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1 Considerações sobre o planejamento da rotina na prática pedagógica1 Rosaura Soligo O planejamento do ensino nem sempre tem ocupado um lugar de destaque, na atuação dos professores, como uma produção autoral criativa. Não é raro, inclusive, haver uma certa resistência em planejar conforme as exigências da escola, geralmente justificada pelo fato de, muitas vezes, atender mais a exigências burocráticas do que a necessidades concretas do próprio trabalho pedagógico. Além do que, não é fácil encontrar a melhor forma de organizar o planejamento para que seja um instrumento a favor da aprendizagem dos alunos. Essas circunstâncias têm relação também com o fato de hoje estarem disponíveis muitos materiais didáticos elaborados por outras instituições, que não a escola, e por outros autores, que não os professores. Não é propriamente um problema que isso ocorra, porque é importante contar com boas propostas de ensino para tomar como referência ao planejar o próprio trabalho. A questão é que vem se consolidando dois tipos de conduta em boa parte dos sistemas educacionais que, estas sim, são muito problemáticas. Uma delas é a insistência para que os materiais didáticos produzidos externamente à escola sejam “adotados” pelos professores tal e qual se apresentam, e não como subsídios que pressupõem um uso ajustado à realidade, ao conhecimento prévio dos alunos, ao que foi realizado (ou não) em momentos anteriores. O outro tipo de conduta é ainda pior: o controle rigoroso e homogêneo do tempo em que as unidades desses materiais estão sendo “cumpridas”. E, em alguns casos, o registro desse controle do uso é público e, portanto, todos ficam sabendo quais professores estão “cumprindo as previsões” e quais estão “atrasados”, o que representa um modelo institucional equivocado e perverso que, além de expor os profissionais e desrespeitar o percurso da docência, não tem eficácia para obter bons resultados. É muito urgente superar esse tipo de abordagem que não contribui nem para a atuação dos professores e nem para a aprendizagem dos alunos. O ato de planejar pressupõe definir metas de ensino e expectativas de aprendizagem, ou seja, indicar o que se pretende alcançar para um determinado período – seja um dia, uma semana, um mês, um bimestre, um ano. Pressupõe que as ações previstas sejam organizadas com antecedência e sequenciadas considerando os diferentes níveis de desafios que elas propõem, tendo em conta o que os alunos já sabem ou ainda não sabem. E favorece uma avaliação do trabalho realizado – não só dos resultados obtidos, mas do que foi feito no percurso – que permite redirecionar as atividades e intervenções, ajustando-as às possibilidades e necessidades de aprendizagem dos alunos. 1 Texto organizado em 2022, por Rosaura Soligo, com a colaboração de Rosângela Veliago, a partir de materiais produzidos por Rosa Maria Antunes, Rosana Dutoit e Rosinha Monsanto Glória, em 2003. 2 Planejar é então, antes de tudo, antecipar ações a serem realizadas e se orientar pelos objetivos propostos – recurso indispensável para garantir coerência entre o que se projetou alcançar com os alunos e o que realmente se propõe a eles para que conquistem as aprendizagens esperadas. Há muito tempo temos defendido na Educação que, para ser adequado, um planejamento deve contemplar pelo menos quatro dimensões: continuidade, diversidade, provisoriedade e construção coletiva. A continuidade diz respeito aos objetivos de aprendizagem propostos, pois eles não são alcançados em datas pré-estabelecidas, ao mesmo tempo, por todos os alunos, o que requer uma abordagem em progressão. A diversidade diz respeito à natureza heterogênea das turmas – como sabemos, turmas do mesmo ano de escolaridade demonstram conhecimentos, experiências e atitudes bem diferentes em relação aos conteúdos e às propostas, o que exige intervenções diferenciadas. A provisoriedade diz respeito à necessidade de reajustar o previsto na medida em que a realidade vai indicando possibilidades e demandas não antecipadas por ocasião do planejamento inicial. E a construção coletiva diz respeito à concepção de que para educar um coletivo de alunos em uma escola é preciso haver necessariamente um coletivo de profissionais.2 Níveis de planejamento Planejamento anual: momento de definir coletivamente os objetivos e demais encaminhamentos curriculares para o ano – incluindo o processo de avaliação e o tipo de apoio