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0 UFSM – CCSH – DCC – CCC – DISCIPINA DE NOÇÕES ATUARIAIS POLÍGRAFO DE APOIO À DISCIPLINA ELABORAÇÃO: PROF. DR. RODRIGO DEBUS SOARES 2º SEMESTRE / 2012 1 ÍNDICE CAPÍTULO 1 – AS ORIGENS DO SEGURO E DA CIÊNCIA ATUARIAL .............................. 2 Necessidades de segurança e sua importância ........................................................................ 2 As Reações Individuais Face à Necessidade de Segurança e Noções de Risco .................... 3 CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO SEGURO E DAS SUAS INSTITUIÇÕES ....... 4 Da Antigüidade ao Presente / Mutualidade / Análise de Experiências do Seguro como Resposta às Necessidades Postas pelos Diversos Contextos Sócio-econômicos e Sociais / A Atuária e sua Importância no Contexto Institucional Brasileiro ........................................ 4 CAPÍTULO 3 – QUADRO INSTITUCIONAL BRASILEIRO (PÚBLICO E PRIVADO) .......... 8 A Previdência Social (INSS, RGPS e RPPS).............................................................................. 8 O que é o RGPS (Regime Geral de Previdência Social)? ....................................................... 14 O que são os RPPS (Regimes Próprios de Previdência Social)? ........................................... 20 CAPÍTULO 4 – SEGUROS PRIVADOS ...................................................................................... 21 Estrutura do Sistema Nacional de Seguros Privados (SNSP) ............................................... 21 Os Contratos de Seguros Privados ......................................................................................... 24 Tipos de Seguros e Aspectos Complementares de Seguros ................................................. 25 Instrumentos Contratuais do Seguro e Obrigações Legais................................................... 27 Precificação de Seguros (inclui metodologia de planos de saúde) ...................................... 29 Tábuas de Mortalidade (precificação) .................................................................................... 39 2 CAPÍTULO 1 – AS ORIGENS DO SEGURO E DA CIÊNCIA ATUARIAL Necessidades de segurança e sua importância De um modo genérico pode-se assumir que todo o ser vivo busca sua sobrevivência desde os primórdios da origem da vida até então conhecida pelo homem. Essa mesma sobrevivência era evidenciada por Charles Robert Darwin em seus achados científicos apontados em sua obra On the Origin of Species by Means of Natural Selection, or The Preservation of Favoured Races in the Struggle for Life escrita em 1859. As observações de Darwin, dentre as quais as realizadas no arquipélago de Galápagos (Equador), apontavam à sobrevivência dos “mais fortes”, ou seja, as espécies eram selecionadas naturalmente à medida que se adaptavam às mudanças que a natureza os impõe. Dessa percepção, depreende-se que os seres vivos buscam fortalecer-se e proteger-se no intuito de sobreviver ao mundo que lhes é imposto e diminuir os riscos de morte nele existente. É inerente ao ser vivo minimizar riscos, sobreviver e fortalecer sua espécie, i.e. salvar-se. Etimologicamente1, a palavra seguro origina-se do latim: SALVARE, “tornar seguro”; Que, por sua vez, se origina de SALVUS, “sem ferimento, seguro, sadio”; Que se relaciona à palavra SALUS, que significa “boa saúde”; e Finalmente, da fonte Indoeuropeia SOL, que quer dizer “inteiro”. O risco é algo inerente ao seguro, ou seja, se seguro significa “estar inteiro” então, num amplo sentido, risco é a perda dessa condição. 1 A etimologia nos explica muito acerca de como se originam as terminologias que denominam “partes” do mundo o qual todos vivem. É o estudo da origem das palavras. 3 As Reações Individuais Face à Necessidade de Segurança e Noções de Risco Assim, o homem, como ser vivo que é, sempre esteve preocupado com a estabilidade de sua existência. Por estar sofrendo a ação da natureza por meio de variações climáticas e dos perigos da vida procurou se organizar em grupos no intuito de se fortalecer e garantir o sustento e a segurança do grupo o qual pertence. À medida que o tempo passou e esses grupos evoluíram para sociedades mais complexas, o seguro seguiu essa complexidade extrapolando a sobrevivência e sua intimidade com as necessidades básicas de alimentação, moradia e vestuário. A organização social gerou as atividades profissionais, o comércio (desde os tempos do escambo), a indústria e então a economia, a gestão e a tecnologia. Diante desse cenário evolutivo, incluindo os aspectos econômicos e comerciais, o seguro seguiu novos rumos e a necessidade da sociedade de proteger-se inclusive de possíveis prejuízos financeiros. Seguro e risco apresentam-se como terminologias antagônicas e indissociáveis e, assim, o homem buscou controlar sua necessidade de minimizar riscos e tornar-se mais seguro nos mais diversos aspectos de sua vida. 4 CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO SEGURO E DAS SUAS INSTITUIÇÕES Da Antigüidade ao Presente / Mutualidade / Análise de Experiências do Seguro como Resposta às Necessidades Postas pelos Diversos Contextos Sócio-econômicos e Sociais / A Atuária e sua Importância no Contexto Institucional Brasileiro Ilustrativamente, achados apontam indícios de que caravanas de pessoas e camelos de comerciantes que atravessavam desertos na região da Babilônia (23 A.C.) dividiam mutuamente os prejuízos decorrentes das perdas de animais. As descidas de correntezas dos grandes rios continentais da antiga China, percorridas por embarcações frágeis carregadas de mercadorias, apresentavam-se como principais meios logísticos e, apesar da maior agilidade distributiva, carregavam consigo os riscos de perdas decorrentes de acidentes e a conseqüente inviabilidade dos negócios de alguns mercadores. Tal risco era distribuído à medida que um grupo de comerciantes com suas respectivas embarcações passaram a navegar seus barcos com a divisão das mercadorias dos negociantes que formavam o grupo. Assim, cada barco levava um pouco de cada membro e, caso houvesse algum naufrágio, a perda seria menor do que se cada membro levasse exclusivamente sua própria mercadoria. É o princípio básico do seguro. Os comerciantes árabes também eram adeptos dessa prática. Enquanto inicialmente atravessavam desertos em seus camelos carregados de mercadorias em grandes caravanas sofriam saques ou ações referentes às tempestades de areia dentre outros contratempos que representavam perdas e em muitos casos a falência de alguns mercadores. Para diluir seu risco individual, passaram a se organizar dividindo uma caravana maior em algumas menores e, desse modo, distribuir as mercadorias em diferentes caravanas e diferentes camelos de modo que na ocorrência do 5 risco (saques, tempestades, etc) suas perdas diminuíram e representaram sua sobrevivência nos negócios. Percebe-se então, o conceito de Mutualidade que segundo Dicio (2012) significa “sistema de solidariedade na base da ajuda mútua” ou “conjunto de associações de pessoas (chamadas atualmente de sociedades mutualistas), com uma finalidade social de previdência, de solidariedade ou de ajuda mútua, graças às cotizações de seus associados. Numa linha seqüencial de tempo, outro ponto histórico representativo à área dos seguros deu-se com a expansão marítima à época do renascimento e mercantilismo, a qual a divisão do risco das navegações se tornou necessária. As operações denominadas “Contratos de Dinheiro e Risco Marítimo” eram comumente realizadas por meio do empréstimo de recursos financeiros a um determinado navegador antes da saída da embarcação e cobrada uma taxa de juros mais vantajosa ao investidor no caso de sucesso e a isenção de pagamento caso houvesse a perda da mercadoria e do barco por conta do ataquede piratas e/ou naufrágios. Com o crescimento da atividade logística marítima, houve o crescimento dos contratos de seguros (ainda que rudimentares) e conseqüentemente da gestão de riscos em grande parte do mundo mercantilista. A aplicação de um “princípio contábil da entidade” parecia inadequado inclusive para a área dos seguros, visto que eram as pessoas que assumiam os riscos alheios, não empresas. Isso trazia consigo a insegurança e a dúvida relativamente a capacidade das “seguradoras” de assumir riscos e indenizar aqueles que transferiram seus riscos buscando minimizar prejuízos. A incerteza da indenização gerava a busca pelas “seguradoras” mais “fortes” financeiramente, mesmo que para isso tivessem os navegadores que pagar taxas mais altas para segurar suas viagens marítimas. Aqueles contratos terminaram por se extinguir com a proibição do Papa Gregório IX no século XII e, ainda assim, surgiram contratos com nomenclaturas diferentes visando manutenção da segurança e minimização dos riscos decorrentes das viagens. Posteriormente, incluiu-se uma espécie de 6 compra da embarcação e da carga por banqueiros que, mal comparando, aparentavam semelhança com a modalidade de lease back praticadas atualmente. O primeiro contrato formal conhecido data de 1347 e foi firmado em