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A crise da economia colonial no Brasil Espera-se que, ao fi nal desta aula, você seja capaz de: Relacionar a crise da economia colonial no Brasil à expansão das atividades produtivas e comerciais na colônia. Identifi car as limitações do monopólio comercial imposto pela metrópole. Associar estas limitações aos movimentos de revoltas internas e de independência na colônia. Reconhecer as transformações políticas, sociais e econômicas por que passava o mundo (como as revoluções Industrial e Francesa). 3 ob jet ivo s A U L A Meta da aula Analisar os fatores externos e internos que determinaram a ruptura das bases da eco- nomia colonial agrícola, nos séculos XVIII e XIX, bem como a independência do Brasil. 1 2 3 4 Pré-requisitos Para acompanhar melhor os conceitos trabalha- dos nesta aula, você deve reler o verbete sobre pacto colonial, na Aula 1, bem como as expli- cações sobre a dinâmica colonial brasileira, na Introdução da Aula 2. Aula03.indd 47 1/12/2006, 1:09:58 PM 48 C E D E R J Formação Econômica do Brasil | A crise da economia colonial no Brasil O SENTIDO DA CRISE A crise da economia colonial agrícola decorreu de dois aspectos complementares, um de caráter interno, e outro, externo. O primeiro foi a expansão dos mercados na colônia, resultado direto do aumento da população e do incremento da produção. Surgiram, em conseqüência, confl itos de interesses entre colonos e metrópole. Até então, os colonos sentiam-se portugueses em terras brasileiras, tendo, em um mercado pouco expressivo, privilégios garantidos pelo monopólio (exclusivo) INTRODUÇÃO Na aula passada, você estudou que, no período colonial, as atividades produtivas e comerciais na economia brasileira não se esgotavam na empresa colonial agrícola. A ocupação do Sul, do vale amazônico e o movimento de bandeiras foram importantes para o desenvolvimento de atividades econômicas no interior do país, assim como a pecuária e a mineração. As colônias na América foram constituídas no momento de formação dos estados nacionais europeus (absolutistas), em que predominavam as práticas mercantilistas. Naquele período, os grandes mercadores (burgueses) e armado- res associavam-se diretamente ao poder central desses Estados absolutistas. Você viu também que a empresa colonial nasceu exatamente dessa associação, em que os interesses da burguesia mercantil estavam absolutamente relacio- nados aos da Coroa. Juntos, burgueses e monarcas buscavam novas fontes de renda por meio de conquistas coloniais. Conquistados os novos territórios, a classe burguesa mercantil, com o apoio da Coroa, garantiu para si o monopólio comercial. Formava-se, assim, a base da política mercantilista, bem como um sistema de comércio fundado no pacto colonial (exclusivo comercial), garantindo à metrópole total intermediação nas operações de comércio. Assim, os interesses metropolitanos convergiam estrei- tamente com os da classe exportadora e importadora que atuava na colônia. Como a produção e o mercado interno eram bastante reduzidos, o pacto colonial impedia a concorrência e permitia os ganhos extraordinários da classe burguesa e da metrópole. Nesta aula, vamos analisar as conseqüências do aumento da produção e do crescimento do mercado interno para essa estrutura de relações comerciais e de poder político e econômico. Além disso, você irá perceber como o avanço do capitalismo industrial e das idéias liberais na Europa serviu de anteparo para a confi guração da crise do sistema colonial. Aula03.indd 48 1/12/2006, 1:10:00 PM C E D E R J 49 A U LA 3 comercial e suas restrições à concorrência externa. Com o aumento da produção e o crescimento do mercado interno – sobretudo após o início do ciclo do ouro –, os interesses particulares da colônia foram aumentando de maneira signifi cativa. O pacto colonial passou a ser, então, um empecilho à expansão dos negócios e, portanto, ao potencial de ganhos dos colonos. O segundo aspecto, referente ao plano externo, eram os efeitos da RE V O L U Ç Ã O IN D U S T R I A L cada vez mais visíveis na Europa. O processo de acumulação de capital, naquele contexto, centrava-se fortemente na esfera de produção da indústria, com uma rápida incorporação de novas técnicas produtivas que ampliavam largamente seu horizonte de crescimento. O aumento da produtividade na atividade industrial era absolutamente fantástico. Para que você tenha uma idéia, segundo dados disponíveis na home page da Escola Técnica de Bergen, em Nova Jérsei (Estados Unidos), de 1790 a 1830, mais de cem mil teares movidos a eletricidade foram postos em funcionamento, na Inglaterra e na Escócia. Assim, a necessidade de busca e incorporação de novos mercados pelas unidades industriais em formação tornou-se um traço típico da dinâmica capitalista. Figura 3.1: Iniciada na Inglaterra, a Revolução Industrial expandiu-se pela Europa. Nesta foto, você pode ver a fábrica construída pelo engenheiro Julius Bruch em 1873 na Alemanha (então Império Germânico). Esta fábrica foi uma das maiores produtoras de vigas de aço no país e, em 1994, foi tombada pela Unesco como patrimônio cultural da humanidade. RE V O L U Ç Ã O IN D U S T R I A L “Conjunto das trans- formações tecnológicas, econômicas e sociais ocor- ridas na Europa e parti- cularmente na Inglaterra nos séculos XVIII e XIX e que resultaram na ins- talação do sistema fabril e na difusão do modo de produção capitalista. O processo foi impulsiona- do, numa primeira fase, pelo aperfeiçoamento de maquinas de fi ação e tecelagem e pela invenção da máquina a vapor, da locomotiva e de numero- sas máquinas – ferramen- tas (...). Da conjunção