando em nosso texto o termo Linguística Moderna e não linguística atual como está na obra citada, por acreditarmos que esta terminologia possa
ser resultante da tradução e considerarmos a terminologia que estamos usando mais adequada aos estudos em voga, no momento.
Esta distinção aflora também no século XIX, num autor muito
interessante a que Saussure deve muitíssimo: Georg Von der
Gabelentz, autor da densa obra Die Sprachwiissenschaft, The
Augfabe, Methoden und bisherigen Ergebnisse (A Linguística, seus
objetivos, métodos e recentes resultados), editada em 1891 e,
após a morte do autor, ocorrida em 1893, reeditada em 1901, com
reelaboração de A. von der Schulenberg, sobre a qual se reproduz
a edição de 1969.
Gabelentz distingue explicitamente entre fatos simultâneos
(gleichzeitig “contemporâneos, sincrônicos”) e fatos que se
sucedem um depois do utro, sucessivos (aufeinanderfolgerd
30
Estruturalismos Linguísticos
Gabelentz distingue explicitamente entre fatos simultâneos (gleichzeitig
“contemporâneos, sincrônicos”) e fatos que se sucedem um depois do utro,
sucessivos (aufeinanderfolgerd “sucessivos, diacrônicos”, e Saussure, na obra
Cours de Linguistique Génerale (Curso de Linguística Geral), publicação
póstuma de 1916 retoma estas definições e as traduz por faits synchroniques
e terms successifs. E depois de Gabelentz, Dittrich, em uma obra de 1904
sobre a psicologia da linguagem, faz distinção entre as duas formas de
Linguística, que chama respectivamente sinchronistich e metachronistich.
O autor traz na citação anterior duas notas de rodapé, a de número 3,
no ano de publicação da obra saurriana, 1916, a que sugere a leitura da
tradução italiana de sua obra aqui citada, na qual há amplo comentário de
Tulio de Mauro; e a nota de número 4, que traz o título da obra de Dittrich,
Gründzug der Sprachpsychologie [Fundamentos de psicologia da linguagem],
bem como o objetivo da obra que consistia segundo o linguista italiano em
entender a língua tal qual um produto humano ... no seu condicionamento através
da organização psicofísica e da atividade da coletividade linguística.
Outro esclarecimento no que concerne à atribuição do estudo de fatos
linguísticos, Coseriu (1980) faz referência a uma distinção que segundo ele
vem desde a Antiguidade e está sendo tratada na Modernidade, às vezes, até
com a mesma roupagem. O linguista dessa vez se reporta às noções de língua
tomada como saber, como técnica de falar, que é tomada como realização da
técnica linguística concreta, bem como a atribuição dos estudos, concepções
estas que são tratadas, respectivamente, nas terminologias Saussuriana, como
(langue e parole) e Chomskyana, como (competência e desempenho).
“sucessivos, diacrônicos”, e Saussure, na obra Cours de
Linguistique Génerale (Curso de Linguística Geral), publicação
póstuma de 1916 retoma estas definições e as traduz por faits
synchroniques e terms successifs. E depois de Gabelentz, Dittrich,
em uma obra de 1904 sobre a psicologia da linguagem, faz
distinção entre as duas formas de Linguística, que chama
respectivamente sinchronistich e metachronistich.
31
FUESPI/NEAD Letras Português
E mais fenômenos cuja atribuição de estudos era conferida a
Saussure tiveram sua atribuição conferida a Gabelentz por parte de Coseriu
(1980, p.6):
Na citação o autor se refere ao estudo da língua, que já havia sido
enunciado anteriormente, quando compara os estudos realizados por Saussure
e por Chomsky. Entretanto, agora a distinção que ele apresentará será uma
comparação entre os estudos desse fenômeno referido na citação anterior
por parte de Saussure e Gabelentz, autor já mencionado anteriormente pelo
linguista italiano:
Gabelentz distingue na “linguagem” (Sprach) o falar (Rede), a
“língua” (Einzels prach) e a “faculdade da linguagem”
(Sprachvermögem); no curso de Linguística Geral, de Saussure,
acham-se através de conceitos praticamente análogos a estes,
os termos parole, langue e faculte de langage (COSERIU, 1980,
p. 6).
