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1 UMA INTRODUÇÃO AO DIREITO DO TRABALHO Dartagnan Ferrer dos Santos1 RESUMO: O direito laboral é um ramo jurídico consideravelmente novo que veio dotar de força normativa as conquistas que os trabalhadores obtiveram com suas lutas ao longo da história. Após a assimilação das ideias iluministas e pela necessária resolução de problemas que vieram com as revoluções francesa e industrial, o trabalho subordinado passou a ser regido por esse subsistema jurídico, cuja razão de ser é obter o quanto possível igualdade material entre patrão e empregado, equiparando-os. No Brasil, sua consagração definitiva se deu na primeira metade do século vinte, com a Consolidação das Leis do Trabalho e a criação da Justiça Especial do Trabalho. Agora, no panorama da pós-modernidade, se procura soluções para os novos desafios do direito laboral. ABSTRACT: The labour law is a pretty new legal branch that came to give normative force for the achievements that workers had with their struggles throughout history. After the assimilation of Enlightenment ideas and because of the necessary resolution of problems that came with the French and Industrial revolutions, the subordinate labour started to be ruled by that legal subsystem, whose purpose is obtain the possible material equality between employer and employee, equating them. In Brazil, its definitive consecration took place in the first half of the twentieth century, with the “Consolidação das Leis do Trabalho” – “Consolidation of Labor Laws” and the establishment of the Labour Court. Now, in the panorama of postmodernity, people look for solutions for the new challenges of labour law. 1. O nascimento do direito do trabalho na era das revoluções 1.1 O mundo sem proteção ao trabalhador e a mudança desse cenário Embora o direito esteja presente nas sociedades humanas desde a aurora da história, o seu ramo laboral é uma criação mais ou menos recente. Existe algo de paradoxal nessa realidade, pois o trabalho é uma constante desde o surgimento da espécie humana, a qual resistiu e triunfou contra a natureza justamente em razão do 1 Advogado. Professor do curso de direito do Cesuca. Professor em cursos de pós-graduação. Mestre em direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Especialista em direito e processo do trabalho pelo Centro de Estudos do Direito do Trabalho. Graduado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Contato: <dartagnansantos@cesuca.edu.br> 2 bom uso que fez dessa atividade.2 Além disso, a história de lutas e melhorias laborais é rica e instigante. Não obstante, o nascimento do ramo jurídico ocorreu na era moderna, principalmente com o advento de ideias iluministas e duas mudanças radicais que não contam mais do que duzentos e cinquenta anos: as revoluções francesa e industrial. De fato, os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade que levaram à queda da Bastillha permitiram aos trabalhadores mais humildes o sonho de uma vida mais completa, para além do labor desumano que era regra entre as classes desfavorecidas. Por outro lado, o progresso técnico trazido pela Revolução Industrial trouxe - além de tantas boas perspectivas - um cotidiano de duras fábricas, principalmente na Inglaterra, tornando indispensável uma nova forma de ver a relação de trabalho que enfocasse a pessoa do trabalhador, que consumia a quase totalidade de sua vida prestando serviços pesados e perigosos, desde a mais tenra idade. Paralelamente a isso tudo, o pensamento de Immanuel Kant e outros filósofos da modernidade marcaram a defesa do que até hoje se chama “dignidade humana”, fornecendo um profundo arcabouço teórico para a defesa do homem frente às más condições de trabalho. Até então, o trabalhador – nos mais das vezes escravo -, não era visto como merecedor de importância. De fato, a história mostra que só há pouco tempo o ato de trabalhar passou a ser visto como algo digno e até desejável; “as ideias mais remotas em torno do assunto sempre relacionaram o trabalho ao sofrimento e à dor.”3 Para ilustrar tal realidade, bastaria lembrar que a civilização Grega – de importância e grandeza indiscutíveis para a história ocidental - não deixava de tratar a escravidão como algo natural, não só inevitável como até desejável sob muitos aspectos. Platão,4 Aristóteles5 e muitos outros diziam isso abertamente. Alguns séculos após, os 2 JOHNSON, Allan G. Dicionário de sociologia: guia prático da linguagem sociológica. Trad. Ruy Jungmann. Consultoria: Renato Lessa. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997, p. 241: “De modo geral, trabalho é toda atividade que gera um produto ou serviço para uso imediato ou troca.” 3 MARTINEZ, Luciano. Curso de direito do trabalho: relações individuais, sindicais e coletivas do trabalho. 4 ed. São Paulo. Ed. Saraiva, 2013, p. 54. 4 PLATÃO. A República. 11. ed. Introdução, tradução e notas de Maria Helena da Rocha Pereira. Local Fundação Calouste Gulbenkian, 2008, p. 226, onde o filósofo defende a escravidão para os bárbaros, considerando justo “poupar a raça grega”. 5 ARISTÓTELES. Política. Introducción, Traducción y Notas por Manuela García Valdés. Madrid: Biblioteca Clásica Gredos, 116. Primera Edición, 1988. 3ª Reimpresión, 2004, p. 58: “Pois é escravo por natureza aquele que pode ser de outro (por isso precisamente é de outro) e aquele que participa da razão tanto como a percebe, mas não a possui.” 3 romanos continuaram a dispensar o mesmo tratamento ao assunto, deixando claro que, “de fato, nem todos os homens são livres”.6 Mesmo o cristianismo via o trabalho como punição divina, consagrada na fórmula bíblica do “comer o pão com o suor do seu rosto”;7 além disso, a fé religiosa não foi suficiente para fazer desaparecer a escravidão.8 Durante o medievo, o direito dos vassalos que habitavam o território dos nobres ia pouco além da busca do próprio sustento e o direito de pagar por suposta proteção; enquanto isso, a nobreza permanecia desprezando e evitando qualquer trabalho.9 Vale lembrar que destes tempos da Idade Média surgiu a palavra “trabalho”, oriunda de um instrumento de tortura ou imobilização usado no época, o “trepalium”.10 Após, sob o clarão do Iluminismo, surge o Estado em sua concepção “moderna”, amparado pela força da soberania, “um poder inabalável e inexpugnável, teorizado e concretizado na qualidade superlativa de autoridade central, unitária, monopolizadora de coerção”.11 Esse novo cenário público-estatal pós-Absolutista já se estende há cerca de quinhentos anos,12 fundamentado originalmente nas ideias de Locke, Montesquieu, Rousseau, Kant e outros, os quais fomentaram o ambiente das grandes revoluções do século dezoito que clamavam por independência, valores republicanos e separação de poderes. No momento em que essas conquistas de índole manifestamente liberal estão consolidadas e já começam a mostrarem-se 6 MAY, Gaston. Éléments de Droit Romain. Dixième Édition. Paris, Librarie de la Société du Recueil J.-B Sirey et du journal du palais, 1909, p. 62. 7 BÍBLIA. Português. Antigo e NovoTestamento. 50. ed. . Editora Vozes. Petrópolis, RJ, 2005, p. 27. 8 MAY, ob. cit., p. 63. 9 HUIZINGA, Johan. O outono da idade média.Trad. Francis Petra Janssen. São Paulo: Cosac Naify, 2010, p. 87: Embasado nos escritos de Chastellain, Johan Huizinga descreve o pensamento da época: “Deus criou o povo para trabalhar, arar o solo e cuidar da subsistência por meio do comércio; o clero, para as obras da fé; mas a nobreza para promover a virtudee conservar a justiça, para servir de espelho para os outros pelos seus atos e costumes.” 10 COUTINHO, Aldacy Rachid. Trabalho e pena. Revista LTr : Legislação do Trabalho. São Paulo. Ed. LTr., v.62, n.10, p.1340-341, out., 1998: “Nas mais variadas línguas, a expressão trabalho trouxe acorrentado o significado da dor. De um lado, o português trabalho, o francês travail e o espanhol trabajo, remontam à sua origem latina no vocábulo trepalium ou tripalium, um instrumento de tortura composto de três paus ferrados ou, ainda, um aparelho que servia para prender grandes animais domésticos enquanto eram ferrados. [...] De outro lado, a expressão italiana lavoro e a inglesa labour derivam de labor, que em latim significava dor, sofrimento, esforço, fadiga, atividade penosa. Seu correspondente grego era ponos, que deu origem à palavra pena.” 11 BONAVIDES, Paulo. Teoria do Estado. 4. ed., rev e ampl. São Paulo: Malheiros, 2003, p. 21. 12 BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade. Tradução: Carlos Felipe Moisés e Ana Maria L. Iorriatti. São Paulo: Companhia das Letras, 1986. p. 16. A modernidade pode ser divida em três fases: uma primeira do início do século XVI até as revoluções dos idos de 1790; deste período tumultuado até o final do século XIX se vive uma grande experiência de modernidade bastante restrita às metrópoles da época; durante o último século do milênio já findo, a modernidade está espalhada pelo mundo. 