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www.penalemfoco.com.br QUESTÕES RESOLVIDAS DE DIREITO PENAL DO CONCURSO PARA JUIZ SUBSTITUTO DO TJDFT 2015 01. Em cada uma das opções subsecutivas, é apresentada uma situação hipotética, seguida de uma assertiva a ser julgada. Considerando a ação penal e a tipicidade das condutas elencadas, assinale a opção que apresenta a assertiva correta. a) Marcos, com vinte anos de idade, capaz, após o falecimento de seus genitores em um acidente, passou a residir com seu tio paterno Sebastião, com cinquenta e cinco anos de idade, capaz. Após estarem residindo juntos havia cerca de dois anos, Marcos pegou o cartão de crédito de seu tio Sebastião, e, sem autorização dele, conseguiu a senha e sacou a importância de vinte mil reais, gastando-a em seu interesse pessoal. Nessa situação, a conduta de Marcos foi típica e a persecução penal que a reprime ocorre mediante ação privada. O CP traz previsão expressa, em seu art. 182, no sentido de alteração da espécie de ação penal dos crimes contra o patrimônio, em determinadas circunstâncias. É o que a doutrina resolveu intitular de imunidade relativa ou processual. In verbis: Art. 182 - Somente se procede mediante representação, se o crime previsto neste título é cometido em prejuízo: I - do cônjuge desquitado ou judicialmente separado; II - de irmão, legítimo ou ilegítimo; III - de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita. Assim, tendo em vista que o caso em tela trouxe as características para aplicação dessa disposição, vê-se que a questão encontra-se incorreta, pois trata-se de ação penal condicionada à representação. b) Ana, com vinte e dois anos de idade, capaz, após discussão com sua vizinha Marina, com vinte e oito anos de idade, capaz, sabendo que não havia pessoa alguma no imóvel residencial desta, despejou um galão de gasolina e atiçou fogo no referido imóvel, vindo a incendiá-lo. Nessa situação, a conduta de Ana foi típica e a persecução penal que a reprime ocorre mediante ação pública incondicionada. Ana praticou o crime de incêndio: Art. 250 - Causar incêndio, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem: Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa. De fato, a espécie de ação penal para o crime em destaque é a incondicionada, razão pela qual a assertiva encontra-se correta. c) Pedro, capaz, é agricultor e possuía contrato com a entidade pública X, que pretendia distribuir os produtos do cultivo de Pedro à população carente. Antônia, com cinquenta anos de idade, capaz, também agricultora, a fim de prejudicar Pedro enquanto este viajava, sem o consentimento dele, soltou gado em sua propriedade, o qual destruiu grande parte dos produtos que estavam na iminência de serem colhidos e entregues à referida entidade pública. Nessa situação, a conduta de Antônia foi típica e a persecução penal que a reprime ocorre mediante ação pública incondicionada. Observa-se que Pedro praticou o crime de introdução ou abandono de animais em propriedade alheia, expresso no art. 164, CP: Art. 164 - Introduzir ou deixar animais em propriedade alheia, sem consentimento de quem de direito, desde que o fato resulte prejuízo: Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, ou multa. A ação penal, no tocante ao referido delito, é privada, conforme dispõe o art. 167, CP, in verbis: Art. 167 - Nos casos do art. 163, do inciso IV do seu parágrafo e do art. 164, somente se procede mediante queixa. Portanto, assertiva incorreta. d) José, com trinta anos de idade, capaz, efetuou ligação clandestina de sinal de TV a cabo em sua residência, desviando o sinal da residência de sua vizinha, Josefina, com quarenta anos de idade, capaz, sem o consentimento dela, equiparando-se o objeto de desvio à energia elétrica. Nessa situação, a conduta de José foi típica e a persecução penal que a reprime ocorre mediante ação privada. No que tange à ligação clandestina de TV a cabo, aqui merece guarida os ensinamentos elucidativos de Masson: “É possível a subtração de energia elétrica ou “qualquer outra que tenha valor econômico” (art. 155, § 3º, do CP – norma penal explicativa). O STF, entretanto, já decidiu pela inexistência de furto na ligação clandestina de TV a cabo, com o argumento de que este objeto não seria “energia”. É indispensável tratar-se de energia cujo apossamento seja possível, isto é, que possa ser dissociada da sua origem. A subtração de sêmen também é considerada furto (energia genética)”. (MASSON. Cleber. Código penal comentado. 2ª Edição. rev. atual amp. São Paulo – Editora método, 2014 p. 642) Assim, alternativa incorreta. e) Jane, com dezoito anos de idade, capaz, filha adotiva, por ciúmes de sua irmã Carla, com dezenove anos de idade, capaz, filha biológica de seus pais, aproveitando-se que sua irmã estava acamada, retirou da bolsa desta, sem o seu consentimento, a importância de cinco mil reais, gastando-a com roupas e maquiagem. Nessa situação, a conduta de Jane foi típica e a persecução penal que a reprime ocorre mediante ação privada. Vimos nos comentários à assertiva “a” que, em determinados casos, o CP traz previsão de que o crime contra o patrimônio www.penalemfoco.com.br terá como tipo de ação a condicionada à representação. É justamente o caso em tela. Art. 182 - Somente se procede mediante representação, se o crime previsto neste título é cometido em prejuízo: I - do cônjuge desquitado ou judicialmente separado; II - de irmão, legítimo ou ilegítimo; III - de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita. 02. Com relação às teorias penais referentes à culpabilidade, assinale a opção correta. QUESTÃO ANULADA PELA BANCA EXAMINADORA a) Segundo a teoria normativa pura, o dolo é constituído de três elementos: o intencional (a voluntariedade ou volitividade), o intencional (previsão ou consciência; previsão do fato) e o normativo (consciência atual da ilicitude) b) À luz da teoria psicológica, a culpabilidade é algo que se encontra fora do agente, não podendo ser vista como vínculo entre este e o fato, mas como um juízo de valoração a respeito do agente. c) Para os defensores da teoria normativa pura, o dolo, como elemento da culpabilidade, somente existe se o agente quiser praticar um fato típico e ilícito com a consciência da antijuridicidade desse fato, isto é, quando sabe que está contrariando a ordem jurídica. d) De acordo com a concepção original da teoria psicológica, a culpabilidade de um agente é afastada quando ele age com “erro", o que elimina o elemento intelectual do crime, ou quando ele é coagido a cometer o crime, o que suprime o elemento volitivo do dolo. e) Conforme a teoria psicológico-normativa ou normativa, a reprovação contra o agente do fato, além de consistir na desconformidade entre a ação e a ordem jurídica, também se fundamenta no fato de o agente ter a possibilidade de não realizar a ação contrária às normas jurídicas. 