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noções sobre mediação de conflitos

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NOÇÕES GERAIS SOBRE A MEDIAÇÃO DE CONFLITOS 
 
Mônica Carvalho Vasconcelos 
Advogada, Professora de Direito, Mestre em Direito Constitucional pela Universidade de 
Fortaleza e Doutoranda em Direitos Fundamentais pela Universidad Autónoma de Madrid 
 
1. Introdução 
Uma das conseqüências da vida em sociedade é a proliferação de conflitos, os quais 
fazem parte da natureza humana e são necessários para o aprimoramento das relações 
interpessoais. O grande desafio é aproveitar o potencial educativo dessas situações, a partir de 
uma administração adequada, que utilize o diálogo pacífico, capaz de converter situações 
adversas em verdadeiras oportunidades de crescimento, de amadurecimento. 
Ao longo de sua história, a humanidade vem aperfeiçoando mecanismos de solução 
de conflitos. No centro desses sistemas permanece o Poder Judiciário, garantindo a prestação 
jurisdicional do Estado, estabelecida nas respectivas Constituições. Entretanto, em virtude de 
inúmeros fatores, constata-se a dificuldade de tal Poder para oferecer soluções eficazes e 
rápidas a determinados conflitos da sociedade. 
Com o intuito de aperfeiçoar a promoção da justiça, estão surgindo mecanismos 
alternativos de solução de conflitos, que atualmente representam peça fundamental no novo 
modelo de justiça. O próprio Poder Judiciário está incentivando a utilização destes 
mecanismos, a exemplo do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia, que criou o Projeto “Balcão 
de Justiça e Cidadania” em 2003. Através da mediação e da conciliação, os Balcões oferecem 
uma justiça menos formal, mais barata e eficaz, sobretudo às comunidades carentes, 
possibilitando uma participação ativa dos cidadãos na solução de seus conflitos. 
A finalidade desta apostila é ressaltar de maneira objetiva os aspectos principais da 
mediação de conflitos, tema relevante e atual, que vem ganhando ampla repercussão em todo 
o mundo. 
2. Quais são os principais mecanismos de solução de conflitos? 
Antes de tercemos considerações a respeito da mediação propriamente dita, é 
indispensável abordar as principais formas de solução de conflitos utilizadas na atualidade. 
Existem duas modalidades de resolução de disputas: a autocomposição e a heterocomposição. 
Os procedimentos autocompositivos são aqueles em que a solução, mesmo que haja auxílio de 
um terceiro, é encontrada pelas próprias partes envolvidas no problema, as quais decidem os 
termos do acordo celebrado. São exemplos de autocomposição: negociação, conciliação e 
mediação. Os procedimentos heterocompositivos, por sua vez, consistem naqueles em que a 
resolução é determinada por um terceiro: arbitragem e o Poder Judiciário. Serão analisadas as 
diferenças e semelhanças existentes entre a mediação de conflitos e esses outros meios 
extrajudiciais. 
2.1 Mediação e negociação 
A negociação é bastante comum na vida cotidiana dos indivíduos, uma vez que 
negociamos a todo instante nossos interesses pessoais a partir de um diálogo direto com 
outras pessoas, sem interferência de um terceiro. Deste modo, a negociação representa, 
muitas vezes, um passo anterior às outras formas de solução de conflitos. Caso não seja 
possível a realização de um acordo, as partes recorrem a outros mecanismos, buscando um 
terceiro para auxiliá-las (mediação e conciliação) ou para decidir por elas (arbitragem e 
Judiciário). 
2.2 Mediação e conciliação 
É bastante comum a confusão entre os institutos da mediação e da conciliação. 
Apesar de semelhantes, existem diferenças fundamentais entre tais instrumentos, que 
distinguem seus métodos e suas finalidades. 
