Buscar

Noção de contrato

Prévia do material em texto

ACERVO JURISPRUDENCIAL
ACERVO JURISPRUDENCIAL
Prof. MARCOS FLAVIO
A - CONTRATOS EM GERAL – 
CÓDIGO CIVIL (Arts. 421 a 480) 60 artigos.
1 - DISPOSIÇÕES GERAIS 
1.1 - CONCEITO DE CONTRATO
O contrato é uma das fontes da obrigação, embora haja polêmica, as outras fontes são: a Lei, o ato ilícito e os atos unilaterais de vontade. O Código Civil não conceitua contrato, deixando esta tarefa para a doutrina. Para Maria Helena Diniz contrato é o “acordo de duas ou mais vontades, na conformidade da ordem jurídica, destinado a estabelecer uma regulamentação de interesses entre as partes, com o escopo de adquirir, modificar ou extinguir relações jurídicas de natureza patrimonial”.
1.2 – NORMAS BÁSICAS
Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato.
A função moderna do contrato não é a de exclusivamente atender aos interesses das partes contratantes, como se o contrato tivesse existência autônoma fora do mundo que o cerca. Por este ângulo deve encara a função social do contrato como limite à autonomia da vontade, que é a liberdade de contratar. Quando a autonomia da vontade (liberdade de contratar) estiver em confronto com o interesse social (função social do contrato) este deve prevalecer. 
 
Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé.
Caio Mário da Silva Pereira ensina que a boa-fé objetiva, de que trata o artigo 422, diz respeito ao comportamento de cooperação em determinada relação jurídica, mediante o qual o “agente deve fazer o que estiver ao seu alcance para que a outra parte obtenha o resultado previsto no contrato, ainda que as partes assim não tenham convencionado, desde que evidentemente para isso não tenha que sacrificar interesses legítimo próprios”. Nisto diferencia-se da boa-fé subjetiva, esta significa o estado mental subjetivo do agente.
Art. 424. Nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada do aderente a direito resultante da natureza do negócio.
Art. 423. Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente.
Primeiro cabe definir que paritários são os contratos em que as partes estão em pé de igualdade na discussão e fixação das cláusulas contratuais. Exemplo: compra e venda da cadelinha “darling”. Contratos de adesão são aqueles cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar seu conteúdo. As cláusulas não são debatidas porque uma das partes detém monopólio de direito ou de fato, e impõe as cláusulas em bloco, não cabendo à outra parte modificá-las: apenas aceita-as (aderindo) ou não ao estipulado. Exemplo: consórcio, planos de saúde, fornecimento de energia elétrica, fornecimento de água. 
O novo Código Civil estabelece que diante de cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente e que serão nulas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada do aderente a direito resultante da natureza do negócio. 
Art. 425. É lícito às partes estipular contratos atípicos, observadas as normas gerais fixadas neste Código.
Atípicos são os contratos cujas regras disciplinadoras são criadas pelas partes e não se encontram previstas nem no Código Civil nem em leis especiais. São juridicamente permitidos, desde que obedeçam as normas gerais e os princípios da teoria geral dos contratos. A doutrina cita como exemplo o contrato de cessão de clientela e contrato de exploração de lavoura de café.
Art. 426. Não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva.
Este dispositivo do Código Civil enuncia hipótese de vedação absoluta de contratar. 
1.3- VÍCIOS REDIBITÓRIOS
Vício redibitório é o defeito ou vício oculto da coisa, não conhecido pelo adquirente, em virtude de contrato comutativo. Ao adquirente restam duas opções mover uma ação redibitória, quando “enjeitar” a coisa ou uma ação quanti minoris, para demandar o abatimento no preço. Exemplo: Mário vende a Rodrigo um carro com motor “batido”.
CC Art. 441. A coisa recebida em virtude de contrato comutativo pode ser enjeitada por vícios ou defeitos ocultos, que a tornem imprópria ao uso a que é destinada ou lhe diminuam o valor. (ação redibitória)
Parágrafo único. É aplicável a disposição deste artigo às doações onerosas.