desses fatores, resultou a indústria capitalista meca- nizada tal como a conhe- cemos. A aceleração do processo produtivo teve início na Inglaterra, entre 1750 e 1830, a partir de inovações tecnológicas na atividade têxtil (...). Apesar dessas profundas transformações econômi- co-sociais, a Revolução Industrial foi um processo contraditório. Ao lado da elevação da produtividade e do desenvolvimento da divisão social do trabalho, manifestava-se a miséria de milhares de trabalha- dores desempregados e de homens, mulheres e crian- ças obrigados a trabalhar até 16 horas por dia, pri- vados de direitos políticos e sociais. Essa situação de classe operária levou à formação dos primeiros sindicatos, à elaboração do pensamento socialista e à irrupção de inúmeros movimentos, levantes e revoltas de trabalhadores que marcaram toda vida européia ao longo do século XIX” (SANDRONI, 2004: 528/529). Aula03.indd 49 1/12/2006, 1:10:00 PM 50 C E D E R J Formação Econômica do Brasil | A crise da economia colonial no Brasil É fácil entender, então, que o monopólio comercial e produtivo formalizado no pacto colonial era uma barreira para o capital industrial e para a produção em grande escala. Isto explica o grande interesse da Inglaterra pelos movimentos de independência das Américas hispânica e portuguesa. Em termos práticos, essas duas barreiras representavam o antagonismo entre os interesses ainda existentes no mercantilismo português e os novos acontecimentos políticos, sociais e econômicos associados à Revolução Industrial. Essas transformações também estavam representadas no campo institucional e das idéias pela crescente contestação às instituições absolutistas e o avanço do I L U M I N I S M O . Naquele momento, o P E N- S A M E N T O L I B E R A L se rebelou contra as instituições do antigo regime. I L U M I N I S M O O Iluminismo repre-sentou um movimen- to cultural originado no Renascimento, sobretudo a partir do século XVII. Do ponto de vista eco- nômico, seu princi- pal foco era a defi ni- ção de uma política econômica mais livre das restrições típicas do mercantilismo, idéia defendida forte- mente pela burguesia emergente. Um dos nomes importantes para o desenvolvi- mento desta corrente é o de René Des- cartes (1596-1650), matemático francês considerado o pai do racionalismo. Além dele, destacam-se os franceses Vol- taire (1694-1770) e Montesquieu (1698-1755), além dos ingleses Isaac Newton (1642-1727) e John Locke (1632- 1704), entre outros importantes pensa- dores. LI B E R A L I S M O “Doutrina que serviu de substrato ideológico às revoluções antiabsolutistas que ocorreram na Europa (Inglaterra e França, basicamente) ao longo dos séculos XVII e XVIII, e à luta pela independência dos Estados Unidos. Correspondendo aos anseios de poder da burguesia, que consolidava sua força econômica ante uma aristocracia em decadência, amparada no absolutismo monárquico, o liberalismo defendia: 1) a mais ampla liberdade individual; 2) a democracia representativa com separação e independência entre três poderes (executivo, legislativo e judiciário); 3) o direito inalienável à propriedade; 4) a livre iniciativa e a concorrência como princípios básicos capazes de harmonizar os interesses individuais e coletivos, e gerar o progresso social. Segundo o princípio do laissez-faire, não há lugar para a ação econômica do Estado, que deve apenas garantir a livre concorrência entre as empresas e o direito à propriedade privada, quando esta for ameaçada por convulsões sociais. O pensamento econômico liberal constitui-se, a partir do século XVIII, no processo da Revolução Industrial, com autores como François Quesnay, estruturando-se como doutrina defi nitiva nos trabalhos de John Stuart Mill, Adam Smith, David Ricardo, Thomas Malthus, J.B. Say e F. Bastiat. Eles consideravam que a economia, tal como a natureza física, é regida por leis universais e imutáveis, cabendo ao indivíduo apenas descobri-las para melhor atuar segundo os mecanismos dessa ordem natural” (SANDRONI, 2004, p. 347). “A Revolução Industrial desenvolveu também uma nova sociedade: a (...) capitalista, baseada na divisão dos indi- víduos em duas classes: os capitalistas, deten- tores dos meios de produção, e os trabalhadores, homens livres que vendem sua força de trabalho em troca de um salário. O capitalismo, consolidado com a Revolução Industrial, gerou muita riqueza e um enor- me progresso material, mas criou também uma massa de trabalhadores pobres, no campo e na cidade. Os economistas liberais, defensores da sociedade capi- talista sustentavam a idéia de que o Estado não precisa interferir na economia, que deve ser regulada apenas pelo mercado” (FONSECA; PEDRO, 1995). !! Aula03.indd 50 1/12/2006, 1:10:03 PM C E D E R J 51 A U LA 3 Quer saber mais sobre o Iluminismo e os principais nomes desta corrente ideológica? Veja os sites http://www.saberhistoria.hpg.ig.c om.br/nova_pagina_31.htm e http://www.conhecimentosgerais.com .br/historia-geral/iluminismo.html. Neste mesmo site, você pode ler textos dos pensadores iluministras. Pacto colonial x capital industrial Leia as defi nições a seguir: a. “Laissez-faire é uma expressão francesa laissez faire, laissez passer, que signifi ca “deixem fazer, deixem passar”, e se refere a uma fi losofi a econômica que surgiu no século XVIII, que defendia a existência de mercado livre nas trocas comerciais internacionais, ao contrário do forte protecionismo baseado em elevadas tarifas alfandegárias (...). (...) esta teoria (...) teve em Adam Smith um dos seus principais defensores (...). O ‘laissez faire’ tornou-se o chavão do liberalismo na versão mais pura de capitalismo de que