Genova na Itália (Goods Shipment Genoa – Sluys) para cobrir o transporte de mercadorias de Genova para Sluys na Bélgica (Holland, 2008). As cláusulas reportavam principalmente garantias e isenções no pagamento de indenizações pelos banqueiros/seguradores. Os contratos com a denominação “apólice” de seguro que se tem documentalmente mais antigas foram firmados em Pisa no dia 11 de julho de 1385 e em Florença no dia 10 de julho de 1397, ambas cidades italianas e, desde então foram se desenvolvendo em potencial de credibilidade até se tornaram comuns no século XIV. O mercado de seguros cresceu e desenvolveu novas frentes de cobertura de risco e deixando de existir exclusivamente no mercado marítimo e no século XVII, mais precisamente no ano de 1666 tendo por razão o incêndio que destruiu quase um quarto da cidade de Londres na Inglaterra, passou a existir inclusive para residências e empresas de atuação terrestre. Os riscos existentes se diversificaram fortemente com o advento da Revolução Industrial dado o nível de progresso da tecnologia e das manufaturas, que incorreram na variedade de processos e bens produzidos e a logística que se desenvolveu com o surgimento dos motores e novos meios de transporte e disponibilização de mercadorias. Outro grande incêndio que permitiu o aperfeiçoamento do seguro é o ocorrido na cidade de Hamburgo na Alemanha em 1842 que, segundo a Swiss Reinsurance Company (1999) custaram à seguradora Hamburger Feuerkasse em torno de 18 milhões de marcos enquanto havia apenas 500 mil marcos de reserva técnica. Esse fato levou ao surgimento do resseguro no intuito de divisão de riscos de carteiras de apólices entre seguradoras em 22 de dezembro de 1842 com a instituição da resseguradora Koelnishe Rueck ou Cologne Reinsurance. 7 Por óbvio, o crescimento econômico mundial principiou o acompanhamento evolutivo dos contratos de seguro e de todo o setor de securitização até o nível atualmente conhecido, ou seja, sua importância econômica é tão expressiva quanto em outros setores econômicos. Prova disso é que atualmente, o setor de seguros representa em torno 7% do PIB mundial e mais de 3% do PIB brasileiro. No Brasil, segundo a FUNENSEG (2006), com o advento da vinda da família real e da abertura dos portos brasileiros surge a Companhia de Seguros Boa-Fé como a primeira seguradora brasileira instituída em 24 de dezembro de 1808, coordenada pela Casa de Seguros de Libsoa. Em 1939, foi criado o IRB (Instituto de Resseguros do Brasil) e em 1966 é instituído o Decreto-Lei nº73 que reformula a política de seguros e cria o SNSP (Sistema Nacional de Seguros Privados). O mercado de resseguro nacional operou até abril de 2008 com seu mercado de resseguro sob reserva de Estado e, a partir de então, foi aberto ao resseguradores internacionais que renovaram o modelo de negócios do setor securitário brasileiro. 8 CAPÍTULO 3 – QUADRO INSTITUCIONAL BRASILEIRO (PÚBLICO E PRIVADO) A Previdência Social (INSS, RGPS e RPPS) O artigo 25 da Declaração Universal dos Direitos do Homem (DUDH) publicada pela Organização das Nações Unidas (ONU) nos idos de 10 de dezembro de 1948 registra que “Todo o homem tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda de meios de subsistência em circunstâncias fora de seu controle”. Tal artigo possui a pretensão de proteger o ser humano das decorrências naturais da ocorrência de risco em situações cotidianas. Isso se apresenta pelo fato de que o mínimo necessário à sobrevivência humana passa pelos aspectos de saúde e bem estar que, por sua vez, incorrem nas necessidades básicas de alimento, vestuário e habitação complementadas com o acesso à saúde e à sociedade. Inclui-se que todo o ser humano está sujeito à perda do emprego e da saúde, ou seja, é a ocorrência do risco de estar vivo em sociedade. Tais necessidades não existem tão somente com o advento da DUDH, mas permeiam a história desde a existência do homem conforme é conhecida. Para a manutenção das necessidades básicas é necessário conhecer os riscos de não realizá-las. Esse conhecimento pode ser dado quando procurado um significado/conceito para a palavra previdência que é dado pela faculdade de prever, conjetura, precaução ou previsão. Prever um acontecimento futuro, um conjunto de possibilidades de ocorrência de um evento, precaver-se, antecipar-se ao evento futuro. Possui como sinônimos: precaução, presciência, prudência e sensatez. 9 Desse modo, precaver-se ao risco de perda da manutenção das necessidades básicas é ter previdência. Previdência e mutualidade conjuntamente significam previdência social ou previdência em sociedade. O conceito de previdência social num sentido mais atual passa pelo conjunto de medidas e instituições que protegem o trabalhador/funcionário/colaborador e seus dependentes e beneficiários quando da perda das condições fundamentais à realização de suas necessidades básicas que podem ocorrer por diversos fatores como a doença e/ou velhice, o desemprego, dentre outros. Retomando o artigo supramencionado da DUDH/ONU percebe-se que a previdência social em qualquer âmbito, ainda que essa seja anterior àquela, o atendimento aos direitos humanos ao atendimento das necessidades básicas do homem e de sua família, concluindo o ciclo de entendimento dessa relação. Fechando o foco no caso brasileiro, faz-se necessário conhecer a evolução do que é conhecido como Previdência Social por meio dos principais fatos históricos que permearam essa trajetória: 22 de junho de 1835 – criação do Montepio Geral dos Servidores do Estado no intuito de pagamento de quotas por colaboradores em vida para recebimento de uma pessoa quando do falecimento daqueles; 24 de novembro de 1888 – regulamentação do montepio dos funcionários das estradas de ferro estatais (posteriormente dos correios e imprensa Régia – Império), por meio da Lei nº 3.397; 24 de janeiro de 1923 – instituição das caixas de aposentadorias na perspectiva das aposentadorias por invalidez e tempo de contribuição e pensão por morte, bem como, da garantia de assistência médica ao segurado; 29 de junho de 1933 – criação do Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Marítimos – IAPM (posteriormente comerciários e bancários entre outros), instituído peloDecreto nº 22.872; 10 28 de agosto de 1960 – uniformização dos benefícios por meio da Lei Orgânica Social por meio da Lei nº 3.807 –, com a instituição de novos benefícios: auxílio-reclusão, auxílio-funeral e auxílio- natalidade; 21 de novembro de 1966 – uniformização administrativa da previdência, criando o Instituto Nacional da Previdência Social (INPS) com o advento do Decreto nº 72; 1974, criação do INAMPS ( Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social) que era uma autarquia federal vinculada ao Ministério da Previdência e Assistência Social (hoje Ministério da Previdência Social) pelo regime militar em 1974 com a finalidade de prestar atendimento médico aos que contribuíam com a previdência social, ou seja, aos empregados de carteira assinada; 24 de janeiro de 1976 – Consolidação das Leis da Previdência Social (CLPS) pelo Decreto nº 77.077; 01 de julho de 1977 – criação do Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social (SINPAS) regulado pelo MPAS (Ministério da Previdência e Assistência Social), por meio da Lei nº 6.439; Constituição de 1988 – institui as atribuições governamentais de assegurar aos cidadãos: saúde, previdência e assistência social; 27 de junho de 1990 – criação o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) por meio do Decreto nº 99.350, possuindo dentre suas principais atribuições a promoção da arrecadação, fiscalização e cobrança das contribuições sociais que financiam o próprio sistema de previdência social e, ainda, a promoção do reconhecimento do direito ao recebimento de benefícios administrados visando a agilidade e comodidade dos seus usuários, ampliando o controle social; 24 de julho de 1991, criadas as duas leis que regulamentam a previdência social até hoje: 8.212 e 8.213; 11 Lei 8.212: Lei Orgânica da Seguridade Social, trata dos direitos a que as pessoas têm, como saúde, previdência e assistência social e define os órgãos responsáveis por auferir estes direitos às pessoas e trata da organização da seguridade social; Lei 8.213: dispõe sobre os planos de benefícios; e 26 de novembro de 1999 – criação do fator previdenciário utilizado atualmente para cálculos das aposentadorias por meio da Lei 9.876. A finalidade da Previdência Social repousa sobre a manutenção dos meios indispensáveis dos beneficiários perdidos por diversas razões, quais sejam: a incapacidade laboral, a idade avançada, o tempo de serviço, a situação de desemprego, os encargos familiares, a reclusão ou a morte daqueles que dependiam economicamente daqueles (artigo 3º da Lei 8.212/91). Nesse sistema, diversos são os riscos cobertos pela Previdência Social no intuito de manutenção das condições econômico-financeiras dos beneficiários quando da perda da condição laboral da “fonte” contribuinte do sistema, dentre os quais estão: o Incapacidade – aposentadoria por invalidez, auxílio-doença