CC Art. 442. Em vez de rejeitar a coisa redibindo o contrato,(ação redibitória) pode o adquirente reclamar abatimento do preço.(ação quanti minoris)
CC Art. 443. Se o alienante conhecia o vício ou defeito da coisa restituirá o que recebeu com perdas e danos; se o não conhecia, tão-somente restituirá o valor recebido, mais as despesas do contrato.
	
CC Art. 444. A responsabilidade do alienante subsiste ainda que a coisa pereça em poder do alienatário, se perecer por vício oculto, já existente ao tempo da tradição.
	
1.4 - EVICÇÃO
É a ação pela qual o adquirente (evicto) perde a posse ou a propriedade de determinado objeto, em virtude de sentença judicial, que os atribui a terceiro (evictor), reconhecendo que o alienante não era titular legítimo do direito que transferiu (Arnoldo Wald, Curso de Direito Civil Brasileiro, vol. II, pág. 229). O novo Código Civil alude ao tema nos arts. 447 a 457.
Figuras:
Evicto - o adquirente que perde a coisa adquirida.
Evictor - o terceiro que move a ação e ganha a coisa.
Alienante – é aquele que transferiu (vendeu) a coisa mediante contrato.
CC Art. 447. Nos contratos onerosos o alienante responde pela evicção. SUBSISTE ESTA GARANTIA ainda que a aquisição se tenha realizado EM HASTA PÚBLICA.
CC Art. 448. Podem as partes, por cláusula expressa, reforçar, diminuir ou excluir a responsabilidade pela evicção. 
CC Art. 449. não obstante a cláusula que exclui a garantia contra a evicção, se esta se der, tem direito o evicto a receber o preço que pagou pela coisa evicta, se não soube do risco da evicção, ou, dele informado, não o assumiu.
CC Art. 450.  salvo estipulação em contrário, tem direito o evicto além da restituição integral do preço, ou das quantias que pagou, além de:
i - à indenização dos frutos que tiver sido obrigado a restituir;
ii - à das despesas dos contratos e dos prejuízos que diretamente resultarem da evicção;
iii - às custas judiciais.
art. 451. subsiste para o alienante esta obrigação, ainda que a coisa alienada esteja deteriorada, exceto havendo dolo do adquirente.
cc art. 457.  não pode o adquirente demandar pela evicção se sabia que a coisa era alheia ou litigiosa.
cc art. 455 .  se parcial, mas considerável, for a evicção, poderá o evicto optar entre a rescisão do contrato e a restituição da parte do preço correspondente ao desfalque sofrido. se não for considerável, caberá somente direito a indenização. 
1.5 - DA PROMESSA DE FATO DE TERCEIRO
Art. 439. Aquele que tiver prometido fato de terceiro responderá por perdas e danos, quando este o não executar.
Art. 440. Nenhuma obrigação haverá para quem se comprometer por outrem, se este, depois de se ter obrigado, faltar à prestação.
	Reescrevendo os dois artigos acima diríamos: quem tiver prometido (promitente) fato de terceiro responderá por perdas e danos, resultante da inexecução da prestação pelo terceiro, salvo se este (o terceiro), depois de também ter se obrigado, faltar à prestação. Exemplo: Mário promete a Rodrigo que Tiago cuidará integralmente da cadelinha “darling”. Trata-se de obrigação de fazer. Se algo acontecer a “darling”, Mário responderá por perdas e danos (art. 439), salvo se Tiago também houver se obrigado e vier a faltar com a obrigação (art. 440). Explica-se: a liberação de Mário ocorre quando Tiago assume a obrigação e não com a efetiva prática.
1.6 - DO CONTRATO COM PESSOA A DECLARAR
Art. 467 No momento da conclusãodo contrato, pode uma das partes reservar-se a faculdade de indicar a pessoa que deve adquirir os direitos e assumir as obrigações dele decorrentes. 
Art.468 Essa indicação deve ser comunicada à outra parte no prazo de (5) cinco dias da conclusão do contrato, se outro não tiver sido estipulado. 
Parágrafo único A aceitação da pessoa nomeada não será eficaz se não se revestir da mesma forma que as partes usaram para o contrato.
2 - EXTINÇÃO DO CONTRATO 
2.1 - DISTRATO 
Art. 472. O distrato faz-se pela mesma forma exigida para o contrato.