o mercado deve funcionar livremente, sem interferência. Esta fi losofi a tornou-se dominante nos Estados Unidos e nos países ricos da Europa, durante o fi m do século XIX e no início do século XX” (WIKIPEDIA, 2005). b. “A colonização portuguesa do Brasil, como outras colonizações européias na América no mesmo período, tem caráter essencialmente mercantilista: ocupar a terra e produzir riquezas para proporcionar renda ao Estado e lucros à burguesia. Isso é garantido pelo monopólio comercial e pelo pacto colonial, que legitima o direito exclusivo de comprar e vender na colônia por meio de seus comerciantes e de suas companhias.” (http://geocities.yahoo.com.br/vinicrashbr/historia/brasil/colonizacaodobrasil.html) A partir destas defi nições, responda: De que forma o avanço do capital industrial, Atividade 1 Quer saber mais sobre o Iluminismo e os principais nomes desta corrente ideológica? Veja os sites http://www.saberhistoria.hpg.ig. com.br/nova_pagina_31.htm e http://www.conhecimentosgerais.co m.br/historia-geral/iluminismo.html. Neste mesmo site, você pode ler textos dos pensadores iluministras. Vale citar, em particular, o novo ideário difundido a partir da Revolução Francesa e os princípios de liberdade e igualdade – considerados, pela metrópole, como “os abomináveis princípios franceses”! Nesse caso, um elemento-chave foi a contestação do conceito do rei como um enviado divino: a nova visão determinava que seu poder lhe era legado pelos homens e não por Deus, idéia que se disseminou rapidamente na colônia por intermédio dos estudantes brasileiros, fi lhos de famílias ricas, que iam cursar a universidade na Europa. 2 Aula03.indd 51 1/12/2006, 1:10:07 PM 52 C E D E R J Formação Econômica do Brasil | A crise da economia colonial no Brasil sobretudo inglês, poderia esbarrar no pacto colonial? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ Resposta comentada O processo produtivo industrial caracterizava-se por uma grande capacidade de ampliação da oferta de produtos, considerando a recorrente incorporação de progresso técnico na atividade. A necessidade de encontrar mercados para escoar a produção poderia ser inviabilizada pelas restrições do pacto colonial. Aula03.indd 52 1/12/2006, 1:10:07 PM C E D E R J 53 A U LA 3 Liberdade, liberdade Observe este selo, lançado em comemoração aos 200 anos da Revolução Francesa. Nele, você pode observar a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, promulgada pela Assembléia Nacional em 1789. Aqui seguem alguns trechos deste documento que foi um marco na história das sociedades ocidentais.Em que partes do texto você pode identifi car traços ideológicos do liberalismo? I – O objetivo de toda associação política é a conservação dos direitos naturais e imprescritíveis do homem; esses direitos são a liberdade, a propriedade, a segurança e a resistência à opressão. III – O princípio de toda a soberania reside essencialmente na razão; nenhum corpo, nenhum indivíduo pode exercer autoridade que dela não emane diretamente. IV – A liberdade consiste em poder fazer tudo que não prejudique a outrem. Assim, o exercício dos direitos naturais do homem não tem limites senão aqueles que asseguram aos outros membros da sociedade o gozo desses mesmos direitos; seus limites não podem ser determinados senão pela lei. (...) VI – A lei é a expressão da vontade geral; todos os cidadãos têm o direito de concorrer, pessoalmente ou por seus representantes, à sua formação; ela deve ser a mesma para todos, seja protegendo, seja punindo. Todos os cidadãos, sendo iguais a seus olhos, são igualmente admissíveis a todas as dignidades, lugares e empregos públicos, segundo sua capacidade e sem outras distinções que as de suas virtudes e de seus talentos. (...) VIII – A lei não deve estabelecer senão penas estritamente necessárias, e ninguém pode ser punido senão em virtude de uma lei estabelecida e promulgada ao delito e legalmente aplicada. Atividade 2 4 Aula03.indd 53 1/12/2006, 1:10:07 PM 54 C E D E R J Formação Econômica do Brasil | A crise da economia colonial no Brasil (...) XI – A livre comunicação dos pensamentos e opiniões é um dos direitos mais preciosos do homem; todo o cidadão pode, pois, falar, escrever e imprimir livremente; salvo a responsabilidade do abuso dessa liberdade nos casos determinados pela lei. (...) XVII – A propriedade, sendo um direito inviolável, e sagrado, ninguém pode ser dela privado senão quando a necessidade pública, legalmente constatada, o exija evidentemente, e sob a condição de uma justa e prévia indenização. Resposta comentada Os ideais de liberdade permeiam todo o texto da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, porém estão mais evidentes em alguns trechos. No item 1, por exemplo, você deve ter selecionado: “esses direitos são a liberdade, a propriedade, a segurança e a resistência à opressão”. As liberdades individuais e sociais estão contidas nos itens IV, VI e XI. No artigo XVII, a defesa ao direito de propriedade está claramente enunciada em “A propriedade, sendo um direito inviolável, e sagrado (...)”