Ainda a esse respeito, o linguista italiano defende que Gabelentz
entende a distinção apresentada na citação anterior como uma espécie de
fundamento de outra, ou seja, a de que as disciplinas linguísticas deveriam
ser subdividas em linguística descritiva – que deveria explicar o falar e por
Na realidade, esta distinção, também atribuída correntemente a
Saussure, está implícita em toda a gramática desde que existe
uma disciplina gramatical, porque nenhuma gramática jamaisdescreveu o falar, o desempenho, mas sempre pretendeu descrever
a língua, o saber lingüístico, a langue, a competência. Isto,
naturalmente, de modo implícito. Depois, de modo explícito, a
distinção aparece na Enciclopédia das ciências filosóficas de Hegel,
parágrafo 459, dedicado à linguagem. A fórmula de Hegel é
muitíssimo simples: “Die Rede und ihr System, die Sprach”, ‘o
falar e seu sistema, a língua’. O cursivo é do próprio Hegel e parece
indicar um uso técnico para esses termos, ainda correntes com o
mesmo valor na língua alemã. Entretanto, na obra de Gabelentz...
essa distinção não é apenas formulada, mas também discutida e
tomada como fundamento de uma distinção correspondente entre
disciplinas Linguísticas, descritivas e históricas.
32
Estruturalismos Linguísticos
isso, descreveria o sistema que o regulasse; linguística histórico-
comparativa – que deveria procurar explicar historicamente a língua e;
linguística geral – que teria como objeto de estudo a linguagem em geral.
Coseriu (1980) faz mais uma negação dos estudos realizados por
Saussure dessa vez, referindo-se à teoria da arbitrariedade do signo linguístico,
que por sua vez, é atribuída pelo linguista a Aristóteles e também a Boécio e
ainda, à tradição da filosofia escolástica. O linguista italiano ainda lembra que
o termo também fora cunhado na antiguidade, por Aulo Gélio, na Idade
Medieval, por Júlio César Escalígero, bem como retomado por muitos autores
como Hobbes, em 1658 e por Schotel, em 1663. O autor é exaustivo no que
diz respeito à comprovação de sua tese de que a Linguística Moderna pouco
tem de modernidade, mas apenas retoma objetos, fatos linguísticos para
estudos em novas abordagens.
A tese da teoria das pessoas gramaticais também, conforme o autor,
mesmo sendo tratada na linguística moderna já se encontra numa obra de
Harris, de 1751, na qual o autor defende, inclusive, encampando a tese de
Apolônio Díscolo, que somente existem a primeira e a segunda pessoa, porque
a terceira é a não pessoa.
Em face da exaustiva postura de negação de atribuição, de nova
atribuição de estudo de fenômenos linguísticos o linguista italiano comprova o
que, intuitivamente tínhamos afirmado sobre seu posicionamento teórico. Sua
tese era mesmo demonstrar que a linguística moderna não estuda fenômenos
novos, apenas, mas também estuda os fenômenos antigos, com nova
roupagem talvez, até mesmo, como forma de continuidade.
E quanto aos estudos linguísticos na linguística moderna Coseriu
(1980, p. 7 - 8) esclarece:
Tudo o que dissemos não pretende diminuir os méritos da
linguística moderna, mas mostrar que ela não está fora da tradição,
como se ouve dizer seguidamente, e que ao contrário, retoma
posições teóricas sobre a linguagem existentes desde a
antigüidade: o abismo e a ruptura, portanto, dizem respeito apenas
33
FUESPI/NEAD Letras Português
à Linguística imediatamente precedente, e em particular, à
Linguística dos últimos decênios do século XIX. Se porém, em
certo sentido, a Linguística moderna é antiga no que concerne
aos temas e é, por isso mesmo, tradicional, isto não significa que
o seja também em seu desenvolvimento.
O que o linguista faz questão de enfatizar é que a linguistica moderna
estuda os fatos antigos, mas isso não lhe tira o mérito científico, visto que o
fenômeno não tem seu estudo repetido, mas sim aprofundado, observado
sob outros ângulos, ou novas abordagens. E, além disso, embora a linguistica
moderna tenha como objetivo a teoria e a descrição, ela não prescinde de
estudos e investigações históricas, que, muitas vezes, fazem-se essenciais
para a própria descrição.
O linguista ainda esclarece um pouco mais a construção de seu
discurso exaustivo, mas bastante esclarecedor quando afirma que os temas
teóricos e descritivos da linguística moderna recuam à Idade Média, e ao
século XVIII, em especial, assim como os históricos e comparativos podem
ser atribuídos a linguística do Renascimento e do século XIX. Isso pode ser
afirmado tomando o contexto histórico geral da linguística moderna, porque
no que concerne ao contexto imediato, esta constitui uma reação à linguística
imediatamente precedente, que representa o Positivismo, com o qual
entraremos em contato a seguir na ótica de Coseriu (1980).
