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Meio Ambiente e Constituição

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O MEIO AMBIENTE NAS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS
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	A Constituição, como lei fundamental, tem como fundamento determinar o teor e estabelecer limites ao ordenamento jurídico de um Estado Nacional. Por uma questão de supremacia, a Constituição da República de um Estado democrático, está colocada como o centro das normas jurídicas. 
	Nela estão contidas as normas fundamentais que deverão ser operacionalizadas, aplicadas e respeitadas pelas demais normas jurídicas. A Constituição é a lei suprema do Estado, de maneira que nesta são previstas a estruturação deste e a organização de seus órgãos, e, ainda, se encontram as normas fundamentais do Estado, verificando-se, assim, a sua superioridade em relação às demais normas jurídicas.
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	Cabe salientar que, embora seja na Carta Política que se encontram as normas fundamentais, as Constituições brasileiras anteriores à de 1988 nada trouxeram especificamente sobre a proteção do meio ambiente natural. 
	Milaré leciona que:
 “As constituições que precederam a de 1988 jamais se preocuparam com a proteção do ambiente de forma específica e global. Nelas sequer uma vez foi empregada a expressão meio ambiente, a revelar total inadvertência ou, até, despreocupação com o próprio espaço em que vivemos.”
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	Numa rápida análise às Constituições anteriores, vemos que a Constituição Imperial de 1824 não tratou da matéria ambiental exceto pelo que preceituava o artigo 179, nº.24, “cuidando da proibição de indústrias contrárias à saúde do cidadão”. Porém, Antunes observa que:
	A concepção predominante, no entanto, era a de que o Estado não deveria se imiscuir nas atividades econômicas, ou melhor, fazia-o por abstenção, e logicamente, não cabia à Constituição traçar qualquer perfil de uma ordem econômica constitucional.
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	Já a Constituição de 1981, atribuiu, tão somente, em seu artigo 34, nº.29, competência legislativa à União para legislar sobre as suas minas e terras. Por sua vez, a Constituição de 1934, nos artigos 10, III, e 148 dispensou proteção às belezas naturais, ao patrimônio histórico, artístico e cultural; e em seu artigo 5º, XIX, j, atribuía à União a competência legislativa sobre “bens de domínio federal, riquezas do subsolo, mineração, metalurgia, água, energia hidrelétrica, florestas, caça e pesca e sua exploração”. 
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	A Carta Magna de 1937 apontava em seu artigo 16, inciso XIV, que competia privativamente à União o poder de legislar sobre “minas, águas, florestas, caça, pesca e sua exploração”; se preocupou ainda, em seu artigo 134, com a “proteção dos monumentos históricos, artísticos e naturais, bem como das paisagens e locais especialmente dotados pela natureza”; cuidou ainda da “competência legislativa sobre subsolo, águas e florestas no artigo 18, onde também tratou da proteção das plantas e rebanhos contra moléstias e agentes nocivos”.
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	Embora tenham ocorrido importantes evoluções no âmbito econômico e o país tenha se desenvolvido, no âmbito ambiental não foi dada a devida importância às questões ambientais. Repetiu-se na Carta de 1946 o que havia sido prescrito na Constituição de 1934 e na de 1937, de maneira que o seu 5º, inciso XIV, alínea l, previu que competia a União Federal legislar sobre riquezas do solo, mineração, metalúrgica, águas, energia elétrica, florestas, caça e pesca, sendo que, repetiu da mesma forma, disposições acerca da “defesa do patrimônio histórico, cultural e paisagístico”.
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	A Lei Maior de 1967 posicionou-se de maneira idêntica a anterior, determinando em seu artigo 8º, XVII, alíneas h e i, ser atribuição da União legislar sobre normas gerais de defesa da saúde, sobre jazidas, florestas, caça, pesca e águas. Porém, também sem uma visão holística do Meio Ambiente ou um enfoque preservacionista ou sustentável. A Emenda Constitucional nº. 1 de 1969, manteve os termos das demais constituições, excetuando-se no que diz respeito “às competências legislativas em relação à energia que foi subdividida em elétrica, térmica, nuclear ou de qualquer natureza”. 
