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Apostila D. Consumidor

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1 
Belo Horizonte 
2015 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DIREITO DO 
CONSUMIDOR 
Lei nº 8.078/90 
 Roteiro de Estudos 
 
 
 
 
 
 
 
PROF. ANDRÉ LUIZ LOPES 
ESCOLA SUPERIOR DOM HELDER CÂMARA 
 2 
ÍNDICE 
 
1. A Contextualização do Código de Defesa do Consumidor 04 
 
1.1 O Código de Defesa do Consumidor como microssistema 
1.2 Norma de ordem pública e interesse social 
1.3 Autonomia e heteronomia 
1.4 O CDC como uma “lei de função social” 
1.5 O Fundamento constitucional do CDC 
 
2. Princípios do Código de Defesa do Consumidor 08 
 
2.1 Princípio da vulnerabilidade 
2.2 Princípio da transparência 
2.3 Princípio da informação 
2.4 Princípio da segurança 
2.5 Princípio do equilíbrio das prestações 
2.6 Princípio da reparação integral 
2.7 Princípio da solidariedade 
2.8 Princípio da interpretação mais favorável ao consumidor 
2.9 Princípio da boa-fé objetiva 
2.10 Princípio da reparação objetiva 
2.11 Princípio do venire contra factum próprium 
2.12 Princípio da conservação do contrato 
2.13 Princípio da harmonia nas relações de consumo 
 
3. Relação de consumo 12 
 
3.1 Conceito de consumidor 
3.2 Correntes de interpretação da definição jurídica de consumidor: finalista e maximalista 
3.3 Destinatário final 
3.4 Pessoa jurídica como consumidora 
3.5 Consumidores equiparados 
3.6 Conceito de fornecedor 
3.7 Conceito de produto 
3.8 Conceito de serviço 
 
4. Direitos básicos do consumidor 16 
 
4.1 Direito à proteção da vida, saúde e segurança 
4.2 Direito à liberdade de escolha 
4.3 Direito à informação 
4.4 Direito à transparência e boa-fé 
4.5 Direito à proteção contratual 
4.6 Direito à prevenção e reparação de danos materiais e morais 
4.7 Direito ao acesso à Justiça 
4.8 Direito à facilitação da defesa de seus direitos 
4.9 Direito a serviços públicos adequados e eficazes 
 
 
5. Responsabilidade civil nas relações de consumo 18 
 
5.1 Conceito 
5.2 Responsabilidade pelo fato do produto (Fato do produto, Produto defeituoso) 
5.3 Responsabilidade pelo fato do serviço (Fato do serviço, Serviço defeituoso) 
5.4 Responsabilidade por vício do produto (Vício do produto, Alternativa do consumidor) 
5.5 Responsabilidade por vício do serviço (Vício do serviço, Alternativa do consumidor, Vício aparente, Vício 
oculto) 
5.6 Responsabilidade objetiva (Elementos) 
5.7 Excludentes da responsabilidade civil 
5.8 Responsabilidade solidária 
5.9 Responsabilidade subsidiária e solidária do comerciante 
5.10 Exceção à responsabilidade objetiva no CDC 
5.11 Decadência do direito de reclamar do vício 
5.12 Prescrição 
 
6. Dano material e dano moral nas relações de consumo 22 
 
6.1 Conceitos 
6.2 Quantificação do dano moral 
6.3 Dúplice função da condenação por dano moral 
6.4 Pessoa jurídica vítima de dano moral 
 3 
6.5 Dano moral coletivo 
 
7. Da desconsideração da personalidade jurídica 24 
 
7.1 Teorias (maior e menor) 
7.2 Requisitos 
7.3 Desconsideração inversa 
 
8. Das práticas comerciais 26 
 
8.1 Da oferta 
8.2 Da oferta ou venda por telefone ou reembolso postal 
8.3 Vinculação da oferta 
8.4 Recusa de cumprimento da oferta, apresentação ou publicidade 
8.5 Da publicidade (enganosa e abusiva) 
8.6 Das práticas abusivas 
8.7 Da cobrança de dívida (repetição de indébito) 
 
9. Dos bancos de dados e cadastros de consumidores 28 
 
9.1 Conceito de cadastros 
9.2 Conceito de banco de dados 
9.3 Acesso às informações 
9.4 Proibição de manutenção de informações negativas referentes a período superior a cinco anos 
9.5 Obrigação de comunicação 
9.6 Responsabilidade pela comunicação 
 
10. Da proteção contratual 30 
 
10.1 Prévio conhecimento do conteúdo do contrato 
10.2 Interpretação favorável ao consumidor 
10.3 Vinculação de documentos 
10.4 Direito de desistência imotivada 
10.5 Garantia contratual complementar 
10.6 Das cláusulas abusivas 
10.7 Hipóteses de presunção de vantagem exagerada 
10.8 Outorga de crédito ou concessão de financiamento 
10.9 Limitação das multas de mora 
10.10 Liquidação antecipada do débito 
10.11 Perda total das prestações pagas na resolução do contrato 
10.12 Dos contratos de adesão 
10.13 Cláusula resolutiva 
10.14 Padrão legal de redação do contrato de adesão 
10.15 Cláusulas restritivas de direito 
 
11. Da defesa do consumidor em juízo 35 
 
11.1 Defesa coletiva 
11.2 Direito difuso, coletivo e individual homogênio 
11.3 Legitimação concorrente para defesa coletiva 
11.4 Honorários e custas nas ações coletivas 
11.5 Aplicação subsidiária do C.P.C e Lei 7.347/85 
11.6 Ações coletivas para a defesa de interesses individuais homogêneos 
11.7 Competência para conhecer e julgar o pedido 
11.8 Necessidade de publicação de edital 
11.9 Sentença de procedência do pedido 
11.10 Legitimados para a execução da sentença 
11.11 Ações de responsabilidade do fornecedor de produtos e serviços 
11.12 Coisa julgada e litispendência 
 
BIBLIOGRAFIA 40 
 
LEI 8.078/90 41 
 
 
 
 
 
 
 4 
I - A CONTEXTUALIZAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR 
 
 
 O Código de Defesa do Consumidor como microssistema – 
Microssistema legislativo é a denominação daquela lei que inclui, em um único 
diploma, várias disciplinas jurídicas (civil, penal, administrativo, processo civil, 
dentre outras), sem se importar com a divisão de ramos e sim com a efetividade.1, 
conforme é o caso do CDC. 
 
 A estrutura do CDC possui características de codificação por dar 
tratamento abrangente à relação jurídica especifica que elege para regular, 
estruturando-se a partir da identificação do âmbito de incidência da lei, seus 
princípios (art. 4º) e direitos básicos do sujeito protegido (art. 6º), assim como os 
aspectos principais do direito material do consumidor (contratos e 
responsabilidade civil), direito processual (tutela especial do consumidor), direito 
administrativo (competências e sanções) e direito penal (crimes de consumo).2 
 
 Norma de ordem pública e interesse social- O CDC é uma lei de função 
social que traz em seu bojo normas de direito privado, mas de ordem pública 
(direito privado indisponível), e normas de direito público, conforme preceitua seu 
art. 1º, e interesse social, ou seja, de natureza cogente, não sendo facultado às 
partes de determinada relação de consumo a possibilidade de optar pela 
aplicação ou não de seus dispositivos, autorizando, inclusive, o magistrado de 
conhecê-los de ofício, sem que seja necessária a provocação das partes 
envolvidas. 
 
 O caráter cogente do CDC fica bem evidente, sobretudo, quando trata das 
“praticas abusivas” (arts. 39 a 41), bem como das “cláusulas abusivas”, 
fulminadas de nulidade pelo art. 51. 
 
 Recentemente o STJ decidiu que “As normas de proteção e defesa do 
consumidor têm índole de ordem pública e interesse social. São, portanto, 
indisponíveis, pois resguardam valores básicos e fundamentais da ordem jurídica 
do Estado Social, daí a possibilidade de o consumidor delas abrir mão ex ante e 
no atacado.” (REsp 586.316/MG, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA 
TURMA, julgado em 17/04/2007, DJe 19/03/2009). 
 
 No que diz respeito ao interesse social, o CDC visa resgatar a imensa 
coletividade de consumidores da marginalização não apenas em face do poder 
econômico, mas também dotá-la de instrumentos adequados para o acesso à 
Justiça. Assim, embora destinatária final de tudo o que é produzido em termos de 
bens e serviços, a comunidade de consumidores é sabidamente frágil em face da 
outra personagem das relações de consumo, motivo do CDC pretender 
 
1
 BRAGA NETTO, Felipe Peixoto. Manual de direito do consumidor: à luz das jurisprudência do STJ. 9ª 
ed. Salvador: Edições Juspodivm, 2014, p. 35. 
2
 MIRAGEM, Bruno. Curso de direito do consumidor. 4ª ed. ver., atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista 
dos Tribunais, 2013, p. 44. 
 5 
estabelecer o necessário equilíbrio de forças, tratando, muitas vezes, 
desigualmente consumidores e fornecedores por serem claramente desiguais.3 
 
 Autonomia e heteronomia - Por muito tempo o direito privado, em 
especial o direito civil, foi sinônimo de autonomia da vontade, ou autonomia 
privada. Por intermédio dela os particulares auto-regulavam seus próprios 
interesses, mediante contratos escritos ou verbais. Há na sociedade 
contemporânea um decréscimo da autonomia buscando, justamente, proteger os 
mais fracos, os hipossuficientes. O Código Civil bem reflete essa tendência ao 
dispor no seu art. 421 que “a liberdade de contratar será exercida em razão e nos 
limites da função social do contrato”. Mais adiante, o art. 2.035, parágrafo único, 
dita que “Nenhuma convenção prevalecerá se contrariar preceitos de ordem 
pública, tais como os estabelecidos por este Código para assegurar a função 
social da propriedade e dos contratos”. 
 
