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Revista Litteris - Filosofia Julho de 2010 Número 5 Revista Litteris ISSN 1983 7429 www.revistaliteris.com.br Número 5 O Programa Alfabetização Solidária e a Metodologia de Paulo Freire: Conhecendo a realidade do Programa Paraná- Alfabetizado no Município de Ponta Grossa — Pr JOSELY MARIA VOIDELO1( FACULDADE CAMÕES) YUSRA ATAYA (UEPG) RESUMO O presente trabalho tem por objetivo apresentar à realidade da Educação e analfabetismo no Brasil. A pesquisa foi realizada na cidade de Ponta Grossa - Paraná, sendo os sujeitos, uma coordenadora local do programa Paraná Alfabetizado. A metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica e a pesquisa de campo. O analfabetismo vem se manifestando no País desde a era colonial ate os dias atuais. A condição de analfabetismo brasileiro corresponde a duas esferas, ou seja, a inclusão- exclusão. Os valores culturais e econômicos podem ser de extrema importância, na formação da educação brasileira. A erradicação do analfabetismo aparece como um desafio para a superação deste quadro, pelo fato de não se apresentar como um elemento isolado, sendo relevante a questão sócio-cultural e econômica do País. Palavras chaves: Analfabetismo, Educação, Programa Paraná – Alfabetizado A EDUCAÇÃO NO BRASIL DO DESCOBRIMENTO AOS DIAS ATUAIS É a partir do exame da constituição da formação social do povo brasileiro que se pode entender o conhecimento das causas dos problemas sociais e políticos vivenciados hoje pela educação. Problemas estes que advém da era colonial, como a falta de educação pública — para índios, negros e descendestes desta miscigenação com o português. A partir desta temática, pode-se perceber também o alto índice do número de analfabetos brasileiros, somando-se a isso não só o fator das desigualdades sócio-econômicas, mas também o fator das desigualdades étnico-racial. Nesse interregno enquanto realidade no Brasil, o multiculturalismo suscita para questões, que não podem ser ignoradas, pois este é um País marcado pelas múltiplas faces, que vivem em efervescência, trazidas desde o 1 JOSELY VOIDELO é Psicopedagoga ( FACULDADE CAMÕES) YUSRA ATAYA é Assistente Social. (UEPG) Revista Litteris - Filosofia Julho de 2010 Número 5 Revista Litteris ISSN 1983 7429 www.revistaliteris.com.br Número 5 descobrimento, pelas diferenças: de cor, raça, identidades, origens e de pertenças. Primeiramente, colonizados por índios, brancos e negros, sendo estes os três principais atores do inicio da colonização brasileira. EDUCAÇÃO NA ERA COLONIAL E IMPERIAL NO BRASIL A descoberta de novas terras pelos portugueses trouxe uma surpresa, pois aqui já se encontravam os ―donos das terras‖, ou seja, os índios. Os anfitriões receberam os visitantes, os acolheram, mas não quiseram submeter- se ao trabalho imposto pelo homem branco (FREYRE, 1958). Segundo RIBEIRO(1992): ―O espanto europeu na América tropical foi a indianidade, esta outra humanidade canibal e gentil, que, longe dos mundos de então, se fizera a si mesma com o só propósito de existir curtindo a vida (...)‖ (RIBEIRO, 1992, p.23). Não se pode dizer que o índio era um ser sem cultura, sem educação, iletrado. Na realidade, o Português se considerava um ser superior, transformando a realidade da nova terra num processo de aculturação do povo indígena. Pois estes sobreviviam da caça, da pesca e tinham como ―língua mãe‖, o tupi. ―A educação indígena era eminentemente empírica, constituindo, antes de mais nada, em transmitir, através das gerações, uma tradição codificada. A escola era o lar e o mato‖ (TOBIAS (1976, p.27). O mesmo processo de aculturação ocorre com o negro, forçado a vir trabalhar numa terra, que não era de sua origem, sendo excluído dos processos educativos. A primeira forma de aculturação educacional do português para com o índio foi pelas metodologias dos jesuítas em 1559 até o período de 1759, quando foram expulsos. Nisto complementa SAVIANI (2005): Revista Litteris - Filosofia Julho de 2010 Número 5 Revista Litteris ISSN 1983 7429 www.revistaliteris.com.br Número 5 ―A primeira fase do período jesuítico foi marcada pelo plano de instrução elaborado por Nóbrega. Espírito empreendedor, Nóbrega buscava implantar seu plano de instrução sobre ―uma extensa cadeia de colégios nas povoações litorâneas, cujos elos seriam o colégio da Bahia ao norte e o de São Vicente ao sul.