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HISTÓRIA DO CEARÁ Prof. Me. Robson Alves CONTEÚDO PROGRAMÁTICO 1. Ocupação territorial do Ceará durante a Colônia; 2. Disputas entre nativos e portugueses; 3. Os europeus no território do Ceará; 4. As ordens religiosas no território cearense; 5. A economia do Ceará no período colonial – a pecuária e a conicultura; 6. O Ceará e a Revolução Pernambucana; 7. O Ceará na Independência do Brasil; 8. O Ceará na Confederação do Equador; 9. A escravidão africana no Ceará; 10. O Ceará durante a Primeira República: a política oligarquica; 11. Coronelismo, clientelismo, movimentos religiosos e Banditismo no Ceará; 12. O período 1930/1964: o Ceará durante o Estado-Novo; repercussões da redemocratização; “indústria da seca”: DNOCS e SUDENE; 13. Os governos militares e a modernização conservadora no Ceará; 14. A Nova República e as novas políticas aplicadas no Ceará OS POVOS NATIVOS NO BRASIL Quando os portugueses chegaram a este território que viria a ser o Brasil, em 1500, encontraram-no povoado. Em torno de cinco milhões de pessoas viviam aqui, sendo que a maioria dessa população estava no litoral. As historiadoras Lilia Schwarcz e Heloisa Starling caracterizam quatro áreas do atual território brasileiro ocupado pelos indígenas às vésperas da chegada dos portugueses. I. O LITORAL A costa, o litoral, por onde os portugueses chegaram, era ocupada por uma população homogênea. De norte a sul, era habitada pelo povo tupi-guarani, composta de aproximadamente dois milhões de indivíduos. Praticavam a pesca, a caça e a agricultura de coivara; também desfrutavam de recursos fluviais e marítimos. A base alimentar era o milho e a farinha de mandioca. Eram organizados em aldeias de 500 a 2 mil pessoas que se ligavam a outros grupos por laços consanguíneos. A guerra era uma atividade importante desses povos. Imagem 1 - Aldeia indígena ou taba – Gravura de AF Lemaitre. Disponível em: . Acesso em: 27 de setembro de 2021. II. CAMPOS DO CERRADO Os campos do cerrado eram ocupados pelos povos Jês, donos de uma sofisticada economia e cosmologia. Praticavam a horticultura há milênios, desenvolviam a cerâmica desde a pré-história. Viviam em assentamentos em forma de anel de 800 a 1500 pessoas, cultivavam milho e batata doce. Os Jês são móveis, têm grandes aldeias, tecnologia de subsistência simples, adornos corporais elaborados, não possuem chefes supremos, mas têm estruturas de prestígio e instituições comunitárias e cerimoniais notáveis. Imagem 2 - Cerrado no ano de 2014. Foto de Fabricio Carrijo. Disponível em: . Acesso em: 27 de setembro de 2021. III. REGIÃO DO XINGU A região do rio Xingu possuía um sistema multiétnico e multilinguístico, mas culturalmente homogêneo. Eram sedentários, plantavam mandioca e pescavam. Nos séculos XV e XVI, existia uma sociedade populacionalmente numerosa com interação social, longe de ter grupos isolados. Desenvolveu- se nessa região um modelo de chefia e distinção social onde a hierarquia se combinou com autonomia política. Imagem 3 - Parque indígena do Xingu no ano de 2007. IV. VÁRZEA DO AMAZONAS A várzea do Amazonas era marcada pela ocupação descontínua ao longo deste rio. O tamanho das aldeias variava, algumas chegavam a ter sete quilômetros ao longo do rio com estrutura pública e atividades político- cerimoniais. Os povos dessa região praticavam a pesca e a agricultura, milho e mandioca eram os produtos principais. A cerâmica era uma atividade importante. Desenvolveram-se muitos sistemas políticos, mas com predominância do cacicado: sistema político de chefias centralizadas, em que um líder supremo tinha poderes sobre aldeias e distritos hierarquicamente subordinados. Imagem 4 - Terra indígena Vale do Javari no ano de 2018. Foto de Bruno Kelly. OS POVOS NATIVOS NO CEARÁ No Ceará viviam cerca de vinte e dois povos indígenas cada um com seu idioma próprio. Do grupo tupi basicamente dois povos: Tabajaras, que viviam na Serra de Ibiapaba ou Buapavas; e os Potiguaras, que se situavam entre o Jaguaribe e o Camocim. Estes índios se mostravam mais cordatos e mantinham um grau de relação mais amigáveis com os portugueses; até porque sua língua foi mais facilmente assimilada com os brancos. As demais tribos foram chamadas genericamente de Tapuia, que em Tupi significa: ―aquele que fala a língua travada‖, ou seja, eram diferentes, inimigos. Quando a chegada dos portugueses ao Brasil, essas nações já viviam um processo de interiorização, empurrados pelos Tupis que eram em maior quantidade. Desses povos, faziam parte os Tarariu (Kanindé,Paiakú,Genipapo,Jenipabuçú, Arariú, Anacé, Karatiú); os Karirís (Kaririaçú,Kariú...); Tremembé; Guanacé (Guanacésguakú, Guanacé- mirim); Jaguaruana; Aimoré; Tukurijú; Xiriró; Ilko; Apujaré; Kariré; Akonguaçú; Pitaguary; e muitos outros. Enquanto os portugueses permaneceram no litoral, os choques com esses não foram tão intensos, porém, na medida em que a penetração foi se dando, por conta principalmente do criatório de gado o confronto foi se tornando inevitável. Embora o colonizador fosse superior, do ponto de vista tecnológico, encontrou entre os índios do Ceará forte resistência, sendo que estes em determinados momentos, conseguiram sérias derrotas àqueles, fazendo retardar o processo de ocupação da terra. Muitas foram as ―confederações‖ que reuniram as mais diferentes tribos para enfrentar os brancos; em 1688, por exemplo, os Paiakú, os primeiros atingidos pela implantação das fazendas de criar, aliados aos Ikó, Janduim e Karatiú quase conseguiram recuperar a capitania das mãos dos colonos. Em 1694, outro levante, os Janduin conseguiram um feito inédito: serem reconhecidos como um reino autônomo e um tratado de paz com o rei de Portugal que, claro, não cumpriu seus termos. Em 1713, uma confederação indígena destruiu Aquiráz, expulsando seus habitantes para junto da Fortaleza. Diante dessa resistência só restava pedir o socorro dos bandeirantes paulistas, mais experientes na arte de aprisionar e matar índios. O ano de 1713 vai marcar o início do recuo indígena com a derrota da Confederação dos Kariri, às margens do rio Choró, para o paulista João de Barros Braga. De acordo com a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), o Ceará possui, nos dias atuais, tem 20 povos. Anacé, Cariri, Gavião, Jenipapo- Kanindé, Kalabaça, Kanindé, Kariri, Kariri-Quixelô, Karão, Paiacu,Pitaguari,Potiguara,Quixará-Tapuia,Tapeba,Tabajara,Tapuia- Kariri,Tremembé,Tubiba-Tapuia, Tupinambá e Warão. Imagem 5 – Povos nativos atuais no Estado do Ceará. A CHEGADA AO TERRITÓRIO DO CEARÁ A História do Ceará propriamente dito tem inicio em 1603 com tentativa de colonização empreendida pelo açoriano Pero de Coelho de Souza. No entanto, é fato conhecido e reconhecido pela historiografia nacional a possível aportagem de espanhóis no litoral cearense, antes mesmo da descoberta do Brasil por Pedro Álvares Cabral, em 22 de abril de 1500. Esse evento teria se dado em torno do dia 02 de fevereiro daquele ano e protagonizado por uma frota sob o comando do navegador Vicente Yanes Pizón, companheiro de Cristovão Colombo na viagem de descoberta da América. Além dessa, outra frota sob o comando de Diogo de Lepe, também espanhol, teria tocado o litoral cearense antes de Cabral apontar a Bahia. Existem muitas controvérsias quanto ao local onde teria se dado a aportagem. Na verdade, ele teria tocado o litoral do Ceará por duas vezes. Para Capistrano de Abreu, teria sido no cabo de Santo Agostinho, em Pernambuco. Já o Rio Branco esposa a tese de ter sido a ponta do calcanhar, no Rio Grande do Norte. Thomáz Pompeu, com quem Raimundo Girão concorda, aponta ser o local conhecido por Jabarana ou Ponta Grossa, no município de Aracati, aquele teria sido batizado de Santapartir de então ocorreram outras mudanças, mas, em grande medida, pelo voto direto da população. MUDANÇAS OCORRIDAS NO CEARÁ DURANTE A ERA VARGAS Um dos períodos de maior relevância da história do Brasil também mexeu com a população cearense. Um dos movimentos mais marcantes e que pode ser comparado às manifestações do ano passado foi o Dia do Quebra- quebra. Quando, em 18 de agosto de 1942, em represália ao afundamento de navios brasileiros por submarinos alemães e italianos, estudantes e população em geral saíram às ruas. "Os manifestantes quebraram, incendiaram e depredaram todos os estabelecimentos de alemães, japoneses e italianos e exigiram que o Brasil entrasse em guerra, o que ocorreu depois que Getúlio percebeu que os aliados estavam levando vantagem". A Segunda Guerra Mundial deixou vestígios em Fortaleza e coincidiu com uma série de transformações por que a cidade passava nos anos 1940. A dinamização do conhecimento tecnológico, as mudanças no ordenamento urbano, o crescimento populacional e os costumes são algumas alterações ocorridas nesse período tão singular. Em 20 anos, a população dobrou, passando de 78.536 habitantes, em 1920, para 180 mil, em 1940, segundo censos oficiais. Em 1952, a população chegava a 270 mil pessoas. "Os bondes deixaram de circular em 1947, passando o ônibus a ser o principal transporte público da cidade a partir de 1950. Nessa época também os primeiros sinais luminosos (semáforos) foram instalados". Nesse mesmo contexto houve também alteração na própria estrutura das cidades, mas em especial de Fortaleza. Ocorreram, nesse período, vários deslocamentos populacionais. As classes econômicas mais abastadas foram deixando o Centro - que passou a ser zona comercial - ocupando a Jacarecanga, em menor escala, a região do Benfica, ao sul do Centro, e vencendo a "barreira" representada pelo riacho Pajeú, áreas da Praia de Iracema e Aldeota, ao leste. "Ficava cada vez mais explícita a segregação espacial e de classes dentro da cidade. No lado leste de Fortaleza, os setores mais ricos, e no lado oeste, o reverso, onde moravam os mais pobres". O CEARÁ NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL Com a entrada do Brasil na II Guerra Mundial, em 1942, os Estados Unidos fizeram acordos com o Governo Vargas para instalarem bases militares nas cidades de Belém, Natal, Recife, Fernando de Noronha e Fortaleza. No início de 1943, eles iniciaram a construção de sua base na capital cearense, na área onde hoje se encontra o Bairro do Pici. Com a guerra, os hábitos também se modificaram. Quem tinha carro passou a andar de bonde devido à economia de combustíveis, a quantidade de veículos nas ruas diminuiu consideravelmente e muitas filas se formavam para comprar alimento. Havia, inclusive aqui, iniciativa pública para recolher peças que formavam as chamadas Pirâmides de Metal que, fundidas, serviriam de base para a fabricação de armamentos. Fora isso, muitos trabalhadores faziam hora extra sem nenhuma remuneração. Ao mesmo tempo, Fortaleza se deparava com a chegada dos soldados norte- americanos. Os pesquisadores Estimam que, entre 1943 e 1946, um total de 50 mil americanos tenham passado por aqui. A LUTA CONTRA AS SECAS: A CRIAÇÃO DA SUDENE E DO DNOCS A SUDENE E O DNOCS A Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste, mais conhecida pela sigla Sudene, é uma autarquia federal, subordinada ao Ministério do Interior, com sede em Recife, Pernambuco. O objetivo de sua criação foi a promoção e coordenação do desenvolvimento do Nordeste, região que para os fins da Sudene compreende os estados do Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia, e parte do território de Minas Gerais enquadrada no Polígono das Secas, e o território federal de Fernando de Noronha. O Nordeste da Sudene é, a rigor, uma definição já de ―política de desenvolvimento‖, pois é o conjunto de estados ―subdesenvolvidos‖ em relação à parte do país que se poderia considerar como ―mais desenvolvida‖. Inclui o estado do Maranhão, não tradicionalmente reconhecido como Nordeste, a parte mineira, que tampouco tem algo a ver com seus novos parceiros regionais, e o território federal de Fernando de Noronha, uma simples base militar do Exército. Esse conjunto de 1.650.000km2 correspondente a 18,4% do território nacional, abrigava em 1980 cerca de 35 milhões de habitantes, ou seja, 30% da população brasileira. A Sudene foi criada pela Lei nº 3.692, de 15 de dezembro de 1959, do Congresso Nacional, promulgada pelo presidente Juscelino Kubitschek. O diploma legal dispunha como finalidades e funções da superintendência: a) estudar e propor diretrizes para o desenvolvimento do Nordeste; b) supervisionar, coordenar e controlar a elaboração e execução de projetos a cargo de órgãos federais na região e que se relacionem especificamente com o seu desenvolvimento; c) executar, diretamente ou mediante convênio, acordo ou contrato, os projetos relativos ao desenvolvimento do Nordeste que lhe foram atribuídos nos termos da legislação em vigor, e d) coordenar programas de assistência técnica, nacional ou estrangeira, ao Nordeste. Formalmente, a criação da Sudene coroou um amplo processo político, que já havia resultado na criação do Conselho do Desenvolvimento do Nordeste (Codeno), em março de 1959, por decreto do presidente Kubitschek, e que, de fato, era a guarda avançada da Sudene, enquanto o Congresso Nacional discutia e aprovava a mensagem do Poder Executivo que propunha a criação da superintendência. Histórica e politicamente, a criação da Sudene foi o resultado da percepção do aguçamento das diferenças entre o Nordeste e o chamado Centro-Sul do Brasil — o triângulo São Paulo-Rio-Minas — a partir da industrialização deste último. A historiografia oficial da própria Sudene põe ênfase nas causas imediatas — a seca de 1958 e suas conseqüências: desemprego rural e êxodo — e toma como ―causas históricas‖ a própria ideologia do órgão: o fato de que o aguçamento das diferenças regionais indicava o planejamento como o único caminho para promover o desenvolvimento. O planejamento aparece com uma racionalidade a-histórica e uma marcha linear: primeiro, ocorreu a criação do Banco do Nordeste do Brasil em 1952, e depois veio a criação do Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste (GTDN) em 1956, este no âmbito do Conselho de Desenvolvimento. Até mesmo, remotamente, a criação do Departamento Nacional de Obras contra as Secas (DNOCS), no princípio do século, como Inspetoria Federal, anunciava uma ação ―planejada‖. Põe-se ênfase também no muito famoso e pouco conhecido Relatório Ramagem, preparado pelo coronel Orlando Ramagem para o Conselho de Segurança Nacional sobre a seca de 1958 e os escândalos da ―indústria das secas‖: aproveitando-se da miséria dos retirantes, a corrupção se revelava nas listas de trabalhadores ―fantasmas‖ das frentes de trabalho do DNOCS, nas estradas que iam de nenhum lugar para lugar nenhum, nos ―barracões‖ dos empreiteiros, nas obras (açudes, estradas, poços) nas fazendas dos amigos, dos chefes políticos, dos ―coronéis‖ e seus vassalos. Enfim, era a estrutura do latifúndio, do coronelato, da oligarquia agrária nordestina que capturou o DNOCS, e que, politicamente, em sua maior parte, constituía no Nordeste o Partido Social Democrático (PSD), ao qual pertencia o próprio presidente Kubitschek. O relatório parece ter-se constituído em elemento de pressão das forças armadas, principalmente do Exército. A Sudene foi criada diretamente subordinada à Presidência da República, quase constituindo-se num verdadeiro Ministério do Nordeste. Sua estruturação foi inovadora na sistemática político-administrativa nacional. A inovação fundamental diz respeito ao conselho