 Assim, reduz-se a autonomia da vontade para proteger a parte mais fraca 
nas relações contratuais, através do princípio da função social dos contratos, 
flexibilizando o valor do pacta sunt servanda (princípio da força obrigatória dos 
contratos, que reza que os contratos devem ser cumpridos a qualquer custo). 
 
 Atualmente o conteúdo dos contratos não corresponde apenas à vontade 
das partes, sendo composto por padrões mínimos de razoabilidade, que remetem 
à boa-fé objetiva, ao equilíbrio material entre as prestações e à vedação ao abuso 
de direito. 
 
 O STJ decidiu ser abusiva a cláusula contratual de plano de saúde que 
limita no tempo a internação hospitalar do segurado – Súmula 302. Recentemente 
essa mesma corte reafirmou a nulidade, de pleno direito, da cláusula, inserida em 
contratos de plano ou de seguro-saúde, que limite o tempo de cobertura para a 
internação (AgRg no Ag 1088452/RS, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, 
QUARTA TURMA, julgado em 10/12/2013, DJe 03/02/2014). 
 
 Autonomia, etimologicamente falando, vem do grego “nomos”, que significa 
regra, aliado ao prefixo “auto”, relativo a si próprio. É, portanto, o poder de dar 
regras para si mesmo. Já heteronomia é o poder de estabelecer regras para os 
outros. As leis são heterônomas. 
 
 Verifica-se, na sociedade atual, uma elevação da heteronomia, seja através 
das leis de ordem pública (heteronomia desejável e necessária), seja através do 
que poderíamos chamar de “heteronomia privada”, que se traduz no poder dos 
grandes complexos econômicos de ditar o conteúdo dos contratos para os 
consumidores, que outra alternativa não têm senão aceitar o que lhes é imposto, 
 
3
 GRINOVER, Ada Pellegrini et al. Código Brasileiro de Defesa do Consumidor comentado pelos 
autores do anteprojeto. 7ª. ed., Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2001, p. 26. 
 6 
sob pena de não contratar. São os contratos de adesão, disciplinados pelo CDC 
no art. 54.4 
 
 O CDC como uma “lei de função social” – As normas de ordem pública 
estabelecem valores básicos e fundamentais de nossa ordem jurídica e, apesar 
de serem normas de direito privado, têm forte interesse público, motivo de serem 
indisponíveis e inafastáveis, conforme é o caso do CDC, dispondo seu art. 1º que 
suas normas se dirigem à proteção dos consumidores, provocando a intervenção 
imperativa nas relações jurídicas de direito privado, antes dominadas pela idéia 
de autonomia da vontade, através de “política nacional de relações de consumo”, 
prevista no art. 4º, do mesmo codex, onde dita os objetivos e princípios que 
devem ser observados nas relações de consumo5, além dos princípios da boa-fé 
objetiva e o equilíbrio das relações de consumo. 
 
 Já o art. 5º, estabelece os instrumentos para realização da política nacional 
das relações de consumo: 
 
a) manutenção de assistência jurídica, integral e gratuita, para o consumidor 
carente; 
b) instituição de Promotorias de Justiça de Defesa do Consumidor, no âmbito 
do Ministério Público; 
c) criação de delegacias de polícia especializadas no atendimento de 
consumidores vítimas de infrações penais de consumo; 
d) criação de Juizados Especiais de Pequenas Causas e Varas 
Especializadas para a solução de litígios de consumo; 
 
4
 Art. 54. Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade competente ou 
estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir 
ou modificar substancialmente seu conteúdo. 
5
 Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos 
consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a 
melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos 
os seguintes princípios: 
I - reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo; 
II - ação governamental no sentido de proteger efetivamente o consumidor: 
a) por iniciativa direta; 
b) por incentivos à criação e desenvolvimento de associações representativas; 
c) pela presença do Estado no mercado de consumo; 
d) pela garantia dos produtos e serviços com padrões adequados de qualidade, segurança, durabilidade e 
desempenho; 
III - harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo e compatibilização da proteção 
do consumidor com a necessidade de desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os 
princípios nos quais se funda a ordem econômica (art. 170 da Constituição Federal), sempre com base na 
boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores; 
IV - educação e informação de fornecedores e consumidores, quanto aos seus direitos e deveres, com vistas à 
melhoria do mercado de consumo; 
V -incentivo à criação pelos fornecedores de meios eficientes de controle de qualidade e segurança de 
produtos e serviços, assim como de mecanismos alternativos de solução de conflitos de consumo; 
VI - coibição e repressão eficientes de todos os abusos praticados no mercado de consumo, inclusive a 
concorrência desleal e utilização indevida de inventos e criações industriais das marcas e nomes comerciais e 
signos distintivos, que possam causar prejuízos aos consumidores; 
VII - racionalização e melhoria dos serviços públicos; 
VIII - estudo constante das modificações do mercado de consumo. 
 7 
e) concessão de estímulos à criação e desenvolvimento das Associações de 
Defesa do Consumidor. 
 
 Assim, as leis de função social caracterizam-se por importar as novas 
noções valorativas que devem orientar a sociedade, positivando uma série de 
direitos assegurados ao grupo tutelado, impondo deveres a outros agentes da 
sociedade para transformar a realidade social e conduzi-la a um novo patamar de 
harmonia e respeito nas relações jurídicas. 
 
 No caso do CDC, é a concretização do art. 5º, XXXII6, da Constituição 
Federal, presente no título dos direitos e garantias fundamentais, além do art. 
170, V7 e art. 48, ADCT8. 
 
 O Fundamento constitucional do CDC – O CDC foi a concretização da 
vontade da Constituição Federal de 1988 que no art. 5º, XXXII, situado no capítulo 
dos direitos e garantias fundamentais, estabelece: “o Estado promoverá, na forma 
da lei, a defesa do consumidor”, caracterizando a defesa do consumidor como 
direito fundamental, que se justifica no reconhecimento de uma situação de 
desigualdade a qual as normas de proteção do consumidor realizam a 
equalização de condições, colocando-o, também, a salvo da possibilidade de 
reforma – art. 60, § 4º, IV – cláusula pétrea.9 
 
 Também o art. 170, V - relativo aos princípios gerais da atividade 
econômica, que prescreve ser a ordem econômica, fundada na valorização do 
trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência 
digna, conforme os ditames da justiça social”, observados, dentre os princípios, a 
defesa do consumidor. 
 
 Há ainda o art. 48 das Disposições Constitucionais Transitórias, que 
determinou ao Congresso Nacional a elaboração do CDC, 120 dias após a 
promulgação da Constituição Federal, o que aconteceu em 1990 através da Lei 
8.078/90. 
 
 Além das menções explícitas, existem muitas normas na Constituição da 
República que importam não só para as relações de consumo, mas para todas as 
 
6
 Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e 
aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e 
à propriedade, nos termos seguintes: 
XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor; 
7
 Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por 
fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes 
princípios: 
V - defesa do consumidor; 
8
 Art. 48. O Congresso Nacional, dentro de cento e vinte dias da promulgação da Constituição, elaborará 
código de defesa do consumidor. 
9
 MIRAGEM, Bruno. Curso de direito do consumidor. 4ª ed. ver., atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista 
dos Tribunais, 2013, p. 52-54. 
 
 8 
outras. A dignidade da pessoa humana, fundamento da República (art. 1º, III), é 
norma que perpassa qualquer relação jurídica, modelando-lhe o conteúdo. 
 
 Também de alta importância são os objetivos fundamentais da República, 
dentre os quais se coloca a igualdade substancial (art. 3º, III) bem como a 
solidariedade (art. 3º, I). 
 
 Portanto, o direito do consumidor seria, assim, o conjunto de normas e 
princípios especiais que visam cumprir um triplo mandamento constitucional: 
 
1. promover a defesa dos consumidores – art. 5º, XXXII; 
2. observar e assegurar como princípio geral da atividade econômica e 
princípio imperativo da ordem econômica constitucional a necessária 
defesa do consumidor – art. 170, V; 
3. sistematizar e ordenar esta tutela especial infraconstitucionalmente através 
de código (microcodificação), que reúna e organize normas tutelares de 
direito privado e público, com base na idéia de proteção do consumidor – 
art. 48, ADCT.10 
 
 
 
 
 
II – PRINCÍPIOS DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR 
 
 O direito do consumidor é dotado de uma base principiológica que visa à 
correta interpretação, compreensão e aplicação das regras previstas no CDC, que 
incidem sobre as relações jurídicas de consumo, sendo elas: 
 
1) PRINCÍPIO DA VULNERABILIDADE – É o princípio básico que fundamenta a 
existência e aplicação do direito do consumidor às relações de consumo. O art. 
4º, I, do CDC estabelece, dentre os princípios informadores da Política Nacional 
das Relações de Consumo, o “reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor 
no mercado de consumo”. 
 