‖‖ (MATTOS apud SAVIANI, 2005, p.04) Mas para o processo de aculturação era preciso falar a língua tupi, foi o que fez o padre Anchieta: ―(...) Anchieta logo veio a dominar a ―língua geral‖ falada pelos índios do Brasil cuja gramática organizou para dela se servir no trabalho pedagógico realizado na nova terra. Fez-se, assim, em plenitude um agente da ―Civilização pela palavra‖, marca distintiva da Contra- Reforma (...) ao traçar o quadro em que a Igreja se associou à Monarquia para, através da palavra, implantar na nova terra a civilização dos que dela se apossavam. (SAVIANI, 2005, p. 04) De inicio os jesuítas começaram a missão através da catequese de crianças indígenas com o intento de atrair os nativos adultos. Como explica EARP (1997): ―A intenção jesuítica era chegar aos indígenas (Adultos), por meio das crianças, que passaram a ser educadas, segundo os padrões cristãos. Tais crianças, juntamente com aquelas enviadas de outros lugares do Brasil para ajudar à conversão dos nativos, eram chamados de meninos-língua. Escolhidas para receber a palavra Divina da salvação , as crianças nativas começaram a sofrer um violento processo de aculturação, posto que o objetivo primordial da atividade missionária era o esvaziamento da cultura indígena‖ . EARP (1997,183) O ano de 1759 marca o fim da missão jesuítica no Brasil, inaugurando uma nova era educacional com a vivificação das ciências experimentais, mas algo faltava na nova terra, além do português e do índio, aparecia no cenário brasileiro um novo elemento colonizador: o negro. Na verdade, a sua presença como que forçada, vindo habitar uma terra até então desconhecida, sob a condição de escravo, pois como dito anteriormente, o índio não se submeteu ao trabalho do homem branco, que via a nova terra como um produto de exploração. Revista Litteris - Filosofia Julho de 2010 Número 5 Revista Litteris ISSN 1983 7429 www.revistaliteris.com.br Número 5 ―O negro era o escravo preferido, porque suas sociedades, evolutivamente mais avançadas, que a indígenas, conheciam a estratificação social, inclusive a escravidão, o que os habitava para servir com menos revolta. A causa principal, entretanto para a preferência pelo escravo negro, era sua ignorância sobre as terras, as matas, as águas do Brasil‖ ( Ribeiro, 1992, p.40). Ressalta-se que o negro não tivera a mesma educação promovida pelo português quando este chegou ao Brasil e catequizou o índio. Segundo TOBIAS (1976, p.44): ―A escravidão afastava-o e ainda o afastará por séculos dos bancos escolares.‖ Afirma-se o aludido na seguinte proposição: ―A verdade é que houve uma educação do escravo, isto é, uma série de atividades queMário Maestri (2004) designou como pedagogia da escravidão, ou pedagogia servil, ou ainda pedagogia do medo. ―Podemos definir como pedagogia da escravidão as práticas empreendidas direta e indiretamente pelos escravizadores para enquadrar, condicionar e preparar o cativo à vida sob a escravidão‖ (Maestri, 2004, p. 192). A pedagogia da escravidão, segundo o autor, teve seus ―pedagogos‖, citando os padres Jorge Benci, Antonil, Manuel Ribeiro da Rocha, todos do século XVIII, e o bispo Azeredo Coutinho, de inícios do século XIX. A pedagogia da escravidão faz parte, obrigatoriamente, da história da educação profissional no Brasil.‖ (MAESTRI apud CASTANHO, 2004,06) Mas, devido à escassez de público português no Brasil e do interesse deste pela beleza da mulher negra, assim como a da mulher indígena, nasce a primeira formação do povo brasileiro. ―os portugueses eram tão poucos no reino e na colônia que só davam para o papel de gerenciar, mandar e enraçar (...) multiplicar-se aos milhões em ventres índios, no fazimento de mamelucos, e em ventes negros, na fabricação da multaria.(...) e de tantos outros mamelucos 2 ‖ (RIBEIRO,1992p.39). Assim explica TOBIAS (1976): ―O jesuíta foi contra a escravidão, mas não pôde vencer a sociedade da colônia e da metrópole, que na escravidão, baseavam sua lavoura 2 Mamelucos -Mamluc- Conforme Bernard Lewis - vem do árabe islâmico e tem significado de “reconhecidos”. Revista Litteris - Filosofia Julho de 2010 Número 5 Revista Litteris ISSN 1983 7429 www.revistaliteris.com.br Número 5 e economia, por isso o negro jamais pôde ir à escola. Com dificuldade, conseguiam os missionários que aos domingos, pudessem os escravos assistir à missa, rezada na capela dos engenhos ou em outro lugar. Mesmo depois da proclamação da independência e mesmo com os negros libertos, não lhes será, muitas vezes e em mais de uma província, permitido freqüentar a escola‖ (TOBIAS, 1976, p.97). Nem por isso a contribuição da cultura negra e indígena deixou de ser disseminada para futuras gerações. Não obstante, com o fim da missão jesuítica, quando os padres foram expulsos do Brasil pelo Marquês de Pombal, a educação brasileira passa por um período de instabilidade, numa tentativa frustrada, tenta criar escolas regias com a função de se fazer um ensino público, o que culminou em falência. ―(...) A reforma de Pombal, porém expulsando os jesuítas, confiscando-lhe, de modo bruto e sem planejamento, as escolas, os bens e a educação, esfacelou da noite para o dia a educação brasileira (...) TOBIAS, 1976,126) A reviravolta se deu apenas com a vinda da família real para o Brasil, na presença de Dom João VI, que permitiu a abertura de escolas de primeiras letras no país e também se multiplicaram as escolas secundárias de artes e ofícios. Criam-se também as primeiras Universidades brasileiras, e mais uma vez a educação era voltada para a elite. Neste interregno há o surgimento de irmandades, no Brasil do século XVIII, e estas tiveram papel