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NOÇÕES GERAIS SOBRE A MEDIAÇÃO DE CONFLITOS Mônica Carvalho Vasconcelos Advogada, Professora de Direito, Mestre em Direito Constitucional pela Universidade de Fortaleza e Doutoranda em Direitos Fundamentais pela Universidad Autónoma de Madrid 1. Introdução Uma das conseqüências da vida em sociedade é a proliferação de conflitos, os quais fazem parte da natureza humana e são necessários para o aprimoramento das relações interpessoais. O grande desafio é aproveitar o potencial educativo dessas situações, a partir de uma administração adequada, que utilize o diálogo pacífico, capaz de converter situações adversas em verdadeiras oportunidades de crescimento, de amadurecimento. Ao longo de sua história, a humanidade vem aperfeiçoando mecanismos de solução de conflitos. No centro desses sistemas permanece o Poder Judiciário, garantindo a prestação jurisdicional do Estado, estabelecida nas respectivas Constituições. Entretanto, em virtude de inúmeros fatores, constata-se a dificuldade de tal Poder para oferecer soluções eficazes e rápidas a determinados conflitos da sociedade. Com o intuito de aperfeiçoar a promoção da justiça, estão surgindo mecanismos alternativos de solução de conflitos, que atualmente representam peça fundamental no novo modelo de justiça. O próprio Poder Judiciário está incentivando a utilização destes mecanismos, a exemplo do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia, que criou o Projeto “Balcão de Justiça e Cidadania” em 2003. Através da mediação e da conciliação, os Balcões oferecem uma justiça menos formal, mais barata e eficaz, sobretudo às comunidades carentes, possibilitando uma participação ativa dos cidadãos na solução de seus conflitos. A finalidade desta apostila é ressaltar de maneira objetiva os aspectos principais da mediação de conflitos, tema relevante e atual, que vem ganhando ampla repercussão em todo o mundo. 2. Quais são os principais mecanismos de solução de conflitos? Antes de tercemos considerações a respeito da mediação propriamente dita, é indispensável abordar as principais formas de solução de conflitos utilizadas na atualidade. Existem duas modalidades de resolução de disputas: a autocomposição e a heterocomposição. Os procedimentos autocompositivos são aqueles em que a solução, mesmo que haja auxílio de um terceiro, é encontrada pelas próprias partes envolvidas no problema, as quais decidem os termos do acordo celebrado. São exemplos de autocomposição: negociação, conciliação e mediação. Os procedimentos heterocompositivos, por sua vez, consistem naqueles em que a resolução é determinada por um terceiro: arbitragem e o Poder Judiciário. Serão analisadas as diferenças e semelhanças existentes entre a mediação de conflitos e esses outros meios extrajudiciais. 2.1 Mediação e negociação A negociação é bastante comum na vida cotidiana dos indivíduos, uma vez que negociamos a todo instante nossos interesses pessoais a partir de um diálogo direto com outras pessoas, sem interferência de um terceiro. Deste modo, a negociação representa, muitas vezes, um passo anterior às outras formas de solução de conflitos. Caso não seja possível a realização de um acordo, as partes recorrem a outros mecanismos, buscando um terceiro para auxiliá-las (mediação e conciliação) ou para decidir por elas (arbitragem e Judiciário). 2.2 Mediação e conciliação É bastante comum a confusão entre os institutos da mediação e da conciliação. Apesar de semelhantes, existem diferenças fundamentais entre tais instrumentos, que distinguem seus métodos e suas finalidades. A principal diferença entre mediação e conciliação consiste na natureza do conflito a que cada método é adequado. A conciliação é aplicada de maneira mais eficiente nos conflitos eventuais, ou seja, naqueles em que não existe relacionamento entre as partes, como uma batida de carros por exemplo. Nesta situação, as pessoas não se conhecem antes do conflito e provavelmente não precisarão conviver após sua solução. A finalidade da conciliação é a consecução do acordo, evitando que este problema se estenda ao longo do tempo. Por outro lado, a mediação é mais bem aplicada às disputas em que existem vínculos entre as partes, principalmente nas relações continuadas, em outras palavras, naquelas situações em que existe um relacionamento anterior ao conflito entre os participantes, que provavelmente terão que, de algum modo, se relacionar no futuro, tais como nas relações de