pedagógico a ser garantido aos alunos que precisarão de ajuda extra – buscando a articulação das ações em diferentes componentes. Planejamento contínuo: processo que acontece ao longo do ano, para qualificar a ação pedagógica, a partir da avaliação do que foi ou não alcançado em relação ao previsto e das possibilidades de ajuste no percurso. Planejamento da rotina: momento das escolhas mais específicas que envolvem principalmente: seleção e distribuição, no tempo disponível, das propostas consideradas melhores para abordar os conteúdos previstos; organização do espaço e dos materiais necessários para a realização das atividades; composição dos grupos de alunos e formas de intervir e de acompanhá-los; melhor maneira de apresentar as consignas, que são as orientações contidas nos enunciados das propostas. Em todos os casos é preciso garantir um caráter flexível, o que não significa trabalhar ao sabor do acaso, mas sim ajustar o que foi previsto inicialmente tendo em conta as reais possibilidades e necessidades de aprendizagem dos alunos, as suas hipóteses em relação aos conteúdos, as estratégias pessoais que constroem para resolver os desafios colocados pelas propostas. Ou seja, a avaliação do que os alunos sabem, pensam e fazem é o critério fundamental para orientar esses ajustes, tendo sempre em perspectiva o que foi projetado a princípio. 2 Dizia o educador ucraniano Anton Makarenko “Não imaginei nem imagino como educar um coletivo de alunos sem que exista um coletivo de educadores. Isso é impensável quando cada um dos educadores de uma escola realiza o seu trabalho separadamente, segundo seu próprio entendimento e desejo”. Sem dúvida! 3 No que se refere à rotina, há uma série de questões que sempre preocupa os professores: Como organizar, da melhor maneira, o uso do tempo que os alunos permanecem na escola? O que é possível, de fato, aprender durante esse tempo em 200 dias letivos? Como dar conta de todos os objetivos e conteúdos previstos para o ano? Como organizar o tempo disponível de forma a atender às demandas de aprendizagem dos alunos e do próprio trabalho planejado? É fundamental refletir sobre essas questões, todas de grande relevância. Sem entrar no mérito da qualidade pedagógica das propostas, o fato é que muitas vezes o tempo dos alunos na sala de aula e na escola é mal aproveitado. Uma das razões desse problema são certos mitos que orientam a prática docente, indicando como imprescindíveis atividades que há muito já se sabe que em nada contribuem para a aprendizagem – os longos cabeçalhos que se repetem 200 vezes ao ano, o treino descontextualizado de exercícios que deveriam ser abordados no interior de propostas com sentido para os alunos e a cópia sem nenhuma utilidade, por exemplo. Tudo isso toma muito tempo. Em 200 dias letivos, o desperdício de meia hora diária representa, para os alunos, um total de 100 horas-ano de oportunidades perdidas para aprender... Então, quando a constatação é de que eles sabem menos do que se espera, o uso adequado do tempo deve ser uma prioridade. Ou, seja, a organização do trabalho pedagógico com critérios pertinentes contribui não só para otimizar o uso do tempo didático, mas também para priorizar propostas ajustadas ao que os alunos demonstram precisar aprender. Planejar a rotina é um processo de importância estratégicaque vai muito além da distribuição das atividades em um determinado período, que implica tomar decisões para fazer o melhor uso possível de um tempo precioso (e que geralmente julgamos insuficiente) em favor do maior conhecimento possível para todos. Além do que, é um espaço de aprendizagem constante para os professores não só porque a cada nova turma surgem novos desafios, mas porque a mesma turma coloca novas questões continuamente. Da mesma forma que não há como desenvolver um mesmo plano de ensino ano após ano, não é possível organizar rotinas de trabalho que sejam idênticas para as diferentes turmas. Ainda que tenham estruturas parecidas, as rotinas acabam sendo sempre singulares – ou, pelo menos, assim deveria ser – considerando as características da turma, o seu percurso, as interações, os saberes produzidos, as dificuldades, as conquistas... Da mesma forma, não tem sentido manter uma rotina por muito tempo na mesma turma, pois a distribuição inteligente das atividades didáticas e a priorização no uso do tempo devem se adequar à realidade, ao movimento real de aprendizagem dos alunos. 