importante na vida do negro, principalmente por se tornar um local de reivindicações e discussões. Através destas irmandades, os negros iniciaram uma associação de classe, lutando contra o preconceito. Vale salientarmos, ainda, que o negro não era de todo ignorante ou analfabeto, pois muitos deles eram muçulmanos e estes foram os precursores da revolta dos malês. Segundo FREYRE(1958) aconteceu por negros letrados dentro da religião islâmica, que liam o ALCORÃO (livro sagrado dos muçulmanos) e eram até chefes religiosos. Revista Litteris - Filosofia Julho de 2010 Número 5 Revista Litteris ISSN 1983 7429 www.revistaliteris.com.br Número 5 ―(...) malês (...) um grupo de negros nagôs islamizados que embora numericamente constituíssem um pequeno contingente no universo mais amplo do universo mais amplo da migração compulsória africana para a Bahia, revelaram-se coesos e capazes de se sublevar. Mais que isso, como estavam incluídos no mundo dos povos das religiões oriundas do livro (as três religiões: judaísmo, cristianismo e islamismo) estes negros eram letrados, alguns deles lideres religiosos; liam o Alcorão e deixaram registros históricos e muitos relatos gravados nos inquéritos policiais, que apuraram a revolta‖(...) (NEDER,1997, p.37) Contudo, como citado anteriormente, a educação ainda era prioridade da elite, formando uma minoria de letrados e uma maioria analfabeta. O índio, segundo TOBIAS (1976), fora esquecido depois da expulsão dos jesuítas do País. Destarte a educação Brasileira veio se transformando com o decorrer do tempo. Vieram vários governos, varias tentativas na promoção da educação brasileira, que de muitas maneiras veio privilegiar o homem branco, deixando ao limbo o negro e o índio. Temos uma vasta historia educacional desde a era colonial, passando pela família patriarcal, até chegarmos à ditadura militar, em que aparece a contribuição de Paulo Freire, como veremos a seguir. DITADURA MILITAR E A EDUCAÇÃO BRASILEIRA A ditadura militar foi considerada uma das fases mais marcantes da educação brasileira e da vida nacional. Com o golpe de 1964, e os militares no poder, a educação torna-se antidemocrática. Professores foram presos, alunos massacrados pela polícia, universidades fechadas, a UNE (União Nacional dos Estudantes) fechada. Foi criado o vestibular classificatório neste período. É no período mais cruel da ditadura militar que qualquer expressão popular contrária aos interesses do governo era abafada, muitas vezes, pela violência física. Revista Litteris - Filosofia Julho de 2010 Número 5 Revista Litteris ISSN 1983 7429 www.revistaliteris.com.br Número 5 Foi instituída a Lei 5.692, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em 1971. A característica mais marcante desta Lei era tentar dar à formação educacional um cunho profissionalizante. Para a erradicação do analfabetismo foi criado o MOBRAL — Movimento Brasileiro de Alfabetização — aproveitando-se, em sua didática, do expurgado Método Paulo Freire. O MOBRAL se propunha a erradicar o analfabetismo no Brasil: não conseguiu. Devido às denúncias de corrupção acabou por ser extinto e, no seu lugar, criou-se a Fundação Educar. A sociedade brasileira, de um modo geral, não mais se contentava com o ―Terrorismo‖ adotado pelo regime militar e assim em 1985 cresce a sede pela democracia. ―Uma geração saída da luta contra o autoritarismo, que foi a geração que se rebelou nos anos sessenta e que, de certo modo, tinha razão, pois a prática das famílias e da sociedade em geral em quase todo o Ocidente (...), era uma prática que hoje nós estranharíamos muito, principalmente em relação às políticas de discriminação de minorias (negros, mulheres, homossexuais, indígenas, pobres etc.), não poderia exigir da escola outra coisa que não a liberdade e a felicidade. A ditadura militar durou até o ano de 1985, quando o povo brasileiro clamava por Liberdade, iniciando uma nova fase na agenda política do País. No entanto, não será possível fechar esse tópico sem antes darmos alusão à grande contribuição de Paulo Freire e a sua pedagogia da libertação. PAULO FREIRE E A PEDAGOGIA DA LIBERTAÇÃO ―No Brasil,entre os anos sessenta e o início dos anos oitenta (...) o movimento renovador do ensino, ou seja, o escolanovismo ganhou uma vertente especial que acabou até se desgarrando dele e se tornando um ideário educacional próprio: a pedagogia de Paulo Freire.