A principal diferença entre mediação e conciliação consiste na natureza do conflito a 
que cada método é adequado. A conciliação é aplicada de maneira mais eficiente nos conflitos 
eventuais, ou seja, naqueles em que não existe relacionamento entre as partes, como uma 
batida de carros por exemplo. Nesta situação, as pessoas não se conhecem antes do conflito e 
provavelmente não precisarão conviver após sua solução. A finalidade da conciliação é a 
consecução do acordo, evitando que este problema se estenda ao longo do tempo. 
Por outro lado, a mediação é mais bem aplicada às disputas em que existem vínculos 
entre as partes, principalmente nas relações continuadas, em outras palavras, naquelas 
situações em que existe um relacionamento anterior ao conflito entre os participantes, que 
provavelmente terão que, de algum modo, se relacionar no futuro, tais como nas relações de 
família ou entre vizinhos. Nesses conflitos, geralmente, existe uma carga emocional que 
dificulta a negociação pacífica e racional, uma vez que envolve sentimentos como raiva, 
vingança, traição, entre outros. Por isso, além do acordo, a mediação também objetiva a 
reestruturação de tal relacionamento, possibilitando que as partes sejam capazes de 
desenvolver uma comunicação pacífica, a partir do adequado tratamento dispensado às 
emoções das partes. 
Outra diferença importante entre mediação e conciliação consiste na atuação do 
terceiro que intervém no conflito. Na conciliação, existe o conciliador, que deve orientar a 
negociação para convencer as partes a chegarem a um acordo que, mesmo não sendo 
totalmente satisfatório, poupe-as de complicações futuras. Assim, neste procedimento, o 
conciliador sugere soluções que ele julgue mais justas, agindo de maneira incisiva. 
O mediador não deve emitir sugestões, na verdade, com a utilização de técnicas 
especializadas, deve incentivar a criatividade dos mediados para que as possibilidades de 
acordo sejam ressaltadas por eles mesmos, ensinando-os a dialogar pacificamente. Isto 
porque, como já salientado, a mediação é melhor aplicada aos conflitos de natureza 
continuada e propõe uma reestruturação do relacionamento rompido. Quando os mediados 
participam ativamente da solução, eles são submetidos a reflexões sobre sua responsabilidade 
diante do conflito e, deste modo, o acordo é mais facilmente cumprido, tendo em vista que a 
solução não foi imposta, e sim criada a partir dos interesses mútuos entre as partes. 
2.3 Mediação e arbitragem 
A mediação distingue-se da arbitragem em vários aspectos. Primeiramente, perceba-
se que na mediação existe a figura do mediador, servindo como pacificador e canal de 
discussão, não interferindo nas decisões a serem tomadas, apenas auxiliando as partes. A 
mediação não se pauta pela lógica ganhador-perdedor, posto que não deve existir vencedores 
nem vencidos, ambos devem se sentir vitoriosos, já que o acordo deve ser mutuamente 
satisfatório. 
Na arbitragem, por sua vez, existe a figura do árbitro, o qual, esgotadas as tentativas 
de acordo, profere a decisão arbitral de força executiva judicial. É comum que dessa decisão 
resulte uma parte ganhadora da questão. 
A mediação é um procedimento informal, baseado na oralidade. Não exige rígidos 
meios de prova. A arbitragem, por outro lado, institui algumas formalidades, se assemelhando 
ao Poder Judiciário. 
A arbitragem destina-se à solução de conflitos patrimoniais, em outras palavras, que 
envolvem questões pecuniárias. No mundo atual, capitalista e globalizado em que vivemos, 
verifica-se o aumento considerável do número de Tribunais Arbitrais, inclusive no Brasil, pois 
as empresas necessitam de respostas rápidas e sigilosas para os conflitos advindos de seus 
contratos. 
Importa mencionar que a mediação ainda não possui legislação específica, apenas 
o Projeto de Lei n. nº4827, de 1998, de autoria da Deputada Zulaiê Cobra, ao passo que já foi 
editada a Lei de Arbitragem Brasileira – Lei 9.307-96. 
