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UAB – UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL FUESPI – FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA LICENCIATURA PLENA EM LETRAS PORTUGUÊS FUESPI 2011 OS ESTRUTURALISMOS LINGUÍSTICOS: QUASE UM SÉCULO DEPOIS DE SAUSSURE Silvana da Silva Ribeiro Ribeiro, Silvana da Silva. Os estruturalismos linguísticos: quase um século depois de Saussure / Silvana da Silva Ribeiro. – Teresina: UAB/ FUESPI/NEAD, 2011. 137 p. ISBN: 978-85-61946-27-2 1. Saussure – estudos científicos da linguagem. 2.Linguística – Escola de Praga . I. Silvana da Silva Ribeiro. II. Título. CDD: 410 C837l Presidente da República Dilma Vana Rousseff Vice-presidente da República Michel Miguel Elias Temer Lulia Ministro da Educação Fernando Haddad Secretário de Educação a Distância Carlos Eduardo Bielschowsky Diretor de Educação a Distância CAPES/MEC Celso José da Costa Governador do Piauí Wilson Nunes Martins Secretário Estadual de Educação e Cultura do Piauí Átila de Freitas Lira Reitor da FUESPI – Fundação Universidade Estadual do Piauí Carlos Alberto Pereira da Silva Vice-reitor da FUESPI Nouga Cardoso Batista Pró-reitor de Ensino de Graduação – PREG Marcelo de Sousa Neto Coordenadora da UAB-FUESPI Márcia Percília Moura Parente Coordenador Adjunto da UAB-FUESPI Raimundo Isídio de Sousa Pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação – PROP Isânio Vasconcelos de Mesquita Pró-reitora de Extensão, Assuntos Estudantis e Comunitários – PREX Francisca Lúcia de Lima Pró-reitor de Administração e Recursos Humanos – PRAD Acelino Vieira de Oliveira Pró-reitor de Planejamento e Finanças – PROPLAN Raimundo da Paz Sobrinho Coordenadora do curso de Licenciatura Plena em Letras Português – EAD Alima do Nascimento Silva Edição UAB - FNDE - CAPES FUESPI/NEAD Diretora do NEAD Márcia Percília Moura Parente Diretor Adjunto do NEAD Raimundo Isídio de Sousa Coordenadora do Curso de Licenciatura Plena em Letras – Português Alima do Nascimento Silva Coordenadora de Tutoria Maria do Socorro Rios Magalhães Coordenadora de Produção de Material Didático Cândida Helena de Alencar Andrade Autora do Livro Silvana da Silva Ribeiro Revisão Teresinha de Jesus Ferreira Diagramação Jeydson Jonys Barros Batista Luiz Paulo de Araújo Freitas Capa Luiz Paulo de Araújo Freitas Fonte da imagem: MATERIAL PARA FINS EDUCACIONAIS DISTRIBUIÇÃO GRATUITA AOS CURSISTAS UAB/FUESPI UAB/FUESPI/NEAD Campus Poeta Torquato Neto (Pirajá), NEAD, Rua João Cabral, 2231, bairro Pirajá, Teresina (PI). CEP: 64002-150, Telefones: (86) 3213-5471 / 3213-1182 Web: ead.uespi.br E-mail:eaduespi@hotmail.com SUMÁRIO UNIDADE 1 UM SAUSSURE POUCO CONHECIDO ................................................ 11 1 Saussure depois de quase um século: entre reflexões e lúcidos esclarecimentos ....................................................................................... 14 2 Pressupostos recentes sobre Linguística Geral ..................................... 21 3 A ideologia positivista na linguagem...................................................... 33 Atividade complementar .......................................................................... 39 Leituras complementares ......................................................................... 40 Atividades de aprendizagem ................................................................... 41 Resumindo............................................................................................... 42 UNIDADE 2 A LINGUÍSTICA E SUA CIENTIFICIDADE ............................................. 47 2 O que é ciência ..................................................................................... 49 2.1 A Linguística enquanto ciência e sua cientificidade ............................ 53 2.1.1 Acerca das noções de Língua e Fala ............................................... 55 Glossário ................................................................................................. 60 Atividades complementar......................................................................... 61 Atividades de aprendizagem ................................................................... 62 Resumindo............................................................................................... 63 UNIDADE 3 OS ESTUDOS DA LINGUAGEM ............................................................ 67 3 Os estudos da linguagem anteriores a Saussure................................... 69 3.1 Estruturalismo Europeu ...................................................................... 75 3.2 Estruturalismos Americanos ............................................................... 96 3.3 Funcionalismo .................................................................................. 101 3.4 O Círculo Linguístico de Praga - CLP ............................................... 104 3.5 O Formalismo .................................................................................. 108 Resumindo............................................................................................. 118 Atividades de aprendizagem ................................................................. 123 Atividade Complementar ....................................................................... 124 Considerações Finais ............................................................................ 125 REFERÊNCIAS .................................................................................... 127 PARA COMEÇAR... Pensando a minha vivência de 11 anos como docente da Universidade Estadual do Piauí, volto-me um pouco ao tempo em que eu era estudante desta Instituição de Ensino Superior e também me fazia uma pergunta que já ouvi inúmeras vezes nessa década de trabalho apaixonado: “Ora se nós vamos dar aulas de Português, de Gramática ou até de Literatura, para que é mesmo que nós temos tantas disciplinas dessa tal Linguística?” Na condição de aluna, aprendi a entender para que nos servia “a tal linguística”, ao ponto de querer seguir a carreira de linguista. Entretanto, confesso que na condição de professora, atualmente surpreendo-me com as discussões que estão ocorrendo no mundo inteiro acerca dos estudos da Linguística perpassados por outras ciências. Esses estudos, muitas vezes, vêm até mesmo descaracterizá-la enquanto ciência, bem como sobre os postulados saussurianos, a sua importância e as heranças deixadas pelo mestre genebrino. E é por essa coincidência cronológica que decidimos dar o título do livro, que não é original, mas inspirado no maravilhoso capítulo 3, do volume I, de Benveniste (1995), que explica em nota de rodapé que muitas das ideias constantes deste capítulo foram veiculadas numa conferência feita em Genebra para comemorar o cinquentenário da morte de Ferdinand de Saussure, em fevereiro de 1963. Exporemos algumas ideias que julgamos necessárias para o aluno, que muitas vezes ouve falar de um movimento somente através de resumos que não lhe dão a dimensão da profundidade dos estudos que foram empreendidos para que se construísse aquela teoria que ele está estudando (muitas vezes ficando somente no campo da história) sem compreensão, apenas para ser decorado para prova, sem uma visão mais crítica ou até mesmo mais humanista. Esta obra pretende mostrar algumas das afirmações presentes nessas discussões. Chamamos-lhe a atenção para a necessidade de uma leitura bem atenta , pois os estudos da Linguística nos cursos de Licenciatura Plena em Letras com habilitação em Português, Espanhol ou Inglês contemplam o estudo de uma ou mais linguísticas. Se teremos que fazê-lo, pois então que o façamos com o gosto de adquirir conhecimento para uma compreensão crítica, aprofundada, acurada. Convido-lhesa mergulhar nos estudos linguísticos a partir da seguinte proposta de trajetória. Veremos na Unidade 1, uma exposição mais humana, biográfica e esclarecedora acerca da vida de Saussure intitulada – Em homenagem ao capítulo 3, parte da obra, vol. I, de Benveniste (1995) - Saussure depois de quase um século: entre reflexões e lúcidos esclarecimentos, que versará em primeiro, sobre a exposição de algumas reflexões feitas por Benveniste (1995, vol I) a respeito dos postulados de Saussure, das injustiças cometidas contra o mestre genebrino e sobre as incompreensões, que este, como quase todos os gênios, sofreu durante sua época. Na unidade 2, trataremos sobre algumas reflexões acerca da ciência, bem como de alguns aspectos que contribuem para definir a cientificidade de algo, de definir, determinar o que é e o que não é ciência, para chegarmos ao tratamento da ciência linguística. E por fim, na unidade 3, será trazido, de forma mais substancial, um jeito mais simples e quiçá até mais adequado de entendimento do estudo das correntes linguísticas, em especial dos Estruturalismos Linguísticos, que é uma das disciplinas do Curso Licenciatura Plena em Letras – Português. OBJETIVOS • Esclarecer pontos relevantes da história de estudos históricos da linguagem na vida de Saussure para dar base teórica para os estudos das correntes linguísticas. • Aprofundar os fatos históricos que estiveram subjacentes à configuração da corrente de estudos linguísticos, denominada estruturalismo. UNIDADE 1 Saussure depois de quase um século: entre reflexões e lúcidos esclarecimentos 13 FUESPI/NEAD Letras Português Para começar Caro aluno, faremos uma pequena incursão na vida de Saussure, observando-o sob uma ótica mais humana, com o objetivo de compreendermos as aflições do homem que levou sob os seus ombros o peso da construção de uma ciência, bem como a sua preocupação com a organização metodológica de seus estudos, a intensidade em sua produção e alguns momentos em que seu silêncio conseguia também alcançar a expressividade de estudos