deliberativo, com a participação dos estados, ao lado dos organismos federais específicos do próprio Nordeste — a própria Sudene, o DNOCS, o Banco do Nordeste do Brasil e a Comissão do Vale do São Francisco—, dos ministérios civis da União, do Banco do Brasil, e do Estado-Maior das Forças Armadas. Essa combinação poderia ter sido uma nova forma de federalismo, mais funcional do ponto de vista das profundas modificações por que havia passado a divisão regional do trabalho no país: uma fórmula politicamente feliz de reconhecimento das tendências de homogeneização nacional, ultrapassando- se um conceito de ―região‖ fechado, estático e autarcizante, ao passo que se assegurava a influência das forças políticas de caráter regional e mesmo local no tratamento da própria anulação das diferenças regionais. A secretaria executiva da Sudene, cujo titular de 1959 a 1964 foi o economista Celso Furtado, de resto responsável pela formulação estratégica do órgão a partir do seu célebre diagnóstico Uma política de desenvolvimento para o Nordeste, de 1959, é a responsável pelo funcionamento da superintendência. Sua estruturação de autarquia, clássica já na tradição administrativa brasileira, além de implicar a flexibilidade dessa forma de administração indireta, permitiu um grau de maleabilidade e iniciativa sem paralelo na administração pública brasileira. A Sudene podia criar, como de fato criou, empresas e sociedades de economia mista, nas quais ela representava a União, sem necessitar de aprovação prévia do Congresso Nacional e, formalmente, nem mesmo do Poder Executivo. Em pouco tempo, a secretaria executiva criou um enorme corpo de funcionários especializados, chegando a se constituir no mais amplo e, com o correr dos anos, mais experimentado e eficiente quadro técnico de uma instituição pública no Nordeste, sem equivalente nacional na área de planejamento. O instrumento através do qual a Sudene proporia, orientaria e coordenaria o programa de desenvolvimento do Nordeste era o seu Plano Diretor, com apresentação obrigatória ao Congresso Nacional, através da Presidência da República. Aqui também ocorreu uma inovação na sistemática político- administrativa brasileira, pois pela primeira vez um instrumento de planejamento era formalizado a esse nível; se, de um lado, a ação da autarquia se submetia ao crivo do Congresso Nacional, de outro lado, a aprovação de seus planos pelo Parlamento lhe conferia uma legitimação política que nenhuma outra agência estatal possuía, o que inegavelmente expressa bem a passagem dos assuntos relativos ao Nordeste ao primeiro plano dos problemas políticos nacionais. OS GOVERNOS MILITARES NO CEARÁ O movimento de 64 teve efeitos dramáticos sobre o Ceará. Da mesma forma que no resto do País, os meios políticos cearenses conheciam os boatos sobre as tramas conspiratórias em andamento que visavam a derrubar João Goulart da presidência. Ao mesmo tempo, os setores de esquerda e nacionalistas acreditavam no ―esquema militar‖ de Jango, o qual, como se sabe, revelou-se pífio, tal a facilidade do triunfo dos golpistas. As primeiras notícias sobre o levante militar chegaram a Fortaleza ainda na noite de 31 de março, pelo rádio, então o principal meio de comunicação de massa. Pelos depoimentos colhidos junto a entrevistados, eram informações confusas, contraditórias, sem detalhes precisos. O certo era que o tão propalado levante militar estava finalmente acontecendo, o que não significava que houvesse certeza sobre o triunfo dos golpistas ou que o episódio não provocasse surpresas. As emissoras de rádio cearense noticiaram o apoio do IV Exército, sediado em Recife, e da 10ªRegião Militar, de Fortaleza, ao levante iniciado em Minas Gerias. Sem poder contar com o esperado ―esquema militar de Jango‖, as esquerdas locais, então, tentaram articular uma resistência, que se revelou inócua. Estudantes de várias escolas e faculdades realizaram passeatas e se concentraram no CÉU (Clube dos Estudantes Universitários) pela manhã, congestionando o trânsito na Avenida da Universidade. Em uma amplificadora, fizeram pregações contra os golpistas e falaram da necessidade de defender a legalidade. A polícia cercou o CÉU à tarde, evacuando o prédio e retirando a amplificadora. Posteriormente, os estudantes se reuniram na Praça José de Alencar, no centro da Fortaleza – em meio aos discursos exaltados dos secundaristas e universitários, o ato foi dissolvido pelo Exército. Nos dias seguintes, com a vitória do golpe, as sedes das entidades estudantis acabaram invadidas pelos militares, havendo destruição e apreensão de ―materiais subversivos‖. O REGIME E SUA INFLUÊNCIA NA POLÍTICA DO CEARÁ No Ceará, na lacuna de 20 anos sem eleições diretas para governador, 7 políticos escolhidos pelos militares ocuparam o cargo. Dentre eles, o conhecido trio de coronéis: César Cals, Adauto Bezerra e Virgílio Távora. Àquela altura, vigorava no país o bipartidarismo estabelecido pelo AI 2, quando, desde o início de 1966, foram organizados os dois partidos que dividiram a cena política brasileira na ditadura: o Movimento Democrático Brasileiro (MDB) e a Aliança Renovadora Nacional (Arena). O primeiro era o partido de oposição e o segundo o do governo. No Ceará, os 7 políticos que governaram o Estado no intervalo de suspensão de eleição direta pertenciam à Arena ou ao Partido Democrático Social (PDS) que, após o fim do bipartidarismo, em novembro de 1979, substituiu a Arena, com a reforma ocorrida no governo do militar João Figueiredo. Portanto, o Estado foi governado pelos chamados governadores "biônicos" que, no campo da política, eram figuras que ascenderam ao poder sem terem sido eleitos pela população, e com isso eram considerados um artifício dos militares para interferir nos rumos do país em níveis regionais e locais. Mas para cargos como deputados e senadores a eleição direta foi mantida. GOVERNADORES INDICADOS PELO REGIME PARA O CEARÁ Franklin Gondim Chaves (Arena) - Político e proprietário rural que era presidente da Assembleia Legislativa e governou o Ceará somente 1 mês em 1966, entre a renúncia de Virgílio Távora e a escolha do novo governador. Franklin foi indicado por Castelo Branco. Plácido Aderaldo Castelo (Arena) - O político era bacharel em direito e professor e comandou o Estado entre 1966 e 1971. Ele dá nome a Arena Castelão. Plácido foi indicado por Castelo Branco. César Cals de Oliveira Filho (Arena) - O político e militar foi governador do Ceará entre 1971 e 1975. Ele implantou a Empresa Cearense de Turismo (Emcetur) e edificou o Teatro da Emcetur, o antigo Centro de Convenções de Fortaleza e a rodoviária. Ele foi indicado pelo militar Emílio Médici. José Adauto Bezerra (Arena) - O político e militar governou entre 1975 e 1978. Foi responsável pela construção do sistema de esgoto sanitário em Fortaleza, com o chamado Interceptor Oceânico. Ele foi indicado pelo militar Emílio Médici. José Waldemar de Alcântara (Arena) - O político e médico era vice de Adauto e assumiu o Governo do Estado por um ano e um mês entre 1978 e 1979. Um dos feitos foi a estruturação do Centro de Hemoterapia do Estado. Ele foi indicado pelo militar Emílio Médici. Virgílio de Moraes Fernandes Távora (Arena/PDS) - O político e militar que já havia governado o Ceará antes da ditadura voltou ao governo por via indireta e permaneceu no cargo de 1979 a 1983. Uma das iniciativas foi a reativação do Distrito Industrial de Fortaleza e a ampliação do sistema de abastecimento de água de Fortaleza.Foi indicado pelo militar João Figueiredo. Manoel de Castro Filho (PDS) - O político e bacharel em direito era vice de Virgílio e foi governador entre 1982 e 1983 quando Virgílio renunciou para disputar uma vaga no Senado. Ele foi indicado pelo militar João Figueiredo, sendo o último governador biônico. A NOVA REPÚBLICA NO CEARÁ A partir dos anos oitenta do século passado, o Estado do Ceará passou por rápidas e profundas transformações de ordens política e institucional com significativa repercussão econômica e, em particular, nas finanças públicas do Estado. A ascensão ao poder de umrestrito grupo empresarial no governo do Estado do Ceará inaugurou uma outra fase na condução do executivo, cujo lema passou a ser a racionalização administrativa, a geração de superávits fiscais e a redução da participação do Estado como alocador de recursos e fatores e produtor de determinados bens e serviços. As conjunturas política e econômica, internacional e nacional, de pseudomodernização do Estado, procurando eliminar formas autoritárias de clientelismo, cuja expressão maior no Ceará se creditava aos governos dos ―coronéis‖, bem como a apologia ao neoliberalismo e à globalização da economia, contribuíram sobremaneira para as mudanças verificadas. Por um lado, a reforma do Estado no Brasil, moldada ao longo da fase de ―Transição Democrática‖, culminou com a Constituição de 1988, durante a ―Nova República‖, sendo estabelecidos princípios e mecanismos de afirmação da democracia. Em termos da Federação, a reorganização institucional reforçou a participação de Estados e municípios, redefinindo atribuições e responsabilidades, por meio da instituição de um padrão administrativo e financeiro descentralizado – notadamente a partir da municipalização na oferta de serviços públicos básicos –, bem como de instrumentos de controle democrático, mediante o qual seriam criados canais institucionais de participação social e política da população. Por outro lado, a abertura, desregulamentação e flexibilização dos mercados possibilitaram a expansão capitalista transnacional no Brasil, assim como do grande capital nacional, impulsionados também por uma generosa política de concessão de benefícios fiscais por parte dos Estados, notadamente os mais pobres da federação, por conta da ―guerra fiscal‖. Esses fatores contribuíram para a inserção na lógica de acumulação global de espaços sub-regionais, geralmente com ofertas abundantes de mão-de-obra barata, com propensão para o desenvolvimento de determinadas atividades e com destaque para a agroindústria destinada à exportação. QUESTÕES PARA REVISAR 01. IMPARH - 2022 - Professor (Pref Fortaleza)/História Estamos em um momento de revisão da historiografia para ―corrigir‖ o grande equívoco que foi a invisibilidade dos povos nativos e africanos no Brasil. Os estudos feitos com diversas fontes que não foram consideradas nas escritas anteriores nos mostram os povos nativos com grandes atuações políticas e em conflitos que mediram forças com os colonos. Um conflito longo e violento (1650 – 1720) que ocorreu em vários estados da região nordestina, como Ceará, Bahia, Pernambuco e Maranhão, com diversas tribos envolvidas como aliadas ou rebeldes foi a: a) Guerra dos Bárbaros. b) Confederação do Equador. c) Insurreição Pernambucana. d) Confederação dos Tamoios. 02. Prof. Robson Alves (2024) "O estabelecimento dos aldeamentos foi essencial para consolidar a conquista portuguesa e redefinir o espaço cearense. Teve também um papel importante quanto ao nível ideológico desses povos para aceitarem o novo modo de vida, pois nenhuma conquista se mantém apenas pela violência,". Pinheiro, F. J. Mundos em confronto: povos nativos e europeus na disputa pelo território. In: Uma nova história do Ceará. (Org.) Simone de Sousa, Adelaide Gonçalves ... [et al]. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2007. (Adaptado) Acerca do processo de ocupação do território a partir do processo de aldeamento nativo, marque a alternativa correta: a) Os aldeamentos foram criados pelo governo português e que tinham a função de melhorar a vida nativa. b) Foram responsáveis pela instalação do cultivo da cana-de-açúcar e de engenhos no litoral cearense. c) Os aldeamentos foram criados pelas ordens religiosas que objetivavam catequizar os nativos e usar essa mão de obra. d) Os aldeamentos foram responsáveis pela criação do gado e aumentou a exploração territorial por parte dos portugueses. 03. CEV URCA - 2021 - Vestibular (URCA)/''2021.2” "Bastante peculiar, os desejos pelas terras dos Cariris Novos e Icó, sondadas desde meados do século XVII, mas só no início do XVIII é que se intensificaram as doações de sesmarias para os aspirantes a ocuparem aqueles sertões. Os nativos que ali habitavam eram, dentre outros, os Kariri, Icó, Cariú, Jucá, Calabaça, Icozinho, Exu. Estes protagonizaram fortes conflitos em defesa de seus territórios de férteis terras, configuradas com o principal refúgio aos indígenas em deslocamentos, empurrados pela frente colonial". (IN: OLIVEIRA, Antonio José de. Os Kariri - resistências à ocupação dos sertões dos Curiris. Universidade Federal do Ceará - UFC. Fortaleza, 2017. p. 125) Sobre os povos originários nos sertões cearenses, é correto afirmar que: a) Os diversos grupos mantiveram uma convivência pacífica permanente com os colonizadores, aceitando a submissão nos aldeamentos. b) Tiveram seus direitos respeitados pelos colonizadores, que não tomaram suas terras e aceitaram suas formas de viver. c) Os Kariri, assim como outros povos, não foram passivos no processo de conquista feito pelos colonizadores, lutaram por suas terras e por sua cultura. d) Na região do Cariri cearense, os povos originários foram a única mão de obra utilizada pelos senhores no trabalho cm suas lavouras e nos engenhos. 04. CEV UECE - 2020 - Vestibular (UECE)/2020.2 Observe o que se diz nos itens a seguir sobre o início da colonização no Ceará: I. A proibição de criação de gado em uma faixa de 10 léguas da costa, como forma de preservar essa área para a produção de açúcar, influiu no fluxo de pecuaristas que vieram ocupar o interior do Ceará. II. Devido à pouca presença de indígenas na costa cearense e à amistosidade destes com os portugueses, o litoral foi a região do Ceará onde primeiro a colonização portuguesa se consolidou. III. A dificuldade em ocupar a região é demonstrada, ao longo do século XVII, pelos fracassos da bandeira de Pero Coelho de Sousa, da expedição dos padres Francisco Pinto e Luís Figueira, e do forte de São Sebastião, construído sob mando de Martim Soares Moreno. Está correto somente o que se afirma em a) I e II. b) II. c) I e III. d) III. 05. CEV URCA - 2019 - Vestibular (URCA)/"2019.1" ―Dizem os índios da aldeia da Ibiapaba... que por eles serem muitos, e cada vez se lhes agregam mais tapuias, que já hoje passam de quatrocentos, e por constarem as terras que lhes foram demarcadas de muitas penedias, e quebradas inúteis, e as poucas que eram capazes de plantas já estarem cansadas, não acham já a onde possam plantar... de que nasce haver na aldeia uma contínua fome, e se não fora a caridade de seus missionários de cem viúvas desamparadas, e muitos meninos órgãos estranhos em serviço dos moradores, morriam de fome: de que como eles suplicantes não têm mantimentos para si, não poder om eles remediar a outros.‖ (solicitação de Carta de Sesmaria – Documento do Conselho Ultramarino, 12 de out. 1720, APUD PINHEIRO, Francisco José. Mundos em confronto: povos nativos e europeus na disputa pelo território. IN: SOUZA, Simone (org.). Uma nova história do Ceará. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2000, p. 24). Considerando o texto acima, assinale a alternativa correta sobre o processo inicial de invasão europeia e os conflitos gerados no território hoje denominado de Ceará. a) A terra, para os povos indígenas, não era vista como um meio de produção na perspectiva mercantil, ao contrário, deveria ser um espaço da liberdade e de possiblidade de viver sem serem constrangidos pelo branco colonizador; b) Os lusos-brasileiros justificavam o uso das terras pelas necessidades coletivas sem preocupação com o lucro, referenciando os pedidos de sesmarias na ancestralidade de presença territorial; c) Para os povos indígenas, o que assegurava a posse da terra era ela estar devoluta e torná-la produtiva para a possibilitar lucros à Fazenda Real, na perspectiva mercantil; d) Os conquistadores, tanto colonos como missionários,procuravam pelos mais diversos meios se aliar aos povos indígenas, para tanto se submetiam aos modos de vida dos nativos; 06. ACEP - 2018 - Professor (Pref Aracati)/Ciências Humanas O fundador do Ceará, também chamado de ―guerreiro branco‖, foi: a) Martim Soares Moreno. b) Pero Coelho de Sousa. c) Diogo Botelho. d) Martins Afonso de Sousa. 07. IMPARH - 2018 - Professor (PrefFortaleza)/Substituto/História/Edital 104.2018 No início da ocupação e da colonização do Ceará, sua principal característica era a atividade pastoril. Nesse momento, os colonizadores buscaram os índios nativos, impondo-lhes a sua maneira de viver e trabalhar. Os índios resistiram à escravidão e muitos fugiram para regiões mais distantes, longe do alcance dos portugueses. Apesar da luta e resistência dos nativos, muitos ainda foram escravizados, sendo utilizados, em sua maioria, como mão de obra: a) no comércio. b) na mineração. c) na pecuária. d) na agricultura. 08. UECE 2018.1 - 1ª Fase No Ceará, durante os séculos XVII e XVIII, formou-se o que o historiador cearense Capistrano de Abreu denominaria como ―Civilização do Couro‖. Este aspecto característico da colonização cearense está ligado a) ao fato de existir, nas terras cearenses, uma farta manada de gado bufalino natural da região, o que proporcionou, aos nativos locais e aos europeus colonizadores, as condições ideais para explorarem aquela riqueza. b) ao desenvolvimento, após a decadência da produção algodoeira, de uma grande atividade de pecuária de corte e leiteira que, ainda hoje, é uma das maiores do Brasil e sustenta a economia cearense. c) ao processo colonizatório cearense que ocorreu a partir da ocupação pela pecuária, na capitania, através da frente de ocupação do sertão-de-fora, conduzida por pernambucanos, e da frente de ocupação do sertão-de-dentro, controlada principalmente por baianos. d) ao modelo original de ocupação através da pecuária bovina que, saindo do Ceará, ajudou na ocupação do interior nordestino e na colonização dos serrados do centro-oeste, dos pampas do sul do país e do pantanal mato- grossense. 09. PMF – IMPARH (2016) Líder da primeira expedição de exploração do território cearense, iniciada em 1603, que fundou a povoação de Nova Lisboa às margens do rio Ceará, mas foi obrigado a retirar-se para o Rio Grande do Norte, juntamente com sua família, devido à terrível seca de 1605-1607: a) Martim Soares Moreno. b) Francisco Pinto. c) Luís Figueira. d) Pero Coelho de Sousa. 10. PMF – IMPARH (2016) Desde o início de século XVIII, os fazendeiros do litoral cearense passaram a exportar seu gado abatido sob a forma de um tipo de carne seca, moderadamente salgada e desidratada ao sol e ao vento: a chamada carne de sol. A cidade por cujo porto transitava a maior parte desse produto era: a) Fortaleza b) Aracati c) Paracuru d) Aquiraz 11. UECE (2015) No que concerne à ocupação da Capitania do Ceará pelos conquistadores europeus, é correto afirmar que a) a conquista e a ocupação da Capitania do Ceará teve início com o processo de conquista do litoral açucareiro. b) a ocupação da capitania cearense ocorreu concomitante à conquista dos espaços das Capitanias da Bahia e de Pernambuco. c) a ocupação e a conquista do território da Capitania do Ceará deu-se mais facilmente em virtude da cooperação do elemento nativo. d) a ocupação da capitania cearense ocorreu de forma tardia, se a compararmos com a conquista das áreas açucareiras. 12. IDECAN – PMCE 2023 Era 10 de abril de 1649 quando o comandante holandês Matias Beck ergueu, à margem esquerda da foz do Riacho Pajeú, uma cerca de pau-a-pique sobre um monte isolado. A posição estratégica, com vista panorâmica para as hostis terras do Ceará, seria fortificada e batizada de Forte Schoonenborch. [...] os principais canhões da paliçada voltados não para o mar, como costume em ocupações portuárias, mas para a própria cidade. A orientação pouco usual do armamento chamou a atenção inclusive do viajante anglo-português Henry Koster, registrada em 1811 no livro Viagens ao Nordeste do Brasil. ―Notei que a peça de maior forçada estava voltada para a Vila. A que estava montada para o mar não tinha sequer calibre suficiente para atingir um navio no ancoradouro comum‖. https://www.opovo.com.br/noticias/2019/04/10/forte-holandes-que-e-marco-historico-de-fortaleza-completa-370- anos.html O posicionamento dos canhões descritos no texto expressava, no contexto da ocupação do Ceará, a(o) Alternativas a) repressão às rebeliões dos colonos católicos contra o puritanismo holandês. b) maior risco de ataque e conflitos vindos do sertão do que externos, vindos do mar. c) combate aos povos tamoios, aliados dos portugueses e defensores da região. d) constante embate com o forte São Sebastião liderado por Martins Soares Moreno. e) necessidade de proteção contra os portugueses ocupantes da Barra do rio Ceará. 13. PROF. ROBSON ALVES (2024) O Ceará se tornou independente de Pernambuco em 17 de janeiro de 1799 através de uma carta régia da rainha D. Maria I, assinale o nome do primeiro governante do território após o desmembramento de Pernambuco: a) Martin Afonso. b) Soares Moreno. c) Tomé de Souza. d) Duarte Coelho. e) Bernardo Manoel. 14. PROF. ROBSON ALVES (2024) Qual evento ocorreu nos Estados Unidos e beneficiou o Ceará aumentando sua produção do algodão e fortalecendo a economia cearense: a) Guerra dos Emboadas. b) Guerra de Secessão. c) Primeira Guerra Mundial. d) Guerra Fria. e) Criação do Aparthied. 15. PROF. ROBSON ALVES (2024) ―Os primeiros missionários a visitar o Ceará foram os padres Francisco Pinto e Luis Filgueiras, da Companhia de Jesus. Sua ação evangelizadora restringiu-se à região da Ibiapaba e Uruburetama, sendo que nela o padre Francisco Pinto perdeu a vida num ataque dos índios Tocarijú, em 1607‖. As ordens religiosas tiveram um papel chave no território cearense, assinale a alternativa que indica qual contribuição principal que essas ordens trouxeram para o território do Ceará. a) Conseguiram manter a paz no território e lutaram contra os portugueses. b) Defenderam os nativos contra o avanço dos franceses no território cearense. c) Ajudaram na pacificação dos cariris e fizeram aliança apenas com os potiguaras. d) Através dos aldeamentos, fez nascer várias vilas e que se tornaram, a posterior, cidades. e) Geraram uma cultura violenta que até hoje é vista no Ceará. 16. PROF. ROBSON ALVES (2024) Os holandeses conseguiram se estabelecer no Ceará no ano de 1637 sob o comando de George Gatsman. Dentre os fatores que possibilitaram o dominio, estão: a) Contato com as tribos nativas e relação amistosa com estes. b) Força holandesa e capacidade de organização que estes possuíam. c) Facilidade de dominação devido a pouca proteção do território pelos portugueses. d) Por causa da localização geográfica do Ceará que facilitou a dominação vinda através do mar. e) Devido ao grande poder holandês advindo de uma economia sólida e próspera com suas colônias na Europa. 17. FGV – PMCE (2021) Leia o fragmento a seguir. Está feita a nossa íntima união, quer de reciprocidade de sentimentos, quer de riscos e perigos. O Ceará não cede a Pernambuco em patriotismo e zelo da sua liberdade: ambas são províncias do Brasil, cheias de gás, e daqueles ilustres caracteres que a natureza gravou nos corações livres dos brasileiros honrados. Do papel junto verá V. Exª. os motivos que nos obrigarão a depor o Presidente do governo desta província dentro de quatorze dias. O senhor Pedro José da Costa Barros em tão pouco período de tempo tornou-se alvo dos ressentimentos desse povo brioso que já não sofre os enganos, e para melhor dizer, o descaramento do gabinete do Rio de Janeiro. Quis levar-nos como escravos nos ferros do despotismo, e pretendeu que o Ceará negasse a Pernambuco aqueles indispensáveissocorros que um irmão deve prestar a seu irmão consternado: propôs mesmo que nós fôssemos de todos opostos aos sentimentos dos [desolados] pernambucanos. O fragmento refere-se à participação do Ceará no movimento conhecido como a) Revolta da Cabanagem. b) Insurreição do Crato. c) Revolução Pernambucana. d) Confederação do Equador. e) Revolta da Balaiada. 18. FGV – PMCE (2021) A ocupação do território cearense ocorreu tardiamente, ao contrário da rápida ocupação do litoral açucareiro, iniciada no século XVI. Somente no século XVII o interior do Ceará seria ocupado pelos portugueses. A colonização ―tardia‖ do Ceará, em relação às capitanias de Pernambuco e Bahia, por exemplo, está relacionada aos fatores listados a seguir, à exceção de um. Assinale-o. a) O desconhecimento do território pelos europeus e a resistência indígena. b) O impacto de fatores naturais, como as correntes marítimas, que dificultavam o acesso ao território. c) O fato de o Ceará não estar inserido nas rotas das especiarias, do ouro ou das riquezas litorâneas. d) O fracasso em expulsar os franceses, que tomaram posse do território e construíram o Forte de São Sebastião. e) Os conflitos em função da pirataria e da presença de franceses e holandeses na região. 19. COLEGIO NAVAL – Marinha (2009) Observe a charge abaixo, referente ao fim da presença holandesa no Nordeste Brasileiro no século XVII, e responda a pergunta a seguir. a) ao início da produção holandesa na América Central, levando, de imediato, à crise da economia no Brasil como um todo, que só se recuperou com a descoberta do ouro, na região das Minas Gerais. b) à crise econômica do Nordeste brasileiro, devido a concorrência do açúcar do Brasil com a produção açucareira holandesa nas Antilhas. c) ao enfraquecimento da economia nordestina que não suportou a posterior invasão dos franceses no Maranhão, onde fundaram a colônia denominada de França Equinocial. d) à crise econômica do Nordeste brasileiro, após a expulsão dos holandeses da Bahia no ano de 1625. e) à reafirmação da presença portuguesa no Nordeste brasileiro, possibilitando a retomada da produção do açúcar na região que voltou a concorrer, em pé de igualdade, com o açúcar antilhano. 20. Centro de Treinamento e Desenvolvimento – CETREDE (2024) No processo de formação e ocupação territorial, o Estado do Ceará já pertenceu à Capitania de a) São Tomé. b) Maranhão. c) Itamaracá. d) Pernambuco. e) Rio Grande do Norte. 21. Consultoria Público-Privada - Instituto CONSULPAM (2023) No período colonial, as primeiras missões jesuíticas, que tinham como objetivo a catequização das populações indígenas do Ceará, se instalaram na região: a) Chapada do Araripe. b) Sertão Central do Ceará. c) Serra da Ibiapaba. d) Foz do rio Jaguaribe. e) Região dos Inhamuns. 22. IDECAN - PM CE - 2º Tenente QOPM - Oficial - 2023 No romance O Quinze, a escritora Rachel de Queiroz (Fortaleza, 1910) narra a seca histórica de 1915 que castigou o Nordeste brasileiro e descreve parte do que foram os chamados campos de concentração da seca. Embora não fossem campos de extermínio, como logo depois seriam criados na Alemanha[...] https://brasil.elpais.com/brasil/2019/01/08/politica/1546980554_464677.html Os chamados ―campos de concentração‖ mencionados na obra de Raquel de Queiroz eram a) projetos superfaturados e insalubres de habitação para flagelados que viraram favelas. b) campos de imigrantes para flagelados para outros estados que vinham para o Ceará. c) campos de treinamento dos ―soldados da borracha‖ para extração de látex amazônico. d) zonas de isolamento de retirantes da seca que fugiam para a capital e centros urbanos. e) órgãos de triagem sanitária e assistencial para ordenar o fluxo de migrantes da seca. 23. IDECAN - PM CE - Soldado - 2023 Campo de concentração que ocupou terreno do DNOCS será tombado O sítio arquitetônico do ―Campo de Concentração do Patu‖, localizado em Senador Pompeu, no estado do Ceará, será tombado no próximo dia 20. É o resultado de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado entre o Ministério Público do Ceará (MPCE) e a Prefeitura de Senador Pompeu. O equipamento é composto por uma barragem, um cemitério e a chamada ―Vila dos Ingleses‖ e será tombado em prol da preservação do patrimônio histórico-cultural de Senador Pompeu. O campo de concentração ocupa um terreno do DNOCS em uma área de 16 hectares. O plano da Prefeitura é lançar um projeto para restaurar a construção, uma vez em que o patrimônio se encontra em ruínas. A ideia é torná-lo em um centro turístico da região. Conforme o relatório do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a área foi utilizada para instalação de um campo de concentração em 1932. [...] De acordo com a TAC, ainda existem sobreviventes no local e, dos setes campos de concentração do estado, este foi o segundo maior, com uma população de 20 mil pessoas. https://www.gov.br/dnocs/pt-br/assuntos/noticias/campo-de-concentracao-que-ocupou-terreno-do-dnocs-sera-tombado Campos de concentração começaram a ser erguidos no Ceará ainda no século XIX, mas marcaram principalmente o cenário social do Estado em 1915 e 1932. Os campos foram erguidos em a) períodos de estiagem para impedir a migração de flagelados e retirantes para os centros urbanos em processo de modernização da chamada ―Belle Époque‖. b) períodos epidêmicos de varíola e gripe espanhola combatidas pelo higienismo do governo Rodrigues Alves nacionalmente e Nogueira Acioly localmente. c) período de ascensão de políticas eugênicas e racistas que no Brasil foram marcadas pela perseguição às populações negras, indígenas e sertanejas. d) períodos ligados às Guerras Mundiais, quando o modelo de controle social por campos de concentração e extermínio foram vistos como políticas aceitáveis. e) atendimento a propostas assistencialistas do governo para assimilar os movimentos de camponeses flagelados atingidos pelas grandes estiagens. 24. IDECAN - PM CE - 2º Tenente QOPM - Oficial - 2023 No Ceará, todo negro ou negra já foi abordado uma vez na vida e escutou a frase: ―No Ceará não tem negros‖. Essa afirmação comum e corriqueira entre nós de que ―No Ceará não tem negros‖ não deve ser entendida como um comentário simples. Ela possui uma força ideológica e um efeito que extrapolam os limites do Estado. Coloca no campo da invisibilidade um conjunto de histórias e vivências de mais de um século que ainda não foi suficientemente estudado, já que consideramos que esse processo de negação do negro aqui se fortalece nos anos pós-abolição. https://cearacriolo.com.br/negros-e-negras-cearenses-afirmo-sua-existencia/ A crítica do texto apresenta um aspecto regional de um projeto nacional ao fim do processo escravocrata que promoveu a(as) a) política indigenista, resultando na invisibilização da comunidade negra frente às grandes comunidades originárias. b) democracia racial, projeto igualitarismo que enaltece a miscigenação e evita segregação em raças ou etnias em nome do nacionalismo. c) teses eugenistas que defendiam um padrão genético e civilizacional superior do homem branco europeu em comparação às demais ―raças‖. d) projeto de repatriação que promoveu o retorno de africanos para suas regiões de origem após o fim da escravidão. e) teoria do branqueamento que gerou um eficiente processo de miscigenação que clareou a população cearense ocultando sua negritude. 