3 A ideologia positivista na Linguística
O que se percebe numa observação mais acurada é que a Linguistica
Moderna volta a sua atenção para estudos anteriores (históricos), mas essa
volta se direciona apenas àqueles estudos que não foram realizados ou para
os que mesmo tendo sido realizados, deixaram sem resolução alguma questão
ou então porque se percebe uma falta de continuidade no que concerne ao
aspecto cronológico, se observarmos desde a Linguística na Antiguidade até
agora, ao momento em que temos a Linguistica Moderna.
34
Estruturalismos Linguísticos
Coseriu (1980, p. 10) cita como exemplo desta situação a diferença
entre sincronia e diacronia que ele defende que “aparece em François Thurot,
no final do século XVIII, depois no prefácio da Gramática espanhola de Andrés
Belo e também no prefácio à gramática alemã de K. Heyse”. O autor defende
por meio deste exemplo que alguns linguistas não se preocupam com uma
visão histórica de sua disciplina, tão pouco, com laços históricos que estão
na tradição no que concerne aos seus estudos.
Em se tratando da Linguistica Moderna o linguista italiano nos traz
mais considerações que nos serão úteis:
A Linguística como ciência com um método próprio de indagação
surgiu nos primeiros anos de 1800 como Linguística comparada e
histórica, sem obviamente nenhuma ideologia positivista, que ainda
não existia como tal, emprestada de ima ideologia romântica que
apenas em parte é conservada e continuada pelo Positivismo. A
Linguística comparada e histórica se afirma sobretudo como
Linguística indo-européia, gramática comparada da línguas indo-
européias, e principalmente, das línguas clássicas, românicas e
germânicas (COSÉRIU, 1980, p.12).
O autor nos mostra, de certo modo, uma visão sobre o início dos
estudos linguísticos e a natureza destes estudos. Ele ainda ressalta que por
volta de 1870 por meio da influência do grande linguista alemão, August
Schleicher, surgiu a escola dos neogramáticos, que teve como primeiros
representantes Karl Brugmann, Berthold Delbrück, Herman Osthoff e August
Leskien.
Em se tratando de método e de ideologia, o francês Antonio Meillet,
foi um estudioso neogramático, assim como o fora também Saussure, no início
de sua carreira, tendo estudado em Leipzig, um centro de linguística dos
neogramáticos.
Coseriu (1980) para justificar os reflexos da ideologia neogramática
em várias ciências dentre estas a Linguística, defendeu que se tratava apenas
de um reflexo que dominou não apenas as várias formas da cultura, mas as
diversas disciplinas humanísticas.
35
FUESPI/NEAD Letras Português
A respeito da ideologia positivista o linguista italiano esclareceu:
...Ideologia não significa necessariamente filosofia positivista, até
porque esta última, muito longe de ser unitária, é formada de várias
concepções filosóficas. Entendo por ideologia o modo pelo qual
uma filosofia forma e determina uma disciplina particular, como
por exemplo, a psicologia, a ciência da literatura, a história literária
ou a linguística. Ora, o positivismo, enquanto ideologia e
metodologia das ciências se caracteriza por quatro princípios: a)
princípio do indivíduo, do fato individual; b) princípio da substância;
c) princípio do evolucionismo; princípio do naturalismo. (COSERIU,
1980, p. 13)
O linguista ressalta que a importância dos princípios
supramencionados está no fato de que a linguistica moderna opõe a cada
um deles um princípio exatamente contrário. Mas o que nos chama a atenção
em relação a esses princípios é o significado que cada um deles tem na leitura
de Coseriu (1980, p. 12-13).
No que concerne ao princípiodo indivíduo, considera-se que a atenção
do cientista se concentra no fato singular e que a universalidade do fato é
considerada como o resultado de uma operação de generalização e de
abstração.
Com relação ao princípio da substância, tem-se que os fatos singulares
são considerados por aquilo que são enquanto substância e elementos
materiais e não pelo que estes são do ponto de vista de sua função.
Já de acordo com o principio do evolucionismo, os fatos singulares
são considerados duas vezes; uma, em que são considerados em si próprios
e outra, em sua evolução.
E por último, em se tratando do princípio do naturalismo, os fatos são
reduzidos à classe dos fatos naturais. Desse modo, considera-se que os fatos
estão sujeitos às leis da causalidade e da necessidade, como na natureza.
O que se pode afirmar, de acordo com o estudo destes princípios é
que uma ciência somente chegará à maturidade na medida em que é capaz
de prever o desenvolvimento a que estes fatos chegaram.