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	Com o advento da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, a proteção ao meio ambiente ganha identidade própria ao deixar de ser considerado como um bem jurídico ligado a outrem. O meio ambiente passa a ser visto com uma autonomia em relação a outros bens protegidos pela ordem jurídica, como o direito à vida, à saúde, à propriedade, à liberdade, entre outros. A Carta Magna trouxe a preocupação com a implementação de direitos e deveres relacionados à eficácia do Direito Ambiental e seus instrumentos. 
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	Em seu artigo 225, a Lei Máxima preceitua que:
	“Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preserva-lo para as presentes e futuras gerações.”
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	Ao reconhecer o meio ambiente como “bem de uso comum do povo”, ou seja, bens utilizados por todos os membros da coletividade sem distinção, o constituinte pátrio demonstra que a proteção ao meio ambiente não representa apenas um programa, mas que esta é dotada de eficácia.
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	A Constituição Federal de 1988 abandonou o modelo convencional de ser apenas um simples instrumento de organização da vida econômica, moldável aos interesses dos grupos predominantes, mudando, inclusive, quanto aos objetos que visa assegurar. Por ser uma Constituição que tem como objetivo assegurar o “bem-estar e as justiças sociais”, não poderia deixar de acolher a proteção do meio ambiente, reconhecendo-o como bem autônomo e jurídico. 
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	Assim, ao admitir que o meio ambiente dispõe de todos os elementos necessários para o reconhecimento expresso constitucional, prevê em dispositivos esparsos a legitimidade e viabilidade do seu artigo 225, sendo as normas de tutela ambiental encontradas ao longo do texto fundamental.
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O CONTEÚDO NORMATIVO DO ARTIGO 225 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988
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	Devida à importância que o meio ambiente veio adquirindo com o passar dos anos, o legislador resolveu criar um capítulo especial na Constituição Federal, procurando disciplinar a matéria em um único artigo, contendo seis parágrafos. O Direito Ambiental encontra se conteúdo normativo destacado no capítulo VI, do título VIII, que só contém o artigo 225, com seus parágrafos e incisos. 
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	Afonso da Silva divide o artigo 225 da Constituição Federal em três conjuntos de normas: a) norma-princípio ou norma-matriz – está contido no caput do artigo como meio ambiente ecologicamente equilibrado; b) normas-instrumentos – são os instrumentos inseridos no parágrafo 1º, incisos I a VII, colocados à disposição do Poder Público para se dar cumprimento à norma-matriz; e c) conjunto de determinações particulares – referidos nos parágrafos 2º a 6º, relaciona-se objetos e setores dado que são elementos sensíveis que requerem imediata proteção e direta regulamentação constitucional.
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	Esse artigo incorporou em nosso ordenamento a idéia de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente ecologicamente equilibrado, como parte do conceito de cidadania, influenciado pelos Direitos Humanos internacionais, como o direito ao desenvolvimento, à saúde e à educação. Visando um maior esclarecimento, cabe entendermos o que vem a ser desenvolvimento sustentável, meio ambiente ecologicamente equilibrado e direitos humanos internacionais.
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	Para que possamos compreender a idéia de Desenvolvimento Sustentável é necessário antes entendermos o que vem a ser o desenvolvimento econômico. Assim, segundo Silva, por desenvolvimento econômico devemos entender o “processo que se traduz pelo incremento da produção de bens por uma economia, acompanhado de transformações estruturais, inovações tecnológicas e empresariais, e modernização em geral da mesma economia”.
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	A modernização
e a industrialização trouxeram a idéia de que o desenvolvimento econômico era tudo o que importava, porém este crescimento econômico traz um grave contraponto, qual seja a degradação do meio ambiente. Com o intuito de ajustar o crescimento econômico com a preservação do meio ambiente e dos recursos ambientais, nasce a idéia de desenvolvimento sustentável. O desenvolvimento sustentável “aquele que atende as necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem as suas próprias necessidades”, de maneira que o desenvolvimento econômico e o meio ambiente devem agir de maneira integrada, pois ambos são fundamentais para a existência e sobrevivência do homem.