25. IMPARH - Prefeitura de Fortaleza - Professor Substituto - Área: História - 2022 Sobre as secas que assolaram o Ceará ao longo dos séculos XIX e XX, temos marcada na nossa história uma política de contenção de pessoas que migravam para as capitais em busca de melhores condições, já que, em suas terras natais, não havia esperança de sobrevivência. Inaugurados primeiramente em Fortaleza durante a seca de 1915 os lugares de concentração de pessoas foram utilizadoscomo forma de esconder todo o pânico e o caos da seca. Sobre essa medida na seca de 1915, podemos dizer que: a) os campos de concentração foram instalados no interior para conter o avanço da população faminta na capital. b) os primeiros campos foram instalados em Senador Pompeu durante a seca antes de a população retirante chegar à capital. c) os primeiros campos foram chamados de abarracamento, situados no bairro Alagadiço atual São Gerardo, concentrando uma multidão. d) sempre foram chamados de campos de concentração usados para conter os retirantes da seca, o primeiro foi no Alagadiço. 26. URCA - Prefeitura de Crato - Professor - Área: História - 2021 "[...] Ao assumir a condição de beato [...] abraçou, também, um direcionamento político para a sua vida. Baixa Danta e Caldeirão foram organizados a partir de sua liderança, baseada em três princípios: fraternidade, oração e trabalho. [...] Naquela ética de base cristã, o trabalho era a única forma de obter o pão de cada dia, pois ninguém deveria viver às custas do trabalho alheio. Um homem não poderia ficar rico explorando o semelhante. Era uma religiosidade não-capitalista." Lopes Ramos, Francisco R. Juazeiro e Caldeirão: espaços de sagrado e profano. In: Simone de Sousa; Adelaide Gonçalves ... [et al]. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2007. (Adaptado) - Acerca das experiências do Caldeirão marque a opção correta: a) Tratou-se de um movimento comunitário e político liderado e organizado por Antônio Conselheiro que de forma rápida ganhou seguidores em grande número e fundou um Arraial. Pelo seu caráter comunitário foi acusado de experiência comunista e foram atacados e destruídos por forças legalistas; b) Foi uma experiência organizada em meio às políticas públicas do Estado do Ceará para o controle social sobre os retirantes durante os períodos de estiagem. Como o Caldeirão, outras comunidades desse tipo foram realizadas em Quixeramobim, Crateús, Ipu e Senador Pompeu, além de Fortaleza; c) Representando um contraponto ao contexto vigente de individualismo capitalista e de desigualdades sociais, o Caldeirão sob a liderança do Beato José Lourenço era organizado como uma cooperativa de camponeses, tendo como orientação os princípios da solidariedade cristã; d) Com objetivo eleitoreiros e econômicos, José Lourenço, integrante do Partido Operário Cearense, organizou a comunidade do Caldeirão da Santa Cruz do Deserto para garantir os sistema de votação pela política do voto de cabresto, mecanismo que deu base ao poder das oligarquias durante o período inicial da República no Brasil; e) De acordo com a imprensa da época, a experiência religiosa do Caldeirão da Santa Cruz do Deserto, liderada pelo Beato José Lourenço tinha como objetivo a organização e o controle social, garantindo o bem estar e a ordem das populações que viviam no interior do Ceará. Dessa forma, o Caldeirão era organizado como um campo de concentração, a exemplo de outros que haviam no Ceará. 27. URCA - Prefeitura de Crato - Professor - Área: Educação Infantil - 2021 Após a redemocratização, o Ceará rompe com o ciclo dos "coronéis" na condução do Estado, iniciando um novo ciclo político com as eleições de 1986. O governador eleito em 1986 com o voto popular foi: a) Tasso Jereissati; b) Lúcio Alcântra; c) Gonzaga Mota; d) Ciro Gomes; e) Beni Veras; 28. IDIB - Prefeitura de Jaguaribe - Enfermeiro - 2020 Leia o trecho a seguir, retirado da obra Notas para a História do Ceará, de Guilherme Studart (1856-1938), conhecido como Barão de Studart: É a Capitania do Ceará bem considerável pela sua grandeza, como mostra um mapa bem circunstanciado, que o mesmo hábil Targine traçou de todo o seu território. Pela sua ilustração se conhece ser o ar saudável, o céu sereno, campinas amenas, serras fertilíssimas, rios caudalosos, maiormente na estação das águas. Os naturais Tapuias ou Caboclos (a que vulgarmente chamam índios), vivendo naquela indolência, que inclui nos seus habitantes os climas ardentes, contudo são suscetíveis de estímulos, e de condição de obrarem quanto um superior sábio e ativo lhe inspirar, não fugindo de os sujeitar pelas suas próprias inclinações, o que bem se verifica no Industão pelos ingleses, e na Pensilvânia pelos Quakers, pois é incompatível apareça um homem inábil tirado das mãos de um Diretor filósofo, e político e de um gênio facundo que sabe destruir quanto a ignorância inclui; por esta falta não dá aquela Capitania as consideráveis riquezas, que ela ofereceu à sua capital e se vê tão destituída, desprezada, e inculta desde o seu descobrimento. (STUDART, Guilherme, 1856-1938. Notas para a História do Ceará. 2004. p.493-494 Disponível em: https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/1090/702791.pdf Acesso em 16 set 2020) De acordo com o trecho supracitado, de que maneira a figura do tapuia é retratada pelo Barão? a) De modo respeitoso, elogioso, principalmente quando se refere aos Tapuia os chamando pelo termo correto, seu nome tradicional. b) De modo pejorativo, notadamente em um discurso influenciado pela visão externa, determinística, extremamente naturalista, romântica e de supremacia dos europeus e apropriatória, típica desse momento histórico. c) De modo imparcial, comparando o modo de vida dos Tapuia aos povos do Industão (região da índia, Birmânia e Vietnã), como povos com grande semelhança, encontrados pelos colonialistas britânicos no século XIX. d) De modo violento, defendendo o uso de violência pelos colonialistas frente aos povos originários do Ceará, os Tapuia. 29. FCC - Câmara de Fortaleza - Redator - 2019 Entre as principais causas da chamada ―Sedição de Juazeiro‖, em 1914, estava a a) tensão camponesa na luta pela terra e a ação dos jagunços e cangaceiros, que exigiu uma intervenção do Exército para conter uma revolta popular. b) política de intervenções do governo federal nos estados, também conhecida como ―política das salvações‖, que interferia nas hegemonias locais que lhe eram contrárias. c) política de laicização da República, comandada por militares positivistas, que desagradou a Igreja Católica e fez com que os padres se tornassem líderes políticos. d) guerra entre famílias tradicionais pelo controle das pequenas cidades do Sertão, e a existência de um núcleo monarquista no interior do estado. e) política de valorização da produção de café por parte do governo federal, que retirava recursos do Norte do país e da pecuária, para investir no Sudeste. 30. CETREDE - Prefeitura de Juazeiro do Norte - Historiador - 2019 Analise as afirmativas que melhor expõe as motivações que levaram a abolição da escravidão no Ceará em 1884. I. Na década de 1890, intensificaram-se no Ceará e no Brasil de um modo geral, os movimentos de resistência negra que desestabilizavam o sistema escravocrata no País. II. Embora a escravidão tenha se dado de maneira tão cruel como em qualquer outra região do Brasil e não apenas empregada em serviços domésticos como já se buscou afirmar, as bases da economia cearense (naquele momento, a pecuária e a cotonicultura) não absorviam, em larga escala, a mão de obra escrava. III. Apesar do tradicional peso atribuído à campanha abolicionista local, as atividades antiescravocratas só começaram a se dar de fato as vésperas da abolição em 1884, demonstrando que a libertação dos cativos ocorreria, naturalmente por um desgaste da escravidão no País, de um ou outro modo. Marque a opção que indica a(s) afirmativa(s) CORRETA(S). a) III. b) II. c) I – II. d) II – III. e) I – II – III. 31. GUALIMP - Prefeitura de Porciúncula - Professor - Área: História - 2019 Os grupos Luso-brasileiros, reagindo às pressões iniciaram, em 1645, a luta pela expulsão dos holandeses do Brasil. Esse movimento foi conhecido como: a) Inconfidência Mineira. b) Guerra dos Emboabas. c) Revolta de Beckman. d) Insurreição Pernambucana. 32. IMPARH - Prefeitura de Fortaleza - Professor Substituto- Área: História - 2018 ―No Ceará não se embarca mais escravos‖. Essa frase ficou muito conhecida na cidade de Fortaleza, num episódio do movimento contra o tráfico interno de escravos no Ceará. Essa ousada frase foi dita para os jangadeiros que estavam no porto do Mucuripe, com escravos para embarcar, e foi aceita pelos presentes. O autor da frase é o conhecido: a) Dragão do Mar. b) Quintino Cunha. c) João Cordeiro. d) Antônio Bezerra. 33. Prefeitura de Fortaleza - SEPOG - Professor Substituto - Área: História - 2018 A estiagem forçou mais de cem mil sertanejos a migrarem para a capital em busca de auxílio - a cidade em 1877, note-se, possuía aproximadamente trinta mil habitantes! (FARIAS, Airton de; BRUNO, Artur. Fortaleza uma breve história, pág. 80). No final do século XIX para o XX, o estado sofreu várias secas que ficaram marcadas na história e na vida dos cearenses. Como a capital estava se urbanizando, as medidas de combate às secas tiveram uma relação mais direta com a remodelação de Fortaleza. Estamos falando, entre outras medidas: a) da arrecadação de donativos para os retirantes para que pudessem voltar para suas cidades. b) da construção de campos de concentração para que ficassem num só lugar. c) das frentes de serviços nas quais os retirantes eram utilizados nas construções de equipamentos urbanos. d) das quermesses feitas pela Igreja para a distribuição de alimentos para os retirantes. 34. IMPARH - Prefeitura de Fortaleza - Professor Substituto - Área: História - 2017 No dia 4 de outubro de 1911, os chefes políticos do Cariri se reuniram em Juazeiro para realização de uma Assembleia que foi chamada pelos organizadores de Pacto dos Coronéis. Ao abrir os trabalhos da referida Assembleia, o padre Cícero declarou que, ―traduzindo os sentimentos altamente patrióticos do egrégio chefe político, Excelentíssimo Senhor Doutor Antônio Pinto Nogueira Accioly, que sentia d´alma as discórdias existentes entre alguns chefes políticos desta zona, propunha que, para desaparecer por completo esta hostilidade pessoal, se estabelecesse definitivamente uma solidariedade política entre todos, a bem da organização do partido os adversários se reconciliassem, e ao mesmo tempo lavrassem todos um pacto de harmonia política‖. Esse acordo entre a elite rural caririense e o padre Cícero tinha por objetivo: a) instituir um grupo militar forte com a presença de todos os coronéis do Ceará para garantir a segurança do Estado do Ceará, principalmente contra a maior ameaça da época às fazendas cearenses: os cangaceiros, em especial Virgulino Ferreira, o Lampião. b) criar uma aliança forte politicamente e financeiramente, encabeçada pelo Padre Cícero, que garantisse apoio à sua candidatura ao Governo do Estado nas eleições do ano seguinte contra o atual governador Nogueira Accioly. c) solidificar o mandonismo dos coronéis na região do Cariri através de ajuda mútua e especialmente dar sustentação política à oligarquia do coronel Antônio Pinto Nogueira Accioly, então governador do Ceará, e responsável pelo atraso em que se encontrava o Estado. d) criar um novo partido no Ceará que pudesse substituir o antigo partido Liberal. Com o novo partido, os desgastes provocados pelas administrações anteriores dos liberais seriam esquecidos pelo povo cearense. A proposta do novo nome partiu do padre Cícero que acabou criando a Liga Eleitoral Católica. 35. SEDUC CE - SEDUC CE - Professor - Área: História - 2016 No âmbito do processo de ocupação da Capitania do Siará Grande, as expedições dos Capitães Mor Pero Coelho e Martim Soares Moreno representaram a) o início de uma política de desenvolvimento econômico, através da decisão de produzir açúcar, com a ocupação da zona fértil da região do Cariri e de Redenção. b) a decisão do Estado português em retomar o território do Norte, ocupado pelos franceses que fundaram a França Equinocial e, por razões de estratégia militar, a Capitania do Siará serviria de ponte para o abastecimento das viagens para o norte da colônia. c) ações diplomáticas com as nações indígenas, aqui sediadas, principalmente as da região do sertão e da Serra Grande central, objetivando a imediata pacificação, através de laços de comércio. d) o desenvolvimento urbano, a partir do litoral, através da fundação dos fortes de São Tiago e São Sebastião, que dariam proteção para a criação de portos, os quais escoariam a produção de gado, vinda do sertão, e de açúcar, proveniente da Serra Grande. e) ocupação do território cearense, a partir da empresa agrícola da cana de açúcar e da exportação para o mercado europeu, através do porto do Mucuripe. GABARITO: Resposta da questão 1: [A] Resposta da questão 2: [C] Resposta da questão 3: [C] Resposta da questão 4: [C] Resposta da questão 5: [A] Resposta da questão 6: [A] Resposta da questão 7: [C] Resposta da questão 8: [C] Resposta da questão 9: [D] Resposta da questão 10: [B] Resposta da questão 11: [D] Resposta da questão 12: [E] Resposta da questão 13: [E] Resposta da questão 14: [B] Resposta da questão 15: [B] Resposta da questão 16: [C] Resposta da questão 17: [C] Resposta da questão 18: [D] Resposta da questão 19: [B] Resposta da questão 20: [D] Resposta da questão 21: [C] Resposta da questão 22: [D] Resposta da questão 23: [A] Resposta da questão 24: [B] Resposta da questão 25: [A] Resposta da questão 26: [C] Resposta da questão 27: [A] Resposta da questão 28: [B] Resposta da questão 29: [B] Resposta da questão 30: [B] Resposta da questão 31: [D] Resposta da questão 32: [A] Resposta da questão 33: [C] Resposta da questão 34: [C] Resposta da questão 35: [B]Maria de La Consolación, e a enseada do Mucuripe como segundo ponto de parada de Pizón. Segundo ele, seria o Mucuripe que Diogo de Lepe, seguindo o rastro de Pizón, teria batizado de Rostro Hermoso. Para Varnhagem, o Santa Maria de La Consolación seria a enseada do Mucuripe e o Rostro Hermoso estaria situado na praia de Jericoacoara, próximo à foz do rio Acaraú. Os espanhóis, no entanto não puderam tomar posse da nova terra em respeito ao Tratado de Tordesilhas, firmado em 1494, entre os reis de Portugal e Espanha, dividindo as regiões descobertas e a descobrir, entre os dois soberanos. Imagem 6 – Possíveis viagens européias (espanholas) ao território do Brasil. PERÍODO PRÉ-COLONIAL NO BRASIL A colonização foi um processo iniciado pelos portugueses a partir de 1530, o período inicial que vai de 1500 até 1530, é caracterizado pela vinda dos portugueses ao território apenas para reconhecimento territorial, extração do Pau-Brasil e algumas expedições guarda-costas, com a intenção de proteger o território da invasão de outras nações, como Inglaterra, França e Espanha. Esse período inicial é chamado de Período Pré-Colonial (1500 – 1530). Não havia, por parte dos portugueses, interesse imediato no território pois os portugueses estavam preocupados apenas com o comércio com as índias e por não conseguirem encontrar, no novo