36
Estruturalismos Linguísticos
Esses mesmos fatos no tocante aos estudos linguísticos também
podem ser vistos em Coseriu (1980). E a esse respeito, o fato que consiste
na atenção ser voltada ao indivíduo, isto é, no âmbito da linguística, tem-se o
privilégio do fato linguístico. A exemplo desse tipo de observação pode-se
citar a fonética experimental, que tendo se desenvolvido na época positivista,
concentrou-se, sobretudo, no simples fato fônico, e sustentou que na realidade,
não subsiste nenhuma unidade entre os diversos indivíduos. Essa afirmação
levaria a outra, que revelaria bem o posicionamento teórico-metodológico
desta ciência, a de que não existem duas vogais “a” iguais na pronúncia de
dois indivíduos e nem na pronúncia de um mesmo indivíduo. Coseriu (1980)
alerta-nos para o fato de que uma afirmação desse tipo extrapola os limites
da linguística positivista. O estudo empírico antes da teoria é típico da maior
parte dos linguistas positivistas, que não se propunham a problemas teóricos,
e que estudavam os fatos, independentemente, de qualquer filosofia.
O princípio da substância em linguística significa que os fatos podem
ser considerados em sua substancialidade, isto é, se estes forem estudados
em sua substância, será observada a sua substancialidade, mas por outro
lado, se a sua materialidade estiver sendo observada, serão observados
aspectos materiais desses fatos.
De acordo com o princípio do evolucionismo, afirma-se que o objeto
principal da linguística (positivista) somente pode ser a história da língua,
compreendida também no sentido positivista, ou seja, nesta perspectiva, o
desenvolvimento é considerado antes do modo de ser das línguas.
Desse modo, a linguística enquanto ciência positivista somente pode
ser compreendida por meio da linguística histórica ou gramática histórica.
Assim, a linguística é quase exclusivamente história, pois até o estudo
descritivo depende do histórico.
Por fim, o naturalismo em linguística propunha que as línguas deveriam
ser consideradas como organismos naturais, dotadas de desenvolvimento
próprio. A própria história linguistica deveria ser estudada dessa forma, isto
37
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é, registrando apenas os fatos sem se centrar na explicação de seu
desenvolvimento. Coseriu (1980) esclarece que os desenvolvimentos atribuídos
conforme a linguística positivista às leis análogas às naturais são classificados
como “leis fonéticas”.
Entretanto, embora pela afirmação supramencionada se considere a
linguística como uma ciência madura, Meillet não a considera dessa forma,
nem a considera como uma ciência natural como as ciências naturais porque,
segundo ele, a linguistica inda não tinha condições de fornecer previsões.
O que nos é perceptível a partir da exposição é que a linguística
enquanto ciência sofrera críticas tanto em função dos posicionamentos teóricos
de alguns de seus estudiosos e de práticas de pesquisa desenvolvidas em
desconformidade com a orientação em voga no momento da pesquisa,
entretanto, todo o panorama de problematizações aqui exposto é
compreensível dada à falta de proporcionalidade entre a dimensão do objeto,
com suas multifacetas, de natureza tão ampla e heterogênea. Assim, a ciência,
embora já tenha passado por ampliações, com suas diversas ramificações
ainda não é correspondente ao seu objeto.
SAIBA MAIS:
Convencionou-se denominar indo-europeu, indo-germânico ou ariano,
a língua pré-histórica, falada com relativa unidade, há cerca de três mil anos
antes de Cristo, numa região incerta da Europa Oriental, mas que a grande
parte dos linguistas concorda tratar-se da região meridional da atual Rússia.
Não obstante as divergências da origem e o emprego de termos diferentes
para designar o povo que falava essa língua, o certo é que ela realmente existiu.
Atestam-no as línguas desprendidas da protolíngua (pelo método comparativo),
o estudo das religiões comparadas, a geografia linguística e a Antropologia.
38
Estruturalismos Linguísticos
FONTE:
OLIVEIRA, João Bittencourt de. Contribuição do método comparativo para a
determinação da existência do indo-europeu. Disponível em: http://
www.filologia.org.br/revista/artigo/3(9)41-52.html. Acesso em 13.05.2010.
Saiba mais: notas complementares sobre Linguística Aplicada, consultar:
BRITTO DUQUE, Alíria de. Linguística Aplicada. Disponível em: http://
recantodasletras.uol.com.br/gramatica/2626962.
Sobre Pragmática, consultar:
SIILVA, Jorge da. e SILVA, Vera Lucia T. INTRODUÇÃO AO PRAGMATISMO
LINGUÍSTICO. Disponível em: http://www.filologia.org.br/soletras/1/07.htm
Sobre Linguística Descritiva, ler: Princípios de Linguística Descritiva: introdução
ao pensamento gramatical, de Mário Perini.