3. Em que consiste a Mediação de conflitos? 
A mediação é um meio não adversarial de resolução de conflitos, em que um 
terceiro, competente, capacitadoe imparcial, denominado mediador, auxilia as partes, através 
de técnicas de comunicação, na busca de um acordo mutuamente satisfatório. Deste modo, 
percebe-se que o mediador não decide a solução final do problema, na verdade, são as 
próprias partes que têm o poder de decisão. Quando necessário, esses acordos são enviados 
ao Poder Judiciário para que haja sua homologação por um juiz, assim, o estado reconhece a 
validade do acordo firmado. 
4. Quais os princípios que pautam a mediação de conflitos? 
A mediação possui os seguintes princípios: 
Liberdade das partes: Ao longo de todo o procedimento de mediação, são as partes que 
possuem autonomia. São elas que decidem resolver o conflito através deste procedimento, 
podendo interrompê-lo quando desejarem. 
Poder de decisão das partes: Este princípio está intimamente ligado à liberdade acima 
referida. Ao mediador não compete pôr fim à disputa, impondo uma solução. Este apenas 
facilita o diálogo, para que os participantes consigam dimensionar e expor seus interesses, 
celebrando um acordo ou não. Os termos deste acordo são discutidos e decididos 
conjuntamente entre eles, que possuem poder de decisão. 
Não competitividade: A mediação propõe um novo paradigma, afastando a cultura do litígio e 
introduzindo a cultura da cooperação. Da celebração de um acordo não deve resultar um 
ganhador e um perdedor. Na verdade, ambos devem se sentir satisfeitos com a solução 
encontrada. O melhor acordo é aquele em que ambos saiam ganhando e ambos saiam 
perdendo, o que significa que as duas partes abriram Mão de suas pretensões iniciais em 
nome de um acordo verdadeiramente justo. 
Imparcialidade do mediador: Para que haja imparcialidade, o mediador deve ser 
independente. Deste modo, não pode existir qualquer conflito de interesses ou 
relacionamento capaz de afetar sua imparcialidade. Além disso, o mediador deve procurar 
compreender a realidade dos mediados, sem que nenhum preconceito ou valores pessoais 
venham a interferir no seu trabalho. Durante a condução do processo o mediador deve se 
preocupar em possibilitar iguais oportunidades aos mediados. 
Credibilidade do mediador: O Mediador deve construir e manter a credibilidade perante as 
partes, sendo independente, franco e coerente. Para uma mediação bem sucedida, é essencial 
que este profissional adquira a confiança dos participantes. 
Competência do mediador: A competência consiste na capacidade para efetivamente mediar 
a controvérsia existente. Por isso, o mediador somente deverá aceitar tal tarefa quando 
apresentar as qualificações necessárias, participando constantemente de cursos de 
capacitação relacionados a esta atividade. 
Informalidade do processo: Não existe uma única forma predeterminada para a realização da 
mediação, que pode variar de acordo com as situações apresentadas. A informalidade confere 
simplicidade e celeridade ao método da mediação, visto que não existem rígidos 
procedimentos a serem observados e o procedimento é marcado pelo traço da oralidade. 
Confidencialidade do processo: Os fatos, situações e propostas ocorridas durante a mediação 
são sigilosas e privilegiadas. Aqueles que participarem do processo devem obrigatoriamente 
manter o sigilo sobre todo conteúdo a ele referente, desde que não contrarie a ordem pública. 
Boa-fé das partes: A mediação depende da boa fé dos mediados. As partes devem estar 
verdadeiramente interessadas em falar e ouvir de forma sincera, objetivando a solução do 
problema. Por mais capacitado que seja o mediador, se os conflitantes não estiverem com boa 
vontade, será difícil o sucesso da sessão, tendo em vista que são os mesmos que possuem 
autonomia neste procedimento. 