a que se propusera. A principal função desta unidade é mostrar a existência do elaborador do Estruturalismo, numa perspectiva em que este nunca fora visto, que é a da dificuldade que ele teve em levar os estudiosos de sua época a entenderem que não estavam conduzindo de forma adequada os estudos da linguagem, a fim de que fique claro um pouco do momento histórico em que viveu o mestre genebrino. Observemos uma foto de Ferdinand de Saussure ainda jovem, para que, de certo modo pelo menos , nos aproximemos um pouco mais da imagem da pessoa, do gênio, que tanto lutou em defesa da linguística, buscando sua consideração como ciência e mais ainda, como ciência independente, autônoma. Ferdinand de Saussure http://simbolize.blogspot.com/2009_04_01_archive.html 14 Estruturalismos Linguísticos 1 Saussure depois de quase um século: entre reflexões e lúcidos esclarecimentos Os estudos da linguísticos sofrem, atualmente, algumas críticas. Alguns dizem que a Linguística já não mais se configura como ciência, outros discutem as ramificações da Linguística, que se originaram da própria Linguística, se dizendo ocupar também o status de ciência, acabaram, talvez ofuscando a ciência da qual se originaram. Como ocorre, por exemplo, com a Linguística Aplicada, a Pragmática e outras ciências profícuas e com muita produção e no âmbito da pesquisa científica para corroborar a sua cientificidade. Ou por outro lado, como ocorre com outras áreas que tiveram que redimensionar seus estudos para sustentar-se enquanto ciência, a exemplo do que ocorre com os estudos de Análise do Discurso, que atualmente apresenta em seu campo mais uma corrente de estudo linguístico denominada Análise do Discurso Crítica1- ADC. As críticas estão sempre presentes nos campos de estudos ou de produção científica e as entendemos como salutares ao processo de conferência da cientificidade, visto que, a crítica, as reflexões são um processo natural de aprimoramento de qualquer objeto de estudos. E quando se trata de um objeto tão dinâmico e tão passível de mudanças e variações advindas tanto do sujeito que a produz quanto das condições de produção das quais este sujeito dispõe e ainda, dos ambientes de sua ocorrência, produção – a Língua – objeto de estudo da Linguística, mais compreensível e necessário torna-se a crítica sempre, o repensar, o refletir do percurso percorrido por esta ciência, mas isto são cenas para os próximos capítulos. Por agora, deter-nos-emos, conforme prometido, na abordagem mais detalhada e humanista da vida paralela a de estudioso da linguistica - a vida pessoal de Ferdinand de Saussure em meio aos estudos linguísticos que tanto 1 Análise do Discurso Crítica hoje é uma corrente de estudo que se difere das análises de discurso ou do discurso que se fazia anteriormente. Para aprofundar- se sobre essa nova área de pesquisa ler Introdução: Análise de Discurso Crítica, de MAGALHÃES, Izabel, disponível em http://www.scielo.br/pdf/delta/v21nspe/ 29248.pdf. 15 FUESPI/NEAD Letras Português lhe afligiram quanto, com certeza, também lhe deram prazer, quando havia espaço para isso. Benveniste (1995, p. 34) tratando sobre uma conferência que estaria sendo realizada em Genebra, no dia 22 de fevereiro de 1963, para comemorar o cinquentenário de morte de Saussure, a convite da própria Universidade de Genebra, comparando a data de ocorrência da conferência (22.02.1963) à data de morte 22.02.1913, reportando-se ainda, à curiosidade de tal evento estar acontecendo na sua cidade e na sua universidade, traz-nos algumas de suas relevantes reflexões sobre o mestre genebrino: O autor ainda afirma que o modo como Saussure estava sendo visto naquela época era totalmente diferente da forma como o viam seus contemporâneos, advertindo que boa parte das contribuições do linguista só pôde mesmo ser contemplada após a sua morte. Benveniste (1995, p. 35) descreve o sofrimento do mestre genebrino de forma que talvez dê ao nosso aluno uma visão mais próxima da realidade da pessoa que, por trás da criação do genial método estruturalista e do estudo científico da Linguística, sofria as dores da incompreensão que todo gênio talvez tenha sentido em sua época: Essa figura assume agora os seus traços autênticos, aparece- nos na sua verdadeira grandeza. Não há um só linguista hoje que não lhe deva algo. Não há uma só teoria geral que não mencione o seu nome. Algum mistério envolve a sua vida humana, que cedo se retirou para o silêncio. É da obra que trataremos. A uma tal obra apenas convém o elogio que a explica na sua gênese e faz compreender o seu brilho. Há em todo criador uma certa exigência, escondida, permanente, que o sustenta e o devora, que lhe guia os pensamentos, lhe designa a sua tarefa, estimula-o nas suas fraquezas e não lhe dá trégua quando tenta escapar-lhe. Nem sempre é fácil reconhecê- la nas diversas operações, às vezes vacilantes, a que se entrega a reflexão de Saussure. Mas uma vez percebida, ilumina o sentido do seu esforço e o coloca frente a frente com os seus precursores, como em relação a nós. 16 Estruturalismos Linguísticos As citações destas impressões de Benveniste (1995) são de uma impressão quase fotográfica se é que podemos referir uma demonstração e análise tão pessoal e de caráter tão defensivo e subjetivo a algo que talvez registre um momento, mas que talvez jamais possa relembrar a emoção desse momento, como ocorre com uma fotografia. No entanto, Benveniste (1995) não mostra apenas o lado pessoal de Saussure, o seu sofrimento, as incompreensões a ele lançadas. O autor mostra o modo de fazer Linguística do Mestre Genebrino, a sua forma metódica e profunda, como defende Benveniste (1995, p. 35): Benveniste (1995, p. 35) resolve a segunda questão colocada na citação anterior sugerindo a sua redução a dois problemas que poderiamser postos no centro da doutrina saussureana: “1º Quais são os dados de base sobre os quais a Linguística se fundará, e como podemos atingi-los? 2º De que natureza são as noções da linguagem e por que tipo de relação se articulam?” E podemos qualificar como fantástica a sacada de Benveniste (1995), visto que este autor mesmo defende que foi com a sua obra Mémoire sur le système primitif des voyelles dans les langues indo-européennes, obra publicada por Saussure quando este tinha apenas vinte e um anos, que marcou a sua entrada na ciência, e nesta já eram trazidas as duas preocupações aqui expostas em forma de problemas. O linguista faz uma exposição um pouco longa sobre os estudos que Saussure fizera nesta obra na qual se propusera, Saussure é em primeiro lugar e sempre o homem dos fundamentos. Vai por instinto aos caracteres primordiais, que governaram a diversidade dos dados empíricos. Naquilo que pertence à língua, pressente certas propriedades que não se encontram em nenhum outro lugar a não ser aí. Com o que quer que a comparemos a língua aparece sempre como algo de diferente. Mas em que é diferente? Considerando essa atividade, a linguagem na qual tantos fatores estão associados, biológicos, físicos e psíquicos, individuais e sociais, históricos, estéticos, pragmáticos, ele se pergunta: a qual deles pertence a língua? 17 FUESPI/NEAD Letras Português conforme se comprova através da leitura de seu prefácio, que o seu objetivo era somente centrar-se no estudo das múltiplas formas do a indo-europeu , o que não ocorreu porque este se viu impelido a investigar o sistema das vogais no seu conjunto, o que o levou a tratar de vários problemas de fonética e de morfologia e ainda de questões que talvez até 1963 nem tivessem sido tocadas ainda, como afirma Benveniste (1995), que conclui que suas impressões sobre o Mémoire e sobre o trabalho de Saussure afirmando que ele sempre estava, em seus estudos dos dados elementares, muitas vezes desviando-se pouco a pouco da ciência do seu tempo, na qual somente vê arbitrariedade e incerteza quando, por outro lado, a linguística indo-europeia tinha como única preocupação continuar crescendo no método comparativo. Vejamos uma imagem da obra, para nos aproximar um pouco mais de 1873, à época de sua publicação, cronologicamente tão distante de nós. Capa de Mémoire sur le système primitif des voyelles dans les langues indo-européennes http://openlibrary.org/works/ OL2139803WMémoire_sur_le_système_primitif_des_voyelles _dans_les_langues_indo-européennes 2 Sobre o indo-europeu ler o artigo Contribuição do método comparativo para a determinação da existência do indo-europeu, de João Bittencourt de Oliveira. Disponível em: http://www.filologia.org.br/revista/artigo/3(9)41-52.html. 18 Estruturalismos Linguísticos E mais uma vez, Benveniste (1995, p. 38) desvenda o mistério que Saussure descobrira no que concerne aos estudos dos a, do indo-europeu. O autor ressalta que foram necessários mais vinte e cinco anos para que esse estudo se impusesse novamente. E declara que, em 1927, M. Kuylowicz encontrou na linguística histórica, o hitita, unidade decifrada a partir do som escrito h – que cinquenta anos antes fora definido por Saussure como um coeficiente sonântico, hoje é definida como fonema não único, que representa uma classe inteira de fonemas, desigualmente representado nas línguas históricas – os laríngeos. O que Benveniste (1950) destaca de forma mais veemente é que ano após ano as interpretações acerca desse fonema aumentaram e que esse problema está no centro da teoria do indo-europeu, apaixonando os diacronistas e os descritivistas. O autor fecha a sua linha de raciocínio responsável pela defesa da genialidade de Saussure com o seguinte texto: “Até mesmo os linguistas de hoje que não leram o Mémoire lhe são devedores” (BENVENISTE, 1995, p.39). Embora Saussure mais tarde seja convidado para a École de Hautes Études, na qual encontra discípulos fiéis tais como Bréal, que lhe dá, na instituição o cargo de Secretário Adjunto, e nessa fase boa de sua vida, o mestre tenha publicado artigos fundamentais sobre a entonação báltica, que mostraram a profundidade de sua análise; após essa profícua fase, vem a sua volta para Genebra e com ela a diminuição de sua produção, chegando ao seu silenciar por completo. Saussure havia percebido que o sistema vocálico do indo-europeu continha várias aa. À luz do conhecimento puro, os diferentes aa do indo-europeu são objetos tão importantes quanto as partículas fundamentais em física nuclear [.aa.] é coeficiente sonântico, isto é, é susceptível de desempenhar o mesmo papel duplo, vocálico e consonântico, das nasais ou líquidas, e se combina com vogais[..aa.] Saussure fala dele como de um fonema e não como de um som ou de uma articulação [aa] ele chamará mais tarde de uma entidade distintiva e opositiva. 