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O Direito Hebraico Os hebreus eram um povo de origem semita, que vivia na Mesopotâmia no final do 2º milênio a.C. Começaram um deslocamento que terminou por volta do século XVIII a.C. na Palestina. Os hebreus eram agricultores-pastores, tendo rebanhos de ovelhas, cabras e cultivavam uvas, trigo, entre outros produtos. O diferencial desse povo é que eram MONOTEÍSTAS. A sua história está na Bíblia, mais especificamente no Antigo Testamento, que reúne a Torá (ou a Lei), os Profetas e os Escritos. A Torá é composta pelos 5 primeiros livros da Bíblia: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. O Novo Testamento inclui a história de parte dos hebreus que acreditaram ser Jesus o Messias prometido. Acreditavam em um único Deus, que está sempre em suas vidas, escolhendo líderes, o lugar em que ficariam, se haveria fartura, se seriam vitoriosos na guerra etc. Para esse povo, a lei foi inspirada por Deus e infringir a lei é ir contra Deus. Leigo e divino interagem. Pecado Crime O direito é IMUTÁVEL, pois apenas Deus pode modificá-lo. O direito pode ser interpretado pelos rabinos (chefes religiosos) para adaptá-lo à evolução social, mas não pode JAMAIS ser modificado. A Sociedade e a Vida Econômica. Dividiam-se em 12 tribos de acordo com os filhos de Jacó. Havia outras duas camadas sociais: escravos e estrangeiros. Ambos tinham muitos direitos. Os estrangeiros livres não tinham os mesmos direitos dos hebreus. Os estrangeiros que tivessem alguma ligação com alguma tribo israelita tinham alguns direitos, mas se não tivessem ligações não tinham direito algum. Foram agricultores-pastores, mas desenvolveram a indústria do cobre e experimentaram progressos por causa do comércio, pois viviam na rota da Mesopotâmia, Egito, Mar Vermelho e do deserto. A Lei Mosaica. Por volta de 1.800 a.C. as fortes secas obrigaram os hebreus a saírem da Palestina para o Egito. Não se sabe se enfrentaram ou se aliaram aos hicsos, mas depois que estes foram expulsos do Egito, os hebreus foram perseguidos no Egito, pagando pesados impostos e sendo escravizados. Moisés teria liderado os hebreus de volta à Palestina, por volta de 1250 a.C. Antes de chegarem à Palestina, os hebreus teriam passado 40 anos no deserto, e aí, liderados por Moisés teriam criado suas leis. A base moral da legislação mosaica está nos 10 Mandamentos. É um direito religioso, e podemos afirmar que a religião é A CARACTERÍSTICA dos hebreus. Nabucodonosor, rei da Babilônia, escravizou os hebreus e levou-os para a Babilônia, como escravos, o que gerou um direito hebraico novo e oral, para afirmar-se diante de culturas diferentes e fortes (persas, gregos e romanos). O direito oral foi depois codificado, e a primeira codificação denominou-se Michná. As interpretações da Michná originaram as Guemaras, e hoje: Michná Guemaras Torá Talmud Hoje, Israel tem o Parlamento israelita, chamado Knesset. O Estado de Israel foi criado em 1948, aonde encontramos a Suprema Corte, 5 Tribunais Regionais, 18 Tribunais Gerais e Varas Especializadas. Interior do Knesset Bandeira de Israel JUSTIÇA. A lei mosaica é bastante rígida no que concerne à justiça. Há obrigatoriedade de imparcialidade no julgamento. Deut. 1:16-17. Estabelece-se que cada cidade deverá ter juízes, os quais, por sua vez, não podem corromper-se. Há incompatibilidade entre o justo e a corrupção. Deut. 16: 18-19. PROCESSO. A justiça é ponto inquestionável entre os hebreus. Ter o “sangue de um justo nas mãos” é inadmissível, pois é um pecado gravíssimo. Desse modo, não se admite julgamento sem investigação ou ordálios. Ex.: Deut. 13: 13-16 Deut. 17: 2-5 PENA DE TALIÃO O uso do talião é mais antigo do que a utilização realizada pelos hebreus, porém, ensina Flávia Lages de Castro que o princípio da pena de Talião foi descrito primeiramente na Bíblia. Deut. 19:21 Porém, ao analisarmos tal pena em comparação com outros povos, mormente os babilônicos, visualizamos certas diferenças. Os hebreus utilizam tal pena de forma pura. O povo judeu tem limitações ao Talião. INDIVIDUALIDADE DAS PENAS Tal princípio tem efeito mitigador da pena de Talião. Necessário analisar em conjunto com o Código de Hammurabi. Deut. 24: 16 Encontramos em nossa Carta Magna: Art. 5º (...) XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes: a) privação ou restrição da liberdade; · Execução das penas privativas de liberdade, arts. 105 a 109 da Lei nº 7210, de 11.7.1984 (Execução Penal). b) perda de bens; · Confisco de bens em caso de tráfico de entorpecentes, art. 243, parágrafo único, da CF. · Confisco de instrumentos e produtos do crime, art. 779 do CPP. c) multa; d) prestação social alternativa; e) suspensão ou interdição de direitos; LAPIDAÇÃO É a pena mais comum do Antigo Testamento. É a morte por apedrejamento. Aplicada aos idólatras (Deut. 17: 5-7), aos filhos rebeldes (Deut. 21: 18-21) etc. CIDADES DE REFÚGIO Ponto que relaciona-se com o homicídio e é o gérmen do atual instituto