	Em linguagem simples, distrato é o desfazimento do contrato por vontade de ambas as partes que formularam o contrato. Se, por acordo, as partes resolveram firmar um contrato, também por acordo poderão desfazê-lo. Se o contrato foi formado por escritura pública, o distrato terá que ser por escritura pública. O distrato é também conhecido por resilição bilateral.
Art. 473. A resilição unilateral, nos casos em que a lei expressa ou implicitamente o permita, opera mediante denúncia notificada à outra parte.
Parágrafo único. Se, porém, dada a natureza do contrato, uma das partes houver feito investimentos consideráveis para a sua execução, a denúncia unilateral só produzirá efeito depois de transcorrido prazo compatível com a natureza e o vulto dos investimentos.
	O contrato é formado por acordo duas ou mais vontades. O desfazimento do contrato em regra, terá que ser por iniciativa das mesmas partes. No entanto, o desfazimento por iniciativa de apenas uma das partes é denominado de resilição unilateral, e só excepcionalmente, será possível. E, só será possível, nos casos em que a lei expressa ou implicitamente o permitir. Nestes casos será necessário a parte denunciar perante a outra a vontade de desfazer o contrato. Alguns contratos podem ser desfeitos unilateralmente por apenas uma das partes a exemplo do segurado em plano de saúde e do locatário de imóvel. Fora dos casos permitidos, a resilição unilateral caracteriza infração civil por descumprimento do contrato o que acarreta a responsabilidade civil contratual.
2.2 – CLÁUSULA RESOLUTIVA 
Art. 474. A cláusula resolutiva expressa opera de pleno direito; a tácita depende de interpelação judicial.
Art. 475. A parte lesada pelo inadimplemento pode pedir a resolução do contrato, se não preferir exigir-lhe o cumprimento, cabendo, em qualquer dos casos, indenização por perdas e danos.
	A cláusula resolutiva é a que autoriza o desfazimento do contrato em razão de inadimplência do devedor. Esta cláusula está implicitamente (tacitamente) presente nos contratos bilaterais ou pode colocada expressamente pelas partes.
	Por outro lado, a cláusula resolutiva expressa não se presume, será inserida por vontade exclusiva das partes contratantes, produz efeitos de pleno direito, ou seja, sem necessidade de qualquer notificação de uma parte à outra. 
	Por exemplo, Mário faz inserir uma cláusula no sentido de que o inadimplemento de Rodrigo o autorizará a considerar de pleno direito resolvido o contrato e constituído em mora o infrator, sem necessidade de sua interpelação 
	Para Maria Helena Diniz, “a cláusula resolutiva tácita está subentendida em todos os contratos bilaterais ou sinalagmáticos, para o caso em que um dos contraentes não cumpra sua obrigação, autorizando, então, o lesado pela inexecução a pedir rescisão contratual, se não preferir exigir o cumprimento, e indenização das perdas e danos. Há presunção legal de que os contratantes inseriram, tacitamente, cláusula dispondo que o lesado pelo inadimplemento pode requerer, se lhe aprouver, a rescisão do ajuste e perdas e danos. isto porque, nesses contratos, a prestação de uma das partes tem por causa a contraprestação que lhe foi prometida; daí haver prejuízo com o não-cumprimento da obrigação de uma delas”. 
2.3 - EXCEÇÃO DO CONTRATO NÃO CUMPRIDO 
CC Art. 476. Nos contratos bilaterais, nenhum dos contraentes, antes de cumprida a sua obrigação, pode exigir o implemento da do outro. 
	Esta é a famosa cláusula excetio non adimpleti contractus cuja tradução é ”meio de defesa para uma das partes que ainda não cumpriu com sua obrigação porque a parte contrária também não o fez”. é uma defesa oponível pelo contratante demandado contra o co-contratante inadimplente, em que o demandado se recusa a cumprir a sua obrigação, sob a alegação de não ter aquele que a reclama cumprido o seu dever. Exemplo: Rodrigo vende um carro a Mário ficando acertado que a entrega acontecerá 5 dias depois do pagamento, vencível no décimo dia após assinatura do contrato. Se, Mário não efetuar o pagamento e, ainda assim, demandar judicialmente contra Rodrigo a entrega do bem, este poderá invocar a exceção do contrato não cumprido como fundamento de defesa para a recusa em repassar a máquina. 