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	Ao trazer a idéia de meio ambiente ecologicamente equilibrado, a CF/88, trouxe a implicação de um direito de terceira geração, de tal forma que os direitos não se destinam à proteção dos interesses individuais ou de um determinado Estado ou grupo, mas sim ao gênero humano. Esse direito tem sido enquadrado no âmbito dos direitos sociais, correspondendo a uma ampliação do direito à saúde e aprofundando o direito à vida. Como o advento do artigo 225 da Constituição Federal o meio ambiente ganhou posição de Direito Humano Internacional, de maneira que Bobbio, ao se referir aos direitos humanos de terceira geração, preceitua que “o mais importante deles é o reivindicado pelos movimentos ecológicos: o direito de viver num meio ambiente não poluído”. 
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Assim, como já previsto na Declaração de Estocolmo de 1972, em seu Princípio 18 (bem comum da humanidade), passamos a compreender o meio ambiente como um interesse comum superior da humanidade, e não mais exclusivamente a um direito internacional dos Estados.
Visando resguardar este direito de terceira geração, o constituinte pretendeu assegurar a todos o direito de que a vida saudável não seja alterada de maneira prejudicial, pois as condições que permitem, regem e abrigam a vida são essenciais. 
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A importância dada ao assunto estabeleceu um dever tanto para o Poder Público como para a sociedade de defender o meio ambiente, não se podendo mais pensar em tutela ambiental restrita a um único bem, vez que o meio ambiente é uma totalidade e só assim pode ser compreendido e estudado.
A Constituição Federal ao determinar, em seu artigo 225, que o meio ambiente é bem de uso comum do povo de direito de todos trouxe uma ampliação ao conceito jurídico de meio ambiente. 
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Isto por que não estamos perante um bem que possa ser definido como de uma ou outra pessoa jurídica de direito público, ao contrário, o meio ambiente é integrado por bens pertencentes a diversas pessoas jurídicas, naturais ou não, públicas ou privadas.
O Direito Ambiental positivou o conceito normativo do meio ambiente no artigo 3º da Lei 6.938/1981, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente. Esta Lei define o meio ambiente como “o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege ávida em todas as suas formas”. 
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Nas constituições, o meio ambiente foi introduzido na Carta de 1967, sendo mantido pelas demais.
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Entende-se por meio ambiente cultural aquele que “é integrado pelo patrimônio histórico, artístico, arqueológico, paisagístico, turístico, que embora artificial, em regra, como obra do homem, difere do anterior(que também é cultural) pelo sentido de valor especial”. 
Ao se tratar de meio ambiente cultural, o objeto imediato de proteção pertinente à qualidade de vida é o patrimônio cultural de um povo, vindo este a ser aquele bem que traduz a história, a cultura e a formação de determinada sociedade. 
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Por outro lado, o meio ambiente artificial “é compreendido pelo espaço urbano construído, consistente no conjunto de edificações (chamado de espaço urbano fechado), e pelos equipamentos públicos (espaço urbano aberto)”, referindo-se a todos os espaços habitáveis e não discriminadamente ao meio urbano ou rural. 
Já o meio ambiente do trabalho compreende a idéia do local onde as pessoas desempenham as suas atividades laborais. 
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Para Fiorillo:
	“Constitui meio ambiente do trabalho o local onde as pessoas desempenham as suas atividades laborais, sejam remuneradas ou não, cujo equilíbrio está baseado na salubridade do meio e na ausência de agentes que comprometem a incolumidade físico-psíquica dos trabalhadores, independente da condição que ostentem (homem ou mulheres, maiores ou menores de idades, celetistas, servidores públicos, autônomos, etc.). Caracteriza-se pelo complexo de bens imóveis e móveis de uma empresa ou sociedade, objeto de direitos subjetivos privados e invioláveis da saúde e da integridade física dos trabalhadores que a freqüentam.”