19 FUESPI/NEAD Letras Português Benveniste (1995) explica tal silenciamento do mestre em função do drama que Saussure experimentava verificando que a linguagem e seu estudo deveria ser contemplado nos estudos linguísticos, embora os linguistas da época não percebessem essa necessidade que angustiava Saussure. A época privilegiava os estudos lógicos, a investigação histórica no emprego dos materiais de comparação e na elaboração de repertórios etimológicos. A solidão de Saussure centrava-se em suas preocupações não estarem no foco de atenção de outros linguistas da época. E ele próprio definia o que queria realmente fazer que era conforme Benveniste (1995, p. 43): O linguista chama a atenção de forma enfática para a preocupação central de Saussure em considerar que a substância de determinado objeto estava no ponto de vista sobre o qual o observamos, o investigamos. Além disso, uma preocupação que também o afligia, nessa perspectiva, é que o estudo da língua não era para estar sendo feito como se a língua fosse um organismo vivo, como uma coisa ou matéria ou ainda como criação livre e incessante da imaginação humana. Talvez aí se anunciasse as ideias que nunca foram publicada sobre a discordância da forma como a linguística foi estudada. E quanto ao Cours, a novidade no que concerne aos estudos atuais é que Saussure mesmo definiu a tarefa do linguista como está em definir o que torna a linguística um conjunto especial no conjunto dos fatos semiológicos. “...Para nós o problema linguístico é antes de tudo semiológico” (SAUSSURE, 1916, p.34-35). Como últimas palavras de Benveniste (1995, p. 48) gostaríamos de trazer, a título de esclarecimento avaliativo não só do estudioso atordoado [...]Mostrar ao linguista o que ele faz. Queria fazer compreender o erro em que se envolveu a linguística desde que estuda a linguagem como uma coisa, como um organismo vivo ou como matéria que se analisa por uma técnica instrumental, ou ainda como uma criação livre e incessante da imaginação humana. É preciso voltar aos fundamentos, descobrir esse objeto que é a linguagem, a que nada pode ser comparado. 20 Estruturalismos Linguísticos pela lealdade a seus princípios, à ciência à qual representava, mas também ao movimento pelo qual Saussure trabalhava: O que se percebe de tudo o que fora exposto sobre a vida e a obra do mestre genebrino, isso desde o começo até o fim de suas publicações é que tanto os fundamentos da Linguística como a própria linguística renovada tem suas origens em Saussure. Isso é inegável e os próprios estudiosos da contemporaneidade, reconhecem isso, inclusive percebendo que muito do que, nos estudos realizados por Saussure, pode ter sido chamado limitação, na realidade se configurava, à época como ainda hoje como delimitação. Algo mesmo, como o fato de ter se negado a estudar a fala. Ele estaria apenas delimitando seu campo e seu objeto de estudo, até mesmo porque na época não dispunha de recursos materiais para fazê-lo. E já nesse momento ele aentende como discurso, por isso a sua preocupação em mostrar aos linguistas que continuaram seu estudo em se voltarem para o estudo da linguagem. Ele, no desenvolver de seu trabalho, havia percebido isso. E talvez, por isso mesmo esta questão lhe tenha afligido tanto. Passaremos a seguir, a observar alguns dos postulados recentes sobre linguística geral, que também tem suas relações com Saussure, mas desta vez não para mostrá-lo de forma tão defensiva, visto que serão tecidas críticas não à pessoa de Saussure, mas sobre os estudos de linguagem, sobre a forma como foram desenvolvidos e de quem foram, de fato, muitas das contribuições atribuídas erroneamente a Saussure. Pode-se pensar durante muito tempo sobre esse contraste: a vida temporal de Saussure comparada com o destino das suas ideias. Um homem sozinho dentro do seu pensamento durante quase toda a vida, não podendo consentir em ensinar aquilo que julga falso ou ilusório, sentindo que é preciso refundir tudo, cada vez menos tentado a fazê-lo e, finalmente, após muitos desvios que não podem arrancá-lo ao tormento da sua verdade pessoal, comunicando a alguns ouvintes, sobre a natureza da linguagem, ideias que não lhe pareciam jamais suficientemente amadurecidas para serem publicadas. 21 FUESPI/NEAD Letras Português 2 Pressupostos recentes sobre a Linguística Geral Se nos basearmos em Lyons (1981) para observarmos os mais recentes pressupostos acerca da Linguística Geral, veremos que o autor parte para definição de lingua(gem), concepção problematizada, conforme descrito abaixo: O autor ressalta que se a pergunta é feita de forma a colocar o artigo antecedendo a palavra linguagem, deixando esta no singular, as interpretações acerca desse fenômeno modificam-se. Principalmente se tomarmos tal termo como sinônimo de idioma, posicionamento ao qual o autor distingue e esmiúça desde a observação deste termo com base em diferentes idiomas até o ponto em que lingua(gem) também pode referir-se a “língua(gem) natural” a quaisquer outros sistemas de notação, cálculo, sobre o qual, segundo o autor se possa discutir. E a partir de algumas ponderações o autor fecha a questão de forma muito habilidosa, revelando inclusive a matéria de estudo da linguística Geral: Lyons (1981) defende que em geral, o linguista lida com as línguas naturais, mas ressalta que se deve atentar para o que de fato, é a linguagem um questionamento que nos trará a pressuposição de que cada uma das milhares de línguas naturais reconhecidamente distintas, faladas em todo o mundo, representam um caso específico de algo mais geral. Em seu entendimento, o que o linguista quer saber é se as línguas naturais, todas, possuem em comum algo que não pertença a outros sistemas de comunicação, humano ou não humano, de tal forma que seja correto aplicar a cada uma destas a palavra “língua”, negando-se a aplicação deste termo a outros sistemas de comunicação – exceto na medida em que, assim como o esperanto, eles sejam baseados em línguas naturais preexistentes. A Linguística é o estudo científico da língua(gem). À primeira vista, esta definição - que se encontra na maior parte dos livros e tratamentos gerais do assunto – é suficientemente direta. Porém qual o significado exato da “língua(gem)” e de científico? Poderá a linguística, tal como é praticada atualmente, ser corretamente descrita como uma ciência? (LYONS, 1981, p. 15) 22 Estruturalismos Linguísticos Lyons (1981) constrói sua exposição trazendo algumas definições de linguagem para dar algumas indicações preliminares sobre as propriedades que ao menos linguistas tendem a considerar essenciais à língua(gem). Ele apresenta a visão de Sapir revelando que esta apresenta defeitos, refutando alguns termos usados por este último quando Sapir (1929, p.8) defende que “a linguagem é método puramente humano e não instintivo de se comunicarem ideias, emoções e desejos por meio de símbolos voluntariamente produzidos”. Lyons critica a vagueza que representam os termos ideia, emoção e desejo, bem como ressalta que a expressão símbolos voluntariamente produzidos é vaga demais e pode referir-se a inúmeros tipos de símbolos. Ele até apresenta outras noções, concepções acerca da linguagem, mas antes de tudo, faz de forma muito oportuna as seguintes asserções: Outra definição trabalhada por Lyons (1981) baseia-se em Outline of Linguistic Analysis, de Bloch e Trager (1942, p. 5): “Uma língua é um sistema de símbolos vocais arbitrários por meio dos quais um grupo social co-opera”. A esta, o linguista critica pela ausência da referência à função comunicativa da linguagem, pela ênfase colocada na função social, além de apresentar uma visão bastante restrita do papel da língua(gem) na sociedade; e ainda, comparando-a com a definição de Sapir defende que aquela difere desta na medida em que salienta a arbitrariedade e explicitamente restringe a linguagem à língua falada. Esta observação consecute num importante posicionamento de Lyons (1987, p. 18): Por exemplo, matemáticos, lógicos e engenheiros de sistemas frequentemente elaboram, por motivos específicos, sistemas de notação que, legitimamente ou ilegitimamente, chamados de linguagens, são artificiais, e não naturais. É o que acontece, embora seja baseado em línguas naturais preexistentes e seja inequivocamente uma língua, ao esperanto, inventado no final do século XIX, para servir à comunicação internacional....O linguista a princípio lida com linguas naturais (LYONS, 1987, p. 16 -17). 