‖ (GHIRALDELI, 2001, p.134)‖ Revista Litteris - Filosofia Julho de 2010 Número 5 Revista Litteris ISSN 1983 7429 www.revistaliteris.com.br Número 5 Freire fazia alusão à Educação, na década de sessenta, como um ensino bancário, em que se priorizava a metodologia do decorar e não do aprender. O próprio (Freire,1983) coloca: ―O educador faz ―depósitos‖ de conteúdos que devem ser arquivados pelos educandos‖. Desta maneira a educação se torna um ato de depositar, em que os educandos são os depositários e o educador o depositante. O educador será tanto melhor educador quanto mais conseguir ―depositar‖ nos educandos. Os educandos, por sua vez, serão tanto melhores educados, quanto mais conseguirem arquivar os depósitos feitos. (FREIRE, 1983, p. 66). Segundo FREIRE (1998), vivemos em uma sociedade dividida em classes, sendo que os privilégios de uns impedem que a maioria usufrua dos bens produzidos, e coloca como um desses bens produzidos e necessários para concretizar a vocação humana de ser mais, a educação, da qual é excluída grande parte da população. Refere-se, então, a dois tipos de pedagogia: a pedagogia dos dominantes, em que a educação existe como prática da dominação, e a pedagogia do oprimido3, que precisa ser realizada, na qual a Educação surgiria como prática da liberdade. FREIRE deduz que o movimento para a liberdade deve surgir e partir dos próprios oprimidos, do seu ―eu‖ e a pedagogia decorrente será ―aquela que tem que ser forjada ―com ele e não para ele”, enquanto homens ou povos, na luta incessante de recuperação de sua humanidade". Destarte vê-se que não é suficiente que o oprimido tenha consciência crítica da opressão, mas, que se disponha a transformar essa realidade; trata- se de um trabalho de conscientização e politização. Conforme FREIRE (1997): “A pedagogia do dominante é fundamentada em uma concepção bancária de Educação (predomina o discurso e a prática, na qual, quem é o sujeito da educação é o educador, sendo os educandos como vasilhas a serem preenchidas; eles tornam-se coisa, são reificados, o educador deposita "comunicados" que estes recebem, memorizam e repetem). 3 Pedagogia do Oprimido — um dos livros de Freire. Revista Litteris - Filosofia Julho de 2010 Número 5 Revista Litteris ISSN 1983 7429 www.revistaliteris.com.br Número 5 Disso deriva uma prática totalmente verbalizada, dirigida para a transmissão e avaliação de conhecimentos abstratos. Numa relação vertical, o saber é dado, fornecido de cima para baixo, e autoritária, pois manda quem sabe. O educando não é levado a pensar por si mesmo. ―Tal concepção afirmava ter o homem vocação para ―sujeito da história‖ e não para ―objeto‖, mas no caso brasileiro esta vocação não se explicitava, pois o povo teria sido vítima do autoritarismo e do paternalismo correspondente à sociedade herdeira de uma tradição colonial e escravista. Fazia-se necessário — segundo tal concepção — romper com isso, ―libertar o homem do povo‖ de seu tradicional mutismo. A pedagogia deveria, então, forjar uma nova mentalidade, trabalhar para a ―conscientização do homem‖ brasileiro frente aos problemas nacionais e engajá-lo na luta política.‖ (GHIRARDELLI, 2001,p102) Dessa maneira, o educando em sua passividade, torna-se um objeto para receber paternalisticamente a doação do saber do educador, sujeito único de todo o processo. Esse tipo de educação pressupõe um mundo harmonioso, no qual não há contradições, daí a conservação da ingenuidade do oprimido, que como tal se acostuma e acomoda no mundo conhecido (o mundo da opressão) e, eis aí, a educação exercida como uma prática da dominação; como alguém destituído de qualquer saber e, por isso mesmo, destinado a se tornar depósito dos dogmas do professor. A ―educação bancária‖ foi resumida por Freire em vários de seus livros. Freire assim a caracteriza: 1. O professor ensina, os alunos são ensinados. 2. O professor sabe tudo, os estudantes nada sabem. 3. O professor pensa, e pensa pelos estudantes. 4. O professor fala e os estudantes escutam. 5. O professor estabelece a disciplina e os alunos são disciplinados. 6. O professor escolhe, impõe sua opção, os alunos se submetem. 7. O professor trabalha e os alunos têm a ilusão de trabalhar graças à ação do professor. 8. O professor escolhe o conteúdo do programa e os alunos — que não são consultados — se adaptam. Revista Litteris - Filosofia Julho de 2010 Número 5 Revista Litteris ISSN 1983 7429 www.revistaliteris.com.br Número 5 9. O professor confunde a autoridade do conhecimento com sua própria autoridade profissional, que ele opõe à liberdade dos alunos. Assim, para que haja mudança é preciso revolucionar. Nesses termos, usando-se das palavras de FREIRE (1987) tem-se: ―A revolução deve ser entendida como um processo, uma mudança democrática e não apenas como uma ruptura. A revolução é um processo político pedagógico de transformação, que requer reconstrução do poder em novas formas de relação. ―A revolução que deve ocorrer é uma grande ação cultural para a liberdade, realizada pelo povo (Freire, 1987).