 A vulnerabilidade do consumidor constitui presunção absoluta no CDC, que 
informa se suas normas devem ser aplicadas e como devem ser aplicadas na 
relação jurídica desequilibrada, existente entre o consumidor e o fornecedor de 
produto e/ou serviços, não se confundindo vulnerabilidade com hipossuficiência. 
 
 A noção de vulnerabilidade no CDC está associada à identificação de 
fraqueza ou debilidade de um dos sujeitos da relação jurídica de consumo (o 
consumidor) em razão de determinadas condições ou qualidades que lhes são 
inerentes ou, ainda, de uma posição de força que pode ser identificada no outro 
sujeito da relação jurídica, que direcionam para uma aplicação restrita ou 
ampliada das normas consumeristas ao destinatário final da relação de consumo. 
 
10
 BENJAMIM, Antônio Herman V.; MARQUES, Claudia Lima; BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de 
direito do consumidor. 6ª ed. ver., atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2014, p. 35. 
 9 
 Ocorre a vulnerabilidade técnica quando o consumidor não possui 
conhecimentos especializados sobre o produto ou serviço que adquire ou utiliza 
em determinada relação jurídica, presumindo-se ter o fornecedor conhecimento 
aprofundado sobre o produto ou serviço oferecido. 
 
 A vulnerabilidade jurídica ocorre quando falta ao consumidor 
conhecimentos sobre os direitos e deveres inerentes à relação de consumo 
estabelecida, bem como a ausência da compreensão sobre as conseqüências 
jurídicas dos contratos que celebra. 
 
 Também ocorre a vulnerabilidade fática quando tratar-se de consumidor 
criança ou idoso, por conta do reduzido discernimento ou falta de percepção ou, 
ainda, no caso do analfabeto, que não tem pleno acesso à informação sobre a 
relação de consumo estabelecida, além do doente, em face da debilidade física. 
 
2) PRINCÍPIO DA TRANSPARÊNCIA – O dever de agir com transparência 
permeia o CDC, motivo da Política Nacional das Relações de Consumo incluir 
dentre seus objetivos assegurar a transparência nas relações de consumo, 
impondo às partes o dever de agir de forma transparente e leal - art. 4º. 
 
 O STJ entende que "O art. 6º, III, do CDC institui o dever de informação e 
consagra o princípio da transparência, que alcança o negócio em sua essência, 
porquanto a informação repassada ao consumidor integra o próprio conteúdo do 
contrato. Trata-se de dever intrínseco ao negócio e que deve estar presente não 
apenas na formação do contrato, mas também durante toda a sua execução" 
(REsp 1121275/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, 
julgado em 27/03/2012, DJe 17/04/2012). 
 
3) PRINCÍPIO DA INFORMAÇÃO – É direito básico do consumidor a informação 
adequadae clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação 
correta de quantidade, características, composição, qualidade, tributos incidentes 
e preço, bem como sobre os riscos que apresentem – art. 6º, III. Assim, é direito 
do consumidor ser informado e dever do fornecedor de produto ou serviço 
informar. 
 
4) PRINCÍPIO DA SEGURANÇA – Ao fornecedor de produto e/ou serviço cabe 
assegurar que esses, ao serem ofertados no mercado de consumo, sejam 
seguros, não causem danos, de qualquer espécie, aos consumidores. O art. 6º 
prescreve, dentre os direitos básicos do consumidor, a proteção da vida, saúde e 
segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos 
e serviços considerados perigosos ou nocivos. 
 
 O art. 8º prescreve que os produtos e serviços colocados no mercado de 
consumo não acarretarão riscos à saúde ou segurança dos consumidores, exceto 
os considerados normais e previsíveis em decorrência de sua natureza e fruição, 
obrigando-se os fornecedores, em qualquer hipótese, a dar as informações 
necessárias e adequadas a seu respeito. 
 
 10 
 Já o art. 10 prescreve que o fornecedor não poderá colocar no mercado de 
consumo produto ou serviço que sabe ou deveria saber apresentar alto grau de 
nocividade ou periculosidade à saúde ou segurança e, acaso tiver conhecimento 
da periculosidade que apresentem, deverá comunicar o fato imediatamente às 
autoridades competentes e aos consumidores, mediante anúncios publicitários 
(recall – art. 10, § 1º). 
 
5) PRINCÍPIO DO EQUILÍBRIO DAS PRESTAÇÕES – O reconhecimento da 
vulnerabilidade do consumidor e o caráter desigual com que este se relaciona 
com o fornecedor, ressaltaram a importância do princípio do equilíbrio do direito 
nas relações de consumo, consolidando o princípio da isonomia constitucional, 
previsto no art. 5º, caput, da Constituição Federal. O art. 4º, III, cita o equilíbrio 
nas relações entre consumidores e fornecedores, sendo nulas as disposições que 
ponham em desequilíbrio e em situação de inferioridade o consumidor – art. 51. 
 
 Além disso, o art. 6º, V prescreve a possibilidade de modificação das 
cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua 
revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente 
onerosas. 
 
 Também é demonstração desse equilíbrio a proteção contratual e 
extracontratual com a adoção da responsabilidade civil objetiva, além da proteção 
processual com a inversão do ônus da prova, quando o consumidor for a parte 
hipossuficiente da relação de consumo, facilitando a defesa de seus direitos em 
juízo – art. 6º, VIII. 
 
6) PRINCÍPIO DA REPARAÇÃO INTEGRAL – Refere-se à efetiva prevenção e 
reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos 
causados ao consumidor, ressarcindo-o ou compensando-o de forma integral, 
prevista no art. 6º, VI. 
 
7) PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE – Orienta-se por este princípio a divisão de 
riscos estabelecidos pelo CDC, estendendo a toda cadeia de fornecedores que 
participaram do ciclo econômico do produto ou serviço no mercado a 
responsabilidade civil objetiva, arcando todos, solidariamente com os danos 
causados ao consumidor, cuja previsão está no art. 7º, parágrafo único. 
 
 Nesse sentido decidiu o STJ: “o parágrafo único do art. 7º do Código 
consumerista adotou o princípio da solidariedade legal para a responsabilidade 
pela reparação dos danos causados ao consumidor, podendo, pois, ele escolher 
quem acionará. E, por tratar-se de solidariedade, caberá ao responsável solidário 
acionado, depois de reparar o dano, caso queira, voltar-se contra os demais 
responsáveis solidários para se ressarcir ou repartir os gastos, com base na 
relação de consumo existente entre eles.” (REsp 1102849/RS, Rel. Ministro 
SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 17/04/2012, DJe 26/04/2012). 
 
8) PRINCÍPIO DA INTERPRETAÇÃO MAIS FAVORÁVEL AO CONSUMIDOR – 
o intérprete, diante de uma relação de consumo, deverá interpretar as cláusulas 
 11 
contratuais de maneira mais favorável ao consumidor, parte vulnerável na relação 
de consumo – art. 47. 
 
9) PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA – É o dever imposto, a quem quer que 
tome parte em relação negocial, de agir com lealdade, honestidade e cooperação, 
abstendo-se de condutas que possam esvaziar as legítimas expectativas da outra 
parte. 
 
10) PRINCÍPIO DA REPARAÇÃO OBJETIVA – A responsabilidade civil por 
danos causados ao consumidor é objetiva, que dispensa o elemento culpa, 
bastando que a vítima prove o dano, a ação ou omissão e o nexo causal entre um 
e outro. 
 
 O art. 12 prescreve que o fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou 
estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da existência de 
culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos 
decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, 
manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como 
por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos. 
 
 A dispensa do elemento culpa também ocorre no art. 14, ao prescrever que 
o fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, 
pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à 
prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas 
sobre sua fruição e riscos, exceto quanto aos profissionais liberais, relação onde é 
necessária a prova da culpa. 
 
 Contudo, demonstrado pelo fornecedor de que ele não colocou o produto 
no mercado; que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste 
ou a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro, exclui-se sua responsabilidade 
civil. 
 
 “A responsabilidade civil do hospital é objetiva pelos danos causados, na 
condição de fornecedor, aos consumidores, nos termos do art. 14, caput, do 
Código de Defesa do Consumidor. A exceção prevista no § 4º do referido 
dispositivo legal, cuidando da responsabilidade subjetiva, é restrita aos 
profissionais liberais, incluindo-se aí os médicos.” (EDcl no AgRg no Ag 
1261145/SP, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em 
22/04/2014, DJe 15/05/2014) 
 
11) PRINCÍPIO DA CONSERVAÇÃO DO CONTRATO – A nulidade de uma 
cláusula contratual abusiva não invalida o contrato, exceto quando de sua 
ausência, apesar dos esforços de integração, decorrer ônus excessivo a qualquer 
das partes – art. 51, § 2º. 
 
12) PRINCÍPIO DA HARMONIA NAS RELAÇÕES DE CONSUMO – Pressupõe a 
igualdade substancial das partes com a proteção do consumidor, observada a 
 12 
boa-fé, com a finalidade de obter maior justiça no mercado de consumo – art. 4º, 
III. 
 
