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Petição Inicial A petição inicial é o instrumento da demanda. É um documento que o ato jurídico demanda, que é a provocação do Poder Judiciário. A petição inicial tem alguns requisitos: 1) Forma escrita (regra). Há casos de demanda oral, como acontece nos JEC´s, na Justiça do Trabalho, em Ação de Alimentos e o pedido da mulher que se alega vítima de violência doméstica (realizada oralmente perante o delegado de polícia). 2) Assinatura de quem tenha capacidade postulatória (em regra advogado, defensor publicou ou membro do MP). Há exceções, nos casos em que leigos tem capacidade postulatória. 3) Endereçamento. A petição inicial tem que ser endereçada ao juízo competente. Aqui vão algumas dicas: nesse momento é o que se aplica tudo o que se aprendeu sobre competência; respeito a terminologia. Juiz Federal é Juiz Federal. Juiz Estadual é Juiz de Direito. O Juiz Federal está em uma Seção Judiciária ou Subseção Judiciária. Juiz Estadual está na Comarca ou Distrito. Pode ser que a causa seja de competência de Tribunal, que é chamado de “Egrégio”. As Câmaras e Turmas também são chamadas de “Egrégios”. Agora se for ao STF, ele gosta de ser chamado de “Excelso”. 4) Qualificação das partes (nome completo, estado civil, nacionalidade, endereço e profissão). O CNJ baixou uma resolução dizendo que na qualificação tem que constar o número de CPF, para evitar problema com homônimo e para evitar também que o sujeito proponha várias ações para escolher o juízo que ele quer, mudando uma letra do nome (e depois corrige). Se for pessoa jurídica, qualifica o tipo de pessoa jurídica e o CNPJ. Usa-se na qualificação a expressão situado “na rua...” e não “à rua...”. Quando for nascituro usa-se: “nascituro de Fulana de Tal...”. Quando o incapaz é autor, é ele que vai demandar – “Joãozinho, menor, neste ato representado por sua mãe ou pai...”. O estado de “união estável” tem que ser declarado. E quanto ao réu? Se o autor tiver todas as informações tudo bem. Mas se não usa-se as seguintes expressões: “estado civil ignorado; nome ignorado”. Mas tem que haver a identificação do réu. No caso da consignação em pagamento por exemplo: “devo a alguém...”. Se o réu é incerto ou mora em local desconhecido, tem que haver citação por edital, e manter a coerência da ação com a citação. Nos casos em que o réu é uma multidão. Por exemplo, o MST invade um imóvel. São seiscentos integrantes. Como se qualifica todos? Muito trabalhoso. Então, a jurisprudência permite que sejam identificados alguns, seguindo-se a expressão “e todos os outros estão ocupando a propriedade...”. 5) Causa de Pedir: na falta desta a petição é inepta. 6) Pedido: será estudado na próxima aula. 7) Requerimento de citação: o autor tem que requerer a citação do réu, para ter ciência e se quiser responder. Será feita por correio, mandado ou edital. 8) Requerimento de produção de provas: o autor tem que indicar as provas com as quais pretende provar o que alega e requerer a produção destas provas. Cuidado: em mandado de segurança por exemplo, só cabe prova documental. Não se requere os outros meios. 9) A petição inicial deve vir acompanhada dos documentos indispensáveis para a propositura da ação. Ou é o documento que a Lei exige seja juntado, como é o caso do título executivo na execução, ou o documento é indispensável por que o autor faz referência a ele na petição inicial. 10) Atribuição de valor a causa: em toda demanda tem que se atribuir um valor (em reais – R$), se exceção. Terá que sempre ser um valor certo. Dica: quem atribui valor a causa é o autor, não tendo sentido usar o famoso “dá-se a causa o valor de tanto...”. Usa-se a expressão “dá a causa o valor de tanto...”. Se for litisconsórcio ativo – “dão a causa o valor de tanto...”