03. Constitui homicídio qualificado o crime a) cometido contra deficiente físico. A resolução da questão exigiu do candidato o conhecimento da legislação de regência, no caso, o Código Penal. Neste contexto, o artigo 121, §2º elenca as hipóteses em que o crime de homicídio é considerado qualificado. Denota-se, da análise do dispositivo supracitado, que o fato de o crime de homicídio ter como objeto material o deficiente físico não o qualifica. Portanto, assertivaincorreta. b) praticado com emprego de arma de fogo. O emprego de arma de fogo, em que pese seja causa de aumento do crime de roubo (art. 157, §2º, I, CP), não é considerado circunstância qualificadora do crime de homicídio. Portanto, assertiva incorreta. c) concretizado com o concurso de duas ou mais pessoas. O concurso de pessoas não é circunstância idônea a qualificar o crime de homicídio, porquanto não se encontra encartada nas hipóteses descritas no art. 121, §2º, CP. Portanto, assertiva incorreta. d) praticado com o emprego de asfixia. O emprego da asfixia no crime de homicídio qualifica-o. In verbis: Art. 121. Matar alguém: (...) Homicídio qualificado §2º Se o homicídio é cometido: (...) III- Com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; A asfixia é considerada um meio cruel para a prática do homicídio, causando sofrimento desproporcional à vítima. Portanto, assertiva encontra-se correta. e) praticado contra menor de idade. O fato de o crime de homicídio ser praticado contra menor de idade não é circunstância que o qualifica, conforme denota-se da análise do art. 121, §2º, CP. Deve-se observar, todavia, que o crime contra criança é circunstância agravante genérica (art. 61, II, “h” do CP), sendo analisada na segunda fase da dosimetria da pena. Portanto, a assertiva encontra-se incorreta. 04. Em cada uma das opções seguintes, é apresentada uma situação hipotética acerca de penas privativas de liberdade e de penas restritivas de direito, seguida de uma assertiva a ser julgada. Assinale a opção que apresenta a assertiva correta. a) Lana, com vinte e sete anos de idade, capaz, possui condenação definitiva por crime de aborto à pena de três anos de detenção. Decorridos dois anos, Lana foi condenada por crime de receptação à pena privativa de liberdade de dois anos de reclusão. Nessa situação, o juiz não poderá substituir a pena de Lana por pena restritiva de direitos, uma vez que ela é reincidente. Os requisitos para aplicação da substituição da pena privativa de liberdade em face da pena restritiva de direito encontram-se encartados no art. 44, CP. De fato, a não reincidência em crime doloso é requisito de ordem subjetiva que deve ser cumprido para aplicação da referida substituição (art. 44, II, CP). Entretanto, o §3º do dispositivo em destaque traz permissivo legal ao magistrado para substituição da pena privativa de liberdade, em que pese o agente seja reincidente, senão vejamos: Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de liberdade, quando: www.penalemfoco.com.br (...) § 3o Se o condenado for reincidente, o juiz poderá aplicar a substituição, desde que, em face de condenação anterior, a medida seja socialmente recomendável e a reincidência não se tenha operado em virtude da prática do mesmo crime. Portanto, assertiva encontra-se incorreta. b) Fernando, com trinta anos de idade, capaz, ameaçou de morte sua companheira Tereza, com vinte e nove anos de idade, capaz. Fernando foi processado e condenado, definitivamente, pelo referido crime à pena de cinco meses de detenção. Nessa situação, Fernando tem direito à substituição da pena privativa de liberdade por pena restritiva de direitos. Diante da análise do art. 44, CP, observa-se que, para fazer jus à substituição em tela, o agente não pode ter cometido o crime com emprego de violência ou grave ameaça, conforme denota-se do inciso I, do dispositivo supracitado: Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de liberdade, quando: I – aplicada pena privativa de liberdade não superior a quatro anos e o crime não for cometido com violência ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a pena aplicada, se o crime for culposo; Portanto, uma vez que Fernando utilizou de grave ameaça, a assertiva encontra-se incorreta. c) Glauber, com trinta e um anos de idade, capaz, primário, foi condenado, definitivamente, em concurso material, pelo crime de supressão de correspondência comercial, à pena de detenção de dois anos; e, por divulgação de informações sigilosas, à pena de detenção de quatro anos e pena pecuniária. Nessa situação, Glauber tem direito à substituição da pena privativa de liberdade por pena restritiva de direitos. Não há a possibilidade de substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direito quando a pena aplicada ao agente ultrapassa 4 (quatro) anos, sendo este considerado um dos requisitos objetivos da substituição. In verbis: Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de liberdade, quando: I – aplicada pena privativa de liberdade não superior a quatro anos e o crime não for cometido com violência ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a pena aplicada, se o crime for culposo; Assim, considerando-se que no caso em tela o agente, no somatório da pena, teve contra si édito condenatório fixado em 6 (seis) anos, a assertiva encontra-se incorreta. d) Carla, com vinte e três anos de idade, capaz, primária, devidamente habilitada, fugiu do local para evitar prisão em flagrante, pois, após desviar o veículo que dirigia na velocidade da via de um buraco na pista, o colidiu contra uma mureta que caiu sobre uma criança de três anos de idade, a qual faleceu em decorrência das lesões. Por matar a criança, Carla foi condenada ao crime de homicídio culposo. Nessa situação, Carla tem direito à substituição da pena privativa de liberdade por pena restritiva de direitos. O gabarito preliminar indicou esta