4 insuficientes para evitar conflitos e descontentamos sociais, estava para nascer um novo Estado constitucional estruturado e legitimado por vindouros direitos fundamentadores da “supremacia [...] do Direito/Justiça e ética sobre o Direito/norma e coerção.”13 O conceito de “direitos fundamentais” expressa ao mesmo tempo “uma pretensão moral justificada e sua recepção no direito positivo”. A primeira repousa sobre o conceito de dignidade humana, enquanto a necessária normatização possibilita sua efetivação. Com isso, resta superada “a dialética jusnaturalismo- positivismo”. Demais disso, em nome da efetividade desses direitos se mostra necessária uma complementaridade entre abordagens estatais liberais, democráticas e socialistas,14 atuando eles na forma de um “subsistema no sistema jurídico”15 e, no plano da “eficácia”, influenciando a realidade social e dela sorvendo a moralidade que os enseja.16 O que justifica essas quebras de barreiras conceituais, políticas e sistemáticas é o ideal da “dignidade humana” que eleva o homem a “um fim em si mesmo [e] sujeito de uma razão prático-moral”, possuindo um valor intrínseco absoluto, “podendo medir-se com qualquer outro desta espécie e valorar-se em pé de igualdade”.17 A história mostra que, na forma de direitos fundamentais, os valores de liberdade, isonomia, segurança e solidariedade fortalecem as ideias da dignidade humana;18 e com isso estava preparado o terreno teórico e fático para a necessária erupção do ramo jurídico laboral. 1.2 A luta contra a opressão e a construção do direito do trabalho 13 BONAVIDES, ob. cit., p. 29-37. 14 MARTÍNEZ, Gregório Peces-Barba (Com la colaboración de: Rafael de Asís Roig y Maria del Carmen Barranco Avilés). Lecciones de derechos fundamentales. Madrid: Editorial Dykinson, 2004. (Colección Derechos Humanos y Filosofía del Derecho), p. 29. (O autor argumenta que a qualificação “fundamentais” a esses direitos é mais indicada do que a de “humanos”, “naturais”, “públicos subjetivos” ou “morais”, bem como mais apropriada do que a locução “liberdades públicas”. Além disso, a denominação abriga suas dimensões moral e positiva. Ibid., p. 19-29) 15 CARRAZZA. Roque Antônio. Curso de direito constitucional tributário. 21. ed. São Paulo: Malheiros, 2005, p. 47: “[...] que o Direito forma um sistema é um postulado que sequer precisa de demonstração, já porque postulado (de universal acatamento, diga-se de passagem), já pela proibição lógica do regressum ad infinitum (da infinita reciclagem das premissas eleitas) (Geraldo Ataliba).” 16 MARTÍNEZ, ob. cit., p. 44-47. 17 KANT, Immanuel. A metafísica dos costumes. Tradução, apresentação e notas de José Lamego. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2005a, p. 367. 18 MARTÍNEZ, ob. cit., p. 135-189. 5 O ramo jurídico em questão também nasceu no seio da “era das revoluções”, no momento em que são tomadas efetivas medidas estatais contra as seculares “corporações de ofício” que restringiam o monopólio do trabalho a poucos. Afinada com a ótica liberal-burguesa da revolução iminente na França, surgiu a “liberdade de trabalhar”. Tal se deu após várias investidas do Estado até a fulminante “Lei Chapellier” que extinguiu totalmente as corporações em 1791. A partir de então bastava “apenas o interesse particular de cada indivíduo” para que se exercesse qualquer trabalho.19 No entanto, essa conquista logo se revelaria bastante limitada, pois não garantia boas condições para aqueles que conseguiam um posto. De maneira paralela, a Revolução Industrial desenvolvia-se contemporaneamente aos movimentos revolucionários na iminente República Francesa. A Inglaterra foi o ponto nevrálgico dessa revolução dos meios de produção, na qual a máquina a vapor de James Watt eliminava postos de trabalho, provocando desemprego em massa e derrubando os valores dos salários – o que forçava esposas e filhos a complementarem a minguada renda de suas famílias por remuneração ainda mais baixa. Assim, para o mundo do trabalho, a melhor síntese desse cenário de liberalismo e revolução industrial é aquela de Arnaldo Süssekind: “A liberdade e a máquina não libertaram o trabalhador.”20 A reação contra essa situação foi o reavivar das “trade unions”21 pelos trabalhadores ingleses, o que levou o Parlamento Britânico a tolerar o sindicalismo em 1824. Os movimentos reivindicatórios prosperaram de maneira a se criar em 1833 a “União Nacional Consolidada”, confederação sindical de meio milhão de associados deflagradora de greves por uma “Carta Constitucional do Trabalho”. Esse movimento obteve êxito em reduzir a jornada de trabalho para dez horas diárias em 1847. Essas ideias se espalharam pela França, Alemanha, Itália e Estados Unidos da América. “Estava [então] quebrado o tabu do não- 19 ALEMÃO, Ivan. O direito ao trabalho na história e na Constituição Federal de 1988. In: SOUZA NETO, Cláudio Pereira de; SARMENTO, Daniel (Coords.) Direitos sociais: fundamentos, judicialização e direitos sociais em espécie. Rio de janeiro: Lumen Juris, 2008. p. 959-963. 20 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito internacional do trabalho. 3. ed. atual. São Paulo: LTr, 2000, p. 82- 83. 21 SÜSSEKIND, 2000, p. 84: As “trade unions” eram associações de trabalhadores que, pelo menos desde 1720, reivindicavam melhores salários e menores jornadas de trabalho. Em 1799 e 1800, os “Combinations Acts” lançaram-nas na ilegalidade. Sua reorganização nos anos 20 do século XIX foi o início de um progressivo crescimento que acabou por ensejar o “Congresso das Trade Unions” que, no ano de 1903, veio a criar não menos do que o “Partido Trabalhista” inglês (“Labour Party”), uma das duas maiores forças políticas inglesas. 6 intervencionismo do Estado nas relações de trabalho. Esses foram tempos em que a igualdade e a solidariedade entraram em cena, quando os direito dos trabalhadores passam a ser “visto[s] não mais como liberdade de exercer qualquer profissão, mas como possibilidade de adquirir emprego por meio de luta política”.22 Em 1871, sob a chefia de Benjamin Disraeli, o Governo inglês regulamentou o direito à sindicalização, exemploque seria seguido por outros países.23 Dessa maneira, as leis laborais vão nascendo por força das lutas sindicais ao passo em que o jovem “direito do trabalho” vai se consolidando como a trincheira da luta operária - embora Karl Marx não tenha concluído uma teoria do direito, visto por ele como mera superestrutura que reflete o dever-ser das classes donas dos meios de produção,24 sua visão de mundo influenciou de maneira indelével o ramo laboral pois, além de teorizar quanto às lutas de classes que eram tão presentes naquele momento, proclamou a união dos proletários em prol de si próprios -.25 Posteriormente, a partir de meados e fins do Século XIX, vai se gerando o que veio a ser chamado “Estado Social [, para intervir] diretamente nas questões sociais e econômicas, por necessidade de sobrevivência, com a consequente compressão da autonomia individual”.26 Seu protagonismo se estabelece principalmente no século vinte, ao final da Primeira Guerra Mundial, em razão dos graves problemas latentes que emergiram com esse conflito. Naqueles anos se dá início a uma nova ordem social com a Constituição Mexicana de 1917 e aquela de Weimar, datada de 1919.27 No dizer de Paulo Bonavides, para superar os conflitos emergentes, o liberalismo vigente realiza então um “recuo estratégico” visando estabelecer consenso social através do “binômio liberdade e igualdade, que em última análise lhes confere um teor novo de proteção e garantia, com abrangência de todos os direitos humanos fundamentais”.28 22 ALEMÃO, ob. cit., p. 964. 23 SÜSSEKIND, 2000, p. 84-85. 24 BARROSO, Luís Roberto. O direito constitucional e a efetividade de suas normas: limites e possibilidades da Constituição Brasileira. 8. ed. Rio de janeiro: Renovar, 2006b, p. 65-66. A visão economicista do direito para Marx transparece de sua opinião de que “é a infraestrutura econômica – e tão somente ela – que condiciona as instituições jurídicas”. 25 MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. Manifesto comunista. Org. e int. Osvaldo Coggiola. Trad. Álvaro Pina e Ivana Jinkings. 1 ed. revista. São Paulo. Ed. Boitempo. 2010, p. 69. 26 STÜRMER, Amélia Elisabeth Baldoino da Silva; STÜRMER, Gilberto. A constitucionalização do direito civil: a propriedade e a liberdade. In: STÜRMER, Gilberto. (Org.) Questões controvertidas de direito do trabalho e outros estudos. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006, p. 16. 27 STÜRMER, loc. cit. 28 BONAVIDES, ob. cit., p. 289. 7 A internacionalização dos direitos dos trabalhadores inicia-se com as “Conferências de Berna” ocorridas de 1905 a 1913. Nelas foram fixadas normas sobre jornada de trabalho, horário noturno e medidas de proteção a mulheres e menores. Após o fim da primeira guerra mundial, realiza-se na mesma cidade a “Conferência Sindical Internacional”, aprovando a “Carta do Trabalho” com diretrizes a serem seguidas no Tratado de Paz que seria assinado em 1919, em Versalhes; no capítulo XIII do documento criou-se “Organização Internacional do Trabalho” – “OIT” e foram enumerados os “princípios gerais do trabalho”; dentre eles, a diretiva de que o labor não é mercadoria; o direito de associação; salário condizente; jornada de 8 horas diárias e 48 semanais; descanso semanal de 24 horas; supressão de trabalho a crianças; isonomia salarial; normas de saúde, segurança e proteção ao trabalhador.29 Por fim, chega-se ao Estado Democrático de Direito, o qual deve enfatizar a solidariedade e a igualdade ao lado da liberdade. Nesse modelo, se reconhecem relações de trocas entre iguais - na iniciativa privada – e a necessidade solidária da distribuição de bens por políticas públicas, através das quais é possível promover direitos laborais. Nesse modelo de Estado, convivem relações de justiça distributiva e de justiça comutativa; e o trabalho é um bem comum;30 cada garantia ou direito que dele provém é meio para que se alcance as conquistas modernas, assimilando- as ao desejado modo de vida eleito pelo sujeito autônomo kantiano, personagem da inegável sociedade multicultural que hoje deve permitir “a coexistência de diferentes culturas em um mesmo país, continente ou mesmo na sociedade global”.31 Em nosso sistema jurídico, aos mais importantes direitos dos trabalhadores foi reservada a condição “fundamental”, estando eles listados principalmente nos incisos do artigo 7º da Constituição da República Federativa do Brasil sob o “Título 29 SUSSEKIND, 2000, p. 94-108. 