	Detalhes a respeito do tema: segundo Maria Helena Diniz: “A exceptio non adimpleti contractus não poderá ser argüida se houver RENÚNCIA, IMPOSSIBILIDADE DA PRESTAÇÃO OU SE O CONTRATO CONTIVER A CLÁUSULA SOLVE ET REPETE, ou seja, cláusula que torne a exigibilidade da prestação imune a qualquer pretensão contrária do devedor. A cláusula solve et repete apresenta-se, portanto, como uma renúncia à exceção do contrato não cumprido, pois ao convencioná-la o contratante abre mão da exceptio non adimpleti contractus”. E mais: “se a venda for a crédito, cessará a possibilidade de opor a exceção do contrato não cumprido’’ Maria Helena Diniz, pág 116. Solve et repete (tradução: paga e depois reclama). 
CC Art. 477. Se, depois de concluído o contrato, sobrevier a uma das partes contratantes diminuição em seu patrimônio capaz de comprometer ou tornar duvidosa a prestação pela qual se obrigou, pode a outra recusar-se à prestação que lhe incumbe, até que aquela satisfaça a que lhe compete ou dê garantia bastante de satisfazê-la.
2.4 – RESOLUÇÃO POR ONEROSIDADE EXCESSIVA
Art. 478. Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data da citação.
Art. 479. A resolução poderá ser evitada, oferecendo-se o réu a modificar eqüitativamente as condições do contrato.
Art. 480. Se no contrato as obrigações couberem a apenas uma das partes, poderá ela pleitear que a sua prestação seja reduzida, ou alterado o modo de executá-la, a fim de evitar a onerosidade excessiva.
	Para Maria Helena Diniz, 3º vol.p.158 “a onerosidade excessiva, oriunda de evento extraordinário e imprevisível, que dificulta extremamente o adimplemento da obrigação de uma das partes, é motivo de resolução contratual, por se considerar subentendida a cláusula “rebus sic stantibus” (teoria da imprevisão), que corresponde a fórmula de que, nos contratos de trato sucessivo ou a termo, o vínculo obrigatório ficará subordinado, a todo tempo, ao estado de fato vigente à época de sua estipulação”.
	Contratos de execução continuada são os que se cumprem por meio de atos reiterados. Exemplos: contrato de prestação de serviços, CC, art. 598; contrato de empreitada, art. 610; contrato de locação. Contratos de execução diferida são aqueles em que a prestação de um ou de ambos os contraentes não se dá em um só jato, mas a termo, não ocorrendo a extinção da obrigação enquanto não se completar a solução. Exemplo: entrega em determinada data futura do objeto alienado. 
B - ESPÉCIES DE CONTRATOS – CÓDIGO CIVIL (Arts. 481 a 853) 373 artigos.
1 - CLASSIFICAÇÃO OU NATUREZA JURÍDICA DOS CONTRATOS 
1.1 - CLASSIFICAÇÃO QUANTO A DENOMINAÇÃO: 
CC Art. 425. É lícito às partes estipular contratos atípicos, observadas as normas gerais fixadas neste Código.
TÍPICOS ou NOMINADOS – dizem-se típicos quando as regras disciplinadoras dos mesmos são descritas no Código Civil ou em outras leis. São os que possuem "nomem juris",denominação legal própria. Por exemplo: as 20 espécies de contratos previstos no Código Civil, arts. 481 a 851. 
ATÍPICOS ou INOMINADOS – o Código Civil de 2002, art. 425, informa ser “lícito às partes estipular contratos atípicos, observadas as normas gerais fixadas neste Código”. São aqueles que apesar de suas regras disciplinadoras não se encontrarem previstas no Código Civil ou em leis especiais são permitidos juridicamente, desde que obedeçam as normas gerais e os princípios da teoria geral dos contratos. São aqueles criados pela imaginação humana. Exemplo: cessão de clientela, contrato sobre exploração de lavoura de café.
1.2 - CLASSIFICAÇÃO QUANTO À FORMA: 
CONSENSUAIS – consideram-se aqueles que se formam exclusivamente pela concordância das partes (consentimento). É verdade que todo contrato pressupõe o consentimento. Mas, alguns existem para cuja celebração a lei nada mais exige que esse consentimento. Face ao predomínio do princípio consensualista pode-se dizer que o contrato consensual é regra, e exceções são os que não o são. Forma-se independente da entrega da coisa e da observância de determinada forma. Exemplo: compra e venda de móveis, locação. 