assertiva como CORRETA (e na nossa opinião está realmente correta). Todavia, o gabarito definitivo alterou o gabarito para a letra E (que também está correta). Com isso, a assertiva D, equivocadamente, foi considerada errada pela Banca Examinadora, com a seguinte justificativa: “Os elementos constantes da opção apontada como gabarito preliminar são insuficientes para concluir pela possibilidade de “Carla” ser beneficiada pela substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, especialmente no que toca aos requisitos previstos no inciso III do art. 44 do Código Penal.” O art. 44, CP, assim aduz: Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de liberdade, quando: I – aplicada pena privativa de liberdade não superior a quatro anos e o crime não for cometido com violência ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a pena aplicada, se o crime for culposo; Assim, vê-se que o fato de o crime cometido ser culposo dá à Carla o direito à substituição. Na assertiva não há qualquer obstáculo relacionado ao art. 44, III do CP que impeça a substituição. A assertiva, portanto, encontra-se CORRETA (gabarito preliminar). O gabarito definitivo considerou como ERRADA (equivocadamente, na nossa opinião). e) Pedro, com vinte e oito anos de idade, capaz, primário, de corpo avantajado, desarmado, faixa preta em judô, trajando quimono, de forma intimidatória e exalando odor etílico, determinou que Ana, com dezessete anos de idade, capaz, entregasse a ele seu celular, sem que fosse possível a ela impor qualquer resistência. Por tais fatos, Pedro foi condenado, definitivamente, por crime de roubo simples, à pena de quatro anos de reclusão. Nessa situação, há vedação legalpara que a pena de Pedro seja substituída por pena restritiva de direitos. A expressão “intimidatória” utilizada pela Banca Examinadora indica o uso da grave ameaça por Pedro, o que impede o benefício. Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de liberdade, quando: I – aplicada pena privativa de liberdade não superior a quatro anos e o crime não for cometido com violência ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a pena aplicada, se o crime for culposo; Sendo assim, a assertiva está CORRETA. 05. Tendo em vista que cada uma das próximas opções apresenta uma situação hipotética sobre delitos praticados contra a pessoa, assinale a opção que apresenta situação característica de delito de lesão corporal de natureza grave. a) O médico Rodrigo, sob a justificativa de injetar um analgésico em Luíza, grávida de dois meses, aplicou-lhe anestesia geral e, aproveitando-se da incapacidade de resistência da paciente, realizou, em comum acordo com o namorado da paciente, um procedimento abortivo sem que a gestante tivesse consentido. www.penalemfoco.com.br A conduta perpetrada pelo médico enquadra-se no tipo penal de aborto provocado por terceiro, e não lesão corporal de natureza grave. In verbis: Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante: Pena - reclusão, de três a dez anos. Assim, assertiva incorreta. b) Pedro, após ter sido preterido em sua expectativa de promoção no emprego, desferiu socos no rosto e no estômago de seu chefe, Elias. Embora a agressão tenha provocado tontura e hematomas na pele de Elias, este não apresentou nenhuma lesão aparente. Em razão da conduta de Pedro, Elias teve de se afastar das suas atividades profissionais durante uma semana, retornando ao trabalho no fim desse período. A conduta perpetrada por Pedro amolda-se ao tipo penal de lesão corporal leve (art. 129, CP). Observe que, caso o afastamento das atividades profissionais pela vítima se desse por um lapso temporal superior a 30 (trinta) dias, o agente responderia por lesão corporal grave (art. 129, §1º, CP). Portanto, encontra-se incorreta a assertiva. c) Cláudio caminhava por uma via pública quando, inesperadamente, um desconhecido desferiu-lhe um soco no rosto. A agressão fez que os óculos da vítima se quebrassem e ferissem o seu rosto, fazendo-a sangrar. Em decorrência da agressão, Cláudio ficou com a vista turva e somente se restabeleceu duas semanas após a agressão. Cláudio, diante da análise de sua conduta, responderá pelo crime de lesão corporal leve (art. 129, CP), porquanto as consequências e características da agressão não tiveram o condão de tipificar a lesão como grave (art. 129, §1º, CP), muito menos como gravíssima (art. 129, §2º, CP) Portanto, encontra-se incorreta a assertiva. d) Paulo, após discussão com sua colega de trabalho Regina, que estava grávida, desferiu-lhe um chute com a intenção de apenas machucá-la. Entretanto, em decorrência da conduta de Paulo, Regina entrou antecipadamente em trabalho de parto. A aceleração do parto é circunstância que tipifica o crime de lesão corporal como de natureza grave, segundo o que dispõe o §1º do art. 129, CP: Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano. Lesão corporal de natureza grave § 1º Se resulta: (...) IV - aceleração de parto: ATENÇÃO: Perceba que, para que o agente incorra nesse tipo penal, deverá ter conhecimento da gravidez da vítima, pois a responsabilização no âmbito penal é de índole subjetiva. Destarte, a assertiva encontra-se correta. e) Manoel, após provocação, desferiu dois chutes, que não resultaram em lesões, contra seu irmão Isaac. Embora tenha sentido dores durante dois dias, Isaac voltou a exercer normalmente suas atividades habituais no dia seguinte à briga com seu irmão Manoel. Considerando que a própria assertiva indicou a inexistência de lesões na vítima, não há que se falar em delito de lesão corporal. A infração praticada foi a contravenção de vias de fato (art. 21 do Decreto-lei 3688/41). É a prática da violência sem causar lesão. Assim, alternativa incorreta. 