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JOSELY_VOIDELO__e_yusra_ataya[1]-EM_EDUCacao

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Revista Litteris - Filosofia 
Julho de 2010 
Número 5 
 
 
Revista Litteris ISSN 1983 7429 
www.revistaliteris.com.br Número 5 
 
 
O Programa Alfabetização Solidária e a Metodologia de Paulo Freire: 
Conhecendo a realidade do Programa Paraná- Alfabetizado no Município 
de Ponta Grossa — Pr 
JOSELY MARIA VOIDELO1( FACULDADE CAMÕES) 
YUSRA ATAYA (UEPG) 
 
 
 
RESUMO 
 
O presente trabalho tem por objetivo apresentar à realidade da Educação e analfabetismo no 
Brasil. A pesquisa foi realizada na cidade de Ponta Grossa - Paraná, sendo os sujeitos, uma 
coordenadora local do programa Paraná Alfabetizado. A metodologia utilizada foi a pesquisa 
bibliográfica e a pesquisa de campo. O analfabetismo vem se manifestando no País desde a 
era colonial ate os dias atuais. A condição de analfabetismo brasileiro corresponde a duas 
esferas, ou seja, a inclusão- exclusão. Os valores culturais e econômicos podem ser de 
extrema importância, na formação da educação brasileira. A erradicação do analfabetismo 
aparece como um desafio para a superação deste quadro, pelo fato de não se apresentar 
como um elemento isolado, sendo relevante a questão sócio-cultural e econômica do País. 
Palavras chaves: Analfabetismo, Educação, Programa Paraná – Alfabetizado 
 
A EDUCAÇÃO NO BRASIL DO DESCOBRIMENTO AOS DIAS ATUAIS 
 
É a partir do exame da constituição da formação social do povo 
brasileiro que se pode entender o conhecimento das causas dos problemas 
sociais e políticos vivenciados hoje pela educação. Problemas estes que 
advém da era colonial, como a falta de educação pública — para índios, negros 
e descendestes desta miscigenação com o português. A partir desta temática, 
pode-se perceber também o alto índice do número de analfabetos brasileiros, 
somando-se a isso não só o fator das desigualdades sócio-econômicas, mas 
também o fator das desigualdades étnico-racial. 
Nesse interregno enquanto realidade no Brasil, o multiculturalismo 
suscita para questões, que não podem ser ignoradas, pois este é um País 
marcado pelas múltiplas faces, que vivem em efervescência, trazidas desde o 
 
1
 JOSELY VOIDELO é Psicopedagoga ( FACULDADE CAMÕES) 
 YUSRA ATAYA é Assistente Social. (UEPG) 
 
Revista Litteris - Filosofia 
Julho de 2010 
Número 5 
 
 
Revista Litteris ISSN 1983 7429 
www.revistaliteris.com.br Número 5 
 
 
descobrimento, pelas diferenças: de cor, raça, identidades, origens e de 
pertenças. Primeiramente, colonizados por índios, brancos e negros, sendo 
estes os três principais atores do inicio da colonização brasileira. 
 
EDUCAÇÃO NA ERA COLONIAL E IMPERIAL NO BRASIL 
 
A descoberta de novas terras pelos portugueses trouxe uma surpresa, 
pois aqui já se encontravam os ―donos das terras‖, ou seja, os índios. Os 
anfitriões receberam os visitantes, os acolheram, mas não quiseram submeter-
se ao trabalho imposto pelo homem branco (FREYRE, 1958). Segundo 
RIBEIRO(1992): 
 
―O espanto europeu na América tropical foi a indianidade, esta outra 
humanidade canibal e gentil, que, longe dos mundos de então, se 
fizera a si mesma com o só propósito de existir curtindo a vida (...)‖ 
(RIBEIRO, 1992, p.23). 
 
Não se pode dizer que o índio era um ser sem cultura, sem educação, 
iletrado. Na realidade, o Português se considerava um ser superior, 
transformando a realidade da nova terra num processo de aculturação do povo 
indígena. Pois estes sobreviviam da caça, da pesca e tinham como ―língua 
mãe‖, o tupi. 
 
―A educação indígena era eminentemente empírica, constituindo, 
antes de mais nada, em transmitir, através das gerações, uma 
tradição codificada. A escola era o lar e o mato‖ (TOBIAS (1976, 
p.27). 
 
O mesmo processo de aculturação ocorre com o negro, forçado a vir 
trabalhar numa terra, que não era de sua origem, sendo excluído dos 
processos educativos. 
 A primeira forma de aculturação educacional do português para com o 
índio foi pelas metodologias dos jesuítas em 1559 até o período de 1759, 
quando foram expulsos. Nisto complementa SAVIANI (2005): 
Revista Litteris - Filosofia 
Julho de 2010 
Número 5 
 
 
Revista Litteris ISSN 1983 7429 
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―A primeira fase do período jesuítico foi marcada pelo plano de 
instrução elaborado por Nóbrega. Espírito empreendedor, Nóbrega 
buscava implantar seu plano de instrução sobre ―uma extensa cadeia 
de colégios nas povoações litorâneas, cujos elos seriam o colégio da 
Bahia ao norte e o de São Vicente ao sul.‖‖ (MATTOS apud SAVIANI, 
2005, p.04) 
 
 Mas para o processo de aculturação era preciso falar a língua tupi, foi o que 
fez o padre Anchieta: 
 