‖ A partir do ano de 1985, o Brasil fica livre da ditadura militar, o povo clama por ―DIRETAS JÁ‖, é promulgada a nova constituição em 1988 , e conseqüentemente, a tão sonhada democracia. Eleito pelo voto direto Fernando Collor de Mello é deposto do cargo, acusado de corrupção, culminando em Impeachment. Logo após, sendo substituído pelo Vice, Itamar Franco. Na seqüência, mais uma eleição, assumindo o poder Fernando Henrique Cardoso, tendo uma reeleição e, enfim, Luis Inácio Lula da Silva. Um marco importante foi a promulgação da Constituição de 1988, que traz como lema: ―Constituição Cidadã‖ ―O Brasil ganhou uma nova Constituição em 1988. Certamente uma das mais avançadas quanto a direitos sociais, se comparada com as anteriores. Durante o processo de elaboração da nova Constituição, em todos os setores, houve debates, pressões, movimentos populares, movimento de bastidores das elites e grupos corporativos etc., para verem seus interesses defendidos na Carta Magna. A educação não fugiu dessa regra‖. GHIRALDELLI (2001,134). A Educação é referida em muitos artigos constitucionais, além de ter seu lugar próprio, ou seja, ela também se insere, junto à saúde, à previdência, ao trabalho, ao lazer, à segurança, à previdência social, à proteção à maternidade, Revista Litteris - Filosofia Julho de 2010 Número 5 Revista Litteris ISSN 1983 7429 www.revistaliteris.com.br Número 5 à infância e à assistência aos desamparados. Também no capítulo sobre a família, a criança, o adolescente e o idoso. Destarte Capitulo III art.205: ―Art. 205 A Educação, direito de todos e de dever do Estado e da família, será promovida e incentivada coma colaboração da sociedade, visando ao plenodesenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho‖. No entanto, afirma GHIRARDELHI (2001), que o governo FHC foi o que mais gerou planos e programas para a Educação. Mas, não para a erradicação do analfabetismo. Em sua política educacional: ―O número de frentes de programas educacionais abertos pelo governo FHC foi enorme. Aqui, voltamos os olhos, agora, para uma inovação importante que surgiu com a LDBN de 1996: a criação do Curso Normal Superior. Pela Lei (9.394), foram criados o Curso Normal Superior e os Institutos Superiores de Educação.‖ GHIRARDELHI (2001, 196). Conforme o autor, citado anteriormente, entre as políticas e programas do governo FHC foi criado o FUNDEF — Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério — é o carro chefe da propaganda do governo FHC na educação. Ele cria uma subvinculação no orçamento da educação destinado ao ensino fundamental e será distribuído entre cada Estado e seus municípios, proporcionalmente ao número de alunos das respectivas redes do ensino fundamental. Nesta mesma gestão governamental foi criado ainda O ENEM — Exame Nacional do Ensino Médio, o Bolsa-escola para famílias de baixa renda manterem seus filhos na escola entre outros programas. PAS — PROGRAMA DE ALFABETIZAÇÃO SOLIDÁRIA Revista Litteris - Filosofia Julho de 2010 Número 5 Revista Litteris ISSN 1983 7429 www.revistaliteris.com.br Número 5 O programa de alfabetização solidária foi desenvolvido em 1997 na gestão do então ministro da Educação, Paulo Renato de Souza, em parceria criada com o Conselho de Comunidade Solidária. As ações são desenvolvidas com a participação de instituições, ONGs, universidades, empresas, onde o intuito é diminuir o grau de analfabetismo no país. Tendo como princípio a erradicação de analfabetismos nas áreas de concentração do norte e nordeste. ―(...) ao longo da sua trajetória o PAS cresceu continuamente e alcançou também municípios interioranos e das zonas metropolitanas das regiões centro este e sudeste. Em 2000 a metodologia do Programa foi levada ao Timor Leste e, a partir de 2002 também a países africanos de língua portuguesa como Angola, Cabo Verde, Moçambique e São Tomé e Príncipe. (...)‖ (DI PIERRO e GRACIANO, 2003, p. 30). No entanto, no governo Lula podem ser apontadas propostas de políticas e programas que acrescem e/ou inovam em relação às políticas do governo FHC. O governo Lula não trouxe nada de inovador, mas ampliou e consolidou propostas do Governo anterior. Destarte, pode-se dizer que se deu prioridade ao enfrentamento do analfabetismo por meio do PROGRAMA BRASIL ALFABETIZADO4 . Embora as políticas e programas para a Educação traçadas em todos os níveis da educação brasileira, na gestão dos dois últimos presidentes, contemplem-se, a qualidade da educação a ser ofertada foi, justamente, a viabilização de acesso. 4 O programa responde às propostas do FUNDEB, resultantes da discussão governamental; que se alimentam na realização de concursos públicos para preenchimento de vagas de professores e funcionários para universidades federais e a proposta da ampliação de seu número, bem como: da política de cotas; do ensino fundamental de nove anos, da inclusão digital para todos, e a proposta do ensino fundamental. Já na área do ensino superior, o PROUNI (Programa Universidade para Todos), destaca-se como o maior programa de bolsa de estudos da história da educação brasileira, possibilitando acesso de jovens à educação. Revista Litteris - Filosofia Julho de 2010 Número 5 Revista Litteris ISSN 1983 7429 www.revistaliteris.com.br Número 5 Todavia, apesar dos ganhos no que se refere a esse aspecto, o problema com que se defronta a Educação brasileira, há décadas, ganha contornos dramáticos na contemporaneidade. Acrescenta-se a isso às grandes desigualdades sociais, permeados pelo fator sócio econômico e que veio se agravando com a política Neoliberal, tendo altos índices de desemprego, e na grande