SOLENES ou FORMAIS – são aqueles para os quais a lei prescreve, para a sua celebração, forma especial. Não basta o acordo das partes. Exige-se a observância de certas formalidades. Exemplo: no contrato de compra e venda de imóveis há exigência de escritura pública, CC, art. 108. O contrato de seguro, CC, art. 759, e o contrato de fiança, CC, art. 819, só valem se forem escritos.
REAIS – são os que exigem, para se aperfeiçoarem, além do consentimento, a entrega da coisa que lhe serve de objeto. Neles o consentimento não é o suficiente, devendo também ocorrer a entrega da coisa. Assim, só se consideram concluídos com a entrega da coisa feita por um contraente a outro. Exemplo: contrato de depósito, CC, art. 627; contrato de comodato, CC, art. 579; contrato de mútuo, CC, art. 587. Uma vez entregue a coisa só resta obrigação para o depositário, o comodatário e o mutuário, por isto todos são também considerados unilaterais. Nestes contratos a entrega da coisa não é fase executória, porém requisito da própria constituição do ato.
1.3 - CONTRATOS RECIPROCAMENTE CONSIDERADOS:
PRINCIPAIS - existem por si, exercendo sua função e finalidade independentemente de outro. Exemplo: contrato de compra e venda
ACESSÓRIOS - a sua existência supõe a existência do contrato principal, pois visam assegurar a sua execução. Exemplo: contrato de fiança não existe sem o contrato de locação. 
1.4 - CLASSIFICAÇÃO QUANTO AO OBJETO PERSEGUIDO PELAS PARTES 
GRATUITOS ou BENÉFICOS – apenas uma das partes se compromete economicamente, a outra apenas aufere benefício ou vantagem. Exemplo: doação pura. 
ONEROSOS – aquele em que ambas as partes têm vantagens ou benefícios, impondo-se encargos recíprocos em benefício uma da outra. Ex: compra e venda.
Esta classificação tem importância ante o fato do Código Civil prever:
CC art. 392 - Nos contratos benéficos responde por simples culpa o contratante, a quem o contrato aproveite, e por dolo aquele a quem o contrato não favoreça. Nos contratos onerosos, responde cada uma das partes por culpa, salvo as exceções previstas em lei.
1.5 - CLASSIFICAÇÃO QUANTO AOS SEUS EFEITOS : 
UNILATERAIS – impõem obrigações tão somente a uma das partes. Exemplo: doação pura (o mesmo que doação sem encargos). 
BILATERAIS – criam obrigações para ambos os contratantes. Apresentam reciprocidade entre as prestações, com direitos e obrigações para ambas as partes. São conhecidos também por sinalagmáticos. Exemplo: compra e venda, locação, doação com encargo (contrato pelo qual o doador impõe ao donatário uma prestação).
À primeira vista pode parecer estranho a existência de contrato unilateral, porque todo contrato resulta da manifestação de no mínimo duas vontades. De fato, sob o ângulo de sua formação o contrato é sempre bilateral. Ocorre que a classificação em unilateral decorre não da formação, mas, dos efeitos que o contrato acarreta: os que geram obrigações unicamente para um dos contratantes são unilaterais. 
Caio Mário da Silva Pereira adverte que “é preciso não confundir a classificação dos contratos em bilaterais e unilaterais com a dos onerosos e gratuitos, embora haja coincidência de algumas espécies. Os contratos onerosos comumente são bilaterais, e os gratuitos da mesma forma unilaterais. Mas é apenas coincidência. O fundamento das classificações difere: uma tem em vista o conteúdo das obrigações, e outra, o objetivo colimado. Não há uma correspectividade necessária, pois existem contratos unilaterais que não são gratuitos (eg., o mútuo), e outros que são bilaterais e podem ser gratuitos (o mandato, por exemplo)”. 