―(...) Anchieta logo veio a dominar a ―língua geral‖ falada pelos índios 
do Brasil cuja gramática organizou para dela se servir no trabalho 
pedagógico realizado na nova terra. Fez-se, assim, em plenitude um 
agente da ―Civilização pela palavra‖, marca distintiva da Contra-
Reforma (...) ao traçar o quadro em que a Igreja se associou à 
Monarquia para, através da palavra, implantar na nova terra a 
civilização dos que dela se apossavam. (SAVIANI, 2005, p. 04) 
 
De inicio os jesuítas começaram a missão através da catequese de crianças 
indígenas com o intento de atrair os nativos adultos. Como explica EARP (1997): 
 
―A intenção jesuítica era chegar aos indígenas (Adultos), por meio 
das crianças, que passaram a ser educadas, segundo os padrões 
cristãos. Tais crianças, juntamente com aquelas enviadas de outros 
lugares do Brasil para ajudar à conversão dos nativos, eram 
chamados de meninos-língua. Escolhidas para receber a palavra 
Divina da salvação , as crianças nativas começaram a sofrer um 
violento processo de aculturação, posto que o objetivo primordial da 
atividade missionária era o esvaziamento da cultura indígena‖ . EARP 
(1997,183) 
 
 O ano de 1759 marca o fim da missão jesuítica no Brasil, inaugurando 
uma nova era educacional com a vivificação das ciências experimentais, mas 
algo faltava na nova terra, além do português e do índio, aparecia no cenário 
brasileiro um novo elemento colonizador: o negro. Na verdade, a sua presença 
como que forçada, vindo habitar uma terra até então desconhecida, sob a 
condição de escravo, pois como dito anteriormente, o índio não se submeteu 
ao trabalho do homem branco, que via a nova terra como um produto de 
exploração. 
 
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―O negro era o escravo preferido, porque suas sociedades, 
evolutivamente mais avançadas, que a indígenas, conheciam a 
estratificação social, inclusive a escravidão, o que os habitava para 
servir com menos revolta. A causa principal, entretanto para a 
preferência pelo escravo negro, era sua ignorância sobre as terras, as 
matas, as águas do Brasil‖ ( Ribeiro, 1992, p.40). 
 
 Ressalta-se que o negro não tivera a mesma educação promovida pelo 
português quando este chegou ao Brasil e catequizou o índio. 
Segundo TOBIAS (1976, p.44): ―A escravidão afastava-o e ainda o 
afastará por séculos dos bancos escolares.‖ Afirma-se o aludido na seguinte 
proposição: 
 
―A verdade é que houve uma educação do escravo, isto é, uma série 
de atividades queMário Maestri (2004) designou como pedagogia da 
escravidão, ou pedagogia servil, ou ainda pedagogia do medo. 
―Podemos definir como pedagogia da escravidão as práticas 
empreendidas direta e indiretamente pelos escravizadores para 
enquadrar, condicionar e preparar o cativo à vida sob a escravidão‖ 
(Maestri, 2004, p. 192). A pedagogia da escravidão, segundo o autor, 
teve seus ―pedagogos‖, citando os padres Jorge Benci, Antonil, 
Manuel Ribeiro da Rocha, todos do século XVIII, e o bispo Azeredo 
Coutinho, de inícios do século XIX. A pedagogia da escravidão faz 
parte, obrigatoriamente, da história da educação profissional no 
Brasil.‖ (MAESTRI apud CASTANHO, 2004,06) 
 
 Mas, devido à escassez de público português no Brasil e do interesse 
deste pela beleza da mulher negra, assim como a da mulher indígena, nasce a 
primeira formação do povo brasileiro. 
 
―os portugueses eram tão poucos no reino e na colônia que só davam 
para o papel de gerenciar, mandar e enraçar (...) multiplicar-se aos 
milhões em ventres índios, no fazimento de mamelucos, e em ventes 
negros, na fabricação da multaria.(...) e de tantos outros mamelucos
2
‖ 
(RIBEIRO,1992p.39). 
 
Assim explica TOBIAS (1976): 
 
―O jesuíta foi contra a escravidão, mas não pôde vencer a sociedade 
da colônia e da metrópole, que na escravidão, baseavam sua lavoura 
 
2
 Mamelucos -Mamluc- Conforme Bernard Lewis - vem do árabe islâmico e tem significado de 
“reconhecidos”. 
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e economia, por isso o negro jamais pôde ir à escola. Com 
dificuldade, conseguiam os missionários que aos domingos, 
pudessem os escravos assistir à missa, rezada na capela dos 
engenhos ou em outro lugar. Mesmo depois da proclamação da 
independência e mesmo com os negros libertos, não lhes será, 
muitas vezes e em mais de uma província, permitido freqüentar a 
escola‖ (TOBIAS, 1976, p.97). 
 
 Nem por isso a contribuição da cultura negra e indígena deixou de ser 
disseminada para futuras gerações. 
Não obstante, com o fim da missão jesuítica, quando os padres foram 
expulsos do Brasil pelo Marquês de Pombal, a educação brasileira passa por 
um período de instabilidade, numa tentativa frustrada, tenta criar escolas regias 
com a função de se fazer um ensino público, o que culminou em falência. 
 