família ou entre vizinhos. Nesses conflitos, geralmente, existe uma carga emocional que dificulta a negociação pacífica e racional, uma vez que envolve sentimentos como raiva, vingança, traição, entre outros. Por isso, além do acordo, a mediação também objetiva a reestruturação de tal relacionamento, possibilitando que as partes sejam capazes de desenvolver uma comunicação pacífica, a partir do adequado tratamento dispensado às emoções das partes. Outra diferença importante entre mediação e conciliação consiste na atuação do terceiro que intervém no conflito. Na conciliação, existe o conciliador, que deve orientar a negociação para convencer as partes a chegarem a um acordo que, mesmo não sendo totalmente satisfatório, poupe-as de complicações futuras. Assim, neste procedimento, o conciliador sugere soluções que ele julgue mais justas, agindo de maneira incisiva. O mediador não deve emitir sugestões, na verdade, com a utilização de técnicas especializadas, deve incentivar a criatividade dos mediados para que as possibilidades de acordo sejam ressaltadas por eles mesmos, ensinando-os a dialogar pacificamente. Isto porque, como já salientado, a mediação é melhor aplicada aos conflitos de natureza continuada e propõe uma reestruturação do relacionamento rompido. Quando os mediados participam ativamente da solução, eles são submetidos a reflexões sobre sua responsabilidade diante do conflito e, deste modo, o acordo é mais facilmente cumprido, tendo em vista que a solução não foi imposta, e sim criada a partir dos interesses mútuos entre as partes. 2.3 Mediação e arbitragem A mediação distingue-se da arbitragem em vários aspectos. Primeiramente, perceba- se que na mediação existe a figura do mediador, servindo como pacificador e canal de discussão, não interferindo nas decisões a serem tomadas, apenas auxiliando as partes. A mediação não se pauta pela lógica ganhador-perdedor, posto que não deve existir vencedores nem vencidos, ambos devem se sentir vitoriosos, já que o acordo deve ser mutuamente satisfatório. Na arbitragem, por sua vez, existe a figura do árbitro, o qual, esgotadas as tentativas de acordo, profere a decisão arbitral de força executiva judicial. É comum que dessa decisão resulte uma parte ganhadora da questão. A mediação é um procedimento informal, baseado na oralidade. Não exige rígidos meios de prova. A arbitragem, por outro lado, institui algumas formalidades, se assemelhando ao Poder Judiciário. A arbitragem destina-se à solução de conflitos patrimoniais, em outras palavras, que envolvem questões pecuniárias. No mundo atual, capitalista e globalizado em que vivemos, verifica-se o aumento considerável do número de Tribunais Arbitrais, inclusive no Brasil, pois as empresas necessitam de respostas rápidas e sigilosas para os conflitos advindos de seus contratos. Importa mencionar que a mediação ainda não possui legislação específica, apenas o Projeto de Lei n. nº4827, de 1998, de autoria da Deputada Zulaiê Cobra, ao passo que já foi editada a Lei de Arbitragem Brasileira – Lei 9.307-96. 3. Em que consiste a Mediação de conflitos? A mediação é um meio não adversarial de resolução de conflitos, em que um terceiro, competente, capacitadoe imparcial, denominado mediador, auxilia as partes, através de técnicas de comunicação, na busca de um acordo mutuamente satisfatório. Deste modo, percebe-se que o mediador não decide a solução final do problema, na verdade, são as próprias partes que têm o poder de decisão. Quando necessário, esses acordos são enviados ao Poder Judiciário para que haja sua homologação por um juiz, assim, o estado reconhece a validade do acordo firmado. 4. Quais os princípios que pautam a mediação de conflitos? A mediação possui os seguintes princípios: Liberdade das partes: Ao longo de todo o procedimento de mediação, são as partes que possuem autonomia. São elas que decidem resolver o conflito através deste procedimento, podendo interrompê-lo quando desejarem. Poder de decisão das partes: Este princípio está intimamente ligado à liberdade acima referida. Ao mediador não compete pôr fim à disputa, impondo uma solução. Este apenas facilita o diálogo, para que os participantes consigam dimensionar e expor seus interesses, celebrando um acordo ou não. Os termos deste acordo são discutidos e decididos conjuntamente entre eles, que possuem poder de decisão. Não competitividade: A mediação propõe um novo paradigma, afastando a cultura do litígio e introduzindo a cultura da cooperação. Da