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RESUMO.pdf terceira margem do rio Guimaraes rosas

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RESUMO: Este artigo tem como finalidade fazer uma análise do conto A terceira margem do Rio 
de João Guimarães Rosa, que faz parte do livro Primeiras Estórias de 1962 e compreende o período 
do pós-modernismo. A terceira margem do rio é tido como o mais famoso conto de Guimarães 
Rosa, provocando as mais diversas interpretações, devido a seu teor enigmático presente na 
história de um homem que se afasta do convívio familiar e a da sociedade, preferindo a solidão de 
um rio, no qual navega em uma canoa construída com um propósito: de servir como um 
mecanismo na busca de respostas para seus questionamentos existenciais. A terceira margem 
parece com a busca de todo ser humano por suas origens, sonhos e realizações. Perante todo esse 
contexto, podemos perceber nesse obra um cunho teológico, apontando para uma direção que 
nos leve para a salvação e bem universal que será conhecer a Deus. Segundo esse viés podemos 
compará-lo ao que encontramos nas Escrituras, dessa forma é possível navegar com segurança ao 
encontro da verdade, sendo o barco esta ligação entre o real e o imaginário o humano e o sagrado. 
Se existe uma terceira margem, se Cristo existe, dessa forma tudo se encerrará em Cristo com a 
provável morte da personagem. 
 
 
PALAVRAS-CHAVE: Conto. A Terceira Margem do Rio. Pós- Modernismo. 
 
 
 1. CONTEXTO HISTÓRICO 
 
... o conto é o gênero literário mais moderno e que tem a maior vitalidade. Por um lado porque – 
sabese – o homem e a mulher jamais deixam de contar o que lhes aconteceu. Por outro porque, 
por mais cansativa que seja a vida humana, as pessoas sempre terão – nessa época e nas 
próximas – cinco ou dez minutos para saborear um conto bem escrito. Como é um gênero que terá 
assegurado o seu porvir – costumo brincar – ao menos enquanto as pessoas tiverem abajures na 
cabeceira da cama, forem ao banheiro ou viajarem de ônibus. ( Mempo Giardineli) 
 
O conto A terceira margem do Rio de João Guimarães Rosa, faz parte do livro Primeiras Estórias de 
1962 e compreende o período do pós-modernismo. 
O Pós-Modernismo foi marcado por acontecimentos que repercutiram na vida de uma grande parte 
da população, como o fim da Segunda Guerra Mundial. O início da era atômica em Hiroxima e 
Nagasáqui, o início da Guerra Fria, dentre outros acontecimentos importantes que permearam 
aquele período. 
Em meio a todos esses acontecimentos a literatura desse período passou por grandes alterações 
que ora representavam passos adiante, oram representavam um retrocesso. Na prosa, nos 
romances, nos contos se voltara mais para o psicológico dos personagens. 
Diante de todos esses acontecimentos encontramos João Guimarães Rosa, que nasceu em 
Cordisburgo, Minas Gerais, em 27 de junho de 1908 e faleceu em 19 de novembro de 1967 no Rio 
de Janeiro, três dias depois de tomar posse na Academia Brasileira de Letras. 
 
 
2. RESUMO DA OBRA 
 
 
A terceira margem do rio conta de Guimarães Rosa, conta a história de um homem que se esquiva 
de toda e qualquer convivência com a família e com a sociedade, permanecendo em completa 
solidão do rio, lugar em que, dentro de uma canoa, rema “rio abaixo, rio a fora, rio a dentro”, por 
ter esse comportamento diferente ele é visto como um desequilibrado, por todos. 
Seu filho é o narrador-personagem dessa forma, relata todas as tentativas da família, parentes, 
vizinhos e conhecidos de estabelecer algum tipo de comunicação com o solitário remador, que 
mesmo assim recusa qualquer contato. 
A família, sem ter mais o que fazer vai-se acostumando com seu abandono do pai, todos seguem 
sua vida, mudam-se daquele lugar, se casam, ou seja, o tempo transcorre naturalmente. 
Seu filho tenta de todas as formas entender as atitudes de seu pai, porém é em vão, chega até ao 
ponto de propor tomar o lugar do pai na canoa, e vendo que o mesmo concordara ele sai 
desesperado. 
O narrador-personagem nos transmite em seus relatos um ser humano cujos ideais de vida 
divergem dos padrões aceitos como normais, tendo o personagem principal atitudes que afrontam 
e perturbam seus familiares e conhecidos. 
O único a persistir na busca de entendimento da opção do pai é o narrador, que não descuida dele 
e chega a desejar substituí-lo. A escolha do isolamento no rio instiga permanentemente o filho. 
Este é levado a questionar o próprio existir humano, sendo perceptíveis as indagações decorrentes 
na narrativa. 
 