―(...) A reforma de Pombal, porém expulsando os jesuítas, 
confiscando-lhe, de modo bruto e sem planejamento, as escolas, os 
bens e a educação, esfacelou da noite para o dia a educação 
brasileira (...) TOBIAS, 1976,126) 
 
 A reviravolta se deu apenas com a vinda da família real para o Brasil, na 
presença de Dom João VI, que permitiu a abertura de escolas de primeiras 
letras no país e também se multiplicaram as escolas secundárias de artes e 
ofícios. Criam-se também as primeiras Universidades brasileiras, e mais uma 
vez a educação era voltada para a elite. 
Neste interregno há o surgimento de irmandades, no Brasil do século 
XVIII, e estas tiveram papel importante na vida do negro, principalmente por se 
tornar um local de reivindicações e discussões. Através destas irmandades, os 
negros iniciaram uma associação de classe, lutando contra o preconceito. 
Vale salientarmos, ainda, que o negro não era de todo ignorante ou 
analfabeto, pois muitos deles eram muçulmanos e estes foram os precursores 
da revolta dos malês. Segundo FREYRE(1958) aconteceu por negros letrados 
dentro da religião islâmica, que liam o ALCORÃO (livro sagrado dos 
muçulmanos) e eram até chefes religiosos. 
 
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―(...) malês (...) um grupo de negros nagôs islamizados que embora 
numericamente constituíssem um pequeno contingente no universo 
mais amplo do universo mais amplo da migração compulsória 
africana para a Bahia, revelaram-se coesos e capazes de se 
sublevar. Mais que isso, como estavam incluídos no mundo dos 
povos das religiões oriundas do livro (as três religiões: judaísmo, 
cristianismo e islamismo) estes negros eram letrados, alguns deles 
lideres religiosos; liam o Alcorão e deixaram registros históricos e 
muitos relatos gravados nos inquéritos policiais, que apuraram a 
revolta‖(...) (NEDER,1997, p.37) 
 
 Contudo, como citado anteriormente, a educação ainda era prioridade da 
elite, formando uma minoria de letrados e uma maioria analfabeta. O índio, 
segundo TOBIAS (1976), fora esquecido depois da expulsão dos jesuítas do 
País. 
Destarte a educação Brasileira veio se transformando com o decorrer do 
tempo. Vieram vários governos, varias tentativas na promoção da educação 
brasileira, que de muitas maneiras veio privilegiar o homem branco, deixando 
ao limbo o negro e o índio. 
 Temos uma vasta historia educacional desde a era colonial, 
passando pela família patriarcal, até chegarmos à ditadura militar, em que 
aparece a contribuição de Paulo Freire, como veremos a seguir. 
 
 
DITADURA MILITAR E A EDUCAÇÃO BRASILEIRA 
 
 A ditadura militar foi considerada uma das fases mais marcantes da 
educação brasileira e da vida nacional. Com o golpe de 1964, e os militares no 
poder, a educação torna-se antidemocrática. Professores foram presos, alunos 
massacrados pela polícia, universidades fechadas, a UNE (União Nacional dos 
Estudantes) fechada. Foi criado o vestibular classificatório neste período. 
É no período mais cruel da ditadura militar que qualquer expressão 
popular contrária aos interesses do governo era abafada, muitas vezes, pela 
violência física. 
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Foi instituída a Lei 5.692, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação 
Nacional, em 1971. A característica mais marcante desta Lei era tentar dar à 
formação educacional um cunho profissionalizante. 
Para a erradicação do analfabetismo foi criado o MOBRAL — Movimento 
Brasileiro de Alfabetização — aproveitando-se, em sua didática, do expurgado 
Método Paulo Freire. O MOBRAL se propunha a erradicar o analfabetismo no 
Brasil: não conseguiu. Devido às denúncias de corrupção acabou por ser 
extinto e, no seu lugar, criou-se a Fundação Educar. 
A sociedade brasileira, de um modo geral, não mais se contentava com 
o ―Terrorismo‖ adotado pelo regime militar e assim em 1985 cresce a sede pela 
democracia. 
 
―Uma geração saída da luta contra o autoritarismo, que foi a geração 
que se rebelou nos anos sessenta e que, de certo modo, tinha razão, 
pois a prática das famílias e da sociedade em geral em quase todo o 
Ocidente (...), era uma prática que hoje nós estranharíamos muito, 
principalmente em relação às políticas de discriminação de minorias 
(negros, mulheres, homossexuais, indígenas, pobres etc.), não 
poderia exigir da escola outra coisa que não a liberdade e a 
felicidade. 
 
 A ditadura militar durou até o ano de 1985, quando o povo brasileiro 
clamava por Liberdade, iniciando uma nova fase na agenda política do País. 
No entanto, não será possível fechar esse tópico sem antes darmos 
alusão à grande contribuição de Paulo Freire e a sua pedagogia da libertação. 
 
PAULO FREIRE E A PEDAGOGIA DA LIBERTAÇÃO 
 
 
 
―No Brasil,entre os anos sessenta e o início dos anos oitenta (...) o 
movimento renovador do ensino, ou seja, o escolanovismo ganhou 
uma vertente especial que acabou até se desgarrando dele e se 
tornando um ideário educacional próprio: a pedagogia de Paulo 
Freire.‖ (GHIRALDELI, 2001, p.134)‖ 
 
 
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 Freire fazia alusão à Educação, na década de sessenta, como um 
ensino bancário, em que se priorizava a metodologia do decorar e não do 
aprender. O próprio (Freire,1983) coloca: 
 
―O educador faz ―depósitos‖ de conteúdos que devem ser arquivados 
pelos educandos‖. Desta maneira a educação se torna um ato de 
depositar, em que os educandos são os depositários e o educador o 
depositante. O educador será tanto melhor educador quanto mais 
conseguir ―depositar‖ nos educandos. Os educandos, por sua vez, 
serão tanto melhores educados, quanto mais conseguirem arquivar 
os depósitos feitos. (FREIRE, 1983, p. 66). 
 