. A Lei indica como calcular o valor da causa, critérios legais para o valor da causa, previsto no art. 259/CPC. Agora se a causa não se encaixa no art. 259/CPC, cabe ao autor arbitrar o valor da causa, de acordo com o que ele quiser ou achar justo. O equívoco na fixação do valor da causa, que pode ser tanto o desrespeito ao art. 259/CPC, como um arbitramento irrazoável do valor da causa, esse equivoco pode ser controlado de ofício pelo Juiz ou o réu pode impugnar o valor da causa. Se o réu impugnar o valor da causa, ele dará inicio ao incidente processual, que será resolvido por decisão interlocutória. O valor da causa tem várias funções. Ele tem fins tributários, mas também tem fins de estabelecer competência, tipos de procedimento, base de cálculo para multas processuais. Já que o valor da causa tem várias funções, jamais colocar na petição “valor da causa para fins meramente fiscais”. Emenda da Petição Inicial É um conserto da petição inicial. Se ela possui algum defeito, ela tem que ser emendada. Existe um direito à emenda, ou seja, o juiz não pode indeferir a petição inicial sem que antes determine a emenda da petição inicial para que seja corrigido o defeito. A emenda devera ser feita em dez dias. Isso está regulado no art. 284/CPC. Alteração da petição inicial É trocar um dos seus elementos. É possível, por exemplo, trocar o elemento subjetivo da petição até o momento da petição. Já a troca do pedido ou da causa de pedir, que é uma alteração objetiva da petição inicial, é regulada de maneira mais complexa. Veja o seguinte esquema: |--------------------------|-------------------------------|-------------------------------| Citação Saneamento Após o saneamento, não é possível que seja trocado o pedido ou a causa de pedir. Até a citação é possível a alteração do pedido e da causa de pedir. Já entre a citação e o saneamento, é possível a alteração do pedido ou causa de pedir, desde que o réu consinta. É um procedimento rigoroso, que na verdade, deveria ser mais simples, que está regulado no art. 264/CPC. Aditamento da petição inicial Aditar a petição inicial é ampliá-la, acrescentando pedido novo. Perceba que não há alteração, mas sim ampliação. Esta ampliação pode ser feita até o momento da citação. É também um sistema muito rigoroso, regulado no art. 294/CPC. Redução da Petição inicial É tirar alguma coisa da petição inicial. É eliminar um pedido ou uma parcela dele. Não existe um artigo sequer que cuida da redução. A redução pode se dar de várias maneiras, cada uma delas reguladas por seu dispositivo. São os modos de redução da petição inicial: - Desistência parcial; - Renúncia parcial; - Acordo parcial; Agora, o mais complicado disso tudo é o indeferimento da petição inicial. Indeferimento da petição inicial Indeferir a petição inicial é rejeitá-la liminarmente. É não permitir que o réu sequer seja citado. O indeferimento da petição inicial se caracteriza de ser uma decisão que se dá antes de ouvido o réu. Mas se o juiz sem analisar a petição inicial ouve o réu. O réu em sua defesa, pode argumentar tese que levaria ao indeferimento da petição inicial. Se o juiz acolher o que o réu alegou em sua defesa, ele não indeferirá a petição inicial. O processo será sim extinto por qualquer outro motivo. O indeferimento é extinção do processo é uma decisão peculiar, antes da ouvida do réu, sempre no inicio do processo, sempre liminar. O indeferimento é uma decisão que se submete a regime jurídico próprio. Por exemplo, no indeferimento não há condenação de honorários, até porque o réu não foi citado, não tendo advogado para ser ressarcido. O indeferimento é sempre uma decisão favorável ao réu. Se o juiz extingue o processo por indeferimento, caberá apelação. Essa apelação contra sentença queindefere petição inicial, ela tem o regime diferente, porque ela permite o juízo de retratação. Se o juiz não se retratar a apelação irá ao tribunal sem contra razões, não sendo o réu ouvido. É claro que se por qualquer motivo o tribunal der provimento à apelação, os autos irão descer e o réu será ouvido, tendo direito a ampla defesa, podendo alegar o que quiser não havendo preclusão para ele. Tudo isso está no art. 296/CPC. O indeferimento da petição inicial pode ser total ou parcial. Será total