23 FUESPI/NEAD Letras Português Considera-se esta uma pista da opinião aferida pelo linguista no momento de colher as concepções de Língua. Lyons (1987, p. 87) apresenta ainda, a definição de lingua(gem) conforme Hall (1968, p. 158), em seu Essay on language,: “a instituição pela qual os humanos se comunicam e interagem uns com os outros por meio de símbolos arbitrários orais-auditivos habitualmente utilizados”. E suas críticas a esta definição são destinadas em primeiro aos pontos que o linguista considera importante destacar que são a introdução dos fatores de comunicação e interação (esta sendo entendida como mais ampla) e a este respeito ser um termo mais adequado do que co-operação, e em segundo, o fato de que o termo “oral-auditivo” pode ser tomado, grosso modo, como equivalente a “vocal”. Sua visão comparativa entre as definições anteriores é bem lúcida: Dentre as suas considerações sobre a definição de língua(gem) cunhada por Hall (1968) o linguista ainda defende que o emprego do termo “habitualmente utilizados” explicita-se como herança do behaviorismo que influenciou a Linguística e a Psicologia, que o termo “símbolos” linguísticos aparentemente refere-se a sinais vocais transmitidos do emissor para o receptor no processo de comunicação e interação. E se põe de forma totalmente contrária à afirmação de que um enunciado linguístico seja um hábito, ao que o autor refuta veementemente com a seguinte afirmação: “a linguagem é independente de estímulo”. (LYONS, 1987, p. 18) (grifo do autor) No entanto, dado que a língua é logicamente independente da fala, há boas razões para se dizer que, nas línguas naturais tais como as conhecemos, a fala é historicamente, e talvez biologicamente, anterior à escrita. E esta é a posição da maior parte dos linguistas. Hall, como Sapir, trata a linguagem como instituição puramente humana; e o termo “instituição” explicita a visão de que a língua que é usada por uma determinada sociedade é determinada é parte da cultura daquela sociedade. (LYONS, 1987, p. 18) 24 Estruturalismos Linguísticos Outras concepções que são trazidas à baila, tais como as de Robins (1979a, p. 9- apud Lyons, 1987, p.19) que não define a linguagem, mas que salienta alguns fatos que devem ser estudados em qualquer teoria da linguagem; e a de Chomsky (1957, p.13, apud Lyons, 1987, p. 20): “Doravante considerarei uma língua(gem) como um conjunto(finito ou infinito) de sentenças, cada uma finita em comprimento e constituída a partir de elementos”. A respeito desta última definição Lyons (1981) assume tê-la trazido apenas pelo contraste que estabelece com as outras, tanto no estilo quanto no que se refere ao conteúdo e defende que embora esta não se reporte à função comunicativa das línguas, naturais ou não, nem mencione nada sobre a natureza simbólica dos elementos ou de suas sequências; tem como maior contribuição o fato de ter atribuído ênfase especial ao que chama de dependência estrutural dos processos pelos quais se constroem as sentenças nas línguas naturais e ter formulado uma teoria geral da gramática. O linguista finaliza suas análises acerca das definições de linguagem demonstrando que a demonstração das definições cumpre sua função de explicitar algumas das propriedades que alguns linguistas consideraram essenciais das línguas tais como as conhecemos. Como podemos perceber nesta exígua exposição, a definição de língua(gem) é um dos pontos relevantes a ser tratados dentre os pressupostos mais antigos da Linguística. Em se tratando da Linguística Moderna, Coseriu (1980, p.1) importante Saussuriano, traz algumas reflexões bastante significativas acerca da trajetória dos estudos linguísticos, o que o autor italiano justifica, como se pode corroborar em suas próprias palavras: Para oferecer uma ideia panorâmica da Linguística moderna torna- se necessário, antes de tudo, colocá-la no seu contexto histórico, tanto mediato quanto imediato, e após ter procurado quais os motivos e intuições do passado que servem de base a teorias e orientações atuais, apresentar destas uma síntese orgânica, que permita formular uma série de propostas satisfatórias a respeito do problema fundamental: “Que se entende hoje, por linguagem?” 25 FUESPI/NEAD Letras Português O linguista saussuriano chama-nos a atenção para duas questões importantes no estudo do que se chama de Linguística Moderna. A primeira questão refere-se ao fato de que a suposta sensação de novidade desses estudos é apenas aparente, e a segunda, diz respeito à impossibilidade de se poder perceber em uma linha divisória clara entre os estudos da Linguística Tradicional e os da Linguística Moderna. Esclarecendo essas questões Coseriu (1980) defende que a procura dessa trajetória feita de modo cronológico não será encontrada nem mesmo nos manuais introdutórios da disciplina. Em se tratando da Linguística Moderna, o linguista italiano alerta: Se analisarmos esse excerto de Coseriu (1980) perceberemos em suas palavras uma espécie de crítica com relação à linguística, mas essa é apenas a primeira impressão, porque o que esse brilhante defensor da linguística faz é uma reflexão muito lúcida sobre os aspectos que devem ser considerados para se considerar qualquer ciência que seja com uma roupagem ou uma abordagem moderna. Ele ressalta que modernos são os tempos nos quais esta ciência linguística ainda se instaura, mas o mesmo não se pode dizer das questões e objetos de pesquisa e preocupação desta ciência. Um posicionamento muito lúcido, sério e científico é aqui demonstrado por este magnífico autor. Para oferecer uma ideia panorâmica da Linguística moderna torna- se necessário, antes de tudo, colocá-la no seu contexto histórico, tanto mediato quanto imediato, e após ter procurado quais os motivos e intuições do passado que servem de base a teorias e orientações atuais, apresentar destas uma síntese orgânica, que permita formular uma série de propostas satisfatórias a respeito do problema fundamental: “Que se entende hoje, por linguagem?” Primeiramente foi assinalado o caráter de aparente novidade, próprio da Linguística moderna. Ora é oportuno distinguir entre novidade efetiva e desenvolvimento com roupagem moderna, de temas já conhecidos. Isto posto, não há dúvidas de que a Linguística moderna encara, de um lado, problemas sobre a natureza e a estrutura da linguagem que a Linguística tradicional havia 26 Estruturalismos Linguísticos A segurança com que formula a crítica e a embasa de forma histórica e científica rebate qualquer contraposição às ideias de Coseriu. Do autor não se percebem simples posicionamentos, mas posicionamentos científicos embasados em conhecimento e análise da realidade das passagens da ciência linguística. Cosériu (1980, p. 2) organiza uma espécie de esquema cronológico, constante das alíneas a) a e), que explicita a sucessão dos interesses linguísticos através dos tempos conforme será descrito no quadro a seguir, que montamos, tomando-lhe como base, para tentar didatizar um pouco mais a teorização aqui exposta: desprezado; por outro lado, ela não se ocupa absolutamente com indagações históricas; ou então, procura justificar a história (desenvolvimento) partindo da descrição (estrutura). Entretanto, é evidente, antes de tudo, que, dado o caráter abstrato e quase filosófico dessas preocupações, a Linguística atual deve reelaborar e desenvolver a seu modo tais temas e problemas que, constituindo-se em interesses culturais particulares, caducaram e não forma considerados como objetos de ciência, principalmente na segunda metade do século XIX (COSERIU, 1980, p 2). Alíneas Época/Movimento Estudos linguísticos realizados Predominância de problemas de definição. Ex.: essência da linguagem e as categorias das línguas.Problemas de descrição.Síntese: Teorização sobre a Linguagem e descrição da Língua. Predominância da Linguística Histórico- comparativa.Ex.: comparação de línguas diversas, comparação de frases históricas de uma mesma língua – indagação sobre a transformação do latim em italiano, francês e espanhol. Retomada de problemas antigos - Teoria e Descrição.Ex.: Gramática Geral e Descrição das Línguas Modernas Da Antiguidade Clássica ao Renascimento Renascimento Século XVII a) b) c) 27 FUESPI/NEAD Letras Português O linguista italiano defende uma posição que consiste em uma espécie de divisão de acordo com o ponto de referência dos estudos linguísticos, em se tratando da Linguística Moderna que ele denomina de teórica, descritiva e sincrônica se pensarmos numa determinada fase de uma língua e da não- diacronia no que concerne ao estudo da língua através do tempo. Desse modo, o autor chama a atenção, em especial, para a Linguística imediatamente precedente, que pode ser considerada como uma espécie de hiato no desenvolvimento dos problemas linguísticos, que desde quando estes foram estudados no mundo ocidental, época que ele define, cronologicamente, como Antiguidade – fora omitida em nossa cultura ocidental, isto é, a Gramática do hindus antigos, em especial a de Pãnini, talvez isso tenha ocorrido em função de sua insignificante repercussão. Cosériu (1980) defende mais um de seus bem fundamentados posicionamentos quando ressalta que o Historicismo e a Linguística histórica prevaleceram no Renascimento e no século XIX do mesmo modo que a Linguística Moderna é representada por estudos de natureza teórica e descritiva, com estudos de questões não absolutamente novas, mas de retorno as suas tradições mais antigas. Isso de fato, tem ocorrido não somente na Retorno à problemática do Renascimento com interesse voltado especialmente para a Comparação e História. Este século não marcou o início da Linguística Moderna, como alguns pensam. Tal pensamento só se justifica pelo posicionamento preconceituoso de que à época nasceu um método histórico-crítico. Domínio de questões tais como diversidade de teorias e orientações; o problema da descrição e da aplicação. Proposta de questões práticas no âmbito da Linguística Histórica. Século XIX Linguística atual d) e) 28 Estruturalismos Linguísticos Linguística, mas em ciências outras, quiçá, como forma de aperfeiçoamento dos estudos, conferindo-lhes mais cientificidade. Em se tratandodo estudo dos fatos linguísticos, Cosériu (1980, p. 4) nos traz informações bastante novas no que diz respeito à autoria atribuída a alguns fenômenos estudados, o que em alguns momentos pode parecer com uma forma de criticar Saussure, mas vale ressaltar que este autor é um estruturalista saussuriano e que a sua busca é mesmo por comprovar a sua tese já enunciada aqui à qual retomaremos mais tarde. Outra novidade trazida pelo linguista italiano refere-se à distinção que segundo ao autor nos parece recentíssima, que é a que se estabelece entre linguagem – que tem por objeto realidades extralinguísticas e a que tem por objeto a própria linguagem ou “metalinguagem”. A esse respeito Cosériu (1980, p.5) esclarece: “Também esta distinção entre uso primário das palavras e uso “reflexivo” (aplicado às próprias palavras) não é nova, pois aparece, já em forma explícita no De Magistro de Santo Agostinho...” O autor esclarece ainda, que esta distinção ainda aparecerá outras vezes, na história das reflexões sobre linguagem, como por exemplo, na Lógica Medieval, distinguindo-se concepções como hipótese formal ou funcional de hipótese material. A preocupação do autor neste esclarecimento tanto se direciona à atribuição da autoria quanto à cronologia atribuída, de forma equivocada, às ideias supracitadas. Em nosso entendimento, o autor italiano quer e consegue fundamentar seu posicionamento a respeito dos fatos linguísticos estudados pela Linguística Moderna: “Trata-se ainda de um retorno a questões já existentes; isto nos A distinção entre “significante” e “significado” (isto é, a parte material do signo linguístico) e “significado” (ou seja, o conteúdo mental do próprio signo linguístico) é atribuída, a maior parte das vezes, a Ferdinand de Saussure, que todavia definia o “significante” como “imagem acústica”, de natureza psíquica e não física. Mas tal distinção é muito antiga: ela já aparece, com outras palavras, no De Interpretacione, de Aristóteles... Só se explica que esta distinção seja atribuída a Saussure porque se interrompeu alinha teórica no decorrer dos séculos (COSÉRIU, 1980, p. 4). 29 FUESPI/NEAD Letras Português deveria convencer de que muitos motivos e problemas da linguística atual3 não são “novos” mas, retomados e redescobertos no curso da história voltam hoje a ser postos à luz” (COSERIU, 1980, p. 5). Outra vez o autor se posiciona, só que desta, ele se refere tanto aos fatos linguísticos estudados quanto à atribuição da autoria de seus estudos a Saussure. O fato linguístico ao qual o linguista se refere, de forma bastante esclarecedora no que concerne aos estudos linguísticos da distinção entre sincronia que fora atribuída a Saussure e na realidade, já havia sido tratado, em 1751, na obra de J. Harris, Hermes or a Philosophical Inquiry Concerning Language and Universal Grammar (Hermes ou a Pesquisa Filosófica sobre a Linguagem e a Gramática Universal, publicada em Londres. Como se percebe todas as críticas do linguista italiano são fundamentadas e comprovações não lhe faltam para fazê-lo. No que concerne à atribuição do estudo dos fatos linguísticos a Saussure, Coseriu (1980, p. 5), como que para corroborar a afirmação anterior destaca com riqueza de detalhes: E mais detalhes acerca dos fatos linguísticos e da atribuição de seus estudos, Coseriu (1980, p. 5) estabelece uma comparação contundente entre Saussure e Gabelentz: 3 Estamos usando em nosso texto o termo Linguística Moderna e não linguística atual como está na obra citada, por acreditarmos que esta terminologia possa ser resultante da tradução e considerarmos a terminologia que estamos usando mais adequada aos estudos em voga, no momento. Esta distinção aflora também no século XIX, num autor muito interessante a que Saussure deve muitíssimo: Georg Von der Gabelentz, autor da densa obra Die Sprachwiissenschaft, The Augfabe, Methoden und bisherigen Ergebnisse (A Linguística, seus objetivos, métodos e recentes resultados), editada em 1891 e, após a morte do autor, ocorrida em 1893, reeditada em 1901, com reelaboração de A. von der Schulenberg, sobre a qual se reproduz a edição de 1969. Gabelentz distingue explicitamente entre fatos simultâneos (gleichzeitig “contemporâneos, sincrônicos”) e fatos que se sucedem um depois do utro, sucessivos (aufeinanderfolgerd 30 Estruturalismos Linguísticos Gabelentz distingue explicitamente entre fatos simultâneos (gleichzeitig “contemporâneos, sincrônicos”) e fatos que se sucedem um depois do utro, sucessivos (aufeinanderfolgerd “sucessivos, diacrônicos”, e Saussure, na obra Cours de Linguistique Génerale (Curso de Linguística Geral), publicação póstuma de 1916 retoma estas definições e as traduz por faits synchroniques e terms successifs. E depois de Gabelentz, Dittrich, em uma obra de 1904 sobre a psicologia da linguagem, faz distinção entre as duas formas de Linguística, que chama respectivamente sinchronistich e metachronistich. O autor traz na citação anterior duas notas de rodapé, a de número 3, no ano de publicação da obra saurriana, 1916, a que sugere a leitura da tradução italiana de sua obra aqui citada, na qual há amplo comentário de Tulio de Mauro; e a nota de número 4, que traz o título da obra de Dittrich, Gründzug der Sprachpsychologie [Fundamentos de psicologia da linguagem], bem como o objetivo da obra que consistia segundo o linguista italiano em entender a língua tal qual um produto humano ... no seu condicionamento através da organização psicofísica e da atividade da coletividade linguística. Outro esclarecimento no que concerne à atribuição do estudo de fatos linguísticos, Coseriu (1980) faz referência a uma distinção que segundo ele vem desde a Antiguidade e está sendo tratada na Modernidade, às vezes, até com a mesma roupagem. O linguista dessa vez se reporta às noções de língua tomada como saber, como técnica de falar, que é tomada como realização da técnica linguística concreta, bem como a atribuição dos estudos, concepções estas que são tratadas, respectivamente, nas terminologias Saussuriana, como (langue e parole) e Chomskyana, como (competência e desempenho). “sucessivos, diacrônicos”, e Saussure, na obra Cours de Linguistique Génerale (Curso de Linguística Geral), publicação póstuma de 1916 retoma estas definições e as traduz por faits synchroniques e terms successifs. E depois de Gabelentz, Dittrich, em uma obra de 1904 sobre a psicologia da linguagem, faz distinção entre as duas formas de Linguística, que chama respectivamente sinchronistich e metachronistich. 31 FUESPI/NEAD Letras Português E mais fenômenos cuja atribuição de estudos era conferida a Saussure tiveram sua atribuição conferida a Gabelentz por parte de Coseriu (1980, p.6): Na citação o autor se refere ao estudo da língua, que já havia sido enunciado anteriormente, quando compara os estudos realizados por Saussure e por Chomsky. Entretanto, agora a distinção que ele apresentará será uma comparação entre os estudos desse fenômeno referido na citação anterior por parte de Saussure e Gabelentz, autor já mencionado anteriormente pelo linguista italiano: Gabelentz distingue na “linguagem” (Sprach) o falar (Rede), a “língua” (Einzels prach) e a “faculdade da linguagem” (Sprachvermögem); no curso de Linguística Geral, de Saussure, acham-se através de conceitos praticamente análogos a estes, os termos parole, langue e faculte de langage (COSERIU, 1980, p. 6). Ainda a esse respeito, o linguista italiano defende que Gabelentz entende a distinção apresentada na citação anterior como uma espécie de fundamento de outra, ou seja, a de que as disciplinas linguísticas deveriam ser subdividas em linguística descritiva – que deveria explicar o falar e por Na realidade, esta distinção, também atribuída correntemente a Saussure, está implícita em toda a gramática desde que existe uma disciplina gramatical, porque nenhuma gramática jamaisdescreveu o falar, o desempenho, mas sempre pretendeu descrever a língua, o saber lingüístico, a langue, a competência. Isto, naturalmente, de modo implícito. Depois, de modo explícito, a distinção aparece na Enciclopédia das ciências filosóficas de Hegel, parágrafo 459, dedicado à linguagem. A fórmula de Hegel é muitíssimo simples: “Die Rede und ihr System, die Sprach”, ‘o falar e seu sistema, a língua’. O cursivo é do próprio Hegel e parece indicar um uso técnico para esses termos, ainda correntes com o mesmo valor na língua alemã. Entretanto, na obra de Gabelentz... essa distinção não é apenas formulada, mas também discutida e tomada como fundamento de uma distinção correspondente entre disciplinas Linguísticas, descritivas e históricas. 