celebração de um acordo não deve resultar um ganhador e um perdedor. Na verdade, ambos devem se sentir satisfeitos com a solução encontrada. O melhor acordo é aquele em que ambos saiam ganhando e ambos saiam perdendo, o que significa que as duas partes abriram Mão de suas pretensões iniciais em nome de um acordo verdadeiramente justo. Imparcialidade do mediador: Para que haja imparcialidade, o mediador deve ser independente. Deste modo, não pode existir qualquer conflito de interesses ou relacionamento capaz de afetar sua imparcialidade. Além disso, o mediador deve procurar compreender a realidade dos mediados, sem que nenhum preconceito ou valores pessoais venham a interferir no seu trabalho. Durante a condução do processo o mediador deve se preocupar em possibilitar iguais oportunidades aos mediados. Credibilidade do mediador: O Mediador deve construir e manter a credibilidade perante as partes, sendo independente, franco e coerente. Para uma mediação bem sucedida, é essencial que este profissional adquira a confiança dos participantes. Competência do mediador: A competência consiste na capacidade para efetivamente mediar a controvérsia existente. Por isso, o mediador somente deverá aceitar tal tarefa quando apresentar as qualificações necessárias, participando constantemente de cursos de capacitação relacionados a esta atividade. Informalidade do processo: Não existe uma única forma predeterminada para a realização da mediação, que pode variar de acordo com as situações apresentadas. A informalidade confere simplicidade e celeridade ao método da mediação, visto que não existem rígidos procedimentos a serem observados e o procedimento é marcado pelo traço da oralidade. Confidencialidade do processo: Os fatos, situações e propostas ocorridas durante a mediação são sigilosas e privilegiadas. Aqueles que participarem do processo devem obrigatoriamente manter o sigilo sobre todo conteúdo a ele referente, desde que não contrarie a ordem pública. Boa-fé das partes: A mediação depende da boa fé dos mediados. As partes devem estar verdadeiramente interessadas em falar e ouvir de forma sincera, objetivando a solução do problema. Por mais capacitado que seja o mediador, se os conflitantes não estiverem com boa vontade, será difícil o sucesso da sessão, tendo em vista que são os mesmos que possuem autonomia neste procedimento. Igualdade de condições de diálogo entre as partes: Muitas vezes, um mediado é manipulado ou coagido pelo outro. O mediador deve permanecer atento para interromper a sessão e alertar que um acordo celebrado dessa maneira é frágil e não produz eficaz resultado. Em se tratando de conflitos cujas partes são nitidamente desiguais (existe um pólo mais fraco que o outro), tais como as relações de consumo, o tratamento do mediador também deve ser diferenciado, no intuito de manter o equilíbrio da relação na mediação e sua imparcialidade. 5. Quais são os objetivos da mediação de conflitos? Acordo: A mediação possui diversos e interligados objetivos, à primeira vista, pode-se pensar que a única prioridade seja a celebração do acordo, mas, na realidade, suas finalidades vão além. A mediação objetiva pacificar o conflito, possibilitar a reorganização da relação rompida, restabelecer a comunicação cooperativa entre as partes, por isso, é adequada à solução dos conflitos provenientes de relações continuadas, as quais necessitam subsistir aos problemas. Visão positiva do conflito: A mediação incentiva uma visão positiva das situações adversas, fazendo com que os mediados tenham uma noção de conflito como algo natural, necessário e como uma possibilidade de crescimento. Desta forma, as pessoas administram os problemas com mais naturalidade, o que facilita a realização do acordo. Inclusão Social: A mediação, por vários aspectos, constitui um instrumento de inclusão social, uma vez que aumenta a autodeterminação e a responsabilidade dos mediados. Através deste procedimento, os indivíduos passam a ter voz ativa na coletividade e a participar de forma mais atuante, tanto das decisões de seus próprios conflitos, quanto dos conflitos da comunidade, tendo em vista que promove uma maior conscientização de direitos e deveres e fomenta o senso crítico dos cidadãos. Pacificação Social: Afirmar que a mediação é um instrumento de pacificação social, não significa dizer que ela objetiva o fim dos conflitos. Na verdade, este procedimento promove uma maior paz, na medida em que ensina uma forma adequada de solução de disputas por meio do diálogo. Prevenção da má administração dos conflitos: Através da mediação, os indivíduos aprendem uma forma adequada de administrar as disputas interpessoais. Assim, quando surge uma nova situação conflitiva, as pessoas passam a administrar melhor suas querelas, de maneira mais amigável. 