território encontrado, metais preciosos que justificassem a colonização imediata. Esse cenário vai mudar quando o comércio com as índias sofreu duros golpes devido aos ataques de piratas e corsários, naufrágios constantes e concorrência de outras rotas comerciais. Além disso, os portugueses perceberam que se não tivessem cuidado com o Brasil poderiam perder para outras nações que estavam atacando, como os franceses e ingleses. Outro fator importante foi a crença de que seria possível encontrar metais preciosos, como os espanhóis conseguiram no território da América, próximos ao Brasil. Para a efetivação da colonização os portugueses decidiram criar um sistema administrativo – as Capitanias Hereditárias. As Capitanias Hereditárias se baseavam na experiência portuguesa no território africano que havia sido bem sucedida. No caso do Brasil, os portugueses dividiram o território de forma horizontal em 15 linhas. Imagem 7 – Capitanias Hereditárias e sua divisão As terras das capitanias eram doadas a nobres da coroa portuguesa e que tinham a confiança do rei. Estes recebiam uma carta de doação e nela havia a carta foral em que constavam os direitos e deveres a serem cumpridos pelos capitães donatários (que recebiam as terras). INÍCIO DA COLONIZAÇÃO O Brasil foi divido em capitanias hereditárias, que foram cedidas a particulares, visando dividir o peso da colonização com a iniciativa privada. O território que viria a ser mais tarde o Ceará estava compreendido nas capitanias de Fernando Álvares de Andrade, Antônio Cardoso de Barros, no 1° lote dos sócios João de Barros e Aires da Cunha e no 3° lote da capitania de Pero Lopes de Souza. Afora Álvares de Andrade e os sócios João de Barros e Aires da Cunha, que intentaram e explorar seus quinhões, numa frustrada iniciativa que iria custar a vida de Aires da Cunha e a dos filhos de seu sócio, as terras do Ceará ficaram abandonadas: Antônio Cardoso de Barros, em cuja capitania estava situada a maior parte do litoral cearense, sequer chegou a tomar posse dela. Resultou então que os portugueses não se interessando pela capitania, apenas costeando-a, sem nunca nela oportar, deixaram-na exposta à presença de outros povos, principalmente franceses que intentavam se fixar no maranhão. Traficavam madeiras e outros produtos como um âmbar, utilizado na perfumaria. Faziam escambo com os índios, trocando quinquilharias por essas matérias primas. Somente em 1603 é que ouve a primeira tentativa de colonização do Siará- Grande, pelo capitão-mor Pero Coelho de Souza que, vindo da Paraíba, tencionava atingir o Maranhão por terra, seduzido por notícias de riquezas nas regiões acima do Rio Grande. Abriu o caminho até a Ibiapaba, enfrentando os índios e os franceses, vendo-se, entretanto, forçado a recuar até rio que os índios chamavam de Siará, instalando uma pequena povoação que chamou de Nova Lisboa, e que pretendia tornar a capital de Nova Lisutânia. Veio, então, à Paraíba, em busca de reforços e da família. Nesse ínterim, seu preposto, Simão Nunes, construiu uma fortificação tão frágil que se duvida de sua existência, que denominou de São Tiago. Voltando Pero Coelho para Nova Lisboa, aí não pôde permanecer por muito tempo, devido aos índios e à seca de 1605/1607. Partindo na direção da foz do Jaguaribe, enfrentando terríveis flagelos, teve que amargar a perda da maior parte de seus homens e de seus filhos. Retornando à Paraíba, não foi, porém, ressarcido de seus prejuízos e veio a morrer pobremente em Lisboa. Se não foi coberta de êxito a sua expedição, também não se pode afirmar que foi um fracasso absoluto, como observa Raimundo Girão. Imagem 8 - Capitania do Ceará em mapa português. SOARES MORENO – O FUNDADOR DO CEARÁ Martim Soares Moreno veio pela primeira vez ao Ceará, anda muito jovem, na bandeira de Pero Coelho, por determinação de seu tio Diogo de Campos Moreno, que instruiu o rapaz no sentido de aprender a língua e os costumes dos índios. Em 1612 retornou ao Ceará na companhia do Padre Baltazar João Correia com o fim de consolidar a posse portuguesa da Capitania, que vivia infestada de franceses instalados na França Equinocial no Maranhão. Deu grande demonstração de coragem no enfrentamento com os estrangeiros chegando a degolar no ano de sua chegada, mais de duzentos flibusteiros e enviar para Portugal, três navios tomados àqueles, segundo afirma ele próprio em sua ―Relação do Siará‖. No local onde Pero de Coelho instalou sua Nova Lisboa, na foz do rio Siará ergueu um fortim que chamou de São Sebastião, contando com a ajuda do cacique Jacaúna. Em 1613 rumou com Jerônimo de Albuquerque na direção do Maranhão no intuito de expulsar definitivamente os franceses daquela região. Instalou-se na Jericoacoara (buraco das tartarugas) e, numa expedição de reconhecimento foi arrastado até a ilha de São Domingos, de onde rumou para Servilha. De volta ao Brasil, em 1615, participou da expulsão dos franceses e quando se dirigia ao Ceará foi surpreendido por uma tempestade que o levou novamente a São Domingos. Quando conduzia alguns navios para a Europa, foi feito prisioneiro por piratas que o levaram para a França onde foi condenado à morte, sendo salvo pelo embaixador da Espanha. Em Portugal foi recompensado por seus serviços com a concessão da capitania do Siará Grande, por dez anos. Aqui chegando, em 1621, refez o forte de São Sebastião e dirigiu a Capitania com tranqüilidade, apesar das más condições advindas, principalmente o fato da capitania estar sob jurisdição do ― Estado do Maranhão‖, que havia desmembrado do ― Estado do Brasil‖, apesar de sua maior proximidade com Pernambuco, onde mais uma vez se destacou como grande soldado. Não mais voltou ao Ceará, mas seu nome foi imortalizado anos mais tarde pelo escritor cearense José de Alencar, que talvez, inspirado por uma vida tão rica de aventuras de heroísmo, colocou- o ao lado de Iracema. Iracema é, na verdade, um anagrama da palavra América, e, através desse romance, o escritor alude à formação do novo continente pelo elemento ibérico, miscigenado ao indígena. Em Fortaleza existe um monumento erigido na praia do Mucuripe em homenagem à obra de José de Alencar e, nele, os membros inferiores da índia se encontram agigantados, numa referência á longas caminhadas que fazia da lagoa de Messejana, onde se banhava a gruta de Ubajara, onde dormia. Imagens 9 e 10 – Estátua em homenagem a Soares Moreno e, na segunda imagem, Iracema e Soares Moreno representados. OS HOLANDESES NO BRASIL Em 1578 o jovem rei de Portugal, D. Sebastião, foi mortona batalha de Alcácer-Quibir, na África, deixando o trono português para seu tio, o cardeal D. Henrique, o qual devido à sua avançada idade acabou morrendo em 1579, sem deixar herdeiros. O Rei da Espanha, Felipe II, que se dizia primo dos reis portugueses, com a colaboração da nobreza portuguesa e do seu exército, conseguiu em 1580 o trono português. A passagem do trono português à coroa espanhola prejudicou os interesses holandeses, pois eles estavam travando uma luta contra a Espanha pela sua independência e a Holanda era responsável pelo comércio do açúcar nas colônias portuguesas, o que lhes garantiam altos lucros. Dessa forma, rivais dos espanhóis, os holandeses foram proibidos de aportarem em terras portuguesas, o que lhes trouxe grande prejuízo. Interessados em recuperar seus lucrativos negócios com as colônias portuguesas, o governo e companhias privadas holandesas formaram a Companhia das Índias Ocidentais, para invadir as colônias. A primeira tentativa de invasão holandesa ocorreu em 1624, em Salvador. O governador da Bahia, Diogo de Mendonça Furtado, havia se preparado para o combate, porém com o atraso da esquadrilha holandesa, os brasileiros não mais acreditavam na invasão quando foram pegos de surpresa. Durante o ataque o governador foi preso. Mas orientadas por Marcos Teixeira, as forças brasileiras mataram vários chefes batavos, enfraquecendo as tropas holandesas. Em maio de 1625, eles foram expulsos da Bahia pela esquadra de D. Fradique de Toledo Osório. Ao se retirarem de Salvador, os holandeses, comandados por Hendrikordoon, seguiram para Baía da Traição, onde desembarcaram e se fortificaram. Tropas paraibanas, pernambucanas e índios se uniram a mando do governador Antônio de Albuquerque e Francisco Carvalho para expulsar os holandeses. A derrota batava veio em agosto de 1625. Após esse conflito aos holandeses seguiram para Pernambuco, onde o governador Matias de Albuquerque, objetivando deixá-los sem suprimentos, incendiou os armazéns do porto e entrincheirou-se. Na Paraíba, por terem ajudado os holandeses, os Potiguaras foram expulsos por Francisco Coelho. Percebe-se nesse período a grande defesa da terra. Temendo novos ataques, a Fortaleza de Santa Catarina, em Cabedelo, foi reconstruída e guarnecida e a sua frente, na margem oposta do Rio Paraíba, foi construído o Forte de Santo Antônio. Aos cinco dias de dezembro de 1632, comandados por Callenfels, 1600 batavos desembarcaram na Paraíba. Ocorreu um tiroteio, os holandeses construíram uma trincheira em frente à fortaleza de Santa Catarina, mas foram derrotados com a chegada de 600 homens vindos de Felipéia de Nossa Senhora das Neves a mando do governador. Após esse acontecimento os brasileiros tentam construir uma trincheira em frente a fortaleza. Os holandeses tentam impedir, mas o forte resiste. Incapazes de vencer, os batavos se retiram para Pernambuco. Os holandeses decidem atacar o Rio Grande do Norte, mas Matias de Albuquerque, 200 índios e três companhias paraibanas os impediram de desembarcar. Os holandeses voltam à Paraíba para atacar o Forte de Santo Antônio, mas ao desembarcarem percebam a trincheira levantada pelos paraibanos, fazendo com que eles desistissem da invasão e voltassem ao Cabo de Santo Agostinho. OS HOLANDESES NO CEARÁ Vieram os holandeses movidos pela fragilidade da defesa da capitania e pela possibilidade de se obter sal, âmbar e cultivar cana de açúcar. Além disso, corriam notícias da existência de prata na região. Chegaram ao Ceará em 1637, sob o comando de George Gatsman e dominaram com facilidade o forte português, defendido por mais de 30 homens armados. Nessa primeira fase os holandeses permaneceram em torno de sete anos; afora as salinas de Mossoró e Camocim e algumas espécies vegetais úteis na Europa, viram-se frustrados em algumas das suas expectativas. Por tratarem mal os indígenas estes se revoltaram contra seu domínio, em 1644, matando toda a guarnição holandesa e destruindo o forte, que se encontra registrado em uma pintura de Frans Post. Coma a queda do forte construído por Soares Moreno, em 1612, a Barra do Ceará deixou de ser um ponto de fixação do colonizador na capitania, pois novo posto se mostraria mais interessante ao europeu com a chegada do holandês Matias Beck, em 1649, à frente de 298 homens, a serviço da Companhia das Índias Ocidentais. No comando militar estava o major Joris Garstman, o mesmo que comandara a primeira invasão. O local escolhido para fixar a fortificação, projetada pelo engenheiro Ricardo Caar, foi o monte ou duna, chamado Marajaitiba ou Marajaituba, na linguagem Tupi, formada pela palavra Marajá, palmeira e Tiba ou Tuba, sufixo designativo de quantidade ou abundância. A palmeira ali existente era o catolé ou cocobabão. Ao sopé corria o riacho chamado Marajaík (rio das palmeiras), que posteriormente passou a chamar-se Ipojuca, depois de Telha e, finalmente, Pajeú (rio de feiticeiro). A escolha deste local obedeceu às razões militares e não sem antes se estudar a possibilidade de instalar no local do antigo forte que, daquele ponto de vista, mostrou-se inadequado. Batizaram o forte de Schoonenborch em homenagem ao governador holandês do Recife. Matias Beck ficou no Ceará até o ano de 1654, enfrentando, nesse íterim situações difíceis como quando ficou encurralado pelos índios no Schoonenborch, sendo obrigado a comer os próprios cavalos, para não morrer de fome. Foi salvo pelo barco que lhes trazia a notícia as capitulação holandesa. No dia 20 de maio daquele ano os holandeses entregaram a praça ao capitão-mor Álvaro de Azevedo Barreto, retirando-se para a ilha de Barbados. Imagem 11 – Mucuripe: local de possível desembarque dos holandeses Imagem 12 – Forte Schoonenborch (construído pelos holandeses no Ceará) O TOPÔNIMO CEARÁ A origem e significado do nome do Ceará é bastante controversa. Os mais renomados historiadores cearenses arriscam explicações, ou se aliaram em torno de uma versão, sem, contudo chegarem uma conclusão definitiva. Em alguns estudiosos existe a convicção que o nome é de origem tupi, significando canto da jandaia: SEMO – Cantar forte; ARÁ – Jandaia. Essa interpretação foi utilizada por Alencar, no seu livro Iracema. Há os que acreditam se tratar de uma corruptela do nome do deserto africano, SAARA, pois assim, os colonizadores chamaram o litoral cearense, devido a grande quantidade de dunas; explicação muito improvável. Antônio Bezerra entende que o nome se origina dos termos SOÓ ou COÓ – caça e ARÁ – papagaio. Capistrano, por sua vez, vai contestar a origem Tupi do nome e defende o berço Cariri; vendo nos termos DZU – rio, pronunciado ao modo francês, e ERA – verde. Pompeu Sobrinho lembra, no entanto, que, na língua dos cariris, DZU, no significado de rio, não tem essa pronuncia de verde não é ERÁ e sim ERÃ, daí não ter havido qualquer evolução no sentido de SIARÁ. Paulino Nogueira insiste na origem Tupi: ÇOO ou SÕO, ou ainda SUU, significando caça, e ARÁ – tempo, portanto, tempo de caça. João Brígido acreditava ser o nome uma corruptela de CIRI ou SIRI – andar para trás, referindo- se às várias espécies de caranguejos existentes no litoral; e ARÁ – branco, claro. O mais provável, entretanto, é que nenhuma das explicações seja encontrada no próprio território cearense, pos já designava um rio no vizinho Rio Grande do Norte: o Siará-mirim. Aqui se adotou o Siará- Grande. Embora, o rio nosso fosse menor que o de lá, porém, mais povoado e de território mais extenso, conforme observação de Barão de Studart. AS ORDENS RELIGIOSAS NO CEARÁ COLONIAL Os primeiros missionários a visitar o Ceará foram os padres Francisco Pinto e Luis Filgueiras, da Companhia de Jesus. Sua ação evangelizadora restringiu-se à região da Ibiapaba e Uruburetama, sendo que nela o padre Francisco Pinto perdeu a vida num ataque dos índios Tocarijú, em 1607. Mais tarde, na ilha de Marajó, seu companheiro Luis Filgueiras conheceriao mesmo destino. O domínio do elemento indígena foi possível não só devido à força das armas, mas principalmente, pelo desmantelamento de sua estrutura cultural e religiosa. Nesse sentido, os padres e seus aldeamentos, onde juntavam índios de procedência diversa e lhes repassavam os valores e a religião européia, desempenharam um papel fundamental. Nos aldeamentos os índios eram transformados em mão-de-obra barata para os padres ou eficientes soldados no combate às tribos mais rebeldes. Muitas cidades cearenses têm origem nesses aldeamentos: Caucaia (antiga vila do Soure), Ibiapaba ou Viçosa Real (o primeiro deles, hoje é a cidade de Viçosa do Ceará, muito antiga, ainda mantém seu aspecto colonial), Telha (Iguatu), Miranda (Crato), Monte-mor ―O Novo d’América‖ (Baturité), Palma (Quixadá), Monte-mor ―O Velho‖ (Pacajús), Aracati, Uruburetama, Paupina (Messejana), Arronches (Parangaba), e muitas outras. As missões religiosas também contribuíram no sentido da preservação física dos índios. Quanto a estes, no Ceará ainda encontramos algumas tribos que, a duras penas, conseguiram se salvar da destruição absoluta. Os tremembés vivem no litoral norte do estado, no distrito de Almofala, municípios de Itarema. Exímios nadadores, profundamente familiarizados com o mar, derrotaram as diversas expedições enviadas para destruí-los. Vivem da pesca e do artesanato e em ocasiões especiais dançam o torém. Almofala é uma palavra de origem árabe, vindo de AlMahalla (Acampamento); é um pequeno povoado situado em terras que foram doadas no final do século XVII pela coroa portuguesa, aos Tremembés. Sua igreja foi concluída em 1712, sob a invocação de Nossa Senhora da Conceição. No século passado foi soterrada pelas areias da praia, ― ...para aflorar lenta daquele imenso areal sua única e bela torre setencista, moçárabe, até descobrir-se inteiro com suas volutas, nichos, seu crucifixo de ferro para luz.