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Ao se trazer a expressão meio ambiente ecologicamente equilibrado, não significa tratar da inalterabilidade das condições naturais, mas sim buscar-se a harmonia ou a proteção e a sanidade entre os vários bens que compõem a ecologia. 
Para Milaré, citado por Luís Paulo Sirvinskas, essa expressão deve ser interpretada conciliando-se o binômio: desenvolvimento, que está previsto no art. 170, VI, da Cata Magna, versus meio ambiente, inserido no art. 225, caput, também da Lei Máxima. 
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	(...) meio ambiente e desenvolvimento significa considerar os problemas ambientais dentro de um processo contínuo de planejamento, atendendo-se adequadamente às exigências de ambos e observando-se as suas inter-relações particulares a cada contexto sociocultural, político, econômico e ecológico, dentro de uma dimensão tempo/espaço. Em outras palavras, isto implica dizer que a política ambiental não se deve erigir em obstáculo ao desenvolvimento, mas sim em um de seus instrumentos, ao propicia a gestão racional dos recursos naturais, os quais constituem a sua base material.
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Porém, a busca pelo equilíbrio ecológico não significa a inalterabilidade das condições naturais, mas sim a harmonia entre os vários bens que compõem a ecologia, sendo esta compreendida por populações, comunidades, ecossistemas e biosfera. O artigo 225, caput, ainda faz referência à ”qualidade de vida”. 
Embora tenha deixado de maneira vaga e complexa a interpretação de tal expressão, percebe-se que esta trata de uma preocupação com a manutenção das condições normais do meio ambiente, condições estas que propiciam o desenvolvimento pleno de todas as formas de vida. 
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Assim, buscou-se a preservação do meio ambiente como um todo, não apenas no sentido da qualidade de vida humana, buscando preservar as relações que asseguram a vida em suas múltiplas facetas. 
Tal concepção está intimamente ligada ao princípio da finalidade administrativa que “impõe que o administrador, ao manejar as competências postas a seu encargo, atue com rigorosa obediência à finalidade de cada qual”. Assim, toda atividade estatal deve se dirigir ao atendimento de um interesse público previsto em lei, não podendo este ser substituído por qualquer outro interesse. 
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Cabe ainda lembrar que todos os vinte e seis princípios contidos na Declaração de Estocolmo de 1972 foram inseridos no artigo 225 da Constituição Federal. Esses princípios têm como finalidade a efetivação de um meio ambiente ecologicamente equilibrado e de uma sadia qualidade de vida do homem. 
Deve ainda o artigo 225 ser interpretado juntamente com os artigos 1º ao 4º da Lei Máxima, uma vez que estes “transformam a tutela ambiental em um instrumento de distribuição da necessária cidadania e de dignidade à pessoa humana”. 
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Embora o direito à sadia qualidade de vida não esteja previsto explicitamente no artigo 5º da Constituição Federal, trata-se de um direito fundamental a ser alcançado e protegido pelo Poder Público e a coletividade. 
A Constituição Federal, com o objetivo de tornar efetivo o exercício do direito ao meio ambiente sadio, estabeleceu uma gama de deveres ao Poder Público,
arroladas nos incisos I ao VII do §1º do artigo 225, que se constituem em direitos públicos subjetivos, exigíveis pelo cidadão a qualquer momento.
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Dessa forma, trouxe à Administração Pública a exigência de uma ativa participação na gestão ambiental, impondo a seus órgãos o dever de atuação competente na busca da prevenção dos danos e agressões ao meio ambiente. O princípio da participação nada mais é do que um agir em conjunto da sociedade e do Estado, de maneira que se constitui importante fator para auxiliar a sustentabilidade e o pleno exercício de todos os princípios do Direito Ambiental.
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Em virtude de tal responsabilidade, o legislador declinou ao poder público o dever de promover a educação ambiental, uma vez que esta ataca o problema em sua origem, impedindo o surgimento de danos ambientais. 