6. Como é realizado o processo de mediação? Não existe uma única seqüência de atos para mediar. A mediação possui inúmeras formas procedimentais, tendo em vista tratar-se de um processo informal e interdisciplinar. Nesse sentido, o procedimento da mediação deve ser flexível, contemplando as necessidades de cada caso e observando os interesses dos assistidos. Por isso, pode-se dizer que esse procedimento deve ser livre de rituais e demarcações excessivas. Entretanto, o desenvolvimento dos estudos sobre formas de aperfeiçoar técnicas, capazes de favorecer a realização de acordos, resultou na criação de um modelo de processo que tem mostrado importantes resultados na prática. Para exemplificar o processo de mediação, será analisado o modelo criado por Juan Carlos Vezzula, que descreve as etapas mais importantes da mediação: A primeira etapa é fundamental e consiste na apresentação do mediador e do procedimento da mediação. O mediador deve explicar de forma objetiva em que consiste a mediação, a partir dos seus princípios, esclarecendo, sobretudo, a liberdade e poder de decisão das partes. Nessa etapa, o mediador deve agradecer a presença das partes e frisar os pontos positivos da escolha por este meio pacífico de tratar problemas. Aqui, o mediador possui a difícil tarefa de conquistar a confiança dos mediados, lembrando-os de sua imparcialidade e do sigilo do procedimento. Outros aspectos a serem abordados nesse momento são: o respeito, a igualdade de oportunidades e os honorários (gratuita ou não). Assim, o mediador deve salientarque as partes terão iguais oportunidades para exporem seus pontos de vista, assegurando o respeito de cada uma delas. Deve ser ressaltada também, a importância da sinceridade e da escuta com atenção. Caso a mediação não seja comunitária, o mediador deve informar sobre os seus honorários e a forma de pagamento pelos mediados. Depois de certificada a inexistência de dúvidas, deve ser iniciada a segunda etapa, que se constitui na exposição dos problemas. Os próprios mediados decidem quem falará primeiro, advertidos de que o outro não deve fazer interrupções, escutando com atenção. Não é o momento do diálogo direto entre as partes. Uma deve falar, enquanto a outra deve escutar com atenção, na certeza de que esta terá a mesma oportunidade que foi concedida àquela. Nesse momento, o mediador deve se mostrar atento e compreensivo, dando importância não somente às palavras das partes, mas também às reações, estados emocionais, posturas e inflexões de voz. Como já ressaltado, o mediador também deve policiar suas emoções, para garantir a sua imparcialidade e a eficiência do processo. Em todo o procedimento, o mediador realiza uma escuta ativa dos problemas, ou seja, permanece atento para captar todas as linguagens, associando as verbais com as simbólicas e não verbais. O corpo realmente fala; as expressões demonstram sentimentos. A mediação tem grande aplicabilidade nos conflitos em que existem problemas na comunicação entre as pessoas. Por isso, o mediador deve conhecer técnicas para melhorar ou restabelecer essa comunicação. Alguns estudos ressaltam outras formas de aperfeiçoar a comunicação. Além da escuta ativa, o mediador deve utilizar técnicas de empatia, reflexão e feedback. A empatia significa colocar-se na situação da outra pessoa. O mediador deve sempre utilizar meios para que as pessoas busquem entender a realidade do outro, na medida em que se colocam diante da situação vivida pela outra parte do conflito. A reflexão consiste em reformular sempre a mensagem que foi recebida. O mediador precisa repetir o que foi dito pelas partes sem incluir um julgamento, apenas para testar o seu entendimento da mensagem. Com isso, os mediados terão maior possibilidade de compreensão dos fatos e dos interesses alheios. Por fim, é aconselhável ao mediador a utilização do feedback, que serve para otimizar a comunicação na medida em que as considerações são colocadas com o intuito de provocar uma reação na outra parte; um retorno. O terceiro estágio consiste no resumo e no primeiro ordenamento dos problemas. Depois de escutar cada uma das partes, o mediador faz um resumo, alertando os mediados de