32 Estruturalismos Linguísticos isso, descreveria o sistema que o regulasse; linguística histórico- comparativa – que deveria procurar explicar historicamente a língua e; linguística geral – que teria como objeto de estudo a linguagem em geral. Coseriu (1980) faz mais uma negação dos estudos realizados por Saussure dessa vez, referindo-se à teoria da arbitrariedade do signo linguístico, que por sua vez, é atribuída pelo linguista a Aristóteles e também a Boécio e ainda, à tradição da filosofia escolástica. O linguista italiano ainda lembra que o termo também fora cunhado na antiguidade, por Aulo Gélio, na Idade Medieval, por Júlio César Escalígero, bem como retomado por muitos autores como Hobbes, em 1658 e por Schotel, em 1663. O autor é exaustivo no que diz respeito à comprovação de sua tese de que a Linguística Moderna pouco tem de modernidade, mas apenas retoma objetos, fatos linguísticos para estudos em novas abordagens. A tese da teoria das pessoas gramaticais também, conforme o autor, mesmo sendo tratada na linguística moderna já se encontra numa obra de Harris, de 1751, na qual o autor defende, inclusive, encampando a tese de Apolônio Díscolo, que somente existem a primeira e a segunda pessoa, porque a terceira é a não pessoa. Em face da exaustiva postura de negação de atribuição, de nova atribuição de estudo de fenômenos linguísticos o linguista italiano comprova o que, intuitivamente tínhamos afirmado sobre seu posicionamento teórico. Sua tese era mesmo demonstrar que a linguística moderna não estuda fenômenos novos, apenas, mas também estuda os fenômenos antigos, com nova roupagem talvez, até mesmo, como forma de continuidade. E quanto aos estudos linguísticos na linguística moderna Coseriu (1980, p. 7 - 8) esclarece: Tudo o que dissemos não pretende diminuir os méritos da linguística moderna, mas mostrar que ela não está fora da tradição, como se ouve dizer seguidamente, e que ao contrário, retoma posições teóricas sobre a linguagem existentes desde a antigüidade: o abismo e a ruptura, portanto, dizem respeito apenas 33 FUESPI/NEAD Letras Português à Linguística imediatamente precedente, e em particular, à Linguística dos últimos decênios do século XIX. Se porém, em certo sentido, a Linguística moderna é antiga no que concerne aos temas e é, por isso mesmo, tradicional, isto não significa que o seja também em seu desenvolvimento. O que o linguista faz questão de enfatizar é que a linguistica moderna estuda os fatos antigos, mas isso não lhe tira o mérito científico, visto que o fenômeno não tem seu estudo repetido, mas sim aprofundado, observado sob outros ângulos, ou novas abordagens. E, além disso, embora a linguistica moderna tenha como objetivo a teoria e a descrição, ela não prescinde de estudos e investigações históricas, que, muitas vezes, fazem-se essenciais para a própria descrição. O linguista ainda esclarece um pouco mais a construção de seu discurso exaustivo, mas bastante esclarecedor quando afirma que os temas teóricos e descritivos da linguística moderna recuam à Idade Média, e ao século XVIII, em especial, assim como os históricos e comparativos podem ser atribuídos a linguística do Renascimento e do século XIX. Isso pode ser afirmado tomando o contexto histórico geral da linguística moderna, porque no que concerne ao contexto imediato, esta constitui uma reação à linguística imediatamente precedente, que representa o Positivismo, com o qual entraremos em contato a seguir na ótica de Coseriu (1980). 3 A ideologia positivista na Linguística O que se percebe numa observação mais acurada é que a Linguistica Moderna volta a sua atenção para estudos anteriores (históricos), mas essa volta se direciona apenas àqueles estudos que não foram realizados ou para os que mesmo tendo sido realizados, deixaram sem resolução alguma questão ou então porque se percebe uma falta de continuidade no que concerne ao aspecto cronológico, se observarmos desde a Linguística na Antiguidade até agora, ao momento em que temos a Linguistica Moderna. 34 Estruturalismos Linguísticos Coseriu (1980, p. 10) cita como exemplo desta situação a diferença entre sincronia e diacronia que ele defende que “aparece em François Thurot, no final do século XVIII, depois no prefácio da Gramática espanhola de Andrés Belo e também no prefácio à gramática alemã de K. Heyse”. O autor defende por meio deste exemplo que alguns linguistas não se preocupam com uma visão histórica de sua disciplina, tão pouco, com laços históricos que estão na tradição no que concerne aos seus estudos. Em se tratando da Linguistica Moderna o linguista italiano nos traz mais considerações que nos serão úteis: A Linguística como ciência com um método próprio de indagação surgiu nos primeiros anos de 1800 como Linguística comparada e histórica, sem obviamente nenhuma ideologia positivista, que ainda não existia como tal, emprestada de ima ideologia romântica que apenas em parte é conservada e continuada pelo Positivismo. A Linguística comparada e histórica se afirma sobretudo como Linguística indo-européia, gramática comparada da línguas indo- européias, e principalmente, das línguas clássicas, românicas e germânicas (COSÉRIU, 1980, p.12). O autor nos mostra, de certo modo, uma visão sobre o início dos estudos linguísticos e a natureza destes estudos. Ele ainda ressalta que por volta de 1870 por meio da influência do grande linguista alemão, August Schleicher, surgiu a escola dos neogramáticos, que teve como primeiros representantes Karl Brugmann, Berthold Delbrück, Herman Osthoff e August Leskien. Em se tratando de método e de ideologia, o francês Antonio Meillet, foi um estudioso neogramático, assim como o fora também Saussure, no início de sua carreira, tendo estudado em Leipzig, um centro de linguística dos neogramáticos. Coseriu (1980) para justificar os reflexos da ideologia neogramática em várias ciências dentre estas a Linguística, defendeu que se tratava apenas de um reflexo que dominou não apenas as várias formas da cultura, mas as diversas disciplinas humanísticas. 35 FUESPI/NEAD Letras Português A respeito da ideologia positivista o linguista italiano esclareceu: ...Ideologia não significa necessariamente filosofia positivista, até porque esta última, muito longe de ser unitária, é formada de várias concepções filosóficas. Entendo por ideologia o modo pelo qual uma filosofia forma e determina uma disciplina particular, como por exemplo, a psicologia, a ciência da literatura, a história literária ou a linguística. Ora, o positivismo, enquanto ideologia e metodologia das ciências se caracteriza por quatro princípios: a) princípio do indivíduo, do fato individual; b) princípio da substância; c) princípio do evolucionismo; princípio do naturalismo. (COSERIU, 1980, p. 13) O linguista ressalta que a importância dos princípios supramencionados está no fato de que a linguistica moderna opõe a cada um deles um princípio exatamente contrário. Mas o que nos chama a atenção em relação a esses princípios é o significado que cada um deles tem na leitura de Coseriu (1980, p. 12-13). No que concerne ao princípiodo indivíduo, considera-se que a atenção do cientista se concentra no fato singular e que a universalidade do fato é considerada como o resultado de uma operação de generalização e de abstração. Com relação ao princípio da substância, tem-se que os fatos singulares são considerados por aquilo que são enquanto substância e elementos materiais e não pelo que estes são do ponto de vista de sua função. Já de acordo com o principio do evolucionismo, os fatos singulares são considerados duas vezes; uma, em que são considerados em si próprios e outra, em sua evolução. E por último, em se tratando do princípio do naturalismo, os fatos são reduzidos à classe dos fatos naturais. Desse modo, considera-se que os fatos estão sujeitos às leis da causalidade e da necessidade, como na natureza. O que se pode afirmar, de acordo com o estudo destes princípios é que uma ciência somente chegará à maturidade na medida em que é capaz de prever o desenvolvimento a que estes fatos chegaram. 36 Estruturalismos Linguísticos Esses mesmos fatos no tocante aos estudos linguísticos também podem ser vistos em Coseriu (1980). E a esse respeito, o fato que consiste na atenção ser voltada ao indivíduo, isto é, no âmbito da linguística, tem-se o privilégio do fato linguístico. A exemplo desse tipo de observação pode-se citar a fonética experimental, que tendo se desenvolvido na época positivista, concentrou-se, sobretudo, no simples fato fônico, e sustentou que na realidade, não subsiste nenhuma unidade entre os diversos indivíduos. Essa afirmação levaria a outra, que revelaria bem o posicionamento teórico-metodológico desta ciência, a de que não existem duas vogais “a” iguais na pronúncia de dois indivíduos e nem na pronúncia de um mesmo indivíduo. Coseriu (1980) alerta-nos para o fato de que uma afirmação desse tipo extrapola os limites da linguística positivista. O estudo empírico antes da teoria é típico da maior parte dos linguistas positivistas, que não se propunham a problemas teóricos, e que estudavam os fatos, independentemente, de qualquer filosofia. O princípio da substância em linguística significa que os fatos podem ser considerados em sua substancialidade, isto é, se estes forem estudados em sua substância, será observada a sua substancialidade, mas por outro lado, se a sua materialidade estiver sendo observada, serão observados aspectos materiais desses fatos. De acordo com o princípio do evolucionismo, afirma-se que o objeto principal da linguística (positivista) somente pode ser a história da língua, compreendida também no sentido positivista, ou seja, nesta perspectiva, o desenvolvimento é considerado antes do modo de ser das línguas. Desse modo, a linguística enquanto ciência positivista somente pode ser compreendida por meio da linguística histórica ou gramática histórica. Assim, a linguística é quase exclusivamente história, pois até o estudo descritivo depende do histórico. Por fim, o naturalismo em linguística propunha que as línguas deveriam ser consideradas como organismos naturais, dotadas de desenvolvimento próprio. A própria história linguistica deveria ser estudada dessa forma, isto 37 FUESPI/NEAD Letras Português é, registrando apenas os fatos sem se centrar na explicação de seu desenvolvimento. Coseriu (1980) esclarece que os desenvolvimentos atribuídos conforme a linguística positivista às leis análogas às naturais são classificados como “leis fonéticas”. Entretanto, embora pela afirmação supramencionada se considere a linguística como uma ciência madura, Meillet não a considera dessa forma, nem a considera como uma ciência natural como as ciências naturais porque, segundo ele, a linguistica inda não tinha condições de fornecer previsões. O que nos é perceptível a partir da exposição é que a linguística enquanto ciência sofrera críticas tanto em função dos posicionamentos teóricos de alguns de seus estudiosos e de práticas de pesquisa desenvolvidas em desconformidade com a orientação em voga no momento da pesquisa, entretanto, todo o panorama de problematizações aqui exposto é compreensível dada à falta de proporcionalidade entre a dimensão do objeto, com suas multifacetas, de natureza tão ampla e heterogênea. Assim, a ciência, embora já tenha passado por ampliações, com suas diversas ramificações ainda não é correspondente ao seu objeto. SAIBA MAIS: Convencionou-se denominar indo-europeu, indo-germânico ou ariano, a língua pré-histórica, falada com relativa unidade, há cerca de três mil anos antes de Cristo, numa região incerta da Europa Oriental, mas que a grande parte dos linguistas concorda tratar-se da região meridional da atual Rússia. Não obstante as divergências da origem e o emprego de termos diferentes para designar o povo que falava essa língua, o certo é que ela realmente existiu. Atestam-no as línguas desprendidas da protolíngua (pelo método comparativo), o estudo das religiões comparadas, a geografia linguística e a Antropologia. 