Assim, a educação ambiental deve ser vista como o fim específico a ser atingido, de maneira que tenha como objetivo a consciência individual e coletiva sobre as questões ambientais, de maneia a motivar a sociedade a refleti e principalmente a agir de modo a alterar a qualidade de vida, hoje, degradada. 
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A educação ambiental decorre do princípio da participação na tutela do meio ambiente, buscando-se trazer a consciência ecológica da sociedade. 
Conforme Fiorillo e Rodrigues educar ambientalmente significa:
	a) reduzir os custos ambientais, à medida que a população atuará como guardiã do meio ambiente; b) efetivar o princípio da prevenção; c) fixar a idéia de consciência ecológica, que buscará sempre a utilização de tecnologias limpas; d) incentivar a realização do princípio da solidariedade, no exato sentido que perceberá que o meio ambiente é único, indivisível e de titulares indetermináveis, devendo ser justa e distributivamente acessível a todos; e) efetivar o princípio da participação, entre outras finalidades.
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Porém, a responsabilidade pela preservação do meio ambiente não é somente do Poder Público, mas também da coletividade. Deixando o cidadão de ser apenas um titular do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, passando também a titularidade do dever de defesa e proteção desse meio ambiente.
Para um esclarecimento maiôs da questão, cabe agora fazermos uma breve análise do que vêm a ser os direitos “transindividuais” e “metaindividuais”. 
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Por transindividuais são considerados aqueles direitos que extrapolam o indivíduo, transcendendo o limite da esfera de direitos e obrigações de sentido individual. Rodolfo de Camargo Mancuso, ensina que são os “interesses que depassam a esfera de atuação dos indivíduos isoladamente considerados, para surpreendê-los em sua dimensão coletiva”. 
Já por meta individual Mancuso entende como tal aquele “quando além de depassar o círculo de atributividade individual, corresponde à síntese dos valores predominantes num determinado segmento ou categoria social”.
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	Todos, portanto, têm, no Direito Ambiental, um direito fundamental que cumpre a função de integrar os direitos à saudável qualidade de vida, ao desenvolvimento econômico e à proteção dos recursos naturais, tanto os renováveis (como por exemplo, a biodiversidade e a preservação de florestas), bem como os não-renováveis (como o petróleo, por exemplo). Com o advento do artigo 225 cria-se um direito constitucional fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado que, como todo direito fundamental, torna-se indisponível. Essa indisponibilidade vem acentuada na Constituição Federal pelo fato de que a preservação ao meio ambiente deve ser feito no interesse tanto das presentes como das futuras gerações.
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O DIREITO FUNDAMENTAL AO MEIO AMBIENTE
Direitos fundamentais são aqueles direitos que visam a proteção do indivíduo de forma individual e coletiva, contra atuação do Estado e de outros indivíduos, bem como o fortalecimento das instituições, buscando uma melhor vivência dos seres humanos no ambiente. 
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	Com o desenvolvimento da sociedade passa-se a necessitar de uma harmonia entre os interesses dos indivíduos e da sociedade, de maneira que um não é mais importante do que o outro, mas sim que devem existir conjuntamente. Assim, é necessária a conceituação dos direitos fundamentais para que se possa compreender a sua importância e profundidade para os indivíduos e a coletividade. Vislumbra-se que são considerados direitos fundamentais “os direitos ou as posições jurídicas subjectivas das pessoas enquanto tais, individual ou institucionalmente consideradas, assentes na Constituição(...)”.
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	Com o fim de conceituar o que vêm a ser e a importância dos direitos humanos, Amauri da Silva leciona que:
	“os direitos humanos devem ser entendidos não como direitos à satisfação das necessidades biológicas, mas sim como direitos às condições de vida que nos permitam desenvolver e utilizar nossas qualidades humanas de inteligência e consciência, satisfazendo nossas necessidades espirituais.”