 Segundo FREIRE (1998), vivemos em uma sociedade dividida em 
classes, sendo que os privilégios de uns impedem que a maioria usufrua dos 
bens produzidos, e coloca como um desses bens produzidos e necessários 
para concretizar a vocação humana de ser mais, a educação, da qual é 
excluída grande parte da população. Refere-se, então, a dois tipos de 
pedagogia: a pedagogia dos dominantes, em que a educação existe como 
prática da dominação, e a pedagogia do oprimido3, que precisa ser realizada, 
na qual a Educação surgiria como prática da liberdade. 
FREIRE deduz que o movimento para a liberdade deve surgir e partir 
dos próprios oprimidos, do seu ―eu‖ e a pedagogia decorrente será ―aquela que 
tem que ser forjada ―com ele e não para ele”, enquanto homens ou povos, na 
luta incessante de recuperação de sua humanidade". 
Destarte vê-se que não é suficiente que o oprimido tenha consciência 
crítica da opressão, mas, que se disponha a transformar essa realidade; trata-
se de um trabalho de conscientização e politização. 
Conforme FREIRE (1997): “A pedagogia do dominante é fundamentada 
em uma concepção bancária de Educação (predomina o discurso e a prática, 
na qual, quem é o sujeito da educação é o educador, sendo os educandos 
como vasilhas a serem preenchidas; eles tornam-se coisa, são reificados, o 
educador deposita "comunicados" que estes recebem, memorizam e repetem). 
 
3
 Pedagogia do Oprimido — um dos livros de Freire. 
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Disso deriva uma prática totalmente verbalizada, dirigida para a transmissão e 
avaliação de conhecimentos abstratos. Numa relação vertical, o saber é dado, 
fornecido de cima para baixo, e autoritária, pois manda quem sabe. O 
educando não é levado a pensar por si mesmo. 
 
―Tal concepção afirmava ter o homem vocação para ―sujeito da 
história‖ e não para ―objeto‖, mas no caso brasileiro esta vocação não 
se explicitava, pois o povo teria sido vítima do autoritarismo e do 
paternalismo correspondente à sociedade herdeira de uma tradição 
colonial e escravista. Fazia-se necessário — segundo tal concepção 
— romper com isso, ―libertar o homem do povo‖ de seu tradicional 
mutismo. A pedagogia deveria, então, forjar uma nova mentalidade, 
trabalhar para a ―conscientização do homem‖ brasileiro frente aos 
problemas nacionais e engajá-lo na luta política.‖ (GHIRARDELLI, 
2001,p102) 
 
Dessa maneira, o educando em sua passividade, torna-se um objeto 
para receber paternalisticamente a doação do saber do educador, sujeito único 
de todo o processo. Esse tipo de educação pressupõe um mundo harmonioso, 
no qual não há contradições, daí a conservação da ingenuidade do oprimido, 
que como tal se acostuma e acomoda no mundo conhecido (o mundo da 
opressão) e, eis aí, a educação exercida como uma prática da dominação; 
como alguém destituído de qualquer saber e, por isso mesmo, destinado a se 
tornar depósito dos dogmas do professor. A ―educação bancária‖ foi resumida 
por Freire em vários de seus livros. Freire assim a caracteriza: 
 
1. O professor ensina, os alunos são ensinados. 
2. O professor sabe tudo, os estudantes nada sabem. 
3. O professor pensa, e pensa pelos estudantes. 
4. O professor fala e os estudantes escutam. 
5. O professor estabelece a disciplina e os alunos são disciplinados. 
6. O professor escolhe, impõe sua opção, os alunos se submetem. 
7. O professor trabalha e os alunos têm a ilusão de trabalhar graças à ação do 
professor. 
8. O professor escolhe o conteúdo do programa e os alunos — que não são 
consultados — se adaptam. 
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9. O professor confunde a autoridade do conhecimento com sua própria 
autoridade profissional, que ele opõe à liberdade dos alunos. 
 
Assim, para que haja mudança é preciso revolucionar. Nesses termos, 
usando-se das palavras de FREIRE (1987) tem-se: 
 
―A revolução deve ser entendida como um processo, uma mudança 
democrática e não apenas como uma ruptura. A revolução é um 
processo político pedagógico de transformação, que requer 
reconstrução do poder em novas formas de relação. ―A revolução que 
deve ocorrer é uma grande ação cultural para a liberdade, realizada 
pelo povo (Freire, 1987).‖ 
 
 A partir do ano de 1985, o Brasil fica livre da ditadura militar, o povo 
clama por ―DIRETAS JÁ‖, é promulgada a nova constituição em 1988 , e 
conseqüentemente, a tão sonhada democracia. Eleito pelo voto direto 
Fernando Collor de Mello é deposto do cargo, acusado de corrupção, 
culminando em Impeachment. Logo após, sendo substituído pelo Vice, Itamar 
Franco. Na seqüência, mais uma eleição, assumindo o poder Fernando 
Henrique Cardoso, tendo uma reeleição e, enfim, Luis Inácio Lula da Silva. 
 