Igualdade de condições de diálogo entre as partes: Muitas vezes, um mediado é manipulado 
ou coagido pelo outro. O mediador deve permanecer atento para interromper a sessão e 
alertar que um acordo celebrado dessa maneira é frágil e não produz eficaz resultado. Em se 
tratando de conflitos cujas partes são nitidamente desiguais (existe um pólo mais fraco que o 
outro), tais como as relações de consumo, o tratamento do mediador também deve ser 
diferenciado, no intuito de manter o equilíbrio da relação na mediação e sua imparcialidade. 
5. Quais são os objetivos da mediação de conflitos? 
Acordo: A mediação possui diversos e interligados objetivos, à primeira vista, pode-se pensar 
que a única prioridade seja a celebração do acordo, mas, na realidade, suas finalidades vão 
além. A mediação objetiva pacificar o conflito, possibilitar a reorganização da relação rompida, 
restabelecer a comunicação cooperativa entre as partes, por isso, é adequada à solução dos 
conflitos provenientes de relações continuadas, as quais necessitam subsistir aos problemas. 
Visão positiva do conflito: A mediação incentiva uma visão positiva das situações adversas, 
fazendo com que os mediados tenham uma noção de conflito como algo natural, necessário e 
como uma possibilidade de crescimento. Desta forma, as pessoas administram os problemas 
com mais naturalidade, o que facilita a realização do acordo. 
Inclusão Social: A mediação, por vários aspectos, constitui um instrumento de inclusão social, 
uma vez que aumenta a autodeterminação e a responsabilidade dos mediados. Através deste 
procedimento, os indivíduos passam a ter voz ativa na coletividade e a participar de forma 
mais atuante, tanto das decisões de seus próprios conflitos, quanto dos conflitos da 
comunidade, tendo em vista que promove uma maior conscientização de direitos e deveres e 
fomenta o senso crítico dos cidadãos. 
Pacificação Social: Afirmar que a mediação é um instrumento de pacificação social, não 
significa dizer que ela objetiva o fim dos conflitos. Na verdade, este procedimento promove 
uma maior paz, na medida em que ensina uma forma adequada de solução de disputas por 
meio do diálogo. 
Prevenção da má administração dos conflitos: Através da mediação, os indivíduos aprendem 
uma forma adequada de administrar as disputas interpessoais. Assim, quando surge uma nova 
situação conflitiva, as pessoas passam a administrar melhor suas querelas, de maneira mais 
amigável. 
6. Como é realizado o processo de mediação? 
Não existe uma única seqüência de atos para mediar. A mediação possui inúmeras 
formas procedimentais, tendo em vista tratar-se de um processo informal e interdisciplinar. 
Nesse sentido, o procedimento da mediação deve ser flexível, contemplando as necessidades 
de cada caso e observando os interesses dos assistidos. 
Por isso, pode-se dizer que esse procedimento deve ser livre de rituais e 
demarcações excessivas. Entretanto, o desenvolvimento dos estudos sobre formas de 
aperfeiçoar técnicas, capazes de favorecer a realização de acordos, resultou na criação de um 
modelo de processo que tem mostrado importantes resultados na prática. 
Para exemplificar o processo de mediação, será analisado o modelo criado por Juan 
Carlos Vezzula, que descreve as etapas mais importantes da mediação: 
A primeira etapa é fundamental e consiste na apresentação do mediador e do 
procedimento da mediação. O mediador deve explicar de forma objetiva em que consiste a 
mediação, a partir dos seus princípios, esclarecendo, sobretudo, a liberdade e poder de 
decisão das partes. 