1.6 - CLASSIFICAÇÃO QUANTO A PREVISIBILIDADE DAS PRESTAÇÕES 
Esta é uma subdivisão dos contratos onerosos e bilaterais:
COMUTATIVOS – aqueles pelos quais ambas as partes recebem prestações equivalentes, cujo conteúdo pode ser avaliado de imediato. Em outras palavras as prestações são de antemão conhecidas, e guardam entre si uma equivalência de valores. Não se exige a igualdade rigorosa dos valores porque os bens que são objeto dos contratos não têm valoração precisa. Exemplo: compra e venda, locação.
ALEATÓRIOS – Nestes, a prestação de uma das partes não é precisamente conhecida e suscetível de estimativa prévia, inexistindo equivalência com a da outra parte. Além disto ficam dependentes de um acontecimento incerto. Dizem respeito a riscos, coisas ou fatos futuros pelo qual a prestação de uma das partes depende de um risco futuro e incerto, não se podendo antecipar o seu montante, que pode não ser equivalente e até mesmo nem existir. Exemplo: contrato de seguro contra incêndio.
Art. 458. Se o contrato for aleatório, por dizer respeito a coisas ou fatos futuros, cujo risco de não virem a existir um dos contratantes assuma, terá o outro direito de receber integralmente o que lhe foi prometido, desde que de sua parte não tenha havido dolo ou culpa, ainda que nada do avençado venha a existir.
Art. 459. Se for aleatório, por serem objeto dele coisas futuras, tomando o adquirente a si o risco de virem a existir em qualquer quantidade, terá também direito o alienante a todo o preço, desde que de sua parte não tiver concorrido culpa, ainda que a coisa venha a existir em quantidade inferior à esperada.
Parágrafo único. Mas, se da coisa nada vier a existir, alienação não haverá, e o alienante restituirá o preço recebido.
	Já “caiu” em prova da ESAF: O art. 458 diz respeito ao contrato emptio spei (ou “venda da esperança”). Para Maria Helena é contrato aleatório de risco total, ou, porque uma parte se mantém obrigada mesmo se o objeto da contra-prestação não vier a existir Ex: alguém vende a colheita futura, declarando que "a venda ficará perfeita e acabada haja ou não safra, não cabendo ao comprador o direito de reaver o preço pago se, em razão de geada ou outro imprevisto, a safra inexistir"); o art. 459 ao contrato emptio rei speratae (ou venda da coisa esperada) cuida do risco respeitante à quantidade maior ou menor da coisa esperada" 
1.7 - CLASSIFICAÇÃO QUANTO A PARTICIPAÇÃO DAS PARTES NA ESTIPULAÇÃO DAS CLÁUSULAS 
PARITÁRIOS – são aqueles tradicionais em que as partes estão em pé de igualdade na discussão e fixação das cláusulas contratuais. Exemplo: compra e venda, locação.
DE ADESÃO – o conceito de contrato de adesão consta do art. 54 do Código do Consumidor, lei 8.078/90: “é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar seu conteúdo”. Assim, no contrato de adesão as cláusulas não são debatidas porque uma das partes detém monopólio de direito ou de fato, e impõe as cláusulas em bloco, não cabendo à outra parte modifica-las: apenas aceita-as (aderindo) ou não ao estipulado.Exemplo: consórcio, planos de saúde, fornecimento de energia elétrica, fornecimento de água. O novo Código Civil estabelece regras importantes para o contrato de adesão:
CC, art. 424. Nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada do aderente a direito resultante da natureza do negócio.
CC, art. 423. Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente. 
2 - PRINCIPAIS DISPOSITIVOS SOBRE ALGUNS CONTRATOS
2.1 - CONTRATO DE COMPRA E VENDA:
Bilateral, porque cria obrigações para ambos os contratantes;
Oneroso, pois ambas as partes auferem vantagens ou benefícios, impondo-se encargos recíprocos em benefício uma da outra; 
Comutativo, porque, em regra, as partes recebem prestações equivalentes, cujo conteúdo pode ser avaliado de imediato. No entanto, excepcionalmente, pode ser aleatório, quando se referir a coisas ou fatos futuros, cujo risco de não virem a existir um dos contratantes assuma, nas hipóteses que vimos quando estudamos as espécies de contratos aleatórios contrato emptio spei e contrato emptio rei speratae, arts. 458 e 459 do Código Civil, respectivamente; 
Consensual, se perfaz com o consentimento das partes em torno do objeto e do preço.