demanda de pessoas sem acesso á saúde, educação e moradia. Fatores, que cresceram juntos e que ainda persistem. ―Assim se o reconhecimento oficial deste país ser um pais injusto sinaliza a necessidade de se articular a questão da pobreza com a da desigualdade social, isso significa, em tese, associar às políticas de combate à pobreza a formulação de políticas voltadas para a superação da pobreza.Em principio, portanto, o que está em jogo é associar a questão da superação da pobreza a medidas de caráter redistributivo, de transferência de renda, de transferência indireta, por meio de políticas sociais efetivamente redistributivas , e não meramente compensatórias das desigualdades sociais. (COHN,2003,144). Nesse sentido, no tópico a seguir será abordado a questão do programa Brasil Alfabetizado. PROGRAMA PARANÁ ALFABETIZADO — REALIDADE DO ANALFABETISMO NO PARANÁ Segundo dados da UNESCO (2000), há a existência ainda de 880 milhões de pessoas jovens e adultas analfabetas, dos quais 2/3 são mulheres. Em termos de Brasil, estamos no 73º no ranking mundial. O Estado do Paraná ocupa a 7ª posição de analfabetismo entre os 24 Estados brasileiros, possuindo atualmente cerca de 540 mil pessoas com 15 anos ou mais na situação de analfabetismo absoluto, correspondendo a 7,1% da população paranaense com 15 anos ou mais (PNAD, 2005). No ano 2000, Revista Litteris - Filosofia Julho de 2010 Número 5 Revista Litteris ISSN 1983 7429 www.revistaliteris.com.br Número 5 649 mil jovens, adultos e idosos se auto-declararam não alfabetizados, correspondendo a 9,5% da população paranaense com 15 anos ou mais (IBGE, 2000). No Paraná, 1/4 da população com 15 anos ou mais, enquadra-se nos índices de analfabetismo funcional (inferior a 4 séries concluídas), ou seja, 25,4%. Cerca de 70% da população brasileira e paranaense não alfabetizada com 15 anos ou mais é constituída por mulheres. O Programa Paraná alfabetizado faz parte do programa do Governo Estadual desenvolvido em parceria com o MEC (Ministério da Educação) Programa Nacional — Brasil Alfabetizado — do Governo Federal, no intento de se alfabetizar jovens, adultos e idosos. Ressalta-se, ainda, que este programa teve inicio em 2004/2005 e no ano de 2009 se encontrava na sua 5ª edição. O programa atende a jovens de 15 anos ou mais, adultos e idosos, que nunca tiveram acesso a alfabetização. Nesse sentido, as pessoas interessadas podem procurar em sua comunidade, escola mais próxima, ou nos NRE, para se inscrever.5 CONHECENDO A REALIDADE DO PROGRAMA PARANÀ- ALFABETIZADO NO MUNICÍPIO DE PONTA GROSSA — PR O universo pesquisado configurou-se na escolha do coordenador local do Programa Paraná Alfabetizado em Ponta Grossa-PR, em entrevista semi- estruturada. Vale ressaltar que a entrevistada, professora Sandra Inglês, relatou as fases do programa em Faxinal do Céu e em alguns bairros participantes no município de Ponta Grossa – PR. 1- Pergunta: Como é este processo da alfabetização? Quem são os atores sociais que participam? 5 Dados retiradosdo site http://www.diaadia.pr.gov.br/paranaalfabetizado/ Revista Litteris - Filosofia Julho de 2010 Número 5 Revista Litteris ISSN 1983 7429 www.revistaliteris.com.br Número 5 Resposta: É um programa do governo Federal e Estadual, onde há a participação da sociedade civil, mobilizando os educandos, os educadores, e quem está envolvido no processo. Nesse sentido coloca Freire: ―É por isso que não há verdadeiro bilingüismo, muito menos multilingüismo, fora da multiculturalidade e não há esta como fenômeno espontâneo, mas criado, produzido politicamente, trabalhado, as duras penas, na história... É a criação histórica que implica decisão, vontade política, mobilização, organização de cada grupo cultural com vistas a fins comuns. Que demanda, portanto, certa prática educativa coerente com esses objetivos. Que demanda uma nova ética fundada no respeito às diferenças‖. (FREIRE, 1997, p.157). Assim, a educação popular defendida por Freire é aquela que persegue o sonho da construção de uma sociedade: (...) reinventando-se sempre com uma nova compreensão do poder, passando por uma nova compreensão da produção, uma sociedade em que a gente tenha gosto de viver, de sonhar, de namorar, de amar, de querer bem. Esta tem que ser uma educação corajosa, curiosa, despertadora da curiosidade, mantenedora da curiosidade. (FREIRE, 2001, p.101). 2- Pergunta: Como é feito este trabalho? Como os educadores chegam aos educandos? Resposta: Toda proposta do programa é voltada para a pedagogia de Paulo Freire. Os educadores procuram à escola mais próxima, ou paróquia, ou rádio onde é divulgado para quem quer participar. Muitas vezes, eles vão até as casas das pessoas que não tem alfabetização. Essa chamada é feita boca- a-boca. Então eles vêm e começam a se alfabetizar. Desta maneira percebe-se que é respeitada a vontade do educando: ―É preciso assumirmos a realidade democrática para a qual não basta reconhecer-se, alegremente, que nesta ou naquela sociedade, o homem e a mulher são de tal modo livres que têm o direito de até de Revista Litteris - Filosofia Julho de 2010 Número 5 Revista Litteris ISSN 1983 7429 www.revistaliteris.com.br Número 5 morrer de fome ou de não ter escola para seus filhos e filhas ou de não ter casa para morar. O direito, portanto, de morar na rua, o de não ter velhice amparada, o de simplesmente não ser. ―(FREIRE, 1997, p. 157)‖. 