e auxílio-acidente o Idade avançada – aposentadoria por idade o Tempo laboral – aposentadoria por tempo de contribuição e especial o Encargos de família – salário-família e salário-maternidade o Reclusão – auxílio-reclusão o Morte – pensão por morte O pagamento da Previdência Social possui caráter contributivo (ajudar na realização de algo, cooperar, auxiliar) e sua filiação é obrigatória (compulsória) e, dessa forma, é necessário que haja mecanismos que 12 assegurem o bom funcionamento “dessa máquina pública”. A Emenda Constitucional nº20 de 1998 e a Lei nº9.876/99 estabelece os critérios para o bom funcionamento e a garantia do equilíbrio atuarial e financeiro do sistema previdenciário e o Ministério da Previdência e Assistência Social é a responsável pela administração do Regime Geral de Previdência Social (RGPS), atividade exercida por meio do Instituto Nacional de Securidade Social (INSS). Um dos mecanismos mais recentes no intuito de manter o sistema previdenciário público em equilíbrio atuarial e financeiro, passa pela criação do polêmico Fator Previdenciário, que procura manter a capacidade de pagamentos dos benefícios por meio da redução dos valores pagos aos beneficiários. Esse Fator foi inserido no sistema previdenciário por meio da Lei nº9.876/99 e representa uma nova forma de cálculo da aposentadoria que considera a idade que a pessoa quer se aposentar em função do tempo que essa pessoa contribui ao sistema, ou seja, multiplica o valor encontrado na célula de cruzamento entre tempo de contribuição e idade pelo valor médio de salário de contribuição, atualizado e corrigido, que contribuiu durante a vida. Para maiores esclarecimentos legais da forma de cálculo da aposentadoria com fator previdenciário, acesse: www.previdencia.gov.br/conteudoDinamico.php?id=124 A Previdência Pública Brasileira é composta por dois regimes: RGPS (Regime Geral de Previdência Social) e RPPS (Regimes Próprios de Previdência Social). O primeiro deles (RGPS) possui caráter contributivo e filiação obrigatória conforme afirmado anteriormente e é assegurado pelo Artigo 1º da Emenda Constitucional nº20/98 que reforma a redação do artigo nº201, §7º da Constituição Federal de 1988: “é assegurada aposentadoria no RGPS, nos termos da lei, obedecidas as seguintes condições: I – trinta e cinco anos de contribuição, se homem, e trinta anos de contribuição, se mulher; 13 II – sessenta e cinco anos de idade, se homem, e sessenta anos de idade, se mulher, reduzido em cinco anos o limite para os trabalhadores rurais de ambos os sexos e para os que exerçam suas atividades em regime de economia familiar, nestes incluídos o produtor rural, o garimpeiro e o pescador artesanal.” Na seqüência dos aspectos necessários ao cálculo do benefício das aposentadorias por tempo de contribuição e por idade, cabe destacar o Fator Previdenciário que tem por objetivo de equiparar a contribuição do segurado ao valor do benefício, baseia-se em quatro elementos: alíquota de contribuição, idade do trabalhador, tempo de contribuição à Previdência Social e expectativa de sobrevida do segurado (conforme tabela do IBGE). A fórmula do fator previdenciário é dada por: f = fator previdenciário Tc = tempo de contribuição do trabalhador a = alíquota de contribuição (0,31) Es = expectativa de sobrevida do trabalhador na data da aposentadoria Id = idade do trabalhador na data da aposentadoria Na aplicação do fator previdenciário serão somados ao tempo de contribuição do segurado: Cinco anos para as mulheres; Cinco anos para os professores que comprovarem efetivo exercício do magistério no ensino básico, fundamental ou médio; e Dez anos para as professoras que comprovarem efetivo exercício do magistério no ensino básico, fundamental ou médio. Diante do fator previdenciário encontrado, o cálculo do valor a receber é dado por: Sb (salário de benefício) = M (média dos 80% maiores salários de contribuição do segurado apurados entre julho de 1994 e o momento da aposentadoria, corrigidos monetariamente) x f (fator previdenciário). 14 O que é o RGPS (Regime Geral de Previdência Social)? É o regime previdenciário gerido pelo INSS que abrange a iniciativa privada no geral (empregados, sócios de empresas, domésticos, autônomos, facultativos, dentre outros). Dentre os benefícios cobertos pelo RGPS/MPAS (Ministério da Previdência e Assistência Social) estão: Aposentadoria por idade Aposentadoria por tempo de contribuição Aposentadoria especial Aposentadoria por invalidez Auxílio-doença Auxílio-acidente Auxílio-reclusão Pensão por morte Salário-maternidade Salário-família No RGPS, a aposentadoria por idade para trabalhadores urbanos ocorre em 65 anos para homens e 60 anos para mulheres, incluindo a comprovação mínima de 180 contribuições mensais a partir de 25 de julho de 1991.Para trabalhadores rurais, por sua vez, a idade mínima para aposentadoria é de 60 anos para homens e 55 anos para mulheres e comprovação mínima de 180 meses de trabalho no campo. Cabe salientar que quando o trabalhador não está em dia com suas contribuições mensais pode perder sua condição de segurado. Obviamente existem outras situações especiais as quais a perda dessa condição também ocorre. Relativamente à aposentadoria por tempo de contribuição, essa situação acontece de forma integral quando há comprovação de pelo menos 35 anos de contribuição para o homem e 30 anos para a mulher. Esse tipo de aposentadoria é considerado irreversível e irrenunciável. 15 Há uma condição mista denominada aposentadoria proporcional, onde são combinados tempo de contribuição e idade mínima necessária. Dá-se por tempo de contribuição: Período de exercício de atividade remunerada abrangida pela previdência, mediante indenização das contribuições relativas ao respectivo período; Período de contribuição efetuada por segurado depois de ter deixado de exercer atividade remunerada que o enquadrava como segurado obrigatório da Previdência Social; Período em que o segurado esteve recebendo auxílio-doença ou aposentadoria por invalidez, entre períodos de atividade; Tempo de serviço militar, salvo se já contado para outro regime de previdência; Período em que a segurada esteve recebendo o salário- maternidade; Período de contribuição efetuada como segurado facultativo; Período de afastamento da atividade do segurado anistiado que, em virtude de motivação exclusivamente política, atingido por atos de exceção, ou que, em virtude de pressões ostensivas ou expedientes oficiais sigilosos, tenha sido demitido ou compelido ao afastamento de atividade remunerada entre 18/09/46 a 05/10/88; Tempo de serviço público federal, estadual, do Distrito Federal ou municipal, inclusive o prestado à autarquia ou à sociedade de economia mista ou à fundação instituída pelo Poder Público desde que a certidão na forma da Lei 3.841/60 tenha sido requerida até 30/09/75, véspera do início da vigência da Lei 6.226/75; Período em que o segurado esteve recebendo benefício por incapacidade por acidente do trabalho, intercalado ou não; 16 Tempo de serviço do segurado trabalhador rural anterior à competência novembro de 1991; Tempo de exercício de mandato classista junto ao órgão de deliberação coletiva em que, nessa qualidade, tenha havido contribuição para a previdência social; Tempo de serviço público prestado à administração federal direta e autarquias federais, bem como às estaduais, do Distrito Federal e municipais, quando aplicado a legislação que autorizou a contagem recíproca de tempo de contribuição; Período de licença remunerada, desde que tenha havido desconto de contribuições; Período em que o segurado tenha sido colocado pela empresa em disponibilidade remunerada, desde que tenha havido desconto de contribuições; Tempo de serviço prestado à Justiça dos Estados, às serventias extrajudiciais e às escrivanias judiciais, desde que não tenha havido remuneração pelos cofres públicos e que a atividade não estivesse à época vinculada a regime próprio de Previdência Social; Tempo de atividade patronal ou autônoma, exercida anteriormente à vigência da Lei 3.807, de 26/08/1960, desde que indenizado; Período de atividade na condição de empregador rural, desde que comprovado o recolhimento das contribuições na forma da Lei 6.260/75, com indenização do período anterior; Período de atividade dos auxiliares locais de nacionalidade brasileira no exterior, amparados pela Lei 8.745/93, anteriormente a 01/01/94, desde que sua situação previdenciária esteja regularizada junto ao INSS; 17 Tempo de exercício de mandato eletivo federal, estadual, distrital ou municipal, desde que tenha havido contribuição em época própria e não tenha sido contado par efeito de aposentadoria pro outro Regime de Previdência Social; Tempo de contribuição efetuado pelo servidor da União, Estado, Distrito Federal ou Município, incluídas suas autarquias e fundações, ocupante, exclusivamente, de cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração; Tempo de contribuição do servidor do Estado, Distrito Federal ou Município bem como o das respectivas autarquias e fundações, ocupante de cargo eletivo, desde