13) PRINCÍPIO DO ACESSO À JUSTIÇA – Dentre os direitos básicos do 
consumidor, está previsto no art. 6º o acesso aos órgãos judiciários e 
administrativos com vistas à prevenção ou reparação de danos patrimoniais e 
morais, individuais, coletivos ou difusos, assegurada a proteção jurídica, 
administrativa e técnica aos necessitados, além a facilitação da defesa de seus 
direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, 
quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele 
hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências (art. 6º, VII e VIII). 
 
 Para a defesa dos direitos e interesses do consumidor o CDC admite todas 
as espécies de ações capazes de propiciar sua adequada e efetiva tutela – art. 
83. 
 
 
 
 
 
III – RELAÇÃO JURÍDICA DE CONSUMO 
 
 A relação de consumo é composta, sempre, pelos mesmos sujeitos: o 
fornecedor de produtos e/ou serviços e o consumidor. 
 
1 - CONSUMIDOR - É toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza 
produto ou serviço como destinatário final, equiparando-se a consumidor a 
coletividade de pessoas, aindaque indetermináveis, que haja intervindo nas 
relações de consumo – art. 2º. Assim, tanto a pessoa física quanto a jurídica 
podem ser consumidoras protegidas pelas normas do CDC. 
 
 Nesse passo, somente se desnatura a relação consumerista se o bem ou 
serviço passa a integrar a cadeia produtiva do adquirente, ou seja, torna-se objeto 
de revenda ou de transformação por meio de beneficiamento ou montagem ou, 
ainda, quando demonstrada sua vulnerabilidade técnica, jurídica ou econômica 
frente à outra parte. 
 
Correntes de interpretação da definição jurídica de consumidor – A 
existência de correntes doutrinárias e jurisprudenciais acerca do conceito de 
consumidor se extrai da expressão “destinatário final”, da redação do art. 2º: 
corrente da interpretação finalista e corrente da interpretação maximalista. 
 
a) Finalista – “sustenta que o conceito de consumidor deve ser estabelecido 
de acordo com o critério do art. 2º, do CDC, a partir da noção de 
destinatário final fático e econômico de um produto ou serviço. Assim, por 
esta corrente, consumidor é aquele que adquire ou utiliza de um produto ou 
serviço de modo a exaurir sua função econômica, da mesma forma como, 
ao fazê-lo, determina com que seja retirado do mercado de consumo, não 
 13 
havendo a finalidade de lucro na relação jurídica, nem de insumo ou 
incremento a uma determinada atividade negocial. 
 
Nesta visão, o consumidor seria aquele que adquire ou utiliza produto ou 
serviço para satisfação de interesse próprio ou de sua família.”11, sendo a 
corrente dominante. 
 
b) Maximalista – “sustenta que a definição de consumidor deve ser 
interpretada extensivamente em face da abertura conceitual da expressão 
“destinatário final”, referida no art. 2º, quanto pela previsão relativa aos 
consumidores equiparados presentes no art. 2º, parágrafo único, art. 17 e 
art. 29, todos do CDC. Esta corrente considera consumidor o destinatário 
fático do produto ou serviço, ainda que não o seja necessariamente seu 
destinatário econômico, ou seja, a partir do ato de consumo não é preciso 
ser retirado do mercado, ou que não seja reempregado na atividade 
econômica, defendo ser o CDC norma regulamentadora do mercado de 
consumo e não protetoras apenas do consumidor. 
 
Segundo esta visão, serão consumidores as empresas que adquirem 
automóveis ou computadores para realização de suas atividades, o 
agricultor que adquire adubo para o preparo do plantio.”12 
 
Destinatário final – “É aquele que ultima a atividade econômica, ou seja, que 
retira de circulação do mercado o bem ou o serviço para consumi-lo, suprindo 
uma necessidade ou satisfação própria, não havendo, portanto, a reutilização ou 
o reingresso dele no processo produtivo.” (REsp 1352419/SP, Rel. Ministro 
RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 19/08/2014, 
DJe 08/09/2014). 
 
 Assim, não se pode considerar destinatário final para efeito da lei protetiva 
aquele que, de alguma forma, adquire o produto ou serviço com intuito 
profissional, com a finalidade de integrá-lo no processo de produção, 
transformação ou comercialização. 
 
Pessoa jurídica como consumidora – O que qualifica uma pessoa jurídica como 
consumidora é a aquisição ou utilização de produtos ou serviços em benefício 
próprio, isto é, para satisfação de suas necessidades pessoais, sem ter o 
interesse de repassá-los a terceiros, nem empregá-los na geração de outros bens 
ou serviços. 
 
 Por exemplo, aplica-se o Código de Defesa do Consumidor às relações 
jurídicas estabelecidas entre pessoas jurídicas e bancos, porquanto os serviços 
de manutenção de contas correntes e aplicações financeiras prestados pelos 
 
11
 MIRAGEM, Bruno. Curso de direito do consumidor. 4ª ed. ver., atual. e ampl. São Paulo: Editora 
Revista dos Tribunais, 2013, p. 146. 
12
 MIRAGEM, Bruno. Curso de direito do consumidor. 4ª ed. ver., atual. e ampl. São Paulo: Editora 
Revista dos Tribunais, 2013, p. 149-150. 
 
 14 
bancos configuram relação de consumo, sendo a empresa a destinatária final do 
produto. 
 
 Segundo o entendimento do STJ, “O critério adotado para determinação da 
condição de consumidora da pessoa jurídica é o finalista. Desse modo, para 
caracterizar-se como consumidora, a pessoa jurídica deve ser destinatária final 
econômica do bem ou serviço adquirido.” (AgRg no REsp 1386938/DF, Rel. 
Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 17/10/2013, DJe 
06/11/2013). 
 
Consumidores equiparados – o parágrafo único do art. 2º, do CDC equiparou a 
consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja 
intervindo nas relações de consumo. Assim, quem quer que intervenha nas 
relações de consumo, ainda que de modo indeterminado, é equiparado a 
consumidor, recebendo a proteção do CDC. 
Ex: Se o sujeito compra uma pasta de dentes, que é usada por toda a família, 
cujo uso causa inflamação nas gengivas dos usuários, todos os que a usuram são 
consumidores, ainda que não tenham firmado contrato de consumo. 
 
 A segunda modalidade de consumidor por equiparação está no prevista no 
art. 17, do CDC, onde todas as vítimas do evento são equiparadas ao 
consumidor, disposição localizada na seção da responsabilidade civil pelo fato do 
produto ou serviço, que no prazo de 05 anos (art. 27), contados do conhecimento 
do dano ou sua autoria, poderá ingressar com ação de reparação civil por dano 
moral e/ou material. 
 
 “A norma do art. 17 do CDC equipara aos consumidores (bystanders) o 
terceiro que, alheio à preexistente relação de consumo, sofre danos decorrentes 
do produto ou do serviço vinculado à mencionada relação.” (EDcl no REsp 
1162649/SP, Rel. Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA, QUARTA TURMA, 
julgado em 02/10/2014, DJe 10/10/2014). 
Ex: Se um ônibus de transporte público atropela pessoas na calçada, haverá, em 
relação às vítimas, relação de consumo de acordo com o art. 17, CDC. 
 
 A terceira previsão está no art. 29, do CDC, onde equiparam-se aos 
consumidores todas as pessoas determináveis ou não, expostas às práticas da 
oferta, publicidade, abusivas, cobrança de dívidas, dos bancos de dados e 
cadastro de consumidores, ou seja, qualquer pessoa exposta à publicidade 
abusiva, por exemplo, mesmo sem ter adquirido o produto ou usado o serviço, 
pode, na condição de consumidor equiparado, reivindicar a proteção do CDC. 
 
 “De acordo com o art. 29 do CDC, "equiparam-se aos consumidores todas 
as pessoas determináveis ou não, expostas às práticas nele previstas". Nesse 
dispositivo, encontra-se um conceito próprio e amplíssimo de consumidor, 
desenhado em resposta às peculiaridades das práticas comerciais, notadamente 
os riscos que, in abstracto, acarretam para toda a coletividade, e não apenas para 
os eventuais contratantes in concreto. 
 
 15 
 A pessoa jurídica exposta à prática comercial abusiva equipara-se ao 
consumidor (art. 29 do CDC), o que atrai a incidência das normas consumeristas 
e a competência do Procon para a imposição da penalidade.” (RMS 27.541/TO, 
Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 18/08/2009, 
DJe 27/04/2011) 
 
 
“A jurisprudência do STJ, tomando por base o conceito de 
consumidor por equiparação previsto no art. 29 do CDC, tem 
evoluído para uma aplicação temperada da teoria finalista frente às 
pessoas jurídicas, num processo que a doutrina vem denominando 
finalismo aprofundado, consistente em se admitir que, em 
determinadas hipóteses, a pessoa jurídica adquirente de um produto 
ou serviço pode ser equiparada à condição de consumidora, por 
apresentar frente ao fornecedor alguma vulnerabilidade, que 
constitui o princípio-motor da política nacional das relações de 
consumo, premissa expressamente fixada no art. 4º, I, do CDC, que 
legitima toda a proteção conferidaao consumidor. 
 
A doutrina tradicionalmente aponta a existência de três modalidades 
de vulnerabilidade: técnica (ausência de conhecimento específico 
acerca do produto ou serviço objeto de consumo), jurídica (falta de 
conhecimento jurídico, contábil ou econômico e de seus reflexos na 
relação de consumo) e fática (situações em que a insuficiência 
econômica, física ou até mesmo psicológica do consumidor o coloca 
em pé de desigualdade frente ao fornecedor). 
 