se o juiz indefere toda petição inicial, extinguindo o processo. Será parcial se o juiz indefere apenas parte da petição inicial, não extinguindo o processo porque, o processo terá que prosseguir em relação à parcela que foi deferida. Se o juiz indefere parcialmente a petição inicial, caberá agravo de instrumento e não apelação. O indeferimento da petição inicial é espécie de decisão que pode ser de mérito ou não. Existe indeferimento da petição inicial em que o mérito é analisado. O juiz indefere a petição inicial já julgando improcedente o pedido. O indeferimento da petição inicial com o exame do mérito é uma improcedência liminar. Logo no início do processo o juiz já chega a conclusão de que o pedido é improcedente. É claro, que a regra é o indeferimento da petição inicial sem o exame do mérito. Os casos de indeferimento com exame de mérito são chamados de “Improcedência Prima Facie”. Trata-se de uma decisão de mérito, apta a coisa julgada material. Há dois exemplo deste tipo de improcedência: - Improcedência Prima Face em razão de prescrição e decadência. O juiz reconhece a prescrição ou decadência e extingue o processo com exame do mérito sem sequer citar o réu. Para que isso ocorra, é preciso que o juiz possa de ofício conhecer da prescrição e decadência. No caso da decadência, o juiz só pode conhecer de ofício se tratar-se de decadência legal, prevista em lei. Se a decadência for convencional, ou seja, prevista em contrato, o juiz não pode conhecer de ofício, podendo reconhecer somente se o réu alegar. No caso da prescrição, historicamente o juiz não podia conhecer de ofício a prescrição, sendo a prescrição tema do devedor, tendo ele que alegar. Vem o código civil de 1.916 e diz que o juiz poderia de ofício conhecer da prescrição de direitos não patrimoniais. Esta regra foi repetida no Código de Processo Civil de 1.973. O que acontece é que a jurisprudência não conseguia aplicar este dispositivo, sendo ignorado por uma razão, porque não havia caso de prescrição de direitos não patrimoniais. Rigorosamente, na prática, não se falava de prescrição de direito não patrimonial. Vem o Código Civil de 2.002 e muda o sistema, dizendo o seguinte: “que o juiz pode conhecer de ofício de prescrição que favoreça absolutamente incapaz”. Agora não se trata mais de direito não patrimonial. Aí passa a existir um caso de indeferimento da petição inicial por prescrição (favorável a absolutamente incapaz). Em 2.006, vem uma lei que revogou este trecho do Código Civil (art. 194), revogou este trecho do Código de Processo Civil de 1.973 (art. 219, §5°) e reescreveu o parágrafo quinto para dizer o seguinte: “que o juiz pode conhecer de ofício qualquer tipo de prescrição”. Então do ponto de vista literal, o indeferimento da petição inicial cabe sempre. Essa regra nova não tem precedente no mundo, é um pouco complicada, pois, desestrutura o sistema de direito privado, que é o sistema em que a prescrição é direito do devedor, tanto que este pode renunciar a prescrição, podendo esta renúncia ser tácita. Assim, o juiz do trabalho pode conhecer de ofício prescrição contra o trabalhador? Consumidor? Índio? Idoso? R: na Justiça do Trabalho já disse que não. Do ponto de vista do direito positivo brasileiro, cabe indeferimento da petição inicial em qualquer caso. 267/CPC 295/CPC 269/CPC I – diz que o indeferimento da IV – diz que cabe o indeferimento da IV – diz que prescrição e decadência geram petição inicial é sem o exame de mérito. petição inicial por prescrição e decadência. extinção com exame do mérito. O indeferimento da petição inicial por prescrição e decadência é um indeferimento com exame de mérito, sendo uma combinação do art. 295, IV com o art. 269 IV. Se o réu não é citado, como ele vai saber que ganhou a ação no mérito? R: aplica-se aqui o §6° do art. 219/CPC, que diz: “passada em julgado a sentença, a que se refere o parágrafo anterior, o escrivão comunicará o réu o resultado do julgado”. Segundo exemplo de improcedência prima face – atualmente há uma tendência