Sobre linguística histórico-comparativa, consultar:
SOUSA, Maria Clara Paixão de. Introdução às ciências da linguagem:
linguagem, história e conhecimento. Disponível em: http://
www.tycho.iel.unicamp.br/~tycho/pesquisa/caps/PAIXAODESOUZA_MC-
2006a.pdf
39
FUESPI/NEAD Letras Português
Atividade complementar
Pesquise sites ou blogs que apresentem artigos ou que contenham
resenhas, resumos sobre as teorias/correntes de estudos da linguagem e em
seguida, crie um blog com um grupo de no máximo quatro componentes.
Escolha dentre os temas a seguir: Estruturalismo Europeu, Estruturalismo
Americano, Formalismo e Funcionalismo. No blog você e seus colegas de
grupo poderão incluir estudos, resumos, questões pelas quais vocês se
interessam e trabalhos de pesquisa vinculados à disciplina. Conte com seu
tutor para fazer isso. Esta é uma excelente maneira de você estudar e dar a
oportunidade a outras pessoas de estudarem também, lendo as informações
presentes no seu blog. Ah, e como essas informações serão públicas, uma
vez que ficarão publicadas no seu blog não se esqueçam de eleger um
conselho editorial que pode corrigir, desde as informações que serão postadas,
até os aspectos como o nível de linguagem e a correção ortográfica, ou seja,
escrevam o texto numa linguagem clara, objetiva e correta.
40
Estruturalismos Linguísticos
Leituras complementares:
BORBA, Francisco da Silva. Introdução aos estudos lingüísticos. 12ª. ed.
Campinas, SP: Pontes, 1998.
FARACO, Carlos Alberto. Estudos pré-saussurianos. IN: MUSSALIM, Fernanda
e BENTES, Ana Christina (orgs.). Introdução à Linguística III: fundamentos
epistemológicos. São Paulo: Cortez, 2004.
Sugiro a leitura mais atenta dos 4 primeiros capítulos do livro de Emile
Benveniste, Princípios de Linguística Geral, Volume I.
41
FUESPI/NEAD Letras Português
Atividades de aprendizagem
1 Faça um resumo das ideias principais desta primeira unidade e desenvolva
um texto do gênero dissertativo-opinativo, posicionando-se a respeito da
contribuição de Saussure para os estudos da linguagem. Assim, você já vem
construindo o fichamento que fará no final da leitura deste livro.42
Estruturalismos Linguísticos
Resumindo...
Na unidade 1, tratamos em primeiro das impressões de Benveniste
(1995) sobre algumas das preocupações que afligiram Saussure, como se
percebe na citação a seguir:
...mostrar ao linguista o que ele faz. Queria fazer compreender o
erro em que se envolveu a linguística desde que estuda a linguagem
como uma coisa, como um organismo vivo ou como matéria que
se analisa por uma técnica instrumental, ou ainda como uma
criação livre e incessante da imaginação humana. É preciso voltar
aos fundamentos, descobrir esse objeto que é a linguagem, a que
nada pode ser comparado.
O linguista chama a atenção, de forma enfática, para a preocupação
central de Saussure em considerar que a substância de determinado objeto
estava no ponto de vista sobre o qual se observa a este. Além disso, afligia-
lhe o fato de o estudo da língua não estar sendo realizado da forma como
deveria.
Em segundo lugar tratamos sobre os pressupostos recentes sobre a
linguística geral com base em Lyons (1981) que traz algumas definições de
linguagem que problematiza, tocando em seus pontos críticos e depois finaliza
seu posicionamento destacando que as definições demonstram que algumas
das propriedades que alguns linguistas consideraram essenciais nas línguas
tal como as conhecemos.
Na segunda parte da Unidade 1, em se tratando da Linguística
Moderna, Coseriu (1980, p.1), importante saussuriano, traz reflexões bastante
significativas acerca da trajetória dos estudos linguísticos, o que o autor italiano
justifica, com a finalidade de oferecer uma ideia panorâmica da Linguística
moderna, colocando-a no seu contexto histórico, tanto mediato quanto imediato.
O linguista saussuriano chama-nos a atenção para duas questões
importantes no estudo do que se chama de Linguística Moderna. A primeira
questão refere-se ao fato de que a suposta sensação de novidade desses
43
FUESPI/NEAD Letras Português
estudos é apenas aparente, e a segunda, diz respeito à impossibilidade de
se poder perceber em uma linha divisória clara entre os estudos da Linguística
Tradicional e os da Linguística Moderna.