Nessa etapa, o mediador deve agradecer a presença das partes e frisar os pontos 
positivos da escolha por este meio pacífico de tratar problemas. Aqui, o mediador possui a 
difícil tarefa de conquistar a confiança dos mediados, lembrando-os de sua imparcialidade e do 
sigilo do procedimento. Outros aspectos a serem abordados nesse momento são: o respeito, a 
igualdade de oportunidades e os honorários (gratuita ou não). Assim, o mediador deve 
salientarque as partes terão iguais oportunidades para exporem seus pontos de vista, 
assegurando o respeito de cada uma delas. Deve ser ressaltada também, a importância da 
sinceridade e da escuta com atenção. Caso a mediação não seja comunitária, o mediador deve 
informar sobre os seus honorários e a forma de pagamento pelos mediados. 
Depois de certificada a inexistência de dúvidas, deve ser iniciada a segunda etapa, 
que se constitui na exposição dos problemas. Os próprios mediados decidem quem falará 
primeiro, advertidos de que o outro não deve fazer interrupções, escutando com atenção. Não 
é o momento do diálogo direto entre as partes. Uma deve falar, enquanto a outra deve escutar 
com atenção, na certeza de que esta terá a mesma oportunidade que foi concedida àquela. 
Nesse momento, o mediador deve se mostrar atento e compreensivo, dando 
importância não somente às palavras das partes, mas também às reações, estados emocionais, 
posturas e inflexões de voz. Como já ressaltado, o mediador também deve policiar suas 
emoções, para garantir a sua imparcialidade e a eficiência do processo. 
Em todo o procedimento, o mediador realiza uma escuta ativa dos problemas, ou 
seja, permanece atento para captar todas as linguagens, associando as verbais com as 
simbólicas e não verbais. O corpo realmente fala; as expressões demonstram sentimentos. 
A mediação tem grande aplicabilidade nos conflitos em que existem problemas na 
comunicação entre as pessoas. Por isso, o mediador deve conhecer técnicas para melhorar ou 
restabelecer essa comunicação. 
Alguns estudos ressaltam outras formas de aperfeiçoar a comunicação. Além da 
escuta ativa, o mediador deve utilizar técnicas de empatia, reflexão e feedback. A empatia 
significa colocar-se na situação da outra pessoa. O mediador deve sempre utilizar meios para 
que as pessoas busquem entender a realidade do outro, na medida em que se colocam diante 
da situação vivida pela outra parte do conflito. A reflexão consiste em reformular sempre a 
mensagem que foi recebida. O mediador precisa repetir o que foi dito pelas partes sem incluir 
um julgamento, apenas para testar o seu entendimento da mensagem. Com isso, os mediados 
terão maior possibilidade de compreensão dos fatos e dos interesses alheios. Por fim, é 
aconselhável ao mediador a utilização do feedback, que serve para otimizar a comunicação na 
medida em que as considerações são colocadas com o intuito de provocar uma reação na 
outra parte; um retorno. 
O terceiro estágio consiste no resumo e no primeiro ordenamento dos problemas. 
Depois de escutar cada uma das partes, o mediador faz um resumo, alertando os mediados de 
que devem esclarecê-lo de qualquer erro que cometa ou de qualquer ponto ainda 
controvertido. O objetivo desta síntese é reunir as versões numa só, com o intuito de 
demonstrar que o problema pode conter muito mais pontos positivos do que se pensa. Nessa 
hora, o mediador deve utilizar toda a sua imparcialidade e profissionalismo, separando as 
pessoas dos problemas e ressaltando os pontos de concordância. É fundamental que o 
ordenamento do conflito seja iniciado pelos pontos positivos e de solução mais rápida. 
Na quarta etapa, deve ser realizada a descoberta dos interesses ainda ocultos. Aqui, 
os ocultamentos e indefinições trazem as principais divergências e contradições. Através de 
perguntas, o mediador deve demarcar os pontos controversos, auxiliando as partes a 
vivenciarem o avanço do processo, na medida em que, inicialmente, são solucionadas as 
questões mais fáceis. As perguntas devem ser abertas, em outras palavras, devem exigir uma 
reflexão e não apenas a resposta sim ou não. Algumas perguntas são essenciais: Por quê? 
Como? O que você acha? O que você pode fazer para resolver o conflito? Qual a sua opinião? 