3- Pergunta: Qual a didática utilizada pelo educador? Resposta: Nós temos no programa todo o aparato de materiais necessários para serem utilizados durante o processo de alfabetização (para o educando: livro, cartilha, uma pasta contendo caderno, lápis, giz de cera, além de material para atividades lúdicas e para o educador todo o material de apoio). Os educadores trabalham com o portfólio, que seria a escrita espontânea vinda deles (estudantes), com música. Privilegiando muito a cultura brasileira. Enfim, muitas das atividades surgem dos próprios alunos, dos interesses comuns. Em Faxinal do Céu, é usado muito para a interação grupal as historias de vida dos discentes. 4- Pergunta: E como os alunos se sentem? Quais as dificuldades? Resposta: Eles participam, não há muita evasão. Já que são eles quem motivam o aprender. Há alguns que têm mais dificuldade de aprendizado. ―Assim, diante dessas reflexões sobre as concepções de educação popular, observa-se que os projetos na atualidade precisam buscar uma saída teórico-prática que respondam aos desafios e as possibilidades postas pelas novas configurações humano-sociais em diferentes formas de Estado: Precisam tornar-se projetos atrelados à busca de realizações de novas relações sociais, pautadas em outros fundamentos. Podem estar voltadas à construção de um novo estilo de vida. Elas parecem ter significado à medida que sejam conduzidas a processos que mantenham o humano como centro dessas realizações e o trabalho impulsionador de sua emancipação, assegurando a existência da própria vida humana resultante de sua intervenção na natureza.‖ (MELO NETO, 2004, p.85). 5- Pergunta: Existe alguma forma de avaliação? Revista Litteris - Filosofia Julho de 2010 Número 5 Revista Litteris ISSN 1983 7429 www.revistaliteris.com.br Número 5 Resposta: Não existem as formas de avaliação das escolas convencionais, do estilo nota, prova, porque o objetivo são os primeiros passos: ler e escrever. A avaliação dos alfabetizandos é feita pelos alfabetizadores através da produção de um texto de cada alfabetizando, em cada mês e durante o processo de aprendizagem. Depois, há um parecer do alfabetizador acerca do desenvolvimento do educando. A avaliação do educando deverá contemplar aspectos da oralidade, leitura, escrita da língua portuguesa. Também deve considerar seu envolvimento no espaço da alfabetização, o uso social da escrita e sua participação em outros espaços sociais, culturais e políticos. A resposta reforça a real idéia de Freire, quando fez uma das primeiras criticas à educação convencional, ou seja, ao paradigma da educação bancária. ―Na concepção ―bancária‖ que estamos criticando, para a qual educação é o ato de depositar, de transferir, de transmitir valores e conhecimentos, não se verifica nem pode verificar-se esta superação. Pelo contrário, refletindo a sociedade opressora, sendo dimensão da ―cultura do silêncio‖ a ―educação‖ ―bancária‖ mantém e estimula a contradição.‖ (FREIRE, 1987, p. 59). 6- Pergunta: Qual é o perfil do educador? Ele é um educador técnico (Pedagogo), ou um educador comunitário com ensino médio? Resposta: Pode participar quem tem o ensino médio e quem tem ensino superior, mas a grande maioria dos educadores tem magistério. E algum tem curso universitário. Nesse sentido salienta FREIRE (2001) ―(...) a prática educativa progressista e pós-moderna (...) é a que se funda no respeito democrático ao educador como um dos sujeitos do processo, é a que tem no ato de ensinar – aprender um momento Revista Litteris - Filosofia Julho de 2010 Número 5 Revista Litteris ISSN 1983 7429 www.revistaliteris.com.br Número 5 curioso e criador em que os educadores reconhecem e refazem conhecimentos antes sabidos e os educandos se apropriam, produzem o ainda não sabido. É a que desoculta verdades em lugar de escondê-las.‖ (FREIRE, 2001, p.159). 7- Pergunta: E ao final desse primeiro processo, os educandos recebem diploma, alguma certificação? Resposta: Sim, após oito meses, tempo estipulado para o período de alfabetização, eles recebem certificado de conclusão do curso. Mas não há validade de um diploma escolar. 