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Contudo, com o acelerado aumento da população e a aparente escassez de recursos naturais, conforme já referido, surgiu um impasse entre priorizar os Direitos Humanos ou o Direito Ambiental, sendo duas as necessidades básicas: preservar ou desenvolver. 
Com a ocorrência da urbanização, isto é, alta concentração populacional em um determinado território, passa a ser observado o problema da conservação da natureza. Em virtude desse crescimento, há uma necessidade em organizá-lo, por meio de saneamento básico, construção de moradias, etc., atividades que, de uma maneira ou outra, geram uma degradação ao meio ambiente, podendo por em risco a própria subsistência da coletividade. 
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Por conseqüência, o mundo começa a sentir a necessidade de elevar à categoria de direito constitucional o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, tendo a Declaração das Nações Unidas de Estocolmo como fruto destas preocupações.
Com efeito, o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado adquire status de direito fundamental, na esfera internacional, com o advento da Declaração de Estocolmo em 1972, constituindo-se tal diploma essencial à expansão da questão ambiental no mundo, sobretudo no que diz respeito ao reconhecimento do direito fundamental ao meio ambiente equilibrado. A partir da Declaração do Meio Ambiente, adotada pela Confederação das Nações Unidas, em julho de 1972, em Estocolmo, marca-se o patamar inicial desta transformação, relacionada ao meio ambiente e à qualidade de vida. 
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A Declaração prevê em seu primeiro princípio que:
	O homem tem o direito fundamental à liberdade, à igualdade e ao desfrute de condições de vida adequada em um meio, cuja qualidade lhe permita levar uma vida digna e gozar de bem-estar, e tem a solene obrigação de proteger e melhorar esse meio para as gerações presentes e futuras.
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	Sendo que tal princípio foi reafirmado pela Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento de 1992 e pela Carta da Terra de 1997. Assim, gradativamente foram surgindo normas constitucionais que reconheciam o meio ambiente como direito fundamental, sendo primeiramente na Iugoslávia em 1974, seguida da Constituição Grega de 1975 e da Constituição portuguesa de 1976. 
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	No Brasil, a Constituição Federal de 1988 reconheceu o meio ambiente como direito fundamental, embora já existissem normas infraconstitucionais que garantiam este direito. Com a proclamação da Constituição Federal de 1988, a maioria dos doutrinadores, dentre eles, Milaré, Canotilho, Moreira e Mirra, reconhece a existência de um direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. 
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	Edis Milaré entende que:
	 
	“o reconhecimento do direito a um meio ambiente sadio configura-se, na verdade, como extensão do direito à vida, quer sob enfoque da própria existência física e saúde dos seres humanos, quer quanto
ao aspecto da dignidade desta existência – a qualidade de vida –, que faz com que valha a pena viver.”
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Assim, a consagração do direito fundamental ao meio ambiente trouxe dois aspectos relevantes, quais sejam: a valorização do meio ambiente como fim de assegurar a dignidade da pessoa humana, das presentes e futuras gerações, e a constituição de uma norma fundamental à ordem jurídica, de maneira que o indivíduo e a coletividade possam alcançar o desenvolvimento sustentável. 
O desenvolvimento e o ambiente devem ser desejados de forma sustentável, propiciando à coletividade uma vida digna com melhoria na qualidade de vida. 
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A proteção ao meio ambiente e a pessoa humana, hoje, são descritos como os principais direitos a serem assegurados, sendo necessário realizar-se uma análise da previsão do direito de todos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, conjuntamente com outros direitos individuais e coletivos constitucionalmente protegidos.
Com o reconhecimento do direito ambiental e sua previsão nos textos constitucionais, faz-se necessário analisar a compreensão, bem como o conceito da expressão “meio ambiente”. 
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Assim, buscar-se-á analisar o meio ambiente a partir dos direitos e deveres consagrados no texto constitucional, evidenciando-se os aspectos do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. 
O meio ambiente deve ser considerado não apenas sob o aspecto de natureza, mas por um conjunto de ambientes que integram entre si meio ambiente cultural, o meio ambiente do trabalho, o meio ambiente urbano, dentre outros, assim, tudo o que existe de vital em um determinado espaço.