Qual a sua sugestão? 
O quinto estágio se caracteriza pelos denominados acordos parciais. Muitas vezes, 
para se chegar a esta fase, é necessário voltar às etapas anteriores, com a finalidade de apurar 
melhor as informações e as possibilidades de resolução do conflito. Neste quinto momento, 
começam a surgir as primeiras sugestões, devendo o mediador utilizar todas as técnicas para 
acrescentar opções a serem apresentadas pelos mediados. O mediador também deve auxiliar 
os envolvidos no problema a formularem conclusões realistas, que possam ser concretizadas. 
Na sexta e última etapa, pode ocorrer a consecução do acordo. O mediador deve 
agradecer a presença e a boa vontade dos mediados, relembrando que os efeitos da mediação 
bem sucedida devem ser estendidos ao longo do relacionamento. Certamente, a nova 
concepção de conflito os ajudará a resolver as desavenças futuras. 
O mediador deve redigir o acordo utilizando uma linguagem simples, compreensível. 
É importante o cuidado com a escrita dos dados que qualificam as partes, sob pena de 
nulidade. Uma vez concluído, o mediador deve ler em voz alta o acordo firmado, tirando todas 
as dúvidas que forem suscitadas. Dessa maneira, o processo de mediação se conclui de modo 
transparente, claro. 
Ressalte-se, por imperioso, que a mediação não possui apenas o supramencionado 
modelo de procedimento, podendo variar suas técnicas. Estas variações podem ocorrer 
dependendo da matéria a ser mediada, das partes, da formação do mediador e de quaisquer 
outros fatores externos que influenciem o andamento do processo. 
7. Quais são as principais vantagens e quais as limitações da mediação de conflitos? 
A mediação apresenta várias vantagens para os que dela participam e para toda a 
sociedade. A principal delas é oferecer oportunidade para que as próprias partes construam a 
solução para o conflito que elas mesmas criaram. Trata-se de um processo muito eficaz, haja 
vista que não há melhor decisão do que a efetiva vontade das partes. Deste modo, os acordos 
celebrados são mais facilmente cumpridos, visto que partem dos próprios envolvidos. 
Ambas s partes são vencedoras, pois não deve existir um perdedor. Não se trata de 
culpar o outro. A finalidade é reconhecer a existência do problema, raciocinar de modo 
cooperativo para encontrar a solução e refletir sobre o que você pode fazer para modificar a 
situação. 
A mediação também é vantajosa porque possibilita uma solução rápida, poupando as 
partes do grande desgaste emocional que o tempo prolongado provoca. As partes também 
poupam economicamente, uma vez que o custo na mediação é bastante reduzido, e, em 
muitos casos, é gratuita, a exemplo do que ocorre nos Balcões de Justiça e Cidadania. 
Os benefícios da mediação estendem-se à sociedade de maneira geral. Isto porque 
incrementa a democracia, a cidadania ativa, pois confere autonomia aos indivíduos, 
incentivando a participação cidadã. Além disso, funciona como um mecanismo de pacificação 
social porque promove a cultura do diálogo e a paz. 
Esses efeitos são ainda mais perceptíveis na mediação comunitária. A aplicabilidade 
da mediação nas comunidades vem apresentando uma verdadeira transformação social, 
principalmente nos contextos que se caracterizam por uma grande desigualdade econômica, 
política e social entre os indivíduos a exemplo do Brasil. 
Estas desigualdades resultam na concentração de poder e controle por uma minoria, 
que exclui da dinâmica social a maior parte da população, que permanece desamparada em 
seus direitos. Na verdade, estes excluídos, privados de uma educação de qualidade, têm um 
déficit de conhecimento sobre seus direitos e deveres e sobre as regras do ordenamento 
jurídico vigente. 
