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13 Aula 04: Introdução aos princípios variacionais: Transformações de Legendre. Transformações de Legendre As funções complementares V e ∗V encontradas nas aulas anteriores representam casos particulares de uma dualidade funcional que aparece com freqüência nos problemas de mecânica. É, portanto, apropriado discutir a natureza da dualidade mais detalhadamente. Seja o dispositivo (por exemplo, uma mola) que exibe uma relação constitutiva entre duas variáveis f e x, como está indicado pela curva OPR na Fig. 6. O ponto P sobre a curva indica o estado atual de operação do dispositivo. A relação constitutiva pode ser considerada como uma função de x na forma ( )xff = , ou inversamente, como uma função de f na forma ( )fxx = . Ao invés de tratar diretamente com a relação constitutiva, é muitas vezes mais conveniente empregar uma das funções do estado V ou ∗V , conforme indicado na Fig. 6. A função ( )xV é a integral de ( )xf com relação a x, para x indo de zero até o ponto de operação. A função ( )fV ∗ é a integral de ( )fx com relação a f até o ponto de operação. A derivada de V é f dx dV = , (41) e a derivada de ∗V é x df dV = ∗ . (42) Fig. 6 – Funções de estado complementares definidas para uma única relação constitutiva. 14 Se o valor de x em P é conhecido, o valor correspondente de f pode ser obtido pela relação constitutiva ( )xff = , ou, indiretamente, através de dx/dV . Da mesma forma, se o valor de f em P é conhecido, o valor correspondente de x pode ser obtido pela relação constitutiva ( )fxx = , ou, indiretamente, através de df/dV ∗ . Então, ambas as funções de estado proporcionam uma descrição completa da relação constitutiva. A natureza complementar de ( )xV e ( )fV ∗ está mostrada nas equações (41) e (42). Ambas as equações descrevem a mesma relação constitutiva, mas em termos de variáveis independentes diferentes. Se uma das funções de estado, digamos, ( )xV , é conhecida, é possível avaliar a função complementar ( )fV ∗ diretamente usando a relação ( )xVxfV −=∗ , (43) que é obtida da Fig. 6, uma vez que a área total do retângulo, ∗+VV , é justamente o produto xf avaliado no ponto de operação. É, também, possível estabelecer as propriedades de ∗V sem referenciar a área hachurada na Fig. 6. Para isso devemos tomar a equação (43) como sendo a definição básica de ∗V . Está implícito que o lado direito de (43) é válido apenas nos pontos do plano xf que satisfaz a relação constitutiva, isto é, nos pontos onde (41) é válida. O diferencial total de (43) é dVfdxxdfdV −+=∗ , 0+= xdf , (44) se (41) é usada. Isto indica que ∗V é uma função somente de f no ponto de operação, com a propriedade que a sua derivada df/dV ∗ fornece o valor atual de x. Esta conclusão, é claro, é idêntica a (42), que foi obtida a partir da interpretação de ( )fV ∗ como sendo a área hachureada na Fig. 6. A definição de ∗V da equação (43) é um exemplo simples de uma transformação de Legendre. Ela proporciona um meio de trocar a variável independente x em ( )xV para a variável independente dxdVf /= em ( )fV ∗ , mantendo o comportamento previsto pela relação constitutiva. Em geral, uma transformada de Legendre ∗V de uma função ( )K,, yxV é uma função que fornece uma representação equivalente da relação funcional envolvida, com a propriedade de que o conjunto das variáveis independentes de ∗V contém uma ou mais derivadas das variáveis de V, ou seja, ,, , Ky/Vx/V ∂∂∂∂ no lugar das variáveis correspondentes K, , yx . Por exemplo, seja o dispositivo que possui relações constitutivas na forma ( )yxff ,= (45a) ( )yxgg ,= , (45b) 15 isto é, um dispositivo que é caracterizado por dois pares de variáveis, f, g e x, y. Seja, ainda, a função de estado ( )yxV , com a propriedade de que as primeiras derivadas com relação a x e y, no ponto de operação, sejam f e g, respectivamente, ou f x V =∂ ∂ , (46a) g y V =∂ ∂ . (46b) Deve-se notar que tal função de estado existe somente se as funções da equação (45) satisfazem os requisitos de integrabilidade x/gy/f ∂∂=∂∂ , que é necessário para que se tenha yx/Vxy/V ∂∂∂=∂∂∂ 22 . Sob essas circunstâncias a função de estado ( )yxV , fornece uma representação compacta do comportamento constitutivo (45). Uma representação alternativa das mesmas relações constitutivas é obtida pela função complementar ∗10V definida por uma transformação de Legendre similar àquela da equação (43) ( )yxVxfV ,10 −=∗ . (47) Nessa transformação a variável x em V é transformada na variável f em ∗10V , e é chamada a variável ativa da transformação. A variável y que aparece em ambas, V e ∗10V , é chamada uma variável passiva sob a transformação. As propriedades de ∗10V são obtidas calculando o diferencial total de (47), sujeito a relação constitutiva implícita em (46) dy y Vdx x VfdxxdfdV ∂ ∂−∂ ∂−+=∗10 , gdyxdf −= . (48) Então, ( )yfVV ,1010 ∗∗ = e as primeiras derivadas de ∗10V com relação a f e y, no ponto de operação, fornecem o valor atual de x e g− , respectivamente. Através de uma simples extensão de (47) podemos estabelecer uma transformação de Legendre na qual ambas as variáveis, x e y, são variáveis ativas. Considere a função ( )yxVygxfV ,11 −+=∗ . (49) O diferencial total de (49) sujeito a (46) é dy y Vdx x VgdyydgfdxxdfdV ∂ ∂−∂ ∂−+++=∗11 , ydgxdf += , (50) 16 que implica que, ( )gfVV ,1111 ∗∗ = e suas primeiras derivadas com relação a f e g, no ponto de operação, fornecem o valor atual de x e y, respectivamente. As transformações precedentes não funcionam se as equações constitutivas não são inversíveis. Assim, a transformação (43) falha se a equação constitutiva ( )xff = não puder ser invertida para obter uma única relação da forma ( )fxx = . Isso ocorre, por exemplo, com a relação cf = onde c é uma constante para todo x. Dado x, apenas um valor para f é encontrado, mas se cf = é dado, x é indeterminado. Para esse caso, cxV = é uma função de estado (área sob a reta)1, mas ∗V não existe. A condição para invertibilidade local, e, portanto, para a existência da transformação (43), é que a segunda derivada de V seja diferente de zero 02 2 ≠=∂ dx df x Vd . (51) A condição para a existência da transformação (49) é que o seguinte determinante seja diferente de zero: 0 2 22 2 2 2 ≠ ∂ ∂ ∂∂ ∂ ∂∂ ∂ ∂ ∂ y V yx V yx V x V . (52) 1 A energia potencial de uma massa num campo gravitacional uniforme é desta forma.
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