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A Lei de Política Nacional do Meio Ambiente, em seu art. 3º, inciso I, define como meio ambiente tudo que permite, abriga, rege a vida em todas as suas formas, não se limitando exclusivamente a vida humana. Da mesma forma Silva define o meio ambiente como “a interação do conjunto de elementos naturais, artificiais e culturais que propiciam o desenvolvimento equilibrado da vida em todas as suas formas”.
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	Em verdade, o meio ambiente é uma série de elementos que influenciam o meio no qual os seres humanos vivem, de tal maneira que necessitam ser analisadas conjuntamente para uma maior compreensão das relações desenvolvidas, bem como para a busca de soluções adequadas que tenham por finalidade a administração racional e imparcial do meio ambiente e seus recursos naturais. Dessa forma entende Silva que “o meio ambiente sadio corresponde ao conjunto de elementos, espaço e meio que regem, influenciam e condicionam a própria vida”.
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	Ao proclamar o direito de todos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, a Constituição Federal de 1988 também instituiu deveres fundamentais, sendo estes o dever de não-degradar e o dever de proteger e de preservar o meio ambiente, traduzindo uma responsabilidade do Poder Público e da coletividade. Embora os direitos e deveres individuais e coletivos estejam elencados no artigo 5º da Constituição, o legislador acrescentou no caput do artigo 225, um novo direito fundamental, buscando condições de uma vida adequada em um ambiente saudável.
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	Na doutrina pátria, o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado está previsto no título referente à Ordem Social, tendo-se que a proteção ao meio ambiente é tida como pressuposto de preservação de outros direitos fundamentais, quais sejam, o direito à vida e o direito à saúde. Como bem de caráter individual, o meio ambiente possui uma importância de direito fundamental da personalidade, ou seja, as consequências ambientais são consideradas como um direito inerente da própria pessoa, não importando se relacionado à sua saúde ou ao seu patrimônio.
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Já como bem de direito fundamental de natureza difusa, o destinatário final do direito ao meio ambiente é o gênero humano. Têm-se o meio ambiente ecologicamente equilibrado como dever e finalidade do Estado democrático ambiental, sendo que a sua caracterização como bem jurídico difuso e coletivo traz a idéia de ser este um direito indisponível e imprescritível, tanto para as presentes como para as futuras gerações.
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Carvalho elucida que a caracterização do meio ambiente como um direito fundamental difuso e coletivo “vincula-se à própria proteção do meio ambiente como macrobem, isto é, do ambiente como um todo, integrado, vislumbrando em seu conjunto global e compreendendo a interação dos elementos diversos da natureza”. Esta duplicidade de dimensões da natureza do ambiente como direito fundamental não consiste no enfraquecimento da existência deste como direito fundamental individual, tampouco enfraquece a sua caracterização como bem coletivo e difuso.
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Os direitos ambientais foram dispostos como direitos fundamentais, e como tais não podem ser violados dada a sua importância. Entretanto, este direito ao meio ambiente pode vir a colidir com os demais direitos consagrados como fundamentais, não podendo ser considerado inferior, vez que não é possível a concretização desses direitos sem a observação daquele, podendo ser traduzido em última análise como o próprio direito à vida. Assim, o direito ao meio ambiente configura-se como a base de todos os demais direitos fundamentais, trazendo valores dos quais não se pode abrir mão.
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Assim, a consagração do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado traz um progresso na matéria de proteção do meio ambiente, permitindo-se exigir do Poder Público e da coletividade a sua preservação e conservação. Essa proclamação trouxe direitos e deveres fundamentais, tanto positivos como a determinação de um atuar, quanto negativo, buscando uma abstenção. O dever de não degradar, previsto no caput do art. 225 da Constituição Federal gera estas condutas positivas e negativas das atividades humanas, inclusive aquelas que implicam o uso, gozo e fruição da propriedade. Da mesma forma, nos parágrafos do artigo 225, há deveres explícitos e especiais, incumbindo-se ao Poder Público a sua realização. No sentido de defender e preservar o meio ambiente foram elevados à categoria de patrimônio nacional algumas áreas, em função da sua fragilidade e importância.