Um marco importante foi a promulgação da Constituição de 1988, que traz 
como lema: ―Constituição Cidadã‖ 
 
―O Brasil ganhou uma nova Constituição em 1988. 
Certamente uma das mais avançadas quanto a direitos 
sociais, se comparada com as anteriores. Durante o 
processo de elaboração da nova Constituição, em todos 
os setores, houve debates, pressões, movimentos 
populares, movimento de bastidores das elites e grupos 
corporativos etc., para verem seus interesses defendidos 
na Carta Magna. A educação não fugiu dessa regra‖. 
GHIRALDELLI (2001,134). 
 
 A Educação é referida em muitos artigos constitucionais, além de ter seu 
lugar próprio, ou seja, ela também se insere, junto à saúde, à previdência, ao 
trabalho, ao lazer, à segurança, à previdência social, à proteção à maternidade, 
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à infância e à assistência aos desamparados. Também no capítulo sobre a 
família, a criança, o adolescente e o idoso. Destarte Capitulo III art.205: 
 
―Art. 205 A Educação, direito de todos e de dever do 
Estado e da família, será promovida e incentivada coma 
colaboração da sociedade, visando ao plenodesenvolvimento da pessoa, seu preparo para o 
exercício da cidadania e sua qualificação para o 
trabalho‖. 
 
 No entanto, afirma GHIRARDELHI (2001), que o governo FHC foi o que 
mais gerou planos e programas para a Educação. Mas, não para a erradicação 
do analfabetismo. Em sua política educacional: 
 
―O número de frentes de programas educacionais abertos pelo 
governo FHC foi enorme. Aqui, voltamos os olhos, agora, para uma 
inovação importante que surgiu com a LDBN de 1996: a criação do 
Curso Normal Superior. Pela Lei (9.394), foram criados o Curso 
Normal Superior e os Institutos Superiores de Educação.‖ 
GHIRARDELHI (2001, 196). 
 
 Conforme o autor, citado anteriormente, entre as políticas e programas 
do governo FHC foi criado o FUNDEF — Fundo de Manutenção e 
Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério — é 
o carro chefe da propaganda do governo FHC na educação. Ele cria uma 
subvinculação no orçamento da educação destinado ao ensino fundamental e 
será distribuído entre cada Estado e seus municípios, proporcionalmente ao 
número de alunos das respectivas redes do ensino fundamental. 
 Nesta mesma gestão governamental foi criado ainda O ENEM — 
Exame Nacional do Ensino Médio, o Bolsa-escola para famílias de baixa renda 
manterem seus filhos na escola entre outros programas. 
 
 
PAS — PROGRAMA DE ALFABETIZAÇÃO SOLIDÁRIA 
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O programa de alfabetização solidária foi desenvolvido em 1997 na 
gestão do então ministro da Educação, Paulo Renato de Souza, em parceria 
criada com o Conselho de Comunidade Solidária. As ações são desenvolvidas 
com a participação de instituições, ONGs, universidades, empresas, onde o 
intuito é diminuir o grau de analfabetismo no país. Tendo como princípio a 
erradicação de analfabetismos nas áreas de concentração do norte e nordeste. 
 
―(...) ao longo da sua trajetória o PAS cresceu continuamente e 
alcançou também municípios interioranos e das zonas metropolitanas 
das regiões centro este e sudeste. Em 2000 a metodologia do 
Programa foi levada ao Timor Leste e, a partir de 2002 também a 
países africanos de língua portuguesa como Angola, Cabo Verde, 
Moçambique e São Tomé e Príncipe. (...)‖ (DI PIERRO e GRACIANO, 
2003, p. 30). 
 
 No entanto, no governo Lula podem ser apontadas propostas de políticas 
e programas que acrescem e/ou inovam em relação às políticas do governo 
FHC. 
 O governo Lula não trouxe nada de inovador, mas ampliou e consolidou 
propostas do Governo anterior. Destarte, pode-se dizer que se deu prioridade ao 
enfrentamento do analfabetismo por meio do PROGRAMA BRASIL 
ALFABETIZADO4 . Embora as políticas e programas para a Educação traçadas 
em todos os níveis da educação brasileira, na gestão dos dois últimos 
presidentes, contemplem-se, a qualidade da educação a ser ofertada foi, 
justamente, a viabilização de acesso. 
 
4 O programa responde às propostas do FUNDEB, resultantes da discussão governamental; que 
se alimentam na realização de concursos públicos para preenchimento de vagas de professores 
e funcionários para universidades federais e a proposta da ampliação de seu número, bem como: 
da política de cotas; do ensino fundamental de nove anos, da inclusão digital para todos, e a 
proposta do ensino fundamental. Já na área do ensino superior, o PROUNI (Programa 
Universidade para Todos), destaca-se como o maior programa de bolsa de estudos da história 
da educação brasileira, possibilitando acesso de jovens à educação. 
 
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Todavia, apesar dos ganhos no que se refere a esse aspecto, o 
problema com que se defronta a Educação brasileira, há décadas, ganha 
contornos dramáticos na contemporaneidade. 
 Acrescenta-se a isso às grandes desigualdades sociais, permeados 
pelo fator sócio econômico e que veio se agravando com a política Neoliberal, 
tendo altos índices de desemprego, e na grande demanda de pessoas sem 
acesso á saúde, educação e moradia. Fatores, que cresceram juntos e que 
ainda persistem. 
 