Art. 481. Pelo contrato de compra e venda, um dos contratantes se obriga a transferir o domínio de certa coisa, e o outro, a pagar-lhe certo preço em dinheiro. 
Art. 482. A compra e venda, quando pura, considerar-se-á obrigatória e perfeita, desde que as partes acordarem no objeto e no preço. O CONTRATO DE COMPRA E VENDA É CONTRATO CONSENSUAL.
Art. 489. NULO é o contrato de compra e venda, quando se DEIXA AO ARBÍTRIO EXCLUSIVO DE UMA DAS PARTES A FIXAÇÃO DO PREÇO.
Art. 491. Não sendo a venda a crédito, o vendedor não é obrigado a entregar a coisa antes de receber o preço.
Art. 492. Até o momento da tradição, os riscos da coisa correm por conta do vendedor, e os do preço por conta do comprador.
Art. 496. É anulável a venda de ascendente a descendente, salvo se os outros descendentes e o cônjuge do alienante expressamente houverem consentido.
Parágrafo único. Em ambos os casos, dispensa-se o consentimento do cônjuge se o regime de bens for o da separação obrigatória.
Art. 499. É LÍCITA a compra e venda ENTRE CÔNJUGES, com relação A BENS EXCLUÍDOS DA COMUNHÃO.
2.2 - CONTRATO DE DOAÇÃO
Unilateral, porque cria obrigações para apenas um dos contratantes;
Gratuito, sendo a doação pura, pois apenas uma das partes aufere vantagem ou benefício; Onerosa, quando se tratar da doação com encargos; 
Solene, em regra, porque far-se-á por escritura pública ou instrumento particular. No entanto, a doação verbal será válida, se, versando sobre bens móveis e de pequeno valor, se lhe seguir incontinenti a tradição.
Art. 540. A doação feita em contemplação do merecimento do donatário não perde o caráter de liberalidade, como não o perde a doação remuneratória, ou a gravada, no excedente ao valor dos serviços remunerados ou ao encargo imposto.
Art. 541. A doação far-se-á por escritura pública ou instrumento particular.
Parágrafo único. A doação verbal será válida, se, versando sobre bens móveis e de pequeno valor, se lhe seguir incontinenti a tradição.
Art. 542. A doação feita ao nascituro valerá, sendo aceita pelo seu representante legal.
Art. 543. Se o donatário for absolutamente incapaz, dispensa-se a aceitação, desde que se trate de doação pura.
Art. 554. A doação a entidade futura caducará se, em dois anos, esta não estiver constituída regularmente.
Art. 550. A doação do cônjuge adúltero ao seu cúmplice pode ser anulada pelo outro cônjuge, ou por seus herdeiros necessários, até dois anos depois de dissolvida a sociedade conjugal.
Art. 545. A doação em forma de subvenção periódica ao beneficiado extingue-se morrendo o doador, salvo se este outra coisa dispuser, mas não poderá ultrapassar a vida do donatário.
2.3 - CONTRATO DE COMODATO
Unilateral - porque, só gera obrigação apenas para o comodatário. 
Real – para que se completar é necessário não só consentimento das partes, mas a efetiva tradição da coisa dada por empréstimo pelo comodante ao comodatário.
Gratuito, por ser empréstimo sem contraprestação, onerando um dos contraentes, proporcionando ao outro uma vantagem. CC Art. 584. O comodatário não poderá jamais recobrar do comodante as despesas feitas com o uso e gozo da coisa emprestada.
CONCEITO: Considera-se o contrato o empréstimo gratuito de coisas infungíveis. Partes envolvidas: COMODANTE (quem empresta) e COMODATÁRIO (aquele que recebe). Perfaz-se com a tradição do objeto.
Art. 584. O comodatário não poderá jamais recobrar do comodante as despesas feitas com o uso e gozo da coisa emprestada.
2.4 - CONTRATO DE MÚTUO
Unilateral - porque, gera obrigação apenas para o mutuário. 
Real – para que se completar é necessário não só consentimento das partes, mas a efetiva tradição da coisa dada por empréstimo pelo mutuante ao mutuário.