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	A Declaração e Programa de Ação de Viena, de 1993, adotada por ocasião da Conferência Mundial sobre Direitos Humanos, reforça a crítica à compreensão dos direitos humanos como direitos geracionais, de modo em que seu artigo 5° prevê categoricamente que todos os direitos humanos são universais, indivisíveis interdependentes e inter-relacionados e a seguir preconiza que:
	A comunidade internacional deve tratar os direitos humanos de forma global, justa e equitativa, em pé de igualdade e com a mesma ênfase. Embora particularidades nacionais e regionais devam ser levadas em consideração, assim como os diversos contextos históricos, culturais e religiosos, é dever dos Estados promover e proteger todos os direitos humanos e liberdades fundamentais, sejam quais forem seus sistemas políticos, econômicos e culturais.
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Assim, somente o reconhecimento absoluto dos direitos humanos pode assegurar a existência real de cada um deles. De qualquer forma, a doutrina classifica os direitos humanos de acordo com as diferentes manifestações ao longo da história, tendo-se os chamados direitos de primeira, de segunda e de terceira dimensão, que correspondem a períodos históricos mais ou menos identificáveis na história.
Os direitos de primeira geração se constituem pelo direito à liberdade, consagrado em todo Estado Democrático de Direito, pelos direitos individuais e políticos, os quais são oponíveis ao Estado, tendo como função proteger o indivíduo das ações positivas e negativas do Estado. 
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Dessa forma, cabe ao Estado disponibilizar e concretizar os instrumentos de defesa da sociedade contra a atuação do mesmo, criando um dever de prestação na concretização destes direitos. Os direitos de segunda geração são direitos sociais,
culturais e econômicos, sob os quais o Estado possui o direito de concretização, buscando a igualdade entre todos, sendo direitos positivados que tem por objetivo a realização de justiça. Esses direitos são complementares ao de primeira geração, por exigirem do Estado uma ação positiva na resolução de problemas sociais, econômicos e culturais que uma vez não assegurados afetam a liberdade desequilibrando a igualdade entre os cidadãos. 
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Fernanda Luiza Fontoura de Medeiros, demonstra a interligação desses direitos com os da primeira geração, vez que a industrialização e as graves dificuldades sociais econômicos, sendo os direitos à liberdade e à igualdade não geradores de sua garantia, foram o acometimento necessário para ocorrerem reivindicações e o reconhecimento de que o Estado deveria ser um garantidor da realização da justiça social. Os direitos de segunda geração surgem no século XX e se fortalecem durante este século, tendo por cunho positivo o direito à assistência social, à saúde, ao trabalho e à educação e com o aspecto negativo o direito à greve, de sindicalização, de férias aos trabalhadores, entre outros. Já, com os direitos de terceira geração são assegurados os direitos fundamentais ao desenvolvimento, ao ambiente sadio e equilibrado, a comunicação e ao patrimônio comum da humanidade, entre outros diversos direitos.
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	O direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, é considerado como um direito de terceira geração, de solidariedade ou de fraternidade. Dizem-se direitos de solidariedade, pois para a sua realização necessita dos esforços solidários de todos, ou seja, dos esforços dos Estados, indivíduos e outras entidades públicas e privadas. Tais direitos não visam a proteção isolada do indivíduo ou de um determinado grupo, mas sim o gênero humano como um todo, sendo toda coletividade titular deste direito, daí fundamentando-se a fraternidade e a cooperação. Essas características são as que diferenciam das outras duas dimensões já referidas. E esta dimensão é dotada de uma grande universalidade, pois a busca do equilíbrio referente a estes direitos é essencial à permanência e a manutenção da vida humana com qualidade, tendo em vista o compromisso com a fraternidade dos que podem e devem ajudar com os que necessitam de ajuda.

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