‖ Foi reconhecida como Monumento Nacional. Os índios Tapebas não constituem exatamente uma nação indígena e sim um grupo de descendentes de Tremembé, Kariri e Potiguara, reunidos no aldeamento jesuítico de Nossa Senhora dos Prazeres de Caucaia. Habitam as margens do rio Ceará, na BR-222, município de Caucaia. Vivem de pequenas roças, pesca e artesanato. O nome Tapepa é de origem tupi, possivelmente uma corruptela de Itapeva: pedra limpa, polida. Embora suas terras tenham sido delimitadas pela FUNAI, não foram garantidas ainda por portaria apropriada, devido à ação de fazendeiros que se sentiram prejudicados por essa demarcação. Os Pitaguary e os Jenipapo- Kanindé ainda estão sendo objetos de estudo pela FUNAI para o devido reconhecimento de seu trabalho de índio. Imagem 13 – Aldeamentos no Ceará colonial A ECONOMIA NO CEARÁ COLONIAL O GADO E A PENETRAÇÃO NO TERRITÓRIO A cana-de-açúcar, desde o século XVI se afirmou como principal produto de exportação do Brasil colonial. Tornando-se monocultura por toda a zona da mata nordestina, expulsou para outras áreas, as demais atividades que pudessem disputar o espaço. O rei de Portugal, interessado nos lucros que a cana carregava para seus cofres, proibiu a criação de gado, numa faixa de terra que se estendia do litoral até a distância de 10 léguas. O gado seguiu, então, sua marcha lenta em direção ao interior da colônia, bifurcando-se em dois movimentos migratórios que Capistrano de Abreu nomeou de ―sertão de dentro‖ e ― sertão de fora‖. A primeira veio da Bahia, margeando o rio São Francisco, tomou o rumo do norte, povoando sua margem esquerda de Pernambuco; procurando atingir a bacia do Parnaíba, desbravou o sul do Piauí e Maranhão e, desviando-se para o leste, atingiu a capitania do Siará-Grande. A do ―sertão de fora‖, vindo de Olinda, tomou o rumo do norte, atravessando o sertão da Paraíba e do Rio Grande do Norte, desaguando no Siará-Grande. O gado, criado de forma extensiva, demonstrou adaptar-se bem a vegetação xerófita da caatinga, pois nos períodos mais secos era com ela que se alimentava. Além do mais, a pecuária se mostrou um empreendimento mais barato que a cana-de-açúcar, uma vez que não necessitava de equipamentos e da grande quantidade de escravos de que precisava aquela atividade. A mão-de-obra era o índio domesticado. O pagamento era feito através da aquartação, ou seja, a cada quatro bezerros nascido por ano, um era do vaqueiro. Isso lhe permitia montar, mais tarde o seu próprio negócio. O tipo de sociedade que a pecuária produziu no Nordeste e, especialmente no Ceará, o que Capistrano de Abreu chamou de ―Civilização de Ouro‖, pois tudo girava em torno do gado e dos seus derivados. Tudo era feito em couro, desde os instrumentos de trabalho, até os apetrechos domésticos e os objetos pessoais. A fazenda era a unidade econômica e social, e dentro dela o fazendeiro exercia todo o poder. Os fazendeiros costumavam aceitar em seus domínios a presença do forasteiro, principalmente os fugidos da justiça a fim de serem utilizados como jagunços para a resolução de desavenças políticas e pessoais. ―Quem não era criador, era criado‖. As casas desprovidas de luxo, porém sólidas e espaçosas, voltadas de alpendre. Levava-se uma vida austera e sem requintes, mesmo entre os familiares do fazendeiro. A alimentação era a base de carne, rica em gorduras, e leite, nas várias formas, fazendo- se pouco uso das frutas e verduras. Imagem 14 – Mapa demonstrativo de como se deu a expansão da pecuária no Nordeste AS CHARQUEADAS Na primeira metade do século XVIII, o gado já se apresentava como principal atividade econômica do Siará-Grande. Apresentava um caráter complementar ao cultivo da cana-de-açúcar. Levado para os mercados consumidores de Pernambuco e da Bahia, ao perfazer tão longos trajetos, emagrecia e conseqüentemente, perdia parte de seu valor nas feiras, provocando enorme prejuízo aos criadores cearenses. Além disso, o ―subsídio do sanguir‖, taxação a quem estavam expostos os donos de bois, prejudicava-lhes mais ainda os rendimentos. Vendo que não podiam competir com seus vizinhos, nessas condições, os cearenses passaram a industrializar a carne de boi, reduzindo-a a mantas, que eram salgadas e expostas ao sol, tornando-as capazes de resistir a longas viagens. A essas fábricas chamavam de oficinas ou charqueadas e não se sabe quando elas começaram a funcionar. Tem-se conhecimento da existência delas no arraial de São José do Porto dos Barcos, mais tarde Vila de Santa Cruz do Aracati – em período anterior a 1740. Antes mesmo de tornar-se vila, Aracati já era ―o pulmão da economia colonial da capitania‖, por onde transitava, por onde transitava sua riqueza. Seu dinamismo econômico gerou uma elite bastante conceituada na capitania e, a imponência de seu casario, que permanece até hoje, é um testemunho da sua importância. Depois as charqueadas começaram a brotar na barra do Acaraú, na povoação de mesmo nome, que servia como ponto de embarque da carne, estendo-se também para Sobral, Camocim e Granja. Do Acaraú, assim como da Aracati, a carne era transportada para os outros portos da colônia, principalmente Pernambuco, em embarcações assim chamadas ―sumacas‖. Sobral tornou-se o pólo mais dinâmico da região; os habitantes da ―Princesa do Norte‖ mostrava-se bastante requintados nos costumes; a elegância de seus trajes, o asseio de suas casas e o som dos pianos nos sobrados denotavam o elevado grau de civilidade daquele oásis incrustado no sertão bárbaro. A citação a seguir demonstra como se organizava essa sociedade e a pujança dessa advinda do lucro obtida com as charqueadas: ― O conjunto arquitetônico de Aracati e Sobral é também a amostra de sua importância no período colonial. Entre as obras de maior destaque encontra-se as igrejas, as casas da câmara e as residências dos senhores donos das oficinas e comerciantes: exemplo típico dos prédios de dois pavimentos revestidos de azulejos,ou ainda, uma arquitetura pesada, feia aparência,mas realmente segura, pois suas muralhas são levantadas com cerca de dois metros de espessura, no caso, a cadeia de Sobral...Conjunto arquitetônico, este muito inferior, quanto o prisma plástico, dos prédios coloniais barrocos da área açucareira... As próprias igrejas de início do século XVIII, principalmente as de área pastoril,entre as quais se encontra a Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário de Aracati, apesar de apresentar influências daquelas de Pernambuco e da Bahia, de onde muitas vezes provinham os materiais de construção,mostram uma aparência singela,quase severa, principalmente nos interiores. Salientando, no entanto, que nesta arquitetura simples, motivada pela falta de pedra de obragem apropriada, na modesta alvenaria executada uma ornamentação própria,onde os artistas anônimos obtinham com linhas, nas combinações ingênuas de curvas e ornatos retilíneos,os efeitos decorativos da maior significação, surgindo daí, uma arte sertaneja, oficialmente desconhecida que chama a atenção para sua originalidade tão peculiar que deve ser admirada como testemunho material da ―Civilização do Sertão‖. Em finais do século XVIII a indústria saladeril cearense viria a entrar em declínio. Vários fatores concorreram para isso: a seca de 1790/93, que dizimou quase todo rebanho cearense; a transferência da técnica do charque para Rio Grande do Sul, operada pelo charqueador José Pinto Martins, onde encontrou melhores condições para seu crescimento, e finalmente, o plantio do algodão, que quebraria o exclusivismo pastoril no Ceará. A essa altura, as oficinas de Açu e Mossoró, no Rio Grande do Norte, já tinham sido proibidas pela coroa portuguesa porque prejudicavam o fornecimento de carne fresca de Pernambuco. As de Parnaíba, no Piauí, que se projetam junto com as do Ceará, acompanharam a estas em seu declínio. Imagem 15 – Charqueada no Ceará O ALGODÃO O crescimento da cultura algodoeira no Ceará não significou necessariamente o fim da pecuária, e sim, a convivência dessas duas atividades. A valorização da cotonicultura cearense ocorreu na segunda metade do século XVIII, obedecendo a estímulos externos, a saber: a Revolução Industrial na Inglaterra, que tinha como carro chefe a indústria têxtil, a guerra da independência dos Estados Unidos e, mais tarde, a guerra da Secessão americana. A cotonicultura marcou profundamente o Ceará, a começar pelo fato de que Fortaleza só passou a assumir ares de capital na medida em que se tornou o centro receptor da produção algodoeira, adquirindo uma importância econômica que, até então, estava reservadas às cidades inseridas no ciclo da pecuária, conforme vimos acima. A guerra da Secessão nos Estados Unidos, que era principal fornecedor de algodão para as indústrias inglesas e francesas, provocou uma queda significativa de sua produção. O Ceará viu-se então, beneficiado com esse conflito, pois as nações industrializadas passaram a comprar a matéria prima de outros centros fornecedores. Dessa maneira, através do algodão, o Ceará foi inserido no mercado internacional. Nesse período instalaram-se na província inúmeras firmas estrangeiras ou de estrangeiros associados a brasileiros que lidavam principalmente com o beneficiamento e exportação do algodão. Em1860, dos 353 estabelecimentos comerciais existentes em Fortaleza, 84 eram estrangeiros. Com o fim da guerra, os americanos foram paulatinamente recuperando sua capacidade produtiva e o algodão cearense perdendo terreno no exterior. Para absorver a produção passou-se a industrializar o produto na própria região. Hoje, o Ceará é possuidor de um dos principais pólos da industria têxtil brasileira. O CEARÁ INDEPENDENTE A 17 de janeiro de 1799, por determinação de uma carta régia de D. Maria I, ―Amor e Delícias do seu Povo‖, o Ceará foi desmembrado de Pernambuco, tornando-se independente. Foi seu primeiro governo o chefe de esquadra, Bernardo Manoel de Vasconcelos, que fez grande esforço no sentido de estabelecer contatos comerciais diretos da capitania com a metrópole. Entretanto, os próprios comerciantes cearenses resistiam a essa relação, uma vez que mantinham vínculos estreitos com os de Recife. Somente a partir de 1808 é que o comércio externo da capitania recebeu grande impulso, devido à exportação do algodão e a abertura dos portos às nações amigas. No seu governo, veio para o Ceará o naturalista João da Silva Feijó, com a incumbência de estudar o potencial de suas riquezas naturais. Em 1803, com a morte de Vasconcelos, veio substituí-los Carlos Augusto de Oeynhausen, futuro Marquês de Aracati. O terceiro governador foi Luiz Barba Alardo de Menezes que procurou incentivar o comércio coma Inglaterra, favorecendo a instalação de firmas inglesas na capitania. Governou de 1808 à 1812, quando foi substituído por Manuel Inácio de Sampaio (1812-1820) Entre suas realizações podemos citar a reforma do Forte de Nossa Senhora de Assunção, o traçado da vila de Fortaleza, contando com os serviços do engenheiro Antonio José da Silva Paulet e a criação da alfândega de Fortaleza. Além disso, promovia em sua residência reuniões de literatos, conhecidas como Outeiros, precursoras dos futuros movimentos literários, muitos comuns em Fortaleza. Porém, o que marcou de forma mais acentuada a seu governo foi a severa repressão ao movimento revolucionário de 1807. O sucessor de Sampaio, Francisco de Alberto Rubim (1820-1821), governando em momento de grande instabilidade, foi tragado pelos acontecimentos que desembocariam a chamada Revolução Liberal do Porto, em Portugal. Incapaz de enfrentar a oposição interna ao seu governo e ao novo regime renunciou em favor de uma junta provisória, sob a presidência de Francisco Xavier Torres. VINDA DA FAMÍLIA REAL PARA O BRASIL A vinda da família real para o Brasil deu-se na passagem de 1807 para 1808 e foi resultado da guerra travada entre França e Reino Unido durante o período napoleônico. A transferência da corte ocorreu pela recusa de Portugal em obedecer às ordens da França e aderir ao Bloqueio Continental, instituído com o objetivo de prejudicar os ingleses, em 1806. Com isso, o regente de Portugal, d. João, filho de d. Maria I, decidiu transferir toda a corte para o Brasil. Assim, o poder português instalou-se no Rio de Janeiro, resultando em transformações que tiveram influência fundamental no desencadeamento do processo de independência do Brasil, alguns anos depois. Nesse contexto uma revolta em particular movimentou o Nordeste – A Revolução Pernambucana e que contou com a participação do Ceará. REVOLUÇÃO PERNAMBUCANA E A PARTICIPAÇÃO DO CEARÁ O movimento de1817, de profundo caráter nativista, teve seu foco inicial na província de Pernambuco, espalhando-se, em seguida, pelas províncias vizinhas. Em Pernambuco, havia um grande descontentamento devido á perda de sua importância no cenário da colônia. O cultivo da cana-de-açúcar entrara em declínio e a saída do Ceará, da Paraíba e do Rio Grande do Norte, de sua jurisdição, causou-lhe mais prejuízos, criando as condições para o desencadeamento de movimentos radicais. As influências do liberalismo eram evidentes; os lideres do movimento eram, em sua maioria, os membros da elite ilustrada, com passagem pela Europa, estudando ou mercadejando e, conseqüentemente, se instruindo nas novas idéias. Vivia-se ainda sob o impacto das revoluções americana e francesa. Com movimento, os pernambucanos, queriam recuperar sua antiga posição, sob um novo regime, em um país independente. Um dos lideres do movimento, Domingos José Martins, vivera no Ceará a serviço da firma ―BARROSO, MARTINS, DOURADO & CARVALHO‖, da qual era sócio. Essa firma tinha sede em Londres e intermediava negócios de algodão. Depois, um outro sócio, Antônio Rodrigues de Carvalho, veio para o Ceará onde divulgou amplamente os ideais revolucionários, procurando recrutar seguidores para sua causa revolucionária. Mas, o principal incendiário da revoluçãona Capitania foi o seminarista José Martiniano de Alencar. Membro de uma importante oligarquia carirense, sua mãe Bárbara, também aderiu ao movimento. Alencar tentou adesão de um outro potentado da região, o capitão Pereira Filgueiras e, embora este a princípio se mostrasse simpático ao movimento, foi convencido pelo chefe de milícias, Leandro Bezerra, da temeridade do envolvimento naquela empresa. O movimento eclodiu em 6 de março de 1817 mas, poucos meses depois, já estava debelado. Durou apenas 75 dias em Pernambuco e 8 dias no Ceará. José Martiniano foi preso juntamente com seus familiares, mãe, irmãos,tios e primos que, de um modo geral, participaram da malfadada revolução. Conduzidos