do asilo. Há evidente preocupação com a Justiça. Deut. 19: 1-3 HOMICÍDIO INVOLUNTÁRIO E HOMICÍDIO Não se pode usar o termo “culposo” para o homicídio involuntário previsto na Bíblia, visto que o povo hebreu não concebia o conceito de negligência, imprudência ou imperícia como causas de homicídios ou danos, como leciona CASTRO. Deve-se entender nessa expressão simplesmente o conceito do homicídio “sem querer”. Deut. 19: 4-6; 11-12 TESTEMUNHAS Prova de extrema importância na Antiguidade e para os hebreus. Deut. 19: 15 Flávia Lages de Castro ensina que na Legislação Mosaica, a pena para o falso testemunho é equivalente à pena que o acusado receberia caso tivesse sido condenado. Deut. 19: 16-19 Há reforço da necessidade de investigação. Matrimônio Flávia Lages de Castro ensina que o matrimônio era um assunto particular de duas famílias, não sendo assunto de direito religioso e nem de direito civil. Adultério. Como no Código de Hammurabi, o peso maior do crime de adultério está sobre a mulher casada, mas os hebreus vivem sob regras morais rígidas e o peso do crime também se estende ao homem. Deut. 22:22. “Se um homem for pego em flagrante deitado com uma mulher casada, ambos serão mortos, o homem que se deitou com a mulher e a mulher.” Divórcio. O divórcio era previsto nas leis de todos os povos da Antiguidade. A sua proibição ocorreu apenas com o cristianismo. Mas há peculiaridades no divórcio entre os hebreus. Deut.24:1. Concubinato. Apesar do puritanismo reinante entre os hebreus, o concubinato era considerado normal. Apenas existe recomendação que esposa e concubina não fossem irmãs. Lev. 18: 18. Estupro. Ensina Flávia Lages de Castro que “ o estupro sem pena para a vítima é previsto nesta legislação embora somente em um caso específico: o de mulher ter sido violentada em um lugar onde poderia ter gritado sem que ninguém a ouvisse.” Deut. 22, 23-27. Defloração. Aplica-se à virgem solteira. Deut. 22: 28-29. Herança e Primogenitura. A herança era exclusiva dos filhos. Asfilhas recebiam apenas o dote. O direito de primogenitura era reconhecido e sempre prevalecia. Deut. 21: 15-17. Escravos. Era permitido escravizar os prisioneiros de guerra (Deut. 21:10), mas também podiam ser comprados em Tiro, Gaza ou Aço. Escravos hebreus. Não podiam ser comprados por hebreus, e a escravidão não podia ser eterna. Deut. 15:12-14. Obs.: Deut. 15:16-17. Caridade A caridade é prevista em lei. Analisar o aspecto social e religioso do povo israelita. Deut. 15: 7-8 Governo. O governo é instituído por Deus. Deut. 17: 14-15. Ensina Castro que “os reis de Israel costumavam, segundo a tradição bíblica, serem escolhidos por Profetas a mando, segundo a crença israelita, de Deus. Assim foi com o primeiro rei, Saul, consagrado pelo profeta Samuel, segundo lhe ordenara Deus, assim foi com Davi que, embora nem parente de Saul fosse, foi escolhido; mesmo no caso de Salomão, este não era o primogênito de Davi e foi rei sucedendo o pai.” Fraude Comercial e Juros A legislação hebraica proíbe a utilização de pesos e medidas diversos, bem como o empréstimo a juros entre hebreus. Deut. 25: 13-14. Deut. 23: 20-21. Fauna e Flora Encontramos algumas normas preservacionistas. Deut. 20:19-20 Deut. 22: 6-7. Normas diversas: Leis sobre higiene. Deut. 23: 13-15. Descanso sabático. Ex. 23:10. Lev. 27: 1-7. Direito Internacional Hebraico. As cidades-refúgio relacionam-se com o asilo político. Deut. 19: 1-3 Inviolabilidade do domicílio. Deut. 24: 10-11. CF/88: Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial; Normas processuais. Impenhorabilidade de máquinas, utensílios e instrumentos profissionais. Deut. 24:6. Art. 649 - São absolutamente impenhoráveis: (...) os livros, as máquinas, as ferramentas, os utensílios, os instrumentos ou outros bens móveis necessários ou úteis ao exercício de qualquer profissão; (Alterado pela L-011.382- 2006) Leis Humanísticas. Amparo a viúvas e órfãos. Deut. 24: 17. Deut. 24: 19-21. Amparo aos pobres. Deut. 15: 7-8. Amparo aos estrangeiros. Lev. 19: 33-34. Amparo ao devedor. Lev. 25: 36. Remissão de dívidas no Ano Sabático. Deut. 15: 1-6 Organização da Justiça entre os Hebreus: Tribunal dos Três – julgavam alguns delitos e causas pecuniárias. Tribunal dos Vinte e Três – julgavam as apelações e crimes punidos com pena de morte. Sinédrio – era a Magistratura Suprema. Competia-lhe interpretar as leis e julgar profetas, chefes militares, cidades e tribos rebeldes. Os hebreus dividiam os delitos em cinco espécies: Delitos contra a divindade; Delitos contra o semelhante; Delitos contra a honestidade (ex.: adultério, fornicação); Delitos contra a propriedade; Delitos contra a honra (falso testemunho calúnia). Presença do espírito de solidariedade humana; Não-aplicabilidade do Talião; Divórcio; Predominância do conteúdo religioso; Moisés se considera instrumento de Deus, ao invés de Hammurabi que recebe as leis de Shamash, e é o seu representante na Terra.
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