. De todo modo, cabe uma observação importante. Apesar do caráter supostamente libertário e igualitário desse processo, o movimento de rebeldia interno à colônia dificilmente (quase nunca, na verdade) associava as revoltas à desumanidade da escravidão. Assumia puramente um caráter rural, em que a escravidão não era contestada – ao contrário, representava a única forma de relação de produção praticada. A aplicação das idéias liberais no Brasil apresentava, desta forma, limites importantes. Primeiro, um limite físico, determinado pela proibição de sua propagação através da censura a vários livros e publicações. Segundo, pela restrição das relações sociais, pois as idéias liberais, no Brasil, eram usadas apenas no sentido de contestação às relações metrópole/colônia. Na Europa, essas idéias representavam um escopo mais amplo de apoio aos interesses da burguesia industrial emergente. Essa mudança, de fato, inexistia no Brasil. Aula03.indd 54 1/12/2006, 1:10:08 PM C E D E R J 55 A U LA 3 AS MUDANÇAS NA METRÓPOLE E SUAS CONSEQÜÊNCIAS PARA O BRASIL O fi nal do século XVIII foi um período de acirramento das contra- dições de interesses colônia/metrópole. Em Portugal, o absolutismo seguia fi rme, em particular durante o reinado de Dom José I – conhecido pelo “D E S P O T I S M O E S C L A RE C I D O” representado por seu primeiro-ministro, o Marquês de Pombal, que cumpria um papel-chave na defi nição das diretrizes políticas e econômicas. No Brasil, o período foi marcado por difi culdades econômicas graves, resultantes da queda das exportações. A exceção, nesse contexto, foi o Maranhão, em virtude dos incentivos do Marquês de Pombal ao criar uma companhia de comércio altamente capitalizada para explorar e ampliar a produção e exportação de algodão, produto em alta substantiva no mercado internacional. O acirramento das crises internas e nas colônias, todavia, obrigou o ministro a demitir-se em 4 de março de 1777. Neste mesmo ano o rei faleceu, e o trono passou a ser ocupado por Dona Maria (sua fi lha, mãe de D. João VI e conhecida na História como “a louca”), iniciando a VI R A D E I R A . Na verdade, esse conjunto de mudanças não trouxe trans- formações importantes, pois de maneira geral a P O L Í T I C A P O M B A L I N A ainda prevalecia, graças à tentativa de preservar as estruturas do exclusivo comercial. A diferença fundamental foi a redefi nição de alguns laços formais que substanciavam sua existência, realizando ações como: (a) acabar com as companhias de comércio, permitindo uma maior liberdade aos comerciantes; (b) combate ao contrabando; (c) permissão para o comércio intercolonial com a África e o Oriente; (d) liberação do comércio e exploração do sal e da pesca da baleia, ter- minando o monopólio metropolitano nesse setor; (e) proibição da manufatura têxtil no Brasil. Essas mudanças refl etiam, em realidade, a crescente dependência econômica, por parte de Portugal, da colônia brasileira (essa exploração era condição básica para o desenvolvimento português) e, portanto, era vantajoso, para a metrópole, fazer concessões. Refl etiam, também, no nível das relações internacionais, as condições impostas pela proteção DE S P O T I S M O E S C L A RE C I D O Forma de manutenção das práticas absolutis- tas sem a associação do rei ao poder divino – dá um tom de racio- nalidade ao absolutis- mo, incorporando as idéias iluministas da razão. Em Portugal, D. José I encarnou este espírito e teve como principal articulador o Marquês de Pombal, primeiro-ministro responsável pelas medidas e articulações políticas. PO L Í T I C A P O M B A L I N A Conjunto de medidas visando ao fortaleci- mento do poder real em Portugal, como a reforma do exér- cito e da burocracia estatal. Tais medidas subjugaram os inte- resses da nobreza e reduziram fortemen- te o poder do clero. VI R A D E I R A Desmonte das políti- cas pombalinas ini- ciadas por D. Maria I em 1877, incluindo uma intensa perse- guição ao Marquês de Pombal até sua morte em 1782. Aula03.indd 55 1/12/2006, 1:10:08 PM 56 C E D E R J Formação Econômica do Brasil | A crise da economia colonial no Brasil inglesa. O caso da proibição das manufaturas é exemplar. A justifi cativa dada por Portugal era de que a ênfase produtiva deveria estar na agri- cultura, atividade principal da colônia. Uma diversifi cação em direção à produção industrial necessitaria da transferência de recursos (principal- mente mão-de-obra) da agricultura para a produção têxtil, reduzindo a capacidade de expansão agrícola. Havia, no entanto, a intenção de preservar a manufatura têxtil da metrópole da concorrência colonial, objetivando criar uma espécie de complementaridade entre a produção da colônia e da metrópole. O impacto real da medida era praticamente nulo, pois quase não havia produção têxtil no Brasil. A grande fonte de concorrência estava no contrabando inglês. Apesar da fl exibilização das relações expostas, as bases do exclu- sivo comercial estavam mantidas, e as reações no Brasil começavam a ganhar um contorno mais decisivo. Exemplos históricos importantes forama Inconfi dência Mineira e a Conjuração Baiana (conhecida como a Revolta dos Alfaiates), entre outros. Vamos ver estas duas revoltas com mais detalhes? Inconfi dência mineira Os inconfi dentes queriam a independência do Brasil e instaurar a República. Pretendiam incentivar as manufaturas, proibidas desde 1785, e fundar uma universidade em Vila Rica, atual Ouro Preto. Integrado por membros da elite intelectual e econômica da região – fazendeiros e grandes comerciantes –, o movimento refl ete as contradições desses segmentos: sua bandeira traz o lema libertas quae sera tamem (Liberdade ainda que tardia), mas não se propõe a abolir a escravidão. Conspiradores: entre os conspiradores estão Inácio José de Alva- renga Peixoto, ex-ouvidor de São João del Rey; Cláudio Manoel da Costa, poeta e jurista; tenente-coronel Francisco Freire de Andrada; Tomás Antô- nio Gonzaga, português, poeta, jurista e ouvidor de Vila Rica; José Álva- res Maciel, estudante de Química em Coimbra que, junto com Joaquim José Maia, procura o apoio do presidente americano Thomas Jefferson; Francisco Antônio de Oliveira, José Lopes de Oliveira, Domingos Vidal Barbosa, Salvador