que, nessa qualidade, não esteja amparado por Regime Próprio de Previdência Social; Tempo de contribuição efetuado pelo servidor contratado pela União, Estado, Distrito Federal ou Município, bem como pelas respectivas autarquias e fundações, por tempo determinado, para atender a necessidade temporária de excepcional interesse público, nos termos do inciso IX do art. 37 da Constituição Federal. Além das aposentadorias por idade e tempo de contribuição, a aposentadoria do tipo especial é concedida ao segurado que trabalhou em condições prejudiciais à sua saúde ou à sua integridade física. Para tanto, é necessária a comprovação de sua exposição aos agentes físicos, biológicos ou a associação de agentes prejudiciais pelo período exigido para a concessão do benefício (15, 20 ou 25 anos). Essa comprovação é dada por meio do formulário de PPP (Perfil Profissiográfico Previdenciário) preenchido pela empresa com base no LTCAT (Laudo Técnico de Condições de Ambiente de Trabalho) que é elaborado e expedido por médico do trabalho ou engenheiro de segurança do trabalho. Além disso, é necessária a comprovação mínima de 180 contribuições. Outra forma de aposentadoria é dada por invalidez e, nesse caso, trata do benefício concedido aos trabalhadores que forem considerados incapacitados pela perícia médica da Previdência Social de exercer suas 18 atividades laborais ou outro tipo de serviço que lhes garanta sustento, seja por doença ou por acidente. A perícia é realizada a cada dois anos e o benefício não se aplica aos casos existentes antes do início da contribuição. No caso de doença é necessário que haja pelo menos 12 meses de contribuição, não havendo exigência de prazo de carência para os casos de acidente, necessitando, no entanto, da inscrição na Previdência Social. Outro benefício concedido pelo Regime Geral de Previdência Social é o auxílio-doença assegurado ao trabalhador impedido de desenvolver suas atividades por doença ou acidente que tenha sua duração maior do que 15 dias consecutivos. Os primeiros 15 dias de impedimento por doença ou acidente são pagos pelo empregador e a partir disso pagos pela Previdência Social. O contribuinte individual tem o período todo coberto pelo INSS, mas é necessária uma contribuição mínima de 12 meses. Valem tanto acidentes no trabalho quanto fora dele. Não há prazo mínimo para doenças previstas legalmente. No tocante à cessação do auxílio-doença, essa é verificada quando o trabalhador recupera a capacidade laboral ou quando obtém o benefício da aposentadoria por invalidez. O auxílio-acidente, por sua vez, é o benefício pago ao trabalhador que sofre um acidente e fica com seqüelas que reduzem sua capacidade de trabalho e pode ser concedido ao segurado que recebia auxílio-doença. Não recebem o benefício o empregado doméstico e o contribuinte individual e facultativo. Esse benefício corresponde a 50% do salário benefício que deu origem ao auxílio-doença corrigido até o mês anterior ao do início do auxílio-acidente, quando esse é conseqüência daquele. O RGPS também prevê a concessão do benefício de auxílio-reclusão aos dependentes do segurado que for preso por qualquer motivo durante o período da reclusão e é pago enquanto o trabalhador não esteja recebendo salário da empresa, auxílio-doença, aposentadoria ou abono de permanência em serviço. 19 Nesse caso, cabe destacar que o abono de permanência em serviço é a gratificaçãoconcedida ao servidor que tendo alcançado todos os requisitos para se aposentar e opte por permanecer em atividade até que atinja a idade para se aposentar compulsoriamente, sendo seu valor correspondente ao valor da contribuição previdenciária do servidor. Para que haja a concessão desse benefício não é necessária carência, mas a condição de segurado do INSS. Nesse caso, os dependentes devem apresentar à OS (Organização de Saúde – INSS) atestado de que o trabalhador continua preso, trimestralmente. Esse benefício se cessa por morte, fuga, liberdade condicional, transferência para albergue, extinção da pena, dependente que completa 21 anos ou é emancipado, invalidez ou morte do dependente. A pensão por morte é o benefício pago pelo INSS à família do trabalhador quando ele morre, não havendo um tempo mínimo estabelecido de contribuição e deixa de ser concedido quando o pensionista morre, se emancipa ou completa 21 anos (filhos e/ou irmãos do segurado) ou quando o pensionista perde sua condição de invalido. A pensão por morte pode ser concedida por presunção de morte – catástrofes, acidente ou desastre, tendo por documento comprobatório um BO de polícia, documento confirmando a presença do segurado no local do desastre, noticiário dos meios de comunicação entre outros. No entanto é necessário que, de 6 em 6 meses, seja apresentado documento de andamento quando da presunção de morte pelo pensionista. O benefício do salário-maternidade é pago pela empresa e devido à empregada gestante e compensado, em conformidade com o artigo 248 da Constituição Federal, quando do recolhimento das contribuições incidentes sobre a folha de salários e demais rendimentos ou creditados à trabalhadora que preste o serviço. Os comprovantes e atestados devem ser conservados por 10 anos pelo empregador. Esse benefício é concedido por ocasião do nascimento ou adoção do filho e tem por regra geral o prazo de 120 dias, podendo haver exceções. 20 Finalmente, o salário-família é o benefício pago aos segurados empregados (domésticos não possuem esse direito) e aos trabalhadores avulsos com salário mensal de até R$ 971,78, para auxiliar no sustento dos filhos de até 14 anos de idade ou inválidos de qualquer idade. (Observação: São equiparados aos filhos os enteados e os tutelados, estes desde que não possuam bens suficientes para o próprio sustento, devendo a dependência econômica de ambos, ser comprovada). Não há exigência de tempo mínimo de contribuição para a concessão desse benefício. Em concordância com a Portaria Interministerial MPS/MF nº 15, de 10 de janeiro de 2013, o benefício será de R$33,16 por filho de até 14 anos incompletos (ou inválido) para quem ganhar até R$646,55 e de R$23,36 para quem recebe entre R$646,56 e R$971,78 de salário. Possuem direito ao benefício o empregado e o trabalhador avulso que estejam em atividade ou aposentados por invalidez e por idade ou que estejam gozando o auxílio-doença. O que são os RPPS (Regimes Próprios de Previdência Social)? São regimes instituídos e organizados pelos respectivos entes federativos de acordo com as normas estabelecidas na Lei nº 9.717/98, que representa o início da regulamentação desses regimes. Os servidores públicos titulares de cargos efetivos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios possuem direito a Regime Próprio de Previdência Social conforme está previsto no art. 40 da Constituição Federal incluindo aqueles que atuam nas autarquias e fundações (Lei nº 9.876/99, complementada pela Lei nº 8.212/91).A partir da instituição do regime próprio de modo legal, os servidores titulares de cargos efetivos são afastados do RGPS. Há grande diversidade e peculiaridade que inviabilizam a exposição de toda a matéria contemplada pelo RPPS nessa disciplina. 21 CAPÍTULO 4 – SEGUROS PRIVADOS Estrutura do Sistema Nacional de Seguros Privados (SNSP) Resumidamente, os seguros podem ser públicos ou privados. De modo geral, os seguros públicos são instituídos por força de Lei, ou seja, por imposição coletiva (social). Como exemplo disso, tem-se a perda da capacidade de trabalho por doença, invalidez, idade, morte e desemprego involuntário que ocasionam benefícios sociais, ilustradamente o salário- maternidade e auxílio-reclusão. Por outro lado, existem os seguros privados que são constituídos por meio de condições acordadas entre as partes componentes de um contrato e foi instituído pelo Decreto-Lei nº73/66 com a criação do Sistema Nacional de Seguros Privados (SNSP). O SNSP é formado pelos seguintes componentes: Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP) - Superintendência de Seguros Privados (SUSEP) - IRB – Brasil Re – www.irb-brasilre.com.br Seguradoras Corretores de Seguros O CNSP é o órgão normativo das atividades securitárias do país e se constitui órgão público componente do Ministério da Fazenda, possuindo por atribuições a fixação de diretrizes e normas de seguros privados; a regulação acerca da constituição, da organização, do funcionamento e da fiscalização daqueles que exercem atividades subordinadas ao SNSP e da aplicação das penalidades previstas; a fixação das características gerais dos contratos de seguro, previdência privada aberta, capitalização e resseguro; o estabelecimento das diretrizes gerais das operações de resseguro; a prescrição dos critérios de constituição das sociedades seguradoras, de capitalização, de 22 entidades de previdência privada aberta e de resseguradores fixando os limites legais e técnicos e; o disciplinamento da corretagem do mercado e da profissão de corretor. Abaixo do CNSP, na estrutura do SNSP, situa-se a Superintendência de Seguros Privados (SUSEP) que é uma autarquia vinculada ao