para Fortaleza, por Pinto Madeira, ainda ensaiaram uma fuga, mas recapturados, foram trazidos para a capital. ―Após revistados dos pés à cabeça e ainda carregando grilhões, os presos são atirados no estreito e imundo calabouço do quartel, que fica entre a cadeia do crime e a Fortaleza. Incomunicáveis, alguém só pode falar-lhes de uma distância de dez metros e com sentinela a vista. Estão nus e dormirão no chão. Dentro de alguns tempos estarão cobertos de cabelos, comidos de pulga, piolhos e percevejos. São tratados como animais ...Bárbara é reconhecida só, em um outro cubículo,com menos martírio, mas sem o consolo de ver os filhos‖. Depois, foram enviados para a Bahia onde permaneceram presos até 1820. A repressão promovida por Sampaio fora dura e severa, tendo ele aproveitado a ocasião para perseguir desafetos, como o naturalista Feijó, que foi preso por simples suspeita. A INDEPENDÊNCIA DO BRASIL A independência do Brasil aconteceu na medida em que a elite brasileira percebeu que o desejo dos portugueses era restabelecer os laços coloniais. Quando a relação ficou insustentável, o separatismo surgiu como opção política, e o príncipe regente acabou sendo convencido a seguir esse caminho. As Cortes de Portugal tomaram medidas que foram impopulares aqui no Brasil, tais como a exigência do retorno do príncipe regente e a instalação de mais tropas no Rio de Janeiro. Além disso, a relação azedava também porque os portugueses tratavam os representantes brasileiros que iam a Portugal para negociar com desdém. Quando os portugueses exigiram o retorno do princípe a Portugal, foi organizado um movimento de resistência contra a medida. Dessa forma, foi criado aqui no Brasil o Clube da Resistência, e o Senado brasileiro recebeu uma carta contendo milhares de assinaturas que defendiam que príncipe ficasse aqui. O movimento que exigia a permanência de d. Pedro motivou-o a desafiar a ordem das Cortes, e isso resultou no Dia do Fico, em 9 de janeiro de 1822. Na ocasião, d. Pedro anunciou publicamente que permaneceria no Brasil. Apesar de uma forte insatisfação, o separatismo ainda não era uma opção consolidada na cabeça dos brasileiros. A relação entre Portugal e Brasil continuava ruim, e, em maio de 1822, foi decretado o Cumpra-se, lei que determinava que as medidas aprovadas em Portugal só valeriam no Brasil se d. Pedro aprovasse-as. A essa altura, a ideia de separatismo já estava bastante propagada, tanto que, em junho, foi convocada uma eleição para formação de uma Assembleia Constituinte. O caminho do rompimento seguia a todo vapor, e a ideia de elaborar uma Constituição para o Brasil reforçava isso. A forma como d. Pedro conduziu esse processo foi bastante influenciada por sua esposa, d. Maria Leopoldina, e por seu conselheiro, José Bonifácio. A situação agravou-se em agosto, quando ordens chegaram de Portugal. As Cortes atacavam os ―privilégios brasileiros‖, acusavam José Bonifácio de traição e ordenavam o retorno de d. Pedro. Isso fez d. Maria Leopoldina convocar uma sessão extraordinária presidida por José Bonifácio, em 2 de setembro. Nessa sessão ficou decidido que era o momento de declarar a independência do Brasil. Uma declaração de independência foi redigida e enviada, junto às cartas portugueses, para d. Pedro. O regente estava a caminho de São Paulo na ocasião, e acabou sendo alcançado pelo mensageiro, no dia 7 de setembro de 1822. Às margens do Rio Ipiranga, d. Pedro inteirou-se da situação, e, segundo o que ficou registrado na história oficial brasileira, foi realizado o grito pela independência do Brasil, momento conhecido como Grito do Ipiranga. Os historiadores, porém, afirmam que não existem muitas evidências que comprovem se o grito tenha de fato acontecido. Imagem 16 – O Grito do Ipiranga em 1822 A INDEPENDÊNCIA NO CEARÁ A primeira reação positiva à proclamação da independência no Ceará só veio a ocorrer em 16 de outubro de 1822, quando o colégio eleitoral reunido na vila Içó rebelou-se contra a junta provisional de Fortaleza, que mantinha-se obediente às cortes portuguesas. Elegeu-se, então, um governo temporário, que tinha à cabeça o capitão-mor do Crato, José Pereira Filgueiras, que tomou posse em Fortaleza, após a rendição da antiga junta. No ano seguinte foi substituído por um governo permanente, sob a direção do Padre Francisco Pinheiro Landim. No Piauí, o comandante Português, João José da Cunha Fidié, não aceitou a nova realidade e resistiu à independência, reprimindo cruelmente os patriotas. Para enfrentá-lo, formou-se no Ceará uma tropa sob o comando do major Luis Rodrigues Chaves, de João da Costa Alecrim e Alexandre Néri Ferreira. Esta, no entanto, foi derrotada pelos portugueses na batalha de Jenipapo. Pereira Filgueiras e Tristão Gonçalves uniram-se no esforço de libertar o Piauí do jugo de Fidié; arregimentaram um grande número de homens vindos de toda província e, em 23 de julho de 1823, conseguiram a rendição de Fidié. Estava dada a contribuição do Ceará à consolidação da independência no norte do Brasil. A CONFEDERAÇÃO DO EQUADOR NO CEARÁ Em 1824, a chama ardente da revolução voltaria a incendiar o Nordeste; e mais uma vez, sairia de Pernambuco o grito de guerra. O decreto de 12 de novembro de 1823, de D. Pedro I, dissolveu a Assembléia Constituinte, eleita com a finalidade de promulgar a constituição do novo império. Esta, no entanto, se mostrou muito liberal para os desígnios do Imperador. Em Pernambuco, mantiveram-se inalteradas as condições estruturais que geraram movimentos com a Guerra dos Mascates no século XVIII e a insurreição de 17. O absolutismo de D, Pedro tendia a se respaldar nos elementos mais conservadores da sociedade, principalmente os portugueses que, aproximando-se do Imperador, pretendiam manter os privilégios que remontavam ao período colonial. As ligações do Ceará com Pemambuco eram profurldas: a província, que nas suas origens tinha sido povoada em sua maior parte por colonos pemambucanos, permaneceu por muitos anos sob a jurisdição de Recife e seu porto ainda polarizava o comércio cearense. Além disso, a independência projetou para todo o Ceará a oligarquia dos Alencar e outras figuras do Cariri, cujos interesses estavam ligados a Permambuco. A adesão à Confederação do Equador, que havia sido proclamada em 2 de julho de 1824, foi imediata, pois antes mesmo da proclamação, já haviam eclodido vários focos insurreicionais no Ceará: em 9 de janeiro, a Câmara de Quixeramobim declarou decaída a dinastia de Bragança. O Padre Gonçalo Inácio de Loiola, mais tarde Mororó. espalhou pelo Icó, São Bemardo das Russas e Aracati o fogo revolucionário; em 2 de fevereiro, Pereira Filgueiras e Tristão Gonçalves comandaram a adesão do Crato e se dirigiram à Fortaleza, onde prenderam o comandante das armas, restabelecendo a autoridade da antiga junta govemativa, na qual Filgueiras era o presidente e Tristão o comandante das armas. Muitos dos revolucionários, para salientar seu nacionalismo, alteraram seus nomes: Padre Gonçalo passou a chamar-se Mororó; Tristão Gonçalves, Tristão Araripe. Surgiram, então, Carapinima, Pessoa Anta, Ibiapina; Sucupira, etc. O presidente Costa Barros, indicado por D. Pedro, foi deposto e em seu lugarconstitui-se um conselho dirigido por Araripe, que enviou emissários a outras províncias, visando sua adesão. Logo o movimento entraria em refluxo, e em Pemambuco, a repressão, dirigida pelo brigadeiro Luis Aives de Lima e Silva, foi fulminante, eliminarldo em pouco tempo o govemo revolucionário; quem não conseguiu fugir, foi fuzilado. No Ceará, começou a se verificar deserções nas hostes equatorianas: José Félix de Azevedo e Sá, substituto de Tristão Gonçalves, que tinha ido dar combate aos monarquistas no Aracati, rendeu- se a Lord Cochrane, sem esboçar nenhuma reação ao cerco que este promoveu contra a Fortaleza, pelo mar; Luis Rodrigues Chaves, que foi a Pemambuco dar auxílio ao conselho revolucionário, bandeou-se para os legalistas. Os demais foram presos ou chacinados, resta'1do apenas Pereira Filgueiras e Tristão Gançalves, tendo o Padre José Martiniano sido preso no interior de Pemambuco. Não vendo mais sentido em continuar a luta, Pereira Filgueiras depõs suas armas no Crato, vindo a falecer no caminho do Rio de Janeiro, onde ia ser julgado. Quanto a Tristão Gonçalves, em sua fuga desesperada pelo interior do Ceará, fugindo à sanha assassina de seus perseguidores, escreveu uma das páginas mais emocionantes da história cearense. A maior parte de seus amigos e parentes mais queridos estavam mortos, muitos trucidados de forma bárbara, sem direito sequer a um julgamento justo. Aos poucos, o cerco foi se fechando em tomo dele, até que, em 31 de outubro de 1824, foi assassinado às margens do rio Jaguaribe, no lugar de nome Santa Rosa, hoje Jaguaribara. No momento de sua morte várias partes do corpo lhe foram arrancadas; o cadáver permaneceu insepulto por vários dias, até resolverem enterrá-Io à sombra da igrejinha do lugar. No local de sua morte foi erigido um monumento que provavelmente será tragado pelas águas do açude Castanhão, projetado para ser construído naquela área. Para os que restaram prisioneiros, triste destino lhe foi reservado. Condenados à forca, nenhum carrasco se prontificou a executar a sentença, sendo a pena transformada em fuzilamento. Os primeiros a serem executados foram o Padre Mororó e Pessoa Anta. O comportamento do padre, na hora do fuzilamento, foi exemplar, não permitindo que lhe colocassem a venda nos olhos e indicando, com a mão no coração, o local que deveria ser atingido pelas balas. Pessoa Anta, por sua vez, não teve comportamento tão fleumático e, para seu azar, não morreu com a descarga do pelotão de fuzilamento, sendo morto a coronhadas. Dias depois foi a vez de Ibiapina, que foi fuzilado deitado, pois a var[ola lhe atingira os pés, deixandex-incapaz de permanecer ereto. O último a ser executado foi Carapinima que, não sucumbindo à primeira descarga, ficou rodopiando no meio do Campo da Pólvora, enquanto os soldados iam ao quartel recarregar suas armas, demorando o tempo suficiente para que o pobre homem fosse alvo dos risos da multidão. Sua esposa, não suportando o espetáculo macabro, desmaiou, e só então, os executores completaram o terrível ritual. Terminava assim, em tragicomédia, a mais heróica passagemda história do Ceará. A ABOLIÇÃO DA ESCRAVIDÃO NO CEARÁ O contingente de escravos no Ceará era pequeno, visto que sua economia sempre esteve baseada eratividades que não exigiam o uso deste tipo de mão-de-obra em larga escala. A pecuária utilzou o trabalho do índio domesticado ou semiescravizado e Clecaboclo, que recebia sua paga na forma da aquatação. Na cotonicultura foi utilizado o sistema de parceria, que permanece até os dias de hoje. Nesse regime de trabalho, o parceiro produz na terra do grande proprietário ou em um pedaço de terra cedido por ele, em troca do pagamento de uma renda em forma de serviço ou produto. A maior parte dos escravos existentes na província eram utilizados em serviços domésticos. Portanto, a proibição do tráfico de escravos, em 1850, não representou grandes prejuízos para a economia cearese. Ao contrário, a proibição gerou um comércio interprovincial de escravos, muito vantajoso para os proprietários locais, que descobriam assim, nova forma de obtenção de rendimentos. É bastante provável que essa pequena ou quase nenhuma dependência do trabalho escravo, tenha constituído a base sobre a qual se assentou o pioneirismo abolicionista do Ceará. As idéias abolicionistas cresceram no interior de entidades que se propunham a libertar o escravo, a princípio, através de alforrias, assumindo depois caráter mais radical, com ações diretas. A primeira dessas sociedades no Ceará foi a "PERSEVERANÇA E PORVIR", instalada em 28 de setembro de 18 sendo seus principais dirigentes, José Correia do Amaral, José Teodorico de Castro, Antonio Martins Júnior, Alfredo Salgado e outros. Entretanto, essa sociedade não foi a pioneira na luta pela abolição no Ceará. Antes mesmo de sua existência, o deputado cearense, Pedro Pereira da Silva Guimarães, tentara, já por duas vezes, colocar em discussão na Assembléia Geral Legislativa, em 1850 e 1852, projete de lei que favorecia o elemento escravo, sendo prontamente rechaçado. Além da PERSEVERANÇA E PORVIR, foi criada em 8 de setembro de 1880, a Sociedade Libertadora Cearense, que tinha à frente, João Cordeiro, Antonio Bezerra, José do Amaral, José Barros, José Marrocos, etc. João Cordeiro era radical e tinha como proposta a promoção da fuga de escravos, sem que se esperasse por meios legais. No ato de fundação da sociedade, fincou um punhal sobre a mesa exigido que todos jurassem matar ou morrer pela abolição dos escravos. A sociedade editava um periódico, Libertador, que divulgava suas idéias e promovia eventos, visando angariar fundos para a causa. Em 1882 foi fundado o Centro Abolicionista 25 de Dezembro, que reunia figuras proeminentes da província como Guilherme Studart e Meton de Alencar. Antes já havia sido fundado o CLUBE DOS LIBERTOS (20 de maio) e no interior, criaram-se a L1BERTADORA ARTíSTICA ACARAPENSE e a SOCIEDADE LIBERTADORA ICOENSE. Em 18 de dezembro de 1882, fundou-se na chácara de José do Amaral, no Benfica, contando com a presença de José do Patrocínio, uma sociedade composta só de mulheres, que tinha como presidente, Maria Tomásia. Essas sociedades tinham um caráter elitista, reunindo elementos das classes proprietárias e, de certa forma, contavam com a ausência do poder público, sem se verificar sanções às suas atividades. A adesão do elemento popular ocorreu quando os pescadores responsáveis pelo transporte de mercasorias e escravos, do porto para os navios, se rebelaram sob a direção de Francisco José do Nascimento, o "Dragão do Mar", e negaram-se a embarcar escravos, que seriam vendidos para outras províncias Essa greve se deu nos dias 27, 30 e 31 de janeiro de 1881; nessa ocasião foi proferida a frase clássica: "No porto do Ceará não se embarcam mais escravos", que errôneamente se atribui ao Dragão do Mar, sem que se saiba de fato quem é seu autor. O rastilho da abolição iniciou-se em 1º de janeiro de 1883, com a libertação dos escravos em Acarape hoje cidade de Redenção - e estendeu-separa várias cidades do interior até chegar em Fortaleza, em 2 de fevereiro. Finalmente, em 25 de março de 1884, a escravatura seria abolida do Ceará em caráter definitivo. Entusiasmado com o feito dos cearenses, José do Patrocínio homenageou a próvíncia com o título de "Terra da Luz". Imagem 17 – Imagem em alusão a abolição no Ceará TRANSIÇÃO DO IMPÉRIO PARA A REPÚBLICA As causas da Proclamação da República estão ligadas à crise do Segundo Reinado. O movimento republicano se apresentou como a solução para essa crise, angariando apoio da elite brasileira. Apesar do apoio popular à pessoa do imperador, seu governo já não era mais efetivo, já não conseguia conter a crise do final do século XIX. A historiografia tem por tradição denominar as causas da proclamação da república como questões. A Questão Militar foi o atrito entre Dom Pedro II e os militares. Aproveitando a forçada vitória na Guerra do Paraguai, os militares quiseram participar efetivamente da política brasileira, mas Dom Pedro II, utilizando o Poder Moderador, impediu essa participação. O Exército, em especial, mostrava-se como ―salvador da pátria‖, como se fosse o único detentor da solução para a crise enfrentada pelo Império. A união entre Império