Cosériu (1980, p. 2) organiza uma espécie de esquema cronológico,
constante das alíneas a) a e), que explicita a sucessão dos interesses
linguísticos através dos tempos conforme será descrito no quadro resumitivo
a seguir, que montamos, tomando-lhe como base, para tentar didatizar um
pouco mais a teorização aqui exposta:
ESTUDOS LINGUÍSTICOS REALIZADOS
d) Século XIX
Retorno à problemática do
Renascimento com interesse voltado
especialmente para a Comparação
e História.
Este século não marcou o início da
Linguística Moderna, como alguns
pensam. Tal pensamento só se
justifica pelo posicionamento
preconceituoso de que à época
nasceu um método histórico-crítico.
e) Linguística atual
Domínio de questões tais como
diversidade de teorias e orientações;
o problema da descrição e da
aplicação.
Proposta de questões práticas no
âmbito da Linguística Histórica.
a) Da Antiguidade Clássica ao
Renascimento
Predominância de problemas de
definição. Ex.: essência da linguagem
e as categorias das línguas.
Problemas de descrição.
Síntese: Teorização sobre a
Linguagem e descrição da Língua.
b) Renascimento
Predominância da Linguística
Histórico-comparativa.
Ex.: comparação de línguas diversas,
comparação de frases históricas de
uma mesma língua – indagação sobre
a transformação do latim em italiano,
francês e espanhol.
c) Século XVII
Retomada de problemas antigos -
Teoria e Descrição.
Ex.: Gramática Geral e Descrição das
Líguas Modernas
44
Estruturalismos Linguísticos
O que o linguista faz questão de enfatizar é que a linguistica moderna
estuda os fatos antigos, mas isso não lhe tira o mérito científico, visto que o
fenômeno não tem seu estudo repetido, mas sim aprofundado, observado
sob outros ângulos, ou novas abordagens. E, além disso, embora a linguistica
moderna tenha como objetivo a teoria e a descrição, ela não prescinde de
estudos e investigações históricas, que muitas vezes se fazem essenciais
para a própria descrição.
Na 3ª. parte desta unidade 1, o que se percebe, numa observação
mais acurada, é que a Linguistica Moderna volta a sua atenção para estudos
anteriores (históricos), mas essa volta se direciona apenas àqueles estudos
que não foram realizados ou para os que mesmo tendo sido realizados,
deixaram sem resolução alguma questão ou então porque se percebe uma
falta de continuidade no que concerne ao aspecto cronológico se observarmos
desde a Linguística na Antiguidade até agora, ao momento em que temos a
Linguistica Moderna.
O autor nos mostra, de certo modo, uma visão sobre o início dos
estudos linguísticos e a natureza destes estudos. Ele ainda ressalta que por,
volta de 1870, por meio da influência do grande linguista alemão, August
Schleicher, surgiu a escola dos neogramáticos, que teve como primeiros
representantes Karl Brugmann, Berthold Delbrück, Herman Osthoff e August
Leskien.
Coseriu (1980) para justificar os reflexos da ideologia neogramática
em várias ciências, dentre elas a Linguística, defendeu que se tratava apenas
de um reflexo que dominou não apenas as várias formas da cultura, mas as
diversas disciplinas humanísticas.
A respeito da ideologia positivista, o linguista italiano esclareceu que
ideologia não significa necessariamente filosofia positivista, até porque esta
última, muito longe de ser unitária, é formada de várias concepções filosóficas.
O autor explica o positivismo, enquanto ideologia e metodologia das ciências,
se caracterizando por quatro princípios: a) princípio do indivíduo, do fato
45
FUESPI/NEAD Letras Português
individual; b) princípio da substância; c) princípio do evolucionismo; d) princípio
do naturalismo.
O que nos é perceptível a partir da exposição é que a linguística
enquanto ciência sofrera críticas tanto em função dos posicionamentos teóricos
de alguns de seus estudiosos quanto de práticas de pesquisa desenvolvidas
em desconformidade com a orientação em voga no momento da pesquisa.
Entretanto, todo o panorama de problematizações aqui exposto é
compreensível dada à falta de proporcionalidade entre a dimensão do objeto,
com suas multifacetas, de natureza tão ampla e heterogênea. Assim, a ciência,
embora já tenha passado por ampliações com suas diversas ramificações,
ainda não é correspondente ao seu objeto.
OBJETIVOS
• Identificar as concepções de ciência, bem como as característi-
cas que conferem cientificidade a um determinado objeto.
• Destacar características que conferem cientificidade à linguística.
UNIDADE 2
A linguística e sua cientificidade
49
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2 O que é ciência4?