30 BARZOTTO, Luciane Cardoso. Direitos humanos e trabalhadores: atividade normativa da Organização Internacional do Trabalho e os limites do direito internacional do trabalho. Porto alegre: Livraria do Advogado, 2007, p. 139. (As formas de justiça referidas serão examinadas rapidamente no final do capítulo.) 31 OLIVEIRA JÚNIOR, José Alcebíades de. Multiculturalismo: o “olho do furacão” no direito pós- moderno. Revista Direitos Culturais, Santo Ângelo, RS, v.1, n.1, dez. 2006. p. 161-168. Disponível em: <http://srvapp2s.urisan.tche.br/seer/index.php/direitosculturais/article/view/121/102> Acesso em: 30 jan. 2011. É possível falar [de multiculturalismo] sob vários enfoques: libertário, com Robert Nozik e Friedrich Hayek; liberal-contratualista, seguindo-se os passos de John Rawls e Ronald Dworkin; comunitarista de Michael Walzer, Alasdair Mcintyre Michael Sandel e Charles Taylor, para quem o melhor – ou possível – convívio das diferenças multiculturais exige que sejam elas - mais do que toleradas – reconhecidas; e crítico deliberativo, com Jürgen Habermas. 8 II”: “Dos Direitos e Garantias Fundamentais”.32 A generalização de tais conquistas reflete sua pretensão de extensão à totalidade da humanidade. Alguém poderia argumentar que tal visão é utópica. Porém, como bem afirma Costa Douzinas ao tratar dos direitos humanos – ou fundamentais -, representam eles um eterno devir; o horizonte que se afasta a cada passo e, com isso, permite e obriga o continuar da caminhada; “são eles a promessa do ‘ainda não’ [e] seu fim chega quando eles perdem o seu fim utópico”.33 2. Aspectos evolutivos do direito do trabalho no Brasil 2.1 O início da legislação nacional Com suas dimensões continentais e baixa densidade demográfica, o Brasil enfrentou históricos problemas de escassez de mão de obra. Mesmo o tráfico de escravos de grandes dimensões não significou uma grande massa trabalhadora presente no país, pois essa população brasileira que por volta de 1872 somava cerca de 1,5 milhão de trabalhadores, teve “uma taxa de mortalidade bem superior à de natalidade”.34 Ainda no século XIX, levas de imigrantes provindos da Alemanha e da Itália chegaram ao país. Houve ainda migrações internas, das já quase exauridas Minas Gerais para os cafezais de São Paulo, bem como meio milhão de trabalhadores predominantemente nordestinos para a floresta amazônica em função do ciclo da borracha.35 Mesmo com tanta necessidade de trabalho humano, esse não foi devidamente valorizado no país, o que pode ter ocorrido em razão da pouca organização dos trabalhadores e do labor predominantemente rural. Esses fatores eram decorrência de restrições quase absolutas à educação e do isolamento em que viviam as populações no vasto território brasileiro. Tendo em vista o cenário de 32 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm > Acessado em 29 maio 2014: Figuram os direitos dos trabalhadores entre os “direitos sociais” fundamentais, os quais iniciamno artigo 6º da Carta Magna e se estendem até o 11º, tratando inclusive dos direitos sindicais e de greve. 33 DOUZINAS, Costas. O fim dos direitos humanos. Tradutora Luzia Araújo. São Leopoldo: Unisinos, 2009, p. 384. 34 FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. 27. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1998. p. 119. 35 FURTADO, ob, cit., 123-135. 9 cerca de 400 anos de desconsideração pelo trabalho humano: “O fato de maior relevância ocorrido na economia brasileira no último quartel do século XIX foi, sem lugar à dúvida, o aumento da importância relativa do trabalho assalariado.”36 Cabe lembrar que desde 1603 o Brasil esteve sob a égide das “Ordenações Filipinas”, legislação corporificada em Portugal por ordem de Felipe II da Espanha. As ideias quase medievais lá elencadas só começaram a ser superadas em 1879, quando a “Lei da Boa Razão” padronizou os processos e determinou e elucidação do “espírito da lei” como forma de interpretação preferível a qualquer outra inclusive restringindo a influência do direito romano e limitando o direito canônico aos tribunais eclesiásticos. Assim, passaram-se a proclamação da Independência do Brasil, a Constituição Imperial de 1824, a Proclamação da República em 1889 e sua nova ordem constitucional, a partir de 1891.37 De qualquer forma, algumas leis esparsas desse período foram notoriamente relevantes. Durante o período imperial, a Lei n. 13 de 1830 tratava do contrato não verbal de prestação de serviços; a locação de serviços por colonos era regulada pela Lei n. 108 de 1837; por fim, o Decreto 2.827 de 1879 revogou as normas anteriores para normatizar qualquer prestação de serviços, enquanto o Decreto 1.313 de 1881 versava sobre o trabalho de menores. Após a proclamação da República, o Decreto 1.150 tratou do pagamento dos empregados rurais, cuja sindicalização foi regulada pelo Decreto 979 de 1901.38 Não obstante, o país adentrou o século vinte ainda sob a vigência daquelas Ordenações e Lei da Boa Razão.39 É só em 1916, com a promulgação do primeiro “Código Civil Brasileiro” que a legislação pátria alcança uma condição de real independência; o surgimento do direito privado brasileiro é acontecimento de enorme importância na história jurídica nacional - não obstante inegáveis influências lusitanas no texto e a influência de dois fatores conservadores: o poder financeiro rural e os interesses da classe média urbana, o que não permitiu que o Código Civil de 1916 estabelecesse maiores avanços sociais,40 chegando a omitir-se quanto ao acidente do trabalho - lacuna 36 FURTADO, ob, cit., p. 151. 37 GOMES, Orlando. Raízes históricas e sociológicas do Código Civil Brasileiro. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006. (Justiça e Direito), p. 3-8. 38 SOUZA, Marcelo Papaléo. Manual de execução trabalhista: arrematação, adjudicação e remição. São Paulo: LTr, 2005, p. 41. 39 GOMES, 2006, p. 8. 40 GOMES, 2006, p. 24- 34. 10 legislativa que só veio a ser desfeita pela Lei 3.724/19.41 Por outro lado, ao tratar de “locação de serviços”, a lei foi o mais liberal possível, mantendo a primazia da vontade em primeiro plano. De qualquer maneira, quando visto no cenário de sua época, o Código Civil de 1916 aparece como um documento que consolidou as reformas e avanços possíveis, considerando-se a estrutura social notoriamente injusta daquele momento. Como concluiu Orlando Gomes, é possível que ele não pudesse ir mais longe.42 2.2 A “Era Vargas” e a ascensão do direito laboral brasileiro A “questão social” é um problema presente no Brasil desde seus primórdios. Seu tímido enfrentamento não se iniciou com Getúlio Vargas. Leis sindicais, sobre o trabalho avulso, etc. foram sendo criadas progressivamente. Porém, é fato que “só a partir de 1930 que ocorre a aceleração e a sistematicidade das leis trabalhistas, encaradas, desde então, como uma política de Estado”.43 De fato, o ano de 1934 foi decisivo para o direito do trabalho brasileiro. A Constituição promulgada alinhavou pretensões sociais consideráveis, criando a Justiça do Trabalho, o salário mínimo e outras garantias constitucionais, frustrando-se todavia as expectativas de uma ordem social brasileira mais justa – até porque se vivia um momento político contraditório em todo o mundo, marcado por progressos científicos com ascensão de governos autoritários -. Demais disso, uma exagerada “bipolarização ideológica” vivida no Brasil da época culminou em conflitos que criaram o pretexto da “ameaça comunista” para justificar emendas constitucionais repressoras. Assim, já no ano 41 CATHARINO, José Martins. Infortúnio do trabalho: doutrina e legislação: com comentários à Lei 5.316/967. Guanabara: Edições Trabalhistas S/A., 1968, p. 14: Sobre a legislação brasileira sobre a matéria, o autor aponta “três fases bem distintas: a primeira confinada na legislação comum; a segunda, a da legislação do trabalho, iniciada pela Lei n.º 3.724, de 15-1-1919, complementada pelo Decreto n.º 13.498 de 12 de março do mesmo ano; a terceira, com a advento da Lei n.º 5.316”, de 14 de setembro de 1967. 42 GOMES, 2006, p. 32-46. 43 BERCOVICI, Gilberto. Tentativa de instituição da democracia de massas no Brasil: instabilidade constitucional e direitos sociais na Era Vargas (1930-1964). In: SOUZA NETO, Cláudio Pereira; SARMENTO, Daniel. (Coords.). Direitos sociais: fundamentos, judicialização e direitos sociais em espécie. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008. p. 48-49: A maior parte dessa legislação foi editada durante o Governo Provisório. Durante o “Estado Novo” - nos anos quarenta - essas e outras leis foram sistematizadas na “Consolidação das Leis do Trabalho”. 