Mais recentemente, tem se incluído também a vulnerabilidade 
informacional (dados insuficientes sobre o produto ou serviço 
capazes de influenciar no processo decisório de compra).” (REsp 
1195642/RJ, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, 
julgado em 13/11/2012, DJe 21/11/2012). 
 
 
2 - FORNECEDOR - É toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional 
ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem 
atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, 
importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação 
de serviços – art. 3º. Assim, fornecedor é qualquer pessoa física ou jurídica que, 
de forma habitual, desempenhe atividade mercantil ou civil, ofertando no mercado 
produtos ou serviços, não distinguindo o legislador a natureza, regime jurídico ou 
nacionalidade do fornecedor, devendo este conceito ser interpretado de acordo 
com os conceitos de produto e serviço – art. 3º, §§ 1º e 2º. 
 
 “Desta forma, incide as regras do CDC à prestação de serviço somente se 
este for remunerado, indicando a atividade econômica no fornecimento de 
 16 
serviços para caracterizá-lo fornecedor.”13, contudo, a remuneração pode ser 
indireta, numa interpretação ampla. 
 
3 - PRODUTO – É qualquer bem, móvel (ex: automóveis) ou imóvel (ex: 
apartamentos), material (ex: jóias) ou imaterial (ex: aplicação de renda fixa, 
software) – art. 3º,§ 1º. 
 
4 – SERVIÇO - É qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, 
mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e 
securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista - art. 3º,§ 2º. 
 
 
 
 
IV – DIREITOS BÁSICOS DO CONSUMIDOR 
 
 O art. 6º enumera os direitos básicos do consumidor, em rol meramente 
exemplificativo que busca destacar toda a principiologia do CDC, preservando, 
sobretudo, a pessoa humana consumidora em suas relações jurídicas e 
econômicas concretas, protegendo seu aspecto existencial e seus interesses 
legítimos no mercado de consumo. 
 
1 – DIREITO À PROTEÇÃO DA VIDA, SAÚDE E SEGURANÇA - contra os 
riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços 
considerados perigosos ou nocivos, impondo o dever de segurança e cuidados 
aos fornecedores quando colocam produtos e serviços no mercado de consumo – 
art. 6º, I. 
 
2 – DIREITO À LIBERDADE DE ESCOLHA – O consumidor tem o direito à 
educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços, 
asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações, realçando a 
necessidade do fornecedor apresentar todas as informações sobre o produto ou 
serviço e sua fruição adequada, assegurando ao consumidor a liberdade de 
escolha do produto/serviço bem como do fornecedor, em igualdade de condições 
– art. 6º, II. 
 
3 - DIREITO À INFORMAÇÃO – O consumidor tem o direito à informação 
adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação 
correta de quantidade, características, composição, qualidade, tributos incidentes 
e preço, bem como sobre os riscos que apresentem, visando à melhor escolha na 
contratação, sendo, inclusive, um direito constitucional previsto no art. 5º, XIV, CF. 
Está implícito no dever de informar o princípio da boa-fé objetiva, através da 
apresentação do produto/serviço pelo fornecedor – art. 6º, III. 
 
4 – DIREITO À TRANSPARÊNCIA E BOA-FÉ – O consumidor tem o direito à 
proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais 
 
13
 MIRAGEM, Bruno. Curso de direito do consumidor. 4ª ed. ver., atual. e ampl. São Paulo: Editora 
Revista dos Tribunais, 2013, p. 156. 
 17 
coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou 
impostas no fornecimento de produtos e serviços. Impõe-se na transparência e a 
boa-fé nos métodos comerciais, na publicidade e nos contratos – art. 6º, IV. 
 
5 – DIREITO À PROTEÇÃO CONTRATUAL – O consumidor tem o direito à 
modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações 
desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem 
excessivamente onerosas – art. 6º, V. 
 
“Sobrevindo, na execução do contrato, onerosidade excessiva para uma das 
partes, é possível a revisão da cláusula que gera o desajuste, a fim de recompor o 
equilíbrio da equação contratual.” (REsp 437.660/SP, Rel. Ministro SÁLVIO DE 
FIGUEIREDO TEIXEIRA, QUARTA TURMA, julgado em 08/04/2003, DJ 
05/05/2003, p. 306) 
 
6 – DIREITO À PREVENÇÃO E REPARAÇÃO DE DANOS MATERIAIS E 
MORAIS – É o direito à efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e 
morais, individuais, coletivos e difusos. Assim, deve-se eliminar ou reduzir, 
antecipadamente, causas capazes de produzir um determinado resultado danoso 
ao consumidor ou, se já produzido o dano, sua reparação integral, seja ele 
material ou moral – art. 6º, VI. 
 
7 – DIREITO AO ACESSO À JUSTIÇA – Trata-se do direito de acesso aos 
órgãos judiciários e administrativos com vistas à prevenção ou reparação de 
danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos, assegurada a 
proteção jurídica, administrativa e técnica aos necessitados, possibilitando a 
defesa dos interesses do consumidor, quando violado seus direitos, atendendo a 
previsão constitucional do direito de acesso ao Judiciário e assistência judiciária 
integral e gratuita (art. 5º, XXXV e LXXIV) – art. 6º, VII. 
 
8 – DIREITO À FACILITAÇÃO DA DEFESA DE SEUS DIREITOS – É direito do 
consumidor à facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do 
ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for 
verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras 
ordinárias de experiências. Assim, para facilitar a defesa do consumidor em juízo, 
pode-se até inverter o onus probandi, quebrando a regra do art. 333, I, do C.P.C – 
art. 6º, VIII. 
 
“É assegurando a facilitação da defesa do consumidor em juízo, outras benesses 
podem ser admitidas. “Em se tratando de relação de consumo, a competência é 
de natureza absoluta, podendo ser declinada de ofício pelo magistrado em razão 
do princípio da facilitação de defesa do consumidor (art. 6º, VIII, do CDC)”. (AgRg 
no AREsp 541.491/MG, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA 
TURMA, julgado em 26/08/2014, DJe 01/09/2014) 
 
9 – DIREITO A SERVIÇOS PÚBLICOS ADEQUADOS E EFICAZES – É o direito 
à adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral, devendo os 
órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias ou 
 18 
sob qualquer outra forma de empreendimento, fornecer serviços adequados, 
eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos (art. 22) – art. 6º, X. 
 
 
 
 
 
V – RESPONSABILIDADE CIVIL NAS RELAÇÕES DE CONSUMO 
 
Conceito - É a obrigação legal que é imposta ao fornecedor de produto e/ou 
serviço no sentido deste ressarcir os danos causados ao consumidor e 
equiparados. 
 
 O art. 6º, VI, prescreve, dentre os direitos básicos do consumidor, o direito 
a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, 
coletivos e difusos. 
 
1 – RESPONSABILIDADE PELO FATO DO PRODUTO - O fabricante, o 
produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem, 
independentemente da existência deculpa, pela reparação dos danos causados 
aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, 
montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus 
produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua 
utilização e riscos – art. 12. 
 
Fato do produto – quando há um dano ao consumidor provocado por produto 
defeituoso atingindo-o em sua integridade física ou moral – art. 12. 
Ex: aquisição de celular que vem a explodir no rosto do consumidor. 
 
Produto defeituoso - quando não oferece a segurança que dele legitimamente 
se espera, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as 
quais sua apresentação, o uso e os riscos que razoavelmente dele se esperam e 
a época em que foi colocado em circulação. 
 
2 – RESPONSABILIDADE PELO FATO DO SERVIÇO - O fornecedor de 
serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação 
dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos 
serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua 
fruição e riscos – art. 14. 
 
Fato do serviço – quando há um dano ao consumidor provocado por serviço 
defeituoso atingindo-o em sua integridade física ou moral art. 14. 
Ex: acidente de ônibus lesionando o usuário do serviço. 
 
Serviço defeituoso - quando não fornece a segurança que o consumidor dele 
pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as 
quais o modo de seu fornecimento, o resultado e os riscos que razoavelmente 
dele se esperam e a época em que foi fornecido. 
 19 
3 – RESPONSABILIDADE POR VÍCIO DO PRODUTO - Os fornecedores de 
produtos de consumo duráveis ou não duráveis respondem solidariamente pelos 
vícios de qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao 
consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles 
decorrentes da disparidade, com as indicações constantes do recipiente, da 
embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas as variações 
decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor exigir a substituição das 
partes viciadas – art. 18. 
 
Vício do produto – são os vícios de qualidade ou quantidade que tornem os 
produtos impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes 
diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade, com as 
indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem 
publicitária. Há um descompasso entre o produto oferecido e as legítimas 
expectativas do consumidor – art. 18. 
Ex: aquisição de um veículo cujo ar condicionado não funciona. 
 
a) Vício que torne o produto impróprio ao consumo; 
b) Vício que diminua o valor do produto; 
c) Vício de disparidade das características do produto com àquelas 
veiculadas na oferta e/ou publicidade. 
 
Alternativa do consumidor - Não sendo o vício sanado no prazo máximo de 30 
dias, pode o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha: 
 
a) a substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas 
condições de uso; 
b) a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem 
prejuízo de eventuais perdas e danos; 
c) o abatimento proporcional do preço – art. 18, § 1º, I a III. 
 