que devem esclarecê-lo de qualquer erro que cometa ou de qualquer ponto ainda controvertido. O objetivo desta síntese é reunir as versões numa só, com o intuito de demonstrar que o problema pode conter muito mais pontos positivos do que se pensa. Nessa hora, o mediador deve utilizar toda a sua imparcialidade e profissionalismo, separando as pessoas dos problemas e ressaltando os pontos de concordância. É fundamental que o ordenamento do conflito seja iniciado pelos pontos positivos e de solução mais rápida. Na quarta etapa, deve ser realizada a descoberta dos interesses ainda ocultos. Aqui, os ocultamentos e indefinições trazem as principais divergências e contradições. Através de perguntas, o mediador deve demarcar os pontos controversos, auxiliando as partes a vivenciarem o avanço do processo, na medida em que, inicialmente, são solucionadas as questões mais fáceis. As perguntas devem ser abertas, em outras palavras, devem exigir uma reflexão e não apenas a resposta sim ou não. Algumas perguntas são essenciais: Por quê? Como? O que você acha? O que você pode fazer para resolver o conflito? Qual a sua opinião? Qual a sua sugestão? O quinto estágio se caracteriza pelos denominados acordos parciais. Muitas vezes, para se chegar a esta fase, é necessário voltar às etapas anteriores, com a finalidade de apurar melhor as informações e as possibilidades de resolução do conflito. Neste quinto momento, começam a surgir as primeiras sugestões, devendo o mediador utilizar todas as técnicas para acrescentar opções a serem apresentadas pelos mediados. O mediador também deve auxiliar os envolvidos no problema a formularem conclusões realistas, que possam ser concretizadas. Na sexta e última etapa, pode ocorrer a consecução do acordo. O mediador deve agradecer a presença e a boa vontade dos mediados, relembrando que os efeitos da mediação bem sucedida devem ser estendidos ao longo do relacionamento. Certamente, a nova concepção de conflito os ajudará a resolver as desavenças futuras. O mediador deve redigir o acordo utilizando uma linguagem simples, compreensível. É importante o cuidado com a escrita dos dados que qualificam as partes, sob pena de nulidade. Uma vez concluído, o mediador deve ler em voz alta o acordo firmado, tirando todas as dúvidas que forem suscitadas. Dessa maneira, o processo de mediação se conclui de modo transparente, claro. Ressalte-se, por imperioso, que a mediação não possui apenas o supramencionado modelo de procedimento, podendo variar suas técnicas. Estas variações podem ocorrer dependendo da matéria a ser mediada, das partes, da formação do mediador e de quaisquer outros fatores externos que influenciem o andamento do processo. 7. Quais são as principais vantagens e quais as limitações da mediação de conflitos? A mediação apresenta várias vantagens para os que dela participam e para toda a sociedade. A principal delas é oferecer oportunidade para que as próprias partes construam a solução para o conflito que elas mesmas criaram. Trata-se de um processo muito eficaz, haja vista que não há melhor decisão do que a efetiva vontade das partes. Deste modo, os acordos celebrados são mais facilmente cumpridos, visto que partem dos próprios envolvidos. Ambas s partes são vencedoras, pois não deve existir um perdedor. Não se trata de culpar o outro. A finalidade é reconhecer a existência do problema, raciocinar de modo cooperativo para encontrar a solução e refletir sobre o que você pode fazer para modificar a situação. A mediação também é vantajosa porque possibilita uma solução rápida, poupando as partes do grande desgaste emocional que o tempo prolongado provoca. As partes também poupam economicamente, uma vez que o custo na mediação é bastante reduzido, e, em muitos casos, é gratuita, a exemplo do que ocorre nos Balcões de Justiça e Cidadania. Os benefícios da mediação estendem-se à sociedade de maneira geral. Isto porque incrementa a democracia, a cidadania ativa, pois confere autonomia aos indivíduos, incentivando a participação cidadã. Além disso, funciona como um mecanismo de pacificação social porque promove a cultura do diálogo e a paz. Esses efeitos são ainda mais perceptíveis na mediação comunitária. A aplicabilidade da mediação nas comunidades vem apresentando uma verdadeira transformação social, principalmente nos contextos que se caracterizam por uma grande desigualdade econômica, política e social entre os indivíduos a exemplo do Brasil. Estas desigualdades resultam na concentração