Aproximar o direito das comunidades periféricas se apresenta como finalidade 
primordial para a integração dos indivíduos. Por isso, a mediação comunitária, a exemplo dos 
Balcões, se converte em instrumento de inclusão, contribuindopara a qualidade da atuação 
democrática do estado na pacificação dos conflitos sociais. 
A comunidade mediadora implica compartilhar um tempo, um espaço comum, onde 
as diferenças e os interesses são discutidos através de uma comunicação própria, inclusiva. 
Aqui se propõe um novo paradigma ético-político-existencial que pressupõe a criatividade 
social para a resolução dos conflitos, a qual deve estar ao alcance de todos e pode ser utilizada 
em qualquer contexto relacional, desde que não afronte o ordenamento jurídico vigente. 
É importante ressaltar que através da comunicação, o sujeito, além de ter uma 
experiência pessoa, tem uma experiência coletiva e histórica, mesmo sem se dar conta disso. 
Deste modo, a utilização da mediação nas comunidades ultrapassa a satisfação de interesses 
individuais, tornando-se importante instrumento de convivência coletiva e coesão social, de 
experiência democrática. 
Entretanto, a mediação não pode ser encarada como a solução para todos os 
conflitos. Ela também possui suas limitações, devendo estar de acordo com as leis pré-
estabelecidas. Existem casos em que apenas o Poder Judiciário pode solucionar as disputas, 
sendo a presença do Estado indispensável, tais como a maioria dos conflitos penais. 
Uma das grandes limitações materiais da mediação está relacionada com a boa fé. A 
mediação, para ser bem sucedida, pressupõe boa fé de ambas as partes. Os mediados devem 
estar dispostos para assimilar os princípios da mediação, sobretudo para agir de modo 
solidário e verdadeiro. Infelizmente, em nossa sociedade, ainda predomina a arcaica 
mentalidade da cultura do litígio, em que às partes interessa obter vantagens - ganhar. 
Cumpre ressaltar que a mediação vem proporcionando grandes avanços na introdução de uma 
cultura de paz, contudo, não se pode negar que ainda resta um longo caminho a ser 
percorrido. 
Outra grande limitação material diz respeito à atuação do mediador. Este profissional 
deve estar capacitado de maneira contínua para a realização de mediações, uma vez que 
trabalha com as relações humanas. Sem a devida capacitação, corre-se o risco de o mediador 
interferir no mérito, realizando, dessa maneira, uma conciliação. Conscientizar os mediadores 
dessa necessidade constitui um dos grandes desafios dos estudiosos sobre o assunto. 
Por tratar-se de um mecanismo relativamente novo, a mediação ainda causa 
desconfiança e medo em algumas pessoas. Portanto, necessário se faz um trabalho sério de 
divulgação desse mecanismo, esclarecendo a população das vantagens auferidas, lembrando, 
contudo, que sua utilização deve estar em conformidade com o ordenamento jurídico vigente 
no país. 
8. Quem pode ser mediador? 
O mediador é um profissional com formação e conhecimento adequados, 
responsável por conduzir o processo de mediação. Esse profissional possui a difícil tarefa de 
auxiliar os mediados na busca de uma solução mutuamente satisfatória, facilitando o diálogo e 
transformando o conflito. 
Desta forma, o mediador se diferencia de todos os que atuam em outros métodos de 
composição de conflitos. Tais diferenças podem ser observadas nos objetivos, na condução do 
procedimento, na forma que utiliza seus conhecimentos, e, sobretudo, no importante papel 
que assume frente aos mediados. Ressalte-se que as partes encontrarão na figura do mediador 
um grande aliado, alguém que acredita neles e os respeita. 
O mediador objetiva facilitar a comunicação entre os envolvidos no conflito, fazendo 
com que as pessoas consigam dialogar de forma solidária, expondo seus anseios e suas 
angustias. É imprescindível que o mediador conquiste a confiança e o respeito das partes para 
que se expressem com franqueza e sem medo, pois, geralmente, os discursos estão cheios de 
ideais, raivas, preconceitos e angústias. 