Amaral Gurgel, o cônego Luís Vieira da Silva; os padres Manoel Rodrigues da Costa, José de Oliveira Rolim e Carlos Toledo; e o alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes. Aula03.indd 56 1/12/2006, 1:10:10 PM C E D E R J 57 A U LA 3 Derrama: o momento escolhido para a eclosão da revolta é o da cobrança da derrama, imposto adotado por Portugal no período de declínio da mineração do ouro. A Coroa fi xa um teto mínimo de 100 arrobas para o valor do quinto. Se ele não é atingido, os mineradores fi cam em dívida com o fi sco. Na época, essa dívida coletiva chega a 500 arrobas de ouro, ou 7.500 quilos. Na derrama, a população das minas é obrigada a entregar seus bens para integralizar o valor da dívida. Devassa: o movimento é denunciado pelos portugueses Joaquim Silvério dos Reis, Brito Malheiros e Correia Pamplona, em 5 de março de 1789. Devedores de grandes somas ao tesouro real, eles entregam os parceiros em troca do perdão de suas dívidas. Em 10 de maio de 1789, Tiradentes é preso. Instaura-se a devassa – processo para estabelecer a culpa dos conspiradores –, que dura três anos. Em 18 de abril de 1792, são lavradas as sentenças: 11 são condenados à forca, os demais à prisão perpétua em degredo na África e ao açoite em praça pública. As sentenças dos sacerdotes envolvidos na conspiração permanecem secretas. Cláudio Manoel da Costa morre em sua cela. Tiradentes tem execução pública: enforcado no Rio de Janeiro em 21 de abril de 1792, seu corpo é levado para Vila Rica, onde é esquartejado e os pedaços expostos em vias públicas. Os demais conspiradores são degredados. Quer saber mais sobre a Inconfi dência Mineira? Acesse o site http://educaterra.terra.com.br/almanaque/inconfi dencia/ inconfi dencia_1.htm Conjuração baiana De caráter social e popular, a conjuração baiana, ou revolta dos alfaiates, como também é conhecida, explode em Salvador em 1798. Inspira-se nas idéias da revolução francesa e da inconfi dência mineira, divulgadas na cidade pelos integrantes da loja maçônica Cavaleiros da Luz, todos da elite local – Bento de Aragão, professor; Cipriano Bara- ta, médico e jornalista; o padre Agostinho Gomes e o tenente Aguilar Pantoja. O movimento é radical e dirigido por pessoas do povo, como os alfaiates João de Deus e Manoel dos Santos Lira, os soldados Lucas Dantas e Luís Gonzaga das Virgens. Propõe a independência, a igualdade racial, o fi m da escravidão e o livre comércio entre os povos. Aula03.indd 57 1/12/2006, 1:10:10 PM 58 C E D E R J Formação Econômica do Brasil | A crise da economia colonial no Brasil Em http://www.multirio.rj.gov.br/historia/modulo02/conj_ baiana.html, você pode encontrar mais informações sobre a Em http://www.multirio.rj.gov.br/historia/modulo02/conj_baiana.html, você pode encontrar mais informações sobre a Conjuração Baiana. Uns mais iguais do que outros? Leia a defi nição a seguir: Prevalece na literatura de formação econômica do Brasil a interpretação de que as idéias de liberdade e igualdade serviriam exclusivamente para os brancos (!) da colônia, cujos interesses vinham sendo contrapostos aos da metrópole. Como explicar esta visão à luz dos argumentos expostos? (WKIPEDIA, 2005) __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ Resposta Comentada O principal foco de descontentamento associava-se ao conflito de interesses de elites provocado pelo pacto colonial. As restrições do pacto à atividade econômica da metrópole impediam a ampliação dos negócios da elite colonial. Não havia, portanto, uma proposta de mudança das relações sociais e econômicas em curso no Brasil. Atividade 3 3 Aula03.indd 58 1/12/2006, 1:10:10 PM C E D E R J 59 A U LA 3 O ACIRRAMENTO DOS CONFLITOS DE INTERESSES E O PROCESSO DE INDEPENDÊNCIA Apesar das revoltas internas de cunho pseudoliberal, nada parecia determinar o rompimento das antigas formas de relacionamento Brasil- Portugal. As revoltas foram sufocadas na origem, implicando severas punições aos rebeldes. Além disso, eram estritamente organizadas pelas elites, com ignorância quase completa das camadas populares. O processo de separação colônia/metrópole só viria a ser precipitado pela invasão francesa a Portugal e a vinda da corte para o Brasil em 1808, na medida em que determinou uma séria de mudanças institucionais de relevo para que a colônia servisse de sede do governo no Rio de Janeiro, como a abertura dos portos e a criação do Banco do Brasil. A situação portuguesa de lucros extraordinários no comércio com a colônia foi então rompida, especialmente após a formalização dos tratados com a Inglaterra. A vinda da corte portuguesa para o Brasil A conjuntura européia no período napoleônico teve refl exos signifi cativos na história portuguesa. Neste contexto, no início do século XIX, observou-se uma importante deterioração das relações diplomáticas entre França e Inglaterra, com quem Portugal mantinha laços estreitos de aliança. Em novembro de 1807, as tropas francesas invadiram o território português, impondo uma transferência às pressas da corte portuguesa para o Brasil, sua principal colônia, com apoio da esquadra britânica. Esse processo determinou um aprofundamento ainda maior dos laços políticos e econômicos de Portugal e Inglaterra. As primeiras medidas tomadas com a chegada da corte ao Brasil foram: (a) abertura dos portos (1808), já que Portugal estava ocupado e não poderia exercer a função de entreposto comercial para as mercadorias brasileiras, condição defi nida no pacto colonial; (b) fomento à agricultura e fundação do Horto Real (Jardim Botânico) no Rio de Janeiro; (c) incentivo ao desenvolvimento das manufaturas,concedendo isenção de impostos a