8- Pergunta: Então, eles têm o certificado. E depois se houver interesse de algum educando em continuar, qual o caminho a ser seguido? Resposta: Assim que eles terminam o curso, se houver interesse, eles nos procuram e então são encaminhados para outro programa da prefeitura, como o EJA6 9- Pergunta: Como ocorre a avaliação do trabalho como um todo? Resposta: Reuniões semanais ou quinzenais de formação continuada a serem organizadas e desenvolvidas pela coordenação local de onde é realizadaas atividades, com carga horária de 8 horas/mês, sendo obrigatória a participação dos alfabetizadores; com visitas semanais ou quinzenais da coordenação local para contatos com alfabetizadores e alfabetizandos, sendo que há orientações e avaliação do processo. Quanto aos números ou mesmo à esperança de um processo de erradicação do analfabetismo em Ponta Grossa, Sandra Inglês coloca que 6 EJA - ALFABETIZAÇÃO de JOVENS e ADULTOS. Revista Litteris - Filosofia Julho de 2010 Número 5 Revista Litteris ISSN 1983 7429 www.revistaliteris.com.br Número 5 ainda não podemos avaliar como um todo, pois os processos e desafios para se chegar a total erradicação do analfabetismo no país são grandes. Segundo dados do NRE Ponta Grossa - PR, o número de analfabetos chega a aproximadamente 9.000 (nove mil) pessoas. Numa análise do total de 300.000 (trezentos mil) habitantes, esse número não se apresenta como um fator agravante. Tomados como comparativos outras regiões dos País no caso do Nordeste, Ponta Grossa pode ser uma das primeiras cidades a sair das condições de analfabetismo no Paraná. Nesse sentido, pode-se dizer que foram alcançados os objetivos aqui propostos. Podendo-se concluir que o analfabetismo no Brasil é conseqüência não só da exclusão sócio-econômica, mas está intrínseco diante dessa causa a questão sócio cultural. Como se viu na passagem bibliográfica, os brasileiros desde o descobrimento até os dias atuais tiveram sua educação negada, por grupos dominantes. Percebe-se que erradicar o analfabetismo brasileiro demanda tempo e mais que isso, é um desafio. Os atores sociais não são escolhidos por questão desta ou daquela condição sócio-econômica, não sendo deste ou daquele Estado, nem tendo esta ou aquela posição social, e sim os educando, para se construir o futuro de uma educação justa e igualitária. ―A desumanização, que não se verifica apenas nos que têm sua humanidade roubada, mas também, ainda que de forma diferente, nos que a roubam, é distorção da vocação do ser mais... na verdade, se admitíssemos que a desumanização é vocação histórica dos homens, nada mais teríamos que fazer, a não ser adotar uma atitude cínica ou de total desespero. A luta pela humanização, pelo trabalho livre, pela desalienação, pela afirmação dos homens como pessoas, como ―seres para si‖, não teria significação. Esta somente é possível porque a desumanização, mesmo que um fato concreto na história, não é, porém, destino dado, mas resultado de uma ―ordem‖ injusta que gera a violência dos opressores e esta, o ser menos.‖ (FREIRE, 1988) Revista Litteris - Filosofia Julho de 2010 Número 5 Revista Litteris ISSN 1983 7429 www.revistaliteris.com.br Número 5 CONCLUSÂO Neste sentido para falar do analfabetismo no Brasil e compreendê-lo é preciso buscar a sua História. Os referenciais bibliográficos trouxeram o conhecimento da Educação brasileira desde a era colonial até os dias de hoje. E a educação, a princípio, aconteceu de forma nefasta e obrigatória, uma educação étnica imposta onde alquebrou as condições do negro e do índio, que não puderam se desenvolver como seres humanos, e que, muitas vezes, essas condições são refletidas nos dias atuais. A educação aparece, também, como a grande mentora das atrocidades dirigidas às classes menos favorecidas — pela opressão, ditadas por práticas antigas alicerçadas agora pelo poder sócio econômico. Ao discutir os meios que muitos tiveram para se chegar à exclusão e ao analfabetismo, conforme pesquisa bibliográfica, a pesquisa qualitativa proporcionou uma ampla visão da realidade, fazendo a ligação teoria-prática. E, através das entrevistas realizadas, pode-se perceber a realidade do analfabetismo no Brasil. Neste contexto, procurou-se trabalhar as representações sociais, e de como elas se projetam na sociedade, seus valores, suas opiniões. Notou-se, ainda, que, muitas vezes, pelo fato do educador ir até a casa das pessoas não alfabetizadas, gera uma consciência política a partir do ser, ou seja, não da educação bancária, mas mediada, respeitando-se a sua vontade. Percebe-se, ainda, através da pesquisa de campo, que o Programa Paraná Alfabetizado quanto à sua efetivação, não está apenas nos livros e sim numa relação da práxis não ―para ele, mas sim com ele‖ como dizia Freire. O programa cumpre com suas metas e definições. Pode-se afirmar que é de grande desafio a erradicação do Analfabetismo no Brasil, tanto para os educadores quanto para os educandos. Revista Litteris - Filosofia Julho de 2010 Número 5 Revista Litteris ISSN 1983 7429 www.revistaliteris.com.br Número 5 As lutas e sonhos são um objetivo a alcançar e ver num futuro próximo um País justo e igualitário, através da educação do seu povo, onde estes possam tornar-se ―cidadãos do mundo‖ como se auto-denominava. (FREIRE, 1997). REFERÊNCIAS BRASIL. CAPÍTULO III. DA EDUCAÇÃO , DA CULTURA E DO DESPORTO. DA EDUCAÇÃO. Art. 205. diário Oficial [da] Republica Federativa do Brasil. Brasília, DF.Seção 1. pt. 1. CASTANHO, Sérgio E. M. 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