―Assim se o reconhecimento oficial deste país ser um pais injusto 
sinaliza a necessidade de se articular a questão da pobreza com a da 
desigualdade social, isso significa, em tese, associar às políticas de 
combate à pobreza a formulação de políticas voltadas para a 
superação da pobreza.Em principio, portanto, o que está em jogo é 
associar a questão da superação da pobreza a medidas de caráter 
redistributivo, de transferência de renda, de transferência indireta, por 
meio de políticas sociais efetivamente redistributivas , e não 
meramente compensatórias das desigualdades sociais. 
(COHN,2003,144). 
 
 Nesse sentido, no tópico a seguir será abordado a questão do programa 
Brasil Alfabetizado. 
 
 
PROGRAMA PARANÁ ALFABETIZADO — REALIDADE DO 
ANALFABETISMO NO PARANÁ 
 
Segundo dados da UNESCO (2000), há a existência ainda de 880 
milhões de pessoas jovens e adultas analfabetas, dos quais 2/3 são mulheres. 
Em termos de Brasil, estamos no 73º no ranking mundial. 
O Estado do Paraná ocupa a 7ª posição de analfabetismo entre os 24 
Estados brasileiros, possuindo atualmente cerca de 540 mil pessoas com 15 
anos ou mais na situação de analfabetismo absoluto, correspondendo a 7,1% 
da população paranaense com 15 anos ou mais (PNAD, 2005). No ano 2000, 
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649 mil jovens, adultos e idosos se auto-declararam não alfabetizados, 
correspondendo a 9,5% da população paranaense com 15 anos ou mais 
(IBGE, 2000). No Paraná, 1/4 da população com 15 anos ou mais, enquadra-se 
nos índices de analfabetismo funcional (inferior a 4 séries concluídas), ou seja, 
25,4%. Cerca de 70% da população brasileira e paranaense não alfabetizada 
com 15 anos ou mais é constituída por mulheres. 
O Programa Paraná alfabetizado faz parte do programa do Governo 
Estadual desenvolvido em parceria com o MEC (Ministério da Educação) 
Programa Nacional — Brasil Alfabetizado — do Governo Federal, no intento de 
se alfabetizar jovens, adultos e idosos. Ressalta-se, ainda, que este programa 
teve inicio em 2004/2005 e no ano de 2009 se encontrava na sua 5ª edição. O 
programa atende a jovens de 15 anos ou mais, adultos e idosos, que nunca 
tiveram acesso a alfabetização. Nesse sentido, as pessoas interessadas 
podem procurar em sua comunidade, escola mais próxima, ou nos NRE, para 
se inscrever.5 
CONHECENDO A REALIDADE DO PROGRAMA PARANÀ-
ALFABETIZADO NO MUNICÍPIO DE PONTA GROSSA — PR 
 
O universo pesquisado configurou-se na escolha do coordenador local 
do Programa Paraná Alfabetizado em Ponta Grossa-PR, em entrevista semi-
estruturada. Vale ressaltar que a entrevistada, professora Sandra Inglês, 
relatou as fases do programa em Faxinal do Céu e em alguns bairros 
participantes no município de Ponta Grossa – PR. 
 
1- Pergunta: Como é este processo da alfabetização? Quem são os 
atores sociais que participam? 
 
 
5
 Dados retiradosdo site http://www.diaadia.pr.gov.br/paranaalfabetizado/ 
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Resposta: É um programa do governo Federal e Estadual, onde há a 
participação da sociedade civil, mobilizando os educandos, os educadores, e 
quem está envolvido no processo. Nesse sentido coloca Freire: 
 
―É por isso que não há verdadeiro bilingüismo, muito menos 
multilingüismo, fora da multiculturalidade e não há esta como 
fenômeno espontâneo, mas criado, produzido politicamente, 
trabalhado, as duras penas, na história... É a criação histórica que 
implica decisão, vontade política, mobilização, organização de cada 
grupo cultural com vistas a fins comuns. Que demanda, portanto, 
certa prática educativa coerente com esses objetivos. Que demanda 
uma nova ética fundada no respeito às diferenças‖. (FREIRE, 1997, 
p.157). 
 
Assim, a educação popular defendida por Freire é aquela que persegue 
o sonho da construção de uma sociedade: 
 
(...) reinventando-se sempre com uma nova compreensão do poder, 
passando por uma nova compreensão da produção, uma sociedade 
em que a gente tenha gosto de viver, de sonhar, de namorar, de 
amar, de querer bem. Esta tem que ser uma educação corajosa, 
curiosa, despertadora da curiosidade, mantenedora da curiosidade. 
(FREIRE, 2001, p.101). 
 
2- Pergunta: Como é feito este trabalho? Como os educadores chegam 
aos educandos? 
 
Resposta: Toda proposta do programa é voltada para a pedagogia de 
Paulo Freire. Os educadores procuram à escola mais próxima, ou paróquia, ou 
rádio onde é divulgado para quem quer participar. Muitas vezes, eles vão até 
as casas das pessoas que não tem alfabetização. Essa chamada é feita boca-
a-boca. Então eles vêm e começam a se alfabetizar. 
 
Desta maneira percebe-se que é respeitada a vontade do educando: 
 
―É preciso assumirmos a realidade democrática para a qual não basta 
reconhecer-se, alegremente, que nesta ou naquela sociedade, o 
homem e a mulher são de tal modo livres que têm o direito de até de 
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morrer de fome ou de não ter escola para seus filhos e filhas ou de 
não ter casa para morar. O direito, portanto, de morar na rua, o de 
não ter velhice amparada, o de simplesmente não ser. ―(FREIRE, 
1997, p. 157)‖. 
 