Ministério da Fazenda que controla e fiscaliza os mercados de seguros, previdência privada aberta e capitalização. As responsabilidades da SUSEP abarcam: a fiscalização da constituição, da organização, do funcionamento e da operação das Sociedades Seguradoras, de Capitalização, Entidades de Previdência Privada Aberta e Resseguradores, na qualidade de executora da política traçada pelo CNSP; a atuação no intuito de proteger a captação de poupança popular que se efetua através das operações de seguro, previdência privada aberta, de capitalização e resseguro; o zelo pela defesa dos interesses dos consumidores dos mercados supervisionados; a promoção de aperfeiçoamento das instituições e dos instrumentos operacionais a eles vinculados; a promoção da estabilidade dos mercados sob sua jurisdição; o zelo pela liquidez e solvência das sociedades que integram o mercado; a disciplina e acompanhamento dos investimentos daquelas entidades, em especial os efetuados em bens garantidores de provisões técnicas; o cumprimento e a execução do cumprimento das deliberações do CNSP e das atividades que por este forem delegadas; e o provimento dos serviços de Secretaria Executiva do CNSP. Seguindo a estrutura do SNSP, tem-se o IRB – Brasil RE que é o Instituto de Resseguros Brasil, uma empresa de economia mista fundada em 1939 cuja atuação tem sido fundamental para viabilizar inúmeros projetos estratégicos para o País garantindo o pagamento de sinistros e cumprindo compromissos 23 por meio de mecanismos de controle interno e governança corporativa da companhia. Para tanto, seus objetivos repousam sobre a regulação do cosseguro, resseguro e retrocessão. O cosseguro é a operação de compatilhamento da assunção do risco por duas ou mais seguradoras enquanto o resseguro é a operação que representa o “seguro do seguro”, necessária àquelas operações de seguros que sejam superiores à capacidade financeira de cobertura de uma seguradora. A retrocessão, por sua vez, é a operação mista que mescla cosseguro e resseguro para uma mesma carteira deapólices de seguro. O penúltimo membro do Sistema Nacional de Seguros Privados (SNSP) é a seguradora que são as operadoras de seguros privados que segue as normas aprovadas pelo Conselho Nacional (CNSP) e atendendo os aspectos técnicos emanados da SUSEP. As seguradoras devem manter reservas técnicas, fundos e provisões em conformidade com a legislação vigente que buscam a manutenção de todo o sistema securitário e sua liquidez, permitindo a indenização adequada daqueles que transferiram seu risco por meio dos corretores de seguros que são os profissionais habilitados legalmente para promovendo contratos de seguro. O corretor de seguros não pode aceitar ou exercer emprego em pessoa jurídica de direito público nem manter relação de emprego ou de direção em uma seguradora, podendo responder civilmente por prejuízos que cause em decorrência de omissão, negligência ou imperícia quando exercita a profissão, responsabilizando-se frente à SUSEP (órgão que habilita o profissional corretor). Dada estrutura do SNSP regulada pelo Decreto-Lei nº73/66, conforme mencionado anteriormente, o mesmo disciplina as Resoluções do CNSP e as Circulares da SUSEP. 24 As Resoluções representam as diretrizes a serem seguidas pelas seguradoras no tocante aos produtos (serviços de seguros disponibilizados) e as atividades por elas desenvolvidas. As Circulares são as normas que estabelecem os procedimentos, as condições dos serviços de seguros (cláusulas mínimas obrigatórias) e o exercício das atividades seguradoras. Os Contratos de Seguros Privados O disciplinamento dos contratos de seguro brasileiros é dado pelos artigos 757 a 802 do Código Civil. De modo classificatório, os contratos em geral, de acordo com o Direito Civil Brasileiro podem ser unilaterais, bilaterais e plurilaterais, onerosos e gratuitos, comutativos e aleatórios, nominados e inominados, consensuais e reais, solenes e não solenes, principais e acessórios, paritários ou por adesão. No entanto, os contratos de seguro possuem por característica serem: associativos – algo como a fidelidade deste em relação aos demais associados por contratos semelhantes de um grupo previdenciários – é uma precaução que visa a proteção relativa ao futuro incertos – pois não há como ter a certeza sobre a ocorrência de um evento futuro, ainda que se lance o uso de ferramentas probabilísticas mútuos – representa a união do esforço entre partes envolvidas instrumentalizados – possui as condições formalizadas em um documento coletivos – ainda que sejam parte a parte, importam na sociedade como um todo, pois no conjunto de contratos possuem essa representatividade 25 Tecnicamente, pode se dizer que os contratos de seguro representam a divisão entre muitos segurados dos danos que deveriam ser suportados por cada um individualmente. Por outro lado, juridicamente representam um acordo por meio do qual o segurado transfere o risco para o segurador que passa a suportá-lo mediante o pagamento de um determinado premio por aquele. Em resumo, o contrato de seguro envolve duas partes (bilateral), que pressupõe desembolsos e reembolsos (oneroso), possui característica de incerteza e risco (aleatório), realizado por instrumento escrito (formal), é um acordo de vontades expressas (consensual), regulado e padronizado por legislação (nominado), possui condições padronizadas e aprovadas pelo CNSP/SUSEP que são aceitas pelo segurado (por adesão). São sujeitos do contrato de seguro o segurado (aquele que transfere o risco), a seguradora (obrigatoriamente sociedade anônima, assume o risco transferido), o estipulante (aquele que estipula a condição para que haja o contrato) e o beneficiário (recebe o benefício). O risco é um evento futuro possível que envolve a incerteza e a independência de vontade, não podendo envolver o ilícito, ou seja, ser provocado para benefício próprio ou de outrem. A transferência do risco pressupõe que há um interesse sob o qual possa haver a perda parcial ou total, havendo a possibilidade de reposição quando da ocorrência da perda por aquele que recebeu o risco. Esse interesse pode ser um bem móvel ou imóvel, créditos ou recebíveis, pessoas ou outras garantias. A probabilidade de ocorrência do risco (perda do interesse) representa a previsibilidade desse evento baseada em cálculos matemáticos que se baseiam na em probabilidades geralmente estatísticas. Tipos de Seguros e Aspectos Complementares de Seguros De forma geral, os tipos de seguros são: 26 de coisas de responsabilidade civil de pessoas financeiros Os seguros de coisas possuem natureza indenitária e tem por intuito a reposição da coisa segurada. Nesse tipo de seguro, a legislação de seguros não permite a contratação por valor superior à coisa segurada, bem como, segurar mais de uma vez o mesmo risco, visto que o intuito é tão somente repor não premiar o segurado/beneficiário. Pode-se tomar por exemplo, o seguro de automóveis ou residências. O seguro de responsabilidade civil busca reembolsar danos provenientes de lesões corporais e/ou materiais, inclusive morais (previstos em contrato de seguro) causadas a terceiros e provocados por atos involuntários do segurado e/ou de seus prepostos na realização de atividades (geralmente profissionais). Nesse tipo de seguro, não é possível avaliar previamente o valor do prejuízo causado a terceiros. O seguro profissional é um exemplo desse tipo de seguro. O seguro financeiro, por sua vez, possui características bastante específicas, pois o risco assumido é o de inadimplência e insolvência às operações realizadas por bancos ou frente aos mesmos, buscando a garantia do cumprimento de obrigações contratuais, tais como as denominadas fianças/garantias bancárias. Tem-se por exemplos, o seguro garantia e o seguro fiança locatícia. Finalmente, o seguro de pessoas indeniza a perda econômica decorrente da morte de um segurado para um ou mais beneficiários, não possuindo limite na quantidade de apólices ou no valor garantido. Um dos aspectos importantes dos contratos de seguro é o prêmio, que é a importância paga em dinheiro pelo segurado como contraprestação à transferência de risco garantindo, dessa forma, o direito à indenização no caso de ocorrência do risco transferido. 