11 seguinte de sua vigência o texto constitucional estava descaracterizado.44 De qualquer forma, permaneceram a Justiça do Trabalho e algumas das mais importantes conquistas. A “Carta de 1937” substituiu a constituição anterior, confirmando direitos laborais nesta listados e fortalecendo o viés autoritário que já se vislumbrava nas leis trabalhistas de então. As fontes para tal rota foram “os princípios basilares do ordenamento sindical corporativo do fascismo [...] definidos na Carta del Lavoro, de abril de 1927”..45 Posteriormente, nasce a “Consolidação das Leis do Trabalho” pelo Decreto Lei 5.452 de 1º/05/1943, documento normativo de notáveis conquistas obreiras, embora tenha lamentavelmente excluído os trabalhadores rurais e domésticos de sua teia protetora. Além disso, porque surgido no difícil período do “Estado Novo”, o decreto teve teor estatizante, atrelando os sindicatos ao poder público e detalhando enormemente as relações de trabalho urbanas, a ponto de inviabilizar a adequação de seus mandamentos às diferentes realidades de nosso país. Não obstante, agora aliados aos “direitos sociais” da Constituição da República de 1988, o texto da consolidação e a justiça do trabalho perfazem ainda hoje os mais importantes vetores da justiça social de nosso país. Após o regime ditatorial do Estado Novo, passa o Brasil por um intervalo democrático no qual se promulga a Constituição de 1946. Boas diretrizes econômico-sociais constavam de seu texto. Foi esse um tempo de inegáveis progressos representativos, com partidos fortes e melhores eleições; mas nem por isso deixou de existir crises graves, como a cassação do registro do Partido Comunista nacional e a vitória de Getúlio Vargas nas urnas e seu posterior suicídio em 1954, o que paradoxalmente estendeu o período democrático por mais dez anos tendo em vista a reação popular ao trágico fato.44 BARROSO, Luís Roberto. O direito constitucional e a efetividade de suas normas: limites e possibilidades da Constituição Brasileira. 8. ed. Rio de janeiro: Renovar, 2006b, p. 20-22. Sobre a “bipolarização ideológica” dos anos 30, o autor realça o embate político entre a “Ação Integralista Brasileira” de Plínio Salgado e a “Aliança Nacional Libertadora”, com intenções anti-imperialistas e antifascistas. 45 GOMES, Orlando. Raízes políticas e ideológicas da CLT. In: ______. Ensaios de direito civil e de direito do trabalho. Rio de Janeiro: Aide, 1986, p. 192-194: Sobre o direito do trabalho implantado entre a revolução de 1930 e a derrocada do Estado Novo em 1945, afirma o autor: “Toda a legislação partejada nesse intermezzo autoritário de quinze anos, interrompido durante pequeno hiato, tem sua fonte no sistema corporativo do regime fascista da Itália, que era rigorosamente totalitário no campo da produção e do trabalho.” Porém, existe hoje um forte movimento revisionista do entendimento a respeito de origens fascistas da Consolidação das Leis do Trabalho, como será examinado logo a seguir. 12 É possível fazer duas leituras sociológicas bem diversas do que representaram os direitos trabalhistas instituídos da “Era Vargas” até o ano de 1964. A interpretação que ainda prevalece é aquela no sentido de que foi um período de clientelismo, “manipulação e cooptação das massas [e] corporativismo estatal”, momento em que um Estado de inspiração fascista interrompeu a luta dos trabalhadores que teve inicio durante a República Velha. Mas vem ganhando força uma visão bastante diferente desse período, a qual leva em consideração o impacto complexo e as inerentes ambiguidades que uma normatização trabalhista daquele porte acarreta nas relações sociais das classes operárias; de acordo com esta visão, há uma atuação pragmática dos trabalhadores visando manter e ampliar as conquistas recentes – rejeita-se a ideia de que teria havido uma mera “outorga” de direitos -, pois se faz em verdade um pacto entre Estado e trabalhadores, fortalecendo a ambos, restando como maior conquista da classe operária o alcance da cidadania através dos direitos sociais; é uma conquista que, em última instância, fortalece a dignidade humana.46 Em 1956, Juscelino Kubitschek foi eleito presidente, trazendo ao Brasil um período de inegável otimismo, desenvolvimentismo e democracia. É simbólico que o momento de abertura política tenha permitido a Gianfrancesco Guarnieri a escrita de “Eles não usam black-tie”, peça que lança um profundo olhar sobre a luta operária no Brasil, em seus maiores e mais íntimos aspectos, obra essa que em 1981 receberia versão cinematográfica de Leon Hirszman.47 2.3 Do período autoritário até a nova ordem constituicional de 1988 O autoritarismo estatal voltou com o golpe militar de 1964. Nesse período, duas Cartas Constitucionais - de 1967 e 1969 - tornaram impossível estabelecer avanços sociais não determinados pelo próprio Estado.48 Foi o tempo de forte 46 BERCOVICI, Gilberto. Tentativa de instituição da democracia de massas no Brasil: instabilidade constitucional e direitos sociais na Era Vargas (1930-1964). In: SOUZA NETO, Cláudio Pereira; SARMENTO, Daniel. (Coords.). Direitos sociais: fundamentos, judicialização e direitos sociais em espécie. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008, p. 50-54. 47 Eles não usam black-tie. Produção e direção de Leon Hirszman. Cor, 35mm, 134min. São Paulo, 1981. DVD. 48 BARROSO, Luís Roberto. A nova interpretação constitucional: ponderação, direitos fundamentais e relações privadas. 2. ed. rev e atual. Rio de Janeiro: Renovar, 2006a, p. 25-40. 13 repressão política e cultural, com censura, prisões, exílios, tortura e autoritarismo. Nesse cenário, pouco espaço havia para protestos, embates políticos ou mesmo para eleições. Não obstante, a maior parte da classe média brasileira apoiava o regime visando evitar o “mal maior comunista”. Também não havia unanimidade crítica do proletariado, pois o inegável progresso econômico tornava possíveis avanços materiais e ingresso no mercado de trabalho. Obras estruturais de grande porte também colaboravam para angariar apoio ao governo vigente. Esse cenário econômico foi abalado pelas duas crises do petróleo dos anos 70 e, no alvorecer dos anos 80, o desgaste político e a astronômica dívida externa acumulada pelo Brasil ensejaram a inevitável derrocada do regime. Após a notável campanha pelas eleições diretas, o povo brasileiro é mais uma vez impedido de exercer seu direito de voto. Não obstante, o “colégio eleitoral” elege Presidente da República Tancredo Neves, um dos maiores nomes da oposição no país. O carismático mineiro vem a falecer ainda antes de tomar posse no cargo, configurando um dos momentos de maior frustração política da história brasileira. O retorno “lento e gradual” do Brasil à democracia culminou com a Constituição de 1988. Aclamada como “Cidadã”, ela representou uma notória reafirmação dos direitos fundamentais e das garantias, conquistas que estão ainda impregnando a jovem consciência participativa do povo brasileiro. Mesmo assim, vícios podem ser apontados no texto: em primeiro lugar, a confusa sistemática de sua criação não evitou um exagero normativo que se perde em detalhes e prolixidades que são totalmente desaconselháveis em um documento de tal abrangência e importância.49 Por outro lado, grupos de pressão que representavam forças conservadoras trabalhavam pela presença de normas que impediriam a efetividade de outras. Com isso, restou inevitável a presença de dicotomias em seu texto. Lembra-se a alcunha de “centrão” ao grupo político que se encarregou de bloquear mudanças relevantes. A Constituição de 1988 representou inegáveis avanços trabalhistas listados principalmente em seu artigo sétimo, como é o caso da isonomia entre empregados urbanos, rurais e avulsos e algumas melhorias nas condições dos domésticos. O 49 HESSE, Konrad. A força normativa da constituição. Tradução de Gilmar Ferreira Mendes. Porto Alegre: Sérgio Antonio Fabris, 1991, p. 21: “Abstraídas as disposições de índole técnico- organizatória, ela [, a Constituição], deve limitar-se, se possível, ao estabelecimento de alguns poucos princípios fundamentais [...]”. O documento não deve conter passagens de exagerado detalhamento, as quais pouco podem adaptar-se às inevitáveis novas realidades. 14 aviso prévio de oito dias quando da despedida imotivada foi acrescido de mais vinte e dois dias. A prescrição - até então bienal - dos direitos trabalhistas foi também majorada para o prazo de um lustro. O Fundo de Garantia por Tempo de Serviço foi estendido a todos os empregados, além de que a “multa” pela despedida imotivada passou a ser de 40%. Também as proteções ao nascituro e ao recém-nascido foram expressivamente melhoradas, uma vez que a empregada gestante passou a contar com garantia de emprego de cinco meses após o parto e com licença previdenciária ampliada de 120 dias. Quanto à licença paternidade, os progressos não foram tão relevantes, passando o pai a contar com a interrupção do contrato de trabalho por cinco poucos dias quando do nascimento de seu filho.50 Por outro lado, a Constituição manteve normas nitidamente corporativas, como a contribuição obrigatória sindical e seu sistema unitário de enquadramento.51 O embate entre o valor da livre iniciativa e o social do trabalho reflete um dos mais paradigmáticos choques ideológicos na Constituição de 1988, sendo que, logo em seu “Art. 1º, IV,” são proclamados como fundamentos da República “osvalores sociais do trabalho e da livre iniciativa”, reunindo-se na mesma norma diretrizes nascidas “em duas fases diversas [da] Teoria Constitucional dos Direitos Fundamentais”.52 Vale aqui lembrar a visão crítica de Eros Roberto Grau: o “valor social do trabalho”, no âmbito de um capitalismo moderno, deve implicar em uma proteção “politicamente racional [do labor, e não] filantrópica”;53 e o princípio da “livre iniciativa” não pode se confundir com liberalismo puro e simples, pois essa implica justamente na observância do valor social do trabalho.54 3. O cenário atual do direito do trabalho 3.1 Pós-modernidade e crise da sociedade do trabalho 50 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. 