matérias-primas importadas; (d) permissão de acesso de estrangeiros às sesmarias, com o objetivo de garantir fronteiras com a expansão do povoamento; (e) criação do Banco do Brasil, com objetivo primordial de fi nanciar os gastos da Coroa. ?? Aula03.indd 59 1/12/2006, 1:10:11 PM 60 C E D E R J Formação Econômica do Brasil | A crise da economia colonial no Brasil No campo externo, dois aspectos sobressaíam. O primeiro era uma política direcionada a contrariar os interesses napoleônicos na Amé- rica do Sul, caracterizando uma estratégia expansionista na invasão da Guiana Francesa, em 1809. Outro aspecto foi que, com o objetivo de tornar-se regente do império espanhol na América, no período de ocu- pação da Espanha pelas tropas francesas, D. João VI envia navios para sitiar e ocupar a Banda Oriental (Uruguai). Esse processo culminou com a anexação da Banda Oriental, em 1821, como Província Cisplatina, após o período de desagregação do Vice-Reinado do Prata, que seguiu a independência da Argentina em 1816. Dirigido por Carla Camuratti, o fi lme Carlota Joaquina, princesa do Brasil traça, de maneira cômica, um perfi l da história do país no período da permanência da Família Real portuguesa, com base na história desta imperatriz, esposa de D. João VI. Carlota Joaquina e D. João viveram 13 anos no Brasil, deixando, como legados, a fundação do Banco do Brasil, a criação da Biblioteca Nacional, da Escola de Medicina e do Jardim Botânico. Da próxima vez que você for à locadora, que tal alugar esse fi lme? Direção: Carla Camuratti Ano: 1995 Duração: 101 minutos Os tratados com a Inglaterra O aumento da dependência de Portugal em relação à Inglaterra, decorrente da invasão napoleônica de 1807, trouxe conseqüências relevantes para o Brasil. No intuito de garantir vantagens sobre outros países nas relações econômicas a partir do Brasil, a Inglaterra impôs a assinatura de tratados que lhe afi ançaram uma posição extremamente favorável nas relações econômicas – em troca de proteção e apoio na estratégia expansionista de D. João VI nas colônias ultramarinas. Para a Inglaterra, essa era uma questão fundamental, pois o Bloqueio Continental (fechamento dos portos europeus para a Inglaterra) lhe impunha a necessidade de buscar novos mercados. Para Portugal, apesar de saber das desvantagens para os comerciantes portugueses, os interesses no aprofundamento da aliança pesaram mais. Os principais tratados foram: 1) Tratado de Aliança e Amizade: defi nia as condições de defesa mútua e apoio ao ataque português à Guiana Francesa. Em contrapartida, acordou-se o comprometimento de Portugal com a redução do tráfi co de escravos, circunscrito à região abaixo da linha do equador. ?? Aula03.indd 60 1/12/2006, 1:10:11 PM C E D E R J 61 A U LA 3 Repensando a abertura dos portos Diante do quadro vivenciado pela colônia no início do século XIX, é possível afi rmar que a abertura dos portos representou a efetivação da independência econômica do Brasil em relação a Portugal? __________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ Atividade 4 2 2) Tratado de Comércio e Navegação: defi nia vantagens tarifárias para a Inglaterra, até mesmo sobre Portugal, no comércio com o Brasil. A tarifa alfandegária aplicada sobre os produtos ingleses seria de 15%, contra 16% para os portugueses e 24% para os demais países. Além disso, os cidadãos de origem inglesa no Brasil obtiveram o privilégio da extraterritorialidade, de maneira que os atos cometidos por ingleses no país seriam julgados por juízes da Inglaterra. No que se refere à questão religiosa, os cultos protestantes foram liberados no Brasil. Finalmente, este tratado deu liberdade aos ingleses para criar casas de comércio e negociar livremente tanto os produtos brasileiros no exterior, quanto as vendas de importados para o Brasil. Como será visto nas próximas aulas, este foi um fator-chave para o processo de acumulação de capital na cultura cafeeira, principal produto de exportação do Brasil a partir do início do século XIX. ?? Do ponto de vista dos colonos brasileiros, a liberalização da econo- mia e a dinamização do comércio (resultado da vinda da Corte e da aber- tura dos portos) modifi caram fundamentalmente o cenário. A manutenção estrutural do pacto colonial funcionava como um entrave à expansão da economia doméstica, e os grandes agricultores – classe dominante – enxer- gavam Portugal como um entreposto desnecessário e caro. O descontentamento aumentava internamente, e as medidas asso- ciadas ao pacto colonial eram cada vez mais repelidas, como a proibição do comércio entre as províncias, o monopólio de portugueses nos cargos públicos e, sobretudo, os impostos abusivos cobrados pela Coroa. Estes ele- mentos conjugavam-se na intensifi cação do processo de independência. 1 Aula03.indd 61 1/12/2006, 1:10:12 PM 62 C E D E R J Formação Econômica do Brasil | A crise da economia colonial no Brasil __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ Resposta comentada Sim, pois o fi m do exclusivo comercial intensifi cou as relações de comércio entre o Brasil e a Inglaterra, redundando nos tratados de 1810, em que a Inglaterra garantia vantagens absolutas sobre o resto do mundo, inclusive Portugal. É importante que você entenda, entretanto, que o processo de independência não era marcado por um forte sentimento nacionalista, notadamente do ponto de vista econômico, uma vez que a economia era claramente voltada para o exterior, com um mercado interno extrema- mente restrito e um sistema econômico doméstico desintegrado (o Brasil era formado por ilhas de produção cujo elo básico de ligação eram os HINTERLANDS pecuários). Dessa forma, os movimentos de revolta sempre foram localizados regionalmente, sem qualquer unidade nacional – pre- valecia, portanto, uma espécie de “antiportuguesismo” caricaturado na fi gura dos “branquinhos do reino”. H I N T E R L A N D S Regiões mais afasta- das da costa. Aula03.indd 62 1/12/2006, 1:10:12 PM C E D E R J 63 A U LA 3 Características do processo de independência Apesar do crescente descontentamento interno na colônia, ocasionando até o surgi- mento de revoltas internas, o processo de independência sofreu importante infl uência externa. Como explicar essa característica? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ Resposta comentada Os acontecimentos históricos na Europa, em especial o Bloqueio Continental, deter- minando a vinda da corte para o Brasil, além dos interesses econômicos da Ingla- terra,tiveram um peso relevante e precipitaram o processo de independência do Brasil. Assim, o exclusivo colonial perdia totalmente o sentido de permanência. Atividade 5 Figura 3.2: O Grito do Ipiranga, de Pedro Américo (1888). A INDEPENDÊNCIA DO BRASIL Em 7 de setembro de 1822, D. Pedro I proclamou a independência do Brasil em relação a Portugal, tornando-se nosso primeiro imperador. Estava conquistada, então, a autonomia política, mas não a econômica: Portugal exigiu 2 milhões de libras para reconhecer a independência do Brasil. Como o recém-formado império não dispunha de capital sufi ciente, D. Pedro decidiu pedir um empréstimo à Inglaterra. Em relação aos demais países, México e Estados Unidos foram os pri- meiros países a reconhecer nossa independência. Transformavam-se também as relações comerciais, com maior autonomia para o Brasil. 43 Aula03.indd 63 1/12/2006, 1:10:12 PM 64 C E D E R J Formação Econômica do Brasil | A crise da economia colonial no Brasil A História a ser aprendida Por Alexandre Barbosa* É preciso fi car claro que, mais que a roupa usada por D. Pedro ou a circunstância em que aconteceu a proclama- ção, o importante é a ausência do povo deste processo históri- co. A independência do Brasil, ao contrário de outras nações, foi um pacto de elite: o poder passou da Coroa Portuguesa para a aris- tocracia criada por ela no Brasil. Não houve uma guerra de indepen- dência. O processo não se rompeu. A escravidão não acabou, o Brasil continuou dependente de Londres e tecnologicamente atrasado. A historiografi a não deve apenas criticar o quadro de Pedro Américo como um embuste, mas deve apontar o processo de independên- cia formal política de Portugal passando para dependência do capital inglês, e também evidenciar que a Proclamação da República, a queda de Vargas, o fi m da Ditadura, tudo não passou de pactos de elite. (BARBOSA, 2005) !! No plano interno, porém, a independência não provocou grandes mudanças. A estrutura agrária permaneceu inalterada, com base na escravi- dão, na monocultura e no latifúndio, e a distribuição de renda continuava desigual, benefi ciando, principalmente, a elite agrária. O povo permaneceu à margem deste processo. E em nossos dias, será diferente? CONCLUSÃO A crise do sistema colonial brasileiro resultou do confl ito de interesses entre a metrópole e a classe produtiva e comercial atuante na colônia. O crescimento das relações de produção e comércio no interior da economia brasileira, especialmente a partir do avanço da explora- ção do ouro, determinou uma maior preocupação da metrópole com o controle das atividades econômicas da colônia e a tentativa de preservar seus ganhos extraordinários. Dessa forma, a interferência da metrópole nas atividades internas desenvolvidas na colônia foi o estopim da crise. A vinda da corte portuguesa para o Brasil – e a formalização dos tra- tados com a Inglaterra – precipitou o fi m das bases do pacto colonial, na medida em que as elites coloniais perceberam que poderiam obter maiores vantagens com a bandeira do livre comércio. Aula03.indd 64 1/12/2006, 1:10:13 PM C E D E R J 65 A U LA 3 1. “A economia mineira foi a mais propícia à formação de um mercado interno (...) De fato, longe da costa, em alguns casos, compensava à atividade local suprir necessidades antes satisfeitas pela importação” (LACERDA et al., 2001, p. 24). “A queda do ‘exclusivo metropolitano’ e, em seguida, a formação do Estado Nacional criaram a possibilidade de que se nacionalizasse a apropriação do excedente e de que se internalizassem as decisões de investir” (MELLO, 1982, p. 58). Relacione estas citações à crise nas bases do antigo sistema colonial. ______________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ Resposta Comentada A criação de um mercado interno mais significativo e, portanto, da formação de uma elite econômica cujos interesses estavam mais focados na colônia, minou as bases fundamentais do pacto colonial; as decisões de investir passaram a estar mais focadas nos interesses internos da colônia. Atividades Finais Aula03.indd 65 1/12/2006, 1:10:13 PM 66 C E D E R J Formação Econômica do Brasil | A crise da economia colonial no Brasil 2. Imagine que você é o editor do jornal Trem da História, que relata os principais acontecimentos dos períodos estudados no seu curso de Administração. Neste primeiro número, você tem uma tarefa muito importante: organizar a primeira página do jornal. O título principal é: As causas da independência do Brasil. Você deve organizar as matérias de maneira que as mais importantes fi quem na parte superior do jornal. Os temas que estiverem relacionados podem fi car próximos, para facilitar a compreensão do leitor. Mãos à obra! Trem da História – uma publicação do curso de Administração do Cederj Notícia 1 Notícia 2 Notícia 3 Notícia 4 Notícia 