4 Um exemplo de rotina ajustada à turma A seguir, há um exemplo de rotina projetada pela professora de uma turma de 1° ano, composta de crianças ainda não alfabetizadas em sua maioria, cujas propostas descritas são da área de Língua Portuguesa para uma das primeiras semanas de trabalho no ano. Aos critérios gerais abordados anteriormente – continuidade, diversidade, provisoriedade e construção coletiva – se somam outros critérios para a definição das propostas detalhadas no quadro da rotina, por se tratar de uma turma de alfabetização inicial: • Desconsiderar todas as atividades que não atendem aos objetivos de aprendizagem definidos para orientar o trabalho de alfabetização inicial, mesmo que tradicionalmente sejam avaliadas como boas ‘por si’ – não existe atividade boa por si: as propostas de ensino são boas quando levam em conta, de fato, as necessidades e possibilidades de aprendizagem dos alunos e, por isso, os desafiam a avançar em seus conhecimentos. • Oferecer propostas das modalidades mais pertinentes para abordar os conteúdos definidos como principais para a alfabetização inicial neste período – no quadro a seguir foram priorizadas atividades permanentes e projetos. • Ler diariamente para os alunos textos selecionados tendo como referência a diversidade de gêneros e a necessidade de garantir os literários e não literários (informativos, instrucionais e da vida cotidiana). • No caso das atividades permanentes de alfabetização inicial, oferecer apenas propostas que funcionem como desafios para os alunos, considerando o que eles demonstraram saber ou não nas situações diagnósticas em relação à leitura e à escrita. Esses desafios são de três tipos principalmente: escrever mesmo sem saber escrever convencionalmente; ‘ler’3 mesmo sem saber ler; e interpretar a escrita (a própria e a dos outros). E são cinco os tipos de situações para essa finalidade: escrever como conseguir, revisar coletivamente a escrita com a ajuda da professora, ordenar textos poéticos conhecidos, encontrar palavras em versos de textos conhecidos e em listas de itens ou listas de respostas para desafios lúdicos (como adivinhas, cruzadinhas ou álbum de figurinhas4). • Pautar as atividades específicas de alfabetização inicial no trabalho diário com estes procedimentos, necessários para que os alunos aprendam a ler e escrever: - refletir sobre a relação oral-escrito em situações reais de leitura e escrita de textos; 3 Neste texto, as situações de leitura propostas para os alunos não alfabetizados têm sempre as palavras ‘ler’ e ‘leitura’ entre aspas porque, embora sejam propostas para que eles utilizem as estratégias que lhes são possíveis para descobrir o que está escrito, na realidade eles ainda não leem convencionalmente. 4 As propostas que fazem uso de adivinhas, cruzadinhas ou álbum de figurinhas, em que os alunos devem escolher uma entre várias palavras para responder ao desafio, são atividades de ‘leitura’ de listas, e só por isso fazem sentido na alfabetização inicial. Adivinhas, cruzadinhas ou álbum de figurinhas não têm nenhum valor em si para alfabetizar, a não ser em situações de ‘leitura’ de listas. 5 - desenvolver atenção às características da escrita quando a professora mostra onde está escrito o que se lê; - desenvolver atenção para o valor sonoro convencional das letras em situações reais de leitura e escrita de textos; - escolher quantas e quais letras são necessárias para escrever e fazer uso do conhecimento e dos recursos disponíveis para escrever sempre da melhor forma que conseguir; - produzir escritas em parceria quando a tarefa é escrever junto e cada um deve colocar uma letra por vez, aprendendo a argumentar sobre as próprias ideias, ouvir as justificativas do colega e rever as escolhas, quando for o caso; - interpretar a própria escrita e justificar as escolhas feitas: por que sobram ou faltam letras, por que elas parecem estar fora de ordem, por que parece estar escrito errado conforme seu próprio critério etc.; - refletir sobre escolhas diferentes feitas pelos colegas no trabalho em parceria; - analisar coletivamente diferentes formas dos colegas escreverem palavras significativas para a turma; - analisar as características do próprio nome e dos nomes de pessoas conhecidas; - ajustar o que sabe que está escrito com a própria escrita (em textos poéticos conhecidos de cor ou outros que permitam esse tipo de ajuste); - utilizar estratégias de antecipação, inferência, seleção e verificação, além da decodificação (quando