27 O artigo 763 do Código Civil define que “Não terá direito à indenização o segurado que estiver em mora no pagamento do prêmio, se ocorrer o sinistro antes de sua purgação.” Resumidamente, significa que havendo atraso no pagamento e ocorrer um sinistro antes do pagamento (ainda que em atraso) o segurado não terá direito à indenização. O prêmio de seguro é classificado em contributário (quando todo o prêmio é pago exclusivamente pelo segurado), parcialmente contributário (quando o pagamento do prêmio é dividido entre segurado e estipulante) e não-contributário (quando o segurado não tem responsabilidade ou ônus de pagamento). Além do conceito de prêmio, cabe conhecer aqueles relativos à indenização e ao valor garantido. A primeira representa o pagamento que a seguradora faz ao segurado ou beneficiário, até o valor da garantia contratada e indicada na apólice, em razão de um sinistro acontecido e relacionado ao risco, objeto do contrato de seguro, de acordo com as cláusulas contratuais. Valor garantido, por outro lado, é o valor monetário atribuído pelo segurado ao bem exposto ao risco (valor máximo a ser pago pela seguradora e estipulado em contrato). Uma atividade bastante comum nas relações securitárias é a sub-rogação que é a transferência dos direitos do credor para aquele que solveu a obrigação ou emprestou o recurso necessário para solve-la, sendo característica nos seguros de coisas e/ou financeiros. Instrumentos Contratuais do Seguro e Obrigações Legais São instrumentos contratuais do seguroa proposta e a apólice. A proposta é o instrumento utilizado pela seguradora para estudo e definição das condições do contrato, ou seja, a formalização da manifestação de vontade de quem quer efetivar um futuro contrato de seguro. 28 A apólice é o documento escrito que formaliza o acordo de vontades entre segurado e segurador, em suma, o próprio contrato de seguro que possui por elementos principais: os riscos assumidos, o prazo de validade, o(s) limite(s) garantido(s), o prêmio devido e o nome do segurado e do beneficiário. Cabe destacar que a existência de cláusulas especiais é possível para prever riscos acessórios ou complementares. As apólices e suas condições acordadas podem ser modificadas ou acrescidas por meio de endossos ou aditivos, respectivamente. Além disso, na cobertura de uma apólice em vigor, podem ser realizadas averbações que permitam a inclusão de outros bens do segurado. Existem seguros denominados por bilhete como o DPVAT, o Acidente Pessoal Individual e de Incêndio Residencial. Constituem-se obrigações legais do segurador o pagamento em dinheiro do prejuízo resultante do risco assumido, o cumprimento das obrigações decorrentes da mora ou da desvalorização da moeda; e a ação por meio da mais estrita boa-fé. Por outro lado, o segurado possui por obrigações previstas legalmente o uso da mais estrita boa-fé (como o segurador) e a prestação de todas as declarações necessárias à contratação do seguro e durante a vigência do contrato, pagar o prêmio do seguro, não agravar intencionalmente o risco ocorrido, comunicar à seguradora qualquer fato involuntário que possa causar o agravamento da ocorrência do risco e não praticar atos dolosos que levem à ocorrência do risco (sinistro). Um contrato de seguro pode ser considerado nulo quando for contratado por pessoa que não tenha o interesse legítimo do seguro, quando realizado seguro de coisa já segurada pelo seu valor total de indenização ou pelos mesmos riscos e quando houver contratação de seguro com risco ocorrido anterior à data do contrato. Pode ser anulável o contrato de seguro sempre que ocorrerem falsidades ou omissões nas declarações do segurado ou da seguradora, ou ações dolosas, com exceção daquelas que acarretam nulidade. O prazo prescricional para 29 solicitação de indenização de um contrato de seguro o qual o risco tenha ocorrido é de 03 (três) anos. Finalmente, a rescisão de um contrato de seguro pode ocorrer por falta de pagamento do prêmio, por acordo entre as partes, e por retenção do prêmio de seguro pro rata tempore pela seguradora. Precificação de Seguros (inclui metodologia de planos de saúde) Basicamente, quando se tece qualquer comentário acerca de seguro é como se houvesse uma simbiose com o que se denomina risco, ainda que de modo antagônico. Desse modo, quando se trata da precificação de seguros, pode-se afirmar que o custo desse risco constitui-se um de seus principais fatores de custo. Claridge & Griffin (1997), afirmam acerca da possibilidade de falha na busca de um objetivo como risco, ou seja, a falha (assim como o sucesso) depende da presença de um objetivo traçado. Quando do ponto de vista dos contratos de seguro, pode-se extrair que os sujeitos se dividem naquele que transfere o risco e o que o assume mediante uma remuneração que seja percebida satisfatória pelo risco recebido da outra parte. Diante disso, resumidamente, o preço de um seguro repousa sobre o custo do risco, uma margem de cobertura para pagamento de despesas necessárias à sua concepção e manutenção e uma margem de lucro que pode variar em razão inversamente proporcional ao risco. Onde: PS = PREÇO DO SEGURO CR = CUSTO DO RISCO MD = MARGEM PARA DESPESAS ML = MARGEM DE LUCRO ESPERADA 30 A partir da idéia básica da concepção do preço do seguro, alguns exemplos são necessários para que se possa construir um conhecimento sobre os aspectos que podem impactar o preço a partir dos riscos percebidos. Para tanto, tem-se os seguintes cases ilustrativos: CASO 1 José adentra a concessionária de veículos da marca Tchêri para adquirir um automóvel modelo QuêQuê, seu sonho de consumo. Paga à vista pelo seu bólido e sai dirigindo pelas ruas da cidade onde mora com um sorriso “de engolir os brincos”, estampado em sua face. À medida que circula, começa a avistar rostos “suspeitos” e refletir acerca da possibilidade de perder o seu sonho conforme havia assistido em uma reportagem na noite anterior sobre o crescente número de roubos e assaltos na cidade onde mora. Com a situação mentalmente construída, prefere ir para casa e guardar sua preciosidade numa garagem e, por vários dias, andar à pé ou de ônibus como fazia antes. VOCE ACHA QUE JOSÉ TOMOU DECISÕES CORRETAS? QUAL SERIA A POSIÇÃO ADEQUADA? Provavelmente, o seguro seria uma solução razoável posto que caso seu carro seja subtraído, passará à possibilidade de ser reposto. Contudo, quando o raciocínio recai sobre o preço do seguro pode-se inferir que o mesmo será consideravelmente “salgado” visto que a probabilidade de que o risco aconteça também seja alto. Então, pode-se extrair que o tipo de carro, o local onde ele é utilizado, os tipos de riscos cobertos, dentre outros aspectos impactam significativamente a formação do preço desse seguro partindo do pressuposto de que o custo do risco é um dos elementos formadores de preço. CASO 2 Clotilde era casada com Claudiomiro, ambos na faixa dos 40 anos. Possuíam 02 filhos: um menino de 3 anos e uma menina de 2 anos. Claudiomiro era um executivo que havia dois anos estava desempregado e Clotilde cuidava dos filhos e da casa. 31 Num fim de semana, cansado do cotidiano urbano, viajou para seu sítio no interior. Sentado à varanda em sua cadeira, fumava cigarros e degustava a cachaça (produzidos no próprio local) como fazia todos os fins de semana há cerca de 20 anos, observava o lindo pôr-do-sol. Claudiomiro sentiu uma forte dor no coração e “dormiu o sono eterno”. VOCE ACHA QUE CLAUDIOMIRO TOMOU DECISÕES CORRETAS? QUAL SERIA A POSIÇÃO ADEQUADA? Se Claudiomiro pensasse nas possíveis conseqüências de seus hábitos e, além disso, em sua família, provavelmente teria decidido fazer um seguro. Ainda assim, quando se pensa no quantum seria o custo para Claudiomiro deixar sua família numa situação econômica mais favorável, alguns aspectos são mais influentes. Os riscos não decorrem somente da idade de Claudiomiro, mas também de seus hábitos de fumo e álcool e seu forte stress decorrente do desemprego e da pressão da família para retomar o nível de vida que possuíam antes da tragédia anunciada. CASO 3 Ermenegilda trabalhava como secretária executiva durante 30 anos na mesma empresa. Aguardava por toda a vida pelo momento em que se aposentaria. Aproveitar os recursos e viver o restante da vida numa situação confortável. Contudo, Ermenegilda deu entrada aos papéis em uma agência do INSS e 30 minutos depois se deu a decepção: a renda calculada para seu benefício, mal pagaria suas despesas básicas. VOCE ACHA QUE ERMENEGILDA TOMOU DECISÕES CORRETAS? QUAL SERIA A POSIÇÃO ADEQUADA? Se Ermenegilda tivesse se precavido, teria reservado uma parte de seus rendimentos mensais ao longo da vida no intuito de evitar uma desilusão ao final da mesma. Por muitos anos poderia ter feito a reserva para seu bem-estar e gozar de um benefício ao nível de sua situação financeira. Uma opção teria sido um plano privado de aposentadoria complementar que levaria em conta sua idade quando da realização da opção de entrar no plano, considerando a 32 idade que gostaria de ter para a obtenção do benefício, o tempo pelo qual gostaria de receber e o valor a ser recebido nesse momento futuro. CASO 4 Arlindo Godofredo é um contador muito atarefado de 33 anos. Entretodas as suas atividades de apurador de impostos, tem se debruçado sobre os problemas dos denominados SPEDs e, por sua característica centralizadora, acabou por centralizar todas as suas atividades anteriores ao levantamento dos dados necessários para informar ao fisco. Contudo, quanto mais o prazo se esgota, parece que a ansiedade e stress de Arlindo Godofredo aumentam. Há uma semana do prazo final, ele é acometido por uma úlcera de origem nervosa que o fez adentrar as portas de uma UTI. O fato é que ele não possui um seguro de saúde (plano) privado. VOCE ACHA QUE ARLINDO GODOFREDO TOMOU DECISÕES CORRETAS? QUAL SERIA A POSIÇÃO ADEQUADA? Arlindo Godofredo, com sua conta corrente poupuda, está na fila do INSS de um hospital público na metrópole onde reside. Se ele tivesse um seguro de saúde contratado, talvez sua realidade nesse momento fosse diferente. Alguns fatores estão intimamente ligados às causas de sua úlcera e seu fígado produz uma bílis com PH tão poderoso que as paredes desse órgão acabaram corroídas. Cada vez que lembra que poderia ter aprendido o ato de delegar suas atividades confiando mais nos profissionais que trabalhavam com ele, mais dores intensas sente em sua barriga. Quando pensa que o valor a ser pago para possuir um seguro de saúde dependeria não somente de sua idade, mas dos tipos de coberturas previstos, do tipo de acomodação que gostaria de ter numa situação dessas, percebe que o preço seria ínfimo relativamente ao valor que seria ter o seguro. Conforme se pode ver, cada caso possui suas especificidades e essas características são interpretadas relativamente aos riscos assumidos por quem transmite mediante uma remuneração aquele que os assume. Esse fator se traduz em afirmar que analisar o risco é fator essencial ao processo de precificação do seguro. 