38 Estruturalismos Linguísticos FONTE: OLIVEIRA, João Bittencourt de. Contribuição do método comparativo para a determinação da existência do indo-europeu. Disponível em: http:// www.filologia.org.br/revista/artigo/3(9)41-52.html. Acesso em 13.05.2010. Saiba mais: notas complementares sobre Linguística Aplicada, consultar: BRITTO DUQUE, Alíria de. Linguística Aplicada. Disponível em: http:// recantodasletras.uol.com.br/gramatica/2626962. Sobre Pragmática, consultar: SIILVA, Jorge da. e SILVA, Vera Lucia T. INTRODUÇÃO AO PRAGMATISMO LINGUÍSTICO. Disponível em: http://www.filologia.org.br/soletras/1/07.htm Sobre Linguística Descritiva, ler: Princípios de Linguística Descritiva: introdução ao pensamento gramatical, de Mário Perini. Sobre linguística histórico-comparativa, consultar: SOUSA, Maria Clara Paixão de. Introdução às ciências da linguagem: linguagem, história e conhecimento. Disponível em: http:// www.tycho.iel.unicamp.br/~tycho/pesquisa/caps/PAIXAODESOUZA_MC- 2006a.pdf 39 FUESPI/NEAD Letras Português Atividade complementar Pesquise sites ou blogs que apresentem artigos ou que contenham resenhas, resumos sobre as teorias/correntes de estudos da linguagem e em seguida, crie um blog com um grupo de no máximo quatro componentes. Escolha dentre os temas a seguir: Estruturalismo Europeu, Estruturalismo Americano, Formalismo e Funcionalismo. No blog você e seus colegas de grupo poderão incluir estudos, resumos, questões pelas quais vocês se interessam e trabalhos de pesquisa vinculados à disciplina. Conte com seu tutor para fazer isso. Esta é uma excelente maneira de você estudar e dar a oportunidade a outras pessoas de estudarem também, lendo as informações presentes no seu blog. Ah, e como essas informações serão públicas, uma vez que ficarão publicadas no seu blog não se esqueçam de eleger um conselho editorial que pode corrigir, desde as informações que serão postadas, até os aspectos como o nível de linguagem e a correção ortográfica, ou seja, escrevam o texto numa linguagem clara, objetiva e correta. 40 Estruturalismos Linguísticos Leituras complementares: BORBA, Francisco da Silva. Introdução aos estudos lingüísticos. 12ª. ed. Campinas, SP: Pontes, 1998. FARACO, Carlos Alberto. Estudos pré-saussurianos. IN: MUSSALIM, Fernanda e BENTES, Ana Christina (orgs.). Introdução à Linguística III: fundamentos epistemológicos. São Paulo: Cortez, 2004. Sugiro a leitura mais atenta dos 4 primeiros capítulos do livro de Emile Benveniste, Princípios de Linguística Geral, Volume I. 41 FUESPI/NEAD Letras Português Atividades de aprendizagem 1 Faça um resumo das ideias principais desta primeira unidade e desenvolva um texto do gênero dissertativo-opinativo, posicionando-se a respeito da contribuição de Saussure para os estudos da linguagem. Assim, você já vem construindo o fichamento que fará no final da leitura deste livro.42 Estruturalismos Linguísticos Resumindo... Na unidade 1, tratamos em primeiro das impressões de Benveniste (1995) sobre algumas das preocupações que afligiram Saussure, como se percebe na citação a seguir: ...mostrar ao linguista o que ele faz. Queria fazer compreender o erro em que se envolveu a linguística desde que estuda a linguagem como uma coisa, como um organismo vivo ou como matéria que se analisa por uma técnica instrumental, ou ainda como uma criação livre e incessante da imaginação humana. É preciso voltar aos fundamentos, descobrir esse objeto que é a linguagem, a que nada pode ser comparado. O linguista chama a atenção, de forma enfática, para a preocupação central de Saussure em considerar que a substância de determinado objeto estava no ponto de vista sobre o qual se observa a este. Além disso, afligia- lhe o fato de o estudo da língua não estar sendo realizado da forma como deveria. Em segundo lugar tratamos sobre os pressupostos recentes sobre a linguística geral com base em Lyons (1981) que traz algumas definições de linguagem que problematiza, tocando em seus pontos críticos e depois finaliza seu posicionamento destacando que as definições demonstram que algumas das propriedades que alguns linguistas consideraram essenciais nas línguas tal como as conhecemos. Na segunda parte da Unidade 1, em se tratando da Linguística Moderna, Coseriu (1980, p.1), importante saussuriano, traz reflexões bastante significativas acerca da trajetória dos estudos linguísticos, o que o autor italiano justifica, com a finalidade de oferecer uma ideia panorâmica da Linguística moderna, colocando-a no seu contexto histórico, tanto mediato quanto imediato. O linguista saussuriano chama-nos a atenção para duas questões importantes no estudo do que se chama de Linguística Moderna. A primeira questão refere-se ao fato de que a suposta sensação de novidade desses 43 FUESPI/NEAD Letras Português estudos é apenas aparente, e a segunda, diz respeito à impossibilidade de se poder perceber em uma linha divisória clara entre os estudos da Linguística Tradicional e os da Linguística Moderna. Cosériu (1980, p. 2) organiza uma espécie de esquema cronológico, constante das alíneas a) a e), que explicita a sucessão dos interesses linguísticos através dos tempos conforme será descrito no quadro resumitivo a seguir, que montamos, tomando-lhe como base, para tentar didatizar um pouco mais a teorização aqui exposta: ESTUDOS LINGUÍSTICOS REALIZADOS d) Século XIX Retorno à problemática do Renascimento com interesse voltado especialmente para a Comparação e História. Este século não marcou o início da Linguística Moderna, como alguns pensam. Tal pensamento só se justifica pelo posicionamento preconceituoso de que à época nasceu um método histórico-crítico. e) Linguística atual Domínio de questões tais como diversidade de teorias e orientações; o problema da descrição e da aplicação. Proposta de questões práticas no âmbito da Linguística Histórica. a) Da Antiguidade Clássica ao Renascimento Predominância de problemas de definição. Ex.: essência da linguagem e as categorias das línguas. Problemas de descrição. Síntese: Teorização sobre a Linguagem e descrição da Língua. b) Renascimento Predominância da Linguística Histórico-comparativa. Ex.: comparação de línguas diversas, comparação de frases históricas de uma mesma língua – indagação sobre a transformação do latim em italiano, francês e espanhol. c) Século XVII Retomada de problemas antigos - Teoria e Descrição. Ex.: Gramática Geral e Descrição das Líguas Modernas 44 Estruturalismos Linguísticos O que o linguista faz questão de enfatizar é que a linguistica moderna estuda os fatos antigos, mas isso não lhe tira o mérito científico, visto que o fenômeno não tem seu estudo repetido, mas sim aprofundado, observado sob outros ângulos, ou novas abordagens. E, além disso, embora a linguistica moderna tenha como objetivo a teoria e a descrição, ela não prescinde de estudos e investigações históricas, que muitas vezes se fazem essenciais para a própria descrição. Na 3ª. parte desta unidade 1, o que se percebe, numa observação mais acurada, é que a Linguistica Moderna volta a sua atenção para estudos anteriores (históricos), mas essa volta se direciona apenas àqueles estudos que não foram realizados ou para os que mesmo tendo sido realizados, deixaram sem resolução alguma questão ou então porque se percebe uma falta de continuidade no que concerne ao aspecto cronológico se observarmos desde a Linguística na Antiguidade até agora, ao momento em que temos a Linguistica Moderna. O autor nos mostra, de certo modo, uma visão sobre o início dos estudos linguísticos e a natureza destes estudos. Ele ainda ressalta que por, volta de 1870, por meio da influência do grande linguista alemão, August Schleicher, surgiu a escola dos neogramáticos, que teve como primeiros representantes Karl Brugmann, Berthold Delbrück, Herman Osthoff e August Leskien. Coseriu (1980) para justificar os reflexos da ideologia neogramática em várias ciências, dentre elas a Linguística, defendeu que se tratava apenas de um reflexo que dominou não apenas as várias formas da cultura, mas as diversas disciplinas humanísticas. A respeito da ideologia positivista, o linguista italiano esclareceu que ideologia não significa necessariamente filosofia positivista, até porque esta última, muito longe de ser unitária, é formada de várias concepções filosóficas. O autor explica o positivismo, enquanto ideologia e metodologia das ciências, se caracterizando por quatro princípios: a) princípio do indivíduo, do fato 45 FUESPI/NEAD Letras Português individual; b) princípio da substância; c) princípio do evolucionismo; d) princípio do naturalismo. O que nos é perceptível a partir da exposição é que a linguística enquanto ciência sofrera críticas tanto em função dos posicionamentos teóricos de alguns de seus