e Igreja também foi motivo de atritos entre Dom Pedro II e religiosos católicos. Procurando seguir as normas vindas do Vaticano no final do século XIX de combate à maçonaria, vários bispos proibiram a participação de maçons em qualquer ordem religiosa. Ao mandar prender os bispos que decidiram cumprir à risca tal medida, a questão religiosa provocou o rompimento entre o imperador e o catolicismo. Outra questão determinante para o fim do Império e a consequente Proclamação da República foi o fim da escravidão em 13 de maio de 1888. A abolição aconteceu sem nenhum pagamento de indenização. Com isso, os fazendeiros romperam com Dom Pedro II e se aproximaram do movimento republicano. Na época, esses fazendeiros foram chamados de ―republicanos de última hora‖. O enfraquecimento de Dom Pedro II e o agravamento do seu estado de saúde deixaram o Segundo Reinado sem um comando, sem uma liderança, o que favoreceu o movimento das tropas do marechal Deodoro da Fonseca, em 15 de novembro de 1889, a decretar o fim do Império e instalar a república no Brasil. Após a proclamação da República se iniciou no Brasil uma nova fase de sua História a Primeira República que é o período da história do Brasil que aconteceu de 1889 a 1930, tendo sido iniciado com a Proclamação da República que aconteceu em 15 de novembro de 1889 e encerrou-se com a deposição de Washington Luís como consequência da Revolução de 1930. A PRIMEIRA REPÚBLICA NO CEARÁ – MANDONISMO E PODER LOCAL A.s raízes do poder local e do mandonismo político no Ceará encontram-se principalmente na forma de ocupação e apropriação da terra. O território cearense foi conquistado a ferro e fogo. em detrimento de sua população primitiva. obrigada a submeter-se à vontade dos novos donos. instalados em grandes propriedades que, em muitos aspectos. se assemelhavam aos feudos medievais. Exemplo típico é o da família Feitosa, dos Inhamuns, cuja história foi estudada de forma brilhante pelo pesquisador americano Billy Chandler. Seu patriarca, Francisco Alves Feitosa, era proprietário de inúras sesmarias ao longo do rio Jaguaribe e, disputando a posse da terra ou a: hegemonia política na área de seus domínios, promoveu uma guerra sanguinária contra outra família da região. os Montes, que as autoridades da colônia nada pudessem fazer para evitar as arbitrariedades dos potentados a os colonos e os índios. Findo o conflito ainda no século XVIII, os Feitosas mantiveram o seu pacar oos Inhamuns até a primeira metade do exesente século. Nas áreas interioranas predominava as relações de compadrio, que se baseavam nas trocas de favores na assistência econômica em troca da fidelidade política, enfim, nas práticas que concorriam para fortalecer as oligarquias dominantes. No século passado, após a derrota de Pinto Madeila, predominou a nível de toda a província a hegemonia da família Alencar. Com a morte do senador Alencar e a preterição de seu filho, José de Alencar, ao senado do Império, assumiu o poder político Thomaz Pompeu de Sousa Brasil que, por sua vez, se opunha a outra oligarquia. a dos Fernandes Vieira. Com a morte do senador Pompeu, substituiuo seu genro, Antonio Pinto Nogueira Accioly. Accioly dominou a política no Ceará de 1896 a 1912; governando de forma despótica, perseguindo se adversários, fraudando, roubando, colocando seus familiares na máquina administrativa, enfim, reinando como um monarca absoluto. Sua queda em 1912, deu-se em meio a uma verdadeira guerra civil nas ruas de Fortaleza. Fato marcarte desse conflito, foi a repressão movida pela guarda estadual contra uma manifestação de crianças na praça do Ferreira, matando várias delas. As cenas desse massacre revoltaram mais ainda a população da cidade que não deu mais trégua ao oligarca. O povo perdeu o medo e ocupou as ruas, cercando a casa de Accioly. Este, vendo-se sem saída, renunciou à presidência do Estado e foi mandado embora para o Rio de Janeiro, não voltando mais ao Ceará Porém, mesmo distante, continuou exercendo influência sobre a política local. Em seu lugar ficou o vice-presidente do Estado, Antonio Frederico ce Carvalho Mota, que entregou o governo ao Coronel Marcos Franco Rabelo, em 12 de julho de 1912, candidato vitorioso nas eleições de 11 de abril. Do período acciolino, uma das poucas obras dígnas de menção foi a Faculdade de Direito, criada governo de Pedro Borges, um preposto de Accioly. Sua fundação deu-se a 1º de março de 1903, tendo como diretor honorário, o próprio Nogueira Accioly. Instalou-se, a princípio, no prédio do liceu do Ceará, sendo encampada pelo Governo Federal em 23 de novembro daquele ano. No seu governo, em 1910, foi construído o Teatro José de Alencar. Franco Rabelo enfrentou, logo de início, poderosa oposição; no plano nacional, com seu antigo aliado, Pinheiro Machado e no âmbito interno, com a nova força que vinha do sertão, o Padre Cícero, de Juazeiro. RELIGIOSIDADE E SEDIÇÃO DE JUAZEIRO Cícero Romão Batista nasceu a 24 de maio de 1844, na vila do Crato. Desde cedo manifestou a vocação sacerdotal, vindo a Fortaleza para estudar no seminário da Prainha. Auxiliado por seu padrinho, coronel Luis Antonio Pequeno, pode continuar seus estudos, apesar da morte do pai. Ordenou-se aos 26 anos e em 1872 foi enviado para o pequeno povoado de Juazeiro do Norte. No seminário não registraram-se fatos estranhos com o jovem estudante, mas ele e seu primo José Marrocos eram vistos como "arrivistas". José Marrocos foi mandado embora e Cícero ordenou-se padre, por intervenção do bispo D. Luis, apesar da reprovação do Reitor do seminário. A princípio Cícero não se afeiçoou ao povoado, e sua intenção era voltar para Fortaleza. No entanto, Jesus lhe apareceu em um sonho, instruindo-o no sentido de cuidar dos pobres. Fixou-se então no lugarejo e lá exerceu o sacerdócio, normalmente, até 1889, quando se deu o orimeiro caso de milagre, entre tantos outros atribuídos a ele: a hóstia recebida pela beata Maria de Araújo transformou-se em sangue na sua boca. Logo a sua fama se espalhou, e todos acorriam para o Juazeiro em busca da proteção o "santo milagreiro". Juazeiro depressa se transformou, em um enorme ajuntamento de pessoas, vindas de todos os lugares do sertão. Em breve, Cfcero deixou de ser apenas um Ifder religioso, para se trarlsformar na mais prestigiada liderança política do sertão nordestino. Em vão, a hierarquia da Igreja tentou manter um controle sobre o padre, enviando-o até mesmo a Roma, para entrevista com o Papa; mas isso só fez crescer seu prestfgio junto ao povo. Algumas pessoas exerciam grande influência sobre ele; a princfpio foi seu primo José Marrocos, jomalista de talento, que soube manipular com habilidade junto ao povo, as notfcias em tomo dos milagres. Depois, foi o médico baiano Floro Bartolomeu, que articulou a aproximação do padre com os coronéis e a polftica acciolina. Com a transformação de Juazeiro em municfpio, padre Cicero foi seu primeiro prefeito. A essa altura, o padre já estava mergulhado no complexo xadrez polftico das oligarquias. Esse envolvimento culminou na "Guerra Santa" que apreendeu contra o presidente Franco Rabelo, causando a sua queda do poder em 1914; foi a sediação de Juazeiro. Mesmo depois de sua morte, em 1934, a influência do Padre Cfcero permaneceu muito viva entre o povo sertanejo. Essa influência não se limitou à região do Cariri, nem somente ao Ceará; ele se estendeu por todo o Nordeste e até além dele. Diariamente a "Meca" do Cariri, Juazeiro, é procurada por romeiros vindos dos mais diversos lugares. Essas romarias são mais fortes nas comemorações do dia da padroeira,Nossa Senhora das Dores, de Nossa Senhora das Candeias e dia de Finados. O turismo religioso tomou-se a maior fonte de renda de Juazeiro, tornando-a uma das maiores e mais prósperas cidades do Estado. No período das romarias, os hotéis ficam lotados com os fiéis que vêm pagar suas promessas, bem como, adquirir "souvenirs", para que a proteção do "padim" lhe acompanhe sempre, deixar seu óbulo na Igreja, morada do santo querido. Nos restaurantes não faltam o baião-dedois com o piqui e a carne de sol. À noite, os repentistas embalam seus ouvidos com histórias do padre e de outros heróis do imaginário sertanejo. E, como não poderia deixar de ser, junto com os repentes, as rezas. Os locais mais visitados são a casa do Padre Cfcero e o Horto. No alto dele, a estátua esculpida em 1969, por Armando Lacerda, com 27 metros de altura. A casa foi transformada em museu e conta no seu acervo com oratórios, imagens sacras, batinas, paramentos, prataria, mobiliário e objetos, doados pelos romeiros. Objetos de peregrinação são também a Casa dos Milagres, onde são depositados os ex-votos, peças de gesso, madeira e plástico, que representam partes do corpo humano curadas por obra das promessas, além de retratos e cartas e a Capela do Socorro, onde o padre está sepultado. Existe também o moderno prédio da Fundação Memorial Padre Cfcero, centro de promoções culturais, conferências, exposições e cursos, que inclui em seu acervo, objetos pessoais, fotos e mais de 200 livros e opúsculos sobre o Padre. Em 1994 comemorou-se o Sesquicentenário de seu nascimento, com realização de romarias, seminários os em vários locais do Brasil e apresentação de filmes, peças de teatro, além de lançamentos de livros cordéis sobre o "Patriarca de Juazeiro". Vinculado ao fenõmeno do Padre Cfcero em Juazeiro, surgiu na região do Cariri o Caldeirão da Santa Cruz do Desterro. Era uma fazenda na serra do Araripe, onde o padre havia abrigado um beato, de nome José Lourenço e seus seguidores. O beato era antipatizado pelos coronéis, talvez porque seu estilo "ário pudesse se tomar um mau exemplo, semelhante ao de Canudos, na Bahia. Com a morte do padre, recrusdeceram as hostilidades contra o beato e sua gente, até que a fazenda foi evacuada pelas autoridades políticas, inclusive com o uso de bolmbardeiro aéreo. O beato conseguiu escapar com vida, falecendo em 1946, de morte natural, em Pernambuco. OS CAMPOS DE CONCENTRAÇÃO NO CEARÁ (1915 – 1932) Fortaleza, Crato, Ipu, Quixeramobim, Cariús e Senador Pompeu. Nesses seis municípios do Ceará, há noventa anos, durante a grande seca de 1932, foram construídos sete campos de concentração com o propósito de conter os retirantes do interior do estado que tentavam chegar à capital. Na época chamados de ―Currais do Governo‖, os campos foram construídos em pontos estratégicos, às margens das linhas férreas, para impedir com mais facilidade o embarque dos retirantes que, em desespero, invadiam os trens para buscar socorro em Fortaleza. Atraídos por propostas de emprego e por promessas de amparo, assistência médica e alimentação, os flagelados eram, na verdade, mantidos em locais insalubres, tendo que se alimentar com rações enviadas pelo governo, plantas silvestres e até com a carne de animais que morriam de fome e sede nos campos. Na realidade, as pessoas confinadas eram reféns de uma política higienista que teve início em períodos anteriores de estiagem severa. Na segunda metade do século XIX, Fortaleza engrenou um processo de desenvolvimento econômico e urbano que perdeu força e se desestruturou com a chegada da seca de 1877, que durou até 1879 e levou mais de 100 mil retirantes de todo o estado a migrarem para a capital, que na época tinha uma população bem menor, de 30 mil habitantes. As autoridades, então, passaram a buscar meios para conter a chegada dessas pessoas ao centro da cidade de Fortaleza. Trinta e seis anos depois, durante a estiagem de 1915, o governo não havia criado políticas de convivência com a seca, mas, com o apoio da elite fortalezense, aprimorado as suas estratégias para conter o fluxo de retirantes que rumavam para a capital. Lá, foram criados os primeiros campos de concentração para evitar que pessoas ―potenciais portadoras de doenças‖ ou saqueadoras de mercados, consideradas uma séria ameaça à tranquilidade pública, ocupassem a cidade. Em 20 de junho de 1932, o jornal cearense O Povo destacava com informações oficiais o ―Efetivo dos Campos de Concentração dos Flagelados‖: em Ipu, o número de pessoas concentradas na data da publicação era de 6.507. Em Fortaleza, nos campos do Alagadiço e do Urubu, havia 1.800 pessoas. No município de Quixeramobim, 4.542. Em Senador Pompeu, no campo do Patu, 16.221 (na época, o número de concentrados chegou a ultrapassar o número de habitantes da cidade). No campo de Buriti, no Crato, havia 16.200 pessoas. Cariús, com o maior número, concentrava 28.648. Em todo o estado, o total de pessoas mantidas nos campos de concentração naquele ano era de 73.918. O município de Senador Pompeu, localizado a cerca de 266 quilômetros de Fortaleza, é o único que ainda conserva parte da estrutura usada para isolar os emigrantes durante o período de estiagem de 1932. Diferente dos campos de concentração dos outros municípios, que construíam apenas barracões cobertos com folhas de carnaúba, lá, além dos barracões, foram utilizados os antigos casarões construídos na década de 1920 pela companhia inglesa de engenharia Norton Griffiths & Company – encarregada da construção do açude do Patu, na zona rural do município. No sítio do Patu, para conter os confinados, foram utilizados o casarão dos inspetores da obra, duas casas de pólvora, um armazém, a estrutura de um hospital desativado, uma usina, um cemitério e uma estação de trem. Hoje, o açude do Patu tem como principal finalidade o abastecimento de água da cidade. Segundo o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), o projeto de construção do açude é do ano de 1919 e as primeiras escavações foram feitas em 1921. Porém, as obras foram paralisadas em 1923, sendo retomadas depois de 61 anos e, finalmente, concluídas em 1987. Imagem 18 - Ruinas dos casarões onde milhares de pessoas morreram no caminho para Fortaleza A ERA VARGAS (1930 – 1945) A Era Vargas foi o período de quinze anos da história brasileira que se estendeu de 1930 a 1945 e no qual Getúlio Vargas era o presidente do país. A ascensão de Vargas ao poder foi resultado direto da Revolução de 1930, que destituiu Washington Luís e impediu a posse de Júlio Prestes (presidente eleito que assumiria o país). Ao longo desse período, Getúlio Vargas procurou centralizar o poder. Muitos historiadores, inclusive, entendem o período 1930-1937 como a ―gestação‖ da ditadura de Vargas. Vargas também ficou marcado pela sua aproximação com as massas, característica que se tornou muito marcante durante o Estado Novo. Permaneceu no poder até 1945, quando foi forçado a renunciar à presidência por causa de um ultimato dos militares. Com a saída de Vargas do poder, foi organizada uma nova Constituição para o país e iniciada outra fase da nossa história: a Quarta República (1946-1964). AS INTENÇÕES DE VARGAS NO CEARÁ No período que compreende a Era Vargas (1930 – 1945) houve um processo de centralização do poder; políticas trabalhistas; propagandas políticas e uma grande capacidade de negociação política advinda de Vargas. Uma política de grande importancia no início de seu governo foi as interventorias, mudanças dos governadores (antigos aliados dos coronéis) para governadores que fossem aliados da Aliança Liberal (partido do Vargas). No caso do Ceará, essas interventorias também ocorreram. O governador José Carlos de Matos Peixoto, foi destituido do cargo e foi colocado o interventor Manoel do Nascimento Fernandes Távora, depois foi colocado em seu lugar João da Silva Leal, logo após Roberto Carneiro de Mendonça, a