33 Cada ramo de seguro possui seus riscos característicos, como se pode ver na tabela ilustrativa a seguir: Ramo de Seguro Fatores de Risco Mais Significativos Residencial Estado de conservação do imóvel, idade do imóvel, localização do imóvel, equipamentos de prevenção de acidentes (como incêndio), equipamentos de segurança (cerca elétrica, monitoramento) Veículo Marca do veículo, modelo do veículo, ano do veículo, tipo de veículo, residência do condutor, utilização de garagem coberta ou não, idade do condutor, tempo de habilitação, estado civil, gênero Vida Idade do segurado, gênero do segurado, residência, renda do segurado, ocupação do segurado, estado civil, hábitos principais (sedentarismo, tabaco, álcool) Saúde Idade do segurado, gênero do segurado, residência, renda do segurado, ocupação do segurado, estado civil, hábitos principais (sedentarismo, tabaco, álcool), quantidade de dependentes Diante dos fatores de risco, cabe salientar que seus custos possuem relação estreita com os mesmos, ou seja, estatisticamente são calculados em conformidade com a denominada “Lei dos Grandes Números” (massa). Esse cálculo é dado por: Onde: CR = CUSTO DO RISCO FS = FREQÜÊNCIA DE SINISTRO VMI = VALOR MÉDIO DE INDENIZAÇÃO Cabe então afirmar que a FS (freqüência de sinistro) é dada por: Onde: 34 QSI = QUANTIDADE DE SINISTROS QSE = QUANTIDADE DE SEGURADOS E assim, o VMI (valor médio de indenização) é calculado por: Onde: VTI = VALOR TOTAL DE INDENIZAÇÕES Em suma, o CR é calculado por: Dessa forma, o custo do risco é dado pela razão entre o valor total das indenizações em determinado período e a quantidade de segurados cobertos pelos mesmos riscos indenizados. ETAPAS DO PROCESSO DE PRECIFICAÇÃO O processo de precificação é formado por cinco etapas, quais sejam: a coleta de dados, a análise da carteira, a avaliação do custo do risco, o cálculo do preço do seguro e a análise do impacto financeiro do novo preço. A primeira das etapas busca coletar dados que possam impactar a ocorrência do risco e dimensionar os aspectos relativos aos sinistros, ou seja, procura-se organizar dados acerca da idade, ocupação, tipo de bem segurado, gênero do segurado, bem como, dos valores de indenizações pagos aos segurados e das quantidades de sinistros ocorridos. Passada essa etapa, é realizada a análise da carteira com o intuito de obter um conhecimento sobre sua composição e identificar variáveis discriminatórias e a incidência de grandes sinistros, dentre outras informações analisadas. 35 A próxima etapa trata da avaliação do custo do risco, pois dimensionados os dados dos segurados e dos sinistros ocorridos e realizada a análise contextual, pode-se realizar a denominada precificação técnica que se utiliza de cálculos atuariais com o intuito de obter o risco e a conseqüente formação das garantias financeiras por meio das reservas técnicas e constituir margens que garantam liquidez e solvência para o cumprimento imediato das indenizações quando da ocorrência dos sinistros. O cálculo efetivo do preço do seguro é realizado na quarta etapa e considera o custo do risco acrescido das margens necessárias para cobertura das despesas e lucro da seguradora. Nesse caso, considera-se as despesas administrativas, despesas comerciais ou de vendas, a lucratividade esperada, a fatia de mercado a ser “abocanhada” (market share), a manutenção da continuidade da seguradora e a busca por nichos de mercado pouco explorados. A quinta e última etapa da precificação de seguros se reveste da análise do impacto financeiro do novo prêmio em comparação com o preço atual, buscando verificar a existência ou não de sub ou superfaturamento. Nessa etapa realiza-se a análise do mercado competidor para avaliar o cabimento de expansão ou retração da carteira de clientes segurados. MÉTODOS DO PROCESSO DE PRECIFICAÇÃO Constituem-se métodos de precificação o julgamento ou método subjetivo, a sinistralidade, o prêmio puro ou a tábua de mortalidade. O método subjetivo ou julgamento é a técnica utilizada quando não há dados/informações suficientes que fundamentem e validem outro método para o processo de precificação do seguro. O prêmio é calculado principalmente pela comparação com riscos análogos/similares, constituindo- se, dessa forma, subjetivamente. 36 A sinistralidade, por sua vez, utiliza por base de cálculo do preço do seguro a mera atualização por meio da razão entre o total de indenizações pagas sobre o total de prêmio arrecadado. A essa razão denomina-se sinistralidade. O terceiro método para precificação de seguros é denominado “prêmio puro” e se utiliza da estimativa do custo do risco por meio da modelagem estatística de dados, adicionando margens de carregamento/segurança que assegure liquidez. Por fim, a tábua de mortalidade é o método determinístico que aplica fórmula também determinísticas e a probabilidade de morte é definida a partir de estudos prévios realizados por atuários e estatísticos (é o principal método utilizado nos seguros de vida em previdência). Cabe o aproveitamento para afirmar que: por determinístico em métodos quantitativos, entende-se por aquilo que tem resultados determinados por leis de evolução definidas. A probabilidade em tábuas de mortalidade é definida por n pontos igualmente prováveis (verossímeis) em um espaço amostral (S), dos quais m pontos são favoráveis à ocorrência de um determinado evento (E). Desse modo, a probabilidade de ocorrência do evento E é dada por: MÉTODOS DO PROCESSO DE PRECIFICAÇÃO CASO A Durante o mês de janeiro de 2012, no bairro Jaera, aconteceram 310 roubos/furtos de veículos. As informações revelam que 130 deles aconteceram com veículos da marca Meleva. 37 O preço de tabela desses veículos é de R$40.000 porveículo e a carteira de apólices é composta por 15.000 segurados desse tipo de veículo. Desse modo, qual deve ser o valor do custo do risco tomando por base essas informações? Resposta: CASO B Uma carteira de seguro residencial possui no município de Velha Mão 31.463 apólices de seguro para cobertura do risco de incêndio. No período de janeiro a dezembro de 2012, foram registrados 29 sinistros. Nesse mesmo período, o valor total das indenizações somou R$3.014.950. Baseado nisso e considerando que a taxa de carregamento para despesas e lucro seja de 15%, calcule o prêmio de seguro para o ano de 2013. CASO C Uma operadora de seguro de saúde possui 28.540 apólices para cobertura de internações na rede de hospitais credenciados. No ano de 2011 foram registradas 2.745 internações em conformidade com a tabela a seguir: 38 FAIXA ETÁRIA SEGURADOS INTERNAÇÕES VMI (R$) De 0 a 18 anos 6.878 348 700,00 De 19 a 23 anos 2.114 96 800,00 De 24 a 28 anos 1.522 133 1.000,00 De 29 a 33 anos 1.064 228 750,00 De 34 a 38 anos 1.392 252 850,00 De 39 a 43 anos 2.392 325 1.100,00 De 44 a 48 anos 3.438 348 1.460,00 De 49 a 53 anos 2.002 133 2.000,00 De 54 a 58 anos 1.720 257 4.340,00 A partir de 59 anos 6.018 625 5.720,00 TOTAL 28.540 2.745 2.426,43 Apresente o valor do prêmio para a faixa etária de 0 a 18 anos que deveria ser cobrado no ano de 2011, considerando que o carregamento para despesas e lucro que era de 15%. Além disso, qual seria o prêmio se mantidas as condições iniciais, houvesse um ajuste de 20% sobre o carregamento? (A) (B) 39 Tábuas de Mortalidade (precificação) Resumidamente, as Tábuas de Mortalidade se constituem na ferramenta mais completa para a análise da mortalidade de uma população. Dentre os problemas que as Tábuas auxiliam a resolver estão a estimativa do grau e da tendência da mortalidade; análises acerca dos tipos de causa de mortalidade; a estrutura, a dinâmica e o crescimento populacionais; análises de características sócio-econômicas; estudos relacionados à fecundidade; estudos acerca da idade escolar de uma população; análises componentes da força de trabalho; sistemas de regulação de aposentadorias e pensões; dentre outros. UM POUCO DE HISTÓRIA DAS TÁBUAS DE MORTALIDADE As primeiras concepções acerca das Tábuas de Mortalidade foram