já for possível); - utilizar todo o conhecimento e os recursos disponíveis para fazer suposições sobre o que pode estar escrito e encontrar palavras em textos poéticos conhecidos e em listas verdadeiras – de coisas familiares, de respostas a atividades lúdicas e outros tipos de listas que fizerem sentido; - tomar decisões diante dos desafios colocados por essas situações, confiando na própria capacidade de fazer escolhas e arriscar respostas. • Considerar que o tempo de cada atividade é variável a depender do objetivo. Por exemplo, a leitura diária para os alunos pode ocorrer em 10 minutos, as atividades permanentes de alfabetização inicial, em 20 ou 30 minutos (a depender do tipo), e a roda de conversa em 15 minutos ou mais. O tempo adequado é o tempo necessário para que os alunos aprendam da melhor forma possível, não é o tempo convencional de uma hora-aula. Nas propostas com os demais componentes curriculares, privilegiar situações que favoreçam o desenvolvimento de objetivos de aprendizagem que são também da área de Língua Portuguesa – como a fala, a escuta ativa e os procedimentos de pesquisa – para articular e potencializar o trabalho pedagógico. 6 Esse é, então, um exemplo de rotina organizada conforme esses critérios5. Exemplo de rotina projetada pela professora de uma turma de 1° ano, composta de crianças ainda não alfabetizadas em sua maioria, para uma das primeiras semanas de trabalho no ano. É apenas um exemplo. Como sabemos, selecionar previamente, sequenciar e distribuir no tempo didático as atividades e conteúdos a serem trabalhados é fundamental em qualquer ano de escolaridade, não apenas nos anos iniciais. E, quando são alunos maiores, também é importante: informar o que se pretende com as atividades de modo a evidenciar para que servem, quais seus propósitos; apresentar as propostas de maneira atraente, para que eles se empenhem e acreditem que sua contribuição é relevante para todos; 5 Quando não houver familiaridade com esses critérios, é imprescindível a discussão sobre o que eles representam e porque adotá-los, pois as atividades propostassão muito diferentes das atividades tradicionais para alfabetizar. Os dois textos abaixo contribuem para aprofundar essa compreensão: Atividades para a alfabetização inicial https://rosaurasoligo.files.wordpress.com/2020/12/cartas-pedagogicas-sobre-a-docencia-atividades-de-alfabetizacao- inicial.pdf De cada um conforme suas possibilidades, a cada um conforme suas necessidades – o único método possível para alfabetizar https://rosaurasoligositeoficial.files.wordpress.com/2021/05/rosaura-soligo-de-cada-um-conforme-suas-possibilidades-a- cada-um-conforme-suas-necessidades.pdf 7 criar um ambiente favorável à aprendizagem e ao fortalecimento da autoestima e da confiança em sua própria capacidade de enfrentar desafios – por exemplo, por meio de situações em que eles sejam incentivados a se colocar, a fazer perguntas e a comentar o que aprenderam, sendo valorizados por isso; explicar com antecedência as mudanças ou novidades inseridas no trabalho habitual, seja qual for o aspecto – organização do espaço e do tempo, composição dos grupos, utilização dos materiais, formas de intervenção etc.. Rotina, nessa perspectiva, nada tem a ver com “mesmice”, monotonia ou falta de criatividade, como a palavra poderia eventualmente sugerir. A organização do tempo pedagógico não é algo rígido, burocrático, engessado, sem graça, mas, ao contrário, é uma invenção criativa da maior importância. Uma invenção que depende da clareza dos objetivos do ensino, dos critérios de seleção de conteúdos, das melhores formas de tratamento didático em cada caso. Uma invenção que depende, acima de tudo, do olhar atento para o processo de aprendizagem dos alunos. Entendida assim, a rotina significa movimento, um movimento criado pela reflexão sobre a prática pedagógica e sobre a gestão da sala de aula, que impulsiona a tomada de decisões sobre o que, como e quando ensinar de modo a garantir a melhor aprendizagem para todos. Ao planejar e replanejar o trabalho, é possível percorrer um caminho de elaboração teórica sobre a própria experiência e de produção de conhecimento pedagógico sobre a docência. Nesse sentido, o registro é fundamental, tendo como primeiro destinatário o próprio autor: registra-se na perspectiva de dialogar consigo sobre como foi o trabalho realizado considerando o que se pretendia alcançar. A partir desses escritos, é possível identificar quais