 
3. ANÁLISE DO CONTO 
 
 
 
É preciso chegar à idéia viva do que é o conto, e isso é sempre difícil na medida em que as idéias 
tendem ao abstrato, a desvitalizar seu conteúdo, ao passo que a vida rejeita angustiada o laço que 
a conceituação quer lhe colocar para fixá-la e categorizá-la. Mas, se não possuirmos uma idéia viva 
do que é o conto, teremos perdido nosso tempo, pois um conto, em última instância, se desloca no 
plano humano em que a vida e a expressão escrita dessa vida travam uma batalha fraternal, se me 
permitem o termo; e o resultado desta batalha é o próprio conto, uma síntese viva e ao mesmo 
tempo uma vida sintetizada, algo como o tremor de água dentro de um cristal, a fugacidade numa 
permanência. (CORTÁZAR, p. 147) 
 
 
Na primeira leitura que se faz do conto, se tem a impressão de que ele possui uma linguagem 
simples, de fácil entendimento, mas a partir de leituras minuciosas percebe-se que sua linguagem 
é repleta de figuras de linguagem, alegoria e símbolos, o que deixa seu significado mais complexo 
e com um vasto leque de interpretações. 
Já no início do conto nos deparamos com uma metáfora, ou seja, seu próprio título: 
 
...Terceira margem... (p. 32) 
 
 
A terceira margem que se refere o título do conto, seria para nós como um portal, que nos leva da 
vida para a morte, o meio pelo qual deixamos o mundo real e passamos para o imaginário, ou 
seja, uma barreira que nos separa da infelicidade da vida anterior e nos leva para uma nova vida 
de paz e alegria (isso faz parte de sua ideologia não está dito objetivamente no livro). Seguindo 
esse paradigma temos outra metáfora de muita importância para o conto, que é a canoa: 
...Encomendou a canoa especial... (p.32) 
 
Essa canoa citada no conto pode ser vista como um caixão que, através do rio, serve de meio de 
transporte para levar o pai do menino, em direção a terceira margem do rio, de onde fará a 
travessia da vida para a morte. 
Por se tratar de um conto, A terceira margem do rio, apresenta uma narrativa curta e um número 
reduzido de personagens, temos o pai, a mãe, dois filhos e uma filha. No conto um dos filhos, que 
é chamado de menino, fica preso ao passado, onde houve a separação, repentina e sem motivo 
explicado, de seu pai e sua mãe. O menino sofre muito com esses acontecimentos que fizeram 
parte de sua infância e com a falta que seu pai lhe fez. “Nem queria saber de nós, não tinha 
afetado?... - Foi pai que um dia me ensinou a fazer assim...” (p.35) 
 
Na passagem citada acima pode-se ver claramente como o menino sofria pela ausência do pai, mas 
mesmo assim não deixava de amá-lo e nem de demonstrar seu amor por ele. O menino durante 
todo o conto fica preso ao passado, com esperança de rever seu pai, pois ele não se conforma que 
não mais falará, ouvirá e nem mesmo verá seu pai. Diante desse paradigma, mesmo depois de 
adulto e com os sofrimentos da velhice o menino continua “ao lado” de seu pai. Enquanto toda sua 
família segue o curso natural da vida, ele não abandona seu pai, pois para ele o pai necessita de 
sua ajuda. “Minha irmã se casou.... Meu irmão resolveu e se foi ... Nossa mãe terminou indo 
também ...Eu fiquei aqui, de resto ... Nosso pai carecia de mim, eu sei ...” (p.35) 
 
 
 