apresentadas na obra Natural and Political Observations Made Upon the Bills of Mortality por John Graunt em 1962. Esse estudo partiu de 100 pessoas nascidas e observadas ao longo da vida, das quais 64 sobreviveram até os 6 anos de idade, 40 até os 16 anos e 25 sobreviveram até os 26 anos. Edmond Halley apresentou Tábuas comparando nascimentos e mortes no período que abrange desde o ano de 1687 até 1691 na cidade polonesa de Breslau, enquanto Milne foi o precursor das Tábuas atuais quando baseou seus estudos em 1815 nas mortes ocorridas na cidade de Carlisle, na Inglaterra. Desse estudo, estimou o tempo de vida populacional em 38,7 anos. AS TÁBUAS DE MORTALIDADE COMO INSTRUMENTO DE MEDIDA (tipos, estrutura e notações) No campo demográfico, as Tábuas apresentam dentre suas características fundamentais a evidenciação do comportamento da mortalidade por idade (em média, o comportamento da probabilidade de morte se inicia alta quando as pessoas nascem, diminuem até um nível 40 próximo de zero em torno dos 11 anos de idade voltando a crescer lentamente até a faixa dos 35 aos 40 anos, voltando a acelerar até a velhice). Além disso, há a apresentação de outras medidas convencionais de mortalidade como a expectativa de vida de um ser ao nascer, a população estacionária (aquela faixa que permanece estável independentemente dos nascimentos e mortes). Todos esses aspectos encontram diversas aplicações em uma parte consideravelmente grande dos problemas demográficos. Existem, fundamentalmente, dois tipos de Tábuas: por gerações e por momentos. O primeiro observa um grupo de pessoas nascidas num mesmo período até que o última tenha morrido (esse tipo não é muito utilizado na atualidade), enquanto o segundo toma por base a mortalidade num curto espaço de tempo (por exemplo, 5 ou 6 anos) de todas as gerações, considerando pessoas de idades diferentes expostos às mesmas condições de vida. O método do Grupo-fechado, possui sua taxa de mortalidade (qx) baseada no número de mortes de pessoas com idade x que faleceram antes de atingir a idade x+1 e o número total de pessoas com a idade x. Uma Tábua é constituída como uma tabela que possui cinco colunas que apresentam de modo estruturado características como a idade, o número de sobreviventes, o número de mortes, as probabilidades de morte e de sobrevivência. As notações universais utilizadas nas Tábuas são dadas por: o lx = número de pessoas vivas de idade x (l = life = vida); o dx = número de óbitos com idade x (d = death = morte); o qx = probabilidade de uma pessoa de idade x vir a falecer antes de completar a idade x+1 (qx=dx/lx); o px = probabilidade de uma pessoa de idade x completar a idade x+1 (px = lx+1/lx=1-qx); o tqx = probabilidade de uma pessoa de idade x vir a falecer antes de completar a idade x+t; e 41 o tpx = probabilidade de uma pessoa de idade x completar a idade x+t. No Brasil, são admitidas para os cálculos de precificação de seguros de vida em grupo as tábuas SGB-71; CSO-58 male; CSO-80 male; CSG-60; GKM-70 male; ALLG-72 male; AT-49 male; AT-83; AT-2000 e outras reconhecidas pelo Instituto Brasileiro de Atuária (IBA). Como exemplo, têm-se um extrato da Tábua AT-49: Considerando as informações contidas, responda as seguintes questões: 1) Qual o número de crianças de 05 anos que morrem antes de atingir os 06 anos? 2) Qual a probabilidade de uma criança de 07 anos sobreviver até os 09 anos? 3) Qual a probabilidade de morte de uma criança de 03 anos? 4) Qual a probabilidade de uma criança de 03 anos sobreviver? Respostas: 1) d5=56,15691 2) 2p7=l9/l7=99.011,04/99.108,84=0,99901321=99,901321% 3) q3=0,000715 4) p3=1-q3=1-0,000715=0,999285=99,9285% ou 42 p3=l4/l3=99.279,40/99.350,44=0,99928496=99,928496% A tabela a seguir, evidencia a comparação entre taxas de mortalidade (qx) entre diferentes Tábuas de Mortalidade na faixa entre 40 e 50 anos de idade: Diante do exposto, pode-se obter a comparação gráfica entre qx das diferentes Tábuas consideradas: Pode-se então, depreender que as taxas de mortalidade da Tábua AT- 2000 são menores que as taxas da tábua CSO-58. Dessa forma, pode-se afirmar 43 que a Tábua AT-2000 “mata menos” que as demais, ou seja, apresenta uma expectativa de vida maior. Então, as Tábuas CSO-58 e CSO-80 são mais utilizadas pelos atuários em seguros de vida (prevendo uma probabilidade maior de morte) e a AT-2000 é mais utilizada em previdência (prevendo maior prudência e alongando o período de vida/recebimento de benefício e o momento de início do benefício, ou seja, impactando o preço das contribuições para cima). Outro fator importante a ser considerado, é o que trata da expectativa ou esperança de vida, que é dado pelo número médio de anos que uma pessoa de idade x tem de sobreviver (quantidade de anos de vida a partir da idade x). A fórmula é obtida pelo que segue: Onde: ex = é a esperança de vida na idade x px = probabilidadede morte na idade x k = a constante a ser considerada, ou seja, nesse caso igual a 1 ou seja ano por ano até o infinito Desse modo, pode-se dizer que a expectativa de vida é o resultado da soma de todas as probabilidades de morte a partir da idade x, a cada ano até o infinito (naturalmente, teoricamente, quando a probabilidade de morte atinge 100% cessa-se o cálculo, contudo, a tendência é o infinito como em uma curva de uma Distribuição Normal de Probabilidades). Cabe salientar que, considerando que os cálculos são realizados anualmente, assume-se que em média as pessoas morrem em meados de cada ano. Assim, tem-se que: 44 Diante da fórmula apresentada, cabe então verificar a expectativa de vida das Tábuas CSO-58 e AT-49 na faixa entre 40 e 50 anos, considerando esse “meio ano a mais” utilizado nos cálculos. Em planos de previdência, o risco para a “seguradora” repousa sobre a sobrevivência do indivíduo que participa deles. Isso significa que quanto mais tempo o participante sobreviver, por mais tempo a “seguradora” honrará seu compromisso (pagamento do benefício). Diante do exposto, na hora de precificar um plano de previdência, um atuário tenderá a ser mais conservador, ou seja, utilizará uma tábua com expectativa de vida maior ou que “mate menos” conforme visto anteriormente. Desse modo, as Tábuas e a expectativa de vida (ex) são componentes importantes para a precificação de contribuições em planos de previdência. 45 Em cálculos de anuidades (seguros de renda/desemprego) considera-se o momento do período em que uma pessoa paga, isto é, início ou final de cada ano (tal qual em cálculos de matemática financeira). Tome-se como exemplo, considerando uma unidade monetária (R$ ou US$), a fórmula para cálculo da anuidade a ser paga pelo “segurado” é dada por: Onde: ax = anuidade a partir da idade x v = taxa de juros anual ajustada = 1/(1+i)n lx = número de pessoas vidas na idade x No que se refere ao seguro de vida, o risco é a morte do segurado, ou seja, o que originará a obrigação da seguradora é exatamente a morte dele. Então, na hora de precificar, o atuário deverá considerar uma Tábua de Mortalidade com expectativa de vida menor, isto é, uma Tábua que “mate mais” conforme evidenciado anteriormente nesse material. A fórmula para cálculo de um seguro de vida inteira, para uma unidade de moeda (R$ ou US$, por exemplo), pago aos beneficiários de uma pessoa de idade x quando ela vier a morrer é dado por: Em se considerando o cálculo do prêmio/custo do risco (Px ou CR) a ser pago anualmente por uma pessoa a partir da idade x por toda a vida é apresentado no exemplo a seguir. 46 Desse modo, qual deve ser o preço do prêmio (desconsiderando qualquer taxa de carregamento e, portanto, somente o risco) a ser pago anualmente por um segurado de 40 anos pela contratação de um seguro de vida de R$330.000,00, caso venha a falecer antes de completar 50 anos? Para tanto, considere a Tábua de Mortalidade AT-49 (presente nesse material e copiada abaixo) e uma taxa de juros de 7% ao ano. Idade lx dx V x-39 Vx-39.dx 40 96.343,40 195,10 0,93457944 182,3364 41 96.148,30 213,45 0,87343873 186,4355 42 95.934,85 238,01 0,81629788 194,2871 43 95.696,84 268,33 0,76289521 204,7077 44 95.428,51 304,13 0,71298618 216,8405 45 95.124,38 344,83 0,66634222 229,7748 46 94.779,55 390,11 0,62274974 242,9409 47 94.389,44 439,57 0,58200910 255,8337 48 93.949,87 492,86 0,54393374 268,0832 49 93.457,01 549,53 0,50834929 279,3532 Por ilustração, calcula-se a seguir Vx-39 na idade de 43 anos: V43-39 = V4 = [1/(1+7%)]4 = [1/1,07]4 = 0,934579444 = 0,762895212 Considerando o resultado obtido, calcula-se a seguir Vx-39.dx na idade de 43 anos: V43-39.d43 = 0,762895212*268,33 = 204,7077 Logo, o preço do prêmio a ser pago é dado por: 0,023463911027 * R$330.000,00 = R$7.743,09 47 Outro exemplo pode ser dado, considerando a Tábua de Mortalidade CSO-58 (conforme segue) na faixa de idade de 40 a 50 anos, considerando um valor de R$10.000 caso atinja a idade de 50 anos à uma taxa de 6% ao ano: Diante do exposto, a fórmula utilizada é dada por: p40=10.000 . V10 . (l50/l40) p40=10.000 . (1/1,06)10 . (87623,04/92413,56) p40=R$5.294,49
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