 
4 – RESPONSABILIDADE POR VÍCIO DO SERVIÇO - O fornecedor de serviços 
responde pelos vícios de qualidade que os tornem impróprios ao consumo ou lhes 
diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade com as 
indicações constantes da oferta ou mensagem publicitária – art. 20. 
 
Vício do serviço – são os vícios que tornam os serviços impróprios ao consumo 
ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade 
com as indicações constantes da oferta ou mensagem publicitária – art. 20. 
Ex: aquisição pacote turístico em hotel 3 estrelas e na verdade ele não tem 
estrela alguma. 
 
a) Vício que torne o produto impróprio ao consumo; 
b) Vício que diminua o valor do produto; 
c) Vício de disparidade das características do serviço com àquelas veiculadas 
na oferta e/ou publicidade. 
 
 20 
Alternativa do consumidor - pode o consumidor exigir, alternativamente e à sua 
escolha: 
 
a) a reexecução dos serviços, sem custo adicional e quando cabível; 
b) a restituição imediata da quantia paga monetariamente atualizada, sem 
prejuízo de eventuais perdas e danos; 
c) o abatimento proporcional do preço – art. 20, I a III. 
 
Vício aparente – É o vício de fácil constatação, verificado de imediato pelo 
consumidor. 
 
Vício oculto – É o vício que não se percebe quando da aquisição do produto ou 
serviço, ou seja, sua constatação não é facilmente percebida, pois apenas no 
decorrer de seu uso o defeito aparece. 
 
 O vício atinge o produto e o fato atinge a pessoa do consumidor. 
 
 
 
5 - RESPONSABILIDADE OBJETIVA - A regra geral é a responsabilidade civil 
aquiliana ou subjetiva. Porém, nossa legislação, com finalidade protetiva, criou 
certas exceções, aplicando em determinados casos a responsabilidade 
objetiva, que elimina de seu conceito o elemento culpa, ou seja, haverá 
responsabilidade pela reparação do dano quando presentes a conduta, o dano e 
o nexo de causalidade entre estes, conforme adotado pelo CDC nos seus artigos 
12 e 14. 
 
Elementos: 
 
a) Conduta; 
b) Dano; 
c) Nexo de causalidade entre a conduta e o dano sofrido. 
 
A responsabilidade civil do fornecedor está inspirada na teoria do 
risco proveito, devendo, assim, quem aufere o bônus (lucro) da atividade, 
deve responder pelos ônus (danos) que elas venham causar a terceiros. 
 
 
6 - EXCEÇÃO À RESPONSABILIDADE OBJETIVA NO CDC - A 
responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a 
verificação de culpa – art. 14, § 4º. 
 
 
7 - EXCLUDENTES DA RESPONSABILIDADE CIVIL – ART. 12, § 3º - 
 
 O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não será 
responsabilizado quando: 
a) provar que não colocou o produto no mercado; 
 21 
b) provar a inexistência do defeito; 
c) provar a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. 
 
8 – RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA – “Trata-se da solidariedade de todos 
aqueles que participam da cadeia de produção ou da prestação de serviços. Para 
a responsabilização de todos os integrantes da cadeia de consumo, apura-se a 
responsabilidade de um deles, objetiva ou decorrente de culpa, caso se 
verifiquem as hipóteses autorizadoras previstas no CDC. A responsabilidade dos 
demais integrantes da cadeia de consumo, todavia, não decorre de seu agir 
culposo ou de fato próprio, mas de uma imputação legal de responsabilidade que 
é servil ao propósito protetivo do sistema.” (REsp 997.993/MG, Rel. Ministro LUIS 
FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 21/06/2012, DJe 06/08/2012). 
 
 Assim, pode o consumidor acionar judicialmente um ou de todos os 
que participaram da cadeia de consumo. 
 
 
9 - RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA E SOLIDÁRIA DO COMERCIANTE – 
ART. 13 
 
 O comerciante será igualmente responsável pela reparação dos danos 
causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, 
construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou 
acondicionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou 
inadequadas sobre sua utilização e riscos, quando: 
 
a) o fabricante, o construtor, o produtor ou o importador não puderem ser 
identificados; 
b) o produto for fornecido sem identificação clara do seu fabricante, produtor, 
construtor ou importador; 
c) não conservar adequadamente os produtos perecíveis. 
 
 Aquele que efetivar o pagamento ao prejudicado poderá exercer o direito 
de regresso contra os demais responsáveis, segundo sua participação na 
causação do evento danoso – art. 13, parágrafo único. 
 
 
10 – DECADÊNCIADO DIREITO DE RECLAMAR DO VÍCIO - O direito de 
reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil constatação caduca em: 
 
a) 30 dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos não 
duráveis; 
b) 90 dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos duráveis. 
 
 Inicia-se a contagem do prazo decadencial a partir da entrega efetiva do 
produto ou do término da execução dos serviços e, tratando-se de vício oculto, o 
prazo decadencial inicia-se no momento em que ficar evidenciado o defeito – art. 
26. 
 22 
 Obstam a decadência: 
 
a) a reclamação comprovadamente formulada pelo consumidor perante o 
fornecedor de produtos e serviços até a resposta negativa correspondente, 
que deve ser transmitida de forma inequívoca; 
b) a instauração de inquérito civil, até seu encerramento. 
 
 
11 – PRESCRIÇÃO - Prescreve em 05 anos a pretensão à reparação pelos 
danos causados por fato do produto ou do serviço, iniciando-se a contagem do 
prazo a partir do conhecimento do dano e de sua autoria – art. 27. 
 
 
 
 
VI – DANO MATERIAL E DANO MORAL NAS RELAÇÕES DE CONSUMO 
 
A previsão de indenização por danos (material e moral) está no art. 5º, V e 
X, da Constituição Federal14 e art. 186 e 927, parágrafo único, do Código Civil15. 
 
No CDC o art. 6º, VI, prescreve, dentre os direitos básicos do consumidor, 
a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, 
coletivos e difusos. 
 
Conceito de dano - É toda lesão a um bem juridicamente protegido pelo direito, 
causando prejuízo de ordem patrimonial ou extrapatrimonial. 
 
Conceito de dano material - Dano material é aquele que atinge o patrimônio 
(material ou imaterial) da vítima, podendo ser mensurado financeiramente e 
indenizado. Compreende tanto o dano emergente sofrido pela vítima quanto o 
lucro cessante, entendido aquele como o que ela efetivamente perdeu e o outro 
como o que razoavelmente deixou de lucrar. A indenização por dano material é 
ressarcitória ou reparatória. 
 
Conceito de dano moral - O dano moral constitui lesão que integra os direitos da 
personalidade, como a vida, a liberdade, a intimidade, a privacidade, a honra, a 
imagem, a identificação pessoal, a integridade física e psíquica, o bom nome; 
enfim, a dignidade da pessoa humana, um dos fundamentos da República 
 
14
 Art. 5º (...) 
V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral 
ou à imagem; 
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a 
indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação; 
15
 Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar 
dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. 
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. 
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados 
em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco 
para os direitos de outrem. 
 23 
Federativa do Brasil, apontado, expressamente, na Constituição Federal (art. 1º, 
III). 
 
Configura dano moral aquele dano que, fugindo à normalidade, interfira 
intensamente no comportamento psicológico do indivíduo, causando-lhe aflições, 
angústia, desequilíbrio em seu bem estar, podendo acarretar ao ofendido dor, 
sofrimento, tristeza, vexame e humilhação. 
 
A indenização por dano moral é compensatória, pois não visa restaurar o 
estado de coisas anterior ao dano, mas apenas compensar o sofrimento da 
vítima. 
 
Quantificação do dano moral – “A indenização deve ser suficiente a restaurar o 
bem estar da vítima, desestimular o ofensor em repetir a falta, não podendo, 
ainda, constituir enriquecimento sem causa ao ofendido. Assim, devem ser 
consideradas as circunstâncias do fato, as condições sócio-econômicas do 
ofensor e do ofendido, a forma e o tipo de ofensa, bem como suas repercussões 
no mundo interior e exterior da vítima.” (AgRg no AREsp 38.057/SC, Rel. Ministro 
SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 15/05/2012, DJe 28/05/2012). 
 
Dúplice função da condenação por dano moral (punitiva/pedagógica e 
compensatória) – De um lado a indenização por dano moral tem a função de 
compensar a vítima. Do outro, punir o agressor. 
 
O caráter punitivo/pedagógico da indenização visa desestimular o ofensor a 
repetir o ato, inibindo sua conduta antijurídica. O compensatório, propiciar ao 
ofendido um valor pecuniário que, embora não erradique o sofrimento infligido, 
fornece-lhe algum grau de conforto que, pelo menos, amenize a dor injustamente 
causada. 
 
Pessoa jurídica vítima de dano moral – A pessoa jurídica, reconhecida pelo 
ordenamento jurídico com pessoa de direitos e obrigações, pode sofrer dano 
moral – Súmula 227 STJ. A pessoa jurídica, por ser titular de honra objetiva, faz 
jus à proteção de sua imagem, seu bom nome e sua credibilidade. Por tal motivo, 
quando os referidos bens jurídicos forem atingidos pela prática de ato ilícito, surge 
o potencial dever de indenizar. (REsp 1334357/SP, Rel. Ministro RICARDO 
VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 16/09/2014, DJe 
06/10/2014). 
 