Não é novidade para nenhum estudante universitário que, no meio
acadêmico, o que mais se persegue além de alcançar o melhor nível de
profundidade nos estudos é a cientificidade. Os trabalhos que são realizados
para as disciplinas acadêmicas seguem a padrões de cientificidade que estão
inclusive normaliizados por diversas NBR – Norma Brasileira de Registros,
constantes da ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. As
pesquisas que são desenvolvidas na academia seguem a um rigor científico.
E assim, quanto mais nos aproximamos do mundo acadêmico mais nos
inteiramos da relevância da ciência que norteia os estudos e as pesquisas
em qualquer área.
Marconi e Lakatos (2010, p. 20 – 22) citam alguns conceitos que em
seu entendimento são incompletos, aos quais não nos deteremos pela sua
incompletude, e se referem a dois outros que se complementam. O primeiro
a ser elencado é o de Ander-Egg (1978, p.15) no qual se define que: “A ciência
é um conjunto de conhecimentos racionais, certos ou prováveis, obtidos
metodicamente sistematizados e verificáveis, que fazem referência a objetos
de mesma natureza.”
Como uma espécie de esclarecimentosobre cada um dos princípios
elencados na definição de ciência supracitada, as autoras definem cada um
destes conforme descrito a seguir:
a) conhecimento racional – isto é que tem exigências
de método e está constituído por uma série de
elementos básicos, tais como sistema conceitual,
hipóteses, definições; diferencia-se das sensações ou
imagens que se refletem em um estado de ânimo, como
o conhecimento poético, e da compreensão imediata,
4 Sobre ciência e método científico, consulte: a artigo de: DIAS, Cláudia e FERNANDES, Denise. Pesquisa e métodos científicos. Disponível em: http://
www.reocities.com/claudiaad/pesquisacientifica.pdf. Acesso em 23 de abril de 2010.
50
Estruturalismos Linguísticos
sem que se busquem os fundamentos, como é o caso
do conhecimento intuitivo;
b) certo ou provável – já que não se pode atribuir à
ciência a certeza indiscutível de todo o saber que a
compõe. Ao lado dos conhecimentos certos, é grande
a quantidade dos prováveis. Antes de tudo, toda lei
indutiva é meramente provável, por mais elevada que
seja a sua probabilidade;
c) obtidos metodicamente – pois não se os adquire ao
acaso ou na vida cotidiana, mas mediante regras
lógicas e procedimentos técnicos;
d)sistematizadores – isto é, não se trata de
conhecimentos dispersos e desconexos, mas de um
saber ordenado logicamente, constituindo um sistema
de ideias (teoria);
e) verificáveis – pelo fato de que as afirmações, que
não podem ser comprovadas ou que não passam pelo
exame da experiência, não fazem parte do âmbito da
ciência, que necessita, para incorporá-las, de
afirmações comprovadas pela observação;
f) relativos a objetos de mesma natureza – ou seja,
objetos pertencentes a determinada realidade, que
guardam entre si certos caracteres de homogeneidade
(MARCONI e LAKATOS, 2010, p. 22).
E após a exaustiva enumeração, as autoras apresentam o segundo
conceito, que definem ainda como mais completo, que é o de Trujillo (1974, p.
8) no qual a ciência é definida como “... todo um conjunto de atitudes
atividades racionais, dirigidas ao sistemático conhecimento com objeto
limitado, capaz de ser submetido à verificação”.
51
FUESPI/NEAD Letras Português
Para o desenvolvimento dos estudos de uma ciência, há que se obe-
decer a alguns critérios, que são denominados critérios de cientificidade.
Dias e Fernandes (2000, p. 1-2) definem os critérios de cientificidade,
normalmente citados na literatura científica que são relevantes para que
compreendamos também os critérios aos quais qualquer ciência que queira
obter respeitabilidade no meio científico deve submeter-se:
a) objeto de estudo bem definido e de natureza
empírica: delimitação e descrição objetiva e eficiente
de realidade empiricamente observável, isto é, daquilo
que se pretende estudar, analisar, interpretar ou verificar
por meio de métodos empíricos1;
b) objetivação: tentativa de conhecer a realidade tal
como é, evitando contaminá-la com ideologia, valores,
opiniões ou preconceitos do pesquisador;
c) observação controlada dos fenômenos: preocupação
em controlar a qualidade do dado e o processo utilizado
para sua obtenção;
d) originalidade: trabalho criativo, original;
e) coerência: argumentação lógica, bem estruturada,
sem contradições;
f) consistência: base sólida, resistente a argumentações
contrárias;
g) linguagem precisa: sentido exato das palavras,
restringindo ao máximo o uso de adjetivos;
h) intersubjetividade: opinião dominante da comunidade
científica de determinada época e lugar.