06. No que se refere aos crimes contra o patrimônio, assinale a opção correta à luz da jurisprudência do STJ e do STF. a) Caso haja concurso de agentes em crime de furto qualificado, deve ser aplicada, por analogia, a causa de aumento de pena referente ao crime de roubo. O aduzido na assertiva vai de encontro à jurisprudência do STJ, que, em seu verbete sumular 442, sedimentou a questão: "É inadmissível aplicar, no furto qualificado, pelo concurso de agentes, a majorante do roubo". A Súmula foi criada em virtude de vários pleitos defensivos alegando a desproporcionalidade da pena do furto qualificado pelo concurso de pessoas, que dobra a pena em relação ao furto simples. Assim, os mais garantistas alegam que seria mais justo aplicar a majorante de 1/3 até a ½ do roubo também para o furto qualificado, evitando-se assim o dobro da pena. Mas esta tese é rejeitada pelo STJ. Portanto, assertiva incorreta. b) No crime de roubo, para que seja aplicado o aumento de pena por emprego de arma de fogo, é imprescindível que tenham sido realizadas a apreensão e a perícia no artefato utilizado no crime. O STJ possui entendimento contrário, senão vejamos: PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO ESPECIAL. NÃO CABIMENTO. ROUBO QUALIFICADO PELO CONCURSO DE AGENTES E USO DE ARMA DE FOGO. DOSIMETRIA. PENA-BASE FIXADA ACIMA DO MÍNIMO LEGAL. MAUS ANTECEDENTES. AUMENTO DE 1/4. PROPORCIONALIDADE. AGRAVANTE DA REINCIDÊNCIA. BIS IN IDEM. NÃO OCORRÊNCIA. USO DE ARMA DE FOGO. APREENSÃO E PERÍCIA. DESNECESSIDADE. MAJORANTES. QUANTUM DE ACRÉSCIMO. ILEGALIDADE. SÚMULA 443 DESTA CORTE. (...) 5. A Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça consolidou o entendimento de que é prescindível a apreensão e perícia da arma de fogo para a caracterização de causa de aumento de pena quando outros elementos comprovem tal utilização. (...) (HC 181.004/SP, Rel. Ministro GURGEL DE FARIA, QUINTA TURMA, julgado em 26/05/2015, DJe 08/06/2015) Portanto, assertiva incorreta. c) Se o agente for primário, a coisa for de valor reduzido e a qualificadora incidente for de ordem objetiva, será permitido o reconhecimento de furto privilegiado nos casos de crime de furto qualificado. www.penalemfoco.com.br A assertiva traduz, exatamente, o entendimento consolidado do STJ que, em seu verbete sumular 511. assim aduz: “É possível o reconhecimento do privilégio previsto no § 2º do art. 155 do CP nos casos de crime de furto qualificado, se estiverem presentes a primariedade do agente, o pequeno valor da coisa e a qualificadora for de ordem objetiva”. Para o STJ, todas as qualificadoras do furto são de ordem objetiva, com exceção da fraude e do abuso de confiança. No nosso entendimento, todas são de natureza objetiva, sem exceção, pois todas dizem respeito à forma de execução do delito e não aos motivos. Portanto, a assertiva encontra-se correta. d) O crime de uso de documento falso será absorvido pelo crime de estelionato sempre que ambos forem praticados no mesmo contexto, ainda que o dano provocado ao patrimônio da vítima também alcance outros bens jurídicos. O entendimento predominante na Corte Cidadã, diante do quepreleciona seu enunciado sumular 17, é a seguinte: quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é por este absorvido. Contudo, percebam que não é o caso da assertiva, que deixa claro que o dano ao patrimônio da vítima também alcança outros bens jurídicos. Nesse sentido: PENAL. HABEAS CORPUS. USO DE DOCUMENTO FALSO. ESTELIONATO TENTADO.PRETENSÃO DE APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO E DA SÚMULA 17/STJ.INVIABILIDADE. POTENCIALIDADE LESIVA DO FALSO QUE NÃO SE EXAURE NAFRAUDE PERPETRADA. ORDEM DENEGADA. 1. Segundo dispõe o enunciado 17 da Súmula desta Corte, "quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é por este absorvido". 2. Portanto, a contrário sensu, não haverá consunção entre crimes se o potencial lesivo da falsidade não se exaurir com implementação da conduta-fim, a fraude. 3. Na hipótese, o falso tinha fins outros que não apenas a fraude cuja consecução foi tentada com a apresentação de documentos contrafeitos. Sua potencialidade lesiva, portanto, não se exauriria não fosse a pronta interrupção da jornada delitiva, o que torna impossível a aplicação do princípio da consunção ou do enunciado sumular citado. 4. Ordem denegada, em conformidade com o parecer ministerial. (STJ - HC: 221660 DF 2011/0245493-8, Relator: MIN. MARCO AURÉLIO BELLIZZE, Data de Julgamento: 07/02/2012, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 01/03/2012) Portanto, alternativa incorreta. e) Pode ocorrer o reconhecimento da insignificância da conduta em furto praticado com o rompimento de obstáculo. A jurisprudência do STJ segue entendimento contrário, senão vejamos: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. FURTO QUALIFICADO. ROMPIMENTO DE OBSTÁCULO E INVASÃO DE RESIDÊNCIA. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. INAPLICABILIDADE. (...) 2. A prática de furto qualificado pelo rompimento de obstáculo e invasão de residência, como ocorreu in casu, denota maior reprovabilidade da conduta e evidencia a efetiva periculosidade do agente, o que afasta o reconhecimento da atipicidade material da conduta pela aplicação do princípio da insignificância. Precedentes. Agravo regimental a que se nega provimento. (AgRg no REsp 1224357/RS, Rel. Ministra MARILZA MAYNARD (DESEMBARGADORA CONVOCADA DO TJ/SE), QUINTA TURMA, julgado em 14/05/2013, DJe 20/05/2013) Portanto, alternativa incorreta. 07. Luiz, policial civil lotado em uma delegacia de polícia, deixou de dar andamento a inquérito no qual Francisco estava sendo investigado. Tal interrupção no andamento do inquérito deveu-se ao fato de Mauro, irmão de Francisco, ter pagado ao policial, voluntariamente, a quantia de dois mil reais. Nessa situação hipotética, Luiz cometeu, em tese, o crime de a) advocacia administrativa. O crime de advocacia administrativa está capitulado no art. 321, CP, in verbis: Art. 321 - Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a administração pública, valendo-se da qualidade de funcionário: Pena - detenção, de um a três meses, ou multa. Parágrafo único - Se o interesse é ilegítimo: Pena - detenção, de três meses a um ano, além da multa. Percebe-se, aqui, que o núcleo do tipo é o verbo “patrocinar”, que, em outras palavras, quer dizer amparar, advogar ou defender. Ainda em análise a este tipo penal, tem-se que, de acordo com a melhor doutrina, referido patrocínio pode ser direto (quando exercido pelo próprio funcionário público) ou indireto (no qual o funcionário público vale-se de interposta pessoa) Analisando-se o que dispõe a assertiva, verifica-se que a conduta perpetrada pelo agente não se subsume à norma em comento, razão pela qual a assertiva encontra-se incorreta. b) prevaricação. O intitulado delito está capitulado no art. 319, CP, senão vejamos: Art. 319 - Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. Observa-se da conduta criminosa perpetrada por Luiz que, em que pese a elementar “deixar