Dano moral coletivo - A possibilidade de indenização por dano moral está 
prevista no art. 5º, inciso V e X, da Constituição Federal, não havendo restrição da 
violação à esfera individual. A evolução da sociedade e da legislação têm levado 
a doutrina e a jurisprudência a entender que, quando são atingidos valores e 
interesses fundamentais de um grupo, não há como negar a essa coletividade a 
defesa do seu patrimônio imaterial. 
 
 O dano moral coletivo é a lesão na esfera moral de uma comunidade, isto 
é, a violação de direito transindividual de ordem coletiva, valores de uma 
 24 
sociedade atingidos do ponto de vista jurídico, de forma a envolver não apenas a 
dor psíquica, mas qualquer abalo negativo à moral da coletividade, pois o dano é, 
na verdade, apenas a consequência da lesão à esfera extrapatrimonial de uma 
pessoa. (REsp 1397870/MG, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, 
SEGUNDA TURMA, julgado em 02/12/2014, DJe 10/12/2014). 
 
 
 
 
VII – DA DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA 
 
 
 As pessoas jurídicas têm, dentre seus princípios fundamentais, aquele que 
proclama sua autonomia patrimonial. Isso significa que os bens das pessoas 
naturais não se confundem com o patrimônio da pessoa jurídica. Contudo, 
evidenciado que a pessoa jurídica foi utilizada para prática de fraudes, pode haver 
a invasão no patrimônio dos sócios, que dolosamente dela utilizou para prática de 
finalidades ilícitas, para fins de satisfação de débitos da pessoa jurídica, através 
da desconsideração de sua personalidade.16 
 
 O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade quando, 
em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder, 
infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social. A 
desconsideração também será efetivada quando houver falência, estado de 
insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados por má 
administração – art. 28, instituto que também está previsto no art. 50, do Código 
Civil. 
 
TEORIAS – Há duas teorias: teoria maior e teoria menor. 
 
a) Teoria maior – adotado como regra geral pelo ordenamento jurídico 
brasileiro e significa que, para ser aplicada a teoria, é preciso que haja 
desvio de finalidade caracterizado pelo uso abusivo fraudulento (teoria 
maior subjetiva) para desconsiderar a personalidade jurídica. Também será 
aplicada esta teoriase houver confusão patrimonial entre o patrimônio da 
pessoa jurídica e o de seus sócios (teoria maior objetiva). 
 
“A teoria maior da desconsideração, regra geral no sistema jurídico 
brasileiro, não pode ser aplicada com a mera demonstração de estar a 
pessoa jurídica insolvente para o cumprimento de suas obrigações. 
Exige-se, aqui, para além da prova de insolvência, ou a demonstração de 
desvio de finalidade (teoria subjetiva da desconsideração), ou a 
demonstração de confusão patrimonial (teoria objetiva da 
desconsideração).” (REsp 279.273/SP, Rel. Ministro ARI PARGENDLER, 
 
16
 BRAGA NETTO, Felipe Peixoto. Manual de direito do consumidor: à luz das jurisprudência do STJ. 9ª 
ed. Salvador: Edições Juspodivm, 2014, p. 237. 
 
 25 
Rel. p/ Acórdão Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado 
em 04/12/2003, DJ 29/03/2004, p. 230). 
 
b) Teoria menor – Foi adotada pelo CDC por bastar, para a 
desconsideração, a demonstração de inexistência de bens da pessoa 
jurídica para saldar dívida junto ao consumidor. 
 
“A aplicação da teoria menor da desconsideração às relações de consumo 
está calcada na exegese autônoma do § 5º do art. 28, do CDC, porquanto 
a incidência desse dispositivo não se subordina à demonstração dos 
requisitos previstos no caput do artigo indicado, mas apenas à prova de 
causar, a mera existência da pessoa jurídica, obstáculo ao ressarcimento 
de prejuízos causados aos consumidores.“ (REsp 279.273/SP, Rel. 
Ministro ARI PARGENDLER, Rel. p/ Acórdão Ministra NANCY ANDRIGHI, 
TERCEIRA TURMA, julgado em 04/12/2003, DJ 29/03/2004, p. 230). 
 
“É possível a desconsideração da personalidade jurídica da sociedade 
empresária - acolhida em nosso ordenamento jurídico, excepcionalmente, 
no Direito do Consumidor - bastando, para tanto, a mera prova de 
insolvência da pessoa jurídica para o pagamento de suas obrigações, 
independentemente da existência de desvio de finalidade ou de confusão 
patrimonial, é o suficiente para se "levantar o véu" da personalidade 
jurídica da sociedade empresária.” (AgRg no REsp 1106072/MS, Rel. 
Ministro MARCO BUZZI, QUARTA TURMA, julgado em 02/09/2014, DJe 
18/09/2014). 
 
 
REQUISITOS - quando em detrimento do consumidor houver: 
 
a) abuso de direito; 
b) excesso de poder; 
c) infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato 
social; 
d) falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa 
jurídica provocados por má administração; 
e) quando a personalidade jurídica for, de alguma forma, obstáculo ao 
ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores (teoria menor – 
art. 28, § 5º). 
 
DESCONSIDERAÇÃO INVERSA – A desconsideração inversa da personalidade 
jurídica caracteriza-se pelo afastamento da autonomia patrimonial da sociedade, 
para, contrariamente do que ocorre na desconsideração da personalidade 
propriamente dita, atingir o ente coletivo e seu patrimônio social, de modo a 
responsabilizar a pessoa jurídica por obrigações do sócio controlador. 
 
Considerando-se que a finalidade da disregard doctrine é combater a utilização 
indevida do ente societário por seus sócios, o que pode ocorrer também nos 
casos em que o sócio controlador esvazia o seu patrimônio pessoal e o integraliza 
 26 
na pessoa jurídica, conclui-se, de uma interpretação teleológica do art. 50, do 
Código Civil, ser possível a desconsideração inversa da personalidade jurídica, de 
modo a atingir bens da sociedade em razão de dívidas contraídas pelo sócio 
controlador, conquanto preenchidos os requisitos previstos na norma. 
 
“A desconsideração da personalidade jurídica configura-se como medida 
excepcional. Sua adoção somente é recomendada quando forem atendidos os 
pressupostos específicos relacionados com a fraude ou abuso de direito 
estabelecidos no art. 50, do CC. Somente se forem verificados os requisitos de 
sua incidência, poderá o juiz, no próprio processo de execução, levantar o véu da 
personalidade jurídica para que o ato de expropriação atinja os bens da empresa.” 
(REsp 948.117/MS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, 
julgado em 22/06/2010, DJe 03/08/2010). 
 
 
 
 
 
VIII – DAS PRÁTICAS COMERCIAIS 
 
1 – DA OFERTA - A oferta e apresentação de produtos ou serviços devem 
assegurar informações corretas, claras, precisas, ostensivas e em língua 
portuguesa sobre suas características, qualidades, quantidade, composição, 
preço, garantia, prazos de validade e origem, entre outros dados, bem como 
sobre os riscos que apresentam à saúde e segurança dos consumidores – art. 31. 
 
2 - DA OFERTA OU VENDA POR TELEFONE OU REEMBOLSO POSTAL - 
deve constar o nome do fabricante e endereço na embalagem, publicidade e em 
todos os impressos utilizados na transação comercial, vedada a publicidade de 
bens e serviços por telefone, quando a chamada for onerosa ao consumidor que a 
origina – art. 33. 
 
3 – VINCULAÇÃO DA OFERTA - Toda informação ou publicidade, 
suficientemente precisa, veiculada por qualquer forma ou meio de comunicação 
com relação a produtos e serviços oferecidos ou apresentados, obriga o 
fornecedor que a fizer veicular ou dela se utilizar e integra o contrato que vier a 
ser celebrado – art. 30. 
 
4 - RECUSA DE CUMPRIMENTO DA OFERTA, APRESENTAÇÃO OU 
PUBLICIDADE - o consumidor poderá, alternativamente e à sua livre escolha, 
exigir o cumprimento forçado da obrigação, nos termos da oferta, apresentação 
ou publicidade; aceitar outro produto ou prestação de serviço equivalente ou 
rescindir o contrato, com direito à restituição de quantia eventualmente 
antecipada, monetariamente atualizada, e a perdas e danos – art. 35. 
 
5 - DA PUBLICIDADE - A publicidade deve ser veiculada de tal forma que o 
consumidor, fácil e imediatamente, a identifique como tal, sendo vedada a 
publicidade enganosa ou abusiva. 
 27 
a) Publicidade enganosa - É enganosa qualquer modalidade de informação 
ou comunicação de caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa ou, por 
qualquer outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir em erro o 
consumidor a respeito da natureza, características, qualidade, quantidade, 
propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos e 
serviços. A publicidade é enganosa por omissão quando deixar de informar 
sobre dado essencial do produto ou serviço – art. 37, § 1º e 3º. 
 
b) Publicidade abusiva - É abusiva, dentre outras, a publicidade 
discriminatória de qualquer natureza, a que incite à violência, explore o 
medo ou a superstição, se aproveite da deficiência de julgamento e 
experiência da criança, desrespeite valores ambientais ou que seja capaz 
de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa a 
sua saúde ou segurança – art. 37, § 2º. 
 