os encaminhamentos mais potentes para criar boas situações de aprendizagem para os alunos, quais deixaram a desejar e quais não cumpriram com os propósitos; quais observações foram feitas e no que elas influenciaram o andamento das coisas; quais ideias surgiram pelo caminho e como poderão ser utilizadas em novas situações etc.. Assim o planejamento é recriado continuamente na medida em que se avalia o quanto as propostas e as intervenções produziram os efeitos pretendidos ou até mesmo se as pretensões eram compatíveis com a realidade vivida. Planejar implica necessariamente uma reflexão – anterior à ação realizada – que pressupõe antecipar quais atividades podem ser mais adequadas para a turma, qual a melhor forma de desenvolvê-las, quais recursos seriam mais apropriados, quais agrupamentos podem ser mais produtivos. A constituição da experiência docente se dá nesse movimento de ação-reflexão-ação, tão defendido pelo mestre Paulo Freire. E, se tomarmos como referência as formas de refletir apresentadas por Donald Shön – reflexão na ação, reflexão sobre a ação (já desenvolvida) e reflexão sobre a reflexão – veremos que há ainda outra, igualmente importante, que é esta: a reflexão sobre ação ainda por acontecer. Organizar o trabalho pedagógico para uma semana com os alunos não é pouca coisa, não é simples, não é banal – é um exercício ao mesmo tempo reflexivo, imaginativo, formativo. Entretanto, muitos 8 educadores e muitas escolas não consideram esse tempo de planejamento cotidiano como um espaço formativo e, em alguns casos, há uma divisão clara marcando a existência de dois momentos: formação (quando se estuda) e planejamento (quando “somente” se organiza o tempo pedagógico). Há algo muito contraditório nesse tipo de distinção: justamente o momento em que se põe em jogo todo o conhecimento disponível para decidir o que será melhor propor aos alunos para que aprendam muito não é entendido como formativo. Essa contradição talvez seja fruto de uma visão preconceituosa de que a formação acontece apenas quando se estudam textos ou se discutem ideias produzidas por outros autores, e que a reflexão sobre a própria experiência, acontecida ou ainda por acontecer, nada ensina aos profissionais. Ao estudar – processo fundamental para ampliar o conhecimento, a compreensão e o horizonte de possibilidades – acessamos a produção de outras pessoas buscando compreender o que foi produzido por autores que não somos nós. Mas ao refletir sobre as propostas que realizamos ou poderíamos realizar, ainda mais em espaços coletivos, estamos buscando compreender quem somos profissionalmente e o que fazemos ou poderíamos fazer. Se esse movimento de ação-reflexão-ação ocorre de forma intencional em nossa prática de professores, ampliamos a forma mais rebuscada de pensar sobre a experiência docente, que é a reflexão crítica, implicada e propositiva. Isso acontece quando somos capazes de analisar criticamente o que vivemos com os alunos, nos sentimos diretamente envolvidos com eles e dedicamos a nossa energia a buscar os caminhos que poderão levá-los ao melhor lugar de conhecimento. Isso, sem dúvida, é formação, especialmente quando acontece junto com outros educadores. Então, sim: planejar a rotina, com o propósito de que seja ajustada à realidade concreta em busca da melhor aprendizagem para todos os alunos, é um espaço formativo de grande importância para o desenvolvimento profissional dos professores e para a qualidade da educação escolar, que pressupõe autonomia para fazer escolhas em parceria com os colegas, e não a obrigação de cumprir manuais à risca. PARA SABER MAIS SOBRE ESTUDO, REFLEXÃO E AJUDA DE PARCEIROS: https://rosaurasoligo.wordpress.com/2021/10/01/depoimento-de-uma-professora-alfabetizadora/ SOBRE O EFEITO DO USO LINEAR E OBRIGATÓRIO DE MATERIAIS PRODUZIDOS FORA DA ESCOLA: https://rosaurasoligo.wordpress.com/2017/04/09/as-apostilas-e-as-professoras/ https://rosaurasoligo.wordpress.com/2019/08/08/sobre-apostilas-e-livros/ SOBRE O PENSAMENTO DE DONALD SHÖN E A IDEIA DE REFLEXÃO NA AÇÃO, SOBRE A AÇÃO SOBRE A PRÓPRIA REFLEXÃO: SCHÖN, Donald A. Educando o profissional reflexivo – um novo design para o ensino e a aprendizagem. Porto Alegre: Artmed Editora, 2000. SOBRE REFLEXÃO CRÍTICA, IMPLICADA E PROPOSITIVA: SOLIGO, Rosaura. Metodologias Dialógicas de Formação. Campinas, 2015. https://rosaurasoligositeoficial.files.wordpress.com/2016/09/rosaura-soligo-metodologias-dialc3b3gicas-de- formac3a7c3a3o.pdf