13. ed. São Paulo: LTr, 2014, p. 128. 51 DELGADO, ob. cit., p. 128-130. 52 BRANCO, Ana Paula Tauceda. A colisão de princípios constitucionais no direito do trabalho. São Paulo: LTr, 2007, p. 72-73. 53 GRAU, Eros Roberto. A ordem econômica na Constituição de 1988: interpretação e crítica. 16. ed. rev.e atual. São Paulo: Malheiros, 2014, p. 196. 54 GRAU, ob. cit., p. 200-205. 15 A força destrutiva e construtiva da modernidade permitiu a consolidação do Estado. Por outro lado, nestes tempos nebulosos, voláteis e efêmeros que perfazem a “pós-modernidade”55 a instituição tem vivido certo descrédito. Nesse cenário mundial de crise,56 a+. condição do estado constitucional estruturado sobre direitos fundamentais tem sido vista com pessimismo. Zygmunt Baumann demonstra como a glorificação do capital e o consumismo desenfreado vão enfraquecendo progressivamente o “Estado de bem-estar social”, estigmatizando os beneficiários da parca previdência oferecida e aprisionando excluídos do mercado.57 A “sociedade do trabalho” se insere nesse cenário de progressivo decréscimo de postos de trabalho somados ao desprestígio cada vez maior do desempregado,58 o que ocorre pela crescente intelectualização do trabalho com redução do labor manual.59 Na verdade, ao se observar a apressada marcha da tecnologia pode-se mesmo afirmar que “a perspectiva de um mundo sem trabalho já não parece tão distante quanto há trinta ou quarenta anos”.60 É até mesmo possível que o andar dos fatos acabe por tornar 55 LYOTARD, Jean-François. O pós-moderno explicado às crianças: correspondência 1982-1985. Tradução de Tereza Coelho. 2. ed. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1993. p. 24: “O que é então o pós-moderno? Que lugar ocupa ou não ocupa no trabalho vertiginoso das questões lançadas às regras da imagem e da narrativa? [...] Uma obra só pode ser moderna se primeiro for pós-moderna. O pós-modernismo, entendido assim, não é o modernismo no seu estado terminal, mas no seu estado nascente, e esse estado é constante.” 56 SEVERO, Valdete Souto. Crise de paradigma no direito do trabalho moderno: a jornada. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 2009, p. 35: Uma crise “se estabelece quando o paradigma, até então satisfatório, passa a não mais exercer sua função pacificadora. Já não serve. Em seu lugar, porém, nada há a ser colocado”, restando necessário a construção de um consenso novo a partir do que já existe e é conhecido. 57 BAUMAN, Zygmunt. O mal-estar da pós-modernidade. Tradução: Mauro Gama, Cláudia Martinelli gama. Revisão técnica: Luís Carlos Fridman. Rio de Janeiro: Zahar, 1998. p. 51. 58 SILVA, Josué Pereira da. Trabalho, cidadania e reconhecimento. São Paulo: Annablume, 2008. p. 20: “Os princípios básicos sobre os quais se fundamenta a noção de sociedade do trabalho podem ser divididos em quatro figuras principais, a saber: a empresa industrial capitalista (cujo paradigma é a fábrica) que, como instituição separada da unidade produtiva familiar, organiza a atividade produtiva de acordo com os critérios de racionalidade econômica; o trabalhador (manual) assalariado, duplamente liberado – dos laços feudais e dos meios de subsistência – para que possa vender livremente sua força de trabalho como mercadoria no mercado. Para que isso seja possível é necessário também a instituição do mercado de trabalho, onde capitalista e trabalhador se encontram para respectivamente comprar e vender a mercadoria força de trabalho; e, finalmente, uma ética do trabalho que justifique como moralmente válidos não apenas a necessidade e o dever de trabalhar, mas toda a teia de relações que compõe esse conjunto de instituições.” A crise desses fundamentos começou a ser diagnosticado há cerca de trinta anos, principalmente por André Gorz, Claus Offe e Ralf Dahrendorf; este último foi o responsável por cunhar a expressão ‘sociedade do trabalho’”. Cf. ob. cit., p. 15. 59 SILVA, ob. cit., p. 31-33. 60 SILVA, ob. cit., p. 27. 16 realidade os sonhos de Paul Lafargue apresentados em seu impressionante manifesto da penúltima década do Século dezenove.61 Ao regular as relações de emprego, o direito laboral e seu processo refletem a crise do mundo laboral, muitas vezes não oferecendo as soluções necessárias para os problemas que enfrenta pois, como bem lembra Ricardo Luis Lorenzetti, “o direito do trabalho, desprendimento da locação de serviços, sempre se ocupou do operário que já tinha emprego: ‘o trabalhador’”.62 São notórias as mudanças que vêm ocorrendo na prestação de serviços, como é o caso do “teletrabalho” hoje regulado pela lei 12.551 de 15 de dezembro de 2011, fenômeno pelo “qual alguém presta serviços por meio das ferramentas de comunicação e informação (notoriamente internet), distante de seu tomador de serviços”, o que pode se dar “em domicílio” - quando prestado na própria residência do trabalhador -; “em centros satélites” - situados em pontos estratégicos abertos aos empregados -; “em telecentros” instrumentalizados com avançados equipamentos de informática e de comunicação; “em ‘telecottages’” - nas áreas rurais ou menos desenvolvidas; “ou de forma móvel”.63 A nota primordial dessa nova modalidade de trabalho “é que se dê em qualquer local fora do espaço tradicional do trabalho”.64 Tais mudanças também podem representar dificuldades para o exame quanto à incidência ou não das normas laborais, visto que as nuances específicas dessas novas formas de prestação de serviços muitas vezes não foram previstas nas leis existentes. Dessa maneira, “alguns dos elementos caracterizadores da relação de emprego [previstos 61 LAFARGUE, Paul. O direito à preguiça. São Paulo: Claridade, 2003. p. 93: “Se, extirpando do seu coração o vício que a domina e avilta a sua natureza, a classe operária se erguesse com a sua força terrível, não para reclamar os Direitos do Homem, que não são senão os direitos da exploração capitalista, não para reclamar o Direito ao Trabalho, que não é senão o direito à miséria, mas para forjar uma lei de bronze que proibisse todos os homens de trabalhar mais de três horas por dia, a Terra, a velha Terra, tremendo de alegria, sentiria nela surgir um novo universo... Mas como pedir a um proletariado corrompido pela moral capitalista uma decisão viril?” 62 LORENZETTI. Ricardo Luis. Teoria da decisão judicial: fundamentos de direito. Tradução de Bruno Miragem; notas de Cláudia Lima Marques. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009, p. 231. Diz-se que essa limitação não é privilégio do direito do trabalho: “É interessante observar que a maioria das instituições jurídicas foi desenhada sem a consideração desse problema [do acesso à justiça]. No direito clássico, a propriedade, o trabalho, o contrato ou a responsabilidade foram instrumentalizados pelos setores sociais com amplo acesso a esses bens. Por essa razão, pensamosno indivíduo ‘já instalado no bem’.” 63 FINCATO, Denise Pires. Teletrabalho: estudos para regulamentação a partir do direito comparado. In: _____. (Org.) Novas tecnologias e relações de trabalho: reflexões. Porto Alegre: Ed. Lex Magister, 2011, p. 14-15. 64 FINCATO, Denise Pires. Teletrabalho: uma análise laboral. In: STÜRMER, Gilberto. (Org.) Questões controvertidas de direito do trabalho e outros estudos. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006, p. 51. 17 no art. 3º da Consolidação das Leis do Trabalho] podem estar, em algumas oportunidades, um tanto tênues, rarefeitos”, o que não afasta o imperativo de que todos os pressupostos legais se façam presentes.65 Esse distanciamento entre as regras de direito laboral e as novas realidades pode tornar pouco satisfatória a resposta jurisdicional: ou critica-se o julgador por exagerado apego ao passado, ou por reputá-lo demasiado progressista. 