de praticar” esteja configurada, porquanto o agente deixou de dar andamento a inquérito no qual Francisco estava sendo investigado, não se pode inferir, pelo enunciado, que tal omissão tenha se dado para satisfação de interesse ou sentimento pessoal. Assertiva incorreta. www.penalemfoco.com.br c) corrupção passiva. O delito em tela está inserido no art. 317, CP, in verbis: Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. § 1º - A pena é aumentada de um terço, se, em conseqüência da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional. § 2º - Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício, com infração de dever funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. Nestes termos, verifica-se que a conduta perpetrada pelo agente amolda-se perfeitamente ao tipo penal em tela, pois Luiz, funcionário público, recebeu vantagem indevida em razão de sua função pública. Assim, conclui-se pelo acerto da assertiva. d) peculato. O crime de peculato insere-se no art. 312, CP: Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio: Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa. § 1º - Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, embora não tendo a posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário. Cotejando-se a conduta do agente com o crime em tela, não há subsunção do fato à norma, razão pela qual a assertiva encontra-se incorreta. e) concussão. O crime de concussão está tipificado no art. 316, CP: Art. 316 - Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida: Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa. Observa-se que a o núcleo do tipo é “exigir” e, tendo em vista que Luiz em momento algum, usando-se de suas prerrogativas de funcionário público, exigiu vantagem indevida, mas sim apenas a recebeu, sua conduta não se amolda ao delito de concussão. Portanto, alternativa incorreta. 08. Cada uma das próximas opções apresenta uma situação hipotética sobre crimes previstos no Estatuto do Desarmamento, seguida de uma assertiva a ser julgada. Assinale a opção que apresenta a assertiva correta. a) Carlos foi preso em flagrante, durante o período de vigência da Lei n.º 10.826/2003 — prorrogada pela Lei n.º 11.922/2009 —, devido ao fato de a polícia ter encontrado, em um armário de sua residência, uma arma de fogo de uso restrito. Nessa situação, a conduta de Carlos caracterizou-se como atípica em razão da incidência de abolitio criminis temporária. O instituto da abolitio criminis temporária, no âmbito do Estatuto do desarmamento, materializa-se no art. 30 do referido diplomanormativo, in verbis: Art. 30. Os possuidores e proprietários de arma de fogo de uso permitido ainda não registrada deverão solicitar seu registro até o dia 31 de dezembro de 2008, mediante apresentação de documento de identificação pessoal e comprovante de residência fixa, acompanhados de nota fiscal de compra ou comprovação da origem lícita da posse, pelos meios de prova admitidos em direito, ou declaração firmada na qual constem as características da arma e a sua condição de proprietário, ficando este dispensado do pagamento de taxas e do cumprimento das demais exigências constantes dos incisos I a III do caput do art. 4o desta Lei. Observa-se que o legislador direcionou a sua aplicabilidade aos possuidores e proprietários de arma de fogo de uso permitido, não se estendendo aos que possuíam arma de fogo de uso restrito, como é o caso descrito pela assertiva. Portanto, a assertiva encontra-se incorreta. b) Bruno, militar da Aeronáutica, em um dia de folga, atirou com sua arma de fogo na rua onde residia e assustou moradores e transeuntes que passavam pelo local. Nessa situação, devido ao fato de Bruno ter praticado crime de disparo com arma de fogo, a causa do aumento de pena, prevista no Estatuto do Desarmamento, deverá ser aplicada na sentença durante a terceira fase da dosimetria. Esta é a alternativa correta, que, exigiu do candidato o cotejo entre dispositivos do Estatuto do desarmamento, senão vejamos. O delito de arma de fogo encontra-se no art. 15 do referido diploma: Art. 15. Disparar arma de fogo ou acionar munição em lugar habitado ou em suas adjacências, em via pública ou em direção a ela, desde que essa conduta não tenha como finalidade a prática de outro crime: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. A conduta perpetrada por Bruno amolda-se perfeitamente ao tipo penal em comento. Ademais, frisa-se que o fato de o agente ser integrante das forças armadas é causa de aumento do crime cometido, conforme colaciona-se os dispositivos: Art. 20. Nos crimes previstos nos arts. 14, 15, 16, 17 e 18, a pena é aumentada da metade se forem praticados por integrante dos órgãos e empresas referidas nos arts. 6o, 7o e 8o desta Lei. Art.6º É proibido o porte de arma de fogo em todo o território nacional, salvo para os casos previstos em legislação própria e para: www.penalemfoco.com.br I – os integrantes das Forças Armadas; Em se tratando de causa de aumento de pena, aplica-se o art. 68 do Código Penal, com análise na terceira fase da dosimetria. Destarte, a assertiva encontra-se acertada, não merecendo reparos. c) André guardou em sua residência, de janeiro de 2015 até sua prisão em flagrante na presente data, uma arma de fogo de uso permitido, devidamente municiada, mas com numeração de série suprimida. Nessa situação, André praticou o crime de posse irregular de arma de fogo de uso permitido e, por isso, deve ser punido com pena de detenção. André incorreu no crime de posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito, e não posse irregular de arma de fogo de uso permitido, senão vejamos: Posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito Art. 16. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob sua guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição de uso proibido ou restrito, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem: I – suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer sinal de identificação de arma de fogo ou artefato; Eis o precedente do TJDFT na Apelação Criminal 20140810042532 em 14/05/2015. “Na hipótese dos autos, os policiais encontraram, na residência do réu, arma de fogo de uso permitido, mas com número de série suprimido por abrasão, conforme comprovado por laudo pericial. O fato de a arma ser de uso permitido, por si só, não constitui causa suficiente para desclassificar a conduta para o artigo 14 da Lei nº 10.826/03, de modo que deve ser mantida a sentença que o condenou como incurso no artigo 16, parágrafo único, inciso IV, da mesma lei, pois, a posse de arma com numeração raspada, suprimida ou adulterada constitui crime mais grave, por dificultar o controle estatal de circulação de armas de fogo”. No mesmo sentido é o entendimento do STJ (AgRg no REsp 1359671 / MG) Assim, encontra-se incorreta a assertiva. d) Ronaldo foi preso em flagrante imediatamente após efetuar — com intenção de matar, mas sem conseguir atingir a vítima — disparos de arma de fogo na direção de José. Nessa situação, Ronaldo cometeu homicídio na forma tentada e disparo de arma de fogo em concurso formal. Aplica-se o princípio da consunção ao caso em tela, tendo os disparos de arma de fogo sido utilizados em prol de objetivo outro, que era matar. Ademais, é elementar do tipo penal do art. 15 do Estatuto do Desarmamento que o disparo não seja realizado para a prática de outro crime. Portanto, a alternativa está incorreta. e) Júlio, detentor de porte de arma e proprietário de arma de fogo devidamente registrada, vendeu para Tiago, de quatorze anos de idade, uma arma, devidamente municiada, acompanhada do seu documento de registro. Nessa situação, ao permitir que o adolescente se apoderasse da arma de fogo, Júlio praticou o delito de omissão de cautela, previsto no Estatuto do Desarmamento. A conduta perpetrada por Júlio amolda-se ao tipo penal posse ou porte ilegal de arma de foto de uso restrito, senão vejamos: Posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito Art. 16. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob sua guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição de uso proibido ou restrito, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem: V – vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamente, arma de fogo, acessório, munição ou explosivo a criança ou adolescente; e Ademais, o delito de omissão de cautela é culposo, o que não diz respeito ao narrado na assertiva. Desta feita, encontra-se equivocada a assertiva. 09. Cada uma das próximas opções apresenta uma situação hipotética, seguida de uma assertiva a ser julgada à luz do CP, da Lei de Juizados Especiais (Lei n.º 9.099/1995) e da legislação penal especial. Assinale a opção que apresenta a assertiva correta. a) O policial civil Cristiano, durante o expediente de trabalho, algemou e conduziu Orlando a uma viatura, mediante ameaça com emprego de arma de fogo, e o manteve detido no veículo por oito horas devido ao fato de, anteriormente, eles terem tido um desentendimento. Nessa situação, a conduta de Cristiano caracterizou crime de constrangimento ilegal. Eis os comentários de Cléber Masson acerca do sujeito ativo do crime de constrangimento ilegal: “Pode ser qualquer pessoa (crime comum). Se o sujeito ativo for funcionário público, e o fato for cometido no exercício de suas funções, responderá por abuso de autoridade, na forma definida pelos arts. 2º e 3º da Lei 4.898/1965.” (MASSON. Cleber. Código penal comentado. 2ª Edição. rev. atualamp. São Paulo – Editora Método, 2014 p. 617) Assim, alternativa incorreta. b) Wesley foi preso em flagrante porque estava pescando em um local que, conforme prévia regulamentação do órgão competente, era interditado para a pesca. Nessa situação, o crime descrito constitui delito de menor potencial ofensivo, razão por que, caso preencha os requisitos subjetivos exigidos, Wesley poderá ser beneficiado pela transação penal. A definição de crime de menor potencial ofensivo encontra-se inserida no art. 61 da Lei. 9.099/95, in verbis: www.penalemfoco.com.br Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa. Assim, verifica-se que o delito em tela (art. 34, Lei 9.605/98) possui pena máxima superior ao elencado pela Lei supracitada, não preenchendo, portanto, o requisito legal, senão vejamos: Art. 34. Pescar em período no qual a pesca seja proibida ou em lugares interditados por órgão competente: Pena - detenção de um ano a três anos ou multa, ou ambas as penas cumulativamente. Desta forma, forçoso concluir pelo desacerto da assertiva. c) Téo, réu primário e sem quaisquer antecedentes, foi preso em flagrante por ter cometido o delito de furto simples. Nessa situação, como o crime de furto não é de competência do juizado especial criminal, Téo não poderá ser beneficiado pela suspensão condicional do processo. Uma vez que o crime de furto simples possui pena máxima cominada superior a 2 (dois) anos, não sendo considerado, portanto, delito de menor potencial ofensivo, de fato, não é de competência do juizado especial criminal o seu processamento e julgamento. Entretanto, o Instituto da suspensão condicional do processo possui aplicabilidade a crimes não insertos na competência do JEC, possuindo requisitos próprios, conforme se extrai da própria norma, em seu art. 89, in verbis: Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano, abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos, desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a suspensão condicional da pena. Destarte, como o crime de furto simples possui pena mínima cominada de 1 (um) ano (art. 155, CP), denota-se que Téo poderá ser beneficiado pela suspensão condicional do processo. Alternativa incorreta. d) Gabriel estava recolhendo, em via pública, apostas de transeuntes para o jogo de azar conhecido como jogo do bicho e, imediatamente após anotar a aposta realizada por Ângelo, foi abordado por policiais. Nessa situação, a conduta de Gabriel é tipificada como contravenção penal, ao passo que a conduta de Ângelo é caracterizada como atípica. É de se dizer que a conduta pratica por Ângelo afigura-se típica, pois amolda-se ao tipo penal estabelecido pelo art. 58 da Lei de Contravenções Penais, senão vejamos: Art. 58. Explorar ou realizar a loteria denominada jogo do bicho, ou praticar qualquer ato relativo à sua realização ou exploração: Pena – prisão simples, de quatro meses a um ano, e multa, de dois a vinte contos de réis. Parágrafo único. Incorre na pena de multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis, aquele que participa da loteria, visando a obtenção de prêmio, para si ou para terceiro. Portanto, a assertiva encontra-se incorreta. e) Januário, maior e capaz, burlou, juntamente com José e Ricardo, ambos menores de dezoito anos, todos com unidade