 
 
6 – DAS PRÁTICAS ABUSIVAS – São as práticas contrárias às prescrições do 
CDC, a boa-fé objetiva, que exploram a vulnerabilidade do consumidor na relação 
de consumo – art. 39, I a XIII. 
 
 
1) condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao fornecimento de 
outro produto ou serviço, bem como, sem justa causa, a limites 
quantitativos; 
2) recusar atendimento às demandas dos consumidores, na exata medida de 
suas disponibilidades de estoque, e, ainda, de conformidade com os usos e 
costumes; 
3) enviar ou entregar ao consumidor, sem solicitação prévia, qualquer 
produto, ou fornecer qualquer serviço; 
4) prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do consumidor, tendo em vista 
sua idade, saúde, conhecimento ou condição social, para impingir-lhe seus 
produtos ou serviços; 
5) exigir do consumidor vantagem manifestamente excessiva; 
6) executar serviços sem a prévia elaboração de orçamento e autorização 
expressa do consumidor, ressalvadas as decorrentes de práticas anterioresentre as partes; 
7) repassar informação depreciativa, referente a ato praticado pelo 
consumidor no exercício de seus direitos; 
8) colocar, no mercado de consumo, qualquer produto ou serviço em 
desacordo com as normas expedidas pelos órgãos oficiais competentes 
ou, se normas específicas não existirem, pela Associação Brasileira de 
Normas Técnicas ou outra entidade credenciada pelo Conselho Nacional 
de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial - Conmetro; 
9) recusar a venda de bens ou a prestação de serviços, diretamente a quem 
se disponha a adquiri-los mediante pronto pagamento, ressalvados os 
casos de intermediação regulados em leis especiais; 
10) elevar sem justa causa o preço de produtos ou serviços; 
 28 
11) (Inciso acrescido pela Medida Provisória nº 1.890-67, de 22.10.1999, 
transformado em inciso XIII, quando da conversão na Lei nº 9.870, de 
23.11.1999); 
12) deixar de estipular prazo para o cumprimento de sua obrigação ou deixar a 
fixação de seu termo inicial a seu exclusivo critério; 
13) aplicar fórmula ou índice de reajuste diverso do legal ou contratualmente 
estabelecido. 
 
 
 
 
7 - DA COBRANÇA DE DÍVIDAS – O CDC proíbe na cobrança de débitos, seja o 
consumidor inadimplente exposto a ridículo ou submetido a qualquer tipo de 
constrangimento ou ameaça – art. 42. 
 
Repetição de indébito - O consumidor cobrado em quantia indevida tem direito à 
repetição do indébito, por valor igual ao dobro do que pagou em excesso, 
acrescido de correção monetária e juros legais, salvo hipótese de engano 
justificável – art. 42, parágrafo único. 
 
 “A repetição de indébito somente tem lugar quando o consumidor pagar, 
efetivamente, o valor cobrado indevidamente. A repetição em dobro do indébito, 
prevista no art. 42, parágrafo único, do CDC, pressupõe, além da ocorrência de 
pagamento indevido, a má-fé do credor.” (AgRg no REsp 1373282/PR, Rel. 
Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em 25/02/2014, DJe 
04/04/2014). 
 
 
 
 
 
IX - DOS BANCOS DE DADOS E CADASTROS DE CONSUMIDORES 
 
Conceito de cadastros – Conjunto de informações pessoais fornecido pelo 
consumidor ao fornecedor específico com o objetivo de estabelecer um canal de 
comunicação entre fornecedor e consumidor, principalmente para comunicação 
de promoções e fornecimento de produtos. 
 
Conceito de banco de dados – Conjunto de informações sobre a situação 
financeira e patrimonial dos consumidores a subsidiar os fornecedores sobre a 
possibilidade ou não de celebração de um contrato de consumo com a finalidade 
de proteção. 
 
Acesso às informações - O consumidor tem o direito de acesso às informações 
existentes em cadastros, fichas, registros e dados pessoais e de consumo 
arquivados sobre ele, bem como sobre as suas respectivas fontes – art. 43. 
 
 29 
Proibição de manutenção de informações negativas referentes a período 
superior a cinco anos – o CDC veda a manutenção de informações negativas 
sobre o consumidor por período superior a 05 anos. 
 
 Estabeleceu o legislador dois prazos para o arquivamento das informações 
negativas do consumidor constantes de cadastros de proteção ao crédito ou 
banco de dados. O primeiro, genérico, disciplinado pelo § 1º do artigo 43 do 
Código do Consumidor, estabelece o teto máximo de cinco anos para a 
permanência desses dados. O § 5º desse dispositivo legal, por sua vez, dispõe 
que, consumada a prescrição da ação de cobrança relativa ao débito que originou 
a informação, os dados não poderão ser fornecidos. “A inscrição do nome do 
devedor pode ser mantida nos serviços de proteção ao crédito até o prazo 
máximo de cinco anos, independentemente da prescrição da execução.” (Súmula 
323/STJ, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 25/11/2009, DJ 05/12/2005 p. 410, 
REPDJe 16/12/2009) 
 
Obrigação de comunicação - A abertura de cadastro, ficha, registro e dados 
pessoais e de consumo deverá ser previamente comunicada por escrito ao 
consumidor, quando não solicitada por ele – art. 43, § 2º. Assim, cabe ao órgão 
mantenedor do cadastro notificar o consumidor, não sendo necessário o aviso de 
recebimento (AR). 
 
 “É dispensável o aviso de recebimento (AR) na carta de comunicação ao 
consumidor sobre a negativação de seu nome em bancos de dados e cadastros.” 
(Súmula 404/STJ, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 28/10/2009, DJe 24/11/2009) 
 
 No caso de ausência de prévia notificação, o STJ já consolidou sua 
jurisprudência no sentido de que "a ausência de prévia comunicação ao 
consumidor da inscrição do seu nome em cadastros de proteção ao crédito, 
prevista no art. 43, §2º do CDC, enseja o direito à compensação por danos 
morais, salvo quando preexista inscrição desabonadora regularmente realizada." 
(AgRg no REsp 1413508/SC, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA 
TURMA, julgado em 15/05/2014, DJe 22/05/2014), além da exclusão da inscrição. 
 
Responsabilidade pela comunicação – “A responsabilidade decorrente da 
ausência de comunicação prévia ao consumidor, medida imprescindível à 
regularidade da inscrição, é da empresa administradora do banco de dados, a 
quem cabe providenciar a cientificação do devedor.” (AgRg no AREsp 
341.286/RS, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 
06/08/2013, DJe 27/08/2013) 
 
 “Cabe ao órgão mantenedor do Cadastro de Proteção ao Crédito a 
notificação do devedor antes de proceder à inscrição.” (Súmula 359/STJ, 
SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 13/08/2008, DJe 08/09/2008). 
 
 
 
 
 30 
X – DA PROTEÇÃO CONTRATUAL 
 
 
Prévio conhecimento do conteúdo do contrato - Os contratos que regulam as 
relações de consumo não obrigarão os consumidores, se não lhes for dada a 
oportunidade de tomar conhecimento prévio de seu conteúdo, ou se os 
respectivos instrumentos forem redigidos de modo a dificultar a compreensão de 
seu sentido e alcance – art. 46. 
 
Interpretação favorável ao consumidor - As cláusulas contratuais serão 
interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor – art.47. 
 
“À luz do princípio da vulnerabilidade (art. 4º, I, do CDC), princípio norteador das 
relações de consumo, as cláusulas contratuais são interpretadas de maneira mais 
favorável ao consumidor (art. 47 do CDC).” (REsp 1344967/SP, Rel. Ministro 
RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 26/08/2014, 
DJe 15/09/2014). 
 
Vinculação de documentos - As declarações de vontade constantes de escritos 
particulares, recibos e pré-contratos relativos às relações de consumo vinculam o 
fornecedor, ensejando inclusive execução específica, nos termos do art. 84 e 
parágrafos – art. 48. 
 
Direito de desistência imotivada – O consumidor pode desistir do contrato, no 
prazo de 07 dias a contar de sua assinatura ou do ato de recebimento do produto 
ou serviço, sempre que a contratação de fornecimento de produtos e serviços 
ocorrer fora do estabelecimento comercial, especialmente por telefone ou a 
domicílio. Nesse caso, os valores eventualmente pagos, a qualquer título, durante 
o prazo de reflexão, serão devolvidos, de imediato, monetariamente atualizados – 
art. 49. 
 
 “Trata-se do direito de arrependimento, que assegura o consumidor a 
realização de uma compra consciente, equilibrando as relações de consumo. 
Exercido o direito de arrependimento, o parágrafo único do art. 49 do CDC 
especifica que o consumidor terá de volta, imediatamente e monetariamente 
atualizados, todos os valores eventualmente pagos, a qualquer título, durante o 
prazo de reflexão, entendendo-se incluídos nestes valores todas as despesas 
com o serviço postal para a devolução do produto, quantia esta que não pode ser 
repassada ao consumidor. 
 
 Eventuais prejuízos enfrentados pelo fornecedor neste tipo de contratação 
são inerentes à modalidade de venda agressiva fora do estabelecimento 
comercial (internet, telefone, domicílio). “Aceitar o

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