3.2 Privatização, flexibilização e terceirização Além das mudanças profundas tratadas no item anterior, os três conceitos do título perfazem algumas das mais importantes consequências do momento vivido na sociedade de trabalho. Sobre a primeira delas, diga-se que “privatizar significa reduzir o papel do Estado na economia”.66 São muitos e bem relevantes os efeitos das privatizações na economia do trabalho: empregos são criados e extintos; políticas e ambiente de trabalho se alteram; ocorrem transferências financeiras que enriquecem regiões e empobrecem outras. Isso tem acarretado disputas ideológicas, traumas políticos, progressos inegáveis, consequências indesejadas, etc. Privatizar e estatizar – trazer para âmbito estatal entidades privadas - são sempre frutos de polêmicas justificadas; e por isso deve-se sempre ter cuidado com os procedimentos a respeito. Quanto à flexibilização do direito do trabalho no Brasil, três correntes tratam do tema: há quem a veja com otimismo, como o doutrinador Octávio Bueno Magano e o sociólogo José Pastore; por sua vez, a corrente contrária sustenta que as normas laborais não admitem “reformatio in pejus”, ideia defendida principalmente por Benedito Calheiros Bonfim e Rita de Cássia S. Cortez; por fim existe o “caminho do meio”, sustentando que a supressão total da intervenção estatal seria um equívoco sem ignorar que em nossos dias se observa um inegável declínio do “princípio tuitivo”.67 Para Arnaldo Süssekind, com o objetivo de implantar novas 65 FINCATO, 2006, p. 55. 66 CATHARINO, José Martins. Neoliberalismo e sequela: privatização, desregulação, flexibilização, terceirização. São Paulo: LTr, 1997, p. 32. 67 ROMITA, Arion Sayão. A flexibilização das leis do trabalho em debate: choque de correntes. In: ______. O princípio da proteção em xeque e outros ensaios. São Paulo: LTr, 2003, p. 62-71. Sobre o “princípio da proteção” e as duas outras normas citadas a seguir se tratará na última parte desta introdução. 18 tecnologias ou preservar a empresa e os empregos, a flexibilização permite relativizar a “inderrogabilidade das normas de ordem pública e [a] inalterabilidade in pejus das condições contratuais ajustadas em favor do trabalhador”. Porém, quando tal ocorre deve-se resguardar as mais importantes normas protetoras do empregado pela ação do Poder Público ou por negociação sindical, como se procedeu na Europa dos anos noventa; quando se abre mão dessas intervenções - ou quando essas sucumbem ao poder econômico -, ocorre na verdade “desregulamentação” de direitos, o que traz consequências indesejadas, como aquelas vistas em alguns países asiáticos. Felizmente nossa constituição – marcadamente em seus artigos sétimo e oitavo -, impedem que isso aconteça por aqui.68 Mesmo sendo necessária uma atualização de nossas leis trabalhistas, essa deve ocorrer no âmbito constitucional, legal e da tradição jus laboral brasileira, o que impedirá a mera perda de direitos.69 Por fim, cabe falar a respeito da terceirização. Consequência da globalização econômica, ela se caracteriza por um deslocamento de serviços necessários para fora do âmbito da empresa, dividindo-se etapas da produção industrial; o fenômeno também pode ocorrer trazendo-se empregados alheios para o ambiente da empresa, como costuma ocorrer nos serviços de segurança ou limpeza e outros que não estejam à atividade-fim da empresa – assim entendida aquela que não está diretamente ligada à atividade econômica do empreendimento. A realidade desses fatos é profunda a ponto de ensejar por vezes a “terceirização da terceirização, quando uma empresa terceirizada subcontrata outras”; também ocorre a “quarteirização, com a contratação de uma empresa com função específica de gerir contratos com as terceiras,”; também há novos modelos de contratos de facção e de parcerias.70 Formam-se então “redes de produção”, cujo eficiente funcionamento e proteção de seus participantes dependeria – na visão de muitos - de urgentes alterações do ordenamento jurídico atual.71 68 ROMITA, loc. cit. 69 SÜSSEKIND, Arnaldo. A globalização da economia e o direito do trabalho. Revista LTr, São Paulo, v. 61, n.1, p. 43, jan. 1997. 70 BIAVASCHI, Magda Barros. A terceirização e a justiça do trabalho. Revista do Tribunal Superior do Trabalho, Porto Alegre: Magister, v. 74, n. 4, p. 73, out./dez. 2008. 71 PASTORE, José. Terceirização: uma realidade desamparada da lei. Revista do Tribunal Superior do Trabalho, Porto Alegre: Magister, v. 74, n. 4, p. 123, out./dez. 2008. 19 Esse contexto dialético resume a crise do direito do trabalho: marcantes alterações fáticas convivem com leis adequadas a uma realidade anterior. Tal situação enseja a discussão a respeito da possibilidade de alterar substancialmente textos legais sem perda de direitos. Esse é o grande desafio que vive hoje o ramo jurídico. 4. Características, finalidade e conceituação do direito do trabalho 4.1. Autonomia, divisão tripartite e posicionamento do ramo jurídico O direito se divide em diferentes campos de incidência e estudo. Cada um deles tem certa independência dos outros, não obstante seus inúmeros pontos de confluência e a existência de estruturas essenciais que envolvem a totalidade jurídica. Esse parcelamento ocorre pela natural estruturação que os subsistemas do direito vão demonstrando e aprimorando na medida em que seu alcance e complexidade aumentam. Em certo ponto, surgem em um campo “princípios comuns que lhe dão coesão interna e os diferenciam de outros grupos de normas [, gerando] ramos autônomos do direito [e uma] individualidade comprovada”; essa mesma autonomia acontece no ramo da ciência jurídica que estuda aquela área específica.72 No início do século dezoito - momento ainda marcado pelo positivismo73 e pelo racionalismo74 jurídicos - o direito privado mantinha aspirações de unidade e 72 LATORRE, Angel. Introdução ao direito. Trad. Dr. Manuel de Alarcão. 5. Reimpressão. Ed. Almedina. Coimbra, 2002, p. 207-208. 73 LATORRE, ob. cit., p. 151-154. No “positivismo”, a “análise [do direito] deve limitar-se [a ele próprio,] tal como está ‘estabelecido’ ou dado, e deve abster-se de entrar em valorações éticas ou de ter em conta as implicações das normas nas realidades sociais. O direito entendido como um sistema de normas, e nada mais do que isso, deve ser o tema de seu estudo. É essa a atitude ‘positivista’.” Por limitação de espaço, pede-se vênia para aqui se manter esse conceito nessas poucas palavras, abrindo-se mão de necessários aprofundamentos, de esclarecimentosquanto a suas tantas variações, de mencionar o “pós-positivimo”, etc. 74 WIEACKER, Franz. História do direito privado moderno. Trad. A. M. Botelho Hespanha. 3. ed. Fundação Calouste Gulbenkian. Lisboa, 2004, p. 279-281: Entre o século XVII e o XIX as raízes jusnaturalistas da filosofia jurídica e social da antiguidade foram remoldadas pelo iluminismo. Seus novos termos tiveram influência profunda e “direta sobre a ciência jurídica, a legislação e a jurisprudência da maior parte dos povos da Europa”. Em um contexto de: retorno às ideias clássicas pelo “renascimento” e antropocentrismo humanista na Itália e sul da Europa; reforma luterana da Igreja no norte do continente com verve voluntarista-nominalista; naturalismo e personalismo das artes da época; e, ainda, florescer das modernas ciências da natureza, estava preparado um terreno fértil para nascer então um novo tempo “jusracionalista”, parcela da longa trajetória do direito natural, visto esse como “tradição cultural que se mantém desde os inícios da filosofia helenística até a atualidade, [sempre em busca das] leis imutáveis e válidas em geral da vida comum dos homens, sobretudo dos direitos e deveres dos indivíduos na sociedade”. 20 completude. Porém, as demandas da modernidade tornaram inevitável que se iniciasse certa fragmentação da legislação e o abandono daquelas pretensões unitárias e dogmáticas. A consagração do direito laboral durante a “primeira guerra mundial e no pluralismo político e econômico da democracia de Weimar” teve forte participação nessa nova realidade.75 Com o seu desprendimento definitivo do direito civil, o subsistema “adentra no século XX com sua autonomia e independência plenamente caracterizadas”.76 No dizer de Angel Latorre, surgiu o “jovem e pungente ramo do Direito que é chamado direito do trabalho”, plenamente autônomo em legislação, doutrina e didática.77 Até o surgimento do direito laboral, a celebração dos contratos de trabalho se dava sob plena liberdade, com o suposto exercício da vontade das partes, pois, em plena ascensão do capitalismo, cabia ao direito civil regular as relações entre empregados e empregadores. Porém, era próprio daquele ramo jurídico manter-se distanciado do que contratassem as partes; e hoje soa evidente que - estando o empregado sob as contingências de suas necessidades - pouco sobrava de “autônomo” em sua vontade contratar; restava ele submetido a abusos contratuais e a leis de mercado tortuosas. Assim, nesse cenário em que “o ramo jurídico tinha que acontecer”, nasce o ramo laboral como “o primeiro dos direitos sociais a emergir”.78 Então, fazendo valer o pressuposto de que a pessoa humana portadora de “dignidade” está “está acima de todo preço”,79 o novel ramo do direito vem oportunizar sua proteção no âmbito do trabalho. Os campos jurídicos autônomos podem ser classificados e agrupados de diferentes maneiras, sendo a mais primordial aquela que os separa em direito “público” ou “privado”. “Grosso modo”, o primeiro se caracteriza “por existir nele um exercício do poder do Estado” por “imperium”, enquanto “o direito privado é aquele que regula as relações entre particulares”.80 Embora hoje seja pacífico que não há diferença radical ou clara entre ambos, pois os dois “envolvem princípios e critérios 75 WIEACKER, ob. cit., p. 628. 76 ARAÚJO, Francisco Rossal de. A boa-fé no contrato de emprego. São Paulo. Editora LTr, 1996, p. 66. 77 LATORRE, ob. cit., p. 243. 78 MARTINEZ, ob. cit., p. 58. 