de desígnios, a vigilância de uma loja de departamentos e dela subtraíram, em horário comercial, três aparelhos de DVD novos. Os três foram presos em flagrante, na residência de José, duas horas depois de terem cometido o delito. Nessa situação, se ausentes quaisquer excludentes e comprovados os fatos, Januário deverá ser condenado por crime de furto qualificado e dois delitos de corrupção de menores, todos em concurso formal. A assertiva é a correta. A qualificadora do furto está presente, pois cometido o delito mediante concurso de duas ou mais pessoas, como disciplina o CP em seu art. 155, §4º, IV: Furto qualificado (...) § 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido: (...) IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas. O delito de corrupção de menores também está tipificado, conforme denota-se do cotejo da conduta de Januário com o que estabelece o art. 244-B do Estatuto da Criança e do Adolescente: Art. 244-B. Corromper ou facilitar a corrupção de menor de 18 (dezoito) anos, com ele praticando infração penal ou induzindo- o a praticá-la: Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. § 1o Incorre nas penas previstas no caput deste artigo quem pratica as condutas ali tipificadas utilizando-se de quaisquer meios eletrônicos, inclusive salas de bate-papo da internet. § 2o As penas previstas no caput deste artigo são aumentadas de um terço no caso de a infração cometida ou induzida estar incluída no rol do art. 1o da Lei no 8.072, de 25 de julho de 1990. Ademais, como os delitos em destaque foram cometidos cumprindo os requisitos da aplicação do concurso formal, quais sejam, unidade de conduta e pluralidade de resultados, merece guarida a sua aplicação (art. 71, CP). Neste sentido o precedente do TJDFT na Apelação Criminal 20140111329242 em 07/05/2015. “Quando almejada a produção de um único resultado, dois ou mais delitos são cometidos pelo agente que, mediante uma só ação, corrompe adolescente, com ele praticando crime contra o patrimônio, aplica-se a regra do concurso formal próprio na unificação das penas (artigo 70, caput, 1ª parte, do Código Penal), salvo se o cúmulo material for mais benéfico. Precedentes do colendo STJ e desta eg. Corte de Justiça”. Portanto, a assertiva mostra-se acertada”. 10. Assinale a opção correta à luz da Lei n.º 11.343/2006 (Lei de Drogas), do CP e da jurisprudência do STF. www.penalemfoco.com.br a) O crime de associação para o tráfico, caracterizado pela associação de duas ou mais pessoas para a prática de alguns dos crimes previstos na Lei de Drogas, é delito equiparado a crime hediondo. A jurisprudência da Corte Cidadã sedimentou entendimento contrário: EMENTA: Crimes hediondos (L. 8.072/90): regime fechado integral (art. 2º, § 1º), de constitucionalidade declarada pelo Plenário (ressalva pessoal do relator): inaplicabilidade, porém, da regra proibitiva da progressão ao condenado pelo delito de associação incriminado no art. 14 da Lei de Entorpecentes, inconfundível com o de tráfico, tipificado no art. 12, único daquele diploma a que se aplica a Lei dos Crimes Hediondos. (HC 75978, Relator(a): Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, Primeira Turma, julgado em 12/05/1998, DJ 19-06-1998 PP- 00002 EMENT VOL-01915-01 PP-00034) No mesmo sentido o Superior Tribunal de Justiça: HABEAS CORPUS. ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO DE ENTORPECENTES. NATUREZA HEDIONDA. NÃO CARACTERIZAÇÃO. AUSÊNCIA DE PREVISÃO NO ROL TAXATIVO DO ARTIGO 2º DA LEI 8.072/90. POSSIBILIDADE DE FIXAÇÃO DO MODO INICIAL DE EXECUÇÃO DA PENA ACORDO COM AS REGRAS DO CÓDIGO PENAL.REGIME FECHADO. MODUS OPERANDI. GRAVIDADE CONCRETA.ESCOLHA JUSTIFICADA. AUSÊNCIA DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL. 1. O crime de associação para o tráfico não é equiparado a hediondo, uma vez que não está expressamente previsto no rol do artigo 2º da Lei 8.072/90, permitindo, assim, a imposição do regime prisional de acordo com as regras estabelecidas no art. 33 do Código Penal. (...) (HC 123.945/RJ, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 06/09/2011, DJe 04/10/2011) Portanto, alternativa incorreta. b) O crime de porte de entorpecentes para consumo pessoal, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, está sujeito aos prazos prescricionais do CP. Não há que se falar em sujeição aos prazos prescricionais do CP no tocante aos crimes regulados pela Lei no 11.343/06, porquanto, nesse aspecto, possui disciplina própria. O art. 30 da lei em comento assim aduz: Art. 30. Prescrevem em 2 (dois) anos a imposição e a execução das penas, observado, no tocante à interrupção do prazo, o disposto nos arts. 107 e seguintes do Código Penal. Assim, encontra-se incorreta a assertiva. c) instigar ou auxiliar alguém ao uso indevido de droga, poderá ser aplicada causa de redução de pena se o agente for primário, tiver bons antecedentes e não se dedicar a atividades criminosas ou integrar organização criminosa. Há, de fato, na Lei de drogas, esta causa especial de redução de pena, com os requisitos descritos na assertiva, a qual afigura-se direito subjetivo do réu quando presente seus requisitos. Contudo, tal causa especial de redução de pena não se aplica ao crime da assertiva, conforme denota-se do dispositivo 33, da Lei 11.343/06: Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa. § 1o Nas mesmas penas incorre quem: I - importa, exporta, remete, produz, fabrica, adquire, vende, expõe à venda, oferece, fornece, tem em depósito, transporta, traz consigo ou guarda, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à preparação de drogas; II - semeia, cultiva ou faz a colheita, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, de plantas que se constituam em matéria-prima para a preparação de drogas; III - utiliza local ou bem de qualquer natureza de que tem a propriedade, posse, administração, guarda ou vigilância, ou consente que outrem dele se utilize, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, para o tráfico ilícito de drogas. (...) § 4º Nos delitos definidos no caput e no § 1º deste artigo, as penas poderão ser reduzidas de um sexto a dois terços, vedada a conversão em penas restritivas de direitos, desde que o agente seja primário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre organização criminosa. Portanto, assertiva incorreta. d) Quanto aos crimes previstos na Lei de