de poder e controle por uma minoria, que exclui da dinâmica social a maior parte da população, que permanece desamparada em seus direitos. Na verdade, estes excluídos, privados de uma educação de qualidade, têm um déficit de conhecimento sobre seus direitos e deveres e sobre as regras do ordenamento jurídico vigente. Aproximar o direito das comunidades periféricas se apresenta como finalidade primordial para a integração dos indivíduos. Por isso, a mediação comunitária, a exemplo dos Balcões, se converte em instrumento de inclusão, contribuindopara a qualidade da atuação democrática do estado na pacificação dos conflitos sociais. A comunidade mediadora implica compartilhar um tempo, um espaço comum, onde as diferenças e os interesses são discutidos através de uma comunicação própria, inclusiva. Aqui se propõe um novo paradigma ético-político-existencial que pressupõe a criatividade social para a resolução dos conflitos, a qual deve estar ao alcance de todos e pode ser utilizada em qualquer contexto relacional, desde que não afronte o ordenamento jurídico vigente. É importante ressaltar que através da comunicação, o sujeito, além de ter uma experiência pessoa, tem uma experiência coletiva e histórica, mesmo sem se dar conta disso. Deste modo, a utilização da mediação nas comunidades ultrapassa a satisfação de interesses individuais, tornando-se importante instrumento de convivência coletiva e coesão social, de experiência democrática. Entretanto, a mediação não pode ser encarada como a solução para todos os conflitos. Ela também possui suas limitações, devendo estar de acordo com as leis pré- estabelecidas. Existem casos em que apenas o Poder Judiciário pode solucionar as disputas, sendo a presença do Estado indispensável, tais como a maioria dos conflitos penais. Uma das grandes limitações materiais da mediação está relacionada com a boa fé. A mediação, para ser bem sucedida, pressupõe boa fé de ambas as partes. Os mediados devem estar dispostos para assimilar os princípios da mediação, sobretudo para agir de modo solidário e verdadeiro. Infelizmente, em nossa sociedade, ainda predomina a arcaica mentalidade da cultura do litígio, em que às partes interessa obter vantagens - ganhar. Cumpre ressaltar que a mediação vem proporcionando grandes avanços na introdução de uma cultura de paz, contudo, não se pode negar que ainda resta um longo caminho a ser percorrido. Outra grande limitação material diz respeito à atuação do mediador. Este profissional deve estar capacitado de maneira contínua para a realização de mediações, uma vez que trabalha com as relações humanas. Sem a devida capacitação, corre-se o risco de o mediador interferir no mérito, realizando, dessa maneira, uma conciliação. Conscientizar os mediadores dessa necessidade constitui um dos grandes desafios dos estudiosos sobre o assunto. Por tratar-se de um mecanismo relativamente novo, a mediação ainda causa desconfiança e medo em algumas pessoas. Portanto, necessário se faz um trabalho sério de divulgação desse mecanismo, esclarecendo a população das vantagens auferidas, lembrando, contudo, que sua utilização deve estar em conformidade com o ordenamento jurídico vigente no país. 8. Quem pode ser mediador? O mediador é um profissional com formação e conhecimento adequados, responsável por conduzir o processo de mediação. Esse profissional possui a difícil tarefa de auxiliar os mediados na busca de uma solução mutuamente satisfatória, facilitando o diálogo e transformando o conflito. Desta forma, o mediador se diferencia de todos os que atuam em outros métodos de composição de conflitos. Tais diferenças podem ser observadas nos objetivos, na condução do procedimento, na forma que utiliza seus conhecimentos, e, sobretudo, no importante papel que assume frente aos mediados. Ressalte-se que as partes encontrarão na figura do mediador um grande aliado, alguém que acredita neles e os respeita. O mediador objetiva facilitar a comunicação entre os envolvidos no conflito, fazendo com que as pessoas consigam dialogar de forma solidária, expondo seus anseios e suas angustias. É imprescindível que o mediador conquiste a confiança e o respeito das partes para que se expressem com franqueza e sem medo, pois, geralmente, os discursos estão cheios de ideais, raivas, preconceitos e angústias. É comum clientes iniciarem a mediação com uma visão pessoal e parcial do problema, afirmando com veemência que a outra parte está errada. O mediador precisa utilizar técnicas