de dar um tratamento diferenciado as chamadas “Causas Repetitivas”. O legislador vem tentando dar soluções as causas repetitivas. Uma destas soluções é o art. 285-A, que permite que o juiz julgue improcedente uma causa repetitiva que lhe foi novamente submetida. Se o caso for uma tese repetidamente julgada pelo juiz, e se já há um certo entendimento sobre aquela tese, e o entendimento é pela improcedência, o juiz já pode pegar aquele caso, usar sua sentença modelo de improcedência e aplicar. Para isso é preciso que se trate de uma causa que dispensa produção de provas em audiência. Causa repetitiva que pode ser julgada improcedente liminarmente, é causa que dispensa a produção de provas em audiência. O legislador criou uma válvula de escape muito inteligente. O juiz só vai poder aplicar o art. 285-A se houver um entendimento dos tribunais sobre aquele assunto. Se o juiz aplicar este dispositivo contra a orientação dos Tribunais, ao invés de colaborar, estará tumultuando. Esse caso de improcedência Prima Face tem uma grande peculiaridade. Se o juiz indefere com base nele caberá apelação, apelação esta que permite retratação. Mas se o juiz não se retratar diante apelação do autor, a apelação sobe ao Tribunal com contra razões. O réu será ouvido para contra razoar o recurso. Essas contra razões terão a natureza de defesa. É por isso que o Tribunal inclusive dar provimento à apelação e julgar procedente o pedido, já que aí o réu foi ouvido, a matéria é unicamente de direito, não há que se fazer mais nada, o juiz já a julga. Esse regramento pode ser aplicado nos casos de prescrição e decadência? R: sim, utilizando-se a analogia. Como terá que ser por analogia também, uma interpretação de que o §6° do art. 219 se aplica também ao art. 285-A e que a exigência de contra razões se aplica aos casos de prescrição e decadência. A OAB entrou com uma ADI contra este dispositivo, art. 285-A, com argumento de que tal dispositivo é inconstitucional, ferindo o princípio do contraditório. É muito difícil entender isso, uma vez que se sabe que a sentença é favorável ao réu. Só se analisar o lado do autor (ele entrou com a ação e perdeu muito rápido). Mas assim, todos os casos de indeferimento das petições iniciais serão inconstitucionais. Indeferimento da petição inicial sem o exame de mérito Estão no art. 295/CPC e seus incisos: I – Inépcia da petição inicial: é um defeito da petição inicial, relacionado ao pedido ou a causa de pedir. São casos de inépcia: a) quando faltar pedido ou causa de pedir; b) quando a petição for obscura, ou seja, o pedido e a causa de pedir estão postos de maneira pouco inteligível; c) nos casos de petição incoerente, ou seja, quando o pedido não decorre, não é consequência da causa de pedir; d) quando o pedido for juridicamente impossível, ou seja, faltar a condição da ação; e) “petição suicida” – quando a petição contém pedidos incompatíveis entre si. Pede-se duas coisas incompatíveis– Ex: anular e revisar o contrato ao mesmo tempo. Estes casos de inépcia estão no art. 295, parágrafo único. Mas há um caso de inépcia, previsto na legislação extravagante, que merece atenção especial. É o caso da Lei 10.931/04, art. 50. Se vai ao judiciário para discutir valores, tem que dizer qual o valor devido, sob pena de inépcia. II – Carência de Ação: art. 295, II e III do CPC. III – Erro na escolha do procedimento: o autor opta por um procedimento, cujo não é o correto para aquela ocasião. Só haverá indeferimento por erro na escolha do procedimento se o juiz não puder adaptar o procedimento. É difícil visualizar uma situação em que o juiz não possa adaptar. Praticamente em todos os casos pode haver essa correção por parte do juiz. Por pior que seja o erro, por mais bizarra que seja opção do autor, é possível a correção. IV – falta de emenda da petição inicial: é o indeferimento que decorre do não cumprimento da decisão que determinou a emenda da petição inicial. É o descumprimento do art. 284/CPC.
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