3- Pergunta: Qual a didática utilizada pelo educador? 
 
Resposta: Nós temos no programa todo o aparato de materiais 
necessários para serem utilizados durante o processo de alfabetização (para o 
educando: livro, cartilha, uma pasta contendo caderno, lápis, giz de cera, além 
de material para atividades lúdicas e para o educador todo o material de apoio). 
Os educadores trabalham com o portfólio, que seria a escrita espontânea vinda 
deles (estudantes), com música. Privilegiando muito a cultura brasileira. Enfim, 
muitas das atividades surgem dos próprios alunos, dos interesses comuns. Em 
Faxinal do Céu, é usado muito para a interação grupal as historias de vida dos 
discentes. 
 
4- Pergunta: E como os alunos se sentem? Quais as dificuldades? 
 
Resposta: Eles participam, não há muita evasão. Já que são eles quem 
motivam o aprender. Há alguns que têm mais dificuldade de aprendizado. 
 
―Assim, diante dessas reflexões sobre as concepções de educação 
popular, observa-se que os projetos na atualidade precisam buscar 
uma saída teórico-prática que respondam aos desafios e as 
possibilidades postas pelas novas configurações humano-sociais em 
diferentes formas de Estado: Precisam tornar-se projetos atrelados à 
busca de realizações de novas relações sociais, pautadas em outros 
fundamentos. Podem estar voltadas à construção de um novo estilo 
de vida. Elas parecem ter significado à medida que sejam conduzidas 
a processos que mantenham o humano como centro dessas 
realizações e o trabalho impulsionador de sua emancipação, 
assegurando a existência da própria vida humana resultante de sua 
intervenção na natureza.‖ (MELO NETO, 2004, p.85). 
 
5- Pergunta: Existe alguma forma de avaliação? 
 
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Resposta: Não existem as formas de avaliação das escolas 
convencionais, do estilo nota, prova, porque o objetivo são os primeiros 
passos: ler e escrever. A avaliação dos alfabetizandos é feita pelos 
alfabetizadores através da produção de um texto de cada alfabetizando, em 
cada mês e durante o processo de aprendizagem. Depois, há um parecer do 
alfabetizador acerca do desenvolvimento do educando. A avaliação do 
educando deverá contemplar aspectos da oralidade, leitura, escrita da língua 
portuguesa. Também deve considerar seu envolvimento no espaço da 
alfabetização, o uso social da escrita e sua participação em outros espaços 
sociais, culturais e políticos. 
A resposta reforça a real idéia de Freire, quando fez uma das primeiras 
criticas à educação convencional, ou seja, ao paradigma da educação 
bancária. 
 
―Na concepção ―bancária‖ que estamos criticando, para a qual 
educação é o ato de depositar, de transferir, de transmitir valores e 
conhecimentos, não se verifica nem pode verificar-se esta superação. 
Pelo contrário, refletindo a sociedade opressora, sendo dimensão da 
―cultura do silêncio‖ a ―educação‖ ―bancária‖ mantém e estimula a 
contradição.‖ (FREIRE, 1987, p. 59). 
 
 
6- Pergunta: Qual é o perfil do educador? Ele é um educador técnico (Pedagogo), ou 
um educador comunitário com ensino médio? 
 
Resposta: Pode participar quem tem o ensino médio e quem tem ensino 
superior, mas a grande maioria dos educadores tem magistério. E algum tem curso 
universitário. 
 
Nesse sentido salienta FREIRE (2001) 
 
 
―(...) a prática educativa progressista e pós-moderna (...) é a que se 
funda no respeito democrático ao educador como um dos sujeitos do 
processo, é a que tem no ato de ensinar – aprender um momento 
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curioso e criador em que os educadores reconhecem e refazem 
conhecimentos antes sabidos e os educandos se apropriam, 
produzem o ainda não sabido. É a que desoculta verdades em lugar 
de escondê-las.‖ (FREIRE, 2001, p.159). 
 
 
7- Pergunta: E ao final desse primeiro processo, os educandos recebem 
diploma, alguma certificação? 
 
Resposta: Sim, após oito meses, tempo estipulado para o período de 
alfabetização, eles recebem certificado de conclusão do curso. Mas não há 
validade de um diploma escolar. 
 
8- Pergunta: Então, eles têm o certificado. E depois se houver interesse de 
algum educando em continuar, qual o caminho a ser seguido? 
 
Resposta: Assim que eles terminam o curso, se houver interesse, eles 
nos procuram e então são encaminhados para outro programa da prefeitura, 
como o EJA6 
 
9- Pergunta: Como ocorre a avaliação do trabalho como um todo? 
 