5 Notícia 6 Aula03.indd 66 1/12/2006, 1:10:13 PM C E D E R J 67 A U LA 3 Triunfo do povo em Paris No dia 14 de julho de 1789, em Paris, os cidadãos franceses rebelaram-se contra o rei Luís XVI. Os manifestantes tomaram a prisão política da Bastilha, símbolo da monarquia francesa, reivindicando “liberdade, igualdade e fraternidade”. A família real foi capturada enquanto tentava escapar do país, sofrendo julgamento público. Outros baluartes da monarquia estão sendo perseguidos. Muitos nobres preparam sua fuga para a Inglaterra ou outros países em que a monarquia subsiste. Em agosto, a Assembléia Nacional promulgará a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, contendo as orientações do novo governo. Revolução Industrial: máquinas fazem o trabalho do homem Utilização de máquinas na indústria. Produção em maior quantidade, a menores preços. Iniciada na Inglaterra a partir do século XVIII, esta mudança nos meios de produção – denominada, a partir deste momento, Revolução Industrial – provocou a migração dos camponeses para as cidades. Estes trabalhadores, sem moradia e sem meios para sustentar-se, vão engrossar as fi leiras de desempregados nas fábricas. Crescimento populacional desenfreado, êxodo rural e desemprego são as conseqüências deste processo para a população. Brasil luta por independência Os gritos de liberdade e igualdade ouvidos na França começaram a ecoar no Brasil. Em Minas Gerais, o movimento que defendeu a independência do Brasil em relação a Portugalfoi denominado Conjuração ou Inconfi dência Mineira. Os participantes, pertencentes à classe que tinha acesso à cultura e às idéias do Iluminismo, foram presos, condenados ao exílio perpétuo e o líder, o alferes Joaquim José da Silva Xavier, esquartejado. Já na Bahia, a Conjuração Baiana ou Revolta dos Alfaiates, também inspirada pelos ideais franceses, contou a participação popular. Este movimento defendia a liberdade para os escravos e a República, outro diferencial em relação à Inconfi dência Mineira. Igualmente sufocada pela Coroa, a Conjuração Baiana também teve seus mártires: quatro participantes foram enforcados. Chegada da Família Real ao Brasil e abertura dos portos Em 7 de março de 1808, chega, ao Rio de Janeiro, a corte portuguesa. Ameaçados por Napoleão, que intencionava invadir Portugal, a família real e os principais integrantes da corte vieram ao Brasil para fi car. Uma das primeiras medidas tomadas foi a abertura dos portos brasileiros às nações amigas – principalmente a Inglaterra, com quem Portugal mantém acordos comerciais. O Rio de Janeiro torna-se, então, o centro das decisões econômicas e políticas da colônia. Aula03.indd 67 1/12/2006, 1:10:13 PM 68 C E D E R J Formação Econômica do Brasil | A crise da economia colonial no Brasil Produção interna aumenta e mercado cresce na colônia Temos a alegria de dar, por meio desta publicação, notícias muito alvissareiras. As atividades de subsistência crescem e se diversifi cam na Terra de Santa Cruz. Pecuária, cotonicultura, entre outras, ajudaram a interiorização do país. Com a ocupação do interior da colônia, aumentam a produção e o mercado interno. Independência dos Estados Unidos As colônias inglesas na América do Norte proclamam sua independência. Em 4 de julho de 1776, reunidos no Congresso, representantes dos 13 estados assinaram uma declaração, afi rmando que “que estas colônias unidas são e de direito têm de ser Estados livres e independentes, que estão desoneradas de qualquer vassalagem para com a Coroa Britânica, e que todo vínculo político entre elas e a Grã-Bretanha está e deve fi car totalmente dissolvido”. Com a independência dos agora denominados Estados Unidos da América, estão abalados os alicerces do sistema colonial no continente. Resposta Comentada Como bom editor, você deve ter colocado lado a lado, fatores internos e externos. No alto da sua primeira página, logo após o título, a revolução francesa pode ser uma boa matéria, principalmente se colocada ao lado das revoltas internas na colônia. Afinal, a partir dela surgiram os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade defendidos nas revoltas e que, mais tarde, seriam os alicerces para justificar a independência. A independência dos Estados Unidos e a chegada da família real ao Rio de Janeiro podem ficar logo abaixo, já que foram importantes, respectivamente, para provar que libertar-se da metrópole era possível, e para fazer crescer o desejo por autonomia comercial da colônia. Esta é a base do conflito entre as elites locais – os portugueses que moravam no Brasil – e as da metrópole, que buscavam o máximo de lucro para si. A revolução industrial pode vir para “fechar” a página, já que teve como conseqüências, entre outras, o aumento da produção e o desenvolvimento do capitalismo industrial, origens do liberalismo econômico. Com todos estes elementos, estava configurada a crise no sistema colonial e, posteriormente, a independência política do Brasil em relação a Portugal. Aula03.indd 68 1/12/2006, 1:10:14 PM C E D E R J 69 A U LA 3 O crescimento da atividade econômica no interior da colônia brasileira determinou o surgimento de um intenso confl ito entre as elites locais e a metrópole. O foco central deste embate era o pacto colonial. O esforço de manutenção das bases do pacto através da política pombalina piorou signifi cativamente o quadro. A vinda da corte portuguesa e a maior dependência da tutela inglesa causaram o rompimento defi nitivo do pacto colonial, situação formalizada com a assinatura dos tratados com a Inglaterra. R E S U M O Aula03.indd 69 1/12/2006, 1:10:14 PM
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