O menino mesmo gostando e respeitando sua mãe, não consegue se separar de seu pai. Quando o 
pai vai para o rio mesmo temendo a irada mãe, o acompanha, mas é impedido pelo próprio pai de 
seguir em diante, pois o menino já sabe o destino que lhe aguarda nas águas do rio. “...Temei a ira 
de nossa mãe .... e me botou a bênção, com gesto de mandando para trás ...” (p. 33). 
A loucura ou até mesmo obsessão do menino pelo pai era tão grande, que chegou até a contagiar 
sua família, pois logo que o filho de sua irmã nasceu, foram todos juntamente com sua mãe, 
mostrá-lo a seu pai, que supostamente estava no rio. Cria-se nesse instante todo aquele universo 
mágico, pois sua irmã estava com o vestido branco de seu casamento. O branco de seu vestido 
naquele momento significava a esperança que eles tinham de reencontrar seu pai, mas como era 
de se esperar, o pai não apareceu e o ambiente que antes cheio de esperanças e paz muda, agora 
tornara-se sombrio e triste, cheio de dor e lágrimas. “... mas minha irmã teve menino ... viemos 
todos, no barranco, foi num dia bonito... A gente chamou, esperou. Nosso pai não apareceu. Minha 
irmã chorou, nós todos aí choramos abraçados.” (p.35) 
A terceira margem do rio é um conto que se passa provavelmente no sertão, pois tem como tema 
principal o rio e a casa das personagens se situa à sua margem. O rio assume um papel muito 
importante na narrativa, pois é nele, ou diante dele, que ocorrem todos os fatos importantes 
narrados no conto. “... Nossa casa, no tempo, ainda era mais próxima do rio, obra de nem quatro 
léguas: o rio por aí se estendendo grande, fundo colado que sempre... (p. 32) 
Outra evidência que nos leva a concluir que o conto se passou no sertão é a presença marcante da 
religiosidade, que se faz presente na vida sofrida do sertanejo, que pede ajuda aos santos para que 
suas vidas possam melhorar. A religiosidade também é uma característica de Guimarães Rosa. “... 
com chuvas que não estiavam, todos temeram o fim do mundo, diziam: que nosso pai fosse o 
avisado que nem Noé...” (p.36) 
Na passagem acima, vemos a forte crença da população sertaneja nos mitos “criados” pela igreja, 
que neste caso faz referência à um passado bíblico, onde Deus prevendo o fim dos tempos pede a 
Noé que construa uma grande arca e que abrigue um casal de cada espécies de animais, para que 
depois de acabada a enchente, esses casai possam povoar a terra, perpetuando assim sua espécie. 
No final do conto, A terceira margem do rio, atinge-se o momento de maior tensão e expectativa, 
por parte de seus leitores, pois nesse momento o menino tem indícios de que o pai havia falecido, 
mas não podemos afirmar tal fato, pois o conto é dito por meio de uma linguagem subjetiva e 
figurada então o que temos são meras suposições. “... Portanto que ele me pareceu vir: da parte 
de além. E estou pedindo, pedindo, pedindo um perdão. ... Sofri o grave frio do medo, adoeci ...” 
(p.37). 
 
Nesse momento naquela “loucura” que levava a crer na vida de seu pai desaparece e o encontro 
com a figura daquele que tanto amara coincide com a perda. O menino esperou tanto por esse 
momento, que nem se deu conta que passou toda sua vida esperando por algo ou alguém que só 
continuava a existir em sua mente. Nesse momento de angústia de choque entre o real e o irreal o 
menino adoeceu e pede que tenha o mesmo destino que o pai. “... me depositem também em uma 
canoinha de nada, nessa água que não a para, de longas beiras: e, eu, rio abaixo, rio afora, rio 
adentro ...” (p.37). 
A água do rio é usada como uma metáfora, pois simboliza o curso da vida, que está sempre em 
constante movimento e renovação. O menino faz referência à água, pois naquele momento 
percebe que sua vida não seguiu o curso natural, que durante todo tempo ficou preso ao passado e 
não deixou que sua vida seguisse em frente. 
 
 
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
O conto A terceira margem do rio, apresenta várias características de seu autor, Guimarães Rosa, 
tais como: a presença constante da religiosidade, criança açoitada pelo sofrimento, morte e a 
descoberta de uma nova realidade. 
A terceira margem do rio é um conto repleto de alegorias e símbolos que nos dão pista do que 
seria realmente a terceira margem do rio, dessa forma o conto tem um teor riquíssimo e nos faz 
refletir sobre vários aspectos de nossa vida. Nesse sentido a terceira margem do rio nos remete ao 
sagrado, fazendo com que o leitor imagine que essa terceira margem seja o encontro entre Deus e 
o homem, onde se encerrará a indagação sobre sua existência em um mundo onde fica explícita a 
dualidade entre o bem e o mal, o sagrado e o profano.

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