79 KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. Lisboa: Edições 70, 2005b, p. 77: “No reino dos fins, tudo tem ou um preço ou uma dignidade. Quando uma coisa tem um preço, pode-se pôr em vez dela qualquer outra como ‘equivalente’; mas quando uma coisa está acima de todo preço, e portanto não permite equivalente, então tem ela dignidade.” 80 LATORRE, ob. cit., p. 208-9. 21 que se encontram combinados”,81 é fato que o direito do trabalho revela enormes dificuldades para ser catalogado em um deles, pois o ramo jurídico trata de pelo menos três questões primordiais: I. Relações de emprego individuais, entre trabalhadores e empregadores; II. Relações entre sindicatos de empresas e sindicatos de trabalhadores entre si; III. Por fim, o direito laboral também envolve a regulação das “condições de trabalho em sentido amplo”, abrangendo normas de saúde e segurança do meio ambiente laboral. Isso perfaz uma tripla atuação que configura o que Maria do Rosário Paula Ramalho chama “definição tripartida do direito laboral”. Cada uma dessas subdivisões é cada vez mais um núcleo jurídico autônomo, o que causa sérias dificuldades para situar o ramo laboral entre os dois grandes setores do direito, pois cada um de seus três subcampos se encaixaria melhor no direito público, privado ou em um misto de ambos.82 Assim, o “direito individual do trabalho [,] porque envolvendo duas entidades privadas na prossecução de interesses particulares, é qualificado como um conjunto de normas de direito privado”, não obstante sua imperatividade normativa.83 Por sua vez, o “direito das condições do trabalho [é considerado] de natureza pública”, por envolver matéria de segurança, saúde, higiene e prevenção e reparação de riscos sociais.84 Finalmente, ao “direito coletivo do trabalho” atribui-se normalmente “natureza híbrida, por combinar normas que prosseguem interesses privados com normas que visam interesses públicos e situações jurídicas complexas entre particulares [e] Estado”.85 Por essa realidade “tripartite” e outros fatores já foi dito que o “direito privado do trabalho” tem “feição publicística”,86 pois, “tomado globalmente, [...] não se deixa conter em nenhuma das parcelas desta ‘summa divisio’ [privada ou pública]”.87 4.2 Os principais objetos de cada um dos três campos do direito do trabalho 81 LATORRE, ob. cit., p. 210. 82 RAMALHO, Maria do Rosário Paula. Da autonomia dogmática do direito do trabalho. Coimbra. Ed. Almedina, 2000, p. 50. 83 RAMALHO, ob. cit., p. 51. 84 RAMALHO, ob. cit., p. 52. 85 RAMALHO, ob. cit., p. 53 86 DONATI, Benevenuto. Fondazione della Scienza del Diritto, Padova, 1929, p. 217 apud LIMA, Ruy Cirne. Preparação à dogmática jurídica. 2. ed. Porto Alegre: Livraria Sulina, 1958, p. 41. 87 RAMALHO, p. 54. 22 O homem está na sociedade submetido a normas jurídicas ao mesmo tempo em que está autorizado a agir exercendo direitos subjetivos que comportam um sujeito, um objeto e o liame entre eles, ligação esta que é chamada “relação jurídica”, a qual pode ser “real” – quando entre um sujeito e uma coisa - ou “pessoal” - quando há uma obrigação envolvida entre dois sujeitos -. Nesses termos, dentre as “relações jurídicas” de caráter “pessoal” existem aquelas que têm o trabalho humano como obrigação essencial, gênero que a boa técnica jurídica chama “relação de trabalho” e abarcam o labor de diferentes espécies, como o autônomo, por empreitada, subordinado, etc. Cada uma dessas relações de trabalho tem características essenciais próprias.88 Dentre essas várias espécies prestação de serviços, o direito individual do trabalho geralmente se ocupa de uma delas: a “relação de emprego”,89 cujos elementos fático-jurídicos transparecem dos artigos segundo e terceiro da Consolidação das Leis do Trabalho, os quais cabe transcrever:90 Art. 2º - Considera-se empregador a empresa, individual ou coletiva, que, assumindo os riscos da atividade econômica, admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de serviço. [...] Art. 3º - Considera-se empregadotoda pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário. Nesses termos: I. Importa que o empregado seja “pessoa física” e que trabalhe “pessoalmente” – ou “intuito persone” -; II. O labor em questão “não [pode ser] eventual”, deve ser “oneroso” - “assalariado” - e “dirigido” pelo tomador de serviços, o que caracteriza o labor “subordinado”, típico da relação empregatícia. Além disso, o vínculo relacional entre empregado e empregador é “bilateral”, “sinalagmático” e “comutativo”, pois tem como pressuposto a equivalência de deveres e direitos entre seus polos, um se obrigando em relação ao outro.91 88 RUSSOMANO, Mozart Victor. Curso de direito do trabalho. 9. ed. rev. e atual. Curitiba. Ed. Juruá, 2012, p. 67-9. 89 RUSSOMANO, p. 69: “A) A relação de trabalho e a relação de emprego [...] são relações jurídicas; B) A relação de emprego [...] constitui modalidade especial da relação de trabalho, que foi, em sua origem, uma relação de direito real, sendo, hoje, uma relação de direito pessoal”. Diga-se que o autor menciona a “relação de trabalho” ter sido um dia “de direito real” porque o escravo era “considerado ‘coisa’ para todos os fins de direito”. 90 BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm > Acessado em 30 maio 2014. 91 MARTINEZ, ob. cit., p. 144-151. 23 Dentre todas as características do emprego, a “subordinação” é o elemento mais determinante para caracteriza-lo, pois reflete o poder de direção empresarial sobre o modo de realização do trabalho que emerge do contrato. O artigo terceiro em comento se refere a uma limitação à autonomia da vontade do empregado embasada na hierarquia empresarial. Assim, o trabalhador se submete à organização e gerência do empreendimento que determina - por exemplo - quando, como e por quem os serviços devem ser prestados. Nessa realidade está contido o clássico poder diretivo empresarial que coloca o empregado “sob [sua] dependência”. Pode se falar hoje em “subordinação estrutural” ou “objetiva”, a qual ocorre em situações de terceirização e em empresas que trabalham em rede; nesse caso, mesmo sem ordens diretas do principal tomador de serviços o trabalho pode ser subordinado pela sua integração à “dinâmica estrutural de funcionamento do tomador de serviços”.92 Também é discutida hoje a necessidade ou não de ampliar ou modificar o campo de atuação do direito laboral, com eventual abarcamento de outras formas de prestação de serviços com subordinação difusa ou de menor dimensão, como nos casos trabalho “parassubordinado”.93 “No mundo do trabalho pós-industrial, que se notabiliza cada vez mais pela diversificação e complexificação das relações de trabalho, essas limitações recém-descritas tornam-se cada vez mais problemáticas.”94 Inclusive, o próprio termo “hipossuficiência” do empregado tem sido questionado, pois a palavra tem como principal enfoque a “desigualdade ‘econômica’ existente entre o trabalhador e seu empregador”,95 deixando de envolver o “conjunto de vulnerabilidades [dos planos] negocial, hierárquico, econômico, técnico, social e informativo”. Por isso, passou-se a sugerir a substituição do termo pelo vocábulo “vulnerabilidade”, o qual é mais amplo e adequado à realidade de nossa sociedade do trabalho.96 92 MARTINEZ, ob. cit., p. 147-150. 93 MARTINEZ, ob. cit., p. 149. Em certas circunstâncias, “no lugar da subordinação jurídica típica passou a existir uma situação de parassubordinação, na qual, embora presente, o poder diretivo do empregador foi mitigado. [Isso ocorre] em relações pessoais de colaboração continuada e coordenada, em que a direção dos serviços está presente de modo difuso e pontual.” 94 DORNELES, Leandro do Amaral D. de. Hipossuficiência e vulnerabilidade na teoria geral do direito do trabalho contemporâneo. In: Temas de direito e processo do trabalho. Vol II - teoria geral do direito do trabalho: estudos em homenagem a Carmen Camino. Organizadores: Cinthia Machado de Oliveira; _____ . Ed. Verbo Jurídico. Porto Alegre, 2013, p. 66. 95 DORNELES, 2013, p. 67. 96 DORNELES, 2013, p. 71. 24 Por sua vez, o que marca o “direito das condições do trabalho” é a luta pelo melhor ambiente laboral, prezando-se a segurança, a saúde e a higiene com vistas à prevenção e a reparação de riscos sociais. Particularmente nesse momento em que a preservação ambiental passa a ser vista como essencial para a humanidade e suas vindouras gerações, “o estudo do meio ambiente do trabalho [transcende a mera] revisão” das normas de “segurança e medicina” laboral listadas no capítulo quinto das leis trabalhistas consolidadas,97 pressupondo um trabalho “decente, verde e sustentável [...] permeado numa ética dos deveres e pelo espírito de fraternidade”.98 Finalmente, o direito coletivo também tem como fim último a “melhoria das condições de pactuação da força de trabalho na ordem socioeconômica”; porém, “através de efetiva transação coletiva, em que se concedem, reciprocamente, vantagens às partes coletivamente representadas”.99 Em outras palavras, negociações coletivas ocorrem entre iguais, com consequente maior liberdade contratual, como demonstra por exemplo o artigo sétimo, inciso seis da Constituição da República, o qual permite redução salarial através de “convenção ou acordo coletivo”. Cabe ressaltar a profunda diferença entre o direito laboral individual e o coletivo. O primeiro é marcado pela “subordinação”, o que enseja uma relação de “justiça distributiva” para a construção de igualdade material entre diferentes; por sua vez, as relações de direito coletivo entre sindicatos estão submetidas à “justiça comutativa”, “própria das relações de coordenação” entre polos de força equivalente.100 Essa diferença ficará mais clara logo à frente, quando se tratará do “princípio da proteção” que atua no direito individual do trabalho. 