 Resposta: Reuniões semanais ou quinzenais de formação continuada a 
serem organizadas e desenvolvidas pela coordenação local de onde é 
realizadaas atividades, com carga horária de 8 horas/mês, sendo obrigatória a 
participação dos alfabetizadores; com visitas semanais ou quinzenais da 
coordenação local para contatos com alfabetizadores e alfabetizandos, sendo 
que há orientações e avaliação do processo. 
Quanto aos números ou mesmo à esperança de um processo de 
erradicação do analfabetismo em Ponta Grossa, Sandra Inglês coloca que 
 
6
 EJA - ALFABETIZAÇÃO de JOVENS e ADULTOS. 
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ainda não podemos avaliar como um todo, pois os processos e desafios para 
se chegar a total erradicação do analfabetismo no país são grandes. 
Segundo dados do NRE Ponta Grossa - PR, o número de analfabetos 
chega a aproximadamente 9.000 (nove mil) pessoas. Numa análise do total de 
300.000 (trezentos mil) habitantes, esse número não se apresenta como um 
fator agravante. Tomados como comparativos outras regiões dos País no caso 
do Nordeste, Ponta Grossa pode ser uma das primeiras cidades a sair das 
condições de analfabetismo no Paraná. 
Nesse sentido, pode-se dizer que foram alcançados os objetivos aqui 
propostos. Podendo-se concluir que o analfabetismo no Brasil é conseqüência 
não só da exclusão sócio-econômica, mas está intrínseco diante dessa causa a 
questão sócio cultural. Como se viu na passagem bibliográfica, os brasileiros 
desde o descobrimento até os dias atuais tiveram sua educação negada, por 
grupos dominantes. 
 Percebe-se que erradicar o analfabetismo brasileiro demanda tempo e 
mais que isso, é um desafio. Os atores sociais não são escolhidos por questão 
desta ou daquela condição sócio-econômica, não sendo deste ou daquele 
Estado, nem tendo esta ou aquela posição social, e sim os educando, para se 
construir o futuro de uma educação justa e igualitária. 
 
 
―A desumanização, que não se verifica apenas nos que têm sua 
humanidade roubada, mas também, ainda que de forma diferente, 
nos que a roubam, é distorção da vocação do ser mais... na verdade, 
se admitíssemos que a desumanização é vocação histórica dos 
homens, nada mais teríamos que fazer, a não ser adotar uma atitude 
cínica ou de total desespero. A luta pela humanização, pelo trabalho 
livre, pela desalienação, pela afirmação dos homens como pessoas, 
como ―seres para si‖, não teria significação. Esta somente é possível 
porque a desumanização, mesmo que um fato concreto na história, 
não é, porém, destino dado, mas resultado de uma ―ordem‖ injusta 
que gera a violência dos opressores e esta, o ser menos.‖ (FREIRE, 
1988) 
 
 
 
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CONCLUSÂO 
 
 
Neste sentido para falar do analfabetismo no Brasil e compreendê-lo é 
preciso buscar a sua História. Os referenciais bibliográficos trouxeram o 
conhecimento da Educação brasileira desde a era colonial até os dias de hoje. 
E a educação, a princípio, aconteceu de forma nefasta e obrigatória, uma 
educação étnica imposta onde alquebrou as condições do negro e do índio, 
que não puderam se desenvolver como seres humanos, e que, muitas vezes, 
essas condições são refletidas nos dias atuais. 
A educação aparece, também, como a grande mentora das atrocidades 
dirigidas às classes menos favorecidas — pela opressão, ditadas por práticas 
antigas alicerçadas agora pelo poder sócio econômico. 
Ao discutir os meios que muitos tiveram para se chegar à exclusão e ao 
analfabetismo, conforme pesquisa bibliográfica, a pesquisa qualitativa 
proporcionou uma ampla visão da realidade, fazendo a ligação teoria-prática. 
 E, através das entrevistas realizadas, pode-se perceber a realidade do 
analfabetismo no Brasil. Neste contexto, procurou-se trabalhar as 
representações sociais, e de como elas se projetam na sociedade, seus 
valores, suas opiniões. 
Notou-se, ainda, que, muitas vezes, pelo fato do educador ir até a casa 
das pessoas não alfabetizadas, gera uma consciência política a partir do ser, 
ou seja, não da educação bancária, mas mediada, respeitando-se a sua 
vontade. 
Percebe-se, ainda, através da pesquisa de campo, que o Programa 
Paraná Alfabetizado quanto à sua efetivação, não está apenas nos livros e sim 
numa relação da práxis não ―para ele, mas sim com ele‖ como dizia Freire. O 
programa cumpre com suas metas e definições. 
 Pode-se afirmar que é de grande desafio a erradicação do 
Analfabetismo no Brasil, tanto para os educadores quanto para os educandos. 
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As lutas e sonhos são um objetivo a alcançar e ver num futuro próximo um País 
justo e igualitário, através da educação do seu povo, onde estes possam 
tornar-se ―cidadãos do mundo‖ como se auto-denominava. (FREIRE, 1997). 
 
REFERÊNCIAS 
 
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DA EDUCAÇÃO. Art. 205. diário Oficial [da] Republica Federativa do Brasil. 
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SAVIANI, Demerval. AS CONCEPÇÕES PEDAGÓGICAS na HISTÓRIA da 
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Texto elaborado no âmbito do projeto de pesquisa 
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―O espaço acadêmico da pedagogia no Brasil‖, financiado pelo CNPq, para o 
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 . Educação brasileira: estrutura e sistema. São Paulo: Editora Saraiva 
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TOBIAS, Jose Antonio. História da educação Brasileira.São Paulo. Cortez 
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BRASIL. MINISTERIO DA EDUCAÇÃO. PROGRAMA BRASIL 
ALFABETIZADO. Disponível emhttp://brasilalfabetizado.mec.gov.br/ Acesso em 
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ALFABETIZADO. Endereço eletrônico www.paranaalfabetizado.pr.gov.br 
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