Gratuito, por ser empréstimo sem contraprestação, onerando um dos contraentes, proporcionando ao outro uma vantagem; no entanto, nos termos do art. 591 do CC destinando-se o mútuo a fins econômicos, presumem-se devidos juros, a exemplo do mútuo feneratício. 
CONCEITO DE MÚTUO (ou empréstimo de consumo)
CC Art. 586. O mútuo é o empréstimo de coisas fungíveis. O mutuário é obrigado a restituir ao mutuante o que dele recebeu em coisa do mesmo gênero, qualidade e quantidade.
CC Art. 587. Este empréstimo transfere o domínio da coisa emprestada ao mutuário, por cuja conta correm todos os riscos dela desde a tradição.
MÚTUO FENERATÍCIO
CC Art. 591. Destinando-se o mútuo a fins econômicos, presumem-se devidos juros, os quais, sob pena de redução, não poderão exceder a taxa a que se refere o art. 406 (taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional) , permitida a capitalização anual.
2.5 - CONTRATO DE DEPÓSITO
Unilateral - porque, só gera obrigação apenas para o depositário, embora às vezes se converta em bilateral no curso da execução produzindo, p.ex., a obrigação para o depositante de pagar as despesas com a conservação da coisa ou de remunerar o depositário. 
Real – para que se perfaça é necessário não só consentimento das partes, mas a efetiva entrega da coisa ao destinatário,
Solene ou formal - porque a lei exige que tenha a forma escrita. O depósito voluntário provar-se-á por escrito CC art. 646.
MODALIDADES E GRATUIDADE/ONEROSIDADE
DEPÓSITO VOLUNTÁRIO
Art. 627. Pelo contrato de depósito recebe o depositário um objeto móvel, para guardar, até que o depositante o reclame.
Art. 628. O contrato de depósito é gratuito, exceto se houver convenção em contrário, se resultante de atividade negocial ou se o depositário o praticar por profissão.
Art. 646. O depósito voluntário provar-se-á por escrito.
DEPÓSITO NECESSÁRIO:
Art. 647. É depósito necessário: 
I - o que se faz em desempenho de obrigação legal, (é o decorrente de lei) reger-se-á pela disposição da respectiva lei, e, no silêncio ou deficiência dela, pelas concernentes ao depósito voluntário. É exemplo d depósito das bagagens dos viajantes ou hóspedes nas hospedarias onde estiverem, CC art. 649.
II - o que se efetua por ocasião de alguma calamidade, como o incêndio, a inundação, o naufrágio ou o saque (este é conhecido por depósito miserável).
Art. 651. O depósito necessário não se presume gratuito. Na hipótese do art. 649, a remuneração pelo depósito está incluída no preço da hospedagem.
2.8 - CONTRATO DE TRANSAÇÃO
Bilateral - porque gera obrigações para ambos os contraentes; 
Oneroso - porque se perfaz mediante concessões recíprocas;
Solene – a transação far-se-á por escritura pública, nas obrigações em que a lei o exige, ou por instrumento particular, nas em que ela o admite. Se recair sobre direitos contestadosem juízo, será feita por escritura pública, ou por termo nos autos, assinado pelos transigentes e homologado pelo juiz.
Art. 840. É lícito aos interessados prevenirem ou terminarem o litígio mediante concessões mútuas.
Art. 841. Só quanto a direitos patrimoniais de caráter privado se permite a transação.
Art. 842. A transação far-se-á por escritura pública, nas obrigações em que a lei o exige, ou por instrumento particular, nas em que ela o admite; se recair sobre direitos contestados em juízo, será feita por escritura pública, ou por termo nos autos, assinado pelos transigentes e homologado pelo juiz.
Art. 843. A transação interpreta-se restritivamente, e por ela não se transmitem, apenas se declaram ou reconhecem direitos.
Art. 844. A transação não aproveita, nem prejudica senão aos que nela intervierem, ainda que diga respeito a coisa indivisível.
§ 1o Se for concluída entre o credor e o devedor, desobrigará o fiador.
§ 2o Se entre um dos credores solidários e o devedor, extingue a obrigação deste para com os outros credores.
§ 3o Se entre um dos devedores solidários e seu credor, extingue a dívida em relação aos co-devedores.
PROF. MARCOS FLÁVIO

Continue navegando