4.3 Finalidade e conceito do direito do trabalho 97 BARZOTTO, Luciane Cardos. O princípio da fraternidade e os princípios do meio ambiente do trabalho. In: Temas de direito e processo do trabalho. Vol II - teoria geral do direito do trabalho: estudos em homenagem a Carmen Camino. Organizadores: Cinthia Machado de Oliveira; _____ . Ed. Verbo Jurídico. Porto Alegre, 2013, p. 230. 98 BARZOTTO, ob. cit., p.233: “Decente, porque permite a promoção da dignidade do trabalhador. Verde, porque se realiza preservando e restaurando o equilíbrio entre o homem e a natureza. Sustentável, porque gera condições sociais e ambientais da própria continuidade em benefício das presentes e futuras gerações.” 99 DELGADO, ob. cit., p. 1355-6. 100 RADBRUCH, Gustav. Filosofia do direito. Tradução e prefácios: L. Cabral de Moncada. 6. ed. rev. Coimbra: Sucessor Coimbra, 1997, p. 89. 25 Há um forte pressuposto moral no direito do trabalho. Ele diferencia o labor humano de mercadoria, reputando-o digno e inato à pessoa. Por isso ainda se costuma considerar seu objetivo primevo a proteção ao trabalhador contra os riscos da liberdade desmedida no contrato. A esse respeito, Jean-Emmanuel Ray se remete às belas palavras de Henri Dominique Lacordaire: “Entre o forte e o fraco, é a liberdade que oprime e a lei que liberta”, o que explicita a oposição das leis trabalhistas ao liberalismo desmedido. Assim é porque são evidentes as diferenças de condições entre empregado e empregador, o que ensejou a construção de “uma força deinterposição” entre o trabalhador e “a dura lei do mercado”.101 Essa é a marcante diferença entre o ramo direito individual do trabalho e o ramo civil que o originou: o objetivo do subsistema trabalhista é equilibrar o capital e a força de trabalho, fazendo-o através de um feixe de princípios próprios.102 O assunto nos remete à obra paradigmática de Américo Plá Rodriguez, o estruturador da principiologia do direito do laboral na América Latina: em primeiro lugar, o ramo jurídico pressupõe a “irrenunciabilidade” dos direitos do trabalhador, formados primordialmente por normas imperativas; também o “princípio da continuidade” marca o direito laboral, presumindo-se sempre que o contrato é celebrado por tempo indeterminado; há ainda a “primazia da realidade sobre a forma” que perpassa as relações de emprego. Além desses três princípios, o mestre uruguaio trata ainda da “razoabilidade” e da “boa-fé”, normas que hoje costumam ser vistas como características de todo o direito.103 Não obstante a relevância dos princípios citados, para Américo Plá Rodrigues e para a maioria dos doutrinadores, o essencial do direito individual do trabalho ainda é a primeira norma apontada na obra: o “princípio da proteção”, que se manifesta em três dimensões: escolhendo-se sempre aquela interpretação normativa que mais favoreça ao trabalhador – o chamado “in dubio, pro operario” -; aplicando-se a “norma mais favorável” ao obreiro quando existir mais de uma cabível ao caso; e evitando-se a aplicação de eventual norma nova que venha piorar a situação laboral – a “condição mais benéfica” -.104 Esta última faceta protetiva pode 101 RAY, Jean-Emmanuel. Aborder le droit du travail. Paris: Seuil, 1998, p. 4-5. 102 FELICIANO, Guilherme Guimarães. Dos princípios do direito do trabalho no mundo contemporâneo. Jus Navigandi, Teresina, v. 11, n. 916, jan. 2006. Disponível em: < http://jus.com.br/revista/texto/7795 >. Acessado em: 28 maio 2014. 103 PLÁ RODRIGUEZ, Américo. Princípios de direito do trabalho. Tradução de Wagner Giglio. São Paulo: LTr, Edição da Universidade de São Paulo, 1978. Passim. 104 PLÁ RODRIGUEZ, ob. cit.. p. 42-43. 26 hoje ser inserida no contexto do “’princípio da proibição de retrocesso social’, [que] veda ao legislador subtrair da norma constitucional definidora de direitos sociais o grau de concretização já alcançado.”105 Importa ressaltar que muitos são os que dizem que a proteção que emana do princípio atua para além dos três planos referidos pelo mestre uruguaio, chegando a impregnar todo o ramo jurídico individual do trabalho.106 Ainda sobre a proteção ao trabalhador, cabe aqui lembrar que a igualdade material consagrada no artigo quinto da Constituição da República refere que “todos são iguais perante a lei”, tratando primeiramente da dimensão "formal” da isonomia, a qual exige a incidência normativa para a totalidade dos cidadãos e de maneira uniforme; por outro lado, a norma também veta distinções “de qualquer natureza”, resguardando o viés “material” da isonomia que impede a criação de leis que contenham em si discriminações arbitrárias.107 O direito individual do trabalho busca essa isonomia efetiva referida em segundo lugar, reconhecendo diferenças e protegendo o mais fraco.108 Tanto é assim que, por desnecessário, não vigora o princípio da proteção no âmbito do direito coletivo do trabalho,109 onde se estabelecem relações de “justiça comutativa” entre entidades coletivas de força equivalente, sejam elas de patrões ou de trabalhadores.110 Não são poucas as críticas direcionadas ao princípio tutelar. A primeira e mais severa delas foi proferida por Karl Marx, reputando o direito do trabalho e sua proteção característica mera “concessão da burguesia industrial ao operariado [que] institucionaliza a dominação de classe” e, por consequência, a mantém.111 Mesmo em nossa realidade capitalista, cabe lembrar que Plá Rodrigues escreveu “no segundo lustro da década de setenta [, o que] provoca a reflexão sobre a atualidade 105 DERBLI, Felipe. A aplicabilidade do princípio da proibição de retrocesso social no direito brasileiro. In: SOUZA NETO, Cláudio Pereira ; SARMENTO, Daniel (Orgs.). Direitos sociais: fundamentos, judicialização e direitos sociais em espécie. Rio de Janeiro: Lumen Júris, 2008. p. 367. “Haverá retrocesso social quando o legislador, comissiva e arbitrariamente, retornar a um estado correlato a uma primitiva omissão inconstitucional ou reduzir o grau de concretização de uma norma definidora de direito social.” 106 DELGADO, ob. cit., 197. 107 BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. O conteúdo jurídico do princípio da igualdade. 3. ed. atual. 17ª tiragem. São Paulo: Malheiros, 2009, p. 17. (Cf. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm > Acessado em 29 maio 2014.) 108 MARTÍNEZ,ob. cit., p. 122. 109 ROMITA, Arion Sayão. _____. O princípio da proteção em xeque. In: ______. O princípio da proteção em xeque e outros ensaios. São Paulo: LTr, 2003, p. 24. 110 DELGADO, ob. cit., p. 1352. 111 ROMITA, ob. cit., p. 30. 27 de tais princípios”. Além disso, é de se perguntar se, em vista de suas características autopoiéticas, o sistema jurídico gerou outros princípios do direito laboral que não poderiam ser examinados àquela época pelo autor uruguaio.112 Frente a essas e outras realidades existe o entendimento defendido por doutrinadores como Arion Sayão Romita, o qual considera que o verdadeiro papel do ramo jurídico é “regular as relações de emprego”; e não proteger o empregado, pois a bilateralidade e o caráter sinalagmático do contrato de trabalho implicam em “igual dose de proteção concedida ao empregador”, o qual pode, por exemplo, proteger-se despedindo o empregado por falta grave.113 Com teores de conclusão, espera-se desta introdução ao ramo jurídico que o leitor tenha internalizado intuitivamente114 o seu conceito115 de direito do trabalho, com suas nuances, complexidades e fragilidades próprias. Não obstante, a ideia gerada não deve ser tão diferente daquela proposta por Sérgio Pinto Martins:116 Direito do trabalho é o conjunto de princípios, regras e instituições atinentes à relação de trabalho subordinado e situações análogas, visando assegurar melhores condições de trabalho e sociais ao trabalhador, de acordo com as medidas de proteção que lhe são destinadas. BIBLIOGRAFIA ALEMÃO, Ivan. O direito ao trabalho na história e na Constituição Federal de 1988. In: SOUZA NETO, Cláudio Pereira de; SARMENTO, Daniel (Coords.) Direitos 112 FELICIANO, ob. cit.: (“Ser autopoiético significa que o sistema social está inserido em uma grande rede (teia) de processos, nos quais a função de cada componente participa da produção ou da transformação de outros componentes da rede. Desse modo, toda a rede se autoproduz constantemente.” Cf. DORNELES, Leandro do Amaral D. de. A transformação do direito do trabalho: da lógica da preservação à lógica da flexibilidade. São Paulo. LTr, 2002, p. 53). 113 ROMITA, ob. cit, p. 23. 114 JAPIASSÚ, Hilton e MARCONDES, Danilo. Dicionário básico de filosofia. 4. ed. atual. Rio de Janeiro. Editora Zahar, 2006, p. 50: “conceito (lat. conceptum: pensamento, ideia) 1. Em seu sentido geral,o conceito é uma noção abstrata ou ideia geral, designando sejam um objeto suposto único (ex.: o conceito de Deus), seja uma classe e objetos (ex.: o conceito de cão). Do ponto de visto lógico, o conceito é caracterizado
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