Se pensarmos na linguística de Saussure, era esse o caráter que o
mestre genebrino buscava para a ciência da linguagem, pois mais do que
responsável pelo estudo da ciência, ele fora o elaborador da forma mais cien-
52
Estruturalismos Linguísticos
tífica de realizar os estudos desta ciência, o estruturalismo. E não poupou
esforços para tornar os estudos da linguagem os mais científicos possíveis, o
que é desnecessário explicitar em função da contribuição de estudos tão sig-
nificativos como o desenvolvido pelo linguista suíço desde os estudos históri-
cos e comparativos até os estruturalistas.
Dias e Fernandes (2000, p. 1-2) defendem que
Para proteger a ciência, e o próprio pesquisador, de erros e
precipitações, utiliza-se um conjunto de regras, denominado método
científico, que, com maior segurança e economia, norteia a
investigação científica até seu objetivo final na obtenção de
conhecimentos válidos e verdadeiros a respeito do fenômeno em
estudo.
Como podemos perceber, para que uma disciplina se instaure, isto
é, seja aceita na comunidade científica enquanto ciência, ela precisa estar
em conformidade com a concepção de ciência, com os critérios de
cientificidade. Em se tratando da ciência lingüística, as formalidades foram
cumpridas pelos estudiosos que se propuseram a estudá-la enquanto
disciplina. E Saussure foi o principal responsável por este cumprimento. Ele
pensou o objeto (a língua), pensando-o, pensou o método mais adequado
para seu estudo (o sincrônico), pensou-lhe ainda a sua instrumentação,
dividindo o estudo do objeto em partes (as dicotomias). A respeito destas,
estabeleceu-lhes as conceituações e talvez por isso ele tenha sido considerado
o pai da linguística moderna, embora haja quem defenda que outros estudiosos
já haviam feito os estudos que foram atribuídos a Saussure.
Bom, mas voltando-nos ao reconhecimento da linguística enquanto
ciência pode-se afirmar que esta já uma questão mais tranquila, como veremos
a seguir.
53
FUESPI/NEAD Letras Português
2.1 A Linguística enquanto ciência e sua cientificidade
A linguística é o estudo científico da linguagem. E tratando sobre essa
questão, Lyons (1981) estabelece algumas distinções entre as concepções
de linguagem alertando para a tradução do termo language para referí-lo,
especificamente, à faculdade de comunicação humana. O autor defende que
não se pode possuir ou usar a linguagem natural sem antes fazê-lo com uma
língua natural específica. Ex.: A linguagem computacional (artificial) é criada
com base na língua natural de seu criador.
O linguista, a princípio lida com línguas naturais. E ele quer saber se
as línguas naturais, todas, possuem em comum algo que não pertença a outros
sistemas de comunicação, humano ou não, de tal forma que seja correto aplicar
a cada uma delas a palavra “língua”, negando-se a aplicação deste termo a
outros sistemas de comunicação.
Vejamos algumas definições de língua para que possamos vislumbrar
o objeto de estudo da língua nessa atmosfera científica.
“A linguagem é um método puramente humano e não instintivo de se
comunicarem ideias, emoções e desejos por meio de símbolos
voluntariamente produzidos”. (SAPIR, 1929, p. 8). Nesta definição, os pontos
falhos, cf. Lyons(1987) estão nas expressões destacadas.
Se pensarmos bem sobre as expressões em destaque na citação
anterior é muito restritivo afirmarmos que “a linguagem é um método
puramente humano e não instintivo de se comunicarem ideias, emoções
e desejos por meio de símbolos voluntariamente produzidos”. Ora,
vejamos, a linguagem não é um texto com um roteiro previamente programado.
Inúmeros são os fatores externos e internos que podem influenciar o
processo comunicativo, a linguagem oral, tanto quanto a e escrita.
Outra definição que é trazida aqui é a de Bloch e Trager (1942): “Uma
língua é um sistema de símbolos vocais arbitrários por meio dos quais um
grupo social co-opera”. Para Lyons(1987), essa definição enfatiza a função
54
Estruturalismos Linguísticos
social sem considerar a função comunicativa da linguagem, restringindo a
comunicação apenas à língua falada.
O autor destaca sobre a definição de Hall (1968, p. 158) de que a
língua: “é a instituição pela qual os humanos se comunicam e interagem uns
com os outros por meio de símbolos arbitrários orais auditivos, habitualmente
utilizados”; o vínculo que

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