É comum clientes iniciarem a mediação com uma visão pessoal e parcial do 
problema, afirmando com veemência que a outra parte está errada. O mediador precisa 
utilizar técnicas de reflexão para introduzir uma visão integrada do conflito, fazendo com que 
as partes compreendam a necessidade do trabalho cooperativo. Com isto, os mediados 
alcançarão uma visão responsável e saberão melhor desempenhar seus papéis. 
Nessa difícil tarefa, o mediador precisa policiar-se constantemente para não perder 
sua imparcialidade, afinal, não são só as partes que possuem preconceitos, medos e idéias pré-
estabelecidas. Além de agir com imparcialidade, o mediador deve preservar a 
confidencialidade da mediação, ou seja, os fatos, situações e propostas ocorridos durante a 
sessão devem ser mantidos em sigilo. Desse modo, o mediador não pode ser testemunha em 
um processo para revelar o que foi dito na mediação. 
O mediador também precisa policiar-se para desempenhar suas tarefas, de modo a 
satisfazer a vontade dos mediados em detrimento da sua. Tal atitude pode parecer frustrante, 
mas uma mediação bem sucedida é aquela em que o desejo das partes prevalece. 
Os mediadores podem ser considerados como verdadeiros agentes de cidadania, 
uma vez que é responsável por propiciar a cidadania aos que procuram a mediação, partindo 
do princípio de que a cidadania não está somente ligada ao conceito de cidadão – ser passível 
de direitos e deveres – e sim a algo maior, onde vale destacar a solidariedade e a participação. 
A mediação de conflitos tem por premissa básica a participação das pessoas envolvidas, já que 
são elas as detentoras do poder de decisão, estando diretamente ligada a essa idéia de resgate 
da cidadania. O mediador acaba adquirindo a função de agente de cidadania, já que é ele o 
responsável por criar um ambiente confortável para que as partes dialoguem. 
O diálogo ainda é a base para uma vida harmoniosa, sem futuras discussões, sem 
violência. A paz social também é alcançada quando se trata de estimular a escuta por parte do 
outro. Assim, ganha o mediador o caráter de pacificador social, já que utilizando suas técnicas 
de maneira correta incentiva a conversa sadia. 
Muito se discute acerca de quem pode ser mediador. Alguns profissionais do direito 
afirmam que só podem mediar os advogados, pois detêm o conhecimento dos direitos e 
deveres garantidos pelo Estado. Já alguns psicólogos garantem que sua profissão é mais 
adequada à solução de conflitos através da mediação. Na realidade, não é necessário que o 
mediador exerça quaisquer das profissões supramencionadas, até porque não pode prestar 
nenhum assessoramento legal ou tratamento psicológico, devendo atuar apenas como 
mediador. 
Para mediar, são indispensáveis o bom senso e a capacitação nas diversas técnicas 
que conjugam a mediação de conflitos. Certamente, os profissionais que têm no ser humano e 
na relação humana seu objeto de estudo, podem ter maior identificação com esse 
procedimento. 
De acordo com o projeto de lei que tramita atualmente no Congresso Nacional sobre 
mediação de conflitos, qualquer pessoa pode ser mediador. Esse projeto determina que os 
mediadores judiciais sejam advogados com pelo menos três anos de efetivo exercício da 
profissão jurídica, no entanto, não exclui a participação de outros mediadores filiados a 
instituições e entidades especializadas em mediação ou mediadores independentes, desde que 
inscritos no Cadastro de Mediadores que deverá ser criado e mantido pelo Tribunal de Justiça. 
Assim, para o crescimento dessa técnica, é necessário o empenho conjunto de 
advogados, psicólogos, psicanalistas, médicos, dentre outros. Tais profissionais precisam 
assumir uma posição de cooperação e não de competição, levando em consideração que, uma 
vez capacitado, qualquer indivíduo com bom senso e boa vontade pode ser mediador. 
 
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