Drogas, será isento de pena o agente que, por ser dependente de drogas, for, ao tempo do fato, totalmente incapaz de entender o caráter ilícito da ação praticada. Assertiva correta, pois consentânea com o disposto no art. 45 da lei em destaque, senão vejamos: Art. 45. É isento de pena o agente que, em razão da dependência, ou sob o efeito, proveniente de caso fortuito ou força maior, de droga, era, ao tempo da ação ou da omissão, qualquer que tenha sido a infração penal praticada, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. e) Os crimes previstos na Lei de Drogas são insuscetíveis de anistia, graça e indulto, sendo impossível, àqueles que os praticarem, a concessão de liberdade provisória. A Lei de Drogas, de fato, traz esta previsão para determinados crimes previstos em seu diploma, conforme disciplina o art. 44. Entretanto, o STF, desde 2012, possui entendimento de que o artigo supramencionado, na sua parte final, que veda a www.penalemfoco.com.br concessão de liberdade provisória, encontra-se eivado de inconstitucionalidade: “O Plenário, por maioria, deferiu parcialmente habeas corpus — afetado pela 2ª Turma — impetrado em favor de condenado pela prática do crime descrito no art. 33, caput, c/c o art. 40, III, ambos da Lei 11.343/2006, e determinou que sejam apreciados os requisitos previstos no art. 312 do CPP para que, se for o caso, seja mantida a segregação cautelar do paciente. Incidentalmente, também por votação majoritária, declarou a inconstitucionalidade da expressão "e liberdade provisória", constante do art. 44, caput, da Lei 11.343/2006 ("Os crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1º, e 34 a 37 desta Lei são inafiançáveis e insuscetíveis de sursis, graça, indulto, anistia e liberdade provisória, vedada a conversão de suas penas em restritivas de direitos"). A defesa sustentava, além da inconstitucionalidade da vedação abstrata da concessão de liberdade provisória, o excesso de prazo para o encerramento da instrução criminal no juízo de origem. (HC 104339/SP, rel. Min. Gilmar Mendes, 10.5.2012. (HC- 104339) Portanto, a assertiva está incorreta. 11. Com intuito de conseguir dinheiro, João, imputável, ficou escondido nas proximidades de uma parada de ônibus e, armado com uma faca, abordou Maria, de vinte e um anos de idade, grávida de sete meses, assim que ela desceu do ônibus, em via pública, ordenando-lhe que lhe entregasse sua bolsa e seu celular. Maria não o fez e, por isso, João a esfaqueou, conseguindo, então, levar os objetos desejados. Em decorrência dessas lesões, Maria e o bebê morreram cerca de dez horas após o ocorrido. João foi identificado, processado e, depois do trâmite regular do processo, condenado em caráter definitivo. a) homicídio doloso contra Maria, qualificado por motivo torpe e por recurso que dificultou a defesa da vítima, bem como homicídio culposo contra o feto. As tipificações dos delitos cometidos por João encontram-se incorretas, senão vejamos: Não há que se falar em crime de homicídio doloso, porquanto a intenção precípua do agente, in casu, é a subtração de coisa móvel alheia, conforme denota-se do enunciado. Para isto, utilizou-se de violência o agente, configurando-se, portanto, crime de roubo (art. 157, CP). E, como da violência resultou a morte da vítima, tem-se que se enquadra o agente no delito de roubo qualificado pelo resultado morte: Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência: Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa. (...) § 3º Se da violência resulta lesão corporal grave, a pena é de reclusão, de sete a quinze anos, além da multa; se resulta morte, a reclusão é de vinte a trinta anos, sem prejuízo da multa. No que tange à tipificação do crime de homicídio culposo contra feto, tem-se por incorreta, pois o delito de homicídio tem como objeto material o ser humano e, portanto, configura-sequando há supressão da vida extrauterina. Observa-se que, se a vítima humana for intrauterina, configurar-se-á o delito de aborto. Portanto, assertiva incorreta. b) Homicídio doloso contra Maria, qualificado por motivo torpe e por recurso que dificultou a defesa da vítima, cuja pena deve ser agravada devido ao fato de o crime ter sido praticado contra mulher grávida. Pelas mesmas razões aduzidas nos comentários tecidos na assertiva anterior, não há que se falar em crime de homicídio no caso em tela. Alternativa incorreta. c) roubo circunstanciado pelo uso de arma, crime punido com pena pecuniária e pena de reclusão agravada pelo fato de ter sido praticado contra mulher grávida e com recurso que dificultou a defesa da vítima. De fato, o crime perpetrado é o de roubo, contudo, pela especificidade da conduta, que gerou a morte da vítima, incide a qualificadora do §3º do art. 157, CP, como visto nos comentários da assertiva “a”. Portanto, assertiva incorreta. d) latrocínio consumado, delito punido com pena pecuniária e pena de reclusão que deve ser agravada por ter sido praticado contra mulher grávida mediante recurso que dificultou a defesa da vítima. Alternativa correta. A transcrição da assertiva traduz, acertadamente, a tipificação penal em que incorrerá o agente. Conforme aduziu-se nos comentários da assertiva “a”, pelos cumprimentos das elementares do tipo fica configurado o crime de latrocínio consumado, pois, sendo tal delito considerado crime complexo, por resultar na fusão de dois crimes, tem, na figura do crime de roubo, o crime fim, e, no crime de homicídio, o crime meio. No tocante ao fato de a vítima encontrar-se grávida, observa-se que, de fato, o CP, em seu art. 61, II, “h”, disciplina a gravidez como agravante genérica do crime: Art. 61 - São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o crime: (...) II - ter o agente cometido o crime: (...) h) contra criança, maior de 60 (sessenta) anos, enfermo ou mulher grávida; Frise-se que a ciência da gravidez, pelo agente, é condição imprescindível para que incorra na agravante supracitada, pois não se admite, no âmbito do Direito Penal, a responsabilidade objetiva. Portanto, alternativa correta. e) homicídio doloso contra Maria e contra o feto, qualificado por motivo torpe e por uso de recurso que dificultou a defesa da vítima. www.penalemfoco.com.br Não há que se falar em crime de homicídio, pelos comentários aduzidos nas assertivas anteriores. Alternativa incorreta.
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