estudiosos quanto de práticas de pesquisa desenvolvidas em desconformidade com a orientação em voga no momento da pesquisa. Entretanto, todo o panorama de problematizações aqui exposto é compreensível dada à falta de proporcionalidade entre a dimensão do objeto, com suas multifacetas, de natureza tão ampla e heterogênea. Assim, a ciência, embora já tenha passado por ampliações com suas diversas ramificações, ainda não é correspondente ao seu objeto. OBJETIVOS • Identificar as concepções de ciência, bem como as característi- cas que conferem cientificidade a um determinado objeto. • Destacar características que conferem cientificidade à linguística. UNIDADE 2 A linguística e sua cientificidade 49 FUESPI/NEAD Letras Português 2 O que é ciência4? Não é novidade para nenhum estudante universitário que, no meio acadêmico, o que mais se persegue além de alcançar o melhor nível de profundidade nos estudos é a cientificidade. Os trabalhos que são realizados para as disciplinas acadêmicas seguem a padrões de cientificidade que estão inclusive normaliizados por diversas NBR – Norma Brasileira de Registros, constantes da ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. As pesquisas que são desenvolvidas na academia seguem a um rigor científico. E assim, quanto mais nos aproximamos do mundo acadêmico mais nos inteiramos da relevância da ciência que norteia os estudos e as pesquisas em qualquer área. Marconi e Lakatos (2010, p. 20 – 22) citam alguns conceitos que em seu entendimento são incompletos, aos quais não nos deteremos pela sua incompletude, e se referem a dois outros que se complementam. O primeiro a ser elencado é o de Ander-Egg (1978, p.15) no qual se define que: “A ciência é um conjunto de conhecimentos racionais, certos ou prováveis, obtidos metodicamente sistematizados e verificáveis, que fazem referência a objetos de mesma natureza.” Como uma espécie de esclarecimentosobre cada um dos princípios elencados na definição de ciência supracitada, as autoras definem cada um destes conforme descrito a seguir: a) conhecimento racional – isto é que tem exigências de método e está constituído por uma série de elementos básicos, tais como sistema conceitual, hipóteses, definições; diferencia-se das sensações ou imagens que se refletem em um estado de ânimo, como o conhecimento poético, e da compreensão imediata, 4 Sobre ciência e método científico, consulte: a artigo de: DIAS, Cláudia e FERNANDES, Denise. Pesquisa e métodos científicos. Disponível em: http:// www.reocities.com/claudiaad/pesquisacientifica.pdf. Acesso em 23 de abril de 2010. 50 Estruturalismos Linguísticos sem que se busquem os fundamentos, como é o caso do conhecimento intuitivo; b) certo ou provável – já que não se pode atribuir à ciência a certeza indiscutível de todo o saber que a compõe. Ao lado dos conhecimentos certos, é grande a quantidade dos prováveis. Antes de tudo, toda lei indutiva é meramente provável, por mais elevada que seja a sua probabilidade; c) obtidos metodicamente – pois não se os adquire ao acaso ou na vida cotidiana, mas mediante regras lógicas e procedimentos técnicos; d)sistematizadores – isto é, não se trata de conhecimentos dispersos e desconexos, mas de um saber ordenado logicamente, constituindo um sistema de ideias (teoria); e) verificáveis – pelo fato de que as afirmações, que não podem ser comprovadas ou que não passam pelo exame da experiência, não fazem parte do âmbito da ciência, que necessita, para incorporá-las, de afirmações comprovadas pela observação; f) relativos a objetos de mesma natureza – ou seja, objetos pertencentes a determinada realidade, que guardam entre si certos caracteres de homogeneidade (MARCONI e LAKATOS, 2010, p. 22). E após a exaustiva enumeração, as autoras apresentam o segundo conceito, que definem ainda como mais completo, que é o de Trujillo (1974, p. 8) no qual a ciência é definida como “... todo um conjunto de atitudes atividades racionais, dirigidas ao sistemático conhecimento com objeto limitado, capaz de ser submetido à verificação”. 51 FUESPI/NEAD Letras Português Para o desenvolvimento dos estudos de uma ciência, há que se obe- decer a alguns critérios, que são denominados critérios de cientificidade. Dias e Fernandes (2000, p. 1-2) definem os critérios de cientificidade, normalmente citados na literatura científica que são relevantes para que compreendamos também os critérios aos quais qualquer ciência que queira obter respeitabilidade no meio científico deve submeter-se: a) objeto de estudo bem definido e de natureza empírica: delimitação e descrição objetiva e eficiente de realidade empiricamente observável, isto é, daquilo que se pretende estudar, analisar, interpretar ou verificar por meio de métodos empíricos1; b) objetivação: tentativa de conhecer a realidade tal como é, evitando contaminá-la com ideologia, valores, opiniões ou preconceitos do pesquisador; c) observação controlada dos fenômenos: preocupação em controlar a qualidade do dado e o processo utilizado para sua obtenção; d) originalidade: trabalho criativo, original; e) coerência: argumentação lógica, bem estruturada, sem contradições; f) consistência: base sólida, resistente a argumentações contrárias; g) linguagem precisa: sentido exato das palavras, restringindo ao máximo o uso de adjetivos; h) intersubjetividade: opinião dominante da comunidade científica de determinada época e lugar. Se pensarmos na linguística de Saussure, era esse o caráter que o mestre genebrino buscava para a ciência da linguagem, pois mais do que responsável pelo estudo da ciência, ele fora o elaborador da forma mais cien- 52 Estruturalismos Linguísticos tífica de realizar os estudos desta ciência, o estruturalismo. E não poupou esforços para tornar os estudos da linguagem os mais científicos possíveis, o que é desnecessário explicitar em função da contribuição de estudos tão sig- nificativos como o desenvolvido pelo linguista suíço desde os estudos históri- cos e comparativos até os estruturalistas. Dias e Fernandes (2000, p. 1-2) defendem que Para proteger a ciência, e o próprio pesquisador, de erros e precipitações, utiliza-se um conjunto de regras, denominado método científico, que, com maior segurança e economia, norteia a investigação científica até seu objetivo final na obtenção de conhecimentos válidos e verdadeiros a respeito do fenômeno em estudo. Como podemos perceber, para que uma disciplina se instaure, isto é, seja aceita na comunidade científica enquanto ciência, ela precisa estar em conformidade com a concepção de ciência, com os critérios de cientificidade. Em se tratando da ciência lingüística, as formalidades foram cumpridas pelos estudiosos que se propuseram a estudá-la enquanto disciplina. E Saussure foi o principal responsável por este cumprimento. Ele pensou o objeto (a língua), pensando-o, pensou o método mais adequado para seu estudo (o sincrônico), pensou-lhe ainda a sua instrumentação, dividindo o estudo do objeto em partes (as dicotomias). A respeito destas, estabeleceu-lhes as conceituações e talvez por isso ele tenha sido considerado o pai da linguística moderna, embora haja quem defenda que outros estudiosos já haviam feito os estudos que foram atribuídos a Saussure. Bom, mas voltando-nos ao reconhecimento da linguística enquanto ciência pode-se afirmar que esta já uma questão mais tranquila, como veremos a seguir. 53 FUESPI/NEAD Letras Português 2.1 A Linguística enquanto ciência e sua cientificidade A linguística é o estudo científico da linguagem. E tratando sobre essa questão, Lyons (1981) estabelece algumas distinções entre as concepções de linguagem alertando para a tradução do termo language para referí-lo, especificamente, à faculdade de comunicação humana. O autor defende que não se pode possuir ou usar a linguagem natural sem antes fazê-lo com uma língua natural específica. Ex.: A linguagem computacional (artificial) é criada com base na língua natural de seu criador. O linguista, a princípio lida com línguas naturais. E ele quer saber se as línguas naturais, todas, possuem em comum algo que não pertença a outros sistemas de comunicação, humano ou não, de tal forma que seja correto aplicar a cada uma delas a palavra “língua”, negando-se a aplicação deste termo a outros sistemas de comunicação. Vejamos algumas definições de língua para que possamos vislumbrar o objeto de estudo da língua nessa atmosfera científica. “A linguagem é um método puramente humano e não instintivo de se comunicarem ideias, emoções e desejos por meio de símbolos voluntariamente produzidos”. (SAPIR, 1929, p. 8). Nesta definição, os pontos falhos, cf. Lyons(1987) estão nas expressões destacadas. Se pensarmos bem sobre as expressões em destaque na citação anterior é muito restritivo afirmarmos que “a linguagem é um método puramente humano e não instintivo de se comunicarem ideias, emoções e desejos por meio de símbolos voluntariamente produzidos”. Ora, vejamos, a linguagem não é um texto com um roteiro previamente programado. Inúmeros são os fatores externos e internos que podem influenciar o processo comunicativo, a linguagem oral, tanto quanto a e escrita. Outra definição que é trazida aqui é a de Bloch e Trager (1942): “Uma língua é um sistema de símbolos vocais arbitrários por meio dos quais um grupo social co-opera”. Para Lyons(1987), essa definição enfatiza a função 54 Estruturalismos Linguísticos social sem considerar a função comunicativa da linguagem, restringindo a comunicação apenas à língua falada. O autor destaca sobre a definição de Hall (1968, p. 158) de que a língua: “é a instituição pela qual os humanos se comunicam e interagem uns com os outros por meio de símbolos arbitrários orais auditivos, habitualmente utilizados”; o vínculo que
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