de reflexão para introduzir uma visão integrada do conflito, fazendo com que as partes compreendam a necessidade do trabalho cooperativo. Com isto, os mediados alcançarão uma visão responsável e saberão melhor desempenhar seus papéis. Nessa difícil tarefa, o mediador precisa policiar-se constantemente para não perder sua imparcialidade, afinal, não são só as partes que possuem preconceitos, medos e idéias pré- estabelecidas. Além de agir com imparcialidade, o mediador deve preservar a confidencialidade da mediação, ou seja, os fatos, situações e propostas ocorridos durante a sessão devem ser mantidos em sigilo. Desse modo, o mediador não pode ser testemunha em um processo para revelar o que foi dito na mediação. O mediador também precisa policiar-se para desempenhar suas tarefas, de modo a satisfazer a vontade dos mediados em detrimento da sua. Tal atitude pode parecer frustrante, mas uma mediação bem sucedida é aquela em que o desejo das partes prevalece. Os mediadores podem ser considerados como verdadeiros agentes de cidadania, uma vez que é responsável por propiciar a cidadania aos que procuram a mediação, partindo do princípio de que a cidadania não está somente ligada ao conceito de cidadão – ser passível de direitos e deveres – e sim a algo maior, onde vale destacar a solidariedade e a participação. A mediação de conflitos tem por premissa básica a participação das pessoas envolvidas, já que são elas as detentoras do poder de decisão, estando diretamente ligada a essa idéia de resgate da cidadania. O mediador acaba adquirindo a função de agente de cidadania, já que é ele o responsável por criar um ambiente confortável para que as partes dialoguem. O diálogo ainda é a base para uma vida harmoniosa, sem futuras discussões, sem violência. A paz social também é alcançada quando se trata de estimular a escuta por parte do outro. Assim, ganha o mediador o caráter de pacificador social, já que utilizando suas técnicas de maneira correta incentiva a conversa sadia. Muito se discute acerca de quem pode ser mediador. Alguns profissionais do direito afirmam que só podem mediar os advogados, pois detêm o conhecimento dos direitos e deveres garantidos pelo Estado. Já alguns psicólogos garantem que sua profissão é mais adequada à solução de conflitos através da mediação. Na realidade, não é necessário que o mediador exerça quaisquer das profissões supramencionadas, até porque não pode prestar nenhum assessoramento legal ou tratamento psicológico, devendo atuar apenas como mediador. Para mediar, são indispensáveis o bom senso e a capacitação nas diversas técnicas que conjugam a mediação de conflitos. Certamente, os profissionais que têm no ser humano e na relação humana seu objeto de estudo, podem ter maior identificação com esse procedimento. De acordo com o projeto de lei que tramita atualmente no Congresso Nacional sobre mediação de conflitos, qualquer pessoa pode ser mediador. Esse projeto determina que os mediadores judiciais sejam advogados com pelo menos três anos de efetivo exercício da profissão jurídica, no entanto, não exclui a participação de outros mediadores filiados a instituições e entidades especializadas em mediação ou mediadores independentes, desde que inscritos no Cadastro de Mediadores que deverá ser criado e mantido pelo Tribunal de Justiça. Assim, para o crescimento dessa técnica, é necessário o empenho conjunto de advogados, psicólogos, psicanalistas, médicos, dentre outros. Tais profissionais precisam assumir uma posição de cooperação e não de competição, levando em consideração que, uma vez capacitado, qualquer indivíduo com bom senso e boa vontade pode ser mediador. 9. Bibliografia CEZAR-FERREIRA, VerônicaA. de Motta. Família, separação e mediação. Uma visão psicojurídica. 2. ed. São Paulo: Método, 2007. GANANCIA, Dalièle. Justiça e Mediação Familiar: Uma Parceria a serviço da Co-Parentalidade. Revista do Advogado, São Paulo, n. 62, p. 7-15, mar. 2001. GRUNSPUN, Haim. Mediação familiar. O mediador e a separação de casais com filhos. São Paulo: LTr, 2000. MUSZKAT, Malvina Ester. Dez anos de Pró-Mulher: matando o ovo da serpente. In: MUSZKAT, Malvina Ester (org). Mediação de conflitos: pacificando e prevenindo a violência. São Paulo: Summus, 2003 , p. 18-40. MUSZKAT, Susana. Novas práticas na abordagem de gênero e violência intrafamiliar. In: MUSTZKAT, Malvina Éster. (org) Mediação de conflitos: pacificando e prevenindo a violência. 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